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Romeu Bornelli
11 – Trindade (10)
Nós temos nos batido muito em torno disso, não é de hoje, são por todos
estes anos que nós nos reunimos. Nós precisamos de uma boa visão, nós
precisamos de uma visão adequada. A Palavra de Deus diz assim: Onde não
há visão, o povo se corrompe (Pv 29:18). Outras traduções alternativas
dizem: o povo fica sem controle, o povo se desvia, o povo se degenera.
Todas estas consequências aparecem em um povo sem visão. Agora, a visão
não nos torna, em si mesma, um povo com um relacionamento de qualidade
com o Senhor, porque ela é o primeiro passo, apenas. Se nós ficarmos só com
a visão, nós podemos nos tornar quase que visionários, vendo, vendo, vendo,
entendendo, mas sem um coração que acompanha a visão, um coração
transformado, um coração que possa refletir Cristo. Refletir Cristo na
convivência, refletir Cristo no ambiente de trabalho. Porque na verdade,
irmãos, a visão é para a Igreja, não é para o mundo. Agora, o testemunho é
para o mundo. O mundo não recebe visão do Senhor, de jeito nenhum. O
mundo recebe conhecimento, entendimento de Deus através da Igreja, a
Igreja é o testemunho de Deus. O mundo apenas recebe visão de Deus no
sentido salvador, quando o Espírito Santo vem a uma alma que não crê e
revela Cristo para aquele coração, leva aquele coração ao arrependimento e à
fé, isso aconteceu com todos nós, mas apenas nesse sentido. A visão de
Cristo, o plano de Deus, o propósito de Deus, a glória de Cristo, isto não é
revelado ao mundo, de jeito nenhum, isto é propriedade da Igreja.
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A Igreja é o canal de revelação de Deus, a Igreja é o objeto da revelação
de Cristo. A visão é para nós, mas o testemunho é para o mundo. Paulo falou
isto para os coríntios. Queria, mais uma vez, tomar esse ponto com os irmãos,
pois é importante. Paulo elogiou os coríntios por terem visão, muita visão, mas
reprovou os coríntios por não terem uma vida adequada à visão. Quando ele
começa a carta aos Coríntios, ele diz assim: em tudo vocês foram enriquecidos
nele, (ou em Cristo) em toda a palavra – 1Coríntios 1, Paulo diz isso – e em
todo o conhecimento; de maneira que não vos falte nenhum dom. Essa era a
comunidade de Corinto: ...em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a
palavra e em todo o conhecimento (1Co 1:5). Interessante, mas como
uma comunidade assim, podia viver como Corinto vivia? Parece que não bate
uma coisa com a outra – enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o
conhecimento - mas como a Igreja era nela mesma? Soberba; enciumada uns
dos outros; disputando; não se serviam; não estavam demonstrando amor
fraternal de jeito nenhum; estavam disputando dons; estavam disputando
posses; estavam dando vantagem aos irmãos, na vida comunitária, que
possuíam mais condição econômica; estavam usando da ceia para se
embriagarem, do tomar o cálice; estavam acolhendo, sem julgar; imoralidade
no seio da Igreja; muita confusão. Mas quando o apóstolo Paulo começa a
escrever àquela Igreja, ele começa desta forma: em tudo fostes enriquecidos
nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento, e em todo dom. Paulo diz:
não vos falta nenhum dom.
Mas nós precisamos de visão, porque tudo começa pela visão, tudo parte
da visão. Então, este foi o motivo que gerou este desejo, este encargo no meu
coração, que nós tenhamos uma visão, pelo menos, a partir daí, mais
adequada do Ser de Deus, a Trindade Santa e o assunto que a gente vai
começar na próxima reunião: a Pessoa de Cristo, para que, então, mais de
Deus e da cruz, do Ser de Deus e da cruz, da obra da cruz, possa estar se
clareando para nós. É fundamental, tudo decorre disto, o nosso amor a Cristo
decorre disto. Irmãos, não é algo emocional, não. Passa, depois, pelas
emoções, mas é algo que começa no espírito, na visão.
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Interessante como que as coisas podem ser invertidas e deturpadas. Um
homem de Deus, que seguiu fielmente o Senhor antes da Reforma Protestante,
um Conde, chamado Zinzendorf, um dia viu um quadro na parede que
retratava a crucificação. Ele contemplou aquele quadro por muito tempo e,
através da contemplação daquele quadro, ouviu como que um testificar, um
falar do Espírito no seu coração, e o falar do Espírito foi o seguinte: “Isto eu fiz
por ti, que fazes tu por mim?” Esta expressão já foi deturpada por tantas
pessoas, tantas vezes, como se o que Cristo fez na cruz por nós, pudesse ser
pago de alguma maneira por nós. Ele fez aquilo e o que nós podemos fazer por
Ele? Mas não é nada disso, nem o que o Espírito Santo revelou ao Conde
Zinzendorf e nem isso que ele entendeu. Ele estava vendo, que aquele amor é
um amor sem preço, e aquele amor, reclamava, e depois ele escreve isto:
“esse amor requer todo o meu ser, tudo o que sou.” Ele viu que aquele
sacrifício completo, consumado, que nada podia ser acrescentado a ele e nem
diminuído, esse sacrifício requeria todo o ser daquela pessoa, daquele irmão, e
isso é verdade com relação a nós. O sacrifício da cruz, a Pessoa que ali
morreu, requer todo o nosso ser, porque o que Ele fez foi completo, o que Ele
fez foi perfeito, o que Ele fez foi uma eterna redenção e agora, o que resta
para nós? Nos rendermos a esse propósito: Senhor, faz em mim o que o
Senhor quer fazer; Senhor, forma em mim o teu Ser e teu caráter; Senhor, me
dá o privilégio de participar do Teu testemunho nesta terra Senhor, eu fui
comprado por preço. Paulo fala isto aos coríntios: agora eu quero glorificar a Ti
em meu corpo. Ele fala também aos filipenses: Cristo seja engrandecido no
meu corpo, quer eu viva, quer eu morra. Ele não sabia se ele ia viver ou se ele
ia morrer, ele estava preso naquela prisão romana, ele não sabia o que seria o
próximo dia da vida dele como apóstolo do Senhor. Ele falou: e nem estou
preocupado, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro; que Cristo seja
engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Ele escreveu aos
tessalonicenses: quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. Então, os
irmãos estão vendo o que a visão faz? A visão faz isso: a visão amarra, a visão
é constrangedora, a visão é a única coisa capaz de nos arrastar. A visão de
Deus, a visão de Cristo, o amor de Cristo.
Mais uma vez eles se reuniram, 200 anos depois, no sexto século, no ano
589, num Sínodo, chamado Sínodo de Toledo, e neste Sínodo a definição ficou
completa a respeito do Espírito Santo. Eles tomaram aquelas declarações
daqueles outros Concílios e acrescentaram: “Cremos no Espírito Santo, o
Senhor, o doador da vida, que procede do Pai e do Filho.” Isto foi acrescentado
só neste último Concílio. Então, foi definido o que a Bíblia realmente ensina a
respeito do Espírito Santo, e esse credo do sexto século nunca foi
ultrapassado, porque a partir daí, nós não temos nada mais que a Bíblia
revele. A Pessoa do Espírito Santo foi definida assim, só no sexto século.
Quanto tempo a Igreja perdeu, quanto desvio houve aí. Nós já falamos alguma
coisa, o Espírito Santo foi visto como que, quase que uma bateria celestial, um
recarregador. Deus Pai é Deus, Deus Filho é Deus, agora, o Espírito Santo é a
influência de Deus, é o poder de Deus, mas Ele não era adorado como Pessoa
divina. Os irmãos entendiam que, ao Espírito Santo, não se podia orar, mas a
partir desse Sínodo de Toledo, ficou claro que o Espírito Santo é uma Pessoa
divina, com bastante clareza. Então, pode-se orar ao Espírito Santo, nós
podemos clamar a Ele, porque Ele é uma Pessoa. Vem, Espírito Santo, Ele é
Deus.
O Espírito Santo é uma Pessoa, e não uma influência. Vamos tentar usar
uma ilustração: se um escultor trabalha sobre um objeto de arte, ele está
usando a sua eficiência, o seu poder, sua capacidade, está esculpindo uma
obra ali e se, de repente, ele resolve parar, a obra fica inacabada. Que
necessidade ele tem de concluir aquela obra? Em si mesmo, nenhuma. Ele está
apenas usando a sua capacidade e fazendo uma obra, ele pode parar a hora
que quiser. Mas o Espírito Santo não é um poder operando sobre nós, o
Espírito Santo é Deus que veio habitar em nós, é muito diferente. Deus veio
habitar em nós, nos seus santos, através da Pessoa do Espírito Santo, e por
meio dessa habitação que, segundo o ensino Bíblico, é uma habitação
irreversível, é uma habitação que veio para ficar. O Espírito Santo não é dado
e tirado, é dado e tirado, isso não é o ensino bíblico. Ele veio habitar nos
nossos corações e esta habitação é comprometedora. Esta habitação - nós
podemos falar com muita veracidade e falando com reverência - compromete
Deus, compromete Deus conosco, claro que pela graça, claro que porque Ele
quis, porque Deus não se compromete com ninguém, Ele é lei para si mesmo.
Mas, no Seu plano, que Ele estabeleceu, no Seu plano de graça Ele quis se
comprometer. Quando Ele veio habitar em nós, na Pessoa do Espírito Santo,
Ele se comprometeu, não em exercer influência sobre nós, mas em tornar-nos
lugar da Sua habitação e nos tornar semelhantes a Ele mesmo. Ele se
comprometeu pela Pessoa do Espírito Santo. É por isto, irmãos, vejam como as
implicações são sérias, que Paulo escreve assim aos filipenses: ...aquele que
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começou boa obra em vós há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus
(Fp 1:6). Por que Paulo pôde ter tanta segurança? Porque ele sabia sobre o
Espírito de habitação, ele sabia que o Pentecostes veio para ficar, que o
Pentecostes não era uma descida de poder, que o Pentecostes era a descida de
uma Pessoa. Poder caracterizaria aquela Pessoa, mas aquilo não era um poder
apenas, era uma Pessoa: o Espírito Santo – mas recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis as minhas testemunhas...
(At 1:8)
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Jesus era alguém que tinha convicção de que nasceu para morrer.
Agora, parece que todos nós, quando ganhamos consciência da nossa
adolescência para frente, entendemos que a morte é um fato, todos nós, de
alguma maneira, também nascemos para morrer. Mas a convicção do Senhor
era muito diferente, sabe por quê? Vou colocar uma coisa para você pensar:
porque se Jesus não tivesse entregue a Sua carne, o Seu corpo
voluntariamente na cruz, Ele nunca teria morrido. Jesus estaria vivo até hoje
pisando na terra, porque Ele não tinha pecado, e o salário do pecado é a
morte. Jesus não tinha pecado, quem não tem pecado não morre. Se Ele não
tivesse entregue a Sua vida na cruz, Ele estaria andando no mundo até hoje
ensinando, e todos nós estaríamos perdidos, condenados. Todos aqueles
santos que esperaram no Velho Testamento e no Novo Testamento, que
morreram, estariam condenados, porque se o grão de trigo caindo em terra
não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto (Jo 12:24).
Então, quando Ele falava da cruz, Ele falava com convicção: Ninguém a tira
de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade
para a entregar e também para reavê-la...(Jo 10:18). E de tal forma Ele
era submisso a Deus e fez a vontade de Deus como Homem que, quando Ele
entregou a Sua vida, entregou pela Sua própria vontade, mas não a
reassumiu. Você já pensou nisto também? Porque a Bíblia diz que Jesus não se
ressuscitou, a Bíblia diz que Jesus foi ressuscitado pela glória do Pai. Então, Ele
foi submisso até no túmulo, entrou na morte voluntariamente, ninguém tira a
minha vida, eu, espontaneamente, a dou. Mas Ele não buscou Sua vida de
volta como Homem, Ele permaneceu no túmulo até que o Pai O ressuscitasse.
Obediente até a morte, e morte de cruz.
Na medida em que o Espírito Santo vai clareando estes textos para nós,
nós vamos vendo a glória da Pessoa de Cristo e a glória da nossa
redenção....Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me
preparaste... Quando esta história, que eu contei aqui, começou lá na
manjedoura, antes disso, ela começou lá naquele ventre de Maria, preparando
aquela mulher para que o Verbo recebesse a substância humana, o Verbo se
fizesse carne e isso é o início da glória da redenção, isso foi feito por Deus
Espírito Santo, em Lucas 1:35 está muito claro, foi obra do Espírito Santo.
Então, a segunda dádiva que nós temos do Espírito Santo. Primeiro Ele
preparou um corpo para o nosso Redentor, isso é glória. Segundo: Ele inspirou
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as Escrituras e isso também é glória, muita glória. Uma candeia que brilha em
lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em nossos
corações. O texto continua assim: sabendo, primeiramente, isto: que
nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação (Ele
está dizendo ‘não nasceu da mente humana’, não é Isaías, Jeremias, Ezequiel,
Daniel, não nasceu deles, eles foram veículos. O versículo 21 vai completar)
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana
(é óbvio que Ele estava se referindo às profecias das Escrituras, porque tem
profetas aí, como o judeu Nostradamus, por exemplo, que é tido como profeta
e que não tem nada de profeta segundo Deus. É claro que está se referindo às
Escrituras proféticas, Escrituras do Velho Testamento, a verdade de Deus que
Ele já falou no início do capítulo, qualquer profecia dessa foi dada por vontade
humana), entretanto, homens [santos] (homens que foram postos à parte,
homens que foram separados) falaram da parte de Deus (agora, o que diz o
resto da frase?) movidos pelo Espírito Santo (2Pe 1:20-21).
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