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XADREZ NA ESCOLA

O xadrez não é só um jogo, não é só uma arte e nem é só uma ciência. O xadrez é
a mistura de todos estes elementos com um pouco de tempero, aliás,
com BASTANTE tempero.

E é por esse e por muitos outros motivos que o xadrez é considerado uma ótima
matéria para ser aplicada na escola.

A criança e as atividades lúdicas

Em princípio, devemos entender o jogo como uma atividade que obedece ao


impulso mais profundo e básico da essência animal. Essa atividade se inicia em nossas
vidas com os mais elementares movimentos, complicando-se até dominar a enorme
complexidade do corpo humano.

Os primeiros jogos que a criança faz são os chamados jogos de exercício,


utilizando como principal objetivo seu próprio corpo. Os bebês chupam suas mãos,
emitem sons e repetem diversos movimentos sem finalidade utilitária.

A transição dos jogos de exercícios para os simbólicos marca o início de


percepção de representações exteriores e a reprodução de um esquema sensório-motor
fora de seus contextos.

Podemos dizer que o jogo simbólico é um jogo de exercício em que o que é


exercitada é a imaginação.

Ao chegar ao período das operações concretas (por volta dos 7 anos de idade) a
criança, pelas aquisições que fez, pode jogar atendo-se a normas. Surgem então os jogos
de regras, e ela terá que abandonar a arbitrariedade que governava seus jogos para
adaptar-se a um código comum, podendo ser criado por iniciativa própria ou por outras
pessoas, mas que deverá acatar limites porque a violação das regras traz consigo uma
consequência.

Isso ajudará as crianças a aceitar o ponto de vista das demais, a limitar sua própria
liberdade em favor dos outros, a ceder, a discutir e a compreender.

Quando se praticam jogos de grupo a experiência se engrandece, já que a


sociabilidade é agregada à vida da criança, surgindo assim os primeiros sentimentos
morais e a consciência de grupo.

Quando a criança joga compromete toda sua personalidade, não o faz para passar
o tempo.

Pode-se dizer, sem dúvida, que o jogo é o "trabalho da infância" ao qual a


criança dedica-se com prazer.

É fácil perceber, diante disso, o inegável valor educativo que a prática lúdica


possui.
Muitos psicólogos afirmam que os primeiros anos são os mais importantes na vida
do homem, sendo que a atividade central manifestada é o jogo.

É notável o que se pode aprender construindo seus próprios jogos, utilizando


conceitos de plano inclinado, polias, velocidades etc., coisas que só serão ensinadas
muito depois no período escolar.

O erro que muitos professores cometem é não valorizar em toda sua extensão essa
atividade, extraindo o que ela contém de educativo.

Podemos sentir na criança que seu ingresso na escola é algo muito diferente de
tudo que ela fez até então, que terá obrigações a cumprir, que sua vida dedicada ao jogo
terá uma mudança brusca.

Temos que aprender a diferenciar o que significa o jogo para o adulto e para a
criança. Para nós adultos, porque assim nos educaram, o jogo é o que fazemos quando
não se tem alguma coisa mais importante e desejamos preencher horas vazias com
algum lazer. Para as crianças é todo um compromisso no qual lutam e se esforçam se
algo não sai como querem.

Por que jogar xadrez?

O Xadrez é o segundo esporte mais praticado no mundo, abaixo apenas do


futebol. É um grande impulsionador da imaginação, que também contribui para
o desenvolvimento da memória, da capacidade de concentração e da velocidade de
raciocínio. Foi constatado que o Xadrez desempenha um importante papel socializante,
por ensinar a lidar com a derrota e com a vitória, mostrando que a derrota não é
sinônimo de fracasso nem vitória é sinônimo de sucesso.

O Xadrez é capaz de mostrar as conseqüências de atitudes displicentes, que não


tenham sido previamente calculadas e, por conseguinte, estimula o hábito de refletir
antes de agir, além de ensinar a arcar com as responsabilidades dos próprios atos.

O Xadrez é uma arte de grande beleza e apresenta imensa riqueza de


possibilidades. É um passatempo agradável e instrutivo que entreteve grandes
personalidades de nossa história como Napoleão, Einstein, Voltaire, Goethe,
Montesquieu, Benjamin Franklin, Victor Hugo, Machado de Assis e Monteiro Lobato –
para citar apenas alguns. E hoje é um esporte que pode ser jogado não presencialmente,
através de redes de computadores como a Internet, estando o adversário em qualquer
lugar do planeta, e por isso o que mais cresce em adeptos, sendo já considerado
o esporte do novo milênio.

Se quisermos também uma explicação científica que mostre os benefícios práticos


que podem ser alcançados pela prática desse esporte, poderíamos apresentar opiniões e
pesquisas de pedagogos, psicólogos, intelectuais e instrutores de xadrez. Resumindo os
resultados, conclui-se o Xadrez contribui para o desenvolvimento das faculdades
mentais.
Num estudo realizado na ex-Alemanha Oriental, comparando o desenvolvimento
de grupos de estudantes de diversas idades, separando-os em dois grupos: os que
jogavam e os que não jogavam Xadrez, concluiu-se que:

O Xadrez estimula a atividade intelectual e estabiliza a


personalidade de crianças e jovens durante seu crescimento. Isso é evidente,
sobretudo, na puberdade: crianças que jogam Xadrez apresentam menos crises
decorrentes das transformações dessa fase etária do que as que não jogam.

O raciocínio lógico e a capacidade de cálculo são estimulados,


produzindo excelentes resultados no desempenho escolar, com destaque
particularmente notável nos casos da Física e da Matemática.

Em aspectos gerais, os alunos que jogam Xadrez apresentam


nítida superioridade em força de vontade, tenacidade, memória e
concentração.

O Xadrez ensina a criança a avaliar as conseqüências dos seus atos, tornando-as


mais prudentes e responsáveis.

Também em pesquisas realizadas na Inglaterra, chegou-se à conclusão de que a


concentração e a habilidade em formular e posteriormente concretizar planos no
tabuleiro contribui significativamente para a tomada de decisões e execução das
mesmas no jogo muito mais importante, que é o jogo da vida.

No caso das crianças e jovens, o Xadrez estimula o desenvolvimento intelectual;


no caso dos adultos e idosos, o Xadrez contribui preservando por mais tempo a
agilidade mental.

Educar o raciocínio

O Xadrez merece crédito, porque ensina às crianças o mais importante na solução


de um problema, que é saber olhar e entender a realidade que se apresenta.

E além disso, aprender que as peças no Xadrez não têm valores absolutos, que se
deve controlar a posição das demais peças, tanto as próprias quanto as do adversário,
para armar uma estratégia. Ter a percepção de flexibilidade e reversibilidade do
pensamento que ordena o jogo.

Quantas vezes podemos notar crianças fracassando em matemática, por exemplo,


ao não entenderem o que o enunciado do problema lhes diz? Não sabem analisá-lo,
aprendem fórmulas de memória; quando encontram textos diferentes não acham a
resposta correta.

Deve-se conseguir que as crianças encontrem seu próprio sistema de ação e, para
isso, tem-se que evitar, sempre que possível, as soluções mecanizadas.

Assim, na escola secundária, com os dados de um teorema e sua idéia, a


demonstração pode ser encontrada pelo aluno, porém, para que isso aconteça, é
importante um certo treino na escola fundamental.
Nossa idéia é que em uma época na qual os conhecimentos nos ultrapassam em
quantidade e a vida é efêmera, a melhor ferramenta que a criança pode obter em sua
escolaridade é um pensamento organizado.

O valor educativo do xadrez

artindo da premissa de que o desenvolvimento do raciocínio é elemento


fundamental para que a cidadania se efetive, apresentamos o jogo de Xadrez como
complemento à educação escolar.

Esta atividade proporciona não apenas mais uma opção de lazer, mas a
possibilidade de valorizar o raciocínio através de um exercício lúdico. Segundo Charles
Partos, mestre internacional suíço, o aprendizado e a prática do xadrez desenvolvem as
seguintes habilidades:

a. a atenção e a concentração;
b. o julgamento e o planejamento;
c. a imaginação e a antecipação;
d. a memória;
e. a vontade de vencer, a paciência e o autocontrole;
f.o espírito de decisão e a coragem;
g. a lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético;
h. a criatividade;
i. a inteligência;
j. a organização metódica do estudo;
k. o interesse pelas línguas estrangeiras.

Deve-se ter em mente que o Xadrez reproduz uma situação de guerra, mas num
contexto lúdico. Cada jogador funciona como um general na condução de um exército.
Suas decisões são fundamentais para ganhar ou perder a partida, reproduzindo em
escala diminuta o que poderia acontecer em uma batalha.

Acreditamos que o projeto Xadrez na Escola pode desenvolver as habilidades


cognitivas citadas, bem como democratizar este jogo-arte-ciência, cuja origem e história
perdem-se no tempo.

Atualmente no Brasil, a transcendentalidade no currículo escolar tem sido um dos


aspectos mais positivos para a educação integral. Nesse aspecto, o Xadrez tem
demonstrado, nos países em que é adotado como disciplina curricular, ser tão
importante quanto as disciplinas artítisticas e científicas, pois enquanto esporte
desenvolve habilidades; enquanto arte estimula a imaginação de, diante de inúmeras
possibilidades que se apresentam, criar seqüências artísticas do jogo; enquanto ciência,
exige acurado estudo teórico e a elaboração de cálculos precisos.

QUADRO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS DO XADREZ E


SUAS IMPLICAÇÕES EDUCATIVAS

Características do xadrez:

 Concentração enquanto imóvel na cadeira


 Fornecer um número de movimentos num determinado tempo
 Movimentar peças após exaustiva análise de lances seguintes
 Encontrado um lance, procura outro melhor
 De uma posição em princípio igual, direcionar a uma conclusão brilhante
(combinação)
 O resultado indica quem tinha o melhor plano
 Entre várias possibilidades, escolher uma única, sem ajuda externa
 Um movimento deve ser conseqüência lógica do anterior, devendo
apresentar o seguinte.

Implicações nos aspectos educacionais e de formação do caráter

 Desenvolvimento do autocontrole psico-físico


 Avaliação da hierarquia do problema e a locação do tempo disponível
 Desenvolvimento da capacidade para pensamento abrangente e profundo
 Empenho no progresso contínuo
 Criatividade e imaginação
 Respeito à opinião do interlocutor
 Capacidade para o processo de tomar decisões com autonomia
 Capacidade para o pensamento e execução lógicos, auto-consistência e fluidez
de raciocínio.

"A impossibilidade de conhecer o melhor lance em uma partida de xadrez é que


eleva o xadrez de um jogo científico para uma forma de arte, um meio de expressão
individual."

John R. Bowman (físico)

O xadrez como disciplina escolar

A idéia básica de se levar o xadrez até as escolas reside no fato de ele ser
um esporte pedagógico, auxiliando no desenvolvimento das demais disciplinas
curriculares. Quem não precisa, por exemplo, adquirir uma boa memória para guardar
acontecimentos e datas quando está em uma aula de história? Qual de nós não tem
necessidade de ter precisão nos cálculos matemáticos? Sem contar que o xadrez oferece
um ambiente ímpar para desenvolvermos nossa criatividade, sendo ainda um excelente
meio de recreação e de formação do caráter dos jovens.

Esses fatores, aliados a outros tantos, têm contribuído para que grande parte das
escolas do sul do Brasil, além de inúmeras no estado de São Paulo e também em
diversas regiões do país, adotem o xadrez como disciplina obrigatória ou opcional.

O imenso mérito do xadrez é que ele responde a uma das preocupações


fundamentais do ensino moderno: dar a possibilidade de cada aluno progredir
segundo seu próprio ritmo, valorizando assim a motivação pessoal do escolar.
Piaget mostrou quais eram as etapas da formação da inteligência da criança.
Observando-se grupos de crianças jogando xadrez constata-se que os progressos
atingidos nestas etapas seguem ritmos extremamente diferentes, o que permite concluir
da importância de se aplicar uma pedagogia de níveis preferencialmente a uma
pedagogia orientada para classes da mesma idade.

Enfim, numa época onde o sonho confesso de uma revolução pedagógica é aquele
de eliminar a barreira professor-aluno, é preciso reconhecer no xadrez esta virtude: ele
não aceita nem o respeito da idade nem aquele da notoriedade. O ensino enxadrístico
pode inverter a relação professor-aluno, colocando em xeque as hierarquias
instituídas na sala de aula.

Experiências realizadas em diversos países demonstram que o xadrez, quando


utilizado como terapia ocupacional, contribui para a reinserção familiar e social de
crianças, adolescentes e mesmo adultos infratores ou em liberdade assistida.

Além disso, quando ele é introduzido nas classes de baixo rendimento escolar,
auxilia ao desenvolvimento do sentimento de autoconfiança visto que apresenta uma
situação na qual os alunos têm a oportunidade de descobrir uma atividade onde podem
se destacar e paralelamente progredir em outras disciplinas acadêmicas.

O xadrez como suporte pedagógico para outras disciplinas

Trabalhos em psicopedagogia demonstram que o xadrez é um precioso


coadjuvante escolar, e até psicológico. Assim, pode-se utilizar inicialmente a motivação
quase espontânea do aluno em relação ao xadrez visando provocar ou facilitar a sua
compreensão em outras disciplinas. Em uma segunda etapa, extrapola-se o universo
artificial criado pelas regras do jogo como modelo de estudos de situações concretas.
Isto pode aplicar-se a todos os campos do conhecimento - à história, à sociologia, ao
direito, à jurisprudência, à literatura, à epistemologia entre outros - e sobretudo à
matemática e à pedagogia.

No que concerne à pedagogia, o xadrez permite repensar a relação professor-


aluno. A estratégia do ensino é bem próxima da estratégia do xadrez, pois dialética e
autocrítica ocupam um lugar primordial e o vencido se enriquece mais que o vencedor.

Além disso, o xadrez apresenta-se como um excelente instrumento na formação


de futuros professores das mais diversas disciplinas uma vez que ele favorece a
compreensão da estrutura do pensamento lógico, o que desenvolve a adequacidade de
transmissão dos conhecimentos aos seus alunos.

No que concerne à matemática, podemos afirmar que o xadrez é um dispositivo


eficaz para a aprendizagem da aritmética (noções de troca, valor comparado das peças,
controle de casas, enquanto exemplos de operações numéricas elementares...), da
álgebra (cálculo do índice de desempenho dos jogadores, que é assimilável a um sistema
de equações com “n” incógnitas...) e da geometria (o movimento das peças é uma
introdução às noções de verticalidade, de horizontalidade, a representação do tabuleiro é
estabelecida como um sistema cartesiano...).
As aplicações xadrez-matemática são bastante vastas e não são necessariamente
de nível elementar, já que elas podem concernir:

a. A análise combinatória e o cálculo de probabilidades;


b. A estatística;
c. A informática, e isto em dois níveis: aquele da gestão dos torneios e
aquele da programação propriamente dita do jogo;
d. A teoria dos jogos de estratégia;

Entretanto, é no domínio da hemística que o futuro parece ser mais promissor. Se


grandes matemáticos como Euler (1707-1783) e Gauss (1777-1855) trabalharam
matematicamente problemas originários do xadrez - respectivamente o percurso do
cavalo sobre as 64 casas do tabuleiro e o problema da colocação de oito damas sobre o
tabuleiro - é possível adotar-se uma postura inversa. Assim, as regras e os métodos que
conduzem à descoberta da solução de um problema enxadrístico podem ser aplicadas
didaticamente à resolução de um problema de matemática. Isto permite qualificar tal
esporte como um instrumento motivador de primeira grandeza para a educação
matemática, na medida em que ele fornece uma reserva inesgotável de situações
variadas de resolução de problemas

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