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CLÍNICA MÉDICA

DE CÃES E GATOS I

Felipe Carniel

2015
SUMÁRIO
MÓDULO RESPIRATÓRIO

1. Distúrbios da cavidade nasal e seios paranasais 05


2. Pólipos nasofaríngeos 07
3. Rinite linfoplasmocítica (rinite crônica canina idiopática) 08
4. Infecção do trato respiratório superior dos felinos 09
5. Aspergilose 10
6. Criptococose 12
7. Neoplasias da cavidade nasal 12
8. Distúrbios da laringe e faringe 13
9. Paralisia de laringe 14
10. Síndrome da via aérea braquicefálica 14
11. Distúrbios da traqueia e dos brônquios 15
12. Condromalácia traqueal (colapso de traqueia) 15
13. Traqueobronquite infecciosa (tosse dos canis) 18
14. Trauma traqueal 19
15. Bronquite crônica 19
16. Asma felina 21
17. Broncomalácia 24
18. Pneumonias bacterianas 24
19. Neoplasias pulmonares 25
20. Neoplasias primárias 26
21. Neoplasia pulmonar metastática 27
22. Tromboembolismo pulmonar 27
23. Edema pulmonar 28
24. Doenças pleurais e diafragmáticas 29
25. Hérnias diafragmáticas 29
26. Efusão pleural 30
27. Pneumotórax 33

MÓDULO UROGENITAL

28. Exame de urina 35


29. Insuficiência renal aguda 39
30. Doença renal crônica 45
31. Infecção do trato urinário 53
32. Tipos especiais de ITU 55
33. Corynebacterium urealyticum 55
34. Cistite enfisematosa 56
35. Doença do trato urinário inferior dos felinos 60
36. Cistite intersticial 60
37. DTUIF obstrutiva 61
38. Urolitíases 67
39. Estruvita 67
40. Oxalato de cálcio 68
41. Urato 68

2
42. Cistina 69
43. Silicato 69
44. Tratamento médico específico das urolitíases 69
45. Orquite e epididimite 73
46. Distúrbios prostáticos 74
47. Hiperplasia prostática benigna 75
48. Cistos de retenção e cistos para-prostáticos 76
49. Prostatite e abcessos prostáticos 77
50. Neoplasias prostáticas 78

MÓDULO GASTROINTESTINAL

51. Distúrbios gastrointestinais 79


52. Doenças da cavidade oral, da faringe e do esôfago 80
53. Sialocele 80
54. Periodontopatia 81
55. Estomatite 82
56. Gengivite e faringite linfocítica plasmocitária felina 82
57. Miosite atrófica dos músculos mastigatórios 83
58. Acalasia/disfunção cricofaringeana 84
59. Disfagia faríngea 85
60. Megaesôfago 85
61. Esofagite 87
62. Hérnia de hiato 88
63. Doenças do estômago 88
64. Gastrite aguda 88
65. Gastrite crônica 89
66. Gastrite crônica – Helicobacter 90
67. Erosão/ulceração gástrica 90
68. Diarreia aguda 91
69. Parvovirose 91
70. Coronavirose 93
71. Toxocara canis 94
72. Dipylidium caninum 94
73. Ancylostoma caninum 94
74. Giardíase 95
75. Doenças da má absorção intestinal 95
76. Gastroenterite bacteriana aguda/colite bacteriana 96
77. Campilobacteriose 96
78. Salmonelose 96
79. Clostridiose 96
80. Doença intestinal inflamatória/enteropatia inflamatória 97
81. Enteropatia inflamatória linfocítica plasmocítica/colite linfocítica plasmocítica 97
82. Colite linfocítica plasmocítica 98
83. Doenças do pâncreas 99
84. Pancreatite aguda 99
85. Pancreatite crônica 101
86. Insuficiência pancreática exócrina 101
87. Doenças hepatobiliares dos caninos 103
88. Encefalopatia hepática 104
89. Hepatite crônica 105
90. Hepatite aguda 106

3
91. Desvio portossistêmico congênito 107
92. Doenças hepatobiliares dos felinos 108
93. Lipidose hepática felina 108
94. Doenças do trato biliar 110
95. Colangites 110
96. Colangite neutrofílica 110
97. Colangite linfocítica 111
98. Colangite crônica – infestação por trematódeos 112
99. Cistos biliares 112
100. Obstrução do ducto biliar extra-hepático 112
101. Neoplasias 113
102. Desvios portossistêmicos 113
103. Hepatopatia tóxica 114

TÓPICOS ESPECIAIS DE TERAPÊUTICA

104. Fluidoterapia 115


105. Transfusão sanguínea 115
106. Intoxicações 116
107. Intoxicação por amitraz 117
108. Intoxicação por naftaleno 117
109. Intoxicação por metaldeído 117
110. Intoxicação por organofosforado e carbamatos 118
111. Intoxicação por cumarínicos 118
112. Intoxicação por ferro 118
113. Intoxicação por chumbo 118
114. Intoxicação por zinco 119
115. Intoxicação por cobre 119
116. Intoxicação por arsênico 119
117. Intoxicação por estricnina 119
118. Acidente ofídico botrópico 120
119. Acidente ofídico crotálico 120

ANTIBIOTICOTERAPIA

120. Princípios para a utilização da antibioticoterapia 121


121. Resistência a antimicrobianos 121
122. Quimioterápicos antimicrobianos 122
123. Antibióticos 124

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proteção do encéfalo contra traumas
frontais.

Clínica Médica A principal consequência de uma


obstrução nasal é o animal respirar com

de Cães e Gatos I a boca aberta.

Espirro é específico de cavidade nasal e


Módulo das doenças é caracterizado por uma rápida
respiratórias inspiração, seguida por uma
involuntária, súbita e violenta expulsão

Felipe Carniel do ar pelo nariz e boca. É o


procedimento final de limpeza da
mucosa nasal.

Estridor é semelhante a um apito ou


assovio e é característico de obstrução
DISTÚRBIOS DA parcial da cavidade nasal. Estertor é
CAVIDADE NASAL E semelhante a um ronco e está
SEIOS PARANASAIS relacionado a uma alteração na laringe
ou traqueia. Ambos são audíveis sem o
O nariz apresenta cinco principais estetoscópio.
funções: Secreções nasais:
1. Funciona como passagem de ar o Serosa: normal em pequena
que será direcionado aos quantidade. Pode indicar
alvéolos pulmonares; infecção viral em gato
2. Umidifica e aquece o ar (Calicivírus) ou início da
inspirado; secreção mucopurulenta;
3. Impede a passagem de grandes o Mucopurulenta: com ou sem
partículas para as porções hemorragia e indica processo
inferiores do trato respiratório; inflamatório;
4. Olfação: na porção mais dorsal o Hemorrágica (epistaxe):
da concha etmoidal é onde se sangramento nasal. Um cão
encontra o maior numero de adulto a idoso sangrando pelo
receptores olfatórios, por isso o nariz provavelmente é uma
cão e o gato dilatam as narinas neoplasia. Pode ser
quando precisam captar odores leishmaniose ou erliquiose
ambientais; também.
5. Termorregulação.
Deformidade nasal geralmente é
Já quanto aos seios paranasais, resultado de neoplasia.
especula-se que sua função seja de

5
Vale lembrar que exame radiográfico da cavidade nasal, evitando a
não fecha diagnóstico de cavidade sobreposição. A projeção VD permite
nasal. O exame de cultura bacteriana é uma visualização mais caudal da
pouco válido, pois há muitas bactérias cavidade. A projeção tangencial é útil
normalmente. para avaliar os seios nasais frontais.
Para realizar esses posicionamentos é
Citologia: swab ou aspiração (fazer
necessária sedação profunda ou
squash) – observam-se células e micro-
anestesia geral.
organismos. Citologia aspirativa para
suspeita de neoplasia. O exame radiográfico da cavidade nasal
pode classificar a enfermidade nasal
História clínica e sinais clínicos
em dois padrões:
A história clínica de pacientes com
o Rinite não destrutiva: radiopaco
doença nasal frequentemente inclui
(mais branco) – indica acúmulo
secreção nasal, espirro, epistaxe,
de fluido. Ocorre comumente
estertor e estridor (ambos podem
em doenças inflamatórias, como
ocorrer durante a inspiração, expiração
a rinite crônica canina;
ou ambos, em consequência da
o Rinite destrutiva: radioluscente
passagem do ar de forma turbulenta
(mais escuro) – indica doenças
pela cavidade nasal parcialmente
neoplásicas (comumente
obstruída). A dispneia pode ser
malignas) e fúngicas
observada tanto em cães quanto em
(aspergilose). Observa-se lise
gatos, sendo mais frequente a dispneia
das conchas nasais e do septo
inspiratória. Mesmo com dificuldade
nasal.
para respirar, os animais evitam abrir a
boca nessas condições, fazendo isso A biópsia da cavidade nasal deve ser
apenas em últimos casos. feita com pinça do tipo ‘’jacaré’’ de
pequeno diâmetro e de preferência
Procedimentos diagnósticos
guiada por rinoscopia. São retirados em
O exame radiográfico da cavidade geral 3 fragmentos de cada lado da
nasal pode ser realizado em projeções cavidade. O exame pode resultar em
LL (latero-lateral), DV (dorso-ventral), hemorragia, de forma que pode fazer-
VD (ventro-dorsal) com a boca aberta e se uso de adrenalina 0,1% em infusão.
tangencial (incidência realizada em
A rinoscopia é um procedimento
superfícies curvas). A projeção LL tem
simples e que requer anestesia geral e
valor limitado na avaliação, por que há
intubação do paciente. O exame pode
sobreposição das câmaras direita e
ser feito com endoscópio flexível ou
esquerda, mas é importante para
rígido. O equipamento flexível permite
avaliar osso frontal, nasal e placa
visualização da nasofaringe e conchas
cribiforme. As projeções com a boca
caudais, útil para visualizar corpos
aberta permitem melhor visualização
estranhos e tumores da região. O

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equipamento rígido é introduzido pela tuba auditiva (trompa de Eustáquio) e
narina, permitindo visualizar a mucosa, podem se estender até a nasofaringe,
presença de secreções, lesões, corpos ouvido médio e canal auditivo externo.
estranhos e parasitas e é fundamental São róseos, polipoides, geralmente
para seleção de local para biópsia. partindo de um pedículo e podem ser
confundidos com neoplasia devido ao
A citologia pode ser feita por swab ou
seu aspecto grosseiro.
aspiração. A citologia aspirativa é útil
em animais com deformidade facial, Aspectos Clínicos
facilitando a punção no local da
Os sinais respiratórios causados pelos
alteração. A principal utilidade é no
pólipos nasofaríngeos incluem dispneia
diagnóstico de neoplasias malignas
inspiratória (característica de vias
(principalmente carcinomas). A
respiratórias superiores), estridor,
citologia por swab é útil na
estertor, secreção nasal
criptococose felina e células
mucopurulenta, também podem
neoplásicas (principalmente TVT).
ocorrer sinais de otite externa ou otite
Outros exames subsidiários como o média/interna como inclinação da
hemograma e o perfil bioquímico não cabeça, nistagmo ou sídrome de Horner
determinam muitas informações úteis (ptose palpebral, miose, enoftalmia e
para diagnóstico de enfermidade nasal. frequentemente a terceira pálpebra
São mais importantes para auxílio está prolapsada).
diagnóstico de pacientes com
FIG. 1
hemorragia nasal em que a origem é Gato apresentando síndrome de Horner.
sistêmica, como em distúrbios de
coagulação (fator de Von Willebrand,
trombocitopenias) e doenças
infectocontagiosas (leishmaniose e
erliquiose).

PÓLIPOS
NASOFARINGEOS
Fonte: http://sogatasegatinhos.blogspot.com.br
São formações benignas de tecido
conjuntivo fibroso e células
Diagnóstico
inflamatórias que acometem
principalmente gatinhos e gatos Para o diagnóstico de pólipo
adultos jovens. A origem desses pólipos nasofaríngeo pode ser realizada
não é conhecida, mas estão radiografia para visualização de massa
frequentemente fixados na base da radiopaca em nasofaringe em projeção

7
latero-lateral (LL). Pode ser feita O prognóstico é excelente, mas as
visualização direta puxando recidivas e sequelas neurológicas são
rostralmente o palato mole, tomografia complicações evidentes.
computadorizada da bula timpânica
para determinar a extensão do RINITE
envolvimento. O diagnóstico definitivo LINFOPLASMOCÍTICA
é feito por meio de análise
(RINITE CRÔNICA
histopatológica.
CANINA IDIOPÁTICA)
FIG. 2
Radiografia em projeção latero-lateral
mostrando massas em nasofaringe (setas). Acomete cães e é uma enfermidade
caracterizada por infiltrados
inflamatórios na mucosa nasal, os quais
podem conter linfócitos, plasmócitos e
não incomumente neutrófilos. A
etiologia é alérgica e geralmente
responde ao uso de corticoides. A rinite
linfoplasmocítica é aparentemente uma
causa incomum de doença nasal.

Aspectos clínicos

Secreção mucopurulenta persistente,


Fonte: http://www.orthosveterinaria.com.br estertor, hemorragia eventual (sangue
fresco) pode ser vista na secreção de
Tratamento alguns cães, mas geralmente não é a
queixa principal. A erosão dos
O tratamento do pólipo nasofaríngeo é
turbinados é um achado frequente.
a excisão cirúrgica (pinça o pólipo e
Como se trata de uma enfermidade
retira). Antibioticoterapia com
idiopática, a ausência de achados
amoxicilina + clavulanato de potássio
específicos é importante.
por 2 a 4 semanas e terapia com
prednisolona (4 semanas) com Diagnóstico
regressão da dose. Se envolver otite e
comprometimento dos ossos da bula A biópsia é a única forma de confirmar
timpânica, é recomendada a o diagnóstico de rinite
osteotomia. linfoplasmocítica. Pela rinoscopia
observam-se sinais de inflamação.
**Geralmente em gatos faz-se o uso da Secreção nasal pode se apresentar
prednisolona, pois os mesmos podem neutrofílica e com presença de algumas
ter certa deficiência na metabolização bactérias. A cultura bacteriana não é
da prednisona em prednisolona no um ponto de importância nessa
fígado. enfermidade. Pode haver rinite

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bacteriana oportunista, mas os gatos jovens, não vacinados, os
provavelmente essas bactérias fazem imunossuprimidos e os submetidos a
parte da flora normal dos animais. estresse. A transmissão se dá por
felinos infectados doentes ou
Tratamento
portadores e fômites.
O tratamento se baseia em corticoide,
Aspectos clínicos
uma vez que a enfermidade está
relacionada ao sistema imune. Secreção nasal mucopurulenta,
conjuntivite, anorexia e desidratação. O
Prednisona 1mg/kg BID e fazer
herpesvírus apresenta clinicamente
regressão da dose ou fluticasona tópica
úlcera de córnea e o calicivírus
(se possível começar com a fluticasona
apresenta úlcera na cavidade oral.
tópica, caso não funcionar, utilizar
corticoide sistêmico). São comuns as recidivas e pode haver
Antibioticoterapia com amoxicilina + ulceração cutânea.
clavulanato de potássio por 15 dias.
FIG. 3
Umidificação do ar, instilação de NaCl Gato apresentando conjuntivite.
0,9% e em casos refratários utilizar
azatioprina (droga imunossupressora).

É difícil de tratar e as recidivas são


frequentes.

INFECÇÃO DO TRATO
RESPIRATÓRIO Fonte: http://anaturezadosgatos.blogspot.com.br
SUPERIOR DOS
FELINOS FIG. 4
Gato apresentando secreção nasal
mucopurulenta.
As infecções do trato respiratório
superior dos felinos (ITRS) são comuns
nos felinos. O herpesvírus felino (HVF),
também conhecido como vírus da
rinotraqueíte felina, e o calicivírus
felino (CVF) são responsáveis por
aproximadamente 90% dessas
infecções. A Bordetella bronchiseptica
e Chlamydophila felis (antiga Chlamydia Fonte: http://bichoegenteboa.blogspot.com.br

psittaci) estão menos comumente **Sinais que normalmente acompanham


envolvidas. A ITRS dos felinos acomete a úlcera de córnea são lacrimejamento
excessivo, coceira nos olhos, secreção ocular,

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vermelhidão em volta dos olhos e a córnea fica 1ª dose com 6 semanas e dois reforços
mais esbranquiçada. mensais. 1º reforço um ano após e
FIG. 5 depois os reforços são feitos a cada 3
Gato apresentando úlcera de córnea. anos. Adultos e acima de 9 semanas:
duas doses com intervalo de 1 mês
cada

Local da vacinação: distalmente nos


membros, pois pode causar o chamado
sarcoma vacinal. Se isso ocorrer, pode
amputar o membro e salvar o animal.
Caso seja feita na região dorsal entre as
escápulas, dificilmente tem o que fazer.

Fonte: http://www.vilanova.vet.br Cuidado e manejo (gatis e abrigos):


Diagnóstico Fazer a separação dos indivíduos,
quarentena, limpeza e desinfecção
História clínica, exame físico e
(amônia quaternária ou hipoclorito de
eliminação de outras causas.
sódio, água e sabão), ambiente
Tratamento sintomático ventilado, imunização geral e
específica.
Suporte hídrico e nutricional (o mais
palatável possível), fluidoterapia IV se
necessário, limpeza das narinas e
vaporização. Descongestionantes
ASPERGILOSE
nasais (fenilefrina ou oximetazolina – 1
gota SID) por 3 DIAS! Depois disso tem O agente etiológico é o Aspergillus
efeito rebote. Antibiótico para infecção fumigatus (raramente Penicillinum). A
secundária como amoxicilina 22mg/kg aspergilose é rara em gatos. O
BID ou TID por 7 dias. Conjuntivite por Aspergillus fumigatus é um habitante
Chlamydophila trata-se com pomada normal da cavidade nasal de muitos
oftálmica de cloranfenicol ou animais. A porta de entrada se dá pela
tetraciclina TID por 14 dias. Para úlcera via respiratória, a forma invasiva é a
de córnea utiliza-se colírio de mais comum em cães e as lesões se
tobramicina (6 a 8 vezes por dia), limitam à cavidade e aos seios
atropina (efeito analgésico) e antivirais paranasais. Causam necrose da mucosa
tópicos como a trifluridina e idoxuridina nasal e dos turbinados e osteomielite
no seio frontal. O patógeno pode ser
Prevenção oportunista (pode estar num animal
sadio) ou ocorrer exposição ambiental
A principal medida de prevenção é a
ao mesmo. Está relacionada à
vacinação, porém não de ser usada em
deficiência imunológica.
fêmeas gestantes.

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Aspectos clínicos Como realizar o procedimento: o cão é
entubado posicionado em decúbito
Secreção nasal mucopurulenta com ou
dorsal e uma sonda foley é introduzida
sem sangue, despigmentação do plano
na cavidade oral até a parte caudal da
nasal, espirros, ulceração, dor e até
nasofaringe e então o balonete é
deformidade. Sensibilidade à palpação
inflado. Uma sonda uretral é
é característica da enfermidade.
introduzida no meato dorsal de cada
Diagnóstico cavidade nasal e conectada à uma
seringa contendo clotrimazol. Lateral a
No exame radiográfico verifica-se cada sonda uretral é introduzida uma
padrão destrutivo e acúmulo de sonda de foley de menor calibre para
líquido. Pela rinoscopia pode ser feita bloquear a saída do fármaco pelas
observação das placas fúngicas e narinas. A infusão é feita por 15
erosão dos turbinados. Swab da placa minutos em cada posição (lateral
fúngica. Na citologia verificam-se as direita, lateral esquerda, ventral e
hifas do fungo. A cultura confirma a dorsal). Ao final do procedimento (que
espécie. A biópsia geralmente é dura 1 hora), são retiradas as sondas e
desnecessária. os cateteres e o animal é colocado em
decúbito esternal com a cabeça se
FIG. 6
Cão com despigmentação do plano nasal. dependurando na beirada da mesa com
o nariz apontando para o chão para que
todo o fármaco e muco resultante
sejam drenados. A drenagem
normalmente irá diminuir em 10 a 15
minutos.

FIG. 7
Representação esquemática da infusão de
clotrimazol em cão com aspergilose.

Fonte: gamenetlanhousesba.wordpress.com

Tratamento

O tratamento via oral geralmente é


feito com itraconazol (60-70% de
eficácia), ou seja, é um tratamento com
baixa eficácia. O tratamento tópico é o
Fonte: http://www.scielo.org.co
mais indicado para esse caso e é feito
com clotrimazol (infusão) sob anestesia
geral. Uma única dose tem 90% de
eficácia.

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CRIPTOCOCOSE Diagnóstico

Swab para citologia e observação de


Geralmente acomete gatos. O agente organismo fúngico, arredondado e
etiológico é o Cryptococcus grande em coloração de nanquim. Pode
neoformans. se fazer também citologia aspirativa de
linfonodos e LCR.
A transmissão se dá em locais com
grande concentração de fezes de FIG. 9
pássaros (leveduras ficam nas fezes). Cryptococcus corado com nanquim.
Esse micro-organismo não é
transmitido entre animais e pessoas,
diferentemente das outras micoses.

O agente entra pelas vias respiratórias,


podendo colonizar também a via
linfática e hematógena. O
estabelecimento e disseminação da
doença dependem da imunidade do Fonte: anatpat.unicamp.br
hospedeiro. Gatos FiV ou FeLV positivos
Tratamento
são predispostos ao estabelecimento
da criptococose em caso de contato Fluconazol tem 97% de eficácia caso a
com o Cryptococcus. doença de base não esteja ativa ou não
estiver se agravando. O tratamento
Aspectos clínicos
geralmente perdura por 20 a 30 dias
Ulceração do plano nasal, após a remissão clínica da doença.
linfadenopatia, sinais neurológicos
**Diferencial para esporotricose!
(passa a placa cribiforme), respiratórios
e oftálmicos, febre e nódulos cutâneos.

FIG. 8
Gato apresentando ulceração nasal e facial e NEOPLASIA DA
sinais oftálmicos. CAVIDADE NASAL
A maioria dos animais são adultos a
idosos. Grande parte das neoplasias são
malignas, localmente invasivas, porém
com baixo poder metastático.

Tipos histopatológicos frequentes:

o Adenocarcinoma;
Fonte: adrenalinaradio.com
o Carcinoma indiferenciado;

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o Carcinoma de células Na radiografia verifica-se padrão
escamosas; destrutivo. O diagnóstico definitivo é
o TVT; feito por citologia aspirativa
o Linfoma. (principalmente no TVT), nas outras
doenças faz-se rinoscopia com biópsia.
Aspectos clínicos
Tratamento
Secreção nasal mucopurulenta ou
hemorrágica, deformidade nasal e do Carcinomas e sarcomas: a cirurgia não
palato, espirro, estridor, estertor, sinais é recomendada, por que o tumor volta
neurológicos (se passar pela placa a crescer. Não aumenta a sobrevida do
cribiforme) e exoftalmia. Pode haver animal. O melhor seria cirurgia e
extensão da neoplasia para a cavidade radioterapia, mas isso não é a realidade
oral, podendo achar fístula. no Brasil.

Quimioterapia: carboplatina* ou então


FIG. 10 associação de carboplatina,
Cão apresentando exoftalmia.
doxorrubicina** e piroxicam***.

*Agente alquilante que altera o DNA e


causa morte de células tumorais.

**Antibiótico com propriedades


citotóxicas em células neoplásicas.

***AINE inibidor COX-2.

Fonte: atlas.fmv.utl.pt
A principal forma de tratamento são os
FIG. 11 cuidados paliativos. São medidas em
Cão apresentando deformidade nasal. pacientes que já apresentam
cronicidade da doença e esses cuidados
visam o aumento da sobrevida. Ex.:
comida mais palatável, maior aporte
energético, analgesia.

DISTÚRBIOS DA
LARINGE E FARINGE
Fonte: cmcompositor.wordpress.com

As doenças da laringe resultam em sinais


Diagnóstico
clínicos semelhantes, especialmente
estridor e sofrimento respiratório. A

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alteração de voz é específica de doença da que se estiver em um plano anestésico
laringe, mas nem sempre é relatada. As mais profundo não vai ser possível
lesões mais extensas da faringe podem observar os movimentos da laringe.
gerar sinais clínicos de obstrução das vias
aéreas superiores, como os descritos para Obs.: Dispneia inspiratória e ruídos
a laringe. Os sinais clínicos mais evidentes NUNCA vão ser de origem pulmonar.
em doença faríngea são estertor, espirro São vias aéreas superiores.
reverso, engasgo, ânsia de vomito e
disfagia. Tratamento

Lateralização aritenoide unilateral:


laringe fica permanentemente aberta.
PARALISIA DE 34% dos casos apresentam
LARINGE complicações pós-operatórias, como
por exemplo, a pneumonia aspirativa.
Obstrução dinâmica do fluxo de ar pela 19% dos pacientes morrem.
falha na abdução das cartilagens Outras técnicas: cordotomia transversa
aritenoides (bilateralmente) e e amputação da cartilagem cuneiforme
geralmente é idiopática. A laringe não
funciona adequadamente. Quando o
animal inspira as aritenoides deveriam
SÍNDROME DA VIA
se abrir e ao expirar, as mesmas
deveriam se relaxar. É típica de cães AÉREA
idosos e de grande porte como o BRAQUICEFÁLICA
labrador. Geralmente ocorre por
polineuropatia. A polineuropatia é um O termo síndrome da via aérea
distúrbio neurológico que ocorre braquicefálica, síndrome das vias
quando simultaneamente aéreas braquicefálicas ou também
muitos nervos periféricos por todo o chamado de síndrome da obstrução das
corpo começam a não funcionar vias aéreas superiores se refere à
corretamente. múltiplas anormalidades anatômicas
encontradas em cães braquicefálicos, e
Aspectos clínicos
com uma menor frequência em gatos
O principal sinal clínico é a mudança na com a face achatada. Os animais que
voz. Doença em nenhum outro lugar vai mais comumente apresentam essas
causar isso. Outros sinais incluem alterações são o pug, bulldog, gato
dispneia inspiratória que piora com o persa e himalaia.
exercício, estridor e estertor.
As anormalidades anatômicas incluem
Diagnóstico a narina estenótica, vestíbulo
estenótico, corneto aberrante, colapso
Exame subsidiário: laringoscopia. É
feita sob anestesia SUPERFICIAL, por

14
de laringe, palato mole mais longo e vestibuloplastia. Clinicamente é
espesso e hipoplasia traqueal. importante a perda de peso do animal.

FIG. 12 O pós-operatório é bem crítico para


Comparação de uma narina de um cão esses animais, eles podem parar de
braquicefálico (direita) com a de um cão
mesaticefálico/dolicocefálico. respirar ao serem extubados. Utiliza-se
o método da boca aberta para que o
animal possa respirar melhor.

DISTÚRBIOS DA
TRAQUEIA E DOS
BRÔNQUIOS
Fonte: www.vivendapet.com.br

Aspectos clínicos

A nasofaringe deve ser firme e patente. CONDROMALÁCIA


Nos braquicefálicos ela não é patente,
TRAQUEAL (COLAPSO
há muito tecido (tecido flácido). As
anormalidades associadas à síndrome DE TRAQUEIA)
da via aérea braquicefálica prejudicam
o fluxo de ar através das vias aéreas A traqueia normal é circular num corte
superiores, causando sinais de transversal. O lúmen é mantido aberto
obstrução superior como movimentos durante todas as fases da respiração
respiratórios aumentados, sons silenciosa por aneis traqueais
ruidosos (estertores), cianose, síncope. cartilaginosos, que são conectados a
Os sinais clínicos são exacerbados com ligamentos fibroelásticos que dão
exercício, excitação e temperatura alta. flexibilidade e permitem a
movimentação do pescoço sem
Tratamento comprometer as vias aéreas. Os anéis
traqueais são incompletos
O tratamento deve ser instituído para
dorsalmente. A membrana traqueal
minimizar os fatores que exacerbam os
dorsal (músculo traqueal e tecido
sinais clínicos da doença como o
conjuntivo) completa os anéis. O termo
exercício, excitação e
colapso de traqueia se refere ao
superaquecimento e também para
estreitamento do lúmen traqueal pelo
facilitar a passagem de ar nas vias
enfraquecimento dos anéis
aéreas superiores.
cartilaginosos ou pelo excesso de
Tratamentos cirúrgicos rotineiros: membrana traqueal dorsal, ou de
correção do palato mole hipertrófico, ambos.
alargamento das narinas e

15
É uma obstrução dinâmica que leva a FIG. 14
diminuicão do lúmen traqueal durante Imagem radiográfica em projeção LL mostrando
a traqueia colabada.
o ciclo respiratório. Afeta cães adultos
como o poodle, york e maltês. A
etiologia é desconhecida,
provavelmente seja hereditária. É uma
doença degenerativa primária da
cartilagem hialina do anel traqueal.

A cartilagem hialina normal apresenta


pericôndrio, condrócitos, colágeno tipo
Fonte: http://cavetrp.blogspot.com.br/
II e proteoglicanos. A cartilagem hialina
anormal apresenta tecido conjuntivo Na condromalácia traqueal, a
fibroso também. membrana traqueal dorsal se estica e o
anel deformado perde a rigidez.
Há uma teoria sobre a patogênese do
colapso de traqueia em que os cães que A traqueia colapsa em sentido dorso-
já são predispostos devido a presença ventral. A traqueia cervical e cervico-
de anormalidades na cartilagem, torácica são as mais afetadas.
desenvolvem tosse (por um problema
agravante), iniciando um ciclo de Na inspiração ocorre colapso da
inflamação traqueal crônica, alterações traqueia cervical, por que há maior
na mucosa da traqueia e perpetuação pressão na entrada do ar.
da tosse. Na expiração ocorre o colapso da
Na condromalácia traqueal há perda de traqueia torácica, por que a maior
proteoglicanos, de forma que pode ser pressão nesse momento é
feita a coloração de safranina, pois ela intratorácica.
marca os proteoglicanos.
FIG. 15
FIG. 13 Desenho esquemático de uma traqueia normal
Imagem radiográfica em projeção LL mostrando e colabada.
a traqueia colabada.

Fonte: http://www.diagnosticoveterinario.com/
Fonte: http://petcare.com.br/

16
FIG. 16 Tratamento
Imagem de endoscopia mostrando a traqueia
cervical parcialmente colabada. Clínico é o principal tratamento. É
efetivo na grande maioria dos casos.

Utiliza-se corticoide para desinflamar a


traqueia (que infama pelo golpeamento
da membrana traqueal dorsal no
assoalho traqueal). O corticoide de
eleição é a prednisona 1mg/kg SID ou
BID, o tempo vai depender do paciente.
Às vezes apenas uma semana de uso
Fonte: http://www.endocirugiaveterinaria.com/
resolve, já outros pacientes precisam
Aspectos clínicos de uma dose mínima contínua. A
menor dose possível para o melhor
Tosse crônica (cronicamente efeito terapêutico.
progressiva), dispneia principalmente
inspiratória, ronqueira (estertor). Há Broncodilatadores são utilizados se
piora da tosse quando em exercício ou tiver alguma restrição respiratória. São
quando a coleira exerce pressão sobre eles: alfa agonistas (terbutalina,
o pescoço. Sinais clínicos sistêmicos
salbutamol) e metilxantinas
como anorexia, perda de peso e
depressão são incomuns. Animais (aminofilina, teofilina), por 7 dias. É a
acima de 8 anos, cerca de 90% medida menos utilizada.
apresenta colapso de traqueia, porém
só 10% tem a sintomatologia clínica. Antitussígenos são utilizados em
pacientes com tosse persistente
Diagnóstico mesmo com o corticoide. Melhoram o
quadro e ajudam na diminuição da
Radiografia em projeção latero-lateral
dose do corticoide. Antitussígeno
verifica-se o tamanho do lúmen
narcótico de eleição é a codeína
traqueal. Exame negativo não descarta
(opioide) 0,5-2,0mg/kg BID.
a enfermidade, por que é um evento
dinâmico, isto é, vai apresentar o NÃO existe medicação que melhore a
colapso na hora da crise. O que se pode morfologia da traqueia.
tentar fazer é radiografar o animal na Glicosaminoglicanos eram prescritos
inspiração, expiração e fazer reflexo de para condromalácia traqueal, mas não
tosse e radiografar também. há nenhuma evidencia científica da
eficácia dos mesmos.
A traqueoscopia geralmente não é
necessária, por que normalmente o Condições agravantes da
raio X já confirma a suspeita. A condromalácia traqueal: obesidade é
utilização da traqueoscopia é para de longe o ponto chave. Pacientes com
eliminar co-morbidades e também é colapso melhoram muito com a perda
utilizada se a cirurgia for o tratamento. de peso. Outras condições agravantes

17
incluem cardiopatia e bronquite TRAQUEOBRONQUITE
crônica.
INFECCIOSA (TOSSE
Tratamento cirúrgico DOS CANIS)
É o tratamento prescrito aos pacientes
refratários ao tratamento clínico ou Os vírus mais comuns envolvidos nessa
pacientes com risco iminente de morte. enfermidade são o adenovírus e o vírus
da parainfluenza. Pode envolver
Próteses extra-luminais (eficácia de 75- bactéria como a Bordetella
85%). São próteses de polipropileno bronchiseptica. É uma doença
presas ao redor da traqueia através de altamente infecciosa. A transmissão se
um ponto cirúrgico. O polipropileno é dá por aerossóis e contato direto, por
um material difícil de conseguir, por isso é importante saber se o animal
isso o que se pode fazer na rotina é passeia, tem contato com outros cães
cortar uma seringa em formato de anel ou se ficou em hotelzinho.
e utilizá-la. O grande problema é a
lesão do nervo laríngeo-recorrente, que Aspectos clínicos
pode levar a paralisia aguda de laringe Tosse aguda paroxística (incontrolável),
até morte súbita. Esse procedimento é alta. Em outros aspectos o animal está
limitado à traqueia cervical, por que a normal, comendo, brincando. Pode ter
traqueia torácica é de difícil acesso.
corrimento nasal, mas não é um
Próteses endoluminais achado comum.

São stents de nitinol e aço inoxidável. É Diagnóstico


uma técnica minimamente invasiva e O diagnóstico é fundamentalmente
altamente expansiva. Vai do início da clínico de exclusão. Pode ter leve
traqueia até a carina. O problema é que padrão broncointersticial. No
o stent pode quebrar, ocorrer migração hemograma e bioquímico os
e até hemorragias. parâmetros não são alterados.
FIG. 17 Tratamento
Imagem mostrando um stent e sua capacidade
de expansão.
Não trata. É uma doença autolimitante.
Não se prescreve antibiótico para um
paciente que apresenta uma infecção
viral, a menos que tenha uma infecção
bacteriana secundária. De 3 a 5 dias a
doença tende a regredir e com 7 dias se
encerra.

Paciente com leucocitose com desvio,


Fonte: http://www.medicalexpo.com/
febre, evolução para pneumonia

18
bacteriana, então nesse caso o Tratamento
antibiótico é utilizado. A escolha é
O tratamento é cirúrgico na grande
amoxicilina + clavulanato de potássio.
maioria dos casos. Em casos menos
Aplicação única de dexametasona IM graves, em que o animal apresenta
alivia a tosse (se a tosse for alta, pouco enfisema subcutâneo, o que
crônica e frequente). pode ser feito é bandagem para
impedir a disseminação do ar, repouso,
analgésico, anti-inflamatório e
TRAUMA TRAQUEAL antibiótico (animal foi mordido). Porém

(RUPTURA ao fazer isso, deve se saber que a


qualquer momento pode ter que
TRAQUEAL) intervir. O paciente pode desenvolver
muito enfisema e morrer de choque
Geralmente ocorre por brigas circulatório (pela pressão que o
(mordedura). enfisema subcutâneo faz sobre os
vasos), mesmo que inicialmente
Diagnóstico
apresentava um quadro pouco grave.
A manifestação clínica mais evidente é
Obs.: Choque séptico é uma infecção que afeta todo
o enfisema subcutâneo que pode ser o sistema imunológico, desencadeando uma reação
evidenciado tanto no exame físico, em cadeia que pode provocar uma inflamação
descontrolada no organismo. Esta resposta de todo o
quanto na radiografia. Na radiografia
organismo à infecção produz mudanças de
pode se evidenciar perda na temperatura, da pressão arterial, frequência cardíaca
continuidade do revestimento e e respiração. Em geral não dá tempo de acontecer.
pneumomediastino. A traqueoscopia
também pode ser feita.

FIG. 18 BRONQUITE CRÔNICA


Cão com ruptura traqueal, apresentando
enfisema subcutâneo.
CANINA
Caracterizada por tosse crônica na
maioria dos dias por mais de dois
meses, não necessariamente contínuos.
A etiologia é obscura, não se sabe o
porquê o brônquio está inflamado.
Presume-se que a bronquite crônica
canina é uma consequência de um
longo processo inflamatório iniciado
por infecção, alergia ou inalação de
toxinas e substâncias irritantes.
Fonte: http://petcare.com.br/

19
Alterações histopatológicas incluem crônica canina. Na radiografia pode se
fibrose, hiperplasia epitelial, hipertrofia observar alterações concomitantes
glandular, infiltrado inflamatório (em como a doença valvar mitral, colapso
geral é neutrofílico, mas pode ser de traqueia e pneumonia bacteriana.
linfoplasmocitário – indicando
A broncoscopia e lavado
cronicidade).
broncoalveolar é indicado quando o
Afeta principalmente cães adultos a diagnóstico está incerto. A coleta de
idosos, de pequeno a médio porte material deve ser feita antes da
como o Cocker Spainel e o Poodle. instituição terapêutica. Pode ser
observada hiperemia, excessivo muco e
Aspectos clínicos
infiltrado neutrofílico e eosinofílico. Um
O principal sinal clínico é a tosse pulmão normal tem em torno de 5% de
crônica. No início não há sinais neutrófilos e 5% de eosinófilos. Na
sistêmicos, come bem, está alerta etc. bronquite crônica canina essas células
Quando o quadro está mais agravado estão predominantes.
observa-se insuficiência respiratória, FIG. 19
caracterizado por dispneia expiratória Cão com bronquite crônica.
(alteração intratorácica) e crepitações
e/ou sibilos.

Uma das complicações é a


bronquiectasia, que consiste na
dilatação irreversível do brônquio, leva
ao acúmulo de líquido distalmente. As
bactérias aproveitam-se do muco para
se multiplicar. A hipertensão pulmonar
raramente é observada. Fonte: http://www.petshopauqmia.com.br/

A respiração abdominal é padrão Diagnóstico diferencial


intratorácico, caracterizando dispneia
expiratória. Diferencial para doença valvar mitral,
condromalácia traqueal e
Diagnóstico broncomalácia.

A radiografia tem sensibilidade limitada Tratamento


(50-65%). De 35 a 50% podem não
apresentar alteração radiográfica. O O carro-chefe do tratamento de
que se observa na radiografia é um bronquite crônica canina é o
padrão bronquial, caracterizado pelo tratamento com glicocorticoide. É um
espessamento dos brônquios. A tratamento mais prolongado e em
radiografia + clínica geralmente é alguns casos é contínuo. Se o
suficiente para diagnosticar a bronquite tratamento for interrompido, pode

20
ocorrer destruição progressiva Caso clínico moderado a grave o
bronquial. O corticoide de escolha é a tratamento de escolha é a ceftriaxona
prednisona 1mg/kg BID e faz-se ou amoxicilina + clavulanato ou
redução progressiva da dose. O ajuste ampicilina + sulbactam, ambos por via
da frequência e da dose é individual IV.
(desde o paciente assintomático até o
Outras medidas incluem vaporização
grave). Corticoide em aerossol é
(grandes partículas para grandes vias
utilizado quando a dose de corticoide
aéreas), nebulização (pequenas
oral não está sendo plenamente
partículas que penetram em vias aéreas
efetiva, porém não se sabe quanto ao
menores), ambos 1 a 2 vezes ao dia.
certo é absorvido. O indicado é borrifar
em torno de 10 vezes e deixar o animal Manejo ambiental (difícil, porém se o
aspirar. proprietário fuma, o mesmo deve ser
alertado);
Terapia broncodilatadora pode ser feita
com aminofilina ou salbutamol Manutenção da saúde oral (diminui a
(albuterol). O tempo depende de cada carga bacteriana);
paciente também.
Vacinação;
Terapia antitussígena: NÃO utilizar
codeína antes do tratamento com Perda de peso (obesidade atrapalha a
corticoide, pois pode aprisionar o muco condição respiratória).
nos brônquios. Usar quando a via
respiratória estiver desinflamada. O
tempo da terapia vai depender do ASMA FELINA
paciente, pode até ser crônica.

Tratamento das complicações É um processo mórbido semelhante à


asma humana.
Exacerbação bacteriana: apatia,
hiporexia, febre (forte indício de Fisiopatologia
enfermidade bacteriana oportunista),
É um processo inflamatório das vias
piora no quadro de tosse (bem
aéreas e que possui três principais
relevante), padrão alveolar, leucocitose
eventos: broncospasmo (contração da
com desvio e neutrófilos tóxicos.
musculatura lisa), edema da parede
O tratamento de escolha é amoxicilina brônquica (aumento da
+ clavulanato de potássio 22mg/kg BID permeabilidade) e hipertrofia das
ou TID. O clavulanato neutraliza as glândulas mucosas (excesso de muco
enzimas (penicilinases) que produzido). O resultado disso é a
degradariam a amoxicilina. Pode se obstrução do fluxo de ar.
utilizar também a cefalexina 30mg/kg
Ocorre a exposição a antígenos
BID ou sulfametoxazol + trimetoprim.
ambientais (ex.: poeira), ocorrendo o

21
estímulo antigênico. As células de boca aberta (indica situação
dendríticas fagocitárias captam o gravíssima em gatos), posição
antígeno e apresentam ao linfócito T ortopneica, cianose ou palidez de
helper (tipo 1), que induz o linfócito B a mucosas e podem ser ouvidas
produzir IgE. A IgE se liga ao mastócito crepitações e sibilos.
e basófilo e ocorre então a
Diagnósticos diferenciais
degranulação (libera histamina e
serotonina). Na fase crônica os diferenciais são:
FIG. 20 o Bronquite crônica. Na bronquite
Imagem ilustrando a fisiopatologia da asma.
não há broncospasmo,
diferentemente da asma, porém
há controvérsias de autores se
realmente há bronquite em
gatos.
o Aelurostrongilose
(Aelurostrongylus abstrusus) é
rara.
o Dirofilariose (Dirofilaria immitis)
é mais característica de região
litorânea. Animal tosse por
Fonte: http://www.bancodesaude.com.br/
pneumonite.
Com esses eventos ocorrendo, o ar
No mal asmático os diferenciais são:
(rico em CO2) fica aprisionado nos
alvéolos (hiperinsuflação). o Efusão pleural (ex.: por linfoma
mediastínico).
A prevalência da asma é de 1 a 5% da
o Pneumotórax ou hérnia
população dos felinos. Ocorre em gatos
diafragmática.
adultos jovens, geralmente de 4 a 5
o Edema pulmonar cardiogênico.
anos.
Mais característico de gato
Aspectos clínicos velho (geralmente acima de 6
anos) e ocorre por CMH
Na forma crônica o animal apresenta (cardiomiopatia hipertrófica).
tosse intermitente (felino tossindo,
90% de chance de ser asma), dispneia Diagnóstico
expiratória, tosse de longos períodos e
A radiografia é o principal meio de
os sinais sistêmicos são ausentes.
diagnóstico. Os padrões observados são
Já na forma aguda ou também hiperinsuflação com aplainamento de
chamada de estado de ‘’mal asmático’’ diafragma, empurrando-o
o felino apresenta dispneia, caudalmente.
principalmente expiratória, pode estar

22
Atelectasia lobar onde todo o ar sai do Tratamento para o gato ‘’jaguatirica’’
lobo. O ar aprisionado e pode ser
Quando o paciente é muito
absorvido, levando a atelectasia.
agressivo, é difícil para fazer
Geralmente isso ocorre no lobo médio
medicação oral, portanto pode
direito.
se utilizar fármacos injetáveis,
Pode ocorrer também o padrão apesar de apresentarem mais
bronquial ou então o pulmão pode efeitos adversos. A medicação
estar normal. de eleição é o acetato de
metilprednisolona 10mg a cada
Tratamento
2 a 4 semanas.
Corticoides e broncodilatadores são a
Tratamento na crise aguda
base da terapia. Os corticoides têm
uma potente ação anti-inflamatória. Dexametasona, hidrocortisona
ou prednisolona. Se possível IV,
Tratamento em paciente estável
caso contrário, a vias de eleição
Prednisolona 1mg/kg BID com são IM ou SC. Tomar cuidado
esquema decrescente por com a contenção de gatos
tempo prolongado ou terapia dispneicos. A dificuldade
contínua. Pode ser feita com respiratória, a contenção e o
comprimido ou suspensão. estresse somados podem
culminar em morte.
Outra opção é a fluticasona por
inalação BID em dose Terbutalina SC ou IM a cada 4
decrescente (2 ‘’pufs’’ e aguarda horas ou salbutamol por
de 7 a 10 movimentos inalação a cada 30 a 60 minutos.
respiratórios). Metilxantinas em gatos podem
induzir ao vômito. O felino pode
Paciente estável (em casa) aspirar e acabar morrendo.
Terapia com broncodilatador é Na hora da crise deve ser utilizado
feita com terbutalina VO BID ou oxigênio. Gato em geral não aceita
TID ou teofilina de ação máscara, portanto o que pode ser feito
prolongada SID, normalmente à é uma caixa de oxigênio e sempre com
noite. A inalação de salbutamol o menor estresse possível.
é uma controvérsia, pois é uma
mistura racêmica (dois Evitar tabagismo próximo ao paciente.
componentes com efeitos
Efeitos adversos:
contrários), podendo levar a
broncospasmo. Alguns efeitos adversos podem ocorrer
devido à terapia esteroide crônica
como a diabetes e o

23
hiperadrenocorticismo. O gato acaba PNEUMONIAS
sendo mais resistente ao corticoide,
pois eles apresentam menos receptores
BACTERIANAS
no interior das células.
Principal doença parenquimatosa
Terapia com broncodilatadores pulmonar. Pode ser causada por uma
enorme gama de bactérias que incluem
Particularmente é importante no mal
a Pasteurella, Bordetella,
asmático (broncospasmo). Não usar
Streptococcus, Staphylococcus e
como monoterapia.
Proteus. Na maioria dos casos a
pneumonia bacteriana é oportunista e
ocorre secundária à uma outra doença
como a bronquite crônica, aspiração,
BRONCOMALÁCIA infecção viral, imunossupressão
sistêmica (ex.: quimioterapia).
É uma doença recente e fracamente
entendida. O primeiro relato foi feito Aspectos clínicos
em 2008. Acredita-se que seja um
Tosse, secreção nasal, intolerância ao
evento primário no brônquio.
exercício, dispneia/taquipneia (dispneia
Ocorre colapso bronquial durante o pode ser mista ou expiratória) e sinais
ciclo respiratório. Os pacientes sistêmicos como febre, prostração,
apresentam tosse crônica (100% dos anorexia, por que o pulmão é um órgão
casos) e alguns podem apresentar vital.
dispneia.
Diagnóstico
Diagnóstico
Na radiografia observa-se padrão
É difícil definir diagnóstico de alveolar crânio-ventral (alvéolos com
broncomalácia por meio da radiografia. pus) ou consolidação pulmonar por
A broncoscopia fecha o diagnóstico. infecção anaeróbica geralmente
provinda da boca. Pode ser observado
Tratamento
o chamado broncograma aéreo, que
As recomendações terapêuticas em indica alteração no padrão alveolar. O
geral são empíricas. O tratamento é o brônquio (radioluscente) fica visível
mesmo da bronquite crônica. Deve ser porque o lobo está com secreção e fica
feita monitoração de exacerbações radiopaco.
bacterianas (infecção bacteriana
No hemograma é observado neutrofilia
oportunista).
com desvio à esquerda (neutrofilia leve
– mais ou menos 25.000 a 30.000) e
neutrófilos tóxicos.

24
Pode envolver coleta de amostra mais ou menos 10 a 14 dias. Em
pulmonar, mas raramente é feita e caso de bronquiectasia o
nunca como primeira escolha. É feita tratamento pode se estender
apenas se a instituição terapêutica nas por 30 a 60 dias.
primeiras 72 horas não esteja surtindo
Quadro clínico moderado a grave
efeito.

FIG. 21
Internação e terapia IV com
Radiografia torácica de um cão com amoxicilina + clavulanato ou
pneumonia bacteriana. ampicilina + sulbactam ou
ceftriaxona. A gentamicina tem
um nível de sensibilidade
enorme para micro-organismos
pulmonares também e pode até
ser usada como monoterapia.

Os resultados devem vir em 72 horas.


Se isso não ocorrer pode não ser
pneumonia ou então há resistência
Fonte: petcare.com.br
bacteriana.
FIG. 22
Medidas adjuvantes
Radiografia torácica de um cão com
pneumonia bacteriana.
Hidratação das vias
aéreas, fluidoterapia IV,
nebulizações com
solução fisiológica,
broncodilatador se
apresentar dispneia
severa, fisioterapia
(tapotagem) e terapia
com oxigênio (saturação
Fonte: petcare.com.br de oxigênio deve estar
acima de 90).
Como há pus no pulmão (opacidade de
tecidos moles) pode se observar alguns
brônquios (broncograma aéreo).

Tratamento NEOPLASIAS
PULMONARES
Quadro clínico brando

Amoxicilina + clavulanato de As neoplasias primárias são raras, as


potássio TID ou cefalexina ou mais comuns são as metastáticas. Pode
sulfa + trimetoprim. Ambos por ocorrer neoplasia por extensão de

25
processo adjacente, mas é rara ou primeira manifestação clínica de
então neoplasias multicêntricas como o neoplasia pulmonar.
linfoma.
FIG. 23
Radiografia mostrando cão com osteopatia
hipertrófica (reação periosteal).

NEOPLASIAS
PRIMÁRIAS
Mais de 90% são carcinomas. Podem
ocorrer também osteossarcomas,
condrossarcomas, hemangiossarcomas,
fibrossarcomas e adenossarcomas.

Aspectos clínicos

É uma doença silenciosa, os sinais


clínicos só se tornam evidentes quando
há comprometimento pulmonar
significativo.

Paciente tosse por compressão e


obstrução das vias aéreas. Pode ocorrer
anormalidades V:Q
Fonte: http://www.crmvsp.gov.br/
(ventilação:perfusão), efusão pleural,
inflamação e infecção e A radiografia é o principal exame,
pneumotórax/hemotórax. porém é de baixa especificidade (pode
ser neoplasia ou pode ser granuloma,
Síndrome paraneoplásica é uma não dá para diferenciar). Não fornece
manifestação causada pela neoplasia um diagnóstico definitivo. O que pode
distante do local onde ela se origina. É ser visto é um padrão variável (massas
caracterizada por um conjunto de sinais solitárias), efusão pleural e lesões
e sintomas que antecedem ou que acima de 0,5cm. Pode ser útil para
ocorrem concomitantes com a selecionar técnica de colheita de
presença de uma neoplasia no amostras.
organismo.
Na ultrassonografia pode ser feita a
A osteopatia hipertrófica é uma reação visualização das massas, a US diferencia
periosteal paliçada irregular que se a massa é cavitária ou sólida,
acomete os quatro membros de distal confirma massa em efusão e serve para
para proximal, levando o paciente a ter guiar a punção aspirativa (citologia).
um andar rígido e apresentar dor. É a

26
Obs.: calcificação em massa pode TROMBOEMBOLISMO
indicar neoplasia maligna.
PULMONAR
Amostras pulmonares para citologia
aspirativa para diferenciar processos Obstrução das artérias e arteríolas
inflamatórios de processos neoplásicos, pulmonares impedindo o fluxo
porém dificilmente altera a terapêutica. sanguíneo e a perfusão. É o primeiro
Observa-se anisocitose e anisocariose leito vascular pelo qual os trombos da
(tamanho diferente de núcleo). A rede venosa sistêmica ou do ventrículo
citologia só é justificada se há dúvida direito passam. O êmbolo pode ser
diagnóstica ou vai mudar a terapia. formado por bactérias, corpos
estranhos, ar, gordura, parasitas e
Lavado broncoalveolar apenas sob
trombo (o mais comum). Isso gera uma
anestesia geral.
alteração V:Q (altera a relação
Toracotomia e biopsia são invasivos e ventilação:perfusão).
permitem terapêutica (resseccionar o
Aspectos clínicos
lobo com a massa).
Dispneia respiratória súbita, aguda e
Tratamento
grave com ausência de sinais
Em caso de carcinomas e sarcomas o radiográficos significativos.
tratamento é cirúrgico. A quimioterapia
Diagnóstico
é feita geralmente com carboplatina
em caso de disseminação (metástase). Dosagem de dímeros D (descarta o
TEP). O ecocardiograma é fundamental.
O coração direito precisa trabalhar mais

NEOPLASIA para enviar sangue para o pulmão


através da artéria pulmonar. Pelo
PULMONAR ecocardiograma consegue-se visualizar
METASTÁTICA regurgitação na valva tricúspide e
aumento na velocidade do refluxo.
Representa doença avançada, Uma vez constatada a hipertensão
disseminada. pulmonar, o diagnóstico quase que
certeiramente será TEP.
O diagnóstico é feito por sinais de
doença do trato respiratório inferior. A A cintilografia de perfusão confirma
radiografia pode comumente diagnóstico, mas não é a realidade no
apresentar padrão intersticial nodular. Brasil, assim como é difícil em vários
Deve ser feita pesquisa da neoplasia países também.
primária e citologia/histologia só
Boa parte dos TEPs são secundários a
devem ser feitas se necessárias.
uma doença sistêmica como o

27
hiperadrenocorticismo (cursa com o Intoxicação por oxigênio;
hipercoagulabilidade). o Veneno de cobra ou
escorpião (edema pulmonar
Tratamento agudo).
o Bloqueio linfático
O tratamento normalmente é o Neurogênico por trauma
direcionado à causa primária, encefálico.
juntamente com oxigenoterapia e
fármacos para prevenir novos êmbolos. Aspectos clínicos

A terapia anticoagulante não atua em É um evento de evolução aguda. A


êmbolos já formados, só previne a taquipneia é comum, mas o animal
formação de novos. Esse tratamento é pode apresentar também dispneia. A
feito com heparina (na clínica) e taquipneia ocorre por que o pulmão
warfarina (tratamento domiciliar). está com líquido e pesado, se forma
que o animal tenta respirar mais rápido
na tentativa de compensação. Pode

EDEMA PULMONAR apresentar tosse, crepitação (mais


difícil de auscultar, mas um pulmão
limpo à auscultação não descarta a
As causas de edema pulmonar são:
enfermidade) e espuma sanguinolenta
o Hipoalbuminemia por na boca (sai plasma e junto extravasam
diminuição de pressão oncótica. algumas hemácias).
Ocorre na insuficiência hepática
Diagnóstico
e glomerulopatias. Não é uma
causa significativa de edema. Padrão intersticial (início) e padrão
o Aumento da pressão hidráulica alveolar. Quando há risco iminente de
(hidrostática). É cardiogênica e morte, primeiramente trata o animal,
acontece por ICC esquerda, depois radiografa.
onde a principal causa é a
FIG. 24
doença valvar mitral. Em cães
Radiografia do tórax de um cão com edema
ocorre a cardiomiopatia pulmonar (pulmão radiopaco).
dilatada e em gatos a
cardiomiopatia hipertrófica.
o Hiper-hidratação pode ser causa
de edema, mas isso é muito
mais difícil. Necessita um
volume muito grande.
o Aumento da permeabilidade
vascular (edema inflamatório) e
ocorre por:
Fonte: http://grupokleine.com.br/
o Inalação de fumaça;
o Aspiração de suco gástrico;

28
Tratamento para dentro do saco pericárdico.
Fundamentalmente as hérnias são de
Oxigenoterapia e furosemida (4-
origem traumática (atropelamento é o
8mg/kg IV) até a estabilização e depois
mais comum). Hérnia de origem
mantem de 8/8hrs, 12/12hrs ou
congênita é rara.
24/24hrs, dependendo da gravidade.
Broncodilatadores também podem ser Aspectos clínicos
utilizados. Se o animal estiver muito
Existe a forma aguda e crônica. Na
agitado recomenda-se utilizar morfina
forma aguda o paciente apresenta
ou metadona para sedação. A mofina
sinais de choque, fraturas e dispneia. Já
deve ser feita IV para diminuir o risco
na forma crônica vai apresentar sinais
de vômito, porém mesmo assim há
respiratórios e também
chances do animal vomitar, de forma
gastrointestinais (ex.: alça intestinal
que a eleição neste caso é a metadona.
aprisionada leva o animal ao vômito).
O edema não cardiogênico não Pode ocorrer passagem de lobos
responde adequadamente à hepáticos também.
furosemida. O tratamento base nesse
É comum a efusão pleural por hérnia
caso é o oxigênio e tratar a causa
diafragmática.
primeira se ela for identificada.
Diagnóstico
Diagnóstico diferencial
É feito de horas até anos. O paciente
Para animal fluindo sangue nas narinas
pode apresentar isso por anos e nunca
é hemorragia pulmonar aguda e
manifestar sintomatologia clínica. Pode
intoxicação por dicumarínicos.
apenas ser um achado radiográfico.

A radiografia e o ultrassom são as


DOENÇAS PLEURAIS E principais armas diagnósticas. No raio X
DIAFRAGMÁTICAS simples verifica-se perda do contorno
normal do diafragma, presença de
opacidades gasosas na caixa torácica
(alças intestinais), obscurecimento da
HÉRNIAS silhueta cardíaca e efusão pleural
secundária (aumento da pressão
DIAFRAGMÁTICAS hidráulica). Pode ser feita radiografia
contrastada com sulfato de bário. A
As hérnias diafragmáticas são divididas
ultrassonografia é útil, por que muitas
em pleuroperitoneal e
vezes pelo excesso de líquido se torna
pleuropericárdica. A pleuroperitoneal é impossível visualizar as estruturas
a mais comum e é uma invaginação
intratorácicas para fechar um
para dentro da cavidade torácica. A
diagnóstico.
pleuropericárdica é uma invaginação

29
FIG. 25 Causas de efusão pleural incluem o
Radiografia de tórax de um gato com aumento da permeabilidade vascular
hérnia diafragmática.
(vasculite), comprometimento da
drenagem linfática, aumento da
pressão hidrostática e diminuição da
pressão oncótica. No pulmão a pressão
oncótica é 70% da pressão oncótica do
plasma, facilitando o extravasamento
de líquido.

Colheita e processamento da amostra


Fonte: http://www.vetseculoxxi.com/
Devem ser utilizados métodos de
FIG. 26
colheita estéril para garantir que micro-
Radiografia de tórax de um gato com
hérnia diafragmática. organismos não serão introduzidos na
cavidade. O fluido colhido deve ser
colocado em dois tubos: um com EDTA
e outro estéril destinado a possível
envio para microbiologia (ex.: cultura)
ou análise bioquímica. Se os tubos não
forem imediatamente enviados, devem
ser refrigerados por até 36 horas.
Métodos de exame microscópico
incluem esfregaço direto, esfregaço do
Fonte: http://www.diagnosticoveterinario.com/
sedimento ou preparação em
citocentrífuga. Deve ser feita análise
Tratamento física (cor e transparência do fluido). A
cor reflete os pigmentos solúveis no
Cirúrgico.
fluido como a bilirrubina (amarela a
alaranjada), hemoglobina
(avermelhada), estercobilinogênio
EFUSÃO PLEURAL (castanho), lipoproteínas (branco,
cremoso ou turvo). A estimativa
A presença de efusão pleural em um refratométrica da proteína total
cão ou gato é normalmente confirmada também deve ser feita. A análise
por radiografia torácica, bioquímica da concentração de
ultrassonografia ou toracocentese. Em algumas substâncias serve para
animais que apresentam dificuldade caracterizar algumas efusões.
respiratória com suspeita de efusão
pleural, a toracocentese é realizada Os transudatos puros são líquidos e
para estabilizar o paciente antes de com baixas concentrações de proteína
serem obtidas radiografias. e são formados por aumento da

30
pressão hidrostática, diminuição da A efusão pleural é visível à radiografia
pressão oncótica ou obstrução linfática. após acúmulo de aproximadamente 50
Os exsudatos podem ser sépticos ou a 100 mL de liquido da cavidade
assépticos e tem uma concentração de pleural, dependendo o tamanho do
proteína mais alta em relação ao animal. Conforme ocorre acúmulo de
transudato. fluido, os lobos pulmonares retraem-se
e as bordas se tornam arredondadas. O
Efusões quilosas ou quilotórax resultam
líquido contorna o coração e o
de vazamento de líquido do ducto
diafragma, obscurecendo seus
torácico, que transporta linfa rica em
contornos. Os pulmões flutuam no topo
lipídeos. O quilo tem características
do fluido, deslocando a traqueia
citológicas de um transudato
dorsalmente. À medida que mais
modificado ou exsudato asséptico com
liquido se acumula, o parênquima
moderada concentração de proteína. O
pulmonar aparece anormalmente
diagnóstico de quilotórax é confirmado
denso como resultado de incompleta
pela concentração de triglicerídeos no
expansão.
plasma e no líquido pleural.
Uma avaliação radiográfica mais crítica
Efusões hemorrágicas são
das estruturas intratorácicas não pode
macroscopicamente avermelhadas
ser realizada em animais com efusão
devido à grande quantidade de
pleural até que o fluido seja removido.
hemácias. Possuem proteína alta.
Dificuldade respiratória por hemotórax Aspectos clínicos
pode ser a única manifestação clínica.
Normalmente o sinal principal é a
Efusões também podem ser causadas taquipneia, mas o paciente pode
por neoplasias no interior da cavidade apresentar dispneia também. Pode ter
torácica e são responsáveis pela febre, tosse, anorexia, palidez de
maioria dos tipos de efusão mucosas, mas isso tudo vai variar
(transudatos modificados, exsudatos, conforme o processo primário causal.
efusão quilosa ou efusão hemorrágica).
Diagnóstico
Infelizmente, a não ser em casos de
linfoma, pode ser difícil ou impossível Pulmão em formato de ‘’folha’’ – lobo
estabelecer um diagnóstico definitivo ou lobos ficam boiando no líquido.
de neoplasia somente com base nos
achados da citologia do líquido pleural. Na radiografia verifica-se
Na maioria dos casos as células obscurecimento da silhueta cardíaca,
neoplásicas não estão presentes no opacidade de tecido mole, fissuras
liquido. Radiografia e ultrassonografia interlobares podem ser visualizadas (é
devem ser feitas para avaliar o tórax e possível visualizar o limite entre os
evidenciar neoplasia. lobos pulmonares, por que o líquido
entra entre as fissuras) e deslocamento

31
da traqueia. Deve-se repetir a eosinófilos e linfócitos. A CCNT fica
radiografia após a drenagem. entre 1.000 e 7.000/ml. As
enfermidades estão associadas ao
FIG. 27
Radiografia latero-lateral mostrando aumento da pressão hidráulica (ICC
pulmão em formato de ‘’folha’’. direita, pericardiopatia, neoplasias e
hérnia diafragmática).

Exsudato

É um processo inflamatório que


acomete a pleura (pleurite). É opaco e
apresenta proteína acima de 3,0g/dL. A
CCNT fica acima de 5.000/ml. Pode ser
Fonte: http://www.boladepelo.pt/ séptico (piotórax) ou asséptico. Estão
A ultrassonografia detecta até associados ao aumento da
permeabilidade vascular. As causas de
pequenas quantidades de líquido e
exsudato séptico incluem feridas
geralmente é utilizada como guia para
toracocentese. penetrantes, extensão de pneumonias
e espontânea. Apresentam neutrófilos
A toracocentese é utilizada como meio degenerados e bactérias. As causas de
de drenagem do líquido e também para exsudato asséptico incluem PIF,
análise citológica, bioquímica do líquido neoplasias e torção de lobo pulmonar e
e cultura. apresentam neutrófilos não
degenerados e não tem bactéria. 80 a
Característica dos líquidos
90% das células são neutrófilos.
Transudato puro
Quilotórax ou efusão linforrágica
Claro e transparente. É incomum em
É opaco. A proteína é variável e
efusão pleural. Apresenta proteína
apresenta CCNT acima de 10.000/ml (a
abaixo de 2,5g/dL. A CCNT (contagem
maioria é linfócito). Os triglicerídeos
de células nucleadas totais) fica abaixo
estão acima da concentração sérica
de 1.500/ml e tem principalmente
(característico). Doenças associadas
células mesoteliais (células da pleura).
incluem traumas por ruptura de ducto
As enfermidades correlacionadas são as
torácico, linfoma mediastínico, ICC
que causam hipoalbuminemia.
direita e idiopática.
Transudato modificado ou transudato
Hemotórax
rico em proteína
Sangue entre a pleura parietal e a
Enevoado a turvo ou
pleura visceral. A principal causa é
serosanguinolento. Apresenta proteína
trauma, mas ocorre por neoplasias,
entre 2,3 e 3,0g/dL com presença de
distúrbios da coagulação (insuficiência
células mesoteliais, macrófagos,

32
hepática), torção de lobo pulmonar e de bolha pulmonar). Existem dois tipos
intoxicação por dicumarínicos. de pneumotórax: o aberto e o fechado.
O aberto é quando há comunicação do
Tratamento geral
tórax com o ambiente e o fechado é
Toracocentese (drenar os dois quando ocorre ruptura do parênquima
hemitórax), terapia com oxigênio e pulmonar por trauma, por exemplo, e
tratamento do fator causal. extravasa ar.

Tratamento específico Aspectos clínicos

Piotórax ou exsudato séptico Dispneia aguda, evidências de


traumatismo, padrão respiratório
Amoxicilina + clavulanato de potássio restritivo (não tem mais tanta
IV ou clindamicina com capacidade de expansão) e cianose.
gentamicina/enrofloxacina. Colocação
de dreno torácico para aspiração e Diagnóstico
lavagem com solução de NaCl e
A radiografia é padrão ouro. Verificam-
tratamento suporte com fluidoterapia
se pulmões colapsados, elevação do
cristaloide e boa nutrição.
coração (está distanciado do esterno) e
Quilotórax bordas pulmonares visíveis. Tem
aumento da densidade radiográfica.
É de difícil manejo. Deve ser feita
toracocentese intermitente, avaliando Tratamento
a necessidade e frequência, dieta pobre
Imediatamente deve ser feita a
em gordura e rutina (vitamina P) que
toracocentese. Em geral para quadro
parece melhorar a absorção de
brando faz-se 2 a 3 vezes por dia.
gordura.
Quando o quadro é muito agressivo
O tratamento do quilotórax pode ser seria necessário fazer isso 8 ou 9 vezes
cirúrgico se não houver melhora em 2 a em um dia, o que se torna inviável.
3 meses. Faz-se ligadura do ducto Então o indicado é a colocação de um
torácico e pericardiectomia. A dreno torácico até o pulmão cicatrizar.
pericardiectomia é recomendada no
É feita também terapia com oxigênio,
momento da ligação do ducto torácico
analgésicos e anti-inflamatórios. Em
e é associada à melhora do resultado.
alguns casos é necessária a intervenção
cirúrgica.

PNEUMOTÓRAX
É um evento comum na clínica e ocorre
geralmente por trauma. Pode ocorrer
também de forma espontânea (ruptura

33
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ETTINGER S. J. Tratado de Medicina
Interna Veterinária. 3ed. São Paulo:
Roca, 1998.

NELSON R.W., COUTO C.G. Medicina


Interna de Pequenos Animais. 5ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2015.

34
Clínica Médica Glicose, proteínas de menor peso
molecular e outros peptídeos e

de Cães e Gatos I aminoácidos passam livremente pela


barreira glomerular, porém sua
Módulo das doenças concentração é baixa na urina, devido à
reabsorção tubular. A hemoglobina é
urogenitais uma molécula de baixo peso molecular,
porém ela normalmente não alcança o
Felipe Carniel filtrado glomerular, pois em geral está
ligada à haptoglobina, que é uma
proteína transportadora de maior peso
molecular, de modo que a
hemoglobinúria somente será notada
EXAME DE URINA depois que as moléculas de
haptoglobina forem saturadas.
O sistema urinário compreende rins,
ureteres, bexiga e uretra. Os rins Cerca de 1% do filtrado glomerular é
recebem um grande volume de sangue efetivamente eliminado na urina e o
por dia, que compreende 20% do restante é reabsorvido pelos túbulos.
débito cardíaco. O número de néfrons O túbulo contorcido proximal é o
nos cães varia de 300.000 a 700.000 e segmento com maior atividade
em torno de 175.000 nos gatos, os metabólica, responsável pela maioria
quais possuem uma maior proporção dos processos de reabsorção e
de néfrons justaglomerulares. Os secreção renal. Neste segmento se dá a
néfrons justaglomerulares possuem reabsorção da água, glicose,
segmentos tubulares que adentram aminoácidos e eletrólitos. A secreção
mais profundamente a camada tubular é um processo que promove a
medular, portanto possuem maior regulação do equilíbrio acidobásico
capacidade de concentração urinária, pela secreção de íons H+. Já os íons
de modo que felinos com doença renal bicarbonato são reabsorvidos no TCP,
mostram menor frequência de poliúria tornando os rins um dos órgãos mais
e isostenúria que os cães. importantes na regulação do equilíbrio
Nem todo o volume sanguíneo que acidobásico.
chega aos rins é efetivamente filtrado. A concentração da urina é possível pelo
O potencial para que uma substância mecanismo de contracorrente, que
passe pela barreira de filtração funciona em razão de uma diferença de
glomerular do plasma para o filtrado gradiente osmótico.
glomerular depende do seu tamanho
molecular e da sua carga elétrica. Comentários gerais sobre exame de
urina

35
As amostras de urina colhidas logo pela pela E. coli, portanto apresenta pH
manhã apresentam vantagens sobre ácido.
aquelas colhidas aleatoriamente (a
Proteína
qualquer hora do dia), pois elas tendem
a ser mais concentradas, portanto há A urina de cães sadios pode conter
maiores chances de apresentar pequena quantidade de proteína. A fita
substâncias ou elementos de reagente é mais sensível à albumina do
significado clínico em concentração que às globulinas e não detecta a
suficiente. proteína de Bence-Jones (cadeias leves
de imunoglobulinas). A determinação
RESULTADOS ESPERADOS NO EXAME
DE URINA DE CÃES E GATOS SADIOS. da razão proteína:creatinina urinária
Análise Resultado vem sendo usada para quantificação da
Coloração Amarelo-claro a proteinúria em pequenos animais.
amarelo-escuro Valores superiores a 0,5 em cães e 0,4
Aspecto Límpido a
discretamente turvo em gatos são considerados
Densidade 1,015 a 1,045 (cães) e aumentados.
1,035 a 1,060 (gatos)
pH 5,5 a 7,5 A lesão glomerular é a principal causa
Proteína, glicose, Negativo
cetona, bilirrubina e
de proteinúria renal e é responsável
sangue oculto por razões proteína:creatinina urinária
Hemácias por campo <5 maiores que 2,0 em cães e que 1,0 nos
Leucócitos por campo <5
Cilindros Raros cilindros
gatos. A razão proteína:creatinina
hialinos urinária geralmente está entre 0,5 e 1,0
Bactérias Raras e os cilindros granulosos podem se
Células epiteliais Ausentes a raras
Cristais Fosfato triplo, oxalato formar em decorrência da degeneração
de cálcio e outros tubular.

Doenças inflamatórias e infiltrativas do


pH rim, como a pielonefrite ou as
neoplasias, também podem causar
o pH da urina tende a ser ácido,
proteinúria devido à transudação de
podendo variar até de 4,5 a 8,5, uma
proteínas através dos capilares
vez que os rins são um dos principais
peritubulares.
órgãos que mantem o equilíbrio
acidobásico no organismo. O pH auxilia Proteinúria e albuminúria por si sós não
na identificação de cristais e/ou podem ser tidas como indicadores
prevenção da formação de urólitos. confiáveis de doença renal.

As ITU costumam estar associadas a pH Glicose


alcalino, mas isso só ocorre quando há
envolvimento de bactérias urease Uma pequena quantidade de glicose
positivas (Staphylococcus, Proteus). pode ser encontrada na urina de cães e
Porém, a maioria das ITU são causadas gatos saudáveis, porém em

36
concentrações muito baixas para ser Cães sadios, principalmente machos,
detectada pelos métodos de rotina. O podem apresentar bilirrubinúria em
primeiro passo da interpretação da urinas concentradas (principalmente
glicosúria é a determinação da >1,040), talvez isso se deva pela
concentração da glicose sanguínea. Em capacidade de os rins caninos
condições de hiperglicemia, a converterem a hemoglobina em
capacidade de reabsorção da glicose bilirrubina. A bilirrubinúria com
pode ser ultrapassada. frequência precede a icterícia em cães.

Felinos estressados raramente Espera-se em felinos sadios a


apresentam glicosúria, apesar dos bilirrubinúria. Apesar de as icterícias de
níveis quase sempre ultrapassarem 300 origem hepática e pós-hepática
mg/dl (o limiar de excreção para gatos (colestase) serem responsáveis pelas
é 290 mg/dl). bilirrubinúrias mais significativas, as
icterícias de origem hemolítica também
Glicosúria de origem renal caracteriza-
podem causar bilirrubinúria.
se por glicosúria persistente sem
hiperglicemia. Ela indica a incapacidade Sangue oculto
de reabsorção tubular que pode ser
A fita reagente detecta a porção heme
causada por doenças renais.
das moléculas de hemoglobina e
Glicose em excesso no fluido tubular irá mioglobina. Uma reação positiva pode
causar diurese osmótica e poliúria, mas estar relacionada com hematúria,
não se espera densidade urinária hemoglobinúria ou mioglobinúria.
diminuída devido à alta concentração
O teste de precipitação com sulfato de
de solutos (glicose) no fluido tubular.
amônio é eventualmente utilizado para
Cetona diferenciar a hemoglobina da
mioglobina.
Os corpos cetônicos abrangem a
acetona, o acetoacetato e o beta- Sais biliares
hidroxibutirato. O acúmulo de corpos
O teste de precipitação do enxofre para
cetônicos no sangue (cetonemia)
detecção de sais biliares na urina (teste
resulta em cetonúria, caso a
de Hay) é um teste sensível para
capacidade de reabsorção tubular seja
detecção do aumento da concentração
ultrapassada. Se a cetose estiver
sérica de sais biliares. Há aumento dos
associada à acidose, tem-se um quadro
sais biliares em insuficiência hepática,
de cetoacidose, conferindo um
colestase e desvios porto-sistêmicos
prognóstico reservado ao diabetes
congênitos ou adquiridos.
mellitus.
Outras análises
Bilirrubina

37
As reações da fita reagente para A urina de cães e gatos sadios pode
leucócitos urobilinogênio e nitrito têm apresentar raras células epiteliais
sido cada vez menos relatadas nas oriundas da descamação de túbulos
análises de urina de rotina, devido à renais, pelve, ureteres, bexiga, uretra e
inconsistência ou à falta de correlação células escamosas da uretra distal. As
clínica de seus resultados. células neoplásicas raramente são
observadas, sendo necessário lavado
Hemácias
vesical ou citologia aspirativa.
Animais sadios podem apresentar
Cilindros
pequenas quantidades (<5/campo de
400x). As principais causas de Cilindros são estruturas compostas de
hematúria em cães e gatos incluem matriz proteica (primariamente
processos traumáticos, inflamatórios, composta pela mucoproteína Tamm-
infecciosos, neoplásicos e parasitários. Horsfall) formada no lúmen dos túbulos
A hematúria no início da micção tende renais, lhes conferindo o formato
ter origem no trato genital ou na cilíndrico. Grande quantidade de
uretra, ao passo que as que ocorrem ao cilindros geralmente indica doença
final sugerem lesão na bexiga (urólitos, renal ativa e aguda.
pólipos). A presença de sangue por
Os cilindros hialinos podem ser
toda a micção pode estar associada à
observados em animais doença renal,
lesão nos rins, bexiga, ureteres, uretra,
mas também aparecem em animais
lesões graves na próstata ou distúrbios
saudáveis em casos de proteinúria
hemostáticos (trombocitopenias e
extra-renal. Os cilindros epiteliais estão
coagulopatias).
associados à degeneração e necrose
Leucócitos das células epiteliais tubulares renais.
Os granulosos são formados pela
Animais sadios podem apresentar
precipitação de proteínas na matriz
pequenas quantidades (<5/campo de
mucoproteica. Cilindros hemáticos e
400x). A presença significativa de
leucocitários indicam que a origem
leucócitos na urina (piúria) está
destas células é renal, sugerindo
associada à inflamação em qualquer
hemorragia ou inflamação renal.
segmento do trato urinário ou genital.
A piúria pode estar acompanhada de Os cilindros vão se transformando de
hematúria e proteinúria. Processos epiteliais em granulosos grosseiros,
inflamatórios assépticos como os granulosos finos e, finalmente, em
causados por neoplasias ou urólitos cilindros céreos. O achado deste último
podem se apresentar com um quadro caracteriza estase tubular mais
de hematúria mais intensa que a piúria. prolongada.

Células epiteliais Bactérias

38
As infecções bacterianas significativas IRA pré-renal
geralmente são acompanhadas de
A azotemia pré-renal surge da
leucócitos, hemácias e proteinúria.
diminuição da perfusão renal e
Cristais retenção dos produtos do catabolismo
do nitrogênio. Causas incluem a
Cristais no sedimento urinário não
depleção de volume (desidratação,
indicam urólitos. Entretanto, diante de
hemorragia e queda na pressão) e
urólitos, os cristais observados podem
insuficiência cardíaca (queda do
elucidar a composição do cálculo e
inotropismo e doença valvar mitral),
auxiliar na estratégia terapêutica.
que culminam com diminuição na taxa
Outras estruturas de filtração glomerular.

Gotículas de gordura em pequena IRA pós-renal


quantidade constituem um achado
A azotemia pós-renal resulta da
comum em felinos, que estocam
obstrução do trato urinário ou
triglicerídeos nas células tubulares
uroabdome. Pode ocorrer por ruptura
renais, mas também podem resultar do
uretral, ureteral (menos frequente) e
uso de lubrificantes no momento da
de bexiga e obstrução bilateral por
cateterização.
cálculos ou tampões uretrais em gatos.
Shihtzu e York são raças predispostas.
Pode acontecer de encontrar cálculo na
INSUFICIÊNCIA RENAL pelve renal, bilateralmente. Mas é raro.
AGUDA Cálculos na bexiga podem levar
também à insuficiência renal, por que a
A insuficiência renal aguda é uma saída da urina do ureter para a bexiga
síndrome clínica que se caracteriza por se dá por diferença de pressão. Se há
aumentos abruptos nas concentrações um cálculo muito grande obstruindo,
séricas de creatinina e ureia, aumenta muito a pressão e a urina não
determinando a azotemia. progride para a bexiga.

O principal sinal de insuficiência é a A IRA intrínseca ou primária


azotemia, indicando que pelo menos
70% dos néfrons pararam de funcionar. Ocorre por nefrite e nefrose. As causas
Na azotemia aumenta a ureia primeiro de nefrite incluem leptospirose,
e depois a creatinina, mas se deve ter embolia (bacteremia por hepatite,
cautela ao avaliar isoladamente a ureia, pancreatite), pielonefrite e
por que o animal pode ter comido glomerulonefrite. Já as causas de
muita carne ou então estar em jejum nefrose estão relacionadas à isquemia e
(catabolismo proteico). Se o animal for nefrotoxicidade. A isquemia renal ou
hidratado e estabilizar é por que ainda exposição à nefrotoxinas causam lesão
não teve lesão renal. tubular que é referida como nefrose ou

39
necrose tubular aguda. Vários fatores ocorrendo, o rim aumenta a síntese de
podem contribuir para a azotemia e prostaglandina renal (proteção). Um
oligúria na IRAI, incluindo erro comum na rotina é fazer cirurgia,
extravasamento tubular, obstrução que gera hipotensão e diminuição de
tubular (ex.: cilindros, debris celulares), volume circulante se não feita
insuficiência de filtração primária fluidoterapia corretamente (podendo
(vasoconstrição da arteríola aferente, levar a diminuição da perfusão renal), e
vasodilatação da arteríola eferente). ao final aplicar meloxicam (inibidor
COX-2) que inibe a síntese de
prostaglandina renal.

Causas de IRA intrínseca


Nefrose

 Etilenoglicol (gatos geralmente


gostam mais)
 Antimicrobianos
(aminoglicosídeos, sulfa e
cefalotina em animal
desidratado e tetraciclina IV)
 Lírio da páscoa em felinos
Quando o débito cardíaco diminui, gera  Intoxicação por uva passa em
uma queda na pressão que é percebida cães (libera ocratoxina)
pelos barorreceptores (principalmente  Hipercalcemia/hipercalciúria
carotídeos), que estimulam o sistema  Antineoplásicos (cisplatina e
simpático a liberar adrenalina e doxorrubicina)
noradrenalina que fazem  Contraste radiográfico (o
vasoconstrição periférica. Ao mesmo contraste iônico IV é
passo, o rim percebe a diminuição da nefrotóxico)
perfusão de seus capilares e libera  Metais pesados (chumbo e boro)
renina, formando ao fim do sistema  Anestésicos inalatórios fluorados
renina-angiotensina-aldosterona, a (isoflurano e sevoflurano)
angiotensina II que é uma potente  EDTA (por isso em bolsas de
vasoconstritora e liberando transfusão não há EDTA, e sim
aldosterona que reabsorve água e CDTA)
sódio. Há um porém, pois a  Micotoxinas
estimulação crônica aumenta a  Alimentos contaminados
pressão, e o aumento de pressão é uma (melamina e ácido cianúrico) é
causa de disfunção renal. raro.

Com a ativação simpática e do sistema


renina-angiotensina-aldosterona

40
Leptospirose

Nefrite Leptospira canicola,


icterohemorrhagiae, pomona, hardjo,
 Leptospirose
bratislava e grippotyphosa são os
 Borreliose
sorovares mais conhecidos, sendo os
 Pielonefrite bacteriana aguda
dois primeiros os mais comuns. Causam
 Nefrite intersticial alérgica (sem
hemólise intravascular. Animal vai
agente infeccioso, idiopática).
apresentar nefrite aguda, hepatite
aguda, miosite e vasculite.

Aspectos clínicos
Isquemia renal
Prostração, anorexia, dor muscular,
 Desidratação petéquias e hemorragias focais pela
 Trauma vasculite, diarreia, vômito e icterícia.
 Anestesia
 Sepse (estado inflamatório, leva Diagnóstico
a embolia e vasodilatação que IRA pré-renal
aumenta a permeabilidade,
diminui a perfusão e leva à Apresenta oligúria, desidratação, pulso
isquemia) fraco e aspecto dos rins normais na
 Intermação (muito calor) palpação e US. No exame bioquímico se
levando a desidratação intensa. constata a azotemia (espera-se uma
Mais de 42 graus as proteínas menor magnitude por ser uma IRA pré-
musculares desnaturam e renal). Na urinálise a densidade urinária
liberam mioglobina (tóxica para vai estar alta (>1030, >1040). Creatinina
o rim) inferior a 4,0 geralmente é pré-renal,
 iECA também podem levar à mas não é patognomônico. Ex.:
isquemia renal
Urinálise
 Choque
 Hemorragia Espécie: canina
 Cirurgia
Densidade
 Queimaduras
1060
 Hipotermia
 AINES Proteína
 Nefropatia por pigmento: +
hemólise (hemoglobinúria),
Essa proteína pode ser apenas
mioglobina e envenenamento
proteínas de baixo peso molecular, que
por cobra coral ou abelha.
saem normalmente num rim saudável.
Pode apresentar uma cruz, pois a urina
está muito concentrada.

41
Pode ser realizada a ultrassonografia hemáticos sugerem glomerulonefrite
para confirmar a azotemia pré-renal, aguda. Ausência de cilindro pode
buscando causas não renais para a indicar ausência de nefrite e nefrose.
desidratação e hipoperfusão renal.
Densidade 1007: hipostenúria – rim
O ECG pode ser feito também. Podem não concentra adequadamente. Indica
ocorrer alterações elétricas no coração capacidade de diluição do filtrado
por hipercalemia. Hipercalemia leve glomerular e sugere que não há
(onda T maior e pontuda), hipercalemia falência renal.
moderada (polaridade da onda T fica
Densidade entre 1008 a 1012:
positiva) por processo obstrutivo (não
isostenúria – é o pior cenário. Indica
sai K+) ou uroabdome e hipercalemia
que os rins não alteram a concentração
grave (bradicardia, alargamento e
do filtrado glomerular.
arrasamento da onda P, aumento do
intervalo Q-T e alargamento do Densidade entre 1013 a 1029 (cão) e
complexo QRS). 1013 a 1034 (gato) indicam que a urina
foi concentrada, mas não é o suficiente
IRA intrínseca
para determinar função tubular
Hemograma: normal, anemia adequada.
regenerativa (ex.: anemia hemolítica
Diagnóstico de insuficiência renal é
imunomediada), PPT normal ou
confirmado se persistir a azotemia com
diminuída, leucograma pode estar
isostenúria concomitante ou urina
normal ou com leucocitose com desvio
pouco concentrada.
à esquerda ou desvio à direita e
linfopenia (resposta ao estresse). Azotemia sem cilindro, sem diminuição
da concentração urinária e sem
Urinálise: densidade urinária baixa,
proteinúria, pode ser IRA pré-renal e
geralmente isostenúria (1008-1012),
ainda não afetou o rim.
mas algumas literaturas consideram
1007-1017. Proteinúria é um marcador Bioquímica sérica: altas concentrações
de lesão glomerular. Proteína de alto de ureia e creatinina, hipercalemia,
peso molecular passa pelo filtrado (não hiperfosfatemia, cálcio normal ou
deveria passar). Para saber se a baixo.
proteinúria é verdadeira faz-se a
relação proteína:creatinina urinária. Hemogasometria: acidose metabólica
Pode haver glicosúria, mas uma simples secundária moderada a intensa.
glicosúria não indica problema renal.
Enzimologia urinária: GGT urinária
Há aumento de leucócitos, hemácias e
(gamaglutamiltransferase) é sensível
células epiteliais tubulares. Cilindros
para determinar desenvolvimento de
também podem aparecer (nefrite e
lesão renal. Determina lesão renal
nefrose). Cilindros leucocitários
precoce, mas não esclarece a causa.
sugerem pielonefrite e cilindros

42
Teste da microalbuminúria: identifica a requer anestesia e a anestesia é um
albumina que a fita de urinálise não fator agravante de IRA. Cuidados:
consegue identificar por que é material adequado e treinamento.
semiquantitativa.
Tratamento
Imagem: rins normais (pré-renal e
FLUIDOTERAPIA
intrínseca) ou aumentados. O rim pode
apresentar a cortical e medular Deve ser feita estabilização inicial do
hiperecóicas (fica difícil definir onde paciente. O ideal seria um cateter
está a cortical e onde está a medular). jugular e monitoração da PVC. Pode ser
Pode indicar leptospirose. Podem feito também cateter venoso periférico
também ser identificadas neoplasias e e monitoração do hematócrito e PPT (é
abcessos. de difícil interpretação).
IRA pós-renal Deve ser feita avaliação do débito
urinário, se normalizou é por que a
Anamnese + sinais clínicos + exame
fluido não foi excessiva e atingiu o
físico, azotemia, urinálise com
efeito terapêutico. Se tiver com
densidade urinária imprevisível e
taquipneia ou com secreção nasal
hipercalemia (K+ não sai e é
serosa são indícios de edema
reabsorvido ou rompeu na cavidade
pulmonar.
líquido com K+ e foi reabsorvido). Pode
ser feita radiografia e ultrassonografia Volume: desidratação + perdas +
abdominal para detectar alguma manutenção ou 130-200ml/kg/dia (não
ruptura ou ponto de obstrução. muito recomendado). Corrigir
desidratação em 4 horas e monitorar o
Leptospirose
débito urinário.
O diagnóstico é feito pelo histórico (se
A solução de escolha é cristaloide (NaCl
é vacinado, tem contato com
0,9% ou RL). Ringer lactato é melhor
roedores), sinais clínicos e exame físico.
por que está em acidose.
Hemograma também é feito,
bioquímica sérica e urinálise (raro ter Também seria ideal
isostenúria e pode apresentar cilindros hemogasometria/dosagem de
leucocitários que indicam pielonefrite). eletrólitos. Na hipercalemia pode se
Sorologia confirma diagnóstico. O ideal utilizar bicarbonato de sódio, glicose
é sorologia pareada, tem aumento de 25% ou insulina regular. Pode ser
IgG. Há aumento de ALT, possivelmente necessário a utilização da insulina junto
de AST, aumento de FA e GGT (indicam com a glicose, para levar o K+ para
colestase). Hepatite aguda diminui dentro das células (monitorar a
colesterol, albumina e ureia. glicemia, pois pode ter glicemia
rebote). Na acidose metabólica: cálculo
Biópsia renal: pode ser utilizada, mas é
do déficit
rara. A biópsia é um método invasivo e

43
Bicarbonato (mEq) = PC* x 0,3 x déficit Manitol + furosemida ou furosemida +
(desejado – mensurado) dopamina

*PC = peso corporal SUPORTE NUTRICIONAL


DIURÉTICOS Sonda nasogástrica: nutrição enteral
Usa se hidratou e não produziu urina, somente se o vômito estabilizou. Em
pois vai sobrecarregar o rim. caso de vômito intenso/uremia severa
a nutrição deve ser feita parenteral.
Diuréticos de alça: furosemida 1-
2mg/kg IV -> 1mg/kg/h em IC até a CONTROLE DO VÔMITO E PRODUÇÃO
reversão da oligúria. 2-6mg/kg a cada 9 EXCESSIVA DE HCL
horas. Efeito clínico de 30 minutos à 2 Metoclopramida (0,5mg/kg TID), citrato
horas. de maropitant (1mg/kg SID), ranitidina
Poupadores de potássio como a (2mg/kg TID) ou omeprazol (0,7mg/kg
espironolactona estão contraindicados. SID).

Diuréticos osmóticos: estão indicados CONTROLE DA PRESSÃO SANGUÍNEA


se a furosemida não funcionou. Esses SISTÊMICA
diuréticos aumentam a volemia (cuidar Em hipotensão há lesão celular letal
com sinais de edema pulmonar). adicional.
Manitol 0,35-0,5g/kg e repetir uma vez
se não aumentar a produção de urina 78% da IRAI tem hipertensão sistólica e
em 1 hora. Esses diuréticos reduzem 84% hipertensão diastólica. Tratar a
edema renal e diminuem a liberação de causa da hipertensão.
renina. Há também a glicose 10-20%.
DIÁLISE PERITONEAL E HEMODIÁLISE
Quando tem hipercalemia
concomitante, antes da furosemida é A diálise peritoneal nada mais é que
feita a glicose (que também tem efeito colocar soro no espaço peritoneal,
diurético). agitar o animal e retirar o líquido. Serve
para diminuir a azotemia.
Dopamina: dose que faz diurese é
próxima da dose que faz vasoconstrição Leptospirose
(isso é ruim). A dopamina aumenta a
O tratamento é feito com ampicilina
TFG. Usar somente em dosagens baixas
22mg/kg TID ou amoxicilina 20mg/kg BI
(2-4 microgramas/min). Existe também
por 7 a 10 dias. Já a doxiciclina é
o fenodopam e zelandopam que
utilizada na dose de 5mg/kg BID por 21
aumentam a produção de urina sem
dias, para eliminar o estado portador.
vasoconstrição.
O prognóstico da leptospirose é bom a
Associações em infusão:
reservado, vai depender da lesão renal

44
instalada e das outras complicações DOENÇA RENAL
concomitantes.
CRÔNICA
A prevenção é a vacinação.
Perda de néfrons associada a processo
Tratamento de intoxicação por
patológico prolongado e
etilenoglicol
frequentemente progressivo.
4-metipirazol Primeiramente o rim perde a
capacidade de concentrar urina (perda
Prognóstico proteica pela urina). Com 75% da perda
IRA pré-renal funcional tem-se azotemia e entre 75 e
100% tem-se uremia.
Prognóstico excelente se a causa extra-
renal for reconhecida e corrigida a As funções renais ficam
tempo. comprometidas, são elas: função
excretora, regulatória, catabólica e
IRA intrínseca endócrina.

A causa de base é quem define o A proteinúria é o principal marcador de


prognóstico. Depende da intensidade doença glomerular e os cilindros
da azotemia e da gravidade da lesão hialinos são os principais marcadores
intra-renal. de doença tubular.

IRA pós-renal Causas de DRC em cães

Prognóstico também depende da causa Nefrite túbulo intersticial crônica de


base. Bom a excelente se a causa for causa desconhecida (a maioria dos
reconhecida a tempo. diagnósticos é histopatológico). Nem a
histopatologia define o mecanismo
Conclusões
causador;
O reconhecimento das principais causas
Pielonefrite crônica (bacteriana e
de base da IRA é essencial para um
leptospirose);
bom direcionamento diagnóstico e
terapêutico. O ponto chave do Glomerulonefrite crônica;
tratamento é o restabelecimento
eletrolítico e de fluidos. Amiloidose – Sharpei, Shihtzu, Lhasa;

A insuficiência pode ser revertida se o Nefropatia hipercalcêmica, mas é rara;


dano renal não for extenso ao ponto de Idiopática na maioria das situações;
não permitir hipertrofia dos néfrons
remanescentes e o restabelecimento Uropatia obstrutiva crônica
da função renal. (hidronefrose) bilateral. Se for
unilateral, o rim oposto compensa;

45
Doença renal familiar – Lhasa, isso leva o paciente à morte mais
Rottweiller, Chow Chow, Sharpei, rápido, pela alta atividade metabólica.
Golden Retriever, Cocker Spainel,
Devido à disfunção renal ocorre
Beagle, York e Shihtzu.
aumento do paratormônio, que
Progressão da IRA; promove a retirada de cálcio ósseo –
hiperparatireoidismo secundário renal.
Toxicidade crônica (alimentos,
Gato que come muita carne tem
fármacos, toxinas do ambiente) –
aumento de fósforo, de modo que
aminoglicosídeos, cefalosporinas,
precisa mais cálcio na circulação para
quinolonas, sulfonamidas, tetraciclinas,
equilibrar os níveis, mas nem sempre
piroxicam, aspirina, fenilbutazona,
tem aumento de cálcio, por que o
hemoglobina e mioglobina;
corpo tenta controlar os níveis séricos
Neoplasia (linfoma renal); do mesmo, pois pode culminar com
parada cardíaca.
Hipertensão sistêmica primária –
vasoconstrição geral e da artéria renal Uremia é a azotemia associada aos
aferente (aumenta pressão do sangue e sinais clínicos.
diminui o fluxo).
85 a 95% de perda da massa renal
Causas de DRC em gatos (função renal) – doença
invariavelmente progressiva. A
Causas já citadas para cães; progressão é mais lenta nos felinos,
pois possuem néfrons mais funcionais
Doença renal policística – gato Persa;
(justaglomerulares).
Uropatia obstrutiva crônica (DTUIF) –
A diminuição da taxa de filtração
leva à hidronefrose;
glomerular leva ao aumento da pressão
Nefrite piogranulomatosa secundária à glomerular, aumento do fluxo
peritonite infecciosa felina (Coronavírus plasmático e do volume glomerular,
entérico felino mutante). Causa caracterizando a hiperfiltração. Isso
infiltrados piogranulomatosos em aumenta o tráfego das proteínas
órgãos parenquimatosos como o rim através do glomérulo, levando a dois
(PIF seca). Gato com azotemia e sem caminhos: reação mesangial até
sinais clínicos específicos, deve-se glomerulosclerose (degeneração dos
investigar PIF. glomérulos), piorando a proteinúria ou
aumento do processamento no túbulo
Fisiopatologia
culminando com nefrite túbulo
Ocorre diminuição do número de intersticial.
néfrons, diminuindo a taxa de filtração
Sinais clínicos
glomerular. Os néfrons remanescentes
trabalham mais (hiperfiltração), porém Poliúria e polidipsia (não reabsorve
adequadamente) e sinais de uremia.

46
Sinais de uremia: vômito, hipertensão sistêmica ou sopro devido
gastroenterite (melena). A disfunção à anemia grave (diminui muito a
renal diminui a excreção de gastrina, viscosidade do sangue). Pode
acumulando na corrente sanguínea, apresentar pneumonia urêmica. À
isso aumenta o HCl, gerando gastrite, palpação abdominal, rins pequenos,
vômito e ulceração gástrica normais ou aumentados (pielonefrite,
(hematoêmese – melena). A camada de hidronefrose ou gato com doença renal
muco protetor gástrico e duodenal policística), bexiga pode estar
diminui, predispondo à ulceração. Pode distendida pelo aumento da produção
ocorrer também disfunção plaquetária. de urina e a sensibilidade dolorosa é
Outros sinais de uremia incluem incomum na DRC.
anorexia mediada centralmente (inibe
Osteodistrofia fibrosa (secundária ao
o centro da fome – hiporexia/anorexia),
hiperparatireoidismo renal) e é mais
perda de peso por baixa ingestão
drástica em cães jovens em fase de
calórica, catabolismo e acidose
crescimento com uremia. Edema
metabólica. Pode apresentar também
subcutâneo/ascite) – doença
letargia, fraqueza e sinais neurológicos:
glomerular com grave perda de
espamos faciais, balanço de cabeça,
proteínas (albumina fica abaixo de 1,5).
comportamento anormal, tremores e
Cegueira devido à hipertensão
convulsões (em geral, tônico-clônicas) e
sistêmica, levando a descolamento de
encefalopatia urêmica, que só vai
retina. Cuidado ao aferir a PA no animal
ocorrer quando a TFG estiver menor
desidratado.
que 10% (mais de 85% dos néfrons
comprometidos). Pode ter influxo A hemostasia vai estar prejudicada pela
cerebral de cálcio pelo paratormônio e disfunção plaquetária, portanto o
hipertensão sistêmica. animal é predisposto à hemorragia.
Pode desenvolver infecções sistêmicas
Em geral o animal não vai comer
ou locais, a quimiotaxia e imunidade
enquanto tiver aumento de ureia e
celular são prejudicadas pela uremia.
creatinina. Gato diferentemente dos
cães, não se observa anorexia (continua Hipertensão sistêmica
comendo).
Prevalência variável nos diversos
Achados no exame físico estudos. 19 a 65% dos caninos, em
média 20 a 30%.
Perda de peso, perda de massa
muscular magra, pelagem pobre, 145 – 165 mmHg – hipertensão leve
mucosas pálidas, desidratação, lesões
orais (amônia na saliva) ou necrose na 165 – 200 mmHg – hipertensão
extremidade da língua (isquemia focal, moderada
necrose e ulceração). Auscultação
> 200 mmHg – hipertensão grave
normal ou ritmo de galope por

47
Em geral, a hipertensão leve não é Densidade 1007: hipostenúria – rim
tratada, pois pode ser apenas não concentra adequadamente. Indica
nervosismo. capacidade de diluição do filtrado
glomerular e sugere que não há
Fatores que contribuem na DRC:
falência renal.
Estimulação do SNS, isquemia renal
Densidade entre 1008 a 1012:
com ativação do sistema renina-
isostenúria – é o pior cenário. Indica
angiotensina-aldosterona para expandir
que os rins não alteram a concentração
o volume plasmático e alteração na TFG
do filtrado glomerular.
pela expansão plasmática pela retenção
de sódio. Densidade entre 1013 a 1029 (cão) e
1013 a 1034 (gato) indicam que a urina
Alterações laboratoriais na DRC
foi concentrada, mas não é o suficiente
Hemograma para determinar função tubular
adequada.
Anemia não regenerativa pela falha na
produção de eritropoietina, neutrofilia Relação proteína:creatinina urinária
madura não regenerativa, número de
RELAÇÃO P/C
plaquetas normal ou aumentado, Até 0,2 Não é proteinúria
porem tem disfunção plaquetária. 0,2 a 0,5 Limite
Tempo de sangramento da mucosa Acima de 0,5 É proteinúria*
bucal <2 a 3 min.

Urinálise * A proteinúria só vai ser importante se


for persistente. Deve-se mensurar uma
Não é um parâmetro bom para vez por semana por 1 mês. Valores
identificar DRC nos felinos. acima de 2 não necessitam de
Isostenúria no cão quando 67% dos repetição, é proteinúria mesmo.
néfrons são afuncionais. Gato pode ter Proteinúria associada à
creatinina levemente aumentada e hipoalbuminemia: marco diagnóstico
densidade urinária normal. de lesão glomerular. A relação P/C
A proteinúria indica aumento da urinária diferencia a proteinúria por
gravidade da doença. Proteinúria grave infecção urinária (hemácia, leucócito)
persistente sem sedimentos ativos da proteinúria de origem renal.
(doença glomerular primária). Bioquímica sérica de rotina
Piúria/bacteriúria sugerem ITU, fazer
cultura. Pacientes com DRC tem a urina Aumento de ureia e creatinina. Sódio
muito diluída e muitas vezes não são usualmente normal e aumentando na
observadas células, hemáticas e desidratação grave e/ou quando a TFG
piócitos na urina. for menor que 5%.

48
Potássio usualmente normal. Acidose metabólica moderada é
Oligúria/anúria levam à hipercalemia comum na DRC estável. Aumenta o
(FC baixa é o principal sinal clínico de cálcio ionizado e diminui a afinidade do
descompensação por hipercalemia). 10 oxigênio pela hemoglobina. Na
a 30% dos casos apresentam hemogasometria o ideal é dosar sangue
hipocalemia associada à anorexia, arterial.
perda de peso, perda de passa
Acidose metabólica na doença renal
muscular, vômito e poliúria. Pode ter
progressiva tem diminuição na
déficit de potássio sem hipocalemia nos
excreção de amônia (contribui para a
exames, por que diminui o K+ no meio
hiperamonemia, que piora o quadro de
intracelular, na tentativa do corpo
vômito e anorexia). TFG até de 10 a
manter o K+ normal na circulação. Pode
20% consegue manter a acidose leve,
ocorrer a nefropatia hipocalêmica que
mas qualquer fator externo ou interno
é mais comum em felinos, causa
pode quebrar este equilíbrio.
ventroflexão cervical. Potássio acima de
2,5 mEq/L está em nível crítico e pode Hormônios
levar a óbito rápido.
PTH – dosagem hormonal praticamente
Fósforo nos estágios iniciais está não se usa na rotina
normal quando 85% dos néfrons ficam
afuncionais, tem-se hiperfosfatemia. O Hormônios tireóideos
normal é estar abaixo de 5,5.
Cuidado com a síndrome do
Cálcio normal na maioria dos pacientes. eutireoideo doente (tireoide normal,
O ideal é dosar o cálcio ionizado mas outra doença diminui a
(disponível para uso das células). A concentração sérica dos hormônios
hipercalcemia crônica leva o rim a tireóideos). Pode mascarar o
excretar cálcio, levando a uma hipertireoidismo nos felinos.
hipocalcemia. A hipercalcemia crônica
Ultrassonografia
pode ser um fator de piora na DRC, pois
promove vasoconstrição renal, Rins com dimensões diminuídas, perda
mineralização do interstício e da relação corticomedular, forma
membranas basais tubulares. irregular, aumento da ecogenicidade
(principalmente no córtex) e DRP e
É comum hiperglicemia de jejum
linfoma levam a nefromegalia.
moderada < 200 mg/dL, principalmente
por que o paratormônio gera Abordagem terapêutica na DRC
resistência à insulina, de forma que a
1. Buscar por causas
glicose não entre na célula, aumento
potencialmente reversíveis
sua concentração sérica.
Pielonefrite: febre, prostração,
Equilíbrio acidobásico anorexia, leucocitose,

49
cilindrúria, azotemia e dilatação Livre acesso à agua, se o animal estiver
da pelve renal; com poliúria e polidipsia, vai desidratar
Hipercalcemia; fácil.
Nefropatia obstrutiva.
Dietas comerciais como a Renal da
2. Eliminar fatores reversíveis que
Royal Canin, Renal da Farmina, Hills e
podem agravar a DRC
Premier são restritas em proteína,
Não julgar o animal antes de ele
fosfato e sódio, suplemento de potássio
ser reidratado. Infecções
e ácidos graxos ômega-3. Atrasam a
bacterianas sistêmicas ou ITU
progressão da DRC, porém não são
devem ser tratadas com
bem aceitas pelos pacientes, pois não
fármacos apropriados.
são muito palatáveis.
3. Manter o balanço hídrico,
eletrolítico, acidobásico e O ômega-3 tem ação anti-inflamatória
calórico enquanto previne o no glomérulo.
acúmulo de resíduos
metabólicos. Restrição proteica é amplamente
4. Agir contra os efeitos da perda defendida, mas com efeitos na melhora
das funções endócrinas do rim. da DRC incertos. Baixa de proteína,
diminui fosforo, reduzindo o
Terapia com fluidos – crise urêmica hiperparatireoidismo secundário renal,
porém animais hipoproteinêmicos
A fluidoterapia é a base do tratamento.
apresentam nefropatia com perda de
1. Reposição da desidratação proteínas.
Em hipovolemia/hipotensão grave
Se houver evidencias da progressão da
pode se empregar uma taxa de até
doença mesmo sem azotemia evidente,
90ml/kg/hora para prevenir a
pode-se iniciar dieta com restrição
isquemia tecidual (principalmente
moderada. A recomendação atual é de
renal), porém se estiver em
15 a 17% de proteína com transição
oligúria/anúria pode matar o
gradual para a nova dieta (2 a 4
paciente de edema pulmonar. A
semanas). Peso corporal + [albumina] –
reposição deve ser feita em 4 a 6
indicativos de dieta com sucesso.
horas, com exceção de cardiopatas.
2. Manutenção Restrição de fósforo
Cão 50ml/kg/dia
Gato 70ml/kg/dia Diminui ou reverte o
3. Volume de perdas contínuas hiperparatireoidismo secundário renal,
Vômito: 40ml/kg/dia diminui a progressão da DRC, mantem
Diarreia: 50ml/kg/dia* a TFG e aumento da sobrevida.
Ambos: 60ml/kg/dia
Quelantes intestinais de fosfato
*Melena é considerada diarreia.

Tratamento dietético

50
Fazer dosagem de fósforo após a ausência destas, não efetuar mudanças
instituição da dieta de restrição abruptas de sal na dieta. Baixa ingestão
proteica/fósforo. severa leva a diminuição da TFG,
ativação do sistema renina-
Hidróxido de alumínio é o mais usado
angiotensina-aldosterona e
na medicina veterinária. 30mg/kg TID
hipocalemia.
ou 45mg/kg BID, administrar VO junto
com o alimento. Sempre administrar Bicarbonato de sódio
junto ao alimento, pois os íons fosfato
Acidose metabólica clínica ou
se ligam nas fezes e são eliminados.
subclínica, normalmente compensada.
Efeito colateral: constipação,
A maioria dos pacientes tem. Se em
principalmente em gatos.
acidose grave mesmo com instituição
Sucralfato também é largamente de dieta, adicionar bicarbonato e sódio,
utilizado. gluconato de potássio ou citrato de
potássio.
Evelamer, 10 a 20mg/kg TID junto com
o alimento. Vitaminas hidrossolúveis

Carbonato de lântano, 3 a 7mg/kg TID Complexo B e C devem ser


junto com o alimento. É um fármaco suplementadas na DRC grau II a IV.
novo e bem caro. Uso indicado em má
Controle do vômito/inapetência
resposta aos outros fármacos.
Antagonistas de receptores H2 são
Epatikin é um adsorvente de quitosana
benéficos para os pacientes com DRC.
+ carbonato de cálcio e diminui a
São eles: ranitidina 2 a 4mg/kg TID
digestibilidade da proteína.
(efeito pró-cinético: aumenta a
Recomendações gerais velocidade de esvaziamento gástrico,
sem conteúdo gástrico o animal não
Uso concomitante de outros
tem o que vomitar) e a famotidina
medicamentos: 1 hora antes ou 3 horas
1mg/kg SID, ambos de uso hospitalar. A
após os quelantes de fosfato.
cimetidina é contraindicada, pois
Se não houver hiperfosfatemia, os compete com vários fármacos usados
quelantes de fosfatos ainda são na DRC.
indicados para animais com sinais de
Inibidores da bomba de prótons
hiperparatireoidismo renal secundário.
Omeprazol 1 a 2mg/kg BID ou SID, uso
Restrição de sódio para minimizar o
domiciliar.
efeito da retenção de sódio pelo
sistema renina-angiotensina- Antieméticos
aldosterona. Indicada em animais
Metoclopramida, 0,2 a 0,4mg/kg SC
hipertensos e com doença glomerular
QID, nefropatas BID. Atua em
com retenção de Na e edema. Na

51
receptores seratoninérgicos, ativando para os níveis de calcitriol caírem e
efeito pró-cinético. Atua no centro do causarem impacto clínico.
vômito.
iECA
Maropitant 1mg/kg SC SID.
Benazepril e enalapril usados para
Butorfanol pode ser tentado na falha reduzir a proteinúria. Aumenta o
dos outros, mas gera bradicardia, diâmetro da artéria aferente, isso
hipotensão e diminui a perfusão renal. diminui a pressão no glomérulo,
diminuindo a proteinúria.
Obs: fazer US e verificar a possibilidade
de obstrução, se tiver, não utilizar pró- Monitorar a função renal após uma
cinético. semana do início da administração dos
iECA, se aumento de creatinina maior
Gastroprotetores
que 20 a 30%, deve-se reduzir a dose.
Sucralfato 0,25 a 1g VO TID/BID ou Alguns animais não toleram e só
zinco-carnosina. pioram, então melhor cancelar. Após 1
a 3 meses, reavaliar a P/C urinária, o
Animais com vômito, fazer alimentação ideal é ter redução de 50%.
parenteral. Animais com controle de
vômito eficiente e anorexia, utilizar Tratamento – hipertensão sistêmica
sonda (faringostomia/esofagostomia).
Comprovadamente a hipertensão
A maioria dos animais melhora o sistêmica aumenta a progressão da
vômito quando se diminui os níveis de DRC.
ureia e creatinina.
Normal é abaixo de 160 mmHg. Abaixo
Tratamento – reposição endócrina de 140 mmHg é bom, acima de 180
mmHg os órgãos-alvo são afetados, são
Eritropoietina recombinante humana: eles rins e SNC (AVC) e pode ter
estimula a mielopoiese. Utiliza-se em descolamento da retina.
anemia arregenerativa grave,
dependente de transfusão. Dose inicial O primeiro tratamento é feito com iECA
de 100UI/kg SC, 3 vezes por semana. (benazepril), se não funcionar pode
Quando o Ht tiver 30%, diminuir para 2 adicionar amlodipina. O ruim do
a 1 x por semana. Se o Ht tiver muito enalapril é que ele tem eliminação
alto, faz 1 x por semana ou a cada 15 apenas renal, sobrecarregando-o. Já o
dias. Suplementação com ferro benazepril tem eliminação renal e
concomitante (formação do Heme). biliar.

Vitamina D ativada – calcitriol Se o paciente vomita com o benazepril,


pode utilizar apenas a amlodipina.
Está reduzida na DRC, porém o
paciente não vive tempo suficiente Anorexia: melhorar palatabilidade da
dieta (aquecendo e/ou umidificando o

52
alimento) e estimulantes de apetite Klebsiella (multi-
como o cobavital (cobalamina + resistente)
cloridrato de ciproeptadina). Pseudomonas

Em 75% dos casos ocorre por E. coli,


INFECÇÃO DO TRATO por que ocorre contaminação
URINÁRIO ascendente pela flora fecal (há
receptores para a E. coli no trato
Ocorre colonização dos rins, ureteres, urinário).
bexiga e uretra proximal, por bactérias. Proteus, Klebsiella e Pseudomonas
Classificação: ITU inferior (bexiga e apresentam problema com resistência.
uretra), ITU superior (rim e ureter). Formas de infecção
É mais comum em cães e tem maior Ascensão das bactérias
prevalência nas fêmeas. 10% dos cães
apresentados ao veterinário tem ITU.  Flora fecal (forma mais comum);
14% dos cães terão ITU pelo menos  Cistite instalada -> ascensão
uma vez na vida, sendo que em 75% para ureteres e chega ao
desses será um único episódio. 0,3% parênquima renal. Tem-se
dos cães tem ITU recorrente. então uma pielonefrite
secundária à cistite;
Raças de maior incidência incluem
 Ascensão do ambiente (mais
Poodle, Labrador, Dachshund,
comum infecção hospitalar).
Doberman e Schnauzer.
Hematogênica
Infecções do trato urinário são
incomum em gatos (0,1 a 1%  Mais comum na septicemia;
apresentam), isso se deve a urina bem  Infecção pode ser descendente:
concentrada (alta concentração torna a dos rins para o trato urinário
urina livre de bactérias). Há maior inferior.
incidência em fêmeas e gatos siameses.
Extensão direta
Patogenia e fisiopatologia
 Piometra;
Bactérias associadas à ITU  Infecção pós-laparotomia;
 Abcesso peri-renal;
CÃES GATOS
E. coli E. coli  Osteomielite das vértebras
Staphylococcus Streptococcus lombares: pode passar infecção
Streptococcus Staphylococcus para o rim e bexiga, mas é
Enterococcus Enterococcus pouco provável por que o rim
Enterobacter tem gordura e cápsula e ainda
Proteus

53
existem os músculos lombares Fatores de risco para desenvolvimento
separando o rim e as vértebras. da ITU

Cateterização urinária 1. Anormalidades anatômicas


Úraco persistente – reservatório
 Ocorre principalmente com
de urina estagnada. Animal
sondas mantidas por mais de 48
nasce com bexiga acessória, a
a 72 horas
urina fica estagnada, levando à
 Sondagem de forma incorreta. cistite de repetição
Defesas normais do hospedeiro contra Ureteres ectópicos – inserção
a ITU uretral é mais comum em
fêmeas (ocorre ascendência de
Flora normal da uretra distal, vagina e bactérias). Raças predispostas:
prepúcio confere proteção. Urina de Husky siberiano, Poodle,
animais saudáveis (principalmente pela Golden, Labrador, Fox Terrier e
ureia) inibe o crescimento bacteriano. West.
Células epiteliais de revestimento da 2. Corticoides exógenos/HAC
uretra retêm fisicamente as bactérias. 40% dos pacientes usando
Diminuição de glicosaminoglicanos na corticoides por 4 a 6 meses
parede do uroepitélio. Medular renal desenvolvem ITU. O diagnóstico
tem concentração de soluto menor que é dado por urocultura, urinálise
no córtex e ureter ectópico predispõe à dificilmente vai mostrar
infecção de repetição. O ureter pode bacteriúria/piúria, por que não
estar inserido no final da bexiga (início concentra a urina, então não
da uretra), de forma que a urina que aparece na urinálise.
chega dos ureteres para a bexiga acaba 3. Diabetes mellitus
refluindo quase que imediatamente Nesse caso 37% dos cães
para a uretra e o residual fica na bexiga apresentam ITU e 12% dos
acumulando e se tornando meio de gatos. Glicose na urina
cultivo bacteriano. (glicosúria) é alimento para
bactéria.
Requisitos para desenvolvimento da
4. Diminuição da imunidade
ITU
sistêmica
Exposição a um número suficiente de 5. Micção anormal
bactérias uropatogênicas, presença de 6. Hiperplasia de clitóris por uso
receptores para o patógeno no de andrógeno em grávidas de
uroepitélio (se não houver receptores, fêmeas
a bactéria não se liga), diminuição das 7. Urolitíases – lesão na parede da
propriedades antibacterianas da urina, bexiga
redução das defesas da mucosa e 8. Uretrostomia perineal
propriedades antiaderentes e presença 9. Cateter urinário de demora (por
de anormalidades anatômicas. tempo prolongado)
54
10. DRC fosfato de cálcio que facilitam a
11. Gatos com hipertireoidismo infecção. Essa bactéria é resistente a
Doença endócrina mais comum múltiplos antibióticos comuns incluindo
em felinos. 12% dos gatos tem amoxicilina, cefalosporinas e sulfas
ITU. Realizar cultura, pois a potencializadas. É de difícil isolamento
urinálise pode não revelar nas uroculturas (deve ser incubado por
bacteriúria. 5 a 7 dias). Suspeitar de
Corynebacterium urealyticum em
Aspectos clínicos
cistites recidivantes.
Hematúria, estrangúria ou disúria,
Aspectos clínicos
polaciúria, incontinência urinária,
micção em locais não apropriados e Hematúria, piúria e urina alcalina
diminuição do esvaziamento vesical. (acima de 7,5) com cristalúria de
estruvita.
80% dos cães com ITU são
assintomáticos. 10% dos cães Radiografia
hospitalizados por outros motivos tem
Cálculos ou mineralização irregular ao
ITU assintomática.
longo da superfície mucosa.
Exame físico
Contrastada: espessamento da bexiga
Bexiga urinária espessada e/ou com mucosa irregular.
dolorosa à palpação, espessamento da
Dificilmente se usa radiografia para
uretra à palpação retal (muito difícil
diagnóstico de ITU.
perceber) e sinais sistêmicos pela
pielonefrite como prostração, gebre, Ultrassonografia
anorexia, dor abdominal (abdômen
agudo). Espessamento da bexiga com projeções
da mucosa de forma irregular e
ecogenicidade variável. Suspeitar de C.
urealyticum quando a parede da bexiga
TIPOS ESPECIAIS DE apresentar cristais.
ITU
Requisitar urocultura por 5 a 7 dias.

Histopatologia

CORYNEBACTERIUM Cistite supurativa, necrosante e

UREALYTICUM ulcerativa. Pode haver mineralização ao


longo da mucosa.

É um bacilo, aeróbico e gram-positivo. Tratamento


A parede da vesícula urinária e da
uretra ficam incrustadas por estruvita e

55
Corrigir causas predisponentes como DIAGNÓSTICO E
internações em meio hospitalar.
Tetraciclina, cloranfenicol e
TRATAMENTO DA ITU
fluoroquinolona são bons, mas em
geral deve-se basear a terapia Urinálise
antimicrobiana com base na cultura e Os principais achados incluem piúria e
antibiograma. Em geral usa-se bacteriúria, podendo ter proteinúria
enrofloxacina, apesar do também e densidade urinária
Corynebacterium urealyticum ser gram- imprevisível. Grumos leucocitários
positivo e as quinolonas preferenciais também podem ser achados. Em casos
para gram-negativas, dentre as opções de diabetes mellitus, HAC, corticoides
é a classe que melhor responde a ITU exógenos e drogas antineoplásicas, os
contra essa bactéria. pacientes vão apresentar densidade
A vancomicina é usada como terapia de urinária tão baixa que os achados acima
resgate. Pode se fazer raspagem da podem não ser observados.
parede da bexiga para retirada dos O pH vai estar em torno de 7,0
cristais. contendo bactérias produtoras de
uréase como Staphylococcus aureus,
Proteus e Corynebacterium. Muitas ITU
CISTITE ocorrem em urina ácida.
ENFISEMATOSA A bacteriúria não confirma infecção do
trato urinário, portanto pode-se ter um
Agentes etiológicos: Clostridium spp e falso negativo. Isso ocorre por que se a
Corynebacterium. urina foi colhida por cateterização ou
micção espontânea, a análise do
As culturas aeróbicas podem ser
sedimento urinário vai apresentar
negativas, por que o Clostridium é uma
bactérias. Se for feita cistocentese, até
bactéria anaeróbica.
uma cruz (+) é aceitável.
Diagnóstico
O exame direto de urina é feito com 1
Ultrassonografia e radiografia: gás na gota de urina sobre uma lâmina que é
parede da bexiga. A cistocentese é deixada secar naturalmente (leva em
contraindicada por que a parede fica torno de 30 minutos). É feita então
friável. coloração de GRAM. A visualização de
duas ou mais bactérias por campo
Tratamento confirma a ITU.
O tratamento é feito com antibióticos e Urocultura
raramente é necessário fazer
debridamento cirúrgico. A coleta é feita por cistocentese.
Semear preferencialmente em 15

56
minutos. Em geral, a maioria das observar: parede espessada, dilatação
bactérias cresce em 18-24 horas, já o da pelve e abcesso no parênquima
Mycoplasma cresce em 3 dias em ágar renal.
sangue e o Corynebacterium leva até 4
Tratamento
dias. O ideal é fazer cultura
quantitativa. Consequências em potencial de uma
GRAM NEGATIVAS GRAM POSITIVAS
ITU não tratada
E. coli Staphylococcus
Proteus Streptococcus  IRA
Klebsiella Enterococcus  Urolitíases (principalmente
Enterobacter Pasteurella
Pseudomonas
estruvita)
aeruginosa  Espessamento vesical ou uretral
 Sepse – pielonefrite leva à sepse
 Prostatite
Identificação empírica pelo GRAM
 Orquite
Dá para ‘’prever’’ o tipo de bactéria  Uveíte/poliartrite imunomediada –
AG dos cocos são parecidos com as
 Bastonetes em urina ácida: E.coli
proteínas da cartilagem articular e
(mais provável), Pseudomonas e
da úvea.
Enterobacter
 Bastonetes em urina alcalina: ITU não complicada
Proteus (basicamente o único)
Histórico de apenas um ou dois
 Cocos em urina ácida:
episódios de ITU por ano ou primeira
Streptococcus ou Enterococcus
recorrência. Pacientes não
 Cocos em urina básica:
imunossuprimidos (não toma
Staphylococcus
corticoide, antineoplásico). Não
Radiografia e ultrassonografia apresenta nenhuma anormalidade
anatômica, metabólica ou funcional
Estudos de imagem como a
como cálculos, ureteres ectópicos e
ultrassonografia e a radiografia são
úraco persistente. Que o paciente não
importantes para avaliação de
tenha recebido tratamento
pacientes com infecção do trato
antimicrobiano para ITU ou outra
urinário inferior recorrente, para
infecção nos últimos dois meses (ex:.
descartar problemas anatômicos ou
está fazendo tratamento para ITU ou
estruturais. A radiografia contrastada é
tratando piodermite, por exemplo).
a principal técnica para diagnosticar
ureter ectópico. TC é a técnica de ITU complicada
escolha na suspeita de ureter ectópico.
Paciente apresenta defeitos nos
A ultrassonografia é utilizada para mecanismos de defesa, incluindo
avaliar os rins, parede vesical, conteúdo defeitos anatômicos. Apresenta danos
vesical, urólitos e a próstata. Pode na mucosa decorrentes de urolitíases

57
ou neoplasia. Apresenta alteração no
volume de urina ou composição. Tem
 Aminoglicosídeos (gentamicina
uma doença sistêmica concomitante
e amicacina), porém são
(DM, HAC, neoplasia). Tem recebido
nefrotóxicos. Utilizar apenas se
tratamento a longo prazo com
for a única saída.
corticosteroides. Tem um defeito
funcional – não consegue encher ATB’s indicados para prostatite
totalmente a bexiga.
Sulfas potencializadas, quinolonas,
Medicamentos antimicrobianos cloranfenicol (penetra na próstata,
porém não tem uso parenteral),
A concentração do antimicrobiano que
eritromicina, clindamicina.
é atingida na urina é o fator mais
importante na erradicação da ITU. Penicilinas e cefalosporinas de primeira
Animais com hipostenúrina/isostenúria geração são contraindicados. Penetram
não concentram o fármaco na urina. na barreira prostática quando
inflamado, depois disso não penetram
Duração do tratamento antimicrobiano:
mais e geram infecção resistente.
Infecções não complicadas: 14 a 21
dias. ITU superior/complicada: 30 a 60 Pielonefrite
dias.
Antibióticos baseados na cultura e
O ideal é realizar cultura e antibiograma.
antibiograma.
média [creatinina]
𝑁𝑜𝑣𝑎 𝑑𝑜𝑠𝑒 = dose usual x
Escolha dos antibióticos: [creat do paciente]

Cocos GRAM+: Novo intervalo entre as doses:


[creat do paciente
 Amoxicilina simples, 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜 𝑢𝑠𝑢𝑎𝑙 x
média [creatinina]
preferencialmente com
clavulanato Outras medidas terapêuticas
 Sulfas potencializadas – tem Incentivar o consumo de água, fazer
como efeito colateral a
controle da glicemia em diabéticos,
cristalúria tratamento do HAC, cistectomia parcial
 Cefalosporinas de primeira em animais com espessamento grave
geração com tratamento clínico, acidificantes
Bacilos GRAM-: urinários, tratamento da incontinência
urinária e se tiver tomando corticoide,
 Quinolonas (geralmente não é a interromper.
primeira opção)
 Cefalosporinas de segunda Terapia profilática
geração [cefuroxima ou
cefoxitina (cefamicina)].

58
Indicado para pacientes com infecções ticarcilina, peperacilina, imipenem,
recidivantes. Descartar condições meropenem e metanamina.
anatômicas como úraco persistente e
coto uterino.
ITU recorrente
Uma dose de ATB antes de dormir,
Recidiva: pela mesma bactéria.
pode ser o ATB efetivo no controle da
Pielonefrite mal tratada associada,
última infecção, por pelo menos 6
nefropatia obstrutiva, urolitíase,
meses.
alterações crônicas na parede mucosa,
Urocultura mensal para verificar se defeitos anatômicos, retenção urinária
permanece estéril – cistite de e reinoculação da bexiga a partir da
repetição. próstata ou piometra.

Pode-se fazer também pulsoterapia: 2, Reinfecção: bactérias diferentes.


3 dias da semana trata, nos outros não. Defeitos anatômicos, urolitíases,
retenção urinária, neoplasias, diabetes
Bactérias resistentes
mellitus, HAC e imunossupressão.
 Corynebacterium (urealyticum,
ITU recorrente – conclusões
jeikeium)
Vancomicina, teicoplanina, O que fazer
tetraciclinas, cloranfenicol e
Urocultura (coleta por cistocentese),
fluoroquinolonas
realizar urocultura periódica de cães e
gatos com DRC, HAC e DM e terapia
 Mycoplasma, Ureaplasma,
prolongada com corticosteroides,
Chlamydia
cateterização urinária quando
Tetraciclinas e cloranfenicol
estritamente necessária (não sondar
antes de cirurgia por que vai passar por
 Enterococcus
imunossupressão), urocultura após
Amoxicilina com clavulanato,
tratamento para garantir sua
cloranfenicol e nitrofurantoína
esterilidade, seguir um curso completo
de terapia antimicrobiana e tratar
 Pseudomonas
todos os casos de ITU, mesmo os
Fluoroquinolonas e tetraciclinas
assintomáticos.

 Proteus O que não fazer


Fluoroquinolonas
Tratar cegamente (fazer pelo menos a
coloração de GRAM), cultivar urina
 E. coli
obtida por micção espontânea,
Fluoroquinolonas, cefalosporinas de
descartar a presença de ITU na
terceira geração, aminoglicosídeos,
ausência de bacteriúria (principalmente

59
na DM, HAC e DRC), ignorar o risco de (principalmente estruvita) associados a
infecção do trato urinário após muco, formando os tampões.
cateterização urinária, confiar na
resolução dos sinais clínicos para dizer
que a urina está estéril e ignorar as CISTITE INTERSTICIAL
consequências em potencial de uma
FELINA
ITU.

Etiologia

DOENÇA DO TRATO Pode ser por infecções virais, mas nada


URINÁRIO INFERIOR foi provado. Tem-se mastocitose vesical
em análise histopatológica, mas é um
DOS FELINOS procedimento muito invasivo. Por que
fazer cistectomia se o diagnóstico
Pode ocorrer tanto em machos quanto clínico é o suficiente?
em fêmeas. 53% dos casos são por
uretrite ou cistite idiopática e 47% dos Outras causas incluem obstrução
casos por tampões uretrais e urólitos. linfática ou vascular (observada na
histopatologia), endocrinopatias (mas
Tampões uretrais ganham forma não se sabe o porquê), doença
cilíndrica pós-obstrução da uretra. autoimune, envolvimento do sistema
Grande parte é matriz mucoproteica e simpático (piora com o estresse) e
a composição mineral que geralmente defeito na camada superficial de
está associada é estruvita. Pode ter glicosaminoglicanos
associado também leucócitos, (glicosaminoglicano GP-51, o qual tem
proteínas, hemácias, debris e tecido efeito protetor sobre o urotélio) da
descamado. mucosa vesical, causando inflamação
A microscopia eletrônica de gatos com neurogênica.
cistite intersticial apresenta bactérias e Patogenia
Calicivírus.
No animal enfermo tem-se a
A hipótese atual é que a DTUIF é estimulação das fibras C não
causada por via neurogênica (estresse), mielinizadas, causando dor. Pela
levando a cistite/uretrite e formação de liberação de neurotransmissores (NO,
tampões. prostaglandinas e ATP) há o aumento
As células inflamatórias descamam e da permeabilidade vascular,
caem na urina, chegando até a uretra. acarretando numa liberação de
Pela uretra elas passam até um certo histamina pelos mastócitos e assim,
ponto, onde ocorre a obstrução. Como contração da musculatura lisa. Quanto
há estase urinária, o pH da urina mais inflama, mais dói. No SNC tem-se
aumenta tem-se a formação de cristais

60
aumento da síntese de catecolaminas e parada e comida velha estressa o
dessensibilização de receptores alfa-2. animal.

Falta de GP-51 associado ao estresse A segunda medida são alterações na


leva ao estímulo das fibras C, causando dieta, usando formulações úmidas.
dor visceral.
Se as medidas acima não funcionarem,
Aspectos clínicos pode-se utilizar um modificador
comportamental/antidepressivo
Hematúria, disúria, estrangúria,
tricíclico, chamado amtriptilina. O
polaciúria, lambedura do prepúcio
tratamento deve ser feito por 4 meses.
(pela dor) que acaba inchando e
Dá para prescrever em forma de gel
evoluindo para obstrução uretral.
para o proprietário passar na pata do
Urinar em locais não usuais (periúria),
gato, ele vai lamber para ficar com a
caracterizando processo inflamatório
pata seca. É mais fácil que comprimido.
ou distúrbio comportamental, também
são sinais comuns. Dá para utilizar também um modulador
comportamental/inibidor seletivo da
Diagnóstico
receptação de serotonina (fluoxetina).
Anamnese e história clínica (raro em
animais acima de 10 anos), exame
físico, exames complementares, DTUIF OBSTRUTIVA
urinálise pode ter aumento de
hemácias e leucócitos e urocultura é Predisposição e histórico
provável que dê negativa (a urina tem
mais amônia, logo mais ureia - portanto Idade média da primeira obstrução aos
é improvável uma infecção bacteriana). 4 ou 5 anos. Gatos castrados são 90% e
Na ultrassonografia pode se verificar inteiros 10%. Isso está relacionado a
espessamento da vesícula. fatores comportamentais. Os gatos
inteiros saem mais para rua atrás das
A radiografia não tem utilidade. Seria fêmeas, andam mais e cansam mais,
bom para cálculos com aumento de logo, tomam mais água.
radiodensidade, mas são raros.
80% dos gatos criados exclusivamente
Tratamento dentro de casa vão ter algum episódio
de DTUIF.
A primeira medida é o enriquecimento
ambiental. Proporcionar ambiente ao Animal vai chegar à clínica com dor,
gato (prevenir estresse), incontinência e hematúria.
disponibilizando caixas de areia,
comida, brinquedos e potes de água. É Aspectos clínicos
importante lembrar que gato é
Os sinais clínicos vão depender da
bastante seletivo, portanto, água suja e
evolução da doença. De longa duração

61
(mais de 48 horas), já tem sinais de hipocalcemia ionizada – ligação do
uremia (IRA pós-renal) como vômito, cálcio nas proteínas (não vai estar livre
letargia, desidratação. O tempo de – hipocalcemia).
desenvolvimento da uremia é variável,
geralmente pós 24 a 48 horas. Com 72 Não julgar o prognóstico antes de
horas o animal já está em prostração desobstruir e dosar a creatinina,
intensa, moribundo, semicomatoso e a posteriormente.
morte é iminente – morrem por
Urinálise
hipercalemia. Um grande erro na clínica
é anestesiar para desobstruir, usando São comuns grumos e tampões e
propofol por exemplo. O animal vai menos comuns cristais. A densidade
morrer, não adianta utilizar adrenalina. urinária é imprevisível, leucócitos
podem estar aumentados ou normais,
Alterações do TUI: estrangúria e
células epiteliais podem ou não estar
polaciúria.
presentes e bacteriúria normalmente é
Exame físico incomum. Cristais de estruvita podem
aparecer normalmente secundários à
Bexiga gigante à palpação associada a estase urinária e não como fator
tenesmo urinário e não urina em causador.
compressão leve. Pênis avermelhado,
auto-traumatizado, tampão urinário O principal achado é a hematúria.
protuindo na extremidade peniana, Cistite/uretrite idiopática e distensão
anorexia, vômito, desidratação, da parede da vesícula urinária.
taquipneia (compensando a acidose
Proteinúria (++) por hemorragia. pH
metabólica), hipotermia ou hipertermia
neutro a alcalino (exsudação de
(pielonefrite ascendente). Hipertermia
proteínas plasmáticas para urina). As
é um sinal de complicação.
proteínas aumentam o pH urinário.
Hipercalemia é o primeiro indicativo.
Glicosúria em 74% com DTUIF grave e
Leva a bradicardia (FC < 160, ter
40% com DTUIF moderada. É
atenção).
secundária ao estresse, que causa
Diagnóstico hiperglicemia. É uma glicosúria renal
passageira.
Bioquímica sérica
Urocultura
Paciente obstruindo vai desenvolver
IRA pós-renal. Na primeira obstrução quase todos os
gatos têm a urina estéril. Em geral não
A magnitude da azotemia não é usa antimicrobiano, já que a maioria
preditiva para a sobrevida. O potássio é não tem infecção. Usar antibiótico para
esperado que esteja aumentado. Vai gato com IRA pós-renal sem infecção só
apresentar acidose metabólica grave e vai sobrecarregar o rim.

62
Cuidar com cateter de longo tempo, A abordagem da DTUIF deve ser rápida
pode propiciar crescimento bacteriano. e objetiva.

ECG Causas de colapso e hipotensão:


hipercalemia (bradicardia), a
O ECG pode ser feito também. Podem
bradicardia reduz o DC e PA, de forma
ocorrer alterações elétricas no coração
que isso é percebido pelos
por hipercalemia. Hipercalemia leve
barorreceptores (principalmente
(onda T maior e pontuda), hipercalemia
carotídeos), que estimulam o sistema
moderada (polaridade da onda T fica
nervoso simpático a liberar
positiva) por processo obstrutivo (não
catecolaminas. Ao mesmo passo que
sai K+) ou uroabdome e hipercalemia
isso ocorre, a acidose diminui a
grave (bradicardia, alargamento e
sensibilidade vascular às catecolaminas
arrasamento da onda P, aumento do
e a hipocalcemia reduz a contratilidade
intervalo Q-T e alargamento do
do miocárdio, causando vasodilatação
complexo QRS).
periférica. A uremia aguda contribui
Radiografia para a depressão do miocárdio e DC
diminuído e a hipotermia contribui para
A validade do raio X é baixa. Dá para a diminuição da PA e DC.
ver cálculos uretrais próximos a região
perineal, mas é raro, ainda mais em Tratamento da obstrução uretral
gatos.
ESTABILIZAR antes de usar qualquer
Radiografia contrastada agente anestésico. Uremia,
hipovolemia, hipercalemia, acidose
Uretrografia com contraste positivo – metabólica e hipocalcemia devem ser
excluir estenose uretral pós-sondagem corrigidas inicialmente.
de demora. Em geral não é usada na
rotina. 1. Estabilização e desobstrução
A escolha é NaCl 0,9%, inicialmente
Ultrassonografia 10 a 20ml/kg/hora. O efeito
alcalinizante do RL pode ser mais
Avalia a bexiga e uretra até o começo
benéfico do que seu efeito pelo
da pelve. Avalia a parede e conteúdo da
excesso de potássio. Se desobstruir
vesícula urinária, presença de líquido
o paciente e tirar da acidose, o
livre, avaliação renal e presença de
potássio excedente não vai gerar
estruturas hiperecóicas formadoras de
alteração fisiológica.
sombra acústica ou cristalúria.
Leva o animal para a US e realiza a
Tratamento da obstrução uretral cistocentese descompressiva para
alívio imediado.
Em geral, IRA pós-renal o animal se
Pode-se palpar a vesícula urinária
apresenta hipercalêmico, em choque,
de forma pulsátil e expor o pênis
hipotenso e em acidose metabólica.
com movimentos de vai e vem, de

63
forma que o tampão pode ser pH abaixo de 7,2. Em acidose
eliminado e o gato volta a urinar. discreta a moderada, fazer somente
Ideal enviar amostras para análise fluidoterapia normal (H2CO3 acima
quantitativa e qualitativa. Sempre de 16 mEq/L). Em acidose grave
lembrar que isso dói muito, deve-se realizar tratamento específico. Não
utilizar um analgésico para dor administrar HCO3 sem
visceral como o butorfanol. Na falta hemogasometria.
de butorfanol, pode utilizar Cuidado com excesso de insulina,
morfina. Mesmo a morfina ser para pois pode mandar muita glicose
dor somática, é um potente para as células, levando à
analgésico. hipoglicemia e morte.
Se não conseguiu liberar o tampão,
Bicarbonato (mEq) = PC x 0,3 x déficit [desejado
pode fazer urohidropropulsão (16) – mensurado]
retrógrada.
2. Correção da hipercalemia Deve-se aplicar metade em 20 a 30
A restauração da função renal minutos e o restante em 4 a 6
normal após a desobstrução resulta horas. Aplicar tudo de uma vez vai
em caliurese rápida. Gluconato de gerar alcalose rebote.
cálcio é o tratamento de escolha
4. Tratamento da hipocalcemia
para hipercalemia severa, com
Somente administra cálcio se tiver
bradicardia e diminuição da
dosagem do mesmo.
contratilidade. Pode causar
5. Sondagem vesical
hipotensão e arritmia (monitorar
Sempre sob anestesia
com eletrocardiograma e Doppler).
(neuroleptoanalgesia). Nunca
O gluconato de cálcio faz troca de
anestesiar gatos enfermos antes da
cálcio com potássio, diminuindo
estabilização.
potássio e aumentando cálcio. Deve
Protocolos:
ser administrado de 10 a 15
Butorfanol + acepram + cetamina
minutos (infusão lenta), por que o
Diazepam + cetamina (em geral não
animal pode morrer!
dá um relaxamento adequado).
Quando não tem bradicardia
Se não houver um relaxamento
importante pode utilizar glicose
adequado, pode intubar com
50% (1ml/kg) – diluir para 10 a 20%.
isoflurano (diminui FC). Propofol
Pode-se utilizar também insulina
também pode ser utilizado, mas
regular associada à glicose. A
gera hipotensão.
glicose dá uma ajuda para o
Pode-se fazer epidural, é muito boa,
potássio entrar na célula,
mas exige profissionais treinados.
diminuindo os níveis séricos. Já a
Associar opioides (analgesia até 16
insulina aumenta a entrada de
horas com morfina). Dá para fazer o
glicose na célula.
bloqueio de pudendo logo acima da
3. Controle da acidose

64
tuberosidade isquiática. Fica mais hipovolemia e hipocalemia. A
fácil de sondar. creatinina muito alta pode levar à
intensa diurese pós-obstrutiva,
Cateterização urinária deve ser feita
portanto deve-se corrigir a
em decúbito dorsal ou lateral. Deve
fluidoterapia (70ml/kg/dia não vai ser
ser asséptica, delicada, área
suficiente).
perineal tricotomizada e feita
antissepsia e utilizar luvas estéreis. Mal prognóstico para gatos que não
Deve-se exteriorizar o pênis e apresentam diurese pós-obstrutiva e
mantê-lo distendido no sentido estavam azotêmicos.
caudal. Utilizar Tom Cat
O débito urinário normal é de
(polipropileno), melhor de ponta
1ml/kg/h, mas pode ser esperado até
aberta do que a com orifício lateral.
20ml/kg/h pós-obstrução.
Pode-se iniciar com cateter 22 (sem
mandril) para urohidropropulsão Fluidoterapia IV após a desobstrução
retrógrada.
Método normal de cálculo de volume.
Se não deu certo passar cateter, Levar em consideração a diurese pós-
passar sonda. É INADIMISSÍVEL obstrução para recalcular a fluido. O
deixar sonda aberta. Conectar a um ideal é recalcular a cada 4 horas
sistema coletor de urina estéril e (monitorando o DU). Se a diurese se
não forçar. prolongar, considerar o excesso de
fluido como causa. Reduzir 25% e
Objetivo de se mandar uma sonda
observar, caso haja redução, seguir
urinária por 48 a 72 horas: urina
diminuindo a reposição de fluido.
clara, azotemia resolvida e DU
normal. Abordagem médica durante a
hospitalização
Sempre se deve respeitar a
anatomia da uretra do gato que Analgésicos (tramadol, metadona,
primeiramente é dorsal e depois vai butorfanol) e antiespasmódicos
reta e cranial. Algumas causas de (buscopam e acepromazina). Acepram
resistência incluem tração e é ótimo, mas em animal HIDRATADO!
extensão inadequada do pênis,
tampão uretral, uretrólito, edema, Realizar urocutura após a retirada da
uretrospasmo, lacerações uretrais e sonda. Manter o animal em ambiente
estenose uretral. calmo e longe de outros cães (evitando
estímulo simpático). Dosar creatinina e
Diurese pós-obstrutiva K sérico.
O esperado pós-obstrução é diurese. A Falha na obtenção de urina em
magnitude da diurese está associada à quantidade adequada a partir do
azotemia na ocasião do atendimento. A cateter urinário permanente: sonda
diurese pós acentuada pode levar à

65
torcida ou dobrada, desconectada, trauma uretral ou vesical associado ao
sonda pouco extensa, laceração na cateter.
uretra, obstrução por coágulos, debris
Cuidados domiciliares
ou cristais, sonda furada, vesícula
urinária rompida, baixa TFG (baixo Dietas acidificantes não devem ser
volume urinário por desidratação, fornecidas nas primeiras duas semanas
hipovolemia) e IRA (anúria). após a liberação da obstrução urinária.
Oferecer dieta de preferência úmida
Falha na adequada micção após
neste período. Bolus subcutâneo de
remoção do cateter urinário:
fluido no momento da alta (diminui a
obstrução urinária recorrente, inchaço,
densidade urinária e fica mais
infecção, coágulos, laceração uretral,
hidratado). Estrangúria, hematúria e
estenose, atonia vesical (bexiga
polaciúria podem persistir por até 7
distende muito). Abordagem nesses
dias (o que causou a obstrução foi a
casos: cistocentese descompressiva,
cistite intersticial). Antiespasmódicos 5
antiespasmódicos, analgésicos e
a 7 dias: acepromazina 0,02 a
compressão manual várias vezes ao dia
0,05mg/kg VO BID ou buscopam
(pode exacerbar junções oclusivas do
1mg/kg, pode associar com tramadol.
urotélio).
Ter cautela com a acepromazina, o
Tratamento de gato com vesícula proprietário pode errar a dose.
urinária distendida e atonia vesical
Reavaliação médica e prevenção de
Cistocentese descompressiva, recorrências
sondagem novamente e medicamentos
Retorno em 7 a 14 dias.
parassimpaticomemiméticos
(betanecol, fenoxibenzamina) para Urinálise: densidade diminuiu (< 1,030),
estimular contrações do músculo qual o pH? Quais os cristais presentes e
detrusor. Mandar o paciente para casa, quanto? Intensidade da
pois pode não urinar fora de casa. Se hematúria/proteinúria? Existe piúria?
novamente não urinar, retorna à
clínica. Urocutura é recomendada. Agendar
nova reavaliação em 1 a 3 meses.
Complicações após liberação da
obstrução uretral nos gatos machos Uretrostomia perineal

Obstrução persistente: tampões ou A partir do segundo episódio, o animal


debris na uretra inadequadamente já é candidato. Sempre alertar o
removidos, cálculo desviado pelo proprietário na primeira consulta e das
cateter e que ainda permanece na consequências do procedimento. Após
uretra, uretrospasmo, reobstrução, UTI a primeira ocorrência de obstrução
consequente à cateterização, atonia com estenose consequente.
vesical, azotemia pós, pré e renal,

66
Cultura em 1, 3 e 6 meses pós-cirurgia – pH urinário, ITU, fatores nutricionais,
pode ter ITU assintomática. baixo consumo de água e
hereditariedade.
Uretrostomia antepúbica.

Prognóstico

Em curto prazo: excelente (94% de ESTRUVITA


sucesso) com alta taxa de sobrevida, se
tratamento iniciado precocemente. O Estruvita ou fosfato triplo magnesiano
prognóstico é excelente se o paciente (Mg, NH3 e P). Representa 40 a 50%
for capaz de urinar normalmente após das urolitíases em cães e gatos. Em
a retirada da sonda (25% dos pacientes cães é mais comum em fêmeas do que
conseguem). machos.

Em longo prazo: 36% de reobstrução FIG.29


Cristal de estruvita.
em 17 dias, 43% de reobstrução em 7
meses. Obstrução recorrente causa
eutanásia em 21% dos gatos. Estenose
uretral em 11% dos gatos e sinais de
cistite idiopática em 30 a 50% dos
casos.

UROLITÍASES Fonte: http://www.biomedicinapadrao.com.br

Urólito vem do grego, uro (urina) e Tem basicamente duas causas:


lithos (pedra).
1. ITU: bactérias urease positivas
Os urólitos são concreções minerais (Staphylococcus e Proteus).
compostos predominantemente de Ureia na urina sofre ação dessas
cristaloides orgânicos ou inorgânicos bactérias urease positivas que
(90-95%) e uma pequena quantidade formam NH3 e OH, que
de matriz orgânica (5-10%). alcalinizam o pH. Junto ao NH3
tem-se Mg e P, formando então
FIG.28 o fosfato triplo magnesiano.
Cristais de oxalato, fosfato triplo e cistina.
2. Genética: Schnauzer e Cocker
tem defeitos no transporte
tubular, deixando o pH mais
alcalino. Em gatos a cistite
intersticial (DTUIF) promove
Fonte: http://library.med.utah.edu/ estase urinária, aumentando pH
Fatores predisponentes e acumulando cristais.

67
OXALATO DE CÁLCIO URATO
Em geral se forma em pH ácido e é mais Incidência de 30 a 50% em cães. Mais
comum em humanos. A frequência de comum em cães machos e raro em
urólitos de oxalato em cães e gatos tem gatos.
aumentando nos últimos 25 anos. É
FIG.31
caracterizado principalmente pela baixa Cristal de urato.
ingesta de água. Raças predispostas
incluem Schnauzer, York, Lhasa e
Shihtzu.

FIG.30
Cristal de oxalato de cálcio.

Fonte: http://professorwellington.zip.net/

Duas principais causas:

1. Genética: Dálmata e Bulldog


inglês. Os cães dessas raças
possuem defeito genético que
prejudica o transporte do ácido
úrico dentro do hepatócito.
Com o transporte inadequado, o
Fatores de risco em cães
ácido úrico não é metabolizado
Em geral cães com mais de 4 anos em alantoína e o ácido úrico
(incidência aumenta em cães com mais volta para a urina (urato + NH3
de 8, 9 anos), machos castrados, = cristais para formação de
obesidade e hipercalcemia. cálculo).
2. Desvio porto-sistêmico: cães de
Fatores de risco em gatos pequeno porte apresentam DPS
Alimentação com dietas acidificantes, extra-hepático e cães de grande
meia idade a idosos, machos castrados porte apresentam DPS intra-
e maior risco para Persas, Himalaias e hepático.
Ragdolls. Cálculo de urato de amônio é um
O oxalato é proveniente da dieta e do indício de desvio porto-sistêmico. O
metabolismo do àcido ascórbico ácido úrico e a amônia deveriam pela
(vitamina C). veia porta chegar ao fígado para serem
metabolizados, mas parte reflui direto

68
para a veia cava por desvios porto- SILICATO
sistêmicos, de modo que não passa
pela metabolização hepática (urato +
Incomum em cães e raríssima em gatos.
amônia na urina = cálculo de urato de
Ocorre mais na bexiga e uretra e é mais
amônia).
comum em machos do que em fêmeas.
Dietas com alto teor de glúten de milho
e casca de soja (dietas de má
CISTINA qualidade) são um dos fatores
predisponentes. Não foi determinada
É uma urolitíase de pH ácido, incomum relação dos urólitos de silicato com o
em cães e rara em gatos. Mais comum pH.
em machos do que em fêmeas. Afeta
cães entre 4 a 6 anos. As raças que mais
frequentemente apresentam urólitos CÁLCULOS
de cistina são o Bulldog Inglês, o
Daschshunds, o Basset Hound e o
Cálculo cístico – histórico e sinais
Bullmastiff. Essas raças apresentam um
clínicos
defeito no transporte tubular que
envolve os aminoácidos ornitina, lisina Pode ser assintomático ou ter sinais de
e arginina. inflamação ou infecção vesical como
disúria, aumento na frequência de
FIG.32
Cristal de cistina. micção (polaciúria), hematúria, cálculos
palpáveis e/ou vesícula urinária
espessada.

Cálculo uretral – histórico e sinais


clínicos

Em fêmeas é raro, em machos ocorre


obstrução uretral. Mais comum em
cães de pequeno porte, pois há
Fonte: http://professorwellington.zip.net/
estreitamento próximo ao osso
São mais comuns na bexiga e na uretra peniano.
e normalmente são múltiplos. A
O paciente apresenta tentativas
recorrência é alta (47-75%). A ITU é
frequentes e mal sucedidas de urinar,
uma complicação e não uma causa,
passando apenas pequenas
uma vez que o cálculo lesiona a parede
quantidades de urina (polaciúria), pode
a bexiga/uretra, pode-se ter uma ITU
ter disúria, hematúria, bexiga
secundária.
aumentada/distendida e sinais de
azotemia pós-renal como letargia,
anorexia, vômito e bradicardia. Por

69
palpação retal consegue palpar cálculos compensa e entra em IRA/DRC por
na uretra perineal. Pode-se fazer sobrecarga.
palpação da uretra na entrada do osso
Diagnóstico
peniano também. O esperado é que a
bexiga esteja aumentada, mas pode A urinálise sempre deve ser
acontecer de chegar ao atendimento interpretada com cautela (densidade
com a bexiga já rompida. urinária imprevisível). O sedimento
pode apresentar piúria, hematúria,
Cálculo renal – histórico e sinais
proteinúria e bacteriúria, dependendo
clínicos
das co-morbidades.
Não é comum e não tem sinais clínicos
Quanto ao pH: bactérias urease
na maioria dos animais. Tem hematúria
positivas (pH normalmente alcalino),
indolor. Animal não apresenta sinais de
cistina e oxalato (pH ácido), silicato e
inflamação ou ITU, porém podem estar
urato (pH variável). Vale ressaltar que o
presentes sinais de pielonefrite e
oxalato pode ter pH variável.
pionefrose como anorexia, letargia,
febre, poliúria, polidipsia, dor Presença de cristais de estruvita,
abdominal e na região renal. oxalato e urato e patológico. A
presença de cristais (+, ++, +++) sem
Não confundir dor medular com cólica
sinais clínicos não é recomendado o
renal (RARA na rotina clínica).
tratamento, por que ao invés de
Cálculo ureteral – histórico e sinais resolver o problema pode acabar
clínicos mudando o tipo de cálculo.

Incomum em cães e gatos, mas se A urocultura sempre é indicada,


tornou mais frequente em gatos nos independentemente do tipo de urólito.
últimos 10 anos. Em gatos 98% dos
O hemograma pode estar normal ou
cálculos ureterais são de oxalato de
então apresentar pielonefrite
cálcio e apenas 8% tem urocultura
(leucocitose com neutrofilia e desvio à
positiva.
esquerda).
Pode não apresentar sinais clínicos ou
Na bioquímica sérica é constatada
apresentar dor abdominal (associada à
azotemia, hiperfosfatemia e
hidronefrose), anorexia, vômito,
hipercalemia, indícios de obstrução.
letargia e perda de peso.
O ECG pode ser feito também. Podem
Radiografia/ultrassonografia: sinais de
ocorrer alterações elétricas no coração
hidronefrose e renomegalia. A maioria
por hipercalemia. Hipercalemia leve
dos animais já é azotêmico
(onda T maior e pontuda), hipercalemia
(cronicidade), mesmo nas obstruções
moderada (polaridade da onda T fica
unilaterais. Se for unilateral o outro rim
positiva) por processo obstrutivo (não

70
sai K+) ou uroabdome e hipercalemia 1. Diminuição da obstrução do
grave (bradicardia, alargamento e trato urinário inferior e
arrasamento da onda P, aumento do restabelecimento do fluxo
intervalo Q-T e alargamento do urinário.
complexo QRS). São medidas para estabilizar o
paciente, lembrando sempre de
Análise dos cálculos
fazer analgesia. Pode-se fazer
Armazenar em SF 0,9%, nunca em cistocentese descompressiva
formol. Tomar cuidado com os kits (cateter de pequeno diâmetro e
comerciais, eles podem dar falso lubrificado, em cálculos
positivo/negativo. O ideal é mandar uretrais), uretrotomia
para um laboratório de confiança. emergencial ou
urohidropropulsão retrógrada.
Pode acontecer de no início o animal 2. Correção hídrica, eletrolítica e
apresentar um cálculo de oxalato, por do desiquilíbrio acidobásico
exemplo, que lesionou a parede da associado à azotemia pós-renal.
bexiga. A partir da lesão ocorreu 3. Encaminhamento para
proliferação de alguma bactéria urease procedimento cirúrgico
positiva (Staphylococcus, por exemplo) (cistotomia ou uretrotomia).
e alcalinizou o pH formando cálculos de
estruvita sobre os cálculos de oxalato. Tratamento médico específico - cálculo
No núcleo oxalato e externamente de estruvita
estruvita.
Controle da ITU, que é a principal
Na radiografia, os cálculos de cálcio se causa. Presença de cálculo caracteriza
apresentam mais radiopacos. Em geral, infecção urinária COMPLICADA. No
fosfato de cálcio, oxalato de cálcio, mínimo 21 dias de tratamento, em
estruvita e silicato são mais geral, 30 dias. Acidificantes urinários
radiodensos. Cistina e urato são menos não são recomendados por que pode
radiodensos. formar outro tipo de cálculo.

A ultrassonografia é uma ferramenta Se após o controle da infecção a urina


mais completa para a abordagem continuar alcalina, procurar por causas
diagnóstica das urolitíases. Podem-se familiares, dietéticas e metabólicas.
constatar cálculos vesicais e na uretra
Em geral faz-se o tratamento cirúrgico
proximal, obstrução do trato urinário,
(cistotomia) e o tratamento dietético é
levando a hidroureter e a hidronefrose.
um tratamento complementar. Utiliza-
Na hidronefrose constata-se apenas a
se a dieta calculolítica se o paciente
cápsula renal e suas trabéculas.
tem risco anestésico, por exemplo. A
Tratamento média de dissolução do cálculo é de 2 a
3 meses em cães e gatos. Deve-se
seguir com a dieta por pelo menos um

71
mês após a constatação radiográfica da urato. 15mg/kg VO a cada 12 horas ou
dissolução. 5-10mg/kg para prevenir recorrência e
no pós-operatório. A dosagem deve ser
Tratamento médico específico - cálculo
diminuída em cães com DRC.
de oxalato
Cuidado com o excesso de purina na
Não prescrever dieta calculolítica, não
alimentação – cálculos de xantina.
há nada comprovado cientificamente.
33% dos cães apresentam ITU
Prevenção de recidivas e formação de
concomitante.
cálculos em animais com cristalúria:
estimular a ingesta de água, dieta com Hills u/d é a única que apresenta
menor porcentagem de proteínas, benefícios para cálculo de urato.
evitar excesso de vitamina C e D e
Tratamento médico específico - cálculo
evitar alimentos ricos em oxalato, como
de cistina
a espinafre, soja, sardinha, batata doce,
aspargo e tofu. D-penicilamina forma uma ponte
dissulfeto com a cisteína, reduzindo a
Dietas comerciais indicadas são: Hills
quantidade de cistina. 15mg/kg VO BID.
u/d e Urinary Oxalaty Farmina. Urinary
É usada também para prevenção de
SO* da Royal e Purina ST/OX** dizem
recidivas. O maior efeito colateral é o
que serve tanto para estruvita, quanto
vômito (mas não é tão frequente),
para oxalato. Mas isso não faz sentido,
portanto, recomenda-se administrar
uma vez que estruvita e oxalato são
juntamente ao alimento, usar
cálculos antagônicos.
antieméticos ou reduzir a dosagem.
*SO: Struvite/oxalate.
Pode-se utilizar bicarbonato de sódio
**ST/OX: Struvite/oxalate. (0,5-1g para cada 5kg de peso VO BID).
Isso vai alcalinizar a urina, mas não é
Não usar citrato de potássio, pois
uma medida sensata. Urina mantida
alcaliniza a urina e forma cálculos de
alcalina promove desenvolvimento de
estruvita.
cálculos de estruvita.
Tratamento médico específico - cálculo
Tratamento médico específico - cálculo
de urato
de silicato
Alopurinol é recomendado para
Ainda não foram estabelecidas relação
problemas genéticos, os defeitos
dos cálculos de silicato com o pH.
anatômicos são corrigidos com cirurgia.
Deve-se evitar dietas ricas em proteína
O alopurinol é um inibidor competitivo
vegetal.
da xantina oxidase que diminui a
formação de ácido úrico, diminuindo o Prognóstico e complicações
substrato para formação do cálculo de

72
Para urolitíases do TUI, o prognóstico é Auto-imune por trauma no escroto ou
bom desde que tratadas a tempo. testículo ou lesão da barreira hemato-
testicular. Com a ruptura da barreira
As complicações incluem: alta
hemato-testicular ocorre inflamação e
recorrência para cálculos metabólicos
aumento da permeabilidade, de forma
(oxalato, urato e cistina), azotemia pós-
que os anticorpos ultrapassem a
renal, ITU e obstrução uretral (ruptura
barreira, reconhecendo os
de uretra ou bexiga).
espermatozoides como antígenos.
Recomendações
Não-infecciosa por aumento da pressão
Deve-se ‘’vigiar o cálculo’’: recomendar intra-abdominal (trauma) – urina reflui
reavaliações, fazendo urinálise e para os ductos seminíferos causando
urocultura sempre (ideal a cada 2 orquite química. Outra causa não-
meses). infecciosa é a passagem de urina pelo
ducto deferente.
Sempre enviar o cálculo para análise e
fazer radiografia pós-operatória. Infecciosa por agentes bacterianos.

E lembrar que a ausência de cristalúria Aspectos clínicos


não exclui a presença de cálculo e que a
Início súbito dos sintomas com edema
cristalúria leve a moderada não
escrotal (testículo fica doloroso).
necessariamente está envolvida com a
Animal tem relutância ao exercício, dor
formação de cálculos.
à palpação, localmente o testículo se
apresenta edemaciado, quente e
congestionado. Constata-se animal com
ORQUITE E letargia, dor, anorexia, descarga
EPIDIDIMITE prepucial purulenta (a descarga
prepucial é amarela e em pequena
quantidade) e pirexia.
A orquite e a epididimite são mais
comuns nos cães do que nos gatos. Frequentemente o envolvimento é
unilateral e pode haver associação com
As formas de infecção incluem a via
dermatite escrotal (secundária ou como
hematógena, ascensão ITU e feridas
a causa).
penetrantes.
A Brucella canis causa linfadenopatia
Bactérias comumente associdas: E. coli,
periférica.
Brucella canis, Staphylococcus,
Streptococcus, Proteus vulgaris, Em caso de propagação para a
Mycoplasma e Blastomyces. próstata, os sinais clínicos são
compatíveis com patologia prostática.
Etiologia
Diagnóstico

73
Hemograma e bioquímica sérica em Antibióticos associados à castração. São
geral não há alterações. para animais sem interesse zootécnico
ou reprodutivo.
Isolamento do agente por exame
bacteriológico da urina ou Complicações
bacteriológico da 2ª e 3ª fração do
Orquite unilateral pode se tornar
ejaculado. Em geral não faz
bilateral e a orquite/epididimite pode
bacteriológico do sêmen pela dor que o
se tornar crônica.
animal tem pela orquite/epididimite.
Prognóstico
Pode-se fazer ultrassonografia. Obs:
epidídimo em geral é 1/3 do tamanho Quanto a fertilidade o prognóstico é
do testículo. reservado.
O teste de Brucella é obrigatório. São necessários 55 a 70 dias para o
desenvolvimento e maturação
Tratamento de infecção controlável
completa dos espermatozoides,
Manter capacidade reprodutiva – portanto deve se efetuar exames
tratamento conservador. posteriores a esse período para
avaliação da produção espermática.
Terapia de suporte.
Pode ter desenvolvimento de
Terapia com antibióticos: amoxicilina
espermatocélio e granuloma
com clavulanato, sulfa-trimetoprim ou
espermático, oligospermia,
enrofloxacina. O problema da
azoospermia e infertilidade.
amoxicilina é que se tiver prostatite
concomitante não vai passar a barreira
prostática. O tratamento deve ser de
pelo menos 14 dias. DISTÚRBIOS
Terapia anti-inflamatória: controlar a
PROSTÁTICOS
infamação e reduzir a resposta
imunitária aos espermatozoides. Crescimento e secreção prostática são
Utiliza-se AINEs, por que diminuem a androgênio-dependentes
inflamação e a permeabilidade da (Dihidrotestosterona intra-prostática).
barreira hemato-testicular. Evitar O crescimento ocorre até os 3 anos e
utilizar corticoides em infecções tem incidência de 3%.
bacterianas. Doenças prostáticas
Compressas frias no escroto para HPB, prostatite bacteriana aguda e
reduzir os efeitos térmicos prejudiciais crônica, metaplasia escamosa,
nos túbulos seminíferos. abcessos, cistos e neoplasia.
Tratamento de infecção incontrolável Aspectos clínicos

74
Sinais sistêmicos incluem febre, Avaliação do fluido prostático
depressão, anorexia, perda de peso e (massagem prostática): exame
vômito. citológico e bacteriológico.

Sinais do trato urinário inferior como Citologia aspirativa e biópsia guiada por
descarga uretral hemorrágica constate ultrassom. Passar uma sonda curta
ou intermitente, descarga purulenta, conectada a uma seringa, até próximo à
ITU recorrente, disúria, polaciúria e bexiga e fazer massagem prostática
retenção urinária/obstrução que para coletar material.
podem resultar em estrangúria.

Animal pode apresentar anormalidade


na defecação como o tenesmo. A HIPERPLASIA
próstata fica ventral ao cólon PROSTÁTICA BENIGNA
descendente e dorsal ao púbis,
- HPB
portanto, se ela estiver aumentada
pode comprimir o cólon.
Aos 4 ou 5 anos, 50% dos machos tem
Anormalidades na locomoção: dor evidencia histológica de HPB. Depois de
secundária à prostatite aguda ou 6 anos é clinicamente evidente em
neoplasia. Pode ter 60%.
claudicação/paresia.
É um desenvolvimento anormal do
Os sinais mais comuns incluem tecido glandular com irregularidades no
descarga hemorrágica, tenesmo, ITU tamanho e forma dos ácinos
recorrente e hematúria. prostáticos.

Os locais mais comuns de metástase de Ocorre aumento do volume da


doença prostática são as vértebras próstata, acompanhado de alterações
lombares e os linfonodos regionais. císticas.

Diagnóstico das doenças prostáticas Fisiopatogenia

Ideal é o toque retal para sentir a O 17-beta-estradiol tem efeito


próstata. Pode-se fazer ecografia (US). sinérgico com os androgênios, levando
Raio X contrastado (uretrocistografia) ao crescimento do tecido prostático e
não é mais utilizada. efeito no tecido intersticial. Tem-se
então uma possível metaplasia
Pode-se fazer colheita da 3ª fração do escamosa do epitélio glandular.
ejaculado, mas há probabilidade de
infecção bacteriana. Se < 100 UFC/ml é Aspectos clínicos
compatível com infecção prostática.
Alguns são assintomáticos. Em geral, o
primeiro sinal clínico é a descarga
uretral hemorrágica, depois hematúria,

75
disúria, tenesmo, hemospermia, Esteroides sintéticos (estrogênios e
infertilidade e sinais sistêmicos de progestágenos) totalmente
doença (raro). contraindicados. Usar esteroide como
tratamento, sendo que o mesmo está
Fecaloma pode sugerir HPB.
envolvido no mecanismo da HPB?
Diagnóstico
Fármacos que impedem a ação dos
Toque retal: sensibilidade normal andrógenos como o finasteride
(principal diferencial para prostatite, (inibidor da 5-alfa-redutase). Dose de
que o animal apresenta muita dor), 0,1-1mg/kg/dia VO entre 8 a 53
próstata hipertrofiada (simétrico) e semanas. Induz a atrofia prostática em
consistência normal. 6 semanas de tratamento e sem efeitos
secundários na fertilidade. Interromper
Hematologia e urinálise normais. o tratamento entre 6 a 8 semanas faz a
próstata voltar ao tamanho original. O
Na radiografia constata-se a bexiga
finasteride é bastante usado para cães
deslocada cranialmente e o reto
que não podem fazer cirurgia, por que
dorsalmente, ambos deslocados pela
não podem ser anestesiados. O efeito
próstata. Praticamente não usa raio X
colateral é a impotência sexual.
para diagnóstico de HPB.

Ultrassonografia: aumento simétrico,


parênquima normal a ligeiramente
hiperecogênico e presença eventual de
CISTOS DE RETENÇÃO
lesões císticas. Esses achados, E CISTOS PARA-
juntamente com a clínica (não tem PROSTÁTICOS
febre não tem dor, tem tenesmo),
fecha o diagnóstico. São frequentes componentes da HPB,
devendo ser tratados nesse âmbito. Os
Sêmen e secreções prostáticas:
cistos para-prostáticos são estruturas
ejaculado normal ou hemorrágico.
adjacentes à bexiga e a próstata. São
Cultura do fluido é negativa se tiver
vestígios do sistema de Muller e podem
menos de 100.000 bact/mL.
ser infectados (abcessos prostáticos).
Diagnóstico presuntivo: história
Aspectos clínicos
progressiva, exame clínico, raio X, US e
exame de fluido prostático. Tenesmo, disúria ou incontinência
urinária, hematúria ou descarga
Tratamento
hemorrágica ou serossanguinolenta ou
O tratamento de eleição é a castração. amarelada intermitente.
Involução em 3 semanas (50% do
Diagnóstico
volume).

Tratamento médico

76
Hematologia normal ou por vezes pode Toque retal doloroso, com volume
ter leucocitose por neutrofilia. Urinálise aumentado, consistência heterogênea
normal ou alguns casos hematúria. e sulco mediano pronunciado.
Pode-se fazer raio X e US. A biópsia é
Na hematologia apresenta leucocitose
guiada pelo US.
por neutrofilia.
Tratamento
Urinálise: Eritrócitos (+++), bactérias
Castração, drenagem cirúrgica e (+++) e leucócitos (+++).
omentalização.
Citolologia do fluido prostático:
crescimento puro de um único
microrganismo. Na impossibilidade de
PROSTATITE E colher ejaculado (3ª fração), proceder a
ABCESSOS massagem prostática por via retal.

PROSTÁTICOS Considerar os riscos de propagação da


prostatite quando realizar biópsia.
Infecção ascendente de bactérias
Obs: abcesso prostatite tem como
provenientes da uretra e mais
raramente focos infecciosos renais e diferencial a neoplasia, mas fazer
biópsia em suspeita de abcesso pode
vesicais e orquite/epididimite.
levar à prostatite, portanto é
Organismos envolvidos: E. coli, contraindicado.
Mycoplasma, Staphylococcus,
Streptococcus, Klebsiella, Brucella canis Tratamento da prostatite aguda
e Proteus. Em 70% dos casos é isolado Antibioticoterapia baseada na cultura e
apenas um único organismo. antibiograma. Os antibióticos de
eleição são a enrofloxacina
Aspectos clínicos
(preferencial GRAM–) 5mg/kg BID por 3
Presença de sinais sistêmicos, principal a 4 semanas ou sulfa-trimetoprim
diferencial para HPB. (preferencial GRAM+).

Hipertermia, anorexia, apatia, Antibioticoterapia por 3 a 4 semanas,


depressão, cansaço, dificuldades de reavaliando após o tratamento
marcha, dor lombar, tenesmo, (sequelas frequentes – prostatite
obstipação, dor no abdômen caudal, crônica e orqui-epididimites).
toque retal doloroso e descarga
hemorrágica/purulenta. Urocultura e cultura do fluido
prostático 1 semana e 2 a 3 semanas
Diagnóstico de prostatite aguda pós-tratamento.

Terapias adicionais: castração ou anti-


androgênios.

77
Tratamento abcessos prostáticos NELSON R.W., COUTO C.G. Medicina
Interna de Pequenos Animais. 5ed. Rio
O tratamento é a drenagem cirúrgica,
de Janeiro: Elsevier, 2015.
omentalização e cuidados intensivos,
pois o pós-operatório é delicado.
Animal pode ter oligúria e choque. A
antibioticoterapia é discutida, uma vez
que nem sempre penetra a cápsula do
abcesso, o problema é que a drenagem
fornece riscos de peritonite, choque e
sepse.

A castração é uma medida


complementar.

NEOPLASIAS
PROSTÁTICAS
O adenocarcinoma é a neoplasia mais
comum, embora não seja androgênio-
dependente, surge mais
frequentemente em cães velhos. É
localmente invasivo e metastisa
rapidamente para linfonodos ilíacos
sub-lombares, corpo das vértebras
lombares, órgãos abdominais e
pulmões.

A castração não tem efeitos na sua


incidência. E a incidência se mantem a
mesma em animais inteiros e
castrados.

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ETTINGER S. J. Tratado de Medicina
Interna Veterinária. 3ed. São Paulo:
Roca, 1998.

78
Clínica Médica vômito pode ter a sialorreia como sinal
clínico, principalmente em gatos. Em

de Cães e Gatos I geral pode lavar a boca com atropina


para diminuir a sialorreia, mas como
Módulo das doenças regra geral, melhora sozinho.

gastrointestinais Pseudoptialismo: causado por doenças


que levem a dor na cavidade oral e no

Felipe Carniel momento da deglutição, como corpos


estranhos.

Regurgitação: o animal pode eliminar


conteúdo tubular, não devemos
DISTÚRBIOS confundir com vômito. Em geral sai o
GASTROINTESTINAIS alimento inteiro/não digerido.
Principais causas de regurgitação
Disfagia: dificuldade de deglutição. O seriam alterações esofágicas
alimento acaba caindo da boca, animal (megaesôfago, esofagite) e
se engasga e/ou tosse. As causas são anormalidades anatômicas (ex.:
basicamente alterações na cavidade estenose).
oral.
Vômito/êmese: faz mímica do vômito
Halitose: é um odor ruim na cavidade (contrai abdômen) e o alimento em
oral causado por inflamação geral sai digerido.
(periodontite e gengivite,
principalmente), mas corpos estranhos O principal critério para diferenciar é a
como ossos também causam halitose. mímica do vômito e o pH do conteúdo.
O animal apresenta dor e desconforto e pH normal caracteriza regurgitação, pH
até alterações na musculatura e ácido ou básico (duodeno) caracteriza
esôfago (ex.: megaesôfago). vômito.

Sialorreia: presença de salivação Hematêmese: vômito com sangue e


excessiva, muita saliva saindo pela está associado com a gravidade do
boca. O principal diferencial é o caso.
pseudoptialismo, que o animal fica Diarreia: aguda e crônica. Importante
babando porque não consegue engolir diferenciar se é de intestino delgado ou
a saliva. A sialorreia é caracterizada grosso. ID está envolvido na digestão e
pela produção excessiva, animal não absorção, podendo ficar o alimento
tem dificuldade em engolir. Intoxicação inteiro. Cursa com fezes moles e perda
por Bufo (sapo-comum) causa de peso. IG só reabsorve água, então
sialorreia. Fármacos intoxicantes como não perde peso.
os organofosforados e a estricnina
também podem levar à sialorreia. O

79
Origem ID IG Fluidoterapia
Volume Aumentado Igual ou
aumentado Em vômito: espera-se hipocalemia e
Muco Raro + alcalose. Utilizar ringer simples
Melena + -
(melhor, já tem K+).
Hematoquezia - +
Esteatorreia + - Na diarreia: espera-se hipocalemia e
Alimento não + -
digerido
acidose. Usa-se ringer lactato. Precisa
Perda de peso + - de K+, pode-se fazer a dose
Borborigmos + - conservadora de 4ml de KCl (19,1%) em
500ml de solução, mas primeiramente
hidratar o animal.
Hematoquezia x melena: hematoquezia
é sangue vivo, melena é sangue Não usar solução salina hipertônica em
digerido nas fezes. Na hematoquezia, desidratação (vômito e diarreia). É
se tiver sangue ao redor das fezes tem- indicada em hemorragia aguda e
se problema no cólon distal. Se o hipotensão, pois atrai o liquido do
sangue estiver entremeado nas fezes, interstício para o vaso (aumenta a
problema no cólon proximal. osmolaridade). Coloides também fazem
isso.
Tenesmo x disquezia: tenesmo são
tentativas para defecar que não dão Em hipoalbuminemia pode-se usar
certo, disquezia é dificuldade e dor em coloide como o hidroxietilamido junto
defecar. com cristaloide. Faz-se infusão de
coloide por 20 minutos a cada 12 horas.
Constipação e obstipação: na
Cristaloide é 24 horas.
constipação tem dificuldade, tenesmo e
fecaloma associado, mas é tratável Reposição de potássio: é indicado repor
clinicamente. A obstipação é uma quando está abaixo de 3,5mEq/L.
constipação que não é tratável velocidade de infusão em pequenos
clinicamente, necessita cirurgia. animais é de 0,5mEq/kg/h.

Incontinência fecal: geralmente é


secundária a problemas neurológicos.
DOENÇAS DA
Abdômen agudo: muita dor no
abdômen. Distúrbios abdominais que CAVIDADE ORAL, DA
produzem choque sepse ou dor grave. FARINGE E DO
Principais causas: peritonite séptica, ESÔFAGO
piometra, pancreatite, uroabdome,
obstrução intestinal/intussuscepção,
torção esplênica, neoplasia abdominal,
abcesso/infecção em órgãos SIALOCELE
abdominais.

80
É relativamente comum. Caracteriza-se permanente. Etiologia: a placa dentária
pelo acúmulo de saliva na glândula é o fator etiológico primário
salivar, secundária à obstrução do responsável pela gengivite. A formação
ducto salivar. Não se sabe ao certo o da placa supragengival se inicia com a
porquê obstrui o ducto. O local mais adesão de bactérias a uma película de
comum de ocorrência é na glândula ácido glicoproteico que se precipita da
submandibular (é a maior glândula). saliva sobre as superfícies do esmalte.
Obstrui o ducto que liga a glândula à Os microrganismos específicos
cavidade oral. A saliva vai sendo predominantes nos cães são
produzida, mas acumula e vai anaeróbicos gram-negativos. A
formando uma cavidade. periodontite se desenvolve como
sequela de gengivite persistente.
Aspectos clínicos
Agentes Comuns: Bacterioides
Os sinais clínicos são aumento de
asaccharolyticus, Fusobacterium
volume em topografia correspondente
nucleatum, Actinomyces viscosus e
à glândula salivar. Pode ocorrer
Actinomyces odontolyticus.
também na glândula zigomática. É
indolor, de consistência flutuante e sem Aspectos clínicos
aumento de temperatura.
Mudança na coloração da gengiva
Diagnóstico (hiperemia) e pode-se ter hiperplasia
gengival, dentes móveis, abscessos
O diagnóstico é clínico e o principal
periodontais, inchaço facial, halitose,
diferencial é abcesso.
disfagia, sialorreia e perda de dentes.
Tratamento
Diagnóstico
Faz-se ressecção da glândula, as outras
Anamnese e história clínica, exame
compensam.
físico: exame oral e periodontal
completo, exames complementares:
radiografia.
PERIODONTOPATIA Tratamento
(GENGIVITE OU
PERIODONTITE) Cirúrgico (remoção dos cálculos
dentários supragengival e subgengival),
higiene oral diária e antibióticos.
Definição: a periodontopatia é a causa
mais comum de infeção oral e perda de O antibiótico é indicado antes da
dentes em cães. A gengivite é uma cirurgia, já que tem provável
inflamação reversível da gengiva e a bacteremia. Pelo menos 2 dias antes da
periodontite envolve uma inflamação cirurgia e continua por 7 a 10 dias,
mais profunda, com perda da dependendo da situação. Stomorgyl
sustentação dentária e danificação
81
(espiromicina + metronidazol) é o mais  Insuficiência Renal Crônica
usado na rotina. A espiromicina atinge (uremia).
boa concentração na saliva e tem boa
Sinais Clínicos
atuação contra gram+ e anaeróbicos.
Saliva espessa e viscosa, halitose grave,
Profilaxia
anorexia (devido a dor), febre e perda
Higiene oral diária, lavar a boca do de peso (causa viral).
animal com solução de clorexidine a
Diagnóstico
0,2% pós-cirurgia por 2 semanas.
Recomenda-se a extração dos cálculos Anamnese e história clínica, exame
dentários anualmente ou físico e exames complementares:
semestralmente. biópsia, hemograma e bioquímica
sérica e radiografia das raízes dentárias.

Os exames complementares são


ESTOMATITE indicados se a estomatite é recidivante
e crônica, se não foi detectada a causa
Definição: úlceras ou erosões presentes tóxica ou metabólica. No cão é difícil
na cavidade oral. ter um quadro crônico. Diagnóstico de
gengivite linfocítica plasmocítica e
Etiologia
granuloma eosinofíico é
 Lesão física (corpos estranhos); histopatológico.
 Lesão química (bases fortes, ácidos,
Tratamento
destilados de petróleo e fenóis);
 Lesão induzida por drogas ou Tratamento da causa primária.
toxinas (envenenamento com metal Clorexidine tópico 0,2% é utilizando
pesado e ingestão de Dieffenbachia quando é uma lesão por causa tóxica,
– comigo ninguém pode); só com isso vai melhorar – cicatriza
 Infecção (herpesvírus e calicivírus rápido. Antibióticos sistêmicos
felino, estomatite necrosante (aeróbicos e anaeróbicos) são indicados
ulcerativa e nocardiose); em casos de estomatite severa com
 FIV e FeLV; periodontopatia concomitante.
 Distúrbios auto-imunes (lúpus
eritematoso e pênfigo);
 Neutropenia (neutropenia cíclica e
GENGIVITE E
leucemia);
 Deficiências nutricionais (deficiência FARINGITE
de niacina); LINFOCÍTICA
 Idiopáticas (estomatite plasmocítica PLASMOCITÁRIA
felina e complexo granuloma
FELINA
eosinofílico);

82
Definição: inflamação com proliferação Tratamento
gengival acentuada e presença de
Limpeza oral: clorexidine tópico 0,2%
úlceras.
após tartarectomia e polimento
Causas dentário. Antibióticos como o
Stomorgyl (espiromicina +
Idiopática, Calicivírus, herpesvírus, vírus
metronidazol). Corticoides indicados se
da panleucopenia felina e estímulo
a biópsia confirmar a doença.
inflamatório gengival prolongado.
Prednisolona 2,2mg/kg/dia. Em casos
Aspectos clínicos refratários utiliza-se clorambucil.

Anorexia, halitose, gengivite marginal Quando não responde ao tratamento


(linha vermelha na junção da coroa do clínico a saída é a extração dentária
dente com a gengiva), salivação (evita-se extrair os caninos).
(pseudoptialismo), inapetência,
Alimentação através de dieta seca
desidratação (não quer tomar água),
ajuda na manutenção da boa sanidade
hiperemia em faringe, proliferação e
oral dos gatos (diminuição da
sangramento fácil pela inflamação
proliferação de bactérias nocivas).
crônica.
Prognóstico
Diagnóstico
Reservado.
Anamnese e história clínica, exame
físico (vê as lesões) e exames
complementares:
MIOSITE ATRÓFICA
Biópsia: encontra-se infiltrado linfo-
plasmocitário com número menor de DOS MÚSCULOS
linfócitos, neutrófilos e histiócitos. MASTIGATÓRIOS
Laboratorial: hiperglobulinemia
Definição: é a miopatia inflamatória
(provavelmente indica base
focal que afeta seletivamente os
imunomediada para a doença);
músculos da mastigação. Essa
Radiografia dentária: em caso de distribuição seletiva pode ser atribuída
dúvidas se tem ou não que remover a às diferenças histoquímicas e
dentição. bioquímicas entre os músculos
mastigatórios e dos membros.
Diagnóstico Diferencial Enfermidade imunomediada com
Neoplasias orais, causas sistêmicas de produção de auto-anticorpos contra as
perda de peso (por isso a importância proteínas citoplasmáticas do sarcolema
do hemograma e bioquímico), FIV e (apenas contra os músculos da
FeLV (podem estar envolvidos). mastigação).

83
Aspectos clínicos clorambucil, por exemplo. Se
necessário para alimentação pode-se
Disfunção mastigatória, disfagia,
colocar em tubo (gastrostomia).
regurgitação, disfonia e dispneia.
Aguda: músculos masseter e temporal Prognóstico
podem estar aumentados de volume e
Geralmente é bom, porém a
com sensibilidade dolorosa e
administração das drogas é contínua.
dificuldade em abrir a boca.

Crônica: atrofia masseter e temporal e


impossibilidade em abrir a boca
(mesmo anestesiado), o músculo
ACALASIA/DIFUNÇÃO
degenera. CRICOFARINGEANA
Diagnóstico Definição: incoordenação entre o
Anamnese e história clínica, exame musculo cricofaringeano e o restante
físico (atrofia masseter e temporal e do reflexo de deglutição, causando
impossibilidade de abrir a boca), obstrução durante o processo.
presença de anticorpos contra fibras Aspectos clínicos
2M e biópsia muscular para diagnóstico
definitivo. Afeta cães jovens, é incomum na rotina
e é congênita. Regurgitação na
Tratamento deglutição ou imediatamente após,
A base do tratamento é anorexia e perda de peso.
imunossupressão com altas doses de Diferencial
corticosteroides. Se o músculo já
atrofiou não vai adiantar, só funciona Disfunção laringeana.
na fase aguda.
Diagnóstico
Prednisolona 2,2mg/kg/dia associada a
Fluoroscopia com contraste (bário) –
azatioprina 50mg/m² (menos efeitos
tem estreitamento.
adversos, mas demora 2 meses para ter
efeito). Fazer redução progressiva das Tratamento
doses até encontrar a dose mínima
necessária, reduzindo efeitos Cirúrgico – miotomia cricofaringeana
colaterais. Usa corticoide e azatioprina (corta o músculo para não apertar mais
por 2 meses, depois tira o corticoide e o esôfago).
mantem com azatioprina. Fazer Prognóstico
hemograma a cada 21 dias por causa da
azatioprina que pode levar à É bom se não houver cicatriz fibrosa
leucopenia intensa e anemia grave. Se pós-cirúrgica.
isso ocorrer, trocar o medicamento por

84
DISFAGIA FARÍNGEA MEGAESÔFAGO
Definição: incapacidade de formar o Definição: é o termo descritivo para o
bolo alimentar na base da língua sintoma clínico de dilatação esofágica,
geralmente por lesão nos pares IX e X um sintoma comum a um número de
dos nervos cranianos, também pode ser entidades nosológicas distintas de
resultante de polineuropatias e causas variadas.
miastenia gravis.
Causas
Aspectos clínicos
Congênita:
Regurgitação, maior dificuldade em
Raças Predispostas: Schnauzer, Dogue
deglutir líquidos do que sólidos,
Alemão, Pastor Alemão, Setter,
pneumonia aspirativa e perda de peso.
Labrador e Dálmata.
Afeta primeiro os músculos esofágicos:
Adquirida (secundária):
tem anticorpos contra os receptores da
acetilcolina e o músculo fica relaxado, Neuromuscular (miastenia gravis, lesão
se dilata, não contrai para deglutir e vagal, traumatismo, neoplasia ou
tem então o megaesôfago. acidente vascular tronco encefálico,
botulismo e cinomose). O tronco
Animal se afoga quando vai tomar
encefálico é o local de origem dos
água, tosse, sai pela boca e nariz.
nervos vago e glossofaríngeo, por isso
Diagnóstico traumas nesses locais ou o vírus da
cinomose (tem predileção pelo tronco
Fluoroscopia com contraste (bário) –
encefálico) podem levar a
tem dilatação.
megaesôfago;
Tratamento
Obstrução esofágica (neoplasia,
Não fazer miotomia cricofaríngea, pois anomalia do anel vascular, compressão
permite a retenção de alimentos no extra esofágica, estenose e corpos
esôfago proximal, que pode reentrar estranhos). A estenose pode ocorrer
mais facilmente na faringe e ser geralmente secundária a uma
aspirado. esofagite. E a compressão extra
esofágica pode ser por corpo estranho
Prognóstico na região esofágica;
Reservado, difícil de encontrar a causa Tóxica (chumbo e organofosforado);
de base. A maior causa de óbito é a
pneumonia por aspiração. Outras (caquexia, hipocortisolismo e
hipotireoidismo);

85
Raças Predispostas: Pastor Alemão, Megaesôfago + pneumonia aspirativa:
Golden Retriever e Setter (geralmente perda do limite cranial da silhueta
acima de 7 anos); cardíaca – padrão pulmonar alveolar
crânio-ventral (pneumonia por
Felinos: secundária à hérnia de hiato e
aspiração). Individualização do limite
refluxo gastroesofágico frequente.
dorsal e ventral do esôfago, com
Aspectos clínicos dilatação do lúmen – dilatação
esofágica.
Os sinais clínicos são associados à
dilatação do esôfago. Regurgitação Megaesôfago – anomalia vascular
(principal sinal clínico), sialorreia,
4° arco aórtico direito ou da artéria
halitose (conteúdo acumulado),
subclávia, enlaçando o esôfago em um
dispneia, tosse, corrimento nasal,
anel de tecido. Animal apresenta
febre, pneumonia por aspiração
regurgitação que geralmente ocorre no
(consequência mais grave), traqueíte
inicio da alimentação com alimentos
(tem refluxo frequente, pode aspirar
sólidos. O tratamento é cirurgia e o
ácido para a traqueia), perda de peso e
prognóstico é reservado.
apetite normal (come e regurgita).
Tratamento
Diagnóstico
Manejo alimentar: fornecimento de
Anamnese e história clínica e exames
comida pastosa, caldos ou dependendo
complementares:
da aceitação do animal, fornecer
Radiografia simples (principal) ou pequenas quantidades várias vezes ao
contrastada (para ver até onde vai a dia. Deve-se fornecer o alimento em
dilatação); elevação de pelo menos 45° e manter o
animal em pé (ação da gravidade) por 5
Bioquímica sérica normal; a 10 minutos após a alimentação. Esse
manejo é indicado em dilatação total
Endoscopia não é indicada para
em que não tem estenose.
diagnóstico de megaesôfago.
Tratamento da causa base:
Radiografia
Miastenia gravis: anticolinesterásicos
Normalmente o esôfago vai estar bem
(piridostigmina 0,5 a 3,0mg/kg BID ou
pequeno ou nem é visualizado. No
TID VO no cão). Esses fármacos
megaesôfago se observa deslocamento
aumentam o tempo de ação da
ventral da traqueia, dilatação total do
acetilcolina. Associado ao
esôfago com preenchimento por
anticolinesterásico deve ser dado
conteúdo gasoso e sem obstrução e
também imunossupressor (clorambucil
deslocamento ventral do mediastino
ou azatioprina). O uso é baseado na
médio.
teoria de doença autoimune.
Glicocorticoides não são indicados, pois

86
agravam a fraqueza muscular em até em gatos). O refluxo gastroesofágico é
50% em cães e gatos. a principal causa – tem uma disfunção
no cárdia ou produz muito HCl, acaba
Refluxo gastroesofágico: pró-cinético +
refluindo e é corrosivo para a mucosa.
antiácido (para minimizar o refluxo). O
que se usa na rotina prática é a Aspectos clínicos
ranitidina e metoclopramida associada
Os sinais clínicos são associados a um
ao omeprazol. Se o animal não
quadro de dor na região esofágica.
conseguir comer (joga tudo fora), pode-
Regurgitação (dói para engolir e joga
se optar por colocar tubo
fora), depressão, febre, odinofagia (dor
(gastrotomia), porém apesar de ajudar
ao tentar ingerir o alimento), distensão
inicialmente, segue acumulando saliva
do pescoço e sialorreia.
no esôfago.
Diagnóstico
Prognóstico
Baseado principalmente na história
Animal com dilatação total pode se
clínica: se ingeriu algo anormal, se está
adaptar com manejo, mas não cura
com muito vômito.
(prognóstico é reservado).
Anamnese e história clínica, exame
Em geral o prognóstico é reservado
físico e exames complementares:
(variando de favorável a desfavorável,
dependendo da resposta do animal ao Radiografia cervical (visualização de
tratamento e do tipo de doença de hérnia de hiato ou corpos estranhos).
base – congênita ou adquirida). Pode-se observar estrutura radiopaca,
de limites imprecisos, em topografia
Congênita: pode-se ter uma melhora
esofágica pré-cardíaca – corpo
parcial com o tratamento, mas há risco
estranho esofágico? Pode-se ter
de óbito devido à pneumonia
também deslocamento ventral da
aspirativa.
traqueia, pré-cardíaco.
Se for possível tratar com cirurgia, é
Melhor indicação: fazer endoscopia e
bom.
pinçar esse corpo estranho.

Esofagoscopia superior.
ESOFAGITE Tratamento

Etiologia: refluxo gastroesofágico, Depende da causa base (tratá-la).


vômito persistente, lesão térmica Evitar a formação de cicatriz com uso
(superaquecimento de alimentos), de corticoides. Prenisolona 0,5mg/kg
corpo estranho (causa lesão), ingestão VO BID.
de substâncias corrosivas (agentes
cáusticos) ou tetraciclina (doxiciclina

87
Oferecer alimentos macios ou fazer a Anamnese e história clínica, exames
sondagem do animal – repouso complementares:
esofágico.
Esofagograma (simples ou contrastado)
Antiácidos: ranitidina (também tem – vemos melhor no contrastado;
efeito pró-cinético). Pode-se usar em
Endoscopia.
cães e gatos VO, SC, IM ou IV – BID.
Diagnósticos diferenciais
Protetor de mucosa: sucralfato VO
BID/TID em cães e gatos. Acalasia cricofaringeana, disfagia
faringeana e megaesôfago congênito.
Antibióticos são usados quando se tem
indícios de doença sistêmica Tratamento
concomitante (leucocitose, febre).
Pode-se utilizar amoxicilina 20mg/kg Cirúrgico (em casos congênitos e
VO BID/TID ou clindamicina VO BID sintomáticos);
para cães e SID para gatos.
Tratamento para refluxo
Agente antiulcerogênico/antiácido: gastroesofágico com
omeprazol SID por 20 a 30 dias. antiulcerogênico/antiácido em casos de
hérnia de hiato adquirida. Omeprazol
Tratamento cirúrgico em casos de VO SID.
hérnia de hiato (em caso de cicatriz
esofágica com estenose importante).

DOENÇAS DO
HÉRNIA DE HIATO ESTÔMAGO

Definição: protrusão do estômago para


a cavidade torácica, o esfíncter perde a
sua função. Em casos graves ela facilita GASTRITE AGUDA
a ocorrência de refluxo
gastroesofágico. A condição pode ser Etiologia
congênita ou adquirida.
Dietética (principalmente enlatados ou
Aspectos clínicos dietas com muita gordura), doenças
infecciosas (principalmente parvovirose
Pode ser assintomático. Em geral a e cinomose), tóxica, AINES/corticoides
regurgitação é o primeiro sintoma. e doenças metabólicas (HAC, IRA e
Cães da raça Sharpei são predispostos. insuficiência hepática).

Diagnóstico Sinais clínicos

88
Vômito de início agudo, Prestar atenção se o animal está
hiporexia/anorexia (podem apresentar tomando água.
só um quadro discreto), febre e dor
Antagonistas de receptores H2:
abdominal não são esperados em
Ranitidina BID (VO, IV, IM, SC) – efeito
gastrite simples, pois são sinais de
pró-cinético.
complicação. Hematêmese se tiver
aprofundamento da inflamação e Antiácidos locais: Sucralfato BID/TID ou
melena se tiver sangramento ao longo hidróxido de alumínio/magnésio.
do TGI.
Inibidor da bomba de prótons:
Diagnóstico Omeprazol VO SID – em geral para
tratamento crônico.
Anamnese, história clínica, exame
físico, terapêutico e exames Primeiro ranitidina parenteral e depois
complementares. omeprazol em casa. 7 a 14 dias de
protetor gástrico.
Exames complementares: radiografia
contrastada, endoscopia, Pró-cinéticos: metoclopramida e
ultrassonografia abdominal, cisaprida.
hemograma e bioquímico. Função renal
e hepática normais. Cuidado com pró-cinéticos, pode levar
a ruptura (peritonite) ou
O único método de diagnóstico intussuscepção.
definitivo é endoscopia, por isso o
diagnóstico terapêutico é o mais usado. Prostaglandinas sintéticas: misoprostol,
Não vai anestesiar o paciente por uma mas é abortivo e a compra é limitada.
gastrite simples, o risco anestésico está
presente sempre.

Tratamento GASTRITE CRÔNICA


Dieta: introduzir dieta leve (pequenas Etiologia
porções, baixo teor de gordura) iniciada
6-12 horas após cessar o vômito.  Uso crônico de AINEs como
meloxicam (preferencial COX-2), em
Fluidoterapia: solução fisiológica, geral não usar sem protetor
calcular necessidades. É ideal dosar gástrico mais de 3 dias nem no cão
potássio. Se não dosar pode-se fazer a nem no gato;
dose empírica de 4ml de KCl em 500ml  Causas imunomediadas
de fluido (dose conservadora). A fluido linfocíticas/plasmocitárias
vai ser indicada em desidratação, (associadas à enterite
diarreia/vômito profuso. linfoplasmocitária);
 Erro de manejo alimentar: gastrite
eosinofílica (reação alérgica à

89
antígenos alimentares). Proteína de Pode associar metronidazol BID IV ou
bovinos, suínos e aves são as mais VO + amoxicilina TID VO.
alergênicas;
 Insuficiência renal ou hepática;
 Neoplasias como o linfoma e
EROSÃO/ULCERAÇÃO
carcinoma gástrico;
 Inflamação: Helicobacter (bactéria GÁSTRICA
espiroqueta que acomete
principalmente felinos). Alguns Úlcera gástrica é caracterizada por
animais são positivos e não lesões na mucosa gástrica que
desenvolvem a doença. Fica a alcançam a camada muscular.
dúvida se é da flora normal ou se A gastrite atinge a mucosa, a erosão
realmente é o responsável pela atinge a mucosa e submucosa e a
gastrite;
úlcera atinge a mucosa, submucosa e
 Physaloptera – nematoide com muscular.
parte do ciclo em baratas, grilos e
besouros. Etiologia

Doença hepática crônica: diminuição da


produção de muco gástrico, diminuição
da renovação das células epiteliais
GASTRITE CRÔNICA – gástricas, diminuição do fluxo
HELICOBACTER sanguíneo gástrico aumento dos ácidos
biliares séricos (aumenta secreção de
Espiroqueta GRAM negativa, produtora gastrina).
de urease. 50% dos animais submetidos
Doença renal: lesão das células
a gastrocopia e biópsia são positivos
epiteliais gástricas pela uremia,
para Helicobacter.
diminuição do metabolismo renal de
Diagnóstico gastrina, ureia convertida em amônia
(tóxica para estômago e boca) e
Análise citológica da impressão de
isquemia (vasculite). Doença renal
biópsia corada com novo azul de
crônica libera cortisol.
metileno – sensível, biópsia e testes
comerciais (urease). Hipoadrenocorticismo: hipotensão e
perda de tônus vascular.
Tratamento
Hipotensão: choque, sepse,
Omeprazol VO SID por 20, 30 até 60
hipovolemia, trauma espinhal, cirurgia
dias. Se não melhorar com omeprazol,
extensa e anestesia. Reduz fluxo
institui-se antimicrobiano – é
sanguíneo, comprometendo a função
controverso, o Helicobacter não é da
da barreia mucosa e da renovação
flora normal?
celular epitelial. Os barorreceptores

90
percebem a baixa de fluxo e estimulam DIARRÉIA AGUDA
a liberação de catecolaminas,
aumentando o inotropismo, a
Definição: diarreia refere-se a fezes
vasoconstrição periférica, que piora a
contendo grande quantidade de água.
gastrite.
Etiologia
Gastrinomas: tumores pancreáticos
(tumor que produz gastrina). Tem-se  Dieta (intolerância, alergia,
refluxo gastroesofagiano grave, alimentação de baixa qualidade,
esofagite, ulceração esofagiana, mudanças bruscas na dieta e
gastrite crônica, duodenite e ulceração envenenamento alimentar por
duodenal proximal. bactérias);
 Medicamentosa (AINEs, antibióticos
Mastocitoma: transoperatório aumenta
e quimioterápicos);
liberação de histamina, ideal fazer
 Parasitas (helmintos e
prometazina (antialérgico) e fazer
protozoários); Infecciosas (virais,
também ranitidina no pós.
bacterianas e riquétsias);
Sinais clínicos  Extra-intestinal (insuficiência renal,
insuficiência hepática, pancreatite e
Anorexia, vômito, hematêmese,
hipoadrenocorticismo);
melena, dor abdominal intensa,
 Outras (gastroenterite hemorrágica
postura antiálgica e abdômen agudo.
idiopática, intussussepção, ingestão
Causas de abdômen agudo: prostatite, de toxinas e substâncias químicas).
piometra, peritonite, pancreatite
aguda, gastroenterite grave e dilatação
vólvulo-gástrica. ENTERITE VIRAL AGUDA
CÃES GATOS
Tratamento Cinomose Panleucopenia
Coronavirose Coronavírus
Remover a causa base e manter a
entérico
perfusão sanguínea da mucosa Rotavirose FeLV
(reposição hídrica e eletrolítica). Se Parvovirose FIV
tiver anorexia por mais de 72 horas e
vômito profuso, fazer alimentação
parenteral. PARVOVIROSE
Utilizar antiácidos locais e protetores
Etiologia
de mucosa. Suspender a alimentação
por 8 horas e fazer controle do vômito. Existem 2 tipos de parvovírus canino, o
PVC-1 e o PVC-2. O PVC-2 é o vírus
Em caso de úlcera gástrica evitar pró-
responsável pela clássica enterite
cinético (ranitidina).
parvoviral.

91
Transmissão Aspectos clínicos

Fecal-oral e fômites contaminados. O Diarreia sanguinolenta ou não, com


vírus pode se manter viável no odor fétido, vômito, sangramento
ambiente por vários meses. intestinal, depressão, anorexia, febre e
desidratação.
Cloro diluído (1:32) é capaz de destruir
o PVC. Diagnóstico

Raças suscetíveis: Rottweiller e Anamnese e história clínica, exame


Labrador. físico e exames complementares:
Hemograma, ELISA: pode ser negativo
Patogenia
se for realizado muito cedo e podem
Os cães se infectam pela ingestão ou ocorrer falso-negativos se feito logo
inalação do PVC. O vírus é ‘capturado’ após a vacinação.
pelos linfonodos regionais
O melhor método é o Snap Test para
(mesentéricos) onde ocorre a
pesquisa de antígeno – Swab da região
replicação primária. Então ocorre a
anal.
viremia com a disseminação primária
do PVC até as criptas do intestino Achados Laboratoriais:
delgado, onde causa destruição destas Hipoalbuminemia, leucopenia:
em divisão. PVC também é capaz de linfopenia e neutropenia transitórias.
replicar em outros tecidos como: Apresenta panleucopenia, mas não
medula óssea (panleucopenia), coração fecha o diagnóstico só com o
(miocardite em cães de 4 a 8 meses) e hemograma.
células endoteliais – locais de alta
Tratamento
multiplicação celular. Se o parvovírus
entrar no organismo por inalação a A base é tratar os sintomas e prevenir a
replicação inicial acontece nos infecção secundária.
linfonodos retrofaríngeos.
Terapia hidroeletrolítica: se tiver
O parvovírus destrói as criptas, ocorre vômito, diarreia e anorexia, vai ter
então multiplicação bacteriana hipocalemia. Suplementar com KCl.
(principalmente E. coli) e o animal
morre de choque endotóxico. RL + KCl + glicose 2,5-5%

Parvovirose em paciente adulto só em KCl 20-30mEq/L = 4ml de KCl 19,1% em


imunossupressão grave, mas é raro. O 500ml de fluido.
vírus tem predileção por células jovens
Tomar cuidado com a
em alta multiplicação. Em adultos é
hipoalbuminemia. O cristaloide fica no
mais comum salmonelose ou
vaso dependendo da pressão oncótica,
colibacilose.
se esta for baixa, o líquido extravasa
em 20 minutos (não consegue manter a

92
pressão). O fluido para substituir a Fecal-oral.
albumina é o coloide (hidroxietilamido).
Patogenia
Antieméticos: maropitant é o de eleição
Semelhante ao parvovírus, mas é
ou pode utilizar metoclopramida com
menos grave: não destrói as criptas e a
ondansetrona. Associar também à
diarreia é mais discreta.
ranitidina (antiácido) e a um protetor
de mucosa como o sucralfato (após o A maioria das infecções por CVC é
controle do vômito). subclínica e é mais grave quando
associada ao parvovírus.
Antibióticos: utilizados para o controle
das infecções secundárias. É esperado Aspectos clínicos
um supercrescimento bacteriano
intestinal, portanto é necessário que o Geralmente os animais são
antibiótico atinja os 4 quadrantes. assintomáticos. Pode apresentar
Pode-se utilizar sulfa-trimetoprim anorexia, depressão, êmese, diarreia,
30mg/kg SID/BID por 7 a 10 dias. desidratação e anormalidades
Outras opções são ampicilina e eletrolíticas.
cefazolina. Se tiver indício de
Diagnóstico
clostridiose, associar com metronidazol
(melhora o espectro anaeróbico). Como Anamnese e história clínica, exame
o metronidazol causa depressão no físico e exames complementares:
SNC, só associar se não responder bem microscopia eletrônica ou sorologia
ou se realmente tem indício de (acha AC). Hoje se utiliza o teste para
clostridiose. achar o antígeno (Snap Test).
Hemograma se apresenta normal.
Terapia nutricional: dieta enteral leve
após cessar o vômito por 24 horas. É importante diferenciar de parvovirose
Pode começar com nutrição enteral para se ter segurança no tratamento e
comercial: Recovery (Royal Canin), a/d não internar um cão sem parvo,
(Hills) ou Nutralife. É difícil controlar deixando-o vulnerável.
100% do vômito nos primeiros 3 dias,
Tratamento
mas tem que iniciar a nutrição mesmo
com algum episódio de vômito. O tratamento depende da clínica do
paciente. Pode-se fazer fluidoterapia,
restabelecer equilíbrio eletrolítico,
CORONAVIROSE controlar vômito utilizando
antieméticos, antiácidos e protetores
de mucosa e fazer terapia nutricional
Etiologia
enteral ou parenteral.
CVC – Coronavirus Canino.

Transmissão
93
TOXOCARA CANIS parto) para evitar a infecção pré-natal.
Não utilizar ivermectina, pois é
abortiva.
Aspectos clínicos

Quando a infecção pré-natal é muito


grande, pode haver a morte do animal,
pois a migração das larvas causa lesões DIPYLIDIUM CANINUM
hepáticas e focos pneumônicos. Em
infecções maciças podem ocorrer Aspectos clínicos
obstruções no sistema digestório.
Vômitos e diarreia podem ser Normalmente é assintomático. O
observados pela ação irritante dos principal sinal clínico é a alteração de
adultos na mucosa gástrica e intestinal. comportamento – anda arrastando o
Os adultos podem penetrar nos canais traseiro no chão. Pode ter diarreia,
biliares ou pancreáticos, levando a cólica, alterações no apetite e perda de
quadros agudos e às vezes fatais. Sinais peso.
neurológicos vão desde irritação, até Diagnóstico
crises convulsivas, e estão associadas
com as toxinas parasitárias. As fezes se Coproparasitológico pelo método de
apresentam de pastosas ou líquidas. sedimentação. Pesquisa de proglótides
nas fezes.
Diagnóstico
Tratamento
Coproparasitológico: método de
flutuação (Willis Mollay). O mais utilizado é o praziquantel 5 a
10mg/kg, mas pode-se utilizar o
Tratamento fembendazole 50mg/kg por 3 dias.
Em infecções onde há muitos vermes,
deve-se optar por um antiparasitário
mais fraco inicialmente para não causar ANCYLOSTOMA
morte maciça dos vermes, que pode
levar à toxemia.
CANINUM
Inicialmente mebendazole 20mg/kg VO Parasita de intestino delgado de
SID por 3 dias e depois um carnívoros (A. caninum e braziliense) e
antiparasitário de amplo espectro. de cães e humanos (A. duodenale).

Controle Ancylostoma caninum e braziliense:


larva migrans cutânea (bicho
Recém-nascidos (10 a 15 dias), tratar os
geográfico).
filhotes novamente aos 2 meses. Tratar
cães recém-adquiridos e fêmeas Aspectos clínicos
prenhes (tratar 3 semanas antes do

94
Prurido e eritema abdominal, mucosas O mais comum é uma diarreia aquosa,
pálidas, anorexia, diarreia escura persistente, intermitente e
(parasita é hematófago), desidratação, autolimitante. Animal pode apresentar
emagrecimento, edema e ascite. enterite, perda de peso, inapetência,
vômitos e dor abdominal. Febre é um
Diagnóstico
sinal incomum em giardíase. A diarreia
Coproparasitológico por método de com sangue também é incomum (em
flutuação (Willis Mollay). geral é com muco e amarelada).

Tratamento Diagnóstico

O mais utilizado é o pirantel 15mg/kg. Técnica de Faust e Cols. (flutuação com


Algumas literaturas trazem tratamento sulfato de Zn 33%), imunológico ou
com dose única, mas pelo ciclo do molecular.
verme não é indicado fazer uma única
Fezes diarreicas apresentam o
dose. O paciente pode ter
trofozoíto, fezes normais apresentam o
autoinfestação ou uma nova infestação
cisto.
e desenvolver novamente uma
parasitemia. Ideal é fazer a dose e Pode-se fazer o Snap Test – ELISA.
repetir em 15 dias.
Tratamento

Metronidazol VO BID por 8 dias em


GIARDÍASE cães ou SID por 8 dias em gatos. 50%
dos pacientes podem não responder ao
metronidazol.
Espécies: Giardia lamblia, muris,
psittaci, canis, ardeae e agilis. Pode-se utilizar o fembendazole VO SID
por 3 a 7 dias ou a furazolidona por 5
O Brasil tem de 31 a 41% de
dias.
prevalência da Giardia, a qual aumenta
em regiões mais quentes.

Esse protozoário se localiza no intestino


delgado. Tem transmissão via oral-fecal
DOENÇAS DA MÁ
e geralmente atinge animais mais ABSORÇÃO
jovens, mas pode afetar adultos INTESTINAL
também.
Causas: inflamação bacteriana,
Aspectos clínicos
parasitária, viral ou fúngica, doença
Pode ser assintomático e estar inflamatória intestinal crônica (DIIC),
transmitindo a doença ou pode estar reação de sensibilidade alimentar,
apresentando a sintomatologia clínica. neoplasias e má digestão (insuficiência
pancreática).

95
GASTROENTERITE Diarreia aguda (pior) e crônica,
septicemia e mimetiza parvovírus em
BACTERIANA jovens (neutropenia grave).
AGUDA/COLITE
Diagnóstico
BACTERIANA
O diagnóstico é difícil. Faz teste de
Flora normal – dificuldade de parvovirose, se der negativo pode ser
diagnóstico. salmonelose.

Pode-se fazer cultura de sangue e PCR.


É cultivado o sangue, por que na
CAMPILOBACTERIOSE cultura de fezes vai crescer Salmonella
por que é flora normal.
Campilobacter jejuni – reservatório em
aves. Maior prevalência em animais Tratamento
mais jovens (menos de 6 meses).
Fluidoterapia, AINEs + lactulose para
Se não responder a B-lactâmicos, diminuir a secreção intestinal
provavelmente é Campilobacter. (Salmonella causa diarreia secretória e
por má absorção) e antibióticos em
Aspectos clínicos animais septicêmicos. Os antibióticos
Diarreia mucoide com ou sem sangue, de escolha são as quinolonas e as sulfas
anorexia e/ou febre e pode ser potencializadas. Tratar animal não
autolimitante. septicêmico com antibiótico aumenta
as cepas patogênicas, levando o animal
Tratamento a um estado portador.

Eritromicina 11-15mg/kg VO TID.

CLOSTRIDIOSE
SALMONELOSE
Clostridium perfringens e C. difficile.

Salmonella typhimurium e S. anatum – Aspectos clínicos


também são da flora normal.
É uma infecção nosocomial. Apresenta
Transmissão diarreia aguda e potencialmente fatal,
com ou sem sangue e com ou sem
Fecal-oral e por alimentos
muco.
contaminados.
Diagnóstico
Aspectos clínicos

96
O diagnóstico é terapêutico. É uma Etiologia: não determinada, genética
bactéria anaeróbica e da flora normal, (Sharpei), dietéticos (proteína),
então é difícil diagnosticar. bacteriana, imunológica (mais provável)
ou permeabilidade da mucosa por fator
Em esfregaço de fezes considera-se
desconhecido. Ocorre uma reação de
anormal quando acima de 2 a 3 esporos
hipersensibilidade aos antígenos
identificados em coloração Diff-Quick
(alimentares, bacterianos,
ou Wright.
autoantígenos).
Tratamento
ENTERITE COLITE
Amoxicilina 22mg/kg VO BID por 7 dias Diarreia de Diarreia de
intestino delgado intestino grosso
ou metronidazol 25-50mg/kg VO BID
Anorexia, Apetite normal
por 7 dias. A vancomicina pode ser
hiporexia
usada como terapia de resgate. Perda de peso Sem perda de
progressiva peso
Vômito
intermitente
DOENÇA INTESTINAL (geralmente em
INFLAMATÓRIA gatos)
CRÔNICA / Ascite, hidrotórax
e/ou edema
ENTEROPATIA
INFLAMATÓRIA Diagnóstico

Enterite linfocítica-plasmocítica, Anamnese e história clínica (histórico


enterite linfocítica benigna, enterite de vômito, diarreia e sinais de colite
eosinofílica e colite linfocítica- intermitentes – causas parasitárias e
plasmocítica. infecciosas devem ser excluídas),
exame físico e exames
complementares:

Biópsia intestinal (mucosa com


ENTEROPATIA infiltração de linfócitos e plasmócitos
INFLAMATÓRIA maduros) ou colonoscopia + biópsia em
LINFOCÍTICA casos de colite, é mais comum em
PLASMOCÍTICA / gatos. Para fazer biópsia tem que se
fazer laparotomia e coletar pelo menos
COLITE LINFOCÍTICA 3 fragmentos (risco de peritonite).
PLASMOCÍTICA Coletar do estômago, intestino delgado
proximal e cólon.
Enteropatia inflamatória linfocítica-
plasmocítica Bioquímica sérica: PST e albumina
diminuídas (diarreia por má absorção).

97
Em gatos excluir hipertireoidismo veterinária. Budesonina VO SID para
(dosar T4), FIV e FeLV. cães e gatos.

Sinais crônicos – dosagem sérica de Imunossupressores: azatioprina VO SID


cobalamina (se necessário, repor) para cães e a cada 48 horas para gatos,
clorambucil VO SID (possui menos
Descartar: Giardia, Cryptosporidium,
efeitos colaterais) e a sulfassalazina
enterotoxinas (Clostridium) e
quando se tem colite associada – é um
helmintos.
antinflamatório intestinal, utilizado
Ultrassonografia abdominal: BID/TID em cães e SID em gatos.
espessamento extenso e simétrico da
Os imunossupressores devem ser
parede e disposição das camadas
associados com corticoides e então vai
preservadas (diferencial para linfoma),
diminuindo a dose para tentar retirar o
ecogenicidade difusa aumentada da
corticoide e deixar apenas o
mucosa e presença de pequenas
imunossupressor.
manchas mucosas brilhantes.
Deve-se monitorar o nível de PPT. Nas
Tratamento
primeiras 2-3 semanas associar
Manipulação dietética: nova fonte de antibióticos à terapia imunossupressora
proteína (rações hipoalergênicas), – supercrescimento bacteriano pela
ácidos graxos ômega 3, vitamina E e inflamação e imunossupressão. Pode-se
suplementação com fibras. Leva 2 utilizar amoxicilina, metronidazol ou
meses para apresentar resultados. tilosina.

Corticoides: só associar corticoides se Dosar cobalamina, se estiver deficiente


apenas a dieta não foi suficiente para deve-se suplementar.
melhora clínica. Prednisolona VO SID
Manejo terapêutico: após 2-3 meses de
para cães e gatos – declínio gradual da
tratamento faz-se redução progressiva
dose, decréscimo de 50% a cada 2
das drogas. Se recorrer, reiniciar e
semanas.
parar após 6 meses a um ano (redução
Efeitos colaterais dos corticoides: progressiva). Se novamente recorrer, o
PU/PD, vômito e diarreia. tratamento deve ser contínuo.

Em má resposta à prednisolona: Complicações: evolução para linfoma


associar metronidazol, azatioprina intestinal, diátese hemorrágica
(menos efeitos colaterais) ou (secundária à má absorção de vitamina
dexametasona VO SID (demora 1 mês K).
para dar resultados).

A budesonida também pode ser


utilizada, tem alta ação corticosteroide COLITE LINFOCÍTICA
local, mas existem poucos estudos na PLASMOCÍTICA
98
Isolada ou em conjunto com DOENÇAS DO
gastrite/enterite linfocítica
plasmocítica.
PÂNCREAS
Aspectos clínicos Aguda ou crônica e só se classifica
através de histopatologia, porém é
Urgência em defecar, tenesmo,
inviável.
aumento do muco fecal e
hematoquezia.

Diagnóstico PANCREATITE AGUDA


1. Sinais crônicos de doença colônica;
Etiopatogenia
2. Falha em responder à terapia
dietética; Nos ácidos pancreáticos existem
3. Exclusão de causas conhecidas de grânulos com tripsinogênio envoltos
inflamação crônica; numa vesícula. No animal normal 10%
4. Descartar endoparasitas; do tripsinogênio é convertido em
5. Excluir doenças extra-intestinais; tripsina dentro do pâncreas. A tripsina
6. Tratar infecções ocultas por digere proteínas. É produzido também
Trichuris (fembendazol); um fator inibidor de tripsina
7. Lesões de mucosa características de pancreática, de modo que o pâncreas
DII nas amostras de biópsia não seja digerido.
colonoscópica.
Existem raças que tem baixo fator
Tratamento inibidor de tripsina pancreática como o
Schnauzer.
Idem enterite linfocítica plasmocítica.
Pode ocorrer uma reação em cadeia,
Corticoides, imunossupressores e
quanto mais tripsina forma, mais
salicilatos (sulfassalazina) somente nas
tripsinogênio é convertido em tripsina.
crises.
Se tiver pouco fator inibidor, o animal
Sulfassalazina VO SID para cães e 3 a 4 promove autodigestão do pâncreas.
administrações diárias para gatos. Se
Acomete cães e gatos de meia idade.
não responder, associa com corticoide.
Terriers, Schnauzer e gatos de pelo
O efeito colateral da sulfassalazina é a
curto. Obesidade e excesso de
ceratoconjuntivite seca (usar substituto
triglicerídeos aumentam a chance de
da lágrima).
formação de tripsina.

Aspectos clínicos

Dor abdominal intensa (abdômen


agudo), anorexia, desidratação,
choque, período prolongado de

99
prostração pós-alimentação, vômito Lipase na efusão: fecha o diagnóstico
discreto associado à hematoquezia e de pancreatite. Ás vezes é difícil coletar
desconforto pós prandial (come, e analisar o líquido.
encolhe a barriga, fica quieto e dorme).
Amilase e lipase: baixa sensibilidade e
Abdômen agudo: dor abdominal especificidade. Qualquer outra doença
intensa, vômito, anorexia grave, sistêmica pode aumentar amilase e
desidratação e pode chegar em lipase e pode ter pancreatite e as
choque. mesmas diminuídas.

Icterícia pós-hepática: a bile sai pelo Amilase: pico de 12 a 24 horas,


ducto colédoco que é via comum do considerada aumentada quando tiver
pâncreas – fica inchado/inflama e não mais de 3 a 4 vezes aumentada e os
sai nada. aumentos estão relacionados a tumor e
não pancreatite. Tem excreção renal –
É comum entrar num quadro de
nefropata pode estar aumentada por
síndrome da resposta inflamatória
que ele não excreta.
sistêmica e a causa disso é o
supercrescimento bacteriano do ID. O exame específico para pancreatite é
o teste da imunorreatividade da lipase
Diagnóstico
pancreática. É mais sensível e
Hemograma: sinais de infecção aguda: específico.
leucocitose, neutrofilia, desvio à
Ultrassonografia: pode dar normal ou
esquerda ou neutropenia, leucopenia e
alterada, descarta neoplasias,
neutrófilos tóxicos.
piometra, prostatite, CE. O pâncreas é
Bioquímica sérica: azotemia pré-renal difusamente hipoecoico (escuro) e a
(aumenta ureia e creatinina). Aumento gordura pancreática hiperecoica
de ALT/AST e GGT/FA ou hipoglicemia (branca). Tem-se espessamento da
por consumo. parede duodenal.

Glicemia: hiperglicemia (pâncreas não Tratamento


produz insulina direito).
Reposição hídrica e eletrolítica
Potássio: hipocalemia, pois tem vômito.
Repouso glandular: restrição dietética –
Albumina: normal ou aumentada pela jejum de até 12 horas e iniciar com
desidratação. alimentação enteral com sonda
nasogástrica (nutralife). Nutrição
Análise da efusão abdominal: o parenteral em casos que não para o
esperado é ter exsudato vômito mesmo com o antiemético. Não
serosanguinolento (aumento de são indicados fármacos pró-cinéticos.
celularidade e de proteína), nos gatos é Evitar metoclopramida e ranitidina.
transudato/efusão quilosa.

100
Analgesia visceral: buprenorfina ou Mesmas alterações esperadas da
butorfanol. pancreatite aguda ou normal.
Hemograma: com sinais de infecção –
Antiemético: maropitant IV.
leucocitose com desvio.
Antiácido: famotidina IV ou omeprazol.
Bioquímica: azotemia pré-renal,
Antibiótico: enrofloxacina + amoxicilina aumento de ALT, AST GGT e FA.
ou ampicilina + metronidazol. Todos IV
Ultrassonografia: normal, aspecto de
nos três primeiros dias.
massa e pode estar hipo ou
Para casa: dieta com alta hiperecoico.
digestibilidade e baixa gordura.
Diagnóstico definitivo: biópsia (não se
usa).

PANCREATITE Tratamento

CRÔNICA Com sinais clínicos de agudização,


deve-se tratar a aguda.
É mais comum em gatos. Entre os cães,
o Cocker é o mais afetado. Em 50% dos Deve-se verificar a cobalamina (pode
casos desenvolve-se insuficiência ser a causa), vai ter síndrome da má
pancreática exócrina (IPE) e diabetes. absorção (não produz enzimas
pancreáticas).
Aspectos clínicos
Deve-se tratar a obstrução extra-
Discretos sintomas gastrointestinais hepática com cirurgia.
(vômito e diarreia) – diferencial de
enterite inflamatória. Metronidazol deve-se usada em
pacientes que apresentam sinais de
Quando o quadro é igual o da aguda o
hipercrescimento bacteriano no ID e na
único diferencial é a perda de peso
ultrassonografia vê alça duodenal
crônica e sinais de IPE.
paralisada.
Pode apresentar anorexia, dor
abdominal grave, hematoquezia, dor
pós prandial, evidente (mais comum na
crônica, que na aguda).
INSUFICIÊNCIA
PANCREÁTICA
Sinais de IPE: fezes com alimento,
EXÓCRINA
esteatorreia, perda de peso
progressiva.
Ausência de secreção pancreática
Diagnóstico exócrina efetiva.

101
Causas: atrofia acinar idiopática Prova do filme de Raio X: mais usado.
hereditária (Pastor Alemão com 7 Utiliza fezes de animal saudável, faz-se
meses), pancreatite crônica (Schnauzer, controle negativo com bicarbonato e
Cocker, Cavalier), tumores pancreáticos fezes do animal suspeito. Corta-se 3
e hiperacidez duodenal tiras da película de Raio X virgem. Deixa
(gastrite/enterite crônica). 1 hora a 37 graus ou 2 horas à
temperatura ambiente.
Aspectos clínicos
Animal normal: digestão da
Emagrecimento progressivo, pois não
película protéica pelas enzimas;
vai conseguir absorver, pelame de má
qualidade (seborreia crônica – Controle negativo: não acontece
casquinhas pela deficiência de ácidos nada;
graxos essenciais), musculatura pobre,
Animal com IPE: não acontece
polifagia (sempre com fome),
nada, por que não tem enzimas
esteatorreia, fezes amareladas,
ou a digestão é bem baixa.
volumosas e sem forma (vê gordura),
não dói e não tem desconforto. Ultrassonografia: sem alteração.
Diagnóstico Biópsia: fecha diagnóstico, mas pode
causar pancreatite, não é usada.
Anamnese e história clínica (Pastor
Alemão). Mensuração da imunorreatividade
tripsinoide.
Exame físico: sem dor, pelame feio,
ressecado, sem brilho e magro. Tratamento
Exames complementares: amilase e Tem déficit de enzimas, deve-se
lipase não fecham o diagnóstico nas suplementar. Pode-se administrar
fezes. Prova da turbidez plasmática: pâncreas de suíno cru ou extrato
utiliza-se 10ml de azeite. Coleta sangue, pancreático em pó, junto com a
depois dá óleo para o animal e 1 a 2 refeição. Pacientes com boa resposta
horas depois coleta sangue de novo. Se em 3 meses deve-se reduzir a dose de
o soro ficou lipêmico, significa que o extrato até achar a menor dose efetiva.
animal absorveu gordura, então não é
IPE. A dieta deve ser de alta digestibilidade
e baixa gordura e suplementar vitamina
Bioquímica sanguínea: sem alterações E, K e B12. O alimento deve ser
no hemograma, nem no perfil hepático fornecido várias vezes ao dia e em
e renal. pequenas quantidades.
Tem hipocolesterolemia, cobalamina,
vitamina E e K reduzidas.

102
DOENÇAS câncer ósseo e também em lesões de
ductos hepáticos (colestase). Em casos
HEPATOBILIARES de diarreia e de uso de medicamentos
(Ex.: glicocorticóides), também pode-se
Enzimas hepáticas – lesão ter a FA aumentada. -Gama
Alanino Aminotransferase (ALT): Gamaglutamiltransferase (GGT): é
enzima encontrada no citossol de sintetizada por quase todos os tecidos
células, principalmente dos corporais, com maior concentração no
hepatócitos. A enzima é considerada pâncreas e nos rins. Além disso, está
hepato-específica em carnívoros, mas presente em baixas concentrações nos
esta enzima pode estar elevada em hepatócitos, no epitélio dos ductos
casos de lesão muscular grave. (para se biliares e na mucosa intestinal e em
retirar esta duvida, dosa-se em altas concentrações nas glândulas
conjunto a CK, que é uma enzima mamárias (vacas, cadelas e ovelhas). A
específica para lesão muscular). Em GGT é mais específica, mas menos
casos mais crônicos, a ALT não sensível que a FA.
necessariamente vai estar aumentada,
pois já houve muito dano nos Função hepática
hepatócitos, não havendo mais
Bilirrubina: Aumento – pode ser
extravasamento de ALT.
derivada do aumento da produção de
Asparatato Aminotransferase (AST): hemoglobina (hemólise – icterícia pré-
enzima encontrada em células do hepática), menor taxa de absorção ou
fígado e células musculares (coração e conjugação pelos hepatócitos (icterícia
músculo esquelético). Portanto não é hepática) ou prejuízo de fluxo biliar
uma enzima hepato-específica. (icterícia pós-hepática)
Principalmente em mitocôndrias e é
Ácidos Biliares: Aumento: desvio da
geralmente utilizada em herbívoros.
circulação portal (shunt porta-
Fosfatase Alcalina (FA): é amplamente sistêmico), diminuição intrínseca da
distribuída no corpo, incluindo os ossos capacidade de absorção dos ácidos
e ductos do fígado (localizada no biliares pelos hepatócitos (Ex.: hepatite,
citossol). A fosfatase alcalina é uma necrose, hepatopatia por
enzima produzida em vários órgãos, glicocorticoides) e menor excreção de
incluindo ossos, fígado e intestinos. As ácidos biliares pelo sistema biliar e
concentrações de fosfatase alcalina consequente retorno à circulação
podem aumentar sempre que aumente sistêmica (Ex.: colangite, obstrução do
a atividade das células ósseas (por ducto biliar e neoplasia).
exemplo, durante o período de
Proteínas Séricas Totais: α, β-globulinas
crescimento ou depois de uma fratura)
e albumina são produzidas pelo fígado.
ou como resultado de doenças ósseas,
Α e β-globulinas são proteínas pró-
que incluem a osteomalácia ou o

103
inflamatórias. A γ-globulina ENCEFALOPATIA
(imunoglobulina) é produzida pelos
Linfócitos B. Diminuição: insuficiência
HEPÁTICA
hepática, hepatopatia crônica.
Albumina: Geralmente não se observa Estado anormal e disfunção
hipoalbuminemia até que ocorra perda neurológica em decorrência de uma
de 60-80% da função hepática. disfunção hepática. Animal ingere
alimento que vai ser digerido e os
Colesterol: a bile é a principal via de produtos entram no fígado pela
excreção do colesterol. E o fígado é o circulação portal para fazer
principal órgão de produção de metabolização. A amônia (liberada
colesterol. Diminuição: insuficiência através do metabolismo de proteínas) é
hepática; Aumento: distúrbio no fluxo convertida em ureia. Se o fígado não
biliar (colestase); funciona, essa conversão é defasada e
acumula NH3 que é tóxico para o SNC,
Amônia: a amônia é produzida no trato
que estimula a formação de glutamina
digestivo e, após absorção intestinal,
e glutamato (estimulam receptores
atinge a corrente sanguínea (circulação
NMDA). Animais ficam excitados,
portal), chegando até o fígado onde é
andam em círculos, sentem
metabolizada. Aumento: alterações no
desconforto e depois ficam apáticos e
fluxo sanguíneo ao fígado (Shunt porta-
semicomatosos.
sistêmico) ou diminuição acentuada de
hepatócitos funcionais (Ex.: cirrose). Diferenciar de convulsão.

Ureia: é sintetizada nos hepatócitos a Duas vias de estabilização: insuficiência


partir da amônia. Diminuição: hepática e desvio portossistêmico.
insuficiência hepática. Esta diminuição Aminoácidos aromáticos e de cadeia
da concentração da ureia se dá curta também acumulam, além do
juntamente com o aumento da NH3. Induz estado pró-inflamatório.
concentração de amônia.
Origem da amônia na encefalopatia
Glicose: a glicose é absorvida no hepática: quando inicia a insuficiência
intestino delgado e é transportada ao hepática, começa a acumular
fígado pela circulação portal e em aminoácidos no cólon e as bactérias
seguida chega aos hepatócitos para ser convertem em NH3. No intestino, a
transformada em glicogênio. Os glutamina é convertida em NH3 e no
hepatócitos também sintetizam glicose SNC a NH3 é desintoxicada para
por gliconeogênese. Aumento: menor glutamina. Uma dieta com sobrecarga
absorção hepática de glicose. protéica produz mais NH3.
Diminuição: devido à menor atividade
de gliconeogênese e glicogenólise nos Aspectos clínicos
hepatócitos. Em insuficiência hepática a Não são muito específicos. Anorexia,
glicemia pode estar baixa ou elevada. depressão, perda de peso, letargia,
104
náusea e hipersalivação. Sinais mais pode-se utilizar quando animal tiver
específicos incluem excitação, dor e convulsões.
desconforto, cabeça contra obstáculos
(head pressing), tremores, ataxia, HEPATITE CRÔNICA
demência, agressividade, andar em
círculos, convulsões e coma. Animal pode chegar com encefalopatia
hepática. Em geral apresenta doença
Tratamento
hepática acima de 2 meses. Para
Buscar causa de base para minimizar confirmar hepatite crônica, apenas por
NH3. Deve-se fazer manipulação definição histológica. As causas não são
nutricional adequada (diminuir a identificadas ou pode ser doença
proteína e que seja de alta autoimune.
qualidade/digestibilidade). Administrar
Enzimas hepáticas aumentadas por
quelantes locais de amônia para retirar
mais de 4 meses, associadas a sinais de
NH3 do trato gastrointestinal e limita a
doença hepática inflamatória –
absorção. Rápido esvaziamento do TGI
diagnóstico presuntivo.
para limitar a absorção sistêmica.
Antibióticos podem ser usados para Raças: Dálmata, Labrador, West e
suprimir bactérias produtoras de Dobermann.
amônia.
Patogenia
Dieta: adicionar probióticos para
Agente tóxico, bacteriano ou viral que
aumentar as bactérias benéficas e
leva a perda de hepatócitos e perda da
adição de aspartato de ornitina
função hepática. A fibrose deixa o
(converte amônia em ornitina).
fígado e os ductos biliares rígidos,
Lactulose: atrai água, fluidifica as fezes, levando à colestase e icterícia. A
atua como laxante e joga NH3 fora. progressão da perda da função leva a
Ajustar a dose até 2-3 defecações hipertensão portal e ascite (transudato
amolecidas. peritoneal), além disso, vai ter
hipoproteinemia por hipoalbuminemia.
Se as medidas de dieta e lactulose não
forem eficientes, usar amoxicilina + Aspectos clínicos
metronidazol VO BID (cresce
Febre e dor quando for causa
Clostridium, E. coli, Streptococcus,
bacteriana ou viral. A ascite leva à
Salmonella). Se o paciente chegar com
hipovolemia, que gera hipoperfusão do
sinais neurológicos bem intensos,
estômago e duodeno, levando à
pode-se fazer enema com lactulose. 3
isquemia – causa lesão da parede e
partes de lactulose para 7 partes de
pode ter diarreia com sangue e, além
água morna. Retenção do enema de 15
disso, a perda de sangue gera
a 20 minutos, QID, com sonda foley –
hipoperfusão renal, ativando o SRAA.

105
Animal apresenta poliúria e polidipsia – Tratamento
perda de líquido para o espaço
Dieta de alta digestibilidade e
peritoneal (desidrata para dentro),
qualidade (queijo Cottage) de proteína.
coagulopatia, reações adversas às
drogas, abdômen abaulado, balanço Coleréticos (ácido ursodesoxicólico –
energético de N2 – má nutrição, estado AINE e antioxidante) aumentam o fluxo
de caquexia. biliar. Se tiver obstrução pode romper a
bile, por isso a primeira conduta é fazer
O animal come, mas os produtos não
ultrassom.
são metabolizados e o SNC entende
que não tem proteína e entra em Antioxidantes: vitamina E, silimarina
catabolismo protéico. (protetor hepático), vitamina D.
A hipertensão portal aumenta a Glicocorticoides utilizados apenas se for
pressão no sistema porta. Pode formar doença imunomediada (confirmada por
trombo e ir para a circulação sistêmica, biópsia). São indicados para doenças
causando isquemia e óbito. A iniciais, mas pode ter efeito colateral de
hipertensão portal piora a ascite (já gastrite e o metabolismo é hepático.
tinha por baixa da albumina).
Antifibróticos são contraindicados.
Consequências: ascite, ulceração
gastrointestinal, ativa SRAA e Antibióticos podem ser usados quando
encefalopatia hepática. se tem indícios de infecção bacteriana
ou leptospirose – observar hemograma.
Diagnóstico Pode usar antibiótico em casos de
suspeita de colangite, leucocitose com
Histopatológico: requer biópsia guiada
desvio à esquerda, febre e ultrassom
por ultrassom. O ideal é fazer perfil de
com espessamento de parede.
coagulação para ter certeza do risco de
Ampicilina IV ou amoxicilina +
sangramento.
clavulanato de potássio para a fase
Bioquímica sérica: sinais de lesões aguda. Tratamento de 7 a 10 dias.
hepáticas (aumento de ALT e AST), tem Depois disso, doxiciclina para eliminar o
fibrose hepática e colestase – é estado portador (tratamento por 21
esperado aumento de FA e GGT, que dias). Para colangite: cefalexina,
são indicadoras de colestase, mas pode metronidazol ou amoxicilina +
estar muito baixo e estar entrando em clavulanato de potássio.
falência hepática.

Alteração na função hepática: diminui


albumina, colesterol e ureia. HEPATITE AGUDA
Ultrassonografia: fígado diminuído e
É difícil descobrir as causas. Em geral
hiperecoico.
podem ser: causas tóxicas, bactérias,

106
vírus, toxoplasma, ensolação grave e da EH (manter hidratado, evitar
desvio portossistêmicos. ulceração GI).

É menos comum que a crônica ou Fluidoterapia: suplementa glicose,


menos diagnosticada. As causas tóxicas plasma fresco ou voluven (coloide) –
e infecciosas são as mais comuns. É ambos para aumentar a albumina.
uma doença de mortalidade alta, óbito
Enema com lactulose: associar a
agudo e de quadro grave.
neomicina (diminui a produção de NH4,
Aspectos clínicos mas é nefrotóxica).

Anorexia, vômito, polidipsia, Antibiótico: se clinicamente apresentar


desidratação, icterícia (pré-hepática, diarréia profusa de ID e indícios de
hepática e pós-hepática), febre, dor supercrescimento bacteriano intestinal
abdominal cranial, melena, petéquias, (US identifica alça paralisada).
hematoêmese e em menos de 24 horas
Ranitidina e omeprazol: para ulceração
já pode ter encefalopatia hepática.
GI (melena, hemotoquezia). Se tiver
Diagnóstico hematoemese, utilizar sucralfato.

Pela anamnese, ver se o animal é Plasma fresco + vitamina K ativa: para


vacinado com a V10 (4 cepas para tratar coagulopatias.
leptospira) ou V8 (2 cepas).
Dieta: a base de produtos lácteos ou
Tem-se aumento mais drástico de ALT, proteína de soja. Jejum o mínimo
AST, FA e GGT. Animal apresenta possível, até passar o vômito. Pode-se
hipocalemia pelo vômito e hipoglicemia utilizar nutralife.
pela disfunção hepática aguda,
azotemia pré-renal (e na leptospirose
tem-se pré-renal e renal), tempo de
coagulação prolongado e
DESVIO
trombocitopenia. PORTOSSISTÊMICO
CONGÊNITO
Ultrassonografia: sem alterações ou
hepatomegalia (ao contrário da
São comunicações vasculares entre a
crônica) e fica hipoecogênico.
circulação portal e sistêmica. Pode ser
Tratamento intra ou extra-hepático. O mais comum
é o extra entre a porta e a cava.
Tratar a causa e dar suporte. Se for
bacteriana, utilizar antibiótico. Se for Ocorrem as mesmas alterações da
viral é só terapia de suporte. Se for encefalopatia hepática, metabolismo
tóxica, limitar o contato com o agente não vai ser adequado e vai acabar
tóxico e fazer terapia de suporte. O acumulando amônia, ácidos graxos no
tratamento de suporte é o tratamento

107
organismo e se instala um quadro de que tem desvio e não aproveitam
EH. adequadamente os nutrientes da dieta.

Os produtos da digestão que chegam Diagnóstico


pela porta não entram todos no fígado,
Patologia clínica: microcitose (diminui o
um pouco vai ser desviado. A
tamanho das hemácias),
quantidade desviada é relativa ao
hipoalbuminemia, diminui uréia,
tamanho do desvio.
aumenta amônia, hipocolesterolemia,
Extra-hepático: é o mais comum e dá ligeiro aumento de ALT e FA,
em raças de pequeno porte como o concentração pós prandiais de ácidos
York, Maltês, Shih-tzu. Vai da veia porta biliares, aumenta os ácidos biliares são
para a veia cava caudal ou veia ázigos. liberados pelo colédoco para contribuir
na digestão e absorção dos nutrientes
Intra-hepático: afeta raças de grande
após a alimentação.
porte como o Golden e o Labrador.
Ultrassonografia: fígado diminuído –
Patogenia
microhepatia.
O desvio faz com que os compostos
Doppler: visualiza o corte da cava com a
que não são metabolizados se
porta (comunicação/shunt).
acumulem na circulação sistêmica
(NH3) que resulta em sinais de EH. Os Portovenografia: injeta contraste na
desvios pequenos não vão aumentar a porta e vê indo para a veia cava.
pressão na veia porta e não cursa com
Cintolografia.
ascite grave. Só vai ter ascite se tiver
hipoalbuminemia grave. Tratamento
Aspectos clínicos O tratamento é corrigir o desvio por
meio de cirurgia (bom se for precoce).
Predisposição racial em gatos (Persa e
Mortalidade pós-operatória:
Himalaia) e em cães (West, York,
hipertensão portal secundária, pois liga
Maltês, Schnauzer) para DPS extra-
o vaso de uma vez e aumenta a pressão
hepático.
(aumenta fluxo da porta de forma
Os sinais mais graves ocorrem após a abrupta). Se usa anel de implante
alimentação. Animal come e fica metálico que fecha aos poucos, leva 2-3
sonolento, apático, tem head-pressing, semanas para fechar.
anda em círculos, tem vômito
O tratamento médico é para a
intermitente por hiperamonemia
encefalopatia hepática. Dieta, lactulona
crônica, poliúria e polidipsia pela ascite
para minimizar a formação de NH3.
e SRAA, são os menos cachorros da
ninhada e não crescem justamente por

108
LIPIDOSE HEPÁTICA primária, mas tem-se doença de base
que causa anorexia, tais como
FELINA pancreatite, diabetes mellitus, doença
intestinal inflamatória, neoplasias e
Definição: acúmulo massivo de gordura hepatopatias.
dentro dos hepatócitos, interferindo
nas funções normais. Enfermidade de Aspectos clínicos
evolução aguda. O fígado pode ter um
Sobreposição de sinais clínicos (quando
aumento de tamanho e peso em duas a
há doença primária associada). Perda
três vezes e esta gordura é proveniente
aguda da função hepática,
da lipólise de ácidos graxos de cadeia
caracterizando-se por icterícia,
longa. Doença de alta mortalidade se
encefalopatia hepática e diminuição
não houver intervenção rápida.
dos níveis séricos proteicos, colestase
Diferente das doenças hepáticas que
intra-hepática (fluxo biliar encontra-se
acometem os caninos, que geralmente
prejudicado por excesso de gordura),
são crônicas, a lipidose hepática felina
vômito, desidratação, diarreia, perda
é de evolução aguda.
de massa muscular, hepatomegalia (no
Formas: Primária e secundária. cão hepatopata é difícil de ocorrer) e
encefalopatia hepática.
Lipidose Primária: É a forma mais
comum. Afeta gatos obesos e é Doenças concomitantes comuns
caracterizada pelo acúmulo massivo de incluem pancreatite e diabetes
gordura no interior de hepatócitos. Este mellitus.
quadro é reversível. Causas: Anorexia:
Diagnóstico
por algum evento estressante;
Excessiva mobilização de lipídeos Anamnese e história clínica, exames
periféricos: há grande concentração de físicos e exames complementares.
HSL (Hormone Sentitive Lipase –
catecolaminas, glucagon, GH, cortisol Exames Laboratoriais: Aumento da
endógenos, os quais causam lipólise) e concentração de AST e ALT, aumento
baixa concentração de LPL da concentração de FA (gatos não
(Lipoproteína Lipase a qual age nos possuem isoenzima) e de Bilirrubina,
hepatócitos auxiliando no metabolismo GGT normal ou com leve aumento,
dos lipídeos); Deficiência nutricional: diminuição da concentração da ureia
deficiência de metionina, carnitina e (33% dos casos), hipocalemia (por
taurina as quais são fundamentais na vômito e diarreia) e glicemia alta
transferência de lipídeos entre as (hiperglicemia de estresse ou por
células. diabetes).

Lipidose Secundária: Pode ocorrer em Gatos com hipocalemia apresentam


qualquer paciente (obeso ou magro). A ventroflexão de pescoço. Alterações
patogênese é semelhante à lipidose

109
hemostáticas também podem ocorrer Antioxidantes: S-adenosilmetionina
por deficiência de vitamina K. 20mg/kg SID, vitamina E 100UI/dia.

Radiografia: pode-se verificar Tratar causa de base.


hepatomegalia.
Prognóstico
Ultrassonografia: utilizado para
Vai depender se a lipidose é primária
diferenciar outras anormalidades
ou secundária.
hepatobiliares. Deve-se verificar
pâncreas e intestino também (tríade) e
fígado com lipidose hepática apresenta
hiperecogenicidade (brilhante). DOENÇAS DO TRATO
Histopatologia: (recomendado apenas BILIAR
para pacientes estabilizados e então
pode-se fechar o diagnóstico). Pode-se
fazer a colheita de material por
laparotomia, laparoscopia ou agulha de COLANGITE
tru-cut. É um método invasivo, pode-se
optar por citologia aspirativa guiada Segundo distúrbio mais comum em
por US. gatos. É a inflamação do trato biliar que
pode ou não se estender pelo
Tratamento parênquima hepático próximo.
Fluidoterapia: utilizar solução Três categorias:
fisiológica 0,9%, Ringer Lactato é
contraindicado, uma vez que o fígado 1. Colangite neutrofílica: colângio-
está insuficiente. Adição de cloreto de hepatite supurativa ou exsudativa e
potássio. colangite aguda.

Suporte nutricional: é o principal 2. Colangite linfocítica: colângio-


tratamento (4 a 6 semanas). hepatite linfocítica, hepatite portal
Necessidade energética em repouso linfocítica e colangite não supurativa.
(NER): 50 x kg. Necessidade energética
3. Colangite crônica associada com
metabólica (NEM): 70 x kg (quando o
infestação hepática por trematódeos.
animal está melhorando). Para trocar
de 50 para 70 deve-se aumentar a
quantidade e diminuir o número de
vezes. COLANGITE
Antiemético: metoclopramida 0,5mg/kg
NEUTROFÍLICA
IV TID.
Etiopatogenia

110
Infecção bacteriana ascendente (E. coli, Detecção precoce da doença.
Streptococcus, Clostridium,
Salmonella). Tem-se infiltrado
neutrofílico no lúmen e parede do
ducto biliar, edema e infiltração de
COLANGITE
neutrófilos na área portal e colecistite LINFOCÍTICA
(inflamação da vesícula biliar).
Etiopatogenia
Aspectos clínicos
Etiologia desconhecida (imunomediada
Gatos jovens ou de meia idade. É uma ou infecciosa). Infiltração linfocítica,
doença aguda. Em estase biliar e sepse: plasmocítica e eosinofílica nas áreas
letargia, pirexia e icterícia. portais. É mais comum ser obstrutiva.
Diagnóstico Ocorre proliferação células nos ductos
biliares e fibrose portal.
Alterações clinicopatológicas:
neutrófilos segmentados e bastonetes, Aspectos clínicos
ALT e bilirrubina aumentadas. Jovens ou de meia idade e geralmente
Ultrassonografia: textura nodular ou gatos Persas. É uma doença crônica
grosseira no fígado e dilatação do trato recidivante que leva à icterícia, perda
biliar. de peso, anorexia, letargia e ascite.

Avaliação citológica e cultura da bile: Diagnóstico


amostra obtida por punção da vesícula Alterações clinicopatológicas: aumento
biliar (ecoguiada para fazer cultura e discreto das atividades séricas das
antibiograma). enzimas hepáticas e neutrofilia
Tratamento periférica em alguns casos.

Antibióticos: por 4 a 6 semanas – Radiografia: hepatomegalia.


amoxicilina 15-20mg/kg VO TID até sair Ultrassonografia: dilatação do trato
o resultado da cultura. biliar e presença de ‘’lama’’ (indica
Coleréticos: ácido ursodesoxicólico VO inflamação – espessamento da bile) no
SID – não usar em obstrução. interior da vesícula biliar.

Sepse: fluidoterapia IV e antibióticos IV. Tempo de coagulação pode estar


Em gatos anoréxicos, suplementação aumentado – administrar vitamina K
alimentar com alto teor proteico e 0,5mg/kg SC/IM BID por 3 dias.
colocação de sonda. Administrar Histopatologia: infiltrado linfocítico
pequenas quantidades várias vezes ao periportal.
dia.
Tratamento
Prognóstico

111
Coleréticos: ácido ursodesoxicólico VO Histórico de exposição – comeu
SID. lagartixa, por exemplo.

Antioxidantes: S-adenosilmetionina Alterações clinicopatológicas: aumento


20mg/kg VO SID e vitamina E da atividade sérica das enzimas
100UI/dia. hepáticas e bilirrubina e eosinofilia.

Suplementação alimentar: alta Observação de trematódeos ou ovos


palatabilidade, digestibilidade e sem nas fezes ou bile fecham o diagnóstico.
restrição proteica. Pode-se utilizar
Tratamento
sonda de alimentação.
Praziquantel 20mg/kg SC SID por 3 dias
Prognóstico
e tratar os sinais clínicos.
Recidivas.
Prognóstico

Depende da gravidade.
COLANGITE CRÔNICA –
INFESTAÇÃO POR
TREMATÓDEOS CISTOS BILIARES

Platynosomum spp., Amphimerus Origem no ducto biliar.


pseudofelineus e Metametorchis Congênitas: associadas à doença
intermedius. policística. São múltiplos. Doença
Os gatos são os hospedeiros finais. policística do gato Persa.
Ingerem as metacercárias (lagartixa, Adquiridas: únicos ou múltiplos.
sapo), que vão para o intestino e fígado Relacionados a trauma, inflamação,
(adultos) e ficam em latência por 10 neoplasia e trematódeos hepáticos.
semanas. Devido à migração leva à
colangiohepatite (único caso que leva à Tratamento
cirrose em felinos). Pode ocorrer
Quando necessário, o tratamento é
também cirrose, fibrose biliar e
cirúrgico.
obstrução biliar.

Aspectos clínicos

Depende da carga parasitária. Podem OBSTRUÇÃO DO


ser assintomáticos ou apresentar DUCTO BILIAR EXTRA-
anorexia, depressão, perda de peso,
HEPÁTICO
letargia e icterícia (pós-hepática).

Diagnóstico

112
Lesões compressivas ou obstrutivas. É primários e não metastisam. Afetam
uma síndrome proveniente de várias animais idosos (10 a 12 anos).
causas:
Tumores do ducto biliar: adenoma
Inflamação do intestino delgado, biliar.
pâncreas e trato biliar, neoplasia,
Tumores hepatocelulares: carcinoma
estenose do ducto biliar, hérnia
hepatocelular e adenoma
diafragmática com envolvimento da
hepatocelular.
vesícula, colelitíase (colesterol, sais de
cálcio, bilirrubina), cistos e Sarcomas hepáticos primários:
tramatódeos hepáticos. hemangiossarcoma e leiomiossarcoma.
Aspectos clínicos Aspectos clínicos
Icterícia, anorexia, depressão, vômitos, Dependem da lesão. Em geral, letargia,
hepatomegalia, fezes pálidas ou perda de peso, vômito, ascite e
acólicas. Em obstrução total não tem hepatomegalia. Icterícia em geral não é
urobilinogênio e estercobilinogênio. comum.
Diagnóstico Diagnóstico
Aumento de ALT, FA, GGT e bilirrubina. Aumento da atividade sérica das
enzimas hepáticas, função hepática
Ultrassonografia: dilatação da vesícula
preservada. Linfoma tem infiltrado de
biliar e árvore biliar.
linfócitos.
Laparotomia exploratória: diagnóstico
Exames de imagem: metástase
e tratamento.
intraperitoneal e pulmões.
Obstrução total ou parcial
Tratamento
Tratar doença concomitante, cuidados
Remoção cirúrgica. A quimioterapia é
paliativos, não usar coleréticos e fazer
pouco responsiva.
cirurgia.
Prognóstico
Prognóstico
Depende se é benigno/maligno.
É variável, depende se a obstrução é
total ou parcial.

DESVIOS
NEOPLASIAS PORTOSSISTÊMICOS

Em felinos a maioria é benigna. Podem ser adquiridos ou congênitos


Incidência de 1 a 2,9%. Geralmente são (mais comum). Podem ser únicos ou

113
duplos e intra e extra-hepáticos. dos fenóis por sua atividade hepática
Animais apresentam hiperamonemia, limitada da glucorunil transferase.
atrofia hepática e redução da atividade
metabólica, levando a baixo
desenvolvimento e perda de massa
muscular.
Agentes terapêuticos
Aspectos clínicos Acetominofeno - qualquer dose é
potencialmente tóxica
É diagnosticado antes dos 2 anos. Aspirina
Animal tem crises de encefalopatia Diazepam
hepática após a alimentação e fica Óleos essenciais
comatoso. Apresenta vômito, diarreia e Cetoconazol
é o menor animal da ninhada (baixo Nitrofurantoína
Tetraciclina
desenvolvimento).
Estanazolol
Diagnóstico Griseofulvina

Sinais neurológicos: aumento de ácido Toxinas ambientais


biliar ou amônia em jejum ou no Aflatoxina
Amanita phalloides (cogumelo)
período pós-prandial, aumento de
Arsênico inorgânico
enzimas hepáticas e diminuição de Fenóis
ureia. Fígado reduzido de tamanho no
Raio X e US e visualização de desvios
venosos no US.

Tratamento

Cirúrgico. Cuidar com a restrição de


REFERÊNCIAS
proteínas. BIBLIOGRÁFICAS
Prognóstico ETTINGER S. J. Tratado de Medicina
Mortalidade alta após a cirurgia. Interna Veterinária. 3ed. São Paulo:
Roca, 1998.

NELSON R.W., COUTO C.G. Medicina


HEPATOPATIA TÓXICA Interna de Pequenos Animais. 5ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2015.
Hepatopatia tóxica se refere à lesão STOLF L. C. Clínica de Pequenos
hepática diretamente atribuída à Animais. 2011.
exposição de toxinas ambientais ou a
certos agentes terapêuticos. Gatos são
particularmente sensíveis à toxidade

114
FLUIDOTERAPIA AEC1.1, AEC1.2, AEC3, AEC4, AEC5,
AEC6, AEC7 e AEC8

Cálculo de Reposição Os tipos sanguíneos AEC1.1, AEC1.2 e


AEC7 são os que possuem maior
Peso x % Perda x 10 = Volume em mL
chance de reação transfusional.

 Felinos: apenas 3 tipos sanguíneos


Cálculo de Manutenção (reposição
A (73%), B (26%) e AB (1%)
diária)
Diferentemente dos cães, os felinos
Cão: 50ml/kg/dia
possuem anticorpos naturais, sendo
Gato: 70ml/kg/dia estes responsáveis por reações
transfusionais hemolíticas. Desta
Cálculo da Reposição das Perdas
forma, a tipificação sanguínea e/ou
Vômito: 40ml/kg/dia a prova de reação cruzada são
procedimentos indispensáveis para
Diarreia: 50ml/kg/dia assegurar a compatibilidade nestes
animais.
Ambos: 60ml/kg/dia

Reposição de Potássio
Doador Ideal
Indicação: abaixo de 3,5mEq/L
Caninos: no mínimo 25kg de peso
Apresentação: ampola de 10ml (10%).
corporal
1g = 14mEq.
Felinos: no mínimo 4,5kg de peso
Velocidade de Infusão:
corporal
Pequenos Animais: 0,5
Recomendações
mEq/kg/h.
Volemia: 10% PV;

Volume Doado: 20% da volemia;

TRANSFUSÃO Intervalo entre doações deve ser de no


SANGUÍNEA mínimo de 30 dias.

Volume de Sangue para Transfusão


Grupos Sanguíneos
Volume (em litros) = peso x fator* x (Ht
 Caninos: 8 tipos sanguíneos. AEC pretendido – Ht receptor) / Ht doador
(Antígeno Eritrocitário Canino)
*Fator: Cães: 0,09 e gatos: 0,07.

115
Deve evitar fazer a transfusão e Morfina, Xilazina, Água Oxigenada 20
hidratação no mesmo acesso venoso, volumes, administrar até 2 horas após a
para evitar a formação de CaCO3 ingestão do veneno.
(carbonato de cálcio).
LAVAGEM GÁSTRICA:
Reações Transfusionais
Água ou solução salina infundidas no
Hemólise, sensibilização, reações estômago por sonda. Animais
imunomediadas, eritroblastose. inconscientes ou anestesiados não
esquecer de intubar.
Sinais clínicos incluem taquipneia,
taquicardia, taquisfigmia, dispneia, ADSORVENTES:
ptialismo, êmese, prostação, urticária,
Utilização carvão ativado.
paresia transitória, choque e morte.
LAXANTES CATÁRTICOS:
Tratamento
Sulfato de Sódio e Sulfato de Magnésio.
Suspensão da transfusão, fluidoterapia,
administração de corticosteroides
(4mg/kg de prednisolona),
administração de vasopressores Aumentar a eliminação do veneno:
(difenidramina 1 a 2mg/kg),
DIURESE FORÇADA:
monitoração e administração de
heparina (75UI/kg SC – 6h/6h) em casos Administração de manitol e avaliar a
de hemólise intensa. desidratação.

DIÁLISE PERITONEAL:

INTOXICAÇÕES Lavado peritoneal com NaCl 0,9% ou


ringer lactato estéril.
É uma emergência médica e o
tratamento rápido difere entre a vida e
a morte. Manutenção da Função
Cardiovascular:
Fontes de Toxinas: Inseticidas, metais e
metais pesados (ex.: chumbo e cobre), MANTER A PERFUSÃO TECIDUAL: Com
medicamentos, drogas e peçonhas. hipotensão há lesão renal (pressão
abaixo de 60mmHg faz a filtração renal
TERAPIA INESPECÍFICA parar). Administrar Ringer lactato,
plasma ou expansores.
Reduzir a absorção do veneno:
GLICOCORTICÓIDES:
EMÉTICOS:
Utilizados para manter a integridade
das membranas celulares e lisossomais.

116
O amitraz é de absorção cutânea ou
digestiva. E causa hipotensão,
Manutenção da Função Respiratória:
hipotermina, bradicardia, ataxia,
INTUBAÇÃO ENDOTRAQUEAL E/OU sedação, vasoconstrição, vômito e
VENTILAÇÃO MECÂNICA; diarreia.

CÂMARAS VENTILADAS. Tratamento

Ioimbina

Controle das Mioclonias e Convulsões:

DIAZEPAM: METALDEÍDO
Anticonvulsivante, tranquilizante e
relaxante. Veneno para caramujos, lesmas e
material de limpeza: ocorre a ingestão
de iscas causando hipersalivação, dor
abdominal (abdômen agudo), vômito,
Manutenção da Temperatura
tremores, incoordenação, convulsões
Corporal:
tônicas contínuas e acidose.
AQUECIMENTO COM FLUÍDO
Tratamento
AQUECIDO:
Para o controle de convulsões:
Deve ser feito de forma gradual. Não
Diazepam ou Barbitúricos
aquecer somente externamente, pois
(Fenobarbital);
causa uma maior vasodilatação
periférica, agravando a hipotensão. O Para o controle da acidose: ringer
aquecimento externo deve ser feito lactato de sódio;
sobre grandes vasos com bolsas
aquecidas nas axilas, virilha e pescoço Terapia de suporte.
ou sempre começar a aquecer
internamente.
NAFTALENO

TERAPIA ESPECÍFICA Naftalina – anti-traça: causa vômito,


letargia, hemólise intravascular,
DE SUPORTE anemia, hemoglobinúria e consequente
nefrose.

Tratamento
AMITRAZ
Para a metemoglobinemia: ácido
ascórbico;

117
Para a precipitação de hemoglobina Vitamina K (VO - seguida de refeição
nos rins: líquidos com bicarbonato. gordurosa ou SC em diferentes locais).

ORGANOFOSFORADOS
E CARBAMATOS CHUMBO
Inseticidas e parasiticidas: possuem Ocorre através da ingestão de chumbo.
absorção cutânea ou digestiva e Tem-se sinais gastrointestinais e
causam salivação, lacrimejamento, neurológicos.
micção, defecação, midríase,
depressão, broncoconstrição e Tratamento
convulsões.
Catárticos;
Tratamento
Remoção Cirúrgica;
Oxigenoterapia;
Tiamina;
Atropina (administrar lentamente) –
EDTA cálcico 1% diluído em glicose 5%.
com doses adicionais se houver
necessidade;

Carvão Ativado: para ingestão de doses


MERCÚRIO
maciças.

Ingestão de sais de mercúrio.

CUMARÍNICOS Tratamento

Lavagem com leite e clara de ovo,


Rodentecidas – veneno para ratos: introduzidos por tubo nasogástrico ou
através da ingestão de iscas ou dos orogástrico.
roedores. Possui ação anticoagulante
por deprimir a ação da protrombina
que é dependente da vitamina K,
causando letargia, dispneia, FERRO
hematomas, epistaxe, melena,
hematúria, petéquias e sufusões Sulfato ferroso: causa gastroenterites,
(diátese hemorrágica – hemorragia náuseas, vômitos, letargia e choque.
generalizada). Tratamento
Tratamento Mesilato de deferoxamina.
Transfusão sanguínea;

Oxigenoterapia;

118
ZINCO Inibe a ação do neurotransmissor
inibitório, glicina. Causa diminuição do
efeito inibitório pós-sináptico do arco-
Intoxicação por ingestão de pomadas
reflexo causando excitação
ou de objetos contendo zinco (ex.:
incontrolada do reflexo espinhal
grades). Causa anemia hemolítica.
(diminuição do limiar convulsivo). Tem-
Tratamento se convulsões, inquietação,
nervosismo, contrações musculares,
Transfusão sanguínea;
rigidez de pescoço, intensificação das
Tratamento de suporte; contrações musculares e convulsões
tetânicas violentas espontâneas ou por
Quelante de Zinco (EDTA zinco). estímulos externos.

Tratamento

COBRE Lavagem gástrica;

Carvão ativado;
Utilizado para controle de fungos de
plantas e outros. Causa hemólise Diurese forçada (manitol ou
intravascular acarretando em uma furosemida);
icterícia e hemoglobinúria.
Relaxantes musculares (controle dos
Tratamento espasmos);

D-penicilamina. Catárticos;

Acidificação da urina (para auxiliar a


eliminação do tóxico – cloreto de
ARSÊNICO amônio ou metionina);

Diminuição dos estímulos externos


Formicida e herbicida. Causa diarréia,
(ambiente escuro e silencioso).
desidratação, choque, acidose
metabólica e anúria.

Tratamento
ACIDENTE OFÍDICO
Hidratação; BOTRÓPICO
Carvão Ativado;
Causado por serpentes do gênero
D-penicilamina. Bothrops sp (jararaca e surucucu).
Todos os mamíferos são suscetíveis e
os grandes animais são mais
resistentes. O veneno tem ação
ESTRICNINA
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necrosante, coagulante, vasculotóxica e do globo ocular com ressecamento de
nefrotóxica. córnea, blefarospasmo dificuldade na
deglutição, ataxia, mioglobinúria (ação
Aspectos clínicos
miotóxica), lesões renais (nefrotóxica
Iniciais: edema local, dor e equimoses. direta ou pela hipotensão arterial pela
ação coagulante do veneno).
Posteriores: prostração, inapetência,
edema de glote (picadas na face tem-se Tratamento
edema mais intenso sendo necessário a
Soroterapia antiofídica;
traqueostomia de emergência),
taquicardia e taquipneia. Terapia de suporte: terapia com
fluídos, analgésicos, AINEs, antibióticos
Tratamento
(quando necessário), colírio ou solução
Soro antibotrópico ou polivalente (EV fisiológica (para o ressecamento de
de administração lenta ou SC e IM são córnea), solução fisiológica (para o
vias alternativas). A dose de soro ressecamento da mucosa oral);
depende da quantidade provável que
Exames periódicos (tempo de
foi inoculada de veneno e não do
coagulação e urinálise);
tamanho do animal.
Transfusão.
Terapia de suporte (terapia com
fluídos, AINEs, analgésicos, alimentação
via enteral até o retorno da ingestão
normal)

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ACIDENTE OFÍDICO
CROTÁLICO ANDRADE, Silvia Franco. Manual de
Terapêutica Veterinária. 2 ed. São
Causada por serpentes do gênero Paulo: Roca, 2002.
Crotalis sp (cascavel, maracá e cobra
STOLF, L. C. Clínica de Pequenos
guizo). Veneno possui atividade
Animais. 2015.
neurotóxica, miotóxica, coagulante e
nefrotóxica (levando a uma
insuficiência renal aguda). Apresenta
maior toxicidade que o veneno
botrópico.

Aspectos clínicos

Insuficiência respiratória, paralisia de


músculos faciais e faríngeos, paralisia
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