Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2016
2
JUAZEIRO DO NORTE
2016
3
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________
JUAZEIRO DO NORTE
2016
4
AGRADECIMENTOS
Ao Professor que foi meu orientador Dr. Sérgio Henrique Carvalho Vilaça,
pela paciência, dedicação e ensinamentos que me foram valiosos para que eu
pudesse ter confiança na realização desse trabalho.
Aos prezados artistas visuais, Gilson Vieira e Daniel Filho, como ao caríssimo
arquiteto Artur Diniz, que foram de fundamental importância na construção dessa
pesquisa nos ofertando seu tempo e sua Arte.
Por fim, a Cláudio Pastro (1948- 2016), pela arte encantadora, vivaz, delicada
e distinta em todos os seus gestos que nos remete a Beleza Suprema.
6
RESUMO
RESUMEN
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 16- São Domingos, Matisse, 1950, painel azulejo, La Chapelle du Rosaire
de Vence, França,
fonte:http://www.snpcultura.org/tvb_capela_matisse.html.........................................46
Imagem 17 - Mãe de Deus, Basílica de Aparecida-SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/ ..................................................50
Imagem 18 - capa do livro Aparecida, Basílica de Aparecida-SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/ ..................................................50
Imagem 19 - afresco, Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/ ...........................................50
Imagem 20 - Raboni, Pastro, fonte:
https://br.pinterest.com/gabrielaallegro/cl%C3%A1udio-pastro/ ...............................51
Imagem 21 - Epifania, Pastro Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/gabrielaallegro/cl%C3%A1udio-pastro/ ...............................51
Imagem 22- Transfiguração, Cláudio Pastro, fonte:
http://solardorosario.com.br/galeria/produto/claudio-pastro-transfiguracao/ .............52
Imagem 23 - Jesus e santa Gertrudes , Helfa – Alemanha, Cláudio Pastro, fonte:
Catalogo Imagens do Invisível, 2013.........................................................................53
Imagem 24 - painel em azulejo, Cláudio Pastro,
fonte: Catalogo Imagens do Invisível, 2013...............................................................53
Imagens 25 - Via – Sacra, técnica: láser sobre mármore,
fonte: catalogo Imagens do Invisível, C. Pastro.........................................................56
Imagem 26- Via – Sacra, técnica: láser sobre mármore,
fonte: catalogo Imagem do Invisível, C. Pastro................... ....................................56
Imagem 27 - Escultura de São Pedro, C.Pastro, Alemanha,
fonte: Catálogo Imagens do Invisivel na arte de Clçáudio Pastro(2012)...................59
Imagem 28 - C.Pastro painel em Aparecida - SP, foto de: Thiago leon.....................59
Imagem 29 - C.Pastro, ateliê, fonte:
http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,577245,Lancamento_Imagens_do_invisi
vel_na_arte_sacra_de_Claudio_Pastro_,577245,6.htm............................................60
Imagem 30 - portas do Batistério do santuário de Aparecida – SP, C.Pastro, 2012,
fonte: http://ateliesaobento.blogspot.com.br/2012/02/em-sao-paulo-convite-do-
artista-sacro.html .....................................................................................................61
Imagem 31- Cristo em majestade, autor desconhecido, séc XII, Romântico, França,
fonte : https://www.studyblue.com/notes/note/n/arth-fah216-study-guide-2013-14-
ward/deck/10995287 ................................................................................................63
Imagens 32 - Davi, Michelangelo, 1504, Roma .fonte:
http://prosalunos.blogspot.com.br/2015/08/barroco-i.html ........................................65
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................15
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................123
REFERÊNCIAS........................................................................................................127
15
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objetivo estudar os Símbolos religiosos a partir das
representações artísticas – Arte Sacra, estabelecendo um recorte focando no
cristianismo católico, como vem sendo feita a leitura dessas imagens e como são
representados artisticamente na contemporaneidade.
Para tanto usaremos como ponto de partida e objeto de estudo o trabalho do
artista visual o brasileiro Claudio Pastro (1948- 2016). O artista em questão é pouco
conhecido fora do meio da arte sacra, porém, tem trabalhos expostos no Brasil e na
Europa, os quais geralmente ocupam espaços expositivos para visita do público no
Vaticano, igrejas, catedrais e monastérios.
É importante ressaltar o fato triste ocorrido durante o tempo que foi construída
esta pesquisa, o artista Cláudio Pastro sofre um acidente vascular cerebral
chegando a ficar em coma por doze dias no Hospital Osvaldo Cruz, em São Paulo e
chega ao falecimento na madrugada do dia 19 de outubro do corrente ano aos
sessenta e oito anos de idade, sendo sepultado no dia seguinte 20 de outubro, no
Mosteiro de Nossa Senhora da Paz na cidade de Itapecerica da Serra, São Paulo.
Cláudio Pastro já havia tomado conhecimento desta pesquisa e poucos dias
antes de sua convalescência e falecimento, pôde corroborar com este trabalho nos
concedendo uma entrevista via email. Essa ligação com o artista, e sua
disponibilidade em contribuir com este estudo, para nós adquiriu um caráter
diferenciado, acompanhamos sua trajetória no hospital e lamentamos
profundamente seu falecimento que sem dúvida é uma enorme perda para a Arte
brasileira.
Foi-nos enviado e-mail solicitando por meio da Madre Martha Lúcia (Ordem
de São Bento), do Mosteiro de Nossa Senhora da Paz, o envio dessa monografia
para acervo de Cláudio Pastro, o que será feito após o processo de aprovação.
Tratar sobre a arte focada na representação do cristianismo, foi um desafio,
pois é um tema pouco abordado no meio acadêmico, nesse contexto, esta pesquisa
procura contribuir com uma maior elucidação e conhecimento da história da arte
sacra cristã e suas interfaces com relação ao fazer artístico nos dias atuais.
No campo das artes sacras, percebe-se que há uma simbologia na
representação da iconografia a partir dos traços, cores e figuras. O que nos levou a
16
escolha do artista para a pesquisa foi o fato de que ele em seu processo de criação
conseguiu trazer uma representação esteticamente inovada, a qual se fundamenta
em tradições ritualísticas, sem, contudo deixar de ser contemporâneo.
Esta nova concepção do pensar artístico do artista em questão é reflexo do
Concílio Vaticano II1 uma série de discussões que foram travadas no seio da Igreja
Católica aliando arte, teologia e liturgia.
Seguindo esta linha, o presente texto busca compreender historicamente
alguns elementos que expliquem os novos rumos tomados pela arte sacra
contemporânea a partir daquele que foi um de seus principais expoentes no Brasil, o
artista Cláudio Pastro, contudo, foi também pesquisadas obras de arte sacra de
outros artistas, dentre eles, a obra contemporânea produzida para o decreto Papal
que anuncia o ano de 2016 com a Bula de proclamação do jubileu extraordinário da
misericórdia Misericordiae Vultus (Misericórdia é uma Imagem), feito pelo Padre
jesuíta e artista visual Marko Ivan Rupnik (1954), conforme imagem 1, trazendo
Jesus Cristo como a representação da misericórdia do Pai.
A imagem sacra como objeto de estudo desta pesquisa foi analisada também
a partir de sua função como símbolo do cristianismo católico, refletindo como essa
1
O Vaticano II foi um Concílio de cunho pastoral, doutrinário e ecumênico, caracterizado por duas intenções:
aggiornamento e” retorno às fontes” . Ou seja, uma atualização, uma adaptação da verdade revelada imutável da
fé nos tempos atuais, conforme o significado da palavra italiana aggiornamento. (TOMMASO, disponível em:
http://www.academia.edu/8995473/O_CONCILIO_VATICANO_II_E_AS_ARTES . Acessado em 11/09/2016)
17
religiosa, sobre o ícone do Cristo, sobre o decurso da arte sacra no Ocidente bem
como sobre o espaço sagrado nos dias atuais período pós Concílio Vaticano II.
Abordamos duas questões fundamentais: investigar o fenômeno religioso a
partir da representação artística, pensando na própria arte como forma cultural
mediadora que comunica a experiência do sagrado, e entender, a partir do
conhecimento histórico da arte e prático das tradições católicas como vem sendo
feita a leitura dessas imagens na contemporaneidade.
O segundo capítulo trata especificamente das obras do artista Claudio Pastro
e da presença do ícone do Cristo que foi pintado com mais frequência na arte dos
primeiros séculos do cristianismo, e que Pastro como artista pós Concilio, retoma-o
em suas obras. Este capítulo apresenta uma pequena biografia do artista e investiga
sobre a sua poética.
A discursão que norteia o terceiro capítulo traz como tema as rupturas de
cada época da arte sacra provocadas pelos artistas, os quais transformaram e
criaram estilos próprios para representação do sagrado. O objetivo desse capítulo é
inserir Cláudio Pastro no rol dos grandes artistas inventores e buscar fazer conexões
da arte de Pastro com a arte contemporânea, ao tentar responder o que é arte sacra
hoje.
O quarto capítulo aborda as representações e sinais da arte sacra
contemporânea na cidade de Juazeiro do Norte. Quem são esses artistas? Por que
optaram por se dedicar a arte sacra? Quais são suas referências artísticas? Além
disso, nesse capítulo abordaremos o tema da arquitetura sacra contemporânea e as
relações entre a arquitetura e o sagrado, especificamente trataremos da construção
da igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória e seu projeto arquitetônico
inovador para os padrões de arquitetura sacra da região.
A partir desta pesquisa sobre os símbolos católicos, fazer a diferenciação
entre arte sacra e arte religiosa, e como a arte sacra católica é representada neste
terceiro milênio do cristianismo católico.
A arte como canal místico é o ponto principal da representação do sagrado
que será abordado a seguir, com ênfase no imaginário católico.
Esta pesquisa teve como objeto de estudo responder a seguinte pergunta: o
que é arte sacra hoje? Para tanto se buscou realizar um estudo de caso sobre a
obra do artista brasileiro Claudio Pastro como forma possível para a resposta.
20
2014), que foi sua sócia por 15 anos e juntos projetaram a igreja do Mosteiro de
Nossa Senhora da Vitória na cidade de Juazeiro do Norte no Cariri cearense, projeto
esse assinado por Lília Campelo (1952-2014), com a colaboração de Artur Diniz.
As entrevistas realizadas com o artista Cláudio Pasto e com o arquiteto Artur
Diniz foram feitas via e-mail, outras entrevistas foram realizadas com Gilson Vieira e
Daniel Filho, artistas da Região do Cariri que se dedicam a arte sacra, nesse caso, o
processo para coleta de dados foi auxiliado pela câmera de vídeo, e feitos registros
fotográficos dessas entrevistas, ainda foi feito pesquisa in loco dos trabalhos citados
pelos artistas.
22
CAPÍTULO I
A ARTE E SUA RELAÇÃO COM O SAGRADO
2
Mandylion do grego “ toalha”, imagem achiropita do grego “ não feito por mãos humanas”. (Trevisan, 2003,
p.18)
23
se constatar a abertura do ser humano para o mundo e este como possível de ser
cognoscível pelo primeiro.
Trata-se de deixar claro que ser humano e mundo não são coisas
homogêneas, mas estão em profunda relação. Nessa perspectiva do ser humano,
enquanto “ser no mundo”, é que vai defrontar-se com fenômenos alheios a sua
condição, favorecidos pelos meios naturais e pela socialização, com isso sente-se
naturalmente impelido a interpretar aquilo que o acomete e causa admiração.
Somente ao ser humano é possível a interpretação do real e a elaboração de
signos articulados no entorno de sua realidade, essa informação converge para o
pensamento do escritor norte-americano do século XIX, Henry James: “Toda boa
história, está claro uma imagem e uma ideia, e quanto mais elas estiverem
entremeadas melhor terá sido a solução do problema”, texto usado no prefácio do
livro de Alberto Manguel (2001).
Sendo a cultura um espaço privilegiado de representações e o ser humano o
produtor e sujeito dessas, tanto no âmbito da existência individual quanto coletiva,
pode-se dela extrair um diferencial que evidencia a verdadeira natureza humana: a
ação simbólica. Segundo Lúcia Santaella:
Eis aí, num mesmo nó, aquilo que funda a miséria e a grandeza de
nossa condição como seres simbólicos. Somos no mundo, estamos
no mundo, mas nosso acesso sensível ao mundo é sempre como
que velado por esta crosta sígnica que, embora nos forneça o meio
de compreender, transformar, programar o mundo, ao mesmo tempo
usurpa de nós uma existência direta, imediata, palpável, corpo a
corpo e sensual com o sensível. (SANTAELLA, 2000, apud LOSADA,
2001, p.41)
Para Santaella (2000), a vida humana é construída por ações, e essas ações
se tornam meios de comunicação. Para RIBEIRO (2010) linguagem torna-se
símbolos, a palavra símbolo é vinda do grego (sym-balleim=juntar, unir, ligar), o
símbolo tem a força de unir, de ligar de comunicar outra realidade ausente, invisível.
O símbolo é algo que “toca” sentidos, recorda e traz presente uma realidade
escondida e cheia de significados.
O símbolo fala por si e liga fortemente a realidade escondida nele, segundo
Ribeiro (2010):
Dondis (1997), afirma que símbolos são criados quando não é possível
explicar por meio de palavras as ações, organizações ou estados de espirito e que
esses símbolos vão desde os mais pródigos em detalhes representacionais até os
completamente abstratos.
Desde tempos remotos, o ser humano selou a sua participação como sujeito
cultural através dos múltiplos sinais deixados ao legado histórico e civilizacional, aos
quais se atribui o nome de arte.
E são exatamente esses signos procedentes de uma visão de mundo,
independente das dissidências, que fazem da arte sem dúvida, forma simbólica por
excelência. Segundo Terezinha Losada:
Para Losada (2011), o ser humano pré-histórico tinha certa obsessão pela
imagem das coisas de seu cotidiano e as via e ouvia antes de se comunicar
plenamente. A imagem no Período Paleolítico era um indicativo de uma presença,
com autoridade em si mesma, manifesta algo que existe, anuncia, ordena que a
adore, eleva o ser humano do seu âmbito próprio ao sobrenatural, á uma imagem
cheia de poder, mesmo voltado para o seu cotidiano o ser humano pré-histórico leva
consigo a capacidade de aproximação.
Toda arte, embora guarde certa função mimética, acaba contendo em si a
representação do real. Pela percepção e imaginação, o ser humano inventa um
estado novo que o remete a outro estágio existencial, a realidade mostra-se de
maneira mais completa e admirável, no Paleolítico a arte passa a estar a serviço do
sagrado, mágico, marca a vida do ser humano e ele deixa marcados os espaços por
onde passa com os mesmos sinais que o marcaram conforme imagem 4 e 5.
27
A arte e sua aura sagrada contrastam com o real e o cotidiano, numa intensa
e eterna busca pelo não palpável, busca por mundos diversos aquele que a nossa
consciência reconhece, mostrando uma realidade diferente, com possibilidades
infindas, que por sua vez não são comunicáveis se não pelo simbolismo da arte.
Para Gombrich (2008), o sagrado se manifesta como algo fora do ser
humano, da sua realidade, caracterizado como um poder infinitamente superior, ao
mesmo tempo em que o insere em um mundo especial, o inclui e envolve. Por sua
vez, o ser humano diante dessa relação, cunha artifícios com intuito de preservar
essa vivência que serve de elo com o sobrenatural, Gombrich (2008) dessa forma
define a intenção dos arquitetos e artistas ao construírem as igrejas nos séculos XII
e XIII:
Para Ostrower (2010) “As intenções se estruturam junto com a memória”, não
necessariamente são conscientes, ou precisam apresentar-se com objetivos
imediatos. Ostrower (2010) ainda afirma:
Imagem 7, Noé e a Arca, Catacumba dos santos Marcelino e Pedro, Roma, fonte;
http://temaspolemicosigreja.blogspot.com.br/2015/12/na-igreja-primitiva-ja-havia-imagens.html
33
Gombrich (2008), em suas observações deixa claro que essa proibição levou
ao fato de que a arte oriental cristã da escultura desaparecesse.
Já na pintura a situação foi diferente, uma vez que ela foi usada para ilustrar a
vinda de Cristo e dar conhecimento àqueles que não sabem ler. Foi usada como
recurso de apreensão da nova fé. Segundo Gombrich (2008):
O Papa Gregório Magno, que viveu no final do século VI, seguiu essa
orientação. Lembrou àqueles que eram contra qualquer pintura que
muitos membros da Igreja não sabiam ler nem escrever, e que, para
ensiná-los, essas imagens eram tão úteis quanto os desenhos de um
livro ilustrado para crianças. Disse ele: A pintura pode fazer pelos
analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler. (GOMBRICH,
2008, p.135)
3
O Edito de Milão (313), conhecido também como A tolerância do cristianismo, foi um edicto promulgado em
Milão que estabeleceu a liberdade de religião no Império Romano, dando fim às perseguições dirigidas pelas
autoridades contra certos grupos religiosos, particularmente os cristãos. O édito foi assinado por Constantino I e
Licinio, dirigentes dos impérios romanos do Ocidente e Oriente, respectivamente. Depois da aprovação, iniciou-
se segundo conhece-se pelos historiadores do cristianismo, a Paz da Igreja. Disponível em:
http://millenium1618.blogspot.com.br/2009/05/o-edito-de-milao.html
34
Gombrich (2008) relata que a utilização da arte nas Igrejas foi um dos motivos
que levou a Igreja Oriental recusar a obediência ao Papa latino. Uma parte era
contrária a produção de imagem de representação religiosa, os Iconoclastas, que no
ano de 754 d.C. conseguiram que toda arte religiosa fosse proibida na Igreja
Oriental, divergiam do Papa Gregório, acreditavam que as imagens eram sagradas e
não poderiam ser usadas como recurso didático. Afirma Gombrich (2008):
Jesus na ótica do cristianismo é o retrato humano de Deus e isso faz com que
ele possa ser representado uma vez que segundo o Evangelista São João “O Verbo
se fez carne e habitou entre nós”, a partir do instante que o próprio Deus se fez
homem e mostrou sua face à humanidade, foi possível de ser representado.
As pinturas do Novo Testamento trazem sempre o Cristo como centro e se
dividem em duas categorias: a infância de Jesus, sua vida missionária e de cenas
simbólicas que trazem o dogma do Deus-Homem, e sua mensagem de salvação,
como por exemplo, Cristo Bom Pastor que podemos observar na imagem 8, afresco
da Catacumba de Priscila, mulher cristã citada no livro Atos dos Apóstolos.
Para Cedilho e Sousa (2013), a arte das catacumbas era entendida somente
pelos convertidos, situava-se em passagens bíblicas, cujo tema central estava na
salvação, no entanto, eram pinturas de baixa qualidade devido às limitações
financeiras dos patrocinadores dessa arte. As condições financeiras dos primeiros
cristãos não favoreciam a produção artística, e suas dimensões sociais da arte
produzida nesse período era destinada às classes tidas como inferiores.
A Igreja Primitiva emergiu em meio a necessidades extremas, encontrando
na mensagem de um Deus presente e próximo, a esperança de encontrar um bem
supremo, em meio a uma estrutura econômica social injusta e miserável.
Enfim, na Igreja Primitiva o universo simbólico está vinculado a um significado
que dá sentido à crença, e por esse motivo a Arte não se baseava na estética ou em
processos artísticos, mas na iniciação do espectador.
A Arte Cristã nos séculos VI e VII buscava representar o humano na figura do
Cristo, num esforço de encontrar a fisionomia do Jesus histórico.
Nesse período acreditou-se encontrar esse objeto de busca através de duas
linhas distintas: a primeira por meio dos evangelhos escritos pelos autores sagrados,
e a outra linha através das imagens achiropitas ou aquiropitas como é o caso do
Mandylion de Edessa já citado anteriormente e segundo TORRES (2007) essa
imagem serviu e serve ainda hoje como referência para a iconografia da Sagrada
Face de Jesus, tanto no Oriente como no Ocidente cristão. Esse pensamento
discorre para Gharib (1997)
A arte em sua relação com o sagrado produz objetos artísticos como objetos
de adoração e de culto contrastando presente com passado, real e imaginário,
nesse sentido arte e religião se imbrica com a necessidade de ir mais além.
Parece existir nesse elo que une arte e religião, uma busca por um significado
menos superficial das relações humanas, mostrando uma realidade diferente com
outras possibilidades, que por sua vez não são comunicáveis se não pelo
simbolismo da arte.
A História da arte não nos oferece uma definição como distinção legítima do
que seria Arte Sacra e Arte Religiosa, muitas vezes inclusive, confunde-nos entre
esses dois termos.
Para A Igreja Católica Apostólica Romana e seus pesquisadores a Arte Cristã
ou Arte Eclesiástica é dividida em duas vertentes denominadas Arte Sacra e Arte
Religiosa. O Papa Pio XII em seu discurso datado de 19 de Maio de 1948 voltado
aos artistas afirma que Arte Sacra é toda obra de Arte realizada para o culto
sagrado, como meio para levar os homens até Deus. Segundo o Papa Paulo VI
(1967):
Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, as belas
artes, e muito especialmente a Arte Religiosa e o seu mais alto cimo,
que é Arte Sacra, Elas tendem, por natureza, a exprimir de algum
modo, nas obras saídas das mãos do homem, a infinita beleza de
Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de Deus se
não tiverem outro fim senão o de conduzir piamente e o mais
eficazmente possível, através das suas obras, o espírito do homem
até Deus. É esta a razão por que a santa mãe Igreja amou sempre
as belas artes, formou artistas e nunca deixou de procurar o
contributo delas [...] verdadeiros sinais e símbolos do sobrenatural.
[...] A Igreja, nunca considerou um estilo como próprio seu, mas
aceitou os estilos de todas as épocas segundo a índole e condição
dos povos e as exigências dos vários ritos, criando desse modo no
38
CAPÍTULO II
Para custear seus estudos ministrava aulas pela Prefeitura de São Paulo em
pré-vestibular, nesse período pode compreender a importância da didática.
Nessa época conheceu a Bíblia Pauperum, ou Bíblia dos Pobres, esse livro
contém mais imagens do que textos lembra uma história em quadrinhos, e narra a
história da salvação. Conforme imagem 10.
Tommaso (2015), explica “que essa Bíblia surgiu na Idade Média e tinha o
objetivo de fazer as pessoas entenderem o texto por meio da imagem, já que na
época quase ninguém sabia ler”.
Nesse período para o artista, a percepção e gosto por imagens foram se
aprimorando, conforme analisa Tommaso (2015):
41
Imagem 13, Capela São José, Santuário de Aparecida-SP, Claudio Pastro, fonte :
http://veracidade.info/2012/01/30/
oferta dos pobres, tudo o que é ofertado com simplicidade de coração, pois este é
um lugar de sacrifício agradável a Deus.
A grande cúpula da Capela é toda em tons de ouro: a luz, Cristo Luz,
Pentecostes, a plenitude Pascal. Ela nos indica que Deus é a luz plena e que esse
grande vazio é espaço para o invisível presente e segundo Pastro em entrevista
concedida (2013) “José é o justo, o silencioso, aquele que permite Deus ser”.
Uma das principais características de Pastro é a temática da obra, sempre
voltada para os mistérios bíblicos e as mensagens do Cristo, com ênfase no Concilio
Vaticano II.
Pastro foi o artista responsável pela elaboração e confecção de objetos
artísticos utilizados pelo Papa Francisco em sua visita ao Brasil, conforme afirma em
entrevista a Zaccaro (2013) “Sou o responsável pela criação e pela produção das
peças religiosas que serão utilizadas pelo papa”.
Cláudio Pastro foi um artista que se dedicou a construir mosteiros, capelas e
igrejas no Brasil e no exterior, como Argentina, Bélgica, Itália, Alemanha, e Portugal.
Projetou diversos painéis de azulejos, mosaicos, afrescos, vitrais e
esculturas. Era o responsável pelo trabalho artístico da Basílica de Nossa Senhora
Aparecida em São Paulo desde 1999, ministrava também arte sacra e teologia do
espaço em universidades do Brasil e do exterior.
Recebeu importantes prêmios como o Missio, em 1989, em Aachen -
Alemanha, uma das mais importantes premiações de Arte Sacra internacional.
Pastro recebeu o título de Doutor Honoris Causa, pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, em doze de novembro de 2008.
45
seus trabalhos a arte sacra do primeiro milênio, a Arte Primitiva das Américas e a
Arte Africana, segundo Pastro (2016) esses artistas estavam procurando a luz, o
essencial, não buscavam imitações ou cópias.
Em algumas obras de Cláudio Pastro, notamos grande influência de alguns
artistas citados por ele em entrevista que nos foi concedida, como por exemplo,
Matisse conforme imagens 15 e 16.
Imagens 15 e 16, São Domingos, Matisse, 1950, painel azulejo, vitral, La Chapelle du Rosaire de Vence, França,
fonte:http://www.snpcultura.org/tvb_capela_matisse.html
Foi nesse período que sentiu a necessidade de fazer uma arte que
anunciasse uma presença, uma arte que fosse lançada ao mundo. Cláudio Pastro
(2016), nos fala sobre a essência de sua poética “... a Arte é a Escritura em formas e
cores e toma o homem por inteiro, seus sentidos e o mais profundo do ser, muito
além do que imaginamos, expressando igualmente o indizível.” É na Escritura
Sagrada que o artista encontra sua poética.
Durante seu período de formação na Europa aprendeu a enquadrar as figuras
de maneira geométrica, estudar as infinitas possibilidades de representação
imagética de Cristo.
A arte de Pastro segue com influências desse período de estudos em que
conheceu a arte romântica realizada nas igrejas da Itália e a majestade do bizantino
das basílicas de Roma.
Sua produção artística é formada pelo que foi proposto no Concilio Vaticano
II, que fez uma reformulação quanto à liturgia e arte cristã católica: a partir de então
os santos perdem seus lugares de destaque e o Cristo volta a ser o centro da fé
cristã.
Cláudio Pastro (2016), nos fala sobre a essência de sua poética e seu inicio
na arte sacra:
Iniciei meu trabalho a 41 anos, depois do Concilio Ecumênico
Vaticano II. Sou da família católica e considero a fé como uma graça
e um dom. Logo depois do Concilio, no Brasil desenvolvia-se a
Teologia da Libertação que pensava a Arte como um luxo, coisa de
burguês. Na mesma época explodia a ditadura militar. Então, a fé
tornou-se mais uma questão social, ideológica, que espiritual. É
nesse contexto que minha vocação cristã e artística (dom) fundem-
se. Quis fazer da arte um mistério e gritar Jesus no coração do
homem como um trabalho missionário. Do contrário, eu seria um
artista a mais. (PASTRO,2016)
na cultura portuguesa o índio e o negro não entravam como elemento dessa arte”
(PASTRO apud TOMMASO, 2015).
Perguntado sobre suas influências artísticas Cláudio Pastro nos relata que:
Foi a partir dessa lacuna identificada pelo artista na arte aqui realizada, que
começou a fazer representações com traços de influência indígena em meio a suas
criações conforme imagens 17, 18 e 19.
produção artística de Pastro, uma vez que o espectador de sua obra e a própria
Igreja não entendiam e nem gostavam de sua poética.
2.1 A OBRA: CONEXÕES COM A ARTE CONTEMPORÂNEA
Imagens 20 e 21, Raboni, Painel Epifania , Pastro Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/gabrielaallegro/cl%C3%A1udio-pastro/
52
Para Torres (2007) “Ele usa as cores primárias e chapadas em suas pinturas
e suas obras nada têm da arte renascentista ou acadêmica”.
Pastro parece usar com intenção todos os elementos contidos em sua arte,
como a distorção de tamanho, e enorme importância aos elementos das figuras
principais e a negligência aos motivos secundários, seus traços são limpos, ágeis e
puros. Segundo Torres (2007):
artística dentre as quais usa que mais gosta de trabalhar o artista nos informa que “a
pintura, o desenho (= de + signol = escrever com sinais)”. Para Pastro a pintura e o
desenho são textos visuais.
Pastro nos relata a respeito de conexões do seu trabalho com a arte
contemporânea:
Minha arte é sacra e na atualidade (sobretudo no Brasil) não há
quase nenhum interesse. Mas no contexto contemporâneo, a busca
da luz, dos espaços, das cores em si, do minimalismo...são, por si,
desejo de atingir o único essencial: Deus e o homem. A volta à
natureza é outra questão essencial. Veja toda a obra no interior da
Basílica de Aparecida.
Imagens 23, Jesus e santa Gertrudes , Helfa – Alemanha, 24 painel em azulejo, Cláudio Pastro, fonte:
Catalogo Imagens do Invisível, 2013
apontar para Deus e não para o artista. Para Cláudio Pastro na arte sacra tudo,
todos os elementos visuais devem apontar para o Eterno que não é novidade de
uma única igreja, mas sim do cristianismo, conforme nos relata sobre a função que a
arte exerce no cristianismo:
Além dos painéis em pinturas, vitrais, painéis em azulejo, Cláudio Pastro cria
esculturas, com forma estilizada, os altares por ele projetados têm forma geométrica
na maioria das vezes circular, e em sua maioria são produzidos em pedra.
Em seus projetos arquitetônicos como em outras obras ele usa como
referência a narrativa do Livro do Apocalipse e Cântico dos Cânticos que compõem
a Bíblia cristã.
A partir do projeto arquitetônico, o artista cria os demais espaços,
ornamentos, painéis, vitrais, esculturas, entre outros.
Seus trabalhos são sempre realizados em suportes rígidos como parede,
madeira, bronze, eucatex, azulejo, pedra, laser sobre mármore, normalmente não
usa suportes ou materiais tradicionais como as telas, tinta acrílica ou óleo, usa
pigmentos minerais e vegetais.
Sua obra nada tem de renascentista ou barroca, pois sua arte parte das
pesquisas de materiais e formas, pautadas no conhecimento das diversas
linguagens das artes visuais, fazendo conexões com arte contemporânea.
Referindo-se a arte contemporânea Sandra Rey (2002), afirma:
Imagens 25 e 26 Via – Sacra, técnica: láser sobre mármore, Fonte: catalogo Imagens do
Invisível, C. Pastro
57
58
Imagem 28, C.Pastro painel em Aparecida - SP, foto de: Thiago leon
61
Imagem 31, portas do Batistério do santuário de Aparecida – SP, C.Pastro, 2012, fonte:
http://ateliesaobento.blogspot.com.br/2012/02/em-sao-paulo-convite-do-artista-sacro.html
Pode haver uma arte sacra própria para o nosso tempo, para a humanidade
da era das tecnologias digitais, com velocidade de informação rápida, informações
estas que produzem um caráter multicultural das sociedades contemporâneas, em
um contexto em que identidades são afirmadas dando respostas locais a
globalização?
Segundo Ochsé (1960) “Parece que esta civilização nova a que pertencemos
inelutavelmente tenha realizado uma ruptura quase completa com o passado que
trazemos dentro de nós”.
Ao abordar como tema a Arte Sacra Contemporânea no século XXI, nos
deparamos com os diversos períodos da História da Arte Sacra para buscar
compreender o que é Arte Sacra hoje. Esse pensamento discorre para Ochsé
(1960):
63
Já por volta do século VI, percebia-se que nem todos criavam, assim
como, a arte se especializava e algumas eram reproduzidas para
certos fins: lembranças de santuários, estelas funerárias, objetos de
adornos. Portanto, a função de alguns começava a ser, meramente, o
de reprodutores (de boa qualidade pois continuava valendo a trilogia:
Verdade=Belo=Bom). A função do artesão era de bem executar (no
ferro, no ouro, na prata, na pedra, na argila...) o desenho de outro ou
de uma época de destaque. O artista cria e o artesão executa. Surgem
na Idade Média as grandes corporações, escolas de artesões
especializadas em certas áreas, como construtores de catedrais,
vitrais, ferreiros... (PASTRO, 1993, p.100-101)
Imagem 31, Cristo em majestade, autor desconhecido, séc XII, Romântico, França, fonte :
https://www.studyblue.com/notes/note/n/arth-fah216-study-guide-2013-14-ward/deck/10995287
65
Porém, logo os cânones da arte sacra foram aos poucos sendo ignorados
permitindo-se todo o tipo de expressão artística dentro das igrejas. Segundo Pastro
(2010) os estilos e movimentos artísticos que aconteciam no campo das artes em
geral também usados nas igrejas. O ocidente em geral sempre se mostrou em busca
de novidades , como afirma Gombrich:
Nesse período, a arte religiosa cresceu muito enquanto a arte sacra aos
poucos foi desaparecendo das igrejas do ocidente.
A partir dessa busca do Ocidente por novidades na arte sacra, Pastro nos
informa que;
Imagens 32, Davi, Michelangelo, 1504, Roma - imagem 33, Davi, Bernini, 1623, Roma. Fonte:
http://prosalunos.blogspot.com.br/2015/08/barroco-i.html
67
Foi no Concilio de Trento4 (1545 a 1563), convocado pelo Papa Paulo III, que
o Barroco tomou força na Igreja Católica. Nesse Concilio, foram emitidos inúmeros
decretos disciplinares em oposição aos protestantes, entre eles a unificação da
Santa Missa, a confirmação de Cristo na eucaristia e definiu explicitamente que as
imagens eram mediadoras para se elevar a Deus, e faziam parte da doutrina Cristã.
A arte da igreja continuou seguindo esse viés clássico e, embora os
movimentos que se seguiram procurassem se desvencilhar desses cânones, a arte
sacra permaneceu presente nas igrejas até os dias atuais, sobretudo no Brasil.
Contudo, no campo das artes em geral, desde meados do século XIX, alguns
artistas começaram a se desprender das regras das academias de artes vigentes
até então. O movimento Impressionista foi um de tantos outros que buscavam uma
nova forma de fazer e ver a arte. Com o advento dos avanços científicos e
tecnológicos, a arte também foi mudando seu modo de ser feita e de ser vista.
Nesse sentido, variados são os movimentos artísticos que promoveram mudanças.
Esses movimentos procuravam se libertar de padrões e buscavam novas
formas de expressão. São exemplos, o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo,
dentre outros. Nesses movimentos, vários artistas fizeram uso de temas cristãos em
suas pinturas conforme imagens 34 e 35 pintaram sobre esse tema em suas telas,
porém com interpretação própria.
Imagem 34, O cristo amarelo, Paul Gauguin, 1889 - imagem 35, Crucifixão branca, Marc Chagal,1938, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/339529259388173272/
4
O Concílio de Trento foi o décimo nono conselho ecumênico reconhecido pela Igreja Católica Romana. Foi.
convocado pelo papa Paulo III, em 1542, e durou entre 1545 e 1563. Teve este nome, pois foi realizado na
cidade de Trento, região norte da Itália.
68
A arte sacra parece passar um drama, uma crise nos dias contemporâneos
como se os artistas não soubessem mais o que produzir nesse sentido.
Pastro nos relata que:
Hoje não se faz Arte. O homem não celebra a vida como um dom e
um louvor. A criatura quer ser o centro em lugar do Criador e
Redentor. Rodopia como o cachorro em torno do próprio rabo. O
homem de hoje não cria, balbucia, não tem um referencial: é um
pequeno tecnocrata que repete o que a sociedade manda. Sem
contemplação, o homem não se conhece a si mesmo e nem
vislumbra o belo. Creio que até pouco após a Segunda Grande
Guerra, ainda tivemos uma Arte Contemporânea Sacra. Veja a Arte
da Escola de Beuron (movimento litúrgico que precedeu o Concílio);
os artistas do impressionismo e expressionismo, destacando-se
Picasso e Matisse; os arquitetos Emil Steffann, Antoni Gaudí,
Niemeyer, Le Corbusier, Rudolf Schwarz, influenciados pelo teólogo
Romano Guardini, o dominicano Couturier, o beneditino José
Surchamp. É preciso considerar ainda as Revistas L´Art Sacré,
Zodiaque, Das Münster, L´Art d´Église. Outros artistas: Marc Chagall,
Georges Rouault, Odilon Redon, Fernand Léger... No Brasil: Galileo
Emendabile, Fulvio Pennacchi... Quando falo em Arte Sacra
contemporânea, considero a arte objetiva, dentro do Mistério da
Igreja (esposa de Cristo) e não arte devocional, subjetiva, como
aquela predominantemente espalhada pelo Brasil, fora do contexto
universal. É preciso distinguir Arte Sacra (de Culto) de Arte Religiosa
(devocional).
Imagem 36, Pantocrátor, incisões com estilete no latão. 2000, C.Pastro, Vaticano, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/300052393902896804/
CAPITULO III
Imagem 37, Fé, Giotto, afresco, 1305, Capella dell’Arena, Pádua, Itália,. Fonte :
http://pt.wahooart.com/@@/8XY4ZX-Giotto-Di-Bondone-f%C3%A9
Imagem 38,A adoração dos Reis Magos, Giotto, Capela Arena ,Pádua- Itália, fonte:
http://www.edubraga.pro.br/art-design-environmental-art-land-art-performance-art-povera-art/a-
adoracao-dos-reis-magos-segundo-giotto/
Essa pintura de Giotto faz parte de uma série que se encontra no interior da
Capela Arena, em Pádua Itália. O tema da série é a história da vida e da paixão de
Jesus Cristo.
Aqui, Giotto celebra um dos eventos cristãos mais felizes, um fato centrado na
história do Natal: a chegada dos Reis Magos, que segundo o Evangelista Matheus
essas figuras são três sábios do Oriente que vieram adorar o Salvador recém-
nascido, trazendo como presentes ouro, incenso e mirra.
Segundo Cumming (2003):
Outro elemento do trabalho de Giotto deve ter sido bastante instigante para
seus contemporâneos, o fato de várias de suas figuras de seus afrescos parecem se
75
A sociedade medieval analisava a sua história como a.C. e d.C, portanto, era
a partir do céu que construía essa narrativa, já ao analisarmos o contexto no qual
surge o Renascimento (1330) percebemos o contrário, a história não é dividida de
acordo com o plano salvífico de um Deus.
Porém, essa história é construída a partir da terra mesmo, tendo como base
as ações humanas, é o humanismo, palavra chave desse movimento, outra palavra
chave é o individualismo, pela qual se compreende essa humanidade a partir de
uma nova consciência, dotada de autoconfiança por isso “a palavra Renascimento
significa nascer de novo ou ressurgir...” (GOMBRICH, 2008).
A arte representou esse choque cultural entre os dogmas da igreja e o
movimento humanista que defendia o antropocentrismo. Nesse contexto surge a arte
de Miguel Ângelo Buonarroti (1475-1664) ou Michelangelo, um dos principais artistas
da época, que manifestou as ideias dessa corrente humanista nas obras sacras que
produziu, apresentando uma nova visão sobre a realidade humana conforme
imagens 39 e 40.
76
Imagens 39 e 40, A criação de Adão, Miguel Ângelo, 1512, Capela Sistina, Roma, fonte:
http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=195&evento=1
Segundo Ochsé (1960), a associação das duas palavras arte e sacra, revela
uma relação difícil. Pois as pretensões do artista deveria tornar visível o místico,
através da figura das coisas por ele representadas. A autora sugere para o artista
sacro, que para tornar essa sua realidade ao inventar uma representação com uma
nova leitura visual dos textos bíblicos, o artista deveria aproximar-se do Sagrado,
pois para encontrar a Deus, o religioso afasta-se das imagens, já o artista ao
contrário, para qualquer que seja o fim de sua obra, sacra ou profana, passa pelas
linhas e formas, para Ochsé (1960) o artista deveria unir a visão artística à visão
religiosa para representar o simbolismo da arte sacra, extraindo delas sua visão de
fé.
Para estudiosos da arte sacra, o Renascimento foi o período em que se
perdeu o sentido do símbolo.
Segundo Burckhardt (2004):
Como a ruptura de uma represa, o Renascimento produziu uma
cascata de forças criativas, cujos sucessivos níveis correspondem a
níveis psíquicos: ao projetar-se para baixo, essa cascata alarga-se,
ao mesmo tempo, perde unidade e vigor. [...] no Renascimento, a
ruptura foi quase total. [...] O Renascimento rejeita, pois, a intuição,
transmitida pelo símbolo, em favor da razão discursiva, o que não
impede, evidentemente, de ser passional; ao contrário, já que o
racionalismo coaduna-se muito bem com a passionalidade. Enquanto
o centro do homem – o intelecto contemplativo, ou o coração – é
obscurecido ou abandonado, as outras faculdades sofrem cisão
fazendo surgir antíteses psicológicas. Assim, a arte renascentista é
racionalista – o que se expressa no emprego da perspectiva e em
toda sua teoria arquitetônica – e, ao mesmo tempo passional.
(BURCKHARDT, 2004, p.248)
Nesse período o que se produziu de arte sacra teve seu valor, porém, não foi
uma arte voltada para o culto, não contribuiu com a fé cristã, foi uma necessidade da
igreja de tentar acompanhar sua época com as revoluções de então. Pastro(1993),
ao se referir ao Renascimento afirma que:
79
Foi a grande e única expressão artística dos séculos XV, XVI, XVII e
XVIII e se apresentou sob várias formas como: a Arte Renascentista
Clássica, o Barroco, o Rococó e o Maneirismo. A partir dessa época,
tomou-se consciência da existência de outras expressões de arte na
América, África e Ásia, mas essa arte foi desconsiderada até o final
do século XIX. O Humanismo Renascentista (do latim,
Humanus=Nobre) foi uma consequência do Humanismo vinda da
última parte da Idade Média onde a natureza era cultuada com
estima aos antigos clássicos, mas fiéis a fé e ao sobrenatural.
Porém, o culto exagerado aos clássicos da antiguidade greco-
romana teve como consequência o Renascer das artes clássicas
pagãs: o belo enquanto gozo, prazer em si. Não só: o simbolismo era
naturalista. [...] A arte será apreciada como pura expressão de
beleza, julgada e valorizada segundo regras propriamente estéticas e
não mais como referencia á uma ordem extrínseca a ela, como a
religião, por exemplo. (PASTRO, 1993, p. 160)
Imagem 41, O Juizo Final – afresco, 1534, Capela Sistina, Michelangelo, fonte:
http://ips.plug.it/cips/supereva/cms/2016/02/cappella-sistina.jpg
Mais do que da Capela Sistina, a obra fala do artista, Michelangelo deixa sua
marca na história da arte sacra com seu estilo de características pagãs, inserido na
igreja.
80
Para Bazin (1997), com Antônio Francisco Lisboa o Aleijadinho, surge uma
expressão artística brasileira diferenciada, ele desenvolve uma arte livre dos
padrões lusos, uma arte espontânea e inventiva, que não copiava inteiramente os
modelos já existentes, mas que primava pela originalidade e inovação.
Ao invés de simplesmente exportar os modelos já pré-estabelecidos da arte
barroca portuguesa, como um simples copista, Aleijadinho procurou transformar tais
81
Aleijadinho consegue trazer para sua arte, referências a sua raiz, sendo ele
um mestiço, suas imagens são representadas descalças a exemplo dos escravos, e
também monta cenas da vida de Cristo.
Discorrendo sobre a genialidade de Aleijadinho e sua influência no barroco
mineiro, Natal (2007) afirma:
Procurando flagrar os primeiros indícios de uma arte brasileira
genuína, Mario de Andrade elege [...]os conjuntos arquitetônicos
baianos, carioca e principalmente o mineiro, destaque para Ouro
Preto e as obras de Aleijadinho, como os legítimos representante do
que seriam as primeiras manifestações artísticas nacionais. Estas
manifestações, calcadas principalmente na arquitetura, indicariam os
primórdios de uma identidade brasileira[...] Para Mário, uma
expressão artística diferenciada, brasileira, começa a ser construída
na segunda metade do século XVIII.[...]Embora Mário de Andrade
localize as origens de uma ate tipicamente brasileira em três
matrizes, [...] Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, é nesta última
onde se teria constituído a expressão máxima da brasilidade. Em sua
perspectiva, Minas conformaria o nicho privilegiado no qual se teria
dado as mais originais, autenticas e belas criações artísticas
brasileiras. Aqui, a figura de Aleijadinho adquire um papel de suma
importância: o “arquiteto escultor” simbolizaria o gênio maior, o
82
Antes de Aleijadinho, não se podia falar de estilo artístico brasileiro, uma vez
que o que se fazia aqui eram moldes importados de Portugal.
Como afirmou São João Damasceno (apud AQUINO, 2002, p.102), “[...] o que
a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados”. O trabalho de
Cláudio Pastro parece ser uma extensão da Biblia Pauperum, as igrejas e projetos
artísticos projetados pelo artista é notório a relevância atribuída ao uso do texto e da
imagem. Nota-se que o texto está dentro dessa composição em perfeita harmonia
com a imagem, porém, essa relação é metodicamente elaborada pelo artista, na
obra de Pastro a presença do texto é pensada para ser lido como imagem, conforme
imagem 43.
83
Imagem 43, Cúpula central painel em azulejo, C.Pastro, Basílica de Aparecida, fonte:
http://www.a12.com:8080/santuario-nacional/noticias/detalhes/cupula-central-uma-obra-que-se-
mostra
Pastro (2016), nos relata que a igreja nunca viveu sem a arte, por motivos de
necessitar do dinamismo de comunicar da arte para favorecer o ensino da Escritura
Sagrada:
Imagem 44, interior da igreja do Mosteiro de São Bento, Séc. XVI, barroco, Rio de Janeiro, fonte:
http://www.osb.org.br/mosteiro/index.php
86
Imagem 46, capela da CNBB, projetada por C.Pastro, Brasilia- DF, fonte:
http://www.tardecommaria.com.br/2014/09/cnbb-consep-reunido-em-brasilia/
Imagem 47, Visão panorâmica de altar e cruz projetados por C. Pastro, Aparecida-SP,
fonte: http://religiao.culturamix.com/religiosidades/santuario-nacional-de-aparecida/
Como artista pós conciliar (Concilio Vaticano II), Cláudio Pastro afirma:
fim, devem cumprir a função dos ícones: serem meios para a contemplação do
invisível. (AQUINO, 2006)
Segundo a Assembleia plenária dos Bispos no documento: o Via
Pulchritudinis o caminho da beleza, afirma:
Imagem 48, A História da Salvação, C.Pastro, 1982, Igreja São Bento do Morumbi –SP,
fonte: http://caminhosdeformacao.blogspot.com.br/2015_11_01_archive.html
90
Diante do exposto cabe a pergunta: o que é a arte sacra hoje? Como é feita a
leitura dessa arte nos dias atuais? Para Ochsé (1960):
Deve-se propor uma solução típica do século XXI para esse problema? A
leitura da arte sacra do século XXI, não é mais como no século XX e em seus
antecessores.
Nas diversas “histórias da arte” termo usado por Dana Arnold, vimos à arte
sacra numa tentativa de libertação, ensaiaram-se os modos mais possíveis para tal,
à obra parecia recusar-se a continuar segundo leis habituais da Tradição religiosa.
Mas no século XXI, a ruptura é inevitável, há um mundo sem fé que precisa
ser refeito e tudo a recomeçar, precisa-se urgentemente recuperar uma linguagem
que a igreja corre o risco de perder.
A arte sacra do tempo atual precisa de fato pertencer a cada realidade, para
o século XXI, a arte sacra deve responder ao apelo do Concilio para voltar às fontes.
Segundo Burckhardt (2004):
Imagem 49, detalhe do painel azulejo, C.Pastro, igreja da Conceição- Belém –PA. fonte:
http://slaredo.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html
A Imagem 51, mosaico, Padre Marko, sobre a "porta da misericórdia" Vaticano - Roma, fonte:
http://paroquiasantoagostinhorj.com.br/papa-abrira-porta-santa-de-estrutura-da-caritas-de-roma.html
IV CAPÍTULO
ARTE SACRA NO CONTEXTO CULTURAL DE JUAZEIRO DO NORTE
Imagem 55, monumento ao padre Cícero no Horto, romaria em Juazeiro do Norte, fonte:
http://iderval.blogspot.com.br/2015/03/juazeiro-do-norte-ceara.html
Acontecem cinco grandes romarias anuais sendo a que mais atrai número de
romeiros é realizada no mês de novembro conhecida como “romaria de finados”, e
no intervalo acontece pequenas romarias com número menor de participantes.
Nesse contexto surge na cidade, sinais de uma arte sacra dos dias atuais,
buscando tantas possíveis transformações, dando visualidade a uma história
contemporânea do padre Cícero.
Juazeiro do Norte é uma cidade que ainda encontra na arte sacra do século
XVII e XVIII sua representação, esse apego ao estilo já superado do barroco
provocou uma crise na arte sacra, ora sabemos que, isso não é um fato apenas
local, mas uma crise que a arte sacra brasileira vem enfrentando desde o fim do
barroco até os dias atuais com a arte contemporânea.
Fato conhecido na história da arquitetura brasileira datado de 1943 é o caso
da igreja de São Francisco de Assis na Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais,
o projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer, conforme imagem 56.
As linhas curvas da igreja não agradaram as autoridades eclesiásticas da
época atrasando a consagração da capela por quatorze anos, isso aconteceu devido
às linhas inusitadas do arquiteto e um painel obra de Portinari conforme imagem 57
com a representação de São Francisco, onde o pintor representou um cachorro junto
à imagem do santo, a ousadia desse projeto arquitetônico foi motivo suficiente para
escandalizar na época o ambiente cultural da cidade. Esses artistas provocaram
questionamentos por não reproduzir os padrões estabelecidos, contrastando com
isso os paradigmas imagéticos do espaço social onde estão inseridas suas obras.
100
Imagem 56, Igreja de São Francisco, Pampulha, Minas Gerais, arquitetura de Oscar
Niemeyer, 1943, fonte http://biapo.com.br/site/portfolio/igreja-de-sao-francisco-de-assis/
Imagem 57, painel de São Francisco, Portinari, igreja de São Francisco, Pampulha, Minas
Gerais, fonte: http://pensamentosduneto.blogspot.com.br/2011/01/curiosidades-igreja-de-
sao-francisco-de.html
Essa quase negação de uma arte para a nossa época continua ainda muito
forte em pleno século XXI, embora já existam sinais em várias partes do Brasil que
procuram mostrar o contrário, como o caso do Santuário de Aparecida em São
Paulo, que seus administradores perceberam a necessidade imposta pelo Concilio
Vaticano II no que diz respeito á arte sacra.
101
Imagem 58, Capela de Frei Galvão, Lília Campelo e Artur Diniz, Guaratinguetá, São Paulo,
Fazenda da Esperança, fonte: https://arcoweb.com.br/finestra/arquitetura/lilia-campelo-e-artur-
diniz-capela-01-03-2008
A partir de sua crença, Lília Campelo buscava o tema para seus projetos
arquitetônicos, percebe-se que sua arte reflete sua fé. Essa ação é que determina
um valor, é uma ação dotada de finalidade, realiza-se na contemporaneidade, mas
pressupõem memória afetiva projetando-se com características inovadoras,
trazendo a tona um discurso sobre o relacionamento do individuo contemporâneo
com o lugar que legitima sua fé, o Templo. Esse pensamento discorre para
Burckhardt (2004):
Podemos perceber como a arquitetura e a arte sacra tem sua relevância nas
relações estabelecidas entre os fiéis e a igreja, assim como em outras
temporalidades históricas, na sociedade contemporânea é possível perceber como
esses elementos influenciam no comportamento. Arquitetura sacra contemporânea
mostra-nos como cada estética, e aparências destes expõem conceitos, conduta e
modo de vida.
O arquiteto Artur Diniz (2016) nos relata sua visão sobre a relação entre
arquitetura e as manifestações de fé na igreja Católica:
Artur Diniz nos relata mais informações sobre o projeto arquitetônico de Lília
Campelo para a igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória:
Segundo Artur Diniz, Lília Campelo tinha como referências artísticas das artes
visuais Gustav Klimt, Renoir “admirava sobretudo o belo, as proporções, a forma
inusitada” mas o arquiteto confessa não saber quais eram as referências
arquitetônicas pelo fato que “...a criação de Lília era delineada pela sua
sensibilidade”, porém cita que a arquiteta confessava ter aprendido muito com seus
professores durante a graduação na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE,
como o caso dos professores: Delfim Amorim, Acácio Gil Borsoi, Reginaldo Esteves,
entre outros. Informa ainda a capela Notre-Dame du Haut na cidade de Rochamp,
em Paris, de Le Corbusier conforme imagem 63, como um projeto arquitetônico do
qual Lília Campelo era admiradora.
108
Por ocasião da celebração dos dois anos do Museu Afro Brasil em 2006,
Daniel é convidado pelo artista, diretor do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, para
exposição. Na ocasião o artista retratou em tela á óleo a beata Maria do Araújo,
personagem central junto com o padre Cícero, dos fatos ocorridos em Juazeiro que
foram responsáveis pela fama de santo atribuída ao sacerdote. Até então nunca
havia sido feito imagem da beata, que segundo é debatido atualmente, na época
sofreu forte preconceito por ser mulher, e por ser negra conforme imagem 65. O
trabalho encontra-se no acervo do Museu Afro Brasil.
Imagem 65, Exposição , Daniel Filho, 2004, Museu Afro Brasil, São Paulo, fonte:
Arquivo pessoal de Daniel Filho
O artista nos fala sobre a relação da arte com a igreja e diz que se dedica a
arte sacra independente de denominações religiosas conforme nos relata:
Imagem 66, sacrário da igreja do Coração de Jesus, Daniel Filho, Crato-Ceara, fonte:
arquivo pessoal.
O trabalho acima citado é um objeto artístico tridimensional, uma obra
contemporânea com interferências do estilo neoclássico, feito em gesso e madeira,
112
Daniel Filho (2016) diz que sendo artista contemporâneo é afetado por
diversos estilos da história da arte conforme imagem 67 do afresco da capela
particular na casa do Bispo diocesano em Crato.
Ele usa esse conhecimento em seus trabalhos somando isso a sua visão de
arte contemporânea o que gosta de fazer conforme detalhe na imagem 68.
Imagem 67, O Bom Pastor, 2004, Daniel Filho, capela do Bispo diocesano, Crato- Ceara fonte:
arquivo pessoal
113
Imagem 68, detalhe da obra Bom Pastor, Daniel Filho, capela do Bispo, Crato-
Ceará, fonte: arquivo pessoal.
Sobre a relação da arte com a igreja católica Daniel Filho (2016), nos relata
que existem conflitos, pelo fato de existirem padres que apesar de não serem
especialistas em arte sacra, atuam nas igrejas como se fossem, interferindo em
estilos artísticos aleatoriamente por uma única questão de gosto pessoal, ou para
“embelezar” a igreja. Esses padres segundo o artista chegam a destruir verdadeiros
patrimônios históricos, por não terem o conhecimento que os capacite interferem em
estilos artísticos, descaracterizando com isso aquela arte. Segundo Daniel Filho
(2016):
Outra coisa que nos foi possível perceber é a falta de registros das obras de
arte sacra que estão nas igrejas, durante nossa pesquisa de campo pelas imagens
citadas pelos artistas observamos que algumas dessas obras foram simplesmente
substituídas sem que existisse um registro da mesma. Como o caso do painel em
afresco do ícone da Santíssima Trindade existente na capela do Socorro, igreja em
que está sepultado o padre Cícero, obra de Daniel Filho, com o remanejamento dos
sacerdotes, o religioso responsável que assumiu a administração daquela igreja
mandou fazer um painel talhado no estilo barroco e colocou por cima do afresco
fechando totalmente a visão da obra, restando apenas o registro oral dos fiéis.
O artista nos fala sobre alguns locais em que estão suas obras e sobre
materiais que utiliza:
Faço meu trabalho mais para fora, Itália, Japão, França, nesse caso
a maioria é em pintura, no Brasil geralmente o cliente prefere em
escultura, e tenho cliente em vários estados do País. Pinto em tela e
afresco, escultura e tudo o que engloba as artes plásticas. Utilizo em
meus trabalhos diversos materiais e suportes, como a fibra, o
papelão, gesso, madeira, isopor, esponja.
peças.” Gilson Vieira cita alguns trabalhos feitos para Globo como o caso da novela
Salve Jorge, entre outras, que tiveram obras suas.
Dentre seus clientes famosos, ele cita o cantor Roberto Carlos, que segundo
o artista é um devoto do Padre Cícero, e cita uma peça sua que foi presenteada ao
Papa Francisco por um cardeal que veio em romaria a Juazeiro do Norte e lhe
encomendou uma peça.
É fácil encontrar obras de Gilson Vieira nas avenidas e praças da cidade de
Juazeiro e Crato, são diversas obras públicas de sua autoria, são bustos de
personalidades ligados a história da cidade de Juazeiro do Norte como o caso do
busto de Dr. Floro Bartolomeu da Costa (1876-1926) conforme imagem 72, médico,
político, importe figura histórica, amigo do Padre Cícero Romão Batista ajudou o
sacerdote a construir os fatos em relação à emancipação de Juazeiro do Norte, é
considerado a terceira pessoa mais importante do Juazeiro Antigo.
Outro importante trabalho do artista foi o busto de Dom Vicente (1918-1998),
bispo que fundou na cidade de Crato a Faculdade de Filosofia, que mais tarde
passaria a ser a Universidade Regional do Cariri.
Apesar de serem bustos, são de personalidades ligadas diretamente aos fatos
e contextos religiosos e históricos da cidade, dai a relevância do trabalho.
Imagem 72, Busto de Dr. Floro Bartolomeu, 2011, Gilson Vieira, Juazeiro do Norte, fonte:
http://blogs.diariodonordeste.com.br/cariri/cidades/busto-de-dr-floro-e-homenagem-centenari
119
Tal como a música lida tanto pela partitura como pelo conteúdo,
monumentos compreendem um texto, mas um texto cujos vários
significados existem apenas em nossa interpretação. Em alemão,
duas palavras, Mahnmal e Denkmal, servem para lembrar-nos dessa
dupla leitura. As raízes latinas de seus equivalentes em inglês,
memorial e monumento, remontam à deusa grega da memória. [...] A
memória torna-se concreta em pedras e cunhagem: algo que sirva
como lembrete [,,,] Todos os monumentos trazem tacitamente a
inscrição: “lembre-se e pense.” (MANGUEL, 2008. p.273)
Entre as referências artísticas ele cita o Realismo como estilo que admira,
conforme nos relata ““... o Realismo influência diretamente o meu trabalho, o barroco
também. Eu gosto muito do passado, coloco a mão em uma obra e sinto a energia.”
O artista fez um curso de arquitetura em São Paulo, ocasião em que
conheceu o artista Cicero D‟Ávila. Cícero D‟Ávila é um escultor do hiper-realismo
nascido em União dos Palmares no Estado de Alagoas em 1966, porém desde
criança reside em São Paulo, onde trabalha como artista é considerado atualmente
como um dos dez maiores escultores do hiper-realismo do mundo conforme imagem
73.
O artista deixa claro que não trabalha com afrescos, nem pintura em tela,
realiza pintura na escultura conforme nos informa que existem vários tipos de
pintura, em escultura: como a pintura florença, barroca, entre outras. Segundo nos
relata sobre seu processo artístico afirma “Criei uma tinta que suporta o sol e a
chuva, sou um artista que pesquisa materiais, e uso tecnologias”, conforme imagens
74, 75 e 76, do trabalho realizado na Igreja dos Salesianos.
121
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Paulo Fernando Carneiro. Pe. Cícero do Juazeiro e... quem é ele?
Anais do III Simpósio Internacional sobre o Padre Cícero do Juazeiro: e quem é
ele? Editores: Dumoulin, A. Guimarães, A.T, Forti, M.C.P., Juazeiro do Norte – Ceara
2004.
AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. A intercessão e o culto dos santos, imagens
e relíquias. Lorena – SP, Editora Cleófas, 2006.
___Escola da Fé a Sagrada Tradição. Lorena – SP, Editora Cleófas, 2002.
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo,
Editora: Martins Fontes, 2005.
ARNOLD, Dana. Introdução à história da arte. São Paulo, Ática, 2008.
ASSEMBLÉIA, Plenária dos Bispos. Via Pulchritudinis, o caminho da beleza. São
Paulo: Loyola, 2007.
ÁVILA, Afonso. Barroco teoria e análise. São Paulo, Perspectiva S.A., 1997.
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no ensino de arte. São Paulo: Perspectiva, 2009.
BAZIN, German. Barroco e Rococó. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2010.
BÍBLIA Sagrada. Ave Maria, São Paulo, 1986.
BURCKHAROT, Titus. A arte Sagrada no oriente e no Ocidente: Princípios e
métodos. São Paulo, Attar Editorial, 2004.
CATECISMO DA IGRJA CATÓLICA. Edição típica do Vaticano. Tradição
CNBB, Brasília, Editora: Paulinas, 1998.
CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea uma introdução. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 2005.
COHN, Gabriel. Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1971.
COMPÊNDIO Do Catecismo da Igreja Católica. Tradução da CNBB. São Paulo:
Loyola, 2005.
CUMMING, Robert. Para entender a arte. São Paulo, Editora Ática S.A., 2003.
DONDIS, DONIS A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo, Martins Fontes,
1997.
FARTHING, Stephan. Tudo sobre arte. Editora Sextante, Rio de Janeiro, 2010.
GHARIB, Georges. Os ícones de Cristo: história e culto. São Paulo, Editora
Paulus, 1997.
GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
IGREJA CATÓLICA. Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituições, Decretos,
Declarações. São Paulo, Paulinas, 1967.
JANSON. H.W. História geral da arte – Renascimento e Barroco. São Paulo.
Editora Martins Fontes, 2001.
129
JANSON, H.W, JANSON, A.F. Iniciação à História da Arte. São Paulo, Editora
Martins Fontes Ltda., 2009.
PAPA, João Paulo II. Carta aos artistas. São Paulo: Paulinas, 1999.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Rio de Janeiro, Vozes,
2010.
LOSADA, Terezinha. A Interpretação da imagem: subsídios para o ensino de
arte. Rio de Janeiro, MAUAD Editora Ltda, 2011.
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens. São Paulo, Companhia das Letras, 2001.
PASTRO, Claudio. Arte Sacra – O Espaço Sagrado Hoje. São Paulo, Edições
Loyola, 1993.
____ C.Pastro - Arte Sacra. São Paulo, Editora Paulinas, 2001.
____Igreja abacial do Mosteiro da Virgem. Editora: Monjas Beneditinas Petrópolis,
Rio de Janeiro, 2012.
____Imagens do Invisível na arte sacra de Cláudio Pastro. São Paulo, Edições
Loyola, 2013.
TIRAPELI, Percival. Arte Colonial: Barroco e Rococó. São Paulo, Companhia
Editora Nacional, 2006.
TREVISAN, Armindo. O Rosto de Cristo A Formação do Imaginário e da Arte
Cristã. Porto Alegre, Editora AGE LTDA, 2003.
TORRES, Marilia Marcondes de Moraes Sarmento e Lima. O Cristo do Terceiro
Milênio – A Visão Plástica da Arte Sacra Atual de Cláudio Pastro. Dissertação.
Programa de Pós-Graduação em Artes. São Paulo. Universidade Estadual Paulista –
UNESP. 2007
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência.
Campinas, São Paulo. Editora Autores Associados. 2012.
SITES CONSULTADOS
BACCI, Juliana. Romaria reúne 400 mil em juazeiro do Norte em “mar de luz”.
Dísponivel em http://revistagloborural.globo.com/Noticias/noticia/2015/02/romaria-
reune-400-mil-e-transforma-juazeiro-do-norte-em-mar-de-luz.html . Acessado em
18/10/2016
BURLAMAQUI, Cristina. Obra prima de Matisse: La Chapelle du Rosaire A
Vence, France. Disponível em http://www.julianaburlamaqui.com.br/obra-prima-de-
matisse-la-chapelle-du-rosaire-a-vence-france/ Acessado em 25/09/2016
CEDILHO, Rosa Maria Blanca, SOUSA, Paula Bernade. Arte Paleocristã: espelho
da visão de mundo dos primeiros cristãos. Disponível em:
http://www.raco.cat/index.php/Mirabilia/article/view/274648 .Acessado em
11/09/2016
COLEHO, Beatriz. Imagens religiosas em Minas Gerais. Atas do IV congresso
Internacional do Barroco íbero-americano. Disponível em
http://docplayer.com.br/4273613-Imagens-religiosas-em-minas-gerais.html .
Acessado em 28/09/2016.
DUARTE. Nathali. Artista paulistano aposta em peças „simples‟ para Papa
Francisco. Artigo Revista. Globo.com G1. São Paulo, 2013. Disponível em
130
http://g1.globo.com/jornada-mundial-da-juventude/2013/noticia/2013/07/artista-
paulistano-aposta-em-pecas-simples-para-papa-francisco.html Acessado em
25/09/2016
JORNAL [IN] FORMAÇÃO. A finalidade da arte sacra é permitir que o sagrado
se mostre ao homem. Entrevista de Cláudio Pastro concedida à jornalista Meire
Moreira. São Paulo, 2008. Disponível em
https://issuu.com/jornalinformacao/docs/lab3/2 , acessado em 06/10/2016.
TOMMASO,Wilma Steagal. Reflexões sobre o Mistério na Arte Sacra. Revista
Teoliterária. Disponível em
http://revistas.pucsp.br/index.php/teoliteraria/article/view/23364 . Editor Pontifícia
Universidade de São Paulo/ Asociación de Literatura y Teologia. Acessado em
05/09/2016.
____Claudio Pastro: Autobiografia. Entrevista concedida pelo artista a Tommaso.
Disponível em http://www.academia.edu/16838588/Claudio_Pastro_Autobiografia .
Acessado em 10/09/2016]
____O Concílio Vaticano II e as Artes. Disponível em
http://www.academia.edu/8995473/O_CONCILIO_VATICANO_II_E_AS_ARTES
Acessao em 01/09/2016
RIBEIRO, Emílio Soares. Um estudo sobre o símbolo, com base na semiótica de
Pierc. Revista Estudos Semióticos. Disponível em
http://www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es/eSSe61/2010esse61-esribeiro.pdf. Acessado
em 15/07/2016.
REY, Sandra. Por uma abordagem metodológica da pesquisa em artes. Artigo
de Opinião. Disponível em
http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/CENA/DOC/DOC000000000046610.PDF .
Acessado em 19/09/206
VERUNSCHK,Michelyni. Afinal, o que é arte contemporânea? Entrevista Ana Mae
Barbosa, Revista Continuum, Itaú Cultural, 2009. Disponível em
http://www.itaucultural.org.br/materiacontinuum/marco-abril-2009-afinal-o-que-e-arte-
contemporanea/. Acessado em 21/09/2016
KESSEL, Zilda. Memória e memória coletiva. Museu da Pessoa. Disponível em:
http://www.museudapessoa.net/public/editor/mem%C3%B3ria_e_mem%C3%B3ria_
coletiva.pdf Acessado em 01/07/2016
ZACARRO, Nathalia. Cláudio Pastro é o artista do papa. Entrevista Revista Veja
São Paulo. Disponível em http://vejasp.abril.com.br/materia/claudio-pastro-artista-
papa-religiao . Acessado em 20/09/2016