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QUIMIOTERÁPICOSANTIMICROBIANOSE

ANTIBIÓTICOS
Silvia Franco Andrade
Rogério Giuffrida
Márcio Garcia Ribeiro

INTRODUÇÃO Antibiótico Biossintético - É aquele obtido a


partir de cultura de microrganismos, na qual se
acrescentam substâncias capazes de alterar a
Os antibióticos são substâncias produzidas por
estrutura molecular do antibiótico que está sendo
diferentes espécies de microrganismos (bactérias,
produzido (exemplo: penicilina V - fenoxi-metil-
fungos, actinomicetos), que suprimem o crescimento penicilina).
de outros microrganismos (bactérias -
bacteriostáticos; fungos - fungistáticos), ou po- Sintobiótico - Antibiótico obtido exclusivamente
dem até mesmo destruí-los (bactérias - bacterici- por síntese laboratorial, porém a partir de
das; fungos — fungicidas). Os antibióticos dife- precursores obtidos de microrganismos (exem-
rem entre si quanto às suas propriedades físicas, plo: cloranfenicol).
químicas, farmacológicas, espectro de ação, me-
canismo de ação e toxicidade.
CLASSIFICAÇÃO
Os quimioterápicos antimicrobianos e anti-
CoNCErros GERAIS bióticos podem ser classificados de acordo com a
sua estrutura química (Quadro 3-1), seu me-
canismo de ação (Quadro 3.2), seu espectro de
Quimioterápico Antimicrobiano — É toda a ação (Quadro 3.3), e ação bactericida, bacterios-
substância química produzida por síntese labo- tática, fungicida ou fungistática (Quadro 3-4). O
ratorial, que apresenta propriedades antimicro- conhecimento básico destas classificações é
bianas. Por exemplo, sulfonamidas, nitrofuranos, fundamental para o correto uso terapêutico destas
nitroimidazóis, quinolonas. substâncias.
Antibiótico — É o quimioterápico antimicro-biano Os quimioterápicos antimicrobianos e an-
produzido ou obtido por microrganismos tibióticos podem atuar sobre muitos ou limita-
(exemplo: penicilinas naturais). dos grupos de microrganismos, e assim deno-
Antibiótico Semi-sintético - É o quimioterápico minados:
cuja porção fundamental da molécula tenha sido Amplo Espectro - Atuam sobre um grande
obtida a partir de produtos de organismos vivos grupo de microrganismos. Exemplo: cloranfeni-
(exemplo: penicilinas semi-sintéti-cas - col, tetraciclinas, ampicilinas, amoxicilina, gen-
ampicilina, amoxicilina, oxacilina). tamicina, quinolonas, eritromicina.
14 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.1 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos, segundo sua estrutura química
Estrutura química Exemplos

Derivados de aminoácidos Monopeptídeos: ciclosserina.


Derivados de açúcares Dipeptídeos ((3-lactâmicos): penicilinas, cefalosporinas.
Polipetídeos: polimixinas, bacitracina, fusafungina, tirotricina, gramicidina.
Derivados de acetato e
Glicopeptídeos: vancomicina, bleomicina.
proprionato
Cloranfenicol (derivado do propanodiol), aminoglicosídeos, lincosaminas, novobiocina.
Diversos
Macrolídeos, rifamicinas, anfotericina B, nistatina, ácido fusídico, griseofulvina,
tetraciclina.
Fosfomicinas.

QUADRO 3.2 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos, segundo seu mecanismo de
ação

Mecanismo de ação Exemplos

Inibem a síntese da parede P-lactâmicos: penicilinas, cefalosporinas, fosfomicinas. Não


celular microbiana P-lactâmicos: bacitracina, vancomicina, ciclosserina.
Interferem na atividade da Polimixina, anfotericina B, nistatina, colistina.
membrana celular
microbiana
Interferem na replicação Formação de proteínas defeituosas: aminoglicosídeos.
genética Perturbação da tradução da informação genética: cloranfenicol, tetraciclinas,
macrolídeos.

Interferem no cromossomo Quinolonas, ácido nalidíxico, ácido pipemídico, novobiocina, griseofulvina. Sulfas,

Drogas antimetabólicas nitrofuranos, amprólio, trimetoprim.

QUADRO 3.3 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos, segundo seu espectro de ação

Espectro de ação Exemplos

Bactérias Gram-positivas Penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos, bacitracina. Aminoglicosídeos, polimixinas.


Bactérias Gram-negativas Cloranfenicol, tetraciclinas, ampicilina, cefalosporinas, fluorquinolonas.
Bactérias Gram-positivas Estreptomicina, rifamicina.
e Gram-negativas
Tetraciclinas, tiamulin, fluorquinolonas, tilosina, eritromicina.
Micobactérias
Tetraciclinas, cloranfenicol.
Micoplasma
Tetraciclinas, eritromicina, fluorquinolonas.
Riquétsias
Penicilinas, eritromicina, cefalosporinas e tetraciclinas.
Clamídias
Anfotericina B, nistatina, griseofulvina.
Espiroquetas
Tetraciclinas, eritromicina.
Fungos
Protozoários
Quimioterapicos Antimiaoblanos e Antibióticos 15

QUADRO 3.4 - Classificação dos quimioterapicos antimicrobianos e antibióticos segundo a ação bactericida,
bacteriostática, fungicida ou fungistática

Ação Exemplos
Bactericida Penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosídeos, quinolonas, rifamicinas, polimixinas,
polipeptídeos.
Bacteriostática Cloranfenicol, tetraciclinas, macrolídeos, lincosaminas, sulfas, trimetoprim,
novobiocina.
Fungicida Anfotericina B, nistatina. Griseofulvina.
Fungistática

Pequeno Espectro - Atuam sobre um limitado O tempo mínimo, geralmente, de urna antibio-
grupo de microrganismos. Por exemplo: peni- ticoterapia varia em média de 5 a 7 dias, porém,
cilinas naturais (penicilina G cristalina, procaína, muitas patologias requerem uma duração diferen-
benzatina), penicilina V, estreptomicina, neomicina, ciada. Abaixo estão listadas algumas patologias com a
bacitracina, polimixina, espiramicina, oleando- sua duração média de antibioticoterapia:
micina, anfotericina B, nistatina, griseofulvina.
• Artrite séptica: 14 dias
Os principais efeitos tóxicos dos antibióticos estão • Brucelose: 30 dias
listados no quadro 3.5 e as contra-indicações do seu • Cistite recorrente: 15 a 30 dias
uso durante a gravidez e lactação estão descritas • Dermatofitose: 3 a 6 semanas
no quadro 3.6. • Doença inflamatória pélvica: 24 dias

QUADRO 3.5 - Principais efeitos tóxicos e reações adversas dos antibióticos e quimioterapicos antimicrobianos

Efeito tóxico Mecanismo Exemplos

Nefrotoxicidade 1. Necrose tubular aguda. Aminoglicosídeos, tetraciclinas, polimixinas.


Hepatotoxicidade 2. Obstrução intratubular (cristalúria). Sulfonamidas.
3. Nefropatia tubular aguda. Cefalosporinas.
Neurotoxicidade
4. Nefrite intersticial aguda. Sulfonamidas.
Enterocolo-
toxicidade Degeneração parenquimatosa. Tetraciclinas, eritromicina, griseofulvina.
1. Ototoxicidade (lesão do oitavo par do nervo craniano). Aminoglicosídeos.
Toxicidade
2. Bloqueio neuromuscular.
medular Aminoglicosídeos, polimixina.
Artropatia Quinolonas, metronidazol.
3. Tremores (em pacientes suscetíveis).
Inibidores do
metabolismo de Lesão do revestimento mucoso das vias gastrintestinais Ampicilina, lincomicina, clindamicina.
outras drogas
(ex.: colite pseudomembranosa).

Depressão da medula óssea (anemia aplásica). Cloranfenicol. Trimetoprim.


Erosão da cartilagem articular em cães jovens de Quinolonas.
crescimento rápido.

Redução da atividade microssomal hepática. Cloranfenicol, tetraciclinas.


16 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.6 - Cuidados com a antJbiotlcoterapia durante a gravidez e lactação


Antibióticos Seguros

Gravidez Penicilinas, cefalosporinas, eritromicina. Penicilinas, cefalosporinas, eritromicina, lincosaminas,


Lactação metronidazol.
Antibióticos Contra-indicados

Tetraciclinas (descoloração e displasia dentária, retardo do crescimento ósseo), cloranfenicol (sín-drome


cinzenta), trimetoprim (teratogenicidade), metronidazol (teratogenicidade), griseofulvina
Gravidez
(teratogenicidade), aminoglicosídeos (ototoxicidade). Cloranfenicol ( mielossupressão e aplasia de
medula), tetraciclinas (descoloração e displasia dentária), isoniazida (deficiência de piridoxina).

Lactação
Antibióticos Utilizados com Cautela

Gravidez Sulfas (hemólise e kernicterus no recém-nascido), nitrofurantoína (hemólise). Quinolonas (erosão da sulfas
Lactação cartilagem articular em cães jovens), aminoglicosídeos (ototoxicidade) (hemólise).

• Endocardite bacteriana aguda: 28 a 42 dias


• Erliquiose: 14 a 30 dias
• Faringite exsudativa: 10 a 15 dias
• Gastrite por Helicobacterspp.: 14 ã 21 dias
• Gastroenterite bacteriana: 7 a 14 dias
• Leptospirose bovina: l a 3 dias
• Leptospirose canina: 7 a 14 dias
• Meningite: 14 dias
• Osteomielite: 42 dias
• Pericardite: 28 dias
• Pielonefrite: 14 a 21 dias (casos graves: 4 a 6 semanas)
• Piodermite superficial: 21 dias
• Piodermite profunda: 30 a 60 dias
• Pneumonia estafilocócica: 28 dias

ASSOCIAÇÃO DE AIMTIMICRÓBIANOS

O uso isolado de um antibiótico ou quimio-terápico antimicrobiano específico é a terapêutica mais


recomendada na maioria dos casos, porém há situações que requerem a associação de
antimicrobianos (Quadro 3.7), como infecções graves (exemplo: septicemia); infecções mistas;
retardar ou evitar o aparecimento de resistência bacteriana; para obter sinergismo e aumentar a
eficiência terapêutica; no tratamento de pacientes imunossuprimidos, que geralmente apresentam
resposta terapêutica deficiente.
A regra básica de associação de antimicrobianos leva em consideração a sua ação biológica ou o seu
mecanismo de ação, da seguinte maneira:
Ação Biológica
bactericida + _ sinergismo ou efeito aditivo
bactericida
bacteriostático + _ antagonismo ou sinergismo bacteriostático

bactericida + _, bacteriostático '


sinergismo, antagonismo ou
efeito aditivo
Mecanismo de Ação
parede celular + _ sinergismo
parede celular

parede celular +
sinergismo
membrana
citoplasmática

parede celular + formação de proteínas defeituosas sinergismo


parede celular + pert. da tradução da informação genética antagonismo
Qu/mioterápicos Antimicrobianos e Antibióticos 17

QUADRO 3.7 - Principais associações de antimicrobianos


Efeito Tipo de associação Exemplo

Sinergismo Bactericida + bactericida Penicilinas + aminoglicosídeos


Cefalosporinas + penicilinas
Quinolonas + penicilinas
Quinolonas + aminoglicosídeos
Bacteriostático + bacteriostático Sulfa + trimetoprim
Bactericida + bacteriostático Cloranfenicol + polimixinas
Sulfas + polimixinas
Antagonismo Bacteriostático + bacteriostático Lincosaminas + macrolídeos
Lincosaminas + cloranfenicol
Macrolídeos + cloranfenicol
Macrolídeos + tetraciclinas
Novobiocina + tetraciclina
Bactericida + bacteriostático Penicilinas + cloranfenicol
Penicilinas + tetraciclinas
Penicilinas + lincosaminas
Penicilinas + macrolídeos
Cefalosporinas + cloranfenicol
Cefalosporinas + lincosaminas
Cefalosporinas + macrolídeos

RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS

O aparecimento de resistência a antimicrobianos é um dos grandes problemas da Medicina e da


Veterinária, e é causada basicamente pela evolução das bactérias, ou seja, pela mutação espontânea e
recombinação de genes (reprodução), que criam variabilidade genética sobre a qual atua a seleção
natural aos mais aptos. As drogas atuam como agentes seletivos, favorecendo as raras bactérias
resistentes, presentes na população de um determinado ambiente. O desenvolvimento de resistência
pode se dar por resistência cromossomal como resultado de mutação espontânea, ou por mecanismos
de transferência de material genético e plasmídeos, de uma bactéria para outra, através de transdução,
transformação, conjugação ou transposição. Os mecanismos de resistência bac-teriana incluem:
produção enzimática (produção de enzimas pela bactéria que inativam a droga), diminuição da
permeabilidade da parede celular, aumento do transporte ativo da droga para fora da célula,
alteração do receptor da droga ou do local de ligação, desenvolvimento de vias metabólicas
alternativas.
Os fatores que favorecem a seleção e a disseminação de resistência aos antimicrobianos são:
utilização abusiva das drogas (em hospitais, clínicas, etc.), uso indiscriminado e incor-reto (venda
livre, automedicação, subdoses, intervalos entre doses errados, não realização de cultura e
antibiograma para seleção do antibiótico, associação de antibióticos incorreta promovendo
antagonismo, doenças virais, etc.), pacientes imunossuprimidos, uso de antimicrobianos em ração
animal.
A situação é preocupante, pois o esforço para descobrir e sintetizar novos antibióticos leva anos, e
já está sendo utilizada a sexta geração de penicilinas, a quarta de cefalospori-nas e a terceira de
quinolonas. Portanto, o uso racional dos antimicrobianos e a pesquisa cada vez maior de novos
grupos são fundamentais para o controle da resistência.
A sugestão de tratamento antimicrobiano apropriado, segundo seu agente etiológico, está descrita
no quadro 3.8.
18 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico
BOVINOS

Patologia Etiologia Droga 1 * Escolha Droga 2' Escolha

Actinobacilose Actinobacillus Penicilina G + Tetraciclinas


lignieresii Estreptomicina
Actinomicose Actinomyces bovis Penicilina G + Tetraciclinas
Estreptomicina
Anaplasmose Anaplasma marginale Tetraciclinas Imidocarb
Diamidinas
aromáticas
Antrax Bacülus anthracis Penicilina G Eritromicina
Tetraciclina
Cefalosporinas
Babesiose Babesia bigemna Imidocarb
Babesia bovis Diamidinas aromáticas
Botulismo Clostridium sp. Penicilina G Clindamicina
Tetraciclina
Borreliose Borrelia burgdorferi Tetraciclina
(doença de Lyme) Penicilina G
Ceratoconjuntivite Moraxella bovis Tetraciclinas Cloranfenicol
infecciosa Penicilina G +
bovina Estreptomicina
Colibacilose Escherichia coli Aminoglicosídeos Ampicilina
Sulfa + Trimetoprim Cefalosporinas
Tetraciclinas
Eimeriose Eimeria bovis Sulfonamídicos
Eimeria zuernii Sulfa + Trimetoprim
Eimeria psoidalis Nitrofuranos
Estreptotricose Dermatophilus Penicilina G + Oxitetraciclina
cutânea congolensis Estreptomicina Espiramicina
(dermatofílose) •
Infecções Gram-positivos Penicilina G
Respiratórias Gram-negativos Ampicilina
Enrofloxacina
Cloranfenicol
Gentamicina
Leptospirose Leptospira pomona Penicilina G + Tetraciclinas
Leptospira hardjo Estreptomicina
Ampicilina
Estreptomicina
Listeriose Listeria Penicilina G + Sulfa + Trimetoprim
monocytogenes Gentamicina
Ampicilina
Tetraciclina
Necrobacilose Fusobacterium Penicilina G + Tetraciclinas
interdigital necrophorum Estreptomicina Clindamicina
(podridão dos Bacteroides nodosus Sulfonamídicos Metronidazol
cascos)
(Continua)
Químioterápicos Antlmicrobíanos e Antibióticos 19

QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
BOVINOS

Patologia Etiologia Droga 1 * Escolha Droga 2* Escolha

Onfaloflebite Gram-positivos Penicilinas Enrofloxacina

Gram-negativos Cloranfenicol
Aminoglicosídeos
Pielonefrite Corynebacterium sp. Penicilina G Eritromicina
contagiosa Ampicilina Tetraciclina
bovina
Salmonelose Salmonella sp. Sulfa + Trimetoprim Cloranfenicol
Cefalosporinas Ampicilina
Aminoglicosídeos
Septicemia em Haemophilus somnus Penicilina G Tetraciclinas
bovinos Ampicilina
EQUINOS

Patologia Etiologia Droga 1 ' Escolha Droga 2* Escolha

Actinobacilose Actnobacillus equuli Estreptomicina Sulfa + Trimetoprim


(septicemia em Ampicilina
potros)
Borreliose Borrelia burgdorferï Tetraciclina
(doença de Lyme) Penicilina G
Broncopneumonia Rhodococcus equi Eritromicina + Penicilina +
supurativa em Rifampicina Gentamicina
potros
Erliquiose Ehrlichia equi Tetraciclinas Cloranfenicol
Garrotilho Streptococcus equi Penicilina G + Eritromicina
Estreptomicina
Ampicilina
Infecções cutâneas Staphylolococcus Penicilinas Cefalosporinas
aureus Enrofloxacina
Infecções Streptococcus equi Penicilina G Cefalosporinas
pulmonares Gram-negativos Eritromicina
Infecções renais Gram-positivos Ampicilinas Aminoglicosídeos
Gram-negativos Cefalosporinas Sulfa + Trimetoprim
Leptospirose Leptospira pomona Penicilina G + Tetraciclinas
Leptospira hardjo Estreptomicina
Ampicilina
Estreptomicina
Linfagite ulcerativa Corynebacterium Penicilina G + Eritromicina
pseudotuberculosis Estreptomicina
Mormo Pseudomonas Sulfa + Trimetropim
mallei
Nutaliose Babesia equi Imidocarb
(Babesiose) Babesia caballi Diamidinas aromáticas

(Continua)
20 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.8 - Antibíoticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
EQUINOS

Patologia Etiologia Droga 1 * Escolha Droga 2* Escolha

Onfaloflebite Streptococcus equi Penicilina G + Estreptomicina Cefalosporinas Sulfa +


Actinobacillus equuli Estreptomicina Ampicilina Trimetoprim

Pododermatites Gram-positivos Gram- Penicilinas Cloranfenicol


negativos Aminoglicosídeos Tilosina

Tripanossomíase Trypanossoma equiperdum Diamidinas aromáticas

SUtNOS

Patologia Etiologia Droga 1* Escolha Droga 2S Escolha

Artrite Mycoplasma hyorhinis Tetraciclinas Quinolonas Tiamulim Tilosina Lincomicina


Mycoplasma hyosynoviae Espiramicina Eritromicina

Candídiase (monolíase) Cândida sp. Nistatina Cetoconazol

Cistite/Pielonefrite em Eubacterium suis Sulfa + Trimetoprim Penicilina G Tetraciclinas


porcas
Colibacilose Escherichia coli Aminoglicosídeos Sulfa + Ampicilina Cefalosporinas
Trimetoprim Tetraciclinas

Enterite hemorrágica Brachyspira hyodysenteriae Diidroestreptomicina Tilosina FtalilssulfatiaZol


Tiamulim

Erisipela suína Erysipeloth rix rhusiopathiae Penicilina G Tetraciclinas

Pasteurelose Pausteurella sp. Sulfa + Trimetoprim Penicilina G Tetraciclinas Cefalosporinas


Pleuropneumonia em Haemophilus Quinolonas Sulfa + Trimetoprim Penicilina G Ampicilina
suínos pleuropneumoniae Gentamicina Tetraciclina

Pneumonia enzoótica Mycoplasma sp. Tetraciclina Tiamulin Tilosina Lincomicina

Quinolonas Eritromicina
Rinite atrófica suína Bordetella broncbiseptica Sulfa + Trimetoprim Penicilina G Tetraciclinas Tilosina
Pasteurella multocida Ampicilina Quinolona Cefalosporinas

Salmonclosc Salmonetta sp. Sulfa + Trimetoprim Cloranfenicol Ampicilina


Cefalosporinas

(Continua)
Qutmioterápicos Antimicroblanos e Antibióticos 21
QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
CANINOS

Patologia Etiologia Droga 1 * Escolha Droga 2* Escolha

Babesiose Babesia canis Imidocarb


Diaminas aromáticas
Brucelose Brucella canis Sulfa + Trimetoprim Tetraciclinas
Minociclina +
Estreptomicina
Borreliose (doença de Borrelia burgdorferi Tetraciclina Penicilina G
Lyme)
Eimeriose Eimeria sp. Sulfonamidas
Erliquiose Ehrlichia canis Doxiciclina Tetraciclinas Cloranfenicol

Gengivite Gram-positivos Gram-negativos Penicilinas Clindamicina Doxiciclina


Bacteroides sp. Metronidazol + Penicilinas

Espiramicina Eritromicina

Giardíasc Giardia sp. Metronidazol


Hemobartonelose Haemobartonetta Tetraciclinas
canis Penicilina G
Infecções cutâneas Stapbylococcus aureus S. Amoxicilina Enrofloxacina Tetraciclinas Doxiciclina Sulfa
(piodermites) pyogenes Streptococcus sp. Eritromicina Cefalosporinas + Trimetoprim
Lincomicina

Infecções respiratórias Streptococcus sp. Staphylococcus Ampicilina Amoxicilina Lincomicina Tilosina


sp. Amicacina Cloranfenicol

Cefalosporinas Enrofloxacina Gentamicina

Cloranfenicol
Infecções urinárias Stapbylococcus sp. Escherichia Gentamicina Quinolonas Sulfa + Trimetoprim
coli Klebsiella pneumoniae Cefalosporinas Penicilinas
Pseudomonas aeruginosa Nitrofuranos

Leptospirose Leptospira canicola Leptospira Penicilina G + Tetraciclinas


icterohaemorrbagiae Estreptomicina Ampicilina
Estreptomicina

Neosporose Neospora caninum Clindamicina Pirimetamina + sulfonamida

Nocardiose Nocardia sp. Sulfa + Trimetoprim Ampicilina Amicacina

Minociclina
(Continua)
22 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.8 - Antibioticoterapia sugerida em algumas patologias de bovinos, equinos, suínos, cães e gatos,
segundo o agente etiológico (Continuação)
CANINOS
Patologia Etiologia Droga 1 * Escolha Droga 2S Escolha

Otite externa Staphylococcus sp. Gentamicina Quinolonas Cefalosporinas Eritromicina


Streptococcus sp. Tobramicina Cloxacilina
Pseudomonas
aeruginosa Polimixinas Neomicinas

Cloranfenicol
Prostatíte E. coli Proteus Eritromicina Clindamicina Sulfa + Trimetoprim

Staphylococcus sp. Cloranfenicol Quinolonas


Streptococcus sp.
Tosse dos canis Bordetetta bronchiseptica Sulfa + Trimetoprim Tetraciclinas

Toxoplasmose Toxoplasma gondii Clindamicina Pirimetamina + sulfonamida

Sulfadiazina
FELINOS
Patologia Etiologia Droga 1 ! Escolha Droga 2* Escolha
Eimeriose Eimeria sp. Sulfonamidas
Giardíase Giardia sp. MetronidaZol

Hemobartonelose Haemobartonella Tetraciclinas


canis Penicilina G
Infecções cutâneas Staphylococcus aureus Amoxicilina Enrofloxacina Tetraciclinas Doxiciclina

(piodermites) S. pyogenes Streptococcus Eritromicina Cefalosporinas Sulfa + Trimetoprim


sp. Lincomicina

Infecções respiratórias Streptococcus sp. Ampicilina Amoxicilina Lincomicina Tilosina


Staphylococcus sp. Cefalosporinas Enrofloxacina Cloranfenicol Gentamicina

Infecções urinárias Staphylococcus sp. Gentamicina Quinolonas Sulfa + Trimetoprim


Escherichia coli Klebsiella Cefalosporinas Penicilinas
pneumoniae
Pseudomonas

Pneumonite felina Chlamydia psittaci Tetraciclina Eritromicina Quinolonas Cloranfenicol

Rifampicina
Toxoplasmose Toxoplasma gondii Clindamicina Pirimetamina + sulfonamida

Sulfadiazina
Quimioterápícos Antlmicrobianos e Antibióticos 23

QUIMIOTERÁPÍCOS ANTIMICROBIANOS

SULFONAMIDAS

Características Gerais - São quimioterápi-cos derivados da sulfanilamida, que se caracterizam por


conter moléculas de enxofre e grupamentos amina na molécula. As sulfas são divididas em cinco tipos:
sulfas de rápida absorção e excreção (sulfatiazol, sulfadiazina), sulfas de rápida absorção e excreção
lenta (sulfametoxazol), sulfas de rápida absorção e excreção lenta com ação prolongada
(sulfadimetoxina), sulfas de absorção rápida e excreção muito lenta e ação muito prolongada
(sulfadoxina), sulfas não absorvíveis via oral (sulfaguanidina), e sulfas de uso tópico.
Mecanismo de Ação - As sulfas competem com o ácido para-aminobenzóico (PABA), um precursor
do ácido fólico. O ácido fólico é precursor de substâncias que vão formar os ácidos nucléicos
bacterianos. São quimioterápicos bac-teriostáticos.
Espectro de Ação - As sulfas são ativas frente a bacilos Gram-negativos entéricos, cocos aeró-bicos
Gram-positivos, clamídias, Toxoplasma e outros coccídeos. São drogas alternativas para o tratamento
da pneumocistose e infecções causadas por Gram-negativos não fermentadores. Fuso-bacterium,
Clostridium perfringens e actinomi-cetos são na maioria sensíveis. O efeito das sulfas é
potencializado pelo trimetoprim.
Farmacocinética - As sulfas são, na maioria das vezes, absorvidas via oral. Atingem concentrações
terapêuticas em quase todos os tecidos corpóreos, pois são muito lipossolúveis. Ligam-se a proteínas
plasmáticas de forma variável. No SNC, a concentração do fármaco depende do tipo de sulfa. As sulfas
são metabolizadas no fígado e excretadas na forma íntegra ou me-tabolizada pêlos rins. Não atuam
em locais ricos em PABA como as infecções piogênicas, ou tecidos necróticos contendo sangue.
Resistência Bacteriana - A Leptospira, Klebsiella e Pseudomonas aeruginosa são resistentes às
sulfas. Atualmente, um largo número de bactérias Gram-negativas vem desenvolvendo resistência a
estes fármacos.
Efeitos Adversos
• Em geral, são relatados em humanos, distúrbios das vias urinárias (cristalúria, hematúria, obstruções)
e transtornos hemato-poiéticos (trombocitopenia e leucopenia). Em cães, estes efeitos não foram
observados em doses terapêuticas.
• Outros efeitos tóxicos são relacionados com cada tipo de sulfa (diáteses hemorrágicas,
ceratoconjuntivite seca, catarata).
• Em felinos, há relatos de insuficiência renal, e em cães, ceratoconjuntivite seca.
Usos Terapêuticos e Doses - As sulfas estão indicadas no tratamento de todos os germes sensíveis a
elas. Estão indicadas no tratamento de processos respiratórios, infecções renais em cães, e infecções
por Gram-negativos aeróbicos em geral. Podem ser utilizadas também nas cocci-dioses em geral e em
especial na toxoplasmose. As sulfas podem ser satisfatoriamente empregadas para tratamento das
infecções do trato gastrentérico.
• Cães, gatos, equinos, bovinos e suínos:
- Sulfadiazina: 50 mg/kg, VO, a cada 12 horas.
- Sulfametoxazol: 50 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada 12 horas.
- Sulfadimetoxina: 27,5 mg/kg, IV, IM, VO, a cada 12 horas.
- Sulfadoxina: 100 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada 24 ou 48 horas.
- Sulfaguanidina: 100 a 250 mg/kg, VO, a cada 12 horas.
Apresentação - As principais apresentações de sulfonamidas estão descritas no quadro 3.9-
DERIVADOS DO NITROFURANO

Características Gerais - São quimioterápicos derivados do 5-nitrofufural, com um grupamento


nitroso na porção 5 do anel furano. Pertencem a este grupo a nitrofurazona, a furazoli-dona e a
nitrofurantoína.
Mecanismo de Ação - Os derivados do nitrofurano são substâncias bacteriostáticas que inibem a
acetilcoenzima A do ciclo de Krebs, causando bloqueio no metabolismo bacteriano. Em algumas
situações podem ser bactericidas
24 Manual de Terapêuílca Veterinária

QUADRO 3.9 - Principais formulações das sulfonamidas utilizadas em Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil
Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Sulfadiazina + Ibatrin pó e ibatrin Susp. oral: 200 mg de Sulfadiazina + 40 mg de trimetoprim - frascos


trimetoprim injetável*(V) de 20 ml.
Susp. injetável (frasco-ampola): 4 g de Sulfadiazina + 0,8 g tri-
metoprim.
Sulfamax®(v)Supertrim Sol. injetável (frasco-ampola): 40 g de Sulfadiazina + 8 g de trime-
toprim — frasco de 15 ml.
injetável®,, Sol. Injetável (cada 100 ml - frasco-ampola): 40 g de Sulfadiazina + 8
g de trimetoprim - frascos de l, 20 e 50 ml.
Tribissen injetável e Sol. injetável (frasco-ampola): 400 mg de Sulfadiazina + 80 mg tri-
oral18,,,, metoprim/ml.
Susp. oral com 400 mg de Sulfadiazina + 80 mg trimetoprim/ml -
frasco de 200 ml.
Vetrin velas®(v) Tabletes com l g de Sulfadiazina + 0,2 g de trimetoprim - caixa
com 30 tabletes.
Sulfametoxazol Antiinfeccioso oral®(v) Susp. com sulfametoxazol: 4 g + trimetoprin 0,8 g/100 ml em
+ trimetoprim frascos de 100 e 250 ml.
Diastin«(V) Sol. injetável (frasco-ampola): 150 mg de sulfametoxazol e 40 mg
de trimetoprim - frascos de 20 e 100 ml.
Sulfametoprim®(v) Sol. injetável (frasco-ampola): 25 mg de sulfametoxazol + 5 de tri-
metoprim - frascos de 20 ml.
Sulfaprim Comprimidos de 500 mg de sulfametozaxol + 100 mg de trimetoprim
comprimidos®^ — caixa com 100 comprimidos.
Sultrin suspensão*(v) Susp. oral com 4g de sulfametoxazol + 0,8 g de trimetoprim/ 100
ml - frascos com 100 ml.
Tridoxin®(v)Trissulfin Sol. injetável (frasco-ampola): 200 mg de sulfametoxazol + 40 mg de
trimetoprim/ml - frascos de 20 e 50 ml.
injetável®(v) Bactrim»
Sol. injetável (frasco-ampola): 20 g de sulfametoxazol + 4 g de tri-
metoprim/100 ml - frascos de 50 ml.
Comprimidos de 400 e 800 mg de sulfametoxazol associados a
80 ou 160 mg de trimetoprim - caixas com 20 comps.
Susp. oral: sulfametoxazol - 200 ou 400 mg/5 ml + 40 ou 80 mg de
trimetoprim - frasco com 100 ml.
Bactrim infusão Sol. injetável: 400 mg de sulfametoxazol + 80 mg de trimetoprim 5
venosa®(H) ml.

Sulfadimetoxina In-201% Sol. injetável: 25 g/100 ml - frasco de 100 ml.


Sulfatec injetável®(v) Sol. injetável: 200 mg/ml - frascos de 100 e 250 ml.

Sulfadoxina Borgal% Sol. injetável de 20 g/100 ml de sulfadoxina e 4 g de trimetoprim.


Fansidar®,0, Comprimidos de 500 mg de sulfadoxina + 25 mg de pirimetamina
- caixa com 50 comps. Solução injetável: ampolas de 2,5 ml com
500 mg de sulfadoxina
+ 25 mg de pirimetamina.

Sulfaganidina Sulfaganidina Comprimidos de 500 mg - caixas de 200 comprimidos.


calbos®,,,,
Qulm/olerápicos Antimicroblanos e Antibióticos 2 5

Espectro de Ação - Atuam sobre Gram-po- QUILONOMAS


sitivos, Gram-negativos, Trypanossoma, Giardia,
Trichomonas e Cândida.
Características Gerais - As quinolonas são um
Farmacocinética - A nitrofurazona é empregada grupo de agentes antimicrobianos bacterici-das
apenas topicamente. A furazolidona é absorvida de amplo espectro e grande utilidade tanto na
via oral e metabolizada nos tecidos, sendo apenas Medicina quanto na Veterinária. Existem atual-
5% da dose administrada excretada na urina. A mente três gerações de quinolonas: quinolonas de
nitrofurantoína é absorvida via oral e rapidamente primeira geração (ácido nalidíxico e ácido
excretada via biliar e renal, não apresentando oxonílico) utilizadas antigamente como antissépti-
concentrações adequadas nos tecidos extra- cos urinários e consideradas de pequeno espectro;
urinários e extra-intestinais. quinolonas de segunda geração (fluorqui-nolonas
Resistência Bacteriana - A resistência bac- - norfloxacina, ciprofloxacina, ofloxacina,
teriana é frequente em Gram-negativos e variável pefloxacina, enrofloxacina, danofloxacina, orbiflo-
para Gram-positivos. Pseudomonas, Klebsiella e xacina e marbofloxacina) são as mais utilizadas
Proteus são resistentes. atualmente na veterinária, com amplo espectro de
ação, baixa toxicidade e concentrações excelentes
Efeitos Adversos no sangue e tecidos; quinolonas de terceira
• Doses elevadas causam neurotoxicidade geração (levofloxacina, esparfloxacina) com
periférica. espectro de ação similar às de segunda geração,
• Em doses adequadas, pode provocar náuseas, além de serem eficazes contra o Streptococcus
vómitos e com menos frequência discrasias pneumoniae.
sanguíneas e problemas alérgicos.
Mecanismo de Ação - Inibição da DNA girase
Usos Terapêuticos e Doses - Em animais de bacteriana, enzima que controla a direção e
produção, os derivados do nitrofurano devem extensão do espiralamento das cadeias de DNA.
ser evitados, pois deixam resíduos em carne ou
leite. A nitrofurazona é utilizada topicamente no Espectro de Ação - Quinolonas de primeira
tratamento de feridas superficiais contaminadas e geração (pequeno espectro): E. coli, Proteus sp.,
abscessos. A furazolidona é indicada no tratamento (Pseudomonas); quinolonas de segunda geração-
de enterites bacterianas. A nitrofurantoína, não atua fluorquinolonas (amplo espectro): bactérias
sistemicamente, sendo indicada apenas em Gram-negativas, Gram-positivas, micoplasma e
infecções urinárias por gram-negativos. Chlamydia; quinolonas de terceira geração: bactérias
• Cães e gatos: Gram-negativas, Gram-positivas, micoplasma,
- Furazolidona: 4 mg/kg, a cada 12 horas. Chlamydia e Streptococcus pneumoniae.
- Nitrofurantoína: 2,5 mg/kg, a cada 6 horas. Farmacocinética - A absorção oral é rápida, sua
Apresentação - O quadro 3.10 apresenta as distribuição é ampla e inclui o SNC, osso e
principais formulações de derivados do nitrofu- próstata. A excreção ocorre por via renal e biliar.
rano utilizadas em Medicina Veterinária e dispo- A secreção renal tubular ativa resulta em uma alta
níveis no Brasil. concentração urinária.

QUADRO 3.10 - Principais apresentações de nitrofuranos

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Nitrofurazona Furacin pomada®V Bisnagas com 0,2 g/100 g - pomada tópica.


Furacin solução"v, Solução a 0,2% - frascos de 500 ml.
Eumetrite-s®v Solução tópica - 0,2 g/100 ml - frascos de 500 ml.
Furazolidona Comprimidos de 200 mg - caixa com 14 comps.
Furazolidona®H
Suspensão oral com 50 mg/5 ml - frasco com 70 ml.

Nitrofurantoína Macrodantina*H Cápsulas de 100 mg - caixa com 24 cápsulas.


26 Manual de Terapêutica Veterinária

Resistência Bacteriana - É relativamente rara e pode se desenvolver em regimes terapêuticos


prolongados com subdoses, como no caso da avicultura e pecuária, favorecendo o surgimento de
bactérias mutantes que resistem às qui-nolonas em virtude de alterações no local de ligação na DNA
girase.
Efeitos Adversos - Artropatia por erosão da cartilagem articular em cães jovens de crescimento rápido,
portanto deve ser evitado em cães de pequeno a médio porte nos primeiros 8 meses de vida, e em cães
de grande porte nos primeiros 18 meses de vida. Pode causar tremores e convulsão em pacientes
suscetíveis. Ocorre intera-ção medicamentosa com drogas antiinflamatórias não-esteróides (excitação do
SNC), varfarina (aumento do tempo de protrombina), metilxantinas (toxicidade do SNC), antiácidos
contendo zinco, magnésio, alumínio ou cálcio (decréscimo da biodisponibilidade de quinolona). Pode
ocorrer reação no local da aplicação subcutânea com aparecimento de paniculite.
Usos Terapêuticos e Doses - Infecções do trato urinário principalmente as causadas por Pseudomonas
aeruginosa; infecções do trato respiratório por Gram-negativos; infecções do trato gastrintestinal;
prostatites; otites externas; infecções cutâneas como piodermites; osteomielites por Gram-negativos;
meningoencefalites e endo-cardite estafilocócica. As fluorquinolonas de uso veterinário incluem a
enrofloxacina (Baytril®, Flotril®), danofloxacina (Advocin®), orbifloxacina (Orbax®) e marbofloxacina
(Zeniquim®) (estas duas últimas sem apresentação no Brasil). As fluorquinolonas de uso em seres
humanos, mas também utilizadas na veterinária, incluem a norflo-xacina (Floxacin®), a ciprofloxacina
(Cipro®) e a ofloxacina (Floxstat®).
• Cães e gatos:
- Enrofloxacina: 2,5 a 5 mg/kg, VO, IM, SC, EV 12/12 ou 24/24 horas. Recentemente, nos Estados Unidos
o intervalo entre doses da enrofloxacina foi alterado de 24 para 12/12 horas para cães e gatos, devido a
diferenças no pico de concentração plasmática da enrofloxacina nessas espécies, e para reduzir o risco
de aparecimento de resistência bacteriana sem induzir toxicidade.
- Orbifloxacina: 2,5 a 7,5 mg/kg, VO, 24/ 24 horas.
- Marbofloxacina: 2,5 a 5 mg/kg, VO, 24/ 24 horas.
- Norfloxacina: 22 mg/kg, VO, 12/12 horas.
- Ciprofloxacina: 5 a 15 mg/Kg, VO, 12/12 horas.
• Bovinos:
- Enrofloxacina: 2,5 a 5 mg/kg, IM, SC, 24/ 24 horas.
- Danofloxacina: 1,25 mg/kg, IM, SC, IV 24/ 24 horas.
• Equinos:
- Enrofloxacina: 5 mg/kg, IM, IV, SC, 24/24 horas ou 5 a 10 mg/kg, VO, 12/12 ou 24/24 horas.
• Suínos:
- Enrofloxacina: 2,5 mg/kg, IM, SC, VO, 24/ 24 horas.
- Danofloxacina: 1,25 mg/kg, IM, SC, IV, 24/24 horas.
Apresentação - O quadro 3.11 descreve as principais apresentações de fluorquinolonas utilizadas na
veterinária no Brasil.

NlTROIMIDAZÓIS

Características Gerais - Os nitroimidazóis são um grupo de drogas com atividade antibacte-riana e


antiprotozoária. O composto mais conhecido deste grupo e mais utilizado na veterinária é o metronidazol,
outros compostos deste grupo e utilizados na Medicina Humana, são o tinidazol e o nimorazol.
Mecanismo de Ação - O metronidazol tem sua ação resultante de ligação de produtos intermediários,
originários de sua redução intracelular com o DNA formando-se um complexo que inibe a replicação e
inativa o DNA.
Espectro de Ação - O metronidazol é um agente bactericida e protozoaricida, atuando contra bactérias
anaeróbicas obrigatórias, como Clos-tridium, Fusobacteríum e Bacteroides, e protozoários, como
Trichomonas, Giardia e Entamoeba.
Farmacocinética - O metronidazol é bem absorvido oralmente e distribuído amplamente pelo
organismo com boa penetração no SNC. A droga é metabolizada por oxidação e conjugação no fígado. A
excreção ocorre pela urina e fezes.
Quimloterápicos Antimicroblanos e Antibióticos 2 7
QUADRO 3.11 - Principais apresentações das fluorquinolas utilizadas na Medicina Veterinária
Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Ciprofloxacina Cipro Comp. 250 mg - frasco com 6, 14 e 50 comps. Comp. 500


Advocin,, mg — frasco com 6, 14 e 50 comps. Solução para infusão
Baytril 0,2% em frasco com 100 e 200 ml.
FlotriL
Danofloxacina Solução injetável a 2,5% - frasco de 20, 50 100 e 250 ml.
Pó solúvel 16,7% - envelopes laminados de 75 e 150 g.
Enrofloxacina Solução injetável a 5% — frasco de 10 ml.
Solução injetável a 10% - frasco de 10 e 50 ml.
Pig Doser - frasco de 100 ml.
Comp. 50 mg - caixa com 10; e 150 mg - caixa com 10.
Solução injetável a 10% - frasco-ampola de 10 e 50 ml.
Solução injetável a 2,5% - frasco-ampola de 20 ml.
Solução oral 10% - frasco de 500 ml.
Pig Pump - frasco de 100 ml.
Comp. 50 mg - caixa com 10; e 150 mg - caixa com 10.
Solução injetável a 10% - frasco de 20, 50 e 100 ml. Comp.
Norfloxacina Floxacin(I 400 mg - caixa com 14. Comp. 400 mg - caixa com 14.
Floxinol([ Comp. 200 mg - caixa com 6, 10, 14 ou 20. Comp. 400 mg
Ofloxacina Floxtat,,,, - caixa com 10. Frasco-ampola de 400 mg com 10 ml.
Orbax, Comp. 5,7 e 22,7 mg - caixa com 10.

Orbifloxacina

Efeitos Adversos - Doses altas ou tratamentos 5 dias (giardíase); 10 mg/kg, VO, 8/8 horas
prolongados podem provocar neurotoxicidade (infecções anaeróbicas).
(nistagmo, ataxia, tremores). Não deve ser utilizado • Gatos: 22 a 25 mg/kg, VO, 12/12 horas durante 5
em animais gestantes, pois apresenta teratogeni- dias (giardíase); 10 a 25 mg/kg, 24/ 24 horas
cidade. O animal pode produzir urina de coloração (infecções anaeróbicas).
castanho-clara após a ingestão de metronidazol. • Ruminantes: 75 mg/kg, IV, a cada 12 horas/3
Usos Terapêuticos e Doses - O metronidazol é aplicações (tricomoníase).
utilizado no tratamento de infecções por bactérias • Equinos: 7,5 mg/kg, VO, 8/8 horas
anaeróbicas, tricomoníase. giardíase e amebía-se. É (giardíase); 15 a 25 mg/kg, IV, VO, 8/8 ou 12/12
utilizado em cães, gatos, ruminantes e equinos. horas (infecções anaeróbicas).
• Cães: 25 a 65 mg/kg, VO, 24/24 horas ou 22 a Apresentação - O quadro 3.12 descreve as
25 mg/kg, VO, 12/12 horas, durante principais apresentações de metronidazol.

QUADRO 3.12 - Principais apresentações do metronidazol

Principio ativo Nome comercial Apresentação

Metronidazol FlagyL Comp. 250 mg — estojo com 20.


Comp. 400 mg - estojo com 24.
Pediátrico (suspensão oral) - 40 mg/ml frasco com 120 ml.
Solução injetável a 0,5% - frasco e bolsa plastica de 100 ml. (500 mg) ou 300 ml (1500 mg)
ginecologico – tubo com 50 g de geléia
com nistatina – tubo com 50 g de creme + aplicador
28 Manual de Terapêutica Veterinária

ANTIBIÓTICOS

ANTIBIÓTICOS P-LACTÂMICOS

Os antibióticos p-lactâmicos ou p-lactaminas constituem um grupo de fármacos com presença de um


grupamento químico denominado anel P-lactâmico. Pertencem a este grupo as penicili-nas,
cefalosporinas, cefamixinas, oxicefamixinas, amidinopenicilinas, carbapemênicos, ácido
clavulânico, sulbactam e os antibióticos mo-nobactâmicos.

Penicilinas e Análogos
As penicilinas constituem um grupo de P-lactaminas com núcleo central composto pelo ácido 6-
aminopenicilânico, sendo obtidas a partir de culturas de fungos do género Penicillium. Pertencem a este
grupo as penicilinas naturais (pe-nicilina G, penicilina V), seus derivados semi-sintéticos
(isoxacilpenicilinas, aminopenicilinas e análogos, carboxipenicilinas, sulfobenzilpenici-linas e
ureidopenicilinas) e seus análogos (amidinopenicilinas).

Penicilinas Naturais
Características Gerais - A primeira penicilina obtida foi a penicilina G-cristalina ou benzil-penicilina.
Sequencialmente, a descoberta de variações naturais nos radicais da benzilpenicilina originaram as
penicilinas, F, K, O, X, e V, sendo estas últimas pouco utilizadas em Medicina Veterinária. A curta
duração do tempo de ação da penicilina G-cristalina levou ao desenvolvimento de ésteres de penicilina
com ação prolongada. Entre estes ésteres, são utilizados a penicilina G-procaína, que é obtida pela
associação da pro-caína à penicilina G e a penicilina benzatina, obtida pela associação da
NN'dibenziletileno-diamina à penicilina G. Estes ésteres são pouco solúveis em meios líquidos e
apresentam tempo de absorção e picos séricos maiores do que a penicilina G-cristalina.
Mecanismo de Ação - A penicilina G e seus ésteres são bactericidas. Elas provocam a lise os-mótica
celular ao se ligarem e inibirem as enzimas (transpeptidases de membrana) que sintetizam um
componente de parede celular bacte-riana denominado peptideoglicam. As proteínas em que as
penicilinas se ligam são denominadas proteínas fixadoras de penicilina (PPB).
Espectro de Ação - As penicilinas naturais são ativas contra bactérias Gram-positivas aeróbi-cas e
anaeróbicas, cocos Gram-negativos, espiro-quetas e actinomicetos. Os bacilos Gram-negativos aeróbicos
ou anaeróbicos, que ocorrem em animais, são naturalmente resistentes às penicilinas naturais.
Farmacocinética - A penicilinas naturais são instáveis em meios ácidos, sendo rapidamente inativadas
em pH 2 ou 8, o que impede sua administração via oral, com exceção da penicilina V. Entretanto, são
ativas em pH ligeiramente ácido, frequente nos processos inflamatórios. É desacon-selhável o uso de
penicilinas naturais por via tópica, pois podem provocar quadros de hipersensi-bilidade. Das penicilinas
naturais, apenas a benzilpenicilina pode ser administrada via intravenosa. A penicilina G-cristalina mantém
níveis séricos durante 4 horas, limitando seu uso isolado em Medicina Veterinária. A penicilina G-
procaína é utilizada somente por via intramuscular e mantém concentrações séricas por 12 a 24 horas. A
penicilina G-benzatina é utilizada somente por via intramuscular e mantém concentrações séricas por 2 a 7
dias, dependendo da dose. As penicilinas naturais se difundem bem em quase todos os tecidos corpóreos,
principalmente em presença de inflamação, na qual a permeabilidade vascular está aumentada. Não
penetram na próstata e olho, mesmo em presença de inflamação. A penicilina G não apresenta
concentrações intracelulares suficientes para combater germes nesta localização. Do total de penicilina G
administrada, 60% se liga às proteínas plasmáticas, sendo inativa nesta forma. No entanto, esta ligação é
reversível, e funciona como reservatório da mesma, carreando o fármaco para tecidos com exsudação rica
em proteínas. As penicilinas naturais são metabolizadas no fígado e excretadas por via renal.
Resistência Bacteriana - As penicilinas naturais são inativadas por enzimas denominadas p-lactamases.
Praticamente 100% das linhagens de Staphylococcus aureus e aproximadamente 80% das outras linhagens
de Staphylococcus são produtoras de P-lactamases. A maioria dos bacilos Gram-negativos,
principalmente os anaeróbicos, são naturalmente resistentes à penicilina G, com exceção do género
Pasteurella.
Quimioterápicos Antimicrobianos e Aníibióticos 29

Efeitos Adversos
• Penicilina G é capaz de causar paraefeitos irritativos e desencadear quadros de hi-persensibilidade
em animais previamente medicados com este fármaco.
• Distúrbios de coagulação foram registrados em humanos.
• A infusão rápida intravenosa pode causar distúrbios neurológicos e convulsões.
• A fenilbutazona e o ácido acetilsalicílico competem pêlos locais de ligação da peni-cilina,
aumentado a concentração sérica destes antibióticos.
• A benzilpenicilina é inativada em soluções contendo complexo B e vitamina C.
• Pacientes com insuficiência renal grave (IRA) devem ter o intervalo entre doses ajustado.
Usos Terapêuticos e Doses - As penicilinas naturais são indicadas no tratamento de infecções por
Streptococcus dos grupos A, B, C, D e G de Lancefield (adenite equina - S. equi, pneumonias - S.
pyogenes, S. agalactiae, S. bovis, ence-falite dos leitões - 5. suis), clostridioses gangre-nosas, infecções
por espiroquetas (Brachyspira, Leptospira, Borrelià), bacilos Gram-positivos como a Listeria
monocytogenes, Erysipelothrix rhusiopathiae e Bacillus anthracis, actinomice-tos do género
Arcanobacterium actinomyces e pasteureloses. O tempo de duração do tratamento varia de acordo com
a afecção envolvida.
• Bovinos, suínos, caprinos e ovinos:
- Penicilina G-benzatina: 20.000 a 40.000 Ul/kg, SC, IM, a cada 2 a 5 dias.
- Penicilina G-procaína: 20.000 a 40.000 UI/ kg, SC, IM, a cada 12 a 24 horas.
- Penicilina G-cristalina (benzilpenicilina): 20.000 a 40.000 Ul/kg, SC, IV, IM, a cada 6 horas.
• Cães e gatos:
- Penicilina G-benzatina: 24.000 Ul/kg, IM, a cada 48 horas.
- Penicilina G-cristalina: 20.000 a 40.000 Ul/kg, IV, IM, a cada 6 ou 8 horas.
-Penicilina G-procaína: 20.000 a 40.000 Ul/kg, a cada 12 ou 24 horas.
- Penicilina V: 10 mg/kg, VO, a cada 8 horas.
• Equinos:
- Penicilina G-benzatina: 20.000 a 40.000 Ul/kg, IM, SC, a cada 24 a 48 horas.
- Penicilina G-procaína: 20.000 a 40.000 UI/ kg, IM, SC, a cada 12 horas.
- Penicilina G-cristalina (benzilpenicilina): 20.000 a 40.000 Ul/kg, IM, SC, IV, a cada 4 horas.
Apresentação - O quadro 3.13 apresenta as principais formulações das penicilinas naturais utilizadas
em Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.

Penicilinas Semi-sintéticas
Isoxazolipenicilinas
Características Gerais - As isoxazolipeni-cilinas apresentam uma cadeia lateral isoxazolil no ácido
6-aminopenicilânico, o que confere a este grupo resistência a ação de algumas das P-lactamases.
Pertencem a este grupo a oxacili-na, cloxacilina, dicloxacilina e flocloxacilina.
Mecanismo de Ação - Agem de maneira semelhante às penicilinas naturais, tendo ação bactericida
ao inibir a síntese de parede celular.
Espectro de Ação - São ativas frente a Streptococcus do grupo A, B, C e G, Staphylococcus produtor ou
não de P-lactamases, Listeria e clostrídios. São especialmente sensíveis a baixas concentrações destas
drogas, germes do género Staphylococcus. Não atuam sobre Gram-negativos.
Farmacocinética - É um grupo de penicilinas, que apresentam estabilidade em pH ácido e pode ser
administradas por via oral ou parente-ral. Sua absorção via oral é influenciada por alimentos.
Distribuem-se amplamente nos tecidos corpóreos, mas não atravessam a barreira hemato-encefálica na
ausência de inflamação. Liga-se em 90 a 97% às proteínas plasmáticas e são eliminadas via renal e em
menor parte pela via biliar. Não sofrem acúmulo em pacientes com insuficiência renal.
Resistência Bacteriana - As isoxazolilpenici-linas não têm ação sobre bactérias Gram-nega-tivas,
aeróbicas ou anaeróbicas, pois não penetram em sua parede celular. Os Staphylococcus resistentes a
oxacilina possuem resistência cruzada com a meticilina, sendo denominados de Staphylococcus
meticilina-resistentes. Este grupo de Staphylococcus é caracterizado por apresentar múltipla resistência a
diversos antimicrobianos.
30 Manual de Terapêutica Veterinária QUADRO 3.13 - Principais apresentações das penicilinas naturais
Princípio ativo Nome comercial Apresentação
Sol. injetável (cada frasco-ampola): pen. G-proc. - 3.750.000 UI, pen. G-
Penicilinas
pot. - 1.250.000 UI, estreptomicina - 2.000 mg.
naturais Agrodel®(
associadas (com Sol. injetável (cada 100 ml): pen.G-proc., - 10.000.000 UI pen. G-benz. -
ou sem 10.000.000 UI diidroestreptomicina - 20.000 mg. Frasco-ampola de 20 e
estreptomiclna) ) Agropen L.A.®(V) 50 ml.

Sol. injetável (cada frasco-ampola): pen.G-proc. - 4.000.000 UI, pen.G-


- Penicilina G-
pot. - 1.350.000 UI.
benzatina (pen. Agrothal®(v)
G-benz.) Sol. injetável (cada frasco-ampola): pen. G-proc. - 1.800.000 UI, pen.
G-pot. - 600.000 UI, estreptomicina - 2.000 mg.
- Penicilina G-
potâssica (pen. Agrovet«(v Sol. injetável (cada frasco-ampola): pen. G-benz. - 1.200.000 UI, pen.G-
G-pot.) pot. - 600.000 UI, pen.G proc. - 600.000 UI.
- Penicilina G- Sol. injetável (cada frasco-ampola): pen. G-benz. - 3.000.000 UI, pen.
procaína (pen. ) Farmabiótico G.A.®0 reforçado®{v) G-pot. - 1.500.000 UI, pen. G-proc. -1.500.000 UI - frasco-
G-proc.) ampola.

Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-benz.- 600.000 UI, pen. G-


Multibiótico proc. - 300.000 UI, pen. G-pot. - 300.000 UI, estreptomicina
- 500 mg + diclofenaco associado.

Sol. Injetável (cada frasco-ampola) - pen.G-benz. - 1.200.000 UI, pen. G-pot. -


Pencivet plus*(v) Penfort«(v) 600.000 UI pen.G-proc. - 600.000 UI, Estreptomicina -1.000 g +
diclofenaco associado.

Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-benz. - 1.200.000 UI, pen.G-


Pentabiótico veterinário1"^ pot. - 600.000 UI, pen.G-proc. - 600.000 UI, estreptomicina
- 500 mg, diidroestreptomicina - 500 mg.

Pentacilin®(v)Septipen®(v) Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-sód. - 500.000 UI, pen. G-proc.
- 2.500.000 UI, diidroestreptomicina - 3.000 mg + tripsina e
quimiotripsina.

Spectrocilin®(v) Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-benz. - 3.000.000 UI, pen. G-pot. -
1.500.000 UI, pen.G-proc. - 1.500.000 UI, estreptomicina
- 2.000 mg.
Penicilina Potencilin*(v)
Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-pot. - 2.500.000 UI, pen. G-
benz. - 2.500.000 UI, estreptomicina - 2.000 mg.
Penicilina G- Prontocilin®(v)
procaína + Sol. Injetável (cada 100 ml): pen.G - proc. 25.000.000 - frasco-ampola de 20 e
estreptomicina 50 ml.

Penicilina Benzatina®,,. Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-proc. Sol. Injetável (cada
frasco-ampola): pen.G-proc. - frascos de 20 e 50 ml.
Benzilpenicilina Benzilpenicilina
(G-potássica) G-potássica*(H) Sol. Injetável (cada frasco-ampola): pen.G-benz. - 3.000.000 UI.

Penicilina V Meracilina®,, Sol.injetável (cada frasco-ampola): pen.G-pot. - 1.000.000 UI ou


5.000.000 UI ou 10.000.000 UI.

Comp. com 500.000 UI, caixa com 12 comps.


Quimioterápicos Antimicroblanos e Antibióticos 31

Efeitos Adversos Mecanismo de Ação - À semelhança das


• Podem ocorrer superinfecções, efeitos irrita-tivos penicilinas naturais, as aminopenicilinas são bac-
e de natureza alérgica. tericidas e inibem a síntese de parede celular
• Menos comum: tromboflebite quando admi- bacteriana.
nistradas por via parenteral, vómitos e diarreia nas
Espectro de Ação - São ativas frente a bactérias
formulações orais.
Gram-positivas e diversas bactérias Gram-
• Em humanos, neutropenia foi associada ao uso
negativas.
prolongado da oxacilina.
Usos Terapêuticos e Doses - A oxacilina e seus Farmacocinética - Quando administrados por
derivados são indicados para o tratamento de via oral, os análogos da ampicilina (amoxicilina)
todos os germes sensíveis ao fármaco, sendo são mais bem absorvidos (na presença de
alimentos) do que a ampicilina. Difundem-se bem
especialmente indicados nas estafilococcias (pio-
em todos os tecidos corpóreos e a amoxicilina,
dermites, osteomielites), em que outros antimicro-
em especial, apresenta concentrações elevadas em
bianos falharam. São utilizados sistemicamante
secreções nasais, seios nasais, bile e ouvido
apenas em animais de companhia.
médio. Apresentam baixo percentual de ligação a
• Equinos: proteínas plasmáticas (10 a 30%), sendo
- Oxacilina: 22 a 40 mg/kg, SC, IV, IM, a cada 8 excretados via renal. Pacientes com insufi-
ou 12 horas. ciência renal de qualquer grau, ou animais jo-
• Cães e gatos: vens, devem receber doses em intervalos
- Oxacilina: 22 a 40 mg/kg, SC, IM, IV, a cada 8 maiores.
horas.
- Dicloxacilina: 25 mg/kg, IM, VO, a cada 6 Resistência Bacteriana - Não são ativas contra
horas. Klebsiella, Proteus indol-positivo e Pseu-
domonas. A resistência é mediada por P-lacta-
Apresentação - O quadro 3.14 apresenta as mases ou mutações nas PPBs. Amoxicilina e
principais formulações das isoxazolipenicilinas ampicilina apresentam resistência cruzada em
utilizadas em Medicina Veterinária e disponíveis quase 100% das vezes. A resistência a ampicilina
no Brasil. vem aumentando dramaticamente nos últimos
anos, em decorrência da larga utilização deste
Aminopenicilinas fármaco na Terapêutica Veterinária e Humana.
Características Gerais - As aminopenicilinas são Para contornar o problema da produção de p-
resultado da fusão do ácido 1-a-aminofe- lactamases, a ampicilina e seus análogos têm sido
nilacético com o ácido 6-aminopenicilânico. Per- associados a inibidores de P-lactamases, entre os
tencem a este grupo a ampicilina e suas pró- quais o ácido clavulânico e o sulbactam.
drogas (metampicilina) e análogos da ampicilina
como a amoxicilina e a ciclacilina. A amoxicilina Efeitos Adversos
age em sinergismo com o ácido clavulânico, um • Os principais efeitos são ocorrência de reações
inibidor de P-lactamases. de hipersensibilidade.

QUADRO 3.14 - Principais apresentações de isoxazolipenicilinas

Princípio atívo Nome comercial Apresentação

Staficilin-N®(H) Sol. injetável - frasco-ampola de 500 mg + 3 ml de diluente


Oxacilina
Dicloxacilina
Dicloxacilina estéril.
Royton®(H)
Susp. injetável (cada frasco-ampola) - 250 a 500 mg + 3 ml

de diluente estéril.

Suspensão oral com 62,5 e 125 mg/ml.


32 Manual de Terapêutica Veterinária

• Em seres humanos, são relatados nefrotoxi- • Cães e gatos:


cidade e distúrbios de coagulação. - Ampicilina: 10 a 20 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a
• Sofrem acúmulo em pacientes com insuficiência cada 8 ou 12 horas.
renal. - Ampicilina + sulbactam: 10 a 20 mg/kg, IV,
IM, a cada 8 horas.
Usos Terapêuticos e Doses - A ampicilina e seus
- Amoxicilina triidratada: 6 a 20 mg/kg, SC, IV,
análogos estão indicados para tratar infecções
causadas por germes sensíveis, sendo úteis em IM, VO, a cada 8 ou 12 horas.
infecções renais de cães (leptospirose, Ente- - Amoxicilina + ácido clavulânico: 12,5 a 25
rococcus), gastrenterites em várias espécies (Sal- mg/kg, VO, a cada 12 horas.
monella, E. coli), piodermites (estafilococcias e - Amoxicilina + ácido clavulânico: 8,75 mg/ kg,
estreptococcias), pneumonias, encefalites e outras IM, SC, a cada 12 horas.
condições infecciosas. A amoxicilina, em especial, • Equinos, suínos e bovinos:
é indicada para tratamento de otites, piodermites -Ampicilina: U a 22 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a
e pneumonias, tendo vantagem por ser melhor cada 8 ou 12 horas.
-Amoxicilina triidratada: 11 a 22 mg/kg, SC, IV,
absorvida por via oral do que a ampicilina. As
IM, VO, a cada 8 ou 12 horas.
aminopenicilinas apresentam si-nergismo com os
-Amoxicilina + ácido clavulânico: 12,5 a 25
aminoglicosídeos. Derivados como a hetacilina
não são empregados rotineiramente em Medicina mg/kg, VO, a cada 12 horas; 8,75 mg/ kg, IM, SC,
Veterinária. A amoxicilina e ampicilina apresentam a cada 12 horas.
efeitos potencializados por inibidores de (3- Apresentação - O quadro 3.15 apresenta as
lactamases, sendo comumente empregados o principais formulações das aminopenicilinas uti-
ácido clavulânico para a primeira e o sulbactam lizadas em Medicina Veterinária e disponíveis no
para a segunda. Brasil.

QUADRO 3.15 - Principais apresentações de aminopenlclllnas

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Agroplus®(v) Sol. injetável (cada 100 ml): 10 g de ampicilina + 25 milh. de


Ampicilina +
UI de colistina - frascos multidose com 20 e 50 ml. Sol. injetável
sulbactam
Ampicil% (cada frasco-ampola): 10.000 mg/250 ml. Sol. injetável (cada frasco-
Amoxicilina
Ampicilina ampola): 2.000 mg/10 ml.
Amoxicilina + ácido
Veterinária®o
clavulânico
AmPlax% Sol. injetável:120 mg/ml - frasco-ampola de 20 e 50 ml.
Biomicin®,,,. Sol. injetável (cada frasco-ampola): de 500 mg de ampicilina + 500 mg de

Ampicil«(H) estreptomicina.

Amplotal«(H) Suspensão oral: 250 mg/5 ml — fracos de 60 ml.


Sol. injetável de ampicilina benzatina (frasco-ampola): 250, 500 e 1.000 mg.
Unasyn injetável*(H) Sol. injetável (cada frasco-ampola): 0,5/1,0 g ou 1/2 g de ampicilina/ sulbactam -
caixa com 20 frascos.
Bactrosina" ^ 8 Sol. injetável: 172,2 mg/20 ml - frascos com 20 ml.
Ampicllina Amoxil®(H) Suspensão oral: 125 e 250 mg/5 ml - frascos de 80 e 150 ml.
sódica ou Cápsulas de 500 mg - caixa com 15, 20 e 30 cáps.
benzatina Clamoxyl L.A.®(V) Susp. injetável com 150 mg/ml - frasco-ampola com 100 e 250 ml.
Clavamox RTU®(V) Susp. injetável com 140 mg de amoxicilina + 35 mg de ácido clavulânico -
frascos-ampola de 40 e 100 ml.
Prontoamoxy-L.A.® Suspensão injetável: 150 mg/ml - frasco ampola de 20 e 50 ml.
Quimioterápicos Antlmicroblanos e Antibióticos 3 3

Carboxipenicilinas de infecções por Pseudomonas e Proteus mul-


tirresistentes.
Características Gerais - As carboxipenicilinas
resultam da fusão do ácido carboxílico com o ácido • Cães e gatos:
6-aminopenicilânico. Pertencem a este grupo a - Carbenicilina: 40 a 50 mg/kg, SC, IM, IV, a cada 6 ou
carbenicilina e a ticarcilina. 8 horas.
-Ticarcilina + ácido clavulânico: 33 a 50 mg/kg, IV,
Mecanismo de Ação - São antimicrobia-nos IM a cada 4 ou 6 horas.
bactericidas inibindo a síntese da parede celular • Equinos:
bacteriana, de maneira semelhante à penicilina - Ticarcilina + ácido clavulânico: 44 mg/kg
G. , IV, a cada 6 horas.
Espectro de Ação - Apresentam atividade
frente a Gram-positivos e uma gama maior de Apresentação - O quadro 3.16 apresenta as principais
Gram-negativos, superando a ampicilina. São drogas formulações das carboxipenicilinas utilizadas em
especialmente ativas frente a Proteus indol- Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.
positivo e Pseudomonas.
Farmacocinética - A carbenicilina e a Cefalosporinas e Análogos
ticarcilina só apresentam concentrações séricas Características Gerais - As cefalosporinas são
adequadas e persistentes para combater Pseudo- antibióticos p-lactâmicos que apresentam como
monas, quando administradas por via parenteral e núcleo central, o ácido 7-aminocefalospo-rânico. São
por gotejamento contínuo, limitando seu uso na obtidas a partir de culturas de fungos do género
Terapêutica Veterinária. Estas penicilinas se Cephalosporium. Existem atualmente quatro gerações
ligam em 50% às proteínas plasmáticas e são eli- de cefalosporinas. As de primeira geração são
minadas sob forma ativa pela via renal. subdivididas em dois grupos: as de absorção
parenteral (cefalotina, cefaloridina, cefazolina) e as de
Resistência Bacteriana - Klebsiella, em geral, absorção oral (cefalexina, cefadroxil cefradina). A
costuma ser resistente a este fármaco, pela segunda geração de cefalosporinas apresenta maior
produção de (3-lactamases. Mutações nas PPBs espectro de ação perante bacilos Gram-negativos que
podem conferir resistência a essas drogas. as anteriores, sendo subdivididas em drogas de
Efeitos Adversos absorção oral (cefaclor, cefprozila) e parenteral
• Podem ocorrer efeitos irritativos, hipersen- (cefuroxima, cefoxitina). As cefalosporinas de terceira
sibilidade e superinfecções. geração apresentam espectro de ação superior às
• Em humanos com insuficiência renal, a droga outras cefalosporinas mais antigas, sendo ativas
se acumula podendo causar convulsões, distúrbios frente a uma gama maior de bacilos Gram-negativos,
de coagulação e hepatite. inclusive Pseudomonas. São subdivididas em drogas de
uso parenteral com potente ação antipseudomonas
Usos Terapêuticos e Doses - A carbenicilina é (cefoperazona, ceftazidi-ma), drogas de uso parenteral
indicada nas infecções causadas pêlos germes com pequena atividade antipseudomonas (cefotaxima,
sensíveis, porém sua utilidade em Medicina ceftriaxo-na, cefodizima, ceftiofur) e drogas de
Veterinária é limitada pela dificuldade de absorção
administrá-la (gotejamento contínuo). Deve, por-
tanto, ser utilizada, em especial, no tratamento

QUADRO 3.16 - Principais apresentações de carboxipenicilinas

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Carbenicilina Carbenicilina Sol. injetável (frasco-ampola) - l e 5 g.


(Royton)®(H)
Ticarcilina + ácido Timentin® „ Sol. injetável - Ticarciclina - 3 g + ácido clavulânico 0,1 g frascos-ampola
clavulânico de 13 ml.
34 Manual de Terapêutica Veterinária

oral (cefixima, cefetamet pivoxil). As cefalospo-rinas de quarta geração apresentam maior potência que as
anteriores, frente a bacilos Gram-negativos, porém são menos potentes frente a gram-positivos (cefpiroma,
cefepima).
Mecanismo de Ação - À semelhança das penicilinas, as cefalosporinas inibem enzimas transpeptidases de
membrana que sintetizam os peptideoglicans da parede celular bacteriana, levando-as a lise osmótica.
Espectro de Ação - Todas as cefalosporinas apresentam boa ação frente à maioria das bactérias Gram-
positivas e Gram-negativas. Cefalosporinas de geração mais recente são mais ativas frente a bacilos Gram-
negativos, porém são menos ativas frente a Gram-positivos. Pseudomonas são resistentes às duas primeiras
gerações.
Farmacocinética - Algumas cefalosporinas podem ser absorvidas via oral, enquanto outras só podem ser
administradas via parenteral. Distribuem-se bem em todos os tecidos, mas especialmente as de primeira e
segunda gerações atingem boas concentrações em pele e tecido subcutâneo. Em geral, atravessam mal a
barreira hematoencefálica. A maioria é excretada sob forma ativa na urina e algumas pela via biliar
(cefoperazona). A cefalotina é inativada pelo Ringer lactato.
Resistência Bacteriana - Apenas as cefalosporinas de terceira geração são ativas frente Pseudomonas.
Apesar de serem mais potentes frente às bactérias Gram-negativas, as cefalosporinas mais recentes são menos
potentes frente a Staphylococcus. São drogas menos suscetíveis as (3-lactamases que as penicilinas.
Efeitos Adversos
• A maioria das cefalosporinas é bem tolerada, ocorrendo, em geral, casos de flebite, alergia e distúrbios de
coagulação.
• Discrasias sanguíneas, causadas por mie-lotoxicidade em animais tratados por longos períodos, já foram
registradas.
• As cefalosporinas causam nefrotoxicidade quando utilizadas por períodos prolongados em seres humanos.
A cefaloridina, em especial, é considerada nefrotóxica para seres humanos.
• Sendo a excreção dessas drogas efetuada por via renal, as cefalosporinas sofrem acú-mulo em pacientes com
insuficiência renal. A cefoperazona é contra-indicada em pacientes com insuficiência hepática.
• Podem ocorrer reações de hipersensibili-dade cruzada com as penicilinas.
Usos Terapêuticos e Doses - As cefalosporinas estão indicadas em todos os processos infecciosos
causados por germes sensíveis a elas. Podem ser utilizadas em infecções renais, respiratórias, genitais, de
tecidos moles e osteoar-ticulares. O tempo de duração do tratamento varia em função da afecção. As
cefalosporinas de primeira geração são as mais utilizadas em Medicina Veterinária. A cefalexina está
indicada principalmente em casos de piodermites, dada a boa ação frente a Staphylococcus e boa difusão
em tecidos queratinizados. As cefalosporinas de uso exclusivo parenteral têm sido utilizadas na profilaxia de
infecções pós-cirúrgicas. O ceftiofur está indicado nos casos de pneumonias em animais de produção. O
custo é um fator limitante à utilização dessas drogas em Medicina Veterinária.
• Cães e gatos:
- Cefaclor: 4 a 20 mg/kg, VO, a cada 8 horas.
- Cefadroxil: 22 a 30 mg/kg, VO, a cada 12 horas para cães e 22 mg/kg, VO, a cada 24 horas para gatos.
- Cefalexina: 10 a 30 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada 12 horas.
- Cefalotina: 10 a 30 mg/kg, IV, IM, a cada 4 ou 8 horas.
- Cefazolina: 20 a 35 mg/kg, IV, IM, a cada 8 horas.
- Cefepima: 50 mg/kg, IV, IM, a cada 8 horas.
- Cefixima (cães): 10 mg/kg, VO, a cada 12 horas.
- Cefoperazona: 22 mg/kg, IV, IM, a cada 8 ou 12 horas.
- Cefotaxima: 50 mg/kg, SC, IM, IV, a cada 12 horas para cães e 20 a 80 mg/kg, IV, IM, a cada 6 horas.
- Cefoxitina: 30 mg/kg, IV, a cada 6 ou 8 horas.
- Ceftazidima: 30 mg/kg, IV, IM, a cada 6 horas.
- Ceftiofur: 2,2 a 4,4 mg/kg, SC, a cada 24 horas.
Quimioterápicos Antimicrobianos e Antibióticos 3 5

- Ceftriaxona: 25 a 50 mg/kg, SC, IV, IM, a cada 12 ou 24 horas.


- Cefuroxima: 10 a 30 mg/kg IV, a cada 8
ou 12 horas. 1 Equinos:
- Cefalotina: 20 mg/kg, IV, IM, a cada 6 ou 8 horas.
- Ceftiofur: l a 2 mg/kg, IM, a cada 24 horas.
- Cefadroxil: 22 mg/kg, VO, a cada 21 horas.
- Cefoxitina: 30 a 40 mg/kg, IM, a cada 6 ou 8 horas.
- Cefalexina: 10 a 30 mg/kg, VO, a cada 6 ou 8 horas.
• Bovinos (bezerros):
- Cefalotina: 10 a 12 mg/kg, IV, IM, a cada
6 ou 8 horas.
- Ceftiofur: l a 2 mg/kg, IM, a cada 24 horas. '
• Suínos:
- Ceftiofur: l a 2 mg/kg, IM, a cada 24 horas.
Apresentação - O quadro 3.17 apresenta as principais formulações das cefalosporinas utilizadas em
Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.

QUADRO 3.17 - Principais apresentações de cefalosporinas


Princípio atino Nome comercial Apresentação
Cefalexina (1* Keflex®(H) Susp. em gotas (1 gota = 5 mg) - frasco com 15 ml. Drágeas de 550 e
geração) 1.000 mg - caixa com 8 e 40 drágeas.
Rilexine®(v) Comprimidos de 75 mg - caixa com 16 comps. Sol. injetável: 10 mg/ml -
seringas descartáveis de 10 ml. Comprimidos de 300 mg - caixa com 12 a
24 comprimidos.
Cefadroxil (1« Cefamox*(H) Comprimidos de 1 g, frascos com 10 comps. Suspensão oral: 250 e 500
geração) mg/5 ml - frasco para 100 ml.
Cefalotina (1* Keflin neutro*(H) Solução injetável: 1 g - frasco-ampola.
geração)
Cefazolina (1* KefaZol*(H) Sol. injetável (frasco-ampola): 250, 500 e 1.000 mg.
geração)
Cefuroxima (2* Cefuroxima sódica 750 mg Sol. injetável (frasco-ampola): 500 e 1.000 mg.
geração) IM/IV%
Cefoxitina (2* Cefoxitina sódica®(H) Sol. injetável (frasco-ampola): 500 e 1.000 mg.
geração)
Cefotaxima (3* Cefotax®(H) Sol. injetável (frasco-ampola): 1 g.
geração)
Ceftriaxona (3* Rocefin injeção Sol. injetável (frasco-ampola): 500 mg e 1 g.
geração) intravenosa®,,,,
(H)
Cefoperazona (3* Cefobid-(lo Sol. injetável (frasco-ampola): 1 e 2 g.
geração)
Ceftazidima (3* Fortaz*(H) Sol. injetável (frasco-ampola): 1 ou 2 g.
geração) Cefix® uenx (H)
Cefixima (3* Susp. oral com 100 mg/5 ml.
geração)
Ceftiofur (3* Excenel®(v) Sol. injetável (frasco-ampola): 1 g/20 ml - frascos com 20 e 80 ml.
geração)
Cefepima (*' MaxceP(H) Sol. injetável (frasco-ampola): 500 mg, 1 g e 2 g.
geração)
3é Manual de Terapêutica Veterinária

Outros [3-lactâmicos bolização é desprezível, sendo eliminado na forma


ativa pêlos rins.
Carbapemênicos e Monobactâmicos Resistência Bacteriana - Mycobacterium,
Características Gerais - Antibióticos P- Enterococcus faecium, Staphylococcus metici-
lactâmicos do tipo imipenem ou imipenema são lina-resistente, clamídias e micoplasmas são resis-
sintetizados por actinomicetos do grupo Strepto- tentes ao imipenem. Os Gram-positivos são na-
myces, e apresentam um anel pentacíclico de turalmente resistentes ao aztreonam, que é ina-
estrutura variável ligado ao anel P-lactâmico. Os tivado por apenas algumas das P-lactamases.
monobactâmicos são antibióticos sintetizados por Estes antibióticos não induzem resistência em
actinomicetos da espécie Nocardia e se Gram-negativos.
caracterizam por possuir o anel P-lactâmico sem
Efeitos Adversos
ligação a qualquer outro grupo cíclico. Pertence a
este grupo o aztreonam. • Imipenem pode produzir efeitos gastrintestinais,
discrasias sanguíneas, convulsões e flebites,
Mecanismo de Ação - O imipenem e o além de induzir resistência aos outros p-
aztreonam se ligam as transpeptidases de mem- lactâmicos. Pode ser nefrotóxico se não for
brana, assim como as outras p-lactaminas, impe- utilizado com cilastatina.
dindo a síntese da parede celular e causando lise • O aztreonam pode provocar distúrbios
osmótica. gastrintestinais em cães e cutâneos em
humanos.
Espectro de Ação - O imipenem é, atual-mente,
o antimicrobiano de maior espectro de ação Usos Terapêuticos e Doses - O imipenem está
utilizado na prática clínica médica, atuando em indicado nas infecções em que os outros
quase 100% das estirpes bacterianas conhecidas. O antimicrobianos falharam, sendo ativo contra
aztreonam só é ativo frente a germes Gram- Acinetobacter e outros microrganismos multirre-
negativos, especialmente as enterobactérias, po- sistentes. O aztreonam está indicado nas infec-
dendo também atuar frente a Pseudomonas. ções causadas por Gram-negativos resistentes a
outros antimicrobianos, especialmente em infec-
Farmacocinética - O imipenem não é ções intra-abdominais.
absorvido por via oral, sendo exclusivamente uti-
• Cães e gatos:
lizado por via endovenosa ou intramuscular. Este
- Imipenem: 3 a 10 mg/kg, IV, IM, a cada 6 ou 8
fármaco atinge concentrações terapêuticas em
horas.
todos os tecidos corpóreos. A metabolização é
feita rapidamente por enzimas dipeptidases - Aztreonam: l a 2 g/70 kg (humano) (dose não
renais, levando à associação desta droga com a avaliada para cães e gatos), a cada 6 ou 8 horas.
cilastatina, um inibidor dessas enzimas. Após a Apresentação - O quadro 3.18 apresenta as
metabolização, as drogas são eliminadas por via principais formulações dos carbapemênicos e
urinária. O aztreonam só é absorvido por via monobactâmicos utilizadas em Medicina Veteri-
parenteral, se difundindo bem por todos os te- nária e disponíveis no Brasil.
cidos corpóreos, menos nos pulmões. A meta-

QUADRO 3.18 - Principais apresentações de carbapemênicos

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Imipenem Tienam®,, Frasco para infusão venosa com 500 mg de imipenem + 500
mg de cilastatina - caixa com l frasco para infusão.
Aztrconsun Azactam*,
Sol. injetável (frasco-ampola): 0,5 a l g.
Quimioteíápicos Antimicmblanos e Antibióticos 37

Aminoglicosídeos
Características Gerais - Os aminoglicosídeos são antibióticos bactericidas extraídos de actinomicetos
do grupo Streptomyces. São estruturas químicas complexas, porém pequenas, derivadas de açúcares e um
grupo amino. Não agem em pH ácido e são transportados para o interior das células através de
mecanismos ativos, dependentes de oxigénio, o que torna este grupo ineficaz contra anaeróbios.
Pertencem a este grupo a gentamicina, neomicina, amicacina, tobramici-na, estreptomicina,
diidroestreptomicina, netilmi-cina e framicetina.

Mecanismo de Ação - Os aminoglicosídeos funcionam como chave falsa, se ligando ao ribos-somo


bacteriano, e causando a produção de proteínas defeituosas. São antibióticos bactericidas.

Espectro de Ação - Os aminoglicosídeos são ativos frente a Gram-positivos e Gram-negativos,


principalmente enterobactérias, mas falham frente a germes de localização intracelular como a Sal-
monella. Com exceção da estreptomicina, são ativos frente a Staphylococcus.

Farmacocinética - Os aminoglicosídeos não são absorvidos por via oral, sendo mais utilizados por
via intramuscular ou subcutânea. A neomicina foi utilizada por via oral para tratamento local de
infecções entéricas, porém sua eficácia não foi comprovada. São antibióticos catiônicos e pouco
lipossolúveis, atravessando mal as barreiras biológicas. A estreptomicina é a única que atinge boas
concentrações em secreção brônquica. São eliminadas por via renal sob a forma ativa.

Resistência Bacteriana - As bactérias anae-róbicas obrigatórias e Listeria são naturalmente resistentes


aos aminoglicosídeos. Pseudomonas são sensíveis somente a alguns aminoglicosídeos. A resistência é
conferida por três mecanismos: modificação nos locais de ligação, alteração en-zimática do antibiótico
e impermeabilidade do germe à droga. A resistência é conferida por mecanismos genéticos. Ampla
resistência à estreptomicina e à neomicina foi documentada, provavelmente pela utilização em larga
escala desses antimicrobianos.Efeitos Adversos
• Os aminoglicosídeos são nefrotóxicos porque causam diminuição da taxa de filtração glomerular renal.
Em ordem decrescente de nefrotoxicidade: neomicina, gentamicina, tobramicina, amicacina e estreptomi-
cina. A utilização é contra-indicada em animais urêmicos.
• São tóxicos ao 8a par de nervos cranianos porque se concentram na endolinfa e peri-linfa que banham
as células ciliadas do ouvido interno.
• A nefrotoxicidade e ototoxicidade ocorrem em dependência da posologia utilizada, sendo também
relatada no uso tópico prolongado desses fármacos.
• Podem potencializar os efeitos anestésicos como o fenobarbital e relaxantes musculares.
• São tóxicos aos fetos em fêmeas prenhez.

Usos Terapêuticos e Doses - Os aminoglicosídeos são largamente utilizados na Medicina Veterinária e


estão indicados principalmente nas infecções por bacilos Gram-negativos entéricos. A gentamicina pode
ser aspergida nas vias respiratórias para tratar pneumonias. A estreptomicina é utilizada no tratamento da
brucelose canina. A estreptomicina e diidroestreptomicina são as drogas de eleição na eliminação de
Leptospira dos túbulos renais de animais portadores. A neomicina, tobramicina e gentamicina são
utilizadas topicamente para tratamento da otite canina. A amicacina é potente frente a pneumonias
por Gram-negativos. Os aminoglicosídeos têm efeito sinérgico com os p-lactâmicos.
• Cães e gatos:
- Amicacina: 6,5 mg/kg, SC, IV, IM, a cada 8 horas ou 20 mg/kg, SC, IM, IV, a cada 24 horas.
- Estreptomicina, diidroestreptomicina: 10 a 20 mg/kg, SC, IM, a cada 12 horas.
- Gentamicina: 2 a 4 mg/kg, SC, IV, IM, a cada 6 ou 8 horas ou 6 a 10 mg/kg, SC, IM, IV, a cada 24
horas.
- Neomicina: 10 a 20 mg/kg, VO, a cada 6 a 12 horas.
- Tobramicina: 2 a 4 mg/kg, SC, IV, IM, a cada 8 horas.
38 Manual de Terapêutica Veterinária

• Bovinos, equinos e suínos: na, clortetraciclina, demecloxiclina; e tetraciclinas


- Estreptomicina, diidroestreptomicina: 10 a 20 semi-sintéticas: tetraciclinas, doxiciclina, mino-
mg/kg, SC, IM, a cada 12 horas. ciclina, metaciclina. De acordo com o tempo de
- Gentamicina: 2 a 4 mg/kg, SC, IM, a cada 8 ou eliminação, podem ser classificadas em: ação curta -
12 horas. tetraciclina, oxitetraciclina, clortetraciclina; ação
- Neomicina: 10 a 20 mg/kg, VO, a cada 6 a 12 intermediária - demecloxiclina, metaciclina; ação
horas. longa - doxiciclina, minociclina.
• Equinos: Mecanismo de Ação - Inibem a síntese proteica
- Amicacina: 5 a 7 mg/kg, SC, IM, a cada 8 a 12 ligando-se ao ribossomo 30S da bactéria e
horas. impedindo o acesso do RNAt aminoacil ao local
Apresentação - O quadro 3.19 mostra as receptor (A) no complexo RNAm-ribossomo.
principais formulações dos aminoglicosídeos uti-
lizadas em Medicina Veterinária e disponíveis Espectro de Ação - Bactérias Gram-positi-vas,
no Brasil. Gram-negativas aeróbicas e anaeróbicas, cla-
mídias, riquétsias (Ehrlichia sp.), espiroquetas,
micoplasma, e alguns protozoários como Ana-
Tetraciclinas plasma sp. e Haemobartonella sp.
Características Gerais - As tetraciclinas são
antibióticos de amplo espectro, bacteriostáticos, Farmacocinética - Existem variações quanto a
produzidos por diversas espécies de Streptomyces, e absorção após a dosagem oral, sendo a clor-
também com alguns obtidos semi-sinteticamen-te. tetraciclina com pior absorção (35%), a oxitera-
São compostos policíclicos anfotéricos que ciclina, tetraciclina e demecloxiclina (60 a 80%), e
fluorescem quando expostos à luz ultravioleta. a doxiciclina (em torno de 90 a 95%) e mino-
Formam quelatos insolúveis com alguns cátions, ciclina (em torno de 100%) com a melhor absorção
como cálcio, magnésio, ferro e alumínio. São clas- oral. Alimentos, produtos lácteos, preparações
sificados em tetraciclinas naturais: oxitetracicli- vitamínicas, catárticos e antiácidos prejudi-

QUADRO 3.T9 - Principais apresentações de aminoglicosídeos

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Diidroestrepto- Diidroestreptomicina Sol. injetável (frasco-ampola): 5 g/20 ml.


micina
Estreptomicina Estreptomicina®(v) Sol. injetável (frasco-ampola): 5 g/frasco.
Gentamicina Gentaflex®(v) Sol. injetável (frasco-ampola): 4 g/100 ml frasco com 100 ml.
Gentasil* Sol. injetável (frasco-ampola): 400 mg/100 ml, frascos de 10, 50 e
100 ml.
Gentocin®(v) Gentrin Sol. injetável (frasco-ampola): 40 mg/ml, frascos de 10, 50 e 100 ml.
injetável®(v) Sol. injetável (frasco-ampola): -44 mg/ml, frascos de 10 ml. Sol.
Garamicina®(H) injetável: ampolas de 10, 20, 40, 60, 80, 120, 160 e 280 mg.
Neomicina Neobiotic®(v) Feridel Pó solúvel: 700 mg/g - potes de 454 gramas e fibrolatas de 10 kg.
pomada®(v) Bisnagas: 5 mg/1 g - pomada tópica.
Ginoseptü®(v) Vela uterina com 700 mg de neomicina e 150 mg de nitrofurazona
— caixa com 24 velas.
Tobramicina Tobrex®(H) Frasco com 5 ml de solução oftálmica.
Tobramina®, (M)
Sol. injetável (ampolas): 150 mg/3 ml - ampolas.
Amicacina Novamin®
(H) Sol. injetável: ampolas de 2 ml com 250 e 500 mg.
Netilmicina Netromicina®,, Sol. injetável de 150 mg/1,5 ml - estojo com duas ampolas.
Quimioterápicos Antimicrobianos e Antibióticos 3 9

cam a absorção. Sua distribuição é ampla e inclui todos os tecidos, exceto do SNC. A doxici-clina é
mais lipossolúvel que a tetraciclina, clor-tetraciclina e oxitetraciclina, por isso penetra no SNC, olho e
próstata em concentrações terapêuticas.
Resistência Bacteriana - Pode ser plas-mídeo-mediada e usualmente envolve diminuição do acúmulo
da tetraciclina em consequência do declíneo do influxo do antibiótico ou da aquisição de um caminho de
efluxo dependente de energia, ou da diminuição do acesso das tetraci-clinas ao ribossomo devido à
presença de proteínas que protegem o ribossomo, ou ainda da inativação enzimática das tetraciclinas.
Efeitos Adversos
• Nefrotoxicidade: São potencialmente nefro-tóxicas (com exceção da doxiciclina), por isso devem ser
evitadas em pacientes com função renal alterada. Devem ser evitadas em associação com anestesia
inalatória com metoxiflurano, devido à possibilidade de indução de insuficiência renal aguda.
• Hepatotoxicidade: Por degeneração paren-quimatosa.
• Fototoxicidade.
• Necrose tecidual.
• Descoloração dentária e inibição da calcificação afetando estrutura óssea.
• Supra-infecções: Quando se utiliza um antibiótico de amplo espectro, sempre existe a possibilidade de
ocorrer superinfecções por patógenos não suscetíveis, como fungos, leveduras e bactérias resistentes.
• Diarreia grave: Quando utilizada por via oral em ruminantes por destruição da microflora bacteriana; e em
equinos pela destruição da microflora do cólon, podendo ser fatal nesta espécie, caso o animal esteja
muito debilitado ou estressado.
Usos Terapêuticos e Doses - São utilizadas em tratamento de doenças do trato respiratório, urinário,
gastrentérico, e doenças oftálmicas bac-terianas dos animais domésticos. Doenças específicas incluem
anaplasmose (Anaplasma sp.), Actinobacilose (Actinobacillus lignieresii), Acti-nomicose (Actinomyces
bovis), borreliose (Borre-lia burgdorferi - doença de Lyme), brucelose (Brucella sp.), ceratoconjuntivite
infecciosa bovina (Moraxella botns), hemobartonelose (Haemobartonella sp.), doenças por Chlamydia
eMyco-plama, e erliquiose (Ehrlichia sp.).
• Cães e gatos:
- Doxiciclina: 5 nig/kg, VO, 12/12 horas (cães); 2,5 a 5 mg/kg, VO, 12/12 horas (gatos).
- Minociclina: 5 a 15 mg/kg, VO, 12/12 horas
- Oxitetraciclina: 7,5 a 12 mg/kg, IV, IM,
12/12 horas; 20 a 22 mg/kg, VO, 8/8 ho
ras (cães e gatos); 25 mg/kg, VO, 8/8
horas (gatos - hemobartonela). \
- Tetraciclina: 22 mg/kg, 8/8 horas VO; 25 a 50 mg/kg, VO, 6/6 ou 8/8 horas; 7 a 10 mg/kg, IM, IV,
12/12 horas.
• Equinos:
- Doxiciclina: 10 mg/kg, VO, 12/12 horas
- Oxitetraciclina: 3 a 6,6 mg/kg, IV, IM 12/ 12 ou 24/24 horas.
- Tetraciclinas: 5 a 10 mg/kg, IV, IM 12/12 ou 24/24 horas.
• Ruminantes:
- Oxitetraciclina: 6 a 11 mg/kg, IV, IM, 12/ 12 ou 24/24 horas.
- Tetraciclinas: 5 a 10 mg/kg, IV, IM, 12/12 ou 24/24 horas.
• Suínos:
- Oxitetraciclina: 3 a 6,6 mg/kg, IV, IM, 12/12 ou 24/24 horas; 10 a 30 mg/kg, VO, 12/12 horas.
- Tetraciclinas: 5 a 10 mg/kg, IV, IM, 12/12 ou 24/24 horas.
Apresentação - O quadro 3.20 descreve as principais apresentações das tetraciclinas.

Cloranfenicol, Tianfenicol e Florfenicol


Características Gerais - Os grupos fárma-cos análogos ao cloranfenicol são obtidos por síntese
laboratorial, sendo moléculas muito similares em tamanho e espectro de ação.
Mecanismo de Ação - O cloranfenicol e seus derivados são antibióticos bacteriostáticos. Eles se ligam à
fração 30S do ribossomo bacteriano competindo com o RNA-mensageiro, e impedindo assim a síntese
proteica.
Espectro de Ação - O cloranfenicol e seus derivados possuem boa ação frente a Gram-po-sitivos e
Gram-negativos, inclusive anaeróbicos, clamídias, riquétsias e micoplasmas. Pseudomo-nas em geral
são resistentes.
40 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.20 - Principais apresentações das tetraciclinas


Principio ativo Nome comercial Apresentação

Doxiciclina Doxiciclina Drágeas de 100 mg - caixa com 3 e 15 drágeas. Xarope com 50


Vibramicina mg/5 ml - frasco com 60 ml.
Drágeas de 100 mg - cartuchos com 3 e 15 drágeas. Comprimidos
de 100 mg - embalagem com 20 comps.
Minociclina Comprimidos de 100 mg - cartucho com 9 e 30 comps.
Qxitetraciclina Biogental(v) Solução injetável a 60 mg/ml - frasco com 50 ml e ampolas de 3
ml.
Terramicina,, Cápsulas de 500 mg - embalagens com 100 cáps. Xarope 25 mg/ml
— frasco com 120 ml. Solução injetável a 50 mg/ml — ampolas de
Terramicina LA(V) Terra-
2 ml. Com sulfato de polimixina B - pomada oftálmica.
cortril(H) Terracortril
Solução injetável a 200 mg/ml — frasco de 50 ml.
spray(v) Terralon 20%
Com hidrocortisona - pomada tópica - bisnaga com 15 g.
L.A.(V)
Spray - tubo com 74 g.
Solução injetável a 200 mg/ml — frasco-stmpola com 20, 50 ou
Talcín,,,, 100 ml.
Cápsulas de 250 mg - frasco com 16 cápsulas. Tabletes de 500 mg
Tetraciclina - caixa com 10 envelopes de 2 tabletes. Solução injetável de 500 mg
- frasco-ampola de 10 ml. Solução injetável de l g — frasco-ampola
de 15 ml.
Cápsulas de 250 mg - caixa com 100 cáps. Cápsulas de 500 mg -
Tetraciclina,, caixa com 12 e 100 cáps. Suspensão oral — 25 mg/ml frasco com
Tetrex(H 60 ml. Pomada oftálmica - bisnaga com 3,5 g.
Cápsulas de 500 mg - caixa cora 8 cáps.

Farmacocinética — O cloranfenicol e seus Efeitos Adversos - O cloranfenicol possui um


derivados são moléculas bastante lipossolúveis e grupamento nitro que desestabiliza o DNA
pequenas, atingindo elevadas concentrações em humano levando à anemia aplástica. Este efeito
todos os tecidos corpóreos e no meio intracelular. não foi observado em cães. Altas doses e trata-
A ligação à proteínas plasmáticas é de 25 a 50%. mento prolongado com tianfenicol e cloranfenicol
A droga é metabolizada no fígado e excretada via causam inibição da síntese mitocondrial de
renal e biliar. Equinos metabolizam o proteínas causando efeito supressivo na medula
cloranfenicol rapidamente, necessitando de in- óssea. Este efeito não parece ocorrer com o
tervalos mais curtos de administração. florfenicol e é reversível nos cães. Os gatos são
mais suscetíveis a intoxicação. Podem ocorrer
Resistência Bacteriana - Os mecanismos superinfecções. Reações de hipersensibilidade são
envolvidos na resistência ao cloranfenicol são a raras. A administração rápida de cloranfenicol,
inativação enzimática de sua molécula e a concomitante com anestésicos, pode provocar hi-
impermeabilidade dos germes à droga. A resis- potensão em cães. O cloranfenicol não deve ser
tência é conferida pela presença de plasmídeos e administrado a animais de produção, pois per-
mutação genética cromossômica. A resistência manece na forma residual nos subprodutos ani-
bacteriana ao cloranfenicol e tianfenicol vem mais, sendo tóxico aos seres humanos.
aumentando gradativamente, apresentando estes
fármacos 100% de resistência cruzada. O florfe- Usos Terapêuticos e Doses - O doranfeni-col e
nicol é considerado o mais eficaz do grupo. tianfenicol estão indicados no combate a
Quimioterápicos Aníimicrobianos e Antibióticos 41

germes Gram-positivos e Gram-negativos. Este grupo de fármacos é potente frente a infecções pulmonares
por Bordetella bronchiseptica em cães, e infecções do sistema nervoso central em animais, dada a
lipossolubilidade da droga. O cloranfenicol é uma alternativa à tetraciclina para o tratamento da
erliquiose canina. O cloranfenicol tem sua potência multiplicada pela utilização conjunta com o
dimetilsulfóxido. O florfenicol é indicado nos casos de pneumonias em grandes animais. • Cães e gatos:
- Cloranfenicol (palmitato e estearato): 40 a 50 mg/kg, VO, a cada 8 horas para cães e 12,5 mg/kg, VO, a
cada 12 horas para gatos.
- Cloranfenicol (succinato): 30 a 50 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada horas 12,5 mg/kg, VO, a cada 12 horas
para gatos;
- Florfenicol: 25 a 50 mg/kg, IM, SC, 8/8 ou
12/12 horas (toxicidade não avaliada). • Bovinos, equinos, suínos:
- Cloranfenicol (succinato): 30 a 50 mg/kg, SC, IV, IM, VO, a cada 6 ou 8 horas.
- Florfenicol: 20 mg/kg, IM, a cada 24 horas.
Apresentação - O quadro 3-21 apresenta as principais formulações do cloranfenicol e seus derivados
utilizadas em Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.
QUADRO 3.21 - Principais apresentações de cloranfenicol e seus derivados
Princípio ativo Nome comercial Apresentação
Cloranfenicol Cloranthal®(v) Sol. injetáveí (frasco-ampola): 10 g/ 100 ml - frascos de 50 ml.
Succinato Fenicetina Sol. injetáveí (frasco-ampola): 10 g/ 100 ml - frasco de 20 ml.
injetável*(v).
Polispray»(v) Spray: 5 g - frasco de 250 ml.
Quemicetina Sal. ínjetável (frasco-ampola): 3 g/20 ml — frasco de 20 mL
injetável*(V)
Quintumicetina Sol. injetáveí (frasco-ampola): 15 g/100 ml - frascos de 20, 50 e
ínjetável«(v) 100 ml.
Quintumicetina Xarope: 5,25 g/100 ml - frasco de 20, 5O, lOOt 200, 500 e 1.000 nd.
onü«(V)
Quintumicetina Solução oral: 10 g/100 ml - frascos de 20, 50, 100, 200, 500 e
solúvel»(v) 1.000 ml.
Sivamclor*(v> Sol. injetáveí a 10% (frasco-ampola): frasco de 50 ml.
Soluthor»(v) Solução oral a 10%: frascos de 1.000 ml.
Trigenthal<% Pasta com 6 g/1.000 g - seringas autodosadoras de 40 g.
Quemicetina Xarope com 150 mg/5 ml - frasco com 100 ml.
xarope®(H)
Quemicetina'*^., Drágeas de 250 e 500 mg - caixa com W ou 10O drâgeas.
Cloranfenicol Cloranfenicol Blistercom 12, 20 e 100 cáps. de 250 mg; blister com 29 e 100
Estearato Royton*(H) cáps. de 500 mg.
Cloranfenicol Caixa com 20 e 100 comps. de 250 mg; caixa com 20 cáps. de
Sanval®(H) frasco com 60 ml de suspensão com 125 mg/5 ml.
Cloranfenicol Cloranfenicol Frasco com 60 ml de suspensão com 160 mg/5 ml; caixa com 20
Palmitato Prodotti»(H) e 100 drágeas de 250 mg.
Suspensão de Vidro com 60 ml com 250 mg/5 ml.
Cloranfenicol a
250 mg
(Brasmédica)
Florfenicol Nuflor»(v) Sol. injetáveí (frasco-ampola): 0,3 g/ml - frasco de 30 ml.
Tianfenicol GlitisoP(H) Cápsulas de 500 mg, caixa com 20 cáps.
Envelope com 2,5 g, caixa com 2 envelopes.
42 Manual de Terapêutica Veterinária

Macrolídeos

Características Gerais - São antibióticos constituídos por um núcleo central macrocíclico unido à
cetonas e aminoaçúcares. São antibióticos produzidos por actinomicetos do grupo Streptomyces.
Pertencem a este grupo a eritromi-cina, espiramicina, josamicina, roxitromicina, cla-ritromicina,
azitromicina e tilosina.
Mecanismo de Ação - O macrolídeos se ligam à fração 50S do ribossomo bacteriano, impedindo a
síntese proteica. Outros antibióticos que competem pelo mesmo local de ligação (clo-ranfenicol,
lincosamidas, clindamicina) não devem ser utilizados em associação com essas drogas. São antibióticos
bacteriostáticos.
Espectro de Ação - Atuam sobre bacilos e cocos Gram-positivos, cocos Gram-negativos,
treponemas, alguns bacilos Gram-negativos não-fermentadores da glicose, actinomicetos, ri-quétsias,
clamídias, micoplasmas, anaeróbicos e Campylobacter. A claritromicina e azitromicina são menos ativas
que a eritromicina contra Gram-positivos, porém mais ativas frente a anaeróbios e Gram-negativos.
Farmacocinética - A absorção oral da eritromicina e tilosina, ao contrário da espiramicina e
claritromicina sofre interferência com a presença de alimentos e do pH ácido estomacal, que as
inativam, devendo ser utilizadas na forma de cápsulas ou na forma de estolato de eritromicina.
Difundem bem por todos os tecidos corpóreos, pois são muito lipossolúveis, mas não atingem
concentrações terapêuticas em ouvido médio e SNC. Todos os macrolídeos penetram muito bem no
meio intracelular. A eritromicina e azitromicina são eliminadas, na maior parte, pela via biliar e
excretadas na forma ativa com as fezes. A claritromicina é eliminada por via renal. A espiramicina, em
particular, atinge boas concentrações na saliva. A eritromicina não apresenta boas concentrações na
urina.
Resistência Bacteriana - A maioria dos bacilos Gram-negativa é naturalmente resistente aos macrolídeos.
Atualmente, os grupos dos Strepto-coccus e Staphylococcus vêm desenvolvendo elevada resistência frente
aos macrolídeos.
Efeitos Adversos - Os macrolídeos são hepatotóxicos em doses elevadas e/ou prolongadas. O uso
prolongado em equinos pode levar ao desequilíbrio da microbiota entérica com manifestação de
processos diarréicos, predispondo a infecções por Salmonella;
• Pela elevada excreção via biliar e eliminação fecal, os sinais mais comuns são distúrbios do trato
digestivo. Em humanos, têm sido relatadas icterícia colestática, insuficiência renal e ototoxicidade.
• São irritativas quando aplicadas por via parenteral.
Usos Terapêuticos e Doses - Os macrolídeos estão indicados no tratamento de todos os germes
sensíveis. São especialmente utilizados na terapia das campilobacterioses entéricas, piodermites
caninas, micoplasmoses e clami-dioses e, em particular, a espiramicina no tratamento de infecções
bucais e a claritromicina nas helicobacterioses. A tilosina é efetiva na terapêutica de pneumonias e
gastrenterites de animais pecuários.
• Cães e gatos:
-Azitromicina: 10 mg/kg, VO, a cada 5 dias ou 3,3 mg/kg, a cada 24 horas, por 3 dias.
- Claritrocina: 5 a 10 mg/kg, VO, a cada 12 horas.
- Eritromicina: 10 a 20 mg/kg, VO, a cada 8 ou 12 horas.
- Espiramicina: 23,4 mg/kg, VO, a cada 24 horas.
- Roxitromicina (cães): 15 mg/kg, VO, a cada 24 horas.
- Tilosina: 10 a 40 mg/kg, IM, a cada 8 ou 24 horas.
• Equinos:
- Eritromicina: 25 mg/kg, VO, a cada 6 horas.
• Bovinos:
- Tilosina: 5 a 10 mg/kg, IM, a cada 12 ou 24 horas.
• Suínos:
- Tilosina: 5 a 10 mg/kg, IM, a cada 12 ou 24 horas.
- Espiramicina: 24 mg/kg - 100 g/t de ração.
Apresentação - O quadro 3.22 apresenta as principais formulações dos macrolídeos utilizadas em
Medicina Veterinária e disponíveis no Brasil.

Quimioterápicos Antimicroblanos e Antibióticos 43

QUADRO 3.22 - Principais apresentações dos macrolídeos


Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Espiramicina Espiramix-50, 500®(v) Pó adicionado à ração - 50 g/1.000 g ou 500 g/1.000 g - sacos


com 25 kg, fibrolata com 25 kg. Drágeas de espiramicina e
Stomorgyl 2«(v) metronidazol - caixa com 20 drágeas.
Josamicina Alplucine ts®(v) Pó solúvel - cada 1.000 g contém: 27 g de Josamicina, 80 g de
sulfametazina e 20 g de trimetoprim.
Tilosina Tyladen% Sol. injetável (frasco-ampola): 20 g/100 ml frasco de 50 ml. Sol.
Tylan 50 injetávela(v) injetável 5 g/100 ml - frasco com 100 ml. Comprimidos de 500
Eritromicina Eritrex®(H) mg, caixa com 21 comps. Suspensão oral - 125 ou 250 mg/ml —
frasco com 105 ml.
Roxitromicina Rotran®(H)Klaricid» Comprimidos de 50, 100 e 300 mg, caixa com 10 comps.
Claritroinicina Comprimidos de 250 e 500 mg - caixas com 8 a 20 comps.
Grânulos para susp. oral - 125 mg/ml e 250 mg/ml - grânulos para
50 e 100 ml.
Azitromicina Azitrax* Comprimidos de 500 mg - caixas com 2 a 3 comps.
Susp. oral - embalagem com 600 e 900 mg para reconstituição.
Lincosaminas
Características Gerais - As lincosaminas são um grupo de antibióticos bacteriostáticos
representadas pela lincomicina e clindamicina. A lincomicina é produzida pelo Streptomyces
lincolnensis e a clindamicina é o derivado 7-cloro da lincomicina.
Mecanismo de Ação - Inibem a síntese proteica pela ligação à subunidade ribossômica 50S bacteriana,
que é o mesmo local de ligação do cloranfenicol e macrolídeos, portanto associações com esse grupo
antimicrobiano devem ser evitadas.
Espectro de Ação - São ativas contra bactérias Gram-positivas aeróbicas e anaeróbicas, To-xoplasma
sp., Mycoplasma sp. e Neospora cani-num. A atividade antibacteriana da clindamicina é maior do
que a lincomicina, especialmente contra anaeróbicos.
Farmacocinética - A absorção oral da lincomicina é em torno de 50% e da clindamicina, 90%.
Sua distribuição é ampla, com excelente introdução nos ossos e tecidos moles, incluindo tendões.
Não penetram prontamente em meninges normais ou inflamadas. As lincosaminas são metabolizadas
pelo fígado (60% lincomicina e 90% clindamicina). A droga inalterada e seus metabólitos são
excretados pela urina, bile e fezes.
Resistência Bacteriana - Alteração no local de ligação à droga pelo ribossomo bacteria-no é a forma
usual de resistência. Resistência cruzada é comum de ocorrer entre lincosaminas e macrolídeos.
Efeitos Adversos
• Enterocolotoxicidade: lesão do revestimento mucoso das vias gastrintestinais (exemplo: colite
pseudomembranosa), provocando diarreia grave e até fatal em decorrência das alterações na flora
gastrintestinal. Os animais suscetíveis são equinos, coelhos, hamsters e porquinhos-da-índia.
• Bloqueio neuromuscular: em cães, gatos e suínos. É um efeito colateral raro, mas pode ocorrer
em altas doses ou quando administradas concomitantemente com anestésicos.
Usos Terapêuticos e Doses - As lincosaminas são utilizadas como alternativas ao uso das penicilinas,
quando há a possibilidade de hi-persensibilidade à mesma, porém não devem ser utilizadas em
equinos, coelhos, hamsters e porquinhos-da-índia em razão do risco de entero-colotoxicidade.
44 Manual de Terapêutica Veterinária
• Lincomicina: É utilizada em ruminantes e horas (por 2 semanas no tratamento de to-
suínos para tratamento de infecções por xoplasmose e Neospora caninum). -Gatos: 5,5 a
estafilococos, estreptococos e mico- 11 mg/kg, VO, IM, EV, 12/ 12 horas; 25 a 50
plasma. Em cães e gatos para tratamento mg/kg, VO, 24/24 horas (por 2 a 3 semanas no
de osteomielite, dermatites, doenças tratamento de toxo-plasmose).
periodontais e infecções profundas de
tecidos moles causadas por bactérias Apresentação - O quadro 3.23 descreve as
Gram-positivas. principais apresentações das lincosaminas.
- Cães e Gatos: 15 mg/kg, VO, 8/8 horas;
10 mg/kg, IM, IV, 12/12 horas. Polipeptídeos
- Ruminantes: 10 mg/kg, IM, 12/12 horas. Características Gerais - Possuem estrutura
- Suínos: 10 mg/kg, IM, 12/12 horas. molecular complexa, formada de uma cadeia de
• Clindamicina: em cães e gatos, as mes- polipeptídeos. São integrantes deste grupo poli-
mas indicações da lincomicina, além do mixina B, polimixina E (colistina), bacitracina. São
uso da clindamicina no tratamento de to- antibióticos bactericidas, praticamente utilizados
xoplasmose e Neospora caninum. somente na forma tópica, em virtude de seus efeitos
- Cães: 5 a 11 mg/kg, VO, IM, EV, 12/12 colaterais quando usados sistemicamente. A
horas; 10 a 20 mg/kg, VO, IM, 12/12 polimixina E não possui apresentação no Brasil.

QUADRO 3.23 - Principais apresentações das lincosaminas

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Lincomicina Frademicina,,
Cápsulas de 500 mg - caixa com 12. Xarope 250
mg/ml - frasco de 60 ml. Ampola de l ml com 300
mg/ml. Ampola de 2 ml com 300 mg/ml.
Lincomicina Cápsulas de 250 mg - caixa com 8.
Royton(H) Cápsulas de 500 mg - caixa com 8.
Xarope 250 mg/ml - frasco de 60 ml.
Ampola de l ml/300 mg.
Ampola de 2 ml/600 mg.
Ampola de 3,3 ml/1 g.
Cápsulas de 500 mg - caixa com 12.
Linco-Plus,,
Ampola de l ml/300 mg.
Ampola de 2 ml/600 mg.
Líncocin Forte(v) Solução injetável - frasco de 10 ml com 200 mg.
Lincosan 11%(V) Sacos de 25 kg com 11 g lincomicina/100 g do produto.
Linco-Spectin(v) Frasco-ampola de 50 ml com 50 mg/ml 100. Pó oral -
caixa contendo 2 frascos de 75 g. Concentrado para ração
- sacos com 25 kg.
Ampolas de 2 e 4 ml com 150 mg/ml.
Clindamicina Clindamicina.,,,
(H) Bisnaga com 45 g.
Clinagel(H)
Cápsulas de 150 mg - caixa com 20
Dalacin-C 150 mg
Cápsulas de 300 mg - caixa com 16.
Dalacin-C 300 mg
Ampola de 2 ml com 300 mg.
Dalacin-C injetável
Ampola de 4 ml com 600 mg.

Creme vaginal - bisnaga com 20 ou 40 g.


Dalacin V,u.
Quimioteráplcos Antimlcroblanos e Antibióí/cos 45

Mecanismo de Ação
• Polimixina B: atua na membrana citoplas-mática da bactéria, ligando-se a radicais fosfates,
desorganizando a estrutura da membrana.
• Bacitracina: inibe a síntese da parede celular porque se liga a um transportador lipídico de pirofosfato.
Espectro de Ação
• Polimixina B: bactérias Gram-negativas.
• Bacitracina: bactérias Gram-positivas e es-piroquetas.
Farmacocinética - Não são absorvidos oralmente e são muito nefrotóxicos para uso sistémico.
Efeitos Adversos - Quando utilizados sistê-micamente causam nefrotoxicidade e neurotoxi-cidade
(bloqueio neuromuscular), topicamente não provocam toxicidade.

Usos Terapêuticos e Doses


• Polimixina B: é utilizada topicamente no tratamento de infecções de pele, olho e ouvido por
bactérias Gram-negativas em todas as espécies. É geralmente associada à bacitracina para melhorar o
espectro de ação antibacteriano. É usada oralmente em bovinos e suínos (5 mg/kg, VO, 12/12 horas) no
tratamento de infecções entéricas Gram-negativas.
• Bacitracina: os mesmos usos terapêuticos da polimixina B, além de ser utilizada em rações como
promotora de crescimento e prevenção e tratamento de enterites por Clostridium em aves e suínos.
Apresentação - As apresentações geralmente são associações antibióticas ou com anestésico local, em
forma de pomadas e soluções oftálmicas, otológicas ou dermatológicas. Exemplos:
• Nebacetin (pomada dermatológica): bacitracina + neomicina.
• Neotricin pomada (pomada dermatológica): bacitracina + neomicina.
• Anaseptil (pomada dermatológica): polimixina B + neomicina + bacitracina.
• Lidosporin (solução otológica): polimixina B + lidocaína.
• Maxitrol (solução oftálmica): polimixina B + neomicina + dexametasona.
• Ofticor (solução oftálmica): polimixina B + soframicina + dexametasona.
• Otosporin (solução otológica): polimixina B + neomicina + hidrocortisona.
• Panotil (solução otológica): polimixina B + neomicina + fludrocortisona; + lidocaína.

OUTROS ANTIBIÓTICOS

Vancomicina
Características Gerais - A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo bactericida produzido pelo
Streptococcus orientalis.
Mecanismo de Ação - Impede a síntese da parede celular bacteriana pela inibição da liberação de
um polímero da membrana celular. Tem ação bactericida rápida sobre os microrganismos em
divisão.
Espectro de Ação - É fundamentalmente ativa contra bactérias Gram-positivas.
Farmacocinética - Não é absorvida oralmente. É distribuída em vários líquidos orgânicos, inclusive
LCR. É excretada inalterada por filtração glomerular.
Resistência Bacteriana - A resistência dos enterococos à vancomicina é decorrente de uma única
enzima que modifica a unidade precursora da parede celular de tal forma que ele não se liga mais à
vancomicina.
Efeitos Adversos - Ototoxicidade e nefrotoxicidade podem ocorrer em altas doses ou esquemas
terapêuticos prolongados.
Usos Terapêuticos e Doses - A vancomicina é um antibiótico de uso restrito, devendo ser prescrita
somente por via intravenosa para infecções graves, sendo particularmente útil nas infecções causadas
por estafilococos resistentes à meti-cilina, incluindo pneumonia, empiema, endo-cardite, osteomielite
e abscessos nos tecidos moles de cães e gatos.
• Cães: 15 mg/kg, IV, 6/6 ou 8/8 horas.
• Gatos: 5 a 12 mg/kg, IV, 8/8 horas.
Apresentação - O quadro 3.24 descreve as principais apresentações da vancomicina.
46 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.24 - Principais apresentações da vancomicina


Princípio ativo Nome comercial Apresentação
Vancomicina Vancocina,m Frasco-ampola de 500 mg. Frasco-ampola
(H)

Vancoled(H) Vancomicina de 500 mg. Frasco-ampola de 500 mg.

Aminoclitóis
Características Gerais - São antibióticos bac-teriostáticos quimicamente relacionados com os aminoglicosídeos.
São representados pela espec-tinomicina e apramicina.
Mecanismo de Ação - Inibição da síntese proteica pela ligação no ribossomo subunidade 30S.
Espectro de Ação - Bactérias Gram-negati-vas e Mycoplasma sp.
Farmacocinética - Similar aos aminoglicosídeos, menos de 10% da dose oral são absorvidos e excretados
inalterados pêlos rins.
Resistência Bacteriana- Dá-se pela não ligação na subunidade do ribossomo 30S. Resistência mediada por
plasmídeos, manifestada pela diminuição da produção enzimática, é menos comum.
Efeitos Adversos - Não foi observada nenhuma toxicidade orgânica séria.
Usos Terapêuticos
• Espectinomicina: é utilizada em cães, gatos, cavalos, suínos e aves para o tratamento de doenças entéricas e
respiratórias.
• Apramicina: é utilizada em suínos e bovinos para o tratamento de doenças entéricas, principalmente colibacilose.

Rifam ici nas


Características Gerais - São antibióticos bac-tericidas, compostos pela rifamicina e rifampina.
Mecanismo de Ação - Inibem a RNA-poli-merase dependente de DNA, prevenindo a iniciação da síntese de
RNA.
Espectro de Ação - Bactéria Gram-positivas e micobactérias.
Farmacocinética - São absorvidos oralmente e rapidamente distribuídos para células e tecidos por causa da sua
lipossolubilidade. Esta distribuição para as células faz com que seja bastante efetiva para infecções
intracelulares. São meta-bolizados no fígado e excretados primeiramente pela bile. Metabólitos podem colorir a
urina, fezes e saliva de vermelho.
Resistência Bacteriana - Podem desenvolver-se rapidamente. Alterações na estrutura RNA-polimerase
dependente de DNA previne as rifamicinas de se ligarem no organismo.
Efeitos Adversos - São raros e pode ocorrer hepatotoxicidade em animais com doença hepática preexistente.
Usos Terapêuticos e Doses - As rifamicinas são utilizadas em potros em associação com a eritromicina para o
tratamento de Rhodococcus equi. São consideradas tratamento alternativo nas pneumonias e prostatites
(lipossolubilidade). Também são utilizadas topicamente em feridas cirúrgicas ou lesões de pele.
• Equinos: 7 mg/kg, VO, 12/12 horas (em associação à eritromicina); 5 a 10 mg/kg, VO, 12/12 ou 24/24
horas.
• Cães: 10 a 20 mg/kg, VO, 12/12 horas.
Apresentação - O quadro 3.25 descreve as principais apresentações das rifamicinas.

Tiamulin
Características Gerais - É um antibiótico bacteriostático com características similares aos antibióticos
macrolídeos, como a tilosina.
Mecanismo de Ação - Inibe a síntese proteica pela ligação no ribossomo 50S bacteriano.
Espectro de Ação - É ativo contra bactérias Gram-positivas, micoplasma, espiroquetas e certos patógenos Gram-
negativos, comoffaemopbilussp.
Farmacocinética - É bem absorvido oralmente e amplamente distribuído pelo organismo, sendo metabolizado pelo
fígado. A eliminação de seus metabólitos ocorre via fezes (70%) e urina (30%).
Quimioterápicos Antimicrobianos e Antibióticos 47

QUADRO 3.25 - Principais apresentações das rifamicinas


Princípio atino Nome comercial Apresentação **»»•«•

Rifamicina Rifocina,, Ampola de 3 ml com 150 mg. Ampola de 1,5 ml


com 75 mg. Spray•— frasco com 20 ml.
Pomada - bisnaga com 10 g.
Rifocort(H
Cápsulas de 300 mg — caixa com 6.
Rifampicina Rifaldim., Suspensão com 100 mg/5 ml — frasco com 60 ml.
Cápsula de 300 mg - caixa com 10 ou 30.
!
Rifampicina(H)
L,.
Efeitos Adversos - Metabólitos irritantes na urina podem causar dermatite com eritema e prurido
em suínos confinados em áreas superlotadas.
Usos Terapêuticos e Doses - Tiamulin é utilizado em suínos para o controle e tratamento de
pneumonia por Haemophilus sp., enterite hemorrágica por Brachyspyra hyodysenteríae, e pneumonia
enzoótica por Mycoplasma sp.
• Suínos: 8,8 mg/kg, VO, 12/12 ou 24/24 horas.
Apresentação - Tiamulina fumarato a 80%, barrica de 10 kg.

Ácido Fusídico
Características Gerais - É um antibiótico bacteriostático obtido do Fusideum coccineum. É utilizado
principalmente nas formas de sais de sódio.
Mecanismo de Ação - Inibe a síntese proteica.
Espectro de Ação - É um antibiótico de pequeno espectro, ativo principalmente contra infecções
por estafilococos e estreptococos.
Farmacocinética - É uma droga lipossolú-vel com alta introdução em tecidos, incluindo tecidos
necróticos, olhos e ossos.
Efeitos Adversos - Não foi observada nenhuma toxicidade orgânica séria.
Usos Terapêuticos - É utilizado em preparações tópicas para uso dermatológico, oftálmico e otológico.
Apresentação - Verutex pomada.
PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS NA MASTITE

INTRODUÇÃO

A mastite é classicamente definida como um processo inflamatório da glândula mamaria. Em animais de


produção, especialmente na espécie bovina, a mastite é considerada como uma das principais doenças
que afetam a exploração leiteira, em virtude das alterações provocadas na celularidade e na
composição físico-química do leite, que comprometem o seu consumo in natura, bem como a
industrialização do produto e seus derivados, além dos prejuízos com a queda na produção, com o
descarte prematuro, ou mesmo com a morte ocasional de alguns animais.
Os processos infecciosos da glândula mamaria caracterizam-se pela complexidade etiológi-ca,
determinados principalmente por bactérias, fungos, algas e vírus, muitos dos quais com potencial
zoonótico. Nos últimos anos, os agentes envolvidos na casuística de mastite foram convencionalmente
classificados, quanto à forma de transmissão, em contagiosos (transmitidos principalmente no momento
da ordenha, pelas mãos do ordenhador, do úbere, do próprio equipamento de ordenha ou pelo bezerro ao
mamar) e em ambientais (veiculados do ambiente para a glândula mamaria a partir do solo, fezes, ar e
água).
No Brasil, como em outros países, a maior ocorrência de mastite em animais de produção está relacionada a
agentes de origem contagiosa, incluindo o Staphylococcus aureus (S. aureus), Strepto-coccus agalactiae e
Corynebacterium bovis (C. bovis). Paralelamente, dentre os microrganismos
48 Manual de Terapêutica Veterinária

ambientais destacam-se como os mais importantes nados produtos.


na génese da mastite a Escherichia coli (J5. colí), O medicamento ideal para a terapia da mastite
Klebsiellapneumoniae, Pseudomonas aeruginosa deveria apresentar, dentre outras características,
(P. aeruginosa), Arcanobacterium (Actinomyces) boa relação custo-benefício, amplo espectro de
pyogenes, Streptococcus uberis, algas (.Prototheca ação, atingir altas concentrações terapêuticas na
zopfií), fungos, leveduras (Cândida albicans), além glândula mamaria, além de ser estável, de baixa
de determinadas espécies de bactérias dos géneros toxicidade, pouco irritante, com baixo grau de
Nocardia, Clostridium, Proteus, Citrobacter, ligação com o leite e manter a atividade
Enterobacter, Serratia, entre outras. antimicrobiana na presença de reação
Diferentes procedimentos são recomendados para inflamatória.
um programa efetivo de controle da mastite, entre Diferentes antimicrobianos e suas associações
eles a terapia antimicrobiana. O presente capítulo estão disponíveis comercialmente para o
procura enfocar princípios terapêuticos na tratamento da mastite (Quadros 3-26, 3-27, 3.28).
mastite, com ênfase na espécie bovina, no intuito As indicações e limitações das principais drogas
de fornecer subsídios à terapia, bem como o serão comentadas sucintamente a seguir:
controle da enfermidade no rebanho.
Penicilinas
Este grupo de drogas possui em comum, em sua
estrutura, o anel [3-lactâmico, podendo ser
A ESCOLHA DO ANTIMICROBIANO subdividido em penicilinas naturais e semi-sinté-
ticas. Dentre as penicilinas naturais, a penicilina
Todo ou qualquer tratamento utilizando G é a droga mais utilizada na terapia intramamaria
antimicrobianos deveria ser precedido do teste da mastite, enquanto nas semi-sintéticas desta-
de sensibilidade microbiana (antibiograma). Na cam-se a ampicilina e derivados da oxacilina
mastite, notadamente nos casos de animais com (cloxacilina). As penicilinas são indicadas, pri-
sintomas sistémicos (que necessitam da adoção mariamente, para a terapia de agentes Gram-po-
de medidas terapêuticas imediatas), por sitivos, consideradas drogas de eleição para as
questões económicas, ou mesmo por des- mastites por Clostridium perfringens (.C. perfrin-
conhecimento, na prática, os testes de sensibi- gens); das quais a penicilina G-procaína tem sido
lidade nem sempre são realizados, recaindo na utilizada por via intramamaria (100.000 UI) e/ou
escolha da droga - na grande maioria das vezes parenteral (20.000 Ul/kg, IM, 12/12 horas). En-
-, baseada na experiência de tratamentos tretanto, são crescentes as taxas de resistência
anteriores ou no apelo comercial de determi- dos géneros Staphylococcus e Streptococcus às
penicilinas, especialmente o S. aureus, atribuídas às (3-lactamases - enzimas que inativam a

QUADRO 3.26 - Princípios ativos de antimicrobianos disponíveis comercialmente para a terapia intramamaria da
mastite na lactação

Princípios ativos Especialidade farmacêutica

Cefacetril sódico (250 mg) Vetimast® Cefa-Lak®


Cefapirina sódica (200 mg) Biomast®, Cefavet®, Mamithal®, Masticel®, Masticlin®, Mastitec 250®,
Cefoperazona sódica (250 mg) Mastizone®, Pathozone®
Spectrazol®
Cefuroxima (250 mg) Anamastit L-200®
Cloxacilina sódica (200 mg) Anti mastite®
Enrofloxacina (300 mg) Bragenta mastite®, Gentocin mastite 150 mg®, Mastifin*
Gentamicina (150 mg) Gentocin mastite 250 mg®
Gentamicina (250 mg) Pirsue®
Pirlimicina (50 mg)
Quimioterápicos Antímicrobianos e Antibióticos 49

QUADRO 3.27 - Princípios ativos de antimícrobianos disponíveis comercialmente para a terapia intramamaria da
mastite na secagem (terapia da vaca seca)

Princípios ativos Especialidade farmacêutica

Ampicilina (250 mg) e Cloxacilina (500 mg) Cefalônio anidro Bovigam VS®
(250 mg) Cefalexina (250 mg) e Neomicina (250 mg) Cefapirína Cepravin*
benzatina (300 mg) Cloxacilina benzatina (500 mg) Cloxacilina Rilexine 500®
benzatina (600 mg) Cefa-Dri®
Framicetina (100 mg), Hidroiodeto de penetamato (100 mg) e Anamastit-S®
Penicilina benetamina (280 mg) Orbenin Extra Dry Cow®
Gentamicina (400 mg)
Mamyzin S®

Mastifin vaca seca®

QUADRO 3.28 - Associação de antimicrobianos disponíveis comercialmente para a terapia intramamaria da mastite
na lactação

Especialidade
Princípios ativos farmacêutica

Ampicilina sódica (75 mg) e Cloxacilina sódica (200 mg) Bovigam L®


Cefalexina (100 mg) e Neomicina (100 mg) Rilexine 200®
Estreptomicina (150 mg), Framicetina (50 mg), Hidroiodeto de penetamato (150 mg) Mamyzin M®
Estreptomicina (70 mg) e Penicilina potássica (150 mg) Agromastit*
Estreptomicina (100 mg), Penicilina G-procaína (100.000 UI) e Tetraciclina (100 mg) Vetrocilin®
Penicilina G-procaína (3.000.000 UI), Cloridrato de procaína (150 mg), Polimixina B
(50.000 UI), Novobiocina sódica (150 mg) Pramastite®
Penicilina G-procaína (100.000 UI) e Estreptomicina (100 mg) IBstatina (150.000 UI) e
Sulfadiazina (500 mg) Reomicina (150 mg) e Oxitetraciclina (250 mg) Solfanilamida (100 Tetra-Delta®
mg) e Tetraciclina (185 mg) Mastical®
Promastic®
Unguento
Intramamário®
droga — embora, por via intramamária, a cloxa-cüna (200 a 600 mg) possua atividade em agentes
produtores de p-lactamases. A ampicilina também tem sido indicada nas mastites pelas ;
intramamária (75 a 250 mg) e/ou parente-1(22 mg/kg, IM, IV, 8/8 ou 12/12 horas).

Cefalosporinas
Ascdalosporinas são aparentadas quimicamen-com as penicilinas, com diferentes gerações de e análogos,
que apresentam grande espec-de açào para agentes Gram-negativos e Gram-(induindo cepas de S. aureus
produtoras ^bdamases). As Cefalosporinas são indicadas por via parenteral (20 mg/kg, IM, 8/8 horas) e
intramamária na mastite, caracterizando-se atual-mente como o principal grupo de drogas disponíveis
comercialmente para a terapia na lactação ou na secagem, com baixos índices de resistência. Via
intramamária, destaca-se o uso da cefoperazona sódica (250 mg), cefalosporina de terceira geração,
seguida de outras drogas como: cefacetril só-dico (250 mg), cefalexina (100 a 250 mg), cefalônio anidro (250
mg) e cefuroxima (250 mg). Ressalta-se que, com o aumento do espectro de ação contra agentes Gram-
negativos, nas Cefalosporinas das últimas gerações, reduz-se a efetividade para os microrganismos Gram-
positivos.
50 Manual de Terapêutica Veterinária

Aminoglicosídeos
Os aminoglicosídeos são antibióticos de estrutura complexa, indicados principalmente para agentes Gram-
negativos. Na terapia da mastite, têm sido utilizados associados a outras drogas - como os (3-lactâmicos e
derivados - que possuem boa efetividade em agentes Gram-positivos. A genta-micina tem-se mostrado
efetiva na terapia intrama-mária da mastite (150 a 250 mg), sendo também utilizada pela via parenteral (3
a 5 mg/kg, IM, IV, 8/8 ou 12/12 horas). Além da gentamicina, outros aminoglicosídeos têm sido
empregados por via intramamária, como a estreptomicina (70 a 150 mg) e a neomicina (100 a 500 mg), com
índices variáveis de efetividade, dependendo do agente causal.

Macrolídeos
Este grupo de drogas possui atividade em agentes Gram-positivos e cocos Gram-negativos. Na terapia da
mastite, destaca-se o uso da eritro-micina por via intramamária (300 mg) e/ou parenteral (12,5 mg/kg,
IM, 24/24 horas), com boa atuação frente a Staphylococcus spp. (produtores de (3-lactamases),
Streptococcus spp. e C. bouis, bem como em cocos Gram-negativos (Pasteurella spp.). O uso da tilosina, via
parenteral (15 mg/ kg, IM, 12/12 horas), tem-se demonstrado efeti-vo nas mastites por Mycoplasma
spp.

Lincosamidas
São drogas com ação semelhante aos macro-lídeos, embora com indicação primária para agentes Gram-
positivos. A lincomicina (200 mg) e a pirlimicina (50 mg) são as principais representantes deste grupo
de drogas para a terapia intramamária da mastite. Atingem altas concentrações no interior celular,
caracterizando-se como alternativas na terapia de agentes intracelulares facultativos de mastite, como o
S. aureus.

Tetraciclinas
As tetraciclinas são drogas de amplo espectro de ação, que atingem altas concentrações terapêuticas
intracelulares. São indicadas para microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos, além de outros
agentes, incluindo riquétsias, micoplasmas, clamídias e actinomicetos. São utilizadas por via intramamária
(100 a 250 mg) e/ou parenteral (20 mg/kg, IM, IV, 24/24 horas) na terapia da mastite, em especial nos
casos com envolvimento do género Pasteurella.
Polipeptídeos
Os polipeptídeos são constituídos principalmente pela polimixina B e colistina (polimixina E), com
indicação primária para a terapia de agentes Gram-negativos. Na terapia da mastite, a polimixina B é
utilizada por via intramamária (50.000 UI) ou parenteral (2,5 a 5 mg/kg, IM, 12/ 12 horas),
especialmente para os géneros Pseu-domonas, Klebsiella, Pasteurella e Haemophilus. Os polipeptídeos
são considerados de eleição na terapia das mastites hiperagudas e agudas por E. coli, em virtude da alta
sensibilidade do agente a este grupo de drogas. Possuem também efeito limitante na atuação da
endotoxina liberada pela E. coli, responsável por graves sintomas sistémicos nos casos de mastite.

Quinolonas
Dentre as diferentes quinolonas, a enroflo-xacina destaca-se como a droga mais utilizada em Medicina
Veterinária. Apesar de as quinolonas de primeira geração serem preconizadas fundamentalmente para
bactérias Gram-negativas (especialmente enterobactérias), as drogas das gerações posteriores
possuem indicação para agentes Gram-positivos e Gram-negativos mul-tirresistentes a
antimicrobianos, como a P. aeru-ginosa. A enrofloxacina tem sido utilizada na mastite, com boa
efetividade terapêutica, por via parenteral (5 mg/kg, IM, 24/24 horas) e/ou intramamária (300 mg).
Recentemente, a ciproflo-xacina (2,5 mg/kg, IM, 24/24 horas) e a norflo-xacina (7 mg/kg, SC, IM,
24/24 horas), têm sido indicadas, por 3 a 5 dias, na terapia parenteral de casos de mastite.

Sulfonamidas
Os quimioterápicos do grupo das sulfonami-das com ação antimicrobiana apresentam estrutura básica
similar, derivadas da sulfanilamida. A associação das sulfas (principalmente a sulfadia-zina) ao
trimetoprim apresenta efeito sinérgico, proporcionando aumento do espectro de ação, exercendo boa
efetividade na mastite pêlos géneros Staphylococcus, Streptococcus, Pasteurella e actinomicetos, apesar
da ação reduzida para P. aeruginosa e E. coli. Via intramamária, são indicadas a sulfanilamida (100 mg) ou
sulfadiazina (500 mg), e via parenteral, a sulfadiazina/trime-toprim (50 mg/kg, IM, 12/12 horas).
Quimioíerápicos Antimicrobianos e Antibióticos 51

CONSIDERAÇÕES GERAIS NATERAPIADA de novas infecções, do comprometimento fun-


cional da glândula ou com a morte de animais.
MASTITE CLÍNICAE SUBCLÍNICA Os maiores índices de cura de agentes bacteria-
nos de mastite são obtidos entre 3 e 5 dias, com a
Qualquer tipo de terapia dos casos de masti-te grande maioria dos antimicrobianos (pelas vias
(via intramamária ou parenteral) deveria ser parenteral ou intramamária, em intervalos de 8,
precedida de colheita de amostra de leite do 12 a 24 horas, dependendo das características de
quarto mamário afetado (Quadro 3.29), para re- cada droga). Animais que neste período não apre-
conhecimento da natureza do agente causal e sentarem regressão do estado inflamatório (me-
realização do antibiograma, ou para congelamen-to lhora das características do leite, das condições
do leite visando diagnóstico posterior, caso a do úbere e/ou do estado geral), recomenda-se a
droga de escolha não tenha surtido o efeito de- substituição do princípio ativo da droga, com base
sejável. A inobservância deste procedimento de no antibiograma. Nas mastites clínicas com sinais
colheita prévia do leite pode dificultar o diagnós- sistémicos, deve-se associar à terapia antimicro-
tico microbiológico em animais tratados recente- biana medidas de suporte (antiinflamatórios, flui-
mente (via intramamária e/ou parenteral), em doterapia, duchas frias, entre outras, conforme a
virtude dos resíduos de antimicrobianos no leite gravidade do caso).
inibirem a multiplicação dos microrganismos nos
meios de cultura.
TRATAMENTO DAMASTITE SUBCLÍNICA

TRATAMENTO DAMASTITE CLÍNICA Os casos de mastite subclínica caracterizam-se por


queda na produção do animal (até 40% por quarto
As mastites clínicas são caracterizadas por in- mamário), sem alterações nas características
fecções que provocam alterações no aspecto do macroscópicas do leite, ou manifestações de sinais
leite (presença de pus, grumos, estrias de sangue, clínicos na glândula e/ou sistémicos. O
dessora do leite), na glândula mamaria (aumento diagnóstico é baseado em provas indiretas, como
de volume, dor, hiperemia) e, ocasionalmente, le- o Califórnia Mastitis Test - GMT, ou pela
vam à ocorrência de sintomas sistémicos (taquicar- contagem de células inflamatórias e epiteliais
dia, taquipnéia, febre, prostração). contidas no leite (contagem de células somáticas -
A necessidade do descarte do leite dos quartos CCS). Em geral, os casos de mastite subclínica
mamários tratados (presença de resíduos de excedem ao redor de dez vezes ou mais os casos
antimicrobianos) e o baixo percentual de cura de mastite clínica. A opção de terapia da mastite
(entre 40 e 70%) tornam pouco atrativa e, muitas subclínica vai depender de criteriosa análise de
vezes, antieconômica a terapia durante a lacta- diferentes fatores, entre os quais o agente etioló-
ção. Contudo, recomenda-se internacionalmente a gico envolvido, o número de animais acometidos,
terapia da mastite clínica - independente do o estágio da lactação, o índice de rejeição do leite
resultado do antibiograma - face aos prejuízos na plataforma, os custos com medicamentos, com
com o descarte do leite mastítico, com os riscos o diagnóstico microbiológico e/ou

QUADRO 3.29 - Colheita de amostra de leite para exame microbiológico


Desinfetar o orifício do quarto mamário afetado com solução de iodo (0,5 a l %) ou cloro (4%), aguardando 5 a
10 minutos para a atuação do produto.
Descartar os três primeiros jatos em recipiente próprio (eliminando sujidades e a microbiota externa do esfínc -
ter do teto, evitando, também, a colheita de leite com resíduos do desinfetante).
Depositar l a 2 ml de leite em frasco ou tubo esterilizado apropriado (retirar a tampa do mesmo somente no
momento da colheita. Manter o frasco ou tubo de colheita em ângulo de 45°, para evitar a queda de sujidades no
interior do recipiente).
Manter o material da colheita congelado (-20°C) ou refrigerado (4 a 8°C), se a amostra for encaminhada em até 24 horas.
52 Manual de Terapêutica Veterinária

com o descarte do leite após a terapia, bem como os riscos de insucesso terapêutico. Desta forma, a
terapia da mastite subclínica tem sido realizada no decorrer da lactação ou na secagem dos quartos
mamários.
Tratamento da Mastite Subclínica na Lactação-A terapia, nesta fase, tem sido indicada em
propriedades com elevada ocorrência de mastite subclínica no rebanho (índices ao redor de 40 a 50%,
ou superiores), ou diante da rejeição parcial ou total do leite na plataforma, constituindo severo prejuízo
ao produtor. Nestes casos, recomenda-se o tratamento da totalidade dos animais, também chamado "blitz"
terapia, ressaltando-se ao proprietário os custos previstos com a medicação, com o diagnóstico
laboratorial, com o descarte do leite, nas primeiras horas após a terapia, bem como os riscos de insucesso
terapêutico (até 50% para agentes como o S. aureus). Para se reduzir o prejuízo com o descarte abrupto
do leite após a terapia, pode-se adotar a terapia por "fases", priorizando os animais com maiores CCS ou
com escore mais elevado no CMT (3+), seguido do tratamento dos animais com baixa CCS ou baixos
escores no CMT (1+ e 2+), embora a adoção desta modalidade de terapia aumente sobremaneira o
manejo com os animais tratados. De maneira similar às mastites clínicas, nos casos subclínicos não se
deve exceder 3 a 5 aplicações da droga. Atualmente, recomenda-se a terapia na secagem do animal,
que apresenta maiores índices de sucesso terapêutico.

Tratamento da Mastite Subclínica na Secagem - Também chamado tratamento na interrupção da


lactação, terapia da vaca seca ou dry cow therapy, esta modalidade de terapia vem sendo
internacionalmente aceita como a mais efetiva para animais com mastite subclínica. É realizada no dia
da última ordenha do animal, em dose única, por via intramamária. São utilizados antimicrobianos
modificados (cloxacilina benzatina) ou adsorvidos a grandes moléculas ou carreadores (monoestearato
de alumínio), que retardam a sua eliminação e absorção, possibilitando a manutenção de níveis
terapêuticos prolongados da droga na glândula mamaria. A terapia na secagem não apresenta os
inconvenientes de resíduos de drogas ou o descarte do leite nas primeiras horas. Favorece a adequada
involução da glândula mamaria para a lactação seguinte e reduz as taxas de novas infecções no período
seco que, ao lado do período do pico de lactação, são as fases de maior ocorrência dos casos de
mastite. Estudos recentes têm demonstrado boa efetividade das quinolonas e dos macrolídeos na terapia
da secagem, por via parenteral, apesar da preferência pela via intramamária.

TRATAMENTO INTRAMAMÁRIO E/OU SISTÉMICO

Em geral, o tratamento intramamário (Quadro 3-30) é o mais utilizado na mastite. Na lactação, as drogas
empregadas por esta via deveriam apresentar, dentre outras características, baixo grau de ligação com o
leite e com a glândula mamaria, além de rápida eliminação, ao contrário dos antimicrobianos indicados
na secagem, que são administrados em veículos de eliminação lenta. Determinadas drogas apresentam
boa difusão na glândula quando administradas por via intramamária, incluindo a ampicilina, amoxi-
cilina, cefalexina, eritromicina, lincomicina, novo-biocina, quinolonas e tilosina. Paralelamente,
cloxacilina, penicilina G e tetraciclinas apresentam média difusão, enquanto estreptomicina, gen-tamicina
e neomicina caracterizam-se por baixa difusão na glândula mamaria.
O tratamento sistémico (parenteral) é indicado nas mastites clínicas (hiperagudas ou agudas), com
sinais de comprometimento sistémico, no intuito de evitar septicemia. Os macrolídeos, quinolonas,
tetraciclinas e o trimetoprim são grupos de drogas que apresentam concentrações terapêuticas efetivas
na glândula mamaria por via parenteral. Em contraste, os amino-glicosídeos, cefalosporinas,
penicilinas e sulfo-namidas caracterizam-se por reduzida distribuição mamaria, quando administrados
por via parenteral. A associação das vias intramamária e sistémica é recomendada para os casos
clínicos de mastite acompanhados de sinais sistémicos graves. Esta combinação pode apresentar
ganho nos índices de cura (até 50%) superior ao alcançado com o uso isolado das drogas. Recomenda-
se o emprego do mesmo princípio ativo pelas duas vias, ou o uso de drogas com efeito
Quimioíerápicos Antimicrobianos e Antibióticos 5 3

QUADRO 3.30 - Como proceder ao tratamento intramamário


1. Colher amostra de leite para diagnóstico microbiológico e antibiograma (vide colheita de leite).
2. Esgotar completamente o quarto mamário com mastite (em recipiente de descarte do leite).
3. Lavar o teto com água e sabão e/ou com solução desinfetante (em tetos com excesso de sujidades) e secar com papel
toalha descartável.
4. Desinfetar as mãos do responsável pela aplicação do produto intramamário, com algodão embebido em solução de iodo
(0,5 a 1%), álcool (70%) ou álcool iodado.
5. Desinfetar o teto acometido (especialmente na região do esfíncter do teto), com algodão embebido em solução de iodo
(0,5 a 1%), associado a emolientes (glicerina ou lanolina), ou cloro (4%).
6. Introduzir 2 a 3 cm da cânula mamaria (introdução parcial em cânulas que excedem 3 cm, para evitar lesões no orifício
do teto e na camada de queratina, que constituem fatores de defesa local) e aplicar o antimicrobiano.
7. Obliterar o orifício do teto. Massagear no sentido do orifício do teto em direção ao quarto mamário (60 segun dos),
facilitando a difusão do antimicrobiano.
sinérgico (tilosina e oxitetraciclina; sulfonami-das e trimetoprim; aminoglicosídeos e penicilinas ou
cefalosporinas; amoxicilina e ácido clavulânico).

MEDIDAS TERAPÊUTICAS DE SUPORTE

Indicadas principalmente em mastites com sintomas sistémicos graves (geralmente por S. aureus, E.
coli) e como auxiliares na terapia an-timicrobiana:
Ordenhas Sucessivas dos Animais - Recomendadas duas a três vezes ao dia, principalmente para
casos de mastite fúngica. Promovem a eliminação mecânica dos microrganismos, bem como o conteúdo
inflamatório da glândula, auxiliando a ação dos antimicrobianos, que têm a atividade reduzida na
presença de material purulento.
Duchas Frias - Diminuem o estado inflamatório da glândula e o desconforto do animal. Recomenda-se a
realização de três ou mais duchas frias por dia (10 a 15 minutos).
Correção do Equilíbrio Hidroeletrolítico,
Energético e Vitamínico - Animais com masti-
:e clínica apresentam diferentes graus de desi-
:L-I":Í.:> e inapetência, requerendo a reposição
í. eletrólitos e energéticos (vide fluido-
como soluções glicosadas (5%), solu-
^jiógica (NaCl 0,85%), bicarbonato de só-
. vitaminas.
Utilização de Cânula Intramamária (Sondas) em Tetos Obliterados - Nos casos de mastite com
obliteração do esfíncter (canal) do teto, faz-se necessária a introdução de cânula intrama-mária com
extremidade cortante (após desinfecção adequada do esfíncter do teto), que permita a saída do conteúdo
inflamatório e a terapia via intramamária.
Ocitocina - Indicada diariamente (20 a 30 UI, IV) nos casos de dificuldade de esgotamento adequado
do quarto mamário afetado, necessário antes do tratamento via intramamária ou mesmo para promover a
retirada do leite mastítico.
Antiinflamatórios - Os antiinflamatórios esteróides (AE) e não esteróides (ANE) são indicados
principalmente nas mastites hiperagudas, com sintomas sistémicos. Os AE inibem as vias cicloxigenase
e lipoxigenase da cascata inflamatória do ácido aracdônico, podendo levar a imunodepressão. Apesar
desta limitação, os AE são utilizados por via sistémica na terapia da mastite (dexametasona,
prednisolona, flumeta-sona), além de comporem várias formulações de antimastíticos de uso
intramamário. Em contraste, os ANE inibem somente a via cicloxigenase, não acarretando
imunodepressão, considerados portanto, de eleição para a terapia da mastite. Dentre os ANEs destaca-
se o uso do flunixin meglumine (1,1 mg/kg, IV, 24/24 horas/3 dias), indicado na terapia do choque
endotóxico em mastites por E. coli (provocado pela liberação de mediadores da inflamação, a partir de
constituintes lipopolissacarídicos - LPS da parede do

54 Manual de Terapêutica Veterinária

agente). O flunixin meglumine reduz a atuação do LPS na cascata do ácido aracdônico, limitando a
liberação dos mediadores inflamatórios responsáveis pêlos graves sintomas sistémicos.

MICRORGANISMOS REFRATÁRIOS À TERAPIA


São mastites causadas por agentes com mecanismos de evasão do sistema imune e/ou re-fratários à
terapia antimicrobiana convencional (algas, fungos, actinomicetos), que tendem a induzir processos
crónicos. Nesses animais, a terapia tem sido realizada com drogas da linha humana ou produtos
alternativos. Na ocorrência de insucesso terapêutico, recomenda-se a ablação química dos quartos
mamários afetados, ou mesmo o descarte do animal, em virtude de representarem fontes de infecção
permanentes no rebanho.
Mastite por Fungos e Leveduras - No Brasil, destacam-se nesta categoria de agentes as mastites por
Cândida albicans, Cryptococcus neoformans (C. neoformans) e Geothrichum candidum, que
apresentam infecção mamaria relacionada à contaminação de cânulas intrama-márias ou diretamente do
ambiente. Para o género Cryptococcus, diferentes protocolos terapêuticos têm sido indicados, incluindo
neomicina, anfotericina B e isoniazida. Resultados satisfatórios vêm sendo obtidos com o uso
intramamário de cetoconazol a 2% (um tubo de Nizoral® pomada), associado a veículo
mucopolissacarídico (um tubo de Thiomucase®), diluídos em 30 ml de água esterilizada, 24/24 horas,
por 15 a 60 dias (período do tratamento depende da regressão do processo inflamatório ou de resultado
negativo da lactocultura, a partir do 14- dia do início da terapia). Para o género Cândida, recomenda-se
a infusão intramamária de nistatina (200 a 300.000 UI - Micostatin®, diluídos em 10 ml de água
esterilizada, de 12/12 horas/5 dias, seguidos por mais 10 dias, de 24/24 horas).
Mastite por Prototheca spp. - Algas da espécie
Prototheca zopfii são consideradas agentes de
origem ambiental emergentes na ocorrência de
mastite no Brasil. Diferentes ensaios terapêuticos
têm sido conduzidos empregando-se antibióticos,
antifúngicos, quimioterápicos e desinfetantes. En-
tretanto, até o momento, nenhum produto apre

sentou eficácia que permita a sua prescrição segura


nos casos de mastite por Prototheca spp. Desta forma,
permanece a recomendação de ablação química dos
quartos mamários afetados, ou mesmo o descarte de
animais com prototecose mamaria, em virtude do
risco de infecção para outros animais do rebanho
(Figura 3.1). FIGURA 3.1 - Eletromicrografiade Prototheca zopfii, em diferentes estágios de multiplicação (formação
de endosporos), isolada de mastite clínica bovina (1785 X).
Fonte: Ribeiro et ai. (1999). Revista do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Glândula Mamaria e Produção Leiteira, v.2, n.5, pp. 15-20, 1999.

TRATAMENTOS ALTERNATIVOS

Os produtos alternativos são substâncias que possuem ação antimicrobiana direta, ou facilitam a difusão
de drogas no foco infeccioso mamário. São indicados para mastites por agentes refratá-rios à terapia
com drogas convencionais. Animais tratados por via intramamária, com produtos não convencionais,
devem ser monitorados durante toda a terapia. Na ocorrência de desconforto local, recomenda-se a
aplicação de duchas frias e antiinflamatórios, e em casos de reação intensa, suspender imediatamente
o tratamento.
Timerosal - Indicado para mastites por algas dos géneros Cândida e Geothricum, entre outros
microrganismos. Diluir o timerosal (solução aquosa, a 1/1.000) em água esterilizada (aproximadamente 10
a 15 ml da solução), e aplicar via intramamária duas vezes ao dia, durante 3 a 5 dias, respectivamente,
para casos de mastite subclínica e clínica.
Quimioterápicos Antlmicrobianos e Antibióticos 55

Propelis - A extração alcoólica (etanol 93° GL na proporção de 30%) deste produto colhido e filtrado
de colmeias de abelhas tem sido utilizada na terapia de casos de mastite pêlos géneros Cândida,
Geothrichum e Prototheca, com efetividade variável. Após a colheita, maceração e extração alcoólica, o
produto é filtrado e indicado para uso intramamário em solução a 10% (água destilada), uma vez ao
dia, durante 3 a 5 dias.
Dimetilsulfóxido (DMSO) - A potente ação permeante de membranas biológicas tem permitido a
utilização do DMSO associado à antimi-crobianos em casos de mastite de difícil resolução. Via
intramamária, o DMSO tem sido utilizado a 20%, diluído em água destilada esterilizada (10 a 15 ml),
associado à penicilina (100.000 UI) e estreptomicina (200 mg), uma vez ao dia, por 3 a 5 dias, ou
comercialmente, associado à gentamicina.
Enzimas - Formulações recentes de antimas-títicos têm incluído enzimas como a papaína, a tripsina e a
quimiotripsina, associadas às vitaminas A e E, com intuito de favorecer a resolução do processo
inflamatório na glândula mamaria.
Tratamentos Experimentais - Estudos recentes têm empregado experimentalmente, por via
intramamária, microrganismos como o Pro-pionibacterium acnes e Zymomonas mobüis, res-
pectivamente, como imunomoduladores na terapia da vaca seca ou como competidores (antagonistas) de
agentes de mastite em caprinos.

TERAPIADAMASTITE EM OUTRAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS

Bubalinos - A criação da espécie bubalina em terrenos alagados favorece o íntimo contato da glândula
mamaria com sujidades do ambiente, ou mesmo a manutenção do úbere totalmente submerso na água
por determinados períodos. Ainda que estes fatores aumentem o risco de mastite ambiental (o que
priorizaria a escolha de antimicrobianos para este grupo de agentes), a espécie bubalina não apresenta
os microrga-•isxnos de origem ambiental como os mais frequentes na génese da mastite, propiciando
que
os princípios terapêuticos na mastite bubalina sejam similares aos indicados para bovinos.
Caprinos e Ovinos - A ocorrência de mastite nestas espécies está relacionada fundamentalmente aos
géneros Staphylococcus e Strepto-coccus (agentes contagiosos). Na impossibilidade de realização do
antibiograma, deve-se priorizar na terapia a escolha de drogas com atuação para este grupo de
agentes. Não estão disponíveis comercialmente drogas exclusivas para a terapia intramamária
dessas espécies. Esta limitação tem motivado pesquisas do uso de somente metade da dose de
antimastíticos de bovinos na terapia intramamária em caprinos. Apesar de a provável efetividade e
aparente economia com a metade da dose, a reutilização do aplicador do antimastítico - sem cor-reta
desinfecção - poderia propiciar a veicu-lação de agentes pelo canal galactóforo (determinando
novos casos), bem como o uso de subdosagens poderia favorecer a seleção de agentes
multirresistentes.
Cães e Gatos - Staphylococcus spp. e Strep-tococcus spp., além da E. coli, são os agentes
comumente associados a mastite nessas espécies. Para a terapia, as drogas de escolha devem
apresentar amplo espectro de ação, efeito bactericida, boa difusão mamaria e ausência de
toxicidade para os neonatos. Dentre estas destaca-se a utilização dos macrolídeos, como a
eritromicina (22 mg/kg, VO, IV, 8/8 horas/7 dias) ou a tilosina (20 mg/kg, VO, 12/12 horas/ 7 dias),
além de outras drogas, incluindo a amo-xicilina/ácido clavulânico (22 mg/kg, VO, 8/8 ou 12/12 horas)
ou a cefalexina (25 mg/kg, VO, 8/8 horas). Fluidoterapia, drenagem e anti-sepsia de glândulas
abscedadas, compressas quentes, suave ordenha e restrição à amamentação dos quartos mamários
afetados são procedimentos que podem auxiliar a terapia.

CAUSAS DE FALHATERAPÊUTICA

Diferentes situações são atribuídas ao insucesso terapêutico nos casos de mastite, entre as quais o uso
indevido de antimicrobianos (sem a fundamentação do antibiograma, ou em subdo-
56 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 3.31 - Ablação química de quartos mamários

A ablação química pode ser realizada mediante a aplicação intramamária de produtos altamente irritantes para o
parênquima glandular mamário, incluindo o nitrato de prata (2 a 3%), sulfato de cobre (5%), iodo (2 a 3%), ou acriflavina
(1:500), diluídos em 20 a 50 ml de água destilada esterilizada (dependendo do tamanho do quarto mamário). Em geral, são
indicados em aplicação única.
Após 14 dias da infusão, o animal deve ser esgotado e, se necessário, o mesmo procedimento poderá ser repetido. Na
ocorrência de reação local após a aplicação do produto, esgotar imediatamente o úbere. Para diminuir o desconforto do
animal, recomenda-se também a aplicação de duchas frias e antiinflamatórios.
sagens), o emprego indiscriminado dos antimas-títicos (que favorecem o agravamento do processo, ou
a seleção de microrganismos multir-resistentes às drogas), a infecção por agentes não convencionais
(dos géneros Mycobacterium, Brucella, Listería, Mycoplasmã), ou por agentes como o S. aureus,
produtores de (3-lactamases, que inativam os antimicrobianos. Adicionalmente, a infecção por
microrganismos, com mecanismos de evasão do sistema imune - que permitem a sua manutenção
intracelular -, tende a determinar casos de evolução crónica. Nestes casos crónicos, recomenda-se a
ablação química (Quadro 3-31) dos quartos mamários acometidos, ou mesmo o descarte do animal.

RESÍDUOSDEANTIMICROBIANOSNOLEITE

Nos últimos anos, tem-se alertado para o uso indiscriminado de antimicrobianos na terapia de animais
com mastite, além da crescente detecção de resíduos destas drogas no leite. Estes resíduos podem
desencadear quadros de anemia, distúrbios gastrintestinais e reações de hipersen-sibilidade no homem,
bem como prejuízos para a produção de derivados lácteos (iogurtes e queijos). Geralmente, recomenda-se o
descarte do leite nas primeiras 72 horas após a última aplicação da droga (via intramamária ou
parenteral), ainda que, recentemente, se tenha demonstrado resíduos de drogas no leite (penicilinas,
cefalospori-nas, aminoglicosídeos e quinolonas) acima deste período, sugerindo que o tempo de carência
atual seja insuficiente para a liberação do produto para o consumo. Os resíduos de antimicrobianos no
leite e na carne de animais de produção têm gerado, no Brasil, restrições ao uso de drogas como
o cloranfenicol e nitrofurazonas. Desta forma, cabe ao médico veterinário a responsabilidade de cons-
cientização dos produtores para o uso racional destas drogas, bem como da importância do descarte do
leite nos primeiros dias subsequentes à terapia de animais com mastite.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

A utilização adequada dos princípios terapêuticos é considerada uma importante medida no controle da
mastite. A terapia dos casos de mastite visa, basicamente, a eliminação dos agentes causais e dos riscos
de novas infecções, a prevenção de infecções no período seco e da mortalidade de animais com sinais
sistémicos, além da restituição funcional do parênquima mamário, com consequente normalização da
constituição físico-química e da produção do leite. Por outro lado, o controle efetivo da mastite deve
fundamentar-se na adoção sistemática de medidas profiláticas, visando a maximização da produção de
leite, concomitante a alta qualidade sanitária do produto.

Referências Bibliográficas
1. AHRENS, A.F. Antimicrobial drugs. In.- AHRENS, A.F. Pharmacology. l.ed. chap.11. Baltimore, Williams &Wilkins, pp.207-28,1996.
2. AMYES, S.G.B.; GEMMEL, C.G. Antibiotic resistance. Journal Medicai Microblology to: 436-70,1997.
3. BAHRI, J.E.; BLOUIN, A. Fiuoroquinolones: a new family of antimicrobials. Comp Contin Educ Pract VeM3:1429-33, 1991.
4. BAIG,J.; SCHARMA, M.C.; LAL, S.B. Haemato-biochemical and bone-marrow changes m chloramphenicol induced toxicosis in dogs. Indian Journal
of Animal Science 64: 712-5,1994.
ANTIFÚNGICOS
Marconi Rodrigues de Farias
Rogério Giuffrida

Os fungos são organismos onipresentes em nosso ambiente. Apesar das milhares de espécies
existentes, a grande maioria é saprofítica do solo ou agente patogênico vegetal, e apenas 300 são
descritos como capazes de causar doenças em animais. Vários critérios são utilizados para diferenciar
fungos patogênicos de contaminan-tes como: origem; número de colónias isoladas; espécies; se os
elementos fúngicos podem ser repetidamente isolados; demonstração de organismos fúngicos no
tecido lesado; e títulos soro-lógicos positivos e ascendentes em testes parea-dos. Com base em critérios
clínico-laboratoriais, as infecções micóticas podem ser classificadas quanto à sua distribuição em
localizadas, multi-focais e generalizadas; e quanto ao tecido acometido em superficiais, subcutâneas e
sistémicas ou profundas.
A infecção micótica superficial é causada por fungos dos géneros Mycrosporum, Tricho-pbyton,
Cândida e Malassezia. Essa é a forma de infecção fúngica mais comumente descrita em animais
domésticos, acometendo geralmente a epiderme, o epitélio folicular, a haste pilosa e as unhas.
As infecções micóticas subcutâneas desenvolvem-se preferencialmente na derme, na pa-pilar e
reticular e no tecido subcutâneo, podendo se expandir para as vias linfáticas e linfono-dos adjacentes.
Essas infecções são geralmente crónicas e causadas pela implantação traumática de organismos
fúngicos saprofíticos de solo ou de vegetais. Seus principais exemplos são a esporotricose, a
feoifomicose, os micetomas (eumicóticos, actinomicóticos e pseudomiceto-mas dermatofíticos) e
zigomicose.
As infecções micóticas profundas ocorrem em órgãos internos, podendo se disseminar sistemi-camente
por via linfática ou hematógena. Estas são raramente descritas, sendo criptococose, aspergilose,
coccidioidomicose, blastomicose e histoplasmose as doenças mais comumente relatadas na literatura
veterinária.
Durante muitos anos, a terapia antimicótica foi subjugada. Entretanto, com o desenvolvimento das
cirurgias de transplantes de órgãos, das drogas imunossupressoras, da radioterapia e com o advento de
doenças imunodepressoras, como as múltiplas formas de câncer e a síndrome de imu-nodeficiência
adquirida, as infecções micóticas oportunistas cresceram em incidência e fatalidade. Este fato conduziu a
novas pesquisas que levaram à descoberta de um grande número de fár-macos efetivos para usos
tópico e sistémico contra as várias formas de infecções micóticas.
A terapia antimicótica tópica é geralmente indicada como coadjuvante à terapia sistémica das infecções
micóticas superficiais da pele, das junções mucocutâneas, da genitália externa, do ouvido externo e dos seios
nasais. Sua instituição visa: diminuir a quantidade de esporos fúngicos presentes na pele e nos pêlos dos
animais infectados;
60 Manual de Terapêutica Veterinária

à disseminação ambiental, à exposição e à contaminação humana nos casos de dermatofitoses; ao tempo


requerido de terapia sistémica; e à eliminação do estado de carreador assintomático de fungos zoofílicos de
animais contactantes.
Os veículos devem ser escolhidos de acordo com o tipo e a distribuição das lesões. Os cremes, as
loções e os óleos podem ser usados em lesões localizadas sobre a pele glabra, a genitália externa, o
ouvido externo e as junções muco-cutâneas. As pomadas são desconfortáveis e muito oclusivas, sendo
contra-indicadas nas lesões intertriginosas maceradas e fissuradas. Soluções contendo veículos de baixa
tensão superficial penetram melhor na pele, sendo aconselhadas nas otites externas e infecções
micóticas cutâneas superficiais. As soluções em aerossóis, além de se distribuírem rapidamente pela
pele, são importantes adstringentes, podendo ser indicadas nas lesões intertriginosas localizadas.
Sabonetes e xampus são indicados em casos de infecções cutâneas sobre a pele depilada, de caráter
multi-focal ou generalizada.
Para que a terapia tópica atinja melhores resultados, principalmente em casos de infecções micóticas
superficiais multifocais ou generalizadas, esta deve ser precedida pelo corte de toda a pelagem e o uso de
produtos ceratolíticos, que irão permitir sua melhor penetração na epiderme, na haste pilosa e no epitélio
folicular. É importante ressaltar que, após o corte da pelagem, esporos fúngicos podem se disseminar pela
pele não lesionada, podendo ocasionar difusão momentânea da doença. Dessa forma, em casos de ani-
mais de pêlo curto com infecções isoladas, o corte deve se restringir à periferia da lesão.
Para que seja efetiva, a terapia tópica deve ser mantida por, no mínimo, 30 dias e associada ao manejo
ambiental para impedir a reinfecção. Os principais produtos comerciais destinados à terapia
antimicótica tópica, seus princípios ati-vos, suas indicações e formulações estão discriminados no
quadro 4.1.
A terapia antimicótica sistémica tem sido indicada para infecções micóticas superficiais, subcutâneas e
sistémicas. Nas duas últimas décadas, drogas antifúngicas de amplo espectro, de aplicação conveniente,
de ampla distribuição sistémica e discretos efeitos colaterais se tornaram disponíveis, o que melhorou o
prognóstico de várias infecções micóticas subcutâneas e profundas.As principais drogas antifúngicas
utilizadas em pacientes veterinários são: compostos poliêni-cos; griseofulvina; fluocitosina; terbinafinas;
io-detos de sódio ou potássio; derivados imidazóis e triazóis. O quadro 4.2 apresenta os principais
agentes utilizados na terapia antimicótica sistémica das infecções fúngicas, algumas apresentações
comerciais e suas respectivas formulações.

COMPOSTOS POLIÊNICOS
Os poliênicos são uma classe de drogas anti-infecciosas formados por cadeias com duplas ligações de
carbono, sem ação bacteriana, porém atuan-do contra fungos, algas e protozoários. Pertencem a esse grupo,
anfotericina B, nistatina, partricina, metilpartricina e piramicína (natamicina). Essas drogas são extremamente
tóxicas, sendo geralmente associadas a muitos efeitos colaterais. Apenas a anfotericina B é utilizada por
via parenteral.

ANFOTERICINAB
A anfotericina B é um antibiótico poliênico hep-taeno obtido de culturas de Streptomyces nodosus.
Mecanismo de Ação - A anfotericina B, assim como outros poliênicos, liga-se ao ergosterol, um
componente da membrana citoplasmática dos fungos. A ligação cria poros na membrana citoplasmática, que
permitem a saída de água e eletrólitos essenciais ao fungo, desestabilizando seu metabolismo. A
deterioração metabólica do fungo pode ter efeito fungicida ou fungistático, dependendo da concentração
da droga. A anfotericina B também apresenta efeitos imunoestimulantes, auxiliando na terapêutica das
infecções fúngicas.
Farmacocinética - A anfotericina B não é absorvida por via oral, sendo utilizada apenas na forma
endovenosa. O antibiótico é organodepo-sitário, permanecendo armazenado no fígado, no pulmão, nos
rins e no baço, onde sofre lenta me-tabolização. Isso permite concentrações séricas fungistáticas ou
fungicidas da droga por até 48 horas. A droga penetra em líquidos pleural, peri-toneal, pericárdico e
articular e no meio intracelular. Atravessa mal a barreira hemato-encefálica e apresenta escassa
penetração em coágulos. Sua excreção é realizada por vias biliar e renal.

Espectro de Ação - A anfotericina B é ativa Efeitos Adversos


diante de Histoplasma capsulatum, Coccidioides • Nefrotoxicidade: a anfotericina B provoca
immitis, Blastomyces dermatidis, Cryptococcus vasoconstrição renal, levando à azotemia, à
neoformans, Cândida albicans, Sporothríx schen- acidose tubular renal, à hipocalemia, à
ckii, Aspergülus, Penicillium, Mucor, Rhizopus, calcinose renal, à cilindraria e à proteinú-ria.
Rhodotorulla, Mycrosporum, Trycbopbytom, Anemia arregenerativa pode ocorrer durante a
Madurella e Leptosphaería. diminuição da produção de eritro-poietina
pêlos rins.
Resistência Fúngica - A anfotericina B não • Tromboflebites: ação irritativa.
apresenta ação efetiva em Cladosporíum, Phialo- • Elevação de transaminases hepáticas.
phora eFusarium. Estirpes mutantes de Cândida e • Cardiotoxicidade: ligação às células do mio-
Cryptococcus que apresentam alteração na com- cárdio, causando distúrbios na condução dos
posição do ergosterol da membrana celular impulsos e miocardite.
demonstraram resistência a essa droga. Essas • Pirexia.
estirpes mutantes, no entanto, parecem ser menos • Hipotensão.
virulentas que as demais. • Náusea e vómitos.

QUADRO 4.1 - Principais agentes, nomes comerciais e formulações comumente utilizados na terapia tópica das
infecções fúngicas

Princípios atívos Nome comercial e laboratórios


Apresentações
Glucohex®(H) (Eurofarma) Chlorohex®(H)
Sabonete líquido a 2%. Sabonete
Clorexidina (Geras Johnson) Silvex»(H) (Silvestre lab.)
líquido. Embalagem com l litro.

Dermax*(H) (Galderma)
Enxofre Sabonete. Sabonete de 80 g.
Salisoap®(H) (Galderma)
Sabonete. Xampu com 100 ml.
Sastid®(H) (Stiefel)

Frasco com 15 ml.


Ciclopiroxolamína Loprox®(H) (Hoechst Marion Roussel) Bisnaga de creme dermatológico 20 g.
Loprox®(H) (Hoechst Marion Roussel)
Tb. com 60 g e aplicador.
Bisnaga de 15 g contendo pomada — 100.000 Ul/ml.
Nistatina Micostatin®(H) (Bristol-Myers Squibb)
Frasco de 100 ml e frasco de 25 ml com 300 mg/ 100 ml.
Panolog* , (Novartis)
Loção cremosa a 2%.

Pimaricina (natamicina) Natalene®(v) (Virbac) Frasco com 30 ml de solução.


Miconazol Daktarin*(H) (Janssen- Cilag) Bisnaga contendo loção cremosa a 2%. Bisnaga com 50 g
de creme dermatológico.
Econazol MycostyP(H) (Stiefel) Embalagem com 30 g de loção 1% e creme a 1%. Solução a
Canesten*(H) (Bayer) 28% para uso ungueal. Solução spray a 1%.
Clotrimazol
Tioconazol Tralen®(H) (Pfizer)

Bisnaga com 20 g de creme dermatológico. Frasco de 30 ml


Isoconazol Icaden* (Schering) de solução. Frasco de 60 ml de solução spray.

Cetoconax*(M) (Janssen- Cilag) Cetocon Top*(H)


Bisnaga com creme dermatológico. Frasco com
Cetoconazol ( Cepav-Pharm) Cetoconazol®(H) (Neo-
xampu a 2%. Frasco com 100 ml de xampu.
Química) Cetonax®(H) (Janssen- Cilag)
Frasco com 100 ml de xampu a 2%. Frasco com
NizoraP(H) (Janssen- Cilag)
100 ml de xampu a 2%.

Solução para uso tópico a 2%. Frasco spray com


Sertaconazol Zalain®(H) (Searle) 20 ml de solução. Bisnaga com 20 g de creme.
62 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 4.2 - Os principais agentes utilizados na terapia sistémica das infecções fúngicas, algumas de suas
apresentações comerciais e suas principais formulações
Princípios ativos Nomes comerciais Apresentações

Anfotericina B Amphocil®(H) (AstraZeneca) Frasco amp. de 50 mg e 100 mg.


Fungizon®(H) Frasco com 50 mg de pó para restituição e infusão
(Bristol-Myers Squibb) intravenosa. Solução injetável (frasco-ampola): 50 e 100
Ambisome®(H) mg.
(United Medicai) Talsutin®(H)
(Bristol-Myers Squibb) Bisnaga com 45 g (associada à tetraciclina) de creme
Tericin AT®(H) (Ativus) vaginal para uso tópico. Bisnaga com 60 g (associada à
tetraciclina), creme
Micostatin®(H) vaginal para uso tópico.
Nistatina (Bristol-Myers Squibb) Frasco com 50 ml de suspensão - 100.000 Ul/ml.
Terbinaflna Nistatina®(H) (Neo-Química)
Griseofulvina Micoter®(H) (EMS) Lamisil®(H) Frasco com 50 ml de suspesão - 100.000 Ul/ml. Caixa
5-Flucitosina (Novartis) Alamil*(H) com 14 e 24 comps. de 125 e 250 mg. Caixa com 14 e
Cetoconazol (Biochimico) Fulcin® 24 comps. de 125 e 250 mg. Caixa com 14 e 24 comps.
(AstraZeneca) de 125 e 250 mg. Embalagem com 20 comp. de 500
(HJ
Itraconazol Sporostatin®(]|) mg. Estojo com 20 comp. de 500 mg micronizados.
Fluconazol (Schering-Plough)
Frasco de 100, 200 e 500 ml de susp. oral - 2,5 g/100 ml.
Dufulvin®(v) (Duprat)
Produto importado - cápsulas de 250 e 500 mg. Caixa
Ancobon(H) (Roche) Nizoral(H)
com 10 e 30 comps. de 200 mg. Embalagem com 10 e
(Janssen-Cilag) Cetonax(H)
20 comps. de 200 mg. Embalagem com 4, 10 e 15 cáps.
(Janssen-Cilag) Itranax(H)
de 100 mg. Embalagem com 4, 10 e 15 cáps. de 100
(Janssen-Cilag) Sporanox(H)
mg. Embalagem com 10 cáps. de 100 mg.
(Janssen-Cilag) Itraconazol(H)
Embalagem com 8 cáps. de 50 mg e 100 mg.
Fluconazol(|I) (Bergamo)
Frasco com suspensão de 50 mg/ml.
Flusan(H) (Eurofarma) Zoltec(H) Embalagem com 8 cáps. de 50 mg e 100 mg.
Embalagem com 30 ml de susp. - 10 mg/ml.
(Pfizer) Embalagem com 8 cáps. de 50 mg e 100 mg.
Pó para suspensão oral 50 mg/5 ml.
Frasco com solução intravenosa de 100 ml de 2 mg/ml.
Usos Terapêuticos e Doses
• Uso Sistémico: A anfotericina B está indicada no tratamento de infecções fúngicas sistémicas,
principalmente nas de rápida progressão. O fator limitante de sua utilização é toxicidade, fato minimizado
quando se associa a anfotericina B a outros anti-fúngicos como a 5-fluocitosina e derivados triazólicos e
imidazólicos. A anfotericina B foi inicialmente utilizada complexada ao desoxicolato (ABD), sendo
administrada con-juntamente com glicose em infusão lenta em razão da nefrotoxicidade. Subsequentemente,
formas menos tóxicas e mais eficazes foram desenvolvidas, tais como as protegidas por lipossomos (ABCD)
e as protegidas por membranas de fosfolipídeos (ABCL).Antes da infusão intravenosa de anfotericina B,
hematometria, leucometria, exame de urina, perfis bioquímico e eletrolítico séri-co devem ser realizados.
Evidências de distúrbios eletrolíticos, discrasias sanguíneas e insuficiência renal contra-indicam a terapia. A
anfotericina B deve ser administrada como uma série de infusões intravenosas com intervalos de 48 a
72 horas. Preferencialmente, a terapia inicia-se em uma segun-da-feira, tendo sequência na quarta e na sex-
ta-feira, para evitar o fim de semana. Para minimizar a nefrotoxicose, antes de iniciar a terapia, o animal
deve ser submetido à natriurese com infusão de solução de NaCl a 0,9%, na dose de 50 ml/kg em 4 horas.
A anfotericina B deve ser diluída em 250
500 ml de solução de glicose 5% e administrada Mecanismo de Ação - Assim como outros
lentamente durante 3 horas. Moni-toramento do antimicóticos poliênicos, a nistatina e a pimari-
volume globular, da proteína total, do potássio, cina se ligam ao ergosterol, componente da
da ureia e da creatinina sérica devem ser membrana celular dos fungos, desestabilizando o
realizados antes de cada tratamento. Alterações metabolismo celular fúngico e inibindo seu
na função renal requerem imediata suspensão da crescimento.
droga. Distúrbios eletrolíticos associados à admi- Espectro de Ação - A nistatina apresenta bons
nistração da anfotericina B devem ser tratados resultados perante as candidíases mucocu-tâneas
imediatamente, com o uso de soluções poliônicas. e regulares diante da malassezíases. A
Em casos de pirexia persistente, drogas pimaricina é eficaz contra Malassezia, Cândida,
antiinflamatórias não esteroidais devem ser Aspergillus e dermatófitos.
utilizadas, porém estas podem causar lesão renal
adicional, devendo seus efeitos serem Farmacocinética - A nistatina e a pimaricina são
extensamente monitorados. escassamente absorvidas via oral, agindo apenas
• Cães: topicamente nas mucosas. Essas drogas não
- Forma convencional (desoxicolato): 0,25 a 0,5 podem ser utilizadas por via parenteral em virtude
mg/kg, IV, dissolvido em 500 ml a l litro de da sua toxicidade. Para que a nistatina possa agir
solução de dextrose a 5%, IV, durante 6 a 8 nos locais de infecção, é necessário que permaneça
horas, ou 0,15 a l mg/kg dissolvido em 5 a 20 por pelo menos 2 a 5 minutos nos tecidos afeta-dos,
ml de dextrose a 5%, IV. Ambas devem ser o que dificulta sua utilização nas candidíases orais
administradas 3 vezes por semana, durante 2 a 4 de cães. Nas infecções gastrentéricas por
meses. Cândida, a nistatina deve ser deglutida agindo apenas
-Forma lipossomal: 1,25 mg/kg, IV, 727 72, nas mucosas.
96/96 horas. Resistência Fúngica - A resistência a esses
• Gatos: poliênicos é um fenómeno incomum. Resistência
- Forma convencional (desoxicolato): 0,25 a 0,5 cruzada com a anfotericina B tem sido descrita na
mg/kg, dissolvido em 500 ml ou l litro de dextrose literatura.
a 5%, IV, durante 6 horas, 3 vezes por semana, Efeitos Adversos
durante 2 a 4 meses. • A nistatina e a pimaricina apresentam elevada
• Uso tópico: A anfotericina B pode ser em- toxicidade, quando utilizadas via parenteral, o
pregada topicamente na forma de cremes para que contra-indica sua utilização por via
combater infecções vaginais por Cândida em intravenosa ou intramuscular.
cadelas, apesar dessa condição raramente acometer • Efeitos adversos raramente ocorrem na terapia
essa espécie. As formulações disponíveis para uso tópica, sendo relatados em humanos vómitos,
tópico são associadas a antibióticos como a diarreia e reações de hipersensibili-dade.
tetraciclina, o que restringe sua utilização em
fêmeas prenhes. A anfotericina B já foi utilizada Usos Terapêuticos e Doses - Estes antimicóticos
em associação com o dimetilsulfoxido para poliênicos podem ser utilizados para o tratamento
(DMSO) tratar a pitiose em equinos. de otites micóticas em cães e gatos. A nistatina é
uma das drogas de escolha para o tratamento das
candidíases oral e gastrentérica em cães e gatos,
porém essas enfermidades são raras nessas
espécies. Mesmo em infecções sistémicas por
Cândida, a nistatina deve ser utilizada por via oral
NlSTATINA E PlMARICINA para diminuir a população de Cândida no trato
gastrentérico, pois a maioria dessas infecções é de
(NATAMICINA) origem endógena. Infecções vaginais por
Cândida em fêmeas pré-púberes podem ser medi-
A nistatina é um antibiótico tetraênico obtido de cadas com nistatina. Devem ser utilizadas na fornia
culturas de Streptomyces noursei. A pimaricina é
de suspensão oral ou formulações tópicas. A
um antibiótico heptaeno, produzido pelo
Streptomyces natalensis.
64 Manual de Terapêutica Veterinária indicada em animais prenhes.
• Distúrbios gastrintestinais: Mais comum em seres
humanos.
• Menos frequente em humanos: Erupções
pimaricina pode ser utilizada topicamente nas
cutâneas, hepatotoxicidade e neutropenia. A
micoses oftálmicas, sendo somente encontrada em
droga deve ser evitada em gatos infectados por
farmácias de manipulação especializadas. • Cães e retroviroses ou animais anêmicos.
gatos: Nistatina • Gatos podem se intoxicar com uso prolongado da
forma ultramicrocristalina, apresentando letargia,
anorexia, vómito, diarreia, icterícia,
- Candidíases do trato gastrentérico: 100.000 UI, neurotoxicidade, angioedema e neutropenia.
VO, 6/6 horas. • A metabolização da griseofulvina é influenciada
- Candidíases vaginais: aplicações vaginais l vez por drogas que interferem no sistema
ao dia, durante 7 dias. microssomal hepático, entra as quais o varfarina,
- Aplicações cutâneas: 3 vezes ao dia. o fenobarbital e a ciclosporina.
- Aplicações otológicas: 2 a 3 vezes ao dia. Usos Terapêuticos e Doses - A griseofulvina
Pimaricina está indicada no tratamento de micoses su-
- Aplicações otológicas: 2 vezes ao dia. perficiais causadas por fungos dermatofíticos,
- Aplicações oftálmicas: 2 a 3 vezes ao dia. sendo utilizada exclusivamente por via oral. Por
ser relativamente bem tolerada, tem sido indi-
cada como alternativa aos tratamentos que utili-
GRISEOFULVINA zam derivados imidazólicos e triazólicos para
combater essas infecções. Pode ser empregada
A griseofulvina é um antimicótico produzido do em concomitância com a terapia tópica à base de
Penicillium gríseofulvin. xampus e outras formulações tópicas, prin-
cipalmente em infecções cutâneas disseminadas.
Mecanismo de Ação - A griseofulvina interfere na
Essa é uma das drogas de eleição para o trata-
formação dos microtúbulos, organelas celulares
envolvidas na divisão mitótica da célula fúngica. mento das onicomicoses. Em equinos, em razão
Esta ação resulta no interrompimento da divisão do custo, apenas em casos excepcionais deve ser
celular, tendo efeito fungistático. A griseofulvina utilizada para o tratamento de micoses
também inibe a formação da parede celular de fungos superficiais.
quitinosos (dermatófïtos) e possui ação antiin- • Cães e gatos:
flamatória. A droga não é capaz de combater infec- - Forma ultramicronizada - 30 mg/kg, VO, a cada
ções micóticas quando aplicada topicamente. 12 horas.
- Forma micronizada - 50 mg/kg, VO, a cada 24
Espectro de Ação - A griseofulvina tem ação horas.
efetiva somente sobre micoses superficiais causadas • Equinos:
por fungos dermatofíticos (Mycrosporum e - Forma micronizada: 10 mg/kg, VO, a cada 24
Trycbophytom). Leveduras como Malossezia pachy- horas.
dermatis e Cândida não são combatidas eficien-
temente com essa droga.
Farmacocinética — A griseofulvina é absorvida por
via oral com a gordura da dieta. Dietas ricas em 5-FLUCITOSINA OU FlUOROCITOSINA
lipídeos otimizam a absorção. O tamanho das
partículas de griseofulvina interfere na absorção, e a A 5-flucitosina ou fluorocitosina é um análogo da
forma ultramicrocristalina é mais bem absorvida pirimidina modificada estruturalmente para conter
que a microcristalina. A droga se difunde por di- átomos de flúor. Inicialmente utilizada como
versos órgãos, depositando-se de maneira impor- antineoplásico, demonstrou atividade diante de
tante nos tecidos queratinizados, como pele e anexos leveduroses sistémica.
como pêlos, unhas e cascos. A metabolização
ocorre por enzimas do sistema microssomal hepático Mecanismo de Ação - A droga se incorpora nos
e a eliminação é por vias urinária e biliar. ácidos nucléicos dos fungos, inibindo suas
Resistência Fúngica — A griseofulvina não atua funções.
diante de Cryptococcus neoformans, Malas-sezia Espectro de Ação - A 5-flucitosina é ativa
pachydermatis, Aspergillus, Cândida e perante Cryptococcus neoformans, Cândida e
Sporothrix schenckii. Cladosporium. Fungos filamentosos e dermatófitos
Efeitos Adversos não são suscetíveis.
• Teratogenicidade: A griseofulvina está con-tra-
Farmacocinética - A 5-flucitosina é bem absorvida longos períodos na pele e nas unhas. A meta-
via oral, distribuindo-se por todos os tecidos bolização é hepática e a excreção, renal.
corpóreos. Esta atinge concentrações elevadas no
Resistência Fúngica - A resistência à terbinafina
líquido cefalorraquidiano (60% a 80% dos níveis
não tem sido registrada. A terbinafina tem pouca
séricos). Sua excreção é feita via urinária. Este
ação sobre Cândida. Em algumas situações, a
fármaco não tem sido utilizado por via tópica.
droga não foi capaz de eliminar infecções por
Resistência Fúngica - A resistência tem sido um Mycrosporum canis em humanos.
problema frequentemente relatado após o uso desta
Efeitos Adversos
droga, surgindo principalmente durante a terapia.
Cryptococcus pode apresentar resistência com • Registros de distúrbios gastrentéricos, ca-
certa frequência. Por este fato, é utilizada em racterizados por vómitos, dor abdominal e
conjunto com a anfotericina B na terapêutica das diarreia.
meningites criptocóccicas. • A droga pode provocar hepatotoxicidade, estase
biliar, elevação de transaminases hepáticas,
Efeitos Adversos neutropenia e pancitopenia.
• Têm sido registrados neurotoxicidade, falência • A droga tem suas concentrações elevadas pela
renal, cristalúria, vómito, diarreia, dor abdominal e cimetidina e diminuídas pela rifam-picina.
hepatotoxicidade. Evitar em nefropatas. • Animais com falência renal ou disfunções
• Mielotoxicidade foi registrada em humanos que hepáticas devem receber doses menores.
apresentam trombocitopenia e leuco-penia. Evitá-
la em animais com disfunções em medula óssea. Usos Terapêuticos e Doses
• Teratogênica para animais de laboratório: evitar • Uso sistémico: A terbinafina está indicada na
em fêmeas prenhes. terapia das dermatofitoses cutâneas e ungueais,
podendo ser utilizada por via tópica ou sistémica.
Usos Terapêuticos e Doses - A 5-flucitosina está
Em combinação por via oral com o itraconazol, a
indicada na terapêutica das infecções micó-ticas
droga é capaz de combater a pitiose. Por ter efeito
disseminadas causadas por Cryptococcus e
fungicida, a terbinafina apresenta efeitos
Cândida. Dada a elevada concentração no liquor,
essa droga tem sido indicada para o tratamento terapêuticos mais rápidos que a griseofulvina,
de meningite criptocóccica, sendo utilizada em além de apresentar elevada potência perante der-
associação com a anfotericina B ou com imida- matófitos antropofílicos. Não se conhece seu
zóis ou triazóis. A 5-fluocitosina já foi empregada efeito em micoses sistémicas de pequenos animais.
no tratamento da pitiose em equinos
• Cães e gatos: 25 a 50 mg/kg, VO, 6/6 ou 8/8
66 Manual de Terapêutica Veterinária
horas.

TERBINAFINA Uso tópico: A terbinafina utilizada por via


tópica é considerada extremamente eficaz
A terbinafina é um antimicótico recentemente perante dermatófitos nessa localização,
aprovado para uso em humanos, pertencente à podendo ser utilizada em concomitância
classe das alilaminas. com a terapia sistémica.
Mecanismo de Ação - A terbinafina inibe a • Cães e gatos:
escaleno-epoxidase, uma enzima que atua na síntese - 2 a 10 mg/kg, VO, 24/24 horas, por 28 a
da parede celular fúngica. A inibição dessa 84 dias.
enzima leva ao acúmulo intracelular de escaleno, - Aplicações tópicas: l a 2 vezes ao dia.
uma substância tóxica à célula fúngica. A terbi-
nafina é um antimicótico fungicida.
Espectro de Ação - A terbinafina é muito ativa lODETOS
perante todos os fungos dermatofíticos sendo
menos potente diante de fungos dimórficos Os iodetos de sódio e potássio foram, durante
filamentosos, Aspergillus, Malassezia e Cândida. vários anos, os únicos agentes antifúngicos sis-
Farmacocinética- A terbinafina é absorvida via témicos utilizados nas infecções micóticas. Atual-
oral, e por ser lipofüica, difunde-se amplamente pêlos mente essa droga tem sido substituída pêlos de-
tecidos queratinizados. A droga chega à pele pela rivados imidazóis e triazóis.
difusão através da epiderme ou ao ser secreta-da Mecanismos de Ação - Especula-se que seu
junto à secreção sebácea. A terbinafina se liga aos mecanismo de ação esteja ligado à amplificação
queratinócitos persistindo com ação fungicida por
da resposta imunológica do hospedeiro, por agir DERIVADOS IMIDAZÓIS E TRIAZÓIS
no sistema de mieloperoxidase halogenado dos
neutrófilos, o que permite morte intracelular das A descoberta de agentes antifúngicos de amplo
células fúngicas. espectro, que pudessem ser administrados
Farmacocinética - As soluções iodadas oralmente e com alto índice terapêutico, levou
apresentam absorção oral, sendo amplamente dis- ao desenvolvimento dos derivados imidazóis e
tribuídas por todo o organismo. Predominante- triazóis. Essas são drogas estruturalmente rela-
mente sua excreção é renal. cionadas, tendo espectro e mecanismos de ação
similares.
Espectro de Ação - Essas drogas são princi- O cetoconazol foi a primeira droga antifúngica
palmente usadas em Medicinas Humana e Vete- da família dos imidazóis usada oralmente no tra-
rinária na terapia da esporotricose cutânea fixa e tamento das micoses sistémicas, sendo ampla-
linfocutânea. mente utilizado em Medicina Veterinária. O itra-
conazol e o fluconazol são triazóis recentemente
Efeitos Colaterais - Os principais efeitos
introduzidos no tratamento das infecções micó-
colaterais associados aos iodetos são:
ticas em Medicina Veterinária, tendo geralmente
• ressecamento da pele e pelagem; demonstrado maior eficácia e menor toxicidade,
• secreções oculonasais; por possuírem menor efeito sobre a síntese
• seborréia seca; esterólica das células de mamíferos, do que ou-
• anorexia e vómito; tras drogas antifúngicas.
• depressão e colapso circulatório; A resistência fúngica aos derivados imidazóis e
• abortamento em equinos. triazóis tem sido considerada incomum. Os raros
Quando esses sinais são observados, a droga fungos isolados de pacientes humanos, que por
deve ser imediatamente suspensa. Após o desa- mutação se tornaram resistentes a essas drogas,
parecimento dos sinais clínicos, essas drogas não foram isolados de fontes profundas, não sendo
podem ser reinstituídas à metade da dose inicial. esclarecido se estes retiveram o potencial de
Entre as espécies domésticas, os gatos são os mais causar doença invasiva. Redução da concentração
suscetíveis a desenvolverem efeitos colaterais li- intracelular dos azóis, produção excessiva ou
gados ao iodismo. alteração conformacional da enzima 14-alfa-
Usos Terapêuticos e Doses - As soluções desmetilase e uma mutação concomitante na en-
iodadas devem ser administradas oralmente, na zima C5-6 desnaturase foram implicadas como
concentração de 20%, sendo amplamente distri- elementos que contribuem para resistência aos
buídas no organismo. Em cães de grande porte, azóis. A resistência cruzada entre os azóis tem
soluções supersaturadas de iodeto de potássio sido observada.
contendo l g/ml podem ser indicadas. Estes sais Mecanismos de Ação - Os imidazóis e os
não são palatáveis e podem ser administrados triazóis interferem na síntese do ergosterol na
com leite ou alimentação. Os gatos apresentam membrana celular fúngica, inibindo a desme-
melhor tolerância ao iodeto de sódio que ao tilação do lanosterol, que é um precursor do
iodeto de potássio. esterol. O acúmulo deste altera vários sistemas
Para esporotricose, o tempo mínimo de uso enzimáticos e a permeabilidade da membrana,
das soluções iodadas é de 12 semanas após ter conduzindo à difusão de potássio intracelular e à
sido observada significativa cura clínica. morte celular. Adicionalmente, esses compostos
• Cães: interferem na síntese de ácidos graxos, trigli-
cerídeos e ácidos nucléicos, além de inibirem
- Solução saturada a 20%: 40 mg/kg, VO,
enzimas oxidativas e o citocromo c peroxidativo, o
8/8 ou 12/12 horas.
que leva a um aumento intracelular da geração de
- Solução supersaturada: 40 mg/kg, VO, 8/
produtos derivados do oxigénio. Quando em
8 ou 12/12 horas.
baixas doses, essas drogas são fungistáticas,
• Gatos: porém quando em alta concentração, elas dani-
- Solução saturada a 20%: 10 mg/kg, VO, ficam rapidamente a membrana celular fúngica,
12/12 horas. possuindo efeito fungicida.
• Equinos (esporotricose):
- Iodeto de potássio - 40 mg/kg, IV, a cada Uso Tópico - Miconazol, clotrimazol, enil-
12 horas. conazol, cetoconazol, iconazol e tioconazol po-
- Iodeto de potássio - 2 mg/kg, VO, a cada dem ser usados em casos de candidíases muco-
12 horas. cutânea, genital, auricular ou intertriginosa.
Cetoconazol, miconazol, enilconazol e clotri-
mazol têm excelentes resultados nas infecções
auriculares causadas pela Malassezia pachyder- dem ser utilizados em todo o corpo, a cada três
matís. Em casos de malassezíase cutânea, o ceto- ou cinco dias, por no mínimo quatro semanas.
conazol é a droga de eleição, devendo ser usado Na aspergilose nasal, o enilconazol (10 mg/kg/
tanto sistémica como topicamente na forma de BID/10 dias) usado localmente, após a rinotomia/
xampu, a cada cinco dias, por no mínimo 30 dias. turbinectomia e implantação cirúrgica de tubo no
Para a terapia tópica das dermatofitoses, os interior da cavidade nasal e seio frontal, foi associado a
derivados imidazólicos, como miconazol, clotri- ótimos resultados. Resolução clínica superior a 90%
mazol, enilconazol, cetoconazol ou triazólicos, dos casos analisados tem sido observada com o
como iconazol, tioconazol ou sertaconazol, têm uso do clotrimazol (500 mg dissolvidos em 50 ml de
sido indicados como coadjuvantes da terapia sis- polietileno glicol), aplicado em dose única, via
témica. Soluções, creme e loções podem ser usados cateterização nasal bilateral, associado à terapia com
nas lesões localizadas, a cada 12 horas, por no itraconazol por quatro semanas.
mínimo 30 dias. Aerossóis podem ser indicados Uso Sistémico - O tempo de uso mínimo dos
em lesões intertriginosas. Em casos de lesões
derivados imidazóis e triazóis é de 4 semanas,
multifocais e generalizadas, os xampus po-
para a terapia das infecções micóticas su-
perficiais, e de 8 a 12 semanas, para a terapia das
micoses sistémicas, após ter sido observada sig-
nificativa cura clínica.

CETOCONAZOL

Farmacocinética - O cetoconazol quando


administrado oralmente apresenta absorção va-
riável, dependendo do pH gástrico. Em meio
ácido, sua biodisponibilidade fica aumentada,
devendo preferencialmente ser administrado após a
alimentação. Seu uso com drogas anti-secretórias
gástricas deve ser evitado. Após absorção, em
humanos, 84% da droga conjuga-se à albumina
plasmática, apresentando ampla distribuição na
pele, na vulva e na vagina, nos ossos, nos tecidos
pleural e peritoneal, no líquido sinovial e na
saliva. Há baixa concentração no líquido cefalor-
raquidiano. A droga é metabolizada pelo fígado
em produtos inativos, sendo eliminada predomi-
nantemente por via biliar. Sua meia-vida em hu-
manos é de oito horas.
Efeitos Colaterais - Seus principais efeitos
colaterais são:
• anorexia, náusea e vómitos dose-depen-
dentes;
• elevação sérica assintomática das amino-
transferases;
• hepatite tóxica e/ou insuficiência hepática
(mais comum em felinos);
• farmacodermias;
• depressão e anormalidades neurológicas
são incomumente descritas;
67 Manual de Terapêutica Veterinária a cura clínica.
As recomendações de dosagem do cetoconazol
variam de acordo com a etiologia e a forma da
doença fúngica. O fracionamento da droga tem
• o cetoconazol pode produzir disfunções sido associado à melhor biodisponibilidade desse
endócrinas por suprimir as concentrações basais fármaco e a menos efeitos colaterais. Doses supe-
do cortisol sérico, a resposta à estimulação pelo riores a 10 mg/kg podem suprimir a produção de
hormônio adrenocorticotró-fico e a síntese de cortisol adrenal e induzir a hipocortisolemia. A
testosterona. A supressão hormonal pode ser dose de 10 mg/kg a cada 12 horas tem sido indi-
perigosa a animais prenhes e pode causar cada em casos de criptococose felina, porém esta é
infertilidade temporária em machos; associada a importantes efeitos colaterais.
• o cetoconazol é teratogênico em animais, • Cães e gatos: 5 a 10 mg/kg, VO, 12/12
não sendo recomendado durante a prenhez. horas.
Por causa da secreção da droga no leite
materno, seu uso em animais que estão
amamentando também é desaconselhado. ITRACONAZOL
Espectro de Ação, Usos Terapêuticos e
Doses - Apesar de efetivo na terapia das der- O itraconazol é um derivado triazol de amplo
matofitoses, o cetoconazol tem sido associado à espectro de ação, tendo maior efetividade e
resistência fúngica; é mais caro e possui mais menos efeitos adversos que o cetoconazol.
efeitos colaterais que a griseofulvina. Em casos
em que há intolerância ou inefetividade com- Farmacocinética - O itraconazol pode ser
provada da griseofulvina, a terapia com o itra- administrado oral ou parenteralmente. Sua biodis-
conazol é indicada por possuir efeitos terapêu- ponibilidade é realçada quando este é oferecido
ticos superiores ao cetoconazol. após a alimentação, atingindo pico plasmático
O cetoconazol é a droga de eleição para a em 3 a 4 horas. Por ser extremamente lipofílica,
dermatite por malassezia, devendo ser seu uso essa droga liga-se a proteínas plasmáticas na pro-
sistémico associado à terapia tópica. Este tem sido porção de 99%, distribuindo-se amplamente pela
usado eficazmente na terapia das candidíases cu- pele, glândulas sebáceas, pêlos e em múltiplos
tânea e mucocutânea. órgãos internos, porém apresenta pouca concen-
Embora haja relatos de efetividade do cetoco- tração no líquido cefalorraquidiano e na urina.
nazol na histoplasmose, esporotricose, criptoco- Apesar da baixa concentração no liquor, por causa
cose, blastomicose e coccidioidomicose, com o de sua forte solubilidade lipídica, este pode atingir
advento dos derivados triazóis, que são mais efeti- significativas concentrações no tecido neurológico.
vos e mais bem tolerados, houve uma diminui- Em virtude de sua homogeneização com a
ção de seu uso na prática clínica, sendo sua secreção sebácea, esta droga é amplamente dis-
única vantagem relacionada ao custo total da tribuída pela pele e folículo piloso, apresentando
terapia. até quatro vezes sua concentração plasmá-tica,
Como o cetoconazol demora até cinco dias ligando-se fortemente à proteína ceratina.
para atingir o pico de sua atividade antifúngica, O itraconazol é metabolizado pelo fígado
em infecções graves que evoluem rapidamente, em hidroxitraconazol. Esse metabólito ativo é
sua associação com a anfotericina B tem sido eliminado pelas vias biliares e sofre recircula-
feita. Com a combinação da terapia, a anfoteri- ção enteroepática, variando sua meia-vida de 8 a
cina B proporciona eficácia imediata e o cetoco- 12 horas.
nazol, longa duração da terapia antimicótica, o Efeitos Adversos - Os triazóis, quando usados
que é necessário nas micoses profundas. Adicio- nas doses recomendadas, não alteram a con-
nalmente, a dose acumulada de anfotericina B é centração de hormônios esteróides. Sérios efeitos
reduzida, o que minimiza seus efeitos nefro- colaterais, geralmente, são associados à idios-
tóxicos. sincrasia ou são dose-dependentes. Apesar de
O cetoconazol não deve ser usado como bem tolerado, o itraconazol tem eventualmente
terapia única em casos de infecção ocular e me- causado:
ningoencefalite fúngica. Sua associação com a
• anorexia temporária;
5-fluocitosina (125 mg, IV, 24 horas) tem tido bons
• vómitos;
resultados em casos de criptococose nasal.
• aumento das aminotransferases séricas, ic-
Em casos de otite média perpetuada por
terícia e insuficiência hepática;
Malassezia pachydermatis, o cetoconazol é a
• vasculopatias associadas a dermatites ulce-
droga de eleição, devendo ser usado na dose de
rativas e edema de membros foram rara-
10 mg/kg/24 horas, por, no mínimo, 30 dias após
mente descritos.
Espectro de Ação, Usos Terapêuticos e Farmacocinética - Este derivado triazólico
Doses - O itraconazol parece ter um espectro de possui excelente absorção gastrentérica, não sendo
ação igual ou superior ao da anfotericina B, sendo observadas alterações de sua biodisponibili-dade
eficaz no tratamento de uma grande variedade de por modificações do pH gástrico. Por ser
micoses superficiais, subcutâneas e sistémicas. hidrossolúvel, somente 11% da droga é conjugada
Devido a este se acumular nos ceratinócitos e atingir à albumina plasmática, o que permite sua difusão
altas concentrações na secreção sebácea e nos e alta concentração nos líquidos corporais. Sua
pêlos, o itraconazol tem-se mostrado extre- concentração no liquor varia de 50% a 90% da
mamente efetivo perante a dermatofitose, sendo concentração plasmática. Cerca de 90% da droga
uma importante alternativa à griseofulvina. é eliminada pela urina, sendo sua meia-vida de
O itraconazol é eficaz na terapia das esporo- 25 a 30 horas.
tricoses canina e felina, sendo uma importante
Efeitos Adversos- O fluconazol tem demons-
alternativa ao uso dos sais de iodo, principal-
trado ser uma droga extremamente segura no tra-
mente em gatos, em que o iodismo é comu-
tamento das infecções fúngicas. Seus efeitos cola-
mente observado. Na criptococose, o itraconazol é
terais são esporádicos e não diferem daqueles
tão efetivo como o cetoconazol, porém com
menor gama de efeitos colaterais. Embora o observados com outros derivados imidazóis e
itraconazol não possua boas concentrações no triazóis, como anorexia e hepatotoxicidade.
líquido cefalorraquidiano, este tem sido usado Espectro de Ação, Usos Terapêuticos e
com sucesso na terapia da neurocriptococose em Doses - O fluconazol é eficaz contra infecções
humanos e felinos. micóticas superficiais, como as dermatofitoses,
Adicionalmente, resultados favoráveis à terapia malassezíase e candidíase. Excelentes resultados
com itraconazol têm sido observados em as- têm sido observados na terapia das criptococoses
pergilose disseminada, histoplasmose, blastomico- felinas nasal e cutânea. Em virtude de sua ampla
se, coccidioidomicose, micetomas, pseudomice- difusão nos fluidos corporais e da alta concen-
tomas dermatofíticos, cromomicoses e zigomicose. tração no líquido cefalorraquidiano, resultados
• Cães e gatos: animadores foram observados também na cripto-
- 5 mg/kg, VO, 12/12 horas. cocose ocular e na neurocriptococose, o que me-
- 10 mg/kg, VO, 24/24 horas. lhorou nitidamente o prognóstico da criptococose
• Equinos: em pequenos animais.
- 5 a 10 mg/kg, VO, 12/12 horas. O fluconazol também tem sido empregado
com sucesso na terapia da blastomicose, em cães
com intolerância à anfotericina B. Embora as con-
centrações séricas de fluconazol variem amplamente,
em Medicina Veterinária a dose indicada em pe-
quenos animais é de 2,5 a 5 mg/kg, diariamente.
• Cães e gatos:
- 2,5 mg/kg, VO, 12/12 horas.
- 5 mg/kg, VO, 24/24 horas.
- Para criptococose - 50 mg/kg, VO, 12/12
horas.
FLUCONAZOL
O fluconazol é um derivado triazólico, hidros-solúvel, de amplo espectro de atividade e longa meia-
vida, o que o torna indicado para tratamento das infecções micóticas sistémicas suscetíveis.
SOLUÇÕES ANTINFÚNGICAS DE USO TÓPICO EXCLUSIVO
A clorexidina a 2%, como solução ou xampu usados diariamente ou a cada 5 dias, respectivamente,
por no mínimo 30 dias, é efetiva contra derma tófitos.
70 Manual de Terapêutica Veterinária

As soluções com enxofre a 2% são fungicidas, ceratolíticas e ceratoplásticas, indicadas em casos de


dermatofitose. São preferidas em casos de infecções localizadas. Xampus ou sabonetes podem ser
utilizados em casos de infecções der-matofíticas generalizadas.O iodo, embora efetivo contra os
dermatófïtos, pode causar contato irritante quando utilizado cro-nicamente, sendo inativado quando em
contato com exsudatos e tecidos necróticos. As soluções iodadas podem causar alteração na coloração da
pele e pelagem. Soluções de polivinilpirrolidona a 1%, dissolvidas em água (1:4) e usadas diariamente,
têm sido indicadas principalmente no tratamento das dermatofitoses em animais de produção. Alter-
nativamente, tintura de iodo associada a álcool, 70°, na proporção de 1:10, pode ser utilizada em
situações em que o custo seja o fator limitante.Preparações à base de ácido undecilênico são
principalmente fungistáticas, embora possa ser observada capacidade fungicida com longas exposições
a altas concentrações desse fármaco. Estas têm sido indicadas no tratamento das der-
matofitoses.Soluções contendo ácido benzóico a 6% e ácido salicílico a 3% têm sido indicadas na tera-
pia tópica das dermatofitoses. O ácido salicílico é ceratolítico e ceratoplástico, enquanto o ácido
benzóico tem efeito fungistático. A erradicação da infecção ocorre somente após ter sido eliminado o
estrato córneo infectado, sendo, assim, necessária sua contínua aplicação por várias semanas ou
meses.A cal sulfurada diluída na proporção de 115 a 230 g/5 litros de água pode ser utilizada na
forma de banhos a cada 3 ou 5 dias, para tratar animais pecuários acometidos de dermatofitoses,
apresentando resultados compensadores do ponto de vista económico.A violeta de genciana em solução
alcoólica a 2%, associada ao ácido salicílico a 2%, pode ser utilizada em animais de produção para o
tratamento de dermatofitoses e da candidíase intertri-ginosa em bovinos. Outros corantes usados
topicamente e associados aos ácidos salicílico (2%) e benzóico (4%) em solução alcoólica (álcool
90°) podem ser utilizados na diluição de 2% em animais de produção, como a fucsina básica, o verde de
metila e o azul de metileno.Animais de produção podem necessitar de tratamento oral, e já se
recomendou o sulfato de cobre, VO, na proporção de 1:2000, na água para beber. Nessa situação, é
necessário observar a possibilidade de intoxicação por cobre nesses animais, só devendo ser
utilizado em situações excepcionais.
ANTIVIRAIS
Silvia Franco Andrade

O controle das doenças virais é basicamente fundamentado em três condutas básicas: 1) A principal, a
quimioprofilaxia, que consiste na imunização por meio de vacinas; 2) A quimioterapia; 3) A estimulação dos
mecanismos de resistência natural no hospedeiro. Contudo, as duas últimas ainda não são totalmente
eficazes na maioria das doenças virais.O desenvolvimento de agentes antivirais é lento, porém com a epidemia
da síndrome da imunode-ficiência adquirida (Aids/Sida) em seres humanos, a virologia aumentou
vertiginosamente a pesquisa de novas drogas antivirais, sendo o combate ao vírus HIV o grande
responsável por esse avanço.Na Medicina Veterinária, o uso de antivirais ainda é pequeno, limitando-se
basicamente ao uso tópico em ceratites e conjuntivites por herpes. O uso sistémico é ainda restrito a
alguns experimentos e no tratamento da leucemia felina.Os vírus são microrganismos extremamente
simples, parasitas intracelulares obrigatórios, cuja replicação depende principalmente dos processos de
síntese de DNA, RNA e proteínas da célula hospedeira. Portanto, muitas substâncias químicas, que
inibem a replicação virai, também restringem certas funções celulares do hospedeiro, produzindo
acentuada toxicidade. Em muitas infecções virais, a replicação do vírus torna-se máxima mais ou
menos na época em que surgem pela primeira vez os sintomas clínicos ou até mesmo em uma fase
mais precoce. Dessa maneira, para que sejam eficazes os quimioterá-picos que bloqueiam a replicação
virai, quase sempre devem ser administrados antes do início da doença, isto é, na forma de
quimioprofilaxia. A classificação dos fármacos antivirais se baseia na ação deles nas fases de replicação
virai, sendo da seguinte maneira:

• Drogas que interferem na fixação do vírus aos receptores da célula do hospedeiro e na sua
penetração.
• Drogas que interferem na síntese de proteínas.
• Drogas que interferem na síntese de ácidos nucléicos.
• Drogas que interferem na organização ou na liberação de partículas virais.

DROGAS QUE INTERFEREM NA


FIXAÇÃO DO VÍRUS AOS
RECEPTORES DA CÉLULA
DO HOSPEDEIRO E NA
SUA PENETRAÇÃO

GAMAGLOBULINA

Se a gamaglobulina tiver anticorpos específicos dirigidos contra antígenos superficiais de determinados


vírus, ela poderá interferir na entrada
74 Manual de Terapêutica Veterinária Apesar disso, a maioria dos gatos continuar per-
sistentemente virêmica. A utilização do interferon
não preveniu a morte.
desta partícula virai na célula, provavelmente ao
bloquear mais a sua penetraçãodo que a sua
adsorção. Em Medicina Humana, uma injeção in- DROGAS QUE INTERFEREM NA
tramuscular de gamaglobulina misturada, durante SÍNTESE DE ÁCIDOS NUCLÉICOS
o período de incubação inicial, pode modificar a
infecção por vírus do sarampo, da hepatite, da
raiva e da poliomielite. RlBAVIRINA
Em Medicina Veterinária, umpoolde imuno-
globulina humana, principalmente IgG (Gama- A ribavirina interfere na formação de guano-
globulina, Centeon), tem sido utilizado no trata- sina-monofosfato e na síntese subsequente de
mento de anemia auto-imune hemolítica e trom- ácidos nucléicos. Esse fármaco não possui boa
bocitopenia imunomediada em cães. A dose em margem de segurança em animais domésticos.
cães para essa finalidade é 0,4 a 0,5 mg/kg/dia
por 5 dias, IV, repetir se necessário.
IDOXURIDINA (IDU)

ADAMANTAIVAMINAS Inibe a replicação do vírus do herpes simples


na córnea e, assim, ajuda o processo de ci-
(AMANTADINA E RIMANTADINA) catrização da ceratite herpética em seres huma-
nos e animais. Trata-se de uma circunstância es-
São compostos simétricos tricíclicos que ini- pecial, visto que o herpesvírus se prolifera no
bem o desnudamento de certos mixovírus, como o epitélio corneano avascular, enquanto o fármaco
da influenza A e do vírus da doença de aplicado topicamente permanece no local e não é
Aujeszky. A via de administração é oral. rapidamente removido pela corrente sanguínea. Na
conjuntiva vascular, o fármaco exerce pouco
efeito terapêutico, portanto a conjuntivite por ade-
DROGAS QUE INTERFEREM NA novírus não pode ser controlada por IDU. Em
SÍNTESE DE PROTEÍNAS lesões cutâneas herpéticas, a aplicação tópica de
IDU não possui efeito terapêutico.
INTERFERON
ClTARABINA
O interferon é uma glicoproteína endógena
que exerce atividade antiviral inespecífica, por Inibe a síntese de DNA e interfere na replica-
meio de processos metabólicos celulares que en- ção dos vírus de DNA. Em seres humanos, é 10
volvem a síntese de RNA e de proteínas. vezes mais eficaz que a idoxuridina, porém tam-
Inicialmente, foi constatado que os interferons bém 10 vezes mais tóxica.
eram produzidos por células infectadas por vírus
(Tipo I); mais tarde, descobriu-se que os lin-
fócitos também sintetizam interferons durante a
resposta imune (Tipo II). Os interferons são pro- VlDARABINA
duzidos na maioria das espécies animais, todavia É fosforilada na célula em derivado trifosfa-to,
tendem a ser mais ativos principalmente na que inibe a DNA polimerase virai de modo muito
espécie em que foram sintetizados. Em seres hu- mais eficaz que a DNA polimerase de mamíferos.
manos, além de atividade contra infecções virais, o Em seres humanos, é utilizada topicamente no
interferon tem sido utilizado como adjuvante no tratamento da ceratite herpética e sistemicamente
tratamento de neoplasias. na encefalite herpética.
Na Medicina Veterinária tem sido utilizado
contra o vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina
(RIB) em bezerros desmamados e no tratamento ACICLOVIR
da infecção pelo vírus da leucemia felina
(VLF/FeLV). Gatos tratados com interferon hu- É fosforilado em trifosfato de acicloguano-
mano tiveram melhora clínica significativa e os sina, que inibe a DNA polimerase do vírus. É
valores do hematócrito retornaram ao normal. utilizado em meningoencefalite aguda virai e
ceratite herpética. FOSCARNET

Inibe a DNA polimerase do herpesvírus,


ZlDOVUDINA (AZT) mesmo em cepas resistentes ao aciclovir. Tem
sido utilizado em seres humanos nas infecções
A zidovudina (AZT) é o fármaco mais estu- herpéticas em pacientes imunodeficientes com
dado e mais amplamente utilizado no tratamento Aids, podendo exercer algum efeito sobre o
da síndrome de imunodeficiência adquirida próprio HIV.
humana (Sida/Aids), provocada pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV). Atua sobre a
DNA polimerase virai (transcriptase), com con- DROGAS QUE INTERFEREM NA
sequente inibição da síntese de DNA virai e acen-
tuada redução da replicação do vírus. ORGANIZAÇÃO OU NA LIBERAÇÃO
DE PARTÍCULAS VIRAIS

RlFAMPICINA

Inibe a RNA polimerase DNA-dependente em


bactérias e em células de mamíferos. Inibe tam-
bém os poxvírus, porém por meio de um meca-
nismo diferente.
O quadro 5.1 descreve as principais apresen-
tações de antivirais existentes no Brasil.
QUADRO 5.1 - Principais apresentações de antivirais no Brasil

Princípio ativo Nome comercial Apresentação

Aciclovir Zovirax,, Comprimidos de 200 mg - caixa com 25.


Comprimidos de 400 mg - caixa com 70.
Creme a 5% - bisnaga com 10 g. Pomada
oftálmica 3% - tubo com 4,5 g.
Amantadina Mantidan,.., Comprimidos de 100 mg — caixa com 20.
Idoxuridina IH) Creme - bisnaga com 3 g.
IDU
(H)
Pomada oftálmica.
Comprimidos de 10 mg + solução diluente de 10 ml.
Imunoglobulina Herpesine(H) Gama
Ampola de 2 ml com 160 mg/ml .
globulina(H)
Interferem alfa-2A Seringa de 0,5 ml com 3, 4, 5 ou 9 MUI (milhões de unidades
Roferon A(H) internacionais).
Interferon alfa-2B Frasco-ampola de 3, 5 ou 10 milhões de unidades.
Ribavirina Intron-A(H;i
Cápsulas de 100 mg - caixas com 20, 40 ou 120.
Virazole(H) Cápsulas de 250 mg - caixas com 40 ou 60.
Xarope 50 mg/ml - frasco com 100 ml.
Rifampicina Cápsulas de 300 mg - caixa com 6. Suspensão
Rifaldin(H) com 100 mg/5 ml - frasco com 60 ml. Cápsulas de
300 mg - caixa com 10 ou 30.
Zidovudina (A2T) Rifampicina(H) Cápsulas de 100 mg - embalagem com 100.
Retrovir-AZT,u, Cápsulas de 250 mg - embalagem com 40.
Solução oral 10 mg/ml - frasco com 200 ml.
ANALGÉSICOS
Silvia Franco Andrade

A dor é fundamental para a integridade do indivíduo e a sobrevivência da espécie. Ocorrendo a dor, é


necessário que se investigue a sua causa e instaure-se um tratamento, pois esta perde a sua função de
alerta, devendo ser aliviada. A Associação Internacional para Estudo da Dor define a dor como "uma
sensação e experiência emocional desagradável associada com o atual ou potencial dano tecidual". Dor
é a percepção da nocicepção e, como outras percepções, é determinada pela interação entre a atividade
neu-rossensorial, a variedade comportamental e fato-res psicológicos. Desta maneira, em animais, a
avaliação da dor é extremamente subjetiva, mas não impossível de ser detectada. É consenso atual,
inclusive em recente posição do Colégio Americano de Anestesiologistas Veterinários, que a dor deve ser
prevenida e aliviada, e que a diminuição do sofrimento animal deve ser sempre uma metaj^ara o
médico veterinário. Portanto, anti-. -5 orientações de que a cíor é uma importante r lie diagnóstico
veterinário e sua supressão • a sintomatologia e a avaliação clí-, ou que em pacientes após procedimentos
s, como imobilização de fraturas ou colocação de pinos, a dor seria benéfica, pois o xaímal sentindo
dor não "forçaria" a imobiliza-ÕOL eflão ultrapassadas e ferem a ética do bem-nimaL Além da
consideração ética da su-Í2 dor. são comprovados os benefícios . _..- analgésicos reduzindo o estresse
emo-cional, liberando substâncias deletérias para o organismo e melhorando a recuperação do animal,
reduzindo a morbidade e a mortalidade.

FISIOLOGIA DA DOR
A percepção da dor começa na periferia, por meio da ativação de nociceptores (receptores da
dor). Os nociceptores estão presentes por todo o organismo e são classificados em três subtipos:
• Receptores mecânicos de alto-limiar: detectam pressão.
• Receptores mecanotermais de baixo-limiar: detectam pressão e calor.
• Receptores polimodais: detectam pressão, calor e fatores químicos.
Os receptores mecânicos de alto-limiar e os receptores mecanotermais de baixo-limiar são
íhervaoãs getâs rfÕrãf fietvaszf azfétírïfézr-das AS e A@, enquanto os receptores polimodais são
inervados pela fibra nervosa não-mie-linizada C. As substâncias químicas que ativam os receptores
polimodais são diversas e incluem mediadores inflamatórios como prosta-glandinas, leucotrienos,
bradicininas, serotoni-na, substância P e histamina (Figura 6.1). Dentre as prostaglandinas, a PGI2
causa hiperalge-sia de curta duração, enquanto a PGE2 está relacionada com a hiperalgesia de longa
duração.
78 Manual de Terapêutica Veterinária

Opióides e agonistas
ctj-adrenérglcos

5-HPETE, 12-HPETE,
HETE, LTA, LTB, LTC

FIGURA 6.T - Esquema da via da condução da dor e a interferência de sua modulação pêlos
cortlcosteróides, DAINEs, opióides e agonistas cc2-adrenérgicos. 1 = via ascendente
(neoespinotalâmica ou palioespinotalâmica); 2 = via descendente; COX-1 = cicloxigenase-1; COX-2 =
cicloxigenase-2; PGs = prostaglandinas; TXs = tromboxa-nos; 5-HPETE = ácido 5-hidroxiperoxi-
tetraenólico; 12-HPETE=ácido 12-hidroxiperoxi-tetraenólico; HPETE = ácido hidroxi-tetraenólico; LTA =
leucotrieno A; LTB = leucotrieno B; LTC: leucotrieno C; DAINEs = drogas antiinflamató-rias não-
esteróides. I. Os corticosteróides inibem a fosfolipase A2, diminuindo a liberação de substâncias que
sensibilizam os nociceptores; II. As DAINEs inibem as cicloxigenases (COX-1 e COX-2), diminuindo a
liberação de prostaglandinas e tromboxanos que também sensibilizam os nociceptores; III. Os
opióides produzem profunda analgesia devido à atuação no cérebro e medula por meio de ativação
de receptores u, enquanto os agonistas cc2-adrenérgicos promovem analgesia por ativação de
receptores a2 na medula espinhal
.Além da ativação de nociceptores, o estímulo doloroso é conduzido para a medula espinhal através
das fibras Ao (fibra fina mieli-nizada), Af3 (fibra grossa mielinizada) e C (não-mielinizada). Esses
neurônios são considerados os primeiros moduladores da via da condução da dor (Figura 6.1),
porque fazem si-napse com neurônios secundários na medula espinhal, que, por sua vez, fazem
sinapse com um terceiro neurônio no cérebro que completa a condução nociceptiva. Sendo
mielinizadas as fibras AS e Af3, transmitem impulsos 10 vezes mais rápidos que as fibras C para o
neurônio secundário na medula espinhal. Conseqüen-temente, a ativação periférica de
mecanorreceptores de alto-limiar ao longo das fibras AS e AP conduz para a medula espinhal
rapidamente uma dor aguçada, que geralmente é acompanhada por aversão. Lesão tecidual libera
mediadores químicos da inflamação que ativam receptores polimodais que transmitem o impulso
através da fibra C para a medula espinhal, que é associada à sensação dolorosa latejante e ardente
acompanhada após a lesão. Desta maneira, em sua maioria as dores são bimodais por natureza,
resultando em sensação aguda. A exceção é a dor visceral, que é transmitida exclusivamente pelas
fibras C, resultando em um repertório de sensações dolorosas extremamente desagradáveis.
Na medula espinhal existem basicamente duas O manejo da dor consiste na inibição da per-
vias ascendentes para a condução da dor até o cepção, da sensibilização central (modulação das
cérebro: 1) via neoespinotalâmica, que conduz a etapas medulares), da transmissão (inibição da
dor somática, bem-localizada, através de poucas condução do impulso) e da transdução (inibição
sinapses; e 2) via palioespinotalâmica, que con- da sensibilização periférica dos nociceptores)
duz a dor visceral, de localização precária, através (Quadro 6.1). Os principais analgésicos que po-
de várias sinapses. Quando o cérebro detecta a dem ser utilizados no controle dos vários graus
dor, informações são conduzidas por uma via de tipo de dor estão descritos no quadro 6.2.
descendente, na medula espinhal, relacionada Os fármacos rotineiramente mais utilizados
com a fibra C, que se comunica com inter- na Medicina Veterinária para alívio e manejo da
neurônios. Quando estimulados, liberam opiói- dor são os analgésicos opióides, os agonistas cc2-
des endógenos (substâncias auto-analgésicas), adrenérgicos e as drogas antiinflamatórias não-
como encefalinas, endorfinas e dinorfinas, que esteróides (DAINEs).
se combinam com receptores opióides diminuindo
a liberação de substância P. Estímulos táteis
(massagem, fisioterapia e acupuntura) ativam a
fibra nervosa mielinizada Ao com liberação de ANALGÉSICOS OPIÓIDES
opióides endógenos, com analgesia e sensação
de bem-estar. A liberação de opióides endógenos
também está relacionada com exercícios físicos e Analgésicos opióides são os mais potentes
sexo. analgésicos utilizados na Veterinária. São bas-
O limiar da dor varia bastante entre os ani- tante efetivos para tratar dores médias a mode-
mais domésticos. Bovinos e ovinos possuem um radas, particularmente a dor aguda, profunda,
limiar alto, ou seja, são menos sensíveis à dor visceral, em virtude de trauma, câncer ou pro-
que os carnívoros. Os pássaros geralmente não cedimentos cirúrgicos. O termo opióide se refere
apresentam sensações dolorosas superficiais, a todas as substâncias, naturais, semi-sintéti-cas
motivo pelo qual algumas cirurgias, como extir- ou sintéticas, que se ligam totalmente ou
pação de bócio e castração, podem ser realizadas parcialmente a receptores opióides. O termo
sem uso de anestesia. São regiões especialmente opiáceo, por sua vez, refere-se a substâncias de-
sensíveis à dor nos animais domésticos: lábios, rivadas do ópio, ou seja, da papoula Papaver
parte achatada do focinho do porco, ex- somniferum, semelhantes à morfina. Os opióides
crescências da crista, dedos, espaço interdigital, endógenos são as endorfinas, um termo genérico
superfície interna da coxa, região perineal e su- referente a três famílias de peptídeos opióides:
perfície ventral da cauda. encefalinas, dinorfinas e (3-endorfinas.

QLADRO 6.1 - Modo de ação dos diferentes fármacos no manejo da dor

Modo de ação Fármacos


Inibição da percepção Anestésicos gerais, opióides, agonistas (X2-adrenérgicos, benzodiazepí-
nicos, fenotiazínicos.
Inibição da sensibilização central Anestésicos locais, opióides, agonistas CC2-adrenérgicos, DAINEs*, anta-
(modulação das etapas medulares) gonistas NMDA** (cetamina), antidepressivos tricíclicos, anticonvul-
sivantes.
Inibição da transmissão (inibição da
condução do impulso) Anestésicos locais, agonistas cc2-adrenérgicos. DAINEs,

Inibição da transdução (inibição


da sensibilização periférica dos corticosteróides, opióides, anestésicos locais.
nociceptores)

DAINEs (drogas antiinflamatórias não-esteróides).


NMDA (N-metil-D-aspartato).
80 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 6.2 - Principais analgésicos utilizados no controle dos vários graus de tipo de dor
Tipo e/ou grau de dor Droga

Aguda (moderada a grave)* Morfina, fentanil, cetamina, agonista oc2-adrenérgico. Butorfanol,


Aguda (moderada a leve)* buprenorfina, meperidina, agonista cc2-adrenérgico.
Moderada a grave Morfina, meperidina, fentanil, patcb de fentanil, cetamina combinada com
opióide ou sedativo, cetoprofeno, meloxicam, carprofeno, flunixim meglumine,
ácido tolfenâmico.
Moderada a leve Morfina, meperidina, fentanil, patch de fentanil, butorfanol, buprenorfina,
tramadol, cetoprofeno, meloxicam, carprofeno, flunixim meglumine, ácido
tolfenâmico, dipirona, ácido acetilsalicílico, nimesulida, benzidamina.
Crónica** Patch de fentanil, codeína, morfina, meloxicam, carprofeno, cetoprofeno,
corticosteróides, glicosaminoglicanos.

* Principalmente em procedimentos cirúrgicos.


** Pacientes cancerosos, osteoartrite, etc.

Os receptores opióides estão presentes em numerosos tecidos, incluindo cérebro, medula, trato
urinário, trato gastrintestinal e vasos deferentes. Estão ligados por meio das proteínas G à inibição de
adenilatociclase. Eles facilitam também a abertura dos canais de K+ (causando hi-perpolarização) e
inibem a abertura dos canais de Ca2+ (impedindo a liberação de transmissores
• Receptores Delta (ô): Os ô-receptores estão localizados no sistema límbico. Sua estimulação resulta
em analgesia e modulação dos p-receptores. Há evidências de duas subclasses de receptores
ô,CLASSIFICAÇÃO DOS RECEPTORES OPIÓIDES

Os três receptores mais importantes são mu, kappa e delta. Os receptores sigma e epsílon são
descritos, porém sua especificidade ainda é controversa. Os tipos e suas características são os seguintes:
• Receptores Mu (u,): Admite-se atualmente que os u,-receptores sejam responsáveis pela maioria dos
efeitos analgésicos dos opióides. A sua estimulação causa analgesia, euforia, sedação, miose,
depressão respiratória, dependência, inibição da motilidade gastrintestinal e liberação do ADH. A
maioria dos analgésicos opióides é representada pêlos agonistas de u-receptores. São descritos dois
subtipos: ux e u2
• Receptores Kappa (K): Os K-receptores contribuem para a analgesia em nível medular, podendo
induzir sedação e disforia, mas produzem relativamente poucos efei.tos indesejáveis e não
contribuem para a dependência. Alguns analgésicos são relativamente K-seletivos. São descritos
três subtipos: KX K2 e K3.
Outros receptores
• Receptores Sigma (a): Sua estimulação produz euforia e alucinação. Os a-recepto-res não são
receptores opióides seletivos, mas sim locais de ação de outras drogas, como a cetamina, e não
possuem afinidade pelo antagonista opióide naloxona.
• Receptores Epsílon (e): Sua estimulação resulta em analgesia, mas este receptor não foi
encontrado em todas as espécies e pode ser semelhante ao K2-receptor.
A interação dos opióides com seus receptores é complexa. O agonista (exemplo: morfina) se liga
aos u e K-receptores e os ativa simultaneamente, produzindo analgesia. Um antagonista (exemplo:
naloxona) se liga simultaneamente aos u e K-receptores, porém não os ativa, e com-petitivamente retira
o agonista do local receptor, inibindo os seus efeitos. O agonista-antagonista (exemplo: butorfanol) se
liga aos locais u e K-receptores, mas somente o K-receptor é estimulado. O local do p-receptor é
ocupado, porém não ativado. O agonista parcial (por exemplo,
buprenorfina) se liga somente ao ^-receptor, produzindo analgesia. A ligação da buprenorfina ao (i-
receptor é de alta afinidade, por isso, uma vez ligada ao ^-receptor, impede a ligação de um agonista
puro, sendo resistente à ação de um antagonista.

EFEITOS FARMACOLÓGICOS DOS OPIÓIDES


Os efeitos farmacológicos dos opióides diferem entre os animais e seres humanos devido à
diferente distribuição dos receptores opióides no SNC em cada espécie. O homem, o cão e os
macacos possuem duas vezes mais receptores opióides na amígdala e no córtex frontal que as
demais espécies. Os principais efeitos farmacológicos dos opióides são:
Sistema Nervoso Central
• Analgesia: compostos opióides endógenos (endorfinas, encefalinas e dinorfinas) são liberados
após estimulação de receptores opióides. Agonistas de ^-receptores produzem profunda analgesia
e esta ação se dá principalmente no cérebro, na medula e, possivelmente, na periferia. A potência
analgésica dos diversos opióides está descrita na tabela 6.1.
• Sedação: estímulo de ^-receptores centrais. Dependendo da dose, pode causar excitação em
algumas espécies, como em gatos, porcos e cavalos.
• Estimulação do centro do vómito: por estímulo da zona quimiodeflagradora do vómito
(carnívoros).

i.1 - Potência analgésica de diversos opióides


OpióúJe Potência analgésica

l
0,1 a 0,2
0,25 a 0,5
4a 7
7,5 a 25
30
75 a 125
375 a 1.250
1.000 a 10.000
10.000
• Diminuição da temperatura corporal: ocorre no hipotálamo (cão, macaco, homem).
• Aumento da temperatura corporal: gato, equino e bovino.
Sistema Respiratório - |u,-agonistas deprimem os centros respiratórios centrais, induzindo
depressão respiratória e diminuição do reflexo da tosse (principalmente em cães). O maior efeito
colateral dos opióides é justamente a depressão respiratória que pode levar à morte. É comum
provocar respiração ofegante em cães.
Sistema Cardiovascular- Pode ocorrer diminuição da frequência cardíaca após administração de
|i-agonistas. Hipotensão pode ocorrer após vasodilatação periférica. No cão, diminui o fluxo
sanguíneo coronariano provocando, va-soconstrição e aumento da resistência vascular coronariana.
Sistema Gastrintestinal - Diminuição da motilidade intestinal com consequente constipação.
Esse efeito é mediado por receptores \i centrais e (i e K periféricos. Cães são mais sensíveis a esse
efeito, apesar de inicialmente induzir defecação.
Trato Urinário - Estimulação da liberação de ADH e aumento do tônus do esfíncter vesical,
dificultando a micção.
Pele - Pode induzir liberação de histamina, provocando dilatação dos vasos cutâneos,
vermelhidão, prurido ou urticária. Os opióides que causam liberação de histamina são morfina e
meperidina.
Olhos - M. e K-agonistas causam constrição pupilar, miose (cão, macaco e homem), pela ação
excitatória sobre a inervação parassimpática da pupila, e midríase nas demais espécies.

ANALGÉSICOS OPIÓIDES MAIS UTILIZADOS NA MEDICINA VETERINÁRIA

Agonistas Opióides
Morfina
Características - \i e K agonistas.
Usos Clínicos - Em cães, no tratamento da dor aguda e profunda, na medicação pré e pós-
operatória, com antitussígeno e no tratamento da insuficiência cardíaca canina em razão da veno-
dilatação que provoca, reduzindo a pré-carga. Em gatos, com baixas doses, no tratamento da dor aguda e
profunda. Em equinos, em associação com tranquilizantes, no alívio da dor de cólica e em distúrbios
musculoesqueléticos.
Efeitos Adversos - Hiperexcitabilidade (pode ocorrer em gatos, porcos, ruminantes e equinos; baixas
doses associadas a tranquilizantes podem minimizar esse efeito colateral), euforia, hipotensão, prurido,
depressão respiratória, edema e hemorragia cerebral, dificuldade em urinar e redução da formação de
urina. A administração IV pode provocar liberação de histamina em cães.
Doses
• Cães: 0,5 a l mg/kg, IM, SC; 0,05 a 0,4 mg/ kg, a cada l a 4 horas, IV; ou 0,2 a l mg/kg, a cada 2 a 6
horas, IM, SC; 0,3 a 3 mg/kg, a cada 4 a 8 horas, VO.
• Gatos: 0,05 a 0,2 mg/kg, IM, SC (com cautela).
• Equinos: 0,02 a 0,04 mg/kg, IV; 0,2 a 0,4 mg/kg, IM; 0,05 a 0,1 (epidural).
• Ruminantes: 0,05 a 0,1 mg/kg (epidural).
Apresentação
• Dimorf comprimidos®(H) (frasco com 50 comprimidos de 10 e 30 mg).
• Dimorf LC®(H) (frasco com 20 cápsulas com 30, 60 e 100 mg).
• Dimorf sem conservantes®(H) (ampola de l ml com 0,2 mg).
• Dimorf solução oral®(H) (frasco de 60 ml com 10 mg/ml).
• Dimorf SP*(H) (ampolas de 2 ml com 2 mg; l ml com 10 mg; 10 ml com 5 e 10 mg).

Fentanil
Características - p e K-agonistas. Aproximadamente, é 75 a 125 vezes mais potente que a
morfina. É de curta duração.
Usos Clínicos - Em anestesiologia, como parte de um protocolo de indução anestésica, em
neuroleptoanalgesia (droperidol + fentanil), em infusão contínua controlada ou em patcb (adesivo),
para promover analgesia.
Efeitos Adversos - Estímulos sonoros podem provocar resposta motora no animal. Em cães é
comum respiração ofegante, defecação e flatulência. Bradicardia e salivação podem ser prevenidas
com pré-tratamento com drogas anti-colinérgicas.
Doses - Cães: 0,04 a 0,08 mg/kg, IM, IV, SC (provêm 2 horas de analgesia).
Apresentação
• Fentanil®(H) injetável com conservantes (fras-co-ampola de 10 ml, com 0,05 mg/ml).
• Fentanil®(H) injetável: uso espinhal sem conservantes (frasco-ampola de 2 e 5 ml, com 0,05
mg/ml).

Meperidina
Características - p e K-agonistas; pode provocar ação antimuscarínica e possui, aproximadamente,
10 a 20% a potência da morfina.
Usos Clínicos - Tratamento da dor aguda e profunda, medicação pré e pós-operatória.
Efeitos Adversos - Semelhantes à morfina. Não pode ser administrada por via intravenosa em
cães, pois provoca liberação de histamina.
Doses
• Cães: 5 a 10 mg/kg, IM.
• Gatos: l a 4 mg/kg, IM (com cautela).
Apresentação
• Dolantina®(H) (ampola de 2 ml com 100 mg).
• Dolosal®(H) (ampola de 2 ml com 100 mg).

Tramadol
Características - Opióide atípico, além de u-agonista, também possui outros mecanismos de
ação, provavelmente relacionados com a inibição neuronal de noradrenalina e serotonina.
Usos Clínicos - Uso experimental em cães. Pode ser utilizado no tratamento e controle da dor
leve a moderada, medicação pós-operatória e no trauma torácico.
Efeitos Adversos - Em humanos são pouco frequentes, podendo ocorrer náuseas, vómitos,
ataxia e sonolência. Não provoca depressão do sistema respiratório nem tampouco dependência,
constipação ou efeitos cardiovasculares graves.
Apresentação
• Tramal*(H) (ampola de 2 ml com 100 mg; comprimido de 100 mg - caixa com 10; cápsulas de 50
mg - caixa com 10).
• Sylador®(H) (ampola de 2 ml com 50 ou 100 mg; comprimido de 100 mg, caixa com 10; solução
em frasco conta-gotas com 10 ml a 50 mg/ml).

Agonistas-Antagonistas Opióides
Essas drogas se ligam a diversos receptores opióides (principalmente mu e kappa) e afetam cada
receptor de maneira diferente.

Butorfanol
Características - Possui moderada afinidade por ^-receptores, mas não os ativa, por isso é
considerado um antagonista de p-receptores. Possui alta afinidade por K-receptores, com moderada
ativação. Alta afinidade por cr-receptores, com moderada ativação.
Usos Clínicos - Analgésico, alívio da dor na cólica equina, antitussígeno em gatos e para reverter
os efeitos dos p-agonistas.
Efeitos Adversos - Aumenta a atividade motora, ataxia e sedação.
Doses
• Cães: 0,5 a l mg/kg, 2 a 4 vezes ao dia, VO; 0,2 a 0,4 mg/kg a cada 2 a 5 horas, IM, IV; 0,2 a 0,8
mg/kg a cada l a 3 horas, IM, IV (analgesia).
• Gatos: 0,5 a l mg/kg, 2 a 4 vezes ao dia, VO (antitussígeno); 0,1 a 0,4 mg/kg a cada 2 a 5 horas,
IM, IV; 0,8 mg/kg, IV; 0,2 a l mg/kg a cada 4 a 6 horas, VO (analgesia).
• Equinos: 0,1 mg/kg, IV, IM.
• Bovinos: 0,01 a 0,1 mg/kg, IV, IM.
Apresentação - Torbugesic®(v) (frasco de 10 ml com 10 mg/ml).

Agonista Parcial
Buprenorfina
Características - Possui alta afinidade por H-receptores (50 vezes mais que a morfina), mas é
apenas um agonista parcial desse receptor. É resistente ao antagonismo pela naloxona, devido à sua
alta afinidade pelo |a,-receptor.
Usos Clínicos - Como potente analgésico (30 vezes a potência analgésica da morfina).
Efeitos Adversos - Depressão respiratória menor do que a causada pela morfina. Transtornos
gastrintestinais também menores.
Doses
• Cães: 0,005 a 0,02 mg/kg, a cada 4 a 8 horas, IM, IV.
• Gatos: 0,005 a 0,01 mg/kg, a cada 4 a 8 horas, IM, IV.
Apresentação-Temgesic®(H) (ampola de l ml com 0,3 mg).

Antagonistas Opióides
Naloxona
Características - Foi o primeiro antagonista opióide puro. Possui alta afinidade por ^ receptores e
menor por ô e K-receptores, bloqueando-os de maneira mais ou menos igual.
Usos Clínicos - Reverte rapidamente a analgesia induzida por opióides e a depressão respiratória,
sendo usada principalmente para tratar a intoxicação por opióides ou para melhorar a respiração de
recém-nascidos afetados pêlos opióides administrados à mãe.
Efeitos Adversos - Como reverte a analgesia, após a administração de naloxona o animal pode
apresentar comportamento indesejável (excitação, taquicardia, hipertensão).
Doses
• Cães: 0,04 mg/kg, IM, IV, SC.
• Gatos: 0,05 a 0,1 mg/kg, IV.
Apresentação - Narcan®(H) (ampola de l ml com 0,4 mg).

AGONISTAS a2-ADRENERGICOS

Os agonistas oc2-adrenérgicos são potentes analgésicos e sedativos. Produzem analgesia profunda


similar àquela produzida pêlos analgésicos opióides. O efeito sedativo perdura por mais tempo que a
sedação. Além de analgesia e sedação, também produzem relaxamento muscular. São utilizados
como agentes que promovem analgesia nos procedimentos cirúrgicos.
A analgesia ocorre porque os agonistas cc2-adrenérgicos ativam receptores cc2-adrenérgicos no SNC.
Esses receptores estão localizados nos neurônios dorsais da medula espinhal, onde sua
84 Manual de Terapêutica Veterinária

ativação provoca diminuição da liberação de neu- sedan®(v)) saiu do mercado nacional, e a medeto-
rotransmissores nociceptivos, como substância P, midina (Domitor®(v)) somente é comercializada
calcitonina, etc. A sedação ocorre pela ativação pela Pfizer nos EUA e Canadá.
de cc2-receptores pós-sinápticos localizados no lo-
cus ceruleus do cérebro, levando à diminuição da
liberação de noradrenalina, promovendo, dessa
maneira, sedação. O relaxamento muscular se dá PRINCIPAIS AGONISTAS
por inibição da transmissão intraneuronal de CC^ADRENÉRGICOS
impulsos em nível central do SNC. Não atuam na
junção neuromuscular. Produzem efeitos colate- UTILIZADOS NA VETERINÁRIA
rais importantes no sistema cardiovascular, como
hipotensão, bradicardia e bloqueio atrioventricu- Xilazina
lar. Os efeitos dos agonistas a2-adrenérgicos são
Classificação - Potente agonista «2 e fraco
rapidamente revertidos pelo uso de antagonistas
ctj-adrenérgico.
cc2-adrenérgicos, ioimbina, tolazolina e atipame-
zole (ver capítulo 17). Os principais efeitos far- Características - É utilizada em cães, gatos,
macológicos dos agonistas oc2-adrenérgicos estão bovinos, equinos e animais silvestres. Pode ser
descritos no quadro 6.3. administrada por via IV, IM e SC.
Os usos terapêuticos dos agonistas oc2-adre- Usos Clínicos - Medicação pré-anestésica,
nérgicos incluem medicação pré-anestésica, imo- indução de analgesia epidural, imobilização,
bilização, indução de analgesia epidural e como sedativo, analgésico e relaxante muscular. Muito
potente agente analgésico, sedativo e relaxante utilizada em associação com a cetamina. Pode
muscular. ser utilizada como emético em cães e gatos em
Os agonistas cc2-adrenérgicos mais utilizados algumas situações de intoxicação.
na Medicina Veterinária são: xilazina, romifidina,
detomidina e medetomidina. No Brasil, atualmen- Efeitos Adversos - Hipertensão inicial quando
te, só é comercializada a xilazina (Rompun®(v)) e a administrada IV, hipotensão, bradicardia, arritmia
romifidina (Sedivet®(v)); a detomidina (Domo- sinusal, bloqueio atrioventricular, vómito em
carnívoros por estímulo da ZQD (zona qui-
miodeflagradora do vómito), impactação intesti-

QUADRO 6.3 - Principais efeitos farmacológicos dos agonistas a2-adrenérgicos


SNC
• Analgesia.
• Sedação.
Musculoesquelético
• Relaxamento muscular.
Sistema Digestivo
• Vómito (carnívoros).
• \- Motilidade e secreção gastrintestinal.
Sistema Urinário
• \, ADH T diurese.
Sistema Cardiovascular
• Hipertensão (pode ocorrer nos primeiros 10 minutos após administração IV).
• Hipotensão.
• Bradicardia (arritmia sinusal e bloqueio atrioventricular).
• Promove agregação plaquetária.
Sistema Endócrino
• -l Liberação de insulina promovendo hiperglicemia transitória.
• T Da liberação do hormônio de crescimento.
nal, hiperglicemia transitória, alterações no centro regulador de temperatura (hipotálamo) com
hipotermia quando o ambiente está frio e hiperter-mia quando a temperatura ambiente está alta. Pode
provocar espasmos musculares em animais suscetíveis. Pode provocar morte súbita em equinos, se
administrada inadvertidamente na artéria carótida.
Doses
• Cães: 1,1 a 2,2 mg/kg, IM, SC; 1,1 mg/kg, IV; 0,6 mg/kg, IV, IM (sedativo).
• Gatos: 0,05 a 0,2 mg/kg, IV, IM; 0,44 mg/ kg, IM (emético).
• Equinos: 1,1 mg/kg, IV; 2,2 mg/kg, IM; 0,3 a 0,6 mg/kg, IV, quando associada a outros, agentes
anestésicos.
• Bovinos: 0,11 a 0,33 mg/kg, IM.
Apresentação - Rompun® (frasco-ampola de 10 ml, com 20 mg/ml).

Romifidina
Classificação - Potente agonista adrenérgi-co cc2-seletivo.
Características - É aprovada para uso em equinos por via intravenosa. Experimentalmente, já foi
utilizada em cães, diluindo-se l ml (10 mg) de romifidina em 9 ml de solução de cloreto de sódio a
0,9%, na dose de 0,2 mg/kg, IM (Andrade, 1997).
Usos Clínicos - Medicação pré-anestésica, imobilização, sedativo, analgésico e relaxante
muscular. É bastante utilizado em associação com butorfanol.
Efeitos Adversos - São menos proeminentes que os observados com a administração de xilazina.
Pode ocorrer hipotensão, bradicardia, arritmia sinusal, bloqueio atrioventricular.
Doses
• Equinos: 0,04 a 0,1 mg/kg IV, 28 a 58 ug/kg, IV, em associação com butorfanol.
Apresentação - Sedivet*(v) (frasco de 20 ml com 10 mg/ml).

Medetomidina
Classificação - Potente agonista adrenérgico a,-seletivo.
Características - Aprovada nos EUA para uso em cães, por via intramuscular ou intravenosa.
Usos Clínicos - Medicação pré-anestésica, imobilização, sedativo, analgésico e relaxante muscular.
Efeitos Adversos - São menos proeminentes que os observados com a administração de xilazina.
Pode ocorrer hipotensão, bradicardia, arritmia sinusal, bloqueio atrioventricular.
Doses
• Cães: 750 pg, IV; 100 ug, IM/m2 e 30 a 40 pg/Kg, IM.
Apresentação - Domitor,(v) (frasco de 20 ml com 10 mg/ml) (sem apresentação no Brasil).

DROGAS ANTIINFLAMATÓRIAS NÃO-ESTERÓIDES (DAINEs)


As DAINEs são o grupo de drogas mais utilizado no tratamento da dor leve a moderada,
principalmente no manejo da dor crónica, tanto na Medicina Humana quanto na Medicina Veterinária.
Possuem várias vantagens sobre os analgésicos opióides, como não produzir sedação, tolerância ou
dependência física. Por outro lado, são menos efetivas no tratamento da dor visceral do que os
analgésicos opióides.
São drogas com atividade analgésica, antipirética e antiinflamatória, mas que possuem ati-vidades
diferentes em cada grupo. Por exemplo, o acetaminofenol é analgésico e antipirético, porém com a ação
antiinflamatória reduzida. Os motivos para essas diferenças não estão ainda totalmente esclarecidos.
Alguns ainda possuem ações antiespasmódica (salicilatos e dipirona) e uricosúrica (salicilatos). Os
principais grupos de DAINEs estão descritos no quadro 6.4.
As DAINEs são especialmente úteis como agentes antiinflamatórios nos distúrbios muscu-
loesqueléticos, na osteoartrite e na discoespon-dilite. Esta importante ação antiinflamatória das
DAINEs será mais bem abordada no capítulo 7.
Os efeitos colaterais das DAINEs são clássicos e incluem gastrites e úlceras gastrintestinais, bloqueio
da agregação plaquetária (devido à inibição dos tromboxanos), inibição da função renal mediada pelas
prostaglandinas (particularmente importante nos pacientes com redução do fluxo renal) e reações de
hipersensibilidade.

86 htenual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 6.4 - Principais grupos de DAINEs de apresentação no Brasil


Grupo fármaco/Nome comercial

Salicilatos Ácido acetilsalicílico (AAS®(H)).

Pirazolônicos Fenilbutazona (Butazolidina®(H)).

Dipirona (Novalgina®(H)(v); Buscopam composto®(v)).


Derivados do para-amlnofenol
Acetaminofenol ou paracetamol (Tylenol®(H)). Ácido
Derivados do ácido antraiiílico (fenaniatos)
meclofenâmico ou mefenâmico (Ponstan*.).
(H)

Derivados do ácido arilpropiônico


Carprofeno (Rymadil®(v)).
Cetoprofeno ou ketoprofeno (Profenid®(H) Ketofen®(v)).
Naproxeno (Flanax®(H)).
Ibuprofeno (Advil® H); Artril®(H)).
Vedaprofeno (Quadrisol®(V)).
Derivados do ácido aminonicotínico
Flunixim meglumine (Banamine®(v)).
Derivados do ácido acético
Diclofenaco potássico (Cataflam®(|1)).
Diclofenaco sódico (Voltaren®.).
lHJ
Derivados do ácido enólico (oxicans)
Piroxicam (Feldene®(H)).
Meloxicam (Movatec®(H)).
Derivados do ácido indol
Indometacina (Indocid®(H)).
Outros
Nimesulida (Scaflam®(H); Nisulid®(H)).
Benzidamina (Benflogin®(H)).
Celocoxib (Celebra®(H)).
DMSO (Dimesol®(v)).
Glicosaminoglicanos (Condroton®(v); Rumalon®(H)).
PRINCIPAIS AÇÕES FARMACOLÓGICAS

Analgesia - Bloqueiam a enzima cicloxigena-se (COX), responsável pela conversão do ácido araquidônico da
membrana em prostaglandinas (PGs), prostaciclinas (PGI2) e tromboxanos (TXs), e essas substâncias sensibilizam os
nociceptores (receptores) da dor. Também há evidências de que atuem centralmente inibindo a atividade da COX em
nível cerebral.
Ação Antipirética - Atuam no centro térmico (hipotálamo), inibindo a ação da prostaglan-dina (PGE2) liberada
após a ação fagocitária dos leucócitos sobre partículas estranhas, liberando pirógenos endógenos. Esses pirógenos vão
até o hipotálamo, aumentando a liberação de PGE2 e o limiar térmico. Os pirógenos exógenos incluem as endotoxinas
bacterianas.
Ação Antiinflamatória - Inibição das enzimas cicloxigenase-1 (COX-1) e cicloxigenase-2 (COX-2), em
proporções diferentes, inibindo a liberação de prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos, importantes mediadores da
inflamação.
Ação Anticoagulante - Por inibição da síntese de tromboxano, que aumenta a agregação plaquetária.
Ação Uricosúrica - Os salicilatos aumentam a excreção de ácido úrico em humanos, dependendo da dose.
Ação Antiespasmódica - A liberação de prostaglandinas pelo endométrio pode causar cólica forte e outros
sintomas de dismenorréia primária em mulheres. O tratamento com DAINEs alivia esses sintomas por inibição das
PGs. Esta ação também é útil no alívio da dor na cólica equina.
ANTIINFLAMATÓRIOS

Silvia Franco Andrade Márcia Marques Jericó

ANTIINFLAMATÓRIOS ESTERÓIDES
Os corticosteróides, ou corticóides, são hor-mônios sintetizados pelo córtex da adrenal, ou supra-renal, e
classificados em: glicocorticói-des, produzidos principalmente pela zona fas-ciculata; mineralocorticóides,
produzidos pela zona glomerulosa; e androgênios, produzidos principalmente pela zona reticulata. Os glico-
corticóides atuam no metabolismo de carboi-dratos, de lipídeos e de proteínas e os mineralocorticóides regulam
o equilíbrio hídrico e eletrolítico. Os principais representantes naturais dos glicocorticóides são a hidrocortisona
(cortisol) e a cortiscoterona, e dos mineralocorticóides é a aldosterona. Os glicocorticóides são importantes
agentes antiinflamatórios e imunossupressores, exercendo profundos efeitos sobre quase todos os sistemas
orgânicos. Em virtude disto, são uma classe de fárma-cos com inúmeros efeitos colaterais, devendo ser a sua
administração bastante criteriosa tanto no seu uso clínico quanto na sua suspensão. Portanto, a instituição desta
terapêutica deve considerar todos os riscos e benefícios para cada paciente em particular.
Química e Classificação - Os corticosteróides, como todos os esteróides, possuem uma estrutura molecular
básica, o ciclopentano-peridrofenantreno. Certas características estruturais são relevantes para a sua atividade. As
características que determinam a atividade dos glicocorticóides (Figura 7.1), compostos por 21 átomos de carbono,
são conferidas pelas seguintes propriedades: hidroxila em C-ll; cetona em C-3 e em C-20; e dupla ligação entre C-
4 e C-5. A adição de dupla ligação entre C-1 e C-2 e a metilação de C-6 e C-16 aumenta a potência antiinflamatória.
O mesmo ocorre com o acréscimo de OH em C-17. A adição de flúor no C-9 amplifica todas as atividades biológicas
do cor-ticosteróide.
Os corticosteróides são geralmente classificados de acordo com sua potência relativa na retenção de Na +,
efeitos sobre o metabolismo de carboidratos (deposição hepática de glicogênio e gliconeogênese) e efeitos
antiinflamatórios. Com base nessas potências diferenciadas, os corticóides são tradicionalmente divididos em
glicocorticóides e mineralocorticóides e, de acordo com a duração de seus efeitos, em ação curta, intermediária e
longa (Tabela 7.1).
Mecanismo de Ação - Os corticosteróides, assim como outros hormônios esteróides, interagem com proteínas
receptoras intranuclea-res, específicas, de modo a regular a expressão dos genes responsivos aos corticosterói-
des, alterando os níveis e a disposição das pró-
90 Manual de Terapêutica Veterinária

FIGURA 7.T - Estrutura geral dos glicocorticóides.

TABELA 7.1 - Potência antiinflamatória, de retenção de Na* e afinidade por receptor glicorticóide dos diversos
corticosteróides, comparada com a hidrocortisona como padrão
Corticosteróide Potência antiinflamatória Potência de retenção de Na* Afinidade por
(glicorticóide) (mineralocorticóide) receptor
glicorticóide

Ação curta ( 12 h)

Hidrocortisona 1 1 1
Cortisona 0,8 10 0,8 125 0,01
Fludrocortisona
Ação intermediária
(12 a 36 h)
Prednisona 4 0,8 0,05
Prednisolona 5 0,8 2,2
Metilprednisolona 5 0,5 11,9
Triancinolona 5 O 1,9
Ação longa
(36 a 72 h)
P-metasona 25 0 5,4
Dexametasona 25 0 7,1
Flumetasona 30 0 -
teínas sintetizadas pêlos tecidos-alvo. Por causa da sua lipossolubilidade, os corticosteróides são
capazes de atravessar a membrana celular e se ligam aos seus receptores, localizados no interior do
núcleo, distribuídos em todos os tecidos, modificando sua expressão gênica. Os gatos apresentam
cerca de 50% menos receptores para glicocorticóides, quando comparados com cães, o que implica
em particularidades na terapia com corticosteróides nessa espécie.
FARMACOCINÉTICA
Absorção - São rapidamente absorvidos pelo trato gastrintestinal, membrana mucosa e pele.
Distribuição - A maioria dos corticosteróides se liga às proteínas plasmáticas (globulina e
albumina).
Biotransformação - Principalmente no fígado, no qual ocorre processo de oxidação, redução,
hidroxilação e conjugação, sendo inati vados, com exceção da cortisona e prednisona, que utilizam as
vias metabólicas hepáticas para se tornarem ativas (hidrocortisona e prednisolo-na). Os rins
excepcionalmente podem também metabolizar os corticosteróides.
Excreção - A maioria dos compostos hidros-solúveis é excretada pêlos rins. Uma pequena parte é
excretada junto com a bile pelas fezes. EFEITOS FARMACOLÓGICOS Atividade Glicorticóide
Metabolismo
• Aumenta a gliconeogênese e a síntese de glicogênio hepático.
• Inibe a captação e utilização periférica de glicose em virtude do antagonismo com a insulina.
• Aumenta o catabolismo de gordura, potencializando o efeito lipolítico de determinados hormônios,
como catecolaminas e hor-mônio de crescimento. O tecido adiposo tende a se redistribuir, desde as
extremidades da pelve, pescoço, tórax e omento.
• Antagoniza a vitamina D.
• Diminui a síntese de colágeno e proliferação de fibroblastos, retardando a cicatrização.
• Eleva o catabolismo proteico.
• Diminui a absorção intestinal de cálcio e promove hipercalciúria.
• Incrementa a diurese, por aumento da taxa de filtração glomerular, inibição dos efeitos e da síntese
do hormônio antidiurético (ADH).
Antiinflamatório e Imunossupressor
• Diminuem a migração leucocitária para o local de lesão tecidual.
• Diminuição de eosinófilos e linfócitos circulantes.
• Redução da permeabilidade capilar e formação de edema.
• Inibição da fosfolipase A2, reduzindo a liberação de ácido araquidônico, com consequente diminuição da
síntese de prostaglan-dinas, prostaciclinas, tromboxanos e leu-cotrienos, minimizando desta maneira
a hiperalgesia, vasodilatação e quimiotaxia.
• Inibem a síntese e a liberação de pirógenos endógenos.
• Diminuem a síntese e a liberação de his-tamina.
• Podem alterar o metabolismo do complemento em algumas espécies.
• Inibem a atividade do monócito (macrófago).
• Impedem a cascata de cininas e a ativação de plasminogênio.
• Supressão da função do linfócito T, pela redução da produção de linfocinas pêlos linfócitos T,
como a interleucina-4, que permitem a diferenciação em linfócitos B.
• Promovem linfocitólise em espécies sensíveis (coelhos, ratos e camundongos).
• Favorecem linfocitólise nas neoplasias de origem linfóide em todas as espécies.
SNC -Atuam no sistema nervoso central, podendo levar à euforia ou à depressão (uso ou exposição
crónicos).
Sistema Cardiovascular - Atuação sobre receptores adrenérgicos sensibiliza o sistema vascular à
ação pressora das catecolaminas. Aumenta a pressão arterial pela somatória de efeitos nos sistemas
cardiovascular e renal.
Músculo - Em doses fisiológicas, os glico-corticóides mantêm a função muscular, entretanto, em
doses terapêuticas, pode ocorrer perda de massa muscular e fraqueza.
Trato Gastrintestinal - Aumento da secreção do ácido gástrico, de pepsina e do suco pan-creático.
No fígado ocorre aumento de uma isoen-zima, a fosfatase alcalina esteróide-induzida.
Pele - Em virtude da diminuição da síntese de colágeno e ácido hialurônico, ocorre diminuição da
espessura dérmica, retardando a cicatrização e a renovação celular epidérmica, podendo também
ocorrer hiperqueratose e hiper-pigmentação.
Osso - Aumentam a reabsorção óssea, bem como a competência dos osteoclastos e diminuem a
atividade geradora de matriz óssea pêlos os-teoblastos.
Sangue
• Eritrocitose: resultante do decréscimo da fagocitose das hemácias.

92 Manual de Terapêutica Veterinária

• Neutrofilia: por causa da impossibilidade de migração dos neutrófilos para os tecidos periféricos.

• Eosinopenia, monocitopenia e linfocitope-nia: resultante da redistribuição destas células nos


sistemas e na corrente sanguínea. Proliferação dos linfócitos B e ativação dos linfócitos T são
suprimidas.
Outros Efeitos
• Estabiliza as membranas celulares e organe-las (doses suprafarmacológicas).
• Induz o parto na gestação avançada.
• Induz teratogênese na gestação inicial.
Atividade Mineralocorticóide - Aumentam a reabsorção de sódio e a geração de bicarbonato, além
promoverem maior secreção de potássio e cloro, nos túbulos renais distais. se objetiva altas
concentrações de corticóide em área de lesão restrita, com o mínimo de efeitos colaterais.
Intra-articular - Utilizada em doenças ou traumas articulares em equinos e caninos para
minimizar os efeitos sistémicos. Entretanto, pode provocar inúmeros efeitos colaterais à cartilagem
como decréscimo da elasticidade da mesma, diminuição de glicosaminoglica-nos com degeneração
da cartilagem, depósito de cálcio na superfície hialina, adelgaçamento e fissura da cartilagem e
diminuição da viscosidade do conteúdo do ácido hialurônico. As preparações mais utilizadas são a
triancino-lona, a (3-metasona, a metilprednisolona e a flumetasona.

VIAS DE ADMINISTRAÇÃO

Oral - Todos os corticosteróides sintéticos podem ser ministrados por via oral. Administração em
dias alternados de corticosteróides de ação intermediária minimiza a inibição da secreção de ACTH
(hormônio adrenocorticotrófi-co). É a via mais segura para administração a longo prazo.
Intravenosa - Preparações hidrossolúveis (formulações succinato, fosfato e polietilenogli-col)
podem ser administradas IV. É a via de escolha em casos emergenciais (por exemplo: choque
anafilático).

Intramuscular - Em terapia de casos crónicos a administração deve ser realizada em intervalos


semanais ou quinzenais.

Subcutânea - Via muito utilizada na Medicina Veterinária em razão da praticidade. Nas preparações
de acetato ou acetonida, recomenda-se o uso por essa via.
Subconjuntival - Muito utilizada na oftalmologia para processos inflamatórios importantes (por
exemplo: uveíte).
Tópica - Preparações tópicas, em formulações de cremes ou unguentos, são úteis quando
Usos CLÍNICOS

Insuficiência Adrenal - A insuficiência da adrenal, ou hipoadrenocorticismo, pode ocorrer


primariamente de forma aguda (geralmente acontece após interrupção abruta de glicocorticóides), crónica
(após cirurgias ou lesões destrutivas do córtex adrenal) e secundária à disfunção hipofi-sária ou
hipotalâmica.
• Prednisona: 0,1 a 0,2 mg/kg, VO, 24/24 horas (insuficiência adrenal aguda).
• Hidrocortisona: 0,5 a 1,1 mg/kg, IM, SC, 24/24 horas (insuficiência adrenal crónica); 5 a 20
mg/kg, a cada 2 a 6 horas (em crise hipoadrenocortical).
Doenças Auto-imunes - São exemplos de doenças auto-imunes em animais de pequeno porte: lúpus
eritematoso, lúpus discóide crónico, anemia e trombocitopenia auto-imune, pênfigo, polimiosite,
polineuropatias. A terapia nesses casos é prolongada, com doses imunossupressivas, divididas em fases
de indução e de manutenção. Na fase de indução pode ser utilizada a predniso-lona, ou prednisona, na
dose de 2 a 4 mg/kg por dia, VO. Nos casos mais agudos, ou graves, pode-se utilizar dexametasona IV na
dose 0,3 a 0,6 mg/ kg. Esta fase dura em média 7 a 10 dias, ou até a normalização do quadro clínico. A
fase de manutenção começa após a normalização do quadro, reduzindo-se a dose do corticosteróide
para 2 mg/kg, VO, de 24 em 24 horas, durante 7 a 10 dias, depois, em dias alternados. Na isoeritrólise
neonatal, recomenda-se a administração de 5 a 20 mg, IM, de dexametasona. Na hemólise imu-
nomediada, comum em cães com hemoparasitoses, recomenda-se 0,1 a 0,2 mg/kg, IM ou IV, em duas
administrações por 2 dias. Uma vez controlada, pode-se continuar a terapia com prednisona em dias
alternados.
Doenças Alérgicas - Atopia, dermatite de contato, dermatite alérgica à pulga (DAP), hi-
persensibilidade alimentar, doenças brônqui-cas de origem alérgica, alergia à picada de in-setos e
animais peçonhentos são exemplos de doenças alérgicas em animais de pequeno porte com
indicações de uso de corticosteróides. Podem também ser utilizados, por via tópica, em casos como
psoríase, dermatite de contato, prurido anal e vulvar, desde que as lesões sejam restritas e sem
soluções de continuidade. São recomendadas doses antiinflamatórias, menores que as
imunossupressoras. É utilizada a prednisolona, ou prednisona, na fase de indução na dose 0,5 a 1,1
mg/kg, VO, 24/24 horas, por 2 a 6 dias. Depois de controlados os sintomas, inicia-se a fase de
manutenção com a dose de 0,25 a 0,5 mg/kg no início e depois em dias alternados. A
dexametasona pode ser utilizada na dose de 0,1 a 0,5 mg/kg, a cada 4 ou 8 horas, em reações
alérgicas agudas como picada de abelha. Em equinos, pode-se utilizar a dose de 400 a 600 mg de
prednisona, ou prednisolona, VO ou IM, até a remissão dos sintomas.
Doenças Articulares - Osteoartrite, poliar-trite idiopática, artrite reumatóide e traumas são
doenças articulares que podem acometer os animais domésticos, principalmente cães e equinos. Em cães
com osteoartropatias é preferível, atual-mente, o uso de antiinflamatórios não-esteróides seletivos COX-2
(carprofeno e meloxicam), decorrentes da cronicidade da terapia e a menor possibilidade de ocorrência de
efeitos colaterais que esse grupo promove. Em equinos, pode-se utilizar por via intra-articular,
dependendo do tamanho da articulação e da gravidade dos sintomas. Acetato de triancinolona de 6 a 18
mg, acetato de isoflupredona de 5 a 20 mg, acetato de metilpred-nisolona de 40 a 240 mg, e flumetasona
1,25 a 2,5 mg são recomendados, devendo-se avaliar os riscos e os benefícios da terapia intra-articular.
Traumas e Edemas Cerebroespinhais -
São muito utilizados em traumas e edemas, cranianos e da coluna vertebral, além de outros distúrbios
do SNC. Seu uso nesses casos se deve, principalmente, pela redução do processo inflamatório e,
conseqüentemente, menor formação dos radicais livres decorrentes da lesão te-cidual. As doses em
casos de trauma são elevadas, principalmente no início do tratamento. No caso de trauma craniano,
pode-se utilizar a prednisona, na dose de 10 a 30 mg/kg inicialmente e, depois, reduzindo-se
gradualmente a cada 6 ou 8 horas, e a dexametasona de l a 4 mg/kg, IV, também no mesmo esquema
em trauma craniano e edema cerebral. Em trauma da coluna vertebral, utiliza-se a dexametasona na
dose de l a 3 mg/kg, IV, depois, l mg/kg, 12/12 ou 24/24 horas, SC ou IV, por 24 horas; depois, 0,2
mg/kg, 12/12 ou 24/24 horas, SC, em doses decrescentes, por 5 a 7 dias. A terapia antiinfla-matória
elevada nesses casos é, geralmente, de curta duração, sendo no máximo 7 dias, minimizando os efeitos
colaterais comuns em doses maciças, e que devem ser reduzidas após as primeiras 24 horas, se
possível.
Oftalmologia - O uso de corticosteróides na oftalmologia é rotineiro, principalmente no
tratamento de ceratites, uveítes, coriorretinites e conjuntivites. São empregados para reduzir a
inflamação do olho e preservar a visão, se utilizados de maneira adequada. São administrados por via
tópica (colírios, pomadas e unguentos) para tratamento de doenças oculares do segmento anterior.
Nas afecções do segmento posterior do olho deve-se, geralmente, utilizar a via sistémica. Nunca
utilizar em animais com úlcera de córnea porque retardam a cicatriza-ção. Portanto, sempre utilizar
previamente o teste de fluoresceína de forma a atestar a integridade da córnea, antes de prescrever
cor-ticosteróide tópico ou sistémico em terapias oftálmicas.
Choque - O uso de corticosteróides no choque é controverso. Sua administração não deve preceder
a estabilização da volemia. As razões que colaboram com o uso deste grupo no choque são:
• efeito inotrópico positivo sobre o coração;
• diminuição na resistência periférica;
• aceleração no ciclo de Krebs;
• acréscimo da produção de energia;

94 Manual de Terapêutica Veterinária

• aumento do metabolismo do ácido láctico, reduzindo a acidose;


• estabilização das membranas celulares e organelas, especialmente endotélio capilar e
lisossomas;
• prevenção da adesividade plaquetária e formação de microtrombo;
• prevenção da formação de anafilotoxina bloqueando a fixação do complemento;
• impede a liberação de peptídeos vasoativos;
• inibe a fosfolipase A2 na cascata do ácido araquidônico;
• potencialização dos efeitos das catecolami-nas sobre o sistema cardiovascular.

O succinato sódico de metilprednisolona, na dose de 15 a 30 mg/kg, é o mais indicado no


choque hemorrágico. O succinato sódico de hidrocortisona, na dose de 50 mg/kg, tem rápida
absorção e, portanto, é mais indicado no choque vasculogênico. Fármacos veiculados em sal
succinato são mais eficientes na pro-teção celular.
Doenças Renais - A utilidade de glicocorti-cóides no tratamento de algumas doenças renais é
também controverso. Em Medicina Humana, atualmente, é bem aceito o uso destes medicamentos em
pacientes com síndrome nefrótica. Nas outras doenças renais, como glomerulonefrites, ainda é
conflitante o seu uso.
Doenças Hepáticas - O uso de corticoste-róides em pacientes com doença hepática é altamente
controverso. Estudos em Medicina Humana mostram benefícios nítidos na hepatite ativa crónica auto-
imune. Em Medicina Veterinária existem controvérsias se a hepatite crónica canina é comparável à
hepatite ativa crónica humana, mas, também nesse caso, pode-se utilizar prednisolona, na dose de l a
2 mg/kg/dia, VO, até que ocorra remissão da sintomatologia, reduzindo-se para a dose de
manutenção, em dias alternados. É também utilizada a prednisolona, empiricamente, no tratamento de
colangi-te linfocítica, em virtude de suas propriedades antiinflamatórias e imunossupressoras, na
dose de l a 2 mg/kg/dia, VO, e, se ocorrer melhora clínica, reduzir a dose na primeira ou segunda
semana, continuando com doses baixas até o controle dos sintomas clínicos. Pode ocorrer hepatopatia
de depósito em cães, induzida por cor-ticosteróides, sendo uma sequela de tratamentos prolongados
com esta medicação. Nestes casos, ocorre uma lesão hepática vacuolar, reversível e benigna que, com
raras exceções, não se associa à disfunção hepática clínica.
Doenças Gastrintestinais - São utilizados em enteropatias inflamatórias crónicas idiopáti-cas,
gastrenterites eosinofílicas e colites ulcerati-vas crónicas, principalmente em cães e gatos. Em cães é
usada a prednisona, na dose de l a 2 mg/ kg/dia, VO. Em gatos é utilizado a prednisona, na dose de 2 a
3 mg/kg/dia, ou a metilprednisolona, na dose total de 20 mg, IM, a cada 2 a 4 semanas.
Doenças Respiratórias - Bronquite crónica e alérgica, em cães e gatos, e "asma" brônqui-ca felina
são indicações para uso de corticoste-róides. Pode-se utilizar a prednisona, ou prednisolona,
inicialmente 0,5 a l mg/kg, VO, a cada 12 ou 24 horas, por 10 a 14 dias. Depois, grada-tivamente,
reduz-se a dose diária até a dose de manutenção efetiva mais baixa a cada 24 ou 48 horas. Doenças
respiratórias obstrutivas crónicas, em equinos, e a síndrome de desconforto respiratório agudo, nos
bovinos, também são indicações para uso de corticosteróides. Em equinos pode-se utilizar a
prednisolona, na dose 0,1 a 0,2 mg/kg, IM ou IV, a cada 24 ou 48 horas. Em bovinos, a dose total de
100 a 200 mg, IM, a cada 24 ou 48 horas.
Distúrbios Musculoesqueléticos - Os distúrbios musculoesqueléticos em que os corticosteróides
são utilizados incluem artrite reumatói-de, artrite traumática, bursite, tendinite, miosites primárias ou
secundárias, tenossinovite, osteíte e periosteíte. Cães e equinos são os animais mais acometidos por
estes quadros mórbidos. As administrações repetidas ou as preparações de longa ação podem induzir
alterações degenerativas na cartilagem (artropatia esteróide). O uso de corticosteróides em equinos com
laminite é controverso, devendo-se restringir o uso às primeiras 24 horas da síndrome. Em geral, dá-se
preferência aos antiinflamatórios não-esteróides como flunixim meglumine ou fenilbutazona.
Transplantes de Órgãos - Como imunos-supressores, para evitar a rejeição, a Prednisona é
fornecida em altas doses no momento da cirur-
gia de transplante, em conjunto com outros imu-nossupressores, sendo depois o paciente mantido com
doses de manutenção.
Protocolos Antineoplásicos - A maioria dos protocolos terapêuticos antineoplásicos de cães e
gatos inclui os glicocorticóides, em virtude da diminuição do número de linfócitos circulantes pela
supressão da mitose e pelo aumento do número de células vermelhas circulantes. Além disso, estimulam o
apetite e podem promover a sensação de bem-estar. Os mais utilizados são os de ação intermediária,
prednisona e prednisolona, em doses que variam de 20 a 60 mg/m 2, VO, a cada 24 ou 48 horas,
dependendo do caso, principalmente no tratamento de neoplasias linforre-ticulares e do SNC,
mastocitomas e adjuvante em outros protocolos quimioterapêuticos.

EFEITOS COLATERAIS

Hipoadrenocorticismo iatrogênico, em tratamentos prolongados e em altas doses. Insuficiência


adrenal aguda, em casos de retirada abrupta da droga em tratamentos prolongados. Poliúria,
polidipsia. Polifagia.
Desconforto respiratório. Redistribuição anormal de gordura. Aumento da excreção urinária de
potássio, levando à hipocalemia e à alcalose metabólica.
Hiperglicemia e glicosúria (diabetes melito). Aumento do tempo de cicatrização. Osteopenia e
fraturas ósseas em tratamentos prolongados, em consequência da menor absorção de cálcio pelo
trato gastrintestinal e maior excreção urinária. Calcificações distróficas e metastáticas em tecidos
moles.
Miopatias, com fraqueza muscular. Hepatomegalia e degeneração hepática vacuolar em cães.
Aumento da viscosidade das secreções pan-creáticas a aumento da lipemia. Gastrite e ulceração
gastrintestinal. Aumento da suscetibilidade a infecções, por causa da ação imunossupressora.
• Catarata, em terapias prolongadas em humanos, especialmente crianças.
• Atrofia, teleangectasia e hiperpigmentação cutâneas, além de alopecia e rarefação pilosa, em
terapias prolongadas.
• Retardo do crescimento, em altas doses e tratamento prolongado, em animais jovens.
• Aborto em gestação avançada.
• Distúrbios de comportamento em altas doses, em cães e humanos.
• Tromboembolismo pulmonar e hipertensão arterial sistémica.

Contra-indicações
• Gravidez.
• Processo ulcerativo e cicatrizante (exemplo: úlcera de córnea).
• Gastrite e úlcera gástrica.
• Diabetes melito.
• Pancreatite.
• Insuficiência cardíaca e renal.
• Doenças infecciosas.

PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA Uso


DOS CORTICOSTERÓIDES

• Nunca utilize corticoideterapia nos casos de contra-indicação.


• Sempre avalie os riscos e benefícios que esta terapêutica proporciona.
• Nunca suspenda abruptamente uma terapia prolongada e/ou com altas doses de
corticosteróides, em razão do risco de insuficiência adrenal.
• Monitore sempre o paciente submetido à terapia prolongada.
• Sempre escolha o corticosteróide adequado para cada caso.
• Na ausência de contra-indicações, na escolha adequada do corticosteróide, na menor dose e no
menor tempo possíveis, é pouco provável a ocorrência de efeitos colaterais.

Os princípios ativos, nomes comerciais, apresentação e indicações dos principais corticosteróides


comercializados no Brasil estão descritos na tabela 7.2.
ANTIINFLAMATORIOS NÃO-ESTERÓIDES

As drogas antiinflamatórias não-esteróides (DAINEs) são extensamente utilizadas, nos seres


humanos e animais, com o propósito de alívio sintomático no tratamento de condições dolorosas e
inflamatórias agudas ou crónicas.
Várias causas de lesão teciduais podem provocar uma reação inflamatória em qualquer tecido do
organismo. A reação inflamatória nada mais é do que uma resposta de proteção do organismo a um
agente ou lesão considerada nociva pelo mesmo. A reação pode ser localizada ou generalizada e seu
curso ser agudo ou crónico. Podemos citar, como causa de lesões teciduais, causas não-imunológicas
e imunológicas (Quadro 7.1).
São sinais clássicos de um processo inflamatório agudo: calor, rubor, dor, edema, além de outras
manifestações clínicas como mal-estar, inapetência, febre, etc. Os sinais de um processo inflamatório
crónico não apresentam um padrão tão bem definido como o processo agudo, podem perdurar por um
tempo indeterminado e, geralmente, acarretam sofrimento e angústia bastante intensos para o paciente.
No tecido lesado, o processo inflamatório obedece à sequência de eventos que ocorre na
microcirculação, envolvendo os glóbulos brancos e tecido conjuntivo. Os eventos celulares
subjacentes podem ser variados, mas, em geral, são caracterizados por: dano à parede celular
vascular, derrame de elementos do sangue para os espaços intersticiais (aumento da permeabilidade
capilar) e migração de leucócitos para o tecido inflamado.
Os mediadores químicos envolvidos no processo inflamatório são inúmeros e os principais estão
descritos no quadro 7.2. Após dano ou lesão celular, de maneira geral, os principais fato-res liberados
são: citocinas (interleucina-1 (IL-1), interleucina-2 (IL-2), fator de necrose tumoral (TNF-a), interferons
(IFN-oc e y), fatores estimulantes de colónias (CSFs), células inflamatórias, leucotrienos,
prostaglandinas e tromboxanos. Além disso, outros fatores poderão estar envolvidos, como aminas
vasoativas (histamina, seroto-nina), fator de ativação plaquetária (PAF), radicais livres superóxidos
(H2O2, :O2 O2 ~, e HO"), óxido nítrico (antigamente denominado de fator de relaxamento do endotélio -
EDRF), neuro-peptídeos, sistema de coagulação, sistema complemento, sistema cininas, enzimas
lisossomais e metaloproteinases neutras.

PROSTAGLANDINAS

As prostaglandinas são uma família de derivados de ácidos graxos com intensa atividade biológica.
São sintetizadas virtualmente por to-
QUADRO 7.1 - Causas de lesão tecídual
Não-Imunológícas Imunológicas

Físicas Trauma, temperatura Reação de hipersensibilidade Alergia e anafilaxia.


extrema, radiação. Tipo I
Químicas Compostos inorgânicos Reação de hipersensibilidade Resposta imune
e orgânicos. Tipo II às células
vermelhas.
Bioquímicas Metabólitos nocivos, Reação de hipersensibilidade Consequências de
enzimas destrutivas, Tipo III deposição de
peptídeos ativos. imunocomplexos.
Biológicas Agentes infecciosos, Reação de hipersensibilidade Hipersensibilidade
ectoparasitas, Tipo IV mediada por
endoparasitas, toxinas. células.
100 Manual de Terapêuíica Veterinária

QUADRO 7.2 - Principais mediadores endógenos da inflamação


Origem Grupos Mediadores

Tecidual Aminas vasoativas. Histamina Serotonina


(5-HT) Proteínas
Constituintes lisossomais. Catiônicas Proteínas
Ácidas Proteínas
Neutras
Radicais livres superóxidos.
HO-
Metabólitos do ácido Prostaglandinas (PGs)
araquidônico. Tromboxanos (TXs)
Prostaciclinas (PGIs)
Leucotrienos (LTs)
Ácido hidroperoxitetraenólico (5-HPETE)
Substância de reação lenta da anafilaxia
(SRS-A)

Plasmática Sistema Cininas. Sistema Bradicinina Fragmentos C3 e C5


Complemento. Sistema Ativado pelo Fator de Hageman
de Coagulação. Fibrinopeptídeos
das as células do organismo dos mamíferos e detectadas em quase todos os tecidos e líquidos
corporais. Os efeitos biológicos das prostaglan-dinas abrangem praticamente toda a atividade
corporal, incluindo várias funções da reprodução, do controle da pressão sanguínea, da função renal,
gástrica, formação de trombo, inflamação, atividade do músculo liso, fluxo sanguíneo regional,
descarga neuronal, etc.
As prostaglandinas de ocorrência natural são derivadas de ácidos graxos poliinsaturados essenciais
que possuem 20 átomos de carbono e um núcleo ciclopentano em sua estrutura, denominado de
ácido prostanóico. Estes precursores são o ácido 8,11,14-eicosatrienólico ou ácido diomo-g-
linolênico, o ácido 5,8,11,14-eicosatetrenólico ou ácido araquidônico e o ácido 5,8,11,14,17-
eicosapentenólico. Destes precursores, o ácido araquidônico é o mais importante, por originar
prostaglandinas por meio da ação de duas importantes vias enzimáticas, a via da cicloxigenase e a
via da lipoxigenase (Figura 7.1). Os fosfolipídeos das membranas celulares liberam o ácido
araquidônico em resposta à ação de outra via enzimática: a via da fosfolipase-Ar Esta via é ativada
por um amplo conjunto de estímulos fisiológicos, farmacológicos e patológicos.
As prostaglandinas denominam-se individualmente de acordo com os substituintes do anel
ciclopentano e são as classes (A, B, C, D, E, F), sendo a PGA, PGB, PGC, PGD, PGE e PGF. As classes
(G e H), são os endoperóxidos cíclicos PGG2 e PGH2, que originam outras prostaglandinas como a
prostaciclina (PGI2) e os tromboxa-nos, tromboxano A2 (TXA2) e tromboxano B2 (TXB2). Os
hidroperóxidos instáveis são gerados do ácido araquidônico pela ação da lipoxigenase, originando o ácido
12-hidroperoxitetraenólico (12-HPETE) e ácido 5-hidroperoxitetraenólico (5-HPETE) que, por sua vez,
originam os leucotrie-nos (LTs), que foram de denominados de LTA4, LTB4, LTC4, LTD4 e LTE4. O resumo
da importância fisiológica, fisiopatológica e terapêutica das prostaglandinas está descrito no quadro 7.3.
A síntese das diversas ações das prostaglandinas na patogênese da dor, inflamação, febre e
anafilaxia está descrita no quadro 7.4.
Membrana Celular Qtoquinas
——— IL-6

——— TNFa
Fosfolipídeos
Fosfolipase A2
i. Inibem
12-LIpoxigenase Ácido Araquidônlco
Cortlcosteróides

Cicloxiginase (COX)
COX-1 COX-2
(constitutiva) (induzida)

LTB4 LTA4 LTC4, LTD4, LTE4 PGH2

PGD PGF PGI


i > 2d 2

. l
.
FIGURA 7.1 - Cascata de produção de mediadores inflamatórios após dano celular. Para detalhes sobre as abre-
viações consultar o texto.

QUADRO 7.3 - Resumo da importância fisiológica, fisiopatológica e terapêutica das prostaglandinas


Importância Fisiológica Regulação da permeabilidade vascular, da microcirculação, da perfusão sanguínea
dos tecidos, da função dos trombócitos, da secreção gástrica, do peristaltismo intes-
tinal, do diâmetro brônquico, da termorregulação, da função do corpo lúteo (PGF2oc), das
contrações uterinas durante o parto, da contração do canal deferente, da lipólise.
Importância Fisiopatológica Febre, inflamação, dor, anafilaxia.
Importância Terapêutica Indução do parto ou aborto, broncodilatação, inibição da agregação plaquetária,
inibição da secreção do suco gástrico.
QUADRO 7.4 - Síntese de algumas ações dos diversos mediadores químicos derivados do ácido
araquidônlco, envolvidos na patogênese, dor, inflamação, febre e anafilaxia

Tipo de mediador Ações

PGG2e PGH2 Dor, vasoconstrição.

PGI2 Dor, vasodilatação, inibição da agregação plaquetária.


PGD2 Eritema, edema, dor, inibição da agregação plaquetária.
PGE, Dor, eritema, edema, febre, diminuição da resistência periférica, aumento da quimio-
taxia estimulada pelo complemento.
PGF2a Vasoconstrição.
TXA Vasoconstrição, agregação plaquetária.
HPETE Vasoconstrição, dor, edema.
HETE Quimiotaxia.
Leucotrienos Aumenta a permeabilidade vascular, vasoconstrição, quimiotaxia.
SRS-A Substância de reação lenta da anafilaxia.
102 Manual de Terapêutica Veterinária

FUNÇÕES DA COX-1 E COX-2 A maioria das DAINEs inibe indiscriminada-


mente tanto a COX-1 quanto a COX-2. Essa des-
O mecanismo de ação das DAINEs consiste coberta, em meados de 1995, revolucionou o con-
basicamente na inibição da cicloxigenase (COX), ceito do uso das DAINEs, já que a maioria dos
que acarretará na diminuição de endoperóxidos efeitos colaterais desse grupo é decorrente da ini-
cíclicos, tais como prostaglandinas, prostacicli- bição da COX-1, que mantém as funções e os efeitos
nas e tromboxanos, importantes na mediação da fisiológicos das prostaglandinas sobre o estômago,
dor e inflamação. Recentemente, foi descoberto intestinos, rins e plaquetas. Sua inibição provoca
que a cicloxigenase é efetivamente constituída efeitos colaterais tradicionais como gastrite, lesões
por duas isoformas com características químicas e renais ou hepáticas. Compostos estão sendo
fisiológicas bem definidas. A primeira, a ciclo- desenvolvidos com ação mais seletiva COX-2, na
xigenase-1 (COX-1), é uma enzima constitutiva Medicina Humana, como o meloxicam (Movatec®) e o
encontrada na maioria dos tecidos e relacionada celecoxib (Celebra®). Na Medicina Veterinária o
com efeitos fisiológicos. A segunda isoforma, a carprofeno (Rymadil®) tem demonstrado ser um
cicloxigenase-2 (COX-2), é uma enzima induzida importante inibidor seletivo COX-2.
e sintetizada pêlos macrófagos e células infla- A potência inibitória das DAINEs sobre a
matórias, com efeitos inflamatórios importantes. COX-1 e a COX-2 é expressa com uma razão
Khan et ai.23 (2000) demonstraram com estudo COX-2 IC50/COX-1 IC50, em que IC50 significa a
imuno-histoquímico a grande presença da enzima concentração que reduz a atividade da enzima a
50% do valor inicial. Quanto mais alto o valor da
COX-2 no epitélio da bexiga de cães com carcinoma
razão, menor atividade COX-2 e maior atividade
de células de transição, não sendo a mesma
COX-1, em razão de ser calculada na concentração
detectada no epitélio da bexiga de cães normais.
da droga que a atividade COX-1 e COX-2 são
Este achado colabora com a hipótese de que as
equivalentes. Isto implica em maiores efeitos co-
DAINEs podem ter ação antineoplásica em alguns
laterais das DAINEs, em virtude da COX-1 ser res-
tipos de tumor por inibir seletivamente ou não a ponsável pelas ações fisiológicas (Tabela 7.3).
COX-2.

TABELA 7.3 - Alguns exemplos da atividade das DAINEs sobre a COX-1 e a COX-2 expressa pela razão COX-2 IC50/COX-1 IC50
ou COX-1 IC50/COX-2 IC50
Droga Razão COX-2/COX-1 Razão COX-l/COX-2

Meloxicam 0,8 3 3
Carprofeno 1 - 129
Cetoprofeno - 0,02 0,25
Naproxeno 0,6 0,1 -
Flurbiprofeno 1,3 - -
Flunixim meglumine - - 0,7
Etodolac - 5 0,5
Nimesulida - - 38
Ibuprofeno 15 0,2 -
Diclofenaco - 2 _
Ácido Meclofenâmico - - 15
Ácido Tolfenâmico 16,7 - 15
Indometacina 60 0,4 —
Ácido Acetilsalicílico 166 - 0,3
Piroxicam 250 — _
Tipo de Pesquisa Células intactas Sangue total Tromboxano e
humanas Vane; humano histiocitoma canino
Autor Botting (1996) Wang (1998) Ricketts et ai. (1998)
Outros autores preferem utilizar a razão COX-1
IC50/COX-2IC50, que pode muitas vezes confundir o
leitor, pois, neste caso, razões altas significam
maior atividade COX-2 e menor atividade COX-1. e o limiar térmico. Possui também ação anticoa-
Outro detalhe importante na análise destes resul- gulante, por inibição da síntese de tromboxanos,
tados é observar em que tipo de célula e espécie que aumenta a agregação plaquetária. Outras
foi obtida a razão. Atualmente, há trabalhos pu- ações incluem a elevação da excreção de ácido
blicados com pesquisa in vitro da inibição da úrico em humanos (salicilatos) e ação
COX-1 e COX-2 pelas DAINEs em sangue total antiespasmódica por diminuição da liberação de
humano, em tromboxano e histiocitoma canino e prostaglandinas em nível do endométrio.
pesquisa in vivo em ratos (Tabela 7.4). Em uma
análise geral, aspirina, piroxicam e indometacina
possuem valores elevados da razão COX-2/COX-1, EFEITOS COLATERAIS DAS DAINEs
carprofeno, nimesulida, meloxicam e celecoxib, os
menores valores, conferindo um maior grau de
Muitos dos efeitos colaterais ocorrem em
seletividade COX-2, com efeitos colaterais me-
virtude da inibição da COX-1, que possui um
nores. Portanto, hoje, há uma tendência mundial
importante papel fisiológico no estômago, rins,
em se utilizar as DAINEs com maior seletividade
endotélio e plaquetas. Além disso, diferentes
COX-2 e menor possível COX-1.
parâmetros farmacocinéticos em cada espécie
fazem com que as DAINEs com meia-vida longa
de eliminação em uma determinada espécie
AÇÕES FARMACOLÓGICAS DAS DAINEs
(Tabela 7.4) sejam mais tóxicas para a mesma. A
soma dos fatores: razão COX-2/COX-1 baixa e
As principais ações farmacológicas das meia-vida curta a média denota um grau de maior
DAINEs são antiinflamatórias e analgésicas. As segurança da droga para uma determinada
ações antiinflamatória e analgésica ocorrem pela espécie animal. Os principais efeitos colaterais
inibição da COX-1 e da COX-2, em proporções das DAINEs são:
geralmente diferentes, inibindo a liberação de
prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos, Sistema Digestivo - São os efeitos colaterais
importantes mediadores da inflamação e da dor. A mais importantes do grupo. São decorrentes da
ação antipirética é por causa da inibição da inibição da COX-1 com bloqueio da síntese de
PGE2 liberada após a ação fagocitária dos leu- prostaglandinas gástricas, aumentando a secreção
cócitos sobre partículas estranhas, liberando ácida do estômago. Desta maneira, podem ocorrer
pirógenos endógenos. Estes pirógenos vão até o gastrites, úlceras gástricas, hemorragias gástricas e
hipotálamo, aumentando a liberação de PGE2 gastrenterites.
Sistema Renal - Em pacientes com redução
do fluxo sanguíneo renal e/ou edema (decorrente
da retenção de Na+, K+ e água), as DAIXEs

TABELA 7.4 - Meia-vida (TV2|3) em horas de eliminação de algumas DAINEs em algumas espécies animais

Droga Cão Gato Bovino Equino Suíno


Aspirina 4,5 37,6 0,5 1 6
Carprofeno 8 10,7 30 22 -
Ketoprofeno 4 1,1 - - -
Ibuprofeno 3a6 - - - -
Naproxeno 35 a 74** - - 6 -
Meloxicam 12 a 36 - 13 3 4
Flunixim 3,7 1,5 4a8 2 -
Fenilbutazona* 4a6 - 37 3a8 4a6

Em seres humanos a meia-vida da fenilbutazona é de 72 horas.


Dependente da raça.
104 Manual de Terapêutica Veterinária

podem provocar insuficiência renal aguda, por causa da inibição de PGE2 e PGI2 envolvidas na
manutenção da dinâmica sanguínea renal e, mais particularmente, na vasodilatação compensató-ria
mediada por PGE2 que ocorre em resposta à ação da noradrenalina ou da angiotensina II. O uso
crónico de DAINEs pode causar nefropatia analgésica, que compreende nefrite crónica e necrose
papilar renal.
Alterações Hematológicas - Principalmente bloqueio da agregação plaquetária, por causa da
inibição da síntese de tromboxanos. Outras alterações que podem ocorrer: anemia aplá-sica,
trombocitopenias, leucopenias, agranu-locitoses.
Lesão à Cartilagem Articular - Aspirina, indometacina, ibuprofeno e naproxeno podem causar
aumento na degeneração da cartilagem em razão da diminuição da síntese de glicosami-noglicanos na
articulação afetada.
Fígado - Podem ocorrer lesões hepáticas, principalmente quando houver comprometimento renal
associado.
Reações de Hipersensibilidades - Em pacientes suscetíveis, principalmente com a aspirina (ácido
acetilsalicílico).

CLASSIFICAÇÃODASDAINEs

As DAINEs podem ser classificadas de acordo com a estrutura química em três grupos:
Ácidos Carboxílicos - Salicilatos (ácido acetilsalicílico, salicilato de sódio); ácidos propiôni-cos
(naproxeno, ibuprofeno, carprofeno, cetopro-feno, vedaprofeno); ácidos acéticos (diclofenaco); ácidos
antranílicos (ácido meclofenâmico, ácido tolfenâmico); ácidos aminonicotínicos (flunixim meglumine);
ácidos indol (indometacina).
Ácidos Enólicos - Pirazolônicos (fenilbuta-zona, dipirona); oxicans (piroxicam, meloxicam).
Sulfonalídeos - Nimesulida.
Outros - Benzidamina, acetaminofeno (para-cetamol), celecoxib, dimetilsufóxido (DMSO), gli-
cosaminoglicanos.
As principais indicações, dosagens e apresentações das DAINEs utilizadas na Medicina Veterinária
estão descritas na tabela 7.5.

Salicilatos
O efeito medicinal da casca do salgueiro era conhecido por diversas culturas através dos séculos.
Em 1829, Leroux isolou, pela primeira vez em sua forma pura, um ingrediente ativo da casca do
salgueiro, denominado salicina, um glico-sídeo amargo que, mediante hidrólise, produz glicose e
álcool salicílico, este último pode ser convertido em ácido salicílico. A produção sintética deste ácido foi
realizada em 1860 por Kolbe e Lautemann. Hoffman, um químico a serviço da Bayer, foi o primeiro a
preparar o ácido acetilsalicílico com base no trabalho inicial de Gerhardt em 1853. Após a demonstração
de seus efeitos antiinflamatórios, o composto foi introduzido por Dresser em 1899, com a denominação
de aspirina para o uso na Medicina.
Ácido Acetilsalicílico (Aspirina®(H),
AAS®(H)) - É o antiinflamatório mais importante deste grupo. É analgésico, antitérmico e antiin-
flamatório, com fraca ação antiespasmódica. Possui ação trombolítica pela inibição da agregação
plaquetária. Em altas doses pode provocar quadros de acidose metabólica que, conjuntamente com o
efeito antitrombótico, pode levar ao aumento de tempo de sangramento. Este efeito ocorre em
consequência da acetilação irreversível da COX, que não permite a síntese de tromboxanos. O gato
metaboliza o ácido acetilsalicílico de maneira prolongada em razão de seu sistema microssomal hepático
não metabolizar rapidamente drogas que primariamente exigem conjugação com o ácido glicurônico para
detoxicação e excreção. A aspirina é conjugada pela transferência do ácido glicurônico uridinodifosfato
através da glicuroniltransferase nos microssomos hepáticos. A glicuroniltransferase ocorre na maioria dos
mamíferos, com exceção do gato. Desta maneira, nesta espécie, o intervalo entre doses da aspirina é
maior (48/48 horas).
Salicilato de Sódio - Tem pouco uso na Medicina Veterinária.
Ácido Salicílico - É restrito à aplicação tópica por ser extremamente irritante à mucosa gástrica. Sua
ação é querotolítica e antifúngica.
110 \\anual de Terapêutica Veterinária

Ácidos Propiônicos
Naproxeno (Flanax®(H), Naprosyn®(H>) - É
aprovado para uso em equinos como droga an-tiinflamatória, analgésica e antipirética, cuja ati-vidade
se assemelha aos salicilatos. Em cães não é indicada, pois tem um efeito ulcerôgenico importante,
principalmente, em decorrência da meia-vida nesta espécie ser em torno de 35 a 74 horas, que pode
estar relacionado ao ciclo êntero-hepático. Já foram relatados casos fatais de uso de naproxeno em cães.
Ibuprofeno (AdvÜ®(H), ArtriP(H)) - Foi a
primeira substância do grupo a ser desenvolvida. Inibe a COX-1 e a COX-2 na mesma proporção e de
forma irreversível. É muito utilizada em humanos para tratamento de osteoartrites, porém seu uso em
animais ainda é restrito, sendo que possui uma baixa margem de segurança em cães, por causa da
longa meia-vida da droga nesta espécie.
Carprofeno (Rymadil®(v)) - É utilizado como antiinflamatório, analgésico e antipirético em cães,
principalmente no tratamento de osteoartrites. É um inibidor seletivo COX-2 apresentando uma razão
COX-2/COX-1 de l, com meia-vida em torno dei 8 horas em cães e 10,7 horas em gatos em média.
Em bovinos é em torno de 30 horas e em equinos 22 horas. Possui menos efeitos colaterais gástricos e
renais. Recentemente fofam relatados casos de hepa-totoxicidade eraVães.
Cetoprofeno o^ Ketoprofeno (Profenid®(H)
Ketofen®^) - É aprovado para uso em cães e gatos como antiinflamatório, analgésico e antipirético,
principalmente no tratamento de osteoartrites. Inibe a cicloxigenase e a lipoxigenase, apesar de esta última
ação ainda não estar totalmente comprovada. Possui uma meia-vida em cães em torno de 4 horas e em
gatos de 1,1 hora.
Vedaprofeno (Quadrisol 5®(v)) - Recentemente lançado, pode ser administrado em fêmeas
gestantes e lactentes. Possui mínimos efeitos adversos gastrintestinais e é indicado para o tratamento de
dores leves a moderadas e em procedimentos ortopédicos. Sua apresentação também é diferenciada,
sendo em forma de gel palatável para administração oral em cães.
Ácidos Acéticos
O diclofenaco potássico (Cataflan®(H)) e o sódico (Voltaren®(H)) são bastante utilizados na Medicina
Humana com alta potência antiinflama-tória e analgésica. Promovem inibição da cicloxigenase e
lipoxigenase. Em cães podem causar grave gastrenterite hemorrágica, não devendo ser utilizado nesta
espécie. Em bovinos e bubalinos têm sido utilizados experimentalmente na dose l mg/kg, IM.

Ácidos Antramïicos
O ácido meclofenâmico e o ácido mefenâmico (Ponstan®(H)) são os mais utilizados deste grupo. São
indicados em cães no alívio da dor em displasia coxofemoral, em cavalos no tratamento de osteoartrites e
inflamações de tecidos moles e no controle de anafilaxia.

Ácidos Aminonicotínicos
O flunixim meglumine (Banamine®(v)) é um potente analgésico, antiinflamatório e antipirético
utilizado em cães, gatos, equinos, bovinos e suínos. Do ponto de vista analgésico, é considerado mais
potente que a fenilbutazona, pentazocina e meperidina. É indicado no tratamento de processos
inflamatórios e dolorosos associados a distúrbios musculoesqueléticos. Utiliza-se para aliviar a dor em
cólicas equinas. Tem sido usado no tratamento do choque séptico por via IV. É bastante efetivo no
tratamento emergencial da uveíte por via IV, e no pré e pós-operatório de cirurgias oftálmicas. Em cães
e gatos, o período de tratamento não deve ultrapassar 3 dias, em razão do potencial risco de gastrite e
gastrenterite hemorrágica.

Ácidos Indol
A indometacina (Indocid®(H)) não é aprovada pelo FDA para uso em animais. É um dos inibidores
mais potentes da cicloxigenase, possuindo em média 1.000 vezes mais a potência antiinflamatória e 20
vezes mais a potência antipirética da fenilbutazona. Possui uma razão alta COX-2/COX-1 em torno de
60, o que lhe confere uma baixa margem de segurança. É altamente tóxica para a maioria dos animais
e, principalmente, para cães e gatos, em consequência da gastrenterite hemorrágica grave que
provoca. Isto também se deve em parte ao ciclo êntero-hepático da droga que ocorre nessas espécies.
Outros efeitos colaterais são: anemia he-molítica, hepatite e icterícia.

Pirazolônicos
Fenilbutazona (Butazolidina®(H)) - É um
antiinflamatório potente utilizado em distúrbios musculoesqueléticos, osteoartrites, laminite e in-
flamações de tecidos moles em equinos e bovinos. Apesar de ser aprovado para uso em cães, deve-se
evitar o uso de fenilbutazona nesta espécie, por causa de graves efeitos colaterais que provoca, como
distúrbios gastrintestinais, discra-sias sanguíneas, hepatotoxicidade e nefropatias. É contra-indicada em
animais com insuficiência cardíaca, hepática ou renal.
Dipirona (Novalgina®(HXV)) - A dipirona é um analgésico, antipirético e antiespasmódico com fraca
ação antiinflamatória. Isto se deve provavelmente à sua baixa ligação às proteínas plas-máticas, o que
conseqüentemente diminui sua concentração no local inflamado. Tem sido bastante utilizada em
equinos no alívio da dor na cólica e outros quadros de hipermotilidade gastrintestinal em animais de
grande e pequeno porte. É também usada em associação com hioscina (antiespasmódico) (Buscopan
Composto, p, aumentando o efeito antiespasmódico da dipirona. Os efeitos colaterais incluem
agranulocitose, leu-copenia e convulsões. Pode provocar hipoter-mia grave quando associado a
clorpromazina. A administração IM pode provocar reação local e formação de abscessos. Não deve ser
utilizada em animais para consumo humano.

Oxicans
Piroxicam (Feldene®(H)) - O piroxicam é um potente antiinflamatório, analgésico e antipirético.
Possui uma elevada razão COX-2/COX-1, o que lhe confere uma baixa margem de segurança. É utilizado
em cães e equinos nos distúrbios musculoesqueléticos, osteoartrite e no alívio da dor após trauma
agudo ou após intervenção cirúrgica. Os efeitos colaterais são inúmeros, e os cães são especialmente
sensíveis, e incluem gastrites, úlceras gástricas e gastrenterites hemorrágicas.
Meloxicam (Movatec®(H)) - Atualmente, junto com o celecoxib, é considerado um dos mais
seguros antiinflamatórios não-esteróides, por ser mais seletivo COX-2, sendo sua razão COX-
2/COX-1 em torno de 0,8 (Mitchell et ai., 1993), produzindo menos efeitos colaterais gástricos e
renais. É um potente inibidor de prostaglandinas e tromboxanos, além de aparentemente ter uma
ação condroprotetora. Em recente trabalho desenvolvido pela autora com a análise histopatológica
de estômago, rins e fígado de 20 cães, divididos aleatoriamente em dois grupos com 10 animais
cada, sendo o grupo A administrado com meloxicam na dose 0,2 mg/kg, VO, 24/24 horas, durante
7 dias, e o grupo B a mesma dose, porém durante 14 dias. Os resultados demonstraram que o
meloxicam não induziu nenhuma alteração significativa nos órgãos coletados, demonstrando
ser seguro no protocolo de 0,2 mg/kg, VO, 24/24 horas por até 14 dias de tratamento. Forsyth et ai.
(1998), em estudo da mucosa gastroduodenal através de endoscopia em cães que receberam
carprofeno, meloxicam e ketoprofeno em protocolos terapêuticos que variaram de 7 a 28 dias,
demonstram que o carprofeno induziu lesões graves menores, apesar de que não houve
diferença estatística significante (p 0,05) entr e as três drogas testadas. As incidências das lesões
aumentaram a partir do sétimo dia.

Nimesulida (Scaflam®(H); Nisulid®(H)) - É


um antiinflamatório não-esteróide seletivo COX-2 muito utilizado na pediatria humana. Vem sendo usado
experimentalmente em cães e gatos na dose de 0,7 a 7 mg/kg, VO, 24/24 horas. Aparentemente produz
menos efeitos em nível gástrico e renal. Possui também ação sobre as meta-loproteínas, sendo indicado
no tratamento de osteoartrites em cães.

Benzidamina (Benflogin®(H)) - Também é um antiinflamatório não-esteróide seletivo COX-2 muito


utilizado na pediatria humana. Vem sendo utilizado experimentalmente em cães e gatos na dose de 0,3 a
3 mg/kg, VO, 24/24 horas. Também é utilizado topicamente. Aparentemente produz menos efeitos
gástricos e renais.
Acetaminofeno ou Paracetamol (Tyie-noP^p - É um analgésico e antipirético com fraca ação
antiinflamatória. Esta ação pode ser explicada em virtude do paracetamol ser um fraco inibidor tanto
COX-1 quanto COX-2, e sua atividade analgésica e antipirética pode ser em razão de um efeito sobre
uma isoenzima COX específica do SNC. É pouco utilizado na Medicina Veterinária e é contra-indicado
em gatos, causando intoxicação grave com risco de vida. O tratamento desta intoxicação consiste na
administração de acetilcisteína (Fluimucil®(H)) na dose de 70 mg/kg, VO, 4 vezes por dia. Um outro
esquema terapêutico consiste numa dose inicial de 140 mg/kg, VO, seguida de uma dose de 70 mg/kg,
VO, a cada 6 horas até que se obtenha regressão do quadro. Os efeitos colaterais são vómitos, anemia
hemolítica, necrose hepática, hipoxia, cianose e icterícia.

Celecoxib (Celebra®(H)) - É o mais recente antiinflamatório não-esteróide seletivo COX-2 lançado no


Brasil. É utilizado na Medicina Humana com excelentes resultados antiinflamatórios e analgésicos, com
poucos efeitos colaterais. Ainda há poucos estudos em animais.

Dimetilsufóxido (DMSO) (Dimesol®(v)) -


Antiinflamatório de uso tópico em equinos e cães para redução de edema e inflamação em lesões
traumáticas ou otites. O seu uso IV é indicado em equinos para diminuir a pressão intracraniana e
edema cerebral. Suas ações incluem: eliminação de radicais livres, estabilização de membranas,
analgesia, elevação do fluxo sanguíneo local e aumento da introdução de outras drogas sobre a pele. Os
efeitos adversos são: edema, eritema, desidratação cutânea, alopecia no local de aplicação, prurido
(causado pela liberação de histamina), hipotensão. A pessoa que manipula o produto deve usar luva.

Glicosaminoglicanos (Condroton® (v); Rumalon®(H:)) - Os glicosaminoglicanos são utilizados


como antiinflamatórios em artropatias por melhorarem a mobilidade da articulação e a ressíntese
cartilaginosa. São usados em equinos e cães. Podem provocar reações de hipersensibi-lidade em
pacientes suscetíveis.
FLUIDOTERAPIAE
TRANSFUSÃOSANGUÍNEA
Hélio Autran de Morais
António Cezar de Oliveira Dearo
Patrícia Mendes Pereira
Peter Reichmann

FLUIDOTERAPIA EM ANIMAIS DE PEQUENO PORTE


Hélio Autran de Morais

DISTRIBUIÇÃO DAÁGUACORPÓREAE ELETRÓLITOS

A fluidoterapia é geralmente necessária para a correção da desidratação ou manutenção da hidratação


em pacientes que não estão se alimentando ou bebendo água. A fluidoterapia pode também ser utilizada
para manutenção do acesso vascular para administração de medicamentos ou durante a cirurgia ou para
preservação da função renal em pacientes anestesiados. Desequilíbrios hidroeletrolíticos ocorrem em
várias situações clínicas em animais domésticos. A água e os eletró-litos desempenham um importante
papel na manutenção das funções orgânicas e a correção desses desequilíbrios é vital para o sucesso do
tratamento. Um exemplo desse conceito pode ser observado em um cavalo portador de intenso des-
conforto abdominal agudo que requer tratamento cirúrgico, mas que também teve perdas graves de fluidos
e eletrólitos. Nesta situação, a não correção ou a correção inadequada dos desequilíbrios
hidroeletrolíticos pode resultar no óbito do paciente, antes mesmo do início da cirurgia. A fluidoterapia,
deve preceder a cirurgia nestes casos.
Nas espécies domésticas, aproximadamente 60% do peso corpóreo no adulto e 80% no neonato
consistem de água que se encontra em constante movimento entre os compartimentos intracelulares (IC) e
extracelulares (EC). O compartimento IC possui dois terços da água corpórea (40% do peso vivo),
enquanto o compartimento EC possui o terço restante (20% do peso vivo). O líquido extracelular (LEC) é
distribuído pelo compartimento plasmático (5%), intersticial (14%) e transcelular (1%). O líquido
transcelular é representado pela água nas vias digestória e urinária, liquor, humor aquoso, cavidade
peritoneal e líquido sinovial. Em herbívoros, especialmente em grandes ruminantes, a água contida no
sistema digestório pode corresponder até 10 a 15% do peso corpóreo.
O constante movimento da água entre os compartimentos é decorrente do gradiente os-mótico
existente entre os dois lados da membrana celular. Em outras palavras, esse movimento é determinado
pelo número de partículas osmoti-camente ativas entre um lado e outro da membrana. Os principais
íons responsáveis pela os-molaridade no LEC são o Na* e o Cl" e no líquido intracelular (LIC) são o K+ e
os íons de fósforo. Alterações no equilíbrio hídrico entre os compartimentos podem ocorrer por
diminuição da ingestão, aumento das perdas de fluidos ou ainda de uma combinação desses fatores.
Alterações de volume em um dos compartimentos
478 Manual de Terapêutica Veterinária

podem modificar a pressão e a osmolaridade neste compartimento. Quando isto ocorre, há re-
distribuição de água entre os compartimentos. Por exemplo, quando ocorre perda água do LEC, a
concentração de sódio no LEC aumentará, elevando a pressão osmótica no LEC e favorecendo o
movimento de água do LIC para o LEC até que se estabeleça um novo equilíbrio osmótico.
Líquidos são normalmente perdidos pelo organismo pelas fezes e urina e repostos por meio da
ingestão de água, da água presente na comida e da água metabólica gerada pela oxidação tissular de
nutrientes. As perdas sensíveis (urina) correspondem a cerca de 20 a 40 ml/kg/dia, enquanto as perdas
insensíveis (fezes, respiração e transpiração) chegam a cerca de 20 ml/kg/dia. Portanto, em condições
normais, um animal perde, diariamente, cerca de 50 ml/kg/dia (ou 5% do peso vivo) de água corporal.
Esta perda diária é suprida por ingestão de igual quantidade de água. Em animais normais, o balanço
hídrico diário é zero (perdas = ingestão). Desidratação acontece sempre que as perdas diárias excedam
o aporte de água para o organismo (perdas > ingestão ou balanço hídrico negativo). A desidratação
pode ocorrer por hipodipsia (diminuição do acesso à água, alterações neurológicas ou doenças
sistémicas que impeçam o animal de beber) ou, mais comumente, por aumento das perdas. Aumento
das perdas pode ser em virtude da poliúria, vómito, diarreia, febre, sudorese (equinos), queimaduras
extensas e perdas para o terceiro espaço (por exemplo, ascite).
A desidratação é classificada de acordo com a tonicidade do fluido que permanece no organismo
após a perda de água e eletrólitos em: hipotônica, hipertônica e isotônica. As manifestações clínicas de
desidratação irão variar de acordo com o tipo de desidratação, sendo mais graves na desidratação
hipotônica. Desidratação hipotônica acontece quando há perda de sal maior que de água, levando à
hiponatriemia. Ocorre uma transposição de água EC para o espaço IC que levam à diminuição severa
do volume circulante e sinais clínicos mais evidentes de desidratação. Hematócrito e proteínas totais
aumentam pela grande perda de líquido extracelular. A desidratação isotônica ocorre quando a perda de
sal é proporcional à de água. A concentração de sódio permanece normal, não havendo transposição de
água entre o espaço EC e IC. Hematócrito e proteínas totais permanecem normais. Desidratação
hipertônica acontece quando há perda de água maior que a de sal, levando à hipernatriemia. Há
transposição de água IC para o espaço EC. A migração de líquidos de dentro das células para o espaço
EC minimiza os sinais clínicos de desidratação. Hematócrito e proteínas totais estão minimamente
alterados.

FLUIDOTERAPIAEM AMIMAIS DE COMPANHIA

Como Avaliar a Desidratação?


A fluidoterapia é feita em animais de companhia, principalmente para correção da desidratação. As
principais causas de desidratação em cães e gatos estão descritas no quadro 19.1. O primeiro passo na
avaliação de um paciente desidratado é estimar a gravidade das perdas hídricas por meio da história e
do exame físico. Histórico de vómito, diarreia ou outras causas potenciais de perda de água podem
indicar a presença de desidratação. O método mais preciso para o cálculo da desidratação é o
conhecimento do peso do animal antes de ficar desidratado. Infelizmente, esta informação não é
conhecida na maioria dos casos. A desidratação pode ser estimada clinicamente avaliando-se a
elasticidade da pele, o tempo de refluxo capilar e as mucosas (Tabela 19.1). Como a elasticidade da pele é
determinada pela gordura subcutânea, a desidratação pode ser subestimada em pacientes gordos e
superestimada em pacientes caquéticos. Aumento nas proteínas totais (exceto em animais
hipoproteinêmicos) e hematócrito (exceto em animais anêmicos) também podem ser usados para
estimar a gravidade da desidratação, especialmente nos pacientes com desidratação hipotônica. Em
animais desidratados, os rins conservam água em uma tentativa de preservarem o volume extracelular.
Conse-qüentemente, a densidade urinária costuma estar alta (> 1.035 em animais de pequeno porte).
Presença de isostenúria (densidade urinária entre 1.008 e 1.025) em um animal desidratado, sugere que
perda de água pêlos rins é a causa da desidratação. A maior parte dos animais nesta situação tem
insuficiência renal, embora pacientes com hipoadrenocorticismo, hiperadrenocorticismo, piometra e
hipercalcemia, ou que estejam recebendo diuréticos, corticosteróides ou flui-doterapia, também possam
apresentar desidratação e isostenúria concomitantes.
Fluidoíerapia e Transfusão Sanguínea 479

QUADRO 19.1 - Causas de desidratação hlpotônica, isotônica e hipertônica em animais de companhia


1) Hipotônica
a) Perda de fluido hipertônico diuréticos peritonite pancreatite uroabdome
b) Perda de fluido isotônico com reposição de água diarreia hemorragia hipoadrenocorticismo
2) Isotônica
a) Perda de fluido isotônico vómito diarreia hemorragia hipoadrenocorticismo
3) Hipertônica
a) Perda de fluidos hipotônicos vómito diarreia
diabetes melito insuficiência renal queimaduras
b) Perda de água diabetes insípido febre diminuição da ingestão de água

TABELA 19.1 - Estimativa clínica do grau de desidratação em animais de companhia


Sinais clínicos
Perda
Grau de
de água
desidratação
aproximada
Não aparente Indetectável.

5 a 7% Diminuição da elasticidade da pele, mucosas secas.


Leve
8 a 9% Pequeno aumento no tempo de refluxo capilar, "enoftalmos", maior perda da elasticidade da pele.
Grave
10 a 12% Pele não retorna, aumento no tempo de refluxo capilar, sinais de choque?
Moderada

Choque hipovolêmico.
Choque 12 a 15%

Quais Fluidos Podem ser Usados?


Os fluidos administrados clinicamente podem ser divididos em cristalóides, colóides e outros.
Cristalóides são soluções que contêm solutos ele-trolíticos e não eletrolíticos capazes de penetrar em
todos os compartimentos corporais (por exemplo: Ringer com lactato, solução fisiológica de cloreto de
sódio a 0,9%, glicose a 5%). Colóides são soluções com substâncias de alto peso molecular que se mantêm
exclusivamente no plasma (por exemplo: plasma, dextran, etc.). Outros fluidos são aqueles utilizados em
situações especiais e incluem sangue, seus derivados e substitutos (por exemplo oxiglobina) e soluções
para nutrição parenteral total. Cristalóides são mais baratos sendo os fluidos de escolha para
reidratação na maioria dos pacientes. Colóides são mais eficazes durante situações de emergência e em
pacientes com hipoproteinemia grave.
Os cristalóides são divididos em cristalóides de manutenção e de reposição. Fluidos de manutenção
são utilizados para repor as perdas diárias de fluidos hipotônicos e eletrólitos. A concentração de
eletrólitos nestes fluidos (sódio e cloro = 40 a 60 mEq/1, potássio 15 a 30 mEq/1) é muito diferente da
do plasma. Já os cristalóides de reposição têm concentração de eletrólitos similar a do plasma (por
exemplo: Ringer com lactato) (Tabela 19.2). Cristalóides de reposição podem ser utilizados para
manutenção em animais com função renal normal, desde que seja adicionado potássio ao fluido.
Algumas soluções podem ser adicionadas ao fluido administrado para compensar deficiências do
fluido ou do paciente. Potássio na forma de KC1 é utilizado para prevenir hipocale-mia. As
necessidades de manutenção de potássio são aproximadamente 15 a 30 mEq/1. A solução fisiológica
de NaCl 0,9% tem O mEq/1, enquanto o Ringer com lactato tem 4 mEq/1. Conseqüentemente, todos
os pacientes recebendo fluidoterapia que não tenham hiperca-lemia, devem ser suplementados com
KC1 diluído no fluido. Quinze ml de KC1 a 10% fornecem 20 mEq de potássio (aproximadamente
480 Manual de Terapêutica Veterinária

TABELA Í9.2- Composição iônica, osmolaridade e tonicidade das principais soluções utilizadas em Medicina
Veterinária
Solução Ringer Ringer NaCl 0,9% Glicose 5% Glicofisio- NaHCO} NaCl 7,5% Plasma
com lógica 5%
lactato

Na* (mEq/1) 130 147,5 154 0 154 600 1.200 136 a 145

K* 4 4 0 0 0 0 0 2,8 a 4,7
(mEq/1)

ci- 110 156 154 0 154 0 1.200 98 a 108


(mEq/1)
Ca" (mEq/1) 3 4,5 0 0 0 0 0 5,5 a 6,5

Mg" (mEq/1) 0 0 0 0 0 0 0 1,4 a 2,2

HCO3- 28 lactato 0 0 0 0 600 0 24 a 30


(mEq/1)
Osm 272 310 308 253 560 1.200 2.400 270 a 300
(mOsm/1)
Tonicidade Isotônica Isotônico Isotônica Isotônica Hipertônica Hipertônica Hipertônica Isotônico
Glicose 0 0 0 50 50 0 0 i
(g/D

Calorias/1 0 0 0 170 170 0 0 -


1,3 mEq/ml). Para obtenção de uma solução com 15 mEq/1 de potássio são necessários cerca de 10 ml
de KCl a 10% por litro de Ringer com lactato e cerca de 12 ml de KCl a 10% por litro de solução de
NaCl a 0,9%. Cálcio na forma de gluconato ou cloreto de cálcio é recomendado para pacientes com
hipocalcemia sintomática, enquanto bicarbonato de sódio é utilizado em pacientes com acidose
metabólica. Deve-se evitar o uso de bicarbonato e sais de cálcio no mesmo frasco para que a solução
não precipite. O fluido a ser administrado para um paciente desidratado deve ser similar em composição
e volume ao fluido perdido (Quadro 19-2). Em caso de dúvida, Ringer com lactato é uma excelente
escolha, exceto naqueles pacientes com vómito agudo de conteúdo estomacal, com níveis circulantes
altos de lactato (acidemia láctica, choque hipovolêmico) ou que não podem metabolizar o lactato
(insuficiência hepática ou linfossarcoma). Nestes últimos, a solução de cloreto de sódio a 0,9% é a
solução de escolha. Glicose a 5% é uma fonte de água. A glicose administrada é metabolizada pelas
células, restando apenas água. Con-seqüentemente, glicose a 5% é uma fonte de água e não de caloria
utilizada em pacientes com hi-pernatremia. Ela propicia apenas 15% das necessidades calóricas de
manutenção e não ajuda se utilizada como fonte única de calorias para pacientes "que não estão se
alimentando". Glicose a 5% também pode ser administrada a pacientes que apresentam alto-risco de
desenvolver hipo-glicemia (por exemplo: pacientes com insulino-mas ou com risco para choque séptico
como cães com parvo virose). Independentemente do fluido escolhido, a suplementação com potássio é
imperativa em todos os pacientes não hipercalêmicos.

Como Administrar os Fluidos?


Os fluidos podem ser administrados por via intravenosa, oral, subcutânea ou intra-óssea. Embora
exista uma boa absorção de fluidos por via intraperitoneal, esta via não é utilizada pelo risco de
peritonite iatrogênica. A via intravenosa é a mais indicada em pacientes muito doen-
Fluidolerapia e Transfusão Sanguínea 481

QUADRO 19.2 - Escolha empírica do fluido a ser administrado, baseado no problema primário.
Problema Tipo mais provável de Outras anormalidades Fluidos de primeira
desidratação escolha
Anorexia Isotônica Hipocalemia? Ringer com lactato Solução
de NaCl 0,9%
Choque hipovolêmico Isotônica Acidose lática Solução de NaCl 0,9%
Diabetes melito Hipertônica Acidose, hipocalemia, hipofosfatemia Ringer com lactato Solução
de NaCl 0,9% (choque)

Diarreia Isotônica ou hipertônica Hiponatremia?, acidose? Ringer com lactato Solução


de NaCl 0,9%
Hipoadrenocorticismo Isotônica ou hipertônica Hipercalemia, hiponatremia Solução de NaCl 0,9%
Insuficiência hepática Isotônica ou hipertônica Glicofisiológica Solução de
(vómito) NaCl 0,9%
Insuficiência renal Isotônica ou hipertônica Acidose Ringer com lactato Solução
(vómito) de NaCl 0,9%
Linfossarcoma Isotônica ou hipertônica Acidose lática? Solução de NaCl 0,9%
Obstrução uretral Isotônica ou hipertônica Hipercalemia, Acidose Solução de NaCl 0,9%

Vómito com conteúdo Isotônica ou hipertônica Hipocalemia, acidose Ringer com lactato Solução
intestinal (bile) de NaCl 0,9%
Vómito de conteúdo Isotônica ou hipertônica Hipocalemia, hipocloremia, alcalose Solução de NaCl 0,9%
estomacal (primeiras 24 horas) Ringer com lactato

tes, com desidratação grave ou com perda aguda de fluidos, sendo a via de eleição em situações
emergenciais (pacientes que necessitem rápida expansão do volume circulante). A via intravenosa
permite infusão diretamente no espaço intravascular de doses precisas rapidamente. As principais
complicações desta via são: trombose, flebite, infecções, embolismo e hiper-hidratação. As veias mais
utilizadas são as cefálicas, safenas e jugulares, embora outras veias também possam ser utilizadas em
situações excepcionais. A via intra-óssea propicia uma excelente alternativa à via intravenosa em
animais de pequeno porte ou muito jovens, pacientes com trombose ou vasos colapsados. Para todos
os efeitos práticos, fluidos administrados por via intra-óssea caem diretamente na corrente sanguínea.
Conseqüentemente, as vantagens da via intravenosa também se aplicam à intra-óssea. A via intra-óssea
é particularmente útil em pacientes muito desidratados, porque a medula óssea não colapsa com a
desidratação. Os locais mais utilizados para a administração intra-óssea são: tuberosidade da tíbia,
fossa trocantérica do fémur, asa do íleo e tubérculo maior do úmero. As principais complicações,
embora raras, são: osteomielite e dor.
A via subcutânea é prática e barata em cães de pequeno porte e gatos. Não pode ser usada em
pacientes com vasoconstrição periférica (muito desidratados, hipotérmicos ou hipoten-sos), pois a
vasoconstrição vai limitar a absorção de fluido do espaço subcutâneo. Se o fluido administrado ainda
estiver no espaço subcutâneo seis horas após administrado, outra via deveria ter sido usada. É
necessário um período de equilíbrio para que soluções administradas por esta via sejam absorvidas.
Fluidos sem ele-trólitos (por exemplo: glicose 5%) não devem ser utilizados, porque primeiro eles
retirarão ele-trólitos do líquido extracelular, agravando alterações preexistentes. Soluções hípertônicas
não devem ser utilizadas por via subcutânea em virtude do risco de necrose. Soluções com mais de 35
mEq/1 de potássio causam dor e desconforto quando administradas por via subcutânea. A via
482 Manual de Terapêutica Veterinária

oral é a via mais fisiológica e deve ser utilizada em todos os pacientes que não estão vomitando,
mesmo naqueles que estão recebendo fluidos por outras rotas. Qualquer fluido pode ser administrado
desta forma, sendo a via ideal para soluções hipertônicas ou com alto teor calórico. Não deve ser a
única forma de administração de fluidos em pacientes muito desidratados.

Como Administrar Fluidos por Via Intravenosa?


A administração de fluidos por via intravenosa deve ser feita por meio de cateteres. Os três tipos
principais de cateteres são: agulhados (scalps), veia periférica e veia central. Os cateteres agulhados
(diâmetro 19 a 25 G) são úteis para administração de soluções por um prazo curto (algumas horas).
Não podem ser usados por períodos maiores, pois apresentam um alto-risco de punção do vaso e
saem da veia facilmente por serem curtos. Cateteres agulhados também tendem a causar flebite por
dano direto ao endo-télio. Os cateteres de veia periférica são ideais para canulação de veias periféricas
para procedimentos rápidos ou fluidoterapia por até 72 horas. Apresentam um alto risco de trombose e
infecção, embora menor que o os cateteres agulhados. Em alguns animais, o fluxo pode ser
interrompido quando o animal flexiona o cotovelo. Nestes casos, é necessário a colocação de uma tala
para evitar o fluxo posicionai. Cateteres de diâmetro 20 a 24 G são usados em gatos e cães com
menos de 5 kg, cateteres 22 a 18 G em cães com peso entre 5 e 15 kg e cateteres 20 ou 18 G em cães
com mais de 15 kg. Em situações emergenciais como ressuscitação ou choque, os cateteres maiores
devem ser usados. Os cateteres de veia central são ideais para a canulação de veias centrais, permitindo
a infusão de grandes volumes a velocidades rápidas, a administração de soluções hipertônicas ou
viscosas, a retirada de sangue e a medição de pressão venosa central. A principal veia central utilizada é
a jugular. Cateteres de diâmetro 22 G são usados em gatos e cães com menos de 5 kg, cateteres 22 a 19
G em cães com peso entre 5 e 15 kg e cateteres 19 a 16 G em cães com mais de 15 kg. Em situações
emergenciais, os cateteres maiores devem ser usados. Como o cateter central é introduzido pelo interior
da agulha, o diâmetro das agulhas de cateteres centrais é maior que o diâmetro do cateter.
A escolha da veia a ser utilizada para fluidoterapia depende da experiência do clínico, da acessibilidade
da veia, do risco de contaminação (por exemplo, evitar áreas com lesão de pele) e da possibilidade de
dano ao cateter pelo paciente. Veias centrais são mais indicadas em pacientes que necessitem retirada de
sangue frequente (por exemplo, cetoacidóticos), que estejam recebendo soluções viscosas ou hipertônicas,
ou pacientes que necessitem infusão rápida de grandes volumes (por exemplo, choque hipovolêmico)
(Quadro 19.3).
Cateteres são uma das maiores fontes de infecção hospitalar e devem ser colocados após preparação
cirúrgica do local. Eles devem ser inspecio-nados pelo menos três vezes ao dia e ter a bandagem trocada a
cada 48 horas. Os cateteres não devem permanecer na veia por mais de 72 horas por causa do alto-risco de
flebite e infecção. Todos os cateteres que não estejam recebendo fluidos devem ser irrigados a cada seis
horas com solução fisiológica heparinizada.

Qual a Velocidade Ideal para Administrar os Fluidos?


A velocidade de administração é ditada pela rapidez e gravidade das perdas. Quanto mais rápidas e
graves forem as perdas, mais rápido o déficit deverá ser reposto. Pacientes em choque hipovolêmico, que
não estão sendo monitorados com

QUADRO 19.3 - Veias recomendadas para fluidoterapia intravenosa em animais de companhia*


• Soluções hipertônicas ou viscosas => veia central
• Infusão rápida de volumes grandes => veia central
• Vómito => veias centrais ou dos membros posteriores
• Diarreia => veias centrais ou dos membros anteriores
• Poliúria => veias centrais ou dos membros anteriores
• Anemia auto-imune ou vasculite => veias periféricas
• Tromboembolismo aórtico => veias centrais ou dos
membros anteriores
• Torção de estômago => veias centrais ou dos membros anteriores
* FAUDSKAR, L.S.; MORAIS, H.S.A. Routes of fluid adminis-tration: Indications, contraindications, techniques, and complications.
In: BONAGURA, J.D. Kirk's Current Veteri-nary Therapy XIII. 13.ed. Philadelphia, WB Saunders, pp. 61-5, 2000. Com permissão.

F/uidoterapia e Transfusão Sanguínea 483

pressão venosa central, podem receber até um volume circulante por hora. Isto equivale a cerca de 90
ml/kg/h no cão e 55 ml/kg/h no gato. Pacientes nefropatas, cardiopatas e com alterações consideráveis
na concentração de sódio têm chances maiores de desenvolver complicações decorrentes da
fluidoterapia, especialmente quando da administração rápida. Fluidos contendo potássio não podem ser
administrados a uma taxa maior que 0,5 mEq/kg/h de potássio. Em pacientes com desidratação grave,
porém não em choque hipovolêmico, é tradicional iniciar-se com uma "dose de ataque" (30 a 100% do
déficit estimado) nas primeiras três a seis horas e após retornar à velocidade normal para reposição
das perdas. Em pacientes com desidratação leve ou aparente, o déficit estimado pode ser administrado
em 24 horas. Em casos de desidratação moderada, pode-se utilizar ou não a dose de ataque,
dependendo do paciente.
A velocidade de administração de fluidos é controlada pelo uso de equipos ou bombas de
infusão. Com o uso de bombas de infusão, basta apenas programá-la e ela administrará a quantidade
estipulada por hora. Já com equipos, é necessário que se saiba quantas gotas têm em l ml do equipo em
questão. Equipos para adultos (macrométricos), em geral, têm 0,07 a 0,1 ml por gota (10 a 15 gotas por
ml), enquanto equipos pediátricos (micrométricos), geralmente têm de 0,017 a 0,02 ml por gota (50 a
60 gotas por ml). Sabendo-se o total a ser administrado por dia, pode ser calculado o número de gotas
por minuto para a regulagem da frequência de gotejamen-to. Por exemplo, quantos mililitros por
minuto terão que ser administrados em um paciente para que ao final de 24 horas ele receba 600 ml? O
primeiro passo, nestes casos, é calcular a quantidade de fluidos necessária por hora (total diário dividido
por 24 horas ou 600 ml H- 24 h = 25 ml/h). Para obter-se o total por minuto, basta dividir o total por hora
por 60 minutos (25 ml ^ 60 min = 0.4 ml/min). Utilizando-se um equipo adulto, em que cada gota tem
0,1 ml, este paciente necessitaria 4 gotas por minuto, ou uma gota a cada 15 segundos. Em muitos
equipos, l gota a cada 15 segundos é uma frequência de gotejamento muito lenta para permitir a
regulagem precisa. Nestes casos, é preferível trocar por um equipo pediátrico. Em um equipo com 0,02
ml por gota, 0,4 ml correspondem a 25 gotas por minuto. Isto resulta em aproximadamente l gota a cada
2 segundos.
Como Calcular o Total de Fluidos a Ser Administrado em 24 Horas?
A quantidade de fluidos a ser administrada em 24 horas deve ser suficiente para corrigir a
desidratação inicial, suprir as necessidades de manutenção (= 5% do peso vivo) e compensar as perdas
concomitantes (por exemplo: vómito, diarreia, poliúria).
As necessidades de manutenção de água são aquelas requeridas para a reposição de perdas fi-
siológicas diárias. Estas perdas são proporcionais às necessidades calóricas diárias de manutenção do
animal. Simplificadamente, considera-se que as necessidades de manutenção são de cerca de 40
ml/kg/dia em cães de grande porte e de cerca de 60 ml/kg/dia em cães de pequeno porte e gatos.
Filhotes têm necessidades de manutenção maiores que os adultos (60 a 100 ml/kg/dia). Em animais de
grande porte, as necessidades de manutenção são estimadas entre 50 a 100 ml/kg/dia, utilizando-se os
valores inferiores para animais adultos e os superiores para animais jovens.
A quantidade de fluido necessária para corre-ção da desidratação inicial é calculada multiplicando-se
o peso do animal (kg) pela porcentagem de desidratação. Deve-se somar a isto a quantidade de água que o
animal deverá perder nas 24 horas subsequentes (manutenção ou aproximadamente 5% do peso) e um
volume extra para as perdas concomitantes. Por exemplo, em um cão de 10 kg e desidratação de 10%, a
quantidade de fluidos necessária para as primeiras 24 horas será de:
Desidratação: 10 kg x 10% = l kg = l l
Manutenção: 10 kg x 5% = 0,5 kg = 500 ml
Perdas
concomitantes: valor estimado
Total: 1.500 ml de fluidos a serem
administrados em 24 horas.
Um método alternativo, para determinação da quantidade de fluido a cer administrado em 24 horas,
consiste em calcular-se o volume total como um múltiplo da taxa de manutenção (40 a 60 ml/kg).
Pacientes com desidratação leve (5 a 7%) recebem em torno de 1,5 vezes a taxa de manutenção (75
ml/kg/dia), pacientes com desidratação moderada (8 a 9%) recebem 2 ?, 2,5 vezes a taxa de manutenção
(100 a 125 ml/kg/dia), enquanto pacientes com desidratação grave (10 a 12%) recebem três vezes a taxa
de manutenção (150 ml/kg/dia). Pacientes com mais de 12% de
484 Manual de Terapêutica Veterinária

desidratação devem ser tratados para choque hi- atividade podem ser usados subjetivamente para
povolêmico. Usando-se o mesmo exemplo ante- avaliar a eficácia da reidratacao. Pressão venosa
rior de um cão com 10 kg e 10% de desidratação, central pode ser utilizada em pacientes recebendo
administra-se três vezes a taxa de manutenção ou grandes quantidades de fluidos em um período
150 ml/kg/dia multiplicados por 10 kg = 1.500 ml/ muito curto de tempo (por exemplo, choque
dia. Embora os resultados sejam similares com as hipovolêmico).
duas fórmulas, deve-se lembrar que este valor é
uma estimativa. Reavaliação do paciente a in- Por que Alguns Pacientes São
tervalos fixos é necessária para se certificar de Difíceis de se Reidratar?
que ele está sendo de fato reidratado. Calcular o
peso é uma maneira fácil e confiável de avaliar as Algumas alterações clínicas dificultam a
alterações na quantidade de fluidos em um reidratacao do paciente. Pacientes com insufi-
paciente. Se o peso é conhecido e o paciente não ciência renal poliúrica podem perder quantida-
está se alimentando, variações no peso indicam des muito altas de líquido pêlos rins. Nestes
alterações na quantidade de água. Um paciente casos, é necessário aumentar a quantidade de
desidratado que não ganha peso continua fluido administrado, caso o animal não esteja
desidratado. Os déficits de líquidos, manutenção e ganhando peso. Em pacientes com hipernatre-
perdas concomitantes devem ser avaliados dia- mia, a hiperosmolaridade mantém o fluido nos
riamente e a quantidade calculada deve ser ad- vasos impedindo a sua migração para o espaço
ministrada nas 24 horas subsequentes. intracelular. O fluido que permanece nos vasos é
A fluidoterapia deve ser monitorada para evitar excretado pêlos rins, dificultando a hidratação
a hiper-hidratação ou que o paciente não receba do paciente.
fluidos em quantidade suficiente para manter a Alguns pacientes se tornam difíceis de rei-
hidratação. Pacientes oligúricos ou com problemas dratar em consequência de falhas no seu manejo.
cardíacos devem ter um monitoramento mais A persistência da desidratação por erro de
intenso em virtude do alto-risco de hiper-hi- manejo pode ocorrer por erro matemático, pro-
dratação. Pacientes como insuficiência renal ou blemas mecânicos ou falha na avaliação do pa-
hipernatremia demoram mais para ser hidratados. ciente. As principais causas de persistência de
Além do peso corporal, a melhora clínica do desidratação e os passos a serem tomados para
animal e com recuperação da consciência e sua correção estão no quadro 19.4.

QUADRO T9.4 - Principais erros de manejo que dificultam a reidratacao

Problema Causa Passos para correção

Erro matemático Erro no cálculo do volume diário. Tabelas com volume e velocidade de
Problemas administração.
mecânicos Erro no cálculo da velocidade de
Erro na avaliação administração. Equipo errado.
do paciente Bomba não funciona. Confira o equipo.
Verifique a
Fluxo posicionai. Obstrução do cateter.
bomba.
Administração muito rápida.
Mantenha o membro do animal em extensão.
Demora na troca de frascos. Verifique a patência do cateter.
Marque em cada frasco, a hora em que deve
Erro no cálculo da desidratação. Perdas
terminar. Registre as trocas
insensíveis subestimadas (febre e taquipnéia).
de frascos.
Perdas sensíveis subestimadas. Perdas
concomitantes subestimadas. Reavalie o paciente.
Monitore o paciente.
Aumente o volume de
fluidos.
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 485

Quais Problemas Podem Advir da Administração de Fluidos?


As principais complicações iatrogênicas relacionadas à administração de fluidos são o ex-
travasamento subcutâneo, a hiper-hidratação e desequilíbrios eletrolíticos. Extravasamento de fluidos
ocorre quando o fluido é administrado por via subcutânea e se caracteriza por um aumento súbito de
volume do membro ou pescoço. Deve-se descartar a presença de infecção e trocar imediatamente o
cateter. Medidas que ajudam a prevenir a administração subcutânea de fluidos incluem a monitoração
constante do paciente, o ajuste da pressão de injeção e do alarme da bomba de infusão para que o
alarme soe quando o cateter sair da veia e a não utilização de cateteres agulhados para procedimentos
com mais de três horas de duração.
Hiper-hidratação ocorre quando a administração de fluido está acima do necessário para correção
da desidratação e da capacidade do organismo de excretar este fluido excedente. É uma complicação
muito rara em animais com funções renal e cardiovascular normais. Casos leves de hiper-hidratação são
assintomáticos, mas todo o acúmulo de líquido deve ser considerado suspeito. Os principais sinais de
hiper-hidratação são o surgimento de edema subcutâneo, quemose, ascite, efusão pleural e taquipnéia.
Pacientes com alterações cardíacas no lado esquerdo ou bilateral (por exemplo, endocardiose de mitral,
car-diomiopatia dilatada ou hipertrófica) têm tendência a desenvolver edema pulmonar, com dispneia e
aparecimento de crepitações pulmonares. Pacientes com hiper-hidratação devem ser tratados como
emergências. Deve-se suspender tudo o que está sendo administrado por via intravenosa e iniciar a
administração de furosemida para aumentar a excreção renal de líquidos. Em casos refratários pode ser
necessário diálise ou flebotomia.
Alterações eletrolíticas podem acontecer por causa da fluidoterapia. Hipocalemia ocorre sempre que
não há suplementação de potássio nos fluidos, pois as necessidades de potássio excedem em muito a
concentração de potássio nos fluidos mais usados. Além disso, a reidratação aumenta o fluxo tubular
renal, elevando a excreção renal de potássio. Existe também uma tendência ao desenvolvimento de
hipercloremia em pacientes recebendo Ringer com lactato ou solução de cloreto de sódio a 0,9%.
Felizmente, esta
hipercloremia raramente é sintomática. Hipernatremia pode ocorrer com o uso de soluções hipertônicas
à base de sódio, enquanto hiponatremia pode acontecer quando se administram fluidos pobres em
sódio (por exemplo: glicose a 5%). Hipofosfatemia é comum em pacientes com cetoacidose diabética e
pode levar à anemia hemolítica. Para evitar os distúrbios eletrolíticos oriundos da fluidoterapia, deve-
se antecipar as complicações que podem ocorrer em virtude de fluido escolhido, suplementação ou
doença primária. O paciente deve ser monitorado e tratado assim que a alteração eletrolítica iniciar.
Que Outras Complicações
Podem Ocorrer com o Paciente
Recebendo Fluidos?
Sangramento, embolismo por ar, coágulos ou fragmentos do cateter, trombose local, flebite e
infecção pelo cateter são problemas que podem ocorrer com o paciente durante a fluidoterapia.
Sangramento em cateteres venosos são geralmente autolimitantes, exceto em pacientes com coa-
gulopatias. De qualquer forma, é imperativo a monitoração do paciente recebendo fluidoterapia.
Embolismo por ar pode acontecer durante a colocação do cateter ou pela presença de ar no equipo.
Embolismo por trombos, em geral, acontecem quando se tenta desobstruir o cateter. Cateteres
obstruídos devem ser trocados. Êmbolos tendem a parar na circulação pulmonar e podem, em
casos mais graves, levar a angústia respiratória. Flebite ocorre quando há inflamação da veia por
problemas mecânicos, químicos ou infecciosos. A flebite é importante para o clínico porque o
animal pode apresentar prurido e tende a morder ou coçar o local. Flebite por problemas mecânicos
acontecem por movimentação do cateter ou do membro ou pelo uso de cateteres rígidos
(agulhados). Para prevenir o dano mecânico, deve-se sempre usar o menor cateter possível, o mais
flexível, na maior veia possível, longe de articulações. Substâncias irritantes podem causar flebite
química e, portanto, somente devem ser administradas em veias centrais, após diluídas. Outra
causa importante de flebite é a infecção. O cateter é uma das maiores fontes de infecção hospitalar
em hospitais humanos e veterinários podendo a infecção variar de flebite local
486 Manual de Terapêutica Veterinária

até a septicemia. A contaminação pode ocorrer durante a colocação do cateter ou por meio da migração
de bactérias da pele. Os organismos mais comumente isolados de infecção pelo cateter são as
enterobactérias e bactérias do género Staphylococcus. As principais medidas preventivas para evitar a
infecção pelo cateter estão descritas no quadro 19.5. Sempre que houver suspeita de infecção pelo
cateter, deve-se agir imediatamente procedendo-se a limpeza e fazer anti-sepsia local, removendo-se o
cateter de forma estéril e submetendo sua ponta para cultura e antibiograma. Um cateter suspeito deve
sempre ser trocado e não deve jamais permanecer na veia. Em todo o paciente hospitalizado que apre-
sentar febre, o cateter é o culpado até que se prove o contrário.

Como Concluir a Fluidoterapia?


A fluidoterapia deve ser concluída quando a causa da desidratação for corrigida e o paciente estiver
ingerindo água e alimentos em quantidade suficiente para manter-se hidratado. Deve-se observar algumas
regras básicas para evitar complicações. O volume de fluidos administrado deve ser reduzido
gradualmente (24 a 48 horas). Isto é especialmente importante em pacientes com problemas renais, cujo os
rins não são capazes de se adaptar a mudanças súbitas no volume circulante. Pode-se iniciar administração
de fluidos por via subcutânea próximo ao término da reidratação. Isto diminui os custos e os cuidados
de enferma-

QUADRO 19.5 - Medidas para prevenir a infecção por cateter


Colocação asséptica
Tricotomia radical Anti-sepsia cirúrgica Técnica estéril
Monitoramento
Inspeção do local BID
Troca de bandagem a cada 48 horas
Outras medidas
Minimize:
- a desconexão do equipo
- a retirada de sangue pelo cateter
- a administração de drogas pelo cateter
NUNCA deixe o cateter no vaso por mais de 72 horas
gem para manutenção do cateter, além de reduzir a incidência de complicações. A administração oral de
fluidos deve começar durante a fluidoterapia. A maioria dos pacientes continua ingerindo água durante a
fluidoterapia. A administração de água facilita a transição na fase final da reidratação, além de diminuir as
chances de desenvolvimentos de complicações como a hipernatremia.

FLUIDOTERAPIA EM ANIMAIS DE GRANDE PORTE


António Cezar de Oliveira Dearo

Em animais de grande porte, as condições clínicas mais comuns que requerem fluidoterapia são
diarreias, choque, síndrome cólica, desidratação após exercícios físicos extenuantes sob condições
climáticas adversas (por exemplo, endu-ro equestre), ruptura de bexiga em potros, desequilíbrios
metabólicos, obstrução ou ruptura esofágica e doenças renais.
A maneira mais adequada de se determinar a necessidade e, ao mesmo tempo, elaborar o plano de
reposição hidroeletrolítica é obtendo informações precisas na anamnese, no exame físico e, quando
disponível, nas provas laboratoriais. Principalmente sob condições de campo, onde exames
laboratoriais podem não estar disponíveis, o conhecimento prévio da fisiopatolo-gia inerente às mais
variadas doenças é de fundamental importância para a elaboração de um plano de reposição
hidroeletrolítica lógico e adequado. O tempo de evolução da doença, quantidade e frequência dos
episódios de perdas hi-droeletrolíticas (por exemplo: diarreia, refluxo gastrintestinal colhido por sonda
nasogástrica), ingestão de alimentos, micção, tratamentos efe-tuados, drogas, doses, intervalos de
aplicação, disponibilidade, qualidade e ingestão da água oferecida permitem obter uma noção
preliminar acerca da gravidade de possíveis desequilíbrios. Um exemplo comum até os dias de hoje, e
que exemplifica a importância da anamnese, é o uso inadequado de diuréticos (furosemida) adminis-
trados por leigos a cavalos com cólica. Como a desidratação e a hipovolemia são, muitas vezes, as
responsáveis diretas pela morte do animal, a perda de mais líquidos induzida pela terapia diurética
agrava ainda mais o problema.
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea
487

A severidade dos sinais clínicos varia com a tela. É importante que o VG e a PPT sejam
gravidade da desidratação, podendo incluir analisados conjuntamente, pois, em algumas
perda de peso, aumento da frequência situações, a interpretação isolada desses
cardíaca e do tempo de refluxo capilar, perda valores pode resultar em erro. A estimulação
de elasticidade cutânea, ressecamento das simpática causada por condições de estresse ou
mucosas, diminuição da pressão arterial e da excitação pode provocar a contração esplénica
pressão de pulso, distensibilidade jugular com liberação na circulação de mais hemácias.
diminuída ou retardada, diminuição da Nessas circunstâncias, há aumento do VG não
temperatura nas extremidades e redução da por perda fluida, mas, sim, pelo aumento do
produção de urina. Porém, é interessante número hemácias não indicando, portanto,
ressaltar que, em situações clínicas em que a desidratação. Em situações clínicas em que há
perda hídrica não é acompanhada de perdas perda de proteínas associada a alterações
eletrolíticas, o animal pode não apresentar gastrintestinais (por exemplo: colite, peritonite)
sinais de desidratação, mas, mesmo assim, ou diminuição da produção decorrente de
estar desidratado. Na prática, isso pode ser problemas hepáticos, as proteínas plasmáticas
notado em animais que não se alimentam e podem apresentar-se diminuídas. Nessas si-
não ingerem água o que leva a desidratação tuações, a PPT perde seu valor como
hipertônica. Na desidratação hipertônica, o indicador de desidratação. Em potros e
LIC é deslocado para o compartimento EC, bezerros neonatos, os valores de VG e PPT são
mantendo a volemia e minimizando os sinais muito variáveis não sendo, portanto,
clínicos. indicadores fidedignos de desidratação.
Clinicamente, a desidratação pode ser Perdas hídricas podem suceder-se sem
subje-tivamente classificada em leve, moderada que ocorram perdas eletrolíticas. Porém, a
e grave de acordo com a rigorosidade dos sinais. grande maioria dos desequilíbrios hídricos é
Contudo, deve-se ter em mente que perdas acompanhada por desequilíbrios eletrolíticos e
líquidas inferiores a 5% do peso corpóreo não ácidos-bási-cos de graus variados.
apresentam manifestações clínicas. Em termos
práticos isso significa que nenhum sinal de
desidratação vai ocorrer em um cavalo adulto, Qual Fluido Deve Ser Utilizado?
pesando 450 kg, até que aproximadamente 20 Tanto colóides como cristalóides podem
litros de fluidos tenham sido perdidos. A tabela ser utilizados. Colóides são substâncias de alto
19.3 mostra os diferentes graus de peso molecular que, ao serem administradas,
desidratação em função de algumas alterações aumentam a pressão coloidosmótica
clínicas e laboratoriais. Deve-se ressaltar que intravascular e, com isso, estimulam a passagem
esses valores devem ser tomados apenas como de fluido do interstício para o plasma. O
guia geral e não como valores absolutos. dextran 70 e o plasma são os exemplos mais
O volume globular (VG) ou hematócrito e comuns de colóides sintéticos e naturais,
a concentração de proteínas plasmáticas totais respectivamente. Por questões de custo e pela
(PPT) são as duas mensurações laboratoriais possibilidade da ocorrência de efeitos colaterais
mais frequentemente utilizadas para se avaliar associados à administração de colóides
o grau de desidratação. A elevação desses sintéticos, o uso dessas substâncias é extrema-
índices é indicativo de perda hídrica. Outras mente restrito. O plasma é indicado
determinações como a ureia e a creatinina principalmente em potros ou bezerros que não
séricas também podem ser empregadas com ingeriram de forma adequada o colostro e, por
essa finalidade, porém todos esses índices isso, apresentam falha na transferência da
devem ser interpretados com cau- imunidade passiva.
TABELA 19.3 - Estimativa clínica do grau de desidratação em animais de grande porte
Desidratação Classificação . Turgor cutâneo TPC (segundos) VG PPT
(%) (segundos) (%) (g/dl)

5 a 7 8a 10 > 10 Leve Moderada Grave 2 a 3 3 a 5 >5 1 a2 4 0 a 50 50 a 65 6,5 a 7,5 7,5 a 8,5


2 a4 >4 >65 >8,5
488 Manual de Terapêutica Veterinária

O plasma também pode ser utilizado quando a PPT encontrar-se abaixo de 4 g/dl em virtude de perdas
contínuas existentes ou por hemodilui-ção decorrente da fluidoterapia prolongada com cristalóides.
Os cristalóides são as soluções mais amplamente empregadas em Medicina Veterinária. De maneira
geral, são utilizadas quando se objetiva a correção de alterações de volume, eletrólitos e do equilíbrio
ácido-básico. A composição iônica das principais soluções usadas atualmente pode ser verificada na
tabela 19.2. O uso de cristalóides deve, preferencialmente, ser baseado nas análises laboratoriais dos
eletrólitos séricos e gases sanguíneos, do pH e do conhecimento da tonicidade da solução a ser
empregada. Entretanto, em razão da indisponibilidade de parte desses recursos para a grande maioria
dos profissionais, o bom senso embasado no conhecimento preliminar dos tipos de desequilíbrios, mais
comumente relacionados à situação clínica em questão, é que determinará a escolha da solução mais
adequada.
A solução de Ringer com lactato é a que apresenta composição mais próxima à do plasma. É a
solução empregada na maioria dos pacientes como fonte inicial e emergencial de reposição
hidroeletrolítica até que as análises laboratoriais possam direcionar melhor a fluidoterapia. Deve ser
utilizada nas perdas de fluidos e eletrólitos acompanhadas de acidose metabólica. O lactato presente na
solução é transformado em bicarbonato após metabolização hepática. É importante ressaltar, contudo,
que distúrbios hepáticos intrínsecos ou estados de deficiência circulatória portal podem reduzir a
biotransformação de lactato em bicarbonato e, com isso, reduzir o potencial alcalinizante da solução.
A solução de cloreto de sódio a 0,9% deve ser empregada quando houver hipercalemia, hi-
ponatremia, hipocloremia e alcalose metabólica. As situações clínicas mais comuns que requerem o uso
de NaCl 0,9% são a ruptura de bexiga em potros e a desidratação após exercícios físicos extenuantes
com grandes perdas hidroeletrolíticas por meio do suor. A hipercalemia observada em potros com ruptura
de bexiga contra-indica o uso de soluções contendo potássio, como, por exemplo, a solução de Ringer ou
Ringer com lactato. A sudorese intensa observada em equinos submetidos a provas de longas distâncias
com predomínio de metabolismo aeróbio (por exemplo:
enduro) e promovidas notadamente, em dias de altas temperaturas, determina urna grande deple-ção das
reservas hidroeletrolíticas. Nessas situações, as perdas hídricas podem alcançar valores superiores a 40
litros durante a prova. Grandes quantidades de sódio, cloreto, potássio, cálcio e magnésio são perdidas
pelo suor, entretanto, os íons sódio e cloreto são aqueles perdidos em maior quantidade. A perda
excessiva de cloreto determina a mobilização de grandes quantidades de bicarbonato pelo organismo,
resultando, dessa forma, em um quadro de alcalose metabólica hipoclorêmica.
A solução de glicose a 5% deve ser empregada em casos de hipoglicemia ou de desequilíbrios
primariamente hídricos e não-eletrolíticos, ou seja, nos quais a desidratação é hipertônica. Na prática,
isso pode ser encontrado em animais que não estejam se alimentando nem ingerindo água e apresentem
hipernatremia. Situações clínicas envolvendo déficits tanto hidroeletrolíticos como energéticos são mais
adequadamente corrigidas pelo uso de soluções eletrolíticas balanceadas, como Ringer com lactato,
acrescidas de glicose a 20%.
O bicarbonato de sódio é usado para correção da acidose metabólica grave com pH inferior a 7,2
ou com déficit de base superior a 10 mEq/1. Na acidose metabólica de menor gravidade, a correção da
perfusão tecidual por meio de administração de soluções eletrolíticas, como Ringer com lactato,
associada à correção da causa primária, costuma corrigir o desequilíbrio ácido-básico. Sua administração
deve ser cuidadosa e com base nos valores da hemogasometria, pois a administração em excesso pode
provocar alcalose metabólica de difícil reversibilidade e depressão respiratória.
A solução hipertônica de cloreto de sódio a 7,5% (2.400 mOsm/1), utilizada em situações
emergenciais em pacientes com choque hipovo-lêmico ou séptico, vem ganhando considerável espaço
na Medicina Veterinária nos últimos anos. Por ser uma solução hipertônica, promove a trans-locação de
fluidos do interstício para o plasma, aumentando, dessa forma, o volume circulante. Há melhora no
rendimento cardíaco, pressão arterial, fluxo plasmático renal e diminuição na resistência vascular
periférica e pulmonar. A solução hipertônica de NaCl a 7,5% deve ser utilizada somente em situações
emergenciais em que é
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 489

necessária rápida expansão do volume circulante. A rápida expansão volêmica permite a manutenção
temporária das funções orgânicas até que medidas para correção da causa primária do choque sejam
tomadas. O uso de soluções hipertô-nicas em pacientes com hemorragia grave, que não possa ser
controlada por meio das manobras usuais de hemostasia, é contra-indicado. É importante lembrar que
os efeitos destas soluções são temporários, com duração entre 90 e 120 minutos, e que a continuidade
da expansão volêmica por meio de soluções eletrolíticas após a administração de NaCl a 7,5% é
condição indispensável para a correção do desequilíbrio circulatório e hídrico.

Quantidade de Fluidos e Vias de Administração


O plano de reposição hidroeletrolítica deve incluir não só a escolha da solução mais adequada como
também sua quantidade, via de administração e velocidade de reposição. Enquanto situações
emergenciais com grandes déficits de volume requerem a administração rápida de grandes quantidades de
fluidos nas fases iniciais, situações menos críticas determinam abordagem menos agressiva. O volume
total de líquido a ser administrado deve incluir a quantidade de fluidos perdida pela desidratação e as
necessidades diárias de manutenção. O déficit de fluido perdido pode ser calculado multiplicando-se a
porcentagem estimada de desidratação pelo peso do animal em kg. Já as necessidades de manutenção
são variáveis de acordo com a idade, ativida-de e temperatura ambiente. Animais jovens possuem
maiores necessidades de manutenção em relação a animais adultos. De forma geral emprega-se a
quantidade de 50 a 100 ml/kg/dia, utilizando-se os valores inferiores para animais adultos e os
superiores para animais jovens. Imaginando-se como exemplo um cavalo de 400 kg, portador de cólica e
que apresenta um grau de desidratação clínica estimada em 8%, o seguinte cálculo deve ser realizado
para se determinar a quantidade total de fluidos a ser administrada num período de 24 horas:
Volume total = % desidratação x peso (kg) +
manutenção
Volume total = (8% x 400) + (50 x 400) Volume total = 32 + 20 = 52 litros
Tomando-se, agora, como exemplo um bezerro de 50 kg, portador de diarreia e desidratação clínica
estimada em 10%, tem-se:
Volume total (10% x 50) + (100 x 50) 5 + 5 = 10 litros
Volume total
Em animais de grande porte, as vias mais comuns utilizadas para a administração
de fluidos são oral e intravenosa. Outras vias como in-traperitoneal e retal podem ser empregadas apenas
em casos específicos. A via subcutânea não é utilizada em animais de grande porte, porque o espaço
subcutâneo não comporta o grande volume necessário nestas espécies. A via oral é, sem dúvida
nenhuma, a mais segura. Além de permitir a administração de grandes volumes de líquidos e eletrólitos,
ela tem custo baixo. Entretanto, para que possa ser utilizada é necessário que as funções de transporte e
absorção intestinais não estejam comprometidas, como é o caso de cavalos com cólica que apresentam
grandes quantidades de refluxo pela sonda nasogástrica. Na prática, a via oral é mais utilizada em
situações clínicas de desidratação, decorrentes de exercícios físicos, anorexia e cólica em equinos pro-
vocada por compactação do cólon maior. Pode também ser utilizada em bezerros com diarreia. Em
equinos, a administração é realizada por meio de sonda nasogástrica e a quantidade não deve ser superior
a 6 a 8 litros a cada 30 a 60 minutos em animais adultos. Em bovinos e ruminantes de pequeno porte,
utiliza-se uma sonda orogástri-ca, a qual é introduzida por meio de um guia de sonda metálico em forma
de cilindro posicionado na cavidade oral. Preferencialmente devem ser administradas soluções hipotônicas
ou isotônicas.
A via intravenosa é a via de eleição para a fluidoterapia na grande maioria das situações clínicas,
principalmente, quando se deseja a administração de grandes volumes e de forma rápida. Nos últimos
anos, inúmeros problemas relativos ao uso prolongado da via intravenosa em animais de grande porte,
notadamente, no que diz respeito à "manutenção da veia", puderam ser solucionados pelo uso de
cateteres intravenosos. A principal vantagem de sua utilização reside na manutenção prolongada do
acesso intravenoso, suprimindo dessa forma, a necessidade de repetidas e inconvenientes venopunções
que, em última análise, são as principais responsáveis por danos vasculares extensos e muitas vezes
irre-
490 Manual de Terapêutica Veterinária

versíveis. A escolha do cateter mais adequado deve levar em consideração o porte do animal, a
velocidade de administração, o custo e a capacidade trombogênica do cateter, determinada fun-
damentalmente pelo seu diâmetro e material de fabricação. Materiais como silicone e poliuretano são
os que apresentam menor atividade trombogênica. Os cateteres mais usados em animais de grande porte
são os de diâmetro 14 g e 16 g. Sempre que possível deve-se utilizar o cateter de menor diâmetro, pois
quanto menor o trauma vascular, menores serão as chances de ocorrência de complicações. O
conhecimento da maneira correta de introdução e manutenção do cateter são essenciais para a
minimização dos danos vasculares e a maximização do tempo de uso do cateter. A introdução deve ser
realizada de forma asséptica mediante o uso de luvas estéreis e rigorosa tricotomia e anti-sepsia do
local. O sentido de introdução deve, preferencialmente, seguir a direção do fluxo sanguíneo. A prévia
inje-ção subcutânea de 0,5 a l ml de lidocaína no local de perfuração facilita a manobra, especialmente
em animais inquietos ou de difícil temperamento. Após a venopunção inicial realizada pela extremidade do
cateter e verificada pela presença de sangue no bulbo do mandril, deve-se manter o mandril imóvel e
deslizar apenas o cateter para o interior da veia mantendo-se o mandril apenas como guia. Após a
remoção do mandril, deve-se acoplar ao cateter o tubo extensor (Ex-tensofix 60 cm - Laboratório B.
Braun S.A.) já conectado ao equipo. A fixação do cateter é melhor realizada, por meio de suturas de
fixação do tubo extensor à pele em dois únicos pontos intervalados por l a 2 cm, sendo o primeiro apli-
cado imediatamente atrás da conexão em rosca do tubo extensor ao cateter. Terminada a fluido-terapia,
deve-se heparinizar todo o conjunto (cateter e tubo extensor) tomando-se o cuidado de não permitir a
entrada de ar no sistema. A extremidade livre do tubo extensor pode ser presa à crina do cavalo quando
a veia utilizada for a jugular. Outras veias como a torácica lateral, cefálica e safena podem ser utilizadas,
porém são de maior dificuldade quanto à manutenção. A obstrução do cateter, que muitas vezes decorre
da coagulação do sangue no interior do conjunto, pode ser evitada mediante a "lavagem" de todo o
sistema com uma solução heparinizada (10 UI heparina/ml de solução salina) a cada seis horas.
Caso ocorra a obstrução, remover o cateter e reintroduzi-lo, de preferência, numa outra veia. O tempo
de permanência do cateter é variável. De maneira geral, nenhum cateter deve permanecer posicionado
na mesma veia por mais de 72 horas. Caso haja a necessidade do novo acesso intravenoso, cateterizar
outra veia. Todo o conjunto deve ser inspecionado periodicamente e, na presença de sinais locais,
como hipertermia, aumento de volume e sensibilidade dolorosa, deve-se remover o cateter
imediatamente. A observação rigorosa às normas de higiene e anti-sepsia, relativas não só a introdução,
como também a todo o período de manutenção do cateter, é condição indispensável para a se evitar a
ocorrência de tromboflebites e septicemias.
A velocidade de administração de fluidos depende da severidade das alterações clínicas. De
modo geral, a velocidade máxima não deve ultrapassar 10 a 20 ml/kg/h, entretanto, em situações
críticas de grandes déficits hídricos, velocidades superiores podem ser necessárias nas primeiras horas.
Velocidades maiores podem ser obtidas com o uso de bombas de infusão. Velocidades de administração
muito rápidas podem provocar diurese pela rápida expansão plasmáti-ca sem, contudo, permitir a
difusão do fluido administrado para outros compartimentos que, seguramente, apresentam déficits de
volume.
Inúmeras situações envolvendo desequilíbrios hidroeletrolíticos, como diarreias graves, sequestro de
fluidos no sistema digestório em cavalos portadores de cólicas obstrutivas e em animais que não
estejam se alimentando, se caracterizam por deficiências de potássio em diferentes graus. Considerando
que o potássio é o principal íon responsável pelo equilíbrio osmótico no LIC e que a hipocalemia
grave pode resultar em distúrbios da condução neuromuscular esquelética e miocárdica, a
suplementação de potássio deve ser instituída nessas situações. No entanto, a administração deve ser
cautelosa uma vez que o excesso pode causar arritmias cardíacas seguidas de parada cardíaca. Como a
maior quantidade do potássio (98%) concentra-se no LIC, a determinação sérica desse íon não
representa com exatidão sua quantidade corpórea total. Mesmo assim esse valor pode servir como um
guia para a reposição de potássio. Situações clínicas em que a concentração sérica ou plasmática de
potássio se encontrar abaixo de 3 mEq/1 ou que o
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 491

cavalo esteja impossibilitado de ingerir alimentos podem ser suplementadas pela adição de potássio às
soluções eletrolíticas na quantidade de 20 a 40 mEq/1 por via IV. A velocidade de administração não
deve exceder a 0,5 mEq/kg/ hora. Caso se considere a via oral, a dose é de 40 g/450 kg, duas vezes ao
dia. Tão logo o animal reassuma a ingestão de fibras os níveis de potássio são prontamente
restabelecidos.
A taxa de infusão venosa de glicose a 5% em equinos não deve ultrapassar a 2 ml/kg/h. Em bovinos ~1
deve-se utilizar uma taxa mais baixa. É importante ressaltar que a rápida administração de soluções
contendo glicose pode ser prejudicial por causar diurese osmótica, desidratação, giicosúria e
hiponatremia. A solução hipertônica de XaCl 7,5% deve ser administrada na dose de 4 a 6 ml/kg por via
IV, durante um período de no mínimo 15 minutos. Sua aplicação deve ser sempre seguida por soluções
eletrolíticas isotônicas.
Tão importante quanto se conhecer as alterações mais comuns de cada situação e saber elaborar
corretamente o plano de reposição hi-droeletrolítica, é a consciência de que a fluidote-rapia induz a
novas mudanças da condição orgânica do paciente a cada instante. Nesse sentido, é de fundamental
importância que toda a estratégia de reposição hidroeletrolítica possa ser revista de forma periódica e
readaptada às novas condições do paciente.

TRANSFUSÃO DE SANGUE E SEUS DERIVADOS


Patrícia Mendes Pereira Peter Reichmann

INTRODUÇÃO

Desde os primeiros relatos de transfusões sngüíneas no século XVII, quando se transfundia sangue
heterólogo na tentativa de se alterar o comportamento de quem o recebia, a medicina «ansfusional tem
evoluído muito. Atualmente, as indicações para a transfusão de sangue total ou de um de seus
componentes são a necessidade do restabelecimento da capacidade de transporte de oxigénio pelo
sangue, deficiências na he-sia, transferência de imunidade passiva e hipoproteinemia ou hipovolemia.
Atualmente, tanto em animais de pequeno porte como de grande porte, de acordo com as indicações
específicas, o objetivo é utilizar preferencialmente os diferentes componentes sanguíneos individual-
mente em substituição ao sangue total.

SANGUE TOTAL E SEUS COMPONENTES

O sangue fresco total é o sangue colhido há no máximo quatro horas. Ele pode ser utilizado
diretamente para transfusões ou a partir dele podem ser obtidas todas as frações descritas a seguir.
Para a colheita podem ser utilizadas, de preferência, bolsas apropriadas contendo anticoa-gulantes
adicionados ou não de fatores nutricio-nais ou preservantes para hemácias. Quando o volume é menor,
o sangue também pode ser colhido em seringas heparinizadas.
Os anticoagulantes mais frequentemente usados são o citrato fosfato dextrose adenina (CPDA-1), o
citrato ácido dextrose (ACD), o citrato de sódio e a heparina. Apenas os dois primeiros (CPDA-1,
ACD) contêm fatores nutricionais para hemácias e, portanto, são os utilizados quando se pretende
estocar o sangue colhido. O sangue colhido com citrato de sódio ou heparina deve ser transfundido
logo após a colheita. O sangue fresco total fornece todos os componentes sanguíneos: hemácias,
leucócitos, plaquetas, plasma e todos os fatores de coagulação e proteínas.
O sangue total estocado é o sangue fresco total colhido com CPDA-1 ou ACD e armazenado à
temperatura de l a 6°C. O CPDA-1 tem propriedades preservativas de hemácias melhores que o ACD,
permitindo a estocagem de sangue total canino por 28 até 35 dias, sangue total equino por 21 a 28 dias
e sangue total bovino por 30 dias. O sangue total estocado pode ser utilizado para fornecer hemácias,
proteínas plas-máticas e fatores de coagulação estáveis como o fibrinogênio.
O sangue fresco total pode ser separado em papa de hemácias e plasma por centrifugação ou
sedimentação. Após a separação, a papa de hemácias deve ser colocada em temperaturas entre l e 6°C,
o mais rápido possível. Deve se fazer uso de solução salina 0,9% para ressuspender as
492 Manual de Terapêutica Veterinária

hemácias, não sendo recomendado nenhum outro tipo de solução.


O sangue total e a papa de hemácias estocados por mais de 14 dias podem conter concentrações de
amónia inaceitáveis para pacientes com doenças hepáticas graves, recomendando-se a utilização de
sangue fresco para transfusão nesses pacientes.
O plasma colhido, separado e armazenado a
-18°C até seis horas após a colheita é chamado de plasma fresco congelado. O congelamento protege os
fatores de coagulação lábeis V e VIII, e portanto o plasma fresco congelado contém todos os fatores de
coagulação, além de todas proteínas plasmáticas e imunoglobulinas (Ig).
Se o sangue total não for processado rapidamente e o plasma for congelado após seis horas da
colheita, ele é chamado de plasma congelado. O plasma congelado conserva concentrações adequadas
apenas dos fatores de coagulação dependentes de vitamina K (II, VII, IX, X) e também de Ig.
O plasma fresco congelado e o plasma congelado mantêm suas características por um a dois anos,
respectivamente, quando armazenados a
-18°C.
O plasma fresco congelado ainda pode ser processado em crioprecipitado e crioplasma pobre. O
crioprecipitado é o precipitado obtido após o descongelamento parcial (a temperaturas entre l e 6°C) do
plasma fresco congelado e contém alta concentração do fator de coagulação VIII, do fator de von
Willebrand e de fibrinogênio. Este componente deve ser mantido a -18°C, tendo assim validade de um
ano após a colheita. Após a preparação do crioprecipitado, o produto restante é chamado de crioplasma
pobre. Este componente contém albumina e imunoglobulinas e também pode ser armazenado por até
um ano a -18°C.
E, ainda, o plasma rico em plaquetas pode ser obtido por centrifugação diferenciada do plasma
fresco. Este deve ser conservado em temperaturas entre 20 e 24°C e sob movimentação constante durante,
no máximo, 5 dias.
Outro componente sanguíneo, o concentrado de granulócitos, referido para uso em seres humanos
e em potros com septicemia, ainda não teve uma aplicação maior na Medicina Veterinária em virtude das
dificuldades de obtenção, preparação e armazenagem.
INDICAÇÕES PARA ATRANSFUSÃO DE SANGUE E SEUS COMPONENTES

As indicações clínicas para transfusão de sangue e seus componentes estão descritas no quadro 19.6.

Indicações para Transfusão de Sangue Total e Papa de Hemácias


O principal objetivo da transfusão de sangue é a recuperação da capacidade de transporte de
oxigénio e da volemia em casos de anemias graves por perda aguda de sangue. Quando a anemia é
decorrente da perda ou destruição apenas de hemácias, sem hipovolemia, é indicada a transfusão de papa
de hemácias. O hematócrito (Ht) determina a necessidade da transfusão, porém os valores-limite
variam conforme a espécie.
Todo cão com Ht abaixo de 10% deve receber transfusão sanguínea para evitar danos aos órgãos
vitais em consequência de a hipoxia grave. A reposição de hemácias também é necessária se o
hematócrito diminuir rapidamente para valores abaixo de 20% no cão e abaixo de 12 a 15% no gato.
Cães e gatos com hematócrito entre 10 e 17%, e que estiverem muito debilitados, também devem
receber suporte transfusional. Quando mais de 30% do volume sanguíneo total é perdido, isto é,
aproximadamente 30 ml/kg no cão e 20 ml/kg no gato, ou em casos de hemorragia aguda com pobre
resposta ao tratamento convencional de choque também se deve recorrer à hemoterapia.
Em animais de grande porte, mais especificamente em equinos, em casos de hemorragia aguda
intensa, um Ht menor que 20% representa um esgotamento de reservas esplénicas de hemácias e indica
necessidade de transfusão. Em casos menos agudos, o valor-limite de Ht indicativo de transfusão é,
dependendo de uma avaliação clínica, 10 a 12% e para casos crónicos o limite é de 7 a 8%.
A transfusão sanguínea em animais deve ser vista como medida terapêutica emergencial e de efeito
limitado e transitório. Isto se deve ao fato de o tempo de vida das hemácias transfundidas ser bastante
curto, principalmente em animais de grande porte: em equinos adultos, dois a seis dias, em bovinos, dois
a três dias, caprinos, 2,4 a 5,1 dias e suínos até duas semanas. Em potros
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 493

QUADRO 19.6 - O uso de sangue e seus componentes de acordo com indicações clínicas*
Indicações Sangue e componentes

Anemia Sangue fresco total.


Sangue total estocado.
Papa de hemácias.
Trombocitopenia Sangue fresco total. Plasma
Trombocitopatia rico em plaquetas.
Coagulopatias Sangue fresco total. Plasma
fresco. Plasma fresco
congelado. Crioprecipitado.
Sangue fresco total.
Isoeritrólise neonatal Sangue total estocado.
Papa de hemácias.
Plasma fresco.
Hipoproteinemia Plasma fresco congelado.
Plasma congelado.
Plasma fresco. Plasma fresco
Falha na transferência de imunidade passiva
congelado. Plasma congelado.
Transferência de imunidade específica
Concentrado de granulócitos.
Septicemia/endotoxemia
Septicemia/endotoxemia
Neutropenia grave

* Explicações mais detalhadas e considerações encontram-se no texto

recém-nascidos a meia-vida de hemácias transfundidas é de três a oito dias. Como em animais de


grande porte, em casos de hemorragias agudas graves, a morte é consequência da hipovole-mia
resultante, e não em virtude da falta de transporte de oxigénio, inicialmente pode ser mais indicado o
tratamento para choque com soluções eletrolíticas iso ou hipertônicas. Em cães, a meia-vida das
hemácias, quando houver compatibilidade sanguínea, é de aproximadamente 21 dias. Já o tempo de
vida de hemácias compatíveis transfundidas em felinos é de 70 dias.
O curto tempo de sobrevivência das hemácias transfundidas também faz com que a indicação de
transfusão em casos de anemias crónicas seja questionável.
A papa de hemácias deve ser usada para reparar deficiências na capacidade de carrear oxigénio e
representa o componente ideal para pacientes com perdas de hemácias agudas (potros com isoeritrólise
neonatal) ou crónicas, porém com volemia normal. Seu uso é especialmenteimportante em pacientes
com problemas renais ou cardíacos, que não toleram sobrecarga circulatória.
Potros recém-nascidos com isoeritrólise neonatal, quando houver dificuldade em se encontrar um
doador compatível, podem ser tratados com papa de hemácias da própria mãe, porém lavada. Para isso,
ressuspende-se a papa de hemácias em solução fisiológica por duas a três vezes, desprezando-se o
sobrenadante após novas sedimentações das hemácias. O inconveniente deste processo é a demora
(várias horas) para se conseguir o produto necessário para um tratamento emergencial.

Indicações para Transfusão de Plasma


Como o plasma fresco ou fresco congelado contém todos os fatores de coagulação, é indicado no
tratamento ou prevenção de sangramento em pacientes com deficiências de múltiplos fatores de
coagulação, como em casos de doenças
494 Manual de Terapêutica Veterinária

hepáticas graves ou de CID. Este componente também deve ser utilizado em casos de distúrbios
hemostáticos congénitos (doença de von Willebrand, hemofilia) ou adquiridos (CID, intoxicação por
varfarina) associados a sangramento grave ou quando esses pacientes necessitam de intervenção
cirúrgica, e em casos de coagulopa-tia dilucional após transfusões maciças.
O plasma fresco ou fresco congelado também tem seu uso indicado em animais de grande porte no
tratamento de patologias que resultam em hi-poproteinemia (<3 g/dl em bovinos, < 4 g/dl em equinos),
quando da necessidade de expansão aguda de volemia, em casos de falha na transferência de imunidade
passiva, ou quando se pretende fornecer imunidade específica em equinos (Rhodococcus equi,
Salmonella typhimurium).
O plasma congelado conserva concentrações adequadas apenas de fatores de coagulação de-
pendentes de vitamina K (II, VII, IX, X) estando, assim, indicado em casos de intoxicação por
varfarina, hipofibrinogenemia e hemofilia B. Outras indicações para o uso deste componente são a
hipoproteinemia e a reposição de IgG em re-cém-nascidos com falha na transferência de imunidade
passiva.
Como em bovinos hemácias e plasma não se separam por sedimentação, mas apenas por
centrifugação, na prática, tem-se utilizado sangue total, mesmo quando apenas o plasma seria o
suficiente.
Na maioria das vezes, o crioprecipitado é usado para tratar cães portadores da doença de von
Willebrand que serão submetidos à cirurgia. Seu uso também está indicado em casos de hemofilia ou de
coagulopatias adquiridas (CID, intoxicação por varfarina) associadas à perda sanguínea aguda, ou
quando estes pacientes serão submetidos à cirurgia.
O crioplasma pobre também é indicado em casos de hipoproteinemia e para reposição de IgG em
recém-nascidos com falha de transferência de imunidade passiva, porém, pela dificuldade de
processamento e obtenção, nestes casos, frequentemente, opta-se pela utilização de plasma fresco ou
congelado.
O uso do plasma rico em plaquetas pode ser indicado em pacientes com trombocitopenia grave,
disfunções plaquetárias congénitas ou adquiridas associadas a sangramento ou em casos em que estes
pacientes serão submetidos a procedimentos cirúrgicos. Nestes casos, pode ser recomendado o uso do
sangue fresco total ou do plasma rico em plaquetas como coadjuvante no tratamento, porém, é
importante lembrar que as plaquetas são rapidamente destruídas após transfusão e que a contagem
plaquetária pós-transfu-são não atinge valores adequados para evitar a continuidade de um sangramento
em andamento. Como o volume de sangue colhido em gatos é pequeno, é difícil fazer o fracionamento
deste, usando-se, então, geralmente, sangue total fresco ou estocado nesta espécie.

COLHEITADO SANGUE

Em animais de pequeno porte, o sangue pode ser colhido da veia jugular ou da artéria femural, e esta
última só deve ser abordada quando o animal estiver sedado. A veia jugular é preferida em virtude de
fácil acesso e ao fato de haver menos problemas com formação de hematomas. Em animais de grande
porte, o sangue é colhido da veia jugular.
O local da punção para colheita de sangue deve ser preparado com tricotomia e anti-sepsia
cirúrgica. A contenção em animais de pequeno porte pode ser em decúbito lateral ou estação, enquanto
animais de grande porte são contidos em estação em local apropriado e, dependendo da índole do
doador, sedados para a colheita.
O sangue pode ser colhido em bolsas plásticas ou frascos de vidro com vácuo, ambos com
anticoagulante. Os frascos de vidro contendo vácuo são menos adequados para a colheita de sangue por
dificultarem a separação dos diferentes componentes sanguíneos e por que provocam hemólise,
agregação plaquetária e inativa-ção dos fatores de coagulação VIII e XIII.
Quando é necessário colher pequenos volumes de sangue de cães, ou principalmente de gatos,
pode-se fazer uso de seringas estéreis com heparina ou CPDA-1, com uma proporção de uma parte de
anticoagulante para nove partes de sangue. Se a heparina for utilizada, o sangue deve ser transfundido
imediatamente após a colheita, pois esta causa agregação plaquetária, inibe fatores de coagulação e não
possui efeitos preservativos de hemácias. A quantidade de heparina necessária em animais de grande
porte é de
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 495

5 U/ml de sangue colhido. Porém, deve-se tomar cuidado com a quantidade total de heparina
administrada ao paciente, pois pode resultar em deficiência de coagulação.
Após a punção e estabelecimento de fluxo de sangue, a bolsa, ou o frasco com vácuo, deve ser
movimentada suavemente com o objetivo de homogeneizar o sangue com o anticoagulante sem causar
hemólise. Para facilitar o fluxo de sangue, a bolsa deve ficar em posição mais baixa que o doador e
deve-se aplicar garrote à veia proximal ao local da punção. A colheita não deve demorar mais que 15
minutos em animais de pequeno porte para se evitar estresse excessivo. Em animais de grande porte,
deve-se utilizar equipamento adequado para que, em razão do grande volume colhido, se evite múltiplas
punções do mesmo vaso. O recomendado é fazer o uso de uma balança para pesar a bolsa constante-
mente durante a colheita, sendo o peso ideal desta, 500 g, com sangue e anticoagulante. Após a colheita
e retirada da agulha deve ser feita compressão da veia jugular durante aproximadamente dois a quatro
minutos.
Para o armazenamento dos componentes sanguíneos deve-se usarfreezer e geladeira exclusivos para o
banco de sangue, com termómetro marcando temperatura máxima e mínima. Além disso, deve-se
respeitar os critérios de temperatura e período de armazenamento de cada componente. Antes de
qualquer componente ser usado, deve-se avaliar cuidadosamente o material para determinar qualquer
alteração que comprometa a segurança ou a eficácia do produto durante e após a transfusão, sendo que
as unidades suspeitas devem ser descartadas.

TIPOS SANGUÍNEOS E ESCOLHADE DOADOR

Foram identificados oito tipos sanguíneos em cães. Estes compreendem os AEC (antígeno
eritrocitário canino) 1.1, 1.2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Os tipos sanguíneos que têm o maior potencial de causar
reações transfusionais são o AEC 1.1, 1.2 e 7, sendo assim, os doadores devem ser negativos para esses
tipos sanguíneos.
Os felinos têm apenas três grupos sanguíneos A, B e AB, porém, ao contrário dos cães, possuem
anticorpos naturais, sendo estes responsáveis por reações transfusionais hemolíticas, podendo ocorrer
reações graves na primeira transfusão ou em filhotes de fêmeas primíparas. Assim, a tipificação
sanguínea e/ou a prova de rea-ção cruzada constituem procedimentos indispensáveis para assegurar a
compatibilidade entre esses animais.
Em equinos, os antígenos sanguíneos estão agrupados em sete sistemas: A, C, D, K, P, Q e U, cada
um possuindo vários subgrupos, o que resulta em mais de 400.000 possibilidades de tipos sanguíneos
diferentes, tornando praticamente impossível uma transfusão sanguínea totalmente compatível. Porém,
apenas os antígenos Aã e Qa são potencialmente imunogênicos. Um doador deve, portanto, não ser
apenas negativo para estes antígenos, como também não possuir anticorpos contra estes (não ter sido
sensibilizado).
Ruminantes têm um número variado de grupos sanguíneos (bovinos pelo menos 13, ovinos sete a
oito, caprinos pelo menos cinco). Independente do número de diferentes grupos sanguíneos em
ruminantes, estes não possuem ou têm poucas hemolisinas circulantes naturalmente e, portanto, uma
primeira transfusão pode ser realizada com riscos menores de ocorrerem reações adversas fatais.
Cuidados devem ser tomados quando de transfusões repetidas, a partir de sete dias da primeira.
Em suínos, existem 15 grupos sanguíneos e estes também possuem poucas aglutininas circulantes
naturalmente. Eventuais reações, mais frequentemente, estão relacionadas ao fator A.
Os doadores caninos devem ter entre l e 8 anos e peso acima de 27 kg. Cães pesando mais de 27
kg podem doar 450 ml de sangue a cada três semanas sem efeitos adversos ou necessidade de
suplementação nutricional. Se estiverem recebendo suplementação nutricional podem doar 22 ml/kg
a cada dez a 21 dias. Os doadores podem ser machos castrados e fêmeas castradas e/ou nulíparas. O
sangue total e o plasma de animais que já estiveram prenhez ou que receberam transfusão sanguínea
prévia não devem ser usados em decorrência da possibilidade de exposição a hemácias estranhas e
subsequente formação de anticorpos. Os doadores são examinados periodicamente e anualmente deve
ser feitos perfil bioquímico, urinálise e sorologia para Brucella canis, Erlichia sp., Dirofilaría immitis,
496 Manual de Terapêutica Veterinária

Borrelia burgdorferi, Babesia sp., dependendo da localização geográfica. Antes de cada doação, é feito exame clínico e
hemograma completo do doador. Cães não apresentam aloanticorpos naturais, então uma primeira transfusão pode
ser realizada com uma certa segurança sem reação cruzada prévia, exceto em casos de anemias imu-nomediadas.
Entretanto, para cães que receberam transfusão há mais de quatro a sete dias deve ser feito, obrigatoriamente, o teste da
reação cruzada antes da próxima transfusão.
Os doadores felinos devem ter entre 2 e 5 anos e peso acima de 4 kg, sendo preferível um peso entre 5 e 7 kg. O
volume sanguíneo máximo a ser colhido em felinos é de 11 a 15 ml/kg, a cada 21 dias. Entretanto, esse volume
representa uma maior porcentagem do volume sanguíneo total dos felinos em comparação à porcentagem do
volume sanguíneo total dos cães. Por esta razão, gatos podem desenvolver hipotensão como reação adversa após a
doação. Quando for preciso sedar esses animais, deve-se escolher sedativos que minimizem a hipotensão. Outra
medida que pode ser tomada é a administração de solução salina intravenosa, em duas a três vezes o volume
sanguíneo colhido. Os doadores podem ser machos castrados e fêmeas nulíparas ou castradas. Anualmente, deve ser
feito perfil bioquímico completo e devem ser testados para dirofilariose, hemobartonelose, vírus da leucemia virai felina
(LVF) e vírus da imunodeficiên-cia virai felina (FIV) e peritonite infecciosa felina (PIF). Os gatos doadores devem ser
regularmente vacinados contra rinotraqueíte, calicivírus, pan-leucopenia, clamídia e raiva.
O comportamento dos doadores caninos e felinos é uma consideração importante, já que a escolha cuidadosa dos
mesmos elimina a necessidade de tranqüilização, diminuindo o tempo da colheita e a relutância dos proprietários em
trazer os animais para serem doadores.
O doador equino idealmente pesa pelo menos 450 kg, é do sexo masculino, castrado ou não, tem valores de Ht e
proteínas plasmaticas normais, é negativo para anemia infecciosa equina e não possui os grupos sanguíneos Aã e Qa
nem anticorpos contra estes. Fêmeas só devem ser consideradas como doadoras se forem nulíparas. Deve-se dar
preferência a indivíduos da mesma linhagem ou raça do receptor, uma vez que, assim, diminuem-se as diferenças
relacionadas aos grupos sanguíneos. Um equino de 500 kg pode doar 6 a 8 litros de sangue, ou 20 a 25% de sua
volemia, ou 1,5 a 2% do seu peso vivo em sangue a cada 30 dias sem sequelas.
Os doadores ruminantes devem ser livres de doenças virais, bacterianas e hemoparasitárias e podem, quando não
gestantes, doar até 20% de sua volemia ou 10 a 15 ml de sangue por kg de peso vivo, a cada duas a quatro semanas
sem respostas adversas. Em ruminantes de pequeno porte, deve-se de preferência escolher doadores maiores, que
conseqüentemente poderão fornecer um volume de sangue maior, evitando-se assim a mistura de sangue de múltiplos
doadores para um mesmo receptor. Principalmente em bovinos, a escolha de animais calmos e sem excessos de
gordura facilita a colheita de sangue.

TESTES DE COMPATIBILIDADE

Para se verificar a compatibilidade entre plasma e hemácias de doadores e receptores, e identificar a presença de
anticorpos preexistentes responsáveis por hemólise ou hemoaglutinação, utiliza-se a prova de reação cruzada (Quadro
19.7).
Esta prova tem como objetivo diminuir o risco de reações transfusionais, principalmente onde a tipificação sanguínea
não é feita. Embora a ocorrência de reações transfusionais imediatas em uma primeira transfusão seja rara, é recomendado
que se faça a prova da reação cruzada antes de qualquer transfusão, principalmente quando a indicação para esta
transfusão são problemas auto-imu-nes. Deve ser obrigatoriamente realizada em pacientes a partir da segunda transfusão.
É importante lembrar que em cães a prova de reação cruzada não identifica incompatibilidade aos grupos AEC 1.1 e 1.2
se não houver sensibilização prévia e não representa um substituto para a tipificação sanguínea. Apenas a prova de
reação cruzada não é suficiente para se determinar definitivamente se há incompatibilidade entre doador e receptor.
Para isso, ainda é necessário testar o sangue com uma fonte exógena de complemento (teste de Coombs com soro de
coelhos).
Há dois tipos de reação cruzada, a maior e a menor. Na reação maior cruzam-se hemácias do doador com plasma
do receptor para verificar a presença de anticorpos no receptor contra as he-
Fluidoterapla e Transfusão Sanguínea 497

QUADRO 19.7 - Procedimentos para realização da prova de reação cruzada


1 P.nlhRr çsnoiip Rm t-iihriç rom FFlTA Hn rprpntnr fníiripnfp^ p Hnf.O nnssívpl(\
1. Colher sangue em tubos com EDTA do receptor (paciente) e do(s) possível(is) doador(es) ou separar amostras do
sangue colhido da bolsa de colheita de sangue.
2. Centrifugar (1.000 x g por 5 minutos) para separar o plasma das hemácias (papa de hemácias).
3. Remover o plasma de cada amostra com uma pipeta e transferir para um tubo limpo de vidro ou plástico
etiquetado.
4. Lavar as hemácias 3 vezes com salina tamponada (centrifugar a 1.000 x g por 5 minutos em cada lavagem e
retirar a salina após cada centrifugação); após a última lavagem, retirar a salina restante.
5. Ressuspender as hemácias em uma solução de 3 a 5% (5 gotas de papa de hemácias ± a l ml de NaCl
tamponada).
6. Preparar para cada doador 3 tubos etiquetados com prova maior (a), prova menor (b) e recipiente controle (c).
Adicionar em cada tubo 4 gotas (100 jil) de plasma e 2 gotas (50 ul) da suspensão de hemácias, como a seguir:
a) Reação cruzada maior: plasma de receptor + hemácias do doador;
b) Reação cruzada menor: plasma do doador + hemácias do receptor;
c) Controle do Receptor: plasma do receptor + hemácias do receptor.
7. Homogeneizar delicadamente e incubar por 15 minutos em temperatura ambiente.
8. Centrifugar por 15 a 30 segundos a 1.000 x g.
9. Examinar o sobrenadante para verificar hemólise.
10. Ressuspender delicadamente o "botão" de hemácias para verificar aglutinação macroscópica.
11. Se aglutinação macroscópica não for observada, transferir uma pequena quantidade da amostra para uma lâmina
e examinar (procurar) aglutinação microscópica.
12. Análise dos resultados:
- Positivo (se há hemólise e/ou aglutinação);
- Negativo (se não ocorreu hemólise).
macias do doador. Esta prova é a mais importante, devendo ser sempre compatível. Na menor cruzam-se
hemácias do receptor com plasma do doador para verificar a existência de anticorpos no plasma do
doador contra as hemácias do receptor. É usada concomitantemente com a anterior, principalmente na
segunda transfusão, porém é menos importante em razão da diluição do plasma do doador no paciente.
Assim, exceto em casos de isoeritrólise neonatal, produtos do plasma podem ser administrados sem que
haja a necessidade de se fazer a prova de reação cruzada ou tipificação sanguínea, a não ser que uma
grande quantidade seja necessária. A transfusão de sangue para o qual a reação cruzada foi negativa
não previne sensibilização do receptor ou riscos de reações transfusionais neste. Ela simplesmente
indica que no presente momento não há anticorpos significativos contra hemácias. Para prevenir a
sensibilização, o sangue deve ser tipificado.
Deve-se lembrar que a reação cruzada só testa a presença de anticorpos contra hemácias, não
detectando anticorpos contra leucócitos ou plaquetas. Anticorpos contra essas células podem causar
reações transfusionais moderadas a severas.
A incompatibilidade manifesta-se por hemólise ou aglutinação, sendo que, na ausência de
incompatibilidade macroscópica, esta deve ser confirmada microscopicamente com relação à
aglutinação.

VOLUME PARA TRANSFUSÃO Sangue


A fórmula para cálculo do volume de sangue a ser transfundido está descrita no quadro 19.8.
Em animais de pequeno porte, o objetivo da transfusão em pacientes com anemia é aumentar o
hematócrito pós-transfusional para 25 a 30% em cães e 15 a 20% em gatos. Nestas espécies, o volume
de sangue a ser transfundido ainda pode ser calculado da seguinte maneira:
498 Manual de Terapêutica Veterinária

QUADRO 19.8 - Fórmula para cálculo do volume de sangue necessário para uma transfusão
Volume (em litros) - peso x fator* x (Ht pretendido - Ht receptor)
[Ht pretendido]
* Fator: cães = 0,09
gatos = 0,07
animais de grande porte = 0,08
potros recém-nascidos = 0,15
Obs.: Pode se substituir o valor do Ht pelo de hemoglobina.
• 10 ml/kg de papa de hemácias ou 20 ml/ Plasma
kg de sangue total para aumentar em 10% o A quantidade de plasma requerido para trata-
Ht do receptor; mento de hipoproteinemia/hipoalbuminemia pode
• 2,2 ml/kg de sangue total (doador com Ht ser calculada pela fórmula descrita no quadro 19.9.
de 40%) para aumentar em 1% o Ht do re- Este tratamento, porém, é considerado uma
ceptor. solução emergencial, não dispensando o suporte
nutricional ao paciente. Ainda, o volume aplicado
Porém, em animais de grande porte, em vir- seguindo-se a fórmula acima pode resultar em so-
tude do tamanho destes, seguindo-se à risca a brecarga circulatória, uma vez que o líquido apli-
fórmula citada, o volume de sangue a ser trans- cado, em razão de sua pressão coloidosmótica,
fundido seria muito grande para uma aplicação sofre pequena redistribuição para o leito extra-
em um tempo e a custo razoável. Na prática, o vascular.
que se recomenda é a transfusão de 6 a 8 litros São necessários 6 a 7 litros de plasma para se
de sangue para um equino ou bovino adulto. Isto elevar em apenas l a 2 g/dl os valores de proteína
corresponde a aproximadamente 10 a 15 ml de plasmática em equinos. Este pequeno aumento
sangue por kg de peso vivo do receptor e eleva nos valores totais se deve em parte a uma redistri-
o Ht deste em até 3 a 4% em bovinos e equinos. buição das proteínas plasmáticas para repor defi-
Também corresponde ao volume que um único ciências fora do leito vascular. Porém, após apli-
doador pode fornecer, evitando-se assim a cação de plasma em equinos com hipoprotene-
mistura de sangue de diferentes origens e mia, mesmo com elevação mínima de valores de
aumento no risco de reações adversas. proteínas plasmáticas totais, muitos casos apre-
Em potros com isoeritrólise neonatal é indi- sentam uma resposta clínica favorável evidente.
cada a aplicação inicial de l a 2 litros de sangue, Em bovinos um volume mínimo de 5 litros de
se necessário complementados com mais l a 2 plasma é necessário para se perceber aumentos
litros/dia nos dias seguintes. nos níveis de proteínas circulantes no receptor.

Quadro 19.9 - Fórmula para cálculo do volume de plasma a ser transfundido em casos de hipoproteinemia
Volume (em litros) = Vol. plasmático do receptor x (PtP pretendido - PtP receptor)
PtP pretendido

Volume plasmático = Volemia x % plasma no sangue x peso


em que:
Volemia: Cães = 0,09 Gatos = 0,07 Animais de
grande porte = 0,08
% Plasma no sangue: Cães e Gatos = 0,60
Animais de grande porte = 0,65
Obs.: A mesma fórmula pode ser utilizada substituindo-se o valor da PtP (proteína total plasmática) pelo valor da albumina.
Fluidoterapia e Transfusão Sanguínea 499

Em potros sadios (45 kg, PV) com falha na transferência de imunidade, l litro de plasma eleva em
aproximadamente 200 mg/dl os níveis circulantes de IgG. Contudo, em potros enfermos, o mesmo
volume de plasma eleva em apenas 100 mg/dl os valores de IgG. Em bovinos a transfusão de 2 litros de
plasma é recomendada para se obter níveis mínimos aceitáveis de imunidade em um bezerro com 45 kg.
Recém-nascidos com septicemia devem ter os níveis de IgG monitorados durante o curso da
enfermidade, para se determinar a necessidade de novas transfusões de plasma.
Em pacientes com distúrbios hemostáticos, o objetivo é controlar o sangramento. O plasma fresco
congelado e o plasma congelado são administrados em cães e gatos na dose de 6 a 10 ml/kg. Em
equinos, a dose recomendada de plasma fresco, nestes casos, é de 15 a 30 ml/kg. O crioprecipitado é
usado em cães e gatos na dose de 12 a 20 ml/kg. Nos casos de sangramento em virtude da deficiência
de fatores de coagulação estas doses podem ser repetidas até o controle da hemorragia.
O plasma rico em plaquetas deve ser administrado na dose de 5 ml/kg. Esta quantidade de plasma
rico em plaquetas aumenta a contagem plaquetária em 5.000 a 10.000 plaquetas/mm3 em animais de
pequeno porte. A contagem total de plaquetas pode ser elevada em 30.000 plaquetas/mm3 com a
aplicação de 8 x IO11 plaquetas em um equino de 500 kg.

TRANSFUSÃO

Os componentes sanguíneos, com exceção do plasma rico em plaquetas, devem ser aquecidos a
temperaturas entre 22 e 37°C antes de serem transfundidos. Nenhum componente deve ser aquecido a
mais de 37°C, pois altas temperaturas destroem fatores de coagulação estáveis e lábeis, causam
precipitação de fibrinogênio e de proteínas e acabam com a habilidade dos eritró-citos de recuperar a
capacidade de carrear oxigénio. Outra alternativa é deixar o sangue à temperatura ambiente por cerca de
30 a 60 minutos, desde que o animal não esteja hipotérmico.
Os componentes do sangue podem ser administrados em cães e gatos pelas veias cefálica, safena e
jugular, além da via intra-óssea, que podem ser utilizadas em pacientes pequenos ou neonatos, ou em
pacientes com perfusão periférica deficiente. Em animais de grande porte, geralmente, é utilizada a
veia jugular. Porém, em leitões, cordeiros ou cabritos a via intraperitoneal também é viável. Deve-se,
necessariamente, utilizar equipos com filtro para remover coágulos e outros materiais particulados como
os agregados plaquetários.
A transfusão sanguínea deve ser feita em período máximo de quatro horas, para evitar o risco de
contaminação bacteriana e perda funcional dos elementos sanguíneos.
Em caninos e felinos, a velocidade de administração deve ser lenta nos primeiros 30 minutos. Caso o
paciente não apresente nenhuma rea-ção, pode-se aumentar a velocidade para 10 a 20 ml/kg/hora. Em
animais cardiopatas ou nefro-patas deve-se respeitar a velocidade de 4 ml/kg/ hora.
Em animais de grande porte, é recomendada, inicialmente, a aplicação de um volume menor mais
lentamente (0,1 ml/kg por dez a 15 minutos) até que se tenha razoável certeza de que não ocorreram
ou ocorrerão reações adversas, a partir daí pode-se aumentar a velocidade de transfusão até 20
ml/kg/h. Em bovinos também se recomenda a aplicação de aproximadamente 200 ml, após aguardar
aproximadamente 15 minutos para, então, se iniciar a transfusão, caso não tenha ocorrido reação.

Reações Adversas à Transfusão


A severidade da maioria das reações transfu-sionais é dose-dependente e seu reconhecimento
precoce pode evitar grandes complicações. Assim, o paciente deve ser cuidadosamente monitorado,
principalmente nos primeiros 30 minutos da transfusão. Quando se suspeitar de reações adversas, a
transfusão deve ser interrompida imediatamente (por, no mínimo, 10 a 15 minutos) e o paciente
avaliado. Deve-se verificar se a velocidade usada está correta. Sinais de febre leve ou de
hipersensibilidade tipo I geralmente desaparecem e a transfusão pode ser reiniciada lentamente. Em
cães, as reações de hipersensibilidade leves a moderadas (prurido, eri-tema e urticária) costumam
responder bem à di-fenidramina (l a 2 mg/kg, IM) e prednisolona (4 mg/kg). Em animais de grande porte
recomen-
500 Manual de Terapêutica Veterinária

da-se o tratamento de reações leves com administração de flunixin meglumine. A transfusão pode ser
retomada em ritmo mais lento após 15 minutos, independentemente da espécie.
No caso de reações intensas, sugestivas de anafilaxia, é indicado o uso de drogas com ação anti-
histamínica ou adrenérgica (animais de pequeno porte: difenidramina l a 2 mg/kg; animais de grande
porte: epinefrina 0,01 a 0,02 ml/kg de uma solução 1:1.000, IM ou SC), fluidoterapia intravenosa e
glicocorticóides (animais de pequeno porte: 4 mg/kg, prednisolona), após a imediata interrupção da
transfusão. O sangue ainda não transfundido deve ser descartado.
Em casos de reações com hemólise intensa em animais de pequeno porte ainda pode ser utilizado
heparina na dose de 75 Ul/kg via SC, a cada seis horas e prednisolona. A heparina é contra-indicada
em pacientes com sangramento.

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