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DIEGO LIMA D’ARAÚJO RM: 518110036

RESENHA ACADÊMICA
A Matemática como Verbo e Entendimento

Descrição Bibliográfica

MACHADO, Nílson José. Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação


mútua. 3. ED. SÃO PAULO: CORTEZ, 1993. Capítulo 2, A impregnação matemática –
Língua Materna.

Objetivo

No capítulo Impregnação Matemática – Língua Materna, Nílson José Machado procurou


conduzir um panorama sobre as principais conexões entre a Língua Materna e a Matemática
entendidas como disciplinas cujas tarefas estão imbrincadas umas nas outras, tendo como
ponto de partida o contexto escolar do ensino e a aprendizagem que o envolve. Dessa forma,
a presente resenha pretende dirigir uma leitura consciente dos ângulos abordados pelo autor
no âmbito temático explicitado por ele considerando os seguintes aspectos: a organização
discursiva do artigo sob o ponto de vista estrutural; o conteúdo informacional e
argumentativo colocado pelo pesquisador e um estudo crítico dos conteúdos apresentados.

Estrutura

Primeiramente, é importante salientar que o texto a ser resenhado constitui-se de um dos


capítulos centrais da obra Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação
mútua, que objetiva orientar o olhar do leitor para alguns dos principais elos entre a lógica da
Matemática e a natureza da Língua; apresentando neste capítulo os tópicos: “2.1- A Língua
Materna e a Matemática”, “2.2‐ O oral e o escrito, “2.3‐ A técnica e o significado”; “2.4‐
Complementaridade”; “2.5- Resumo: A essencialidade da impregnação”. Vale ressaltar,
ainda, o fato de cada tópico apresentar subtópicos tratando mais especificamente sobre as
diversas questões que englobam o tema central do capítulo a fim de descortiná-lo por etapas.
Com o intuito de estabelecer uma relação mais próxima com os leitores, Nílson
Machado optou por empregar uma linguagem pessoal (1ª pessoa do plural) ao invés de
recorrer ao objetivismo de um eu impessoal (em 3ª pessoa) sem perder, no entanto, o
tônus científico de sua análise epistemológica.

Pontos fundamentais

Desde o primeiro tópico, A Língua Materna e a Matemática, MACHADO demonstra


interessar-se por uma investigação que supere o clássico posicionamento diante do assunto
(senso comum); seja por sistematizar uma leitura que busca a essencial e real interligação
entre as áreas do saber em estudo, seja por valorizar uma abordagem que observa o ensino da
Matemática dentro de sua realidade conhecida. Assim, o autor defende que as funções da
língua e os códigos como sistemas de representação evidenciam uma dependência mútua
entre o pensar requerido pela Matemática e os subsídios linguísticos que impregnam essa
relação. Para o teórico, não somente a Matemática funciona como um procedimento de
linguagem, mas a Linguagem pressupõe, também, as faculdades matemáticas.
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[...] em relevo a imbricação de certas questões fundamentais relativas ao


ensino de ambos. De fato, uma hipertrofia na dimensão sintática revela-se
problemática, tanto no ensino da Língua Materna quanto no ensino da
Matemática, embora o problema seja mais facilmente reconhecido no caso
da Língua. Também na consideração da prioridade da técnica ou do
significado, ou ainda da emergência da técnica a partir do significado —ou
vice-versa —, as análises revelaram indiscutíveis similaridades num e noutro
caso.
(MACHADO, 1993, p. 136)

Por outro lado, vale ressaltar que essa relação não exclui as diferenças intrínsecas aos
procedimentos epistemológicos de uma e outra área do saber. Em mais de uma ocasião, o
autor descreve e elucida peculiaridades que distinguem a Matemática da Língua Materna,
ainda que retomando sempre as interdependências de ambas:

Em consequência, o inevitável empréstimo da oralidade temática deve fazer


à Língua Materna, sob pena de reduzir-se curso sem enunciador, ao mesmo
tempo que destaca uma complementaridade entre os dois sistemas, por esta
via põem a essencialidade da impregnação entre ambos.
(MACHADO, 1993, p. 136)

De fato, para compreender o paralelismo sem resvalar para uma


identificação é imprescindível levar em conta a complementaridade
enquanto que para apreender a complementaridade sem aportar em
dicotomias é fundamental perceber as imbricações. [...] [a fim de] tecer uma
teia capaz de capturar o verdadeiro sentido em que podemos falar de uma
impregnação mútua [...]
(MACHADO, 1993, p. 135)

Nos tópicos 2.2 e 2.3, ademais, o capítulo passa a fortificar o entendimento de que as inter-
relações entre o contar e o escrever-ler implicam mais do que a contemplação de um
exercício Matemático nos atos de escrita e leitura. Segundo Nílson Machado, mesmo a
oralidade e os processos que mediam a criação do dizer refletem uma elaboração constante de
esquemas mentais de fundo aritmético, lógico, enfim: matemático.

Homologamente [referindo-se às operações matemáticas], na Língua


Materna, desde as atividades de iniciação é a atividade analítica que parece
sobrelevar. Com efeito, a própria decomposição da faixa de sons que o
aparelho fonador humano é capaz de produzir em cerca de 40 sons básicos,
que constituirão os fonemas nas diversas línguas, pode ser caracterizada
como um processo de análise. Nesse sentido também se pode interpretar o
fato de as sucessivas edições de um mesmo dicionário conterem um número
de palavras cada vez maior, ao mesmo tempo em que cada um deles
funciona essencialmente como repositório de sinônimos.
(MACHADO, 1993, p. 132)

Também reconhecendo que as interações agenciadas pela formação em ambas as áreas


provocam atitudes e reações da mais desenvolvida a menos contemplada. Dessa forma, o
autor não apenas desmistifica a valorização reducionista da Língua Materna em detrimento da
Matemática, mas, muito pelo contrário, posiciona em linha de correspondência equânime as
duas, como propõe já nas epígrafes selecionadas como introdução ao capítulo:
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“Entre as coisas e as formas, entre os nomes e as figuras, entre os


signos e as substâncias existe talvez uma incessante circulação, uma
simbolização recíproca, universal e permanente... “ (LADRIÈRE
apud MACHADO, 1993, p. 95)

Por fim, nos tópicos 2.4 e 2.5, o autor destrincha detalhadamente as razões que impelem e
exigem um reconhecimento verdadeiro desses aspectos em comum entre a Matemática e a
Língua Materna, apontando para questões como a linguagem técnica e as interferências
recíprocas entre a aquisição dos saberes lógico dedutivos e a prática da representação
simbólica dos objetos do mundo. Neste tópico, também se encontra uma síntese ampla das
questões tratadas ao longo de cada tópico desenvolvido e suas consequências argumentativas
no que diz respeito ao tema do capítulo em si.

Avaliação crítica

Diferente do que se pode esperar de uma leitura de caráter teórico, o capítulo e a obra
estudados possuem não se demonstram excessivamente técnicos ou abstratos, assim como
MACHADO parece propor no tópico de apresentação do capítulo – no qual ele procura
apresentar seus objetivos na redação das ideias que constroem o capítulo dois. Essa
observação, como elucidado na seção referente à estrutura e à organização do texto, deve-se
às escolhas estilísticas feitas pelo autor que, a fim de criar uma ponte entre dois temas pouco
investigados em conjunto, desempenha uma aproximação verdadeira com o interlocutor por
meio da linguagem.

Sequenciando suas ideias a partir de pesquisas e um referencial rico de exemplos e


esclarecimentos, é bastante difícil não chegar ao cerne das questões e, ainda, interessar-se
mais e mais pelo assunto. De várias maneira, assim, MACHADO desenvolveu uma reflexão
profunda sobre a Matemática e a Língua Materna sem esquecer o que há de melhor no
exercício determinado e perfeccionista das duas faculdades.

Recomendação

Por sua profundidade, originalidade e pertinência; tanto o capítulo resenhado como a obra em
sua totalidade são de concreta utilidade para estudantes das mais diversas áreas de ensino. A
partir de sua leitura e compreensão, o capítulo 2 auxilia o leitor a entender com mais
consistência o que reveste as competências primordiais do intelecto humano e que, por
consequência disso, estão infiltradas no ensino de qualquer disciplina assim como enfatiza o
próprio Nílson Machado.

Sobre o autor

Nílson José Machado é natural de Olinda-PE. Na USP, lecionou inicialmente no Instituto de


Matemática e Estatística (IMEUSP), tendo se transferido posteriormente para a Faculdade de
Educação (FEUSP), da qual é Professor Titular. No biênio 1993-1994, foi Professor Visitante
do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, no Programa Educação
para a Cidadania. Por mais de sete anos, foi Chefe do Departamento de Metodologia do
Ensino e Educação Comparada da FEUSP.
DIEGO LIMA D’ARAÚJO RM: 518110036

Leciona em cursos de graduação e pós-graduação, tendo orientado algumas dezenas de


mestrandos ou doutorandos. Publicou diversos livros, fruto de seu trabalho acadêmico. É
autor ainda de diversos livros paradidáticos, voltados para crianças a partir de cinco anos.

Coordena dois grupos de estudo, ambos de frequência livre e que dispensam qualquer pré-
requisito, que acontecem semanalmente, na sala 8 do Bloco B da Faculdade de Educação: os
Seminários de Estudo em Epistemologia e Didática – SEED, realizados desde 1997, e os
Seminários de Ensino de Matemática – SEMA, que tiveram seu início no primeiro semestre
de 2008.

Autor da resenha

Diego Lima d’Araújo, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Técnicas de Redação; e


acadêmico do curso de Pós-Graduação em Letramento e Alfabetização da Universidade São
Judas Tadeu (USJT).

Bibliografia e referencial complementar

CONSTANTINO, Gregório Antônio. Matemática e Língua Materna Resenha de


“Matemática e Língua Materna: Análise de uma Impregnação Mútua”. In: Revista
Linguagem em (Dis)curso, volume 1, número 1, jul./dez. 2000. Fonte: < http://www.portalde
periodicos.unisul.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/166>. Data de acesso: 27
set. 2018.

MACHADO, Nilson José. Sobre Nilson José Machado. Web: site Nílson José Machado.
Fonte: <http://www.nilsonjosemachado.net/sobre/>. Data de acesso: 27 set. 2018.

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