“...A verdadeira criação de Calvino é Genebra inteira. A academia é apenas uma parte,
ligada ao todo fortemente, profundamente. Genebra docente não era diferente da Genebra
religiosa. Genebra religiosa não se distinguia da Genebra Moral e política. Calvino era tudo.
Ia ser nela conservada não só internamente, pela sua forte unidade, mas exteriormente,
mas exteriormente pela persistência dos povos que buscavam nela aquele cuja fisionomia
ficava guardada na memória e cujo pensamento se confundia, no espírito, com o de
Genebra. O mundo protestante como o católico iam impor-lhe igualmente, um pelo amor,
outro pelo ódio, a obrigação de conservar-se ela como a cidade de Calvino, a
impossibilidade de ser outra coisa, se nada mais quisesse ser...” Bungener
A Cidade de Genebra
As primeiras referências a Genebra nós as encontramos nos comentários de Julio César, colocada
entre os Alobrogos, tendo sido posteriormente incorporada ao império romano. No Séc.V era uma das cidades
dos Brugúndios, depois passou aos Godos, depois ao domínio dos franceses e posteriormente incorporada aos
domínios de Carlos Magno. Quando a soberania carlovíngio caiu ela foi incorporada ao santo império romano
e constituída em cidade episcopal sob o domínio do princípe do império Conrado II. A partir de 1215 o bispo
governante passou a ser eleito pelo capítulo, e depois de 1418 a ser nomeado pelo próprio Papa. Mas, mesmo
antes o povo participava do governo, compartilhando-o com o bispo. Ardentius, contemporâneo de
S.Bernardo obteve de Frederico Barbarroxa a confirmação deste poder entre o bispo e o povo. Também os
condes de Saboya ambicionavam o domínio, e por isso Ardentius é considerado como o verdadeiro fundador
da independência da cidade.
Em 1385 o bispo Ademar Fabri codificou o Franquias ou a Carta Magna de Genebra, onde se
estabeleciam os direitos da cidade. Assim, o bispo gozava do título de Príncipe de Genebra, cunhava a moeda
e fixava os impostos; mas tinha de jurar observância aos direitos e privilégios estabelecidos para o povo
conforme o código da cidade.
Os cidadãos da cidade e os burgenses reuniam-se duas vezes por ano em assembléia ou Conselho
Geral, no claustro da catedral em Janeiro para eleger os 4 síndicos da cidade, e em novembro para a eleição
do tenente de justiça e de seus acessores. Este conselho podia reunir-se extraordinariamente. Aos síndicos
cabia a justiça criminal e, em suas mãos, os bispos prestavam juramento de fidelidade a constituição da
cidade. Havia ainda o pequeno conselho composto de 5 membros, designados pelo Conselho Geral, e
constituído de 4 síndicos do ano, dos 4 precedentes, do tesoureiro e de mais dezesseis cidadãos. Em alguns
casos o número de cidadãos subia a 35 por se incorporar representantes de distritos diferentes, e com isso
passava a ser o Conselho dos 60.