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ANTIBIÓTICOS
Silvia Franco Andrade
Rogério Giuffrida
Márcio Garcia Ribeiro
QUADRO 3.1 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos, segundo sua estrutura química
Estrutura química Exemplos
QUADRO 3.2 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos, segundo seu mecanismo de
ação
Interferem no cromossomo Quinolonas, ácido nalidíxico, ácido pipemídico, novobiocina, griseofulvina. Sulfas,
QUADRO 3.3 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos, segundo seu espectro de ação
QUADRO 3.4 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos segundo a ação bactericida,
bacteriostática, fungicida ou fungistática
Ação Exemplos
Bactericida Penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosídeos, quinolonas, rifamicinas, polimixinas,
polipeptídeos.
Bacteriostática Cloranfenicol, tetraciclinas, macrolídeos, lincosaminas, sulfas, trimetoprim,
novobiocina.
Fungicida Anfotericina B, nistatina. Griseofulvina.
Fungistática
Pequeno Espectro - Atuam sobre um limitado O tempo mínimo, geralmente, de urna antibio-
grupo de microrganismos. Por exemplo: peni- ticoterapia varia em média de 5 a 7 dias, porém,
cilinas naturais (penicilina G cristalina, procaína, muitas patologias requerem uma duração diferen-
benzatina), penicilina V, estreptomicina, neomicina, ciada. Abaixo estão listadas algumas patologias com a
bacitracina, polimixina, espiramicina, oleando- sua duração média de antibioticoterapia:
micina, anfotericina B, nistatina, griseofulvina.
• Artrite séptica: 14 dias
Os principais efeitos tóxicos dos antibióticos estão • Brucelose: 30 dias
listados no quadro 3.5 e as contra-indicações do seu • Cistite recorrente: 15 a 30 dias
uso durante a gravidez e lactação estão descritas • Dermatofitose: 3 a 6 semanas
no quadro 3.6. • Doença inflamatória pélvica: 24 dias
QUADRO 3.5 - Principais efeitos tóxicos e reações adversas dos antibióticos e quimioterapicos antimicrobianos
Lactação
Antibióticos Utilizados com Cautela
Gravidez Sulfas (hemólise e kernicterus no recém-nascido), nitrofurantoína (hemólise). Quinolonas (erosão da sulfas
Lactação cartilagem articular em cães jovens), aminoglicosídeos (ototoxicidade) (hemólise).
ASSOCIAÇÃO DE AIMTIMICRÓBIANOS
parede celular +
sinergismo
membrana
citoplasmática
RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS
QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico
BOVINOS
QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
BOVINOS
Gram-negativos Cloranfenicol
Aminoglicosídeos
Pielonefrite Corynebacterium sp. Penicilina G Eritromicina
contagiosa Ampicilina Tetraciclina
bovina
Salmonelose Salmonella sp. Sulfa + Trimetoprim Cloranfenicol
Cefalosporinas Ampicilina
Aminoglicosídeos
Septicemia em Haemophilus somnus Penicilina G Tetraciclinas
bovinos Ampicilina
EQUINOS
(Continua)
20 Manual de Terapêutica Veterinária
QUADRO 3.8 - Antibíoticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
EQUINOS
SUtNOS
Quinolonas Eritromicina
Rinite atrófica suína Bordetella broncbiseptica Sulfa + Trimetoprim Penicilina G Tetraciclinas Tilosina
Pasteurella multocida Ampicilina Quinolona Cefalosporinas
(Continua)
Qutmioterápicos Antimicroblanos e Antibióticos 21
QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
CANINOS
Espiramicina Eritromicina
Cloranfenicol
Infecções urinárias Stapbylococcus sp. Escherichia Gentamicina Quinolonas Sulfa + Trimetoprim
coli Klebsiella pneumoniae Cefalosporinas Penicilinas
Pseudomonas aeruginosa Nitrofuranos
Minociclina
(Continua)
22 Manual de Terapêutica Veterinária
QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
CANINOS
Patologia Etiologia Droga 1 * Escolha Droga 2S Escolha
Cloranfenicol
Prostatíte E. coli Proteus Eritromicina Clindamicina Sulfa + Trimetoprim
Sulfadiazina
FELINOS
Patologia Etiologia Droga 1 ! Escolha Droga 2* Escolha
Eimeriose Eimeria sp. Sulfonamidas
Giardíase Giardia sp. MetronidaZol
Rifampicina
Toxoplasmose Toxoplasma gondii Clindamicina Pirimetamina + sulfonamida
Sulfadiazina
Quimioterápícos Antlmicrobianos e Antibióticos 23
QUIMIOTERÁPÍCOS ANTIMICROBIANOS
SULFONAMIDAS
QUADRO 3.9 - Principais formulações das sulfonamidas utilizadas em Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil
Princípio ativo Nome comercial Apresentação
NlTROIMIDAZÓIS
Orbifloxacina
Efeitos Adversos - Doses altas ou tratamentos 5 dias (giardíase); 10 mg/kg, VO, 8/8 horas
prolongados podem provocar neurotoxicidade (infecções anaeróbicas).
(nistagmo, ataxia, tremores). Não deve ser utilizado • Gatos: 22 a 25 mg/kg, VO, 12/12 horas durante 5
em animais gestantes, pois apresenta teratogeni- dias (giardíase); 10 a 25 mg/kg, 24/ 24 horas
cidade. O animal pode produzir urina de coloração (infecções anaeróbicas).
castanho-clara após a ingestão de metronidazol. • Ruminantes: 75 mg/kg, IV, a cada 12 horas/3
Usos Terapêuticos e Doses - O metronidazol é aplicações (tricomoníase).
utilizado no tratamento de infecções por bactérias • Equinos: 7,5 mg/kg, VO, 8/8 horas
anaeróbicas, tricomoníase. giardíase e amebía-se. É (giardíase); 15 a 25 mg/kg, IV, VO, 8/8 ou 12/12
utilizado em cães, gatos, ruminantes e equinos. horas (infecções anaeróbicas).
• Cães: 25 a 65 mg/kg, VO, 24/24 horas ou 22 a Apresentação - O quadro 3.12 descreve as
25 mg/kg, VO, 12/12 horas, durante principais apresentações de metronidazol.
ANTIBIÓTICOS
ANTIBIÓTICOS P-LACTÂMICOS
Penicilinas e Análogos
As penicilinas constituem um grupo de P-lactaminas com núcleo central composto pelo ácido 6-
aminopenicilânico, sendo obtidas a partir de culturas de fungos do género Penicillium. Pertencem a este
grupo as penicilinas naturais (pe-nicilina G, penicilina V), seus derivados semi-sintéticos
(isoxacilpenicilinas, aminopenicilinas e análogos, carboxipenicilinas, sulfobenzilpenici-linas e
ureidopenicilinas) e seus análogos (amidinopenicilinas).
Penicilinas Naturais
Características Gerais - A primeira penicilina obtida foi a penicilina G-cristalina ou benzil-penicilina.
Sequencialmente, a descoberta de variações naturais nos radicais da benzilpenicilina originaram as
penicilinas, F, K, O, X, e V, sendo estas últimas pouco utilizadas em Medicina Veterinária. A curta
duração do tempo de ação da penicilina G-cristalina levou ao desenvolvimento de ésteres de penicilina
com ação prolongada. Entre estes ésteres, são utilizados a penicilina G-procaína, que é obtida pela
associação da pro-caína à penicilina G e a penicilina benzatina, obtida pela associação da
NN'dibenziletileno-diamina à penicilina G. Estes ésteres são pouco solúveis em meios líquidos e
apresentam tempo de absorção e picos séricos maiores do que a penicilina G-cristalina.
Mecanismo de Ação - A penicilina G e seus ésteres são bactericidas. Elas provocam a lise os-mótica
celular ao se ligarem e inibirem as enzimas (transpeptidases de membrana) que sintetizam um
componente de parede celular bacte-riana denominado peptideoglicam. As proteínas em que as
penicilinas se ligam são denominadas proteínas fixadoras de penicilina (PPB).
Espectro de Ação - As penicilinas naturais são ativas contra bactérias Gram-positivas aeróbi-cas e
anaeróbicas, cocos Gram-negativos, espiro-quetas e actinomicetos. Os bacilos Gram-negativos aeróbicos
ou anaeróbicos, que ocorrem em animais, são naturalmente resistentes às penicilinas naturais.
Farmacocinética - A penicilinas naturais são instáveis em meios ácidos, sendo rapidamente inativadas
em pH 2 ou 8, o que impede sua administração via oral, com exceção da penicilina V. Entretanto, são
ativas em pH ligeiramente ácido, frequente nos processos inflamatórios. É desacon-selhável o uso de
penicilinas naturais por via tópica, pois podem provocar quadros de hipersensi-bilidade. Das penicilinas
naturais, apenas a benzilpenicilina pode ser administrada via intravenosa. A penicilina G-cristalina mantém
níveis séricos durante 4 horas, limitando seu uso isolado em Medicina Veterinária. A penicilina G-
procaína é utilizada somente por via intramuscular e mantém concentrações séricas por 12 a 24 horas. A
penicilina G-benzatina é utilizada somente por via intramuscular e mantém concentrações séricas por 2 a 7
dias, dependendo da dose. As penicilinas naturais se difundem bem em quase todos os tecidos corpóreos,
principalmente em presença de inflamação, na qual a permeabilidade vascular está aumentada. Não
penetram na próstata e olho, mesmo em presença de inflamação. A penicilina G não apresenta
concentrações intracelulares suficientes para combater germes nesta localização. Do total de penicilina G
administrada, 60% se liga às proteínas plasmáticas, sendo inativa nesta forma. No entanto, esta ligação é
reversível, e funciona como reservatório da mesma, carreando o fármaco para tecidos com exsudação rica
em proteínas. As penicilinas naturais são metabolizadas no fígado e excretadas por via renal.
Resistência Bacteriana - As penicilinas naturais são inativadas por enzimas denominadas p-lactamases.
Praticamente 100% das linhagens de Staphylococcus aureus e aproximadamente 80% das outras linhagens
de Staphylococcus são produtoras de P-lactamases. A maioria dos bacilos Gram-negativos,
principalmente os anaeróbicos, são naturalmente resistentes à penicilina G, com exceção do género
Pasteurella.
Quimioterápicos Antimicrobianos e Aníibióticos 29
Efeitos Adversos
• Penicilina G é capaz de causar paraefeitos irritativos e desencadear quadros de hi-persensibilidade
em animais previamente medicados com este fármaco.
• Distúrbios de coagulação foram registrados em humanos.
• A infusão rápida intravenosa pode causar distúrbios neurológicos e convulsões.
• A fenilbutazona e o ácido acetilsalicílico competem pêlos locais de ligação da peni-cilina,
aumentado a concentração sérica destes antibióticos.
• A benzilpenicilina é inativada em soluções contendo complexo B e vitamina C.
• Pacientes com insuficiência renal grave (IRA) devem ter o intervalo entre doses ajustado.
Usos Terapêuticos e Doses - As penicilinas naturais são indicadas no tratamento de infecções por
Streptococcus dos grupos A, B, C, D e G de Lancefield (adenite equina - S. equi, pneumonias - S.
pyogenes, S. agalactiae, S. bovis, ence-falite dos leitões - 5. suis), clostridioses gangre-nosas, infecções
por espiroquetas (Brachyspira, Leptospira, Borrelià), bacilos Gram-positivos como a Listeria
monocytogenes, Erysipelothrix rhusiopathiae e Bacillus anthracis, actinomice-tos do género
Arcanobacterium actinomyces e pasteureloses. O tempo de duração do tratamento varia de acordo com
a afecção envolvida.
• Bovinos, suínos, caprinos e ovinos:
- Penicilina G-benzatina: 20.000 a 40.000 Ul/kg, SC, IM, a cada 2 a 5 dias.
- Penicilina G-procaína: 20.000 a 40.000 UI/ kg, SC, IM, a cada 12 a 24 horas.
- Penicilina G-cristalina (benzilpenicilina): 20.000 a 40.000 Ul/kg, SC, IV, IM, a cada 6 horas.
• Cães e gatos:
- Penicilina G-benzatina: 24.000 Ul/kg, IM, a cada 48 horas.
- Penicilina G-cristalina: 20.000 a 40.000 Ul/kg, IV, IM, a cada 6 ou 8 horas.
-Penicilina G-procaína: 20.000 a 40.000 Ul/kg, a cada 12 ou 24 horas.
- Penicilina V: 10 mg/kg, VO, a cada 8 horas.
• Equinos:
- Penicilina G-benzatina: 20.000 a 40.000 Ul/kg, IM, SC, a cada 24 a 48 horas.
- Penicilina G-procaína: 20.000 a 40.000 UI/ kg, IM, SC, a cada 12 horas.
- Penicilina G-cristalina (benzilpenicilina): 20.000 a 40.000 Ul/kg, IM, SC, IV, a cada 4 horas.
Apresentação - O quadro 3.13 apresenta as principais formulações das penicilinas naturais utilizadas
em Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.
Penicilinas Semi-sintéticas
Isoxazolipenicilinas
Características Gerais - As isoxazolipeni-cilinas apresentam uma cadeia lateral isoxazolil no ácido
6-aminopenicilânico, o que confere a este grupo resistência a ação de algumas das P-lactamases.
Pertencem a este grupo a oxacili-na, cloxacilina, dicloxacilina e flocloxacilina.
Mecanismo de Ação - Agem de maneira semelhante às penicilinas naturais, tendo ação bactericida
ao inibir a síntese de parede celular.
Espectro de Ação - São ativas frente a Streptococcus do grupo A, B, C e G, Staphylococcus produtor ou
não de P-lactamases, Listeria e clostrídios. São especialmente sensíveis a baixas concentrações destas
drogas, germes do género Staphylococcus. Não atuam sobre Gram-negativos.
Farmacocinética - É um grupo de penicilinas, que apresentam estabilidade em pH ácido e pode ser
administradas por via oral ou parente-ral. Sua absorção via oral é influenciada por alimentos.
Distribuem-se amplamente nos tecidos corpóreos, mas não atravessam a barreira hemato-encefálica na
ausência de inflamação. Liga-se em 90 a 97% às proteínas plasmáticas e são eliminadas via renal e em
menor parte pela via biliar. Não sofrem acúmulo em pacientes com insuficiência renal.
Resistência Bacteriana - As isoxazolilpenici-linas não têm ação sobre bactérias Gram-nega-tivas,
aeróbicas ou anaeróbicas, pois não penetram em sua parede celular. Os Staphylococcus resistentes a
oxacilina possuem resistência cruzada com a meticilina, sendo denominados de Staphylococcus
meticilina-resistentes. Este grupo de Staphylococcus é caracterizado por apresentar múltipla resistência a
diversos antimicrobianos.
30 Manual de Terapêutica Veterinária QUADRO 3.13 - Principais apresentações das penicilinas naturais
Princípio ativo Nome comercial Apresentação
Sol. injetável (cada frasco-ampola): pen. G-proc. - 3.750.000 UI, pen. G-
Penicilinas
pot. - 1.250.000 UI, estreptomicina - 2.000 mg.
naturais Agrodel®(
associadas (com Sol. injetável (cada 100 ml): pen.G-proc., - 10.000.000 UI pen. G-benz. -
ou sem 10.000.000 UI diidroestreptomicina - 20.000 mg. Frasco-ampola de 20 e
estreptomiclna) ) Agropen L.A.®(V) 50 ml.
Pentacilin®(v)Septipen®(v) Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-sód. - 500.000 UI, pen. G-proc.
- 2.500.000 UI, diidroestreptomicina - 3.000 mg + tripsina e
quimiotripsina.
Spectrocilin®(v) Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-benz. - 3.000.000 UI, pen. G-pot. -
1.500.000 UI, pen.G-proc. - 1.500.000 UI, estreptomicina
- 2.000 mg.
Penicilina Potencilin*(v)
Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-pot. - 2.500.000 UI, pen. G-
benz. - 2.500.000 UI, estreptomicina - 2.000 mg.
Penicilina G- Prontocilin®(v)
procaína + Sol. Injetável (cada 100 ml): pen.G - proc. 25.000.000 - frasco-ampola de 20 e
estreptomicina 50 ml.
Penicilina Benzatina®,,. Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-proc. Sol. Injetável (cada
frasco-ampola): pen.G-proc. - frascos de 20 e 50 ml.
Benzilpenicilina Benzilpenicilina
(G-potássica) G-potássica*(H) Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-benz. - 3.000.000 UI.
de diluente estéril.
Ampicil«(H) estreptomicina.
oral (cefixima, cefetamet pivoxil). As cefalospo-rinas de quarta geração apresentam maior potência que as
anteriores, frente a bacilos Gram-negativos, porém são menos potentes frente a gram-positivos (cefpiroma,
cefepima).
Mecanismo de Ação - À semelhança das penicilinas, as cefalosporinas inibem enzimas transpeptidases de
membrana que sintetizam os peptideoglicans da parede celular bacteriana, levando-as a lise osmótica.
Espectro de Ação - Todas as cefalosporinas apresentam boa ação frente à maioria das bactérias Gram-
positivas e Gram-negativas. Cefalosporinas de geração mais recente são mais ativas frente a bacilos Gram-
negativos, porém são menos ativas frente a Gram-positivos. Pseudomonas são resistentes às duas primeiras
gerações.
Farmacocinética - Algumas cefalosporinas podem ser absorvidas via oral, enquanto outras só podem ser
administradas via parenteral. Distribuem-se bem em todos os tecidos, mas especialmente as de primeira e
segunda gerações atingem boas concentrações em pele e tecido subcutâneo. Em geral, atravessam mal a
barreira hematoencefálica. A maioria é excretada sob forma ativa na urina e algumas pela via biliar
(cefoperazona). A cefalotina é inativada pelo Ringer lactato.
Resistência Bacteriana - Apenas as cefalosporinas de terceira geração são ativas frente Pseudomonas.
Apesar de serem mais potentes frente às bactérias Gram-negativas, as cefalosporinas mais recentes são menos
potentes frente a Staphylococcus. São drogas menos suscetíveis as (3-lactamases que as penicilinas.
Efeitos Adversos
• A maioria das cefalosporinas é bem tolerada, ocorrendo, em geral, casos de flebite, alergia e distúrbios de
coagulação.
• Discrasias sanguíneas, causadas por mie-lotoxicidade em animais tratados por longos períodos, já foram
registradas.
• As cefalosporinas causam nefrotoxicidade quando utilizadas por períodos prolongados em seres humanos.
A cefaloridina, em especial, é considerada nefrotóxica para seres humanos.
• Sendo a excreção dessas drogas efetuada por via renal, as cefalosporinas sofrem acú-mulo em pacientes com
insuficiência renal. A cefoperazona é contra-indicada em pacientes com insuficiência hepática.
• Podem ocorrer reações de hipersensibili-dade cruzada com as penicilinas.
Usos Terapêuticos e Doses - As cefalosporinas estão indicadas em todos os processos infecciosos
causados por germes sensíveis a elas. Podem ser utilizadas em infecções renais, respiratórias, genitais, de
tecidos moles e osteoar-ticulares. O tempo de duração do tratamento varia em função da afecção. As
cefalosporinas de primeira geração são as mais utilizadas em Medicina Veterinária. A cefalexina está
indicada principalmente em casos de piodermites, dada a boa ação frente a Staphylococcus e boa difusão
em tecidos queratinizados. As cefalosporinas de uso exclusivo parenteral têm sido utilizadas na profilaxia de
infecções pós-cirúrgicas. O ceftiofur está indicado nos casos de pneumonias em animais de produção. O
custo é um fator limitante à utilização dessas drogas em Medicina Veterinária.
• Cães e gatos:
- Cefaclor: 4 a 20 mg/kg, VO, a cada 8 horas.
- Cefadroxil: 22 a 30 mg/kg, VO, a cada 12 horas para cães e 22 mg/kg, VO, a cada 24 horas para gatos.
- Cefalexina: 10 a 30 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada 12 horas.
- Cefalotina: 10 a 30 mg/kg, IV, IM, a cada 4 ou 8 horas.
- Cefazolina: 20 a 35 mg/kg, IV, IM, a cada 8 horas.
- Cefepima: 50 mg/kg, IV, IM, a cada 8 horas.
- Cefixima (cães): 10 mg/kg, VO, a cada 12 horas.
- Cefoperazona: 22 mg/kg, IV, IM, a cada 8 ou 12 horas.
- Cefotaxima: 50 mg/kg, SC, IM, IV, a cada 12 horas para cães e 20 a 80 mg/kg, IV, IM, a cada 6 horas.
- Cefoxitina: 30 mg/kg, IV, a cada 6 ou 8 horas.
- Ceftazidima: 30 mg/kg, IV, IM, a cada 6 horas.
- Ceftiofur: 2,2 a 4,4 mg/kg, SC, a cada 24 horas.
Quimioterápicos Antimicrobianos e Antibióticos 3 5
Imipenem Tienam®,, Frasco para infusão venosa com 500 mg de imipenem + 500
mg de cilastatina - caixa com l frasco para infusão.
Aztrconsun Azactam*,
Sol. injetável (frasco-ampola): 0,5 a l g.
Quimioteíápicos Antimicmblanos e Antibióticos 37
Aminoglicosídeos
Características Gerais - Os aminoglicosídeos são antibióticos bactericidas extraídos de actinomicetos
do grupo Streptomyces. São estruturas químicas complexas, porém pequenas, derivadas de açúcares e um
grupo amino. Não agem em pH ácido e são transportados para o interior das células através de
mecanismos ativos, dependentes de oxigénio, o que torna este grupo ineficaz contra anaeróbios.
Pertencem a este grupo a gentamicina, neomicina, amicacina, tobramici-na, estreptomicina,
diidroestreptomicina, netilmi-cina e framicetina.
Farmacocinética - Os aminoglicosídeos não são absorvidos por via oral, sendo mais utilizados por
via intramuscular ou subcutânea. A neomicina foi utilizada por via oral para tratamento local de
infecções entéricas, porém sua eficácia não foi comprovada. São antibióticos catiônicos e pouco
lipossolúveis, atravessando mal as barreiras biológicas. A estreptomicina é a única que atinge boas
concentrações em secreção brônquica. São eliminadas por via renal sob a forma ativa.
cam a absorção. Sua distribuição é ampla e inclui todos os tecidos, exceto do SNC. A doxici-clina é
mais lipossolúvel que a tetraciclina, clor-tetraciclina e oxitetraciclina, por isso penetra no SNC, olho e
próstata em concentrações terapêuticas.
Resistência Bacteriana - Pode ser plas-mídeo-mediada e usualmente envolve diminuição do acúmulo
da tetraciclina em consequência do declíneo do influxo do antibiótico ou da aquisição de um caminho de
efluxo dependente de energia, ou da diminuição do acesso das tetraci-clinas ao ribossomo devido à
presença de proteínas que protegem o ribossomo, ou ainda da inativação enzimática das tetraciclinas.
Efeitos Adversos
• Nefrotoxicidade: São potencialmente nefro-tóxicas (com exceção da doxiciclina), por isso devem ser
evitadas em pacientes com função renal alterada. Devem ser evitadas em associação com anestesia
inalatória com metoxiflurano, devido à possibilidade de indução de insuficiência renal aguda.
• Hepatotoxicidade: Por degeneração paren-quimatosa.
• Fototoxicidade.
• Necrose tecidual.
• Descoloração dentária e inibição da calcificação afetando estrutura óssea.
• Supra-infecções: Quando se utiliza um antibiótico de amplo espectro, sempre existe a possibilidade de
ocorrer superinfecções por patógenos não suscetíveis, como fungos, leveduras e bactérias resistentes.
• Diarreia grave: Quando utilizada por via oral em ruminantes por destruição da microflora bacteriana; e em
equinos pela destruição da microflora do cólon, podendo ser fatal nesta espécie, caso o animal esteja
muito debilitado ou estressado.
Usos Terapêuticos e Doses - São utilizadas em tratamento de doenças do trato respiratório, urinário,
gastrentérico, e doenças oftálmicas bac-terianas dos animais domésticos. Doenças específicas incluem
anaplasmose (Anaplasma sp.), Actinobacilose (Actinobacillus lignieresii), Acti-nomicose (Actinomyces
bovis), borreliose (Borre-lia burgdorferi - doença de Lyme), brucelose (Brucella sp.), ceratoconjuntivite
infecciosa bovina (Moraxella botns), hemobartonelose (Haemobartonella sp.), doenças por Chlamydia
eMyco-plama, e erliquiose (Ehrlichia sp.).
• Cães e gatos:
- Doxiciclina: 5 nig/kg, VO, 12/12 horas (cães); 2,5 a 5 mg/kg, VO, 12/12 horas (gatos).
- Minociclina: 5 a 15 mg/kg, VO, 12/12 horas
- Oxitetraciclina: 7,5 a 12 mg/kg, IV, IM,
12/12 horas; 20 a 22 mg/kg, VO, 8/8 ho
ras (cães e gatos); 25 mg/kg, VO, 8/8
horas (gatos - hemobartonela). \
- Tetraciclina: 22 mg/kg, 8/8 horas VO; 25 a 50 mg/kg, VO, 6/6 ou 8/8 horas; 7 a 10 mg/kg, IM, IV,
12/12 horas.
• Equinos:
- Doxiciclina: 10 mg/kg, VO, 12/12 horas
- Oxitetraciclina: 3 a 6,6 mg/kg, IV, IM 12/ 12 ou 24/24 horas.
- Tetraciclinas: 5 a 10 mg/kg, IV, IM 12/12 ou 24/24 horas.
• Ruminantes:
- Oxitetraciclina: 6 a 11 mg/kg, IV, IM, 12/ 12 ou 24/24 horas.
- Tetraciclinas: 5 a 10 mg/kg, IV, IM, 12/12 ou 24/24 horas.
• Suínos:
- Oxitetraciclina: 3 a 6,6 mg/kg, IV, IM, 12/12 ou 24/24 horas; 10 a 30 mg/kg, VO, 12/12 horas.
- Tetraciclinas: 5 a 10 mg/kg, IV, IM, 12/12 ou 24/24 horas.
Apresentação - O quadro 3.20 descreve as principais apresentações das tetraciclinas.
germes Gram-positivos e Gram-negativos. Este grupo de fármacos é potente frente a infecções pulmonares
por Bordetella bronchiseptica em cães, e infecções do sistema nervoso central em animais, dada a
lipossolubilidade da droga. O cloranfenicol é uma alternativa à tetraciclina para o tratamento da
erliquiose canina. O cloranfenicol tem sua potência multiplicada pela utilização conjunta com o
dimetilsulfóxido. O florfenicol é indicado nos casos de pneumonias em grandes animais. • Cães e gatos:
- Cloranfenicol (palmitato e estearato): 40 a 50 mg/kg, VO, a cada 8 horas para cães e 12,5 mg/kg, VO, a
cada 12 horas para gatos.
- Cloranfenicol (succinato): 30 a 50 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada horas 12,5 mg/kg, VO, a cada 12 horas
para gatos;
- Florfenicol: 25 a 50 mg/kg, IM, SC, 8/8 ou
12/12 horas (toxicidade não avaliada). • Bovinos, equinos, suínos:
- Cloranfenicol (succinato): 30 a 50 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada 6 ou 8 horas.
- Florfenicol: 20 mg/kg, IM, a cada 24 horas.
Apresentação - O quadro 3-21 apresenta as principais formulações do cloranfenicol e seus derivados
utilizadas em Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.
QUADRO 3.21 - Principais apresentações de cloranfenicol e seus derivados
Princípio ativo Nome comercial Apresentação
Cloranfenicol Cloranthal®(v) Sol. injetáveí (frasco-ampola): 10 g/ 100 ml - frascos de 50 ml.
Succinato Fenicetina Sol. injetáveí (frasco-ampola): 10 g/ 100 ml - frasco de 20 ml.
injetável*(v).
Polispray»(v) Spray: 5 g - frasco de 250 ml.
Quemicetina Sal. ínjetável (frasco-ampola): 3 g/20 ml — frasco de 20 mL
injetável*(V)
Quintumicetina Sol. injetáveí (frasco-ampola): 15 g/100 ml - frascos de 20, 50 e
ínjetável«(v) 100 ml.
Quintumicetina Xarope: 5,25 g/100 ml - frasco de 20, 5O, lOOt 200, 500 e 1.000 nd.
onü«(V)
Quintumicetina Solução oral: 10 g/100 ml - frascos de 20, 50, 100, 200, 500 e
solúvel»(v) 1.000 ml.
Sivamclor*(v> Sol. injetáveí a 10% (frasco-ampola): frasco de 50 ml.
Soluthor»(v) Solução oral a 10%: frascos de 1.000 ml.
Trigenthal<% Pasta com 6 g/1.000 g - seringas autodosadoras de 40 g.
Quemicetina Xarope com 150 mg/5 ml - frasco com 100 ml.
xarope®(H)
Quemicetina'*^., Drágeas de 250 e 500 mg - caixa com W ou 10O drâgeas.
Cloranfenicol Cloranfenicol Blistercom 12, 20 e 100 cáps. de 250 mg; blister com 29 e 100
Estearato Royton*(H) cáps. de 500 mg.
Cloranfenicol Caixa com 20 e 100 comps. de 250 mg; caixa com 20 cáps. de
Sanval®(H) frasco com 60 ml de suspensão com 125 mg/5 ml.
Cloranfenicol Cloranfenicol Frasco com 60 ml de suspensão com 160 mg/5 ml; caixa com 20
Palmitato Prodotti»(H) e 100 drágeas de 250 mg.
Suspensão de Vidro com 60 ml com 250 mg/5 ml.
Cloranfenicol a
250 mg
(Brasmédica)
Florfenicol Nuflor»(v) Sol. injetáveí (frasco-ampola): 0,3 g/ml - frasco de 30 ml.
Tianfenicol GlitisoP(H) Cápsulas de 500 mg, caixa com 20 cáps.
Envelope com 2,5 g, caixa com 2 envelopes.
42 Manual de Terapêutica Veterinária
Macrolídeos
Características Gerais - São antibióticos constituídos por um núcleo central macrocíclico unido à
cetonas e aminoaçúcares. São antibióticos produzidos por actinomicetos do grupo Streptomyces.
Pertencem a este grupo a eritromi-cina, espiramicina, josamicina, roxitromicina, cla-ritromicina,
azitromicina e tilosina.
Mecanismo de Ação - O macrolídeos se ligam à fração 50S do ribossomo bacteriano, impedindo a
síntese proteica. Outros antibióticos que competem pelo mesmo local de ligação (clo-ranfenicol,
lincosamidas, clindamicina) não devem ser utilizados em associação com essas drogas. São antibióticos
bacteriostáticos.
Espectro de Ação - Atuam sobre bacilos e cocos Gram-positivos, cocos Gram-negativos,
treponemas, alguns bacilos Gram-negativos não-fermentadores da glicose, actinomicetos, ri-quétsias,
clamídias, micoplasmas, anaeróbicos e Campylobacter. A claritromicina e azitromicina são menos ativas
que a eritromicina contra Gram-positivos, porém mais ativas frente a anaeróbios e Gram-negativos.
Farmacocinética - A absorção oral da eritromicina e tilosina, ao contrário da espiramicina e
claritromicina sofre interferência com a presença de alimentos e do pH ácido estomacal, que as
inativam, devendo ser utilizadas na forma de cápsulas ou na forma de estolato de eritromicina.
Difundem bem por todos os tecidos corpóreos, pois são muito lipossolúveis, mas não atingem
concentrações terapêuticas em ouvido médio e SNC. Todos os macrolídeos penetram muito bem no
meio intracelular. A eritromicina e azitromicina são eliminadas, na maior parte, pela via biliar e
excretadas na forma ativa com as fezes. A claritromicina é eliminada por via renal. A espiramicina, em
particular, atinge boas concentrações na saliva. A eritromicina não apresenta boas concentrações na
urina.
Resistência Bacteriana - A maioria dos bacilos Gram-negativa é naturalmente resistente aos macrolídeos.
Atualmente, os grupos dos Strepto-coccus e Staphylococcus vêm desenvolvendo elevada resistência frente
aos macrolídeos.
Efeitos Adversos - Os macrolídeos são hepatotóxicos em doses elevadas e/ou prolongadas. O uso
prolongado em equinos pode levar ao desequilíbrio da microbiota entérica com manifestação de
processos diarréicos, predispondo a infecções por Salmonella;
• Pela elevada excreção via biliar e eliminação fecal, os sinais mais comuns são distúrbios do trato
digestivo. Em humanos, têm sido relatadas icterícia colestática, insuficiência renal e ototoxicidade.
• São irritativas quando aplicadas por via parenteral.
Usos Terapêuticos e Doses - Os macrolídeos estão indicados no tratamento de todos os germes
sensíveis. São especialmente utilizados na terapia das campilobacterioses entéricas, piodermites
caninas, micoplasmoses e clami-dioses e, em particular, a espiramicina no tratamento de infecções
bucais e a claritromicina nas helicobacterioses. A tilosina é efetiva na terapêutica de pneumonias e
gastrenterites de animais pecuários.
• Cães e gatos:
-Azitromicina: 10 mg/kg, VO, a cada 5 dias ou 3,3 mg/kg, a cada 24 horas, por 3 dias.
- Claritrocina: 5 a 10 mg/kg, VO, a cada 12 horas.
- Eritromicina: 10 a 20 mg/kg, VO, a cada 8 ou 12 horas.
- Espiramicina: 23,4 mg/kg, VO, a cada 24 horas.
- Roxitromicina (cães): 15 mg/kg, VO, a cada 24 horas.
- Tilosina: 10 a 40 mg/kg, IM, a cada 8 ou 24 horas.
• Equinos:
- Eritromicina: 25 mg/kg, VO, a cada 6 horas.
• Bovinos:
- Tilosina: 5 a 10 mg/kg, IM, a cada 12 ou 24 horas.
• Suínos:
- Tilosina: 5 a 10 mg/kg, IM, a cada 12 ou 24 horas.
- Espiramicina: 24 mg/kg - 100 g/t de ração.
Apresentação - O quadro 3.22 apresenta as principais formulações dos macrolídeos utilizadas em
Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.
Lincomicina Frademicina,,
Cápsulas de 500 mg - caixa com 12. Xarope 250
mg/ml - frasco de 60 ml. Ampola de l ml com 300
mg/ml. Ampola de 2 ml com 300 mg/ml.
Lincomicina Cápsulas de 250 mg - caixa com 8.
Royton(H) Cápsulas de 500 mg - caixa com 8.
Xarope 250 mg/ml - frasco de 60 ml.
Ampola de l ml/300 mg.
Ampola de 2 ml/600 mg.
Ampola de 3,3 ml/1 g.
Cápsulas de 500 mg - caixa com 12.
Linco-Plus,,
Ampola de l ml/300 mg.
Ampola de 2 ml/600 mg.
Líncocin Forte(v) Solução injetável - frasco de 10 ml com 200 mg.
Lincosan 11%(V) Sacos de 25 kg com 11 g lincomicina/100 g do produto.
Linco-Spectin(v) Frasco-ampola de 50 ml com 50 mg/ml 100. Pó oral -
caixa contendo 2 frascos de 75 g. Concentrado para ração
- sacos com 25 kg.
Ampolas de 2 e 4 ml com 150 mg/ml.
Clindamicina Clindamicina.,,,
(H) Bisnaga com 45 g.
Clinagel(H)
Cápsulas de 150 mg - caixa com 20
Dalacin-C 150 mg
Cápsulas de 300 mg - caixa com 16.
Dalacin-C 300 mg
Ampola de 2 ml com 300 mg.
Dalacin-C injetável
Ampola de 4 ml com 600 mg.
Mecanismo de Ação
• Polimixina B: atua na membrana citoplas-mática da bactéria, ligando-se a radicais fosfates,
desorganizando a estrutura da membrana.
• Bacitracina: inibe a síntese da parede celular porque se liga a um transportador lipídico de pirofosfato.
Espectro de Ação
• Polimixina B: bactérias Gram-negativas.
• Bacitracina: bactérias Gram-positivas e es-piroquetas.
Farmacocinética - Não são absorvidos oralmente e são muito nefrotóxicos para uso sistémico.
Efeitos Adversos - Quando utilizados sistê-micamente causam nefrotoxicidade e neurotoxi-cidade
(bloqueio neuromuscular), topicamente não provocam toxicidade.
OUTROS ANTIBIÓTICOS
Vancomicina
Características Gerais - A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo bactericida produzido pelo
Streptococcus orientalis.
Mecanismo de Ação - Impede a síntese da parede celular bacteriana pela inibição da liberação de
um polímero da membrana celular. Tem ação bactericida rápida sobre os microrganismos em
divisão.
Espectro de Ação - É fundamentalmente ativa contra bactérias Gram-positivas.
Farmacocinética - Não é absorvida oralmente. É distribuída em vários líquidos orgânicos, inclusive
LCR. É excretada inalterada por filtração glomerular.
Resistência Bacteriana - A resistência dos enterococos à vancomicina é decorrente de uma única
enzima que modifica a unidade precursora da parede celular de tal forma que ele não se liga mais à
vancomicina.
Efeitos Adversos - Ototoxicidade e nefrotoxicidade podem ocorrer em altas doses ou esquemas
terapêuticos prolongados.
Usos Terapêuticos e Doses - A vancomicina é um antibiótico de uso restrito, devendo ser prescrita
somente por via intravenosa para infecções graves, sendo particularmente útil nas infecções causadas
por estafilococos resistentes à meti-cilina, incluindo pneumonia, empiema, endo-cardite, osteomielite
e abscessos nos tecidos moles de cães e gatos.
• Cães: 15 mg/kg, IV, 6/6 ou 8/8 horas.
• Gatos: 5 a 12 mg/kg, IV, 8/8 horas.
Apresentação - O quadro 3.24 descreve as principais apresentações da vancomicina.
46 Manual de Terapêutica Veterinária
Aminoclitóis
Características Gerais - São antibióticos bac-teriostáticos quimicamente relacionados com os aminoglicosídeos.
São representados pela espec-tinomicina e apramicina.
Mecanismo de Ação - Inibição da síntese proteica pela ligação no ribossomo subunidade 30S.
Espectro de Ação - Bactérias Gram-negati-vas e Mycoplasma sp.
Farmacocinética - Similar aos aminoglicosídeos, menos de 10% da dose oral são absorvidos e excretados
inalterados pêlos rins.
Resistência Bacteriana- Dá-se pela não ligação na subunidade do ribossomo 30S. Resistência mediada por
plasmídeos, manifestada pela diminuição da produção enzimática, é menos comum.
Efeitos Adversos - Não foi observada nenhuma toxicidade orgânica séria.
Usos Terapêuticos
• Espectinomicina: é utilizada em cães, gatos, cavalos, suínos e aves para o tratamento de doenças entéricas e
respiratórias.
• Apramicina: é utilizada em suínos e bovinos para o tratamento de doenças entéricas, principalmente colibacilose.
Tiamulin
Características Gerais - É um antibiótico bacteriostático com características similares aos antibióticos
macrolídeos, como a tilosina.
Mecanismo de Ação - Inibe a síntese proteica pela ligação no ribossomo 50S bacteriano.
Espectro de Ação - É ativo contra bactérias Gram-positivas, micoplasma, espiroquetas e certos patógenos Gram-
negativos, comoffaemopbilussp.
Farmacocinética - É bem absorvido oralmente e amplamente distribuído pelo organismo, sendo metabolizado pelo
fígado. A eliminação de seus metabólitos ocorre via fezes (70%) e urina (30%).
Quimioterápicos Antimicrobianos e Antibióticos 47
Ácido Fusídico
Características Gerais - É um antibiótico bacteriostático obtido do Fusideum coccineum. É utilizado
principalmente nas formas de sais de sódio.
Mecanismo de Ação - Inibe a síntese proteica.
Espectro de Ação - É um antibiótico de pequeno espectro, ativo principalmente contra infecções
por estafilococos e estreptococos.
Farmacocinética - É uma droga lipossolú-vel com alta introdução em tecidos, incluindo tecidos
necróticos, olhos e ossos.
Efeitos Adversos - Não foi observada nenhuma toxicidade orgânica séria.
Usos Terapêuticos - É utilizado em preparações tópicas para uso dermatológico, oftálmico e otológico.
Apresentação - Verutex pomada.
PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS NA MASTITE
INTRODUÇÃO
QUADRO 3.26 - Princípios ativos de antimicrobianos disponíveis comercialmente para a terapia intramamaria da
mastite na lactação
QUADRO 3.27 - Princípios ativos de antimícrobianos disponíveis comercialmente para a terapia intramamaria da
mastite na secagem (terapia da vaca seca)
Ampicilina (250 mg) e Cloxacilina (500 mg) Cefalônio anidro Bovigam VS®
(250 mg) Cefalexina (250 mg) e Neomicina (250 mg) Cefapirína Cepravin*
benzatina (300 mg) Cloxacilina benzatina (500 mg) Cloxacilina Rilexine 500®
benzatina (600 mg) Cefa-Dri®
Framicetina (100 mg), Hidroiodeto de penetamato (100 mg) e Anamastit-S®
Penicilina benetamina (280 mg) Orbenin Extra Dry Cow®
Gentamicina (400 mg)
Mamyzin S®
QUADRO 3.28 - Associação de antimicrobianos disponíveis comercialmente para a terapia intramamaria da mastite
na lactação
Especialidade
Princípios ativos farmacêutica
Cefalosporinas
Ascdalosporinas são aparentadas quimicamen-com as penicilinas, com diferentes gerações de e análogos,
que apresentam grande espec-de açào para agentes Gram-negativos e Gram-(induindo cepas de S. aureus
produtoras ^bdamases). As Cefalosporinas são indicadas por via parenteral (20 mg/kg, IM, 8/8 horas) e
intramamária na mastite, caracterizando-se atual-mente como o principal grupo de drogas disponíveis
comercialmente para a terapia na lactação ou na secagem, com baixos índices de resistência. Via
intramamária, destaca-se o uso da cefoperazona sódica (250 mg), cefalosporina de terceira geração,
seguida de outras drogas como: cefacetril só-dico (250 mg), cefalexina (100 a 250 mg), cefalônio anidro (250
mg) e cefuroxima (250 mg). Ressalta-se que, com o aumento do espectro de ação contra agentes Gram-
negativos, nas Cefalosporinas das últimas gerações, reduz-se a efetividade para os microrganismos Gram-
positivos.
50 Manual de Terapêutica Veterinária
Aminoglicosídeos
Os aminoglicosídeos são antibióticos de estrutura complexa, indicados principalmente para agentes Gram-
negativos. Na terapia da mastite, têm sido utilizados associados a outras drogas - como os (3-lactâmicos e
derivados - que possuem boa efetividade em agentes Gram-positivos. A genta-micina tem-se mostrado
efetiva na terapia intrama-mária da mastite (150 a 250 mg), sendo também utilizada pela via parenteral (3
a 5 mg/kg, IM, IV, 8/8 ou 12/12 horas). Além da gentamicina, outros aminoglicosídeos têm sido
empregados por via intramamária, como a estreptomicina (70 a 150 mg) e a neomicina (100 a 500 mg), com
índices variáveis de efetividade, dependendo do agente causal.
Macrolídeos
Este grupo de drogas possui atividade em agentes Gram-positivos e cocos Gram-negativos. Na terapia da
mastite, destaca-se o uso da eritro-micina por via intramamária (300 mg) e/ou parenteral (12,5 mg/kg,
IM, 24/24 horas), com boa atuação frente a Staphylococcus spp. (produtores de (3-lactamases),
Streptococcus spp. e C. bouis, bem como em cocos Gram-negativos (Pasteurella spp.). O uso da tilosina, via
parenteral (15 mg/ kg, IM, 12/12 horas), tem-se demonstrado efeti-vo nas mastites por Mycoplasma
spp.
Lincosamidas
São drogas com ação semelhante aos macro-lídeos, embora com indicação primária para agentes Gram-
positivos. A lincomicina (200 mg) e a pirlimicina (50 mg) são as principais representantes deste grupo
de drogas para a terapia intramamária da mastite. Atingem altas concentrações no interior celular,
caracterizando-se como alternativas na terapia de agentes intracelulares facultativos de mastite, como o
S. aureus.
Tetraciclinas
As tetraciclinas são drogas de amplo espectro de ação, que atingem altas concentrações terapêuticas
intracelulares. São indicadas para microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos, além de outros
agentes, incluindo riquétsias, micoplasmas, clamídias e actinomicetos. São utilizadas por via intramamária
(100 a 250 mg) e/ou parenteral (20 mg/kg, IM, IV, 24/24 horas) na terapia da mastite, em especial nos
casos com envolvimento do género Pasteurella.
Polipeptídeos
Os polipeptídeos são constituídos principalmente pela polimixina B e colistina (polimixina E), com
indicação primária para a terapia de agentes Gram-negativos. Na terapia da mastite, a polimixina B é
utilizada por via intramamária (50.000 UI) ou parenteral (2,5 a 5 mg/kg, IM, 12/ 12 horas),
especialmente para os géneros Pseu-domonas, Klebsiella, Pasteurella e Haemophilus. Os polipeptídeos
são considerados de eleição na terapia das mastites hiperagudas e agudas por E. coli, em virtude da alta
sensibilidade do agente a este grupo de drogas. Possuem também efeito limitante na atuação da
endotoxina liberada pela E. coli, responsável por graves sintomas sistémicos nos casos de mastite.
Quinolonas
Dentre as diferentes quinolonas, a enroflo-xacina destaca-se como a droga mais utilizada em Medicina
Veterinária. Apesar de as quinolonas de primeira geração serem preconizadas fundamentalmente para
bactérias Gram-negativas (especialmente enterobactérias), as drogas das gerações posteriores
possuem indicação para agentes Gram-positivos e Gram-negativos mul-tirresistentes a
antimicrobianos, como a P. aeru-ginosa. A enrofloxacina tem sido utilizada na mastite, com boa
efetividade terapêutica, por via parenteral (5 mg/kg, IM, 24/24 horas) e/ou intramamária (300 mg).
Recentemente, a ciproflo-xacina (2,5 mg/kg, IM, 24/24 horas) e a norflo-xacina (7 mg/kg, SC, IM,
24/24 horas), têm sido indicadas, por 3 a 5 dias, na terapia parenteral de casos de mastite.
Sulfonamidas
Os quimioterápicos do grupo das sulfonami-das com ação antimicrobiana apresentam estrutura básica
similar, derivadas da sulfanilamida. A associação das sulfas (principalmente a sulfadia-zina) ao
trimetoprim apresenta efeito sinérgico, proporcionando aumento do espectro de ação, exercendo boa
efetividade na mastite pêlos géneros Staphylococcus, Streptococcus, Pasteurella e actinomicetos, apesar
da ação reduzida para P. aeruginosa e E. coli. Via intramamária, são indicadas a sulfanilamida (100 mg) ou
sulfadiazina (500 mg), e via parenteral, a sulfadiazina/trime-toprim (50 mg/kg, IM, 12/12 horas).
Quimioíerápicos Antimicrobianos e Antibióticos 51
com o descarte do leite após a terapia, bem como os riscos de insucesso terapêutico. Desta forma, a
terapia da mastite subclínica tem sido realizada no decorrer da lactação ou na secagem dos quartos
mamários.
Tratamento da Mastite Subclínica na Lactação-A terapia, nesta fase, tem sido indicada em
propriedades com elevada ocorrência de mastite subclínica no rebanho (índices ao redor de 40 a 50%,
ou superiores), ou diante da rejeição parcial ou total do leite na plataforma, constituindo severo prejuízo
ao produtor. Nestes casos, recomenda-se o tratamento da totalidade dos animais, também chamado "blitz"
terapia, ressaltando-se ao proprietário os custos previstos com a medicação, com o diagnóstico
laboratorial, com o descarte do leite, nas primeiras horas após a terapia, bem como os riscos de insucesso
terapêutico (até 50% para agentes como o S. aureus). Para se reduzir o prejuízo com o descarte abrupto
do leite após a terapia, pode-se adotar a terapia por "fases", priorizando os animais com maiores CCS ou
com escore mais elevado no CMT (3+), seguido do tratamento dos animais com baixa CCS ou baixos
escores no CMT (1+ e 2+), embora a adoção desta modalidade de terapia aumente sobremaneira o
manejo com os animais tratados. De maneira similar às mastites clínicas, nos casos subclínicos não se
deve exceder 3 a 5 aplicações da droga. Atualmente, recomenda-se a terapia na secagem do animal,
que apresenta maiores índices de sucesso terapêutico.
Em geral, o tratamento intramamário (Quadro 3-30) é o mais utilizado na mastite. Na lactação, as drogas
empregadas por esta via deveriam apresentar, dentre outras características, baixo grau de ligação com o
leite e com a glândula mamaria, além de rápida eliminação, ao contrário dos antimicrobianos indicados
na secagem, que são administrados em veículos de eliminação lenta. Determinadas drogas apresentam
boa difusão na glândula quando administradas por via intramamária, incluindo a ampicilina, amoxi-
cilina, cefalexina, eritromicina, lincomicina, novo-biocina, quinolonas e tilosina. Paralelamente,
cloxacilina, penicilina G e tetraciclinas apresentam média difusão, enquanto estreptomicina, gen-tamicina
e neomicina caracterizam-se por baixa difusão na glândula mamaria.
O tratamento sistémico (parenteral) é indicado nas mastites clínicas (hiperagudas ou agudas), com
sinais de comprometimento sistémico, no intuito de evitar septicemia. Os macrolídeos, quinolonas,
tetraciclinas e o trimetoprim são grupos de drogas que apresentam concentrações terapêuticas efetivas
na glândula mamaria por via parenteral. Em contraste, os amino-glicosídeos, cefalosporinas,
penicilinas e sulfo-namidas caracterizam-se por reduzida distribuição mamaria, quando administrados
por via parenteral. A associação das vias intramamária e sistémica é recomendada para os casos
clínicos de mastite acompanhados de sinais sistémicos graves. Esta combinação pode apresentar
ganho nos índices de cura (até 50%) superior ao alcançado com o uso isolado das drogas. Recomenda-
se o emprego do mesmo princípio ativo pelas duas vias, ou o uso de drogas com efeito
Quimioíerápicos Antimicrobianos e Antibióticos 5 3
Indicadas principalmente em mastites com sintomas sistémicos graves (geralmente por S. aureus, E.
coli) e como auxiliares na terapia an-timicrobiana:
Ordenhas Sucessivas dos Animais - Recomendadas duas a três vezes ao dia, principalmente para
casos de mastite fúngica. Promovem a eliminação mecânica dos microrganismos, bem como o conteúdo
inflamatório da glândula, auxiliando a ação dos antimicrobianos, que têm a atividade reduzida na
presença de material purulento.
Duchas Frias - Diminuem o estado inflamatório da glândula e o desconforto do animal. Recomenda-se a
realização de três ou mais duchas frias por dia (10 a 15 minutos).
Correção do Equilíbrio Hidroeletrolítico,
Energético e Vitamínico - Animais com masti-
:e clínica apresentam diferentes graus de desi-
:L-I":Í.:> e inapetência, requerendo a reposição
í. eletrólitos e energéticos (vide fluido-
como soluções glicosadas (5%), solu-
^jiógica (NaCl 0,85%), bicarbonato de só-
. vitaminas.
Utilização de Cânula Intramamária (Sondas) em Tetos Obliterados - Nos casos de mastite com
obliteração do esfíncter (canal) do teto, faz-se necessária a introdução de cânula intrama-mária com
extremidade cortante (após desinfecção adequada do esfíncter do teto), que permita a saída do conteúdo
inflamatório e a terapia via intramamária.
Ocitocina - Indicada diariamente (20 a 30 UI, IV) nos casos de dificuldade de esgotamento adequado
do quarto mamário afetado, necessário antes do tratamento via intramamária ou mesmo para promover a
retirada do leite mastítico.
Antiinflamatórios - Os antiinflamatórios esteróides (AE) e não esteróides (ANE) são indicados
principalmente nas mastites hiperagudas, com sintomas sistémicos. Os AE inibem as vias cicloxigenase
e lipoxigenase da cascata inflamatória do ácido aracdônico, podendo levar a imunodepressão. Apesar
desta limitação, os AE são utilizados por via sistémica na terapia da mastite (dexametasona,
prednisolona, flumeta-sona), além de comporem várias formulações de antimastíticos de uso
intramamário. Em contraste, os ANE inibem somente a via cicloxigenase, não acarretando
imunodepressão, considerados portanto, de eleição para a terapia da mastite. Dentre os ANEs destaca-
se o uso do flunixin meglumine (1,1 mg/kg, IV, 24/24 horas/3 dias), indicado na terapia do choque
endotóxico em mastites por E. coli (provocado pela liberação de mediadores da inflamação, a partir de
constituintes lipopolissacarídicos - LPS da parede do
agente). O flunixin meglumine reduz a atuação do LPS na cascata do ácido aracdônico, limitando a
liberação dos mediadores inflamatórios responsáveis pêlos graves sintomas sistémicos.
TRATAMENTOS ALTERNATIVOS
Os produtos alternativos são substâncias que possuem ação antimicrobiana direta, ou facilitam a difusão
de drogas no foco infeccioso mamário. São indicados para mastites por agentes refratá-rios à terapia
com drogas convencionais. Animais tratados por via intramamária, com produtos não convencionais,
devem ser monitorados durante toda a terapia. Na ocorrência de desconforto local, recomenda-se a
aplicação de duchas frias e antiinflamatórios, e em casos de reação intensa, suspender imediatamente
o tratamento.
Timerosal - Indicado para mastites por algas dos géneros Cândida e Geothricum, entre outros
microrganismos. Diluir o timerosal (solução aquosa, a 1/1.000) em água esterilizada (aproximadamente 10
a 15 ml da solução), e aplicar via intramamária duas vezes ao dia, durante 3 a 5 dias, respectivamente,
para casos de mastite subclínica e clínica.
Quimioterápicos Antlmicrobianos e Antibióticos 55
Propelis - A extração alcoólica (etanol 93° GL na proporção de 30%) deste produto colhido e filtrado
de colmeias de abelhas tem sido utilizada na terapia de casos de mastite pêlos géneros Cândida,
Geothrichum e Prototheca, com efetividade variável. Após a colheita, maceração e extração alcoólica, o
produto é filtrado e indicado para uso intramamário em solução a 10% (água destilada), uma vez ao
dia, durante 3 a 5 dias.
Dimetilsulfóxido (DMSO) - A potente ação permeante de membranas biológicas tem permitido a
utilização do DMSO associado à antimi-crobianos em casos de mastite de difícil resolução. Via
intramamária, o DMSO tem sido utilizado a 20%, diluído em água destilada esterilizada (10 a 15 ml),
associado à penicilina (100.000 UI) e estreptomicina (200 mg), uma vez ao dia, por 3 a 5 dias, ou
comercialmente, associado à gentamicina.
Enzimas - Formulações recentes de antimas-títicos têm incluído enzimas como a papaína, a tripsina e a
quimiotripsina, associadas às vitaminas A e E, com intuito de favorecer a resolução do processo
inflamatório na glândula mamaria.
Tratamentos Experimentais - Estudos recentes têm empregado experimentalmente, por via
intramamária, microrganismos como o Pro-pionibacterium acnes e Zymomonas mobüis, res-
pectivamente, como imunomoduladores na terapia da vaca seca ou como competidores (antagonistas) de
agentes de mastite em caprinos.
Bubalinos - A criação da espécie bubalina em terrenos alagados favorece o íntimo contato da glândula
mamaria com sujidades do ambiente, ou mesmo a manutenção do úbere totalmente submerso na água
por determinados períodos. Ainda que estes fatores aumentem o risco de mastite ambiental (o que
priorizaria a escolha de antimicrobianos para este grupo de agentes), a espécie bubalina não apresenta
os microrga-•isxnos de origem ambiental como os mais frequentes na génese da mastite, propiciando
que
os princípios terapêuticos na mastite bubalina sejam similares aos indicados para bovinos.
Caprinos e Ovinos - A ocorrência de mastite nestas espécies está relacionada fundamentalmente aos
géneros Staphylococcus e Strepto-coccus (agentes contagiosos). Na impossibilidade de realização do
antibiograma, deve-se priorizar na terapia a escolha de drogas com atuação para este grupo de
agentes. Não estão disponíveis comercialmente drogas exclusivas para a terapia intramamária
dessas espécies. Esta limitação tem motivado pesquisas do uso de somente metade da dose de
antimastíticos de bovinos na terapia intramamária em caprinos. Apesar de a provável efetividade e
aparente economia com a metade da dose, a reutilização do aplicador do antimastítico - sem cor-reta
desinfecção - poderia propiciar a veicu-lação de agentes pelo canal galactóforo (determinando
novos casos), bem como o uso de subdosagens poderia favorecer a seleção de agentes
multirresistentes.
Cães e Gatos - Staphylococcus spp. e Strep-tococcus spp., além da E. coli, são os agentes
comumente associados a mastite nessas espécies. Para a terapia, as drogas de escolha devem
apresentar amplo espectro de ação, efeito bactericida, boa difusão mamaria e ausência de
toxicidade para os neonatos. Dentre estas destaca-se a utilização dos macrolídeos, como a
eritromicina (22 mg/kg, VO, IV, 8/8 horas/7 dias) ou a tilosina (20 mg/kg, VO, 12/12 horas/ 7 dias),
além de outras drogas, incluindo a amo-xicilina/ácido clavulânico (22 mg/kg, VO, 8/8 ou 12/12 horas)
ou a cefalexina (25 mg/kg, VO, 8/8 horas). Fluidoterapia, drenagem e anti-sepsia de glândulas
abscedadas, compressas quentes, suave ordenha e restrição à amamentação dos quartos mamários
afetados são procedimentos que podem auxiliar a terapia.
CAUSAS DE FALHATERAPÊUTICA
Diferentes situações são atribuídas ao insucesso terapêutico nos casos de mastite, entre as quais o uso
indevido de antimicrobianos (sem a fundamentação do antibiograma, ou em subdo-
56 Manual de Terapêutica Veterinária
A ablação química pode ser realizada mediante a aplicação intramamária de produtos altamente irritantes para o
parênquima glandular mamário, incluindo o nitrato de prata (2 a 3%), sulfato de cobre (5%), iodo (2 a 3%), ou acriflavina
(1:500), diluídos em 20 a 50 ml de água destilada esterilizada (dependendo do tamanho do quarto mamário). Em geral, são
indicados em aplicação única.
Após 14 dias da infusão, o animal deve ser esgotado e, se necessário, o mesmo procedimento poderá ser repetido. Na
ocorrência de reação local após a aplicação do produto, esgotar imediatamente o úbere. Para diminuir o desconforto do
animal, recomenda-se também a aplicação de duchas frias e antiinflamatórios.
sagens), o emprego indiscriminado dos antimas-títicos (que favorecem o agravamento do processo, ou
a seleção de microrganismos multir-resistentes às drogas), a infecção por agentes não convencionais
(dos géneros Mycobacterium, Brucella, Listería, Mycoplasmã), ou por agentes como o S. aureus,
produtores de (3-lactamases, que inativam os antimicrobianos. Adicionalmente, a infecção por
microrganismos, com mecanismos de evasão do sistema imune - que permitem a sua manutenção
intracelular -, tende a determinar casos de evolução crónica. Nestes casos crónicos, recomenda-se a
ablação química (Quadro 3-31) dos quartos mamários acometidos, ou mesmo o descarte do animal.
RESÍDUOSDEANTIMICROBIANOSNOLEITE
Nos últimos anos, tem-se alertado para o uso indiscriminado de antimicrobianos na terapia de animais
com mastite, além da crescente detecção de resíduos destas drogas no leite. Estes resíduos podem
desencadear quadros de anemia, distúrbios gastrintestinais e reações de hipersen-sibilidade no homem,
bem como prejuízos para a produção de derivados lácteos (iogurtes e queijos). Geralmente, recomenda-se o
descarte do leite nas primeiras 72 horas após a última aplicação da droga (via intramamária ou
parenteral), ainda que, recentemente, se tenha demonstrado resíduos de drogas no leite (penicilinas,
cefalospori-nas, aminoglicosídeos e quinolonas) acima deste período, sugerindo que o tempo de carência
atual seja insuficiente para a liberação do produto para o consumo. Os resíduos de antimicrobianos no
leite e na carne de animais de produção têm gerado, no Brasil, restrições ao uso de drogas como
o cloranfenicol e nitrofurazonas. Desta forma, cabe ao médico veterinário a responsabilidade de cons-
cientização dos produtores para o uso racional destas drogas, bem como da importância do descarte do
leite nos primeiros dias subsequentes à terapia de animais com mastite.
CONSIDERAÇÕESFINAIS
A utilização adequada dos princípios terapêuticos é considerada uma importante medida no controle da
mastite. A terapia dos casos de mastite visa, basicamente, a eliminação dos agentes causais e dos riscos
de novas infecções, a prevenção de infecções no período seco e da mortalidade de animais com sinais
sistémicos, além da restituição funcional do parênquima mamário, com consequente normalização da
constituição físico-química e da produção do leite. Por outro lado, o controle efetivo da mastite deve
fundamentar-se na adoção sistemática de medidas profiláticas, visando a maximização da produção de
leite, concomitante a alta qualidade sanitária do produto.
Referências Bibliográficas
1. AHRENS, A.F. Antimicrobial drugs. In.- AHRENS, A.F. Pharmacology. l.ed. chap.11. Baltimore, Williams &Wilkins, pp.207-28,1996.
2. AMYES, S.G.B.; GEMMEL, C.G. Antibiotic resistance. Journal Medicai Microblology to: 436-70,1997.
3. BAHRI, J.E.; BLOUIN, A. Fiuoroquinolones: a new family of antimicrobials. Comp Contin Educ Pract VeM3:1429-33, 1991.
4. BAIG,J.; SCHARMA, M.C.; LAL, S.B. Haemato-biochemical and bone-marrow changes m chloramphenicol induced toxicosis in dogs. Indian Journal
of Animal Science 64: 712-5,1994.
ANTIFÚNGICOS
Marconi Rodrigues de Farias
Rogério Giuffrida
Os fungos são organismos onipresentes em nosso ambiente. Apesar das milhares de espécies
existentes, a grande maioria é saprofítica do solo ou agente patogênico vegetal, e apenas 300 são
descritos como capazes de causar doenças em animais. Vários critérios são utilizados para diferenciar
fungos patogênicos de contaminan-tes como: origem; número de colónias isoladas; espécies; se os
elementos fúngicos podem ser repetidamente isolados; demonstração de organismos fúngicos no
tecido lesado; e títulos soro-lógicos positivos e ascendentes em testes parea-dos. Com base em critérios
clínico-laboratoriais, as infecções micóticas podem ser classificadas quanto à sua distribuição em
localizadas, multi-focais e generalizadas; e quanto ao tecido acometido em superficiais, subcutâneas e
sistémicas ou profundas.
A infecção micótica superficial é causada por fungos dos géneros Mycrosporum, Tricho-pbyton,
Cândida e Malassezia. Essa é a forma de infecção fúngica mais comumente descrita em animais
domésticos, acometendo geralmente a epiderme, o epitélio folicular, a haste pilosa e as unhas.
As infecções micóticas subcutâneas desenvolvem-se preferencialmente na derme, na pa-pilar e
reticular e no tecido subcutâneo, podendo se expandir para as vias linfáticas e linfono-dos adjacentes.
Essas infecções são geralmente crónicas e causadas pela implantação traumática de organismos
fúngicos saprofíticos de solo ou de vegetais. Seus principais exemplos são a esporotricose, a
feoifomicose, os micetomas (eumicóticos, actinomicóticos e pseudomiceto-mas dermatofíticos) e
zigomicose.
As infecções micóticas profundas ocorrem em órgãos internos, podendo se disseminar sistemi-camente
por via linfática ou hematógena. Estas são raramente descritas, sendo criptococose, aspergilose,
coccidioidomicose, blastomicose e histoplasmose as doenças mais comumente relatadas na literatura
veterinária.
Durante muitos anos, a terapia antimicótica foi subjugada. Entretanto, com o desenvolvimento das
cirurgias de transplantes de órgãos, das drogas imunossupressoras, da radioterapia e com o advento de
doenças imunodepressoras, como as múltiplas formas de câncer e a síndrome de imu-nodeficiência
adquirida, as infecções micóticas oportunistas cresceram em incidência e fatalidade. Este fato conduziu a
novas pesquisas que levaram à descoberta de um grande número de fár-macos efetivos para usos
tópico e sistémico contra as várias formas de infecções micóticas.
A terapia antimicótica tópica é geralmente indicada como coadjuvante à terapia sistémica das infecções
micóticas superficiais da pele, das junções mucocutâneas, da genitália externa, do ouvido externo e dos seios
nasais. Sua instituição visa: diminuir a quantidade de esporos fúngicos presentes na pele e nos pêlos dos
animais infectados;
60 Manual de Terapêutica Veterinária
COMPOSTOS POLIÊNICOS
Os poliênicos são uma classe de drogas anti-infecciosas formados por cadeias com duplas ligações de
carbono, sem ação bacteriana, porém atuan-do contra fungos, algas e protozoários. Pertencem a esse grupo,
anfotericina B, nistatina, partricina, metilpartricina e piramicína (natamicina). Essas drogas são extremamente
tóxicas, sendo geralmente associadas a muitos efeitos colaterais. Apenas a anfotericina B é utilizada por
via parenteral.
ANFOTERICINAB
A anfotericina B é um antibiótico poliênico hep-taeno obtido de culturas de Streptomyces nodosus.
Mecanismo de Ação - A anfotericina B, assim como outros poliênicos, liga-se ao ergosterol, um
componente da membrana citoplasmática dos fungos. A ligação cria poros na membrana citoplasmática, que
permitem a saída de água e eletrólitos essenciais ao fungo, desestabilizando seu metabolismo. A
deterioração metabólica do fungo pode ter efeito fungicida ou fungistático, dependendo da concentração
da droga. A anfotericina B também apresenta efeitos imunoestimulantes, auxiliando na terapêutica das
infecções fúngicas.
Farmacocinética - A anfotericina B não é absorvida por via oral, sendo utilizada apenas na forma
endovenosa. O antibiótico é organodepo-sitário, permanecendo armazenado no fígado, no pulmão, nos
rins e no baço, onde sofre lenta me-tabolização. Isso permite concentrações séricas fungistáticas ou
fungicidas da droga por até 48 horas. A droga penetra em líquidos pleural, peri-toneal, pericárdico e
articular e no meio intracelular. Atravessa mal a barreira hemato-encefálica e apresenta escassa
penetração em coágulos. Sua excreção é realizada por vias biliar e renal.
QUADRO 4.1 - Principais agentes, nomes comerciais e formulações comumente utilizados na terapia tópica das
infecções fúngicas
Dermax*(H) (Galderma)
Enxofre Sabonete. Sabonete de 80 g.
Salisoap®(H) (Galderma)
Sabonete. Xampu com 100 ml.
Sastid®(H) (Stiefel)
QUADRO 4.2 - Os principais agentes utilizados na terapia sistémica das infecções fúngicas, algumas de suas
apresentações comerciais e suas principais formulações
Princípios ativos Nomes comerciais Apresentações
CETOCONAZOL
O controle das doenças virais é basicamente fundamentado em três condutas básicas: 1) A principal, a
quimioprofilaxia, que consiste na imunização por meio de vacinas; 2) A quimioterapia; 3) A estimulação dos
mecanismos de resistência natural no hospedeiro. Contudo, as duas últimas ainda não são totalmente
eficazes na maioria das doenças virais.O desenvolvimento de agentes antivirais é lento, porém com a epidemia
da síndrome da imunode-ficiência adquirida (Aids/Sida) em seres humanos, a virologia aumentou
vertiginosamente a pesquisa de novas drogas antivirais, sendo o combate ao vírus HIV o grande
responsável por esse avanço.Na Medicina Veterinária, o uso de antivirais ainda é pequeno, limitando-se
basicamente ao uso tópico em ceratites e conjuntivites por herpes. O uso sistémico é ainda restrito a
alguns experimentos e no tratamento da leucemia felina.Os vírus são microrganismos extremamente
simples, parasitas intracelulares obrigatórios, cuja replicação depende principalmente dos processos de
síntese de DNA, RNA e proteínas da célula hospedeira. Portanto, muitas substâncias químicas, que
inibem a replicação virai, também restringem certas funções celulares do hospedeiro, produzindo
acentuada toxicidade. Em muitas infecções virais, a replicação do vírus torna-se máxima mais ou
menos na época em que surgem pela primeira vez os sintomas clínicos ou até mesmo em uma fase
mais precoce. Dessa maneira, para que sejam eficazes os quimioterá-picos que bloqueiam a replicação
virai, quase sempre devem ser administrados antes do início da doença, isto é, na forma de
quimioprofilaxia. A classificação dos fármacos antivirais se baseia na ação deles nas fases de replicação
virai, sendo da seguinte maneira:
• Drogas que interferem na fixação do vírus aos receptores da célula do hospedeiro e na sua
penetração.
• Drogas que interferem na síntese de proteínas.
• Drogas que interferem na síntese de ácidos nucléicos.
• Drogas que interferem na organização ou na liberação de partículas virais.
GAMAGLOBULINA
RlFAMPICINA
FISIOLOGIA DA DOR
A percepção da dor começa na periferia, por meio da ativação de nociceptores (receptores da
dor). Os nociceptores estão presentes por todo o organismo e são classificados em três subtipos:
• Receptores mecânicos de alto-limiar: detectam pressão.
• Receptores mecanotermais de baixo-limiar: detectam pressão e calor.
• Receptores polimodais: detectam pressão, calor e fatores químicos.
Os receptores mecânicos de alto-limiar e os receptores mecanotermais de baixo-limiar são
íhervaoãs getâs rfÕrãf fietvaszf azfétírïfézr-das AS e A@, enquanto os receptores polimodais são
inervados pela fibra nervosa não-mie-linizada C. As substâncias químicas que ativam os receptores
polimodais são diversas e incluem mediadores inflamatórios como prosta-glandinas, leucotrienos,
bradicininas, serotoni-na, substância P e histamina (Figura 6.1). Dentre as prostaglandinas, a PGI2
causa hiperalge-sia de curta duração, enquanto a PGE2 está relacionada com a hiperalgesia de longa
duração.
78 Manual de Terapêutica Veterinária
Opióides e agonistas
ctj-adrenérglcos
5-HPETE, 12-HPETE,
HETE, LTA, LTB, LTC
FIGURA 6.T - Esquema da via da condução da dor e a interferência de sua modulação pêlos
cortlcosteróides, DAINEs, opióides e agonistas cc2-adrenérgicos. 1 = via ascendente
(neoespinotalâmica ou palioespinotalâmica); 2 = via descendente; COX-1 = cicloxigenase-1; COX-2 =
cicloxigenase-2; PGs = prostaglandinas; TXs = tromboxa-nos; 5-HPETE = ácido 5-hidroxiperoxi-
tetraenólico; 12-HPETE=ácido 12-hidroxiperoxi-tetraenólico; HPETE = ácido hidroxi-tetraenólico; LTA =
leucotrieno A; LTB = leucotrieno B; LTC: leucotrieno C; DAINEs = drogas antiinflamató-rias não-
esteróides. I. Os corticosteróides inibem a fosfolipase A2, diminuindo a liberação de substâncias que
sensibilizam os nociceptores; II. As DAINEs inibem as cicloxigenases (COX-1 e COX-2), diminuindo a
liberação de prostaglandinas e tromboxanos que também sensibilizam os nociceptores; III. Os
opióides produzem profunda analgesia devido à atuação no cérebro e medula por meio de ativação
de receptores u, enquanto os agonistas cc2-adrenérgicos promovem analgesia por ativação de
receptores a2 na medula espinhal
.Além da ativação de nociceptores, o estímulo doloroso é conduzido para a medula espinhal através
das fibras Ao (fibra fina mieli-nizada), Af3 (fibra grossa mielinizada) e C (não-mielinizada). Esses
neurônios são considerados os primeiros moduladores da via da condução da dor (Figura 6.1),
porque fazem si-napse com neurônios secundários na medula espinhal, que, por sua vez, fazem
sinapse com um terceiro neurônio no cérebro que completa a condução nociceptiva. Sendo
mielinizadas as fibras AS e Af3, transmitem impulsos 10 vezes mais rápidos que as fibras C para o
neurônio secundário na medula espinhal. Conseqüen-temente, a ativação periférica de
mecanorreceptores de alto-limiar ao longo das fibras AS e AP conduz para a medula espinhal
rapidamente uma dor aguçada, que geralmente é acompanhada por aversão. Lesão tecidual libera
mediadores químicos da inflamação que ativam receptores polimodais que transmitem o impulso
através da fibra C para a medula espinhal, que é associada à sensação dolorosa latejante e ardente
acompanhada após a lesão. Desta maneira, em sua maioria as dores são bimodais por natureza,
resultando em sensação aguda. A exceção é a dor visceral, que é transmitida exclusivamente pelas
fibras C, resultando em um repertório de sensações dolorosas extremamente desagradáveis.
Na medula espinhal existem basicamente duas O manejo da dor consiste na inibição da per-
vias ascendentes para a condução da dor até o cepção, da sensibilização central (modulação das
cérebro: 1) via neoespinotalâmica, que conduz a etapas medulares), da transmissão (inibição da
dor somática, bem-localizada, através de poucas condução do impulso) e da transdução (inibição
sinapses; e 2) via palioespinotalâmica, que con- da sensibilização periférica dos nociceptores)
duz a dor visceral, de localização precária, através (Quadro 6.1). Os principais analgésicos que po-
de várias sinapses. Quando o cérebro detecta a dem ser utilizados no controle dos vários graus
dor, informações são conduzidas por uma via de tipo de dor estão descritos no quadro 6.2.
descendente, na medula espinhal, relacionada Os fármacos rotineiramente mais utilizados
com a fibra C, que se comunica com inter- na Medicina Veterinária para alívio e manejo da
neurônios. Quando estimulados, liberam opiói- dor são os analgésicos opióides, os agonistas cc2-
des endógenos (substâncias auto-analgésicas), adrenérgicos e as drogas antiinflamatórias não-
como encefalinas, endorfinas e dinorfinas, que esteróides (DAINEs).
se combinam com receptores opióides diminuindo
a liberação de substância P. Estímulos táteis
(massagem, fisioterapia e acupuntura) ativam a
fibra nervosa mielinizada Ao com liberação de ANALGÉSICOS OPIÓIDES
opióides endógenos, com analgesia e sensação
de bem-estar. A liberação de opióides endógenos
também está relacionada com exercícios físicos e Analgésicos opióides são os mais potentes
sexo. analgésicos utilizados na Veterinária. São bas-
O limiar da dor varia bastante entre os ani- tante efetivos para tratar dores médias a mode-
mais domésticos. Bovinos e ovinos possuem um radas, particularmente a dor aguda, profunda,
limiar alto, ou seja, são menos sensíveis à dor visceral, em virtude de trauma, câncer ou pro-
que os carnívoros. Os pássaros geralmente não cedimentos cirúrgicos. O termo opióide se refere
apresentam sensações dolorosas superficiais, a todas as substâncias, naturais, semi-sintéti-cas
motivo pelo qual algumas cirurgias, como extir- ou sintéticas, que se ligam totalmente ou
pação de bócio e castração, podem ser realizadas parcialmente a receptores opióides. O termo
sem uso de anestesia. São regiões especialmente opiáceo, por sua vez, refere-se a substâncias de-
sensíveis à dor nos animais domésticos: lábios, rivadas do ópio, ou seja, da papoula Papaver
parte achatada do focinho do porco, ex- somniferum, semelhantes à morfina. Os opióides
crescências da crista, dedos, espaço interdigital, endógenos são as endorfinas, um termo genérico
superfície interna da coxa, região perineal e su- referente a três famílias de peptídeos opióides:
perfície ventral da cauda. encefalinas, dinorfinas e (3-endorfinas.
QUADRO 6.2 - Principais analgésicos utilizados no controle dos vários graus de tipo de dor
Tipo e/ou grau de dor Droga
Os receptores opióides estão presentes em numerosos tecidos, incluindo cérebro, medula, trato
urinário, trato gastrintestinal e vasos deferentes. Estão ligados por meio das proteínas G à inibição de
adenilatociclase. Eles facilitam também a abertura dos canais de K+ (causando hi-perpolarização) e
inibem a abertura dos canais de Ca2+ (impedindo a liberação de transmissores
• Receptores Delta (ô): Os ô-receptores estão localizados no sistema límbico. Sua estimulação resulta
em analgesia e modulação dos p-receptores. Há evidências de duas subclasses de receptores
ô,CLASSIFICAÇÃO DOS RECEPTORES OPIÓIDES
Os três receptores mais importantes são mu, kappa e delta. Os receptores sigma e epsílon são
descritos, porém sua especificidade ainda é controversa. Os tipos e suas características são os seguintes:
• Receptores Mu (u,): Admite-se atualmente que os u,-receptores sejam responsáveis pela maioria dos
efeitos analgésicos dos opióides. A sua estimulação causa analgesia, euforia, sedação, miose,
depressão respiratória, dependência, inibição da motilidade gastrintestinal e liberação do ADH. A
maioria dos analgésicos opióides é representada pêlos agonistas de u-receptores. São descritos dois
subtipos: ux e u2
• Receptores Kappa (K): Os K-receptores contribuem para a analgesia em nível medular, podendo
induzir sedação e disforia, mas produzem relativamente poucos efei.tos indesejáveis e não
contribuem para a dependência. Alguns analgésicos são relativamente K-seletivos. São descritos
três subtipos: KX K2 e K3.
Outros receptores
• Receptores Sigma (a): Sua estimulação produz euforia e alucinação. Os a-recepto-res não são
receptores opióides seletivos, mas sim locais de ação de outras drogas, como a cetamina, e não
possuem afinidade pelo antagonista opióide naloxona.
• Receptores Epsílon (e): Sua estimulação resulta em analgesia, mas este receptor não foi
encontrado em todas as espécies e pode ser semelhante ao K2-receptor.
A interação dos opióides com seus receptores é complexa. O agonista (exemplo: morfina) se liga
aos u e K-receptores e os ativa simultaneamente, produzindo analgesia. Um antagonista (exemplo:
naloxona) se liga simultaneamente aos u e K-receptores, porém não os ativa, e com-petitivamente retira
o agonista do local receptor, inibindo os seus efeitos. O agonista-antagonista (exemplo: butorfanol) se
liga aos locais u e K-receptores, mas somente o K-receptor é estimulado. O local do p-receptor é
ocupado, porém não ativado. O agonista parcial (por exemplo,
buprenorfina) se liga somente ao ^-receptor, produzindo analgesia. A ligação da buprenorfina ao (i-
receptor é de alta afinidade, por isso, uma vez ligada ao ^-receptor, impede a ligação de um agonista
puro, sendo resistente à ação de um antagonista.
l
0,1 a 0,2
0,25 a 0,5
4a 7
7,5 a 25
30
75 a 125
375 a 1.250
1.000 a 10.000
10.000
• Diminuição da temperatura corporal: ocorre no hipotálamo (cão, macaco, homem).
• Aumento da temperatura corporal: gato, equino e bovino.
Sistema Respiratório - |u,-agonistas deprimem os centros respiratórios centrais, induzindo
depressão respiratória e diminuição do reflexo da tosse (principalmente em cães). O maior efeito
colateral dos opióides é justamente a depressão respiratória que pode levar à morte. É comum
provocar respiração ofegante em cães.
Sistema Cardiovascular- Pode ocorrer diminuição da frequência cardíaca após administração de
|i-agonistas. Hipotensão pode ocorrer após vasodilatação periférica. No cão, diminui o fluxo
sanguíneo coronariano provocando, va-soconstrição e aumento da resistência vascular coronariana.
Sistema Gastrintestinal - Diminuição da motilidade intestinal com consequente constipação.
Esse efeito é mediado por receptores \i centrais e (i e K periféricos. Cães são mais sensíveis a esse
efeito, apesar de inicialmente induzir defecação.
Trato Urinário - Estimulação da liberação de ADH e aumento do tônus do esfíncter vesical,
dificultando a micção.
Pele - Pode induzir liberação de histamina, provocando dilatação dos vasos cutâneos,
vermelhidão, prurido ou urticária. Os opióides que causam liberação de histamina são morfina e
meperidina.
Olhos - M. e K-agonistas causam constrição pupilar, miose (cão, macaco e homem), pela ação
excitatória sobre a inervação parassimpática da pupila, e midríase nas demais espécies.
Agonistas Opióides
Morfina
Características - \i e K agonistas.
Usos Clínicos - Em cães, no tratamento da dor aguda e profunda, na medicação pré e pós-
operatória, com antitussígeno e no tratamento da insuficiência cardíaca canina em razão da veno-
dilatação que provoca, reduzindo a pré-carga. Em gatos, com baixas doses, no tratamento da dor aguda e
profunda. Em equinos, em associação com tranquilizantes, no alívio da dor de cólica e em distúrbios
musculoesqueléticos.
Efeitos Adversos - Hiperexcitabilidade (pode ocorrer em gatos, porcos, ruminantes e equinos; baixas
doses associadas a tranquilizantes podem minimizar esse efeito colateral), euforia, hipotensão, prurido,
depressão respiratória, edema e hemorragia cerebral, dificuldade em urinar e redução da formação de
urina. A administração IV pode provocar liberação de histamina em cães.
Doses
• Cães: 0,5 a l mg/kg, IM, SC; 0,05 a 0,4 mg/ kg, a cada l a 4 horas, IV; ou 0,2 a l mg/kg, a cada 2 a 6
horas, IM, SC; 0,3 a 3 mg/kg, a cada 4 a 8 horas, VO.
• Gatos: 0,05 a 0,2 mg/kg, IM, SC (com cautela).
• Equinos: 0,02 a 0,04 mg/kg, IV; 0,2 a 0,4 mg/kg, IM; 0,05 a 0,1 (epidural).
• Ruminantes: 0,05 a 0,1 mg/kg (epidural).
Apresentação
• Dimorf comprimidos®(H) (frasco com 50 comprimidos de 10 e 30 mg).
• Dimorf LC®(H) (frasco com 20 cápsulas com 30, 60 e 100 mg).
• Dimorf sem conservantes®(H) (ampola de l ml com 0,2 mg).
• Dimorf solução oral®(H) (frasco de 60 ml com 10 mg/ml).
• Dimorf SP*(H) (ampolas de 2 ml com 2 mg; l ml com 10 mg; 10 ml com 5 e 10 mg).
Fentanil
Características - p e K-agonistas. Aproximadamente, é 75 a 125 vezes mais potente que a
morfina. É de curta duração.
Usos Clínicos - Em anestesiologia, como parte de um protocolo de indução anestésica, em
neuroleptoanalgesia (droperidol + fentanil), em infusão contínua controlada ou em patcb (adesivo),
para promover analgesia.
Efeitos Adversos - Estímulos sonoros podem provocar resposta motora no animal. Em cães é
comum respiração ofegante, defecação e flatulência. Bradicardia e salivação podem ser prevenidas
com pré-tratamento com drogas anti-colinérgicas.
Doses - Cães: 0,04 a 0,08 mg/kg, IM, IV, SC (provêm 2 horas de analgesia).
Apresentação
• Fentanil®(H) injetável com conservantes (fras-co-ampola de 10 ml, com 0,05 mg/ml).
• Fentanil®(H) injetável: uso espinhal sem conservantes (frasco-ampola de 2 e 5 ml, com 0,05
mg/ml).
Meperidina
Características - p e K-agonistas; pode provocar ação antimuscarínica e possui, aproximadamente,
10 a 20% a potência da morfina.
Usos Clínicos - Tratamento da dor aguda e profunda, medicação pré e pós-operatória.
Efeitos Adversos - Semelhantes à morfina. Não pode ser administrada por via intravenosa em
cães, pois provoca liberação de histamina.
Doses
• Cães: 5 a 10 mg/kg, IM.
• Gatos: l a 4 mg/kg, IM (com cautela).
Apresentação
• Dolantina®(H) (ampola de 2 ml com 100 mg).
• Dolosal®(H) (ampola de 2 ml com 100 mg).
Tramadol
Características - Opióide atípico, além de u-agonista, também possui outros mecanismos de
ação, provavelmente relacionados com a inibição neuronal de noradrenalina e serotonina.
Usos Clínicos - Uso experimental em cães. Pode ser utilizado no tratamento e controle da dor
leve a moderada, medicação pós-operatória e no trauma torácico.
Efeitos Adversos - Em humanos são pouco frequentes, podendo ocorrer náuseas, vómitos,
ataxia e sonolência. Não provoca depressão do sistema respiratório nem tampouco dependência,
constipação ou efeitos cardiovasculares graves.
Apresentação
• Tramal*(H) (ampola de 2 ml com 100 mg; comprimido de 100 mg - caixa com 10; cápsulas de 50
mg - caixa com 10).
• Sylador®(H) (ampola de 2 ml com 50 ou 100 mg; comprimido de 100 mg, caixa com 10; solução
em frasco conta-gotas com 10 ml a 50 mg/ml).
Agonistas-Antagonistas Opióides
Essas drogas se ligam a diversos receptores opióides (principalmente mu e kappa) e afetam cada
receptor de maneira diferente.
Butorfanol
Características - Possui moderada afinidade por ^-receptores, mas não os ativa, por isso é
considerado um antagonista de p-receptores. Possui alta afinidade por K-receptores, com moderada
ativação. Alta afinidade por cr-receptores, com moderada ativação.
Usos Clínicos - Analgésico, alívio da dor na cólica equina, antitussígeno em gatos e para reverter
os efeitos dos p-agonistas.
Efeitos Adversos - Aumenta a atividade motora, ataxia e sedação.
Doses
• Cães: 0,5 a l mg/kg, 2 a 4 vezes ao dia, VO; 0,2 a 0,4 mg/kg a cada 2 a 5 horas, IM, IV; 0,2 a 0,8
mg/kg a cada l a 3 horas, IM, IV (analgesia).
• Gatos: 0,5 a l mg/kg, 2 a 4 vezes ao dia, VO (antitussígeno); 0,1 a 0,4 mg/kg a cada 2 a 5 horas,
IM, IV; 0,8 mg/kg, IV; 0,2 a l mg/kg a cada 4 a 6 horas, VO (analgesia).
• Equinos: 0,1 mg/kg, IV, IM.
• Bovinos: 0,01 a 0,1 mg/kg, IV, IM.
Apresentação - Torbugesic®(v) (frasco de 10 ml com 10 mg/ml).
Agonista Parcial
Buprenorfina
Características - Possui alta afinidade por H-receptores (50 vezes mais que a morfina), mas é
apenas um agonista parcial desse receptor. É resistente ao antagonismo pela naloxona, devido à sua
alta afinidade pelo |a,-receptor.
Usos Clínicos - Como potente analgésico (30 vezes a potência analgésica da morfina).
Efeitos Adversos - Depressão respiratória menor do que a causada pela morfina. Transtornos
gastrintestinais também menores.
Doses
• Cães: 0,005 a 0,02 mg/kg, a cada 4 a 8 horas, IM, IV.
• Gatos: 0,005 a 0,01 mg/kg, a cada 4 a 8 horas, IM, IV.
Apresentação-Temgesic®(H) (ampola de l ml com 0,3 mg).
Antagonistas Opióides
Naloxona
Características - Foi o primeiro antagonista opióide puro. Possui alta afinidade por ^ receptores e
menor por ô e K-receptores, bloqueando-os de maneira mais ou menos igual.
Usos Clínicos - Reverte rapidamente a analgesia induzida por opióides e a depressão respiratória,
sendo usada principalmente para tratar a intoxicação por opióides ou para melhorar a respiração de
recém-nascidos afetados pêlos opióides administrados à mãe.
Efeitos Adversos - Como reverte a analgesia, após a administração de naloxona o animal pode
apresentar comportamento indesejável (excitação, taquicardia, hipertensão).
Doses
• Cães: 0,04 mg/kg, IM, IV, SC.
• Gatos: 0,05 a 0,1 mg/kg, IV.
Apresentação - Narcan®(H) (ampola de l ml com 0,4 mg).
AGONISTAS a2-ADRENERGICOS
ativação provoca diminuição da liberação de neu- sedan®(v)) saiu do mercado nacional, e a medeto-
rotransmissores nociceptivos, como substância P, midina (Domitor®(v)) somente é comercializada
calcitonina, etc. A sedação ocorre pela ativação pela Pfizer nos EUA e Canadá.
de cc2-receptores pós-sinápticos localizados no lo-
cus ceruleus do cérebro, levando à diminuição da
liberação de noradrenalina, promovendo, dessa
maneira, sedação. O relaxamento muscular se dá PRINCIPAIS AGONISTAS
por inibição da transmissão intraneuronal de CC^ADRENÉRGICOS
impulsos em nível central do SNC. Não atuam na
junção neuromuscular. Produzem efeitos colate- UTILIZADOS NA VETERINÁRIA
rais importantes no sistema cardiovascular, como
hipotensão, bradicardia e bloqueio atrioventricu- Xilazina
lar. Os efeitos dos agonistas a2-adrenérgicos são
Classificação - Potente agonista «2 e fraco
rapidamente revertidos pelo uso de antagonistas
ctj-adrenérgico.
cc2-adrenérgicos, ioimbina, tolazolina e atipame-
zole (ver capítulo 17). Os principais efeitos far- Características - É utilizada em cães, gatos,
macológicos dos agonistas oc2-adrenérgicos estão bovinos, equinos e animais silvestres. Pode ser
descritos no quadro 6.3. administrada por via IV, IM e SC.
Os usos terapêuticos dos agonistas oc2-adre- Usos Clínicos - Medicação pré-anestésica,
nérgicos incluem medicação pré-anestésica, imo- indução de analgesia epidural, imobilização,
bilização, indução de analgesia epidural e como sedativo, analgésico e relaxante muscular. Muito
potente agente analgésico, sedativo e relaxante utilizada em associação com a cetamina. Pode
muscular. ser utilizada como emético em cães e gatos em
Os agonistas cc2-adrenérgicos mais utilizados algumas situações de intoxicação.
na Medicina Veterinária são: xilazina, romifidina,
detomidina e medetomidina. No Brasil, atualmen- Efeitos Adversos - Hipertensão inicial quando
te, só é comercializada a xilazina (Rompun®(v)) e a administrada IV, hipotensão, bradicardia, arritmia
romifidina (Sedivet®(v)); a detomidina (Domo- sinusal, bloqueio atrioventricular, vómito em
carnívoros por estímulo da ZQD (zona qui-
miodeflagradora do vómito), impactação intesti-
Romifidina
Classificação - Potente agonista adrenérgi-co cc2-seletivo.
Características - É aprovada para uso em equinos por via intravenosa. Experimentalmente, já foi
utilizada em cães, diluindo-se l ml (10 mg) de romifidina em 9 ml de solução de cloreto de sódio a
0,9%, na dose de 0,2 mg/kg, IM (Andrade, 1997).
Usos Clínicos - Medicação pré-anestésica, imobilização, sedativo, analgésico e relaxante
muscular. É bastante utilizado em associação com butorfanol.
Efeitos Adversos - São menos proeminentes que os observados com a administração de xilazina.
Pode ocorrer hipotensão, bradicardia, arritmia sinusal, bloqueio atrioventricular.
Doses
• Equinos: 0,04 a 0,1 mg/kg IV, 28 a 58 ug/kg, IV, em associação com butorfanol.
Apresentação - Sedivet*(v) (frasco de 20 ml com 10 mg/ml).
Medetomidina
Classificação - Potente agonista adrenérgico a,-seletivo.
Características - Aprovada nos EUA para uso em cães, por via intramuscular ou intravenosa.
Usos Clínicos - Medicação pré-anestésica, imobilização, sedativo, analgésico e relaxante muscular.
Efeitos Adversos - São menos proeminentes que os observados com a administração de xilazina.
Pode ocorrer hipotensão, bradicardia, arritmia sinusal, bloqueio atrioventricular.
Doses
• Cães: 750 pg, IV; 100 ug, IM/m2 e 30 a 40 pg/Kg, IM.
Apresentação - Domitor,(v) (frasco de 20 ml com 10 mg/ml) (sem apresentação no Brasil).
Analgesia - Bloqueiam a enzima cicloxigena-se (COX), responsável pela conversão do ácido araquidônico da
membrana em prostaglandinas (PGs), prostaciclinas (PGI2) e tromboxanos (TXs), e essas substâncias sensibilizam os
nociceptores (receptores) da dor. Também há evidências de que atuem centralmente inibindo a atividade da COX em
nível cerebral.
Ação Antipirética - Atuam no centro térmico (hipotálamo), inibindo a ação da prostaglan-dina (PGE2) liberada
após a ação fagocitária dos leucócitos sobre partículas estranhas, liberando pirógenos endógenos. Esses pirógenos vão
até o hipotálamo, aumentando a liberação de PGE2 e o limiar térmico. Os pirógenos exógenos incluem as endotoxinas
bacterianas.
Ação Antiinflamatória - Inibição das enzimas cicloxigenase-1 (COX-1) e cicloxigenase-2 (COX-2), em
proporções diferentes, inibindo a liberação de prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos, importantes mediadores da
inflamação.
Ação Anticoagulante - Por inibição da síntese de tromboxano, que aumenta a agregação plaquetária.
Ação Uricosúrica - Os salicilatos aumentam a excreção de ácido úrico em humanos, dependendo da dose.
Ação Antiespasmódica - A liberação de prostaglandinas pelo endométrio pode causar cólica forte e outros
sintomas de dismenorréia primária em mulheres. O tratamento com DAINEs alivia esses sintomas por inibição das
PGs. Esta ação também é útil no alívio da dor na cólica equina.
ANTIINFLAMATÓRIOS
ANTIINFLAMATÓRIOS ESTERÓIDES
Os corticosteróides, ou corticóides, são hor-mônios sintetizados pelo córtex da adrenal, ou supra-renal, e
classificados em: glicocorticói-des, produzidos principalmente pela zona fas-ciculata; mineralocorticóides,
produzidos pela zona glomerulosa; e androgênios, produzidos principalmente pela zona reticulata. Os glico-
corticóides atuam no metabolismo de carboi-dratos, de lipídeos e de proteínas e os mineralocorticóides regulam
o equilíbrio hídrico e eletrolítico. Os principais representantes naturais dos glicocorticóides são a hidrocortisona
(cortisol) e a cortiscoterona, e dos mineralocorticóides é a aldosterona. Os glicocorticóides são importantes
agentes antiinflamatórios e imunossupressores, exercendo profundos efeitos sobre quase todos os sistemas
orgânicos. Em virtude disto, são uma classe de fárma-cos com inúmeros efeitos colaterais, devendo ser a sua
administração bastante criteriosa tanto no seu uso clínico quanto na sua suspensão. Portanto, a instituição desta
terapêutica deve considerar todos os riscos e benefícios para cada paciente em particular.
Química e Classificação - Os corticosteróides, como todos os esteróides, possuem uma estrutura molecular
básica, o ciclopentano-peridrofenantreno. Certas características estruturais são relevantes para a sua atividade. As
características que determinam a atividade dos glicocorticóides (Figura 7.1), compostos por 21 átomos de carbono,
são conferidas pelas seguintes propriedades: hidroxila em C-ll; cetona em C-3 e em C-20; e dupla ligação entre C-
4 e C-5. A adição de dupla ligação entre C-1 e C-2 e a metilação de C-6 e C-16 aumenta a potência antiinflamatória.
O mesmo ocorre com o acréscimo de OH em C-17. A adição de flúor no C-9 amplifica todas as atividades biológicas
do cor-ticosteróide.
Os corticosteróides são geralmente classificados de acordo com sua potência relativa na retenção de Na +,
efeitos sobre o metabolismo de carboidratos (deposição hepática de glicogênio e gliconeogênese) e efeitos
antiinflamatórios. Com base nessas potências diferenciadas, os corticóides são tradicionalmente divididos em
glicocorticóides e mineralocorticóides e, de acordo com a duração de seus efeitos, em ação curta, intermediária e
longa (Tabela 7.1).
Mecanismo de Ação - Os corticosteróides, assim como outros hormônios esteróides, interagem com proteínas
receptoras intranuclea-res, específicas, de modo a regular a expressão dos genes responsivos aos corticosterói-
des, alterando os níveis e a disposição das pró-
90 Manual de Terapêutica Veterinária
TABELA 7.1 - Potência antiinflamatória, de retenção de Na* e afinidade por receptor glicorticóide dos diversos
corticosteróides, comparada com a hidrocortisona como padrão
Corticosteróide Potência antiinflamatória Potência de retenção de Na* Afinidade por
(glicorticóide) (mineralocorticóide) receptor
glicorticóide
Ação curta ( 12 h)
Hidrocortisona 1 1 1
Cortisona 0,8 10 0,8 125 0,01
Fludrocortisona
Ação intermediária
(12 a 36 h)
Prednisona 4 0,8 0,05
Prednisolona 5 0,8 2,2
Metilprednisolona 5 0,5 11,9
Triancinolona 5 O 1,9
Ação longa
(36 a 72 h)
P-metasona 25 0 5,4
Dexametasona 25 0 7,1
Flumetasona 30 0 -
teínas sintetizadas pêlos tecidos-alvo. Por causa da sua lipossolubilidade, os corticosteróides são
capazes de atravessar a membrana celular e se ligam aos seus receptores, localizados no interior do
núcleo, distribuídos em todos os tecidos, modificando sua expressão gênica. Os gatos apresentam
cerca de 50% menos receptores para glicocorticóides, quando comparados com cães, o que implica
em particularidades na terapia com corticosteróides nessa espécie.
FARMACOCINÉTICA
Absorção - São rapidamente absorvidos pelo trato gastrintestinal, membrana mucosa e pele.
Distribuição - A maioria dos corticosteróides se liga às proteínas plasmáticas (globulina e
albumina).
Biotransformação - Principalmente no fígado, no qual ocorre processo de oxidação, redução,
hidroxilação e conjugação, sendo inati vados, com exceção da cortisona e prednisona, que utilizam as
vias metabólicas hepáticas para se tornarem ativas (hidrocortisona e prednisolo-na). Os rins
excepcionalmente podem também metabolizar os corticosteróides.
Excreção - A maioria dos compostos hidros-solúveis é excretada pêlos rins. Uma pequena parte é
excretada junto com a bile pelas fezes. EFEITOS FARMACOLÓGICOS Atividade Glicorticóide
Metabolismo
• Aumenta a gliconeogênese e a síntese de glicogênio hepático.
• Inibe a captação e utilização periférica de glicose em virtude do antagonismo com a insulina.
• Aumenta o catabolismo de gordura, potencializando o efeito lipolítico de determinados hormônios,
como catecolaminas e hor-mônio de crescimento. O tecido adiposo tende a se redistribuir, desde as
extremidades da pelve, pescoço, tórax e omento.
• Antagoniza a vitamina D.
• Diminui a síntese de colágeno e proliferação de fibroblastos, retardando a cicatrização.
• Eleva o catabolismo proteico.
• Diminui a absorção intestinal de cálcio e promove hipercalciúria.
• Incrementa a diurese, por aumento da taxa de filtração glomerular, inibição dos efeitos e da síntese
do hormônio antidiurético (ADH).
Antiinflamatório e Imunossupressor
• Diminuem a migração leucocitária para o local de lesão tecidual.
• Diminuição de eosinófilos e linfócitos circulantes.
• Redução da permeabilidade capilar e formação de edema.
• Inibição da fosfolipase A2, reduzindo a liberação de ácido araquidônico, com consequente diminuição da
síntese de prostaglan-dinas, prostaciclinas, tromboxanos e leu-cotrienos, minimizando desta maneira
a hiperalgesia, vasodilatação e quimiotaxia.
• Inibem a síntese e a liberação de pirógenos endógenos.
• Diminuem a síntese e a liberação de his-tamina.
• Podem alterar o metabolismo do complemento em algumas espécies.
• Inibem a atividade do monócito (macrófago).
• Impedem a cascata de cininas e a ativação de plasminogênio.
• Supressão da função do linfócito T, pela redução da produção de linfocinas pêlos linfócitos T,
como a interleucina-4, que permitem a diferenciação em linfócitos B.
• Promovem linfocitólise em espécies sensíveis (coelhos, ratos e camundongos).
• Favorecem linfocitólise nas neoplasias de origem linfóide em todas as espécies.
SNC -Atuam no sistema nervoso central, podendo levar à euforia ou à depressão (uso ou exposição
crónicos).
Sistema Cardiovascular - Atuação sobre receptores adrenérgicos sensibiliza o sistema vascular à
ação pressora das catecolaminas. Aumenta a pressão arterial pela somatória de efeitos nos sistemas
cardiovascular e renal.
Músculo - Em doses fisiológicas, os glico-corticóides mantêm a função muscular, entretanto, em
doses terapêuticas, pode ocorrer perda de massa muscular e fraqueza.
Trato Gastrintestinal - Aumento da secreção do ácido gástrico, de pepsina e do suco pan-creático.
No fígado ocorre aumento de uma isoen-zima, a fosfatase alcalina esteróide-induzida.
Pele - Em virtude da diminuição da síntese de colágeno e ácido hialurônico, ocorre diminuição da
espessura dérmica, retardando a cicatrização e a renovação celular epidérmica, podendo também
ocorrer hiperqueratose e hiper-pigmentação.
Osso - Aumentam a reabsorção óssea, bem como a competência dos osteoclastos e diminuem a
atividade geradora de matriz óssea pêlos os-teoblastos.
Sangue
• Eritrocitose: resultante do decréscimo da fagocitose das hemácias.
• Neutrofilia: por causa da impossibilidade de migração dos neutrófilos para os tecidos periféricos.
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
Oral - Todos os corticosteróides sintéticos podem ser ministrados por via oral. Administração em
dias alternados de corticosteróides de ação intermediária minimiza a inibição da secreção de ACTH
(hormônio adrenocorticotrófi-co). É a via mais segura para administração a longo prazo.
Intravenosa - Preparações hidrossolúveis (formulações succinato, fosfato e polietilenogli-col)
podem ser administradas IV. É a via de escolha em casos emergenciais (por exemplo: choque
anafilático).
Subcutânea - Via muito utilizada na Medicina Veterinária em razão da praticidade. Nas preparações
de acetato ou acetonida, recomenda-se o uso por essa via.
Subconjuntival - Muito utilizada na oftalmologia para processos inflamatórios importantes (por
exemplo: uveíte).
Tópica - Preparações tópicas, em formulações de cremes ou unguentos, são úteis quando
Usos CLÍNICOS
EFEITOS COLATERAIS
Contra-indicações
• Gravidez.
• Processo ulcerativo e cicatrizante (exemplo: úlcera de córnea).
• Gastrite e úlcera gástrica.
• Diabetes melito.
• Pancreatite.
• Insuficiência cardíaca e renal.
• Doenças infecciosas.
PROSTAGLANDINAS
As prostaglandinas são uma família de derivados de ácidos graxos com intensa atividade biológica.
São sintetizadas virtualmente por to-
QUADRO 7.1 - Causas de lesão tecídual
Não-Imunológícas Imunológicas
——— TNFa
Fosfolipídeos
Fosfolipase A2
i. Inibem
12-LIpoxigenase Ácido Araquidônlco
Cortlcosteróides
Cicloxiginase (COX)
COX-1 COX-2
(constitutiva) (induzida)
. l
.
FIGURA 7.1 - Cascata de produção de mediadores inflamatórios após dano celular. Para detalhes sobre as abre-
viações consultar o texto.
TABELA 7.3 - Alguns exemplos da atividade das DAINEs sobre a COX-1 e a COX-2 expressa pela razão COX-2 IC50/COX-1 IC50
ou COX-1 IC50/COX-2 IC50
Droga Razão COX-2/COX-1 Razão COX-l/COX-2
Meloxicam 0,8 3 3
Carprofeno 1 - 129
Cetoprofeno - 0,02 0,25
Naproxeno 0,6 0,1 -
Flurbiprofeno 1,3 - -
Flunixim meglumine - - 0,7
Etodolac - 5 0,5
Nimesulida - - 38
Ibuprofeno 15 0,2 -
Diclofenaco - 2 _
Ácido Meclofenâmico - - 15
Ácido Tolfenâmico 16,7 - 15
Indometacina 60 0,4 —
Ácido Acetilsalicílico 166 - 0,3
Piroxicam 250 — _
Tipo de Pesquisa Células intactas Sangue total Tromboxano e
humanas Vane; humano histiocitoma canino
Autor Botting (1996) Wang (1998) Ricketts et ai. (1998)
Outros autores preferem utilizar a razão COX-1
IC50/COX-2IC50, que pode muitas vezes confundir o
leitor, pois, neste caso, razões altas significam
maior atividade COX-2 e menor atividade COX-1. e o limiar térmico. Possui também ação anticoa-
Outro detalhe importante na análise destes resul- gulante, por inibição da síntese de tromboxanos,
tados é observar em que tipo de célula e espécie que aumenta a agregação plaquetária. Outras
foi obtida a razão. Atualmente, há trabalhos pu- ações incluem a elevação da excreção de ácido
blicados com pesquisa in vitro da inibição da úrico em humanos (salicilatos) e ação
COX-1 e COX-2 pelas DAINEs em sangue total antiespasmódica por diminuição da liberação de
humano, em tromboxano e histiocitoma canino e prostaglandinas em nível do endométrio.
pesquisa in vivo em ratos (Tabela 7.4). Em uma
análise geral, aspirina, piroxicam e indometacina
possuem valores elevados da razão COX-2/COX-1, EFEITOS COLATERAIS DAS DAINEs
carprofeno, nimesulida, meloxicam e celecoxib, os
menores valores, conferindo um maior grau de
Muitos dos efeitos colaterais ocorrem em
seletividade COX-2, com efeitos colaterais me-
virtude da inibição da COX-1, que possui um
nores. Portanto, hoje, há uma tendência mundial
importante papel fisiológico no estômago, rins,
em se utilizar as DAINEs com maior seletividade
endotélio e plaquetas. Além disso, diferentes
COX-2 e menor possível COX-1.
parâmetros farmacocinéticos em cada espécie
fazem com que as DAINEs com meia-vida longa
de eliminação em uma determinada espécie
AÇÕES FARMACOLÓGICAS DAS DAINEs
(Tabela 7.4) sejam mais tóxicas para a mesma. A
soma dos fatores: razão COX-2/COX-1 baixa e
As principais ações farmacológicas das meia-vida curta a média denota um grau de maior
DAINEs são antiinflamatórias e analgésicas. As segurança da droga para uma determinada
ações antiinflamatória e analgésica ocorrem pela espécie animal. Os principais efeitos colaterais
inibição da COX-1 e da COX-2, em proporções das DAINEs são:
geralmente diferentes, inibindo a liberação de
prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos, Sistema Digestivo - São os efeitos colaterais
importantes mediadores da inflamação e da dor. A mais importantes do grupo. São decorrentes da
ação antipirética é por causa da inibição da inibição da COX-1 com bloqueio da síntese de
PGE2 liberada após a ação fagocitária dos leu- prostaglandinas gástricas, aumentando a secreção
cócitos sobre partículas estranhas, liberando ácida do estômago. Desta maneira, podem ocorrer
pirógenos endógenos. Estes pirógenos vão até o gastrites, úlceras gástricas, hemorragias gástricas e
hipotálamo, aumentando a liberação de PGE2 gastrenterites.
Sistema Renal - Em pacientes com redução
do fluxo sanguíneo renal e/ou edema (decorrente
da retenção de Na+, K+ e água), as DAIXEs
TABELA 7.4 - Meia-vida (TV2|3) em horas de eliminação de algumas DAINEs em algumas espécies animais
podem provocar insuficiência renal aguda, por causa da inibição de PGE2 e PGI2 envolvidas na
manutenção da dinâmica sanguínea renal e, mais particularmente, na vasodilatação compensató-ria
mediada por PGE2 que ocorre em resposta à ação da noradrenalina ou da angiotensina II. O uso
crónico de DAINEs pode causar nefropatia analgésica, que compreende nefrite crónica e necrose
papilar renal.
Alterações Hematológicas - Principalmente bloqueio da agregação plaquetária, por causa da
inibição da síntese de tromboxanos. Outras alterações que podem ocorrer: anemia aplá-sica,
trombocitopenias, leucopenias, agranu-locitoses.
Lesão à Cartilagem Articular - Aspirina, indometacina, ibuprofeno e naproxeno podem causar
aumento na degeneração da cartilagem em razão da diminuição da síntese de glicosami-noglicanos na
articulação afetada.
Fígado - Podem ocorrer lesões hepáticas, principalmente quando houver comprometimento renal
associado.
Reações de Hipersensibilidades - Em pacientes suscetíveis, principalmente com a aspirina (ácido
acetilsalicílico).
CLASSIFICAÇÃODASDAINEs
As DAINEs podem ser classificadas de acordo com a estrutura química em três grupos:
Ácidos Carboxílicos - Salicilatos (ácido acetilsalicílico, salicilato de sódio); ácidos propiôni-cos
(naproxeno, ibuprofeno, carprofeno, cetopro-feno, vedaprofeno); ácidos acéticos (diclofenaco); ácidos
antranílicos (ácido meclofenâmico, ácido tolfenâmico); ácidos aminonicotínicos (flunixim meglumine);
ácidos indol (indometacina).
Ácidos Enólicos - Pirazolônicos (fenilbuta-zona, dipirona); oxicans (piroxicam, meloxicam).
Sulfonalídeos - Nimesulida.
Outros - Benzidamina, acetaminofeno (para-cetamol), celecoxib, dimetilsufóxido (DMSO), gli-
cosaminoglicanos.
As principais indicações, dosagens e apresentações das DAINEs utilizadas na Medicina Veterinária
estão descritas na tabela 7.5.
Salicilatos
O efeito medicinal da casca do salgueiro era conhecido por diversas culturas através dos séculos.
Em 1829, Leroux isolou, pela primeira vez em sua forma pura, um ingrediente ativo da casca do
salgueiro, denominado salicina, um glico-sídeo amargo que, mediante hidrólise, produz glicose e
álcool salicílico, este último pode ser convertido em ácido salicílico. A produção sintética deste ácido foi
realizada em 1860 por Kolbe e Lautemann. Hoffman, um químico a serviço da Bayer, foi o primeiro a
preparar o ácido acetilsalicílico com base no trabalho inicial de Gerhardt em 1853. Após a demonstração
de seus efeitos antiinflamatórios, o composto foi introduzido por Dresser em 1899, com a denominação
de aspirina para o uso na Medicina.
Ácido Acetilsalicílico (Aspirina®(H),
AAS®(H)) - É o antiinflamatório mais importante deste grupo. É analgésico, antitérmico e antiin-
flamatório, com fraca ação antiespasmódica. Possui ação trombolítica pela inibição da agregação
plaquetária. Em altas doses pode provocar quadros de acidose metabólica que, conjuntamente com o
efeito antitrombótico, pode levar ao aumento de tempo de sangramento. Este efeito ocorre em
consequência da acetilação irreversível da COX, que não permite a síntese de tromboxanos. O gato
metaboliza o ácido acetilsalicílico de maneira prolongada em razão de seu sistema microssomal hepático
não metabolizar rapidamente drogas que primariamente exigem conjugação com o ácido glicurônico para
detoxicação e excreção. A aspirina é conjugada pela transferência do ácido glicurônico uridinodifosfato
através da glicuroniltransferase nos microssomos hepáticos. A glicuroniltransferase ocorre na maioria dos
mamíferos, com exceção do gato. Desta maneira, nesta espécie, o intervalo entre doses da aspirina é
maior (48/48 horas).
Salicilato de Sódio - Tem pouco uso na Medicina Veterinária.
Ácido Salicílico - É restrito à aplicação tópica por ser extremamente irritante à mucosa gástrica. Sua
ação é querotolítica e antifúngica.
110 \\anual de Terapêutica Veterinária
Ácidos Propiônicos
Naproxeno (Flanax®(H), Naprosyn®(H>) - É
aprovado para uso em equinos como droga an-tiinflamatória, analgésica e antipirética, cuja ati-vidade
se assemelha aos salicilatos. Em cães não é indicada, pois tem um efeito ulcerôgenico importante,
principalmente, em decorrência da meia-vida nesta espécie ser em torno de 35 a 74 horas, que pode
estar relacionado ao ciclo êntero-hepático. Já foram relatados casos fatais de uso de naproxeno em cães.
Ibuprofeno (AdvÜ®(H), ArtriP(H)) - Foi a
primeira substância do grupo a ser desenvolvida. Inibe a COX-1 e a COX-2 na mesma proporção e de
forma irreversível. É muito utilizada em humanos para tratamento de osteoartrites, porém seu uso em
animais ainda é restrito, sendo que possui uma baixa margem de segurança em cães, por causa da
longa meia-vida da droga nesta espécie.
Carprofeno (Rymadil®(v)) - É utilizado como antiinflamatório, analgésico e antipirético em cães,
principalmente no tratamento de osteoartrites. É um inibidor seletivo COX-2 apresentando uma razão
COX-2/COX-1 de l, com meia-vida em torno dei 8 horas em cães e 10,7 horas em gatos em média.
Em bovinos é em torno de 30 horas e em equinos 22 horas. Possui menos efeitos colaterais gástricos e
renais. Recentemente fofam relatados casos de hepa-totoxicidade eraVães.
Cetoprofeno o^ Ketoprofeno (Profenid®(H)
Ketofen®^) - É aprovado para uso em cães e gatos como antiinflamatório, analgésico e antipirético,
principalmente no tratamento de osteoartrites. Inibe a cicloxigenase e a lipoxigenase, apesar de esta última
ação ainda não estar totalmente comprovada. Possui uma meia-vida em cães em torno de 4 horas e em
gatos de 1,1 hora.
Vedaprofeno (Quadrisol 5®(v)) - Recentemente lançado, pode ser administrado em fêmeas
gestantes e lactentes. Possui mínimos efeitos adversos gastrintestinais e é indicado para o tratamento de
dores leves a moderadas e em procedimentos ortopédicos. Sua apresentação também é diferenciada,
sendo em forma de gel palatável para administração oral em cães.
Ácidos Acéticos
O diclofenaco potássico (Cataflan®(H)) e o sódico (Voltaren®(H)) são bastante utilizados na Medicina
Humana com alta potência antiinflama-tória e analgésica. Promovem inibição da cicloxigenase e
lipoxigenase. Em cães podem causar grave gastrenterite hemorrágica, não devendo ser utilizado nesta
espécie. Em bovinos e bubalinos têm sido utilizados experimentalmente na dose l mg/kg, IM.
Ácidos Antramïicos
O ácido meclofenâmico e o ácido mefenâmico (Ponstan®(H)) são os mais utilizados deste grupo. São
indicados em cães no alívio da dor em displasia coxofemoral, em cavalos no tratamento de osteoartrites e
inflamações de tecidos moles e no controle de anafilaxia.
Ácidos Aminonicotínicos
O flunixim meglumine (Banamine®(v)) é um potente analgésico, antiinflamatório e antipirético
utilizado em cães, gatos, equinos, bovinos e suínos. Do ponto de vista analgésico, é considerado mais
potente que a fenilbutazona, pentazocina e meperidina. É indicado no tratamento de processos
inflamatórios e dolorosos associados a distúrbios musculoesqueléticos. Utiliza-se para aliviar a dor em
cólicas equinas. Tem sido usado no tratamento do choque séptico por via IV. É bastante efetivo no
tratamento emergencial da uveíte por via IV, e no pré e pós-operatório de cirurgias oftálmicas. Em cães
e gatos, o período de tratamento não deve ultrapassar 3 dias, em razão do potencial risco de gastrite e
gastrenterite hemorrágica.
Ácidos Indol
A indometacina (Indocid®(H)) não é aprovada pelo FDA para uso em animais. É um dos inibidores
mais potentes da cicloxigenase, possuindo em média 1.000 vezes mais a potência antiinflamatória e 20
vezes mais a potência antipirética da fenilbutazona. Possui uma razão alta COX-2/COX-1 em torno de
60, o que lhe confere uma baixa margem de segurança. É altamente tóxica para a maioria dos animais
e, principalmente, para cães e gatos, em consequência da gastrenterite hemorrágica grave que
provoca. Isto também se deve em parte ao ciclo êntero-hepático da droga que ocorre nessas espécies.
Outros efeitos colaterais são: anemia he-molítica, hepatite e icterícia.
Pirazolônicos
Fenilbutazona (Butazolidina®(H)) - É um
antiinflamatório potente utilizado em distúrbios musculoesqueléticos, osteoartrites, laminite e in-
flamações de tecidos moles em equinos e bovinos. Apesar de ser aprovado para uso em cães, deve-se
evitar o uso de fenilbutazona nesta espécie, por causa de graves efeitos colaterais que provoca, como
distúrbios gastrintestinais, discra-sias sanguíneas, hepatotoxicidade e nefropatias. É contra-indicada em
animais com insuficiência cardíaca, hepática ou renal.
Dipirona (Novalgina®(HXV)) - A dipirona é um analgésico, antipirético e antiespasmódico com fraca
ação antiinflamatória. Isto se deve provavelmente à sua baixa ligação às proteínas plas-máticas, o que
conseqüentemente diminui sua concentração no local inflamado. Tem sido bastante utilizada em
equinos no alívio da dor na cólica e outros quadros de hipermotilidade gastrintestinal em animais de
grande e pequeno porte. É também usada em associação com hioscina (antiespasmódico) (Buscopan
Composto, p, aumentando o efeito antiespasmódico da dipirona. Os efeitos colaterais incluem
agranulocitose, leu-copenia e convulsões. Pode provocar hipoter-mia grave quando associado a
clorpromazina. A administração IM pode provocar reação local e formação de abscessos. Não deve ser
utilizada em animais para consumo humano.
Oxicans
Piroxicam (Feldene®(H)) - O piroxicam é um potente antiinflamatório, analgésico e antipirético.
Possui uma elevada razão COX-2/COX-1, o que lhe confere uma baixa margem de segurança. É utilizado
em cães e equinos nos distúrbios musculoesqueléticos, osteoartrite e no alívio da dor após trauma
agudo ou após intervenção cirúrgica. Os efeitos colaterais são inúmeros, e os cães são especialmente
sensíveis, e incluem gastrites, úlceras gástricas e gastrenterites hemorrágicas.
Meloxicam (Movatec®(H)) - Atualmente, junto com o celecoxib, é considerado um dos mais
seguros antiinflamatórios não-esteróides, por ser mais seletivo COX-2, sendo sua razão COX-
2/COX-1 em torno de 0,8 (Mitchell et ai., 1993), produzindo menos efeitos colaterais gástricos e
renais. É um potente inibidor de prostaglandinas e tromboxanos, além de aparentemente ter uma
ação condroprotetora. Em recente trabalho desenvolvido pela autora com a análise histopatológica
de estômago, rins e fígado de 20 cães, divididos aleatoriamente em dois grupos com 10 animais
cada, sendo o grupo A administrado com meloxicam na dose 0,2 mg/kg, VO, 24/24 horas, durante
7 dias, e o grupo B a mesma dose, porém durante 14 dias. Os resultados demonstraram que o
meloxicam não induziu nenhuma alteração significativa nos órgãos coletados, demonstrando
ser seguro no protocolo de 0,2 mg/kg, VO, 24/24 horas por até 14 dias de tratamento. Forsyth et ai.
(1998), em estudo da mucosa gastroduodenal através de endoscopia em cães que receberam
carprofeno, meloxicam e ketoprofeno em protocolos terapêuticos que variaram de 7 a 28 dias,
demonstram que o carprofeno induziu lesões graves menores, apesar de que não houve
diferença estatística significante (p 0,05) entr e as três drogas testadas. As incidências das lesões
aumentaram a partir do sétimo dia.
podem modificar a pressão e a osmolaridade neste compartimento. Quando isto ocorre, há re-
distribuição de água entre os compartimentos. Por exemplo, quando ocorre perda água do LEC, a
concentração de sódio no LEC aumentará, elevando a pressão osmótica no LEC e favorecendo o
movimento de água do LIC para o LEC até que se estabeleça um novo equilíbrio osmótico.
Líquidos são normalmente perdidos pelo organismo pelas fezes e urina e repostos por meio da
ingestão de água, da água presente na comida e da água metabólica gerada pela oxidação tissular de
nutrientes. As perdas sensíveis (urina) correspondem a cerca de 20 a 40 ml/kg/dia, enquanto as perdas
insensíveis (fezes, respiração e transpiração) chegam a cerca de 20 ml/kg/dia. Portanto, em condições
normais, um animal perde, diariamente, cerca de 50 ml/kg/dia (ou 5% do peso vivo) de água corporal.
Esta perda diária é suprida por ingestão de igual quantidade de água. Em animais normais, o balanço
hídrico diário é zero (perdas = ingestão). Desidratação acontece sempre que as perdas diárias excedam
o aporte de água para o organismo (perdas > ingestão ou balanço hídrico negativo). A desidratação
pode ocorrer por hipodipsia (diminuição do acesso à água, alterações neurológicas ou doenças
sistémicas que impeçam o animal de beber) ou, mais comumente, por aumento das perdas. Aumento
das perdas pode ser em virtude da poliúria, vómito, diarreia, febre, sudorese (equinos), queimaduras
extensas e perdas para o terceiro espaço (por exemplo, ascite).
A desidratação é classificada de acordo com a tonicidade do fluido que permanece no organismo
após a perda de água e eletrólitos em: hipotônica, hipertônica e isotônica. As manifestações clínicas de
desidratação irão variar de acordo com o tipo de desidratação, sendo mais graves na desidratação
hipotônica. Desidratação hipotônica acontece quando há perda de sal maior que de água, levando à
hiponatriemia. Ocorre uma transposição de água EC para o espaço IC que levam à diminuição severa
do volume circulante e sinais clínicos mais evidentes de desidratação. Hematócrito e proteínas totais
aumentam pela grande perda de líquido extracelular. A desidratação isotônica ocorre quando a perda de
sal é proporcional à de água. A concentração de sódio permanece normal, não havendo transposição de
água entre o espaço EC e IC. Hematócrito e proteínas totais permanecem normais. Desidratação
hipertônica acontece quando há perda de água maior que a de sal, levando à hipernatriemia. Há
transposição de água IC para o espaço EC. A migração de líquidos de dentro das células para o espaço
EC minimiza os sinais clínicos de desidratação. Hematócrito e proteínas totais estão minimamente
alterados.
Choque hipovolêmico.
Choque 12 a 15%
TABELA Í9.2- Composição iônica, osmolaridade e tonicidade das principais soluções utilizadas em Medicina
Veterinária
Solução Ringer Ringer NaCl 0,9% Glicose 5% Glicofisio- NaHCO} NaCl 7,5% Plasma
com lógica 5%
lactato
Na* (mEq/1) 130 147,5 154 0 154 600 1.200 136 a 145
K* 4 4 0 0 0 0 0 2,8 a 4,7
(mEq/1)
QUADRO 19.2 - Escolha empírica do fluido a ser administrado, baseado no problema primário.
Problema Tipo mais provável de Outras anormalidades Fluidos de primeira
desidratação escolha
Anorexia Isotônica Hipocalemia? Ringer com lactato Solução
de NaCl 0,9%
Choque hipovolêmico Isotônica Acidose lática Solução de NaCl 0,9%
Diabetes melito Hipertônica Acidose, hipocalemia, hipofosfatemia Ringer com lactato Solução
de NaCl 0,9% (choque)
Vómito com conteúdo Isotônica ou hipertônica Hipocalemia, acidose Ringer com lactato Solução
intestinal (bile) de NaCl 0,9%
Vómito de conteúdo Isotônica ou hipertônica Hipocalemia, hipocloremia, alcalose Solução de NaCl 0,9%
estomacal (primeiras 24 horas) Ringer com lactato
tes, com desidratação grave ou com perda aguda de fluidos, sendo a via de eleição em situações
emergenciais (pacientes que necessitem rápida expansão do volume circulante). A via intravenosa
permite infusão diretamente no espaço intravascular de doses precisas rapidamente. As principais
complicações desta via são: trombose, flebite, infecções, embolismo e hiper-hidratação. As veias mais
utilizadas são as cefálicas, safenas e jugulares, embora outras veias também possam ser utilizadas em
situações excepcionais. A via intra-óssea propicia uma excelente alternativa à via intravenosa em
animais de pequeno porte ou muito jovens, pacientes com trombose ou vasos colapsados. Para todos
os efeitos práticos, fluidos administrados por via intra-óssea caem diretamente na corrente sanguínea.
Conseqüentemente, as vantagens da via intravenosa também se aplicam à intra-óssea. A via intra-óssea
é particularmente útil em pacientes muito desidratados, porque a medula óssea não colapsa com a
desidratação. Os locais mais utilizados para a administração intra-óssea são: tuberosidade da tíbia,
fossa trocantérica do fémur, asa do íleo e tubérculo maior do úmero. As principais complicações,
embora raras, são: osteomielite e dor.
A via subcutânea é prática e barata em cães de pequeno porte e gatos. Não pode ser usada em
pacientes com vasoconstrição periférica (muito desidratados, hipotérmicos ou hipoten-sos), pois a
vasoconstrição vai limitar a absorção de fluido do espaço subcutâneo. Se o fluido administrado ainda
estiver no espaço subcutâneo seis horas após administrado, outra via deveria ter sido usada. É
necessário um período de equilíbrio para que soluções administradas por esta via sejam absorvidas.
Fluidos sem ele-trólitos (por exemplo: glicose 5%) não devem ser utilizados, porque primeiro eles
retirarão ele-trólitos do líquido extracelular, agravando alterações preexistentes. Soluções hípertônicas
não devem ser utilizadas por via subcutânea em virtude do risco de necrose. Soluções com mais de 35
mEq/1 de potássio causam dor e desconforto quando administradas por via subcutânea. A via
482 Manual de Terapêutica Veterinária
oral é a via mais fisiológica e deve ser utilizada em todos os pacientes que não estão vomitando,
mesmo naqueles que estão recebendo fluidos por outras rotas. Qualquer fluido pode ser administrado
desta forma, sendo a via ideal para soluções hipertônicas ou com alto teor calórico. Não deve ser a
única forma de administração de fluidos em pacientes muito desidratados.
pressão venosa central, podem receber até um volume circulante por hora. Isto equivale a cerca de 90
ml/kg/h no cão e 55 ml/kg/h no gato. Pacientes nefropatas, cardiopatas e com alterações consideráveis
na concentração de sódio têm chances maiores de desenvolver complicações decorrentes da
fluidoterapia, especialmente quando da administração rápida. Fluidos contendo potássio não podem ser
administrados a uma taxa maior que 0,5 mEq/kg/h de potássio. Em pacientes com desidratação grave,
porém não em choque hipovolêmico, é tradicional iniciar-se com uma "dose de ataque" (30 a 100% do
déficit estimado) nas primeiras três a seis horas e após retornar à velocidade normal para reposição
das perdas. Em pacientes com desidratação leve ou aparente, o déficit estimado pode ser administrado
em 24 horas. Em casos de desidratação moderada, pode-se utilizar ou não a dose de ataque,
dependendo do paciente.
A velocidade de administração de fluidos é controlada pelo uso de equipos ou bombas de
infusão. Com o uso de bombas de infusão, basta apenas programá-la e ela administrará a quantidade
estipulada por hora. Já com equipos, é necessário que se saiba quantas gotas têm em l ml do equipo em
questão. Equipos para adultos (macrométricos), em geral, têm 0,07 a 0,1 ml por gota (10 a 15 gotas por
ml), enquanto equipos pediátricos (micrométricos), geralmente têm de 0,017 a 0,02 ml por gota (50 a
60 gotas por ml). Sabendo-se o total a ser administrado por dia, pode ser calculado o número de gotas
por minuto para a regulagem da frequência de gotejamen-to. Por exemplo, quantos mililitros por
minuto terão que ser administrados em um paciente para que ao final de 24 horas ele receba 600 ml? O
primeiro passo, nestes casos, é calcular a quantidade de fluidos necessária por hora (total diário dividido
por 24 horas ou 600 ml H- 24 h = 25 ml/h). Para obter-se o total por minuto, basta dividir o total por hora
por 60 minutos (25 ml ^ 60 min = 0.4 ml/min). Utilizando-se um equipo adulto, em que cada gota tem
0,1 ml, este paciente necessitaria 4 gotas por minuto, ou uma gota a cada 15 segundos. Em muitos
equipos, l gota a cada 15 segundos é uma frequência de gotejamento muito lenta para permitir a
regulagem precisa. Nestes casos, é preferível trocar por um equipo pediátrico. Em um equipo com 0,02
ml por gota, 0,4 ml correspondem a 25 gotas por minuto. Isto resulta em aproximadamente l gota a cada
2 segundos.
Como Calcular o Total de Fluidos a Ser Administrado em 24 Horas?
A quantidade de fluidos a ser administrada em 24 horas deve ser suficiente para corrigir a
desidratação inicial, suprir as necessidades de manutenção (= 5% do peso vivo) e compensar as perdas
concomitantes (por exemplo: vómito, diarreia, poliúria).
As necessidades de manutenção de água são aquelas requeridas para a reposição de perdas fi-
siológicas diárias. Estas perdas são proporcionais às necessidades calóricas diárias de manutenção do
animal. Simplificadamente, considera-se que as necessidades de manutenção são de cerca de 40
ml/kg/dia em cães de grande porte e de cerca de 60 ml/kg/dia em cães de pequeno porte e gatos.
Filhotes têm necessidades de manutenção maiores que os adultos (60 a 100 ml/kg/dia). Em animais de
grande porte, as necessidades de manutenção são estimadas entre 50 a 100 ml/kg/dia, utilizando-se os
valores inferiores para animais adultos e os superiores para animais jovens.
A quantidade de fluido necessária para corre-ção da desidratação inicial é calculada multiplicando-se
o peso do animal (kg) pela porcentagem de desidratação. Deve-se somar a isto a quantidade de água que o
animal deverá perder nas 24 horas subsequentes (manutenção ou aproximadamente 5% do peso) e um
volume extra para as perdas concomitantes. Por exemplo, em um cão de 10 kg e desidratação de 10%, a
quantidade de fluidos necessária para as primeiras 24 horas será de:
Desidratação: 10 kg x 10% = l kg = l l
Manutenção: 10 kg x 5% = 0,5 kg = 500 ml
Perdas
concomitantes: valor estimado
Total: 1.500 ml de fluidos a serem
administrados em 24 horas.
Um método alternativo, para determinação da quantidade de fluido a cer administrado em 24 horas,
consiste em calcular-se o volume total como um múltiplo da taxa de manutenção (40 a 60 ml/kg).
Pacientes com desidratação leve (5 a 7%) recebem em torno de 1,5 vezes a taxa de manutenção (75
ml/kg/dia), pacientes com desidratação moderada (8 a 9%) recebem 2 ?, 2,5 vezes a taxa de manutenção
(100 a 125 ml/kg/dia), enquanto pacientes com desidratação grave (10 a 12%) recebem três vezes a taxa
de manutenção (150 ml/kg/dia). Pacientes com mais de 12% de
484 Manual de Terapêutica Veterinária
desidratação devem ser tratados para choque hi- atividade podem ser usados subjetivamente para
povolêmico. Usando-se o mesmo exemplo ante- avaliar a eficácia da reidratacao. Pressão venosa
rior de um cão com 10 kg e 10% de desidratação, central pode ser utilizada em pacientes recebendo
administra-se três vezes a taxa de manutenção ou grandes quantidades de fluidos em um período
150 ml/kg/dia multiplicados por 10 kg = 1.500 ml/ muito curto de tempo (por exemplo, choque
dia. Embora os resultados sejam similares com as hipovolêmico).
duas fórmulas, deve-se lembrar que este valor é
uma estimativa. Reavaliação do paciente a in- Por que Alguns Pacientes São
tervalos fixos é necessária para se certificar de Difíceis de se Reidratar?
que ele está sendo de fato reidratado. Calcular o
peso é uma maneira fácil e confiável de avaliar as Algumas alterações clínicas dificultam a
alterações na quantidade de fluidos em um reidratacao do paciente. Pacientes com insufi-
paciente. Se o peso é conhecido e o paciente não ciência renal poliúrica podem perder quantida-
está se alimentando, variações no peso indicam des muito altas de líquido pêlos rins. Nestes
alterações na quantidade de água. Um paciente casos, é necessário aumentar a quantidade de
desidratado que não ganha peso continua fluido administrado, caso o animal não esteja
desidratado. Os déficits de líquidos, manutenção e ganhando peso. Em pacientes com hipernatre-
perdas concomitantes devem ser avaliados dia- mia, a hiperosmolaridade mantém o fluido nos
riamente e a quantidade calculada deve ser ad- vasos impedindo a sua migração para o espaço
ministrada nas 24 horas subsequentes. intracelular. O fluido que permanece nos vasos é
A fluidoterapia deve ser monitorada para evitar excretado pêlos rins, dificultando a hidratação
a hiper-hidratação ou que o paciente não receba do paciente.
fluidos em quantidade suficiente para manter a Alguns pacientes se tornam difíceis de rei-
hidratação. Pacientes oligúricos ou com problemas dratar em consequência de falhas no seu manejo.
cardíacos devem ter um monitoramento mais A persistência da desidratação por erro de
intenso em virtude do alto-risco de hiper-hi- manejo pode ocorrer por erro matemático, pro-
dratação. Pacientes como insuficiência renal ou blemas mecânicos ou falha na avaliação do pa-
hipernatremia demoram mais para ser hidratados. ciente. As principais causas de persistência de
Além do peso corporal, a melhora clínica do desidratação e os passos a serem tomados para
animal e com recuperação da consciência e sua correção estão no quadro 19.4.
Erro matemático Erro no cálculo do volume diário. Tabelas com volume e velocidade de
Problemas administração.
mecânicos Erro no cálculo da velocidade de
Erro na avaliação administração. Equipo errado.
do paciente Bomba não funciona. Confira o equipo.
Verifique a
Fluxo posicionai. Obstrução do cateter.
bomba.
Administração muito rápida.
Mantenha o membro do animal em extensão.
Demora na troca de frascos. Verifique a patência do cateter.
Marque em cada frasco, a hora em que deve
Erro no cálculo da desidratação. Perdas
terminar. Registre as trocas
insensíveis subestimadas (febre e taquipnéia).
de frascos.
Perdas sensíveis subestimadas. Perdas
concomitantes subestimadas. Reavalie o paciente.
Monitore o paciente.
Aumente o volume de
fluidos.
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 485
até a septicemia. A contaminação pode ocorrer durante a colocação do cateter ou por meio da migração
de bactérias da pele. Os organismos mais comumente isolados de infecção pelo cateter são as
enterobactérias e bactérias do género Staphylococcus. As principais medidas preventivas para evitar a
infecção pelo cateter estão descritas no quadro 19.5. Sempre que houver suspeita de infecção pelo
cateter, deve-se agir imediatamente procedendo-se a limpeza e fazer anti-sepsia local, removendo-se o
cateter de forma estéril e submetendo sua ponta para cultura e antibiograma. Um cateter suspeito deve
sempre ser trocado e não deve jamais permanecer na veia. Em todo o paciente hospitalizado que apre-
sentar febre, o cateter é o culpado até que se prove o contrário.
Em animais de grande porte, as condições clínicas mais comuns que requerem fluidoterapia são
diarreias, choque, síndrome cólica, desidratação após exercícios físicos extenuantes sob condições
climáticas adversas (por exemplo, endu-ro equestre), ruptura de bexiga em potros, desequilíbrios
metabólicos, obstrução ou ruptura esofágica e doenças renais.
A maneira mais adequada de se determinar a necessidade e, ao mesmo tempo, elaborar o plano de
reposição hidroeletrolítica é obtendo informações precisas na anamnese, no exame físico e, quando
disponível, nas provas laboratoriais. Principalmente sob condições de campo, onde exames
laboratoriais podem não estar disponíveis, o conhecimento prévio da fisiopatolo-gia inerente às mais
variadas doenças é de fundamental importância para a elaboração de um plano de reposição
hidroeletrolítica lógico e adequado. O tempo de evolução da doença, quantidade e frequência dos
episódios de perdas hi-droeletrolíticas (por exemplo: diarreia, refluxo gastrintestinal colhido por sonda
nasogástrica), ingestão de alimentos, micção, tratamentos efe-tuados, drogas, doses, intervalos de
aplicação, disponibilidade, qualidade e ingestão da água oferecida permitem obter uma noção
preliminar acerca da gravidade de possíveis desequilíbrios. Um exemplo comum até os dias de hoje, e
que exemplifica a importância da anamnese, é o uso inadequado de diuréticos (furosemida) adminis-
trados por leigos a cavalos com cólica. Como a desidratação e a hipovolemia são, muitas vezes, as
responsáveis diretas pela morte do animal, a perda de mais líquidos induzida pela terapia diurética
agrava ainda mais o problema.
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea
487
A severidade dos sinais clínicos varia com a tela. É importante que o VG e a PPT sejam
gravidade da desidratação, podendo incluir analisados conjuntamente, pois, em algumas
perda de peso, aumento da frequência situações, a interpretação isolada desses
cardíaca e do tempo de refluxo capilar, perda valores pode resultar em erro. A estimulação
de elasticidade cutânea, ressecamento das simpática causada por condições de estresse ou
mucosas, diminuição da pressão arterial e da excitação pode provocar a contração esplénica
pressão de pulso, distensibilidade jugular com liberação na circulação de mais hemácias.
diminuída ou retardada, diminuição da Nessas circunstâncias, há aumento do VG não
temperatura nas extremidades e redução da por perda fluida, mas, sim, pelo aumento do
produção de urina. Porém, é interessante número hemácias não indicando, portanto,
ressaltar que, em situações clínicas em que a desidratação. Em situações clínicas em que há
perda hídrica não é acompanhada de perdas perda de proteínas associada a alterações
eletrolíticas, o animal pode não apresentar gastrintestinais (por exemplo: colite, peritonite)
sinais de desidratação, mas, mesmo assim, ou diminuição da produção decorrente de
estar desidratado. Na prática, isso pode ser problemas hepáticos, as proteínas plasmáticas
notado em animais que não se alimentam e podem apresentar-se diminuídas. Nessas si-
não ingerem água o que leva a desidratação tuações, a PPT perde seu valor como
hipertônica. Na desidratação hipertônica, o indicador de desidratação. Em potros e
LIC é deslocado para o compartimento EC, bezerros neonatos, os valores de VG e PPT são
mantendo a volemia e minimizando os sinais muito variáveis não sendo, portanto,
clínicos. indicadores fidedignos de desidratação.
Clinicamente, a desidratação pode ser Perdas hídricas podem suceder-se sem
subje-tivamente classificada em leve, moderada que ocorram perdas eletrolíticas. Porém, a
e grave de acordo com a rigorosidade dos sinais. grande maioria dos desequilíbrios hídricos é
Contudo, deve-se ter em mente que perdas acompanhada por desequilíbrios eletrolíticos e
líquidas inferiores a 5% do peso corpóreo não ácidos-bási-cos de graus variados.
apresentam manifestações clínicas. Em termos
práticos isso significa que nenhum sinal de
desidratação vai ocorrer em um cavalo adulto, Qual Fluido Deve Ser Utilizado?
pesando 450 kg, até que aproximadamente 20 Tanto colóides como cristalóides podem
litros de fluidos tenham sido perdidos. A tabela ser utilizados. Colóides são substâncias de alto
19.3 mostra os diferentes graus de peso molecular que, ao serem administradas,
desidratação em função de algumas alterações aumentam a pressão coloidosmótica
clínicas e laboratoriais. Deve-se ressaltar que intravascular e, com isso, estimulam a passagem
esses valores devem ser tomados apenas como de fluido do interstício para o plasma. O
guia geral e não como valores absolutos. dextran 70 e o plasma são os exemplos mais
O volume globular (VG) ou hematócrito e comuns de colóides sintéticos e naturais,
a concentração de proteínas plasmáticas totais respectivamente. Por questões de custo e pela
(PPT) são as duas mensurações laboratoriais possibilidade da ocorrência de efeitos colaterais
mais frequentemente utilizadas para se avaliar associados à administração de colóides
o grau de desidratação. A elevação desses sintéticos, o uso dessas substâncias é extrema-
índices é indicativo de perda hídrica. Outras mente restrito. O plasma é indicado
determinações como a ureia e a creatinina principalmente em potros ou bezerros que não
séricas também podem ser empregadas com ingeriram de forma adequada o colostro e, por
essa finalidade, porém todos esses índices isso, apresentam falha na transferência da
devem ser interpretados com cau- imunidade passiva.
TABELA 19.3 - Estimativa clínica do grau de desidratação em animais de grande porte
Desidratação Classificação . Turgor cutâneo TPC (segundos) VG PPT
(%) (segundos) (%) (g/dl)
O plasma também pode ser utilizado quando a PPT encontrar-se abaixo de 4 g/dl em virtude de perdas
contínuas existentes ou por hemodilui-ção decorrente da fluidoterapia prolongada com cristalóides.
Os cristalóides são as soluções mais amplamente empregadas em Medicina Veterinária. De maneira
geral, são utilizadas quando se objetiva a correção de alterações de volume, eletrólitos e do equilíbrio
ácido-básico. A composição iônica das principais soluções usadas atualmente pode ser verificada na
tabela 19.2. O uso de cristalóides deve, preferencialmente, ser baseado nas análises laboratoriais dos
eletrólitos séricos e gases sanguíneos, do pH e do conhecimento da tonicidade da solução a ser
empregada. Entretanto, em razão da indisponibilidade de parte desses recursos para a grande maioria
dos profissionais, o bom senso embasado no conhecimento preliminar dos tipos de desequilíbrios, mais
comumente relacionados à situação clínica em questão, é que determinará a escolha da solução mais
adequada.
A solução de Ringer com lactato é a que apresenta composição mais próxima à do plasma. É a
solução empregada na maioria dos pacientes como fonte inicial e emergencial de reposição
hidroeletrolítica até que as análises laboratoriais possam direcionar melhor a fluidoterapia. Deve ser
utilizada nas perdas de fluidos e eletrólitos acompanhadas de acidose metabólica. O lactato presente na
solução é transformado em bicarbonato após metabolização hepática. É importante ressaltar, contudo,
que distúrbios hepáticos intrínsecos ou estados de deficiência circulatória portal podem reduzir a
biotransformação de lactato em bicarbonato e, com isso, reduzir o potencial alcalinizante da solução.
A solução de cloreto de sódio a 0,9% deve ser empregada quando houver hipercalemia, hi-
ponatremia, hipocloremia e alcalose metabólica. As situações clínicas mais comuns que requerem o uso
de NaCl 0,9% são a ruptura de bexiga em potros e a desidratação após exercícios físicos extenuantes
com grandes perdas hidroeletrolíticas por meio do suor. A hipercalemia observada em potros com ruptura
de bexiga contra-indica o uso de soluções contendo potássio, como, por exemplo, a solução de Ringer ou
Ringer com lactato. A sudorese intensa observada em equinos submetidos a provas de longas distâncias
com predomínio de metabolismo aeróbio (por exemplo:
enduro) e promovidas notadamente, em dias de altas temperaturas, determina urna grande deple-ção das
reservas hidroeletrolíticas. Nessas situações, as perdas hídricas podem alcançar valores superiores a 40
litros durante a prova. Grandes quantidades de sódio, cloreto, potássio, cálcio e magnésio são perdidas
pelo suor, entretanto, os íons sódio e cloreto são aqueles perdidos em maior quantidade. A perda
excessiva de cloreto determina a mobilização de grandes quantidades de bicarbonato pelo organismo,
resultando, dessa forma, em um quadro de alcalose metabólica hipoclorêmica.
A solução de glicose a 5% deve ser empregada em casos de hipoglicemia ou de desequilíbrios
primariamente hídricos e não-eletrolíticos, ou seja, nos quais a desidratação é hipertônica. Na prática,
isso pode ser encontrado em animais que não estejam se alimentando nem ingerindo água e apresentem
hipernatremia. Situações clínicas envolvendo déficits tanto hidroeletrolíticos como energéticos são mais
adequadamente corrigidas pelo uso de soluções eletrolíticas balanceadas, como Ringer com lactato,
acrescidas de glicose a 20%.
O bicarbonato de sódio é usado para correção da acidose metabólica grave com pH inferior a 7,2
ou com déficit de base superior a 10 mEq/1. Na acidose metabólica de menor gravidade, a correção da
perfusão tecidual por meio de administração de soluções eletrolíticas, como Ringer com lactato,
associada à correção da causa primária, costuma corrigir o desequilíbrio ácido-básico. Sua administração
deve ser cuidadosa e com base nos valores da hemogasometria, pois a administração em excesso pode
provocar alcalose metabólica de difícil reversibilidade e depressão respiratória.
A solução hipertônica de cloreto de sódio a 7,5% (2.400 mOsm/1), utilizada em situações
emergenciais em pacientes com choque hipovo-lêmico ou séptico, vem ganhando considerável espaço
na Medicina Veterinária nos últimos anos. Por ser uma solução hipertônica, promove a trans-locação de
fluidos do interstício para o plasma, aumentando, dessa forma, o volume circulante. Há melhora no
rendimento cardíaco, pressão arterial, fluxo plasmático renal e diminuição na resistência vascular
periférica e pulmonar. A solução hipertônica de NaCl a 7,5% deve ser utilizada somente em situações
emergenciais em que é
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 489
necessária rápida expansão do volume circulante. A rápida expansão volêmica permite a manutenção
temporária das funções orgânicas até que medidas para correção da causa primária do choque sejam
tomadas. O uso de soluções hipertô-nicas em pacientes com hemorragia grave, que não possa ser
controlada por meio das manobras usuais de hemostasia, é contra-indicado. É importante lembrar que
os efeitos destas soluções são temporários, com duração entre 90 e 120 minutos, e que a continuidade
da expansão volêmica por meio de soluções eletrolíticas após a administração de NaCl a 7,5% é
condição indispensável para a correção do desequilíbrio circulatório e hídrico.
versíveis. A escolha do cateter mais adequado deve levar em consideração o porte do animal, a
velocidade de administração, o custo e a capacidade trombogênica do cateter, determinada fun-
damentalmente pelo seu diâmetro e material de fabricação. Materiais como silicone e poliuretano são
os que apresentam menor atividade trombogênica. Os cateteres mais usados em animais de grande porte
são os de diâmetro 14 g e 16 g. Sempre que possível deve-se utilizar o cateter de menor diâmetro, pois
quanto menor o trauma vascular, menores serão as chances de ocorrência de complicações. O
conhecimento da maneira correta de introdução e manutenção do cateter são essenciais para a
minimização dos danos vasculares e a maximização do tempo de uso do cateter. A introdução deve ser
realizada de forma asséptica mediante o uso de luvas estéreis e rigorosa tricotomia e anti-sepsia do
local. O sentido de introdução deve, preferencialmente, seguir a direção do fluxo sanguíneo. A prévia
inje-ção subcutânea de 0,5 a l ml de lidocaína no local de perfuração facilita a manobra, especialmente
em animais inquietos ou de difícil temperamento. Após a venopunção inicial realizada pela extremidade do
cateter e verificada pela presença de sangue no bulbo do mandril, deve-se manter o mandril imóvel e
deslizar apenas o cateter para o interior da veia mantendo-se o mandril apenas como guia. Após a
remoção do mandril, deve-se acoplar ao cateter o tubo extensor (Ex-tensofix 60 cm - Laboratório B.
Braun S.A.) já conectado ao equipo. A fixação do cateter é melhor realizada, por meio de suturas de
fixação do tubo extensor à pele em dois únicos pontos intervalados por l a 2 cm, sendo o primeiro apli-
cado imediatamente atrás da conexão em rosca do tubo extensor ao cateter. Terminada a fluido-terapia,
deve-se heparinizar todo o conjunto (cateter e tubo extensor) tomando-se o cuidado de não permitir a
entrada de ar no sistema. A extremidade livre do tubo extensor pode ser presa à crina do cavalo quando
a veia utilizada for a jugular. Outras veias como a torácica lateral, cefálica e safena podem ser utilizadas,
porém são de maior dificuldade quanto à manutenção. A obstrução do cateter, que muitas vezes decorre
da coagulação do sangue no interior do conjunto, pode ser evitada mediante a "lavagem" de todo o
sistema com uma solução heparinizada (10 UI heparina/ml de solução salina) a cada seis horas.
Caso ocorra a obstrução, remover o cateter e reintroduzi-lo, de preferência, numa outra veia. O tempo
de permanência do cateter é variável. De maneira geral, nenhum cateter deve permanecer posicionado
na mesma veia por mais de 72 horas. Caso haja a necessidade do novo acesso intravenoso, cateterizar
outra veia. Todo o conjunto deve ser inspecionado periodicamente e, na presença de sinais locais,
como hipertermia, aumento de volume e sensibilidade dolorosa, deve-se remover o cateter
imediatamente. A observação rigorosa às normas de higiene e anti-sepsia, relativas não só a introdução,
como também a todo o período de manutenção do cateter, é condição indispensável para a se evitar a
ocorrência de tromboflebites e septicemias.
A velocidade de administração de fluidos depende da severidade das alterações clínicas. De
modo geral, a velocidade máxima não deve ultrapassar 10 a 20 ml/kg/h, entretanto, em situações
críticas de grandes déficits hídricos, velocidades superiores podem ser necessárias nas primeiras horas.
Velocidades maiores podem ser obtidas com o uso de bombas de infusão. Velocidades de administração
muito rápidas podem provocar diurese pela rápida expansão plasmáti-ca sem, contudo, permitir a
difusão do fluido administrado para outros compartimentos que, seguramente, apresentam déficits de
volume.
Inúmeras situações envolvendo desequilíbrios hidroeletrolíticos, como diarreias graves, sequestro de
fluidos no sistema digestório em cavalos portadores de cólicas obstrutivas e em animais que não
estejam se alimentando, se caracterizam por deficiências de potássio em diferentes graus. Considerando
que o potássio é o principal íon responsável pelo equilíbrio osmótico no LIC e que a hipocalemia
grave pode resultar em distúrbios da condução neuromuscular esquelética e miocárdica, a
suplementação de potássio deve ser instituída nessas situações. No entanto, a administração deve ser
cautelosa uma vez que o excesso pode causar arritmias cardíacas seguidas de parada cardíaca. Como a
maior quantidade do potássio (98%) concentra-se no LIC, a determinação sérica desse íon não
representa com exatidão sua quantidade corpórea total. Mesmo assim esse valor pode servir como um
guia para a reposição de potássio. Situações clínicas em que a concentração sérica ou plasmática de
potássio se encontrar abaixo de 3 mEq/1 ou que o
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 491
cavalo esteja impossibilitado de ingerir alimentos podem ser suplementadas pela adição de potássio às
soluções eletrolíticas na quantidade de 20 a 40 mEq/1 por via IV. A velocidade de administração não
deve exceder a 0,5 mEq/kg/ hora. Caso se considere a via oral, a dose é de 40 g/450 kg, duas vezes ao
dia. Tão logo o animal reassuma a ingestão de fibras os níveis de potássio são prontamente
restabelecidos.
A taxa de infusão venosa de glicose a 5% em equinos não deve ultrapassar a 2 ml/kg/h. Em bovinos ~1
deve-se utilizar uma taxa mais baixa. É importante ressaltar que a rápida administração de soluções
contendo glicose pode ser prejudicial por causar diurese osmótica, desidratação, giicosúria e
hiponatremia. A solução hipertônica de XaCl 7,5% deve ser administrada na dose de 4 a 6 ml/kg por via
IV, durante um período de no mínimo 15 minutos. Sua aplicação deve ser sempre seguida por soluções
eletrolíticas isotônicas.
Tão importante quanto se conhecer as alterações mais comuns de cada situação e saber elaborar
corretamente o plano de reposição hi-droeletrolítica, é a consciência de que a fluidote-rapia induz a
novas mudanças da condição orgânica do paciente a cada instante. Nesse sentido, é de fundamental
importância que toda a estratégia de reposição hidroeletrolítica possa ser revista de forma periódica e
readaptada às novas condições do paciente.
INTRODUÇÃO
Desde os primeiros relatos de transfusões sngüíneas no século XVII, quando se transfundia sangue
heterólogo na tentativa de se alterar o comportamento de quem o recebia, a medicina «ansfusional tem
evoluído muito. Atualmente, as indicações para a transfusão de sangue total ou de um de seus
componentes são a necessidade do restabelecimento da capacidade de transporte de oxigénio pelo
sangue, deficiências na he-sia, transferência de imunidade passiva e hipoproteinemia ou hipovolemia.
Atualmente, tanto em animais de pequeno porte como de grande porte, de acordo com as indicações
específicas, o objetivo é utilizar preferencialmente os diferentes componentes sanguíneos individual-
mente em substituição ao sangue total.
O sangue fresco total é o sangue colhido há no máximo quatro horas. Ele pode ser utilizado
diretamente para transfusões ou a partir dele podem ser obtidas todas as frações descritas a seguir.
Para a colheita podem ser utilizadas, de preferência, bolsas apropriadas contendo anticoa-gulantes
adicionados ou não de fatores nutricio-nais ou preservantes para hemácias. Quando o volume é menor,
o sangue também pode ser colhido em seringas heparinizadas.
Os anticoagulantes mais frequentemente usados são o citrato fosfato dextrose adenina (CPDA-1), o
citrato ácido dextrose (ACD), o citrato de sódio e a heparina. Apenas os dois primeiros (CPDA-1,
ACD) contêm fatores nutricionais para hemácias e, portanto, são os utilizados quando se pretende
estocar o sangue colhido. O sangue colhido com citrato de sódio ou heparina deve ser transfundido
logo após a colheita. O sangue fresco total fornece todos os componentes sanguíneos: hemácias,
leucócitos, plaquetas, plasma e todos os fatores de coagulação e proteínas.
O sangue total estocado é o sangue fresco total colhido com CPDA-1 ou ACD e armazenado à
temperatura de l a 6°C. O CPDA-1 tem propriedades preservativas de hemácias melhores que o ACD,
permitindo a estocagem de sangue total canino por 28 até 35 dias, sangue total equino por 21 a 28 dias
e sangue total bovino por 30 dias. O sangue total estocado pode ser utilizado para fornecer hemácias,
proteínas plas-máticas e fatores de coagulação estáveis como o fibrinogênio.
O sangue fresco total pode ser separado em papa de hemácias e plasma por centrifugação ou
sedimentação. Após a separação, a papa de hemácias deve ser colocada em temperaturas entre l e 6°C,
o mais rápido possível. Deve se fazer uso de solução salina 0,9% para ressuspender as
492 Manual de Terapêutica Veterinária
As indicações clínicas para transfusão de sangue e seus componentes estão descritas no quadro 19.6.
QUADRO 19.6 - O uso de sangue e seus componentes de acordo com indicações clínicas*
Indicações Sangue e componentes
hepáticas graves ou de CID. Este componente também deve ser utilizado em casos de distúrbios
hemostáticos congénitos (doença de von Willebrand, hemofilia) ou adquiridos (CID, intoxicação por
varfarina) associados a sangramento grave ou quando esses pacientes necessitam de intervenção
cirúrgica, e em casos de coagulopa-tia dilucional após transfusões maciças.
O plasma fresco ou fresco congelado também tem seu uso indicado em animais de grande porte no
tratamento de patologias que resultam em hi-poproteinemia (<3 g/dl em bovinos, < 4 g/dl em equinos),
quando da necessidade de expansão aguda de volemia, em casos de falha na transferência de imunidade
passiva, ou quando se pretende fornecer imunidade específica em equinos (Rhodococcus equi,
Salmonella typhimurium).
O plasma congelado conserva concentrações adequadas apenas de fatores de coagulação de-
pendentes de vitamina K (II, VII, IX, X) estando, assim, indicado em casos de intoxicação por
varfarina, hipofibrinogenemia e hemofilia B. Outras indicações para o uso deste componente são a
hipoproteinemia e a reposição de IgG em re-cém-nascidos com falha na transferência de imunidade
passiva.
Como em bovinos hemácias e plasma não se separam por sedimentação, mas apenas por
centrifugação, na prática, tem-se utilizado sangue total, mesmo quando apenas o plasma seria o
suficiente.
Na maioria das vezes, o crioprecipitado é usado para tratar cães portadores da doença de von
Willebrand que serão submetidos à cirurgia. Seu uso também está indicado em casos de hemofilia ou de
coagulopatias adquiridas (CID, intoxicação por varfarina) associadas à perda sanguínea aguda, ou
quando estes pacientes serão submetidos à cirurgia.
O crioplasma pobre também é indicado em casos de hipoproteinemia e para reposição de IgG em
recém-nascidos com falha de transferência de imunidade passiva, porém, pela dificuldade de
processamento e obtenção, nestes casos, frequentemente, opta-se pela utilização de plasma fresco ou
congelado.
O uso do plasma rico em plaquetas pode ser indicado em pacientes com trombocitopenia grave,
disfunções plaquetárias congénitas ou adquiridas associadas a sangramento ou em casos em que estes
pacientes serão submetidos a procedimentos cirúrgicos. Nestes casos, pode ser recomendado o uso do
sangue fresco total ou do plasma rico em plaquetas como coadjuvante no tratamento, porém, é
importante lembrar que as plaquetas são rapidamente destruídas após transfusão e que a contagem
plaquetária pós-transfu-são não atinge valores adequados para evitar a continuidade de um sangramento
em andamento. Como o volume de sangue colhido em gatos é pequeno, é difícil fazer o fracionamento
deste, usando-se, então, geralmente, sangue total fresco ou estocado nesta espécie.
COLHEITADO SANGUE
Em animais de pequeno porte, o sangue pode ser colhido da veia jugular ou da artéria femural, e esta
última só deve ser abordada quando o animal estiver sedado. A veia jugular é preferida em virtude de
fácil acesso e ao fato de haver menos problemas com formação de hematomas. Em animais de grande
porte, o sangue é colhido da veia jugular.
O local da punção para colheita de sangue deve ser preparado com tricotomia e anti-sepsia
cirúrgica. A contenção em animais de pequeno porte pode ser em decúbito lateral ou estação, enquanto
animais de grande porte são contidos em estação em local apropriado e, dependendo da índole do
doador, sedados para a colheita.
O sangue pode ser colhido em bolsas plásticas ou frascos de vidro com vácuo, ambos com
anticoagulante. Os frascos de vidro contendo vácuo são menos adequados para a colheita de sangue por
dificultarem a separação dos diferentes componentes sanguíneos e por que provocam hemólise,
agregação plaquetária e inativa-ção dos fatores de coagulação VIII e XIII.
Quando é necessário colher pequenos volumes de sangue de cães, ou principalmente de gatos,
pode-se fazer uso de seringas estéreis com heparina ou CPDA-1, com uma proporção de uma parte de
anticoagulante para nove partes de sangue. Se a heparina for utilizada, o sangue deve ser transfundido
imediatamente após a colheita, pois esta causa agregação plaquetária, inibe fatores de coagulação e não
possui efeitos preservativos de hemácias. A quantidade de heparina necessária em animais de grande
porte é de
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 495
5 U/ml de sangue colhido. Porém, deve-se tomar cuidado com a quantidade total de heparina
administrada ao paciente, pois pode resultar em deficiência de coagulação.
Após a punção e estabelecimento de fluxo de sangue, a bolsa, ou o frasco com vácuo, deve ser
movimentada suavemente com o objetivo de homogeneizar o sangue com o anticoagulante sem causar
hemólise. Para facilitar o fluxo de sangue, a bolsa deve ficar em posição mais baixa que o doador e
deve-se aplicar garrote à veia proximal ao local da punção. A colheita não deve demorar mais que 15
minutos em animais de pequeno porte para se evitar estresse excessivo. Em animais de grande porte,
deve-se utilizar equipamento adequado para que, em razão do grande volume colhido, se evite múltiplas
punções do mesmo vaso. O recomendado é fazer o uso de uma balança para pesar a bolsa constante-
mente durante a colheita, sendo o peso ideal desta, 500 g, com sangue e anticoagulante. Após a colheita
e retirada da agulha deve ser feita compressão da veia jugular durante aproximadamente dois a quatro
minutos.
Para o armazenamento dos componentes sanguíneos deve-se usarfreezer e geladeira exclusivos para o
banco de sangue, com termómetro marcando temperatura máxima e mínima. Além disso, deve-se
respeitar os critérios de temperatura e período de armazenamento de cada componente. Antes de
qualquer componente ser usado, deve-se avaliar cuidadosamente o material para determinar qualquer
alteração que comprometa a segurança ou a eficácia do produto durante e após a transfusão, sendo que
as unidades suspeitas devem ser descartadas.
Foram identificados oito tipos sanguíneos em cães. Estes compreendem os AEC (antígeno
eritrocitário canino) 1.1, 1.2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Os tipos sanguíneos que têm o maior potencial de causar
reações transfusionais são o AEC 1.1, 1.2 e 7, sendo assim, os doadores devem ser negativos para esses
tipos sanguíneos.
Os felinos têm apenas três grupos sanguíneos A, B e AB, porém, ao contrário dos cães, possuem
anticorpos naturais, sendo estes responsáveis por reações transfusionais hemolíticas, podendo ocorrer
reações graves na primeira transfusão ou em filhotes de fêmeas primíparas. Assim, a tipificação
sanguínea e/ou a prova de rea-ção cruzada constituem procedimentos indispensáveis para assegurar a
compatibilidade entre esses animais.
Em equinos, os antígenos sanguíneos estão agrupados em sete sistemas: A, C, D, K, P, Q e U, cada
um possuindo vários subgrupos, o que resulta em mais de 400.000 possibilidades de tipos sanguíneos
diferentes, tornando praticamente impossível uma transfusão sanguínea totalmente compatível. Porém,
apenas os antígenos Aã e Qa são potencialmente imunogênicos. Um doador deve, portanto, não ser
apenas negativo para estes antígenos, como também não possuir anticorpos contra estes (não ter sido
sensibilizado).
Ruminantes têm um número variado de grupos sanguíneos (bovinos pelo menos 13, ovinos sete a
oito, caprinos pelo menos cinco). Independente do número de diferentes grupos sanguíneos em
ruminantes, estes não possuem ou têm poucas hemolisinas circulantes naturalmente e, portanto, uma
primeira transfusão pode ser realizada com riscos menores de ocorrerem reações adversas fatais.
Cuidados devem ser tomados quando de transfusões repetidas, a partir de sete dias da primeira.
Em suínos, existem 15 grupos sanguíneos e estes também possuem poucas aglutininas circulantes
naturalmente. Eventuais reações, mais frequentemente, estão relacionadas ao fator A.
Os doadores caninos devem ter entre l e 8 anos e peso acima de 27 kg. Cães pesando mais de 27
kg podem doar 450 ml de sangue a cada três semanas sem efeitos adversos ou necessidade de
suplementação nutricional. Se estiverem recebendo suplementação nutricional podem doar 22 ml/kg
a cada dez a 21 dias. Os doadores podem ser machos castrados e fêmeas castradas e/ou nulíparas. O
sangue total e o plasma de animais que já estiveram prenhez ou que receberam transfusão sanguínea
prévia não devem ser usados em decorrência da possibilidade de exposição a hemácias estranhas e
subsequente formação de anticorpos. Os doadores são examinados periodicamente e anualmente deve
ser feitos perfil bioquímico, urinálise e sorologia para Brucella canis, Erlichia sp., Dirofilaría immitis,
496 Manual de Terapêutica Veterinária
Borrelia burgdorferi, Babesia sp., dependendo da localização geográfica. Antes de cada doação, é feito exame clínico e
hemograma completo do doador. Cães não apresentam aloanticorpos naturais, então uma primeira transfusão pode
ser realizada com uma certa segurança sem reação cruzada prévia, exceto em casos de anemias imu-nomediadas.
Entretanto, para cães que receberam transfusão há mais de quatro a sete dias deve ser feito, obrigatoriamente, o teste da
reação cruzada antes da próxima transfusão.
Os doadores felinos devem ter entre 2 e 5 anos e peso acima de 4 kg, sendo preferível um peso entre 5 e 7 kg. O
volume sanguíneo máximo a ser colhido em felinos é de 11 a 15 ml/kg, a cada 21 dias. Entretanto, esse volume
representa uma maior porcentagem do volume sanguíneo total dos felinos em comparação à porcentagem do
volume sanguíneo total dos cães. Por esta razão, gatos podem desenvolver hipotensão como reação adversa após a
doação. Quando for preciso sedar esses animais, deve-se escolher sedativos que minimizem a hipotensão. Outra
medida que pode ser tomada é a administração de solução salina intravenosa, em duas a três vezes o volume
sanguíneo colhido. Os doadores podem ser machos castrados e fêmeas nulíparas ou castradas. Anualmente, deve ser
feito perfil bioquímico completo e devem ser testados para dirofilariose, hemobartonelose, vírus da leucemia virai felina
(LVF) e vírus da imunodeficiên-cia virai felina (FIV) e peritonite infecciosa felina (PIF). Os gatos doadores devem ser
regularmente vacinados contra rinotraqueíte, calicivírus, pan-leucopenia, clamídia e raiva.
O comportamento dos doadores caninos e felinos é uma consideração importante, já que a escolha cuidadosa dos
mesmos elimina a necessidade de tranqüilização, diminuindo o tempo da colheita e a relutância dos proprietários em
trazer os animais para serem doadores.
O doador equino idealmente pesa pelo menos 450 kg, é do sexo masculino, castrado ou não, tem valores de Ht e
proteínas plasmaticas normais, é negativo para anemia infecciosa equina e não possui os grupos sanguíneos Aã e Qa
nem anticorpos contra estes. Fêmeas só devem ser consideradas como doadoras se forem nulíparas. Deve-se dar
preferência a indivíduos da mesma linhagem ou raça do receptor, uma vez que, assim, diminuem-se as diferenças
relacionadas aos grupos sanguíneos. Um equino de 500 kg pode doar 6 a 8 litros de sangue, ou 20 a 25% de sua
volemia, ou 1,5 a 2% do seu peso vivo em sangue a cada 30 dias sem sequelas.
Os doadores ruminantes devem ser livres de doenças virais, bacterianas e hemoparasitárias e podem, quando não
gestantes, doar até 20% de sua volemia ou 10 a 15 ml de sangue por kg de peso vivo, a cada duas a quatro semanas
sem respostas adversas. Em ruminantes de pequeno porte, deve-se de preferência escolher doadores maiores, que
conseqüentemente poderão fornecer um volume de sangue maior, evitando-se assim a mistura de sangue de múltiplos
doadores para um mesmo receptor. Principalmente em bovinos, a escolha de animais calmos e sem excessos de
gordura facilita a colheita de sangue.
TESTES DE COMPATIBILIDADE
Para se verificar a compatibilidade entre plasma e hemácias de doadores e receptores, e identificar a presença de
anticorpos preexistentes responsáveis por hemólise ou hemoaglutinação, utiliza-se a prova de reação cruzada (Quadro
19.7).
Esta prova tem como objetivo diminuir o risco de reações transfusionais, principalmente onde a tipificação sanguínea
não é feita. Embora a ocorrência de reações transfusionais imediatas em uma primeira transfusão seja rara, é recomendado
que se faça a prova da reação cruzada antes de qualquer transfusão, principalmente quando a indicação para esta
transfusão são problemas auto-imu-nes. Deve ser obrigatoriamente realizada em pacientes a partir da segunda transfusão.
É importante lembrar que em cães a prova de reação cruzada não identifica incompatibilidade aos grupos AEC 1.1 e 1.2
se não houver sensibilização prévia e não representa um substituto para a tipificação sanguínea. Apenas a prova de
reação cruzada não é suficiente para se determinar definitivamente se há incompatibilidade entre doador e receptor.
Para isso, ainda é necessário testar o sangue com uma fonte exógena de complemento (teste de Coombs com soro de
coelhos).
Há dois tipos de reação cruzada, a maior e a menor. Na reação maior cruzam-se hemácias do doador com plasma
do receptor para verificar a presença de anticorpos no receptor contra as he-
Fluidoterapla e Transfusão Sanguínea 497
QUADRO 19.8 - Fórmula para cálculo do volume de sangue necessário para uma transfusão
Volume (em litros) - peso x fator* x (Ht pretendido - Ht receptor)
[Ht pretendido]
* Fator: cães = 0,09
gatos = 0,07
animais de grande porte = 0,08
potros recém-nascidos = 0,15
Obs.: Pode se substituir o valor do Ht pelo de hemoglobina.
• 10 ml/kg de papa de hemácias ou 20 ml/ Plasma
kg de sangue total para aumentar em 10% o A quantidade de plasma requerido para trata-
Ht do receptor; mento de hipoproteinemia/hipoalbuminemia pode
• 2,2 ml/kg de sangue total (doador com Ht ser calculada pela fórmula descrita no quadro 19.9.
de 40%) para aumentar em 1% o Ht do re- Este tratamento, porém, é considerado uma
ceptor. solução emergencial, não dispensando o suporte
nutricional ao paciente. Ainda, o volume aplicado
Porém, em animais de grande porte, em vir- seguindo-se a fórmula acima pode resultar em so-
tude do tamanho destes, seguindo-se à risca a brecarga circulatória, uma vez que o líquido apli-
fórmula citada, o volume de sangue a ser trans- cado, em razão de sua pressão coloidosmótica,
fundido seria muito grande para uma aplicação sofre pequena redistribuição para o leito extra-
em um tempo e a custo razoável. Na prática, o vascular.
que se recomenda é a transfusão de 6 a 8 litros São necessários 6 a 7 litros de plasma para se
de sangue para um equino ou bovino adulto. Isto elevar em apenas l a 2 g/dl os valores de proteína
corresponde a aproximadamente 10 a 15 ml de plasmática em equinos. Este pequeno aumento
sangue por kg de peso vivo do receptor e eleva nos valores totais se deve em parte a uma redistri-
o Ht deste em até 3 a 4% em bovinos e equinos. buição das proteínas plasmáticas para repor defi-
Também corresponde ao volume que um único ciências fora do leito vascular. Porém, após apli-
doador pode fornecer, evitando-se assim a cação de plasma em equinos com hipoprotene-
mistura de sangue de diferentes origens e mia, mesmo com elevação mínima de valores de
aumento no risco de reações adversas. proteínas plasmáticas totais, muitos casos apre-
Em potros com isoeritrólise neonatal é indi- sentam uma resposta clínica favorável evidente.
cada a aplicação inicial de l a 2 litros de sangue, Em bovinos um volume mínimo de 5 litros de
se necessário complementados com mais l a 2 plasma é necessário para se perceber aumentos
litros/dia nos dias seguintes. nos níveis de proteínas circulantes no receptor.
Quadro 19.9 - Fórmula para cálculo do volume de plasma a ser transfundido em casos de hipoproteinemia
Volume (em litros) = Vol. plasmático do receptor x (PtP pretendido - PtP receptor)
PtP pretendido
Em potros sadios (45 kg, PV) com falha na transferência de imunidade, l litro de plasma eleva em
aproximadamente 200 mg/dl os níveis circulantes de IgG. Contudo, em potros enfermos, o mesmo
volume de plasma eleva em apenas 100 mg/dl os valores de IgG. Em bovinos a transfusão de 2 litros de
plasma é recomendada para se obter níveis mínimos aceitáveis de imunidade em um bezerro com 45 kg.
Recém-nascidos com septicemia devem ter os níveis de IgG monitorados durante o curso da
enfermidade, para se determinar a necessidade de novas transfusões de plasma.
Em pacientes com distúrbios hemostáticos, o objetivo é controlar o sangramento. O plasma fresco
congelado e o plasma congelado são administrados em cães e gatos na dose de 6 a 10 ml/kg. Em
equinos, a dose recomendada de plasma fresco, nestes casos, é de 15 a 30 ml/kg. O crioprecipitado é
usado em cães e gatos na dose de 12 a 20 ml/kg. Nos casos de sangramento em virtude da deficiência
de fatores de coagulação estas doses podem ser repetidas até o controle da hemorragia.
O plasma rico em plaquetas deve ser administrado na dose de 5 ml/kg. Esta quantidade de plasma
rico em plaquetas aumenta a contagem plaquetária em 5.000 a 10.000 plaquetas/mm3 em animais de
pequeno porte. A contagem total de plaquetas pode ser elevada em 30.000 plaquetas/mm3 com a
aplicação de 8 x IO11 plaquetas em um equino de 500 kg.
TRANSFUSÃO
Os componentes sanguíneos, com exceção do plasma rico em plaquetas, devem ser aquecidos a
temperaturas entre 22 e 37°C antes de serem transfundidos. Nenhum componente deve ser aquecido a
mais de 37°C, pois altas temperaturas destroem fatores de coagulação estáveis e lábeis, causam
precipitação de fibrinogênio e de proteínas e acabam com a habilidade dos eritró-citos de recuperar a
capacidade de carrear oxigénio. Outra alternativa é deixar o sangue à temperatura ambiente por cerca de
30 a 60 minutos, desde que o animal não esteja hipotérmico.
Os componentes do sangue podem ser administrados em cães e gatos pelas veias cefálica, safena e
jugular, além da via intra-óssea, que podem ser utilizadas em pacientes pequenos ou neonatos, ou em
pacientes com perfusão periférica deficiente. Em animais de grande porte, geralmente, é utilizada a
veia jugular. Porém, em leitões, cordeiros ou cabritos a via intraperitoneal também é viável. Deve-se,
necessariamente, utilizar equipos com filtro para remover coágulos e outros materiais particulados como
os agregados plaquetários.
A transfusão sanguínea deve ser feita em período máximo de quatro horas, para evitar o risco de
contaminação bacteriana e perda funcional dos elementos sanguíneos.
Em caninos e felinos, a velocidade de administração deve ser lenta nos primeiros 30 minutos. Caso o
paciente não apresente nenhuma rea-ção, pode-se aumentar a velocidade para 10 a 20 ml/kg/hora. Em
animais cardiopatas ou nefro-patas deve-se respeitar a velocidade de 4 ml/kg/ hora.
Em animais de grande porte, é recomendada, inicialmente, a aplicação de um volume menor mais
lentamente (0,1 ml/kg por dez a 15 minutos) até que se tenha razoável certeza de que não ocorreram
ou ocorrerão reações adversas, a partir daí pode-se aumentar a velocidade de transfusão até 20
ml/kg/h. Em bovinos também se recomenda a aplicação de aproximadamente 200 ml, após aguardar
aproximadamente 15 minutos para, então, se iniciar a transfusão, caso não tenha ocorrido reação.
da-se o tratamento de reações leves com administração de flunixin meglumine. A transfusão pode ser
retomada em ritmo mais lento após 15 minutos, independentemente da espécie.
No caso de reações intensas, sugestivas de anafilaxia, é indicado o uso de drogas com ação anti-
histamínica ou adrenérgica (animais de pequeno porte: difenidramina l a 2 mg/kg; animais de grande
porte: epinefrina 0,01 a 0,02 ml/kg de uma solução 1:1.000, IM ou SC), fluidoterapia intravenosa e
glicocorticóides (animais de pequeno porte: 4 mg/kg, prednisolona), após a imediata interrupção da
transfusão. O sangue ainda não transfundido deve ser descartado.
Em casos de reações com hemólise intensa em animais de pequeno porte ainda pode ser utilizado
heparina na dose de 75 Ul/kg via SC, a cada seis horas e prednisolona. A heparina é contra-indicada
em pacientes com sangramento.
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Fluidoterapia
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