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Resenha Memória e Sociedade Lembranças de Velho PDF
Resenha Memória e Sociedade Lembranças de Velho PDF
Bosi, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. 14. ed. São Paulo:
Companhia das Letras , 2007.
Abstract
This review aims to present the work “Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos” by Éclea Bosi, who analyzes the
discourse of the elderly through the reconstruction of their family and group memory, as well as their insertion in society,
using theorists who work on the theme History, Memory and Society..
Keywords: History; Society; Biographies.
*fernandalrsoares@gmail.com
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à memória uma função decisiva no processo psicológico. William Stern (1957), citado por Bosi (2007,
O Método Introspectivo de Begson nos possibilita p. 67) analista da memória com visão puramente
compreender a memória como força subjetiva composta psicológica, assim como Bergson, considera que o
por representações seja do passado ou do presente, o sujeito conservaria suas percepções em estado ou
nosso conhecimento e apreensão da realidade. Faz a “período latente”, ausentes da consciência desperta,
distinção de memória-hábito, que está relacionada com entretanto, poderiam reaflorar por motivos variados. O
nossa prática do dia a dia (adestramento cultural) vida sujeito conserva as imagens do passado, mas poderiam
ativa, da imagem-lembrança (vida contemplativa), que alterá-las em função de influências concretas do seu
emerge da consciência um momento ou uma situação desenvolvimento. A memória seria a conservação ou
única vivenciada em sua vida. Em seu estudo, busca reestruturação do passado, onde resulta a flexibilidade
compreender a correlação entre a conservação do da mesma. Stern admite a suposição da existência de
passado e a sua articulação com o presente, logo, a uma memória “pura” mantida no inconsciente, aliada
junção de memória e percepção que sobre as formas de a suposição de serem reelaboradas pelos valores do
lembranças sobrevive de forma consciente (no tempo presente se aproximando das teorias de Bartlett e
presente), mesmo que em estado inconsciente. Halbwachs.
Maurice Halbwachs principal estudioso das Diante de tantas reflexões trazidas, podemos
relações entre memória e história pública, amplia os pensar como o fenômeno da memória pode ocorrer
estudos de Émile Durkheim sobre as funções que as de forma única e particular em cada indivíduo. Isto se
representações e ideias dos indivíduos exercem no seu evidencia que a narração de suas próprias experiências
grupo de convívio e na sociedade como um todo. Uma de vida é o modo mais assertivo de descrever e fazer a
preexistência, um predomínio social sobre o individual memória.
altera os fenômenos psicológicos tais como, percepção, No capítulo 2 intitulado Tempo de Lembrar,
consciência e memória. Seu enfoque central não é a a autora busca compreender a função da memória
memória, mas os quadros sociais da memória, onde as da velhice. Os velhos assumem caráter essencial na
relações não estão limitadas ao campo da pessoa, mas vida e na formação do indivíduo, visto que eternizam
em relação à realidade interpessoal com as instituições memórias e lembranças, sejam elas pessoais, de um
sociais a qual faz parte. Sendo assim, a memória do tempo, lugar, pessoas e objetos. A criança apreende
indivíduo estaria intrinsecamente subordinada ao seu assim o passado; mergulha suas raízes através da história
relacionamento com a família, com a classe social, vivida por pessoas de mais idade que fizeram parte de
Igreja, profissão, ou seja, grupos de convivência e sua socialização.
referência a qual pertença. Portanto, liga a memória Simone de Beauvoir tece reflexões acerca da
da pessoa à memória do grupo, relacionada à memória velhice em relação às mudanças históricas decorridas
coletiva, a tradição de cada sociedade. pela sociedade e sua divisão de classes ocasionando a
Charles Bartlett corrobora com as ideias de ruptura nas relações sejam elas entre os homens, seja na
Maurice Halbwachs, pois ambos fundamenta os relação com os homens e a natureza. Em nossa sociedade,
quadros sociais no processo que conduz a lembrança. a velhice é marcada por grandes opressões e exigências
A vida atual é inseparável ao processo de reconstrução sejam elas do grupo familiar a que pertença, seja da
do passado admitindo a existência contínua da criação própria burocracia e justiça as quais o idoso encontra-
social de novos símbolos sofridos pelas influências se submetido. A sociedade industrial caracterizada
extras grupais. A memória estaria dependente desse por produção, agilidade e lucro, oprime a velhice por
ininterrupto processo de que só “fica” o que significa, considerar essa classe sem força para o trabalho.
ora intacto, ora eminentemente alterado. A construção A memória como função social é descrita como
social da memória estaria ligada ao grupo onde se o vínculo com outra época, com a consciência de
trabalha em conjunto, pois tende a criação de esquemas ter vivenciado tantos desafios e conquistas que traz
coerentes da narração e interpretação das situações para o idoso a alegria, satisfação e oportunidade de
ocorridas, verdadeiros “universos do discurso e mostrar sua competência. Isto gera um sentimento de
significado,” que servirão de alicerce seguro quanto pertencimento, onde sua vida enche-se de valor a espera
à história e veracidade dos acontecimentos. Bartlett de ouvidos atentos às suas narrativas. O diálogo com o
apresenta a distinção entre matéria de recordação (o que idoso é uma experiência profunda, repleta de nostalgia
se lembra) e o modo da recordação (como se lembra). A que traz suas lembranças, sejam elas de sentimentos,
matéria estaria relacionada ao interesse social que o fato emoções, situações e pessoas que enriquecem aquele
lembrado tem para o sujeito, já o modo estaria ligado à que ouve, oportunizando a recuperação de um tempo,
psicologia da personalidade (temperamento e caráter). que outrora fora tão significativo para o sujeito “velho”
Nesse particular, a teoria de Halbwachs estudioso dos que lembra.
níveis sociais de memória, se opõe por ater-se somente Na era digital, onde a tecnologia está tão presente
as relações vividas pelo sujeito. no cotidiano das pessoas, percebe-se a escassez da arte
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de trocar experiências e de ouvir histórias, onde nessa justificação de toda uma biografia.
era da informação imediata, a busca pela sabedoria é As narrativas do livro contribuem de forma
substituída pela mera opinião, muitas vezes superficial e significativa para a valorização das lembranças dos
sem reflexão. Portanto, ouvir uma narração que não está “velhos”, na história individual de cada sujeito, onde
centrada nos livros, mas centrada na experiência pessoal favorece a aprendizagem daquele que ouve e contribui
do indivíduo, ocasiona em experiência transformadora para uma melhor compreensão do tempo e dos
para aquele que ouve. ensinamentos trazidos pelas experiências vivenciadas e
No capítulo 3 intitulado Lembranças, a autora compartilhadas, permitindo assim que esses indivíduos
transcreve o resultado de suas entrevistas com os oito cumpram sua função social na sociedade a qual estão
sujeitos entrevistados. Retrata a biografia individual de inseridos.
cada entrevistado, onde cada qual expõe suas vivências
pessoais e profissionais. Histórias singulares de Referência
memórias de trabalho, recordações de infância, festejos,
hábitos simples na cidade de São Paulo, acontecimentos, BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. 14.ed. São
perdas, tristezas, alegrias, paisagens, pontos históricos, Paulo: Companhia das Letras , 2007.
dentre outros.
No capítulo 4 intitulado A Substância Social da
Memória, a autora apresenta uma análise dos resultados
embasados nas teorias citadas no princípio desta
resenha.
Muitas recordações absorvidas não são nossas,
mas relatadas por nossos familiares e futuramente
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