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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI


CENTRO DE ARTES REITORA VIOLETA ARRAES DE ALENCAR GERVAISEAU
DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

ANA CLAUDIA DE SOUSA FARIAS

ARTE SACRA E AS REPRESENTAÇÕES DOS SÍMBOLOS CATÓLICOS NA


OBRA CONTEMPORANEA DE CLAUDIO PASTRO, UM ESTUDO DE CASO

JUAZEIRO DO NORTE – CE
2016
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ANA CLAUDIA DE SOUSA FARIAS

ARTE SACRA E AS REPRESENTAÇÕES DOS SÍMBOLOS CATÓLICOS NA


OBRA CONTEMPORANEA DE CLAUDIO PASTRO, UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciada em Artes
Visuais, pela Universidade Regional do Cariri
– URCA.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Henrique Carvalho Vilaça

JUAZEIRO DO NORTE
2016
3

ANA CLAUDIA DE SOUSA FARIAS

ARTE SACRA E AS REPRESENTAÇÕES DOS SÍMBOLOS CATÓLICOS NA


OBRA CONTEMPORANEA DE CLAUDIO PASTRO, UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito


parcial para a obtenção do grau de Licenciada em Artes Visuais,
pela Universidade Regional do Cariri – URCA.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Sérgio Henrique Carvalho Vilaça


URCA
Orientador

Prof. Dr. Pablo Diego Mane Solari


URCA
Examinador

_______________________________________________________________

Profa. Cícera Edvânia Silva dos Santos


URCA
Examinadora

Prof. Esp. Pe. Joaquim Ivo Alves dos Santos


Faculdade de Teologia e Filosofia Seminário São José
Examinador

MONOGRAFIA APROVADA EM: ____/____________/_____

JUAZEIRO DO NORTE
2016
4

Ao grande artista brasileiro Cláudio Pastro,


In memoriam, por sua trajetória e
importantes contribuições no cenário da arte
sacra no Brasil e no mundo.
5

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força com que me favorece na superação de todas as


dificuldades.

A esta IES, por me ter dado a oportunidade de realizar este curso e em


especial ao corpo docente do Centro de Artes Reitora Maria Violeta Arraes de
Alencar Gervaiseau, que realiza seu trabalho com incansável dedicação, para que
nós, alunos, possamos contar com um ensino de qualidade.

Ao Professor que foi meu orientador Dr. Sérgio Henrique Carvalho Vilaça,
pela paciência, dedicação e ensinamentos que me foram valiosos para que eu
pudesse ter confiança na realização desse trabalho.

Aos professores que compuseram a minha banca, pelas preciosas


contribuições que foram somadas a esta pesquisa.

Aos prezados artistas visuais, Gilson Vieira e Daniel Filho, como ao caríssimo
arquiteto Artur Diniz, que foram de fundamental importância na construção dessa
pesquisa nos ofertando seu tempo e sua Arte.

A família da arquiteta Lília Campelo (1952-2014), pela atenção que desde o


inicio nos dedicou.

Ao Mosteiro Nossa Senhora da Vitória, a quem tenho dívida de gratidão


eterna.

A Madre Martha Lúcia (OSB) Mosteiro de Nossa Senhora da Paz, pelo


empenho tão valioso em nos ajudar, Deus lhe pague.

Aos meus filhos pelo amor e dedicação.

A Fábio Tavares por todas os nossos compartilhamentos.

Ao meu pai in memoriam, por seu exemplo e seu caráter.

A José Tavares Lopes e família, pelo apoio solidário em todos os momentos,


materializando nessas ações a bondade divina, Deus lhes retribua o cêntuplo.

Por fim, a Cláudio Pastro (1948- 2016), pela arte encantadora, vivaz, delicada
e distinta em todos os seus gestos que nos remete a Beleza Suprema.
6

“Uma palavra sujeita-se a diferentes interpretações.


Só a imagem nos coloca diante de uma presença”.

São Gregório de Nissa


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RESUMO

Essa pesquisa tem dois intuitos fundamentais: investigar a partir da representação


artística, a própria arte como forma cultural mediadora que comunica a experiência
do sagrado, e entender, a partir do conhecimento histórico da arte e prático das
tradições católicas locais, como essas imagens são representadas na
contemporaneidade com o objetivo de respondermos a seguinte pergunta: o que é
arte sacra hoje? Para tanto usamos como referencial o trabalho do artista visual
Cláudio Pastro como objeto de estudo. O artista em questão é pouco conhecido fora
do meio da arte sacra, porém tem trabalhos expostos no Brasil e na Europa, esses
trabalhos geralmente estão à disposição do público fruidor em Igrejas, catedrais,
monastérios, Vaticano e espaços públicos. O fato de esta pesquisa ser construída
em um curso de graduação da Universidade Regional do Cariri localizada na região
do Cariri cearense que é conhecida por forte tradição religiosa, nos levou a
investigar sobre a arte sacra na cidade de Juazeiro do Norte para visualizarmos o
cenário desse estilo artístico no Cariri, especificamente em Juazeiro do Norte, com o
objetivo de perceber a partir dos artistas caririenses como está sendo feita a
estruturação dessas imagens sacras na contemporaneidade na cidade que é
conhecida como Capital da Fé, com o intuito de colaborar com a elucidação do
problema que norteou o estudo.

PALAVRAS CHAVE: arte sacra; arte contemporânea; cultura.


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RESUMEN

Esta pesquisa tiene dos objetivos fundamentales: investigar, a partir de la


representación artística, la propia arte como forma cultural mediadora que comunica
la experiencia de lo sagrado y entender, a partir del conocimiento histórico del arte e
práctico de las tradiciones católicas locales, cómo esas imágenes son representadas
en la contemporaneidad, con el objetivo de responder a la siguiente pregunta: ¿Qué
es el arte sacra en los días de hoy? Para ello usaremos como referencia el trabajo
del artista visual Cláudio Pastro, como objeto de estudio. El artista en cuestión es
poco conocido fuera del medio de arte sacra, si bien tiene trabajos expuestos en
Brasil y en Europa éste se encuentra bastante circunscrito al público que frecuenta
iglesias, catedrales, monasterios así como el Vaticano y ciertos espacios públicos. El
hecho que de que esta pesquisa sea desarrollada en un curso de graduación de la
Universidad Regional del Cirirí que está localizada en el Cirirí del estado de Ceará,
región conocida por su fuerte tradición religiosa, nos motivó a investigar sobre el arte
sacra en la ciudad de Juazeiro do Norte, para ser visualizado el escenario de este
estilo artístico en el Cirirí, específicamente en Juazeiro do Norte, con el objetivo de
percibir, a partir de los artistas de la región cómo está siendo realizada la
estructuración de estas imágenes sacras en la contemporaneidad, dentro de un
contexto cultural de la ciudad que es conocida como Capital de la Fe, con el deseo
de colaborar con el esclarecimiento del problema que norteó el estudio.

PALABRAS CLAVE: arte sacra; arte contemporánea; cultura.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 01 - Misericordiae Vultus, Padre Marko Ivan Rupnik, fonte:


http://www.iubilaeummisericordiae.va/content/gdm/pt/giubileo/logo.html..................16
Imagem 02 - Mandilion, século VI d.C, Edessa, : http://idr.seieditrice.com/materiali-
didattici/secondaria-ii-grado/il-volto-santo-di-edessa-2/ ...........................................23
Imagem 03 - Mandilion, século VI d.C, Edessa, fonte:
http://idr.seieditrice.com/materiali-didattici/secondaria-ii-grado/il-volto-santo-di-
edessa-2/ .................................................................................................................23
Imagem 04 - pinturas em cavernas do Período Paleolítico, fonte:
https://www.flickr.com/photos/58944551@N00/ ......................................................27
Imagem 05 - pinturas em cavernas do Período Paleolítico, fonte:
https://www.flickr.com/photos/58944551@N00/ .......................................................27
Imagem 06 - Apollo de Belvedere, Leocares, 320 a.C. fonte
http://fineartamerica.com/featured/leocares-4th-c-bc-apollo-belvedere-
everett.html................................................................................................................28
Imagem 07- Noé e a Arca, Catacumba dos santos Marcelino e Pedro, Roma, fonte;
http://temaspolemicosigreja.blogspot.com.br/2015/12/na-igreja-primitiva-ja-havia-
imagens.html .............................................................................................................32
Imagem 08 - O Bom Pastor, Catacumba de Priscila, Roma, fonte:
http://ellogosenelarteuniversal.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html ..............34
Imagem 09 - A Videira, afresco, Claudio Pastro. fonte:
http://vejasp.abril.com.br/materia/claudio-pastro-artista-papa-religiao. .....................39
Imagem 10 - Bíblia Pauperum, fonte:
http://www.facsimilefinder.com/assets/uploads/OriginalDocs_old/69/golden-bible-
biblia-pauperum-facsimile-edition-04.jpg ..................................................................40
Imagem 10 - São Domingos, Matisse, 1950,vitral, La Chapelle du Rosaire de Vence,
França, fonte:http://www.snpcultura.org/tvb_capela_matisse.html.............. .............40
Imagem 11 - Santas Mulheres, Claudio Pastro, Basílica Aparecida-SP, fonte:
http://vejasp.abril.com.br/materia/claudio-pastro-artista-papa-religiao. .....................42
Imagem 12 - Baldaquino, de Claudio Pastro, Basílica Aparecida-SP, fonte:
http://vejasp.abril.com.br/materia/claudio-pastro-artista-papa-religiao. .....................42
Imagem 13- Capela São José, Santuário de Aparecida-SP, Claudio Pastro, fonte :
http://veracidade.info/2012/01/30/ ............................................................................43
Imagem 14 - Via - Sacra, C. Pastro fonte: http://slideplayer.com.br/slide/2354697/..45
Imagens 15 São Domingos, Matisse,vitral, La Chapelle du Rosaire de Vence,
França, fonte:http://www.snpcultura.org/tvb_capela_matisse.html............................46
10

Imagem 16- São Domingos, Matisse, 1950, painel azulejo, La Chapelle du Rosaire
de Vence, França,
fonte:http://www.snpcultura.org/tvb_capela_matisse.html.........................................46
Imagem 17 - Mãe de Deus, Basílica de Aparecida-SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/ ..................................................50
Imagem 18 - capa do livro Aparecida, Basílica de Aparecida-SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/ ..................................................50
Imagem 19 - afresco, Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/ ...........................................50
Imagem 20 - Raboni, Pastro, fonte:
https://br.pinterest.com/gabrielaallegro/cl%C3%A1udio-pastro/ ...............................51
Imagem 21 - Epifania, Pastro Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/gabrielaallegro/cl%C3%A1udio-pastro/ ...............................51
Imagem 22- Transfiguração, Cláudio Pastro, fonte:
http://solardorosario.com.br/galeria/produto/claudio-pastro-transfiguracao/ .............52
Imagem 23 - Jesus e santa Gertrudes , Helfa – Alemanha, Cláudio Pastro, fonte:
Catalogo Imagens do Invisível, 2013.........................................................................53
Imagem 24 - painel em azulejo, Cláudio Pastro,
fonte: Catalogo Imagens do Invisível, 2013...............................................................53
Imagens 25 - Via – Sacra, técnica: láser sobre mármore,
fonte: catalogo Imagens do Invisível, C. Pastro.........................................................56
Imagem 26- Via – Sacra, técnica: láser sobre mármore,
fonte: catalogo Imagem do Invisível, C. Pastro................... ....................................56
Imagem 27 - Escultura de São Pedro, C.Pastro, Alemanha,
fonte: Catálogo Imagens do Invisivel na arte de Clçáudio Pastro(2012)...................59
Imagem 28 - C.Pastro painel em Aparecida - SP, foto de: Thiago leon.....................59
Imagem 29 - C.Pastro, ateliê, fonte:
http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,577245,Lancamento_Imagens_do_invisi
vel_na_arte_sacra_de_Claudio_Pastro_,577245,6.htm............................................60
Imagem 30 - portas do Batistério do santuário de Aparecida – SP, C.Pastro, 2012,
fonte: http://ateliesaobento.blogspot.com.br/2012/02/em-sao-paulo-convite-do-
artista-sacro.html .....................................................................................................61
Imagem 31- Cristo em majestade, autor desconhecido, séc XII, Romântico, França,
fonte : https://www.studyblue.com/notes/note/n/arth-fah216-study-guide-2013-14-
ward/deck/10995287 ................................................................................................63
Imagens 32 - Davi, Michelangelo, 1504, Roma .fonte:
http://prosalunos.blogspot.com.br/2015/08/barroco-i.html ........................................65
11

Imagem 33- Davi, Bernini, 1623, Roma. fonte:


http://prosalunos.blogspot.com.br/2015/08/barroco-i.html .......................................65
Imagem 34 - O cristo amarelo, Paul Gauguin, 1889 -fonte:
https://br.pinterest.com/pin/339529259388173272/ .................................................67
Imagem 35- Crucifixão branca, Marc Chagal,1938, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/339529259388173272/ .................................................67
Imagem 36 - Pantocrátor, incisões com estilete no latão. 2000, C.Pastro, Vaticano,
fonte: https://br.pinterest.com/pin/300052393902896804/ ................................68
Imagem 37 - Fé, Giotto, afresco, 1305, Capella dell‟Arena, Pádua, Itália,. fonte :
http://pt.wahooart.com/@@/8XY4ZX-Giotto-Di-Bondone-f%C3%A9 ........................72
Imagem 38 - Adoração dos Magos, Giotto http://pt.wahooart.com/@@/9GEL6S-
Giotto-Di-Bondone-Adora%C3%A7%C3%A3o-dos-Magos .....................................73
Imagem 39 - A criação de Adão, Miguel Ângelo, 1512, Capela Sistina, Roma, fonte:
http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=195&evento=1....75
Imagem 40- detalhe da obra A criação de Adão, Miguel Ângelo, 1512, Capela
Sistina, Roma, fonte:
http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=195&evento=1....75
Imagem 41- O Juízo Final – afresco, 1534, Capela Sistina, Michelangelo, fonte:
http://ips.plug.it/cips/supereva/cms/2016/02/cappella-sistina.jpg ............................. 78
Imagem 42 - Santa Ceia, Aleijadinho, Congonhas do campo – MG, fonte:
http://www.panoramio.com/photo/5759430 ...............................................................80
Imagem 43 - Cúpula central, C.Pastro, Basílica de Aparecida, fonte:
http://www.a12.com:8080/santuario-nacional/noticias/detalhes/cupula-central-uma-
obra-que-se-mostra ..................................................................................................82
Imagem 44 - interior da igreja do Mosteiro de São Bento, Séc. XVI, barroco, Rio de
Janeiro, fonte: http://www.osb.org.br/mosteiro/index.php ........................................84
Imagem 45 - igreja de São Francisco 0uro preto - MG, fonte:
http://www.joseisraelabrantes.com.br/en/photography/list/?pag ............................. 85
Imagem 46- capela da CNBB, C.Pastro, Brasilia- DF,fonte:
http://www.tardecommaria.com.br/2014/09/cnbb-consep-reunido-em-brasilia/.........86
Imagem 47 - Visão panorâmica de altar e cruz projetados por C. Pastro, Aparecida-
SP, fonte: http://religiao.culturamix.com/religiosidades/santuario-nacional-de-
aparecida .................................................................................................................87
Imagem 48 - A História da Salvação, C.Pastro, 1982, Igreja São Bento do Morumbi –
SP, fonte: http://caminhosdeformacao.blogspot.com.br/2015_11_01_archive.html..88
Imagem 49 - detalhe do painel azulejo, C.Pastro, igreja da Conceição- Belém –PA.
fonte: http://slaredo.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html. ..............................90
12

Imagem 50- Ressurreição, 2006, C. Pastro, Igreja da Conceição, Belém-PA, fonte:


http://www.fundacaonazare.com.br/novoportal/?action=Canal.interna&oCanal=1&id=
6797&class ................................................................................................................91
Imagem 51 - ícone da Misericórdia, Padre Marko, sobre a "porta da misericórdia"
Vaticano - Roma, fonte: http://paroquiasantoagostinhorj.com.br/papa-abrira-porta-
santa-de-estrutura-da-caritas-de-roma.html ..............................................................92
Imagem 52 - Padre Marko em seu ateliê, fonte:
http://www.30giorni.it/articoli_id_17958_l6.htm .........................................................93
Imagem 53 - Capela, Padre Marko Ruptnick, Zaragoza- Espanha, fonte
http://static.panoramio.com/photos/large/73947967.jpg ...........................................93
Imagem 54 - Basílica de Aparecida -SP, fonte:
https://veracidadeveracidade.files.wordpress.com/2011/09/dscf0713.jpg ................94
Imagem 55 - Horto, romaria em Juazeiro do Norte, fonte:
http://iderval.blogspot.com.br/2015/03/juazeiro-do-norte-ceara.html ........................97
Imagem 56 - Igreja de São Francisco, Pampulha, Minas Gerais, arquitetura de Oscar
Niemeyer, 1943, fonte http://biapo.com.br/site/portfolio/igreja-de-sao-francisco-de-
assis ........................................................................................................................99
Imagem 57 - painel de São Francisco, Portinari, igreja de São Francisco, Pampulha,
Minas Gerais, fonte:
http://pensamentosduneto.blogspot.com.br/2011/01/curiosidades-igreja-de-sao-
francisco-de.html .....................................................................................................99
Imagem 58 - Capela de Frei Galvão, Lília Campelo e Artur Diniz, Guaratinguetá, São
Paulo, Fazenda da Esperança, fonte: https://arcoweb.com.br/finestra/arquitetura/lilia-
campelo-e-artur-diniz-capela-01-03-2008 ..............................................................100
Imagem 59 - Basilica de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte, fonte:
http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Basilica-Menor-de-Nossa-Senhora-das-Dores
..................................................................................................................................102
Imagem 60 - igreja de Nossa Senhora da Vitória, Mosteiro Nossa Senhora da Vitória,
Juazeiro do Nort6e, Ceará, fonte: arquivo pessoal .................................................103
Imagem 61 - Detalhe da nave central da igreja, fonte: arquivo pessoal .................105
Imagem 62 - detalhe da igreja do mosteiro de Nossa Senhora da Vitória, fonte:
arquivo pessoal. ......................................................................................................105
Imagem 63 - capela Notre-Dame du Haut, na cidade de Rochamp, 1950, em Paris,
de Le Corbusier, fonte: http://www.swissinfo.ch/por/le-corbusier/30493708 ...........107
Imagem 64 - Inicio de Juazeiro, Assunção Gonçalves, fonte:
http://www.sitededanielwalker.com/ ........................................................................108
Imagem 65 - Exposição , Daniel Filho, 2004, Museu Afro Brasil, São Paulo, fonte:
Arquivo pessoal de Daniel Filho..............................................................................109
13

Imagem 66 - sacrário da igreja do Coração de Jesus, Daniel Filho, Crato-Ceara,


fonte: arquivo pessoal..............................................................................................110
Imagem 67 - O Bom Pastor, 2004, Daniel Filho, capela do Bispo diocesano, Crato-
Ceara fonte: arquivo pessoal ..................................................................................111
Imagem 68 - detalhe da obra Bom Pastor, Daniel Filho, capela do Bispo, Crato-
Ceará, fonte: arquivo pessoal. .................................................................................112
Imagem 69 - Pantocrator, Daniel Filho, igreja do Menino Jesus de Praga, Juazeiro
do Norte-Ceara, fonte: arquivo pessoal ...................................................................112
Imagem 70 - afresco do cordeiro e de anjos, igreja Menino Jesus de Praga, Juazeiro
do Norte- Ceara, fonte: arquivo pessoal .................................................................113
Imagem 71 - escultura de Frei Damião, Helena Vieira, arquivo pessoal.................116
Imagem 72 - Busto de Dr. Floro Bartolomeu, 2011, Gilson Vieira, Juazeiro do Norte,
fonte: http://blogs.diariodonordeste.com.br/cariri/cidades/busto-de-dr-floro-e-
homenagem-centenari ............................................................................................117
Imagem 73 - Mãe e criança, 2007, Cícero D'Ávila, fonte:
http://www.guiadasemana.com.br/arte/noticia/10-escultores-que-voce-precisa-
conhecer .................................................................................................................118
Imagem 74 - Jardim dos Salesianos, Gilson Vieira, Juazeiro do Norte,
fonte: arquivo pessoal. ............................................................................................120
Imagem 75 - Gruta de Lourdes, Gilson Vieira, igreja dos salesianos, Juazeiro do
Norte, fonte: arquivo pessoal ..................................................................................120
Imagem 76 - Gilson Vieira, salesianos, Juazeiro do Norte, fonte: arquivo pessoal.
.................................................................................................................................121
Imagem 77 - Gilson Vieira, igreja de Nossa Senhora de Lourdes, Juazeiro do Norte,
fonte: arquivo pessoal. ............................................................................................121
Imagem 78 - Gilson Vieira, igreja de Nossa Senhora de Lourdes, Juazeiro do Norte,
fonte: arquivo pessoal. ............................................................................................121
Imagem 79 - Cláudio Pastro, Basílica de Aparecida, fonte:
https://veracidadeveracidade.wordpress.com/2012/01/30/santuario-nacional-e-eleita-
uma-das-sete-maravilhas-da-estrada-real/. ...........................................................122
14

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................15

CAPÍTULO I: A ARTE E SUA RELAÇÃO COM O SAGRADO


1. A arte sacra e sua relevância como memória cultural............................................22
1.1 Os símbolos, o ser humano e a cultura................................................................23
1.3 Imaginário e representação do sagrado...............................................................26
1.4 A representação do sagrado e a história da arte.................................................28
1.5 A iconografia cristã...............................................................................................32
1.6 A arte sacra e arte religiosa..................................................................................37

CAPÍTULO II: UMA ARTE PARA O NOSSO TEMPO


2. A obra de Cláudio Pastro: uma arte sacra para o nosso tempo...........................39
2.1 Poética do artista..................................................................................................45
2.2 A obra: conexões com a arte contemporânea......................................................51
2.3 Existe uma arte sacra própria para o nosso tempo?..........................,.................61

CAPÍTULO III: AS RUPTURAS NA REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO


3. Rupturas na representação do sagrado, necessidade imposta por cada época...71
3.1 A arte de Giotto di Bondone.................................................................................71
3.2 Michelangelo, arte como uma representação cultural..........................................74
3.3 O barroco de Antônio Francisco Lisboa...............................................................79
3.4 Cláudio Pastro e o espaço sagrado hoje.............................................................81

CAPÍTULO IV: ARTE SACRA NO CONTEXTO CULTURAL DE JUAZEIRO DO


NORTE
4. Sinais de arte sacra contemporânea em Juazeiro do norte...................................95
4.1 A cidade de Juazeiro do Norte.............................................................................96
4.2 A definição do sagrado na arquitetura contemporânea de Lília Campelo...........98
4.3 A arte sacra de Daniel Filho...............................................................................107
4.4 As representações sacras de Gilson Vieira........................................................115
4.5 Cláudio Pastro faz representação do padre Cícero...........................................122

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................123
REFERÊNCIAS........................................................................................................127
15

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como objetivo estudar os Símbolos religiosos a partir das
representações artísticas – Arte Sacra, estabelecendo um recorte focando no
cristianismo católico, como vem sendo feita a leitura dessas imagens e como são
representados artisticamente na contemporaneidade.
Para tanto usaremos como ponto de partida e objeto de estudo o trabalho do
artista visual o brasileiro Claudio Pastro (1948- 2016). O artista em questão é pouco
conhecido fora do meio da arte sacra, porém, tem trabalhos expostos no Brasil e na
Europa, os quais geralmente ocupam espaços expositivos para visita do público no
Vaticano, igrejas, catedrais e monastérios.
É importante ressaltar o fato triste ocorrido durante o tempo que foi construída
esta pesquisa, o artista Cláudio Pastro sofre um acidente vascular cerebral
chegando a ficar em coma por doze dias no Hospital Osvaldo Cruz, em São Paulo e
chega ao falecimento na madrugada do dia 19 de outubro do corrente ano aos
sessenta e oito anos de idade, sendo sepultado no dia seguinte 20 de outubro, no
Mosteiro de Nossa Senhora da Paz na cidade de Itapecerica da Serra, São Paulo.
Cláudio Pastro já havia tomado conhecimento desta pesquisa e poucos dias
antes de sua convalescência e falecimento, pôde corroborar com este trabalho nos
concedendo uma entrevista via email. Essa ligação com o artista, e sua
disponibilidade em contribuir com este estudo, para nós adquiriu um caráter
diferenciado, acompanhamos sua trajetória no hospital e lamentamos
profundamente seu falecimento que sem dúvida é uma enorme perda para a Arte
brasileira.
Foi-nos enviado e-mail solicitando por meio da Madre Martha Lúcia (Ordem
de São Bento), do Mosteiro de Nossa Senhora da Paz, o envio dessa monografia
para acervo de Cláudio Pastro, o que será feito após o processo de aprovação.
Tratar sobre a arte focada na representação do cristianismo, foi um desafio,
pois é um tema pouco abordado no meio acadêmico, nesse contexto, esta pesquisa
procura contribuir com uma maior elucidação e conhecimento da história da arte
sacra cristã e suas interfaces com relação ao fazer artístico nos dias atuais.
No campo das artes sacras, percebe-se que há uma simbologia na
representação da iconografia a partir dos traços, cores e figuras. O que nos levou a
16

escolha do artista para a pesquisa foi o fato de que ele em seu processo de criação
conseguiu trazer uma representação esteticamente inovada, a qual se fundamenta
em tradições ritualísticas, sem, contudo deixar de ser contemporâneo.
Esta nova concepção do pensar artístico do artista em questão é reflexo do
Concílio Vaticano II1 uma série de discussões que foram travadas no seio da Igreja
Católica aliando arte, teologia e liturgia.
Seguindo esta linha, o presente texto busca compreender historicamente
alguns elementos que expliquem os novos rumos tomados pela arte sacra
contemporânea a partir daquele que foi um de seus principais expoentes no Brasil, o
artista Cláudio Pastro, contudo, foi também pesquisadas obras de arte sacra de
outros artistas, dentre eles, a obra contemporânea produzida para o decreto Papal
que anuncia o ano de 2016 com a Bula de proclamação do jubileu extraordinário da
misericórdia Misericordiae Vultus (Misericórdia é uma Imagem), feito pelo Padre
jesuíta e artista visual Marko Ivan Rupnik (1954), conforme imagem 1, trazendo
Jesus Cristo como a representação da misericórdia do Pai.

Imagem 1, Misericordiae Vultus, 2015,Padre Marko Ivan Rupnik, fonte:


http://www.iubilaeummisericordiae.va/content/gdm/pt/giubileo/logo.html

A imagem sacra como objeto de estudo desta pesquisa foi analisada também
a partir de sua função como símbolo do cristianismo católico, refletindo como essa

1
O Vaticano II foi um Concílio de cunho pastoral, doutrinário e ecumênico, caracterizado por duas intenções:
aggiornamento e” retorno às fontes” . Ou seja, uma atualização, uma adaptação da verdade revelada imutável da
fé nos tempos atuais, conforme o significado da palavra italiana aggiornamento. (TOMMASO, disponível em:
http://www.academia.edu/8995473/O_CONCILIO_VATICANO_II_E_AS_ARTES . Acessado em 11/09/2016)
17

tradução se dá na contemporaneidade, em um intrínseco diálogo com mistérios, com


objetivo específico de unir a força estética da Arte Sacra em prol de uma Fé, para
trazer questionamentos do tipo: o que é arte sacra hoje?
Tendo como linha de pesquisa, abordagens teórica, histórica e cultural da
Arte, utilizando o campo do conhecimento da Semiótica, para melhor compreensão
de leitura de imagens abordadas nesta pesquisa.
Entendendo ainda Arte como uma das condições de vida, com possibilidades
ilimitadas, expressão de sentimentos humanos, meio de comunhão entre pessoas, e
linguagem universal, logo percebe-se a sua importância como narrativa e custódia
da história de um povo.
O que diferencia uma pesquisa de uma especulação é o problema á ser
solucionado por meio de determinados percursos e processos que visam à solução
para problema que motivou tal busca. Esse pensamento discorre para Zamboni
(2012):

Pesquisar é a busca sistemática de soluções, com o fim de descobrir


ou estabelecer fatos ou princípios relativos a qualquer área do
conhecimento humano. Por ser atividade sistemática, requer sempre
um método, que implica premeditação, e esta está normalmente
ligada ao tipo lógico e racional de pensamento. Pesquisar é desejar
solucionar algo, mas pode-se, em condições muito especiais, até
encontrar algo que não se estava buscando conscientemente, sem
que essa solução ocorra por meio da pesquisa. A pesquisa sempre
implica premeditação, a vontade clara e determinada de encontrar
uma solução por meio de trajetória racional engendrada pela razão.
A pesquisa presume a escolha de um caminho a ser trilhado para
buscar-se uma finalidade determinada. [...] O individuo que faz
especulação está consciente da vacuidade de sua proposta, está
solto e descompromissado com qualquer situação que exija uma
resposta; ele tenta sem saber o que conseguirá, e ele mesmo não
sabe firmemente o que pretende conseguir. (ZAMBONI, 2012, p.43-
45)

Tendo definido as representatividades dos símbolos do cristianismo católico


dentro do universo das artes visuais na contemporaneidade e como vem sendo feita
a leitura dessas imagens sacras como tema central dessa pesquisa, buscamos
analisar a obra do artista brasileiro Claudio Pastro como foco do tema fazendo de
sua obra nosso objeto de estudo.
Esta pesquisa tem como objetivo realizar um estudo de caso das obras do
artista Cláudio Pastro, e fazer conexões de sua arte com a arte contemporânea.
18

Tendo em vista que o nosso objeto de estudo, apesar de contemporâneo traz


referências estéticas da arte bizantina buscamos também nos pautar em autores
historiadores da Arte.
Mesmo não sendo a postura da arte sacra da Igreja Católica Romana igual à
arte sacra da Igreja Católica Ortodoxa que determina qual a maneira do artista se
expressar, Pastro toma como referencial a arte iconográfica dos primeiros tempos da
Era Cristã como fonte de inspiração do seu fazer artístico. Daí a importância de se
analisar esse período.
Nesse sentido, julgamos necessário este trabalho, com o intuito de investigar
a obra do artista, a partir da sua compreensão estética e histórica.
Partindo das referências estéticas do artista Cláudio Pastro, abordamos no
primeiro capítulo deste trabalho as transformações da arte cristã através dos
séculos, notadamente das representações dos símbolos do catolicismo, passando
por alguns movimentos da arte na Europa e pelo Barroco, aqui no Brasil até a
contemporaneidade, levantando questionamentos a respeito do que vem a ser arte
sacra nos dias atuais, em pleno século XXI, ou seja, no Terceiro Milênio da Igreja
Católica Apostólica Romana, período compreendido entre primeiro de janeiro de
2001 e 31 de dezembro de 3000.
Neste trabalho foi analisada a importância de se conhecer os rumos que à
arte sacra vem seguindo na contemporaneidade, levando em consideração os
poucos estudos sobre o tema, conhecer artistas que fazem parte desse cenário.
Para tanto a relevância dos nossos questionamentos atinge seu cume nas
seguintes inquietações: O que é arte sacra hoje? Como a Igreja está aceitando essa
nova estruturação das imagens sacras? O que desencadeia uma série de
questionamentos tais quais: Como a comunidade cristã católica lê sua história
através da arte produzida pelos artistas contemporâneos? Aconteceram rupturas
com a representação tradicional na Arte Sacra? Há artistas na Região do Cariri
Cearense que se dedicam à arte sacra? Existe diferença entre arte sacra e arte
religiosa? Quais são as relações entre a arte sacra do Renascimento e do Barroco?
Como os símbolos cristãos católicos vêm sendo representados e quem são esses
artistas? Existem colecionadores dessa arte? Qual a importância da obra de Cláudio
Pastro no cenário atual de arte sacra contemporânea?
Este trabalho está dividido em quatro capítulos: o primeiro discorre sobre a
arte cristã, as relações da arte com o sagrado, a diferença entre arte sacra e arte
19

religiosa, sobre o ícone do Cristo, sobre o decurso da arte sacra no Ocidente bem
como sobre o espaço sagrado nos dias atuais período pós Concílio Vaticano II.
Abordamos duas questões fundamentais: investigar o fenômeno religioso a
partir da representação artística, pensando na própria arte como forma cultural
mediadora que comunica a experiência do sagrado, e entender, a partir do
conhecimento histórico da arte e prático das tradições católicas como vem sendo
feita a leitura dessas imagens na contemporaneidade.
O segundo capítulo trata especificamente das obras do artista Claudio Pastro
e da presença do ícone do Cristo que foi pintado com mais frequência na arte dos
primeiros séculos do cristianismo, e que Pastro como artista pós Concilio, retoma-o
em suas obras. Este capítulo apresenta uma pequena biografia do artista e investiga
sobre a sua poética.
A discursão que norteia o terceiro capítulo traz como tema as rupturas de
cada época da arte sacra provocadas pelos artistas, os quais transformaram e
criaram estilos próprios para representação do sagrado. O objetivo desse capítulo é
inserir Cláudio Pastro no rol dos grandes artistas inventores e buscar fazer conexões
da arte de Pastro com a arte contemporânea, ao tentar responder o que é arte sacra
hoje.
O quarto capítulo aborda as representações e sinais da arte sacra
contemporânea na cidade de Juazeiro do Norte. Quem são esses artistas? Por que
optaram por se dedicar a arte sacra? Quais são suas referências artísticas? Além
disso, nesse capítulo abordaremos o tema da arquitetura sacra contemporânea e as
relações entre a arquitetura e o sagrado, especificamente trataremos da construção
da igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória e seu projeto arquitetônico
inovador para os padrões de arquitetura sacra da região.
A partir desta pesquisa sobre os símbolos católicos, fazer a diferenciação
entre arte sacra e arte religiosa, e como a arte sacra católica é representada neste
terceiro milênio do cristianismo católico.
A arte como canal místico é o ponto principal da representação do sagrado
que será abordado a seguir, com ênfase no imaginário católico.
Esta pesquisa teve como objeto de estudo responder a seguinte pergunta: o
que é arte sacra hoje? Para tanto se buscou realizar um estudo de caso sobre a
obra do artista brasileiro Claudio Pastro como forma possível para a resposta.
20

Os objetivos específicos que se seguem, serviram para definir as etapas do


trabalho que foi realizado para alcançar o objetivo geral:
 Conhecer e identificar as representações pictóricas dos símbolos e
ícones utilizados pela Igreja Católica que tiveram seu início junto com o
surgimento da era cristã nas catacumbas romanas, ainda influenciadas
pela arte realizada na antiguidade greco-romana.
 Analisar a preocupação dos artistas de então, o momento em que
viviam para entender a arte daquela época como uma possibilidade de
estar a serviço da evangelização, e de uma religião que estava em
formação.
 Avaliar que com o passar dos séculos essa arte sacra do cristianismo
dialogou com diversas correntes artísticas.
 Relacionar a arte sacra contemporânea de Cláudio Pastro, com a arte
de outros períodos e identificar a importância e a influência deste
artista na arte sacra do Brasil e universo artístico contemporâneo.
 Identificar como a Arte Sacra dialogou com outros movimentos
artísticos e fez parte das diversas histórias das artes, termo esse
afirmado por Dana Arnold (2008), permeando e ocupando lugar de
destaque em todas elas.
Para compilação das informações, a metodologia empregada pautou-se na
pesquisa qualitativa devido ao campo que o objeto de estudo está inserido.
Para tanto a pesquisa se fundamentou em referências bibliográficas e
eletrônicas, tendo como base livros do próprio artista Claudio Pastro no que diz
respeito ao seu fazer artístico. Estudou-se Tommaso para melhor esclarecimento
sobre a obra de Pastro. Para maior entendimento sobre a arte sacra estudou-se
Burckhardt (2004), autor referência de vários estudiosos da arte sacra, também
foram estudados Gombrich (2008), Janson (2001) Arnold (2008) Ochsé (1960) sobre
história da arte. Além desses foi levado em consideração outros autores
relacionados com esses que já foram citados. Como também entrevistas e notícias
em vídeo via internet.
Além disso, foram realizadas entrevistas com o artista Cláudio Pastro (1948-
2016), e com o arquiteto pernambucano Artur Diniz. Ao arquiteto Artur Diniz foi
perguntado especificamente sobre o trabalho da arquiteta Lilia Campelo (1952-
21

2014), que foi sua sócia por 15 anos e juntos projetaram a igreja do Mosteiro de
Nossa Senhora da Vitória na cidade de Juazeiro do Norte no Cariri cearense, projeto
esse assinado por Lília Campelo (1952-2014), com a colaboração de Artur Diniz.
As entrevistas realizadas com o artista Cláudio Pasto e com o arquiteto Artur
Diniz foram feitas via e-mail, outras entrevistas foram realizadas com Gilson Vieira e
Daniel Filho, artistas da Região do Cariri que se dedicam a arte sacra, nesse caso, o
processo para coleta de dados foi auxiliado pela câmera de vídeo, e feitos registros
fotográficos dessas entrevistas, ainda foi feito pesquisa in loco dos trabalhos citados
pelos artistas.
22

CAPÍTULO I
A ARTE E SUA RELAÇÃO COM O SAGRADO

1. A ARTE SACRA E SUA RELEVÂNCIA COMO MEMÓRIA CULTURAL

Um dos maiores Ícones do cristianismo que é a face de Cristo, com o rosto


oval, nariz afilado, olhos amendoados e barba bifurcada, que conhecemos e que se
mantém até hoje, é baseada no Mandylion 2de Edessa conforme imagem achiropita
que consiste em uma história datada em 28 d.C em que o Rei Abgar de Edessa,
teria enviando até Jesus uma carta pedindo uma visita com objetivo de cura de
enfermidade, junto com essa carta o rei teria enviado um pintor de nome Ananias
considerado bom retratista para fazer o retrato de Jesus para apresentar ao mestre,
como resposta ao pedido do rei, Jesus teria enviado um Mandilion ( é uma palavra
aramaica que significa toalha) em que enxugara o rosto e nela imprimira a sua
imagem que ofereceu a Ananias acompanhada de uma mensagem, informando que
enviaria um discípulo seu de nome Tadeu para curá-lo em seu nome. Segundo
Trevisan (2003):

A primeira referência a essa relíquia encontra-se na História


Eclesiástica, de Eusébio, redigida no inicio do século IV, mas
exatamente no ano 324 d.C. [...] Outros documentos apresentam
versões sobre os incidentes que se seguiram à morte do rei Abgar.
De qualquer modo, há um período de obscuridade entre 544 e 944
d.C., quando a imagem foi levada para Constantinopla. Em 1204 a
capital foi invadida e saqueada pelo exercito da Quarta Cruzada. A
suposta imagem de Abgar novamente tomou rumo inesperado.
Ficou-nos um registro da ocupação de Constantinopla, escrito pelo
Cavaleiro francês Robert Clari, no qual se menciona um Sudário,
também pintura de uma imagem aquiropita, isto é, “não feito por
mãos humanas”. (TREVISAN, 2003, p.18)

A pintura de Edessa conforme imagens 2 e 3, se tornou modelo de


representação para os artistas do período bizantino e comum em todos os períodos
das histórias da arte e fonte inspiradora para o trabalho de Pastro. .

2
Mandylion do grego “ toalha”, imagem achiropita do grego “ não feito por mãos humanas”. (Trevisan, 2003,
p.18)
23

Imagem 2, 3, Mandilion, 28 d.C, Edessa, fonte: http://idr.seieditrice.com/materiali-


didattici/secondaria-ii-grado/il-volto-santo-di-edessa-2/

O Cristo é o símbolo mais representado por Cláudio Pastro. O artista cursou


durante um período o curso de Belas Artes na Pinacoteca e na Instituição de Ensino
Superior Fundação Armando Alvares Penteado-FAAP em São Paulo, porém não
pôde concluir, pois seus pais não tiveram condições financeiras para custear seus
estudos, posteriormente graduou-se em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica – PUC na capital paulista, fez diversos cursos de Arquitetura
Sacra na Escola de Belas Artes Lorenza da Viterbo, Itália.
Pastro é escritor, e os temas de seus livros estão sempre relacionados com o
espaço litúrgico e a arte sacra contemporânea. Além de igrejas, o artista tem
trabalhos expostos em vários espaços expositivos do Brasil e Europa, entretanto a
maioria está exposta em catedrais, Igrejas, mosteiros e no Vaticano.

1.2 OS SIMBOLOS, O SER HUMANO E A CULTURA

Ao se referir a uma pesquisa sobre arte sacra e religiosidade, ficam em


evidência duas condições encerradas na experiência humana diante de um mistério
que conduz os indivíduos: a emissão de juízos e atribuição do sentido.
Tal evidência afirma que o ser humano se depara com algo divergente da sua
trivialidade, estabelecendo a partir de então alguma espécie de vínculo, nisso pode-
24

se constatar a abertura do ser humano para o mundo e este como possível de ser
cognoscível pelo primeiro.
Trata-se de deixar claro que ser humano e mundo não são coisas
homogêneas, mas estão em profunda relação. Nessa perspectiva do ser humano,
enquanto “ser no mundo”, é que vai defrontar-se com fenômenos alheios a sua
condição, favorecidos pelos meios naturais e pela socialização, com isso sente-se
naturalmente impelido a interpretar aquilo que o acomete e causa admiração.
Somente ao ser humano é possível a interpretação do real e a elaboração de
signos articulados no entorno de sua realidade, essa informação converge para o
pensamento do escritor norte-americano do século XIX, Henry James: “Toda boa
história, está claro uma imagem e uma ideia, e quanto mais elas estiverem
entremeadas melhor terá sido a solução do problema”, texto usado no prefácio do
livro de Alberto Manguel (2001).
Sendo a cultura um espaço privilegiado de representações e o ser humano o
produtor e sujeito dessas, tanto no âmbito da existência individual quanto coletiva,
pode-se dela extrair um diferencial que evidencia a verdadeira natureza humana: a
ação simbólica. Segundo Lúcia Santaella:

Eis aí, num mesmo nó, aquilo que funda a miséria e a grandeza de
nossa condição como seres simbólicos. Somos no mundo, estamos
no mundo, mas nosso acesso sensível ao mundo é sempre como
que velado por esta crosta sígnica que, embora nos forneça o meio
de compreender, transformar, programar o mundo, ao mesmo tempo
usurpa de nós uma existência direta, imediata, palpável, corpo a
corpo e sensual com o sensível. (SANTAELLA, 2000, apud LOSADA,
2001, p.41)

Para Santaella (2000), a vida humana é construída por ações, e essas ações
se tornam meios de comunicação. Para RIBEIRO (2010) linguagem torna-se
símbolos, a palavra símbolo é vinda do grego (sym-balleim=juntar, unir, ligar), o
símbolo tem a força de unir, de ligar de comunicar outra realidade ausente, invisível.
O símbolo é algo que “toca” sentidos, recorda e traz presente uma realidade
escondida e cheia de significados.
O símbolo fala por si e liga fortemente a realidade escondida nele, segundo
Ribeiro (2010):

Vivemos rodeados por símbolos, são eles desde um aceno de mãos


em uma despedida ao alfabeto que utilizamos para falar e escrever.
25

Embora a literatura sobre o simbólico se utilize de diversas definições


reducionistas para a palavra símbolo, é certo que, ao explicarmos o
simbólico, sempre resta algo intraduzível, pois o símbolo aponta para
algo que está ausente, representando-o, mas sem apreender todas
as suas possibilidades [...] a percepção do símbolo é também
pessoal, visto que, em seu processo de formação, o ser humano
acrescenta às experiências pessoais valores culturais e sociais
herdados da humanidade que o precedeu até então. (RIBEIRO,
2010, p.46)

Nossa sociedade baseia-se no uso de símbolos, alguns intimidam e denota


poder, como o caso das fardas dos militares, outro exemplo são as tribos urbanas
que usam os símbolos para se reconhecerem.
Em todas as culturas estão presentes símbolos que permitem criar a
identidade cultural, podemos afirmar que a cultura, é simbólica quando ela passa a
ser responsável por certos padrões sociais, intelectuais e ideológicos de uma
sociedade.
Desde a pré-história o ser humano se encontra imerso em signos, a própria
linguagem usada nessa monografia também é simbólica, construída por signos,
imersa em um código pré-estabelecido.
O termo símbolo designa um tipo de signo em que o significante que é a
realidade concreta representa algo abstrato, conforme Fearing (1971), para melhor
compreensão sobre a diferenciação entre símbolo e signo afirma:

A distinção entre signos e símbolos nem sempre é fácil de


estabelecer, e há muitos casos limítrofes difíceis de serem
classificados. Falando de maneira geral, os signos ocorrem
naturalmente. Por exemplo, uma pessoa perdida numa floresta pode
interpretar um filete de fumaça no horizonte como indicio de fogo e
de possível habitação humana. Isso claramente é um signo. Se o
fogo foi aceso com a intenção de produzir fumaça como um signo
para outra pessoa, então se torna um símbolo. O caráter simbólico
fica mais claro quando supomos que o interprete e o produtor
resolveram por combinação prévia que diferentes qualidades,
formas, etc. de fumaça teriam significados especiais; com isso, ela se
transforma num código, que pode ser utilizada por ambas as partes.
O arranjo prévio pode envolver duas pessoas ou pode estar implícito
na cultura de um grande numero de indivíduos. (FEARING, 1971,
apud COHN, p.78-79)

Essa forma didática de Fearing (1971) facilita o entendimento a respeito


desses dois conceitos que abordaremos em determinados momentos.
26

Dondis (1997), afirma que símbolos são criados quando não é possível
explicar por meio de palavras as ações, organizações ou estados de espirito e que
esses símbolos vão desde os mais pródigos em detalhes representacionais até os
completamente abstratos.

1.3 IMAGINÁRIO E REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO

Desde tempos remotos, o ser humano selou a sua participação como sujeito
cultural através dos múltiplos sinais deixados ao legado histórico e civilizacional, aos
quais se atribui o nome de arte.
E são exatamente esses signos procedentes de uma visão de mundo,
independente das dissidências, que fazem da arte sem dúvida, forma simbólica por
excelência. Segundo Terezinha Losada:

Sempre nos impressiona a capacidade com que o homem pré-


histórico do Período Paleolítico tivera de representar, com acuidade,
o mundo sensível, especificamente os animais, objeto de sua
sobrevivência. Esse caráter imitativo ou “mimético” da representação
só aparecerá na Antiguidade grega e, depois, no Renascimento,
passando, então, a dominar o interesse da arte ocidental por cinco
séculos. (LOSADA, 2011, p.41)

Para Losada (2011), o ser humano pré-histórico tinha certa obsessão pela
imagem das coisas de seu cotidiano e as via e ouvia antes de se comunicar
plenamente. A imagem no Período Paleolítico era um indicativo de uma presença,
com autoridade em si mesma, manifesta algo que existe, anuncia, ordena que a
adore, eleva o ser humano do seu âmbito próprio ao sobrenatural, á uma imagem
cheia de poder, mesmo voltado para o seu cotidiano o ser humano pré-histórico leva
consigo a capacidade de aproximação.
Toda arte, embora guarde certa função mimética, acaba contendo em si a
representação do real. Pela percepção e imaginação, o ser humano inventa um
estado novo que o remete a outro estágio existencial, a realidade mostra-se de
maneira mais completa e admirável, no Paleolítico a arte passa a estar a serviço do
sagrado, mágico, marca a vida do ser humano e ele deixa marcados os espaços por
onde passa com os mesmos sinais que o marcaram conforme imagem 4 e 5.
27

Imagens 4,5 de pinturas em cavernas do Período Paleolítico, fonte:


https://www.flickr.com/photos/58944551@N00/

A imagem será um fator primário na composição dos valores da vida, essa


afirmativa converge para o pensamento de Ostrower (2010), ao dizer que “a
natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se
desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valores culturais se
moldam aos próprios valores de vida”. (OSTROWER, 2010, p.5)
O objeto artístico permanece como referencial na vida do ser humano, todo o
resto com o passar do tempo desaparece. Ao ser somado a dimensão “sacra” a arte,
qualquer que seja ela, assume conotação religiosa, embora não haja domínio
prioritário de uma religião sobre o sagrado.
O sagrado, como experiência humana, é consequência de uma espécie de
união do humano com o divino que gera uma identidade, são características dessa
união: diante do divino o ser humano é dependente e contemplador. Por sagrado
entende-se, aqui, uma qualidade de poder misterioso e temeroso, distinto do ser
humano e, todavia relacionado com ele.
As aspirações humanas, em todos os níveis, foram representadas pela arte
nas suas mais variadas classificações: o medo, a esperança, os desejos mais
escondidos, as angústias e as paixões têm sua expressão nos objetos artísticos,
bem como a vontade de comunhão espiritual.
Discorrendo sobre as representações do mundo e das ideias na história da
arte, Dana Arnold (2008), afirma:
O Apolo de Belvedere talvez seja uma das esculturas mais
conhecidas do mundo antigo. Isso se deve sobretudo à sua
impressionante aparência – tem mais de dois metros de altura e é
feito inteiramente de mármore branco. É a imagem de Apolo, um dos
12 deuses do Olimpo, que representava o espírito grego clássico,
simbolizando o lado racional e civilizado da natureza humana (...)
28

Apolo era a representação da perfeição física masculina (...) Essa


escultura, com certeza, explora a ideia de perfeição física – o
acabamento liso do mármore contribui para a ilusão de carne macia,
de músculos e do rosto idealizado e sem mácula do deus. Embora
essa imagem de Apolo, como outras estátuas masculinas da
Antiguidade, tivesse a intenção de celebrar a perfeição do físico
humano, aqui o recato de Apolo é demonstrado pela folha de figueira
sobre sua genitália. (ARNOLD, 2008, p.35,36).

Nessa leitura que Arnold faz da representação de Apolo conforme imagem 6,


escultura atribuída a Leocares, a pesquisadora fala sobre as aspirações humanas e
aspectos emocionais correlacionados com a produção dessa imagem.

Imagem 6, Apollo de Belvedere, Leocares, 320 a.C. Fonte


http://fineartamerica.com/featured/leocares-4th-c-bc-apollo-belvedere-everett.html

1.4 A REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO E A HISTORIA DA ARTE

A religião e arte nasceram juntas, sendo indissolúveis até certo ponto da


história, tendo a religião encontrado na arte seu objeto de adoração, como forma de
cultuar deuses. Esse pensamento discorre para Janson e Janson (2009):

Como se desenvolveu essa arte? A quais objetivos atendia? E como


sobreviveu intacta por tantos milhares de anos? A ultima pergunta
pode ser facilmente respondida: as pinturas raramente encontram-se
próximo às entradas das cavernas, onde poderiam ser vistas (e
29

destruídas) com facilidade, mas sim em seus recessos mais escuros,


tão afastadas da entrada quanto possível. Ocultas como estão, nas
entranhas da Terra, essas imagens devem ter-se prestado a um
objetivo muito mais sério do que a simples decoração. Na verdade
quase não há dúvida de que faziam parte de um ritual mágico cujo
propósito era o de assegurar uma caça bem-sucedida. (JANSON e
JANSON, 2009, p.15)

A arte e sua aura sagrada contrastam com o real e o cotidiano, numa intensa
e eterna busca pelo não palpável, busca por mundos diversos aquele que a nossa
consciência reconhece, mostrando uma realidade diferente, com possibilidades
infindas, que por sua vez não são comunicáveis se não pelo simbolismo da arte.
Para Gombrich (2008), o sagrado se manifesta como algo fora do ser
humano, da sua realidade, caracterizado como um poder infinitamente superior, ao
mesmo tempo em que o insere em um mundo especial, o inclui e envolve. Por sua
vez, o ser humano diante dessa relação, cunha artifícios com intuito de preservar
essa vivência que serve de elo com o sobrenatural, Gombrich (2008) dessa forma
define a intenção dos arquitetos e artistas ao construírem as igrejas nos séculos XII
e XIII:

As grandes catedrais, igrejas próprias dos bispos (cathedra = trono


episcopal), do final do século XII e inicio do século XIII, foram quase
sempre concebidas numa escala tão importante e arrojada que
poucas, se algumas houve, foram completadas exatamente como o
projeto. Apesar disso, porém, e depois das numerosas alterações que
sofreram com o tempo, continua sendo uma experiência inesquecível
entrar nesses vastos interiores cujas dimensões parecem apequenar
tudo, o que é tão somente humano e trivial. É difícil imaginar a
impressão que esses edifícios devem ter causado àqueles que só
tinham conhecido as pesadas e sombrias estruturas do estilo
romântico. Aquelas igrejas mais antigas, em sua força e poder, talvez
transmitissem algo da “Igreja Militante” que oferecia abrigo e proteção
contra as investidas do mal. As novas catedrais propiciavam aos fiéis o
vislumbre de um mundo diferente. Eles teriam ouvido falar, em
sermões e cânticos, da Jerusalém Celestial com seus portões de
pérolas, suas joias de incalculável preço, suas ruas de ouro puro e
cristal transparente (Apocalipse, XXI). Essa visão tinha descido agora
do céu à terra. Os fiéis que se entregavam a contemplação de tanta
beleza podiam sentir que estavam mais próximos de entender os
mistérios de um reino afastado do alcance da matéria. Mesmo quando
vistos de longe, esses edifícios milagrosos pareciam às glórias
celestes. (GOMBRICH, 2008, p.188,189)
30

As observações de Gombrich legitimam a arte como fonte da experiência


sacra. A dimensão sagrada do ser humano no mundo impele para além do fato
corriqueiro, e devido a isso a arte sacra conduz ao sobrenatural, entendido como
condição acima do acaso e sua superação.
Em virtude de a arte possuir essa função mediadora, adquire força simbólica
que ultrapassa as junções únicas e individuais, e passa a propiciar uma prática
ritualística com interferências morais. A respeito da função doutrinária da arte
discorre o Papa João Paulo II (1999):

Tudo isto constitui, na história da cultura, um amplo capítulo de fé e de


beleza. Dele tiraram proveito, sobretudo os crentes para sua
experiência de oração e vida. Para muitos deles, em tempos de
escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia constituíram
mesmo um meio concreto de catequização. Mas para todos, crente ou
não, as realizações artísticas inspiradas nas Sagradas Escrituras
permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça o mundo.
[...] Já de natureza diversa é o conhecimento de fé: este supõe
encontro pessoal com Deus em Jesus Cristo. Mas também este
conhecimento pode tirar proveito da intuição artística. (PAPA João
Paulo II,1999, p. 17)

As regras do Cristianismo encontra na arte uma função doutrinária, servindo


como suporte ás pregações, a imagem foi bastante utilizada tendo no fato de que
grande parte dos fiéis era iletrada, por tal motivo é explorada com êxito para “tocar
os corações” afirmando e passando as crenças e dogmas, manifestando uma noção
de que os povos podem se reconectar com o passado, usando como meio para isso
a memória coletiva, com objetivos claros de afirmação social e formação indenitária.
Sobre a evocação da memoria coletiva Kessel afirma que:

Para os romanos, a memória é considerada indispensável à arte


retórica, uma arte destinada a convencer e emocionar os ouvintes
por meio do uso da linguagem. O orador deveria conhecer as regras
e não recorrer aos registros escritos. No período medieval, ganha
importância à memória litúrgica ligada à memória dos santos. O
cristianismo, assim como o judaísmo, tem na lembrança o foco, na
medida em que pauta o presente pela rememoração dos
acontecimentos e milagres do passado. O tempo é marcado por
comemorações litúrgicas, louvam-se santos e mártires, seus milagres
são lembrados em datas precisas. (KESSEL, 2014, p.2)
31

Para Ostrower (2010) “As intenções se estruturam junto com a memória”, não
necessariamente são conscientes, ou precisam apresentar-se com objetivos
imediatos. Ostrower (2010) ainda afirma:

Em nosso consciente destaca-se o papel da memória. Ao homem


torna-se possível interligar o ontem ao amanhã. Ao contrário dos
animais, mesmo os mais próximos na escala evolutiva, o homem
pode atravessar o presente, pode compreender o instante atual como
extensão mais recente de um passado, que ao tocar no futuro
novamente recua e já se torna passado. Dessa sequência viva ele
pode reter certas passagens e pode guarda-las, numa ampla
disponibilidade, para algum futuro isolado ou imprevisível. Podendo
conceber um desenvolvimento e, ainda, um rumo no fluir do tempo, o
homem se torna apto a reformular as intenções do seu fazer e adotar
certos critérios para futuro comportamentos. Recolhe de experiências
anteriores a lembrança de resultados obtidos, que o orientará em
possíveis ações solicitadas no dia a dia da vida. (OSTROWER, 2010,
p.18)

Apesar do importante destaque do lócus que a memória ocupa no universo


artístico e da arte sacra ser um memorial, para Gombrich (2008) os artistas no inicio
da igreja procuraram representar em sua arte temas bíblicos suas narrativas visuais
das Escrituras, prezando pelo cuidado de formar em seu imaginário uma cena
totalmente original das situações descritas pela história sagrada. Segundo Gombrich
(2008):

Embora saibamos que as Escrituras nada nos dizem sobre a


aparência física de Jesus, e que Deus não pode ser visualizado em
forma humana, e apesar de sabermos terem sido os artistas do
passado que criaram pela primeira vez as imagens a que nos
acostumamos, algumas pessoas tendem a pensar que o afastamento
dessas formas tradicionais equivale a uma blasfêmia. (GOMBRICH,
2008, p.30)

Essa arte não surgiu repentinamente e sim veio seguindo a tradição na


representação que inspirou o paganismo. Esta mesma arte é a expressão de uma
sociedade cristã organizada hierarquicamente. Nesse período a Igreja detém seu
poder e se impõem aos membros dessa sociedade como o único representante de
Deus.
32

1.5 A ICONOGRAFIA CRISTÃ

Sobre a arte cristã primitiva, nossos conhecimentos dela são extremamente


escassos, quando tentamos pesquisar e seguir os passos da arte em um contexto
de transformações de uma arte a serviço de uma nova religião nos inicios do
cristianismo, quase nada temos em que nos basear.
A única exceção são as pinturas descobertas nas paredes das catacumbas,
nas galerias subterrâneas onde os cristãos romanos enterravam seus mortos.
O coveiro ou Fossore foi o primeiro artista pintor das catacumbas, que se
utilizou da arte para transmitir um conteúdo novo e simbólico, como na antiguidade
egípcia, grega, assim ocorreu na arte cristã. Segundo Pastro (1993):

Na antiguidade clássica (egípcia, grega, romana) até o VI século de


nossa era existiam “os Fossores”, homens especializados na música,
na arquitetura, na construção, na pintura, na escultura...Celebravam,
do nascimento ao funeral, os diferentes momentos da vida de uma
pessoa. Nas catacumbas romanas temos vários exemplos de
trabalhos de Fossores, como a própria auto pintura de figura de
alguns Fossores com lanterna, pá, pincéis...O Fossore era o coveiro,
o decorador, o músico...o encarregado de enviar a alma para o
além. (PASTRO, 1993, p.100)

As representações traziam sempre o intuito funerário nas pinturas que são


símbolos de salvação e misericórdia divina conforme imagem 7.

Imagem 7, Noé e a Arca, Catacumba dos santos Marcelino e Pedro, Roma, fonte;
http://temaspolemicosigreja.blogspot.com.br/2015/12/na-igreja-primitiva-ja-havia-imagens.html
33

A maioria das imagens está nas catacumbas romanas e em outros lugares do


culto do século III e IV. Estes trabalhos têm mais importância do ponto de vista
religioso e histórico do que propriamente artístico.
A Arte Cristã teve grande impulso depois do Edito de Milão 3 no ano de 313,
quando o Imperador Constantino ordenou a construção de muitas igrejas na Europa,
África e Ásia.
As Basílicas foram de fundamental importância para o desenvolvimento da
arte cristã. Nessa época, arquitetura cristã começou a ter maior relevo, se tornando
centro do mistério cristão e tem até os dias atuais, grande importância na celebração
do mistério em torno do qual a igreja celebra.
O cristianismo não se limitou somente em falar sobre Deus e sim em mostrá-
lo, uma vez que diferentemente do Antigo Testamento em que era proibida a
produção de imagens de Deus, com a vinda de Cristo, no Novo Testamento Deus
deu a conhecer sua Face. Para Gombrich (2008):
Num ponto quase todos os cristãos estavam de acordo: não devia
haver estátuas na Casa do Senhor. [...] Colocar uma figura de Deus,
ou de um dos Seus santos, no altar parecia fora de questão.. Pois,
como iriam os míseros pagãos recém-convertidos à nova fé aprender
a distinguir entre suas antigas crenças e a nova mensagem, se
vissem tais estátuas nas Igrejas? (GOMBRICH, 2008, p. 135)

Gombrich (2008), em suas observações deixa claro que essa proibição levou
ao fato de que a arte oriental cristã da escultura desaparecesse.
Já na pintura a situação foi diferente, uma vez que ela foi usada para ilustrar a
vinda de Cristo e dar conhecimento àqueles que não sabem ler. Foi usada como
recurso de apreensão da nova fé. Segundo Gombrich (2008):

O Papa Gregório Magno, que viveu no final do século VI, seguiu essa
orientação. Lembrou àqueles que eram contra qualquer pintura que
muitos membros da Igreja não sabiam ler nem escrever, e que, para
ensiná-los, essas imagens eram tão úteis quanto os desenhos de um
livro ilustrado para crianças. Disse ele: A pintura pode fazer pelos
analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler. (GOMBRICH,
2008, p.135)

3
O Edito de Milão (313), conhecido também como A tolerância do cristianismo, foi um edicto promulgado em
Milão que estabeleceu a liberdade de religião no Império Romano, dando fim às perseguições dirigidas pelas
autoridades contra certos grupos religiosos, particularmente os cristãos. O édito foi assinado por Constantino I e
Licinio, dirigentes dos impérios romanos do Ocidente e Oriente, respectivamente. Depois da aprovação, iniciou-
se segundo conhece-se pelos historiadores do cristianismo, a Paz da Igreja. Disponível em:
http://millenium1618.blogspot.com.br/2009/05/o-edito-de-milao.html
34

Gombrich (2008) relata que a utilização da arte nas Igrejas foi um dos motivos
que levou a Igreja Oriental recusar a obediência ao Papa latino. Uma parte era
contrária a produção de imagem de representação religiosa, os Iconoclastas, que no
ano de 754 d.C. conseguiram que toda arte religiosa fosse proibida na Igreja
Oriental, divergiam do Papa Gregório, acreditavam que as imagens eram sagradas e
não poderiam ser usadas como recurso didático. Afirma Gombrich (2008):

Se Deus, em sua misericórdia, pode revelar-se aos olhos dos mortais


na natureza do cristo, argumentavam eles, por que não estaria
também disposto a manifestar-se em imagens? Não adoramos essas
imagens por si mesmas, como fazem os pagãos. Adoramos Deus e
santos através das imagens ou além delas. (GOMBRICH, 2008,
p.13)

Jesus na ótica do cristianismo é o retrato humano de Deus e isso faz com que
ele possa ser representado uma vez que segundo o Evangelista São João “O Verbo
se fez carne e habitou entre nós”, a partir do instante que o próprio Deus se fez
homem e mostrou sua face à humanidade, foi possível de ser representado.
As pinturas do Novo Testamento trazem sempre o Cristo como centro e se
dividem em duas categorias: a infância de Jesus, sua vida missionária e de cenas
simbólicas que trazem o dogma do Deus-Homem, e sua mensagem de salvação,
como por exemplo, Cristo Bom Pastor que podemos observar na imagem 8, afresco
da Catacumba de Priscila, mulher cristã citada no livro Atos dos Apóstolos.

Imagem 8, O Bom Pastor, Catacumba de Priscila, Roma, fonte:


http://ellogosenelarteuniversal.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html
35

As catacumbas conforme imagens oferecem grande mostruário da arte


que era realizada nesse período do Paleocristão. Segundo Torres (2007):

Na época de Constantino a representação artística seguia um padrão


que já demonstrava as características da arte primitiva cristã: cores
chapadas e sem volume, frontalidade, formas lisas, preponderância
para a hierarquia e solenidade. A arte primitiva utilizava o simbolismo
como linguagem cifrada para representar a presença espiritual, onde
interpretava e explicava a doutrina cristã através de cenas bíblicas e
da perspectiva reversa, que tentava criar um espaço divino usando
distorções do tamanho natural e o ajustamento de proporções,
conforme importância do objeto a ser retratado. Deus é importante, Ele
está mais perto, eu não sou importante e por isso fico menor mesmo
estando no primeiro plano da obra. Portanto, no tratamento dado à
obra de arte, não importa se no primeiro plano eu deveria estar maior:
o tamanho das personagens obedece à importância religiosa, o maior
é mais sagrado, o cuidado com os pormenores não é essencial, visto
que um ramo pode representar um jardim. (TORRES, 2007, p.4)

A pintura Paleocristã tem por tema Cristo como centro da evangelização e


promulgação da fé cristã por meio de cenas bíblicas do Antigo e do Novo
Testamento, o anúncio dessa salvação é representado de forma visível ou
simbolicamente com diferentes representações resultando em uma iconografia
cristocêntrica, isto é, Cristo é o centro de tudo. Sobre a Arte Paleocristã Cedilho e
Sousa (2013), afirmam que:

A Arte Paleocristã, ou cristã antiga, foi um estilo artístico inspirado em


uma religião, o cristianismo.[...] Assim como os judeus os primeiros
cristãos evitavam criar representações de Cristo e dos Apóstolos: “
Não fará para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe lá em
cima, nos céus ou em baixo da terra” [...] Neste sentido, os primeiros
crentes em Jesus Cristo, preferiram utilizar-se de símbolos, para
representar a sua fé e as histórias da Bíblia. No entanto, veremos
adiante, que apesar da hostilidade dirigida aos cristãos em decorrência
da idolatria, devemos reconhecer a presença de imagens na religião
cristã. Neste período, a Arte Paleocristã era clandestina, por isso, usou
a linguagem pagã da antiguidade, primeiro através de símbolos
pagãos. Por exemplo, em diversos afrescos, é possível encontrar a
representação do Messias, como uma âncora, um crismão ou um
peixe. Estes símbolos representavam códigos de uma linguagem que
não eram considerados arte, mas uma forma de instruir novos cristãos.
[...] Estas representações são encontradas nas catacumbas
Paleocristãs, a partir do século II, pois poucas manifestações artísticas
do século I sobreviveram ao tempo. (CEDILHO e SOUSA. 2013 p.603-
606).
36

Para Cedilho e Sousa (2013), a arte das catacumbas era entendida somente
pelos convertidos, situava-se em passagens bíblicas, cujo tema central estava na
salvação, no entanto, eram pinturas de baixa qualidade devido às limitações
financeiras dos patrocinadores dessa arte. As condições financeiras dos primeiros
cristãos não favoreciam a produção artística, e suas dimensões sociais da arte
produzida nesse período era destinada às classes tidas como inferiores.
A Igreja Primitiva emergiu em meio a necessidades extremas, encontrando
na mensagem de um Deus presente e próximo, a esperança de encontrar um bem
supremo, em meio a uma estrutura econômica social injusta e miserável.
Enfim, na Igreja Primitiva o universo simbólico está vinculado a um significado
que dá sentido à crença, e por esse motivo a Arte não se baseava na estética ou em
processos artísticos, mas na iniciação do espectador.
A Arte Cristã nos séculos VI e VII buscava representar o humano na figura do
Cristo, num esforço de encontrar a fisionomia do Jesus histórico.
Nesse período acreditou-se encontrar esse objeto de busca através de duas
linhas distintas: a primeira por meio dos evangelhos escritos pelos autores sagrados,
e a outra linha através das imagens achiropitas ou aquiropitas como é o caso do
Mandylion de Edessa já citado anteriormente e segundo TORRES (2007) essa
imagem serviu e serve ainda hoje como referência para a iconografia da Sagrada
Face de Jesus, tanto no Oriente como no Ocidente cristão. Esse pensamento
discorre para Gharib (1997)

A primeira é constituída pelos testemunhos escritos sobre os traços


somáticos de Cristo, considerados provenientes de testemunhos
oculares. [...] A segunda fonte é constituída pelas imagens chamadas
achiropitas. A palavra significa literalmente “não feitas por mãos
humanas”, portanto devidas a uma intervenção divina, no nosso
caso, do próprio Cristo. (GHARIB, 1997, p.17)

Os cristãos ainda que não tivesse informações mais precisas sobre a


fisionomia de Cristo e de sua Mãe como de todos os indivíduos citados no Livro
Sagrado, não pararam de representar artisticamente e literariamente essa imagens
onde a figura do Cristo ocupa destaque, ainda que de forma idealizada, buscando
com tais representações uma característica de sacralidade.
No cristianismo o sacro é algo separado, para Tommaso (2015):
37

Numa concepção que o cristianismo ultrapassa, o sacro (como algo


separado) seria uma realidade que coloca o ser humano em
comunhão com Deus. Essa relação seria um pressuposto de
iniciativa do próprio Deus: a Encarnação. Como diz Burckhardt: “Para
o cristianismo a imagem divina por excelência é a forma humana do
Cristo. Disto decorre que a arte cristã tenha apenas um propósito: a
transfiguração do homem, e do mundo que dele depende, através de
sua participação no Cristo”. (TOMMASO, 2015, p.134)

A arte em sua relação com o sagrado produz objetos artísticos como objetos
de adoração e de culto contrastando presente com passado, real e imaginário,
nesse sentido arte e religião se imbrica com a necessidade de ir mais além.
Parece existir nesse elo que une arte e religião, uma busca por um significado
menos superficial das relações humanas, mostrando uma realidade diferente com
outras possibilidades, que por sua vez não são comunicáveis se não pelo
simbolismo da arte.

1.6 ARTE SACRA E ARTE RELIGIOSA

A História da arte não nos oferece uma definição como distinção legítima do
que seria Arte Sacra e Arte Religiosa, muitas vezes inclusive, confunde-nos entre
esses dois termos.
Para A Igreja Católica Apostólica Romana e seus pesquisadores a Arte Cristã
ou Arte Eclesiástica é dividida em duas vertentes denominadas Arte Sacra e Arte
Religiosa. O Papa Pio XII em seu discurso datado de 19 de Maio de 1948 voltado
aos artistas afirma que Arte Sacra é toda obra de Arte realizada para o culto
sagrado, como meio para levar os homens até Deus. Segundo o Papa Paulo VI
(1967):
Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, as belas
artes, e muito especialmente a Arte Religiosa e o seu mais alto cimo,
que é Arte Sacra, Elas tendem, por natureza, a exprimir de algum
modo, nas obras saídas das mãos do homem, a infinita beleza de
Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de Deus se
não tiverem outro fim senão o de conduzir piamente e o mais
eficazmente possível, através das suas obras, o espírito do homem
até Deus. É esta a razão por que a santa mãe Igreja amou sempre
as belas artes, formou artistas e nunca deixou de procurar o
contributo delas [...] verdadeiros sinais e símbolos do sobrenatural.
[...] A Igreja, nunca considerou um estilo como próprio seu, mas
aceitou os estilos de todas as épocas segundo a índole e condição
dos povos e as exigências dos vários ritos, criando desse modo no
38

decorrer dos séculos um tesouro artístico que deve ser conservado


cuidadosamente. ( PAPA Paulo VI, 1967,p. 54)

Essa divisão é evidente em documentos oficias da Santa Sé Apostólica, como


também se faz comunicar claramente pelo Clero, por estudiosos da Arte Cristã e por
artistas que produzem essa linguagem específica da Arte. Para Burckharot (2004):

A arte de inspiração verdadeiramente cristã deriva de imagens de


origem milagrosa, do Cristo e da Virgem [...] a arte tradicional dos
ícones e o artesanato tradicional, além de um determinado tipo de
música litúrgica, que evoluiu a partir do legado Pitagórico, merecem a
denominação „arte sagrada‟. (BURCKHAROT, 2004, p.76)

Na ótica da Igreja Católica, entende-se por Arte Sacra, obras destinadas à


liturgia e ao culto, enquanto arte Religiosa é mais representativa das devoções
pessoais, cenas bíblicas como meio de instrução, testemunho da vida dos santos,
entre outros, não necessariamente aplicáveis aos Cultos ou Celebrações
Eucarísticas.
A Arte Religiosa revela o que é particular de um individuo, como por exemplo,
suas devoções externadas por meio de serigrafias em camisetas com motivos
religiosos, design de joias de cunho pessoal e religioso, entre outros, sem
desmerecer nem diminuir o sentido dessa arte.
39

CAPÍTULO II

UMA ARTE PARA O NOSSO TEMPO


2. A OBRA DE CLAUDIO PASTRO: UMA ARTE SACRA PARA O NOSSO
TEMPO

Cláudio Pastro nasceu em 16 de outubro de 1948 na cidade de São Paulo,


cursou Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, logo em
seguida foi para Europa e cursou Arquitetura Sacra na Escola de Belas Artes
Lorenza da Viterbo, Itália.
Continuou seus estudos em academias e mosteiros da França (Abbaye Notre-
Dame de Tournay) Espanha (Museu de Arte de Catalunha), México (Abadia
Beneditina de Tepeyac) e Brasil (Liceu de Artes e Oficio de São Paulo), nesse
contexto de formação acadêmica e cultural especializou-se na representação
imagética do Cristo e demais figuras pertencentes ao imaginário católico conforme
imagem 9, e desde 1973 dedica-se exclusivamente à Arte Sacra.

Imagem 9, A Videira, afresco, Claudio Pastro. Fonte:


http://vejasp.abril.com.br/materia/claudio-pastro-artista-papa-religiao
40

Para custear seus estudos ministrava aulas pela Prefeitura de São Paulo em
pré-vestibular, nesse período pode compreender a importância da didática.
Nessa época conheceu a Bíblia Pauperum, ou Bíblia dos Pobres, esse livro
contém mais imagens do que textos lembra uma história em quadrinhos, e narra a
história da salvação. Conforme imagem 10.

Imagem 10, Bíblia Pauperum, fonte:


http://www.facsimilefinder.com/assets/uploads/OriginalDocs_old/69/golden-bible-biblia-pauperum-facsimile-
edition-04.jpg

Tommaso (2015), explica “que essa Bíblia surgiu na Idade Média e tinha o
objetivo de fazer as pessoas entenderem o texto por meio da imagem, já que na
época quase ninguém sabia ler”.
Nesse período para o artista, a percepção e gosto por imagens foram se
aprimorando, conforme analisa Tommaso (2015):
41

O gosto pelas imagens da Bíblia Pauperum o levou a valorizar a


iconografia primitiva indígena e afro-americana, influências presentes
em muitas de suas obras. E a linha Minimalista, que mais tarde se
manifestaria em sua obra, teria surgido muito tempo antes, ao entrar
em contato com a capela do Mosteiro da Assunção: continha apenas
um altar de pedra e um belo crucifixo de madeira e cobre feito por um
artista. (TOMMASO, 2015, p.6)

Cláudio Pastro iniciou seu trabalho artístico na Europa em 1970 e já era um


artista conhecido no meio da arte sacra quando em 1997 recebe o convite de D.
Aluísio Leo Arlindo Lorscheider (1924-2007), para o trabalho na Basílica de
Aparecida – SP.
Esse convite foi também reflexo da pesquisa desenvolvida por Pastro e
publicada em sua obra Guia do Espaço Sagrado, 1999, intitulada “Algumas reflexões
e sugestões sobre um local que não nos pertence: A Basílica de Aparecida. Para
maior reflexão desse espaço sagrado”. No ano de 1999 inicia os trabalhos na
Basílica..
Na noite de nove de agosto de 2001, após uma reunião sobre o projeto
elaborado por ele para a Basílica de Aparecida, Pastro entrou em coma profundo
vitimado por uma hepatite “C” adquirida devido ao nível de toxidade das tintas que
utilizava para seu trabalho, esse estado de saúde durou um mês e meio, o que
marcou profundamente o artista e foi um acontecimento significativo como ele
mesmo confessa em entrevista a Tommaso (2015), a partir desse acontecimento ele
desenvolve suas próprias tintas.
Quando saiu do coma, foi visitado por Dom Aluísio Lorscheider, que pediu
para que ele retomasse o trabalho na Basílica o quanto antes, embora Pastro tenha
se confessado um “pré-defunto”, contudo com quatro meses de recuperação, ele
retoma os trabalhos na Basílica, conforme imagens 11 e 12 de painel em azulejo
com a representação de 69 mulheres, entre elas Maria Helena Chartuni restauradora
da imagem original de Nossa Senhora Aparecida, e afresco com 2000 metros
quadrados com a representação da fauna e flora brasileira. Na arte de Pastro, a
Basílica de Aparecida assume características de Bíblia Pauperum.
Pastro é o responsável desde 1999 pelo projeto artístico e arquitetônico da
Basílica de Aparecida, o que aconteceu até ser vítima de um acidente vascular
cerebral no dia nove de outubro do corrente ano, que o deixou por 12 dias em coma
no hospital Osvaldo Cruz em São Paulo, chegando a falecer aos sessenta e oito
42

anos na madrugada do dia dezenove de outubro, o artista era transplantado do


fígado e já havia passado por 54 cirurgias.

Imagens 11 Santas Mulheres, 12 Baldaquino, de Claudio Pastro, Basílica Aparecida-SP, fonte:


http://vejasp.abril.com.br/materia/claudio-pastro-artista-papa-religiao

O projeto artístico do templo de Aparecida deverá ser concluído em 2017


segundo Cláudio Pastro em entrevista concedia a Nathalia Zaccaro(2013) “. “Entre
as novidades, teremos um mosaico de 2 000 metros quadrados ilustrado com uma
grande árvore da vida e um painel de azulejos com imagens da flora e da fauna do
Brasil”.
O santuário de Aparecida tem a marca do artista e conhecido por Capela
Sistina brasileira, e parece ser o seu mais importante trabalho em termos de
dimensões, toda a sua área interna e externa, capelas que abrigam o complexo são
trabalhos de Pastro conforme imagem 13 de uma das capelas do santuário, a
Capela São José.
Cada detalhe de capela que se localiza dentro do templo de Aparecida, tem
um significado, na Capela o piso tem desenhos de lírios que se abrem e simbolizam
43

a pureza e a sabedoria. No corredor central e na parede superior do painel central,


estrelas de Davi lembram que São José é da descendência do Rei Davi.

Imagem 13, Capela São José, Santuário de Aparecida-SP, Claudio Pastro, fonte :
http://veracidade.info/2012/01/30/

O painel “Sonho de José” na imagem 13 acima ilustrado, apresenta a


passagem bíblica: “José, filho de Davi, não tenhas medo de acolher Maria como tua
esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo…” (Mt 1,20-21).
José está deitado à sombra de uma tamareira, plantada junto às águas,
lembrando o texto do Salmo 1, onde o justo é como a árvore, que sempre está cheia
de vida porque está junto às águas. Também o cajado de José, brotando, retrata
que o justo é aquele que vive sempre da Graça de Deus. Os pombos simbolizam a
44

oferta dos pobres, tudo o que é ofertado com simplicidade de coração, pois este é
um lugar de sacrifício agradável a Deus.
A grande cúpula da Capela é toda em tons de ouro: a luz, Cristo Luz,
Pentecostes, a plenitude Pascal. Ela nos indica que Deus é a luz plena e que esse
grande vazio é espaço para o invisível presente e segundo Pastro em entrevista
concedida (2013) “José é o justo, o silencioso, aquele que permite Deus ser”.
Uma das principais características de Pastro é a temática da obra, sempre
voltada para os mistérios bíblicos e as mensagens do Cristo, com ênfase no Concilio
Vaticano II.
Pastro foi o artista responsável pela elaboração e confecção de objetos
artísticos utilizados pelo Papa Francisco em sua visita ao Brasil, conforme afirma em
entrevista a Zaccaro (2013) “Sou o responsável pela criação e pela produção das
peças religiosas que serão utilizadas pelo papa”.
Cláudio Pastro foi um artista que se dedicou a construir mosteiros, capelas e
igrejas no Brasil e no exterior, como Argentina, Bélgica, Itália, Alemanha, e Portugal.
Projetou diversos painéis de azulejos, mosaicos, afrescos, vitrais e
esculturas. Era o responsável pelo trabalho artístico da Basílica de Nossa Senhora
Aparecida em São Paulo desde 1999, ministrava também arte sacra e teologia do
espaço em universidades do Brasil e do exterior.
Recebeu importantes prêmios como o Missio, em 1989, em Aachen -
Alemanha, uma das mais importantes premiações de Arte Sacra internacional.
Pastro recebeu o título de Doutor Honoris Causa, pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, em doze de novembro de 2008.
45

2.1 POÉTICA DO ARTISTA

Pastro é um artista contemporâneo que busca nos dias atuais e em outras


épocas da história da arte sua poética, e por ser dessa época, convivia com as
realidades que também convivemos em relação à vida e a cultura, por meio de sua
arte comunica seus pensamentos, suas observações do mundo como artista
refletindo seus pensamentos por meio de sua estética, conforme se pode observar
na imagem 14, de estações da Via Sacra(1990) arte de C.Pastro, livro publicado
pelas Edições Loyola.

Imagem 14, Via - Sacra, C. Pastro fonte: http://slideplayer.com.br/slide/2354697/

É perceptível na arte de Pastro, a linha, a forma e o gestual, ele se diz


admirador dos artistas Impressionistas e Expressionistas, e de artistas de outros
movimentos do final do século XIX e inicio do XX, que também influenciaram em
suas obras como Henri Matisse, Marc Chagall, Georges Braque, Fernand Léger, Le
Corbusier, Alfred Manessier e literatos como Péguy Jaques e Raïssa Maritain e Léon
Bloy.
O artista nos relata que no Brasil tem grandes referências como Galileo
Emendabili e Fulvio Pernnachi, além de admirar Brecheret. Para Pastro esses
artistas e outros que não foram aqui citados, como ele, tiveram por referência em
46

seus trabalhos a arte sacra do primeiro milênio, a Arte Primitiva das Américas e a
Arte Africana, segundo Pastro (2016) esses artistas estavam procurando a luz, o
essencial, não buscavam imitações ou cópias.
Em algumas obras de Cláudio Pastro, notamos grande influência de alguns
artistas citados por ele em entrevista que nos foi concedida, como por exemplo,
Matisse conforme imagens 15 e 16.

Imagens 15 e 16, São Domingos, Matisse, 1950, painel azulejo, vitral, La Chapelle du Rosaire de Vence, França,
fonte:http://www.snpcultura.org/tvb_capela_matisse.html

O francês Henri Matisse é o principal representante do movimento fauvismo


que tem como uma de suas principais características o uso que faz das cores puras
com grandes áreas chapadas, e a simplificação das formas, Matisse é considerado o
artista mais importante desse movimento.
Segundo Farthing (2010):

O fauvismo foi um dos primeiros e mais breves movimentos de


vanguarda da arte moderna do século XX, tendo o seu apogeu entre
1905 e 1907. O começo de um novo século foi um período de
mudanças sócias e tecnológicas. [...] Matisse flertou com o
impressionismo, mas depois de ficar amigo de André Derain e
Maurice de Vlaminck brincou com o potencial das cores. Os três
47

foram apelidados de “fauves”(feras) depois que suas obras foram


exibidas, junto á de alguns outros, em outubro de 1905.[...] A
simplicidade do desenho de Matisse[...] cria uma imagem na qual as
relações abstratas entre forma e cor são fundamentais e na qual os
espaços vazios brilhantemente coloridos cumprem uma função.(
FARTHING, 2010, p. 370-372)

La Chapelle du Rosaire, em Vence na França é conhecida como a capela de


Matisse, essa capela recebe 70 mil visitantes anualmente como espectadores do
último trabalho do artista em vida e também do que ele declarou ter mais gostado de
realizar. Famosa pela projeção arquitetônica, pelos painéis em azulejo, objetos
artísticos, e vitrais concebidos por Matisse a capela é simples, luminosa, e
equilibrada, na sua maestria Matisse encontra no jogo de linhas e cores um universo
de movimento e tranquilidade.
Cláudio Pastro considera os artistas que admira acima citados de alguma
forma artistas da arte sacra pela busca da luz em seus trabalhos sendo a luz na
simbologia cristã a representação de Deus.
Segundo Bularmaqui (2014):

La Chapelle du Rosaire , é uma obra prima planejada e concebida


por Henri Matisse, é sem dúvida um monumento de arte sacra única
no mundo. O artista passou de 1948 a 1951, elaborando planos do
prédio assim como todos os detalhes decorativos: os vitrais, as
cerâmicas, os genuflexórios, as cadeiras, os benetiers, os
paramentos e os ornamentos sacerdotais. Assim, pela primeira vez,
um pintor realiza um monumento na sua totalidade desde a
arquitetura aos mobiliários e aos vitrais: é a sacralização da estética.
[...] Na essencialidade da linha e cor, os elementos se tornam
estruturados e se valorizam em um único movimento. Esta
consciência de desenhar pela cor faz uma composição plena de
energia, sedutora e solene. O “campo de cor” é liberado e adquire
uma autonomia. [...] Sua poética singular exalta a simplicidade, inicio
do infinito que “liga o humano ao eterno”. (BURLAMAQUI, 2014)

A exemplo de Matisse, Cláudio Pastro tem projetado e concebido capelas em


todo o mundo totalizando mais de 300 projetos concebidos (Pastro, 2013).
Sobre a utilização de forma simplificada em suas obras, o artista em
entrevista concedida a jornalista Nathalia Duarte (2013) para o jornal Globo.com G1,
fala de sua poética ao se referir as peças que estava produzindo para visita do Papa
Francisco ao Brasil no mesmo ano.
Segundo Duarte(2013)
48

Reconhecido internacionalmente, Pastro é responsável desde 2000,


pelo acabamento de toda a parte artística interna do santuário de
Aparecida. Por isso, os itens que serão usados pelo pontífice
prometem seguir a mesma linha do que já compõem a Basílica. “O
estilo das peças é o mesmo estilo da Basílica: românico. Elas estão
relacionadas ao meu perfil de trabalho desde o inicio, com foco na
simplicidade, no essencial” diz Pastro (PASTRO apud DUARTE,
2013)

A preferência pela simplificação, exclusão de detalhes, busca da luz e


preferência pela abstração são também características de muitas de suas obras.
Apesar de buscar inspiração na mística da religião, não buscou sua poética
somente no modo de vida dos mosteiros, ainda que tenha iniciado nesses espaços
religiosos seu gosto pela arte e naqueles ambientes ter tido as primeiras noções de
práticas artísticas.
Foi nesse contexto que junto com as mongas beneditinas, de origem
francesa, a madre Chantal e a irmã Anne Farcy, conheceu a arte bizantina, vem daí
a sua visão de Arte Sacra, um misto de fatos do cotidiano com a mística da Ordem
Beneditina.
Segundo Tommaso (2015), o artista declara que desde a sua infância
começou a frequentar junto com sua família mosteiros de vida contemplativa e
missas realizadas em latim.
Foi no Mosteiro Beneditino da Anunciação, em Curitiba, por meio da pessoa
de Dom Phellipi Leddet que fez suas primeiras experiências artísticas, teve como
segundo orientador o monge dom Gerard Calvet.
Nos mosteiros encontrou os primeiros meios de realizar seu processo artístico
especialmente no período que compreende suas viagens pela Europa, experiência
tal que interferiu prioritariamente em suas referências artísticas, ao entrar em contato
com a Arte realizada em igrejas de estilo romântico e arte bizantina.
Para Pastro (2001):
Madre Chantal (suiça) e irmã Farcey (belga), que me abriram para a
beleza divina do ícone bizantino... Não posso omitir a grande
amizade e incentivo que recebi dos padres operários franceses,
Michel Cüenot e Joamar Vogneron. Eles puseram-me em contato
com nossas raízes orientais, com o espírito hebraico e ortodoxia, as
origens do Evangelho. “Assim, aprendi amar o Oriente, o valor físico
da pessoa, do corpo, dos gestos, do encontro e do lugar de
acolhimento.” (PASTRO, 2001, p.17)
49

Foi nesse período que sentiu a necessidade de fazer uma arte que
anunciasse uma presença, uma arte que fosse lançada ao mundo. Cláudio Pastro
(2016), nos fala sobre a essência de sua poética “... a Arte é a Escritura em formas e
cores e toma o homem por inteiro, seus sentidos e o mais profundo do ser, muito
além do que imaginamos, expressando igualmente o indizível.” É na Escritura
Sagrada que o artista encontra sua poética.
Durante seu período de formação na Europa aprendeu a enquadrar as figuras
de maneira geométrica, estudar as infinitas possibilidades de representação
imagética de Cristo.
A arte de Pastro segue com influências desse período de estudos em que
conheceu a arte romântica realizada nas igrejas da Itália e a majestade do bizantino
das basílicas de Roma.
Sua produção artística é formada pelo que foi proposto no Concilio Vaticano
II, que fez uma reformulação quanto à liturgia e arte cristã católica: a partir de então
os santos perdem seus lugares de destaque e o Cristo volta a ser o centro da fé
cristã.
Cláudio Pastro (2016), nos fala sobre a essência de sua poética e seu inicio
na arte sacra:
Iniciei meu trabalho a 41 anos, depois do Concilio Ecumênico
Vaticano II. Sou da família católica e considero a fé como uma graça
e um dom. Logo depois do Concilio, no Brasil desenvolvia-se a
Teologia da Libertação que pensava a Arte como um luxo, coisa de
burguês. Na mesma época explodia a ditadura militar. Então, a fé
tornou-se mais uma questão social, ideológica, que espiritual. É
nesse contexto que minha vocação cristã e artística (dom) fundem-
se. Quis fazer da arte um mistério e gritar Jesus no coração do
homem como um trabalho missionário. Do contrário, eu seria um
artista a mais. (PASTRO,2016)

Pastro era um jovem quando o Concilio Vaticano II estava acontecendo o qual


pedia uma volta às fontes.
Por ser um artista pós-concilio, Pastro ousa em sua arte, porém no inicio ele
queria mostrar um pouco da arte feita no Brasil, ele não compreendia por que a Arte
Sacra e religiosa aqui do Brasil não apresentavam características dos indígenas e
dos negros.
Tommaso (2015), afirma que segundo Claudio Pastro em entrevista
concedida, “a arte barroca foi uma arte branca, com exceção da arte latino-
americana espanhola que abordou um pouco mais de cultura indígena. Sendo que
50

na cultura portuguesa o índio e o negro não entravam como elemento dessa arte”
(PASTRO apud TOMMASO, 2015).

Perguntado sobre suas influências artísticas Cláudio Pastro nos relata que:

Obviamente, as Artes Bizantina e Românica (em geral os artistas não


assinaram suas obras). E alguns como Georges de La Tour,
Zurbarán, Gauguin, Van Gogh, Picasso, Matisse, Galileo
Emendabile, Manzú, Gabriel Chávez de la Mora, a escola de Beuron,
a arte etíope, os primitivos africanos, indígenas e asiáticos, a arte
budista...

Foi a partir dessa lacuna identificada pelo artista na arte aqui realizada, que
começou a fazer representações com traços de influência indígena em meio a suas
criações conforme imagens 17, 18 e 19.

Imagens 17, Mãe de Deus, 18 capa do livro Aparecida, 19 , Basílica de Aparecida-SP, e


afresco, Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/474144667000558080/

Porém, encontrou oposição em duas vertentes da Igreja Católica no Brasil:


uma denominada Teologia da Libertação que tinha como discurso que a arte era
considerada um luxo, portanto, em um país em que seus habitantes passavam fome
e não tinha moradia digna, não se deveria gastar dinheiro em obras artísticas. Esse
movimento não entendia que a arte está ligada a cultura de um povo.
A outra resistência foi justamente uma reação popular que desejava encontrar
na arte um Cristo bonito, branco de olhos azuis. Foi um período difícil para a
51

produção artística de Pastro, uma vez que o espectador de sua obra e a própria
Igreja não entendiam e nem gostavam de sua poética.
2.1 A OBRA: CONEXÕES COM A ARTE CONTEMPORÂNEA

Em suas obras, um mesmo tema, como por exemplo, o Cristo, adquire


características diferentes quando colocado em diferentes suportes e dimensões
diversas. Porém, de maneia alguma essa obra deixará dúvidas de que é uma
representação do Cristo traduzido em imagem aquilo que se fala no Evangelho
conforme imagens 20, 21 e 22.

Imagens 20 e 21, Raboni, Painel Epifania , Pastro Mosteiro da Anunciação – SP, fonte:
https://br.pinterest.com/gabrielaallegro/cl%C3%A1udio-pastro/
52

Imagem 22, Transfiguração, Cláudio Pastro, fonte:


http://solardorosario.com.br/galeria/produto/claudio-pastro-transfiguracao/

Para Torres (2007) “Ele usa as cores primárias e chapadas em suas pinturas
e suas obras nada têm da arte renascentista ou acadêmica”.
Pastro parece usar com intenção todos os elementos contidos em sua arte,
como a distorção de tamanho, e enorme importância aos elementos das figuras
principais e a negligência aos motivos secundários, seus traços são limpos, ágeis e
puros. Segundo Torres (2007):

Contudo, para Claudio Pastro, quanto mais despojada a construção,


mais esta remete ao essencial. Ele não se interessa pelo supérfluo na
representação de uma paisagem ou na confecção de um corpo
perfeito muito menos na perspectiva da arte ilusória. (TORRES, 2007,
p. 87)

Apesar de ser influenciado por vários movimentos artísticos, o artista parece


não estar a serviço de nem um dos estilos do passado da história da arte, suas
obras expressam o quanto ele é contemporâneo, no entanto, tudo o que faz é rico
em símbolos, muito embora, parece não se preocupar com explicações ou
interpretações, que parte de críticos da arte. Ao ser perguntado sobre a linguagem
53

artística dentre as quais usa que mais gosta de trabalhar o artista nos informa que “a
pintura, o desenho (= de + signol = escrever com sinais)”. Para Pastro a pintura e o
desenho são textos visuais.
Pastro nos relata a respeito de conexões do seu trabalho com a arte
contemporânea:
Minha arte é sacra e na atualidade (sobretudo no Brasil) não há
quase nenhum interesse. Mas no contexto contemporâneo, a busca
da luz, dos espaços, das cores em si, do minimalismo...são, por si,
desejo de atingir o único essencial: Deus e o homem. A volta à
natureza é outra questão essencial. Veja toda a obra no interior da
Basílica de Aparecida.

Sua arte apresenta elementos que o diferencia dos encontrados recorrentes


em outras igrejas que contemplam uma produção com características renascentista
ou barroca conforme imagens 23 e 24.

Imagens 23, Jesus e santa Gertrudes , Helfa – Alemanha, 24 painel em azulejo, Cláudio Pastro, fonte:
Catalogo Imagens do Invisível, 2013

Apesar de seus trabalhos trazerem referência do bizantino e outros


movimentos da história da arte, Pastro não pretende ser um copista de um estilo do
passado, ele usa a liberdade estética, característica do artista contemporâneo. Do
ícone bizantino ele se apropria da intenção, uma vez que no ícone tudo deve
54

apontar para Deus e não para o artista. Para Cláudio Pastro na arte sacra tudo,
todos os elementos visuais devem apontar para o Eterno que não é novidade de
uma única igreja, mas sim do cristianismo, conforme nos relata sobre a função que a
arte exerce no cristianismo:

A função da arte na Igreja - não existe Igreja Cristã e Igreja Católica;


o Cristianismo é um só desde sua fundação (Mt 16,18). Os homens
criam as divisões! É preciso deter-se no 1º milênio quando a Igreja
era Una, apesar de algumas heresias -, foi e é não só pedagógica,
mas mistagógica, isto é, conduz o fiel para dentro do Mistério, isto é,
de Deus, única razão de nossa existência. Depois, o rito na Sagrada
Liturgia, pela Arte (música, pintura, mosaico, escultura, perfume,
paramentos, posturas...), coloca-nos, por antecipação, na dança
cósmica, tira-nos do individualismo e introduz-nos no Eterno.

Além dos painéis em pinturas, vitrais, painéis em azulejo, Cláudio Pastro cria
esculturas, com forma estilizada, os altares por ele projetados têm forma geométrica
na maioria das vezes circular, e em sua maioria são produzidos em pedra.
Em seus projetos arquitetônicos como em outras obras ele usa como
referência a narrativa do Livro do Apocalipse e Cântico dos Cânticos que compõem
a Bíblia cristã.
A partir do projeto arquitetônico, o artista cria os demais espaços,
ornamentos, painéis, vitrais, esculturas, entre outros.
Seus trabalhos são sempre realizados em suportes rígidos como parede,
madeira, bronze, eucatex, azulejo, pedra, laser sobre mármore, normalmente não
usa suportes ou materiais tradicionais como as telas, tinta acrílica ou óleo, usa
pigmentos minerais e vegetais.
Sua obra nada tem de renascentista ou barroca, pois sua arte parte das
pesquisas de materiais e formas, pautadas no conhecimento das diversas
linguagens das artes visuais, fazendo conexões com arte contemporânea.
Referindo-se a arte contemporânea Sandra Rey (2002), afirma:

A arte contemporânea levanta a questão de ausência de parâmetros


rigidamente estabelecidos. Não existe um corpo teórico, nem regras
universalizadas que possam estabelecer uma conduta traçada a
priori pelo artista [...] O artista contemporâneo, para fazer frente a
habilidades e conhecimentos tão diversificados que apresentam de
forma imbricada no processo de criação, passa a constituir a arte
como um campo fecundo para a pesquisa e a investigação. (REY,
2002, p.1)
55

A arte contemporânea surgiu das questões próprias do século XX,


representando uma ruptura com o que até então se chamava arte moderna, surgiu,
sobretudo questionadora e polêmica. Aos artistas contemporâneos não lhes
interessa os velhos moldes, o cânone da arte, o sentido tradicional de beleza,
segundo Rey (2002), “a arte requer um processo no qual o artista, ao criar a obra
invente seu próprio modo de fazê-la” (PAREYSON apud REY, 2002).
Esse estilo se prolonga até os dias atuais, período esse denominado de pós-
modernismo, propondo manifestações artísticas originais a partir de técnicas
inovadoras. Do latim o vocábulo “contemporaneu” corresponde a união dos termos
“com” (junto) e “tempus” (tempo), ou seja, significa que ou quem da mesma época.
Segundo Cauquelin (2005):

Para apreender a arte como contemporânea, precisamos então,


estabelecer certos critérios, distinções que isolarão o conjunto dito
„contemporâneo‟ da totalidade das produções artísticas. Contudo
apenas nos conteúdos das obras, em suas formas, suas
composições, no emprego deste ou daquele material, também não
no fato de pertencerem a este ou aquele movimento dito ou não de
vanguarda. De fato, os trabalhos que tentam justificar as obras de
artistas contemporâneos são obrigados a buscar o que poderia torna-
los legíveis fora da esfera artística, seja em „temas‟ culturais,
recolhidos em registros literários e filosóficos – desconstrução,
simulação, vazio, ruínas, resíduos e recuperação – seja ainda em
uma sucessão temporal – classificada de „neo‟, „pré‟, „pós‟ ou „trans‟ –
lógica, de evolução bem difícil de manter. A menos que nos
contentemos em classificar por ordem alfabética as diferentes
tendências que se manifestam na esfera artística, sempre obrigados
a admitir que muitos artistas pertencem, de acordo com o momento,
a muitas dessas tendências.(CAUQUELIN, 2005, p. 12)

Foi assumindo essas características que a arte contemporânea, rompe com


alguns aspectos da arte moderna, abandonando diversos paradigmas e trazendo
valores para a constituição de uma nova produção artística, abrindo espaço para
uma diversidade de estilos, perspectivas técnicas, e abrangência de linguagem
artística.
Nesse sentido arte contemporânea prioriza principalmente, a ideia, o conceito,
a atitude, acima até mesmo do objeto artístico final. O objetivo é produzir arte, ao
mesmo tempo em que se reflete e faz refletir sobre essa produção.
56

Imbuídos dos ideais que alicerçaram a arte contemporânea, surgem diversos


movimentos que buscaram romper com a Arte Moderna, a saber: Arte Conceitual,
Minimalismo, Expressionismo Abstrato, Pop Art, Arte Povera, Arte Cinética, Body
Art, entre outros.
Podemos compreender Arte Contemporânea e suas as manifestações que
agregam características relacionadas com:

 Sociedade da informação, tecnologia e novas mídias


 Subjetividade e liberdade artística
 Efemeridade da arte
 Mescla de estilos artísticos
 Utilização de diferentes materiais
 Fusão entre arte e a vida
 Aproximação com a cultura popular
 Questionamento sobre a definição de arte
 Interação do espectador com a obra.

A arte contemporânea oscila entre a incompreensão e julgamentos de valor


traduzidos em questões sobre sua utilidade e autencidade da obra, sendo comum a
seguinte pergunta: “isso é arte”? Conforme imagens 25 e 26.

Imagens 25 e 26 Via – Sacra, técnica: láser sobre mármore, Fonte: catalogo Imagens do
Invisível, C. Pastro
57
58

Questionado em entrevista concedida para o Jornal Laboratório das


Faculdades Integradas Teresa D‟Avila, a jornalista Meire Moreira (2008), Pastro
comenta sobre a maior dificuldade que o artista enfrenta no Brasil, e responde se
considera sua arte de fácil leitura:

Ter um interlocutor à altura. A obra de arte não nasce da genialidade


de um artista, mas do diálogo artista/mundo. Não vejo no Brasil um
incentivo à cultura [...] O brasileiro nega suas raízes, se é que as
conhece. O poder público como o privado vive a serviço do poder.
Esse é justamente um mundo antagônico à arte que exige liberdade
e gratuidade com fundamentos. [...] a grande diferença de arte nas
expressões humanas é que sua linguagem não é racional. Não se
faz a leitura com o cérebro ou só com a epiderme, mas com todo o
ser-corpo, alma e espirito. A arte vai além de nossos conceitos e
entendimentos, ela sublima o corriqueiro e nos dá uma dimensão
superior. As pessoas fazem a leitura quando dizem: “ah!” É isso o
que vale! É esse “ah!” Depois, arte exige muita disciplina, atenção,
observação, reflexão [...] e não consumo. É preciso crescer em
cultura. A arte nos eleva, e se não nos questiona e apenas nos deixa
onde estamos não é arte, é outra coisa. (PASTRO apud MOREIRA,
2008)

Cláudio Pastro se insere em várias características da arte contemporânea,


não só sobre as técnicas e os mais diversos suportes que utiliza e a pesquisa de
materiais, característica própria de seu trabalho, mas também por ser uma arte com
intenção de questionar, de fazer refletir, não apenas o espectador, mas a própria
feitura do objeto, a partir de uma mescla de estilos, fundindo tecnologias, arte e vida,
aproximando com isso o espectador, leitor de seu trabalho.
Sobre as características da arte contemporânea Ana Mae Barbosa responde
em entrevista concedida a Micheliny Verunchk (2009):

Não dá para resumir a arte contemporânea numa só característica,


pois a pluralidade domina nosso tempo. Assim, podemos apreendê-
la pela seguinte serie de qualidades: Consciência da morte da
autonomia da obra ou do campo de sentido da arte em prol da
contextualização. Metalinguagem: reflexão sobre a própria arte.
Incorporação de matizes populares na arte erudita. Preocupação em
instaurar um diálogo com o público e leva-lo a pensar. Tendência ao
comentário social. Interritorialidade das diversas linguagens.
Tecnologias digitais substituindo a vanguarda. O que mais me tem
chamado atenção é a confirmação do comentário de Arthur Danto,
de que sob a designação de arte contemporânea temos muitas vezes
a continuação da arte moderna. Isso é verdade especialmente no
59

Brasil, que é muito apegado ao modernismo. (BARBOSA, apud


VERUNCHY, 2009)

Ana Mae Barbosa indica que há diferentes perspectivas que caracterizam o


estudo, além do que já foi dito sobre a questão, ainda existe muito a dizer, por existir
uma grande dificuldade em se definir o que é arte contemporânea e de se realizar
uma pesquisa nesse campo que apresenta diferentes definições. Além disso, trata-
se de um campo emergente e não de um campo disciplinar constituído.
Apesar da obra de Pastro ter características de arte contemporânea, o artista
nos fala da influência que recebe da arte de outras épocas:

A Arte Bizantina e a Arte Românica (minha paixão) são dois tipos de


arte, uma continuidade da outra, que até hoje vazaram séculos e
carregam em seu cerne o Sagrado. Seus cânones, como sua
projeção invertida e cores chapadas, buscam o essencial. A Arte
Românica é despojada, com leis essenciais, tem os mesmos
objetivos da Arte Bizantina. Eu diria que é a arte atemporal. Não está
sujeita a psicologismos e modismos, onde o que aparece é o drama
humano e seus desequilíbrios. O Bizantino como o Românico são
artes litúrgicas, transcendentes, que exigem despojamentos, jejuns e
oração, mas sobretudo atenção, discrição, contemplação, adoração
para com o Ser celebrado, Aquele de quem nos vem a vida. Ainda é
uma arte simbólica que nos indica a presença na matéria e não o
belo pelo belo, executado por titãs, fruto do engrandecimento
humano. Não nos dizem “isso é Deus”, mas sim “Deus está aqui”.
“Eu não venero a matéria, mas sim o Criador da matéria, que se
transformou em matéria por minha cauda e na matéria aceitou morar
e através da matéria realizou minha salvação.”

O importante para o artista é a representação do Sagrado, conforme nos


afirma sobre a função de sua arte numa perspectiva de “testemunha a presença no
mundo como a do senhor da vida e da história. Deseja, também, educar a fé cristã
no Brasil, tão precária e umbilical”.
Cláudio Pastro usa a influência que recebe da Arte Bizantina e da Arte
Romântica, para esse fim, porém transforma essa arte em outra, que ao mesmo
tempo em que se refere a estilos artísticos de épocas passadas, a arte de Pastro se
apresenta como uma novidade, uma arte inovadora, uma arte para o século XXI,
conforme imagens, 27, 28, 29, 30 e 31.
60

Imagem 27 Escultura de São Pedro, C.Pastro, Alemanha, fonte: Catálogo Imagens do


Invisivel na arte de Cláudio Pastro (2012)

Imagem 28, C.Pastro painel em Aparecida - SP, foto de: Thiago leon
61

Imagem 29, C.Pastro, ateliê, fonte:


http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,577245,Lancamento_Imagens_do_invisivel_na_arte_sacra_
de_Claudio_Pastro_,577245,6.htm

Imagem 30, ateliê de C.Pastro, gravura em metal, fonte: http://www.a12.com/santuario-


nacional/noticias/detalhes/arte-e-simbologia-da-porta-santa-que-sera-aberta-no-santuario-nacional
62

Imagem 31, portas do Batistério do santuário de Aparecida – SP, C.Pastro, 2012, fonte:
http://ateliesaobento.blogspot.com.br/2012/02/em-sao-paulo-convite-do-artista-sacro.html

2.2 EXISTE UMA ARTE SACRA PRÓPRIA PARA O NOSSO TEMPO?

Pode haver uma arte sacra própria para o nosso tempo, para a humanidade
da era das tecnologias digitais, com velocidade de informação rápida, informações
estas que produzem um caráter multicultural das sociedades contemporâneas, em
um contexto em que identidades são afirmadas dando respostas locais a
globalização?
Segundo Ochsé (1960) “Parece que esta civilização nova a que pertencemos
inelutavelmente tenha realizado uma ruptura quase completa com o passado que
trazemos dentro de nós”.
Ao abordar como tema a Arte Sacra Contemporânea no século XXI, nos
deparamos com os diversos períodos da História da Arte Sacra para buscar
compreender o que é Arte Sacra hoje. Esse pensamento discorre para Ochsé
(1960):
63

Alguns poderão objetar que os mundos da ciência e da arte são


completamente diferentes e se desenvolvem segundo princípios que
são próprios a cada um, e que nada tem em comum. E que, portanto,
a linguagem da Idade Média poderia muito bem convir ao nosso
século em matéria de arte. Nada mais errôneo. Observemos as
épocas, cujo desenrolar contínuo através do tempo forma à distância o
que chamamos uma civilização. E poderemos verificar que certos
períodos são mais favoráveis que outros à eclosão de obras-primas, e
que essas obras-primas mudam de inspiração e orientação, segundo
as preocupações dominantes em cada século. (OCHSÉ, 1960, p.8)

No inicio do século VI surge à figura do artesão, individuo que trabalha em


estreita sincronia com o artista, nesse período ficou distinta a função do artista e do
artesão: o primeiro cria e aquele executa.
A arte passa a ser especialização e algumas obras eram reproduzidas com
certos fins, como adornos funerários, entre outros.
No inicio da Idade Média surgem corporações e escolas de especialização em
diversas linguagens da arte. Esse pensamento discorre para Pastro (1993):

Já por volta do século VI, percebia-se que nem todos criavam, assim
como, a arte se especializava e algumas eram reproduzidas para
certos fins: lembranças de santuários, estelas funerárias, objetos de
adornos. Portanto, a função de alguns começava a ser, meramente, o
de reprodutores (de boa qualidade pois continuava valendo a trilogia:
Verdade=Belo=Bom). A função do artesão era de bem executar (no
ferro, no ouro, na prata, na pedra, na argila...) o desenho de outro ou
de uma época de destaque. O artista cria e o artesão executa. Surgem
na Idade Média as grandes corporações, escolas de artesões
especializadas em certas áreas, como construtores de catedrais,
vitrais, ferreiros... (PASTRO, 1993, p.100-101)

A igreja antes do Cisma do oriente em 1054, após o Edito de Milão, seguia


um padrão de arte sacra. Segundo Pastro (2007):

As artes bizantinas e românicas eram simbólicas, pois queriam tão


somente indicar outra coisa [...] as figuras tinham
desproporcionalidades proposital, uma vez que queriam apenas
indicar a presença e não ser eles mesmos a presença. (PASTRO,
2007, p. 46)

Contudo havia ainda algumas diferenças entre o Oriente e o Ocidente, na arte


cristã Oriental as representações eram frontais com cores chapadas, enquanto que
na arte cristã Ocidental era mais comum o simbolismo (PASTRO, 2010).
64

A Igreja Católica se tornou a religião oficial do Império aos 28 de fevereiro de


380, por um decreto assinado pelo imperador Teodósio I (BETTENCOUT, 1987).
Desde então, como religião oficial foram construídos templos especialmente nos
locais mais importantes, que marcaram a presença de Jesus de forma significativa,
como em Belém onde Jesus nasceu, no Monte Calvário, onde foi crucificado, no
Santo Sepulcro, onde foi sepultado e ressuscitou.
Como visto, no ano de 1054 ocorreu o grande Cisma, conhecido como o
Cisma do Oriente, que dividiu a Igreja em Igreja Católica Apostólica Romana, no
Ocidente e Igreja Ortodoxa, no Oriente. No campo da arte sacra, o Ocidente passou
por diversas fases e foi seguindo o curso de diversos movimentos artísticos que
aconteceram no campo das artes em geral. Como afirma Burckhardt (2004):

A transmissão dos modelos sagrados continuou no Ocidente, até o


renascimento, e até hoje as imagens miraculosas mais celebres,
veneradas na Igreja Católica, são os Ícones de estilo bizantino.
(BURCKHARDT, 2004, p.116)

A arte sacra na Igreja Ocidental conseguiu manter-se por algum tempo e


ainda no principio do segundo milênio houve expressões profundamente sacras
como nas igrejas românticas conforme imagem 31 e nas góticas.

Imagem 31, Cristo em majestade, autor desconhecido, séc XII, Romântico, França, fonte :
https://www.studyblue.com/notes/note/n/arth-fah216-study-guide-2013-14-ward/deck/10995287
65

Porém, logo os cânones da arte sacra foram aos poucos sendo ignorados
permitindo-se todo o tipo de expressão artística dentro das igrejas. Segundo Pastro
(2010) os estilos e movimentos artísticos que aconteciam no campo das artes em
geral também usados nas igrejas. O ocidente em geral sempre se mostrou em busca
de novidades , como afirma Gombrich:

[...] existe um aspecto em que a Europa sempre diferiu


profundamente das concepções artísticas orientais. Com efeito, no
Oriente, esses estilos duraram milhares de anos e não parecia haver
razão alguma para que mudassem. O Ocidente jamais conheceu
essa imobilidade. Foi sempre irrequieto, em busca de novas soluções
e de novas ideias. (GOMBRICH, 2008, p. 185)

Nesse período, a arte religiosa cresceu muito enquanto a arte sacra aos
poucos foi desaparecendo das igrejas do ocidente.
A partir dessa busca do Ocidente por novidades na arte sacra, Pastro nos
informa que;

A Arte Sacra está ao serviço da Liturgia, é um sentir com a Igreja e


vem do Mistério em si (Deus) que age no mundo, vem da
Transcendência e se dirige à Transcendência. Essa imagem leva à
adoração, respeito, comoção, temor d´Aquele que está e age aqui e
agora. Ela é presente e designa o Invisível no Visível. Essa Arte pode
variar em estilos segundo a História, mas será sempre a mesma. Já
a Arte Religiosa varia de acordo com a atuação humana na História e
na Sociedade. Por exemplo, o gótico reflete um poder clerical, o
Renascimento reflete o antropocentrismo moderno, o Barroco a
Reforma e a Contra-Reforma... Mudam-se os estilos e o sentido
estético segundo os pensamentos e as situações da época.

O sagrado foi aos poucos perdendo o sentido e a arte se dissociando da


liturgia. A partir de então começaram a sobressair os gostos pessoais dos artistas ou
de quem encomendava as obras. A arte religiosa não difere em nada em relação à
forma da arte profana.
O uso da perspectiva, do claro-escuro, de técnicas que buscavam o realismo
dando volume e a sombra dos corpos e objetos é exatamente o contrário do que se
vê nos ícones, protótipo da arte sacra.
Ainda está em discursão se o Barroco foi uma continuação do Renascimento,
uma vez que ambos demonstram interesse pelos cânones clássicos, porém se
expressam de formas diferentes. Segundo Janson (2001):
66

Barroco tem sido o termo usado pelos historiadores da arte durante


quase um século para designar o estilo dominante no período 1600-
1750. O seu significado original – “irregular, contorcido, grotesco” –
está largamente ultrapassado. Hoje é opinião geral que o novo estilo
nasceu em Roma nos últimos anos do século XVI. Mas discute-se
ainda se o barroco é a última fase do Renascimento, ou se constitui
uma era distinta tanto do Renascimento como da época moderna.
(JANSON, 2001, p.715)

Enquanto o Renascimento tinha formas mais moderadas e aústeras, no


Barroco os mesmos temas tinham mais dinamismo, dramaticidade, contrastes,
exuberância e beleza que causa admiração a todos que apreciam. Um exemplo
clássico dessa diferença são as esculturas de Michelangelo e de Bernini conforme
imagens 32 e 33, ambas retratam o mesmo personagem bíblico o rei Davi, porém
sua forma e expressão são muito diferentes. Podemos notar que o barroco não dá
relevância ao nu, mas o naturalismo do corpo humano é evidente.

Imagens 32, Davi, Michelangelo, 1504, Roma - imagem 33, Davi, Bernini, 1623, Roma. Fonte:
http://prosalunos.blogspot.com.br/2015/08/barroco-i.html
67

Foi no Concilio de Trento4 (1545 a 1563), convocado pelo Papa Paulo III, que
o Barroco tomou força na Igreja Católica. Nesse Concilio, foram emitidos inúmeros
decretos disciplinares em oposição aos protestantes, entre eles a unificação da
Santa Missa, a confirmação de Cristo na eucaristia e definiu explicitamente que as
imagens eram mediadoras para se elevar a Deus, e faziam parte da doutrina Cristã.
A arte da igreja continuou seguindo esse viés clássico e, embora os
movimentos que se seguiram procurassem se desvencilhar desses cânones, a arte
sacra permaneceu presente nas igrejas até os dias atuais, sobretudo no Brasil.
Contudo, no campo das artes em geral, desde meados do século XIX, alguns
artistas começaram a se desprender das regras das academias de artes vigentes
até então. O movimento Impressionista foi um de tantos outros que buscavam uma
nova forma de fazer e ver a arte. Com o advento dos avanços científicos e
tecnológicos, a arte também foi mudando seu modo de ser feita e de ser vista.
Nesse sentido, variados são os movimentos artísticos que promoveram mudanças.
Esses movimentos procuravam se libertar de padrões e buscavam novas
formas de expressão. São exemplos, o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo,
dentre outros. Nesses movimentos, vários artistas fizeram uso de temas cristãos em
suas pinturas conforme imagens 34 e 35 pintaram sobre esse tema em suas telas,
porém com interpretação própria.

Imagem 34, O cristo amarelo, Paul Gauguin, 1889 - imagem 35, Crucifixão branca, Marc Chagal,1938, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/339529259388173272/

4
O Concílio de Trento foi o décimo nono conselho ecumênico reconhecido pela Igreja Católica Romana. Foi.
convocado pelo papa Paulo III, em 1542, e durou entre 1545 e 1563. Teve este nome, pois foi realizado na
cidade de Trento, região norte da Itália.
68

No Brasil, a influência eurocêntrica, que o invadiu desde a sua colonização,


inclusive no campo da arte, tem consequência até os dias atuais. No mundo
secularizado, a arte sacra não é mais vista com o mesmo olhar, parece não ter o
mesmo valor. Conforme afirma Pastro (2010):
Neste século, o Cristianismo católico parece desorientado, sobretudo
nas grandes cidades. Muitas expressões vitais do cristianismo não
são exercitadas. Não há espaços para a orientação ou os espaços
estão desorganizados e, muitos casos, estão sendo utilizados para
outras finalidades. (PASTRO, 2010, p.292)

A arte sacra parece passar um drama, uma crise nos dias contemporâneos
como se os artistas não soubessem mais o que produzir nesse sentido.
Pastro nos relata que:

Hoje não se faz Arte. O homem não celebra a vida como um dom e
um louvor. A criatura quer ser o centro em lugar do Criador e
Redentor. Rodopia como o cachorro em torno do próprio rabo. O
homem de hoje não cria, balbucia, não tem um referencial: é um
pequeno tecnocrata que repete o que a sociedade manda. Sem
contemplação, o homem não se conhece a si mesmo e nem
vislumbra o belo. Creio que até pouco após a Segunda Grande
Guerra, ainda tivemos uma Arte Contemporânea Sacra. Veja a Arte
da Escola de Beuron (movimento litúrgico que precedeu o Concílio);
os artistas do impressionismo e expressionismo, destacando-se
Picasso e Matisse; os arquitetos Emil Steffann, Antoni Gaudí,
Niemeyer, Le Corbusier, Rudolf Schwarz, influenciados pelo teólogo
Romano Guardini, o dominicano Couturier, o beneditino José
Surchamp. É preciso considerar ainda as Revistas L´Art Sacré,
Zodiaque, Das Münster, L´Art d´Église. Outros artistas: Marc Chagall,
Georges Rouault, Odilon Redon, Fernand Léger... No Brasil: Galileo
Emendabile, Fulvio Pennacchi... Quando falo em Arte Sacra
contemporânea, considero a arte objetiva, dentro do Mistério da
Igreja (esposa de Cristo) e não arte devocional, subjetiva, como
aquela predominantemente espalhada pelo Brasil, fora do contexto
universal. É preciso distinguir Arte Sacra (de Culto) de Arte Religiosa
(devocional).

O artista admite a crise que a arte sacra contemporânea vem enfrentando,


esse pensamento discorre para Ochsé (1960) quando afirma sua inquietação em
livro publicado anterior ao Concílio Vaticano II

Sem dúvida, o drama da arte sacra reside no fato de que a maioria


dos artistas nada tem a dizer. E que, por infelicidade, os outros são
incapazes de formular o que quereriam dizer nos moldes de uma
tradição sempre viva, infinitamente complexa, mas que ignoram
completamente. (OSCHÉ, 1960, p 18)
69

É nesse contexto que surge na igreja a necessidade de uma volta ás fontes,


com a reforma Litúrgica que começou com o Concílio Vaticano II e que acontece
paulatinamente até os dias atuais.

Após o Concílio, jovens artistas estão despontando com o frescor e o


ardor dos primeiros seguidores da nova doutrina e retomando o
verdadeiro sentido da beleza. Entre ele se destaca Cláudio Pastro.
(ALCEU DE AMOROSO LIMA apud PASTRO, 2001, p.302)

Pastro redescobre os ícones e traz às igrejas elementos ricamente simbólicos


como, por exemplo, o ícone do Pantocrator conforme imagem 36, trabalho que fez
sob encomenda para o Vaticano, que até então nunca tinha sido representado em
igrejas no Brasil, dando á igreja contemporânea uma grande contribuição na reforma
dos espaços sagrados nos dias atuais.

Imagem 36, Pantocrátor, incisões com estilete no latão. 2000, C.Pastro, Vaticano, fonte:
https://br.pinterest.com/pin/300052393902896804/

A arte de Pastro com sua diversidade de suportes, materiais, tecnologias


contemporâneas e linguagens, está voltada às fontes conforme o Concílio Vaticano
70

II reflete e faz refletir, tirando o espectador do lugar comum, portanto, com


características de uma arte sacra própria para o nosso tempo, o século XXI.
Cláudio Pastro recebeu o convite do Vaticano para realizar uma obra com a
imagem de Cristo para o ano jubilar de 2000, o artista denominou esse trabalho
Pantocrátor, no entanto, esse trabalho não é o único trabalho a convite do Vaticano.
Por ano jubilar a igreja compreende o costume dos jubileus, é a
comemoração do tempo, e Cristo ao se encarnar passa a ser o marco do tempo
cristão (antes de Cristo e depois de Cristo).
Os jubileus, portanto são datas de grande relevância para os cristãos, nesse
contexto é que a obra em questão de Cláudio Pastro adquire também essa
característica singular e tem como objetivo anunciar esse jubileu de Cristo no século
XX em transição para século XXI.
Uma curiosidade dessa obra é que deveria ser ecumênica, isto é, representar
Cristo para as religiões cristãs, católicas, ortodoxas ou protestantes, uma vez que
para o ecumenismo não poderia ser um a pintura, pois a representação pictórica não
é aceita pelos protestantes, e não poderia ser uma escultura, pois na igreja Ortodoxa
não pode haver estátuas.
Em entrevista concedida a Torres (2007), Pastro afirma que sua obra adquiriu
características pictóricas sem necessariamente ser uma pintura e forma
tridimensional sem ser uma escultura, o artista produziu um objeto artístico.

[...] deparei-me com a Igreja Oriental, ortodoxos, armênicos, sírios,


etc., que não aceitam a figura de Cristo como escultura, mas
podendo ser um a pintura, a questão dos ícones. Depois, me
confrontei com a Reforma Protestante, luteranos, presbiterianos,
calvinistas, metodistas, etc, onde também não entra a escultura e
nem a pintura. Então, tinha de colocar o próprio Evangelho, que é a
Palavra de Cristo, de fato, o próprio Cristo, com sinais gráficos
também. (CLÁUDIO PASTRO apud TORRES, 2007, p. 107).

Para esse trabalho, os materiais utilizados, metal e a madeira, as matizes, o


preto e o amarelo, as formas geométricas, o círculo e o quadrado, a proporção e as
linhas, as representações pictóricas encontram um espaço dentro da simbologia do
universo cristão.
A obra não foi bem aceita por algumas correntes da igreja católica, segundo
Torres (2007):
71

Não aconteceu como pretendiam, pois havia duas correntes


antagônicas no Vaticano que preferiam um Cristo barroco, sofredor e
o que eu representei foi uma Imagem de Cristo Vencedor com
características bizantinas. Depois eu fiquei sabendo por Dom
Calderón, que ele achava que tinha que ser um Cristo barroco. Mas a
obra foi colocada em lugar de destaque e, eu tenho a liberdade de
usar a imagem. (CLAUDIO PASTRO apud TORRES, 2007, p. 107).

No Brasil ocorreu pouca divulgação do trabalho do artista devido ao fato de


correntes atuantes dentro da igreja católica não terem gostado da proposta, pois
preferiam um Cristo barroco (CLAUDIO PASTRO apud TORRES, 2007).
A obra hoje se encontra para apreciação no Vaticano, sendo a única obra
exposta numa parede preta, no grande corredor que liga a Capela Sistina à Capela
Paulina, junto ao balcão superior em que o Papa se dirige ao povo.
Mesmo com controvérsias dentro da própria igreja católica, a peça
permanecerá exposta em seu espaço de destaque, o que manifesta a posição da
igreja por definir seu espaço expositivo dentro do Vaticano.
Entretanto, mesmo que venha a ser removida no futuro por qualquer motivo, é
possível que seja transferida para outro espaço em um dos museus vaticanos, mas
certamente permanecerá nas dependências da Santa Sé, dada a importância a ela
atribuida e ao evento que simboliza.
A obra do brasileiro Cláudio Pastro o insere, diante do exposto, no rol dos
grandes artistas sacros, e permanecerá exposta entre os grandes mestres da
história da arte.
72

CAPITULO III

AS RUPTURAS NA REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO

3. RUPTURAS NA REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO, NECESSIDADE IMPOSTA


POR CADA ÉPOCA

. Nesse capítulo abordaremos o tema das rupturas na arte provocadas pelos


artistas inventores, indivíduos que romperam com a representação imagética
tradicional com o que vinha sendo feito na Arte até então, provocando com isso uma
forma de discurso diferenciado na arte sacra.
Analisaremos alguns artistas tidos pela História da Arte como inauguradores
de uma época inteiramente nova na Arte, com o intuito de inserirmos o artista
Cláudio Pastro dentro desse contexto.

3.1 A ARTE DE GIOTTO DI BONDONE

O primeiro deles é o pintor florentino tido como gênio Giotto di Bondone


(1267-1337), a maior habilidade de Giotto foi unir um senso da realidade inédito na
arte da época somado a capacidade de produzir ilustrações extremamente
expressivas e humanas do texto bíblico. Suas pinturas causavam grande assombro
entre os seus contemporâneos, dada a sua grande semelhança com o mundo
visível.
O primeiro aspecto a salientar na pintura de Giotto é a ilusão de
tridimensionalidade com que constrói suas figuras, em sua obra os personagens
parecem rolar sobre si mesmos, o artista obtém uma notória sensação de solidez
nos corpos conforme imagem 37.
Segundo Gombrich (2008):

A imagem da Fé pintada por Giotto, uma matrona segurando uma cruz


numa das mãos e um pergaminho na outra. É fácil ver semelhança
entre essa nobre figura e as obras dos escultores góticos. Mas não é
uma estátua. É uma pintura que produz a ilusão de uma estátua
arredondada.[...] Nada que se parecesse com isso tinha sido feito em
mil anos. Giotto redescobriu a arte de criar a ilusão de profundidade
numa superfície plana. Para Giotto, essa descoberta não representou
apenas uma estratagema a ser exibido como tal. Ela habilitou-o a
mudar toda a concepção da pintura. Em vez de usar os métodos da
73

escrita pictórica, ele criou a ilusão de que a história sagrada estava


acontecendo diante dos nossos olhos. (GOMBRICH, 2008, p.201)

Imagem 37, Fé, Giotto, afresco, 1305, Capella dell’Arena, Pádua, Itália,. Fonte :
http://pt.wahooart.com/@@/8XY4ZX-Giotto-Di-Bondone-f%C3%A9

Giotto não inaugura somente a Perspectiva na Arte conforme imagem 38,


mas cria uma identidade para o artista, faz rupturas com o comum, onde a obra se
sobressaia ao autor, Giotto muda esse lugar comum e a partir dele o artista se
sobressai á obra. Esse pensamento discorre para Gombrich (2008):

A fama de Giotto espalhou-se rapidamente. O povo de Florença


orgulhava-se dele. Interessava-se por sua vida, e corriam anedotas a
respeito da sua destreza e de seus ditos espirituosos. Também isso
constituía uma novidade. Nada de parecido acontecera antes. É claro
que tinha havido mestres que desfrutavam da estima de todos e eram
recomendados de mosteiro para mosteiro, ou de bispo para bispo.
Mas, de modo geral as pessoas não consideravam necessário
preservar os nomes desses mestres para a posteridade. Tinham-nos
na mesma conta em que temos o trabalho de um bom carpinteiro... Os
próprios artistas tampouco estavam muito interessados em adquirir
fama ou notoriedade. Era muito frequente não assinarem sequer suas
obras. [...] Também a este respeito, o pintor florentino Giotto inicia um
capitulo inteiramente novo na história da arte. Dos seus dias em
diante, a história da arte, primeiro na Itália e depois em outros países,
74

passou a ser também a história dos artistas. (GOMBRICH, 2008,


p.202-205)

Imagem 38,A adoração dos Reis Magos, Giotto, Capela Arena ,Pádua- Itália, fonte:
http://www.edubraga.pro.br/art-design-environmental-art-land-art-performance-art-povera-art/a-
adoracao-dos-reis-magos-segundo-giotto/

Essa pintura de Giotto faz parte de uma série que se encontra no interior da
Capela Arena, em Pádua Itália. O tema da série é a história da vida e da paixão de
Jesus Cristo.
Aqui, Giotto celebra um dos eventos cristãos mais felizes, um fato centrado na
história do Natal: a chegada dos Reis Magos, que segundo o Evangelista Matheus
essas figuras são três sábios do Oriente que vieram adorar o Salvador recém-
nascido, trazendo como presentes ouro, incenso e mirra.
Segundo Cumming (2003):

Giotto introduziu uma nova dimensão na arte que, na época, parecia


nada menos que miraculosa: figuras que pareciam existir no espaço
real e que mostravam emoções humanas reconhecíveis. Todas as
pinturas da Capela Arena são afrescos verdadeiros, isto é, foram
pintadas diretamente na parede da capela, enquanto a argamassa
ainda estava úmida, tornando-se assim parte integral do edifício.
(CUMMING, 2003, p.10)

Outro elemento do trabalho de Giotto deve ter sido bastante instigante para
seus contemporâneos, o fato de várias de suas figuras de seus afrescos parecem se
75

desprender e realizar atividades banais. A compostura solene e hierárquica das


figuras bizantinas é deixada de lado em Giotto, suas imagens agem como seres
humanos de modo corriqueiro e até em atitude banal, conforme imagem 25 acima,
atentar a detalhe do rapaz olhando o camelo.
Giotto dá a pintura um ligar de destaque na arte, e por dominar suas técnicas,
esse artista ganha fama por suas obras de qualidade impecável, auferi grande valor
e essas obras passaram a ser assinadas. O artista, a partir de então é o grande
mestre, o criador e supera a figura do artesão, nesse contexto surgem os mecenas
indivíduos patrocinadores dessa Arte.

3.2 MICHELANGELO, ARTE COMO UMA REPRESENTAÇÃO CULTURAL

A sociedade medieval analisava a sua história como a.C. e d.C, portanto, era
a partir do céu que construía essa narrativa, já ao analisarmos o contexto no qual
surge o Renascimento (1330) percebemos o contrário, a história não é dividida de
acordo com o plano salvífico de um Deus.
Porém, essa história é construída a partir da terra mesmo, tendo como base
as ações humanas, é o humanismo, palavra chave desse movimento, outra palavra
chave é o individualismo, pela qual se compreende essa humanidade a partir de
uma nova consciência, dotada de autoconfiança por isso “a palavra Renascimento
significa nascer de novo ou ressurgir...” (GOMBRICH, 2008).
A arte representou esse choque cultural entre os dogmas da igreja e o
movimento humanista que defendia o antropocentrismo. Nesse contexto surge a arte
de Miguel Ângelo Buonarroti (1475-1664) ou Michelangelo, um dos principais artistas
da época, que manifestou as ideias dessa corrente humanista nas obras sacras que
produziu, apresentando uma nova visão sobre a realidade humana conforme
imagens 39 e 40.
76

Imagens 39 e 40, A criação de Adão, Miguel Ângelo, 1512, Capela Sistina, Roma, fonte:
http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=195&evento=1

Michelangelo representa o momento do ato da criação, onde o ser humano


também é protagonista desse ato, representado no toque do dedo divino, e no olhar
que se segue entre Adão e Deus Pai. Adão é apresentado como um jovem vigoroso
atlético, características semelhantes à representação divina na imagem.
Michelangelo faz rupturas ao trazer para arte sacra, características da arte profana e
parece encontrar em sua arte um discurso político.
A cada época a sociedade humana sente a necessidade de expressar seus
sentimentos e ideias. Os artistas sabem usar a arte com maestria como recurso para
tal, podemos comprovar isso através dos tempos e das diversas representações
artísticas.
A partir das obras de Michelangelo os artistas passam a representar em suas
obras uma nova concepção cultural, acompanhando assim o contexto de
desenvolvimento social e político, como o caso de grupos de intelectuais que
combatem a ordem e a hierarquia do mundo medieval, nos séculos XV e XVI,
influenciando com isso não só a vida social da época, mas também a arte.
Segundo Burckhardt (2004):
77

Com o advento do renascimento, e mais ainda no Barroco, a


“sensação do espaço” tornou-se centrífuga. Nas obras de
Michelangelo, por exemplo, é como um espiral que “devora” a
superfície; suas obras dominam o espaço ambiente, não para
reconduzí0lo a seu centro, ou a seu eixo onipresente. E sim porque
projetam sobre ele seu poder sugestivo, sua fascinação.
(BURCKHARDT, 2004, p. 244)

É certo que, para os estudiosos da arte sacra houve um declínio da arte


sagrada durante esse período, pois junto com o assombro da perfeição desses
artistas surge a arte profana no meio de tudo isso.
Com a substituição da imagem de Deus transmitida pela arte medieval, pela
imagem do homem autônomo, que se glorifica a si mesmo, na Renasceça, esse
fato, em certo sentido, representaria a perda do “centro”, o ser humano já não é mais
verdadeiro humano quando não tem seu centro em Deus. Isso implica numa
descaracterização da arte sacra, cuja característica principal é apresentar o divino.
O Renascimento ao contrário apresenta o artista mais que a mensagem que
deveria ser passada com a obra.
Segundo Ochsé (1960):

Dom Claude-Jean nesmy, nos “Cahiers de la pierre qui vire”


(Témoignages,1953) formula uma opinião análoga: “ uma arte de
expressão de si, pode ser religiosa e cristã, mas não é uma arte
sacra. Não exprime Deus, mas a criatura. Além do mais, essa arte é
individual. Não é um arte da igreja”. A definição nos parece ambígua.
O próprio da arte sacra consiste, em nossa opinião, em exprimir
Deus através da criatura. Todo artista, sem exceção exprime-se em
sua obra. Fran Angelico, Memling ou Giotto não escaparam a essa
lei. Sua obra é sagrada porque é aberta e não fechada sobre si
mesma, implicando um além-de-si. O religioso não sagrado é uma
noção perigosa e mal delimitada, correndo o risco de nos impelir para
algo vago deísmo em que se refugiam as inspirações informuladas
do incrédulo contemporâneo. (OCHSÉ, 1960, p.14)

Ochsé (1960), ao se referir a emoção causada pela arte sacra, afirma a


necessidade desse trabalho ser realizado por artistas verdadeiramente assumidos e
determinados por essa arte, como á um ideal, pelo fato que a única forma de
despertar nos outros sentimentos religiosos é quando o próprio artista é religioso e
tem compromisso com sua fé.
Para Ochsé (1960):
78

Um artista que aborda ocasionalmente o sagrado, não pode ter a


mesma competência que aqueles que a ele se consagram. E, aliás, a
liberdade de expressão possui limites impostos pela igreja. Esses,
que querem libertar suas obras do peso dos séculos passados, nada
compreendem da liturgia e do ensino da igreja, pois “a tradição dos
séculos é que formou a iconografia cristã”. Não será essa tradição
secular que tempera a impaciência dos inovadores mais favoráveis
“a marcha da arte para frente” que as perigosas revoluções? [...] A
marcha para adiante da arte estaria perdida, se de tempos em
tempos não se fizesse uma tábua rasa das tradições, para resolver
os problemas da arte monumental, segundo as vistas pretensamente
modernas e radicalmente novas. (OCHSÉ, 1969, p.55)

Segundo Ochsé (1960), a associação das duas palavras arte e sacra, revela
uma relação difícil. Pois as pretensões do artista deveria tornar visível o místico,
através da figura das coisas por ele representadas. A autora sugere para o artista
sacro, que para tornar essa sua realidade ao inventar uma representação com uma
nova leitura visual dos textos bíblicos, o artista deveria aproximar-se do Sagrado,
pois para encontrar a Deus, o religioso afasta-se das imagens, já o artista ao
contrário, para qualquer que seja o fim de sua obra, sacra ou profana, passa pelas
linhas e formas, para Ochsé (1960) o artista deveria unir a visão artística à visão
religiosa para representar o simbolismo da arte sacra, extraindo delas sua visão de
fé.
Para estudiosos da arte sacra, o Renascimento foi o período em que se
perdeu o sentido do símbolo.
Segundo Burckhardt (2004):
Como a ruptura de uma represa, o Renascimento produziu uma
cascata de forças criativas, cujos sucessivos níveis correspondem a
níveis psíquicos: ao projetar-se para baixo, essa cascata alarga-se,
ao mesmo tempo, perde unidade e vigor. [...] no Renascimento, a
ruptura foi quase total. [...] O Renascimento rejeita, pois, a intuição,
transmitida pelo símbolo, em favor da razão discursiva, o que não
impede, evidentemente, de ser passional; ao contrário, já que o
racionalismo coaduna-se muito bem com a passionalidade. Enquanto
o centro do homem – o intelecto contemplativo, ou o coração – é
obscurecido ou abandonado, as outras faculdades sofrem cisão
fazendo surgir antíteses psicológicas. Assim, a arte renascentista é
racionalista – o que se expressa no emprego da perspectiva e em
toda sua teoria arquitetônica – e, ao mesmo tempo passional.
(BURCKHARDT, 2004, p.248)

Nesse período o que se produziu de arte sacra teve seu valor, porém, não foi
uma arte voltada para o culto, não contribuiu com a fé cristã, foi uma necessidade da
igreja de tentar acompanhar sua época com as revoluções de então. Pastro(1993),
ao se referir ao Renascimento afirma que:
79

Foi a grande e única expressão artística dos séculos XV, XVI, XVII e
XVIII e se apresentou sob várias formas como: a Arte Renascentista
Clássica, o Barroco, o Rococó e o Maneirismo. A partir dessa época,
tomou-se consciência da existência de outras expressões de arte na
América, África e Ásia, mas essa arte foi desconsiderada até o final
do século XIX. O Humanismo Renascentista (do latim,
Humanus=Nobre) foi uma consequência do Humanismo vinda da
última parte da Idade Média onde a natureza era cultuada com
estima aos antigos clássicos, mas fiéis a fé e ao sobrenatural.
Porém, o culto exagerado aos clássicos da antiguidade greco-
romana teve como consequência o Renascer das artes clássicas
pagãs: o belo enquanto gozo, prazer em si. Não só: o simbolismo era
naturalista. [...] A arte será apreciada como pura expressão de
beleza, julgada e valorizada segundo regras propriamente estéticas e
não mais como referencia á uma ordem extrínseca a ela, como a
religião, por exemplo. (PASTRO, 1993, p. 160)

A cada época parece existir uma necessidade de inovação na arte sacra, e no


período do Renascimento, Michelangelo foi um dos grandes mestres dessa arte,
seus trabalhos em especial O Juizo Final conforme imagem 41, pintado na Capela
Sistina, que parece por fim ao estilo do Renascimento e traz características que
anunciam um novo estilo: o Barroco.

Imagem 41, O Juizo Final – afresco, 1534, Capela Sistina, Michelangelo, fonte:
http://ips.plug.it/cips/supereva/cms/2016/02/cappella-sistina.jpg

Mais do que da Capela Sistina, a obra fala do artista, Michelangelo deixa sua
marca na história da arte sacra com seu estilo de características pagãs, inserido na
igreja.
80

3.3 O BARROCO DE ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA

As origens da palavra barroco são incertas. Acredita-se que seja derivada do


termo português barroco “jóia falsa” ou do espanhol berrueco que significa “pérola
de formato irregular”. Contudo foi a definição do estilo artístico desenvolvido no
século XVII, a palavra foi usada posteriormente com conotação negativa. Assim, no
final do século XVIII, críticos de arte passaram a utilizar o termo para definir o estilo
artístico do século XVII, que muitos além de rejeitar, definiram como exagerado e
extravagante. Segundo Bazin (2010):

A crença no valor absoluto da concepção clássica de arte – um


preconceito estabelecido pelo Renascimento e retomado no final do
século XVIII pelo movimento conhecido como “neoclássico” – levou a
considerar inferior todo e qualquer desvio em relação a esse gênero
de arte. Uma das consequências foi que alguns dos grandes estilos
criados pela civilização ocidental receberam nomes que a principio
eram expressões de dedem: gótico, barroco, rococó. Dentre os
vários significados da palavra “barroco”, o que parece ter sido mais
comum entre artistas e teóricos da arte remonta ao termo usado
pelos joalheiros da Península Ibérica para designar uma pérola
irregular - portanto, “barroco” significava “imperfeito”. (BAZIN, 2010,
p.1)

Bazin (1997) aponta Aleijadinho no Brasil como um dos mais importantes


artista da arte barroca:
A arquitetura brasileira, assim como a de Portugal, da qual
decorre[...} Aqui, a arquitetura ornamentista saberá resolver em uma
sinfonia mozartiana as aparentes dissonâncias das curvas e contra-
curvas.. O mestre desta arte será Aleijadinho – um mestiço – cujo
retábulos e fachadas de igrejas têm o envolvimento lírico de certos
santuários suábios. Mas Aleijadinho é um artista imenso, em cuja
alma defrontavam-se o mestre e o escravo, todo orgulho do vencedor
e os sofrimentos do vencido. Sua arte tem duas faces. Enquanto o
arquiteto embebeda-se de harmonia, o escultor exorciza a angustia
de um agonizante. (BAZIN apud Ávila, 1997, p.21)

Para Bazin (1997), com Antônio Francisco Lisboa o Aleijadinho, surge uma
expressão artística brasileira diferenciada, ele desenvolve uma arte livre dos
padrões lusos, uma arte espontânea e inventiva, que não copiava inteiramente os
modelos já existentes, mas que primava pela originalidade e inovação.
Ao invés de simplesmente exportar os modelos já pré-estabelecidos da arte
barroca portuguesa, como um simples copista, Aleijadinho procurou transformar tais
81

modelos, ao acrescentar espontaneamente concepções e soluções próprias, de


forma a criar um estilo distinto, único. Conforme imagem 42.

Imagem 42, Santa Ceia, Aleijadinho, Congonhas do campo – MG, fonte:


http://www.panoramio.com/photo/5759430

Aleijadinho consegue trazer para sua arte, referências a sua raiz, sendo ele
um mestiço, suas imagens são representadas descalças a exemplo dos escravos, e
também monta cenas da vida de Cristo.
Discorrendo sobre a genialidade de Aleijadinho e sua influência no barroco
mineiro, Natal (2007) afirma:
Procurando flagrar os primeiros indícios de uma arte brasileira
genuína, Mario de Andrade elege [...]os conjuntos arquitetônicos
baianos, carioca e principalmente o mineiro, destaque para Ouro
Preto e as obras de Aleijadinho, como os legítimos representante do
que seriam as primeiras manifestações artísticas nacionais. Estas
manifestações, calcadas principalmente na arquitetura, indicariam os
primórdios de uma identidade brasileira[...] Para Mário, uma
expressão artística diferenciada, brasileira, começa a ser construída
na segunda metade do século XVIII.[...]Embora Mário de Andrade
localize as origens de uma ate tipicamente brasileira em três
matrizes, [...] Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, é nesta última
onde se teria constituído a expressão máxima da brasilidade. Em sua
perspectiva, Minas conformaria o nicho privilegiado no qual se teria
dado as mais originais, autenticas e belas criações artísticas
brasileiras. Aqui, a figura de Aleijadinho adquire um papel de suma
importância: o “arquiteto escultor” simbolizaria o gênio maior, o
82

artífice exemplar porquanto mais dotado de originalidade, que iniciara


e/ou fundara uma tradição artística nacional. (NATAL, 2007, p. 194-
197)

Antes de Aleijadinho, não se podia falar de estilo artístico brasileiro, uma vez
que o que se fazia aqui eram moldes importados de Portugal.

3.4 CLÁUDIO PASTRO E O ESPAÇO SAGRADO HOJE

Atualmente, a igreja continua a manter a tradição da produção dos mais


diversos tipos de arte com o tema do sagrado, na intenção de evangelizar e de levar
o homem a Deus. Essa intenção depois de passados tantos séculos continua
inabalável. Disse o então Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa emérito Bento XVI,
na introdução do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica - CIC:

A partir da secular tradição conciliar, aprendemos que também a


imagem é pregação evangélica. Os artistas de todos os tempos
ofereceram à contemplação e à admiração dos fiés os fatos salientes
do mistério da salvação, apresentando-o no esplendor da cor e na
perfeição da beleza. Isso é um indício de como hoje, mais que
nunca, na civilização da imagem, a imagem sagrada pode exprimir
muito mais que a própria palavra, uma vez que é muito eficaz o seu
dinamismo de comunicação e de transmissão da mensagem
evangélica. (COMPÊNDIO, 2005, p.15)

Como afirmou São João Damasceno (apud AQUINO, 2002, p.102), “[...] o que
a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados”. O trabalho de
Cláudio Pastro parece ser uma extensão da Biblia Pauperum, as igrejas e projetos
artísticos projetados pelo artista é notório a relevância atribuída ao uso do texto e da
imagem. Nota-se que o texto está dentro dessa composição em perfeita harmonia
com a imagem, porém, essa relação é metodicamente elaborada pelo artista, na
obra de Pastro a presença do texto é pensada para ser lido como imagem, conforme
imagem 43.
83

Imagem 43, Cúpula central painel em azulejo, C.Pastro, Basílica de Aparecida, fonte:
http://www.a12.com:8080/santuario-nacional/noticias/detalhes/cupula-central-uma-obra-que-se-
mostra

Pastro (2016), nos relata que a igreja nunca viveu sem a arte, por motivos de
necessitar do dinamismo de comunicar da arte para favorecer o ensino da Escritura
Sagrada:

A Igreja nunca viveu sem a Arte, desde os seus primórdios nas


catacumbas dos séculos I,II,III e depois. A Arte é a Escritura em
formas e cores e toma o homem por inteiro, seus sentidos e o mais
profundo do ser, muito além do que imaginamos, expressando
igualmente o indizível. Ainda, a Arte é Católica (universal), fala a
qualquer povo, sem distinção, além de B + A = BA das línguas que
nos dividem. “Uma palavra sujeita-se a diferentes interpretações. Só
a imagem nos coloca diante de uma presença”. (S.Gregório de
Nissa, séc.IV) É preciso enquadrar o surgimento do Cristianismo no
mundo helênico (Egito, Grécia e Roma), enriquecendo o pequeno
Israel. O mais importante, o fundamento do Cristianismo está no
Mistério da Encarnação: “Jesus a imagem Visível do Deus invisível”
(Cl 1,15) e “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). A Regra de Israel em
não fazer figuras idólatras e depois do século XVI, no Ocidente,
reverenciar só a Palavra, após a invenção de Gutenberg,
empobreceu o espírito cristão que é muito mais sábio.
84

Com visto, o Concilio Vaticano II foi um grande divisor de águas na igreja,


pois promoveu grandes mudanças, na intenção da volta às fontes, as origens da fé
cristã, em vários aspectos da igreja no mundo.
No tocante à Liturgia e ao espaço sagrado, ou seja, no templo, o referido
Concílio estabeleceu que houvesse uma maior participação dos fiéis no “Mistério”
celebrado pela igreja em todo o mundo.
Os pontos que mais se destacam são: o uso da língua vernácula nas
celebrações, o celebrante da Missa volta a celebrar de frente para os fiéis, como era
feito no principio e as leituras do Antigo e do Novo Testamento, exceto o Evangelho,
podem ser feitas pelos fiéis.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrossantum Concílium, prevê a
reforma também na arquitetura:

Revejam-se quanto antes [...] os cânones a determinações


eclesiásticas atinentes ao conjunto das coisas externas que se
referem ao culto sagrado, especialmente quanto á digna e funcional
construção das igrejas, à forma e edificação dos altares, à nobreza,
disposição e segurança do tabernáculo eucarístico, à conveniente
colocação das sagradas imagens, da decoração e ornamentação. O
que parecer convir menos à reforma da Liturgia, seja emendado ou
abolido: o que, porém, a favorecer, seja mantido ou introduzido.
(CONCÍLIO, 1984, n.128)

O que havia ocorrido é que as igrejas no decurso da história foram recebendo


elementos que não eram usados nas igrejas dos primeiros séculos. Um exemplo
disso foi o que aconteceu no período do barroco, em que a igreja autorizou a
construção de vários altares nas laterais da nave central para que os fiéis pudessem
praticar suas devoções particulares em uma mesma igreja. Segundo Tirapelli
(2006):

Como no Brasil tudo estava para construir e Portugal veio também


catequizar, a Igreja teve um papel importante na formação da cultura
colonial. Era por meio das pregações dos padres que se cultuava
Deus e o rei. As igrejas ficavam sempre muito visíveis [...]. Simples
por fora, mas repletas de ornamentos dourados no seu interior, as
igrejas geralmente impressionavam os fiéis. [...] No interior há um
grande salão chamado nave. Nas suas laterais são colocados
corredores com altares pormenores. [...] e muitas vezes encontramos
altares em suas paredes. A capela principal, ou capela-mor, tem o
altar principal denominado retábulo-mor. [...] A decoração das igrejas
é caracterizada pela pintura, adornos nos altares e imagens de
santos. [...] Pintores e douradores faziam as pinturas, os
85

douramentos e policromias nos altares e santos. (TIRAPELI, 2006,


p.20-22-24)

Podemos constatar isso no Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro


conforme imagem 44, mosteiro construído no período do barroco no Brasil, a igreja
além do altar-mor, que fica no centro, tem na a nave principal oito andares laterais
dedicados aos seguintes santos: santa Gertrudes, Nossa Senhora do Pilar, Nossa
Senhora do Rosário, São Brás, Santo Amaro, São Lourenço e São Caetano, além
da capela do Santíssimo Sacramento.
A Igreja de São Francisco em Ouro Preto Minas Gerais, que em 1771, inicia-
se sua construção, é atribuído seu projeto arquitetônico ao Aleijadinho, decorada
tardiamente no século XIX, a nave é decorada com seis altares em honra a santos,
conforme imagem 45.
O que o estilo do barroco propõe tem como objetivo a emoção religiosa ligada
diretamente ao entendimento do que vem a ser um reinado, nisso a arte sacra
barroca propõem uma submissão por parte dos fiéis católicos a uma espécie de
poder, usando para isso elementos da época, a decoração excessiva elemento
notório nesse estilo, transformou o cenário nesse período,

Imagem 44, interior da igreja do Mosteiro de São Bento, Séc. XVI, barroco, Rio de Janeiro, fonte:
http://www.osb.org.br/mosteiro/index.php
86

Imagem 45, igreja de São Francisco 0uro preto - MG, fonte:


http://www.joseisraelabrantes.com.br/en/photography/list/?pag

Mas, com a palavra “ornamento”, as dificuldades começaram a surgir, as


pessoas da época achavam que o luxo era uma homenagem a divindade. E no
barroco por luxo entende-se um estilo de época.
Esta consideração deveria apaziguar muitas disputas contemporâneas e
ensinar-nos que em tempos atuais, em que o “menos é mais” na arte
contemporânea, temos razão para exigir que a arte sacra do nosso tempo, da nossa
época seja estritamente religiosa, no sentido original decretado pelo Concílio
Vaticano II. Uma arte sacra que não venha para anunciar um poder, um reinado,
mas, uma presença. Esse pensamento discorre para Ochsé (1960):

O próprio Matisse deu, em uma entrevista publicada por l’Art Sacré,


sua opinião sobre a questão: “ Não temos senão que olhar a obra.
Convida ela ao recolhimento, à paz? É ela devoção espiritual? Se a
resposta for positiva, chamem-na de arte sacra: o artista é aquele
que pode exprimir. Miguel Ângelo e Rafael exprimiram-se segundo
sua inspiração profana. Os Primitivos são os mestres da arte sacra.
A Mesquita de Córdova (o mirad) é arte sacra. A Sistina, não. Fran
Angelico, Giotto, os Sienenses, esses são arte sacra. (OCHSÉ, 1960,
p. 14)

Após a reforma do último Concílio as igrejas voltaram a ter apenas um altar


que é o centro da celebração e a peça mais importante da igreja, pois representa o
próprio Cristo que é Altar, Sacerdote e Vítima, que com o ambão, lugar em que são
feitas as leituras e é proclamado o evangelho, a cadeira do presidente da
87

celebração, a cruz processional e a credência compõem o presbitério. Conforme


podemos observar na capela da CNBB imagem 46, projetada por Cláudio Pastro,
em Brasília – DF.

Imagem 46, capela da CNBB, projetada por C.Pastro, Brasilia- DF, fonte:
http://www.tardecommaria.com.br/2014/09/cnbb-consep-reunido-em-brasilia/

Nas igrejas e capelas que Pastro projeta, é notória a falta de imagens de


santos, tão recorrentes em outras igrejas, para o artista o mais importante do espaço
sagrado é o seu referencial, ou seja, razão pela qual existe aquele lugar, no caso o
altar do culto da missa conforme imagem 47, e o ambão, sendo esse espaço o lugar
que se celebra o Mistério do Cristo, portanto, para Cláudio Pastro é esse espaço que
deve se sobressair, e vai definir tudo, todo projeto artístico deve nortear esse
referencial, um espaço harmônico cheio de luz que se diferencie do espaço comum.
88

Imagem 47, Visão panorâmica de altar e cruz projetados por C. Pastro, Aparecida-SP,
fonte: http://religiao.culturamix.com/religiosidades/santuario-nacional-de-aparecida/

Como artista pós conciliar (Concilio Vaticano II), Cláudio Pastro afirma:

Não podemos esquecer que, primordialmente, o lugar da celebração


não é um monumento artístico, nem um templo, nem um lugar onde se
veneram imagens ou se guardam obras de arte como num museu,
nem um espaço dedicado á oração pessoal e íntima. O lugar de
celebração também pode servir a essas finalidades, mas são aspectos
secundários. A igreja cristã é, sobretudo, o lugar destinado à
celebração do Mistério Pascal, seus sacramentos e demais ações
sagradas dos batizados. (PASTRO, 2007, p.56)

Em relação a escultura e as pinturas, a igreja permanece em sua tradição


quanto ao uso das imagens sagradas e afirma que “ a iconografia cristã transcreve
pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela
palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente. “ (CATECISMO, 1998,p.326).
A igreja, porém, toma alguns cuidados em relação ao fazer e uso das
imagens, sendo desejáveis imagens que “eduquem a fé” e despertem sentimentos
de piedade, não apresentem pormenores inúteis para não desviar a atenção. São
desaconselhadas: imagens que tratem o invisível com traços das realidades visíveis
como, por exemplo, anjos configurados a seres humanos com asas, imagens que
sejam capazes de impressionar e que, no entanto, não despertem “sentimentos
piedosos”.
São condenadas: imagens que transmitam falsa noção da realidade como,
por exemplo, o Menino Jesus pregado na Cruz.
Essas normas deverão ser observadas para que não haja motivos de
instrução incorretas dos fiéis. As imagens devem ser usadas como meio e não como
89

fim, devem cumprir a função dos ícones: serem meios para a contemplação do
invisível. (AQUINO, 2006)
Segundo a Assembleia plenária dos Bispos no documento: o Via
Pulchritudinis o caminho da beleza, afirma:

O grande poder da arte sacra de comunicar torna capaz de


ultrapassar as barreiras e os filtros dos preconceitos para unir o
coração dos homens e mulheres de outras culturas e religiões e, ao
seu modo, acolher a universalidade da mensagem de Cristo e seu
Evangelho. Portanto, quando a obra de arte, inspirada pela fé, é
oferecida ao público no quadro da sua função religiosa, essa arte se
revela como uma via, um caminho de evangelização e diálogo, que
dá a possibilidade de saborear o patrimônio vivo do cristianismo e, ao
mesmo tempo, a própria fé. (ASSEMBLÉIA PLENÁRIA DOS
BISPOS, 2007, p.43)

O documento também propõe que haja, e se criem em toda a igreja, uma


condição para uma renovação da criação artística em todas as comunidades cristãs,
criando vínculos pessoais com os artistas, ajudando-os a entender o que é permitido
a uma obra para seja realmente sacra.
Desde então a igreja já promoveu iniciativas bem sucedidas como o diálogo
com artistas, arquitetos, restauradores, músicos, organizadores de eventos culturais
e artísticos com concursos, concertos, como uma forma de valorizar o patrimônio
cultural da igreja.
Nessa conjuntura tem tido destaque as obras de Cláudio Pastro conforme
imagem 48, que com quarenta e um anos de trabalho dedicados exclusivamente a
arte sacra tem feito uma importante colaboração para igreja do Brasil e do mundo.

Imagem 48, A História da Salvação, C.Pastro, 1982, Igreja São Bento do Morumbi –SP,
fonte: http://caminhosdeformacao.blogspot.com.br/2015_11_01_archive.html
90

Diante do exposto cabe a pergunta: o que é a arte sacra hoje? Como é feita a
leitura dessa arte nos dias atuais? Para Ochsé (1960):

A questão [...] não é saber se realizaremos tão bem quanto as


épocas precedentes, mas, se temos algo a dizer. Sem dúvida, o
drama da arte sacra reside no fato de que a maioria dos artistas nada
tem a dizer. E que, por infelicidade, os outros são incapazes de
formular o que quereriam dizer nos moldes de uma tradição viva,
infinitamente complexa, mas que ignoram completamente. Mas, sem
dúvida, a arte sacra da cristandade futura não será somente a do
Ocidente. (OCHSÉ, 1960, p.18)

Deve-se propor uma solução típica do século XXI para esse problema? A
leitura da arte sacra do século XXI, não é mais como no século XX e em seus
antecessores.
Nas diversas “histórias da arte” termo usado por Dana Arnold, vimos à arte
sacra numa tentativa de libertação, ensaiaram-se os modos mais possíveis para tal,
à obra parecia recusar-se a continuar segundo leis habituais da Tradição religiosa.
Mas no século XXI, a ruptura é inevitável, há um mundo sem fé que precisa
ser refeito e tudo a recomeçar, precisa-se urgentemente recuperar uma linguagem
que a igreja corre o risco de perder.
A arte sacra do tempo atual precisa de fato pertencer a cada realidade, para
o século XXI, a arte sacra deve responder ao apelo do Concilio para voltar às fontes.
Segundo Burckhardt (2004):

Os historiadores da arte, que aplicam o termo “arte sagrada” para


designar toda e qualquer obra de tema religioso, esquecem-se de
que a arte é essencialmente forma. Para que uma obra de arte possa
ser propriamente qualificada de “sagrada” não basta que seus temas
derivem de uma verdade espiritual. É necessário, também, que sua
linguagem formal testemunhe e manifeste essa origem. Este não é o
caso da artes religiosa como a que encontramos, por exemplo, no
renascimento ou no Barroco, que absolutamente nãos e distinguem,
enquanto estilo, da arte fundamentalmente profana da mesma época.
Emprestar temas da religião, de modo totalmente exterior e, por
assim dizer, literário, não é suficiente para outorgar-lhe um caráter
sagrado, tampouco os sentimentos devocionais de que se impregna,
e nem mesmo a nobreza da alma que nela possa estar sendo
retratada. Nenhuma categoria de arte pode ser definida como
sagrada a menos que também sua forma reflita a visão espiritual
característica da religião da qual provém. (BURCKHARDT, 2004,
p.17-18)
91

Dentro desse contexto, surge Cláudio Pastro, artista, professor e pesquisador,


que encontra sua poesis nos símbolos do cristianismo, como artista professor sabe
usar a didática para educar na fé por meio de sua arte, conforme nos relata sobre a
função de sua obra “... educar a fé cristã [...] somos um povo - o povo cristão -, e não
zumbis querendo realizar desejos individuais.”, como artista pesquisador usa os
mais variados materiais e técnicas para produzir seu trabalho, agregando a sua obra
influencias afro-indígena conforme imagem 49, um painel em azulejo com a
representação do muiraquitã, localizado na igreja da Conceição em Belém no
Estado do Pará.

Imagem 49, detalhe do painel azulejo, C.Pastro, igreja da Conceição- Belém –PA. fonte:
http://slaredo.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html

O muiraquitã conforme detalhe na imagem 48 é um artefato talhado


geralmente em madeira ou pedra jade, que representa animais do tipo sapos,
tartarugas ou serpentes, usado pelos povos indígenas Tapajós e elemento da
cultura amazônica, na obra de Pastro esse elemento entra como símbolo no painel
da ressurreição de Cristo conforme imagem 50.
92

Imagem 50, Ressurreição, 2006, C. Pastro, Igreja da Conceição, Belém-PA, fonte:


http://www.fundacaonazare.com.br/novoportal/?action=Canal.interna&oCanal=1&id=6797&classe
=N

Segundo Pastro (2012)

Não estamos mais nos tempos do fausto, do poderio da igreja


conjugados ao luxo e ao poder soberbo de dominação. Ao se pensar
em construir uma igreja é preciso se perguntar: o que é ser cristão e
ser igreja? Tudo mais decorrerá dessa resposta. (PASTRO apud
LAREDO, 2012)

Além de sua formação intelectual, possui formação essencialmente cristã,


visto que sua arte nasce dentro dos Mosteiros Beneditinos. Pastro acredita no
Mistério que representa em seus trabalhos artísticos, isso é comprovado pelas
inúmeras entrevistas concedidas pelo artista, em sua fala, nos livros que escreve,
Cláudio Pastro é o que falta para a arte sacra cristã no catolicismo voltar às fontes,
sem, contudo, ser apegada a períodos da arte passados, porém resinificando,
ligando o passado com o contemporâneo, sem desvios, apresentando Cristo como
centro dessa arte.
Sua produção é focada pelo que foi proposto no Concílio Vaticano II, esse
Concílio fez reformulações quanto à arte sacra, que o importante fator assume a
característica principal: os santos perdem seus altares e Jesus volta a ser o centro
da fé cristã.
Em outubro de 2015, o Papa Francisco decreta para a igreja católica um ano
denominado “Ano da Misericórdia”, que seria um ano do cristianismo católico com
ênfase nas práticas de caridade. Para divulgação desse tema, é convidado o padre
93

Marko Ivan Rupnik, de origem esloveno de Zadlog, artista contemporâneo de Pastro,


e também artista pós-concilio, para criar uma obra para as celebrações desse ano
da misericórdia na igreja católica conforme imagem 51, essa imagem já foi citada na
introdução dessa pesquisa.
Padre Marko, é o diretor desde 1995 do Ateliê de arte espiritual do Centro de
estudos e pesquisas “ Ezio Aletti ” e consultor do Pontifico conselho para a Cultura
desde 1999, é docente no Pontifico Instituto Oriental e na Universidade Gregoriana
em Roma.
Rupnik foi o criador do painel em mosaico, com a imagem que foi amplamente
divulgada pela igreja católica do mundo.

A Imagem 51, mosaico, Padre Marko, sobre a "porta da misericórdia" Vaticano - Roma, fonte:
http://paroquiasantoagostinhorj.com.br/papa-abrira-porta-santa-de-estrutura-da-caritas-de-roma.html

A imagem que o artista cria denominada “misericórdia é uma imagem” para o


ano da misericórdia tem características contemporâneas, na linha, na simplificação
das formas, porém o que o diferencia de Pastro, é o fato de além de sua influência
artística ser o bizantino, ele tem desenvolvido até então uma arte sacra padronizada,
isto é, com as mesmas características há anos. Parece inclusive, preso ao bizantino
conforme imagem 52 e 53, e sua linguagem sempre é a pintura ou mosaico.
94

Outra diferença entre a arte de Claúdio Pastro, e a arte do padre Marko


Ruptnika, é a falta de elementos locais como parte da composição, elementos
esses, como por exemplo, características do povo da região, entre outras.

Imagem 52, Padre Marko em seu ateliê, fonte:


http://www.30giorni.it/articoli_id_17958_l6.htm

Imagem 53 Capela, Padre Marko Ruptnick, Zaragoza- Espanha, fonte


http://static.panoramio.com/photos/large/73947967.jpg

Pastro, além de possuir um traço autoral, introduz texto na imagem e cria um


design que faz referência à escrita greco-romana, em sua obra o texto é lido como
imagem, criando com isso uma assinatura do artista, conforme imagem 54.
95

Imagem 54, Basílica de Aparecida -SP, fonte:


https://veracidadeveracidade.files.wordpress.com/2011/09/dscf0713.jpg

As características de seus trabalhos contemplam outras vertentes da arte que


vão desde a Arte Paleocristã, passando por diversos movimentos como, por
exemplo, o Minimalismo, entre outros citados anteriormente. Essas características
anunciam notoriamente a pluralidade das linguagens pelas quais Cláudio Pastro se
expressa e as rupturas que ele faz no campo da Arte Sacra.
Apesar de a arte possuir um caráter atemporal, entendemos que cada estilo
representa uma época, e para nossa época, século XXI, a arte sacra de Pastro é a
que mais contempla as inquietações da igreja contemporânea.
Porém, algumas instituições religiosas ainda não conseguiram superar o estilo
do barroco, mesmo tendo em evidência outro estilo de arte sacra, e o fato de estar
em pleno século XXI, o gosto pelo barroco por parte de padres e bispos parece
ainda predominar no Brasil. É nesse contexto que o estilo artístico de Cláudio Pastro
faz a diferença, apresentando outras possibilidades visuais, outros elementos para
ilustrar o discurso recorrente da religião católica.
96

IV CAPÍTULO
ARTE SACRA NO CONTEXTO CULTURAL DE JUAZEIRO DO NORTE

4.SINAIS DE ARTE SACRA CONTEMPORÂNEA EM JUAZEIRO DO NORTE

Nesse capítulo abordaremos a presença da arte sacra contemporânea na


cidade de Juazeiro do Norte, e alguns artistas da região que se dedicam a arte
sacra, como também a importante e incomum presença de uma arquitetura
diferenciada na região do Cariri como é o caso da arquitetura da igreja do Mosteiro
de Nossa Senhora da Vitória.
Serão abordadas entrevistas com artistas que nasceram, vivem e trabalham
em Juazeiro do Norte, como também entrevista com o arquiteto pernambucano Artur
Diniz, que foi sócio da arquiteta Lília Campelo (1952-2014), autora do projeto da
igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória.
O problema que nos interessa, nos impulsionou a dá voz a esses artistas para
que ao expressar-se por meio de suas reflexões e visão plástica, possam corroborar
com a possível resposta a pergunta norteadora dessa pesquisa: o que é arte sacra
hoje?
Para entendermos a arte sacra dessa cidade, é necessário conhecermos o
contexto na qual está inserida, além do contexto religioso católico, em que a história
da arte sacra nessa localidade se confunde com a história da própria cidade em
questão.
Segundo Argan (2005), para maior entendimento de uma pesquisa, é
importante o conhecimento da arte dentro de seu contexto cultural para identificar
pontos em relação às respostas que se objetiva com o estudo em questão, porém,
quando o objeto estudado trata-se da arte contemporânea, por si, não é uma
garantia de se encontrar elucidação.
Para Argan (2005):

Deve-se, naturalmente, destacar que a pesquisa histórica tenha a


função de prover conjeturas satisfatórias à falta de dados precisos
sobre o lugar, o tempo e as circunstâncias em que a obra foi
executada. A informação abundante e exata ajuda sem dúvida a
formular, mas não resolve o problema do significado e do alcance de
um fato. Percebe-se isso com clareza quando se estuda a arte
contemporânea: apesar da precisão da informação, ela nos parece,
do ponto de vista da interpretação, ainda mais problemática. É
comum, de resto, a distinção entre uma história externa, que verifica
97

a consistência dos fatos e reúne e controla testemunhos, e uma


história interna, que encontra os motivos e os significados dos fatos
na consciência de quem, de uma maneira ou de outra, os viveu.
Também no estudo das obras de arte, todos admitem que a
investigação filosófica ou erudita, ocupando-se especialmente de
verificar ou restituir a autenticidade dos textos e das fontes, não seja
um fim em si mesma, mas um elemento preparatório e auxiliar da
verdadeira pesquisa. (ARGAN, 2005, p.14)

Quanto aos processos de estruturação cultural que observamos na arte sacra


em Juazeiro do Norte, percebemos uma ligação muito forte com o renascimento e o
barroco, este prolongamento em grande parte ainda ligado à arte sacra do período
do Padre Cícero.

4.1 A CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE

Juazeiro do Norte está situada ao Sul do Ceará, é conhecida como a “Capital


da Fé” devido ás romarias que são resultados das ações de um Sacerdote da Igreja
Católica que fundou a cidade de Juazeiro do Norte, o padre Cicero Romão Batista,
segundo consta na tradição oral da região, que ainda vivo era venerado e
considerado santo.
A cidade tem na figura histórica do Padre Cicero Romão Batista um marco na
construção da religiosidade, da cultura do seu povo como também de
acontecimentos políticos na Região do Cariri.
O sacerdote é natural da vizinha cidade de Crato, e chegou a Fazenda
Tabuleiro Grande, antigo nome da cidade de Juazeiro, cavalgando um jumento em
abril de 1872, encontrando na região algumas árvores de juazeiro, que mais tarde
daria nome a cidade e uma pequena vila com uma capela.
Nesse ano o jovem padre Cícero resolveu fixar moradia na vila de Tabuleiro
Grande, e segundo relatos do próprio padre Cícero esta decisão decorreu de um
sonho que teve em que o próprio Jesus pedia para que ele tomasse conta do povo
daquela localidade e de uma multidão de peregrinos que no futuro, chegaria àquela
região.
Com o lema “cada casa uma oficina, em cada oficina um oratório”, o padre
Cícero logo tratou de mudar os hábitos do lugar incentivando as famílias que ali
moravam a montarem em suas pobres residências de taipa um pequeno
estabelecimento comercial, o que chamou de “oficina”, e constituir em seus lares um
ambiente de oração denominado “oratório”.
98

O padre Cícero foi um grande empreendedor, visto que Tabuleiro Grande


servia na época como ponto de apoio para viajantes com destino à cidade do Crato,
logo o sacerdote viu nisso uma oportunidade de trabalho para os moradores daquele
local.
Segundo Andrade (2004),

O forte amor que sente pelos deserdados é consoante com a


formação espiritual que recebeu dos Lazaristas. Apesar de certo tom
conservador, foi um homem aberto à tecnologia e à modernidade,
detentor de vasta cultura geral que incluía conhecimentos de biologia
e zoologia. (ANDRADE, 2004, p. 48)

Graças a ele, Juazeiro é visto como um dos maiores centros de religiosidade


popular da América Latina, atraindo anualmente milhares de romeiros devotos do
padre Cícero. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dado
de 2009 Juazeiro do Norte tem a quinta maior economia do Estado do Ceará, hoje a
cidade ocupa uma área de 248 mil Km², segundo o senso de 2010 com população
de 249.939 mil habitantes.
Hoje a veneração pela imagem do padre Cícero, figura do cristianismo
católico aumenta a cada ano, e permeia o imaginário local, conforme imagem 55.

Imagem 55, monumento ao padre Cícero no Horto, romaria em Juazeiro do Norte, fonte:
http://iderval.blogspot.com.br/2015/03/juazeiro-do-norte-ceara.html

De acordo com a secretaria de turismo e romaria do munícipio em estatísticas


de 2011 disponíveis no site da Secretaria de Turismo de Juazeiro, para aquele ano,
“2,5 milhões de romeiros viajaram para Juazeiro”.
99

Em matéria para o jornal Globo Rural no G1 a jornalista Bacci (2015) ao


informar sobra a romaria que acontece em Juazeiro do Norte no mês do fevereiro e
conhecida como “romaria das candeias “afirma que:

Nesse ano, a central de apoio ao romeiro estima que 400mil pessoas


tenham comparecido à procissão das candeias, formando um
verdadeiro “mar de luz”, ao redor da igreja matriz. O numero é
calculado com base no cadastro oficial que os religiosos são
incentivados a preencher durante as atividades. (BACCI, Juliana,
2015)

Acontecem cinco grandes romarias anuais sendo a que mais atrai número de
romeiros é realizada no mês de novembro conhecida como “romaria de finados”, e
no intervalo acontece pequenas romarias com número menor de participantes.
Nesse contexto surge na cidade, sinais de uma arte sacra dos dias atuais,
buscando tantas possíveis transformações, dando visualidade a uma história
contemporânea do padre Cícero.

4.2 A DEFINIÇÃO DO SAGRADO NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA DE


LÍLIA CAMPELO

Juazeiro do Norte é uma cidade que ainda encontra na arte sacra do século
XVII e XVIII sua representação, esse apego ao estilo já superado do barroco
provocou uma crise na arte sacra, ora sabemos que, isso não é um fato apenas
local, mas uma crise que a arte sacra brasileira vem enfrentando desde o fim do
barroco até os dias atuais com a arte contemporânea.
Fato conhecido na história da arquitetura brasileira datado de 1943 é o caso
da igreja de São Francisco de Assis na Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais,
o projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer, conforme imagem 56.
As linhas curvas da igreja não agradaram as autoridades eclesiásticas da
época atrasando a consagração da capela por quatorze anos, isso aconteceu devido
às linhas inusitadas do arquiteto e um painel obra de Portinari conforme imagem 57
com a representação de São Francisco, onde o pintor representou um cachorro junto
à imagem do santo, a ousadia desse projeto arquitetônico foi motivo suficiente para
escandalizar na época o ambiente cultural da cidade. Esses artistas provocaram
questionamentos por não reproduzir os padrões estabelecidos, contrastando com
isso os paradigmas imagéticos do espaço social onde estão inseridas suas obras.
100

Imagem 56, Igreja de São Francisco, Pampulha, Minas Gerais, arquitetura de Oscar
Niemeyer, 1943, fonte http://biapo.com.br/site/portfolio/igreja-de-sao-francisco-de-assis/

Imagem 57, painel de São Francisco, Portinari, igreja de São Francisco, Pampulha, Minas
Gerais, fonte: http://pensamentosduneto.blogspot.com.br/2011/01/curiosidades-igreja-de-
sao-francisco-de.html

Essa quase negação de uma arte para a nossa época continua ainda muito
forte em pleno século XXI, embora já existam sinais em várias partes do Brasil que
procuram mostrar o contrário, como o caso do Santuário de Aparecida em São
Paulo, que seus administradores perceberam a necessidade imposta pelo Concilio
Vaticano II no que diz respeito á arte sacra.
101

Para tanto foi entregue o espaço sagrado da Basílica para que as


representações dos símbolos católicos fossem executadas na obra e visão
contemporânea do artista Cláudio Pastro.
Outro exemplo encontra-se no campo da arquitetura sacra, nos projetos da
pernambucana Lília Campelo (1952-2014), a arquiteta teve uma trajetória
amplamente conhecida no Brasil e no mundo pelos projetos arquitetônicos da
Fazenda da Esperança que assinou junto com seu sócio o arquiteto Artur Diniz.
Segundo Artur Diniz (2016), “Sua arquitetura se desenvolve juntamente com
diversas comunidades ligadas à Igreja Católica”.
A Fazenda da Esperança é uma importante comunidade religiosa, que
trabalha com dependentes químicos com filial em vários países, essa comunidade é
respeitada entre as autoridades eclesiásticas da Igreja Católica e na visita do Papa
Bento XVI ao Brasil em 2007, foi um dos lugares escolhidos pelo Pontífice para
conhecer. Lília Campelo e Artur Diniz foram os responsáveis por todos os projetos
arquitetônicos dessa instituição conforme imagem 58.

Imagem 58, Capela de Frei Galvão, Lília Campelo e Artur Diniz, Guaratinguetá, São Paulo,
Fazenda da Esperança, fonte: https://arcoweb.com.br/finestra/arquitetura/lilia-campelo-e-artur-
diniz-capela-01-03-2008

Sobre a poiesis de Lília Campelo, Artur Diniz (2016) nos relata:

Lília vivia intensamente sua religiosidade e acreditava nos dogmas


da igreja católica e, assim, acreditava em cada símbolo presente na
arquitetura dos templos religiosos, erigidos como local para vivência
da espiritualidade. Lília reconhecia a importância dos elementos
102

internos do templo, mas buscava também emitir uma mensagem


através da própria forma externa do edifício, como se o edifício fosse
o corpo da igreja que falasse e estivesse repleto de significados [...]
Na sua obra, o Bem encontra um abrigo para se eternizar.

A partir de sua crença, Lília Campelo buscava o tema para seus projetos
arquitetônicos, percebe-se que sua arte reflete sua fé. Essa ação é que determina
um valor, é uma ação dotada de finalidade, realiza-se na contemporaneidade, mas
pressupõem memória afetiva projetando-se com características inovadoras,
trazendo a tona um discurso sobre o relacionamento do individuo contemporâneo
com o lugar que legitima sua fé, o Templo. Esse pensamento discorre para
Burckhardt (2004):

Entre os povos sedentários, a arte sagrada por excelência á


construção do santuário, no qual o Espírito Divino, presente de modo
direto e, por assim dizer, “habitará em pessoa”. Espiritualmente
falando, o santuário situa-se sempre no centro do mundo, e é isto
que o transforma em um sacratum, na verdadeira acepção do termo.
Nesse lugar, o homem está protegido da indefinição do espaço e do
tempo, já que é “aqui” e “agora” que Deus está presente no homem.
Isto se expressa na forma de templo [...] O modelo é uma síntese do
mundo: o que, no universo, está em incessante movimento, é
transposto, pela arquitetura sagrada, a uma forma permanente. No
cosmo, o tempo prevalece sobre o espaço; na construção do templo,
por outro lado, o tempo de certo modo se transmuta em espaço [...]
no processo próprio à manifestação em si [...] são reunidos e
estabilizados na geometria do edifico. O templo representa, assim,
através de sua forma regular e imóvel, o mundo realizado, em seu
aspecto atemporal [...] Na medida em que o santuário prefigura a
transfiguração última do mundo – que no cristianismo é simbolizada
pela “Jerusalém Celestial”. (BURCKHARDT, 2004, p.31,32)

Podemos perceber como a arquitetura e a arte sacra tem sua relevância nas
relações estabelecidas entre os fiéis e a igreja, assim como em outras
temporalidades históricas, na sociedade contemporânea é possível perceber como
esses elementos influenciam no comportamento. Arquitetura sacra contemporânea
mostra-nos como cada estética, e aparências destes expõem conceitos, conduta e
modo de vida.
O arquiteto Artur Diniz (2016) nos relata sua visão sobre a relação entre
arquitetura e as manifestações de fé na igreja Católica:

A igreja é o local onde o humano acredita no contato com Deus, por


isso o considera sagrado. Neste espaço dispomos os elementos
103

essenciais: A Mesa da Palavra, o Altar, o Presbitério, a Cruz, o


Sacrário, a Pia Batismal, elementos estes que proporcionam ao fiel
vivenciar um rito sagrado e manifestar sua fé. Observo que os fiéis
tem uma maior identificação com os grandes templos, ou com os
espaços que transmitem uma maior serenidade. Nos grandes
templos os fiéis participam de celebrações mais calorosas. Nos
pequenos, buscam um momento de introspecção, de busca interior
Se a arquitetura é capaz de proporcionar momentos de fervor ou de
recolhimento, de encontro com Deus, de reflexão, então o fiel
reconhece neste espaço um local apropriado para vivenciar sua fé. O
templo é um dos símbolos característicos da fé, espelha uma maior
ou menor vivência espiritual de um povo. Em algumas cidades onde
a religiosidade se faz mais presente, percebe-se a multiplicação de
símbolos religiosos ou necessidade de grandes monumentos
arquitetônicos para atrair e, ao mesmo tempo, ratificar a fé dessas
pessoas.

Para Artur Diniz, uma edificação necessita satisfazer as necessidades básicas


de seus usuários assim como cumprir seu objetivo de existir. O mesmo acontece
com o edifico de caráter religioso, existem necessidades a serem cumpridas, tanto
da parte da instituição como da parte do usuário.
Fato notório na região do Cariri é a presença de várias igrejas desde
construções do período do padre Cícero como é o caso da Basílica de Nossa
Senhora das Dores conforme imagem 59, como de construções mais recentes.

Imagem 59 Basilica de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte, fonte:


http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Basilica-Menor-de-Nossa-Senhora-das-
Dores/

Esse estilo de arquitetura da Basílica de Nossa Senhora das Dores é


semelhante à quase totalidade de estilos de outros templos religiosos na cidade, a
concepção do conjunto afoga-se na multiplicidade dos detalhes, e esses detalhes
104

não são atualmente considerados atrativos pelos jovens católicos, a objeção ao


prolongamento desse tipo de arquitetura sacra no século XXI é importante, trata-se
da arquitetura sacra optar em falar dessa “Presença divina” com outro olhar. Dentre
esses templos destaca-se a igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória,
inaugurada em dezoito de março de 2014 conforme imagem 60.

Imagem 60, igreja de Nossa Senhora da Vitória, Mosteiro Nossa Senhora da


Vitória, Juazeiro do Nort6e, Ceará, fonte: arquivo pessoal.

Essa igreja sem sombra de dúvida tem um estilo de arquitetura totalmente


diferenciado, com suas entradas de luz, linhas e formas ousadas conforme detalhes
da igreja nas imagens 61 e 62, para Artur Diniz “... a individualidade da forma e do
traço mantém unidade com outros projetos da arquiteta”. A arquitetura da igreja se
enquadra em uma cultura substancialmente nova.

Segundo Artur Diniz (2016):

A igreja insere-se no quadro da arquitetura contemporânea na


medida em que não segue regras estilísticas, considerando a
liberdade e individualidade criativa da arquiteta como princípio
norteador do projeto, onde a necessidade de atender ao programa
ganha peso ante uma pré-determinação de estilo histórico, sem
normas a limitar a criação. Assim, a arquiteta poderia escolher o
melhor caminho para conduzir volumetricamente sua obra. [...]
Soma-se a isto a importância dos elementos que devem caracterizar
a obra: o contexto urbano em que está inserida, as limitações de
recursos para sua execução, o atendimento ao programa, a busca
105

por aproveitamento dos recursos naturais e utilização das técnicas


construtivas existentes, releitura da cultura do povo ou de suas
condições tecnológicas e sócio-econômicas para os locais onde
projetava.

O fato de que as circunstâncias objetivas da construção e as próprias


exigências dos clientes foram consideradas uma condição da qualidade cultural do
produto arquitetônico, demonstra claramente essas contingências como
características e representação do mundo, da sociedade, da cultura em que Lília
Campelo queria inserir sua obra.

A igreja em questão implica uma dimensão e uma estrutura do espaço


sagrado diferente do que se ver recorrente nas igrejas da região, sem dúvida, a
arquitetura de Lília Campelo inaugurou uma nova concepção da cidade de Juazeiro
do Norte, segundo Artur Diniz (2016), sobre as dimensões e estrutura de espaço das
igrejas nos relata “... nas igrejas, e devido á liberdade criativa que podemos nelas
aplicar, trabalhamos a volumetria como a uma escultura”.

Para o arquiteto Artur Diniz (2016):

A arquitetura da igreja deve ser capaz de transcender a


necessidade de criar espaço para reunião de pessoas. Através da
plástica os fiéis vão reconhecer no templo um espaço para
celebração, mas não precisa ser uma obra grandiosa [...] A
arquitetura tem papel fundamental na visibilidade da igreja e no
reconhecimento de sua função por parte da comunidade, uma vez
que o fiel diferencia a arquitetura das igrejas das demais construções
e ali exerce sua espiritualidade. Cada obra de arquitetura tem em sua
plástica o desígnio de sua função.

Todas essas questões a respeito das experiências estéticas nas construções


já citadas condicionam a elaboração de uma reflexão sobre arte e arquitetura sacras
próprias para cada época.
106

Imagem 61, Detalhe da porta de entrada da igreja, fonte: arquivo pessoal.

Imagem 62, detalhe da igreja do mosteiro de Nossa Senhora da Vitória,


fonte: arquivo pessoal.

A construção da igreja do mosteiro de Nossa Senhora da Vitória, provoca


rupturas com o que vinha sendo feito até então e inaugura um tempo novo, faz uma
nova leitura de um Juazeiro do Norte contemporâneo.

Para Cláudio Pastro (2012):


107

Todo espaço sagrado é um microcosmos em si, que transfigura os


elementos da própria natureza, dando ao local uma conotação do
novo, separado, puro. O espaço da celebração dá-nos a
possibilidade de recomeçar, de renascer. (PASTRO, 2012, p. 1)

Artur Diniz nos relata mais informações sobre o projeto arquitetônico de Lília
Campelo para a igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória:

Pertencente ao Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória (construído em


etapas), o primeiro projeto concluído para esta igreja mantinha uma
linguagem similar aos demais blocos já construídos: revestido com
tijolinho cerâmico e com cobertura cerâmica. Era a igreja já
acolhedora, porém mais tímida plasticamente e de tamanho
reduzido. O projeto executivo já estava concluído, mas a arquiteta-
prevendo uma maior projeção desta igreja e considerando sua
importância por estar dentro do mosteiro e na cidade de Juazeiro do
Norte, cidade de tradição religiosa- resolveu dotá-la de uma
grandiosidade estética. Como quem pinta um quadro abstrato em
busca da beleza e de sensações, desenhou traços curvos em suas
fachadas e imaginou a igreja com a pureza do branco.

Segundo Artur Diniz, Lília Campelo tinha como referências artísticas das artes
visuais Gustav Klimt, Renoir “admirava sobretudo o belo, as proporções, a forma
inusitada” mas o arquiteto confessa não saber quais eram as referências
arquitetônicas pelo fato que “...a criação de Lília era delineada pela sua
sensibilidade”, porém cita que a arquiteta confessava ter aprendido muito com seus
professores durante a graduação na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE,
como o caso dos professores: Delfim Amorim, Acácio Gil Borsoi, Reginaldo Esteves,
entre outros. Informa ainda a capela Notre-Dame du Haut na cidade de Rochamp,
em Paris, de Le Corbusier conforme imagem 63, como um projeto arquitetônico do
qual Lília Campelo era admiradora.
108

Imagem 63, capela Notre-Dame du Haut, na cidade de Rochamp, 1950,


em Paris, de Le Corbusier, fonte: http://www.swissinfo.ch/por/le-
corbusier/30493708
O trabalho de Lília Campelo não suscita apenas questionamentos sobre o
espaço sagrado hoje. A partir dele podemos, além da percepção artística, discutir e
pensar o que vem ser arte sacra nos dias atuais. De modo genérico, aos nossos
olhos os templos católicos em Juazeiro do Norte, não se distinguem muito uns dos
outros, porém, as disposições das formas e linhas características do trabalho de Lília
Campelo, introduz a igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória nesse contexto
de diferenciação.

4.3 A ARTE SACRA DE DANIEL FILHO

O artista visual Daniel Filho é natural de Juazeiro do Norte com residência na


cidade, nascido em 1974, tem vinte e oito anos de profissão dedicados à arte sacra
pelos trabalhos que realiza, tornou-se conhecido como um importante artista do
Cariri.
Ele é neto de criação de d. Assunção Gonçalves (1916-2013), figura histórica
de Juazeiro do Norte, além de artista, foi contemporânea do padre Cícero,
frequentava a casa do sacerdote junto com sua família e quando o padre faleceu ela
tinha a idade de dezoito anos, d. Assunção é importante artista da arte religiosa e
dos contextos culturais da região.
A artista frequentemente retratava por meio da pintura a figura do padre
Cícero é dela os retratos mais conhecidos do sacerdote e que são referência para
outros artistas, também foi responsável por representar o inicio da fundação da
cidade de Juazeiro com a representação do momento histórico em que padre Cícero
profetizou o crescimento da região conforme imagem 64.
Uma das mais ilustres moradoras da cidade acompanhou de perto vários
momentos históricos do município. Pela sua produção artística nas artes visuais
109

suas pinturas á óleo sobre tela, d. Assunção recebeu da Secretaria da Cultura do


Estado do Ceará (SECULT), no ano de 2007, o título de Tesouro Vivo da Cultura
Cearense.

Imagem 64 Inicio de Juazeiro, Assunção Gonçalves, fonte:


http://www.sitededanielwalker.com/

Daniel Filho é graduado em Licenciatura em Artes Visuais (1992) pela extinta


Universidade Estadual São Rafael no Rio de Janeiro e fez especialização em artes
em Recife. Sobre sua formação nos relata: “Fui um dos primeiros da Região, não
tinha como estudar arte por aqui, então precisei estudar fora no Rio de Janeiro”.
O artista Daniel Filho (2016), nos relata sobre a sua decisão de se dedicar a
arte sacra:
Em minha adolescência fui criado por Assunção Gonçalves e ela
gostava muito de pintar representações do imaginário religioso local,
e eu fui tendo aptidão com esse trabalho. Quando aprendi com ela a
fazer esse trabalho eu puxava mais para representações do
imaginário religioso do Juazeiro, com objetivo de resgatar as coisas
do Padre Cícero, é tanto que tenho vários trabalhos que representam
a figura do padre Cícero, em escultura, em pintura a óleo. Foi o meu
convívio com Assunção Gonçalves que gerou o meu trabalho em arte
sacra.

Daniel já expôs em Milão e se confessa tímido e não gosta de dar entrevistas,


sobre sua exposição em Milão e outros trabalhos Daniel Filho (2016) nos relata:

Participe da vernissage porém não quis ser identificado, prefiro o


anonimato, nunca gostei de dá entrevistas, sou multo procurado,
mais me recuso, sou tímido, essa foi a primeira vez que dei uma
entrevista, lá meu trabalho foi em pintura e outros lugares do mundo.
Tive uma exposição vetada por Dom Fernando há cinco anos, pois
segundo ele poderia atrapalhar o processo de reabilitação do Padre
Cicero. Entre meus clientes encontram-se colecionadores de arte
110

sacra, que são vários que me encomendam com objetivo de


colecionar.

Por ocasião da celebração dos dois anos do Museu Afro Brasil em 2006,
Daniel é convidado pelo artista, diretor do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, para
exposição. Na ocasião o artista retratou em tela á óleo a beata Maria do Araújo,
personagem central junto com o padre Cícero, dos fatos ocorridos em Juazeiro que
foram responsáveis pela fama de santo atribuída ao sacerdote. Até então nunca
havia sido feito imagem da beata, que segundo é debatido atualmente, na época
sofreu forte preconceito por ser mulher, e por ser negra conforme imagem 65. O
trabalho encontra-se no acervo do Museu Afro Brasil.

Imagem 65, Exposição , Daniel Filho, 2004, Museu Afro Brasil, São Paulo, fonte:
Arquivo pessoal de Daniel Filho

Sobre suas referências artísticas, Daniel Filho (2016), nos informa:

Minha referência em pintura é Assunção Gonçalves, não só em


pintura mais em minha escolha em me dedicar à arte sacra, foi ela
que viu minha aptidão com a pintura e me ensinou o oficio, depois
disso fiz cursos e entrei para a universidade. Gosto muito do estilo de
Monet, Rembrandt. Quando estamos fazendo um trabalho em artes,
especialmente em pintura, somos afetados por vários estilos, no
inicio, aprendi que deveria ser eu, com o tempo fui definindo um
estilo próprio. Eu trabalho com vários estilos, o bizantino, barroco e
clássico. Geralmente os padres me pedem para fazer nesses estilos,
pedem para puxar mais “pro lado” do Cláudio Pastro. Mesmo assim
eu deixo minha marca lá, também não pode fazer diretamente em
cima do Cláudio Pastro, teria que pedir autorização dele. Eu faço
basiadamente, uso ele como referência.
111

O artista nos fala sobre a relação da arte com a igreja e diz que se dedica a
arte sacra independente de denominações religiosas conforme nos relata:

É um resgate que a arte faz para a representação do místico. Eu


trabalho com arte sacra de todas as religiões, recentemente fiz um
trabalho sobre o candomblé. Eu fiz numa boa, sou um artista,
embora me denomine católico, mas sou artista da arte sacra e não
de uma única denominação religiosa. Procuro com o meu trabalho a
representação do sagrado independente de denominações
religiosas.

As encomendas de trabalhos acontecem da seguinte forma: os padres


manifestam seu desejo de como seria a obra e Daniel Filho cria três modelos para
ser escolhido pelo cliente, para isso o artista busca referências em diversos estilos
artísticos conforme nos relata “... na igreja do Coração e Jesus em Crato, por
exemplo, o estilo do trabalho que fiz lá foi o neoclássico” conforme imagem 66.

Imagem 66, sacrário da igreja do Coração de Jesus, Daniel Filho, Crato-Ceara, fonte:
arquivo pessoal.
O trabalho acima citado é um objeto artístico tridimensional, uma obra
contemporânea com interferências do estilo neoclássico, feito em gesso e madeira,
112

com caráter funcional, denominado de sacrário lugar onde se guarda a hóstia


consagrada nas missas. O objeto encontra-se na capela da igreja.

Daniel Filho (2016) diz que sendo artista contemporâneo é afetado por
diversos estilos da história da arte conforme imagem 67 do afresco da capela
particular na casa do Bispo diocesano em Crato.

Sobre sua produção Daniel Filho diz que:

Faço arte sacra contemporânea, minhas criações são


contemporâneas, mas em termos de desabafo, se eu fosse fazer um
trabalho para expor ai sim, eu faria um trabalho de arte sacra
contemporânea, mas profissionalmente eu faço o que o cliente pede.
Pergunto o que ele deseja, dai dou dicas e o cliente acaba gostando.
Mas se fosse realizar um trabalho para uma exposição faria do que
gosto que é arte sacra contemporânea.

Ele usa esse conhecimento em seus trabalhos somando isso a sua visão de
arte contemporânea o que gosta de fazer conforme detalhe na imagem 68.

Imagem 67, O Bom Pastor, 2004, Daniel Filho, capela do Bispo diocesano, Crato- Ceara fonte:
arquivo pessoal
113

Imagem 68, detalhe da obra Bom Pastor, Daniel Filho, capela do Bispo, Crato-
Ceará, fonte: arquivo pessoal.

No detalhe do afresco “O Bom Pastor” Daniel Filho usa uma representação do


mandacaru. O mandacaru é uma planta conhecida no sertão, com simbolizo forte
para o sertanejo, o nascimento de suas flores simboliza o fim da seca. Inserir o
contexto regional no trabalho assim como o Cláudio Pastro, é uma característica da
obra de Daniel Filho.

Em alguns de seus trabalhos percebe-se uma consonância com a obra de


Cláudio Pastro conforme imagem 69.

Imagem 69, Pantocrátor, Daniel Filho, igreja do Menino Jesus de


Praga, Juazeiro do Norte-Ceara, fonte: arquivo pessoal
114

Traços do bizantino também são observados em sua obra conforme imagem


70 do afresco feito por Daniel Filho, com a representação do cordeiro e de anjos, na
igreja do Menino Jesus de Praga em Juazeiro do Norte.

Imagem 70, afresco do cordeiro e de anjos, igreja Menino Jesus de Praga,


Juazeiro do Norte- Ceara, fonte: arquivo pessoal

Sobre a relação da arte com a igreja católica Daniel Filho (2016), nos relata
que existem conflitos, pelo fato de existirem padres que apesar de não serem
especialistas em arte sacra, atuam nas igrejas como se fossem, interferindo em
estilos artísticos aleatoriamente por uma única questão de gosto pessoal, ou para
“embelezar” a igreja. Esses padres segundo o artista chegam a destruir verdadeiros
patrimônios históricos, por não terem o conhecimento que os capacite interferem em
estilos artísticos, descaracterizando com isso aquela arte. Segundo Daniel Filho
(2016):

A igreja hoje não é mais como antigamente, um padre quer um estilo


neoclássico, chega outro já não gosta daquele estilo e muda tudo.
Não há valorização da arte como no inicio da igreja. Exemplo disso é
o altar da Basílica de Nossa Senhora das Dores aqui de Juazeiro, o
padre Murilo(1930-2005), restaurou o altar em estilo barroco do
período do padre Cícero, quando o padre Murilo faleceu, o padre
seguinte quis pintar tudo de branco, me pediu para fazer a mudança,
eu recusei o trabalho, expliquei para o padre a importância cultural e
histórica daquela arte, mas ele não quis saber. Contratou outra
pessoa que pintou tudo de branco fez muitas alterações. Quando
115

veio uma comitiva de padres e cardeais de Roma, condenaram o que


o padre havia mandado fazer, esse padre me procurou depois e
disse que eu tinha razão sobre o assunto. Então eu penso, se um
padre admira um estilo, e quando chega a uma igreja e ali não tem o
estilo artístico que ele admira, ou ele deveria deixar como está ou
derrubar logo tudo, mexendo com isso com a memória do povo e
com a cultura local e fazer algo completamente diferente. E não ficar
interferindo de forma equivocada em estilos artísticos como se fosse
um especialista, sem ser. Eu considero até criminoso o que fizeram
com o altar da Basílica de Nossa Senhora das Dores. Tudo isso
porque eles não querem valorizar a arte e sim embelezar a igreja.

Outra coisa que nos foi possível perceber é a falta de registros das obras de
arte sacra que estão nas igrejas, durante nossa pesquisa de campo pelas imagens
citadas pelos artistas observamos que algumas dessas obras foram simplesmente
substituídas sem que existisse um registro da mesma. Como o caso do painel em
afresco do ícone da Santíssima Trindade existente na capela do Socorro, igreja em
que está sepultado o padre Cícero, obra de Daniel Filho, com o remanejamento dos
sacerdotes, o religioso responsável que assumiu a administração daquela igreja
mandou fazer um painel talhado no estilo barroco e colocou por cima do afresco
fechando totalmente a visão da obra, restando apenas o registro oral dos fiéis.

Na maioria das igrejas em que estivemos pesquisando as imagens dos


artistas sacros carirenses, ainda era possível observar que esses artistas tendem a
uma perspectiva mais decorativa que artística, negando-se com isso a própria
história da humanidade, onde desde o período em que o ser humano se percebeu
capaz de fazer arte, ao representar o místico, no período do paleolítico, essas
imagens são usadas para representar o sagrado, e não como forma de decoração.
O cristianismo usa desde seu surgimento nas catacumbas de Roma as
imagens sacras com a intenção de transmitir a fé no Cristo, e ainda quando a
maioria dos fiéis era formada de pessoas iletradas a Bíblia Pauperum foi de grande
importância para a igreja na Idade Média ao alcançar o objetivo proposto de
comunicar sua mensagem.
Esse pensamento discorre para Gombrich (2005):

Pois esses artistas não se propunham criar uma semelhança


convincente com a natureza ou fazer belas coisas: eles queriam
transmitir a seus irmãos de fé o conteúdo e a mensagem da história
sagrada Foi na Grécia que se descobriu a arte de mostrar as
“atividades da alma”, e, por muito diferente que fosse o modo como o
116

artista medieval interpretava tal finalidade, a igreja nunca poderia ter


usado imagens para os seus fins sem essa herança. Lembremos o
ensinamento do Papa Gregório Magno “a pintura pode fazer pelo
analfabeto o que a escrita faz pelos que sabem ler” [...] De modo
geral, a arte religiosa era tratada com maior respeito, e cuidada com
mais zelo, do que meras decorações de aposentos privados.
(GOMBRICH, 2005, p.165 -167)

O artista nos fala sobre alguns locais em que estão suas obras e sobre
materiais que utiliza:

Faço meu trabalho mais para fora, Itália, Japão, França, nesse caso
a maioria é em pintura, no Brasil geralmente o cliente prefere em
escultura, e tenho cliente em vários estados do País. Pinto em tela e
afresco, escultura e tudo o que engloba as artes plásticas. Utilizo em
meus trabalhos diversos materiais e suportes, como a fibra, o
papelão, gesso, madeira, isopor, esponja.

Daniel Filho pela seriedade em seus trabalhos tem se destacado no meio


artístico sacro do Cariri, os elementos que introduz em suas obras partem de
pesquisas realizadas pelo artista sobre a temática abordada. Seu desejo de
representar o sagrado é a essência de suas composições.

Em cada época da humanidade foram desenvolvidos diversos estilos


artísticos que manifestaram valores, não de maneira essencialista, mas de modo
relacional. Assim o olhar do artista que observa essas questões e de quem se utiliza
dessa arte ligam-se por um processo no qual o ser humano faz parte da construção
imagética do outro.

4.4 AS REPRESENTAÇÕES SACRAS DE GILSON VIEIRA

Gilson Vieira (1971) é natural de Juazeiro do Norte com residência fixa na


cidade, artista escultor, ele se considera autodidata, filho da importante artista
caririense Helena Vieira (1938-2007), escultora e também autodidata conforme
Gilson Vieira (2016) nos relata sobre sua mãe e sua formação: “... sou autodidata,
minha referência é minha mãe, ela era uma grande escultora, nunca fez escola de
arte, também nunca fiz. Na verdade eu descobri meu dom na doença que a matou
que foi um câncer de mama”.
117

É de Helena Vieira a mais famosa representação em escultura de frei Damião


conforme imagem 71, Gilson Vieira (2016) nos relata que o frei para essa escultura,
pousou para sua mãe. Frei Damião foi um padre com fama de santo que a exemplo
do padre Cícero, mais em menor escala, atrai romeiros a região.

Imagem 71, escultura de Frei Damião, Helena Vieira,


fonte: arquivo pessoal

O artista cresceu visualizando o contexto das romarias, visto que d. Helena


Vieira desde criança trabalhara em romarias vendendo suas esculturas, realizadas
ainda na infância. Essa realidade perdurou até seu falecimento nunca deixou de
trabalhar com arte, sua mãe segundo nos relata o artista “educou sozinha dez filhos
e retirava de seu trabalho artístico o único sustento para a família”. Esse foi o
contexto no qual Gilson Vieira cresceu em meio ao ateliê de sua mãe que também
se dedicava integralmente as esculturas sacras e religiosas.
Gilson Vieira é graduado em Geografia pela URCA, e se considera um jovem
em relação ao seu inicio de trabalho dedicado à arte sacra conforme nos relata: “...eu
não tenho um passado de escultor, eu sou um jovem tenho apenas 8 anos na área”.
Apesar do pouco tempo trabalhando com arte sacra, o artista já alcançou
notoriedade, em seu portfólio encontram-se trabalhos realizados para a Rede Globo
conforme nos informa “... quando a Globo está filmando uma novela ou série que
tem tema religioso, ligam para cá e pedem para ajudar no cenário com algumas
118

peças.” Gilson Vieira cita alguns trabalhos feitos para Globo como o caso da novela
Salve Jorge, entre outras, que tiveram obras suas.
Dentre seus clientes famosos, ele cita o cantor Roberto Carlos, que segundo
o artista é um devoto do Padre Cícero, e cita uma peça sua que foi presenteada ao
Papa Francisco por um cardeal que veio em romaria a Juazeiro do Norte e lhe
encomendou uma peça.
É fácil encontrar obras de Gilson Vieira nas avenidas e praças da cidade de
Juazeiro e Crato, são diversas obras públicas de sua autoria, são bustos de
personalidades ligados a história da cidade de Juazeiro do Norte como o caso do
busto de Dr. Floro Bartolomeu da Costa (1876-1926) conforme imagem 72, médico,
político, importe figura histórica, amigo do Padre Cícero Romão Batista ajudou o
sacerdote a construir os fatos em relação à emancipação de Juazeiro do Norte, é
considerado a terceira pessoa mais importante do Juazeiro Antigo.
Outro importante trabalho do artista foi o busto de Dom Vicente (1918-1998),
bispo que fundou na cidade de Crato a Faculdade de Filosofia, que mais tarde
passaria a ser a Universidade Regional do Cariri.
Apesar de serem bustos, são de personalidades ligadas diretamente aos fatos
e contextos religiosos e históricos da cidade, dai a relevância do trabalho.

Imagem 72, Busto de Dr. Floro Bartolomeu, 2011, Gilson Vieira, Juazeiro do Norte, fonte:
http://blogs.diariodonordeste.com.br/cariri/cidades/busto-de-dr-floro-e-homenagem-centenari
119

A obra de Gilson Vieira, mesmo quando representa personalidades ou


pessoas comuns, é um trabalho que segundo o artista está ligado ao místico, pois
essas pessoas de alguma forma estão diretamente ligadas à igreja ou são entes
falecidos, de certa forma o trabalho de Gilson Vieira é representar o invisível, a
emoção, o sagrado.

Segundo Manguel (2008):

Tal como a música lida tanto pela partitura como pelo conteúdo,
monumentos compreendem um texto, mas um texto cujos vários
significados existem apenas em nossa interpretação. Em alemão,
duas palavras, Mahnmal e Denkmal, servem para lembrar-nos dessa
dupla leitura. As raízes latinas de seus equivalentes em inglês,
memorial e monumento, remontam à deusa grega da memória. [...] A
memória torna-se concreta em pedras e cunhagem: algo que sirva
como lembrete [,,,] Todos os monumentos trazem tacitamente a
inscrição: “lembre-se e pense.” (MANGUEL, 2008. p.273)

Entre as referências artísticas ele cita o Realismo como estilo que admira,
conforme nos relata ““... o Realismo influência diretamente o meu trabalho, o barroco
também. Eu gosto muito do passado, coloco a mão em uma obra e sinto a energia.”
O artista fez um curso de arquitetura em São Paulo, ocasião em que
conheceu o artista Cicero D‟Ávila. Cícero D‟Ávila é um escultor do hiper-realismo
nascido em União dos Palmares no Estado de Alagoas em 1966, porém desde
criança reside em São Paulo, onde trabalha como artista é considerado atualmente
como um dos dez maiores escultores do hiper-realismo do mundo conforme imagem
73.

Imagem 73, Mãe e criança, 2007, Cícero D'Ávila, fonte:


http://www.guiadasemana.com.br/arte/noticia/10-escultores-que-
voce-precisa-conhecer
120

Sobre sua relação com Cícero D‟Ávila o artista nos informa:

Outra referência é a arquitetura, que me encanta muito, fiz curso


profissionalizante em São Paulo, mas na verdade não sou arquiteto
graduado, esse curso de arquitetura foi temporário, técnico, nesse
curso conheci um escultor brasileiro conhecido no mundo inteiro que
é o Cícero D‟Ávila. Fiz o curso com esse artista, que me deu muitas
dicas. Como estava entrando nesse meio da arte sacra, fui participar
de uma palestra sobre arte sacra dada pelo Cicero D‟Ávila, onde ele
abrangia sobre arte sacra para falar do trabalho dele. Foi ai que me
apaixonei pela arte sacra, e a arquitetura não tive tempo de cursar na
universidade, sou geógrafo, graduado pela URCA.

Gilson Vieira apesar de não possuir graduação em arquitetura faz projetos


arquitetônicos, quando nos relata sobre seu trabalho na igreja dos salesianos, ele
deixa claro que não assina só o profissional da área pode assinar, mais em seus
projetos ele acompanha a execução da obra conforme nos relata:

Sempre acoplo meu trabalho com a arquitetura[...]esses trabalhos


envolveram arquitetura por se tratar de obras públicas. Todas as
obras externas da igreja dos salesianos fui eu quem fez. Meu
trabalho é mais escultura, arquitetura também, mas não sou formado
na área. Meu trabalho é baseado nisso, as pessoas confiam muito
em meus projetos, faço o projeto ai o arquiteto assina, não posso
assinar, tenho a criatividade, desenho, faço tudo, só não posso
executar, mas acompanho tudo, todos sabem disso e sou bastante
procurado.

O artista deixa claro que não trabalha com afrescos, nem pintura em tela,
realiza pintura na escultura conforme nos informa que existem vários tipos de
pintura, em escultura: como a pintura florença, barroca, entre outras. Segundo nos
relata sobre seu processo artístico afirma “Criei uma tinta que suporta o sol e a
chuva, sou um artista que pesquisa materiais, e uso tecnologias”, conforme imagens
74, 75 e 76, do trabalho realizado na Igreja dos Salesianos.
121

Imagem 74, Jardim dos Salesianos, Gilson Vieira, Juazeiro do Norte,


fonte: arquivo pessoal.

Imagem 75, Gruta de Lourdes, Gilson Vieira, igreja dos


salesianos, Juazeiro do Norte, fonte: arquivo pessoal
122

Imagem 76, Gilson Vieira, salesianos, Juazeiro do


Norte, fonte: arquivo pessoal.

Na igreja de Nossa Senhora de Loudes em Juazeiro do Norte as esculturas


também são de Gilson Vieira conforme imagens 77 e 78.

Imagem 77, Gilson Vieira, igreja de Nossa Senhora de Lourdes, Juazeiro


do Norte, fonte: arquivo pessoal.

Imagem 78, Gilson Vieira, igreja de Nossa Senhora de Lourdes, Juazeiro do


Norte, fonte: arquivo pessoal.
123

Podemos perceber nas obras de Gilson Vieira a interferência de vários estilos


como o barroco, o renascimento e arquitetura românica, conforme foi possível
perceber nos arcos projetados pelo artista nas imagens acima citadas.

4.5 CLÁUDIO PASTRO FAZ REPRESENTAÇÃO DO PADRE CÍCERO

Um dos diversos painéis em azulejo, feitos por Cláudio Pastro na Basílica de


Aparecida, localizado na ala oeste do Santuário, é composto pela representação de
28 homens que marcaram a sociedade de alguma forma, entre eles encontram-se
da esquerda para a direita o padre Cícero do Juazeiro do Norte e frei Damião,
figuras centrais da região do Cariri, outra figura representada pelo artista é o índio
pataxó Galdino Jesus dos Santos, que foi assassinado na cidade de Brasília em
1997 por cinco rapazes dentre eles um filho de juiz federal, conforme imagem 79.

Imagem 79, Cláudio Pastro, Basílica de Aparecida, fonte:


https://veracidadeveracidade.wordpress.com/2012/01/30/santuario-nacional-e-eleita-uma-das-
sete-maravilhas-da-estrada-real/

Cláudio Pastro nunca esteve na cidade de Juazeiro do Norte, perguntado


sobre como seria uma representação da cidade em sua obra ele nos relata: “... não
conheço Juazeiro do Norte. Porém, representá-la seria buscar o Universal, o Eterno
no Regional”.
124

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após empreender essa pesquisa sobre arte sacra contemporânea,


visualizando a obra do artista brasileiro Claudio Pastro (1948- 2016), como objeto de
estudo, contemplou-se um panorama sobre a arte sacra em seus aspectos mais
relevantes na contemporaneidade. No primeiro momento o conhecimento sobre o
inicio da arte no paleolítico e o aprofundamento sobre os inicios da arte no
cristianismo foram extremamente necessários para a produção dessa pesquisa.
Notadamente um estudo feito com embasamento histórico demonstra a
seriedade e a importância do questionamento que norteou esse trabalho, visto que
embora o objeto estudado em questão seja a arte dentre seus mais variados
contextos, para esse estudo buscou-se especificamente o contexto sacro, o objeto
artístico sacro, como sua feitura e artistas que se dedicam a essa arte
especificamente, são temas pouco abordados no meio acadêmico das artes visuais,
delegando-se esse tipo especifico de estudo á profissionais de outras áreas,
especialmente das Ciências da Religião.
Diante do quadro apresentado, inicialmente consideramos o estudo em
questão de importância para o fim ao qual se destina: maior elucidação sobre o
cenário da arte sacra contemporânea, dentro do universo das artes visuais.
Para tanto foi necessário uma extensa pesquisa sobre as Histórias da arte
inseridas no contexto sacro e suas rupturas com a representação imagética do
sagrado. Nesse processo foi importante o esclarecimento sobre arte religiosa e arte
sacra cristã.
Consideramos um ponto importante na pesquisa às analises sobre a
necessidade de uma arte própria para nossa época, para isso foi necessário o
estudo sobre rupturas feitas por artistas em determinados períodos das Historias da
arte.
A investigação sobre as rupturas provocadas por artistas na representação
imagética do sagrado em cada época da História da arte foi extremamente
importante para elucidar sobre a poieses do artista Claúdio Pastro, e
compreendermos sobre as transformações que também acontecem na arte sacra no
século XXI, visto que a principal característica do trabalho do artista está
diretamente ligada a essas rupturas, pela inovação que seu trabalho apresenta.
125

Essas rupturas provocadas pelo artista em questão, ao criar um estilo artístico


inovador tem influenciado artistas sacro e provocado uma leitura mais
contemporânea da arte sacra hoje, elucidando questões sobre a relação da arte com
o sagrado em um contexto de século XXI. Essa ousadia de Claúdio Pastro tem
despertado no público um novo olhar sobre a arte sacra dos dias atuais.
Ao abordarmos arte sacra e religiosa, fator peculiar da arte cristã, é
impossível dissociar da própria História da Igreja, uma vez que arte sacra cristã é
indissociável da Igreja tanto Ortodoxa como Ocidental, com isso, fizemos um
levantamento sobre a História do início da igreja cristã nas catacumbas de Roma,
desde os Cismas ao Concílio Vaticano II e Jubileus. Esse fator se tornou de
importância fundamental para o entendimento das obras do artista Cláudio Pastro, o
artista em questão dedicou sua vida profissional inteiramente a arte sacra cristã, dai
a importância do estudo para maior esclarecimento sobre sua poética. Vale ressaltar
que a finalidade evangelizadora é uma das características dessa arte.
Analisar a obra do artista Cláudio Pastro, foi essencial para maior
entendimento sobre o que vem a ser arte sacra hoje. Visto que além de artista
Pastro também foi um pesquisador sobre o tema, além disso, sua obra se destaca
no cenário da arte sacra nacional e internacional, sendo no Brasil seu principal
expoente.
Relacionar a obra de Cláudio Pastro com arte contemporânea foi um desafio,
visto que definições sobre arte contemporânea ainda estão em construção. O que
podemos afirmar sobre a obra do artista refere-se às características de seu trabalho
relacionadas com a arte contemporânea, contudo, entendemos que será necessário
mais estudo sobre o tema.
Outro ponto importante da pesquisa foi as analises sobre a necessidade de
uma arte própria para nossa época, analisar o período do Renascimento na Europa
e do Barroco no Brasil trouxe reflexões sobre o prolongamento desse estilo artístico
no século XXI. Dessa forma, notamos a relevância do trabalho que Pastro realizou
nas igrejas, em especial no Brasil, como por exemplo, na Basílica de Aparecida em
São Paulo, redescobrindo de maneira inovadora os ícones elementos ricamente
simbólicos, dando a igreja especialmente no Brasil uma enorme contribuição na
reforma dos espaços sagrados nos dias atuais.
Nesse trabalho evidenciamos a necessidade de se investigar sobre a arte
sacra produzida no Cariri, especificamente na cidade de Juazeiro do Norte.
126

Conhecer os artistas dessa Região, como também perceber sinais de arte e


arquitetura sacra contemporânea no Cariri, para com isso demonstrar a importância
do aprofundamento e continuidade dessa pesquisa possivelmente em um mestrado.
Apresentando a importância do aprofundamento dessa pesquisa, especialmente no
tocante a Juazeiro do Norte e a relação da arte sacra contemporânea com os
círculos de romarias, dentro desse cenário surgem os artistas carirenses que
trabalham paralelo com igreja na evangelização, como o caso de Daniel Filho e
Gilson Vieira, importantes artistas desse cenário local, e a partir deles tomar
conhecimento sobre colecionadores desse estilo artístico.
Nesse sentido conhecer esses artistas e os locais onde estão suas obras, no
caso nas igrejas da Região foi de fundamental importância para se conhecer o
universo da arte sacra de Juazeiro do Norte.
Essa pesquisa ainda foi bastante esclarecedora para nosso aprofundamento
no campo da arquitetura sacra contemporânea e como vem sendo feito novas
leituras de Juazeiro do Norte por arquitetos contemporâneos como o caso da
arquiteta pernambucana Lília Campelo (1952-2014), e seu sócio Artur Diniz, com o
projeto arquitetônico da igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória, localizado
na cidade de Juazeiro do Norte, contemplando nessa obra de arquitetura sacra
contemporânea uma leitura diferenciada da cultura local.
Acreditamos ter conseguido alcançar os objetivos que tínhamos proposto,
apresentando uma pesquisa sobre arte sacra e seus aspectos na
contemporaneidade o que em muitas vezes pode ter sido ignorada no campo
acadêmico das artes visuais como um assunto de menor valor, apesar de grande
parcela do povo brasileiro ser místico e religioso, mostra com isso a importância da
arte sacra no sentido cultural.
Percebeu-se com essa pesquisa um universo vivo da arte sacra e de grande
importância especificamente nas obras de Cláudio Pastro, obras estas muitas vezes
ignoradas nos cursos de nível superior em artes visuais.
Completamos nossa pesquisa concluindo que tratar especificamente da arte
sacra com recorte na obra contemporânea de Cláudio Pastro teve suma importância
para uma concepção histórica e conscientizadora no que diz respeito a arte sacra.
Acreditamos que essa pesquisa pode contribuir para melhoramentos na formação de
futuros arte educadores e artistas, especialmente em cursos de artes visuais dentro
127

de contextos culturais como o que encontramos em Juazeiro do Norte, e que muitas


vezes parece passar despercebido.
Em suma, podemos ainda perceber que o artista Cláudio Pastro reafirma
através de suas obras que a arte sacra não é somente expressão de fé, mas nessa
fé o artista encontra seu estado de poiesis para manifesta-lo com maestria
artisticamente, materializando com essa ação a relação da arte com o sagrado.
128

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