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8.1. Introdução
A carga térmica de refrigeração ou potência frigorífica é o calor, por unidade de tempo, que
deve ser extraído do ambiente refrigerado para manter neste local a temperatura desejada, de acordo
com as condições estabelecidas no projeto. Esta carga térmica depende, em geral, de muitos fatores
como, por exemplo, os externos (ganho de calor pelas paredes e pelo ar de infiltração) e internos
(calor que é gerado no interior do espaço refrigerado). De uma forma geral, a carga térmica de
refrigeração pode ser dividida em:
&
i. Carga pelo produto (a ser resfriado ou congelado), Qh
&
ii. Carga por infiltração (do ar externo), Qa
&
iii. Carga por transmissão (de calor pelas paredes, tetos, pisos e portas), Qp
iv. Carga por respiração (dos produtos vegetais), Qr&
v. Carga por dissipação do equipamento, Qv &
vi. Cargas por iluminação, Qi&
vii. Carga por ocupação, Qo&
&
viii. Carga devido a outros motores, Qm
A seguir, faz-se uma descrição destas cargas e a forma de cálculo das mesmas. A importância
de cada uma na carga térmica total dependerá, fundamentalmente, da finalidade do sistema em
análise. Por exemplo: nas câmaras de processamento, o principal fator é o produto. Nas câmaras de
estocagem de produtos resfriados ou congelados, o mais importante passa a ser a infiltração do ar
externo, principalmente nas câmaras pequenas e de alta rotação do produto.
Uma das metodologias de cálculo de carga térmica mais empregada é a da ASHRAE1, a qual
foi utilizada para esse capítulo.
&
8.2. Carga pelo produto, Qh
A carga térmica devido ao produto, trazido ou mantido no espaço refrigerado, pode ser
dividida em duas partes: (i) o calor que necessita ser removido para reduzir a temperatura do produto
até a temperatura de estocagem e (ii) o calor gerado pelo produto armazenado, principalmente frutas
e vegetais. Esse item trata da carga térmica do produto em função de sua diferença de temperatura.
A quantidade de calor que necessita ser removida pode ser calculada conhecendo-se as
características do produto, incluindo condição de entrada e condição final, massa, calor específico
acima e abaixo da temperatura de congelamento e calor latente.
Quando se resfria um produto de um estado e temperatura para outro estado e temperatura, as
seguintes equações se aplicam:
a) Calor removido para resfriar um produto desde sua temperatura inicial até uma temperatura menor,
acima do ponto de congelamento:
1
ASHRAE Refrigeration, 2002, capítulo 12.
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 2
Q1 = mc1 (t 1 − t 2 ) (8.1)
b) Calor removido para resfriar um produto desde sua temperatura inicial até sua temperatura de
congelamento:
Q3 = mhc (8.3)
d) Calor removido para resfriar o produto desde sua temperatura de congelamento até uma
temperatura final abaixo desta:
Q4 = mc 2 (t c − t 3 ) (8.4)
O calor total a ser removido será a soma de cada um destes fatores, isto é:
Qh = (Q1 ou Q2 ) + Q3 + Q4 (8.5)
Nas Eq. (8.1) a (8.5), tem-se que: Q1, Q2, Q3 e Q4 é o calor removido, em kJ; m a massa do
produto em circulação (rotação diária do produto), em kg; c1 o calor específico do produto, acima do
ponto de congelamento, em kJ/kg°C; t1 a temperatura inicial do produto acima do ponto de
congelamento, °C; t2 a temperatura inferior do produto acima do ponto de congelamento, °C; tc a
temperatura de congelamento do produto, °C; hc o calor latente de solidificação do produto, kJ/kg; c2
o calor específico do produto abaixo do ponto de congelamento, kJ/kg°C e t3 a temperatura final do
produto abaixo do ponto de congelamento, em °C;
Para entender as equações anteriores, pode-se recorrer o uso da Fig. 8.1.
Calor sensível
Calor latente
t1
t2 Calor sensível
tc
tf
τ
Figura 8.1. Descrição dos processos de resfriamento de um produto, desde sua temperatura inicial até
a temperatura final.
multiplicando-se o conteúdo percentual de água do produto (expressado como decimal) pelo calor
latente de solidificação da água, que é igual a 334 kJ/kg.
A maioria dos produtos congela entre -3 °C e -0,5 °C. Quando a temperatura exata de
congelamento não é conhecida, pode-se assumir um valor igual a -2,0 °C.
No cálculo da carga térmica pelo produto visto anteriormente, não foi incluída a carga térmica
devido à embalagem que o mesmo poderia ter. Quando pallets, caixas ou outro tipo de embalagem
utilizada representar parte significativa da massa total introduzida no espaço refrigerado, essa carga
também deve ser calculada. O calor removido para resfriar a embalagem, Q5 é dado pela Eq. (8.6):
Q5 = me ce (te − ti ) (8.6)
onde me é a massa da embalagem (caixas, containers, pallets, latas, etc), em kg; ce é o calor
específico do material da embalagem, em kJ/kg, obtido da Tabela A8.2; te é a temperatura de entrada
da embalagem no recinto refrigerado, em °C e ti é a temperatura no interior do recinto refrigerado,
em °C.
Nesse caso, o calor total a ser removido do produto será:
Qh = (Q1 ou Q2 ) + Q3 + Q4 + Q5 (8.7)
A carga térmica pelo produto, Qh & , isto é, a capacidade exigida do sistema para trazer a
temperatura inicial do produto até sua temperatura final, é calculada em função do tempo τ exigido
para que isto ocorra, isto é:
& = Qh
Qh (8.8)
3600τ
onde τ é o tempo (de processo), em horas. Este tempo de processamento não é um valor arbitrário.
Depende da capacidade do produto em trocar calor com o ar da câmara, a qual é função de vários
fatores, entre eles as dimensões do produto, sua composição química, sua embalagem, velocidade do
ar sobre o produto, etc.
&
8.3. Carga por respiração, Qr
O calor desprendido é chamado de calor de respiração e deve ser considerado como uma parte
da carga do produto onde quantidades consideráveis de frutas e/ou vegetais são mantidas em
armazenamento a temperaturas acima da temperatura de congelamento. Este calor de respiração varia
de produto a produto e também com a temperatura; quanto menor for a temperatura, menor será o
calor devido à respiração. A taxa de calor de respiração pode então ser calculada como:
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 4
Q& r = m p Cr (8.9)
&
8.4. Carga térmica por transmissão, Qt
O ganho de calor sensível através de paredes, forro e piso varia com o tipo e espessura do
isolamento, área externa da parede e diferença de temperatura entre espaço refrigerado e ar ambiente.
A determinação da diferença entre as temperaturas externa e interna é determina em função das
condições do ar ambiente e do interior da câmara. A taxa de calor transmitida para o espaço
refrigerado pode ser calculada como:
onde Qt& é a taxa de calor transmitida para o espaço refrigerado, em W, A é a área da parede, forro ou
piso, transversal ao fluxo de calor, em m2, Te é a temperatura externa, em ºC e Ti a temperatura
interna, também em ºC. Na Tab. A8.3 são apresentadas as temperaturas externas de projeto para
algumas cidades do Brasil.
O coeficiente global de transferência de calor U da parede, forro ou piso, pode ser calculado
pela Eq. 8.11:
1
U= (8.11)
1 x 1
+ +
hi k ho
sendo u a velocidade do ar junto a superfície, em m/s. Para condições internas, costuma-se considerar
a velocidade nula.
Para paredes espessas e de material de baixa condutividade, a resistência térmica dada por x/k
é predominante, além de tornar o valor de U muito pequeno. Dessa forma, tanto 1/ho quanto 1/hi tem
pouco efeito no cálculo podendo ser omitidos. Como muitas vezes as paredes dos espaços
refrigerados são construídas de várias camadas de diferentes materiais, o valor de x/k representa a
resistência composta dos materiais. Para essa situação, a Eq. (8.11) pode ser reescrita como:
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 5
1
U= (8.13)
x1 x x
+ 2 + 3
k1 k 2 k3
Espuma rígida de poliestireno, desenvolvida pela Dow Química. Obtida por um processo
contínuo de extrusão, possibilitando controle mais preciso das propriedades térmicas e mecânicas da
espuma.
As placas possuem coloração azul e estrutura celular homogênea. Apresentam ótima
resistência à penetração de água e do vapor d’água, além de alta resistência à compressão e baixa
condutividade térmica tornam o produto muito utilizado como isolante em pisos e paredes de
câmaras frigoríficas ou como núcleo de painéis pré-fabricados.
São classificadas em dois tipos:
- Styrofoam RM: placas de espessuras de 25 ou 50 mm, 600 mm de largura e 1250 mm de
comprimento. Condutividade térmica entre 0,027 a 0,030 W/mK, resistência à compressão de 280
kPa (2,8 kgf/cm2) e absorção de água de 1,2% em relação ao volume.
- Styrofoam IB: apresenta uma superfície áspera, ideal para aplicação com cimentos e
adesivos. Espessura de 50 mm e largura e comprimento idêntico ao anterior. Condutividade térmica
entre 0,033 e 0,035 W/mK, resistência à compressão de 250 kPa (2,5 kgf/cm2) e absorção de água de
1,5% em relação ao volume.
A máxima temperatura recomendada é de 75°C para operação continua. Não pode ter contato
com solventes nem ser exposta à luz do sol, pois pode haver degradação da estrutura celular, além de
ser um material combustível.
Apresenta boas características físicas tais como baixa condutividade térmica, em torno a
0,026 W/mK, boa resistência à compressão, baixa massa específica, alto percentual de células
fechadas e elevada estabilidade dimensional a baixas temperaturas.
Este tipo de isolante, devido as suas ótimas características, pode ser empregado para
temperaturas deste -200 °C até +100 °C. Outra grande vantagem apresentada pelo poliuretano é que
pode ser expandido no local da obra. Como inconvenientes, apresenta: diminuição da capacidade de
isolamento com o tempo em função da difusão dos vapores dos gases utilizados na expansão e
também a possibilidade de liquefação destes gases a baixas temperaturas.
Se as paredes da sala refrigerada estiverem expostas aos raios de sol, haverá necessidade de
acrescentar uma carga térmica adicional. Para fins práticos, a temperatura pode ser ajustada para
compensar os efeitos da insolação, através da adição de um fator de compensação ao valor da
temperatura externa na Eq.(8.10). A Eq. (8.14) explicita essa correção:
Os valores para esse fator de compensação podem ser encontrados na Tabela 8.3 e aplicam-se
para períodos de 24 horas. Estes valores são função da cor e orientação da parede.
Tabela 8.3. Correção da temperatura externa, Fc, em graus Celsius, para compensar os efeitos da
exposição solar.
Orientação da parede
Tipo de superfície Leste Norte Oeste Teto
Escuras 5 3 5 11
Médias 4 3 4 9
Claras 3 2 3 5
Tabela 8.4. Mínima espessura de isolamento para câmaras frigoríficas em função da temperatura.
Temperatura Espessura, mm
da câmara, °C
4 a 16 50
-9 a 4 75
-26 a -9 100
-40 a -26 125
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 9
&
8.5. Carga térmica por infiltração de ar, Qa
O ganho de calor devido à infiltração de ar externo pode contribuir com uma parcela
significativa da carga térmica total de refrigeração. Este fator é função do ar externo que se infiltra
cada vez que as portas do ambiente refrigerado são abertas. Ocorre principalmente devido às
diferenças de densidade entre o ar externo e o ar interno, conforme mostrado na Fig. 8.4.
O ganho de calor através de portas, em kW, devido às trocas de ar é dado pela Eq. 8.15.
onde q é a carga térmica sensível e latente para fluxo completamente estabelecido, em kW; Dt é a
fração de tempo de abertura das portas; Df é fator de fluxo da porta e E é a efetividade do sistema de
proteção da porta.
Figura 8.4. Fluxos de massas de ar quente e frio que ocorrem em portas típicas de câmaras
frigoríficas.
A carga térmica sensível e latente, q, em kW, pode ser calculada pela Eq. 8.16.
0 ,5
ρ
q = 0 ,221 A(hi − hr )ρ r 1 − i (gH )0 ,5 Fm (8.16)
ρr
1,5
2
Fm = (8.17)
1
1 + ρ r 3
ρ
i
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 10
h = ti + 1,0 (8.18)
353
ρ= (8.19)
Ti
(Pθ p + θ o )
Dt = (8.20)
3600θ d
onde P é o número de passagens pela porta; θp tempo entre abertura e fechamento da porta, em
segundos por passagem; θo tempo em que a porta permanece aberta, em seg. e θd é o tempo de
referência (24 h).
Tipicamente, o tempo θp varia entre 15 a 25 s por passagem. Portas de alta velocidade variam
entre 5 e 10 s.
O fator de fluxo da porta, Df, é a relação entre a troca de ar real e a troca de fluxo
completamente desenvolvido. O fluxo completamente desenvolvido ocorre somente quando a porta
fica aberta para uma grande sala ou para o exterior, não sendo impedido por obstruções (pilhas de
produto, etc.). Nessas condições o valor de Df = 1. Em condições normais, o valor de Df fica entre
0,7 e 0,8.
A efetividade E dos dispositivos de proteção da porta, tais como portas automáticas rápidas,
vestíbulos, cortinas plásticas em tiras e cortinas de ar ficam entre 0,7 a 0,95. Para portas sem nenhum
dispositivo de proteção, E=0. Na Tab. 8.5 são apresentados valores usuais para cada um desses
dispositivos de proteção.
Tabela 8.5. Valores de efetividade para alguns dispositivos de proteção de portas de ambientes
refrigerados.
Dispositivo Efetividade E
Cortina de ar vertical 0,79
Cortina de ar horizontal 0,76
Cortina de tiras de plástico 0,93
Cortina de ar + cortina de plástico 0,91
&
8.6. Carga por iluminação, Qi
Deve-se ao calor dissipado pelas fontes internas de iluminação e pode ser calculada pela Eq.
8.21.
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 11
onde Qi& é o calor dissipado pelas fontes de iluminação, em Watts; Wi é a taxa de iluminação, em
W/m ; Ap é a área do piso da câmara, m2 e Dto é fração de tempo (sobre um período de 24 horas) que
2
&
8.7. Carga por ocupação, Qo
onde Qo& é a carga por ocupação, em W; Np é o número de ocupantes do espaço refrigerado; Qeq é o
calor equivalente dos ocupantes, em W/pessoa e Dto a taxa de ocupação.
O calor equivalente pode ser calculado através da Eq. 8.23.
&
8.8. Carga devido a motores elétricos, menos os motores dos ventiladores, Qm
Esta carga deve-se ao trabalho de máquinas e motores no espaço refrigerado, exceção dos
motores dos ventiladores, considerados a parte. O cálculo pode ser realizado considerando-se os
fatores de calor equivalente de motores elétricos, de acordo com a Tab. A8.5.
Como pode ser visto nessa tabela, o local onde o calor e/ou o trabalho são dissipados devem
ser analisados. Para efeitos de cálculo, utiliza-se a Eq. 8.24.
&
8.9. Carga por dissipação dos motores dos ventiladores, Qv
Geralmente, um fator de segurança de 10% é aplicado à carga térmica calculada para levar em
consideração possíveis discrepâncias entre o critério de projeto e a operação real.
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 12
A carga térmica total é obtida somando-se todas as cargas parciais calculadas acrescidas do
fator de segurança. Esta carga calculada considera que o tempo de funcionamento da instalação
frigorífica seja de 24 horas.
Devido à necessidade de descongelamento do evaporador a intervalos freqüentes, não é
prático projetar o sistema de refrigeração de modo que o equipamento deva funcionar continuamente,
a fim de manejar a carga.
Desta forma, o tempo de funcionamento do sistema vai ser função do tipo de
descongelamento empregado. Por exemplo: quando for utilizado descongelamento natural, o tempo
de funcionamento permitido é aproximadamente 16 horas em cada período de 24 horas. Para os
sistemas que empregam uma fonte auxiliar de calor para realizar o descongelamento, o tempo de
funcionamento máximo passa para 18 a 20 horas. Desta forma, a carga térmica total, em unidade de
potência, é calculada pela Eq. 8.25.
Qt (
& = Qh
& + Qa
& + Qt
& + Qr
& + Qv
& + Qi
& + Qo & 24h
& + Qm
T
) (8.25)
(a) (b)
Figura 8.5. Perfil de carga térmica de instalações frigoríficas: (a) uma instalação típica, considerando
o regime de trabalho do compressor e (b) uma câmara de estocagem de maçã.
Na Figura 8.5. (b) observa-se que, para o caso de uma câmara de estocagem de maçã, durante
cerca de 50% de seu tempo, estará operando com capacidade total e durante 25%, estará parada.
Refrigeração Capítulo 8 Pág. 13
cp - calor específico;
ρ - massa específica;
k - condutividade térmica;
ε - emissividade (a temperatura ambiente);
Refrigeração Capítulo 7 Pág. 20
Tabela A8.4. Calor de evolução, Cr, para frutas e vegetais resfriados nas respectivas temperaturas de
estocagem.
A
Para usar quando tanto o trabalho útil quanto as perdas do motor são dissipadas dentro do espaço refrigerado (ex.:
motores de acionamento de ventiladores para a circulação de ar, etc.);
B
Para usar quando as perdas do motor forem dissipadas fora do espaço refrigerado e o trabalho útil for realizado dentro
deste espaço (ex.: bombas de circulação de salmoura, ventilador fora do espaço refrigerado circulando ar dentro deste
espaço, etc.);
C
Para usar quando as perdas do motor forem dissipadas dentro do espaço refrigerado enquanto o trabalho útil é realizado
fora deste espaço (ex.: motor do espaço refrigerado movendo uma bomba ou ventilador fora deste espaço);