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Introdução: Conceito de Empresa e Tipos de Sociedades Comerciais
Introdução: Conceito de Empresa e Tipos de Sociedades Comerciais
1. Introdução
As sociedades comerciais são a estrutura típica da empresas nas
economias de mercado, embora a empresa possa revestir outras formas
jurídicas.
Nos termos do art. 1º CSC, as sociedades comerciais têm necessariamente
por objecto a prática de actos de comércio e as sociedades que tenham por
objecto a prática de actos de comércio devem revestir um dos tipos previstos
no Código.
2. Conceito de empresa
A empresa é a célula base da economia moderna.
A disposição fundamental para a determinação do conceito de empresa em
Direito Comercial é o art. 230º CCom1 . [1]
CSC.
Em face do art. 980º CC deparam-se quatro elementos do conceito geral de
sociedade:
1[1]
Artigo 230º – Empresas comerciais
Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem:
1º Transformar, por meio de fábricas ou manufacturas, matérias-primas, empregando para isso, ou só operários,
ou operários e máquinas;
2º Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer a particulares, quer ao Estado, mediante preço
convencionado;
3º Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem em escritório aberto ao público, e mediante salário
estipulado;
4º Explorar quaisquer espectáculos públicos;
5º Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;
6º Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo empresário;
7º Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer pessoas, animais, alfaias ou
mercadorias de outrem.
Parágrafo 1º – Não se haverá como compreendido no n.º 1 o proprietário ou o explorador rural que apenas fabrica
ou manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista,
industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício embora
empregue para isso, ou só operários e máquinas.
Parágrafo 2º – Não se haverá como compreendido no n.º 2 o proprietário ou explorador rural que fizer
fornecimento de produtos da respectiva propriedade.
Parágrafo 3º – Não se haverá como compreendido no n.º 5 o próprio autor que editar, publicar ou vender as suas
obras.
2[2]
Artigo 980º – Noção
Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços para
o exercício em comum de certa actividade económica, que não sejam de mera fruição, a fim de repartirem os lucros
resultantes dessa actividade.
1)
Elemento pessoal: pluralidade de sócios;
2)
Elemento patrimonial: obrigação de contribuir com bens ou serviços;
3)
Elemento finalístico (fim imediato ou objecto): exercício em comum de
certa actividade económica que não seja de mera fruição;
4) Elemento teleológico: repartição dos lucros resultantes dessa
actividade.
O art. 1º/2 CSC3 , aponta dois elementos específicos do conceito de
[3]
sociedade comercial:
1) Objecto comercial: prática de actos de comércio;
2) Tipo comercial: adopção de um dos tipos configurados e disciplinados
na lei comercial.
Pode-se definir empresa, como uma organização de pessoas e bens
que tem por objecto o exercício de uma actividade económica, em
economia de mercado.
3. Elemento pessoal
Nele compreendem-se, quer o empresário e outros investidores de capitais,
quer os trabalhadores.
Qualquer destas entidades tem, de uma forma ou de outra, interesse no
desenvolvimento e êxito da empresa, seja para rentabilização dos capitais
investidos, seja para promoção pessoal, estabilidade e retribuição do trabalho.
Em princípio, e porque a lei o define como um contrato, o acto gerador da
sociedade deve ser celebrado por pelo menos duas partes, dois sujeitos de
direito. É o que expressamente refere o art. 7º/2, 1ª parte CSC. Todavia esta
norma, in fine, abre uma brecha em tal princípio, ao admitir que a lei “permita
que a sociedade seja constituída por uma só pessoa”.
A regra da pluripessoalidade vale tanto para a sociedade – contrato como
para a sociedade – instituição. E, do mesmo modo, deverá pôr-se a questão da
admissibilidade de excepções àquela regra, ou seja, de sociedade com um só
sócio (sociedades unipessoais), tanto no que toca ao momento da constituição
da sociedade, como no que toca à subsistência com um só sócio de uma
sociedade já existente.
4. Elemento patrimonial
O art. 980º CC, consagra um segundo elemento do conceito de sociedade,
consiste na chamada obrigação de entrada, através da qual os sócios efectuam
contribuições que irão formar o património inicial da sociedade.
Esta norma limita-se a exigir, para que surja a sociedade, que os sócios se
obriguem a contribuir com bens ou serviços, mas não exige a efectivação
dessas contribuições logo no momento inicial, podendo ser deixada para mais
tarde, ao menos em parte.
As contribuições dos sócios podem revestir, a natureza de bens ou serviços.
As contribuições ou entradas dos sócios desempenham três funções da
máxima importância para a sociedade.
a) Formam no seu conjunto, o fundo comum ou património com o qual a
sociedade vai iniciar a sua actividade;
b) Definem a proporção da participação de cada sócio na sociedade;
3[3]
São sociedades comerciais aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio e adoptem o tipo de
sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de sociedade em comandita simples
ou de sociedade em comandita por acções.
c) Fixam o capital social.
7. Objecto comercial
Para que uma sociedade seja comercial, ela deverá ter “por objecto a
prática de actos de comércio” (art. 1º/2 CSC). Assim, o primeiro elemento
conceitual específico das sociedades comerciais consiste no objecto comercial.
No que toca às sociedades comerciais, portanto, o elemento finalístico,
também designado, por fim imediato ou objectivo da sociedade, tem uma
conotação própria: ele deve ter carácter comercial.
O objecto da sociedade consiste nos actos ou actividades que, segundo a
vontade dos sócios, ela deverá praticar e prosseguir. Por conseguinte, é o
carácter comercial desses actos e actividades que atribui às sociedades o
carácter de comerciantes (art. 13º/2 CCom).
Deverá tratar-se, pois, de actos de comércio objectivos (art. 2º, 1ª parte
CCom) e de actividades qualificadas de comerciais pelo art. 230º CCom, ou por
outras normas qualificadoras.
8. Forma comercial
Para que uma sociedade seja comercial é ainda necessário que revista
forma comercial, comporta dois sentidos:
1) Primeiro, ela significa que a sociedade deverá revestir um dos tipos
caracterizados e regulados na lei comercial;
2) Num outro sentido, ela exprime a obrigatoriedade de a sociedade
respeitar, na sua constituição, os requisitos formais estabelecidos na lei
comercial.
A primeira das acepções reporta-se ao princípio da tipicidade ou
numerus clausus, que o legislador adoptou quanto às sociedades comerciais.
Ainda por motivos de ordem pública, o legislador admite um número muito
restrito de tipos sociais. Estes distinguem-se, através de três características:
1) Responsabilidade dos sócios pela obrigação de entrada: trata-se
de característica fundamental, pois identifica a responsabilidade dos
sócios para com a sociedade no que toca à formação do património
inicial desta;
2) Responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade: é outro
aspecto de suma importância, pois por ele se fica a saber se os sócios
são ou não responsáveis, perante os credores da sociedade pelas
dívidas desta;
3) Modalidades de composição e titulação das participações na
sociedade: trata-se de um aspecto que, embora secundário, reveste
muitas vezes importância assinalável, pois permite caracterizar a
natureza e a forma de cada parte do sócio na sociedade.
9. Princípio da tipicidade
As sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio
devem adoptar um dos tipos previstos no Código das Sociedades Comerciais
(art. 1º/3). A esta obrigatoriedade de adopção de um dos tipos previstos na lei,
a doutrina chama princípio da tipicidade das sociedades comerciais.
Este princípio constitui uma restrição ao princípio da autonomia privada, em
especial na sua vertente de liberdade contratual. Ao invés do estatuído no art.
405º/1 CC, as partes não têm a faculdade de celebrar contratos de sociedade
comercial diferentes dos previstos na lei.
O princípio da tipicidade só restringe, contudo uma das facetas da
autonomia privada. As partes no contrato não podendo embora adoptar um tipo
diferente dos previstos no Código das Sociedades Comerciais – o que traduz
uma restrição à liberdade de fixação do conteúdo do contrato – já podem
decidir livremente se contratam – liberdade de contratar em sentido estrito –
assim como podem escolher também livremente com quem contratam –
liberdade de escolha dos outros contraentes. O art. 1º/3 CSC deixa pois intacta
a liberdade de contratar em sentido estrito e a liberdade de escolha da
contraparte no contrato.
O princípio da tipicidade só abrange as sociedades que tenham por fonte
um negócio jurídico – as sociedades criadas ope legis podem desviar-se dos
tipos previstos no Código das Sociedades Comerciais, uma vez que tais
sociedades provêm de instrumentos normativos de valor hierárquico idêntico ao
do próprio Código das Sociedades Comerciais onde o princípio da tipicidade se
estabelece.
15. Capacidade
Como qualquer contrato, também o de sociedade resulta de um conjunto de
declarações de vontade, cuja validade depende de quem as emita, possua
capacidade de gozo (art. 67º CC) e de exercício de direitos (art. 123º CC).
Em regra, tais capacidades existem, e as incapacidades são excepções.
Daí que o que interessa seja saber quem está incapacitado de ser parte no
contrato de sociedade, com a cominação de este ser inválido, se nele participar
o incapaz.
Em matéria de incapacidades, não há no Direito Comercial senão as
previstas na lei civil (art. 7º CCom).
17. Consentimento
Este elemento reconduz-se ao acordo de vontades, o qual tem de ser
manifestado por todos os sócios de forma expressa, e visando a constituição
da sociedade através de escritura pública (art. 7º/1 CSC e art. 80º CNot). Não
são admissíveis sociedades comerciais por manifestações de vontade tácitas.
18. Objecto
Objecto jurídico do contrato de sociedade é o complexo dos efeitos
jurídicos que o contrato visa produzir, o seu conteúdo.
Tais efeitos são os queridos pelos sócios ou determinados pela lei em
conformidade com a vontade daqueles, e variam de caso para caso,
manifestando-se através de regras pelas quais eles conformam o ente social:
os seus estatutos ou pacto social, que formam a lei interna da sociedade, na
qual são disciplinados e caracterizados, na medida entendida como necessária,
os assuntos dos sócios, aos seus órgãos e respectivo funcionamento, ao início,
duração e termo da instituição social.
O Código das Sociedades Comerciais define aspectos que devem ser
focados no contrato de sociedade (art. 9º CSC):
a) Os nomes ou firmas de todos os sócios fundadores e outros dados de
identificação destes;
b) O tipo da sociedade (art. 1º/2 CSC);
c) A firma da sociedade (devendo observar-se os requisitos dos arts. 10º,
177º, 200º, 275º, 467º CSC);
d) O objecto da sociedade, entendido no sentido do escopo social, isto é,
das “actividades que os sócios propõem que a sociedade venha a
exercer” (art. 11º CSC);
e) A sede da sociedade (art. 12º CSC);
f) O capital social, salvo nas sociedades em nome colectivo em que
todos os sócios contribuem apenas com indústria (art. 14º CSC);
g) A quota de capital e a natureza da entrada de cada sócio, bem como os
pagamentos efectuados por conta da quota;
h) Consistindo a entrada em bens diferentes de dinheiro, a descrição
destes e especificação dos respectivos valores.
A par do objecto jurídico, cabe destacar o objecto material do contrato, isto
é, o bem ou bens sobre os quais incidem as prestações das partes.
No caso do contrato de sociedade, tal objecto consiste nos bens com que
os sócios entram para a sociedade, isto é, com os quais eles dão cumprimento
à obrigação de entrada.
19. Causas
Pode-se distinguir entre fim imediato ou causa-função, que define a
função económico-social do contrato e modela as suas estipulações; e o fim
mediato ou causa-motivo, a finalidade ou motivação última que move os
contraentes.
Quanto à causa-função ela consiste, no contrato de sociedade, na
constituição em si por disposição legal, a causa-função do contrato constitutivo
das sociedades comerciais apenas poderá diversificar-se entre os vários tipos
de sociedade consagrados na lei; a constituição de uma sociedade não
enquadrável num desses tipos vicia a sociedade quanto à forma.
No que respeita à causa-motivo, não se trata propriamente do fim particular
de cada sócio, mas sim da finalidade derradeira comum a todos os sócios: a
consecução de lucros.
20. Forma
As sociedades civis não dependem de forma especial quanto à sua
constituição (art. 981º CC). Mas as sociedades comerciais estão sujeitas a
apertadas regras formais que se reconduzem no Código das Sociedades
Comerciais a três:
1) A celebração do contrato por escritura pública (art. 7º/1 CSC; art. 89º-e
CNot);
2) O registo do contrato (arts. 5º e 18º CSC; arts. 3º-a; 35º CRCom);
3) E a publicação do contrato de sociedade (art. 167º CSC; arts. 3º-a;
70º/1-a/2 e 72 CRCom).
26. Incapacidade
No caso de um dos participantes num contrato de sociedade padecer de
incapacidade – menores, interditos, inabilitados – a consequência em face do
Direito Civil, será a anulabilidade da respectiva participação na sociedade (arts.
125º/1; 126º; 148º a 150º; 156º e 257º CC).
Esta anulabilidade pode ser arguida nas condições temporais dispostas no
art. 287º/1 e 2 CC e pelas pessoas que o art. 287º/1 CC se refere.
Antes de registado o contrato, aplicam-se as regras gerais do Código Civil,
sendo a invalidade oponível pelo próprio incapaz ou pelo seu representante
legal, tanto aos outros sócios como a terceiros (art. 41º/1 e 2 CSC).
Quanto aos contratos já registados, há que distinguir consoante o tipo de
sociedade que se trate.
Ilegitimidade
Os casos de ilegitimidade não determinam sanção tipificada, pelo que cada
situação terá solução própria.
A constituição por dois cônjuges de uma sociedade em nome colectivo terá
como consequência a nulidade do contrato, por violação do imperativo do art.
8º/1 in fine CSC.
5
Situação jurídica dos sócios
28. Noção
O sócio entra para a sociedade com uma contribuição patrimonial em
dinheiro ou em espécie assumindo, em contrapartida o “status” de sócio.
A posição jurídica de sócio respeita, pois directamente à sociedade e não se
estabelece entre os sócios; é uma consequência da personalidade jurídica
daquela.
A participação social ou socialidade é o conjunto de direitos e obrigações
actuais e potenciais do sócio. O sócio tem desde logo direito a quinhoar nos
lucros, a participar nas deliberações de sócios, a obter informações sobre a
vida da sociedade e a ser designado para os órgãos de administração e de
fiscalização a sociedade (art. 21º CSC). Por outro lado, os sócios são
obrigados a realizar as suas entradas e a quinhoar nas perdas (art. 20º CSC).
O sócio adquire, face à sociedade uma situação jurídica complexa,
composta por posições activas e passivas, direitos e obrigações. A fonte
desses direitos e obrigações é o micro-ordenamento resultante da
personalidade jurídica da sociedade a que o sócio aderiu mediante a
subscrição ou aquisição da sua participação.
A situação jurídica do sócio tem de se moldar às finalidades da sociedade
como estrutura jurídica da empresa e fica sujeita a três princípios:
1) Princípio do interesse social: corresponde ao interesse da empresa
como entidade colectiva que constitui o substrato da sociedade
comercial;
2) Princípio da finalidade lucrativa: a sociedade tem por definição, uma
finalidade lucrativa – art. 980º CC – e os sócios, ao entrarem para a
sociedade fazem-no interessadamente; ao transmitirem a sua entrada de
bens para a sociedade, esperam obter uma vantagem patrimonial que
pode consistir na distribuição de indivíduos, na valorização da sua
participação ou no direito ao “bónus” da liquidação.
3) Princípio da igualdade de tratamento: encontra-se expressamente
consignado no art. 13º CRP. Mas em direito privado, o princípio da
igualdade de tratamento colide com o princípio da liberdade contratual –
art. 405º/1 CC.
No direito societário, o princípio da igualdade de tratamento não está
expressamente consagrado, como tal, mas resulta indirectamente de vários
artigos do Código das Sociedades Comerciais – arts. 22º/1 e 2; 24º/1; 58º/1-b;
203º/2; 210º/4; 250º/1; 21º; 384º/1; etc. – e da vontade negocial tácita dos
sócios, na ausência de qualquer estipulação no pacto social em sentido
contrário.
Uma vez constituída a sociedade, o princípio da igualdade de tratamento
poderá intervir em várias situações, normalmente para protecção de minorias,
nomeadamente:
1) Na exigência do pagamento das entradas de capital;
2) No chamamento de prestações suplementares;
3) Na participação dos lucros e nas perdas;
4) Na atribuição do direito do voto;
5) Nas deliberações dos sócios;
6) Nos aumentos de capital social.
A Assembleia-geral
38. Noção
A Assembleia-geral é o órgão supremo das sociedades, que tem poderes
inclusive para modificar os estatutos, verificados certos pressupostos. Todavia,
é um órgão deliberativo, competindo as funções executivas e de representação
externa ao órgão da administração.
A Assembleia-geral deve reunir ordinariamente, todos os anos, para
deliberar (art. 376º/1 CSC).
Pode ainda reunir extraordinariamente sempre que seja convocada por
quem de direito para deliberar sobre matérias da sua competência e que
constem da respectiva convocatória.