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Mais tarde, em 1956, uma notícia no jornal despertou meu interesse. Entre
alguns índios do México meridional, pesquisadores americanos tinham
descoberto uns cogumelos que eram comidos em cerimônias religiosas e isso
produzia uma condição inebriada acompanhada por alucinações.
Como isto depois ficou demonstrado, o LSD foi a razão pela qual estes
cogumelos acharam o caminho do meu laboratório, sem a minha ajuda, no
início do ano seguinte.
Foi o médico mexicano Dr. Blas Pablo Reko quem primeiro abertamente
discordou com a interpretação de Safford e que achou evidência de que ainda
são empregados em nosso tempo, cogumelos em cerimônias medicinais-
religiosas, em distritos longínquos, nas montanhas meridionais do México.
Mas não foi antes de 1938 que o antropólogo Robert J. Weitlaner e o Dr.
Richard Evans Schultes, botânico de Universidade de Harvard, acharam,
naquela região, estes tipos de cogumelos que estavam sendo usados lá para
propósitos cerimoniais; e só em 1938 pôde um grupo de jovens antropólogos
americanos, sob a direção de Jean Bassett Johnson, assistir pela primeira vez
uma cerimônia noturna secreta de cogumelo. Isto se passou em Huautla de
Jimenez, a capital do território Mazatec, no Estado de Oaxaca. Mas estes
investigadores foram só espectadores, não lhes foi permitido participar dos
cogumelos. Johnson fez a reportagem da experiência num diário sueco
(Ethnotogical Studies 9, 1939).
Esta experiência foi a prova final para Wasson que os poderes mágicos
atribuídos aos cogumelos de fato existiam e não eram somente superstição.
Esta auto-experiência mostrou uma vez mais que os seres humanos reagem
muito mais sensivelmente que os animais para as substâncias psico-ativas.
Nós já tínhamos chegado à mesma conclusão experimentando o LSD em
animais, como descrito em um capítulo anterior deste livro. Não foi a
inatividade do material do cogumelo, mas sim a capacidade de reação
deficiente dos animais de pesquisa em vista do tipo de princípio ativo, que
explicou porque nossos extratos tinham parecido inativos no rato e no
cachorro.
Porque o ensaio em sujeitos humanos era o único teste à nossa disposição para
a descoberta das frações ativas de extrato, nós não tivemos nenhuma outra
escolha que a de executar a prova em nós mesmos se nós quiséssemos
continuar o trabalho e chegar então a uma conclusão satisfatória. Na
autoexperiência há pouco descrita, uma forte reação que durou várias horas foi
produzida por 2,4 g de cogumelos secos. Então, em seqüência, nós usamos
amostras que correspondiam só a um terço desta quantia, isto é 0,8 g de
cogumelos secos. Se estas amostras contivessem o princípio ativo, eles
provocariam só um efeito moderado que prejudicaria um pouco a habilidade
para trabalhar por um curto intervalo de tempo, mas este efeito ainda seria tão
distinto que as frações inativas e aquelas contendo o princípio ativo poderiam
ser inequivocamente diferenciadas umas das outras. Vários colaboradores e
colegas se ofereceram como “cobaias” para esta série de testes.
Com ajuda deste teste fidedigno em objetos humanos poderia ser isolado o
princípio ativo, poderia ser concentrado e poderia ser transformado em um
estado quimicamente puro por meio dos métodos de separação mais recentes.
Duas substâncias novas, que eu nomeei psilocybin e psilocin, foram obtidas
assim na forma de cristais incolores.
A síntese total do psilocybin e psilocin sem a ajuda dos cogumelos poderia ser
desenvolvida em um processo técnico que permitiria produzir estas
substâncias em grande escala. A produção sintética é mais racional e mais
barata que a extração dos cogumelos.
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Imediatamente depois desta nota eu fui para o ar livre e deixei a mesa do café
da manhã onde eu tinha comido com o Dr. H. e sua esposa, e deitei no
gramado. A inebriação chegou rapidamente a seu clímax. Embora eu tivesse
resolvido firmemente tomar notas constantes, agora me parecia um completo
desperdício de tempo, o movimento de escritura infinitamente lento, as
impossibilidades de expressar, da expressão verbal vil – medida pela
inundação da experiência interna que me invadiu e ameaçou me estourar.
Parecia para mim que 100 anos não seriam suficientes para descrever a
abundância da experiência de um único minuto. No princípio, impressões
ópticas predominaram: Eu vi com delícia uma sucessão ilimitada de filas de
árvores na floresta próxima. Então nuvens esfarrapadas no céu ensolarado
rapidamente se acumulando em cima, com uma majestade silenciosa e
empolgante, numa superposição de milhares de capas – céu no céu – e eu
fiquei então esperando que, lá em cima, no próximo momento, algo
completamente poderoso, desconhecido, não ainda existente, poderia
aparecer ou acontecer – veria eu um deus? Mas só a expectativa permaneceu,
o pressentimento, isto pairando, “no umbral do último sentimento”… Então
eu me movi para mais para longe (a proximidade dos outros me perturbava) e
me deitei num recanto do jardim, numa pilha de madeira esquentada pelo sol.
Meus dedos acariciavam esta madeira com uma afeição sensual animal
transbordante. Ao mesmo tempo eu submergi dentro de mim; foi um clímax
absoluto: uma sensação de felicidade me penetrou, uma felicidade contente –
eu próprio me encontrei atrás de meus olhos fechados numa cavidade cheia
de ornamentos vermelho-tijolo, e ao mesmo tempo, no “centro do universo de
calma consumada”. Eu soube que tudo era bom – a causa e origens de tudo
eram boas. Mas no mesmo momento eu entendi também o sofrimento e a
abominação, a depressão e o desentendimento da vida ordinária: lá onde
uma pessoa nunca “é total”, mas ao invés, está dividida, cortada em pedaços
e dividida em fragmentos minúsculos de segundos, minutos, horas, dias,
semanas e anos: lá a pessoa está escrava do tempo de Moloch que devora as
pessoas pedaço por pedaço; a pessoa está condenada a gaguejar, errar e
retalhar; a pessoa tem que arrastar consigo mesmo a perfeição e o absoluto,
a união de todas as coisas; o momento eterno da idade dourada, este original
fundamento de ser – que realmente, não obstante, sempre suportou e sempre
suportará – lá num dia da semana da existência humana, como um espinho
atormentador enterrado profundamente na alma, como uma recordação de
uma reivindicação nunca preenchida, como uma manhã fatal de um
prometido paraíso perdido; por este “presente” sonho febril para um
“passado” condenado em um “futuro” nublado. Eu entendi. Esta inebriação
era um vôo espacial, não do exterior mas sim do homem interior e por um
momento, eu experimentei a realidade de um local além da força da
gravidade do tempo.
(…) Um dia depois, nós fizemos nossa visita formal a curandeira Maria
Sabina, uma mulher tornada famosa pelas publicações dos Wassons. Foi na
cabana dela que Gordon Wasson se tornou o primeiro homem branco a provar
os cogumelos sagrados, no curso de uma cerimônia noturna, no verão de 1955.
Gordon e Maria Sabina saudaram um ao outro como velhos amigos,
cordialmente. A curandeira vivia fora do caminho, ao lado das montanhas de
Huautla. A casa na qual a histórica sessão com Gordon Wasson tinha
acontecido, tinha sido queimada, presumivelmente por residentes enfurecidos
ou algum colega invejoso, porque ela tinha divulgado o segredo do
teonanacatl para estranhos. Na nova cabana na qual nós estávamos, prevalecia
uma desordem incrível, como provavelmente também devia ter prevalecido na
antiga cabana na qual as crianças meio-desnudas, galinhas e porcos viviam em
alvoroço. A velha curandeira tinha uma face inteligente, excepcionalmente
mutável em expressão. Ela ficou impressionada obviamente quando foi
explicado que nós tínhamos conseguido confinar o espírito dos cogumelos em
pílulas, e ela prontamente se declarou pronta para “nos servir” com elas, quer
dizer, nos conceder uma consulta. Ficou acordado que isto deveria acontecer
na próxima noite na casa de Dona Herlinda.
Tão logo nós voltamos para a casa de Herlinda, ao entardecer, Maria Sabina já
tinha chegado lá com uma grande comitiva, suas duas filhas adoráveis,
Apolonia e Aurora (duas curandeiras videntes) e uma sobrinha, todos
trouxeram também crianças. Sempre que a criança dela começava chorar,
Apolônia ofereceria seu peito a ela. O velho curandeiro, Don Aurélio, também
apareceu, um homem poderoso, caolho, vestindo um capote preto-e-branco.
Foram servidos Cacao e massa doce na varanda. Fizeramme lembrar do relato
de uma velha crônica que descrevia como o “chocolatl” era bebido antes da
ingestão de teonanacatl.
Uma das crianças, uma menina de cerca de dez anos, a pedido de Maria
Sabina, tinha preparado para mim o suco de cinco pares de folhas frescas de
hojas de la Pastora. Eu queria experimentar esta droga que eu tinha estado
impossibilitado de tentar em San Jose Tenango. Foi dito que a poção era
especialmente ativa quando preparada por uma menina virgem. A xícara com
o suco exprimido foi igualmente purificada e conjurada por Maria Sabina e
Don Aurélio, antes que me fosse entregue.
Depois que a droga foi consumida e a vela no “altar” foi apagada, nós
esperamos os efeitos na escuridão.
Antes que uma meia hora tivesse decorrido, a curandeira murmuraram algo;
sua filha e Don Aurélio também ficaram inquietos. Herlinda traduziu e nos
explicou o que estava errado. Maria Sabina tinha dito que as pílulas não
continham o espírito dos cogumelos. Eu discuti a situação com Gordon que se
deitara ao meu lado. Para nós estava claro que a absorção do princípio ativo
das pílulas, que precisava primeiro se dissolver no estômago, acontecia mais
lentamente do que os cogumelos nos quais alguns dos princípios ativos já
eram absorvidos pelas membranas mucosas durante o mastigar. Mas como nós
poderíamos dar uma explicação científica sob tal condição? Em lugar de tentar
explicar, nós decidimos agir. Nós distribuímos mais pílulas. As curandeiras e
o curandeiro, cada um recebeu outro par. Cada um agora tinha tomado uma
dose total de 30 mg de psilocybin.
Quando nós íamos deixar Maria Sabina e sua clã, ao amanhecer, a curandeira
disse que as pílulas tinham o mesmo poder que os cogumelos e que não havia
nenhuma diferença. Esta era uma confirmação, por parte de uma autoridade
bem competente, de que o psilocybin sintético é idêntico ao produto natural.
Como um presente de despedida eu deixei, com Maria Sabina, um frasco de
pílulas de psilocybin. Ela radiante explicou, ao nosso intérprete Herlinda, que
agora ela poderia dar consultas também na estação quando nenhum cogumelo
cresce.
Como nós deveríamos julgar a conduta de Maria Sabina, pelo fato que ela
permitiu que estranhos, pessoas brancas, tivessem acesso à cerimônia secreta,
e lhes tinha deixado provar do cogumelo sagrado?
Ao crédito dela pode ser dito que ela tinha aberto assim as portas à exploração
do culto do cogumelo mexicano, na sua presente forma, para a investigação
científica, botânica e química dos cogumelos sagrados. Valiosas substâncias
ativas, tais como o psilocybin e o psilocin, resultaram daí. Sem esta ajuda, o
conhecimento antigo e a experiência que estavam escondidas nestas práticas
secretas iriam possivelmente, mesmo provavelmente, desaparecer sem deixar
um rastro, sem frutificar, no avanço da civilização Ocidental.
Drogas e Religião
Porém fica claro que o uso da palavra droga tem sentido pejorativo,
negativo em nossa língua,o que deve ser analisado é como as
pessoas que consomem algumas dessas substâncias se comportam
dentro da sociedade, no seu ambiente de trabalho e no seu
relacionamento familiar e com amigos, pois a definição de droga tem
como implicação que a pessoa esteja se alienando do convívio social
saudável, tornando-se incapaz de produzir e ser responsável, além de
ter prejuízos para sua saúde, estar dependente e se tornar perigosa
para si mesma e para outras pessoas.
Enteógeno
Enteógeno (ou enteogénico) é o estado xamânico ou de êxtase induzida pela ingestão de
substâncias alteradoras da consciência. É um neologismo que vem do inglês: entheogen ou
entheogenic, tendo sido proposto em 1973 por investigadores, dentre os quais se pode citar
Gordon Wasson (1898-1986).
O uso de plantas (ou fungos) para alteração da consciência e percepção é uma realidade
mundial e milenar. Até mesmo animais usam plantas com atividade psicotrópica, como é o
caso de javalis e primatas que cavam para conseguir as raizes do poderoso eboka. Esses
seres, são considerados pelos usuários, como seres divinos e professores espirituais. Entre
as plantas, alguns dos enteógenos mais conhecidos são Ayahuasca, Jurema, Cânabis, Yopo,
Peiote, Ololiuqui. Entre os fungos, Psilocybe, Amanita.
Morning Glory ou Glória da Manhã o Ololiuhqui dos Astecas
Observe-se que incluem nessa relação plantas com substâncias que possuem efeitos
farmacológicos distintos . A Cannabis (Cannabis sativa sp) por exemplo com suas múltiplas
formas de preparação Bangue (Bhang), Haxixe, etc. se enquadra nessa categoria por seu
uso étnico (religioso - medicinal) em algumas culturas da Índia, da Jamaica e de algumas
tribos africanas, mas é considerada por alguns como um sedativo euforiante ou seja um
psicotrópico com efeito depressor no sistema nervoso com propriedades diferenciadas deste
grupo dos tranquilizantes, análogas talvez às que explicam as diferenças entre dois
elementos ativos extraídos do ópio, a Heroína e Morfina.
Enteógeno x alucinógeno
A farmacologia ainda não chegou a acordo sobre o termo para descrever as suas ações
farmacológicas, assim o termo alucinógeno continua sendo a designação predominante
entre os cientistas mais tradicionais, apesar da maioria das substâncias não provocar
alucinações no sentido clínico. O termo psicodélico continua muito utilizado por cientistas
de gerações mais recentes, em geral referindo-se apenas a substâncias cujos efeitos são
semelhantes aos do LSD ou da mescalina.
Alguns autores não consideram que a expressão enteogénico seja um mero sinônimo de
psicodélico, já que nem todas as substâncias usadas num contexto sagrado provocam
alucinações, e para diferenciar do uso de alucinógeno com finalidade lúdica. Os estados de
comunhão com a divindade são característicos do uso tradicional de substâncias visionárias,
não seria igualmente alcançado com o uso de substâncias sintéticas (LSD, MDMA, etc)
para fins recreacionais ou de prazer farmacológico. A distinção se apóia no contexto em
que seu uso é feito. Se for dentro de uma realidade religiosa, sagrada e tradicional a a
substância é considerada enteogénica. Se for num contexto recreativo e associado à
moderna cultura pop ela é considerada psicodélicas.
Por outro lado o sentido do termo psicodélico como associado a utilização individual e
lúdica foi uma consequência do uso descontrolado a partir do movimento hippie mas
iniciou-se com sérias pesquisas etnofarmacológicas e bioquímicas, mais especificamente na
área da psicoterapia, associadas a descoberta do LSD.
A proibição moral de algumas substâncias de uso recreativo como lícitas e outras como
ilícitas não se relacionam necessariamente como o potencial de dano e efeito colateral ou
potencial de causar dependência química das mesmas. Alguns autores associam essa
preucupação à denominada invasão farmacêutica, ou aumento explosivo da produção e
consumo de novos fármacos ocorrida ao longo de todo o século XX e/ou ao etnocentrismo
e combate à culturas pagãs do período colonial. Os legisladores estão atentos para esse
fenômeno diante dos efeitos sociais nefastos do Narcotráfico, mas essa é outra área
cerceada por múltiplos interesses e aonde também não se possui um saber esclarecedor.
Ver também
• Psicoterapia com enteógenos,
• Anexo:Lista de enteógenos
Ligações externas
• Enteogenos.org - Site com diversos textos sobre o assunto
Psicoterapia psicodélica
Psicoterapia psicodélica refere-se à prática de psicoterapia envolvendo o uso de drogas
psicodélicas. Como uma alternativa para os sinônimos tais como "alucinógenos" ou
"enteógenos" e outros nomes construídos funcionalmente, o uso do termo psicodélico
enfatiza a habilidade que as drogas psicodélicas têm de facilitar a exploração da psique, que
é fundamental para a maioria dos métodos de psicoterapia psicodélica.
Segundo Fontana (1969) essas substâncias devem ser consideradas como auxiliares da
psicoterapia no sentido de aumentar o insight e favorecer a conexão e não como um uso per
se, que pode remover ansiedades latentes que deveriam ser elaboradas no processo
psicoterápico. Assinala a indicação para a maioria dos pacientes neuróticos e chama
atenção do risco de surto psicótico em pacientes susceptíveis.
Peiote
História
Psicoterapia psicodélica, no mais amplo senso, confunde-se com o estudo e utilização de
técnicas de meditação e êxtase religioso pela psicologia que é provavelmente tão antigo
quanto o conhecimento humano sobre plantas alucinógenas. Embora predominantemente
visto como espiritual por natureza, elementos da prática psicoterapêutica podem ser
reconhecidos nos rituais enteogénicos que integram as práticas médicas de muitas culturas.
Notavelmente em algumas regiões da América Central (integrantes das culturas Maia e
Asteca) e América do Sul (Incas e alguns povos da Amazônia e Nordeste do Brasil) reúnem
a maioria das substancias conhecidas como alucinógenos e Enteógenos.
Alguns estudos precursores poderiam ser citados entre estes o estudo sistemático do Peiote
o cacto Anhalonium lewinii em 1886 utilizado pelos índios do México e Sudoeste dos
Estados Unidos (atualmente integrantes da Native American Church) pelo farmacologiasta
Ludwig Lewin que dele isolou a Mescalina a partir do que se iniciaram estudos realizados
por psicólogos famosos como Havelock Ellis, Jaensch e Weir Mitchell (Huxley, 1953/
1965) e os estdos e experiência de Richard Spruce (1817-1893) e Alfred Russel Wallace
(1823-1913) com a Aya-huasca na Amazônia na segunda metade so séc. XIX.
Uso terapêutico
Uma das intrigantes formas de uso de vegetais que contém substâncias alucinógenas é o
caso da Ipomoea purpurea ou I. violácea conhecida como Glória da Manhã (Morning
Glory) que para alguns autores corresponde ao ololiuhqui que contém ácido lisérgico e faz
parte do sistema etnomédico nahuattl dos astecas/toltecas, com a qual se prepara uma
essência floral diluída centenas ou milhares de vezes assim como os medicamentos
homeopáticos. Observe-se que o seu elemento ativo básico é o LSA – Amida do Ácido
Lisérgico (Lysergic Acid Amides) e não a Dietilamida do Ácido Lisérgico (lysergic acid
diethylamide) ou LSD do qual ignora-se se contém frações e/ou se ocorre espontaneamente
uma biotransformação.
Perspectivas teóricas
Apesar de não legalmente instituída pelos órgãos de regulação e controle profissional do
Brasil, no plano teórico já existem como referidas pesquisas de resultados terapêuticos de
seu emprego na medicina tradicional e/ou segurança quanto a ser inofensivo à saúde o
consumo dentro das práticas tradicionais. Contudo no plano teórico ainda não se formou
um consenso quanto à forma do método terapêutico ou linha teórica de atuação. Sem
dúvida esse conflito reflete a própria dificuldade de conceituação e intervenção das teorias
e técnicas psicoterápicas.
Considerando então esse conjunto de pesquisas das áreas médicas e sociais o que se pode
antever como proposição psicoterápica são a combinação das técnicas que possuem
evidências clínicas no tratamento nos transtornos mentais já referidos a exemplo do
emprego psicologia analítica jungniana com pacientes terminais, as proposições da
psicologia transpessoal principalmente porque inclui pesquisadores de substancia
psicodélicas como Stanislav Grof ou terapia cognitivo comportamental no controle da
drogadição naturalmente além das intervenções que já se realizam a partir da
psicofarmacologia e homeopatia como no caso da Morning Glory.
Contudo não se pode ignorar as contribuições dos principais centros urbanos de utilização
da hoasca: o Santo Daime a União do Vegetal e a Igreja Nativa Americana que em função
de sua legitimação social e convívio com pesquisadores vêm produzido uma nova interface
entre a ciência terapêutica e a religião.
Ver também
• Experiência psicodélica • Enteógeno
• Psicoterapia • LSD
• Psicodélico • Jurema (árvore)
• Êxtase religioso • Ayahuasca
• Neuroteologia • Psilocibina
• Xamanismo • Mescalina
• Psicologia transpessoal • Peiote
Psilocibina é uma droga que ganhou popularidade na década de 60, estando seu
consumo culturalmente associado ao movimento hippie, junto com o LSD. Não foi tão
popular quanto o mesmo apesar de produzir efeitos similares, porém, distintos.
Apresentação
A psilocibina (O-fosforil-4-hidróxi-N,N-dimetiltriptamina) é um alcalóide do grupo
indólico e o principal componente psicoativo encontra-se nos cogumelos do gênero
Psilocybe, de onde vem o seu nome. Sua estrutura molecular é análoga à serotonina
especialmente se hidrolisada (defosforilação) em Psilocina (4-hidróxi-N,N-
dimetiltriptamina) Litter, 1972.
Origem
Os fungos superiores dos gêneros "Psilocybe", "Panaeolus" e "Conocybe" perfazem uma
série de mais de 180 espécies, são utilizados pelo menos 3000 anos na cultura dos povos do
México Asteca-Náhuatl possuindo características comuns à utilização xamânica, ainda mais
antiga, do cogumelo Amanita muscaria nas populações siberianas. Esse último além da
muscarina, cujos efeitos parassimpaticomiméticos ou colinérgicos (atua feito a acetilcolina)
são bem conhecidos, possuem substancias peptídicas (neuropeptídeos) ainda não bem
conhecidas próximas do ácido ibotênico (muscimol) associadas ao seu efeito
psicodisléptico.
O gênero Psilocybe está presente em todos os continentes, mas nem todos possuem
substancias psicotrópicas. Entre as espécies mais utilizadas das quase 130 espécies do
gênero Psilocybe incluem-se: P. mexicana, P. caerulescans, P. semperviva, P.
mazatecorum, P. zapotecorum, P. Aztecorum.
Efeitos
Os efeitos da psilocibina têm caráter alucinógeno na maioria dos casos. Após a ingestão da
substância (através do chá de cogumelo ou do cogumelo desidratado e moído, por exemplo)
o indivíduo leva tipicamente cerca de 15 a 45 minutos para começar a sentir os efeitos. Os
efeitos variam de pessoa para pessoa e também dependem do tipo de cogumelo ingerido. A
princípio pode-se ter uma impressão de leve tontura e até mesmo um certo desconforto
gástrico (que pode ocasionar vômito). Muitas vezes tem-se sensações agradáveis que
incluem empatia com as outras pessoas e com o universo. Em um segundo momento é
possível perceber alterações nas percepções visuais e noção de espaço. Por volta da 2º hora
costuma-se alcançar o topo da "viagem". Neste ponto, dependendo da quantidade ingerida,
pode-se estar em um estado totalmente desconexo da realidade. Alucinações intermitentes
em todos os sentidos provocando sinestesia e desprendimento do ego são comuns.
O ponto alto da "viagem" pode ser extremamente agradável e, segundo alguns usuários, de
um aprendizado considerável. No entanto, algumas pessoas ou em algumas situações pode-
se realmente sentir-se desconfortável com as alucinações. Há pessoas que relatam
experiências místicas com a psilocibina que lhes pareceram extremamente positivas, mas há
também quem tenha viagens péssimas e cheias de medo ou paranóia.
Riscos
Não existem provas das consequências físicas do consumo de Psilocibina; apenas há
referências de casos de surtos psicóticos de duração variada. As propriedades de causar
psicoses como dito ainda precisam ser comparadas à incidência esperada em cada região,
estima-se para a esquizofrenia uma incidência média de 1% em populações das Américas,
bem como é necessário estabelecer o perfil dapopulação exposta à esse risco, como por
exemplo ter casos de psicose na família e/ou ser portador de transtorno neurótico
Existe também casos de "bad trip" que significa viagem ruim, bad (ruim) trip (viagem ou
brisa) é quando a pessoa toma a droga e o efeito é de medo, paranóia, pavor (sensações
ruins). Isso é causado por diversos fatores, desde ambientação até dificuldades da pessoa
em lidar com a realidade. Essa substancias só devem ser utilizadas em um contexto
adequado e com profissionais capacitados para demandas emergenciais ou seja psiquiatras
(que possuem licença especial de pesquisa (nos EUA) ou curandeiros oriundos das culturas
que fazem uso tradicional dessa substancias.
Tolerância e dependência
Não causa dependência, devido à intensidade das experiências. No entanto, a psilocibina e a
psilocina geram tolerância, sendo certo que seu consumo serial tende a aumentar em
quantidade, já que os receptores neurais ficam saturados por alguns dias.
Overdose
Os efeitos do alcalóide isolado, cuja DL50 não foi estabelecida é essencialmente diferente
dos efeitos de ingestão dos cogumelos (in natura) tendo em vista a quantidade a ser
administrada suplantar a capacidade de absorção do corpo humano, que sucumbiria antes
por transtorno gástrico. Segundo Dewick apud Miranda; Taketa; Vilaroto-Vera o gênero
Psilocybe contêm cerca de 0,2 a 0,6% de alcalóides triptamínicos.
De acordo com Hoffman, apud Furst os ingredientes ativos do dos cogumelos sagrados
correspondem a 0,03% do total do organismo, isolando-se do conteúdo de 30 cogumelos
bastaria 0,01 g para produzir o efeito psicoativo. Ainda conforme esse autor a dose, por vía
oral, media para um adulto está entre 4 e 8 mg de psilocibina.
Uso étnico
Semelhantes a cultos de possessão pelos deuses meninos que falam através de seus ticitl
(médicos feiticeiros) em nome de Jesus Cristo e Deuses da cultura nahuattl Piltzintecuhtli
ou Quetzacoalt.
Nessa cultura, entre os nahua e toltecas/ mazatecas, tais cogumelos fazem parte de ritos de
cura (consultas individuais, veladas) onde os cogumelos são representados como meninos
santos, que ensinam a causa das doenças, mostram a presença de tonal (tonalli), e
sofrimentos infligidos ao duplo animal ou nagual (naualli) são fórum de discussões éticas
de feitiçaria e oráculos de relações interpessoais.
Ver também
Psilocybe zapotecorum
• Cogumelo psicadélico
• Psicodislépticos
• Psicoterapia psicodélica
• Medicina indígena
• Astecas
• Peiote
• Jurema (árvore)
• Dimetiltriptamina
• Enteógeno