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Conteúdo

Introdução ..................................................................... 7
Capítulo 1.
Quem Somos e de Onde Viemos ...................................... 9
Capítulo 2.
Breve Histórico do Presbiterianismo ........................................................ 15
Capítulo 3.
A Visão Calvinista do Estado e da Sociedade .................... 23
Capítulo 4.
Calvinismo e Capitalismo: Qual é Mesmo a Sua Relação?. 29
Capítulo 5.
Os Cinco Pontos do Calvinismo .......................................................... 33
Capítulo 6.
Primeiras Tentativas de Implantação no Brasil .......................... 39
Capítulo 7.
A Confissão de Fé da Guanabara ..................................... 43
Capítulo 8.
A Implantação do Presbiterianismo no Brasil ............................... 49
Capítulo 9.
A Reconstituição do Presbiterianismo no Brasil ........................... 55
Capitulo 10.
A Estruturação do Presbiterianismo no Brasil ..................... 59
Capitulo 11.
Nossos Símbolos de Fé .................................................. 67
Capítulo 12.
O Sistema Presbiteriano de Governo ................................ 75
Capítulo 13.
Escritura Sagrada: Palavra de Deus ........................................................... 83

Capítulo 14.
Deus Pai e a Trindade ................................................................ 91
Capítulo 15.
Jesus Cristo, Deus Filho ........................................................... 99
Capítulo 16.
O Espírito Santo é Deus .......................................................... 109
Capítulo 17.
A Criação do Universo e do Homem ..................................... 115
Capítulo 18.
Plano de Salvação ................................................................. 123
Capítulo 19.
A Garantia da Salvação .......................................................... 133
Capítulo 20.
A Igreja de Cristo .................................................................... 145
Capítulo 21.
O Batismo Cristão .................................................................... 153
Capítulo 22.
Por Que Não Batizamos Por Imersão .................................... 159
Capítulo 23.
Por Que Batizamos Por Aspersão .......................................... 165
Capítulo 24.
Por Que Batizamos Nossas Crianças ..................................... 171
Capítulo 25.
A Ceia do Senhor ..................................................................... 181
Capítulo 26.
Cristão e a Responsabilidade Social ................................ 189
Capítulo 27.
Compromisso do Presbiteriano Autêntico ........................ 195
Capítulo 28.
E Então Virá o Fim .................................................................... 203

Introdução
0 que todo Presbiteriano Inteligente deve
Saber
Circula na Internet uma crônica afirmando que um amigo do poeta Olavo Bilac, pretendendo
vender um pequeno sítio, pediu-lhe que redigisse um anúncio para ser publicado nojortual. O
poeta conhecia muito bem aquele sítio, pois lá estivera várias vezes. Por isso, não lhe foi difícil
redigir o anúncio. Apanhou o papel e escreveu: "Vende-se encantadora propriedade, onde
cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e arejastes águas
de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranqüila das tardes,
na varanda".

Alguns meses depois, Olavo Bilac procurou saber se o sítio já havia sido vendido.
E a resposta do amigo foi esta: "Depois de ler o texto que você escreveu, descobri o
tesouro que possuo e desisti de vender o sítio-.
Nosso objetivo ao escrever este livro é ajudar os leitores presbiterianos a descobrir o tesouro
que possuem.
Estamos conscientes de que a Igreja Presbiteriana do Brasil não é uma igreja perfeita.
Ela é constituída por pecadores como todas as outras igrejas evangélicas. Se a própria Igreja
Presbiteriana, através de sua Confissão de Fé, afirma que "as igrejas mais puras debaixo do
céu estão sujeitas à mistura e ao erro",' seria um contra-senso afirmar que ela é completa,
rematada, sem defeito.

Sabemos, também, que a nossa salvação é obra de Deus, e não da igreja a que
pertencemos. Quem salva é Jesus e não a Igreja. Somos salvos pela graça, mediante a fé em Cristo,
e não
pela nossa filiação â Igreja Presbiteriana. Portanto, se pertencêssemos a outra
denominação evangélica, seríamos igualmente salvos.
Concordamos que os processos pelos quais uma pessoa recebe, interpreta, retêm e
transmite os dados de ~experiência não são uniformes. Isso significa que a mesma experiência
pode ser recebida, interpretada, retida e transmitida pelas pessoas de forma diferente. Portanto,
não há uniformidade no pensamento humano. Por isto, respeitamos aqueles que pensam
diferente de nós.

Mas estamos convictos de que o presbiterianismo é uma forma diferenciada de cristianismo.


"Quem conhece o presbiterianismo, não sai dele", escreveu o grandeRev.TItontras Porter. E
Francisco Martins acrescentou: "Quem conhece o presbiterianismo fica, queira ou não,
empolgado".
E foi por estarmos conscientes de tudo isto que escrevemos o que todo presbiteriano
inteligente deve saber.

Capítulo 1 ____________
Quem somos
e de Onde Viemos
Uma das coisas mais importantes para todo grupo é ter uma consciência clara da
sua identidade e objetivos. A identidade tema ver com as raízes, a história, as características
distintivas. Os objetivos são uma decorrência disso: à luz das r a í ze s , d a i den t i da d e , d as
c o n vi c ç õ es b á si c as , se r ã o estabelecidos os alvos, as prioridades, as maneiras de sere viver
no mundo.
Isto se aplica perfeitamente aos presbiterianos.
Todavia, ocorre que muitos presbiterianos ignoram a sua identidade, não sabem
exatamente quem são, como indivíduos e como igreja. Não conhecendo as suas origens —
históricas, teológicas, dertontinacionais — eles têm dificuldade de posicionar-se,
quanto a uma série de questões e de definir com clareza os seus rumos, as suas prioridades.
Muitas vezes, quando questionados por outras pessoas quanto a suas c on vi cç ões
e pr át i ca s, se nt e m -s e f r ust r a dos c o m sua incapacidade de expor de modo coerente e
convincente as suas posições.

Quem Somos
A Igreja Presbiteriana do Brasil —IPB — é uma federação de igrejas que têm em comum
uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de
vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence â família das igrejas reformadas ao redor do
mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja

Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas
protestantes suíça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico
Zuínglio, João Calvino e João Knox. O nome "igreja presbiteriana" vem da maneira como a
igreja é administrada, ou seja, através de "presbíteros" eleitos pelas comun idades
locais. Essas comunidades são governadas por um "Conselho" de presbíteros e estes
oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os Presbitérios, os
Sínodos e o Supremo Concilio.
Quanto à sua teologia, a Igreja Presbiteriana do Brasil é herdeira do pensamento do
reformador João Calvino (1509-1564) e das notáveis formulações confessionais (confissões
de fé e catecismos) elaboradas pelos reformados nos séculos 16 e 17. Dentre estas se destacam
os documentos elaborados pela Assembléia de Westminster, reunida em Londres na década de
1640. A Confissão de Fé de Westminster, bem como os seus Catecismos Maior e Breve, são
adotados oficialmente pela 11`11 como os seus símbolos de fé ou padrões doutrinários.
Quanto ao culto, as igrejas presbiterianas procuram obedecer ao chamado
"princípio regulador". Isso significa que o culto deve ater-se às normas contidas na Escritura,
não sendo aceitas as práticas proibidas ou não sancionadas explicitamente pela mesma. O culto
presbiteriano caracteriza-se por sua ênfase teocêntrica (a centralidade do Deus triúno),
simplicidade, reverência, hinódia com conteúdo bíblico e pregação expositiva.
A seguir analisaremos três termos importantes cujo significado precisa ser
corretamente compreendido: reformado, calvinista e presbiteriano. Esses nomes do nosso
movimento são sinônimos em alguns aspectos e diferentes em outros.

Reformados
0 presbiterianismo derivou da Reforma Protestante do século 16. Pouco depois
que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu
uma

segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro


ex-sacerdote, Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo
movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O
entendimento de que a reforma suíça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e
em seu retorno às Escrituras, fez com que recebesse o nome de movimento r ef ormado e seus
si mpat i zant es f i cassem conheci dos simplesmente como "reformados". Inicialmente, o
movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Zuínglio. Porém, com a morte prematura
deste, o movimento veio a associar-se com seu maior teólogo e articulados, o francês João
Calvino (1509-1564). A propósito, os "protestantes", fossem eles luteranos ou reformados,
só passaram a ter essa designação a partir da Dieta de Spira, em 1529.
P o r t a n t o , o m o vi m e n t o r e f o r m a d o é o r a m o d o protestantismo que surgiu na
Suíça, no século 16, tendo como líderes originais Ulrico Zuínglio, em Zurique, e João Calvino,
em Genebra. Esse movimento veio a caracterizar-se por certas concepções teológicas e formas
de organização eclesiástica que o distinguiram dos outros grupos protestantes (luteranos,
anabatistas e anglicanos). A tradição reformada foi preservada e desenvolvida pelos sucessores
imediatos e mais remotos dos líderes iniciais, tais como João Henrique Bullinger (1504 -
1575), Teodoro Beza (1519-1605), os puritanos ingleses e outros.
Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como
Igrejas Reformadas (da Suíça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países). Porém, o
termo reformado é mais que a designação de uma tradição teológica ou eclesiástica. É
um conceito abrangente que inclui todo um modo de encarara vida e o mundo a partir de
uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus.
calvinistas
O calvinismo, como o nome indica, é o sistema de teologia elaborado pelo mais
articulado e profundo dentre os reformadores, João Calvino. Esse sistema,
contido especialmente na obra magna de Calvino, a Instituição da Religião Cristã ou
Institutos, resulta de uma interpretação cuidadosa e sistemática das Escrituras, e tem
como um de seus principais fundamentos a noção da absoluta soberania de Deus como
criador, preservador e redentor. O calvinismo não é somente um conjunto de doutrinas,
mas inclui concepções específicas a respeito do culto, da liturgia, do ministério, da
evangelização e do governo da igreja.

Normalmente, todos os reformados deveriam ser calvinistas, mas isso nem


sempre ocorre na prática. Muitos herdeiros de Calvino, embora se considerem
reformados, não mais se designam ou podem ser designados como calvinistas, por terem
abandonado certas convicções e princípios básicos defendidos pelo reformador. Portanto,
todo calvinista é reformado, mas nem sempre a recíproca é verdadeira.

Presbiterianos

O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas Ilhas Britânicas (Escócia,
Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o protestantismo
foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja teve uma
importância preponderante. Os reis ingleses e escoceses preferiam o sistema episcopal, ou
seja, uma igreja governada por bispos e arcebispos, o que permitia maior controle da
igreja pelo estado. Já o sistema presbiteriano, isto é, o governo da igreja por presbíteros
eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um governo mais
democrático e autônomo em relação aos governantes civis. Das Ilhas Britânicas, o
presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do mundo, inclusive
o Brasil.
Daí resulta outra distinção importante. Todo presbiteriano é, por definição, reformado e,
em teoria, calvinista. Porém, nem todos os calvinistas são presbiterianos. Um bom exemplo
é a Inglaterra dos séculos 16 e 17. Quase todos os protestantes ingleses daquela época
eram calvinistas, mas muitos deles não aceitavam o sistema de governo presbiteriano.
Entre eles estavam os anglicanos e os congregacionais, além de outros grupos.

Conclusão
Em conclusão, ao dizermos que somos reformados, calvinistas e presbiterianos,
ficam implícitos outros dois elementos igualmente importantes da nossa identidade, que nos
lembram que não estamos sozinhos na caminhada — somos cristãos e somos evangélicos.
Se de um lado devemos valorizar a nossa herança, de outro lado não devemos nos tornar
exclusivistas, lembrando que o corpo de Cristo é maior que o movimento ao qual estamos
ligados.

Capítulo 2 _____________
BreveHistóriCod,
Presbiterianismo
Conforme já observamos, as origens mais remotas do presbiterianismo remontam
aos primórdios da Reforma Protestante do século 16. Poucos anos após o início da
dissidência luterana na Alemanha, surgiu na região de língua alemã da vizinha Suíça, mais
precisamente ria cidade de Zurique, um segundo movimento de reforma protestante,
freqüentemente denominado "Segunda Reforma". Esse movimento teve como líder inicial o
sacerdote Ulrico Zuínglio (1484-1531) e, pretendendo reformara igreja de maneira mais
profunda que o movimento de Lutero, passou a ser conhecido como "movimento
reformado", e seus seguidores como "reformados".

Apesar do seu aparente radicalismo, Lutero e seus seguidores romperam com a


igreja majoritária somente nos pontos em que viam conflitos irreconciliáveis com as Escrituras.
Especialmente na área crucial do culto, os luteranos julgavam que era legítimo manter tudo
aquilo que não fosse explicitamente proibido pela Bíblia. Já os reformados partiam de um
princípio diferente, entendendo que só deviam abraçar aquilo que fosse claramente
preconizado pelas Escrituras. Foi isso que os levou a uma ruptura mais profunda com o
catolicismo.

João Calvino
Após a morte de Zuínglio em 1531, o movimento reformado passou a ter um novo
líder, que se revelou muito mais articulado e influente que o anterior: João Calvino (1509-
1564). Calvino nasceu em Noyon, no nordeste da França, e

ainda adolescente foi estudar teologia e humanidades em Paris. Depois de um breve período em
Orlémis e Bourges, quando se dedic ou ao estudo do direito, retornou a Paris para dar
continuidade aos estudos humanísticos que tanto o fascinavam. Em 1532, publicou o seu
primeiro livro, um comentário do tratado De Clementia, escrito pelo antigo filósofo
romano Sêneca.
Em 1533, Calvino teve uma experiência de conversão à fé evangélica. Forçado a fugir de
Paris por causa das suas novas convicções, dirigiu-se para a cidade de Angoulême. Pouco
depois, começou a escrevera sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã ou Institutos,
publicada em Basiléia em 1536. Nesse mesmo ano, de maneira totalmente inesperada, Calvino
viu-se convocado a auxiliar na implantação da fé reformada na cidade de Genebra, na Suíça
francesa. Após um interregno de três anos em Estrasburgo (1538-1541), o reformador
retomou a Genebra e ali permaneceu até o final da vida.
Graças à sua vasta e competente produção teológica, sua habilidade como organizador e seus
contatos pessoais com inúmeros indivíduos e comunidades em toda a Europa, Calvino exer ceu
uma poder osa i nf l uênci a e cont ri bui u para a disseminação do movimento
reformado em muitos países. Em 1559, ele fundou a Academia de Genebra, que contribuiu
de modo decisivo para a formação de uma nova geração de líderes reformados. Dada a
importância desse reformador, um novo termo surgiu para designar os reformados —
"calvinistas".
Nas Institutos, comentários bíblicos, sermões, tratados e outros escritos que produziu,
Calvino articulou um sistema completo de teologia cristã que ficou conhecido
como calvinismo. Esse sistema incluía normas específicas, retiradas das Escrituras,
acerca da doutrina, do culto e da forma de governo das comunidades reformadas. Na
base do sistema estava a ênfase no conceito da absoluta soberania de Deus como criador,
preservador e redentor do mundo. A estrutura eclesiástica preconizava o

presbíteros e a associação das igrejas em presbitérios regionais e em sínodos nacionais.

Calvino e Serveto
Muitos livros e palestrantes fazem a afirmação de que João Calvino foi o responsável
pela morte de um homem chamado Miguel Serveto. Com freqüência essa é uma das
poucas coisas que as pessoas, principalmente os estudantes, sabem a respeito do reformador. De
fato, Calvino teve uma participação nesse lamentável episódio, mas é importante
entender a questão no seu contexto histórico.
Miguel Serveto era um médico e estudioso espanhol. Credita-se a ele a descoberta da circulação
pulmonar do sangue. No aspecto religioso, ele era um unitário, ou seja, alguém que negava a
doutrina da Trindade, tão cara à maioria dos cristãos, fossem eles católicos ou protestantes.
Serveto conhecia Calvino e trocou cartas com ele sobre questões teológicas, expressando suas
divergências. Ele também publicou obras expondo suas idéias antitrinitárias. Em
conseqüência disso, acabou preso, julgado e condenado à morte pela Inquisição na cidade de
Lião, no sul da França. Finalmente, conseguiu fugir da prisão e foi parar em Genebra,
mesmo sabendo que as suas idéias não eram bem recebidas nessa cidade. Foi prontamente
reconhecido e preso pelas autoridades civis.
Na Europa do século 16, tanto em regiões católicas quanto protestantes, a heresia
era considerada não só um pecado, mas um crime de alta gravidade. Por causa da união
entre a igreja e o estado, as questões de crença interessavam às autoridades seculares.
Considerava-se que as idéias heréticas eram uma séria ameaça à integridade e segurança da
igreja e do estado. Nessas circunstâncias, Serveto foi levado a julgamento, e Calvino,
na qualidade de líder da igreja reformada de Genebra, foi convocado para ser a
nessa época o reformador tinha um relacionamento bastante tenso com as
autoridades da cidade.
Não foi difícil para Calvino demonstrar que Serveto era culpado da acusação de heresia.
Em conseqüência disso, Serveto foi condenado à cruel morte na fogueira. Calvino pediu que
a morte fosse por decapitação, algo mais rápido e menos doloroso. As autoridades, pouco
simpáticas ao reformador, insistiram na fogueira, e assim foi feito. Das mais diferentes
partes da Europa chegaram mensagens concordando com as ações dos genebrinos. Essa
foi a única execução que teve a participação de Calvino. Outras pessoas receberam a
pena capital em Genebra naquele período, como acontecia em quase todas as cidades
européias, mas sem qualquer participação de Calvino.

A partir do século 17, uma nova mentalidade começou a surgir na Europa, defendendo
valores como a liberdade de expressão e a tolerância. As ações de Calvino obviamente foram
muito criticadas, causando constrangimento aos seus herdeiros. Estes, em 1903, no transcurso
dos 350 anos da morte de Serveto, erigiram em Genebra um monumento em que lamentaram
o envolvimento do seu líder nessa questão e reafirmaram o compromisso com a liberdade
de pensamento e expressão. Ninguém deve ser perseguido, torturado ou morto por causa
das suas idéias, por mais que não concordemos com elas.

Os reformados atuais entendem que, se por um lado Calvino agiu como um homem do
seu tempo, por outro lado ele cometeu um erro triste e desnecessário que manchou a sua
biografia. Todavia, eles também entendem que é injusto, em razão do caso Serveto, esquecer
todas as contribuições positivas de Calvino como reformador, líder eclesiástico, teólogo e
escritor. Também erram as pessoas que ficam lembrando esse caso, mas convenientemente
se esquecem de que na mesma época a Inquisição e as guerras religiosas contra os protestantes
estavam fazendo centenas ou mesmo milhares de vítimas. Por exemplo, de 10 a 20 mil
protestantes foram massacrados no
infame Dia de São Baríolorneu, 24 de agosto de 1572. Para maiores informações
sobre esse assunto, sugerimos o livro de Abster McGrath, A Vida de João Calvino (Editora
Cultura Cristã, 2004), especialmente as páginas 137-144.

Europa Continental
Logo após o início da carreira de Calvino, o movimento reformado começou a difundir-se em
muitas regiões da Europa, notadamente na França, no vale do Reno (Alemanha e Países
Baixos), na leste europeu e nas Ilhas Britânicas. Vários fatores contribuíram pua essa
difusão. Em primeiro lugar, a ampla divulgação das idéias de Calvino através da imprensa
e de outros meios; em segundo lugar, o intenso deslocamento de refugiados que
procuravam escapar da repressão religiosa em seus países; finalmente, o papel irradiador
desempenhado por Genebra e outras cidades reformadas. Muitos homens e mulheres iam
a Genebra, eram treinados nos preceitos da fé reformada e retomavam aos seus países
imbuídos das novas idéias.

Como era de se esperar, Calvino nutria grande interesse pela propagação da fé evangélica no
seu próprio país, a França. Ali, apesar de intensas perseguições, o movimento reformado
experimentou notável crescimento na década de 1550. Em 1559, reuniu-se o primeiro
sínodo da Igreja Reformada de França, representando centenas de comunidades locais.
Pela primeira vez, o presbiterianismo era organizado em âmbito nacional. Esse sínodo
aprovou uma importante declaração da fé reformada, a Confissão Galicana.

Em virtude da proximidade geográfica, o movimento reformado desde cedo também


penetrou no sul da Alemanha. O movimento cresceu com a chegada de milhares de refugiados
vindos de outras regiões, como a França e os Países Baixos. Nos Países Baixos, a fé
reformada surgiu inicialmente em Antuérpia, em 1555. Em dez anos, formaram-se mais
de trezentas igrejas, em parte devido à chegada de imigrantes
huguenotes que fugiam das guerras religiosas em seu país. Essas igrejas adotaram como
sua declaração de fé a Confissão Belga, escrita por Guido de Boês em 1561. Quanto à Europa
oriental, na década de 1540, graças a contatos com cidades suíças, s u r gi r a m i gr e j a s
r e f o r ma d a s n a P o l ô n i a , n a B o ê m i a (Checoslováquia) e mais tarde também na Hungria.

Ilhas Britânicas
Especialmente importante para a fé reformada foi a sua introdução nas Ilhas Britânicas.
Nessa região ao é que surgiu o o u t r o n o m e h i s t ó r i c o a s s o c i a d o a o m o v i m e n t o :
" presbiteriani smo'. Esse nome ti nha ao mesmo tempo conotações teológicas e
políticas. Os reis ingleses e escoceses eram firmes partidários do episcopalismo, ou seja, de
uma igreja governada por bispos. Como esses bispos eram nomeados pela coroa, esse sistema
favorecia o controle da igreja pelo estado. Assim sendo, a insistência dos reformados da
Escócia e Inglaterra em uma igreja governada por presbíteros, eleitos pelas congregações e
reunidos em concilies, era uma reivindicação de independência da igreja em relação ao
poder público. Tal foi a origem histórica do termo -presbiteriano" ou "igreja presbiteriana".

O protestantismo reformado foi levado para a Escócia por George Wishart, que
estudara na Suíça e foi morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas
surgiram no final da década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retomo do líder John
Knox (e. 1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos pés
de Calvino e regressou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo,
adotou a fé reformada e criou uma igreja nacional presbiteriana. Sua declaraç ão
doutrinária ficou conhecida como Confissão Escocesa.

Ironicamente, entre 1561 e 1567 a Escócia, formalmente presbiteriana, foi governada por
uma rainha católica, Maria
outro ex-exilado em Genebra, tornou-se o principal defensor do sistema
presbiteriano e de uma igreja autônoma do estado. Os próximos quatro reis escoceses,
especialmente Carlos II (1660-1685), procuraram impor o anglicanismo e perseguiram os
presbiterianos. Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente.

Na Inglaterra, surgiram fortes influências reformadas e calvinistas desde o reinado de


Eduardo VI (1547-1553). No reinado de Carlos I (1625-1649) ocorreu um evento marcante
na história do presbiterianismo. Esse rei precisou convocar a eleição de um parlamento, o
que, para sua surpresa, resultou em uma maioria parlamentar puritana. Dissolvido o
parlamento, foi feita nova eleição, que tomou a maioria puritana ainda mais expressiva. Esse
parlamento puritano convocou a célebre Assembléia de Westminster (1643-1648), que
produziu os "padrões presbiterianos" de culto, governo e doutrina. Quando esses
documentos foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal
e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II assumiu o trono em 1660, houve a
restauração do episcopado e seguiram-se vários anos de repressão contra os
presbiterianos. Com o tempo, os padrões de Westminster tornaram -se os principais
documentos teológicos adotados pelas igrejas reformadas ao redor do mundo.

Estados Unidos
O calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que
serarlicarara em Massachusetts no início do século 17.0 primeiro grupo fixou-se em Plymouth
em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salero e Boston em 1629 1630. Nas décadas
seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o At l ân t i c o e m b u s c a de l i b er d a de
r e l i gi o s a e n o va s oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram pela forma de
governo congregacional, e não pelo sistema presbiteriano.

A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos foi criada pelos


América do Norte no século 18, e pelos seus descendentes. O primeiro presbitério surgiu em
1706 e o primeiro sínodo em 1717, ambos em Filadélfia, na Pensilvânia. Finalmente, em
1789 foi organizada a Assembléia Geral da nova denominação. Os presbiterianos foram um
dos grupos mais destacados na luta pela independência da nova nação. Entre os signatários da
declaração de independência estava um ministro presbiteriano, J ohn Wit her spoon. Out r os
gr upos r ef or mados que se estabeleceram nos Estados Unidos foram holandeses, alemães
e franceses.

Em meados do século 19, o problema da escravidão e a Guerra Civil result aram na


divisão dos presbiteri anos americanos. Surgiram duas grandes denominações, a Igreja
Presbiteriana do Norte (POUSA), com sua junta de missões estrangeiras sediada em Nova York,
e a Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS), com o seu comitê de missões em Nashville, no
Tennessee. Os missionários pioneiros dessas duas igrejas chegaram ao Brasil
respectivamente em 1859 (Ashbel G. Simonton) e em 1869 (Edward Lane e George Nash
Morton).

Capítulo 3 _________________
A Visão Calvinista do
Estado e da Sociedade
A concepção calvinista acerca do Estado e da sociedade tem como ponto de partida o
pensamento do próprio reformador João Calvino, conforme expresso nas instituías da
Religião Cristã e em seus comentários, sermões, tratados e cartas. Essa visão também foi
articulada por outros líderes e teólogos reformados, contemporâneos de Calvino e
posteriores a ele, tais como Ulrico Zuínglio, Henrique Bullinger, John Knox, Abraham Kuyper
e Karl Barth, entre outros, bem como pelos documentos confessionais da fé reformada (confissões
de fé e catecismos).

Em seus escritos, Calvino disse muitas coisas importantes a respeito do Estado, da


sociedade e dos problemas sociais. Todavia, ele não foi um político, um sociólogo ou um
ativista social, e sim um pastor e um estudioso das Escrituras. Portanto, não se deve dissociar o
seu pensamento social e econômico da sua reflexão teológica. Esse pensamento resultou
de seus pressupostos teológicos e bíblicos, dentre os quais, as convicções de que
Cristo é Senhor de todos os aspectos da existência humana e de que a Bíblia contém
princípios que devem reger todas as áreas da vida. Dessas duas premissas fundamentais — a
soberania de Deus sobre toda a vida e a centralidade das Escrituras como revelação de Deus —
decorre todo o pensamento teológico de Calvino, inclusive as suas concepções sobre a
ordem política e a ordem social.'

Por outro lado, não se deve esquecer que Calvino era um homem do seu tempo e que
vários aspectos da sua reflexão foram condicionados pelas realidades políticas e sociais da sua

época. Isso significa que o seu pensamento padece de algumas limitações, que mais tarde foram
sanadas por herdeiros da fé reformada. O mais importante é o fato de que, desde os seus
primórdios, a tradição reformada entendeu que a fé bíblica tem importantes implicações não só
para o indivíduo, mas para a coletividade, a começar da vida política e da relação entre a
Igreja e o Estado.

Igreja e Estado
Assim como Lutero, também os fundadores da tradição reformada, Zuínglio e Calvino,
reconheceram a importância e a legitimidade do Estado. Ao mesmo tempo, eles destacaram
que Igreja e Estado são duas esferas distintas, que não devem ser confundidas. Essa distinção
entre a Igreja e o Estado significa que cada domínio temo direito de existir e que o Estado, assim
como a Igreja, também é estabelecido por Deus, devendo, portanto, ser igualmente
respeitado pelos cristãos 2 Portanto, a Igreja não deve usurpar as funções do Estado nem o Estado,
as funções e prerrogativas da Igreja.

Porém, depois de afirmar essa distinção das duas esferas, Calvino insiste que elas não
devem ficar separadas: "Assim como acabamos de indicar que o governo temporal é
distinto do Reino espiritual e interior de Cristo, também temos de saber que eles não são
contraditórios" (Institutos, 4.20.2). Isso leva a uma importante diferença entre o pensamento
de Lutero e o dos reformadores suíços. Lutero tinha certa indiferença em relação ao Estado
e queria deixá-lo ao arbítrio da razão humana. Ele transferiu as categorias de `lei e evangelho"
às categorias de "Estado e Igreja". Para ele, o Estado é a esfera da lei; sua marca essencial
é a espada. Porém, a Igreja tema ver com o evangelho. Zuínglio e Calvino tiveram um
entendimento diverso. Eles afirmaram que existe uma relação entre a Igreja e o Estado, e
isso decorre do fato de que o Senhor proclamado pela Igreja é também o Senhor do reino
político.

À luz das Escrituras, Calvino afirma que o governo civil

é uma dádiva de Deus (ver Romanos 13.1-7) e que o ofício de governante é uma elevada
vocação, a mais sagrada e honrosa que existe (Institutos, 4.20.4). Ele explica que o propósito
do regime terreno é "proteger o serviço externo de Deus, defender o sadio ensino da piedade
e a condição da igreja, regular as nossas vidas para a sociedade humana, moldara nossa
moral para a justiça civil, reconciliar-nos uns aos outros, e fomentar a paz e tranqüilidade
comum" (Institutos, 4.20.2).

A desobediência civil ou a rebelião somente sejustificam quando o Estado quer obrigar


as pessoas a desobedecerem a Deus. Apesar de o Estado se basear numa ordem divina,
ele nunca ocupa o lugar de Deus. Tendo ordenado o governo, Deus continua sendo Senhor
sobre a sua ordenação, e o governo continua estando sujeito a Deus. A obediência a
Deus e a obediência ao governo temporal são sempre duas coisas diferentes, bem
como a obediência ao governo sempre vem depois da obediência a Deus, porque ele é o
Senhor da Igreja e do Estado?

Para os próceres da tradição reformada, existe uma relação entre o Estado e a Igreja, assim
como entre a lei e o evangelho. Não se pode separara justiça de Deus da sua graça. A Igreja
não pode simplesmente delegara noção de lei ao Estado. Sua proclamação deve incluir tanto a
lei como o evangelho, visto que ambos são formas da justa graça de Deus .4 Assim sendo, o
cristão não pode ser indiferente à maneira como as autoridades governam, devendo se esforçar
e cooperar para que as leis se tomem mais harmoniosas com a vontade de Deus.

A Responsabilidade Social da Igreja

A mesma razão que fez com que Calvino se interessasse pela área política também o
levou a preocupar-se intensamente com as realidades sociais do seu tempo. A revelação bíblica
testifica acerca do senhorio de Deus sobre todas as dimensões da existência humana e
Deus desej a que haj a j ustiça e integridade nos relacionamentos. Mais

de Calvino que se deve buscar o fundamento para as suas posições acerca das questões
econômicas e sociais.'
Segundo o reformador de Genebra, a Igreja tinha um tríplice ministério a
desempenhar nesse campo: didático, político e social.' Através da instrução pública e
particular por meio dos pastores e mestres, a Igreja devia orientar os seus fiéis quanto ao ensino
bíblico sobre a administração dos bens concedidos por Deus (mordomia cristã), sobre o
valor do trabalho e do descanso, aqui incluída a guarda do Dia do Senhor, e sob re
questões dejustiça social. No exercício desse ministério, a igreja devia, quando necessário,
repreender os membros que estivessem incorrendo em pecados sociais, tais como
a ociosidade, a cobrança de juros excessivos, a especulação e outros males.

A Igreja também tinha algumas importantes tarefas a desempenhar com relação ao Estado.
Em primeiro lugar, a Igreja tinha o dever de orar pelas autoridades constituídas (ver 1 Tm
2.1-2). Ela também devia exortar o Estado a defender os pobres e os fracos contra os ricos e
poderosos. Não se trata de substituir a pregação bíblica pelo discurso político, mas de
fidelidade aos princípios de "sola Scriptura- e "rota Scriptura".

Finalmente, um outro aspecto importante e indispensável da atuação da Igreja era o


seu ministério na área social propriamente dita. Embora os cristãos individuais
tivessem claras responsabilidades dadas por Deus no tocante ao envolvimento com
as necessidades da comunidade, a Igreja como instituição devia dedicar-se ao serviço
cristão, socorrendo os necessitados e contribuindo para atenuar ou eliminar os males sociais.

Conclusão
Como um homem do seu tempo, Calvino experimentou certos condicionamentos e
limitações em seu pensamento e ação. Por exemplo, ele aceitou tacitamente a ordem
social e política então vigente, de forte integração e colaboração entre

a Igreja e o Estado. Em Genebra, todos os cidadãos eram, em princípio, ao mesmo tempo


cidadãos do Estado e membros da Igreja reformada. Os males desse sistema hoje são
óbvios. A Igreja usava as instituições do Estado para impor a sua disciplina a todos os
moradores, e o Estado, por sua vez, sentia-se livre para interferir em vários aspectos da vida
da Igreja e da esfera religiosa. Hoje, com o princípio amplamente aceito da separação entre Igreja
e Estado, entendemos que isso não é mais aceitável. Todavia, corremos o perigo oposto de
achar que, por causa dessa separação, a esfera religiosa nada tem a ver com a vida política e
social.

Foram os herdeiros de Calvino que levaram a sua teologia profundamente bíblica e


teocêntrica, e o seu revolucionário pensamento social, às suas últimas implicações. John
Leith observa: "A maior contribuição de Calvino para a teoria política não deve ser buscada em
quaisquer propostas específicas, mas na sua teologia. A insistência no senhorio de Deus,
diante do qual todos os seres humanos são iguais, e a insistência na pecaminosidade de todas
as pessoas, quando traduzidas em ações políticas, foram poderosos incentivos para uma
ordem política de controle mútuo entre os órgãos governamentais".'

No início do século 20, foi primeiro-ministro da Holanda o pastor e teólogo reformado


Abraham Kuyper, que muito fez para promover a justiça e a paz social em seu país.'
Outro goveritarine, calvinista que se destacou pela sua coerência e equilíbrio,
principalmente na área sensível da política internacional, foi o presidente norte -
americano Woodrow Wilson (1913-1921). Posteriormente, o reformado suíço Karl Barth
(1886-1968), o mais influente teólogo do século 20, notabilizou-se por sua corajosa denúncia da
malignidade do nacional-socialismo de Hitler, o que levou à sua expulsão da Alemanha, onde
trabalhava como professor. Mais recentemente, houve uma participação decisiva dos
reformados na luta contra o opressivo regime comunista da Romênia.

Que as convicções e exemplos de envolvimento político


e social coerente e bíblico dos fundadores e herdeiros da tradição reformada possam
servir de encorajamento e incentivo para sermos agentes de reconciliação em nossa
sociedade enferma, para sermos instrumentos na promoção da justiça e da paz que também
fazem parte do evangelho de Cristo.

Capítulo 4 _______________
Calvinismo
e Capitalismo:
Qual é Mesmo a sua Relação?
A questão de como se relacionam o calvinismo e o capitalismo tem sido objeto
de enorme controvérsia, estando longe de produzir um consenso entre os estudiosos. O tema
popularizou-se a partir do estudo do sociólogo alemão Maus, Weber (1864-1920) intitulado A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicado em 1904-1905. Numa tese oposta à
de Karl Marx, Weber concluiu que a religião exerce uma p r o f u n d a i n f l u ê n c i a
s o b r e a v i d a e c o n ô m i c a . M a i s especificamente, ele afirmou que a teologia e a
ética do calvinismo foram fatores essenciais no desenvolvimento do capitalismo do norte da
Europa e dos Estados Unidos.

Os Pressupostos de Weber

Weber partiu da constatação de que em certos países da Europa um número


desproporcional de protestantes estavam envolvidos com ocupações ligadas ao capital, â indústria
e ao comércio. Além disso, algumas regiões de fé calvinista ou reformada estavam
entre aquelas onde mais floresceu o capitalismo. Na sua pesquisa, ele baseou-se
principalmente nos puritanos e em grupos influenciados por eles. Ao analisar os dados,
Weber concluiu que entre os puritanos surgiu um "espírito capitalista" que fez do lucro
e do ganho um dever. Ele argumenta que esse espírito resultou do sentido cristão de vocação
dado pelos protestantes ao trabalho e do conceito de predestinação, tido como central na
teologia calvinista. Isso gerou o individualismo e um novo tipo de ascetismo "no
mundo", caracterizado por uma vida disciplinada, apego ao trabalho e valorização da poupança.
Finalmente, a secularização do espírito protestante gerou a mentalidade burguesa e as
realidades cruéis do mundo dos negócios.

0 Capitalismo e a Ética Calvinista


Calvino de fato interessou-se vivamente por questões econômicas e existem elementos na
sua teologia que certamente contribuíram para uma nova atitude em relação ao trabalho e aos
bens materiais. Sua aceitação da posse de riquezas e da propriedade privada, sua doutrina da
vocação e sua insistência no trabalho e na frugalidade, foram alguns dos fatores que colaboraram
para o eventual surgimento do capitalismo. Mesmo um crítico contundente da tese de Weber
como André Biéler admite: "Calvino e o calvinismo de origem contribuíram,
certamente, para tornar muito mais fáceis, no seio das populações reformadas, o
desenvolvimento da vida econômica e o surto do capitalismo nascente" (O pensamento
econômico e social de Calvino, p. 661).

Todavia, esse e outros autores têm ressaltado como a ética e a teologia do reformador
divergem radicalmente dos excessos do capitalismo moderno. Por causa das difíceis
realidades econômicas e sociais de Genebra, Calvino escreveu amplamente sobre o assunto.
Ele condenou a usura e procurou limitar as taxas de juros, insistindo que os empréstimos aos
pobres fossem isentos de qualquer encargo. Ele defendeu a justa remuneração dos
trabalhadores e combateu a especulação financeira e a manipulação dos preços, principalmente
de alimentos. Embora considerasse a prosperidade um sinal da bondade de Deus, ele valorizou
a pessoa do pobre, considerando-o um instrumento de Deus para estimular os mais
afortunados à prática da generosidade. A tese de que as riquezas são evidência de eleição e
a pobreza é sinal de reprovação, é uma caricatura da ética calvinista. Par a Calvino, a
propriedade, o lucro e o trabalho deviam ser utilizados para o bem comum e para o serviço
ao próximo.

Conclusão

Em conclusão, existe uma relação entre o calvinismo e o capitalismo, mas não


necessariamente uma relação de causa e efeito. Provavelmente, mesmo sem o calvinismo teria
surgido alguma forma de capitalismo. Se é verdade que a teologia e a ética reformadas se
adequavam ás novas realidades econômicas e as estimularam, todavia, o tipo de
calvinismo que mais contribuiu para fortalecer o capitalismo foi um calvinismo secularizado,
que havia perdido de vista os seus princípios básicos. Entre esses princípios está a noção
de que Deus e o Senhor de toda a vida, inclusive da atividade econômica, e, portanto, esta
atividade deve refletir uma ética baseada na justiça, compaixão e solidariedade social.

Capítulo 5 ____________
Os Cinco Pontos
do Calvinismo
João Calvino (1509-1564) faleceu no dia 27 de maio de 1564, antes de completar 55
anos de idade. Não teve uma vida muito longa, mas realizou uma grande obra. Além de
suas atividades políticas, administrativas e eclesiásticas, Calvino foi um grande teólogo.
Após a morte de Calvino, alguns teólogos, sob a influência das tradições
humanistas, passaram a questionar algumas doutrinas formuladas por ele. Entre estes se
destacou Jacó Armínio (1560-1609), professor da Universidade de Leyden, na Holanda.
O sistema de doutrina formulado por Armínio, em oposição às doutrinas formuladas por
Calvino, é conhecido como arminianistuo. Após a morte de Armínio, um grupo de seus
seguidores redigiu um documento denominado Rentonstrância (Representação), no qual
questionavam cinco pontos fundamentais das doutrinas sistematizadas por Calvino.

A divulgação da R em o ns tr â nc ia gerou grande controvérsia entre os


protestantes dos Países Baixos. Uns se posicionaram ao lado do calvinismo, outros ao
lado do arminianismo. Por isso, foi convocado um sínodo para tratar do assunto. 0 sínodo,
constituído de pastores e presbíteros, representando os sínodos provinciais ou regionais
da Igreja Reformada da República dos Sete Países Unidos (confederação de sete províncias,
entre as quais estavam Bélgica e Holanda), reuniu-se na cidade de Dort (ou Dordrecht), na
Holanda. A reunião foi aberta no dia 13 de novembro de 1618 e no dia 6 de maio de 1619
as deliberações do sínodo foram solenemente

promulgadas. O documento teológico elaborado pelo sínodo é conhecido como Cânones de


Dort.
Os cinco pontos do arminianismo foram rejeitados. E a resposta dada pelo sínodo â
Remonstrância ficou conhecida como Os Cinco Pontos do Calvinismo: (1) depravação
total, (2) eleição incondicional, (3) expiação limitada, (4) graça irresistível e (5)
perseverança dos santos.

Depravação Total
Quando falam em depravação total, os calvinistas estão afirmando que, em decorrência
da queda de nossos primeiros pais – Adão e Eva – o ser humano está totalmente corrompido
no corpo e na alma e, portanto, nele não há nenhum bem espiritual.
O Sínodo de Doa afirmou:
No princípio o homem foi criado à imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com
o verdadeiro e salutar conhecimento de Deus e de todas as coisas espirituais. Sua vontade e seu
coração eram retos, todos os seus afetos, puros; portanto, era o homem completamente santo.
Mas, desviando-se de Deus sob instigação do diabo e pela sua livre vontade, ele se privou
desses dons excelentes. Em lugar disso trouxe sobre si cegueira, trevas terríveis, leviano e
perverso juizo em seu entendimento; malícia, rebeldia e dureza em sua vontade e em seu
coração; e, ainda, impureza em todos os seu afetos.
Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompidos. Então a corrupção, de
acordo como justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os seus descendentes, com
exceção de Cristo somente.
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de
qualquer ação que os salve, inclinados para o mal, mortos no pecado e escravos do pecado. Sem a
graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem tampouco podem retornar a Deus,
corrigir sua natureza corrompida ou ao menos estar dispostos a essacorreção.1

Eleição Incondicional
Os calvinistas crêem, â luz dos ensinos bíblicos, que Deus não permitiu que toda a
humanidade perecesse eternamente no inferno. Por isto, antes da fundação do mundo, escolheu
homens e mulheres para serem santos e irrepreensíveis perante ele, e, em amor, os
predestinou para a salvação (ver Efésios 1.3-14). Esta eleição é incondicional porque não se
baseia em nenhum mérito ou virtude da pessoa predestinada, mas unicamente no amor e na
misericórdia de Deus. Também não é o conhecimento prévio de Deus, de que tais pessoas vão
receber Jesus como Salvador, que levou o Criador a escofitê-Ias para a salvação. Pelo
contrário, é a escolha feita por Deus que leva essas pessoas ao arrependimento de seus pecados
e à fé salvadora. Portanto, a eleição ou predestinação para a salvação é um ato soberano de
Deus totalmente incondicional. "A fé e o arrependimento não são condição, mas resultado
da eleição, o meio que Deus escolhe para aplicara salvação aos eleitos. Deus não elege
porque antevê arrependimento e fé. Ele produz arrependimento e fé porque elegeu-.'

Expiação Limitada
O que é expiação? "O sentido da idéia envolvida nessa palavra é o processo da reunião de
duas partes, antes alienadas, para que formem uma unidade".' O pecado havia estabelecido
uma separação entre Deus e o homem. E alguma coisa precisava ser feita para remover a
culpado pecado e restabelecera união entre Deus e o ser humano. Portanto, quando
falamos em expiação, estamos nos referindo â obra que foi feita para reconciliar o
homem com Deus. Jesus tomou o lugar dos pecadores, a culpa deles lhe foi imputada
e a punição que mereciam foi transferida para ele.

Os calvinistas crêem que Cristo sofreu o castigo em lugar dos eleitos e que pagou pelos
pecados de cada um daqueles que Deus havia escolhido para a salvação, isto é, a expiação é
obra expiatória de Cristo tenha sido incompleta ou imperfeita. A obra de Cristo foi completa
e perfeita. O termo limitada se aplica apenas à extensão da expiação. Daí a afirmação de
que o sacrifício de Cristo é suficiente para a salvação da humanidade toda, mas é eficiente para
salvar apenas os eleitos.
Jesus declarou: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Eu sou o bom
pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me
conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas" (Jo 10.11,14,15). Fica
claro que Jesus morreu por suas ovelhas, isto é, pelos eleitos.

A Bíblia afirma que nenhum plano de Deus pode ser frustrado (Jó 42.2). Portanto, se o
sacrifício de Jesus tivesse o objetivo de salvar todos os homens, todos os homens seriam
salvos. Mas esse não era o plano de Deus. Ele enviou seu Filho para salvar os seus escolhidos.
Logo, os escolhidos de Deus serão salvos. E é nessa certeza que nós vivemos e descansamos.

Graça Irresistível
Os teólogos do Sínodo de Dort, discorrendo sobre a Graça Eficaz, declararam o seguinte:

"Deus realiza seu bom propósito nos eleitos e opera neles a verdadeira conversão da seguinte
maneira: ele faz com que ouçam o Evangelho mediante a pregação e poderosamente ilumina suas
mentes pelo Espírito Santo de tal modo que possam entender corretamente e discernir as coisas
do Espírito de Deus. Mas, pela operação eficaz do mesmo Espírito regenerador, Deus também
penetra até os recantos mais íntimos do homem. Ele abre o coração fechado e enternece o que
está duro, circuncida o que está incircunciso e introduz novas qualidades na vontade.
Esta vontade estava morta, mas ele a faz reviver; era má, mas ele a toma boa; estava indisposta,
mas ele a toma disposta; era rebelde, mas ele a faz obediente, ele move e fortalece esta vontade
de tal forma que, como uma boa árvore, seja capaz de produzir frutos de boas obras (1 Co 2.14)114

A graça de Deus é eficaz, irresistivel, porque "a ação de Deus no coração dos seus eleitos
não poderá ser eficazmente resistida; isso não quer dizer que os pecadores serão convertidos à
força, mas que suas vontades serão eficazmente convencidas; serão levados ao arrependimento
e crerão no evangelho, de modo que acabarão respondendo positivamente ao chamado do
Espírito Santo"."

Perseverança dos Santos


A Perseverança dos Santos é a conclusão natural a que se chega depois de examinar os
quatro primeiros pontos do calvinismo. "Se o homem é totalmente depravado e não pode fazer
nada para ajudar a si mesmo no que diz respeito às coisas espirituais; se Deus é absolutamente
soberano na questão da eleição, fundamentada tão-somente em sua própria vontade; se a
morte de Cristo reali zou -se em favor dos el eitos, assegurando-lhes a salvação; e se
Deus chama os eleitos de maneira irresistivel, conclui-se que Deus assegurará a salvação final
destes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim ", afirmou o professor Richard Belcher,
do Reformed Theological Sentinary de Charlotte, Estados Unidos, na Conferência Fiel de
2002.

O t e ó l o go L o u i s B e r kh o f d ef i ni u a d o ut r i n a d a Perseverança dos Santos "como


a contínua operação do Espírito Santo no crente, pela qual a obra da graça divina, iniciada no
coração, tem prosseguimento e se completa'. s Richard Belcher, n a C o n f e r ê n ci a a q ue n os
r e f e r i mo s , a f i r mo u q ue " a perseverança dos santos é a doutrina que afirma que os eleitos
continuarão no caminho da salvação (por serem eles o objeto do eterno decreto da eleição
e por serem eles o objeto da expiação realizada por Cristo) visto que o mesmo poder
de Deus que os salvou os preservará e os santificará até o final".'

Conclusão
João Calvino não foi o autor dos Cinco Pontos do
Calvinismo. Nem todos os calvinistas aceitam, integralmente, as afirmações do Sínodo de
Dort. Mas, apesar disto, é inegável que os Cinco Pontos sintetizam o ensino calvinista.

Estes Cinco Pontos refletem bem a ênfase doutrinária da Igreja Presbiteriana: a


soberania de Deus em todas as coisas. Nós cremos que Deus é absolutamente soberano em
tudo. Nossa Confissão de Fé afirma: "Deus tem, em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida,
glória, bondade, e bem-aventurança. Ele é todo-suficiente em si e para si, pois não precisa
das criaturas que trouxe à existência; não deriva delas glória alguma, mas somente
manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo ser;
dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio pua fazer
com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser".8
Capítulo 6 _____________
Primeiras Ten tivas
de Implantação
no Brasil
Como já foi mostrado, a fé reformada implantou-se inicialmente no hemisfério norte
(Europa e América do Norte). Depois, foi levada para várias regiões de colonização anglo-
saxônica em outros continentes. Por fim, deitou raízes entre as populações locais de muitos
países do chamado "terceiro untada" (Ásia, África e América Latina).
Apenas dois países ibero-americanos possuem comunidades presbiterianas de
maior expressão: México e Brasil. A Igreja Presbiteriana Nacional do México, cujos
primórdios remontam a 1872, possui cerca de 2 milhões de membros, sendo a segunda
maior denominação evangélica do país. No Brasil, todos os grupos presbiterianos e
reformados somam por volta de 1 milhão de pessoas. Existem pequenas denominações
presbiterianas em muitos outros países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba,
Guatemala, Guiana (Inglesa), Paraguai, Perue Venezuela.
O presbiterianismo foi implantado definitivamente no Brasil a partir de 1859, coma
chegada do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Todavia, houve tentativas
anteriores de trazer a fé reformada para o país. Esses esforços ocorreram nos dois primeiros
séculos da colonização do Brasil. Foi nesse contexto que ocorreram as primeiras tentativas
dos reformados de anunciar o evangelho a povos pagãos.

A Invasão dos Franceses


Após o descobrimento do Brasil, Portugal demorou a se interessar pela ocupação e a
colonização dos novos domínios.
Com isso, a colônia atraiu a atenção de outras nações européias, especialmente a França. O
militare aventureiro francês Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571) teve a idéia de
fundar uma colônia no Brasil. Sua expedição chegou à baía de Guanabara no dia 10 de
novembro de 1555, sendo bem recebida pelos índios tutrinararbás, acostumados à presença
de franceses na região. 0 grupo instalou-se na pequena ilha de Sergipe, mais tarde
denominada Villegaignon, onde foi construido o Forte Cofigny.

Sendo inicialmente simpático à causa da Reforma e procurando elevar o nível


moral e espiritual da sua colônia, Villegaignon escreveu a João Calvino solicitando o
envio de colonos protestantes. A Igreja Reformada de Genebra atendeu prontamente ao
pedido, enviando um grupo de evangélicos sob a liderança de dois pastores, Pierre
Richier e Guillaume Chartier. Os seus objetivos específicos eram implantar a fé
reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas. No dia 7 de março de 1557, eles
finalmente entraram no "braço de mar" chamado Guanabara pelos selvagens e Rio de
Janeiro pelos portugueses. O desembarque no Forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma
quarta-feira. Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi
realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas,
o Novo Mundo. A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela primeira vez
no domingo 21 de março de 1557.

Infelizmente, Villegaignon acabou entrando em conflito com os huguenotes sobre


questões doutrinárias e os expulsou da colônia. No dia 4 de janeiro de 1558, eles partiram
para a França a bordo de um velho navio. O comandante avisou que a viagem iria ser difícil
e não haveria alimento para todos. Diante disso, cinco huguenotes se ofereceram para
voltar à terra. Inicialmente Villegaignon os recebeu de modo cordial, mas logo os acusou
de serem traidores e espiões. Formulou um questionário sobre
para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou
Confissão Fluminense.
O vice-almirante declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos
reformados. No dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre
Boutrilon foram estrangulados e lançados ao mar. André Lafon teve a vida poupada devido
a suas vacilações religiosas e ao fato de ser o único alfaiate da colônia. Jacques Le Balleur
fugiu e foi para São Vicente. Levado preso para a Bahia, ficou encarcerado por oito anos,
sendo então conduzido ao Rio de Janeiro, onde foi enforcado. Ele e seus companheiros
ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil. Dentre os que conseguiram
retomar para a França estava o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde tomou-se pastor e
escreveu a célebre obra Viagem à Terra do Brasil.

Os Holandeses no Nordeste
A próxima tentativa de introdução do calvinismo no Brasil ocorreu em meados do
século 17 por meio dos holandeses. Em 1621, eles haviam criado a Companhia das
índias Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas
Américas, especialmente uma rica região açucareis —o nordeste do Brasil. Em 1624, os
holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte.
Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste.

Embora os residentes católicos e judeus tenham gozado de tolerância religiosa, a


igreja oficial da colônia foi a Igreja Reformada da Holanda, que realizou uma grande obra
pastoral e missionária. Ao longo dos anos foram criadas 22 igrejas e congregações, dois
presbitérios (Pernambuco e Paratilha) e até mesmo um sínodo (1642-1646). Além da assistência
aos colonos europeus, a igreja reformada fez um grande trabalho missionário junto aos
indígenas. Ao lado da pregação e ensino, houve a preparação de um catecismo
incluíam a tradução das Escrituras e a ordenação de pastores indígenas, o que não chegou a se
concretizar.
Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos, transferindo-
se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova Amsterdã, a futura
Nova York. Coma expulsão dos holandeses, as igrejas nativas vieram a extinguir-se.

Eventos Posteriores
Após a expulsão dos holandeses, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais
de 150 anos. Foi só no início do século 19, com a vinda da fundia real portuguesa, que essa
situação começou a se alterar. Em 1810, Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado de
Comércio e Navegação, cujo artigo XII concedeu tolerância religiosa aos imigrantes
protestantes. Logo, muitos começaram a chegar, entre eles um bom número de reformados.

Um dos primeiros pastores presbiterianos a visitar o Brasil foi o Rev. James Cooley Fletcher
(1823-1901), que aqui chegou em 1851. Fletcher foi capelão dos marinheiros que aportavam
no Rio de Janeiro e deu assistência religiosa a imigrantes europeus. Ele manteve
contatos com D. Pedro 11 e outros membros destacados da sociedade; lutou em favor da
liberdade religiosa, da emancipação dos escravos e da imigração protestante. Escreveu
o livro O Brasil e os Brasileiros (1857), que foi muito apreciado nos Estados Unidos.
Fletcher não fez nenhum trabalho missionário junto aos brasileiros, mas contribuiu para
que isso acontecesse. Foi ele quem influenciou o Rev. RobertReid Kalley e sua esposa Sarah
P. Kalley a virem para o Brasil, o que ocorreu em 1855. Kalley fundou a Igreja Evangélica
Fluminense, no Rio de Janeiro, em 1858. No ano seguinte, chegou à mesma cidade o fundador
da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Ashbel Green Simonton.

Capítulo 7 _____________
A Confissão de Fé
da Guanabara
Conforme vimos ao tratar da França Antártica, o vice almirante Villegaignon entrou em
conflito com os huguenotes sobre questões doutrinárias e os expulsou da colônia. No dia 4 de
janeiro de 1558, eles partiram para a França a bordo de um velho navio. O navio tinha pequena
capacidade: somados os marujos e os passageiros, havia 45 pessoas a bordo. Logo,
começou a entr ar água em mui tos pontos do casco. O comandante avisou que a viagem
iria ser penosa e não haveria alimento para todos. À vista disso, Jean de Léry e alguns
companheiros se ofereceram para voltar à terra. Léry desistiu no último momento, quando já
se encontrava no bote. Os outros eram Pierre Bourdon, Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil,
André Lafon e Jacques Le Balleur.

Desafio
Os cinco homens foram parar em uma praia, onde vários indígenas vieram eram ao seu
encontro. Resolveram voltar para o forte Coligny, onde Villegaignon os recebeu de modo cordial.
Doze dias depois, ele mudou radicalmente de atitude: concluiu que os calvinistas haviam
mentido e eram traidores e espiões. Decidiu executá-los por heresia. Como representante do
rei Henrique 11, podia exigir que eles declarassem publicamente a sua fé. Formulou um
questionário sobre pontos doutrinários que já havia levantado anteriormente e deu-lhes
doze horas para responderem por escrito.
Tudo de que dispunham os huguenotes era um exemplar das Escrituras. Além disso, não
eram teólogos, e sim leigos

Para redigir a resposta escolheram Jean du Bourdel, não só o mais velho deles, mas o mais
letrado e conhecedor do latim. Concluída a redação, com tinta de pau-brasil, Bourdel leu-a
várias vezes perante os companheiros, interrogando-os sobre cada ponto. O resultado
foi a bela Conf issão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense. Cada um a assinou
de próprio punho, indicando que a recebia como sua própria.

A Confissão de Fé
Estritamente falando, a Confissão da Guanabara é um credo, pois quase todos os
artigos começam com a palavra "cremos". Todavia, a sua extensão e a variedade de
temas a coloca na categoria das confissões de fé, comuns na época da Reforma. Na verdade,
é um dos primeiros documentos confessionais reformados. A Confissão Galicana (1559),
a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1566) e a Confissão de Fé de
Westminster (1648) são todos posteriores.

A Introdução faz uma bela aplicação do texto de 1 Pedro 3.15. A Confissão de Fé em si


é composta de 17 parágrafos de diferentes tamanhos que tratam de cinco ou seis questões
principais: (1) Parágrafos 1-4: a doutrina da Trindade, em especial a pessoa de Cristo,
com suas naturezas divina e humana. (2) Parágrafos 5-9: a doutrina dos sacramentos; a
Ceia é tratada em quatro artigos e o batismo em um. (3) Parágrafo 10: a questão do livre
arbítrio. (4) Parágrafos 11-12: a autoridade dos ministros para perdoar pecados e impor as
mãos. (5) Parágrafos 13-15: divórcio, casamento dos bispos, voto de castidade. (6)
Parágrafos 16-17: a intercessão dos santos e orações pelos mortos.

O texto faz diversas referências aos concílios da igreja antiga e aos pais da igreja,
revelando os conhecimentos históricos dos seus autores. Os parágrafos 1 a 4 utilizam uma
linguagem tirada do Credo Niceno-Constammopolitano (ano

procedente do Pai e do Filho" (Filioque) são bem conhecidas na história da teologia. O


parágrafo 3 se refere ao "símbolo", ou seja, o Credo dos Apóstolos ou algum dos outros
credos antigos. O parágrafo 5 se refere explicitamente ao Concilio de Nicéia (ano 325).
A confissão também menciona quatro pais da igreja ou escritores da igreja antiga:
Tertuliano (e.160-c.220)—parágrafo 5; Cipriano (c.200-258) — parágrafos 11 e 15; Ambrósio
(c.339397) — parágrafos 11 e 13; e, principalmente, Agostinho (354- 430) — parágrafos 5
(três vezes), 7, 11 e 17. Há também referências a um grande número de passagens
bíblicas, principalmente na segunda metade do documento.

Considerando o documento como um todo, percebem-se três características: (a) é


uma confissão de fé bíblica: está repleta de referências e argumentos extraídos diretamente das
Escrituras; (b) é uma confissão de fé cristã: expressa convicções e conceitos dos primeiros
séculos da igreja; (e) é uma confissão de fé reformada: contém pontos importantes do
calvinismo, como a centralidade das Escrituras, a natureza simbólica dos sacramentos, a
supremacia de Cristo, a importância da fé, o batismo infantil e a eleição, entre outros.

0 Martírio dos Huguenotes

Recebido o texto da confissão, o comandante declarou heréticos vários artigos,


especialmente aqueles relativos aos sacramentos e aos votos, e decidiu pela morte dos
reformados. No dia 8 de fevereiro, mandou trazer do continente os signatários
(Pieira Bourdon ficou na aldeia por se achar enfermo). Lançou^os em uma prisão
pequena e escura, onde os condenados oraram e cantaram salmos. Decidiu que fossem
estrangulados e lançados ao mar, pois o carrasco não tinha preparo para eliminá-los de
outro modo.

Chegou a sexta-feira 9 de fevereiro de 1558. O primeiro a ser chamado foi o redator da


Confissão de Fé, Jean du Bourdel.

conduzido à rocha escolhida para a execução, entoando salmos e louvores no caminho. Orou
antes de ser sufocado e lançado às águas. Matüúeu Verticil foi o próximo. Perguntou por
que estava sendo executado. Diante da resposta, observou que oito meses antes o almirante
havia confessado publicamente os mesmos pontos doutrinários pelos quais condenara à morte
os reformados. Após orar, pediu a Villegaignon que, em vez de fazê-lo morrer, o tomasse
como escravo. O vice-almirante lhe disse que, caso se retratasse, iria pensar no assunto. Verneil
se negou a isso e foi executado.

André Lafon deixou-se persuadir por sugestões de auxiliares de Villegaignon,


que lhe disseram como poderia salvara vida. Declarou que não queria ser obstinado em
suas idéias calvinistas e se comprometeu a retratar-se quando lhe provassem os seus erros pela
Palavra de Deus. Foi poupado e ficou preso na fortaleza, como alfaiate do líder e dos
seus homens. Pierre Bourdon foi conduzido pessoalmente por Villegaignon e alguns
auxiliares da casa onde se achava gravemente enfermo até a ilha. Disseram-lhe que iria
receber tratamento. Teve o mesmo fim que os dois colegas.

Às 10 horas, Villegaignon reuniu toda a sua gente e lhes dirigiu palavras de cautela
contra a "seita dos luteranos". Em sinal de regozij o pelas execuções, mandou fazer
farta distribuição de víveres aos seus servos. Ao voltar à França publicou diversos
escritos contra a fé reformada, sendo devidamente refutado.

Jacques Le Balleur conseguiu escapar. Alguns acreditam que viera ao Brasil na primeira
expedição. Além de eloqüente e teólogo, era versado em espanhol, latim, grego e hebraico.
Surgiu na Capitania de São Vicente em 1559, onde chegou em uma canoa de tamoios. Pôs-se a
pregar as suas convicções. O jesuíta Luiz de Grã desceu de São Paulo de Piratininga (fundada
há cinco anos) para desarraigara heresia. Balleur ia ganhando terreno e dia a dia aumentava o
número dos seus ouvintes. O jesuíta não ousou disputar com ele, mas mandou prendê-lo e o

enviou para a Bahia, sede do governo de Mem de Sá, onde ficou encarcerado por oito
anos.
Condenado à morte, a execução foi suspensa por algum tempo. Finalmente, foi levado
ao Rio de Janeiro para ser executado no lugar onde começara a pregar as suas "heresias".
Foi enforcado na época da expulsão dos últimos franceses, pouco após a fundação da
cidade do Rio de Janeiro. No momento da execução, revelando-se inábil o carrasco,
foi auxiliado pelo padre José de Anchieta, que julgara haver convertido o calvinista
e temia que a demora da execução o fizesse voltar atrás.

0 Destino da Confissão
Os huguenotes que voltaram para a França só chegaram ao destino em fins de maio
de 1558, após quase cinco meses de viagem. Algumas pessoas que voltaram para a França
quatro meses depois contaram ao senhor Du Pont, em Paris, que haviam testemunhado as
execuções. Trouxeram consigo não só a Confissão de Fé, mas todo o processo instaurado
contra os calvinistas por Villegaignon, entregando-o a Du Pont, de quem mais tarde o obteve
Jean de Léry.
Visando a preservação do documento, Léry o entregou no mesmo ano de 1558 a
Jean Crespin, para que o inserisse "no livro dos que em nossos dias foram martirizados na
defesa do Evangelho- (História dos Mártires, 1564).

Léry regressou a Genebra, onde concluiu os estudos teológicos e foi ordenado. Foi
pastor em Belleville-Sur-Saône, perto de Lyon. Voltou para Genebra em 1562 e, a instâncias
de amigos, escreveu a sua obra mais famosa, Viagem à Terra do Brasil. A seguir exerceu
o ministério em Nevers e La Charité. Escapou por milagre do massacre de São
Bartolomeu e refugiou-se na fortaleza de Sancerre, vindo a escrever uma narrativa
do cerco dessa cidade, publicada em 1574. Perdeu dois manuscritos da sua obra principal
(Viagem à terra do Brasil), mas reencontrou o primeiro deles em 1576,
publicando-o dois anos depois em La Rochelle.

Em 1910, quando da organização da Assembléia Geral (Supremo Concílio) da Igreja


Presbiteriana do Brasil, no Rio de Janei ro, os del egados fi zer am uma vi sit a â ilha
de Villegaignon como parte das comemorações do quarto centenário do nascimento
de João Calvino, transcorrido no ano anterior. Hoje, a pequena ilha abriga a Escola Naval,
estando situada ao lado do Aeroporto Santos Dumont. Recentemente realizou-se nesse local
um culto de ação de graças pelo transcurso do 450° aniversário do primeiro culto
protestante no Brasil. No início de 2008 também serão lembrados os 450 anos da Confissão
de Fé da Guanabara.
Capítulo 8 _______________
Almplantação
doPresbiteriffinismo
no Brasil (1859-1903)
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do pioneirismo e desprendimento do
Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Nascido em West Hanover, na Pensilvânia,
Simonton estudou no Colégio de Nova Jersey (a futura Universidade de Princeton)
e inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um reavivamento
em 1855, fez sua profissão de fé e pouco depois ingressou no Seminário de Princeton.
Um sermão pregado por seu professor, o conhecido teólogo Charles Hodge, levou-o a
considerar o trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois, candidatou-se
perante a Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, citando
o Brasil como o campo de sua preferência. Dois meses após sua ordenação, embarcou para o
Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, aos 26 anos de idade.

Início (1860-1869)

Em 22 de abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em português. Em janeiro


de 1862, recebeu os primeiros membros, sendo fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de
Janeiro. No breve período em que viveu no Brasil, Simonton, auxiliado por alguns colegas,
fundou o primeiro jornal evangélico do país (Imprensa Evangélica, 1864), criou o
primeiro presbitério (1865) e organizou um seminário (1867). O Rev. Simonton morreu
vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em 1867 (sua esposa, Helen Murdoch Simonton,
havia falecido três anos antes).
Os principais colaboradores do pioneiro nesse período foram seu cunhado
Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as igrejas de São Paulo e Brotas;
Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os imigrantes alemães em Rio Claro, lecionou
no seminário do Rio e foi missionário na Bahia; e George W. Chamberlain, grande evangelista
e operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes do "seminário
primitivo" foram também grandes obreiros: Antonio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves
Torres, Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa e Antônio Pedro de Cerqueira Leite.

Outras igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de Lorena, Borda da Mata


(Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem que mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas
foi o Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), um ex-sacerdote que se tornou o primeiro
brasileiro a ser ordenado ministro do evangelho (1865). Ele visitou incansavelmente dezenas de
vilas
e cidades no interior de São Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho
da graça.

Consolidação (1869-1888)
Simonton e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados
Unidos (POUSA). Em 1869 chegaram os primeiros missionários da Igreja do Sul (PCUS):
George Nash Montou e Edward Lane. Eles se fixaram em Campinas, região onde havia
muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a Guerra Civil no seu país
(18611865). Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas
e em 1873 o famoso, porém efémero, Colégio Internacional. Os missionários da PCUS
evangelizaram a região da Mogiana,
o oeste de Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias
dessas regiões foi o incansável Rev. John Boyle.
Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros
Amazônia). Os principais foram John Rockwel] Smith, fundador da igreja do Recife (1878);
DeLacey Wardlaw, pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o "médico amado' de
Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do Nordeste foi o Rev.
Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família presbiteriana.
Enquanto isso, os missionários da Igreja do Norte dos Estados Unidos também davam
continuidade ao seu trabalho, auxiliados por novos colegas. Seus principais campos eram
Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb; Rio de
Janeiro, cuja igreja inaugurou
o templo em 1874, e Nova Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná,
cujos pioneiros foram Robert Lenington
e George A. Landes; e especialmente São Paulo. Na capital paulista, o casal
Chamberlam fundou em 1870 a Escola Americana, que mais tarde veio a ser o
Mackenzie College, dirigido pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província
destacou-se o Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da Madeira. No Rio Grande do
Sul, trabalhou por algum tempo o Rev. Emanuel Vanorden, um judeu holandês.

Entre os novos pastores -nacionais" desse período estavam Eduardo Carlos


Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira,
João Ribeiro de Carvalho Braga e Caetano Nogueira Júnior. As duas i gr ej a s n or t e -
a me r i c a n as t a mb é m e n vi a r a m n o t á ve i s missionárias educadoras: Mary Parker
Dascomb, Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.

Dissensão (1888-1903)
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, que
assim tornou-se autônoma, desligando-se das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo
compunha-se de três presbitérios – Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e
Pernambuco – e tinha vinte

o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário Presbiteriano, elegeu seus dois
primeiros professores e dividiu o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: São Paulo
e Minas.
Nesse período a denominação expandiu-se grandemente, com muitos novos missionários,
pastores brasileiros e igrejas locais. O Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo
no final de 1892 e no início de 1895 transferiu -se para São Paulo, tendo â frente o Rev.
JohnRockwell Smith. O Mackenzie College ou Colégio Protestante foi criado em 1891, sendo seu
primeiro presidente o Dr. Horace M. Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio Internacional
foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-se Instituto Gammon,
numa homenagem ao seu grande líder, o Rev. Samuel R. Gammon (1865-1928).

Uma importante escola evangélica do Nordeste foi o Colégio Americano de Natal


(1895), fundado por Katherine H. Porter, esposa do Rev. William C. Porter. Na mesma época, a
cidade de Garanhuns começou a tornar-se um grande centro da obra presbiteriana. Além do
trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de duas importantes instituições educacionais: o
Colégio Quinze de Novembro e o Seminário do Norte, hoje sediado em Recife. No final
desse período, além de estar presente em todos os estados do Nordeste, a Igreja Presbiteriana
chegou ao Pará e ao Amazonas.
No Sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São Francisco do Sul
e Florianópolis). A igreja também iniciou a sua marcha vitoriosa no leste de Minas. O
primeiro obreiro a residir em Alto Jequitibá foi o Rev. Matadas Gomes dos Santos (1901).
As igrejas de São Paulo e do Rio de Janeiro pa ssar a m a s er p ast or ead as por d oi s
gr an des l í der e s, respectivamente Eduardo Carlos Pereira (1888) e Alvaro Emídio G. dos Reis
(1897).

Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados por uma grave crise
que se abateu sobre a vida da

igreja. Inicialmente, surgiu uma diferença de prioridades entre o Sínodo e a Junta de Missões
de Nova York. O Sínodo queria apoio para a obra evangelística e para instalar o Seminário, ao
passo que a Junta preferiu dar ênfase à obra educacional, principalmente através do Mackenzie.
Paralelamente, surgiram desentendimentos entre o pastor da Igreja Presbiteriana de São Paulo,
Rev. Eduardo Carlos Pereira, e os líderes do Mackenzie, Horace M. Lane e William A. Waddell.

Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo Carlos Pereira passou a tornar-se mais radical
em suas posições, perdendo o apoio até mesmo de muitos dos seus colegas brasileiros. Como
uma alternativa ao jornal do Rev. Eduardo, O Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O
Puritano em 1899. Em 1900 foi criada a Igreja Presbiteriana Unida, que resultou da fusão
de duas igrejas formadas por pessoas que haviam saído da igreja do Rev. Eduardo. Na
mesma época, um novo problema veio complicar ainda mais a situação: o debate acerca da
maçonaria.

Em março de 1902, Eduardo Carlos Pereira e seus partidários começaram a


divulgara sua Plataforma, com cinco tópicos sobre as questões missionária, educativa e
maçônica. Após pouco mais de um ano de debates acalorados, a crise chegou ao seu
triste desfecho em 31 de julho de 1903, durante a reunião do Sínodo. Após serem derrotados
em suas propostas, o Rev. Eduardo e seus colegas desligaram-se do Sínodo e formaram
a Igreja
Capítulo 9 ________________
A Reconstitui ção
do Presbiterianismo
no Brasil (1903-1932)
N o i n í c i o de a go s t o d e 1 9 0 3 , o s i n de p e n de n t e s organizaram o seu presbitério,
com quinze presbíteros e sete pastores (Eduardo Carlos Pereira, Caetano Nogueira Jr., Bento
Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira, Otomel Mota, Alfredo Borges Teixeira e Vicente Temudo
Lessa). Seguiu-se um triste período de divisão de comunidades, luta pela posse de
propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério Independente chegou a vedar
aos smodais a Ceia do Senhor. O período mais conflituoso estendeu-se até 1906. Nessa época, o
Sínodo contava com 77 igrej as e cerca de 6500 membros; em 1907, os independentes
tinham 56 igrejas e 4200 membros comungantes.

Recuperação (1903-1917)
O novo edifício do seminário, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, foi ocupado
sem solenidade em setembro de 1899. Os principais professores eram os Revs. John R. Smith
e Erasmo Braga (este a partir de 1901) e o membro mais destacado da diretoria era o
Rev. Alvaro Reis. Em fevereiro de 1907, o seminário foi transferido para Campinas, passando
a ocupar a antiga propriedade do Colégio Internacional. A primeira turma de Campinas
só se formou em 1912. Entre os formandos estavam Tancredo Costa, Herculano de Gouvêa Jr.,
Miguel Rizzo Jr. e Paschoal Luiz Puta. Mais tarde viriam Guilherme Kerr, Jorge
Thompson Goulart, Galdino Moreira e José Carlos Nogueira.

A obra presbiteriana crescia em muitos lugares. A primeira cidade atingida no Leste de


Minas foi Alto Jequitibá; e no

Espírito Santo, São José do Calçado. Os primeiros pastores daqueles campos foram
Matarias Gomes dos Santos, Aníbal Nora, Constâncio Omero Orregna e Samuel Barbosa.
No Vale do Ribeira, o evangelista Willes Roberto Banks continuava em atividade; a família V
assão daria grandes contribuições à igreja.
Em 1907, o Sínodo dividiu-se em dois – Norte e Sul – e em 1910 foi or gani zada a
Assembléia Geral da Igrej a Presbiteriana do Brasil. O moderador do último sínodo
e instalador da Assembléia Geral foi o veterano Modesto Carvalhosa, ordenado 40 anos
antes. A Assembléia Geral foi instalada na Igreja do Rio de Janeiro e o Rev. Álvaro Reis foi
eleito seu primeiro moderador. Os conciliares visitaram a Ilha de Villegaignon para
lembrar os mártires calvinistas e comemorar o 4' centenário do nascimento de
Calvino. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha 10 mil membros comungantes, outro
tanto de menores e cerca de 150 igrejas em sete presbitérios. As demais denominações
tinham os seguintes números: metodistas – 6 mil membros; independentes – 5 mil; batistas –
5 mil; episcopais - cerca de mil. Em 1911, a IPB enviou o seu primeiro missionário a Portugal,
Rev. João Marques da Mota Sobrinho, que lá ficou até 1922.

Os missionários americanos continuavam em plena atividade. Devido a


divergências quanto ao lugar da educação na obra missionária, a Missão Sul da PCUS
dividiu-se em Missão Leste (Lavras) e Missão Oeste (Campinas). O Rev. William
Waddell fundou uma influente escola em Ponte Nova, Bahia. Pierce Chamberlam trabalhou na
Bahia de 1899 a 1909. A obra presbiteriana em Mato Grosso começou nesse período: os
pioneiros foram os missionários Franklin Gratuita (1913) e Filipe Landes (1915).

Em 1917, foi aprovado o Modas Operandí, um acordo entre a igreja brasileira e as


missões norte-americanas pelo qual os missionários se desligaram dos concílios da IPB,
separando-se os campos nacionais (presbitérios) dos campos das missões. Em 1924, pela
primeira vez reuniu-se a Assembléia Geral sem qualquer missionário como delegado de
presbitério.
O maior líder presbiteriano desse período foi o Rev. Erasmo de Carvalho Braga
(1877-1932), professor do seminário e secretário da Assembléia Geral. Em 1916, ele participou
com dois colegas do Congresso da Obra Cristã na América Latina, no Panamá. Poucos
anos depois, tornou -se o dinâmico secretário da Comissão Brasileira de Cooperação,
entidade que liderou um grande esforço cooperativo entre as igrejas evangélicas do
Brasil na década de 1920. As principais áreas de cooperação foram literatura, educação
cristã e educação teológica. Foi fundado o Seminário Unido no Rio de Janeiro, que existiu
até 1932.

Outros esforços cooperativos desse período foram: (1) o Instituto José Manoel da
Conceição, fundado pelo Rev. William A. Waddell na cidade de Jandira, perto de São Paulo
(1928), que visava preparar os jovens que depois seguiriam para o seminário; (2) a
Associação Evangélica de Catequese dos índios (1928), depois Missão Evangélica Camá,
idealizada pelo Rev. Albert Sydney Maxwell e instalada em Dourados, Mato Grosso, um esforço
cooperativo das igrejas presbiteriana, independente, metodista e episcopal.

O Seminário de Campinas correu o risco de ser extinto por causa do Seminário Unido,
mas finalmente superou a crise. Em 1921, o Seminário do Norte foi transferido para Recife. As
principais instituições educacionais das missões eram o Colégio A gne s E r s ki ne, e m Re ci f e;
C ol é gi o 1 5 de N o ve mb r o (Garantiam); Escola de Ponte Nova (Bahia); Colégio 2 de Julho
(Salvador); Instituto Gammon (Lavras); Instituto Cristão (Castro) e, principalmente, o
Mackenzie College. Os principais periódicos presbiterianos eram O Puritano e o Norte
Evangélico.

Em 1924, a Assembléia Geral e ncerrou o trabalho missionário em Lisboa. No


mesmo ano, Erasmo Braga e alguns amigos fundaram a Sociedade Missionária Brasileira
de Evangelização em Portugal, que enviou para aquele país o Rev. Pascoal Luiz Pitta e sua esposa
Odete. O casal ali esteve por
quinze anos (1925-1940), regressando ao Brasil devido à contínua falta de recursos.

Em 1921, morreu o Rev. Antônio Bandeira Trajano; com ele desapareceu a primeira
geração de obreiros presbiterianos no Brasil, os da década de 1860. Outros obreiros falecidos
nesse período foram: Eduardo Carlos Pereira (1923), Álvaro Reis (1925), Carlota
Kemper (1927), Samuel Garantam (1928) e Erasmo Braga (1932).

Capítulo i o ____________
A Estrutura áo
4
do Presbiteriálismo
Nesse período, a Igreja Presbiteriana do Brasil continuou a crescer e a aperfeiçoar a
sua estrutura, criando entidades voltadas para o trabalho feminino, mocidade, missões
nacionais e estrangeiras, literatura e ação social. O período terminou com a comemoração do
centenário do presbiterianismo no Brasil.

Sínodos
A igreja era constituída dos seguintes sínodos: (1) Setentrional: estendia-se de
Alagoas até a Amazônia, estando o maior número de igrejas no Estado de Pernambuco; (2)
Bahia-Sergipe: criado em 1950, quando o Presbitério Bahia-Sergipe, antigo campo da Missão
Central, dividiu-se nos presbitérios de Salvador, Campo Formoso e Rabona; (3) Minas-Espírito
Santo: surgiu em 1946, abrangendo o leste de Minas e o Espírito Santo, a região de maior
crescimento da igreja; (4) Central: formado em 1928, incluía o Estado do Rio de Janeiro,
bem como o sul e o oeste de Minas Gerais; (5) Meridional: sínodo histórico (19101947),
abrangia São Paulo, Paraná e Santa Catarina; (6) Oeste do Brasil: foi formado em 1947,
abrangendo todo o norte e oeste de São Paulo. No final da década de 50, foram entregues
pelas missões os Presbitérios do Triângulo Mineiro, Goiás e Cuiabá.

Missões Norte-Americanas
Nesse período, as missões norte-americanas deram prosseguimento ao seu trabalho. A PCUS
tinha três missões: (a) a Missão Norte atuava no Nordeste, onde o principal obreiro importante
era o de Garanhuns, onde estavam o Colégio 15 de Novembro e ojornal Norte Evangélico; (b) a
Missão Leste atuou no oeste de Minas e depois em Dourados, Mato Grosso, cuja igreja foi
organizada em 1951; (e) a Missão Oeste concentrou-se mais no Triângulo Mineiro, onde o
casal Edward e Mary Lane fundou, em 1933, o Instituto Bíblico de Patrocínio. A PCUSA
tinha duas missões: (a) a Missão Central, cujos principais campos eram Ponte Nova (Racha), a
bacia do Rio São Francisco, o sul da Bahia e o norte de Minas, e (b) a Missão Sul, que atuou no
Paraná e Santa Catarina, fundindo-se com a Missão Central por volta de 1937. O Rev. Filipe
Landes foi grande evangelista em Mato Grosso (norte e sul). O médico e missionário Dr.
Donald Gordon atuou em Rio Verde, Goiás.

Trabalho Feminino
As primeiras sociedades de senhoras surgiram em 1884- 1885 e as primeiras
federações, na década de 1920. Os primeiros secretários gerais do trabalho feminino
foramo Rev. Jorge Thompson Goulart e as Sras. Genoveva Marcham, Blanche
Lício, Cecilia Siqueira e Nady Werner. O primeiro congresso nacional reuniu-se na Igreja
Presbiteriana do Riachuelo, no Rio, em 1941; o segundo congresso realizou-se também
no Rio, em 1954. O periódico SAF em Revista foi criado em 1954.

Trabalho da Mocidade

Algumas entidades precursoras do trabalho da mocidade foram a Associação Cristã


de Moços (Myron Clark), o Esforço Cristão (Clara Hough) e a União Cristã de Estudantes
do Brasil (Eduardo P. Magalhães). Benjamim Moraes Filho foi o primeiro secretário do
trabalho da mocidade, em 1938. O primeiro congresso nacional reuniu-se em
Jacarepaguá em 1946, quando foi criada a Confederação Nacional. Entre os líderes da
época estavam Francisco Alves, Jorge César Mota, Paulo César, Waldo César, Tércio
Emerique, Gutemberg de Campos, Paulo Rizzo e Billy Gammon, filha do Rev. Samuel
Gammon.
Missões Nacionais
Em 1940 foi organizada, na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, a Junta
Mista de Missões Nacionais, com representantes da Igreja Presbiteriana do Brasil e
das missões norte-americanas. Entre os primeiros líderes estavam Coriolano de
Assunção, Guilherme Kerr, Filipe Landes, Eduardo Lane, José Carlos Nogueira e
Wilson Nóbrega Lício. Até 1958, a Junta ocupou quinze regiões em todo o Brasil,
com cerca de 150 locais de pregação. Em 1950 foi criada a Missão Presbiteriana da
Amazônia.

Missão em Portugal
Como já foi visto, os primeiros obreiros enviados para Portugal foram João
Marques da Mota Sobrinho (1911-1922) e Pascoal Luiz Pitta (1925-1940). Em 1944 a
IPB assumiu o trabalho e foi criada a Junta de Missões Estrangeiras, com o apoio
das igrejas norte-americanas. Os primeiros missionários foram Natanael Emerique,
Aureliano Lino Pires, Natanael Beuttenmuller e Teófido Carmer.

Outras Organizações

Além das organizações mencionadas, outras organizações surgiram nesse período.


(a) Casa Editora Presbiteriana: começou a ser organizada em 1945, no início da
Campanha do Centenário, sob a liderança do Rev. Boanerges Ribeiro. A primeira
sede foi instalada em dependências cedidas pela Igreja Presbiteriana Unida, na Rua
Helvetia. (h) Orfanatos: em 1910, a Assembléia Geral planejou um orfanato para
Lavras; em 1919, ele passou a funcionar em Valença, no Estado do Rio, e em 1929
foi instalado numa propriedade da Igreja Presbiteriana de Copacabana, em
Jacarepaguá. O orfanato foi denominado Instituto Alvaro Reis. (e) Conselho
Interpresbiteriano (CIP): foi criado em 1955 para superintender as relações da IPB com
as missões e as juntas missionárias dos Estados Unidos. Tinha mais autoridade que
o "Modos Operandi" de 1917.

Outras Igrejas Presbiterianas


Neste período, outras igrejas presbiterianas também implementaram sua
organização: (a) Igreja Presbiteriana Independente: em 1957 foi criado o Supremo
Concílio, com três sínodos, dez presbitérios, 189 igrejas, 105 pastores e cerca de 30
mil membros comungantes. O Estandarte continuou a ser o jornal oficial. No final
dos anos 30 houve um conflito teológico. Em 1942, um grupo de intelectuais liberais
(entre os quais o Rev. Eduardo Pereira de Magalhães, neto de Eduardo Carlos
Pereira) retirou-seda IPI e formou a Igreja Cristã de São Paulo. (b) Igreja Presbiteriana
Conservadora: foi fundada em 1940 pelos membros da Liga Conservadora da IPI. Em
1957, contava com mais de vinte igrejas em quatro estados e tinha um seminário.
Seu órgão oficial era O Presbiteriano Conservador. (c) Igreja Presbiteriana
Fundamentalista: foi fundada em 1956 pelo Rev. Israel Cueiros, pastor da P Igreja
Presbiteriana de Recife e ligado ao Concilio Internacional de Igrejas Cristãs (do líder
fundamentalista norte-americano Carl Mclntire).

Neste período, a IPB participou de vários movimentos cooperativos: Associação


Evangélica Beneficente (fundada por Otoniel Mota em 1928), Associação Cristã de Beneficência
Ebenézer (dirigida pelo Dr. Benjamin Hunnicutt), Missão Evangélica Caiuá, Instituto
José Manoel da Conceição, Confederação Evangélica do Brasil (fundada em 1934),
Sociedade Bíblica do Brasil, Centro Áudio-Visual Evangélico (CAVE, fundado em 1951) e
Universidade Mackenzie, transferida à IPB no início dos anos 60.

Constituição da Igreja
Em 1924, foram aprovadas pequenas modificações no antigo Livro de Ordem
adotado quando da criação do Sínodo (1888). Em 1937, entrou em vigor a nova
Constituição da Igreja (os independentes haviam aprovado a sua três anos antes), sendo
criado o Supremo Concilio. Houve protestos do Norte contra

alguns pontos: diaconato para ambos os sexos, o termo "confirmação" em


vez de "profissão de fé" e o nome "Igreja Cristã Presbiteriana". Em 1950, foi
solenemente promulgada uma nova Constituição e no ano seguinte o Código de
Disciplina e os Princípios de Liturgia.

0 Centenário
Em 1957, a IPB contava com seis sínodos, 41 presbitérios, 489 igrejas, 883
congregações, 369 ministros, 127 candidatos ao ministério, 89.741 membros
comungantes e 71.650 não-comungantes. Os primeiros presidentes do Supremo Concilio
foram os Revs. Guilherme Kerr, José Carlos Nogueira, Natanael Cortei, Benjamim
Moraes Filho e José Borges dos Santos Júnior.
A Campanha do Centenário foi lançada em 1946, tendo como objetivos avivamento
espiritual, expansão numérica, consolidação das instituições da igreja, afirmação
da fé reformada e homenagem aos pioneiros. A Comissão Central do Centenário,
organizada em 1948, enfrentou muitas dificuldades. Após 1950, a
campanha ganhou ímpeto. A Comissão Unida do Centenário (IPB, IPI e Igreja
Reformada Húngara) planejou uma grande campanha evangelística com os
pregadores Edwyn Orr e Wilharri, Dunlap que se estendeu por todo o país em 1952.
Outras medidas foram a criação do Museu Presbiteriano, do Seminário do Centenário
(Vitória, ES) e do jornal Brasil Presbiteriano, resultante da fusão de O Puritano
e Norte Evangélico (1958). A 18' Assembléia da Aliança Presbiteriana Mundial
reuniu-se em São Paulo de 27 de julho a 6 de agosto de 1959. O lema do centenário
foi: "Um ano de gratidão por um século de bênçãos".

Período de polarização
Nos anos de 1959 a 1986, a Igreja Presbiteriana do Brasil sofreu o forte impacto
dos acontecimentos políticos ocorridos no país, que resultaram no regime militar (
1964-1984).

I n t e n s i f i c o u - s e a p o la r i z a ç ã o e n t r e c o n se r v a d o r e s e progressistas, que já
vinha se manifestando há alguns anos em tomo de questões como o liberalismo e o
ecumenismo. Os conservadores, defensores da teologia reformada tradicional,
foram vitoriosos nesse confronto quando o Rev. Boanerges Ribeiro foi eleito
presidente do Supremo Concilio, e reeleito duas vezes, a única vez em que isso
ocorreu na história da IPB (1966-1978). Boanerges foi sucedido por Paulo Breda Filho
(1978-1986), o único presbítero a ocupar o cargo maior da igreja. A igreja
também experimentou fortes lutas por causa da crescente influência do movimento
carismático ou de renovação espiritual. Todavia, apesar dessas tensões, também houve
desdobramentos construtivos, como a transferência da Universidade
Mackenzie para a IPB, a grande ampliação do trabalho de missões nacionais e
estrangeiras, o aumento significativo do número de igrejas e concílios, e o
crescimento numérico da denominação, que se aproximou da marca de meio milhão
de membros comungantes e não-comungantes.

Período Atual

Nas últimas décadas, a IPB tem continuado a crescer e a diversificar as suas atividades. O
ambiente político e teológico tor nou -se mai s concili ador , num context o de rel ati va
diversidade, mas ainda persistem tensões latentes. A igreja sofre o i mp a c t o d o s n o vo s
mo vi me n t o s qu e t ê m a f e t ad o o protestantismo brasileiro, especialmente nas áreas
littirgica, e doutrinária. O neopentecostalismo exerce grande fascínio sobre muitos pastores e
comunidades. Outra área de desgaste nos últimos anos te m sido o retorno dos
debates acerca da maçonaria. No aspecto positivo, destaca-se a maior preocupação com a
educação teológica, exemplificada pela criação de novos seminários e do Centro Presbiteriano
de Pós-Graduação Andrew Juniper, em 1992. Outros acontecimentos animadores foram a
criação de vínculos com igrejas reformadas ao redor do mundo (Estados Unidos, Escócia,
Irlanda, Holanda, Coréia, Angola), o investimento em missões transculturais por meio da
Agência

Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), o notável crescimento na área de


publicações (Editora Cultura Cristã) e a utilização de meios de comunicação de massa,
como a televisão e a Imeirret. Os presbiterianos também estão atuando de modo mais
incisivo nas áreas social e educacional. Nesta última, foram criadas duas organizações:
a Associação Nacional de Escolas Presbiterianas (ANEP) e a Federação Nacional de
Escolas Presbiterianas (FENEP).

Capítulo 11 __________
Nossos Símbolos
de Fé
A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a
Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve
Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em vi rt ude de a
Bí bli a não apr esent ar as doutri nas j á sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os
Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura.

A Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, historicamente, como


Símbolos de Westminster. Eles foram elaborados pela Assembléia de Westminster
(1643-1648), convocaria pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões
doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra. Para se
entender as circunstâncias da formulação desse importante documento, é preciso
relembrara história da Reforma Inglesa.

Antecedentes

Até 1534, a Inglaterra havia sido católica romana por muitos séculos. Nesse
ano, sob a liderança do rei Heirrique, VIII, essa nação rompeu com Roma e
aprovou o Ato de Supremacia, pelo qual o rei passou a ser o chefe da Igreja da
Inglaterra. Assim sendo, passou a existir uma igreja nacional inglesa, separada de Roma,
mas ainda católica, com o nome de Igreja Anglicano. Com a morte de Henrique VIII em
1547, subiu ao trono o seu filho adolescente Eduardo VI. Sob a liderança de Thomas
Cranmer, arcebispo de Caritmiria, foram elaborados dois importantes documentos,
ambos influenciados pela teologia

calvinista: os Trinta e Nove Artigos e o Livro de Oração Comum.


Várias outras reformas foram realizadas, tendo-se a impressão de que a fé protestante iria
triunfar. Todavia, a morte prematura do jovem rei, em 1553, interrompeu bruscamente esse
processo.
Eduardo foi sucedido por sua meia-irmã Maria Tudor, mais tarde conhecida
como "Maria, a Sanguinária". Ela era filha de Henrique V[11 e da princesa católica
espanhola Catarina de Aragão. De imediato, Maria se dispôs a anular o que seu pai
e seu irmão haviam feito e levara Inglaterra de volta para a Igreja de Roma. O
arcebispo Cranmer e muitos outros líderes da Reforma foram mortos na fogueira.
Muitos protestantes fugiram para o continente, sendo que um bom número deles se
refugiou em Genebra, onde o reformador João Calvino estava no auge da sua
influência. Com a morte de Maria em 1558, sua meia-irmã Elizabete subiu ao
trono para um longo reinado de 45 anos. O Ato de Supremacia foi restabelecido e
os protestantes exilados tiveram permissão para retomar.

Os Puritanos
Nesse contexto, solidificou-se um movimento firmemente apegado às Escrituras
e à teologia calvinista, que insistia numa reforma genuína da igreja inglesa. Seus
partidários defendiam uma forma de governo, um sistema de doutrinas, um culto
e uma vida mais puros, ou seja, mais bíblicos. Por volta de 1565, eles passaram a ser
conhecidos como "partimos".

A rainha Elizabete alarmou-se com o crescimento do puritanismo e tudo fez para forçar
os puritanos a se submeterem aos padrões religiosos vigentes. Com a morte de Elizabete em
1603, Tiago VI da Escócia, filho de Maria Stuart, tornou -se Tiago I, rei da Inglaterra e
da Escócia, e chefe da igreja. Os puritanos nutriam grandes esperanças em relação ao novo
rei, que havia sido educado pelos presbiterianos da Escócia. Todavia, ele os
decepcionou profundamente, visto estar muito apegado ao sistema episcopal de governo
eclesiástico.

A Assembléia de Westminster
Tiago foi sucedido no trono por seu filho Carlos 1, que reinou de 1625 a 1649.
Seu principal conselheiro era William Laud, arcebispo de Cantuária, um adepto da
teologia amimaria e da uniformidade religiosa. Em 1637, Carlos I e Laud tentaram
fazer com que os presbiterianos da Escócia se submetessem ao governo e culto da
Igreja da Inglaterra, com seu sistema episcopal (bispos e arcebispos). No ano
seguinte, os escoceses assinaram um Pacto Nacional no qual se comprometiam
a defender o presbiterianismo e entraram em guerra contra o rei.

Carlos precisava de mais homens e dinheiro para lutar contra os escoceses e assim
foi forçado a convocara eleição de um Parlamento. Para seu horror, os ingleses
elegeram um Parlamento puritano. Ele rapidamente dissolveu o parlamento e convocou
nova eleição, que resultou em uma maioria puritana ainda mais expressiva. O rei novamente
tentou dissolver o Parlamento, que entrou em guerra contra ele. Estava iniciada a guerra civil
inglesa.
Entre outras coisas, esse Parlamento puritano voltou sua atenção para a questão
religiosa. Fazia quase um século que os puritanos vinham insistindo que a Igreja da
Inglaterra tivesse uma forma de governo, doutrinas e culto mais puros. Assim
sendo, o Parlamento convocou a "Assembléia de Teólogos de Westminster", composta
de 121 dos ministros mais capazes da Inglaterra, além de 20 membros da Câmara dos
Comuns e 10 membros da Câmara dos Lordes. Todos os ministros, exceto dois,
eram da Igreja da Inglaterra. Praticamente todos eram puritanos, calvinistas.
Infelizmente, não havia unanimidade entre eles quanto à forma de governo: a
maioria era composta d e p r e s b i t e r i a n o s , m u i t o s e r a m p a r t id á r i o s da
f o r m a congregacional e alguns defendiam o episcopalismo. Os debates mais longos
e acalorados foram travados nessa área.

A Assembléia de Westminster iniciou seus trabalhos na majestosa abadia com esse


nome, em Londres, no dia 1' de julho de 1643, e continuou em atividade durante cinco anos
e
meio. Nesse período, houve 1163 reuniões do plenário e centenas de reuniões de
comissões e subcomissões.
A Conexão Escocesa
M a l h a v i a m c o m e ç a d o o s t r a b a l h o s , a s f o r ç a s parlamentares
começaram a ficar em desvantagem na guerra civil. Rapidamente foi enviada uma
delegação â Escócia em busca de auxilio. Os escoceses concordaram em enviar
socorro, mediante duas condições: (a) todos os membros da Assembléia de
Westminster e do Parlamento deviam assinar uma Liga e Pacto Solene a ser
redigido pelos escoceses; (h) os escoceses iriam nomear alguns representantes junto
à Assembléia de Westminster. Ao assinarem esse documento, os ingleses se
comprometeram a manter e defendera Igreja Presbiteriana da Escócia e a realizarem
uma reforma da igreja "na Inglaterra e na Irlanda em sua doutrina, governo, culto
e disciplina, de acordo com a Palavra de Deus e o exemplo das melhores igrejas
reformadas".

Os escoceses enviaram seis delegados à Assembléia de Westminster – quatro


pastores e dois presbíteros – sem direito a voto. Esses poucos representantes
escoceses exerceram uma influência decisiva sobre a Assembléia. Com a chegada dos
escoceses e a assinatura da Liga e Pacto Solene em setembro d e 1 6 4 3, ho uv e
u m a mu da n ç a rad i c al n o t r ab al ho da Assembléia. Antes disso, a maior parte do
tempo havia sido dedicada a uma revisão dos Trinta e Nove Artigos e não se
pensara em elaborar uma nova Confissão de Fé. Agora os Trinta e Nove Artigos foram
postos de lado e passou-se a fazer uma reforma profunda na Igreja da Inglaterra.

0 Trabalho da Assembléia
D u r an t e s eu s ci n co an os e m e io d e a ti vi dad e , a Assembléia de
Wesiminster produziu os chamados Padrões Presbiterianos. Ao ser concluído,
cada documento era encaminhado ao Parlamento como o "humilde conselho" da
Assembléia. O Parlamento não aprovou automaticamente o trabalho da Assembléia, mas
gastou muito tempo estudando e discutindo cada documento. Os Padrões Presbiterianos,
na ordem em que foram concluídos pela Assembléia, são os seguintes: (a) Diretório
do Culto Público a Deus: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo Parlamento em
janeiro de 1645. Substituiu o Livro de Oração Comum. (h) Forma de Governo Eclesiástico e
Ordenação: concluída em novembro de 1644 e aprovada pelo Parlamento em 1648. Era uma
forma presbiteriana de governo e substituiu o episcopalismo na Igreja da Inglaterra. (e)
Confissão de Fé: foi concluída em dezembro de 1646 e aprovada pelo Parlamento em março
de 1648. (d) Catecismos Maior e Breve: foram concluídos no final de 1647 e aprovados pelo
Parlamento em setembro de 1648. (e) Saltério: versão métrica dos salmos para o culto; havia
várias versões concorrentes, mas a de Francis Rous, membro do Parlamento e da Assembléia,
foi finalmente aprovada em novembro de 1645, após uma extensa revisão. Foi aprovado pelo
Parlamento no ano seguinte.

A Confissão de Fé e os Catecismos
O esboço inicial da Confissão de Fé de Wesoninster foi preparado por duas
comissões a partir de outubro de 1644, com a plena participação dos representantes
da Igreja da Escócia. O plenário da Assembléia discutiu o documento de julho de
1645 a dezembro de 1646. Alguns dos debates foram acalorados,
especialmente sobre temas como o decreto de Deus, a liberdade cristã e a liberdade
de consciência, e a liderança de Cristo. De um modo geral, houve uma notável
unanimidade entre os participantes.
No dia 26 de novembro de 1646 o texto ficou pronto, com a exceção do
prefácio e de algumas emendas. Estes foram concluídos no dia 4 de dezembro,
quando a Confissão de Fé foi apresentada à Câmara dos Comuns. Todavia, o
Parlamento exigiu a apresentação de textos bíblicos de apoio, cuja
preparação e discussão continuou até abril de 1647. Em 29 de abril, a Confissão com as
passagens bíblicas foi apresentada ás duas câmaras. A Câmara dos Comuns determinou a impressão de
600 cópias, somente para os membros do Parlamento e da Assembléia. O título era: "O humilde
conselho da Assembléia de teólogos que por autoridade do Parlamento ora está reunida em
Westminster... com respeito a uma Confissão de Fé, com a adução de citações e textos da Escritura".
A Confissão foi aprovada pelo Parlamento somente em 1648, com o seguinte título:
"Artigos de religião cristã, aprovados e sancionados por ambas as casas do Parlamento, segundo
o conselho da Assembléia de teólogos ora reunida em Westminster por autoridade do Parlamento".
O Catecismo Maior, concluído no final de 1647 e aprovado pelo Parlamento em setembro
de 1648, compõe-se de 196 perguntas e respostas distribuídas em três seções: 1' Parte: Da
finalidade do ser humano, da existência de Deus, da origem e da veracidade das Escrituras (perguntas
1-5). 2' Parte: O que o ser humano deve crer sobre Deus (perguntas 6-90). 3' Parte: O que as Escrituras
requerem do ser humano como seu dever (perguntas 91-196). O Breve Catecismo, também
concluído no final de 1647 e aprovado pelo Parlamento em setembro, de 1648, possui 107 perguntas
e respostas, sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. Inclui uma abordagem
detalhada dos Dez Mandamentos (perguntas 41-81).
Teologia da Confissão de Fé
A Confissão de Fé pode ser considerada um pequeno manual de teologia bíblica. Seus 33
capítulos abordam os temas mais importantes da teologia cristã, conforme segue: doutrina da
Escritura Sagrada (cap. 1); doutrina de Deus: seu ser e obras (caps. 2-5); doutrina do homem e da
redenção (caps. 6-9); doutrina da aplicação da salvação (caps. 10-15); doutrina da
vida cristã (calis. 16-19); doutrinado cristão na sociedade (caps. 20-24); doutrina da igreja
(caps. 25-31); doutrina das últimas coisas (caps. 32-33).
A Confissão de Fé é uma expressão da teologia agostiniana e calvinista que há mais de
um século vinha influenciando os teólogos ingleses. Especificamente, a forma da Confissão foi
influenciada pelos chamados Artigos Irlandeses, elaborados pelo bispo Ussher em 1615. Quanto
à estrutura teológica geral na qual os teólogos de Westminster agruparam suas principais
doutrinas, trata-se do sistema conhecido como Teologia Federal ou Teologia do Pacto (Pacto das
Obras e Pacto da Graça).
Como declaração da doutrina reformada e como afirmação do calvinismo do século 17, a
Confissão de Fé é um documento extremamente moderado e judicioso. O autor Wilham Beveridge
concluiu: "Devemos agradecera Deus por essa declaração sábia, completa e equilibrada de nossa fé,
que chegou até nós como uma preciosa herança da Assembléia de Westminster".
Eventos Subseqüentes
Com o auxilio dos escoceses, as forças parlamentares lideradas por Oliver Cromwell
esmagaram o rei Charles e seus exércitos. Cromwell e o exército inglês eram partidários do
congregacionalismo; assim sendo, os presbiterianos foram expulsos do Parlamento em 1648. O rei
foi decapitado na Torre de Londres em janeiro de 1649, sendo então criada a Comunidade
(Commonwealth), tendo Cromwell como Lorde Protetor da Inglaterra e da Escócia. Cromwell
morreu em 1658 e dois anos depois foi restaurada a monarquia, com Carlos 11 no trono dos dois
países. O episcopado foi restaurado, sendo aprovadas rígidas leis que impunham submissão ao
governo e ao culto da Igreja da Inglaterra. Cerca de dois mil ministros presbiterianos foram
expulsos de suas igrejas e residências.
Seguiu-se um longo período de intolerância e cerceamento. Somente no século 19 foi
organizada a Igreja Presbiteriana da Inglaterra (1876).
Na Escócia, os Padrões de Westminster foram prontamente
adotados pela Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana, substituindo os antigos
documentos que vinham desde a época de John Knox. Isso é notável se lembramos
que a Assembléia de Westminster era composta de 121 ministros puritanos ingleses e
apenas quatro ministros escoceses. Os presbiterianos escoceses agiram assim por causa
dos méritos intrínsecos dos Padrões de Westminster e em especial devido ao seu
desejo de promovera unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas.
Através da imigração e do esforço missionário dos presbiterianos escoceses, esses
padrões foram levados para a Irlanda do Norte, Estados Unidos, Canadá,
Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Brasil e muitos outros países ao redor do mundo.

Relevância Atual

A Confissão de Fé de Westminster é considerada uma das melhores e mais


equilibradas exposições da fé reformada. Suas definições doutrinárias foram
cuidadosamente elaboradas por alguns dos homens mais cultos e piedosos do
século 17. Talvez a sua linguagem e algumas de suas ênfases pareçam estranhas
à nossa mentalidade do início do século 21. Todavia, temos de reconhecer que a maior
parte das suas formulações continuam plenamente válidas pua os dias atuais.
Embora seja um documento muito importante e valioso para os reformados, ela não
está no mesmo nível da Escritura, ficando subordinada à mesma. Que essas
considerações estimulem os leitores a conhecer melhor esse documento histórico
que é parte essencial da nossa identidade presbiteriana.

Capítulo 12 ____________
o Sistema Presbiteriano
de Governo
A Igreja Presbiteriana do Brasil, como organização eclesiástica, adota um
sistema representativo de governo. É um meio termo entre o sistema de governo
episcopal, onde o governo é exercido pelo bispo, e o sistema congregacional,
onde as decisões são tomadas em assembléias ou sessões, com a participação de
todos os membros.
No sistema episcopal uma só pessoa decide e, por isso, os erros são mais
freqüentes. No sistema congregacional todos tomam parte em todas as decisões; e os
erros também são mais freqüentes, pois nem todos estão preparados para atuarem
todos os níveis de decisão. No sistema presbiteriano, os membros reunidos em
assembléia elegem os seus representantes. E estes formamos concílios, que são
assembléias formadas por pastores e presbíteros, que se reúnem para cuidar do
governo da igreja em seus respectivos níveis.
Os concílios, em ordem crescente, são: Conselho, Presbitério, Sínodo e
Supremo Concílio.

0 Governo da Igreja Local

Uma Igreja Presbiteriana "é uma comunidade constituída de crentes


professos juntamente com seus filhos e outros menores sob sua guarda". Não há
uma determinação do número mínimo de membros para a organização de uma
Igreja Presbiteriana, mas a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil
preceitua que "Uma comunidade de cristãos poderá ser organizada em Igreja, somente
quando oferecer garantias de estabilidade, não só quanto ao número de crentes
professos,
mas também quanto aos recursos pecuniários indispensáveis à manutenção regular de seus
encargos, inclusive as causas gerais e disponha de pessoas aptas para os cargos eletivos"
(Art. 5o).
O governo, a disciplina e a administração de uma Igreja Presbiteriana são exercidos pelo
Conselho, que é constituído pelo pastor — ou pastores, quando a igreja tiver mais de um
pastor— e pelos presbíteros. O Conselho é auxiliado pela Junta Diaconal, constituída pelos
diáconos. Mas todo o poder eclesiástico emana dos membros da igreja que, reunidos em
assembléia, elegem os presbíteros e os diáconos para um mandato de cinco anos. O
pastor é membro do Presbitério, e é este que o designa para o pastorado de uma igreja.
Esta designação poderá ser feita por iniciativa do próprio Presbitério ou por solicitação do
Conselho da Igreja para a qual será designado.

A Junta Diaconal cuida da ordem no templo e seus arredores e da assistência social.


Alguns atos do Conselho dependem da aprovação dos membros da Igreja, reunidos em
assembléia. Por exemplo: o Conselho só poderá "adquirir, permutar, alienar, gravar de ônus
real, dar em pagamento imóvel de propriedade da igreja e aceitar doações ou legados
onerosos ou não," mediante aprovação da assembléia.

0 Presbitério

Um grupo de igrejas de uma determina região forma o Presbitério, que é o segundo


concilio da Igreja Presbiteriana do Brasil, em ordem crescente. Toda Igreja Presbiteriana
pertence a um Presbitério. O Presbitério é uma assembléia de pastores e presbíteros. Os
pastores são membros natos do Presbitério e os presbíteros são representantes das igrejas que
o integram. Cada igreja, independentemente do número de seus membros, é
representada no Presbitério por um presbítero, eleito para isso pelo Conselho. São
necessários, no mínimo, quatro igrejas e quatro pastores para a formação de um
Presbitério. Os
Presbitérios reúnem-se, ordinariamente, pelo menos uma vez por ano; e
extraordinariamente por convocação de sua comissão executiva.
O Presbitério supervisiona o trabalho dos pastores e dos Conselhos. Suas principais
funções são: a) organizar ou constituir as igrejas locais; b) ordenar os pastores, dar-
lhes transferência para outros Presbitérios e receber por transferência os que vierem de
outros Presbitérios; 0 designar os pastores para as igrejas — por iniciativa própria ou
atendendo a solicitação dessas igrejas; d) julgar os atos dos Conselhos, podendo aproválos ou
não.
Qualquer membro da igreja poderá impetrar recursos no Presbitério contra decisão do
Conselho. Em caso de necessidade, o Presbitério poderá intervir na igreja interditando ou
dissolvendo o Conselho. No caso de dissolução do Conselho, os membros da igreja serão
oportunamente convocados para eleger novos presbíteros.
0 Sínodo
Um grupo de Presbitérios de uma determinada região forma o Sínodo, que é o terceiro
concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, em ordem crescente. Todo Presbitério pertence a
um Sínodo. São necessários, no mínimo, três Presbitérios para a organização de um
Sínodo. Os Presbitérios que integram o Sínodo elegem os pastores e os presbíteros que
vão representálos na reunião desse concilio.
Os Sínodos reúnem-se, ordinariamente, nos anos ímpares e, extraordinariamente, quando
convocados por sua comissão executiva. As principais funções de um Sínodo são: a) organizar,
constituir ou dissolver os Presbitérios; b) julgar os atos dos Presbitérios, podendo
aprová-los ou não.

0 Supremo Concílio
O Supremo Concilio, como o próprio nome indica, é o maior concilio da Igreja
Presbiteriana do Brasil. O Supremo

Concilio reúne-se, ordinariamente, quatritertalmente, nos anos pares. Sua reunião é uma
assembléia de pastores e presbíteros, eleitos por seus respectivos Presbitérios pua
representá-los nesse conclave.

As principais funções do Supremo Concilio são: a) "formular sistemas ou padrões


de doutrina e prática, quanto à fé; estabelecer regras de governo, de disciplina e de
liturgia" para a Igreja Presbiteriana do Brasil; b) organizar, constituir ou dissolver os
Sínodos; e) definir os termos de relação da Igreja Presbiteriana do Brasil com
organismos e organizações eclesiásticas, estatais, etc.; d) julgar os atos dos Sínodos,
podendo aprová-los ou não.
Se partirmos do topo para a base, podemos dizer que existe um único Supremo
Concilio da Igreja Presbiteriana do Brasil; este se divide em vários Sínodos, que, por sua
vez, se dividem em vários Presbitérios, que se dividem em várias igrejas. Para
compreender melhor esta estrutura, lembremo-nos de que o Brasil está dividido em
estados, que por sua vez se dividem em vários municípios, que por sua vez se dividem em
distritos. Podemos, então, dizer que as igrejas correspondem aos distritos; os
Presbitérios, aos municípios; os Sínodos aos estados e o Supremo Concilio ao país –
Brasil.
Cada concilio cuida de assuntos de sua competência e supervisiona, orienta,
inspeciona e disciplina o concílio imediatamente inferior. Um concilio não poderá
determinar a maneira do concilio imediatamente inferior agir em nenhuma matéria de
sua exclusiva competência. Mas poderá fazê-lo retroceder, retomar ou anular qualquer
deliberação que fira algum princípio doutrinário ou constitucional da Igreja
Presbiteriana do Brasil. Por exemplo: a admissão de membros da Igreja é assunto de
competência exclusiva do Conselho. Portanto, o Presbitério –que é o concílio
imediatamente superior ao Conselho – não poderá determinar ao Conselho que receba ou
deixe de receber alguma pessoa como membro da Igreja;

mas pode fazer o Conselho retroceder, reformar ou até anular uma recepção de membro,
caso essa fira algum princípio doutrinário ou constitucional da Igreja Presbiteriana do
Brasil.
D e t o da r e un i ão de u m c on c íl io l av ra - s e at a pormenorizada, que
periodicamente é submetida à apreciação do concilio imediatamente superior. Isto é, as
atas do Conselho são submetidas ao Presbitério; as do Presbitério, ao Sínodo; e as do
Sínodo, ao Supremo Concilio. Através do exame das atas, o concilio verifica se o concílio
imediatamente inferior está agindo dentro das normas da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Disciplina de Membros e de Concílios


Os concílios exercem funções administrativas e judiciárias. Os membros da igreja
e os oficiais estão sujeitos à disciplina, aplicada pelo Conselho. "Toda disciplina visa
edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, erros ou faltas, promover a honra de
Deus, a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e o próprio bem dos culpados".' As penas
podem ser: admoestação, que consiste em chamar à ordem o culpado, verbalmente
ou por escrito, de modo reservado, exortando-o a corrigir-se; afastamento da
comunhão, que consiste no impedimento de participar da Santa Ceia, das assembléias e
de exercer qualquer atividade na igreja; exclusão, que consiste na eliminação do membro
do rol da igreja. Os pastores estão sujeitos à disciplina, aplicada pelo Presbitério.
O Conselho e o Presbitério, quando vão tratar de disciplina de seus membros,
transformam-se em tribunais. A pessoa denunciada tem total liberdade para se
defender; e se for disciplinada e julgar a disciplina injusta, poderá recorrer ao concílio
imediatamente superior, pedindo reforma ou anulação de sua disciplina. Se o recurso for
encaminhado ao Presbitério, este se reunirá em tribunal parajulgâ-lo. O Sínodo e o
Supremo Concílio têm o seu tribunal de recursos, cuja função é julgar em nível de recurso
os processos de disciplina que subirem a eles.

Os concílios também podem sofrer disciplina quando agem fora das normas
da Igreja Presbiteriana do Brasil. As penas dos concílios podem ser: a) repreensão,
que consiste na reprovação formal de faltas ou irregularidades com ordem
terminante de serem corrigidas; h) interdição, que consiste na privação temporária das
atividades do Concilio; e c) dissolução, que extingue o concílio.2
Para se orientar no governo e na disciplina, os concílios têm a Constituição, o
Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil. A
Constituição traz as normas administrativas; o Código de Disciplina, as normas para
disciplina eclesiástica dos membros da igreja, dos pastores e dos concílios; e os
Princípios de Liturgia, as normas para o culto, a ministração dos sacramentos
e das cerimônias eclesiásticas. Compete a cada concilio observar essas normas
em seus próprios atos e verificar se elas estão sendo observadas pelos concílios
que estão sob sua jurisdição.

Conclusão
O conjunto de normas eclesiásticas da Igreja Presbiteriana do Brasil foi concebido
para ser o mais eficiente e o mais eficaz sistema de governo eclesiástico. Mas os efeitos
práticos vão depender da conduta dos que elegem e dos que exercem o poder.
Se os membros da igreja, reunidos em assembléia, elegerem para o presbiterato
as pessoas com as melhores qualificações para exercer este ofício, a igreja terá um
Conselho piedoso, temente a Deus, competente, dedicado e operoso. Se o Conselho
escolher o presbítero mais bem qualificado para representa-lo no Presbitério, este
concílio exercerá suas funções com abnegação e devotamente. Se os Presbitérios
escolherem para representá-los nos Sínodos os pastores e presbíteros com as
melhores condições para isto, os Sínodos cumprirão suas atribuições com competência
e honradez. Se ao escolher seus representantes à reunião do Supremo Concilio, os
Presbitérios

elegerem os pastores e presbíteros com a melhor competência para isto, este concilio será
sensível â vontade de Deus, operoso, denodado, laborioso, empreendedor e produtivo.

Capítulo 13 ____________
Escritura Sagrada:
Palavra de Deus
Cremos que a Escritura Sagrada e Palavra de Deus e a única regra de fé e prática
do verdadeiro cristão. Nossa Confissão de Fé afirma que -o Juiz Supremo, pelo qual
todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos
os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de
homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar,
não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura".]

A Escritura Sagrada é uma coleção de 66 livros. Divide-se em duas partes: Antigo


Testamento, com 39 livros; e Novo Testamento, com 27. A palavra testamento vem do latim, e
seu significado original é acordo, aliança, pacto. E é neste sentido que ela é usada para dar
nome às duas partes da Escritura Sagrada. O Antigo Testamento é assim chamado porque é
formado pelos livros que registram o antigo pacto feito por Deus com seu povo. Esse pacto
foi feito com Abraão, pai do povo israelita, e ratificado por meio de Moisés, no monte Sinai,
quando foi dada a Lei. O Novo Testamento recebe este nome porque é formado pelo
conjunto dos livros que registram a nova aliança que Deus fez com o seu povo, por meio
de Jesus Cristo. No antigo pacto, o povo de Deus era formado pelos israelitas. Na nova
aliança é constituído por todos aqueles que crêem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor.

conhecimento do seu plano de salvação, se o próprio Criador não tomasse a iniciativa de


se revelar â criatura. Felizmente, Deus tomou a iniciativa de se revelar ao homem. Esta
revelação é um ato "consciente, voluntário e intencional por meio do qual o mesmo Deus
revela ou comunica ao homem a verdade referente a si mesmo em relação com suas
criaturas" 2

Deus se revela at ravés das obras da criação e da providência, na


preservação e no governo do universo. Davi escreveu que "os céus proclamam a
glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (Si 19.1). E o
apóstolo Paulo, falando aos habitantes de Listra, afirmou que Deus "não se deixou
ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando do céu chuvas e estações
frutíferas" (At 14.17). E na Epístola aos Romanos ele tratou do mesmo assunto
de modo ainda mais claro, afirmando: "Porque os atributos invisíveis de Deus,
assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que
foram criadas" (Rm 1.20). "Deus fala ao homem através de toda a sua criação,
nas forças e nos poderes da natureza, na constituição da mente humana, na voz da
consciência, e no governo providencial do mundo em geral e das vidas dos
indivíduos em particulm". 2 Esta revelação é chamada de revelação geral, por
ser dirigida a todos os homens. Ela é suficiente para deixar os homens
indesculpáveis diante de Deus; mas é insuficiente para a salvação. Toda a criação foi
atingida pelo pecado. Tomou-se imperfeita. Como instrumento da auto-revela ção de
Deus e la deve s er consider ada um livr o incompleto, com algumas páginas
rasuradas. O homem também foi atingido. Espiritualmente ele ficou ignorante e
embrutecido como um irracional. E assim ficou impossível compreender corretamente o
que Deus nos fala através da natureza.

Mas o plano eterno de Deus inclui também a revelação especial, que temo objetivo de
levar o pecador de volta ao Criador. O autor da Epístola aos Hebreus escreveu sobre esta
revelação especial o seguinte: "Havendo Deus, outrora, falado

muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos
falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o
universo" (Hb 1.1,2). Deus falou. Falou através de manifestações especiais. Falou diretamente
a alguns de seus servos, como, por exemplo, a Moisés. Falou através dos profetas. Falou
através de milagres.

A revelação especial é progressiva, atingindo o seu ápice em Jesus Cristo. "As


grandes verdades da redenção aparecem a princípio apenas obscuramente, mas
aumentam gradualmente em clareza, e finalmente se destacam em toda a sua
grandeza na revelação do Novo Testamento" .4

A Inspiração
Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras. "E depois, para melhor
preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto
da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente
servido fazê-la escrever tal E assim surgiu a Escritura Sagrada, livro inspirado
pelo Espírito Santo.
Quando falamos em inspiração da Escritura, estamos afirmando que Deus
levantou homens e os fez registrar, sem erro, a sua revelação especial. Esses
homens, sob inspiração divina, escreveram os livros que compõem a Escritura
Sagrada. "... jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto,
homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe
1.21). "Toda Escritura é inspirada por Deus" (2 Tm 3.16).

Os escritores dos livros da Bíblia Sagrada escreveram sob inspiração divina.


Escreveram por determinação divina. Alguns autores registraram ter recebido
ordem direta de Deus para escrever (Êx 17.14; 34.27; Nm 33.2; Is 30.8; Ir 30.2; 36.2).
Outros, certamente, sentiram-se impulsionados a escrever. Era Deus agindo em suas
mentes e corações. Mas não devemos imaginar que Deus ia ditando e eles
escrevendo. Eles não foram meros estribas. Pelo contrário, Deus os usou precisamente
como

eles eram. Deus, certamente, guiou-os na escolha das palavras, na construção das frases, para
que os fatos e as idéias fossem corretamente registrados. Mas cada um escreveu usando o seu
próprio vocabulário e de acordo com o seu próprio estilo. Por isto, cada livro, embora
inspirado por Deus, traz a marca pessoal de seu autor e as marcas do tempo em que ele vivia.

Os livros da Escritora foram escritos por, no mínimo, 36 autores, num período que
pode chegara 1.600 anos. Mas existe uma extraordinária harmonia em todas as suas
partes. Milhões de pessoas têm sido transformadas através da leitura da
Escritura. E cada crente, ao lera Escritura, sente Deus falando com ele. Tudo isto é
evidência de que a Escritura Sagrada é realmente inspirada por Deus. Mas a plena
convicção desta inspiração divina é questão de fé, e não de prova científica. Por isto,
só a operação do Espírito Santo em nós e que nos dá a convicção de que a
Escritura é realmente a Palavra de Deus.

A divisão em capítulos e versículos foi feita bem mais tarde. Odayr Olivetti
explica como e quando ocorreu esta divisão: "Não foi trabalho de uma só pessoa
ou equipe. Os massoretas (especialistas judeus que produziram um complexo e
utífissimo, sistema de sinais vocálicos e outros sinais para a preservação da língua
hebraica – puramente consonantal –) fizeram também a divisão do Velho Testamento
em versículos, no século nono da era cristã. Entretanto, alguns atribuem ao
cardeal Hugo de São Caro, e outros atribuem a Stephen Langton, arcebispo de
Cantuária, Inglaterra, a divisão da Bíblia em capítulos, no século 13. Essa divisão
foi aplicada à Vulgata, e, por volta de 1440, foi aplicada à Bíblia Hebraica pelo rabino
Nathan. A divisão em versículos apareceu pela primeira vez na Vulgata em 1555,
trabalho de Robert Stephen, em Gênova. Em 1551 Robert Stephen tinha lançado
em Gênova uma edição do Novo Testamento grego. A primeira Bíblia inglesa,
com divisão em capítulos e versículos, foi publicada em Gênova, em 1560".°

A Bíblia editada sob a chancela da Igreja Católica tem


sete livros a mais do que a Bíblia editada pelos evangélicos. Até o início do século 16 não
havia uma definição oficial sobre a situação desses livros. Alguns os aceitavam como
inspirados; outros, não. Mas no dia 15 de abril de 1546, o Concilio de Tremo anexou-
os, por decreto, â Bíblia. Os evangélicos chamam esses livros de apócrifos e não
os aceitam como inspirados por Deus.

Os livros apócrifos, comparados com os livros inspirados, revelam uma grande


pobreza de estilo e conteúdo. Além disso, ensinam doutrinas e práticas que se
contradizem com os livros inspirados. Por exemplo: justificam a mentira (Judite
10.1117; 11.1-23; 15.8-10) e o suicídio (2 Macabeus 14.37-46); ensinam
feitiçaria (Tobias 6.1-9) e oração pelos mortos (2 Macabeus 12.38-45). Uma
simples leitura é suficiente para nos mostrar que eles não são inspirados por Deus.

A revelação especial está registrada na Escritura Sagrada. Através dela Deus nos
diz quem ele é, quem somos nós, de onde viemos e para onde vamos, e seu plano
geral para a nossa vida. No passado Deus falou a Moisés "boca a boca" (Nm 12.8).
Hoje Deus nos fala através da Escritura Sagrada.

A Iluminação

Tudo que precisamos saber para a nossa salvação e para uma vida correta,
justa, em comunhão com Deus, está registrado na Escritura Sagrada. Mas "o homem
natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2.14). Isto
significa que o homem, apenas com os seus recursos naturais, sem a assistência
do Espírito Santo, não pode c o mp r e e n d e r a E s c r i t u r a S a g r a da . E l a s ó
p o d e r á s e r compreendida com a iluminação do Espírito Santo. Quando falamos
em iluminação, estamos nos referindo à atuação de Deus na mente e no coração
do homem, através do Espírito Santo, capacitando-o pua compreender o ensino da
Escritura Sagrada.
A Confissão de Fé de Westminster ensina que "Todo o conselho de Deus,
concernente a todas as cousas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé
e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e
claramente deduzido dela." Mas acrescenta: "... reconhecemos, entretanto, ser
necessária a íntima iluminação do Espírito Santo para a salvadora compreensão
das cousas reveladas na palavra".'

No registro da conversão de Lídia temos um exemplo de iluminação. Muitas


mulheres ouviram a pregação, mas apenas Lídia se converteu. E ela só se converteu
porque "O Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia" (At
16.14). O Espírito Santo iluminou a mente e abriu o coração de Lídia, levando-a a
compreender e a aceitara mensagem que estava sendo pregada.

A iluminação, contudo, não dispensa o esforço sério e piedoso para


compreendermos corretamente a palavra de Deus. A Escritura Sagrada deve ser
examinada com seriedade e interpretada com fidelidade. "A regra infalível de
interpretação da Escritura é a própria Escritura. Portanto, quando houver
questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura – o
qual não é múltiplo, mas único – esse texto pode ser estudado e compreendido
por outros textos que falem mais claramente'."

Conclusão
Deus tomou a iniciativa de se revelara nós. Através de uma revelação
especial ele nos deu a conhecer o seu plano para a nossa vida e o modo como
devemos viver e servi-lo. Ele também inspirou homens para registrar, sem erro,
a sua revelação especial. E pela iluminação, através da atuação do E sp ír it o
S a nt o e m no ss a s me n t es, el e no s c ap ac i ta a compreendera sua revelação
especial, registrada na Escritura.
A Bíblia Sagrada é a nossa única regra de fé e prática. Por isso devemos examiná-la continuamente.
E o estudo deve ser seguido da prática. Pois viver o ensino bíblico resulta em crescimento
espiritual. Não que a Bíblia seja um livro mágico; mas, sendo ela a Palavra de Deus, somos
aperfeiçoados na medida de nossa prontidão em responder aos apelos que ele nos faz
através da sua Palavra.

Capítulo 14 ___________
Deus Pai
e a Trindade
A Escritura Sagrada afuroa: "Ninguémjamais viu a Deus' (Jo 1.18). Se ninguém
jamais viu a Deus, como podemos conhecê-lo? Devemos saber, inicialmente, que a
visão não é o único instrumento de que dispomos para conhecer alguém ou algo.
Ninguém jamais viu a dor, nem a saudade, nem o amor. Mas não há dúvida de sua
existência. Não é possível vê-los com os olhos, mas há outros meios através dos quais
podemos tomar conhecimento da dor, da saudade e do amor. No caso do Criador, se o
próprio Deus não tivesse tomado a iniciativa de se revelar, ninguém jamais o
conheceria. Mas, felizmente, ele se revelou "através de toda a sua criação, nas
forças e nos poderes da natureza, na constituição da mente humana, na voz da
consciência, e no governo providencial do mundo em geral e das vidas dos indivíduos
em particular".' Deus também falou "muitas vezes e de muitas maneiras" (Hb 1. 1). E
hoje ele nos fala através da Escritura Sagrada.

Mas, quem é Deus? Não é possível definir Deus. A mente humana, embora
prodigiosa, não dispõe de recursos para captar toda a grandeza do Criador. O máximo
que podemos fazer é descrever Deus a partir do que ele nos revela na Escritura
Sagrada.

A Trindade
A Escritura Sagrada ensina que há um só Deus, mas ele subsiste em três
pessoas. Em Deuteronômio 6.4 está escrito: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é
o único SENHOR". E em Isaías 44.6 o próprio Deus declara: "Eu sou o primeiro e eu sou

o último, e além de mim não h á Deus". Paralelamente às afirmações da existência de


um único Deus, a Escritura afirma que Jesus também é Deus: "No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Jo 1.1). O Verbo é Jesus Cristo. A Escritura
ensina que o Espírito Santo também é Deus. Quando Ananias mentiu a respeito da venda de sua
propriedade, Pedro o repreendeu, dizendo: "Autorias, por que encheu Satanás teu coração,
para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? (...) ) Não
mentiste aos homens, mas a Deus" (At 5.3,4). Mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, prova
de que o Espírito Santo é Deus. O Pai é Deus; o Filho é Deus; o Espírito Santo é Deus.
Três pessoas, um só Deus. Uma trindade ou irm andade. A palavra Trindade não está na
Bíblia; mas é inegável que a Escritura ensina que existe um único Deus, que subsiste em três
pessoas: Pai, Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo.

A doutrinada Trindade é um mistério. Está além da nossa compreensão. Mas


podemos descrevê-la, conforme é ensinada na Escritura. Em síntese, a doutrina
pode ser descrita assim: existe um só Deus; Deus subsiste em três pessoas distintas:
Pai, Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo; cada pessoa da Trindade é Deus completo, e
não parte de Deus; as três pessoas da Trindade são iguais em poder e glória.

No registro do batismo de Jesus as três pessoas da Trindade aparecem,


distintamente. O Pai se manifesta do céu, dizendo: "Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo" (Mt 3.17). O Filho estava sendo batizado. E o Espírito Santo
desceu sobre ele "como pomba" (Mt 3.16).

Q u a n d o p e n s a m o s e m D e u s , s o m o s t e n t a d o s a estabelecer, em nossa
mente, uma hierarquia da Divindade, colocando em primeiro lugar Deus Pai, depois
Deus Filho e, em terceiro lugar, Deus Espírito Santo. Mas "as Escrituras revelam
que o Filho e o Espírito Santo são Deus igualmente com o Pai, atribuindo-lhes os
mesmos nomes, atributos, obras e culto que só a Deus pertencem".' E ensina também
que "estas
três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e
glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais".'
O teólogo Heber Carlos de Campos afirma que esta doutrina é de grande
importância para o cristão. Em seu livro O Ser de Deus e Seus Atributos,4 este pensador
apresenta dois argumentos muito interessantes: 1) Se Deus não é uma
triunidade, Jesus não seria Deus, logo "ele não poderia morrer pelos pecados de
muitos. Seria apenas um homem substituindo um homem. Os demais seriam
castigados pelos seus pecados", 2) Se Deus não é uma trímidade, Jesus seria
apenas homem e Deus teria cometido uma injustiça ao ordenar que ele morresse
por outros homens. Todavia, como Jesus é Deus, não houve injustiça, pois foi
"o próprio Ser divino, na pessoa do Filho, que assumiu as nossas penas". Ele
acrescenta: "Não obstante as funções diferentes do Pai e do Filho na economia da
salvação, eles são essencialmente o mesmo Deus, possuindo a mesma natureza, a
divina".

Os Nomes de Deus
A Escritura registra alguns nomes de Deus. E tais nomes são instrumentos
da providência divina para nos revelar qualidades, atributos e modo de agir
do nosso Criador. Eles devem ser estudados e compreendidos à luz dos costumes
da época em que foram escritos.

Hoje os nomes das pessoas têm pouca importância. Se alguém se chama José, João ou
Joaquim, não faz diferença. Mas na época em que a Bíblia foi escrita era diferente. O nome
era uma descrição da pessoa, ou de alguma circunstância ligada a ela ou da expectativa em
relação a ela. Por isso, quando uma pessoa passava por uma mudança significativa em sua
vida ou em seu caráter, também podia ter o seu nome mudado. Veja, por exemplo, o
caso de Jacó. Ele era um enganador astucioso. Era exatamente isso o que significava o seu
nome (Ou 27.36). Mas ele passou por uma

um enganador. E o seu nome foi mudado para Israel (Gn 32.28; 35.10). No Novo Testamento
temos o caso de Pedro. Ele se chamava Simão, mas Jesus lhe deu o nome de Pedro (Cefas,
em aramaico), antecipando assim que ele passaria por uma grande mudança e ocuparia
um lugar de destaque entre os apóstolos. Assim também os nomes ou títulos atribuídos a
Deus na Escritura Sagrada. Vejamos alguns desses nomes, as circunstâncias ou
situações em que aparecem e o que eles nos revelam sobre Deus.

a) Deus – o primeiro versículo da Bíblia Sagrada diz que "no princípio criou Deus
os céus e a terra" (Gn 1.1). O nome Deus (Elohim, em hebraico, plural de Eloah),
descreve o Criador como um ser forte e poderoso, que deve ser temido e cultuado.
"0 plural deve ser considerado como intensivo e, portanto, serve para indicar plenitude
de poder".5

h) Deus Altíssinu, – quando Melquisedeque abençoou a Abraão (Gn 14.18-20),


ele o fez em nome do Deus Altíssimo (Elyon, em hebraico). Esse nome descreve Deus
como um ser supremo, que está acima das divindades locais.
c) Deus Todo-Poderoso – a Abraão (Gn 17.1) Deus se apresentou como o Deus
Todo-Poderoso (El-Shac/dai, em hebraico). Esse nome descreve Deus como um ser
poderoso, que tem poder no céu e na terra; o sustentador, nutridor, aquele que é
capaz de satisfazer.
d) SENHOR — Deus apareceu a Moisés, no monte Horebe, e lhe disse: "Vem, agora, e eu
te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito" (Êx 3.10).
Disse Moisés a Deus: "Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus
de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes
direi? Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de
Israel: EU SOU me enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos
filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Iraque e o Deus
de Jacó, me enviou a vós outros; este e o meu

nome" (Êx 3.13-15). O nome SENHOR (com todas as letras em caixa alta, Yahweh em
hebraico) significa 'Tu Sou o que Sou". Através dele Deus se revela como o Deus da graça, que
sempre existiu e sempre existirá, que não fica velho, não muda, é eternamente o mesmo.
e) Senhor – quando convocou o povo para atravessar o Jordão e entrar
na terra prometida, Josué lhes disse: "Tomai, pois, agora, doze homens das tribos
de Israel, um de cada tribo; porque há de acontecer que, assim que as plantas dos pés
dos sacerdotes que levam a arca do SENHOR, o Senhor de toda a terra, pousem
nas águas do Jordão, serão elas cortadas, a saber, as que vêm de cima, e se
amontoarão" Qs 3.12,13). O nome Senhor (com a inicial maiúscula e as demais letras
minúsculas, Adonai em hebraico) descreve Deus como o dono e o governador de
todos os homens.

Deus (Elohim), Deus Altíssimo (Elyon), Deus Todo-Poderoso (EI-Shaddai),


SENHOR (Yahweh) e Senhor (Adonai) são nomes ou títulos do Criador, registrados
na Escritura Sagrada. Eles são meios usados por Deus para nos revelar quem ele é.
Através deles sabemos que Deus é um ser supremo, forte e poderoso, tem todo o
poder no céu e na terra, é o dono e o governador de todos os homens. Mas ele é
também o Deus da graça, sustentados, nutridor, capaz de satisfazer todas as nossas
necessidades. Ele sempre existiu e sempre existirá. Ele não fica velho, não muda, não
sofre variação, é eternamente o mesmo.

Os Atributos de Deus
Os atributos são propriedades ou qualidades de Deus, mencionadas na Escritura
Sagrada, ou deduzidas de seus atos. Como Deus é perfeito, seus atributos são
chamados também de perfeições divinas.
Os atributos que só Deus possui, como, por exemplo, a imutabilidade, são
chamados de atributos incomunicáveis. São assim denominados para caracterizar
que eles não foram concedidos aos homens. Aqueles que os homens também

possuem, como, por exemplo, o amor, são chamados de atributos comunicáveis. A


diferença é que as qualidades humanas são imperfeitas e os atributos de Deus são perfeitos.
a) Atributos incomunicáveis - a auto-existência ou independência é um
atributo incomunicável de Deus (Êx 3.13,14; Jo 5.26; At 17.25). Deus não
depende de nada e nem de ninguém para existir ou agir. Um outro atributo
é a eternidade (SI 90.2; 102.12; 2 Pe 3.8). Deus sempre existiu e sempre existirá, ele
não está limitado pelo tempo. Outro atributo incomunicável é a imensidade ou
onipresença (1 Rs 8.27; SI 139.7-10; Is 66.1). Deus não está limitado pelo espaço, ele
está presente ao mesmo tempo em todos os lugares. Outro atributo é a
imutabilidade (MI 3.6; Tg 1.17). Deus não muda em seu ser, em sua essência, em
seus atos, nem em seus propósitos. Quando a Bíblia diz ou dá a entender que
Deus mudou, na realidade a situação é que mudou. A linguagem usada é a do
observador, como, por exemplo, quando alguém afirma que o sol saiu a tal hora,
dando a idéia de que o sol se movimenta, quando a terra é que se move.
b) Atributos comunicáveis - a bondade é um atributo comunicável de Deus (SI
145.9,15,16; Jo 3.16,17; Ef 2.1-9; 1 Jo 4.7-10). O homem também recebeu do
Criador esta qualidade. Mas a bondade de Deus é diferente da bondade
humana. Deus é absolutamente bom. Ele trata benévola e generosamente todas as suas
criaturas. Esta bondade, em relação às criaturas racionais, chama-se amor. "Deus
é
amor" (1 Jo 4.8). Por causa do pecado, o homem perdeu o direito de ser amado
por Deus, mas o Criador continua a nos amar. Deus é misericordioso, por isto ele
tem compaixão de nós. Ele é longânimo, por isto nos tolera. A santidade é outro
atributo comunicável (Êx 15.11; 1 Sm 2.2; Is 6.3; He 1.13; Ap 4.8). Deus é
perfeitamente puro em sua pessoa e em seus atos e, conseqüentemente, ele é
contra toda e qualquer forma de impureza. Um outro atributo comunicável

o mundo com justiça, recompensa todos os atos dos homens e pune os seus erros. A
soberania também é um atributo comunicável (SI 115.3; Mt 10.29). Deus "faz todas as
cousas conforme o conselho da sua vontade" (Ef 1.1I).
A grande ênfase doutrinária da Igreja Presbiteriana é a soberania de Deus em todas
as coisas. Nós cremos que Deus é absolutamente soberano em tudo. Nossa Confissão
de Fé afirma: -Deus tem, em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade, e
bem-aventurança. Ele é todo-suficiente em sie para si, pois não precisa das criaturas
que trouxe à existência; não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua
glória nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo ser; dele,
por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer
com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiscr"6

É importante conhecera Deus através do estudo da sua auto-revelação registrada


na Escritura Sagrada. Mas, além desse c o n h e c i m e n t o t e ó r i c o , p r e c i s a m o s
t a m b é m d e u m conhecimento espiritual. E tal conhecimento só se adqui re
através de uma vida de comunhão com ele. "Só conhecemos verdadeiramente a Deus
em nossa alma, quando nos rendemos a Ele, quando nos submetemos à Sua
autoridade e quando os Seus preceitos e mandamentos regulam todos os
pormenores da nossa vida".'

Conclusão

Zofar perguntou a Jô: "Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou


penetrarás até à perfeição do TodoPoderosoT' (Já 11.7). Realmente o homem
não tem condições de desvendar os arcanos de Deus. E quando tentamos
compreender racionalmente muitos atos de Deus, registrados na Escritura Sagrada,
percebemos que eles estão além de nossa compreensão. Estamos mergulhados nas
limitações da natureza humana, por isto não podemos compreender Deus, nem seus
atos. Contudo, aquilo que é necessário para a nossa salvação e
para a nossa vida em comunhão com Deus, ele nos revelou e está registrado na Escritura
Sagrada, com tanta clareza que qualquer pessoa, culta ou não, no uso de suas
faculdades mentais, pode compreender.
Capítulo 15 _________
Jesus Cristo,
Deus Alho
A Escritura Sagrada ensina que há um só Deus, que subsiste em três pessoas
distintas: Pai, Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo. Cada pessoa da Trindade é Deus
completo, e não parte de Deus; e as três pessoas da Trindade são iguais em poder e glória.
Jesus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, é – ao mesmo tempo –
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Este é um mistério que está além de
nossa compreensão. Mas as duas naturezas de Cristo aparecem claramente na Bíblia Sagrada.
Jesus, como Deus, sempre existiu. "No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Jo 1.1). Jesus, como homem,
tem uma história, com início, meio
e fim. "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho" (GI 4.4). No tempo
próprio, na hora certa, "o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade" (Jo 1.14).

Humanidade e Divindade de Jesus

Mateus inicia a narração do nascimento de Jesus com as seguintes palavras: "Ora, o


nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que
tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo" (MIL 1.18). A palavra desposada
descreve a situação conjugal de Maria quando ficou grávida. O casamento entre os judeus
tinha três etapas. A primeira era o compromisso, geralmente feito pelos pais, às vezes até
sem o conhecimento do casal. A segunda etapa era o desposório,

nosso casamento civil. Quando o rapaz e a moça estavam na idade própria para o
casamento — moças a partir de doze anos e meio, e rapazes a partir de dezoito — fazia-se o
desposório. A partir daí o rapaz e a moça eram considerados marido e esposa, mas ainda
continuavam vivendo separados, cada um na casa de seus pais.A seguir vinham as bodas,
a terceira etapa. Esta era uma grande festa, geralmente feita na casa do noivo. A partir
daí, os dois passavam a viver como marido e esposa. Maria estava desposada com José
quando ficou grávida. E ele "sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la
secretamente. Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um
anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque
o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de
Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. Despertado José do sono, fez como
lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto
ela não deu â luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus" (Mt 1.19-21, 24-25). A ordem em
dupla: José devia levar Maria para sua casa e assumir a paternidade legal da criança que
estava para nascer. A ordem para dar nome ao menino implicava em assumir a paternidade
legal de Jesus, pois só o pai podia dar nome a uma criança.

"Os evangelhos de Mateus e de Lucas contam com detalhes como o Filho de Deus
veio ao mundo. Ele nasceu fora de um pequeno hotel, em uma obscura aldeia da Judéia,
nos grandes dias do Império Romano. A história é geralmente embelezaria quando a
contamos Natal após Natal, mas na realidade ela é rude e cruel. A razão de Jesus ter
nascido fora do hotel é que este estava cheio e ninguém ofereceu uma cama para a mulher
que estava para dar à luz, de modo que ela teve seu nenê no estábulo e o deitou em
uma manjedoura".'

No plano de Deus para a nossa salvação, o Salvador devia ser verdadeiro Deus e
verdadeiro homem. "Desde que o

alma, sofrimento somente cabível ao homem. Era necessário que Cristo assumisse a
natureza humana, não somente com todas as suas propriedades essenciais, mas também
com todas as debilidades a que está sujeita, depois da queda, e, assim, devia descer às
profundezas da degradação em que o homem tinha caído. Ao mesmo tempo, era preciso que
fosse um homem sem pecado, pois um homem que fosse, ele próprio, pecador e que
estivesse privado da sua própria vida, certamente não poderia fazer expiação por outro.
No plano divino de salvação era (também) absolutamente necessário que o Mediador fosse
verdadeiro Deus. Era necessário que (1) Ele pudesse apresentar um sacrifício de valor infinito
e prestar perfeita obediência à lei de Deus; (2) Ele pudesse sofrera ira de Deus
redentoramente, isto é, para livrar outros da maldição da lei; e (3) Ele pudesse aplicar os
frutos da Sua obra consumada aos que O aceitassem pela fé"'

Humilhação e Exaltação de Cristo


Ao tatuar-se homem, Jesus "a si mesmo se esvaziou... a si mesmo se humilhou,
tomando-se obediente até à morte, e morte de cruz" (Fp 2.7,8). A humilhação de Cristo
teve cinco estágios: (1) encarnação; (2) sofrimento; (3) morte; (4) sepultamento e (5)
descida ao Hades.
Foi grande humilhação para a Segunda Pessoa da Trindade encamar, assumir a natureza
humana, "enfraquecida e sujeita ao sofrimento e à morte, embora isentada mancha do
pecado".'

A vida terrena de Jesus foi uma vida de sofrimento. Ele, Senhor, se fez servo; não
tinha pecado, mas tinha que viver o dia-a-dia com pecadores; era absolutamente santo, e
tinha que viver num mundo dominado pelo pecado. "Ele sofreu com as repetidas
investidas de Satanás, com o ódio e a incredulidade do Seu povo, e com a perseguição
dos Seus inimigos. Visto que Ele pisou sozinho o lagar, a Sua solidão só tinha que ser
deprimente e o Seu senso de

Ele viveu na terra, mas especialmente no fim da Sua vida, Ele suportou, no corpo e na
alma, a ira de Deus contra o pecado de toda a raça humana"'
O ponto culminante do sofrimento de Jesus foi a sua morte. Elejamais
pecou, mas teve que pagar o salário do pecado. Ele foi submetido a um julgamento
injusto. Foi torturado e crucificado entre dois ladrões. A crucificação era reservada aos
piores bandidos; e o pior deles ocupava a cruz do centro. Os algozes de Jesus
certamente intentaram ligara sua imagem aos ladrões, que eram as pessoas mais
odiadas e desprezadas daquela época. Além de todo o sofrimento físico e moral, Jesus
sofreu também a ira do Pai contra o pecado que estava sobre a raça humana, o que
o levou a clamar: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46).

O sepultamento foi outro estágio da humilhação de Cristo. O sepultamento era


um instrumento para simbolizar a humilhação do pecador, era voltar ao pó.
O último estágio da humilhação de Jesus foi sua descida ao Hades. Hades é
uma palavra que pode ser traduzida como sepultura, inferno ou mundo dos mortos.
A descida de Jesus ao Hades tem sido interpretada de várias formas. Louis Berkhof,
grande teólogo, afirma que "parece melhor combinar dois pensamentos: (a) que Cristo
sofreu as angústias do inferno antes da Sua morte, no Getsêmani e na cruz; e (b) que
Ele adentrou a mais profunda humilhação do estado de morte".'

Tudo isto aconteceu porque "ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as


nossas dores levou sobre si... ele foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53.4,5).
Mas Deus o exaltou. E a exaltação de Cristo tem quatro estágios: (1)
ressurreição; (2) ascensão; (3) sessão â destra do Pai e, (4) regresso físico para
julgar vivos e mortos.
A ressurreição de Jesus não foi uma simples volta à vida. Isto já havia acontecido
com Lázaro, com o filho da viúva da

aldeia de Naim e com a filha de Jairo. E iria acontecer com outras pessoas. A
ressurreição de Jesus significa que a sua natureza humana foi restaurada à sua
pureza, força e perfeição originais. O corpo ressuscitado não estava mais sujeito
às limitações de antes – era um corpo glorificado, perfeito instrumento da
alma. Além disso, sua ressurreição equivale a uma declaração do Pai de que todas
as exigências da lei tinham sido cumpridas.

Jesus ressuscitou e voltou para o Pai. "Na ascensão, vemos Cristo como o
nosso grande Sumo Sacerdote entrando no santuário interior para apresentar ao Pai
Seu sacrifício consumado".'
Voltando ao céu, Jesus foi entronizado à direita do Pai. "Naturalmente, a
expressão 'mão direita de Deus' não pode ser tomada no sentido literal, mas deve
ser tomada como uma indicação figurativa do lugar poder e glória. Que Cristo está
assentado à mão direita do Pai significa que as rédeas do governo da Igreja e
do universo Lhe estão confiadas, e que Ele foi feito participante da glória
correspondente a isto. É a Sua investidura pública como Deus-Homem"'

Mas o estágio mais avançado da exaltação de Cristo será a sua volta gloriosa na
condição de Juiz. Jesus "está no fim da estrada da vida de todas as pessoas, sem
exceção. 'Prepara-te, 6 Israel, para te encontrares com o teu Deus' (Am 4.12) foi a
mensagem de Amós a Israel. 'Prepara-te para te encontrares com Jesus
ressuscitado' é a mensagem de Deus hoje ao mundo (At 17.31). E podemos ter a
certeza de que aquele que é verdadeiro Deus e homem perfeito será um juiz
perfeitamente justo".' Ele julgará vivos e mortos. Os ímpios serão condenados ao
sofrimento et erno; e os redimidos entrarão na bem -aventurança eterna. E
assim estará consumada sua obra redentora.

Os Ofícios de Cristo
Na execução de sua obra, Jesus funcionou – e ainda

funciona — como profeta, sacerdote e rei. Como profeta, ele é o representante de Deus junto
aos homens. Como sacerdote, ele representa os homens perante Deus. Como rei, ele
exerce domínio sobre o homem e sobre o universo.
Os ofícios de Cristo não podem ser confundidos com cargos. Cargo é uma função
exercida por uma pessoa, por delegação ou por imposição. "Ofício é, antes de tudo,
uma dignidade, um ministério, uma missão, todos em grau acima do comum. É um
mandato com confiança e autoridade. O seu desempenho é um serviço e não uma
obrigação tabelada. (...) O ofício é contínuo, é um estado". 10

"Cristo exerce o ofício de profeta, revelando-nos, pela sua Palavra e pelo seu
Espírito, a vontade de Deus para a nossa salvação"."

O profeta é alguém que traz uma mensagem da parte de Deus para os homens. Esse
conceito está bem claro no livro do Êxodo. Deus chama Moisés e ordena que ele tire os
israelitas do Egito. Moisés, porém, responde: "Ali! Senhor! Eu nunca fui eloqüente, nem
outrora, nem depois que falaste a teu servo, pois sou pesado de boca e pesado de língua"
(Êx 4.10). Então Deus lhe respondeu: "Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala
fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração.
Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a
dele, e vos ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca,
e tu lhe serás por Deus" (Êx 4.14- 16). "Vê que te constituí como Deus sobre Faraó, e
Arão, teu irmão, será teu profeta. Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão,
falará a Faraó, pura que deixe ir da sua terra os filhos de Israel" (Êx 7.1,2). Arão seria a
boca de Moisés, isto é, através dele Moisés falaria a Faraó e aos israelitas. Assim
também é o profeta: ele é a boca de Deus, sua função é falar aos homens o que Deus
mandar.

No Antigo Testamento Jesus foi anunciado como profeta. Em Deuteronômic, 18 está


registrada a promessa do grande

Profeta: "O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos,
semelhante a mim; a ele ouvirás" (Dt 18.15). E em At 3.22-26, Pedro afirma que tal
promessa se referia a Jesus.
O exercício do ofício profético de Jesus não se limita ao período de sua vida terrena.
"Enquanto estava na terra ele exerceu este ofício em seus ensinos e por meio de sinais
que o seguiam. E sua obra profética não cessou quando ascendeu ao céu. Continuou-a pela
operação do Espírito Santo através dos ensinos dos apóstolos; e ainda a continua pelo
ministério da Palavra e na iluminação espiritual dos crentes. Mesmo assentado à mão direita
do Pai está sempre ativo como nosso grande profeta"."

"Cristo exerce o ofício de sacerdote, oferecendo-se a si mesmo, uma só vez, em sacrifício,


para satisfazer a j ustiça divina, para reconciliar-nos com Deus e para fazer contínua intercessão
por nós"."
No Antigo Testamento Deus instituiu o sacerdócio, como um meio para que o pecador se
aproximasse dele. A função de sacerdote era oferecer sacrifícios e fazer intercessão pelo
pecador.
O que é peculiar no sacerdócio de Jesus é que ele é, ao mesmo tempo, o sacerdote e o
sacrifício. Ele ofereceu a si mesmo como sacrifício para a nossa eterna salvação. Ele declarou:
"Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim... e dou a
minha vida pelas ovelhas... Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a
dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu
Pai" To 10.14-18).

Mas a obra sacerdotal de Cristo não se limita ao seu auto-oferecimento como sacrifício
pelos nossos pecados. Ele continua a sua obra sacerdotal como nosso intercessor junto ao
Pai. O apóstolo Paulo ensinou que "Cristo Jesus... está à direita de Deus e também
intercede por nós" (Rm 8.34). O autor da Epístola aos Hebreus afirmou que Jesus tem
um sacerdócio

eterno e imutável, "vivendo sempre para interceder" pelos salvos (Hb 7.23-25). E o
apóstolo João recomendou: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo;
e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas
ainda pelos do mundo inteiro" (1 Jo 2.1,2).

"Cristo exerce o ofício de rei, sujeitando-nos a si mesmo, governando-nos e protegendo-


nos, reprimindo e subjugando todos os seus e os nossos iniMigo811.14 Como Filho de Deus
e segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus tem poder e domínio sobre todo o
universo. Mas o seu ofício de rei não é apenas o exercício desse domínio. É a sua
realeza original "revestida de nova forma, com uma nova aparência, administrada para
um novo fim"." Isto pode ser dito também com estas palavras: "Podemos definira realeza
de Cristo como o Seu poder oficial de governar todas as coisas do céu e da terra, para a
glória de Deus e para a execução do Seu propósito de salvação"."

Conclusão
Jesus, como profeta, nos deu uma revelação completa sobre Deus e sobre sua vontade
para nossas vidas. "Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai,
é quem o revelou" (Jo 1.18).

Como sacerdote, Jesus ofereceu-se a si mesmo como sacrifício para a nossa salvação, e o
seu sangue "nos purifica de todo pecado" (1 Jo 1.7). Estamos livres de condenação,
porque Jesus morreu, ressuscitou e está â direita de Deus intercedendo por nós (Rui
8.33,34).

Como rei, Jesus nos chamou através da Palavra e do Espírito Santo, nos reuniu no
seu corpo — que é a igreja —, nos dirige, nos protege e nos aperfeiçoa. Jesus tem todo o
poder e toda autoridade no céu e na terra.

Capítulo 16 _________
0 Espírito Santo
é Deus
Cremos em um só Deus, que subsiste em três pessoas distintas: Pai, Filho
(Jesus Cristo) e Espírito Santo. Cada pessoa da Trindade é Deus completo, e não
parte de Deus, e as três pessoas da Trindade são iguais em poder e glória.
Portanto, o Espírito Santo é Deus. Quando Anuirias mentiu a respeito da venda
de sua propriedade, Pedro o repreendeu, dizendo: "Ararias, por que encheu
Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte
do valor do campo? ( ... ) Não mentiste aos homens, mas a Deus" (At 5.3,4). Mentir
ao Espírito Santo é mentir a Deus, prova de que o Espírito Santo é Deus.

Jesus Cristo, verdadeiramente Deus e homem, realizou uma obra completa


para a nossa salvação. Por isso, quando estava morrendo na cruz ele pôde dizer:
"Está consumado'" (Jo 19.30). Estava completa a obra que ele viera fazer por nós.
Agora só restava a obra a ser feita em nós.

A obra de Jesus por nós é completa, mas ela não alcança o seu objetivo de
salvação sem a obra do Espírito Santo em nós. Por isto, Jesus disse aos discípulos:
"Convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolados não virá para vós outros;
se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei" (Jo 16.7). O Espírito Santo aplica em nós a obra
redentora de Cristo. Ele atua nos corações dos pecadores e os leva a receber Jesus
como Salvador e Senhor. Atua, também, na vida daqueles que foram salvos,
levando-os a crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo.
0 Espírito Santo no Antigo Testamento
A atuação do Espírito Santo não se limita ao período do Novo Testamento. Ele está presente
e atuante na história da humanidade desde a criação. "No princípio criou Deus os céus e a terra.
( ...) e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas" (Cio 1. 1,2). Porém, no Antigo Testamento
o Espírito Santo era dado a pessoas especiais para tarefas especiais. Ele era dado, mas também
podia ser retirado dessas pessoas. Ele atuava nas pessoas que Deus escolhia para tarefas
especiais, capacitando-as e equipando-as para a obra que deviam realizar. Ele estava sobre
Moisés e Josué, quando eles guiavam o povo de Israel para a teria prometida. Foi ele quem
deu habilidade a Bezalel para fazer as obras de arte para o tabernáculo (Êx 35.31). Foi ele
quem capacitou os setenta anciãos para ajudarem a Moisés (Nm 11.16-25). Foi ele quem
revestiu os juizes de poder e autoridade para libertar e julgar o povo de Israel (Jz 3.10; 6.34;
11.29; 13.25; 14.6,19; 15.14). Quando Saul e Davi foram ungidos reis, o Espírito Santo
veio sobre eles para qualificá-los para a importante missão (1 Sm 10.6,10; 16.13,14).

O Espírito Santo falou através dos profetas (Ne 9.30). Inspirou os escritores da Bíblia
Sagrada (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21). Mas foi no dia de Pentecostes que ele veio para ficar para sempre
com o povo de Deus.

0 Espírito Santo no Ministério de Jesus


O Espírito Santo agiu e sempre agirá em função do pacto da redenção. Ele preparou o
caminho para a vinda do Salvador, esteve com ele em sua vida, morte e ressurreição. Ele
está conosco como selo e "penhor da nossa herança" (Ef 1.14).

O Espírito Santo exerceu um papel de grande importância na vida e no ministério de


Jesus. Ele foi gerado no ventre da virgem Maria pelo Espírito Santo. Quando o anjo disse a
Maria: "Eis que (tu) conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus"
(Lc 1.31). Ela respondeu: "Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?
Respondeu
lhe o anjo: Descerá sobre tio Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a
sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus" (Lc
1.34,35). Jesus, como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade sempre existiu; mas como
homem, ele passou a existir a partir do momento em que foi gerado pelo Espírito Santo.
João Batista veio como precursor de Jesus, para preparar-lhe o caminho. Ele foi
preparado para isto, sendo cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Le 1.15).
Toda a vida terrena de Jesus foi vivida sob a ação do Espírito Santo. Quando ele
foi batizado por João Batista, o Espírito Santo desceu sobre ele em forma de pomba (Mt
3.1317). "A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mt
4. 1). E, com a assistência do Espírito Santo, ele venceu o tentador. Quando expulsava
demônios, Jesus o fazia pelo poder do Espírito (Mt 12.28). Seus milagres eram feitos pela unção
do Espírito (Le 4.18; At 10.38). Jesus se ofereceu como sacrifício por nós, soba assistência do
Espírito Santo (Hb 9.14). E, por fim, o Pai, por intermédio do Espírito Santo, "ressuscitou a Cristo
Jesus dentre os mortos" (Rua 8.11). Jesus declarou: "O Filho nada pode fazer de si mesmo"
(Jo 5.19). Quando disse isso, ele se referia ao seu relacionamento com o Pai; mas essas
mesmas palavras lançam luz sobre a dependência que o Filho tinha do Espírito Santo.

0 Espírito Santo na Vida dos Apóstolos


A atuação do Espírito Santo sobre os apóstolos, antes do dia de Pentecostes, é bem
semelhante à atuação do Espírito no Antigo Testamento.
Quando Jesus prometeu aos discípulos o Consolador, disse-lhes: "E eu rogarei ao Pai, e ele
vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que
o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque
ele habita convosco e estará em vós" (Jo 14.16,17). Embora o Espírito Santo habitasse com

os apóstolos, ele ainda não estava para sempre com eles. Como no Antigo Testamento, a
presença do Espírito ainda não era uma dádiva permanente.
Embora o Espírito Santo já habitasse com os apóstolos, logo após a ressurreição Jesus
"soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (Jo 20.22). Mas essa ainda não era a
posse definitiva do Espírito. Jesus havia acabado de comissioná-los para pregar o evangelho e
exercer autoridade espiritual. E, a seguir, deu-lhes o Espírito Santo como equipamento para
realizarem a tarefa que haviam recebido.

O Espírito Santo só habitaria permanentemente nos apóstolos após a glorificação


de Jesus (Jo 7.39). Ele precisaria ir para o Pai para que o Espírito viesse. Ele disse aos discípulos:
"Convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolados não virá para vós outros; se,
porém, eu for, eu vo-lo enviarei" (Jo 16.7).

A Descida do Espírito Santo no Pentecostes


No dia de Pentecostes o Espírito Santo veio para ficar para sempre com os servos de
Jesus Cristo, conforme ele havia prometido (Jo 14.16). O livro de Atos dos Apóstolos registra
que "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;
de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa
onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo,
e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficatrara, cheios do Espírito Santo e passaram a
falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem" (At 2.1-4).

Como era um dia especial para os judeus, Jerusalém estava cheia de pessoas de
diferentes países. Alguns eram judeus nascidos fora da Palestina. Outros eram prosélitos do
judaísmo. Uma enorme multidão dirigiu-se para o local onde os apóstolos estavam. E o
maravilhoso é que os apóstolos receberam o dom de falar línguas que não conheciam, e assim

cada pessoa ouvia a pregação do evangelho em sua própria língua materna. "Estavam,
pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses
que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna... as
grandezas de Deus? (At 2.7,8,12).
As — línguas como de fogo" que pousaram sobre cada um deles pode ter sido um
meio que Deus usou para dissipar a desconfiança que, possivelmente, existia no grupo.
Judas Iscariotes tinha traído o Mestre; Pedro o negara; e Tomé, a princípio, descreu da
sua ressurreição. Por isto, podia haver um clima de desconfiança dentro do grupo. Sem um
sinal visível de que cada um mechem o Espírito Santo, um poderia questionar se o outro também
o tinha recebido. Com aquela manifestação visível ficou patente que todos receberam o Espírito.
E as línguas que passaram a falar eram símbolo da universalização do evangelho. Em
Babel, Deus havia confundido a linguagem do povo; por causa da rebeldia contra o Criador,
cada um passou a falar uma língua que o outro não entendia; e assim fo ram dispersos
pela terra (Gn 11.1-9). Mas agora estava sendo inaugurada uma nova era de salvação, e
todos podiam ouvir as grandezas de Deus em sua própria língua.

Conclusão
O Espírito Santo veio para aplicar em nós a obra perfeita e completa que Cristo fez
por nós. Ele "prepara o caminho para o evangelho, acompanha-o com seu poder persuasivo e
recomenda a sua mensagem à razão e â consciência dos homens, de maneira que os que
rejeitam a oferta misericordiosa, ficam não somente sem desculpa, mas também culpad os
de terem resistido ao Espírito Santo".'
O Espírito Santo é Deus. Mas no processo da redenção, ele não chama a atenção
para a sua Pessoa, nem para a sua obra. Ele atua em função da obra feita por Jesus Cristo.
Por isto, J. 1. Packer, um dos maiores teólogos do século 20, nos faz a seguinte advertência:
"Perguntamos: Você conhece o

Espírito Santo? Não devíamos estar perguntando isso. Pelo contrário, deveríamos
perguntar: Você conhece a Jesus Cristo? Você conhece o suficiente em relação a ele? Você
o conhece bem? Estas são as interrogações que o próprio Espírito deseja que façamos. Pois
ele é auto-obliterador. O seu ministério é um ministério de holofote em relação a Jesus, uma
questão de focalizara glória de Jesus diante dos nossos olhos espirituais e de estabelecera
ligação entre nós e ele. Ele não chama atenção para si próprio, nem se apresenta a nós
como objeto de comunhão direta, como o fazem o Pai e o Filho; o seu papel e a sua
alegria é aumentar a nossa comunhão com os dois, glorificando o Filho como
objeto da nossa fé e, então, testemunhando da nossa adoção através do Filho, na
família do Pai".2
Capítulo 17 ______________
A Criação do Universo
e do Homem
Deus é eterno, ele sempre existiu e sempre existirá. Mas o universo e o homem tiveram
um princípio, um tempo a partir do qual passaram a existir. A Confissão de Fé de Westminster
ensina que: "No princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a
manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada,
no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele há, quer as coisas
visíveis quer as invisíveis. Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem,
macho e fêmea, com alma racional e imortal, e dotou-os de inteligência, retidão e perfeita
santidade, segundo a sua própria imagem".'

A Criação do Universo
A Bíblia Sagrada começa com esta solene declaração: "No princípio criou Deus os
céus e a terra" (Gn 1.1). Davi, o rei e poeta, declarou: "Nos céus estabeleceu o SENHOR
o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo" (SI 103.19). E após voltar do exílio
babilônico, os judeus, em uma oração coletiva, fizeram esta declaração: "Só tu és SENHOR, tu
fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares
e tudo quanto há neles: e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora"
(Ne 9.6). Declarações de que Deus criou, preserva e governa todas as coisas, visíveis e
invisíveis, estão presentes em todas as partes da Bíblia Sagrada.
Existem inúmeras teorias filosóficas e científicas sobre a origem do universo. Muitos livros
apresentam essas teorias como

se fossem fatos provados pela ciência e pela filosofia. Mas nem a filosofia nem a ciência
assumem qualquer delas, pois não passara de teorias, isto é, não foram comprovadas - nem
pelo método filosófico, nem pelo método científico. Elas representam apenas o pensamento de
alguns filósofos ou cientistas sobre a o r i g e m d o u n i v e r s o . M a s a B í b l i a S a g r a d a
a f i r m a , categoricamente, que Deus é o criador do universo. Não é teoria, é revelação!

Todas as teorias científicas e filosóficas sobre a origem do universo afirmam que ele
surgiu por acaso. Mas, imagine a seguinte situação: você encontra um relógio e passa a
estruma-lo. Vê que as suas peças têm forma diferente e foram feiras de vários tipos de matéria
prima. Todas elas se encaixam e c o m b i n a m d e t a l m a n e i r a q u e t o d a s
f u n c i o n a m harmoniosamente. E ma rc am as horas. E cumprem um papel relevante.
Formam um todo que tem sentido e propósito. Se alguém lhe dissesse que aquele relógio
surgiu por acaso, você acreditaria? Então, como acreditar que o universo, muito mais complexo
do que um relógio, surgiu por acaso?2 Merece mais crédito a afirmação bíblica de que Deus criou
todas as coisas.

Nem a ciência nem a filosofia dispõem de meios para dizer como se originou o
universo. Por que, então, muitos homens da ciência ou da filosofia negam a existência
de um Criador? Christiano P. da Silva Neto, Mestre em Ciência pela Universidade de Londres,
responde: "Talvez a principal razão que leve tantos homens de ciência a rejeitar o modo
críacionista seja, na verdade, bem outra. Crer num Criador traz consigo um compromisso ( ... )
Via de regra, porém, as pessoas desejam viver suas vidas segundo as suas próprias conveniências,
e evitam, portanto, este tipo de cortiprometimentol'.3
A Bíblia é a Palavra de Deus. E, embora usand o a linguagem do observador,
a linguagem comum do dia-a-dia, sem entrarem detalhes técnicos, ela afirma que Deus criou
todas as coisas, visíveis e invisíveis.

A Criação do Homem
O registro da criação do homem, na Bíblia Sagrada, começa assim: "Também disse
Deus: Façamos o homem â nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e
sobre todos os répteis que rastejam pela terra" (Gn 1.26). E continua assim: "Criou Deus,
pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gn
1.27). Os vegetais e os animais foram criados "segundo a sua espécie -, mas o homem foi criado
à imagem e semelhança do Criador.

A imagem e semelhança de Deus no homem, no sentido restrito, consiste no


verdadeiro conhecimento, retidão e santidade com que o homem foi dotado na
criação. E, num sentido mais abrangente, inclui também o fato de o homem ser um ente
espiritual, racional, moral e imortal.
Após a queda por causa do pecado, o homem perdeu a imagem de Deus no sentido
restrito, ficando apenas com a imagem no sentido mais abrangente. Isto é, o homem perdeu o
verdadeiro conhecimento, retidão e santidade, mas continuou sendo um ente espiritual,
racional, moral e imortal, embora imperfeito em todas essas áreas.
Detalhando mais a criação do homem, a Bíblia Sagrada afirma que "formou o SENHOR
Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou
a ser alma vivente" (Gn 2.7). O corpo do homem foi feito de material que Deus havia criado
antes, e que no texto bíblico é chamado de "pó da terra". Mas a alma surgiu como resultado
do sopro divino. O primeiro homem era formado por um elemento material, o corpo, e
por um elemento imaterial, a alma. E todos os demais seres humanos também são constituídos
de corpo e alma.
A doutrina que afirma que o homem é constituído de dois elementos distintos, a
saber, corpo e alma, é denominada dicotomia. Existe, também, uma outra doutrina denominada

tricotomia, segundo a qual o homem é constituído de três elementos: corpo, alma e


espírito. De acordo com esta doutrina, o corpo é o aspecto material do ser humano; a alma é o
princípio da vida animal; e o espírito é o elemento racional, imortal, através do qual o
homem se relaciona com Deus.
Os dicotomistas defendem seu ponto de vista afirmando que a Escritora Sagrada usa
as palavras alma e espírito, "uma pela outra, em permuta recíproca", para referir-se ao elemento
superior ou espiritual do homem. Logo, alma e espírito, quando descrevem o elemento
espiritual do homem na Escritura Sagrada, são sinônimos.

Os tricotomistas citam dois textos bíblicos nos quais alma e espírito aparecem como
os elementos superiores do ser humano. O primeiro é 1 Tessalonicenses 5.23, que
diz: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". E o outro é
Hebreus 4.12: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é
apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração". Os dicotomistas respondem a
esse argumento afirmando que "a simples menção dos termos espírito e alma um ao lado do outro
não prova que, segundo a Escritura, são duas substâncias distintas, como também
Mateus 22.37 não prova que Jesus considerava o coração, a alma e o entendimento como
três substâncias distintas. Em 1 Tessalonicenses 5.23, o apóstolo deseja simplesmente
fortalecera afirmação: 'O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo', como uma
declaração cpizegética, 4 na qual se resumem os diferentes aspectos da existência do
homem, e na qual o apóstolo se sente perfeitamente livre para mencionar os termos alma e
espírito um ao lado do outro, porque a Bíblia distingue entre ambos... (0 que o texto diz
é que a palavra de Deus) produz uma separação entre os p ensamentos e as intenções
no coração"? O teólogo Louis Berkhof afirma que a tricotomia "não resultou do estudo da
Escritura, mas nasceu

com o estudo da filosofia grega".`


Deus criou o homem com capacidade de reprodução, e lhe ordenou: "Sede fecundos,
multiplicai-vos, encheia ternt, (Gn 1.28). Mas aqui surge uma pergunta: a capacidade
humana de se reproduzir inclui também a alma? Ou apenas o corpo? Este assunto não está
claro na Bíblia Sagrada. Por isto, existem várias teorias sobre a origem da alma em cada
indivíduo. As principais teorias são: preexistencialisními, criacionismo e traducianistro.
A teoria preexistencialista afirma que a alma de cada pessoa já existia antes que o seu
corpo fosse formado. Segundo essa teoria, a declaração bíblica de que Deus terminou sua obra
de criação no sexto dia significa que as almas de todas as pessoas que viriam a nascer em todas
as épocas foram criadas nos seis dias da criação. A teoria criacionista afirma que Deus cria
uma alma para cada pessoa que é gerada. Esta teoria se baseia especialmente em Eclesiastes
12.7, onde está escrito que, logo após a morte, "o pó volta à terra, como o em, e o espírito
volta a Deus, que o deu", e em Hebreus 12.9, onde está registrado o seguinte: "Além disso,
tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos
de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, vi veremos?". Segundo
essa teoria, se o "espírito volta a Deus, que o deu" e Deus é o "Pai dos espíritos" é porque
quando um corpo é gerado ele, concomitantemente, cria uma alma para esse corpo. A teoria
traducianista afirma que a alma é gerada junto com o corpo, e, portanto, é transmitida pelos
pais aos f ilhos. Segundo essa teoria, quando Deus capacitou o homem para se reproduzir,
deu-lhe a capacidade para gerar seres humanos completos, e não apenas corpos que
deviam receber uma alma para se completarem. Os seus defensores argumentam que, quando
Deus criou a mulher, usou uma parte do homem,

 não lhe soprou nas narinas o fôlego de vida. Portanto, o corpo


 a alma de Eva procederam de Adão. Assim também o corpo
 a alma dos filhos procedem de seus pais.

A teoria preexistencialista é rejeitada por quase todos os evangélicos. As teorias


criacionista e traducianista são aceitas por muitos. Mas todas elas apresentam algumas
dificuldades. Isto significa que este é um assunto que só será esclarecido quando
estivermos com o Senhor.

A Queda do Homem
Na criação Deus estabeleceu uma aliança com o homem, que os teólogos chamam de
pacto ou aliança das obras. O Criador o c o l ocou no jardim do Éden, e lhe deu esta
ordem: "De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás"
(Gn 2.16,17). A ameaça de morte, no caso de desobediência, deixa implícito que havia
também uma promessa de vida. "Adão foi, de fato, realmente criado num estado de santidade
positiva, e não estava sujeito â lei da morte. Mas não poss uía ainda os mais elevados
privilégios li espera do homem; ainda não havia sido elevado acima da possibilidade de errar, de
pecar e de morrer. Ainda não possuía o mais alto grau de santidade, nem gozava

 vida em toda a sua pleffitude".7 Se ele obedecesse alcançaria


 plenitude de vida, ou seja, estaria acima de qualquer possibilidade de errar, pecar
ou morrer. A promessa tinha uma condição: perfeita obediência. Se o homem falhasse,
a penalidade seria a morte. A obediência consistia em não comer do fruto da árvore do bem e
do mal. Era o teste para provar se Adão estava disposto a submetera sua vontade â vontade
de Deus.

E o homem não passou no teste. Caiu. Deus lhe havia dado uma variedade enorme
de frutas, verduras, legumes e cereais para sua alimentação (Gn 1.29). Mas ele preferiu
comer da árvore proibida, desobedecendo ao Criador. Assim rejeitava a vontade de Deus, e
fazia a sua própria vontade. Abandonava o Criador, e tomava o seu próprio caminho. A sentença
de morte pairava sobre o homem.
Mo r t e , na Bíblia Sagr ada, si gnifi ca basi camente separação. Ao pecar, o homem
separou-se de Deus. Morreu espiritualmente. E as sementes da morte física começaram
imediatamente a agir no seu corpo. Ele passou a viver sob a tirania da morte, que finalmente
o alcançaria.
Adão arrastou para o pecado toda a sua descendência. Ele era o cabeça e o
representante de toda a raça humana. Por isto, todos se tornara m pecadores quando ele
pecou. Nós não somos responsáveis pelo pecado de nosso pai ou de nossa mãe. "O filho não
levará a iniqüidade do pai" (Ez 18.20). Mas somos responsáveis com Adão pelo seu pecado,
porque ele era nosso representante. O apóstolo Paulo escreveu que "por uma só ofensa,
veio o juízo sobre todos os homens para condenação"
(Rm 5.18).
Além de herdarmos a culpa do pecado de Adão, herdamos também a corrupção moral.
Por isto, temos uma inerente disposição para o pecado. O próprio apóstolo Paulo confessou:
"... vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz
prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros" (Rm 7.23). "Porque nem mesmo
compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim, o que detesto. Porque
não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm 7.15,19).
Conclusão
Felizmente Deus não executou de imediato a sentença de morte que pairava sobre o
homem. Ao invés de eliminar o homem, Deus lhe fez uma promessa de restauração. O
ce
desndente da mulher feriria a cabeça da serpente (Gn 3.15). É o proto-evangelho. É a
promessa bendita de que o inimigo seria vencido, e o homem restaurad o â comunhão como
Criador.

O primeiro livro da Bíblia Sagrada mostra o homem sendo expulso do paraíso, da presença
de Deus. Mas o último livro, o Apocalipse, mostra o homem de volta ao paraíso. No primeiro

livro está escrito que Deus disse ao homem: "Visto que atendeste â voz de tua mulher, e comeste
da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por ma causa; em fadigas obterás
dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu
comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela
foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás" (Grt 3.17-19). Mas no último livro está escrito
que Deus habitará com os homens. "Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.
E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Ap 21.3,4). O plano de Deus para
o homem não se esgotava no Éden.
Capítulo 18
o Plano
de Salvação
Algumas pessoas perguntam: Já que Deus é onisciente e, portanto, sabia que o homem
ia pecar, por que não impediu que isso acontecesse? A resposta honesta é que não sabemos
por que Deus não impediu o homem de pecar. Mas sabemos que o Criador não estava
alheio â situação da criatura. Antes de criar o mundo ele já havia estabelecido uma aliança
com o Filho para salvar o homem. Nessa aliança, que os teólogos chamam de pacto ou
aliança da redenção, o Filho "se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de fazer a
expiação do pecado, suportando o castigo necessário, e de satisfazer as exigências da
lei em lugar de todo o seu povo'.' Baseado nesse pacto ou aliança da redenção, Deus estabeleceu
como homem, agora pecador, um pacto de amizade e salvação, denominado pelos teólogos
de pacto ou aliança da graça. Nesse pacto, Deus oferece ao pecador a salvação e a vida eterna
por meio de Jesus Cristo. Felizmente, o plano de Deus pu a o homem não se esgotava no
Éden.

Pecado e Castigo
Por causa do pecado de Adão, todas as pessoas nascem pecadoras. Davi reconheceu
isso e declarou: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe" (51 51.5).
Herdamos do primeiro casal a culpa e a corrupção. Não conseguimos fazer o bem
que queremos, mas fazemos o mal que, às vezes, até detestamos.
Mas, o que é pecado? "É qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer
transgressão dessa lei".2

Se analisarmos algumas palavras gregas usadas pelos escritores do Novo Testamento para
designar o pecado, fica mais fácil compreendera sua extensão e abrangência. Veja algumas destas
palavras: hamartia (Rua 5.12; Tg 2.9; 1 Jo 1.7) significa errar o alvo; paraptoma (Riu 5.15-
18; 2 Co 5.19; Ef 2.1) significa escorregar' ou cair, desviar-se da verdade e da justiça; adikia
(Rm 9.14; 1 Co 13.6; 1 Jo 5.17) significa injustiça; parabasis (Rm2.23; G13.19; 111, 2.2)
significa transgressão, ato de passar além da linha; anemia (1 Jo 3.4) significa
desobediência e desrespeito à lei.

Podemos afirmar, portanto, que o pecado consiste em errar o alvo da vida, não ser
o que se devia ou poderia ser, desviar-se da verdade e clajustiça, praticara injustiça,
ultrapassar a linha que limita os nossos direitos e liberdade, desobedecer e desrespeitar as leis.
Mas, como o pecado sempre tem relação com Deus e sua vontade, podemos dizer que pecar é
ser, pensar, falar, desejar ou fazer o que desagrada a Deus.

O homem trata o pecado levianamente, mas Deus o trata de modo severo. O pecado é
uma violação clajustiça de Deus e um insulto â sua santidade. Por isto, Deus o castiga nesta
vida e na futura. "O pecado é a desgraça do homem. Todo o seu sofrimento e miséria são devidos
ao pecado. O pecado é a causa básica das dores, perdas, angústias de coração e frustrações" 3

Cada pecado recebe a justa punição. Podemos ver na Bíblia Sagrada castigos
naturais e disciplinares. Mas nenhum pecado fica impune. Os castigos naturais consistem em
conseqüências diretas das faltas cometidas. "Aquilo que o homem semear, isto também
ceifará" (GI 6.7). Cada homem colhe os frutos do seu pecado. O preguiçoso passa
privações. O mentiroso cai em total descrédito e, muitas vezes, paga caro por suas mentiras.
Mesmo que a pessoa tenha sido agraciada com o arrependimento e o perdão divino, ainda
assim sofrerá as conseqüências naturais de seu pecado. Mas há, também, os castigos
disciplinares, que são impostos diretamente por Deus. Quando tais castigos são aplicados aos
crentes, o objetivo é

discipimá-los para que abandonem o pecado e se voltem para o Senhor. Podemos citar como
exemplo um caso na Igreja de Corinto, que recebe do apóstolo Paulo a seguinte determinação:
"Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo
entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai. E, contudo,
andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio
quem tamanho ultraje praticou? Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente
em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em
nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,
entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor
Jesus" (1 Co 5.1-5). Quando os castigos disciplinares são aplicados aos ímpios, o objetivo é
refrear o mal.

O castigo na vida futura consiste num sofrimento eterno no inferno. Jesus pintou este
lugar de tormento com cores vivas, quando falou sobre ele ao povo. O Mestre não deu
muitos detalhes, mas deixou claro que o inferno é um lugar de terríveis sofrimentos. Jesus o
chamou de inferno de fogo (Mt 5.22; 18.9), fogo eterno (Mt 18.8; 25.41), castigo eterno (Mt
25.46) e fogo inextinguível, que nunca se apaga (Me 9.43,44).

A Obra Redentora de Cristo


Deus nutre um grande amor por nós. Mas ele não pode transigir com sua justiça. Ele não
pode simplesmente fechar os olhos pua o pecado do homem. A justiça exige reparação.
Alguém precisa pagar pelo erro cometido.
Mas Deus mesmo, movido pelo seu grande amor, providenciou um meio para a
salvação do pecador. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
pua que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). "Mas Deus
prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo
nós ainda pecadores" (Rm 5.8).

Chegada a hora própria, o Filho assumiu a natureza humana para sofrer em nosso
lugar e nos redimir. "Vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob
a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos" (GI 4.4). Jesus ofereceu ao Pai a
perfeita obediência. Viveu uma vida
absolutamente santa. E se entregou à morte na cruz para a nossa salvação. Ele não foi vitima,
nem mártir. Pelo contrário, entregou-se livremente ao sacrifício para a nossa salvação. Ele
mesmo declarou: "... eu dou a minha vida... Ninguém a tira de
mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e
também pua reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai" (Jo 10.17,18).
Jesus morreu em nosso lugar. "Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas
nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados" (Is 53.5). Por isso, Deus nos oferece a salvação pela graça,
mediante a fé em Cristo.
A salvação pela graça, mediante a fé em Cristo, parece subverter a ordem estabelecida. É
natural pensar que aquele
que erra deve permanecer acorrentado às consequências de seu
erro. Como eximir da responsabilidade por seus erros os patifes que arruinaram tantas vidas?
Na parábola do filho pródigo (Lc
15.11-32), contada por Jesus, podemos ver tanto esse anseio de justiça como a solução
para o dilema da impunidade.
Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a paire dos bens
que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço,
ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus
bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma
grande fome, e ele começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou a um dos
cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. Ali, desejava ele
fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Então, caindo
em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui
morro de fome! e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante
de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.
E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e,
compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o
céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus
servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu
filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-
se.
Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa,
ouviu a músicacas danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele
informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou
com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo.
Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem
tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém,
esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o
novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que
é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque
esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado (Le 15.11-32).

O irmão mais velho estava ressentido, é verdade. Mas a questão que ele levantava é esta:
Onde foi parara justiça? "Mas se o pai lhe desse razão, se ele dissesse ao recém-chegado:
`Segue o teu caminho! Tiveste o que quiseste!', então teria sido feita justiça. O ressentimento do
irmão teria sido apaziguado... Realmente? Completamente? Se ele tem bom coração, com
certeza que não. À sensação de que tudo agora estaria dentro da ordem, sobrepor-se-ia uma
censura. Ele procuraria fazer calar

esta voz e não conseguiria. A imagem do irmão estaria sempre à sua frente, e ele sentiria que
tinha destruido uma possibilidade sagrada ."4 Felizmente, o pai do pródigo optou pelo amor,
e recebeu de braços abertos o filho que voltava ao lar.
O pai do pródigo é uma figura que representa Deus, o Pai Celestial. O pródigo somos
nós, todos nós. Felizmente, Deus nos ama, e enviou seu Filho, Jesus Cristo, para morrerem nosso
lugar. Deus, em Cristo, pagou pelo pecado do homem. Deus é justo, mas é também "o
justificados daquele que tem fé em Jesus" (Ruir 3.26). O sacrifício de Jesus Cristo em nosso
lugar foi um sacrifício completo. E Deus aceitou o seu sacrifício, ressuscitando-o dentre os
mortos.
Arrependimento e Fé
Jesus sofreu o castigo que nós devíamos sofrer. Ele pagou pelos nossos pecados. Ele é o
único meio de salvação, o único caminho para o Pai. "E não há salvação em nenhum outro;
porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa
que sejamos salvos" (At 4.12). Mas a salvação não e automática. Para ser salvo, o pecador
precisa arrepender-se de seus pecados e crer em Jesus Cristo.

Os escritores do Novo Testamento usaram a palavra grega metanóis para designar o


arrependimento. Metanóis significa mudança de mente, envolvendo opinião, alvo,
intenção e propósito. Por isso, o arrependimento pode ser definido como "a mudança
produzida na vida consciente do pecador, pela qual ele abandona o pecado' .'0
arrependimento atinge nosso intelecto, nossas emoções e nossa vontade. Intelectualmente,
ficamos convencidos de que o pecado gera degradação moral e nos faz culpados diante de
Deus. Emocionalmente, ficamos tristes diante da convicção de que estamos
desagradando a Deus. Volitivamente, tomamos a deliberação de abandonar o pecado e buscar
o perdão divino e a purificação. Esses elementos podem ser vistos na experiência de Davi,
refletida no Salmo 51. Intelectualmente, ele reconheceu sua culpa e declarou:

"Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim"
(v. 3). Emocionalmente, ele demonstrou tristeza por ter des agradado a Deus
quando declarou: "Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos,
de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar" (v. 4). Volitivamente,
ele buscou o perdão e a purificação, e demonstrou o propósito de abandonar o pecado:
"Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das
tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha
iniquidade e purifica-me do meu pecado" (v. 1 e 2); "Cria em mim, 6 Deus, um coração
puro e renova dentro de mim um espírito inabalável" (v. 10).

O arrependimento, quando verdadeiro, leva o pecador a abandonar o pecado e a se voltar


para Deus. Qualquer coisa parecida com arrependimento, se não levar o pecador a
abandonar o pecado e se voltar para Deus, não é verdadeiro arrependimento, é tristeza
mundana (2 Co 7.10). O autor da Epístola aos Hebreus escreveu que "Esaú, o qual,
por um repasto, vendeu o seu direito de prinirogenitura ( ... ) posteriormente,
querendo herdara bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora,
com lágrimas, o tivesse buscado" (Hb 12.16,17). O arrependimento de Esaú não era
verdadeiro arrependimento; era apenas um sentimento de tristeza pela perda que havia sofrido.
Outro exemplo de falso arrependimento é a atitude de Judas Iscariotes. "Então, Judas, o que
o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta
moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo
sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. Então, Judas,
atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se" (Mt 27.3-5). O
sentimento de tristeza de Judas foi gerado pelo resultado de seu ato, isto é, pela condenação
de Jesus, e não pelo seu ato em si. O verdadeiro arrependimento está focado no ato praticado, e
não apenas nos resultados desse ato.

Os rabinos judeus diziam que o verdadeiro penitente (arrependido) é aquele que,


se voltara ter a oportunidade de cometer o mesmo pecado, nas mesmas circunstâncias,
não o fará. Mas essa é apenas parte da verdade. O verdadeiro arrependido é aquele que
reconhece que cometeu um erro e não um simples deslize, sente-se culpado diante de
Deus pelo erro cometido, tem tristeza por ter desagradado a Deus, volta-se para Deus
buscando o perdão e a purificação e tem o propósito de abandonar o pecado.

Mediante o arrependimento, o pecador se desvincula da velha vida, dos tempos da


ignorância. O filho pródigo, antes de vestir a melhor roupa, dada pelo pai, teve que tirara
roupa suja, rasgada e mal cheirosa, que trazia da terra distante. Semelhantemente, o
pecador precisa desvestir-se da imundícia do pecado, por meio do arrependimento, para
revestir-se da nova vida em Cristo.

Além de se desvincular da velha vida, através do arrependimento, o pecador precisa


crerem Jesus Cristo e recebê-lo como Salvador e Senhor. A fé que leva à salvação pode ser
definida como "uma confiante entrega a Cristo pua a salvação".' Esta fé implica numa
completa renúncia de toda tentativa para se alcançara salvação através de obras, e numa
entrega total a Cristo, na firme convicção de que o seu sacrifício na cruz é suficiente para
nos salvar.

A p ó s r e c o n c i l i a r - s e c o m D e u s , m e d i a n t e o arrependimento e a fé, o
homem precisa viver do modo como Deus quer que ele viva. Ou, como escreveu o apóstolo
Paulo, praticar as boas obras, "as quais Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas" (ES 2.10). Deve, também, tornar-se membro de uma igreja, para somar-se a outros
servos de Jesus Cristo. Pois ele precisa testemunharisto perante o mundo, com palavras e
ações. E, para isto, precisa se instruir e se fortalecer espiritualmente. Ao lado de outras
pessoas que têm a mesma experiência e a mesma fé fica mais fácil ser fiel ao Senhor.
Por outro lado, há também aspectos da vida cristã que

só podem ser vividos coletivamente. Como exemplo podemos citara celebração da Ceia
do Senhor.

Conclusão
Deus tem um plano para salvar o homem. Mas este plano não é uma anistia universal.
Salvação só há em Jesus Cristo. "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do
céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos" (At 4.12).
Para ser salvo, o homem precisa reconhecer que é pecador; que nasceu em pecado
e continua pecando; que os seus pecados são muitos e suficientes para expulsá-lo da
presença de Deus, para condená-lo ao inferno. Precisa reconhecer que as suas boas obras
são insuficientes para salva-lo. Que elas são insignificantes em quantidade e em qualidade.
Além desse reconhecimento, o pecador precisa arrepender-se sinceramente de seus
pecados e crer em Cristo para a sua salvação.

Quem se arrepende de seus pecados e crê em Jesus Cristo como Salvador e Senhor,
tema vida eterna. Jesus garantiu: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou, tema vida eterna, não entra em juízo, mas passou
da morte para a vida" (Jo 5.24). Observe que Jesus disse: "tema vida eterna" e não "terá
a vida eterna". Ele usou o presente, e não o futuro. E o apóstolo João escreveu o seguinte:
"Aquele que temo Filho tema vida; aquele que não temo Filho de Deus não tema vida.
Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que
credes em o nome do Filho de Deus" (1 Jo 5.12,13).

Capítulo 19 __________
A Garantia
da Salvação
Toda pessoa que se arrepende de seus pecados e crê em Jesus Cristo como Salvador
e Senhor pode ter certeza e segurança de sua salvação. Esta certeza se baseia nas promessas
que Deus nos faz em sua Palavra — a Bíblia Sagrada. E "Deus não é homem, para que minta,
nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou,
tendo falado, não o cumprirá?" (Nua 23.19).

A nossa salvação é resultado da operação da graça de Deus. Mas, as constantes


exortações que a Bíblia faz aos homens para que se arrependam e creiam em Jesus Cristo
podem dar a idéia de que o homem é capaz de arrepender-se e crer por si mesmo. A verdade,
todavia, é que o verdadeiro arrependimento e a fé salvadora são dádivas de Deus. Nós
estávamos mortos em nossos delitos e pecados, e Deus nos deu a vida eterna em Cristo Jesus.

Podemos perceberas decisões tomadas pelas pessoas que recebem Jesus como
Salvador e Senhor; podemos ver as mudanças que ocorrem, na vida delas. Todavia, por
detrás dessas decisões tomadas e dessas mudanças ocorridas, está a atuação de Deus, que nós
não podemos ver. E é exatamente a atuação de Deus que nos dá a garantia da salvação,

A Predestinação e o Chamado para a Salvação -


Algumas pessoas lembram-se nitidamente do dia em que receber= Jesus como Salvador
e Senhor. Outras se recordam apenas da época em que fizeram esta importante decisão. Quase
todos os crentes lembram-se da forma como receberam a

salvação em Cristo. Mas o processo de nossa salvação começou muito antes desse tempo que,
para nós, marca o início de nossa caminhada com Cristo. O apóstolo Paulo escreveu aos efesios
que Deus "nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.5), e que esta escolha foi feita "antes da
fundação do mundo, pua sermos santos e irrepreensíveis perante ele" (Ef 1.4).

A doutrina da predestinação, à semelhança da doutrina da Trindade, está além da


nossa compreensão. Kuiper nos adverte que, quando tratamos de quem será salvo,
estamos tocando na secreta vontade de Deus, e, portanto, devemos "lembrar que estamos
lidando com um profundo mistério, que estamos em terra santa, onde os anjos temem pisar, que
o homem finito não pode nem começara compreender o Deus infinito, e que, portanto, temos
que ser sóbrios, evitando escrupulosamente qualquer especulação humana e apoiando-nos
estritamente na segura Palavra de Deus".'

A Escritura Sagrada ensina que Deus escolheu, antes da fundação do mundo, as pessoas
que seriam salvas. Mas a Escritura também ensina que Deus "deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1 Tm 2.4); que ele é
longânime e não quer "que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento" (2 Pe 3.9). Estas afirmações partecent, contraditórias. Como entender que
Deus deseja que todos sejam salvos, mas escolheu apenas alguns para a salvação? Estamos
tratando de um assunto que est á al é m de nos sa c o mpr e ens ão r aci o nal , mas e ssa s
contradições desaparecem quando levamos em consideração que a Escritura Sagrada
mostra que há diferença entre o desejo de Deus e o seu plano imutável.' Quando o Novo
Testamento fala do desejo de Deus, usa a palavra grega thélema, e quando fala do seu
desígnio ou plano imutável, usa a palavra grega boulê. Veja estes exemplos —1
Tessalonicenses 4.3: "Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação". Vontade aqui
é thélema e significa que Deus

santificada. Em Atos 2.23 está escrito que Jesus foi entregue para ser crucificado "pelo
determinado desígnio e presciência de Deus". Desígnio aqui é borde, isto é, o plano
imutável de Deus. A vontade de Deus — thélema — requer a nossa colaboração para
que ela seja realizada. No exemplo citado, Deus deseja a nossa santificação, contudo não
nos impõe essa sua vontade, e nós só teremos uma vida santificada se desejarmos e buscarmos
a nossa santificação. Já o plano imutável de Deus — boulê — será realizado independentemente
da nossa vontade; o plano imutável de Deus será cumprido porque Deus é
absolutamente soberano para fazer o que ele quiser.

A nossa salvação é desejo (thélema) ou desígnio (boulê) de Deus? Felizmente, a nossa


salvação é desígnio de Deus, pois fomos "predestinados segundo o propósito (desígnio,
boulê) daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade" (Ef 1.11). Se a
nossa salvação fosse apenas desejo (thélema) de Deus, ela só se concretizaria se
colaborássemos com Deus na sua realização. Como o ser humano está morto, espiritualmente,
em seus delitos e pecados (Ef 2.1), essa colaboração é impossível. Por isso, se
dependesse dessa colaboração, ninguém seria salvo. Mas Deus, movido pelo seu profundo
amor, incluiu no seu plano imutável a salvação daqueles que lhe aprouve salvar. A Bíblia
Sagrada chama isso de eleição ou predestinação.

A p r e d e s t i n a ç ã o e s t á p r e s e n t e e m t o d o o N o vo Testamento. Nos evangelhos


encontramos várias declarações de Jesus onde ele chama os salvos de eleitos e de escolhidos,
o que confirma a predestinação. Ele disse que os falsos profetas procurariam enganar, se possível,
até os eleitos (Mt 24.24). E, falando da grande tribulação, afirmou que se o Senhor não
tivesse "abreviado aqueles dias, ninguém se salvaria; mas por causa dos eleitos que ele
escolheu, abreviou tais dias" (Me 13.20). Disse também que, na sua segunda vinda,
"enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus
escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outr a extremidade dos céus" (Mt

Os apóstolos também c h a ma r a m os salvos de eleitos e escolhidos. Paulo, na epístola


aos Romanos, perguntou: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" (Rui 8.33). Aos
efésios ele escreveu que Deus nos escolheu em Cristo, para a salvação, antes da fundação
do mundo, "e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos" (El` 1.3-5). Aos
colossenses ele recomendou: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de
temos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade"
(Cl 3.12). Aos tessalonicenses, ele escreveu: "Deus vos escolheu desde o princípio para a
salvação" (2 Ts 2.13). Na segunda epístola a Timóteo, ele declarou: "Tudo suporto por causa
dos elei tos" (2 T m 2.10) . Pedr o t ambém escreveu sobr e a predestinação. Ele inicia
a sua primeira epístola dirigindo-se "aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, ( ... )
eleitos, segundo a presciência de Deus Pai" (1 Pe 1, 1,2). E o último livro do Novo
Testamento chama os salvos de eleitos (Ap 17.14).
Algumas pessoas concluem, apressadamente, que se aqueles que serão salvos já
estão predestinados para isso, não é necessár io pregar o evangel ho. Mas não é assi m.
A predestinação exige que preguemos o evangelho, pois Deus usa a sua Palavra e a
atuação do Espírito Santo para chamar aqueles que ele predestinou para a salvação.
Foi o que aconteceu com Lídia. Paulo pregava; ela e outras mulheres ouviam. E Deus,
através do Espírito Santo, abriu o coração dela "para atender às coisas que Paulo diziti'
(At 16.14). Os teólogos chamam isto de vocação eficaz, que é a atração irresistível que
Deus, por meio da Palavra e do Espírito Santo, exerce sobre o pecador levando-o a aceitar
Jesus Cristo como seu único Salvador.

A Regeneração e a Conversão

O p r o c e s s o d e n o s s a s a l va ç ã o i n c l u i t a m b é m a regeneração, que é a
implantação do princípio da nova vida

espiritual na pessoa que foi predestinada e que está sendo chamada, pela Palavra e pelo
Espírito, para a salvação. Podemos definir regeneração como a ação do Espírito Santo, na mente
e no coração do pecador, dando-lhe uma disposição santa de servir a Deus em espírito e
em verdade. Esta definição é compartilhada por grandes teólogos e confirmada pela
Bíblia Sagrada. Strong ensina que a "regeneração é aquele ato de Deus pelo qual a disposição
dominante da alma é tomada santa e o primeiro exercício santo da disposição é assegurado".'
Gordon definiu regeneração como "um ato drástico, operado sobre a natureza humana caída, por
parte do Espírito Santo, que produz uma alteração na atitude inteira do indivíduo" .° E
Berkhof ensina que "regeneração é o ato de Deus pelo qual o princípio da nova vida é
implantado no homem, e a disposição dominante da alma é tomada santa e o primeiro exercício
santo desta nova disposição é assegurado".5 Esse primeiro exercício de que falam Strong e
Berkhof é o novo nascimento. Este novo nascimento – o nascer do Espírito (Jo 3.5,6), o
nascimento espiritual –entroniza Jesus Cristo na alma do pecador e o leva a se mover em
direção a Deus.
O diálogo de Jesus com Nicodemos ilustra bem o que é a regeneração. Nicodemos, um
dos principais dos judeus, disse a Jesus: "Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus;
porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto
respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não
pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer,
sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu
Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode
entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é
espírito" (Jo 3.2-6). Nascer da água ou nascer da carne eram expressões usadas pelos
judeus para falar do nascimento físico. E Jesus afirma que para entrar no reino de Deus é
preciso nascer mais
uma vez: nascer do Espírito. Nascer de novo implica em ser gerado de novo, isto é, ser
regenerado. Nossa vida iniciou-se no momento de nossa concepção; assim também o
processo da aplicação da obra de Cristo a nós se inicia com a nossa concepção
espiritual, isto é, no momento em que o Espírito Santo implanta em nós a semente da
nova vida. Fisicamente fomos gerados por nossos pais; espiritualmente somos gerados pelo
Espírito Santo.
Antes da regeneração, a atração pelo pecado domina o pecador. A partir da regeneração,
ele passa a desejar o que é bom, reto e justo.
Este toque regenerador do Espírito Santo leva o pecador à conversão. "Esta conversão
é apenas a expressão externa da obra da regeneração, ou a mudança que a acompanha,
efetuada na vida consciente do pecador. Esta conversão tem dois aspectos, um ativo e
outro passivo. No primeiro, a conversão é contemplada como a mudança efetuada por Deus,
na qual Ele muda o curso consciente da vida do homem. E no último, é considerada como o
resultado desta ação divina... (É) aquele ato de Deus pelo qual Ele faz o regenerado, na
sua vida consciente, voltar para Ele com fé e arrependimento".' Conversão, portanto, é o
resultado da ação do Espírito Santo que leva o pecador a arrepender-se de seus pecados
e a crer em Cristo como Salvador e Senhor.
Embora a Bíblia contenha muitas exortações aos homens para que se arrependam e creiam
em Jesus Cristo, o ser humano não é capaz de arrepender-se e crer por si mesmo. O verdadeiro
arrependimento e a fé salvadora são dádivas de Deus. Os crentes de Jerusalém, ao ouvirem a
explanação que Pedro fez sobre a conversão de Comélio e de seus familiares, glorificaram a
Deus, dizendo: "Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento pua a
vida" (At 11. 18), Eles reconheciam que o verdadeiro arrependimento é concedido por Deus,
mediante a atuação do Espírito Santo. Por meio do profeta Jeremias, Deus
disse ao seu povo: "Pode acaso o etíope mudara sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então
poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal" (Jr 13.23). O homem, morto em
transgressões e pecados – ou em conseqüência do pecado – e incapaz de arrepender-se; ele só
se arrepende quando é tocado pelo Espírito Santo.
Mediante o arrependimento, o pecador se desvincula da antiga vida de pecado; e, através
da fé, ele se vincula à nova vida em Cristo.
A fé que leva à salvação pode ser definida como "uma confiante entrega a Cristo para a
salvação' ." Calvino afirmou que "podemos ter uma definição perfeita da fé, se afirmamos
que é um conhecimento firme e certo da vontade de Deus a nosso respeito, fundado na
verdade da promessa gratuita feita em Jesus Cristo, revelada ao nosso entendimento e
selada em nosso coração pelo Espírito Santo". 8 Berkhof define a fé salvadora como
"uma firme convicção, efetuada no coração pelo Espírito Santo, quanto â verdade do
evangelho, e uma confiança sincera e entusiástica nas promessas de Deus em Cristo". 9 O
apóstolo Paulo deu testemunho de sua fé, afirmando: "Eu sei em quem tenho crido, e
estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia" (2 Tm 1.12).
À semelhança do verdadeiro arrependimento, a fé salvadora também procede
de Deus, através da atuação do Espírito Santo. O apóstolo Paulo escreveu: "Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (ES 2.8). A fé é
dom de Deus!

A Justificação e a Segurança do Salvo


Quando o pecador recebe Jesus Cristo como Salvador ele é justificado diante de Deus,
mediante a obra redentora de Cristo. "A justificação é um ato judicial de Deus, no qual Ele
declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas
com vistas ao pecador'."

Isto significa que todos os seus pecados – do passado, do presente e do futuro – são
perdoados, ele é restaurado como filho de Deus e passa a ter direito à herança da vida eterna.
O apóstolo Paulo ensinou: "Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm
8.1). Esta justificação, embora operada fora do homem, isto é, no tribunal de Deus, se
faz sentir também no interior do homem. "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz
com Deus" (Rm 5.1).
A justificação, contudo, não impede o homem de continuar pecando. Todo
ser humano é pecador. Nasce em pecado, pecou no passado, peca no presente e
continuará pecando até o momento de sua morte. O apóstolo João, escrevendo a
crentes, afirmou: "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos
enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado,
fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós" (1 Jo 1.8,10). E o apóstolo Paulo
declarou: "Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm 7.19).
Por isto Jesus nos ensinou a orar "perdoa-nos as nossas dívidas" (Mt 6.12). E o apóstolo
João escreveu: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1.9).
O pecado produz no crente um sentimento de tristeza e de separação de Deus. E
quando o crente toma consciência do seu pecado, sente uma compulsão que o impele a
confessar o pecado, abandoná-lo e pedir perdão a Deus. A experiência de Pedro nos dá um
exemplo disso. Ele negou o Senhor Jesus, mas quando tomou consciência de seu
pecado "chorou amargamente" (Mt 26.75). Aqui está a diferença entre o verdadeiro
crente e aquele que, embora se declarando crente, ainda não foi transformado pelo Espírito
Santo. O verdadeiro crente não tem prazer no pecado. O apóstolo João, na mesma

epístola em que declarou que se dissermos que não temos pecado, a verdade não está em
nós, afirmou também que todo aquele que permanece em Jesus Cristo "não vive pecando; todo
aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu" (1 Jo 3.6). Isto significa que o
pecado é um acidente na vida do crente e que, se alguém vive deliberadamente no pecado,
é porque não é verdadeiramente crente.
Aquele que recebe Jesus como Salvador e Senhor com toda a certeza chegará ao céu.
Isto não significa – conforme já vimos – que o crente não esteja sujeito a pecar e a quebrar sua
comunhão com Deus. Mas o verdadeiro crente jamais cairá completamente; isto significa que
sua fé e seus hábitos cristãos jamais desaparecerão inteiramente. Mas essa perseverança
também é obra do Espírito Santo. Os teólogos chamam isto de perseverança dos santos e a
definem "como a contínua operação do Espírito Santo no crente, pela qual a obra da graça
divina, iniciada no coração, tem prosseguimento e se completa"." O apóstolo Paulo declarou a
mesma coisa, porém com palavras diferentes: "Estou plenamente certo de que aquele que
começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus" (Fp 1.6).
O Rev. José Martins, em seu livro O Homem e a Salvação," aponta sete razões
bíblicas para a nossa segurança de salvação. Duas se relacionam como Pai, três com o
Filho e duas com o Espírito Santo. Estas razões são as seguintes:
a) O propósito e o poder do Pai garantem a nossa salvação.
Paulo escreveu aos efesios que nós "fomos também feitos herança, predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade"
(El` 1. 11). E João escreveu: "Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas,
porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4.4). O Pai
temo propósito de nos salvar. Como ele não muda, podemos ter segurança da salvação. Nós
somos por demais frágeis, mas o poder do Pai garante a nossa salvação. Nós venceremos
porque maior é aquele que está em nós do que aquele que está no mundo.

h) A morte, a ressurreição e a intercessão de Cristo garantem a nossa salvação.


O apóstolo Paulo escreveu: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?...
Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está â
direita de Deus e também intercede por nós" (Riu 8.33,34). Jesus morreu em nosso lugar,
ressuscitou como prova de que o Pai aceitou o seu sacrifício e está constantemente
intercedendo por nós. Ele é o nosso advogado diante do Pai. Por isto podemos ter a certeza
da salvação.

c) O selo e openhor do Espírito Santo garantem a nossa salvação.


O apóstolo Paulo ensinou também que "depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito
da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em
louvor da sua glória" (ES 1.13,14). Na antigüidade uma das funções do selo era garantir a
propriedade de um objeto ou de um escravo. O selo era uma marca ou uma tatuagem, e o
penhor era um objeto que garantia o pagamento de uma dívida. O Espírito Santo vem habitar
em nós a partir do momento em que recebemos Jesus como Salvador. Assim, ele nos sela
como propriedade de Deus e, ao mesmo tempo, é o penhor de que o Pai cumprirá a
promessa de nos salvar.

Conclusão

A nossa salvação depende da graça divina, e não dos esforços humanos. Se


dependesse de nós, não poderíamos ter segurança, pois somos fracos, imperfeitos, instáveis.
Mas, como depende só da graça de Deus, a situação e diferente. "Quando o próprio Deus é
o guardião de nossa alma, podemos ficar tranqüilos, na certeza de que estamos de fato
seguros — sem o mínimo resquício de dúvida"."

"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9).
Deus nos escolheu, nos chamou, nos regenerou, nos converteu e nos justificou
para sermos o seu povo.

Capítulo 20 ________
lareoa
EO
de o
O plano de Deus para a nossa salvação inclui uma organização para nos
arrebanhar. Na antiga aliança, feita com Abraão e ratificada no Sinai quando Deus deu a
Lei, essa organização era constituída pelos israelitas. Deus havia prometido a
Abraão: "... de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome" (Gn
12.2). Mas Israel quebrou a aliança como SENHOR e negou-se a receber o Messias. "Veio para o
que era seu, e os seus não o receberam" (Jo 1. 11).

Felizmente, Deus fez uma nova aliança, através de Jesus Cristo. E "a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (Jo 1.12). E com estes
Jesus edificou a sua igreja, conforme ele mesmo prometeu: "... edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18). Assim, a nação de Israel,
como organização instituída para congregar o povo de Deus, foi substituída pela igreja.

Conceitos Bíblicos de Igreja Mas, que é a igreja?

Manford George Gutzke cita vários usos da palavra igreja para mostrar que, na Bíblia, esta
palavra tem sentido diferente daqueles que lhe são atribuídos em nossa linguagem comum.
Diz ele: "Posso usar essa palavra para significar um edifício quando digo: 'Há três igrejas
neste quarteirão'. A Bíblia não emprega a palavra igreja neste sentido. Posso também usar a
palavra para significar uma denominação, assim: 'A Igreja Metodista tem muitas
congregações nesta cidade'. A Bíblia não

se refere a denominações, de modo nenhum. Posso empregar a palavra para significar um


fator cultural que oper a na comunidade. Posso então dizer: 'A igreja opõe-se ao vício
e à venda de bebidas alcoólicas'. Porém, neste sentido, a Bíblia nunca emprega a palavra.
Posso usá-la para me referira todas as atividades públicas dos cristãos como um grupo na
sociedade. Poderia então dizer: 'A igreja, na comunidade onde me criei, era certamente
fraca'. Com este sentido a Bíbliajamais emprega a palavra. Ou poderia usá-la para aludir a
uma causa. Diria então: 'Por certo, sou a favor do desenvolvimento da Igreja'. Mas o
Novo Testamento não emprega a palavra com este sentido".'

Os escritores do Antigo Testamento usaram duas palavras hebraicas para designara


igreja. A primeira é kahal, que vem de uma raiz que significa chamar, e é traduzida em nossa
língua por assembléia. A segunda é 'edhah, que vem de uma raiz que significa indicar ou
encontrar-se ou reunir-se num lugar indicado.

No Novo Testamento a palavra igreja vem de ekklesia, palavra grega usada para
designara assembléia da população das cidades gregas que se reunia pua tratar de questões
administrativas. No Novo Testamento, a palavra igreja é usada com vários significados. Os
principais são:
a) Um grupo de crentes de uma determinada localidade, uma igreja local. Por
exemplo: "a igreja que estava em Jerusalém" (Ar 11.22); "a igreja de Antioquia" (At 13.1).
Ver também At 5.11 e 11.26.
b) Um grupo de crentes que se reunia na casa de uma determinada pessoa, uma igreja
doméstica (1 Co 16.19; C14.15; F12).
c) Vários grupos de crentes, em diferentes lugares, unidos pela mesma fé (At 9.31).
d) A totalidade daqueles que, no mundo intei ro, professam a Cristo e se
organizam para fins de culto, chamada genericamente de igreja de Deus (1 Co 10.32; 11.22;
12.28).
e) A totalidade dos crentes, quer no céu quer na rena, que se uniram ou ainda se
unirão a Cristo como Salvador e Senhor, chamada de corpo de Cristo (Ef 1.22; 3.10,21;
5.2332; Cl 1.18,24).

A Essência e o Caráter Multiforme da Igreja


Jesus declarou: —— edificarei a minha igreja" (Mt 16.18). A partir dessas palavras surge
a pergunta: Que tipo de igreja Jesus edificou? A resposta é que a igreja edificada por Jesus
é um organismo espiritual, formado pelo conjunto dos salvos de todos os tempos, raças e
lugares. Ela não pode ser discemida pelos olhos físicos porque é essencialmente espiritual.
O seu rol de membros é o livro da vida (Lc 10.20; Ap 20.15; 21.27). Mas Jesus usou a palavra
igreja também com outro significado. Ele disse: "Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo
entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo
uma ou duas pessoas, pua que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra
se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja,
considera-o como gentio e pubhcmo" (Mt 18.15-17). Aqui Jesus usa a palavra igreja para
designar uma comunidade de crentes, constituída por seus servos.

A igreja de Cristo é uma só, mas pode ser vista de diferentes ângulos. Ela pode
ser vista como igreja militante e igreja triunfante. Militante é o segmento da igreja que
ainda está na terra, lutando "contra os principados e potestades, contra os dominadores deste
mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal" (Ef 6.12). Triunfante é o segmento
da igreja que está no céu com Cristo (Ap 7.9-17).

A igreja pode ser descrita como visível e invisível. Visível é o segmento da igreja que
se manifesta numa "sociedade composta de todos quantos, em todos os tempos e lugares do
mundo, professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos"' É a igreja como a
vemos, isto é, os membros, a pregação da Palavra, a administração dos sacramentos, a

organização, a vida comunitária, o testemunho público dos crentes e a oposição ao mundo.


Igreja invisível é o conjunto de todos os salvos do presente, do passado e do futuro. É invisível
porque só Deus a conhece.
A igreja pode ser considerada também como organismo e organização. Esta distinção é
aplicada apenas à igreja visível. Como organismo, a igreja é a união dos fiéis, sob o vínculo do
Espírito. Paulo fala desse aspecto da igreja em 1 Confistios 12, onde compara os membros da
igreja aos membros do corpo humano. Como organização, a igreja é uma agência que
tem como alvo de suas atividades a conversão dos pecadores e o aperfeiçoamento dos salvos.

Apesar dessas distinções, devemos ter em mente que a igreja de Cristo é uma só. A
sua essência está na comunhão espiritual e invisível dos verdadeiros crentes.
Já que a igreja de Cristo é uma só, o que dizer, então, do g r a n d e n ú m e r o d e
d e n o m i n a ç õ e s ? C r e m o s q u e a s denominações são uma concessão de Deus â dureza de
nossos corações, são uma contingência de nossas limitações humanas. O desejo de Deus é que
pensemos a mesma coisa, tenhamos o mesmo amor, sejamos unidos de alma, tendo o
mesmo sentimento (Fp 2.2). O ideal seria a existência de uma só denominação. Mas,
infelizmente, não atendemos a esse desejo nem atingimos esse ideal. Nossas limitações,
tendências e características pessoais influenciam nossa maneira de ver e sentir nossos
compromissos com Deus e o modo caneta de servir ao Senhor. Por isto, surgiram as
denominações. Porém, o mais importante é que existe uma única igreja de Cristo, da qual
fazem parte todos os verdadeiros crentes.

Os Atributos da Igreja
A igreja tem os seus atributos, isto é, as suas qualidades que a distinguem de outras
instituições. Os atributos da igreja são: unidade, santidade e catolicidade.
A unidade da igreja é de caráter interno e espiritual. "Esta
unidade implica que todos os que pertencem à igreja participam da mesma fé, são solidamente
interligados pelo comum laço do amor, e têm a mesma perspectiva gloriosa do finnr011.3
O apóstolo Paulo falou dessa unidade, afirmando: "Há somente um corpo e um Espírito,
como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor,
uma s0 fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio
de todos e está em todos" (Ef 4.4-6).

A santidade da igreja significa que todos os seus membros foram separados para
Jesus Cristo. O apóstolo Paulo costumava dirigir-se aos crentes chamando-os de santos.
Evidentemente ele sabia que os membros da igreja não são perfeitos, mas são santos no
sentido de pertencerem a Jesus Cristo. A santidade completa só é encontrada na
igreja triunfante.

A catolicidade da igreja ressalta a sua universalidade. Na antiga aliança os servos


de Deus pertenciam a um único povo: a nação israelita. Os gentios só poderiam tornar-se
povo de Deus através da adoção da nacionalidade israelita. Na nova aliança os servos de Deus
pertencem a "todas as nações, tribos, povos e línguas" (Ap 7.9).

Além desses três atributos, alguns teólogos incluem um quarto: a apostoficidade. Este
atributo tem dois elementos: a igreja é apostólica porque foi edificada sobre o fundamento
dos apóstolos (Ef 2.20), e porque tem um compromisso de fidelidade à doutrina dos
apóstolos (GI 1.8,9; 1 Co 3.10,11).

As Marcas da Verdadeira Igreja de Cristo

A i gr ej a vi s í ve l s e c omp õ e d e d e n o mi n a ç ões e comunidades locais de crentes.


Nenhuma denominação ou igreja é perfeita ou completa. "As igrejas mais puras debaixo do
céu estão sujeitas à mistura e ao erro" 4 Mas a Escritura Sagrada aponta alguns sinais que
nos permitem distinguir uma igreja verdadeira de outra que não passa de seita ou ajuntamento de
pessoas. As principais marcas de uma igreja verdadeiramente

cristã são: a correta pregação da Palavra de Deus, a correta administração dos sacramentos e o
fiel exercício da disciplina eclesiástica.
A pr egação de uma ver dadeira i grej a cr ist ã est á fundamentada na Escritura
Sagrada, a Palavra de Deus. Pode haver divergência entre as doutrinas de uma igreja e outra.
Umas batizam por aspersão, outras por imersão. Umas batizam crianças, outras só
batizam adultos. Mas é imprescindível que todas as doutrinas estejam alicerçadas na Escritura
Sagrada. Toleram-se divergências de interpretação; mas a fonte é uma só: a Escritura
Sagrada. Quando a igreja deixa a Palavra de
as
Deus e passa a pregfilosofias humanas ou experiências
pessoais, ela está deixando de ser uma verdadeira igreja cristã. A correta administração dos
sacramentos – outra marca de uma igreja verdadeiramente cristã– não significa que todas as
igrejas devem seguir o mesmo ritual. Porém, implica na obediência a três princípios
fundamentais: (1) o conteúdo e a forma de administração dos sacramentos precisam estar de
acordo com o ensino da Escritura Sagrada; (2) a pessoa que administra os sacramentos deve
estar revestida de autoridade espiritual e eclesiástica; (3) os participantes dos sacramentos
precisam estas devidamente qualificados.

O fiel exercício da disciplina eclesiástica é outra marca de uma verdadeira igreja cristã.
Onde não há disciplina até os verdadeiros crentes correm o risco de se corromper. "As igrejas
que relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde, em sua esfera de
influência, um eclipse da luz da verdade e abusos nas coisas santas".' O apóstolo Paulo
ordenou â igreja de Corinto que exercesse a disciplina eclesiástica (1 Co 5.1 5,13). E ele
mesmo exerceu a disciplina (1 Tm 1.20). A igreja de Éfeso foi elogiada porque não suportava
"homens maus" e porque odiava "as obras dos nicolaítas" (Ap 2.2,6). Mas as igrejas de
Pérgamo e de Tiatira foram duramente condenadas por não exercerem a disciplina
sobre seus membros (Ap 2.14,15,20). A ordem clara de Jesus é que o irmão que pecar
deve ser confrontado; se ele não der ouvido à advertência, deve

ser considerado como "gentio e publicano" (Mt 18.15-18). As palavras de Jesus indicam a
necessidade de exclusão daqueles que permanecem no pecado, j á que gentio e publicano
não faziam parte do povo de Deus na época de Jesus.

Conclusão
A igreja não é invenção humana; ela foi instituída pelo Senhor Jesus para pregar o
evangelho e arrebanhar os convertidos. Igreja não é edifício, não é tijolo, não é
pedra. Igreja é gente. Igreja é "povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar
as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9).

Três palavras gregas apontam a missão da igreja: kérigma, diaconia e koinonia. A palavra
kérigma significa mensagem, proclamação. A igreja existe para proclamara salvação e a
nova vida em Jesus Cristo. Diaconia é serviço. A igreja tem a obrigação de prestar serviço aos
indivíduos e à sociedade. O exemplo foi dado por Jesus, que veio buscar e salvar os
perdidos, mas que, ao mesmo tempo em que pregava, também alimentava, consolava, curava
e libertava. Koinoma geralmente é traduzida por comunhão. Harvey Cox, um teólogo moderno,
afirma que koinonia é o "aspecto da responsabilidade da igreja que exige uma demonstração
visível daquilo que a igreja está dizendo no kérigma (proclamação) e apontando na sua diaconia
(serviço)".'

A Igreja foi instituída por Jesus Cristo, e "as portas do inferno não prevalecerão contra
ela" (Mt 16.18).

Capítulo 21 _________
o Batismo
Cristão
O batismo foi instituído por Jesus Cristo após a sua ressurreição. Ele ordenou aos
discípulos: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Cada pessoa que cresse em Jesus como Salvador e
Senhor devia receber o batismo como sinal e selo de uma nova relação com Deus. "Quem crer e
for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado" (Mc 16.16) . Após ouvir
o ser mão de Pedro, no dia de Pentecostes, quase três mil pessoas se sentiram tocadas e lhe
perguntaram: "Que faremos?" (At 2.37). E a resposta foi: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado" (At 2.38).

A nossa Confissão de Fé afirma que "O batismo é um sacramento do Novo Testamento,


instituído por Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na igreja a pessoa batizada,
mas também para servir-lhe de sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo, da
regeneração, da remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus por Jesus Cristo
a fim de andar em novidade de vida".'

A palavra sacramento não está na Bíblia. Ela foi usada em relação ao batismo e â
Ceia do Senhor, pela primeira vez, por Tertuliano, um teólogo que viveu muitos anos após a
morte de Cristo e dos apóstolos. Mas isso não significa que ela seja imprópria para designar as
duas ordenanças deixadas por Jesus para serem observadas por seus servos. Sacramento era o
nome dado ao juramento que o soldado fazia de fidelidade ao imperador, até à morte.
E é neste sentido que nós usamos esse termo. No batismo o crente faz um juramento de fidelidade
a

Cristo até a morte; e quando participa da Santa Ceia, o crente reafirma este j uramento.
Portanto, quando falamos em sacramento estamos nos referindo a uma ordenança sagrada,
instituída por Jesus Cristo, para simbolizar, selar e aplicar ao crente os benefícios da salvação.

0 Significado do Batismo
O batismo corresponde â circuncisão praticada na antiga
aliança. A circuncisão foi instituída como sinal e selo do pacto
estabelecido com Abraão (Gn 17.9-14; Rm 4.11-13). E o
batismo é o sinal e o selo da nova aliança, estabelecida por
Jesus Cristo. Mas o batismo, por ser um sacramento da nova
aliança, é ainda mais rico de significado do que a circuncisão.
a) O batismo significa e sela a nossa união com Cristo

No capitulo 5 da Epístola aos Romanos, Paulo traça um paralelo entre Adão e Cristo. Ele
mostra que, quando nascemos, nos identificamos com Adão. E, em virtude da queda de nossos
primeiros pais, nascemos pecadores; °(...) por um só homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram" (Rm 5.12). Mas quando recebemos Jesus como nosso Senhor e Salvador, nós
nos identificamos com ele. "Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se
tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornaram
justos" (Rm 5.19). Por isso, a Bíblia afirma que fomos crucificados (Rm 6.6), morremos
(Rm 6.8; C13.3; 2 Tm 2.11) e ressuscitamos (Ef 2.6; Cl 2.12; 3.1) com Cristo. "( ... ) Um
morreu por todos; logo, todos morreram" (2 Co 5.14), afirmou o apóstolo Paulo. E o batismo
significa e sela a nossa união com Cristo. "Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo
batismo; pua que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória de Pai, assim
também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na
semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição"
(Rm 6.4,5).
b) O batismo significa e sela a nossa participação nas bênçãos do pacto da graça
Antes da fundação do mundo, a Trindade – Pai, Filho e Espírito – estabeleceu o pacto da
redenção. O Filho "se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de fazer a expiação do
pecado, suportando o castigo necessário, e de satisfaze r as exigências da lei em lugar
de todo o seu Povo".2 Baseado neste pacto, Deus estabeleceu com o homem o pacto da graça.
"Pode-se definira aliança (pacto) da graça como o acordo feito com base na graça, entre
o Deus ofendido e o pecador ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a salvação
mediant e a fé em Cristo, e o pecadora aceita confiantemente, prometendo uma vida de fé
e obediência".' A promessa principal do pacto da graça é que Deus será o nosso Deus e também
da nossa descendência. Esta promessa inclui bênçãos temporais e eternas. Através dela Deus
garante nos conduzir nesta vida e nos receber no céu, após a nossa morte. E o batismo significa e
sela essas promessas. "De sorte que já não és escravo, porém filho: e, sendo filho, também
herdeiro de Deus" (GI 4.7).

c) O batismo significa e sela a promessa de perten cermos ao Senhor

Na antigüidade, os escravos traziam a marca do seu senhor. Essa marca podia ser
uma tatuagem ou uma cicatriz. A partir do momento em que recebemos Jesus como Salvador e
Senhor, passamos a pertencer ao Senhor. Por isto, na cerimônia de recepção de membros, o
celebrante costuma dizer às pessoas que estão professando a fé: "A profissão de fé e as
solenes promessas que acabais de fazer diante de Deus e desta igreja, sendo sinceras,
importam em uma aliança entre vós e Deus, na qual Ele promete ser o vosso único Deus, e vós
prometeis pertencer-Lhe. No batismo que agora vai ser ministrado, Deus vos dá um penhor
desta santa afinça91.4 Nós pertencemos ao Senhor. "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus" 0 Pe 2.9). E o batismo é a marca e o
selo da propriedade divina.
d) O batismo é um meio de graça
O batismo é um meio que Deus usa para nos transmitir bênçãos. A Confissão de Fé
nos lembra que "a eficácia do batismo não se limita ao momento em que é administrado"'
E o Catecismo Maior nos ensina que "o dever necessário, mas muito negligenciado, de
tirar proveito do nosso batismo, deve ser cumprido por nós durante a nossa vida,
especialmente no tempo da tentação e quando assistimos à administração desse
sacramento a outros' :°

Batismo e Salvação
O batismo a ninguém salva. Só Jesus é Salvador. A Confissão de Fé afirma que "a
graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com" o batismo a ponto de
impedir de ser regenerado e salvo quem não o tenha recebido .7 Mas o batismo faz parte do
processo de nossa salvação. E, conforme afirma Berkhof: "A negligência voluntária do seu
uso redunda no empobrecimento espiritual e tem tendência destrutiva, precisamente
como acontece com toda desobediência persistente a Deus".'

Embora o batismo não seja indispensável para a salvação, quem recebe Jesus como
Salvador e Senhor deve ser batizado. No dia de Pentecostes, após ouvir o sermão de Pedro,
quase três mil pessoas "perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado" (At 2.37,38). Outra
evidência de que o salvo deve, necessariamente, receber o batismo está nas palavras de
Ananias, a quem Deus encarregou de visitar Saulo logo após sua conversão: "E agora, por
que te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele" (At 22.16).

Deve-se acrescentar também que o desejo de receber o batismo é uma das


evidências de verdadeira conversão. O eunuco, após ouvir a pregação do evangelho
através de Filipe, disse-lhe: "Eis aqui água; que impede que seja eu batizado?
Filipe respondeu: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio
que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Então, mandou parar o carro, ambos desceram à água,
e Filipe batizou o eunuco" (At 8.36-38).
Conclusão
Quando instituiu o batismo, Jesus não disse explicitamente a forma como este
sacramento devia ser ministrado. Mas ordenou que o batismo fosse feito "em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19). isto significa que o batismo sela uma relação
especial entre o batizando e a Trindade. Nessa relação especial, o batizando se compromete
a viver em completa obediência a Deus. E Deus o adota como filho, fazendo-o co-
herdeiro com Cristo.

Capítulo 22 __________
Por Que
Batizamos
Por Imersão
As igrejas evangélicas divergem quanto à forma de administrar o batismo.
Algumas batizam por imersão, outras por aspersão. Também existe divergência entre as igrejas
que batizara por imersão, pois algumas só batizara em rios ou poços de água corrente; outras
batizam em piscinas e batistérios. E algumas igrejas imersionistas rebatizam as pessoas que
se apresentam pua serem recebidas como membro, mesmo que tais pessoas tenham sido
batizadas por imersão em igreja de outra denominação.
A Igreja Presbiteriana, aceita como válido o batismo feito por outras igrejas genuinamente
evangélicas, qualquer que tenha sido a forma usada — seja aspersão ou imersão. Por isto, algumas
pessoas julgam que não estamos muito seguros quanto â forma de batismo que adotamos. A
verdade, porém, é que temos inteira convicção de que a aspersão é a forma correta de se
administrar o batismo, mas não rebafizamos as pessoas que foram batizadas por imersão porque
entendemos que, no batismo, a água é apenas símbolo — se foi usada muita ou pouca
água isto não faz diferença.

A Interpretação Bíblica dos Imersionistas

Reconhecemos que a for ma do batismo não está claramente definida na Bíblia.


Por isto, homens piedosos, cultos e fiéis, examinando a Escritura têm concluído que a
forma correta de se ministrar o batismo é a aspersão. Outros, igualmente piedosos,
cultos e fiéis, têm concluído que a forma bíblica é a imersão.
Examinemos, inicialmente, a interpretação que os imersionistas dão a alguns
textos bíblicos.
a) Os imersionistas afirmam que a palavra batismo significa imersão e que o verbo
banzar significa imergir. Logo, - afirmam - o batismo deve ser aplicado por imersão.
A forma mais simples de testar se duas palavras são sinônimas é substituir uma pela
outra; se o sentido não se alterar, fica provado que as duas têm o mesmo significado. Vamos
aplicar este teste a um texto bíblico onde aparece o verbo batizar: "Ora, irmãos, não
quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar,
tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés" (1 Co
10.1,2). Substituindo batizar por imergir, fica assim: "( ... ) tendo sido todos imergidos
assim na nuvem como no mar, (..y'. Alterou o sentido? É claro. Os israelitas atravessaram
o mar de pés enxutos (Êx 14.15-22,29). Não foram imersos no mar, nem na nuvem.
Concluímos, pois, que neste texto o verbo batizar não é sinônimo de imergir. O argumento
imersionista perde a sua força, pois o seu pressuposto é que batizar significa sempre imergir.

b) Os imersionistas argumentam também que o verbo batizar deriva do grego bailio


e baptizo, que significam imergir.

Vamos examinar dois textos onde aparecem estes verbos. O primeiro é Daniel 4.25: -( ...
) e serás molhado do orvalho do céu". Na versão grega do Antigo Testamento, chamada
Septuaginta, o verbo molhado é bapto. É possível imergir alguém no orvalho do céu? Claro
que não é. Logo, aqui bapto não significa, em hipótese alguma, imergir. O segundo texto é
Lucas 11.38: "O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavava primeiro, antes
de comer". No texto grego, lavava é o verbo baptizo. Os judeus se lavavam antes das
refeições. Mas, se lavavam como? Marcos registrou esse costume assim: "Os fariseus e todos
os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as
mãos; quando voltam da praça,

Comparando estes dois textos, podemos afirmar que em Lucas 11.38 o verbo baptizo
significa aspergir e não imergir. Em alguns textos bapto e baptiza significam imergir; em
outros significam molhar, tingir e aspergir. Novamente, o argumento imersionista perde a
sua força, pois eles partem do pressuposto de que bapto e baptizo significam imergir, e só
imergir.

c) Os imersionistas afirmam também que o fato de João Batista batizar no rio Jordão
significa que ele batizava por imersão.

A expressão bíblica "João batizava no rio Jordão" apenas identifica a região onde João
batizava, sem ter nada a ver com o modo ou a forma como João batizava. Isto fica
comprovado pelo registro de João 10.40: "Novamente, se retirou para além do Jordão, para
o lugar onde João batizava no princípio; e ali permaneceu".

d) Argumentam também que, se João Batista batizava em Enom, "porque ali havia
muitas águas", isto prova que ele batizava por imersão.

Quanto ao registro de que "João estava também batizando em Enom, perto de Salim,
porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era batizado" (Jo 3.23), D.
I. Wiseman, professor de Assiriologia na Universidade de Londres, afirma que Enom é, em
árabe, Ain, que significa fonte.' Muitas águas aqui, portanto, significa muitas fontes de
água. Enom era o lugar apropriado para João batizar, já que multidões iam até ele, e essas
multidões precisavam de água para beber e para higiene pessoal.

e) Os imersionistas afirmam que Jesus foi batizado por imersão, porque o registro
bíblico afirma que, após ser batizado, Jesus saiu da água.

O fato de Jesus ter saído da água após o batismo não significa que ele tenha sido
batizado por imersão. Nem todas as vezes que uma pessoa entra e sai da água materializa-
se uma imersão. Às vezes uma pessoa entra e sai da água sem molhar nada mais além
dos pés.
f) No batismo do eunuco, ele e Filipe desceram à água. Por isto os imersionistas
afirmam que o eunuco foi batizado por imersão.
No caso do eunuco, ele seguia pelo caminho. E este, normalmente, fica num nível acima
da água. Logo, pua ir até onde havia água ele teria que descer. Se descer à água
significasse imersão, teríamos que concluir que Filipe também foi imerso, pois o texto bíblico
afirma que "ambos desceram â água" (At 8.38).
g) Paulo compara o batismo a um sepultamento; logo, concluem os imersionistas, o
batismo deve ser feito por imersão.
Quando Paulo afirmou que fomos sepultados com Cristo na morte pelo batismo (Rm 6.4;
C12.12), ele estava se referindo ao significado do batismo, e não ao modo de ministrá-lo. Nos
m e s m o s c a p í t u l o s P a u l o a f i r m a t a m b é m q u e f o m o s circuncidados (CI 2.11) e
crucificados (Rm 6.6) com Cristo, prova de que ele está tratando da nossa identificação com
Cristo, na sua morte, e não da forma de se ministrar o batismo.

Evidências Bíblicas Contra a Imersão


Como acabamos de ver, as interpretações que os imersionistas fazem de alguns
textos bíblicos para defender o batismo por imersão são superficiais, incongruentes e
infundadas.

Além do que já foi exposto, existem evidências fortes de que o batismo, na época de
Jesus e dos apóstolos, não era ministrado por imersão. Por exemplo: João Batista batizava
multidões (Mt 33,6), além de pregar. Será que ele dispunha de tempo e de energia física para
imergir tanta gente? O carcereiro de Filipos foi batizado logo depois da meia noite,
provavelmente no pátio da própria prisão, onde residia, depois de um terremoto que fendeu as
paredes da prisão (At 16.23-33). É possível pensar em batismo por imersão em situação como
essa? Jesus deixou claro que as pessoas que cressem nele deviam receber o
batismo. Será que ele instituiria uma forma de batismo, como a imersão, que fosse inacessível
pua idosos, doentes e inválidos? Já que o evangelho devia ser levado até os confins da
terra, como batizar por imersão as pessoas que viviam em regiões onde, em certas épocas
do ano, a temperatura fica abaixo de zero?
Mas, a maior evidência de que a imersão não era a forma de batizar usada pelos
apóstolos, foi o batismo de quase três mil pessoas no dia de Pentecostes (At 2.37-41). Não
havia rio em Jerusalém; apenas reservatórios de água para uso da população. Fazia
cinqüenta dias que Jesus tinha sido crucificado por ordem dos romanos, mediante articulação das
autoridades judaicas. Portanto, as autoridades judaicas e romanas se posicionavam
contra os cristãos. Como poderiam os apóstolos batizar por imersão quase três mil pessoas nos
reservatórios de água que a população usava para beber e pua preparar os alimentos?
As autoridades permitiriam isto? A população aceitaria que os reservatórios fossem
usados para tal fim? Portanto, os quase três mil convertidos no dia de Pentecostes não
foram batizados por imersão.
Conclusão

Ainda que ficasse provado que João Batista batizava por imersão, que Jesus foi batizado por
imersão e que os apóstolos batizavam por imersão, poderíamos continuar batizando por aspersão,
sem desobedecer â Bíblia Sagrada. Pois no batismo a água é símbolo; logo, não importa a
quantidade. Lembremo-nos de que quando Jesus instituiu a Santa Ceia ele usou
quantidades normais de pão e vinho, mas hoje celebramos a Santa Ceia com um pequeno
pedaço de pão e um pequenino cálice de vinho ou de suco de uva. Ninguém questiona
a quantidade de pão e vinho usada na Santa Ceia, pois todos sabem que estes elementos
são símbolos. No batismo a água é símbolo, logo, a quantidade não importa. Se uma
pequena porção de pão e vinho é aceita como elemento suficiente para

a celebração da Santa Ceia, por que uma pequena porção de água não é suficiente para
ministração do batismo?

Como a Bíblia não diz explicitamente a forma como o batismo deve ser feito, praticamos a
aspersão, pois ela é mais prática — pode ser praticada em qualquer lugar, em qualquer
circunstância e com qualquer pessoa, mesmo que o batizando seja um enfermo, uma pessoa
muito idosa ou um paralítico. Cremos que Deus não determinaria uma forma de batismo que
discriminasse qualquer pessoa por deficiência física; e a aspersão não discrimina ninguém.

Capítulo 23 _____________
Por Que Batizamos
Por Aspersão
Conforme j á vimos, a forma do batismo não está claramente definida na Bíblia.
Os imersionistas tentam provar que a imersão é a forma correta de se ministrar o batismo,
mas as interpretações que eles fazem de alguns textos bíblicos para defender o batismo por
imersão são superficiais, incongruentes e infundadas.
Vimos, também, que ainda que ficasse provado que João Batista batizava por imersão, que
Jesus foi batizado por imersão e que os apóstolos batizavam por imersão, poderíamos continuar
batizando por aspersão, sem desobedecer à Bíblia Sagrada. Pois no batismo a água é símbolo;
logo, não importa a quantidade.
Se Jesus tivesse ordenado: "Batizai por imersão ou batizai por aspersão", não haveria o que
discutir. Mas, quando instituiu o batismo, Jesus não definiu a quantidade de água que devia
ser usada — aliás, ele nem mencionou "água" na instituição. Logo, temos de examinar as
Escrituras buscando as evidências da forma correta do uso da água no batismo.

A Função da Água no Batismo


Uma pergunta interessante é esta: Se na instituição do batismo Jesus não mencionou
"água", por que temos de usar água no batismo?
A água faz parte do batismo porque ela é símbolo de purificação. Este simbolismo aparece
tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Observe estes exemplos:
1) No monte Sinai, Deus disse a Moisés: "Vai ao povo e purifica-o hoje e amanhã" (Êx
19.10). "Moisés, tendo descido do monte ao povo, consagrou o povo; e lavaram as suas vestes"
(Êx 19.14). Observe que o lavaras vestes fez parte da purificação do povo.
2) Quando Deus deu as instruções pua a edificação do tabernáculo, ordenou que fosse
colocada uma bacia de bronze entre a tenda da congregação e o altar pua que, nela, os
sacerdotes lavassem as mãos e os pés antes de chegarem ao altar para ministras os
sacrifícios. Este lavar mãos e pés fazia parte da purificação dos sacerdotes.
3) Quando ordenou a consagração dos levitas, Deus disse a Moisés: "Toma os levitas
do meio dos filhos de Israel e purifica-os; assim lhes farás, para os purificar: asperge
sobre eles a água da expiação" (Nm 8.6,7).
4) Todas as cerimónias de purificação registradas no livro de Levítico incluíam o uso da
água (Lv 15-17).
5) Nas bodas em Caná da Galiléia, onde Jesus fez o seu primeiro milagre, havia "seis
talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações" (Jo 2.6). Estas purificações eram
cerimoniais, e não apenas higiênicas.
John Sartelle, em seu livro O Batismo Infantil, afirma: "Podemos entender facilmente por
que Deus escolheu a água como símbolo. Porque é um agente universal de limpeza.
Ninguém esperaria que o pó, as folhas, ou o suco de frutas significasse limpeza. Assim, Deus
escolheu este agente de limpeza universal como um símbolo de pureza espiritual".'

A Aspersão no Antigo Testamento


A aspersão era uma prática comum nos rituais de purificação registrados no Antigo
Testamento. A ratificação da ali ança de Deus co m Isr ael – u m dos mo ment os mai s
importantes da história do povo de Deus no passado – foi selada com a aspersão. Veja o relato a
seguir: "Moisés escreveu todas
as palavras do Senhor e, tendo-se levantado pela manhã de madrugada, erigiu um altar ao pé
do monte e doze colunas, segundo as doze tribos de Israel. E enviou alguns jovens dos
filhos de Israel, os quais ofereceram ao Senhor holocaristos e sacrifícios pacíficos de novilhos.
Moisés tomou metade do sangue e o pôs em bacias; e a outra metade aspergiu sobre o
altar. E tomou o livro da aliança e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor
fazemos e obedeceremos. Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o
povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas
estas palavras" (Êx 24.4-8).
A celebração do Dia da Expiação – uma das mais importantes celebrações do
Antigo Testamento – também era selada com a aspersão. Veja, a seguir, parte das instruções
dadas pelo Senhor para esta celebração: "Da congregação dos filhos de Israel tomará dois
bodes, para a oferta pelo pecado, e um canteiro, para holocausto. Arão trará o novilho da
sua oferta pelo pecado e fará expiação por si e pela sua casa. ( ...) 'Tomará do sangue do novilho
e, com o dedo, o aspergirá sobre a frente do propiciatório; e, diante do propiciatório, aspergirá
sete vezes do sangue, com o dedo. Depois, imolará o bode da oferta pelo pecado, que será para
o povo, e trará o seu sangue para dentro do véu; e fará com o seu sangue como fez com o
sangue do novilho; aspergi-lo-á no propiciatório e também diante dele. (...) ) Do sangue
aspergirá, com o dedo, sete vezes sobre o altar, e o purificará, e o santificará das impurezas dos
filhos de Israel" (Lv 16.5,6,14,15,19).
O profeta Ezequiel, profetizando sobre a restauração de Israel, disse: "Então, aspergirei água
pura sobre vós, e ficareis purificados" (Ez 36.25). E o profeta Isaías, quando profetizou que o
SENHOR derramaria o seu Espírito, afirmou também que ele derramaria água "sobre o sedento"
(Is 44.3). A linguagem profética é simbólica mas a figura usada é a aspersão. Isto
evidencia que a aspersão de água e o modo escolhido por Deus para purificar o seu povo.

O batismo de João Batista era, entre outras coisas, a marca de uma nova era. Era o selo
colocado sobre as pessoas que se arrependiam de seus pecados. Logo, provavelmente era
feito por aspersão. O profeta Malaquias escreveu o seguinte: "Eis que eu envio o meu
mensageiro, que preparará o caminho diante de mim" (M13.1). E Jesus afirmou que esta
profecia se refere a João Batista (Mt 11.10). A mesma profecia diz que o
mensageiro "purificará os filhos de Levi" (MI 3.3). Esta purificação era feita aspergindo
água sobre eles (Nm 8.5-7). A linguagem da profecia é simbólica, mas a figura usada é a
aspersão. Muitos sacerdotes, filhos de Levi, foram batizados por João Batista. E o mais
provável é que tenham sido batizados por aspersão, conforme dá a entendera profecia de
Malaquias.

A água faz parte do batismo porque ela é um símbolo da pureza espiritual. As profecias
afirmam que Deus derramaria água ou aspergiria água sobre o seu povo. Não existe nenhum
texto, nem no Antigo nem no Novo Testamento, que afirme que Deus imergiria o seu
povo em água.

0 Derramamento do Espírito e a Aspersão


Uma forte evidência de que João Batista batizava por aspersão está na forma como
Jesus anunciou o batismo com o Espírito Santo. Ele disse: "João, na verdade, batizou com
água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo" (At 1.5). No dia de Pentecostes eles
receberam este batismo: "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no
mesmo lugar; ( ... ) Todos ficaram cheios do Espírito Santo" (At 2.1,4). Era o cumprimento
da profecia de Joel: "E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a
carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens
terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles
dias" (Jl 2.28,29).
segundo a profecia de Joel, o Espírito Santo seria derramado sobre as pessoas. Pedro, em
sua defesa por ter batizado Cornalio e outros gentios, testemunhou que o Espírito Santo
foi derramado sobre eles. Ele afirmou: "Quando comecei a falar, caiu o Espírito Santo
sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do
Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados
com o Espírito Santo" (At 11. 15,16). Se no batismo com o Espírito Santo o Espírito caiu ou
foi derramado sobre as pessoas, batismo com água significa que a água é derramada sobre
as pessoas — pois a construção gramatical é a mesma.

Conclusão
A forma como a água deve ser usada no batismo não está claramente definida na
Bíblia. Mas existem evidências de que a imersão não era praticada pelos apóstolos. A mais
forte dessas evidências é o batismo de quase três mil pessoas no dia de Pentecostes (At 2.37-
41). Não havia rio em Jerusalém; apenas reservatórios de água para uso da população para
beber e para preparar os alimentos. Certamente, as autoridades e o povo não permitiriam que
os apóstolos imergissem quase três mil pessoas nesses reservatórios. Portanto, os quase três
mil convertidos no dia de Pentecostes não foram batizados por imersão.

As profecias sobre a vinda do Messias e a nova aliança afirmam que Deus purificaria o
seu povo aspergindo água sobre eles. As profecias sobre a vinda do Espírito Santo afirmam
que Deus derramaria seu Espírito sobre o seu povo. Jesus fala sobre esse derramamento do
Espírito usando a palavra "batismo". Ele usa a mesma construção gramatical para falar do
batismo com o Espírito Santo e do batismo com água. Tudo isto aponta para a aspersão de
água como forma correta da ministração do batismo.

Usamos a aspersão porque ela é a forma de batismo que


em qualquer lugar, em qualquer circunstância e com qualquer pessoa, mesmo que o batizando
seja um enfermo, uma pessoa muito idosa ou um paralítico. Nós cremos que Deus não
determinaria uma forma de batismo que discriminasse qualquer pessoa por deficiência física;
e a aspersão não discrimina ninguém.

Capítulo 24 _____________
Por Que Batizamos
Nossas Crianças
Deus faz tudo perfeito. Quando ele fez o plano para a nossa salvação, incluiu uma
organização para nos arrebanhar. Na antiga aliança essa organização era a congregação de
Israel, formada pela nação israelita. Na nova aliança é a igreja, formada pelos servos de
Jesus Cristo.
Na igreja da antiga aliança — a congregação de Israel — a situação da criança era bem
definida. Os filhos eram "herança do Senhor" (51127.3) e, como tais, recebiam o sinal e o selo
da aliança: a circuncisão. E agora, na nova aliança, qual é a situação das crianças? Elas herdaram
a culpa de Adão e já nasceram pecadoras. E ainda não dispõem de condições mentais e
psíquicas para entender o evangelho e receber Jesus como Salvador e Senhor. Qual é a
situação espiritual das crianças?

A Bíblia Sagrada mostra que as crianças são herdeiras espirituais de seus pais. Quando os
pais se rebelam contra Deus, as crianças também sofrem as conseqüências. Mas, quando os
pais são fiéis, elas também são beneficiadas.
As crianças, filhas de crentes, são herdeiras espirituais de seus pais. Pertencem ao
Senhor; por isso, têm o direito de receber o batismo e pertencer â igreja.

0 Batismo e a Circuncisão
A situação das crianças na nova aliança é idêntica â situação delas na antiga aliança.
Na antiga aliança elas eram circuncidadas; na nova aliança são batizadas.
No passado, Deus fez uma aliança com Abraão. —Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai
da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti
farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão
benditas todas as famílias da terra" (Gn 12.1-3). Mais tarde, Deus instituiu a circuncisão
como sinal e selo desta aliança: "Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, w e
a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis
entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado.
Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O
que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo
nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com
efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha
aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. O incireunciso, que não for
circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha
aliança" (Gn 17.9-14),

Quando Jesus veio ao mundo, os israelitas, herdeiros da aliança feita por Deus com
Abraão, quebraram definitivamente esta aliança. Isso aconteceu quando rejeitaram Jesus e
não o receberam como o Messias prometido. "Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de
Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.11-13). Até então, para
fazer parte da aliança de Deus com o homem e, conseqüentemente, ser filho de Deus, o
homem tinha que pertencer à descendência de Abraão–por nascimento, por adesão ou
por ter sido comprado. Mas, a partir dessa rejeição, os filhos de Deus já não seriam mais
os descendentes raciais de Abraão, mas
seria substituída pela fé. O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, mostrou que,
nesta nova aliança, a descendência de Abraão ocorre mediante a fé, e não mediante laços
consangüíneos. Ele escreveu: "Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora,
tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o
evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são
abençoados com o crente Abraão. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar, – porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado em madeiro; – para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus
Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido" (GI 3.7-9, 13,14).

A antiga aliança tinha o seu sinal e selo: a circuncisão. A nova aliança também temo
seu sinal e selo: o batismo. Na antiga aliança, o SENHOR mandou circuncidar (Gn 17.9-14);
na nova aliança, o Senhor mandou batizar (Mt 28.18-20; Mc 16.1518; Le 24.44-49). Se os
filhos dos crentes da antiga aliança recebiam o sinal e selo da aliança, somos levados a
concluir que os filhos dos crentes da nova aliança devem receber o batismo, que é o
sinal e selo dessa aliança.
O apóstolo Paulo demonstrou que o batismo equivale à circuncisão. Ele escreveu: "Nele, também fostes
circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de
Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante
a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos" (C12. l 1,12). A circuncisão, por sua natureza, se aplicava
apenas às pessoas do sexo masculino. Na cultura dos descendentes de Abraão, as mulheres não tinham autonomia
para tomar as suas próprias decisões. Elas eram sempre representadas por um homem: quando solteiras,
pelo pai; quando casadas, pelo marido. Por isso, elas não precisavam receber nenhum sinal do pacto. Mas a
nova aliança incluiria pessoas de todas as raças, tribos e povos; e, em alguns povos, a situação portanto, não
era mais um sinale selo apropriado para marcar aqueles que pertenciam ao Senhor, já que ela se
aplicava apenas aos homens. Por isso, ela foi substituída e sucedida pelo batismo.
Quando Jesus estabeleceu a nova aliança, ele instituiu o batismo como sinal e
selo deste novo pacto. Ele ordenou: `Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado" (Mt 28.1920). "Quem crer e for batizado
será salvo; quem, porém, não crer será condenado" (Mc 16.16).

A equivalência entre circuncisão e batismo é bem clara. Mas algumas pessoas


perguntam: se o batismo equivale à circuncisão, por que Jesus e os apóstolos foram
batizados, se eles tinham sido circuncidados? A resposta é que Jesus se submeteu
ao batismo na condição de Cordeiro de Deus, isto é, daquele que havia assumido o
nosso lugar para pagar pelos nossos pecados. João Batista não queria batizá-lo, mas
Jesus disse-lhe: "Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a
justiça" (Mt 3.15). Quanto ao batismo dos apóstolos, devemos lembrar que eles
viveram no período de t ransiç ão entr e a anti ga e a nova ali an ça. E les fora m
circuncidados porque eram descendentes de Abraão e pertenciam à antiga
aliança; e foram batizados porque pertenciam à nova aliança. Eles pertenceram
às duas alianças e receberam o sinal e selo de ambas: a circuncisão e o batismo. Da
mesma forma, eles celebravam a páscoa, que fazia parte da antiga aliança, e a Ceia do
Senhor, que faz parte da nova aliança.

0 Batismo de Crianças no Novo Testamento

Apesar de todas essas evidências, algumas pessoas ainda rejeitam o batismo de


crianças. Geralmente, tais pessoas perguntam: Onde está escrito na Escritura
Sagrada que as crianças devem ser batizadas? Explicitamente não está escrito em
lugar nenhum. Mas a ausência de tal determinação explícita não anula aquilo que se
pode deduzir através de outros ensinos.
Caso dependêssemos de uma ordem explícita, registrada na Escritura, para estabelecer mos
práticas na igrej a, não poderíamos permitir que as mulheres participassem da Ceia do
S en hor , poi s qu an do a Cei a f oi i nst i t uí da s ó h o men s p ar t i ci p ar a m, e n ã o e x i s te
n e n h u m t e x t o q ue a f i r me explicitamente que as mulheres também devem participar da
Ceia. No entanto, ninguém questiona o direito que as mulheres têm de participar desse
sacramento.

O Novo Testamento não diz explicitamente que as crianças devem ser


batizadas. Mas implicitamente ensina o batismo de crianças. Veja estas três
inferências bem claras:
a) O apóstolo Paulo relaciona o batismo coma circuncisão sem afirmar que as
crianças estão excluídas do batismo. A equivalência entre batismo e circuncisão é muito
clara, conforme já vimos. Na antiga aliança, as crianças que nasciam dentro do pacto,
isto é, os descendentes de Abraão, eram circuncidadas ao oitavo dia. J á que o
batismo é, na nova aliança, "a circuncisão de Cristo" (Cl 2.11), seria necessária
uma ordem explícita para que as crianças que nascem no pacto, isto é, filhos de crente,
sejam impedidas de recebê-lo.
b) O Novo Testamento registra o batismo de pelo menos três famílias inteiras, sem
mencionar que as crianças não foram batizadas. Lídia foi batizada juntamente com
toda a sua casa (At 16.15); o carcereiro foi batizado, e também todos os seus (At
16.33). Paulo declara ter batizado "a casa de Estéfanas" (1 Co 1.16). Será que nessas
famílias não havia crianças?

c) No batismo da casa de Lídia está claro que as crianças foram batizadas. "Certa mulher,
chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o
Senhor lhe abriu o coração pua atender às coisas que Paulo dizia. Depois de ser batizada,
ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha
casa, e aí ficai. E nos constrangeu a isso" (At 16.14,15). Lídia e toda a sua casa receberam
o batismo. Nesse mesmo capítulo está registrado o batismo do carcereiro e de todos os seus.

No caso do carcereiro, está registrado que "ele, com todos os seus, manifestava grande
alegria, por terem crido em Deus" (At 16.34). Logo, entre os filhos do carcereiro havia
adultos que também creram e foram batizados. Mas no caso de Lídia o registro bíblico fala
apenas da sua conversão. E ela e todos os seus foram batizados. Se seus filhos eram adultos,
então foram batizados sem conversão. Paulo não faria isso. Logo, os filhos de Lídia eram
crianças, que foram batizadas juntamente com sua mãe.

Mas existe ainda uma outra objeção a ser respondida. Esta se refere à necessidade
de fé para se receber o batismo. Jesus afirmou: "Quem crer e for batizado será salvo". E
algumas pessoas, baseadas nesse texto, afirmam que as crianças não podem ser batizadas
porque elas não têm condições mentais e psíquicas para exercer a fé. Só que tais pessoas se
esquecem de que o texto diz também: "(_.) quem, porém, não crer será condenado". Se o texto se
referisse também às crianças, teríamos que concluir que elas serão condenadas. Mas Jesus disse
que delas "é o reino de Deus" (Me 10.14). Logo, o texto se refere aos adult os que iam
ouvir o evangel ho; se el es cr essem e recebessem o batismo, estariam salvos. Se não
cressem, seriam condenados.

O batismo de crianças é praticado na igreja cristã desde o seu início, como parte da
doutrina dos apóstolos. Existem registros históricos da maior conflabilidade, mostrando a
prática do batismo infantil na igreja, desde o seu início. Orígenes, grande teólogo e escritor
cristão, nascido no ano 185, em suas Homilias em Lucas, afirma: "portanto, as crianças são
também batizadas"; em seus Sermões sobre Levórico ensina que "as crianças também,
segundo o costume da igreja" eram batizadas; e em seu Comentário de Romanos registra que "a
igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar também as crianças". Hipólito, outro
grande teólogo e escritor cristão do século segundo, em sua obra Tradição Apostólica,
testemunha que a igreja cristã daquela época batizava crianças. Tertuliano, considerado
o primeiro teólogo latino, em sua obra De

Baptismo, escrita por volta dos anos 200-206, embora tenha cometido alguns desvios
doutrinários, também testemunha que a igreja cristã batizava crianças.' Só a partir do século
16, com o surgimento dos anabatistas, é que o batismo de crianças passou a ser contestado.

Os Benefícios do Batismo das Crianças


Alguns pais perguntam: O que vou ganhar batizando meus filhos? Quais são os
benefícios que eles poderão receber se nem consciência têm do que está acontecendo? Na
antiga aliança, as crianças eram circuncidadas no oitavo dia de vida. Nessa idade, poderia
uma criança ter consciência de que estava acontecendo? Mas foi Deus quem ordenou que as
crianças deviam ser circuncidadas. Estaria Deus equivocado? A pergunta correta que cada pai
crente deve fazer é esta: O que meu filho ou minha filha vai perder se não for batizado?

Na antiga aliança, a criança que não fosse circuncidada era excluída do pacto, não
pertencia ao SENHOR (Gn 17.14). Por analogia, somos levados a concluir que os pais que não
apresentam seus filhos para o batismo estão excluindo-os da nova aliança. Isto não significa
que esses pais estão condenando seus filhos ao inferno, pois não é o batismo que salva. Quem
salva é Jesus – independentemente da pessoa ser ou não batizada. Mas os pais que
não apresentam seus filhos para o batismo estão os colocando na mesma condição dos
filhos daqueles que não têm Jesus como Salvador e Senhor. É idêntica â situação de um pai
muito rico que deixa de reconhecer um filho. Esse filho fica excluído da herança, a não
ser que ele provoque esse reconhecimento por via judicial. Em Cristo, nós temos uma grande
herança de bênçãos espirituais; e não é justo privarmos os nossos filhos dessa herança. Nossos
filhos, como nossos herdeiros espirituais, têm direito às mesmas bênçãos que nos estão
reservadas. Eles pertencem ao Senhor, por isso são guiados e protegidos pelo Senhor. Eles
só perderão o direito a

O batismo não garante a salvação de crianças, nem de adultos. Que nenhum pai
julgue que, ao apresentar seus filhos para o batismo, está garantindo a salvação deles. E que
ninguém alimente a falsa esperança de que está salvo simplesmente porque foi batizado.
Quem foi batizado na infância, ao tornar-se adulto, terá de decidir se vai permanecer na
fé em que foi criado e confirmar isso através da aceitação de Jesus como Salvador
pessoal e Senhor, ou se vai renunciar às bênçãos de pertencer ao Senhor. Não existe meio
temo. Jesus afirmou: "Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta
espalha" (Mt 12.30).

Alguns pais alegam que não apresentam seus filhos para o batismo porque religião é
algo muito pessoal, cuja escolha deve ser feita pelo próprio indivíduo. Preferem instruir
seus filhos e deixar que eles mesmos, na idade própria, escolham o caminho que devem
seguir. Mas esses mesmos pais "não sentem o mesmo embaraço quando lhes escolhem
um nome, vestuário, alimento, medicamentos, educação, etc. Qual pai ou mãe que espera
o filho ou a filha crescer pua decidir sozinho se quer ir â escola, comer determinado alimento
indispensável â saúde, decidir se toma ou não vacina, se quer ou não ir ao médico? Ora,
se nós, no propósito de fazer o melhor para o bem-estar dos filhos, tomamos decisões
que irão afetá-los por toda a vida, por que não consagrá-los a Deus pelo batismo, quando
Deus tem promessas e deseja salvar toda a família?".'

Mas as bênçãos espirituais que nossos filhos vão receber como nossos herdeiros, não
dependem apenas do batismo, mas também da nossa fidelidade ao Senhor. Acã tinha sido
circuncidado, circuncidara seus filhos, mas se tomou infiel ao Senhor. Como resultado, ele
morreu juntamente com toda a sua família (Js 7.16-26). Crentes infiéis não têm herança
de bênçãos espirituais para legar aos seus filhos, mesmo que os apresentem para receber
o batismo.
Conclusão
O povo de Deus é formado por adultos e crianças. Os adultos receberam
Jesus como Salvador e Senhor. São filhos de Deus. Pertencem ao Senhor. As
crianças, seus filhos, são herdeiras espirituais de seus pais. Como herdeiras
espirituais têm direito às mesmas bênçãos reservadas para seus pais; por isso
devem ser batizadas. Deixar de batizá-las é excluí Ias dessa herança bendita.

O nosso Deus e também o Deus de nossos filhos.

Capítulo 25

A Ceia

do Senhor
Jesus Cristo instituiu dois sacramentos: o batismo e a Ceia do Senhor. O batismo é a
porta de entrada na igreja. E a Ceia do Senhor tem como objetivo fortalecer
espiritualmente os crentes e manter a unidade da igreja. "Os crentes comungam
recebendo juntos o emblema do corpo partido do Senhor e bebendo do vinho, símbolo
do seu sangue derramado, significando com isso que lhes cumpre como igreja pensar
unanimemente na fonte — Cristo — de onde promana a salvação-.'

Assim como o batismo é o sucessor da circuncisão, a Ceia do Senhor é a


sucessora da páscoa.
A Páscoa
Quando Deus chamou Abraão para servi-lo, fez-lhe várias promessas: "( ... ) de ti farei
uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção.
Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão
benditas todas as famílias da terra" (Gn 12.2,3).
Mais tarde, Jacó, a quem Deus dera o nome de Israel, neto de Abraão, foi com sua
família pua o Egito. Eram apenas setenta pessoas (Gn 46.27). "Mas os filhos de Israel
foram fecundos, aumentaram muito, e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram,
de maneira que a terra se encheu deles" (Êx 1.7). E o rei, Farão, resolveu escravizâ-los.

Quando Deus ordenou a Moisés que retirasse os israelitas do Egito e os conduzisse para
Canaã, o rei se opôs. Não queria perder a mão de obra gratuita. Então Deus mandou uma
série
de pragas sobre o Egito. A última delas foi a morte dos primogênitos. "Moisés disse:
Assim diz o SENHOR: Cerca da meia-noite passarei pelo meio do Egito. E todo primogênito na
terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta no seu trono, até ao
primogênito da serva que estijunto à mó, e todo primogênito dos animais. Haverá grande
clamor em toda a teria do Egito, qual nunca houve, nem haverá jamais; porém contra nenhum
dos filhos de Israel, desde os homens até aos animais, nem ainda um cão rosnará, para
que saibais que o SENHOR fez distinção entre os egípcios e os israelitas" (Êx 11.4-7).

Os israelitas deviam sacrificar um cordeiro sem defeito, macho de um ano, e, com


o seu sangue, marcar as ombreiras e a verga da porta de sua casa. Cada família devia
sacrificar um cordeiro. Se a família fosse pequena, podia convidar o vizinho mais
próximo.

O que Deus prometeu realmente se cumpriu. "Aconteceu que, à meia-noite, feriu


o SENHOR todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó,
que se assentava no seu trono, até o primogênito do cativo que estava na enxovia; e
todos os primogênitos dos animais. Não havia casa em que não houvesse morto"
(Êx 12.29,30). Mas na casa dos israelitas nada acontecera, nem o rosnar de um cão.

Deus deu a este acontecimento o nome de páscoa (pesah, em hebraico, que vem
de um verbo que significa passar por cima, poupar). E ordenou que ela fosse
comemorada todos os anos. "P áscoa significa, naturalmente, duas coisas: o
acontecimento histórico e sua posterior comemoração repetida" 2

Mas a páscoa tem ainda um terceiro significado: o cordeiro sacrificado era um tipo
de Jesus Cristo, "nosso Cordeiro pascal" (1 Co 5.7). Assim como o sangue do cordeiro livrou os
primogénitos dos israelitas da morte, o sangue de Jesus, "nosso Cordeiro pascal", nos livra da
morte eterna, da condenação ao inferno.

A Instituição da Santa Ceia


A comemoração da páscoa nos dias de Jesus era feita com os elementos
usados na primeira páscoa – o cordeiro e os pães asmos (sem fermento) – e mais
quatro elementos:
a) Uma taça de água salgada, para relembrar as lágrimas derramadas no Egito
e as águas salgadas do mar Vermelho, que os israelitas atravessaram de pés
enxutos;
b) Várias ervas amargas, para recordara amargura da escravidão e o hissopo
usado para borrifar o sangue do cordeiro nas ombreiras e na verga da porta da casa
dos israelitas, quando Deus mandou a praga da morte dos primogênitos;
e) Uma massa feita de maçã, romã, tâmara e nozes, chamada carosheth,
para recordar o bano que usavam no Egito para fazer tijolos; pedaços de casca de
canela eram colocados na sopa para lembrara palha que usavam para secar e
queimar os tijolos;
d) Quatro copos de vinho, pua recordar-lhes as quatro promessas registradas
em Êxodo 6.6,7: "Eu sou o SENHOR, e vos tirarei de debaixo das cargas do Egito, vos
livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes
manifestações de julgamento. Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e
sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas
do Egito". Durante a celebração cantavam os Salmos 113 a 118 e, para encerrar,
o Salmo 136.

Lucas registra que Jesus, aos doze anos de idade, participou da


comemoração da páscoa, em Jerusalém, em companhia de seus pais (Lc 2.41 -
50). Provavelmente esta participação se repetiu durante toda a vida terrena, de
Jesus.

Em uma quinta-feira, possivelmente no dia 6 de abril do ano 30, Jesus celebrou


a páscoa pela última vez e instituiu a Santa Ceia. "Enquanto comiam, tomou Jesus
um pão, e, aberuçoandoo, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai,

comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo

dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o
meu sangue, o sangue da (nova) aliança, derramado em favor de muitos, para
remissão de pecados" (Mt
26.26-28).

A páscoa apontava, ao mesmo tempo, para o passado e para o futuro. Era a


comemoração da saída do Egito e a prefiguração do sacrifício do Messias. O
cordeiro pascal apontava para Jesus. Mas o futuro tinha chegado. Jesus seria sacrificado no
dia seguinte, como "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Seria
estabelecida uma nova aliança entre Deus e seu povo, onde os laços de sangue seriam
substituídos por laços de fé. Na antiga aliança, o povo de Deus era constituído pelos
descendentes de Abraão; na nova aliança, é constituído por todos aqueles que recebem Jesus
como
Salvador e Senhor (Jo 1.11,12; G1 3.7-9). Portanto, era
necessário substit uir a páscoa por uma celebração que representasse a
nova situação. E, por isto, Jesus instituiu a Santa Ceia.
"A Ceia do Senhor é o sacramento que comemora e proclama o sacrifício único,
perfeito e completo que Cristo fez para a nossa redenção. Ela se caracteriza por apresentar
uma ou mais verdades espirituais mediante sinais visíveis e externos. A Ceia do Senhor é uma
representação simbólica da morte de Cristo (1 Co 11.23-26), um símbolo da nossa
participação no sacrifício e na vitória de Cristo (Jo 6.53) e, também, um símbolo da união
espiritual de todos os crentes (1 Co 10.17; 12.13). A Ceia do Senhor é um meio de graça,
isto é, um meio que Deus usa para nos alimentar espiritualmente, promovendo o nosso
crescimento espiritual"?

Os Elementos da Santa Ceia


Na Santa Ceia, os crentes reunidos comem juntos um pedaço de pão e bebem,
também juntos, um cálice de vinho. O pão e o vinho (ou suco de uva) foram criados por
Deus e são usados na celebração deste sacramento para nos comunicar uma
realidade que vai além deles, mas que não se choca com eles. Mas a Santa
Ceia não é apenas pão e vinho; ela inclui também outros elementos. O Rev. Alfredo
Borges Teixeira, em seu livro Dogmática Evangélica, afirma:

Para cumprira sua finalidade, a Ceia representa várias verdades espirituais por
meio de sinais. Estes, afora os elementos materiais do pão e do vinho, incluem atos
do ministro e do comungante. Diversas coisas são significadas, no simbolismo claro deste
sacramento:
a) o pão e o vinho escolhidos por Jesus, para representar o seu corpo e o seu
sangue, simbolizam adequadamente o seu sacrifício e o efeito do mesmo;
b) os atos do ministro que, imitando a Cristo (Mt 26.26), toma o pão, dá graças e
parte-o e depois toma o vinho e o derrama no cálice, simbolizam o sacrifício de
Cristo – o seu corpo ferido na cruz e seu sangue ali derramado; e os atos seguintes
do ministro dando o pão e, em seguida, o vinho aos crentes para que o comam e
bebam, simbolizam a oferta que o Senhor faz ao seu povo dos benefícios da sua
morte;
c) e os atos do comungante, estendendo a mão para receber o pão e o vinho e depois
comendo um e bebendo o outro, simbolizam que ele reconhece a necessidade que
tem de se alimentar espiritualmente do sacrificio de Cristo, do mesmo modo como o
seu corpo precisa do alimento natural; simbolizam também que ele aceita o sacrifício
que Jesus fez para o salvar e o recebe em sua alma do mesmo modo por que recebe
em seu corpo os sinais daquele;
d) o efeito do pão e do vinho, como bons alimentos, fornecendo bem-estar e força
ao corpo, simboliza a segurança e o gozo espiritual da fé em Cristo;
e) o fato de serem estes alimentos servidos na mesma mesa, e participados por todos
os irmãos presentes, simboliza ainda a unidade da Igreja ("somos um só pão e um só
corpo", diz Paulo em 1 Corinfios 10.17), e o amor fraternal da comunidade cristã.°

Deus criou todas as coisas, por isso ele pode, segundo a sua vontade, escolher
elementos da natureza para nos falar através deles. E é isso que ele faz através da Santa Ceia.
A Presença de Jesus nos Elementos da Ceia
As palavras de Jesus "isto é o meu corpo" e "isto é o meu sangue" têm sido
interpretadas de quatro maneiras diferentes.
a) A Igreja Católica Romana afirma que, mediante a consagração dos elementos,
pelo sacerdote, a substância do pão (hóstia) se transforma em corpo de Cristo, e a
substância do vinho se transforma em sangue de Jesus. Por isso, esta doutrina é
chamada transubstanciação.
b) Os luteranos e afins rejeitaram a transubstanciação. Eles entendem que o pão
continua sendo pão e o vinho continua sendo vinho. Mas, junto com as substâncias do pão e
do vinho, no ato da celebração, estão também as substâncias da carne e do sangue de
Jesus. Por isso essa doutrina é chamada consubstanciação.

0 Z w í n g l i o r e j e i t o u a t r a n s u b s t a n c i a ç ã o e a consubstanciação. Para ele a


Ceia é um memorial do que Cristo fez pelos pecadores e um ato de reafirmação de fé do
participante. Esta doutrina chama-se memorial. É a doutrina adotada pela maioria das
igrejas batistas e pentecostais.

d) Calvino, embora herdeiro do movimento de reforma iniciado por Zwínglio, não


concordou com a interpretação memorial. Para ele o pão e o vinho não se transformam
em outra substância, como afirma a transubstanciação. A substância do corpo e
do sangue de Jesus não se soma à su bst ânc i a d o pã o e do vin h o, com o
i n t er pr e t a a consubstanciação. Mas, também, a Ceia não é um simples memorial.Jesus
está presente espiritualmente no pão e no vinho. Esta presença espiritual é tão real como
o pão e o vinho. Por isto, ao participar do pão e do vinho, o crente participa espiritualmente
do corpo e do sangue de Jesus. E assim como pão e vinho alimentam o corpo, a presença
espiritual de Jesus na Ceia alimenta espiritualmente o participante. Esta é a doutrina aceita
pela Igreja Presbiteriana.
Os Benefícios da Participação na Ceia
A doutrina da presença espiritual de Jesus nos elementos da Santa Ceia, que está
intimamente ligada à concepção dos benefícios da participação na Ceia, foi resumida pelo
teólogo Charles Hodge, da seguinte forma: "As virtudes e os efeitos do sacrifício do corpo
do Redentor na cruz se lucra presentes no sacramento e, neste, são comunicados ao
participante digno pelo poder do Espírito Santo, que utiliza o sacramento como seu
instrumento, segundo sua vontade soberana".'

Reconhecemos que é muito mais cômodo adotar o ensino de Zwínglio de que a Santa
Ceia é apenas um memorial. Mas, não é possível sustentar tal doutrina diante do ensino de
Paulo em 1 Coríntios 11.23-32. Se a Ceia é apenas um memorial, como sustentar que
"aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e
do sangue do Senhor"? E que "quem come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe
juizo para si"? E como entender que, em Corinto, havia muitas pessoas fracas e doentes, e
algumas até tinham falecido, pelo fato de haverem participado da Santa Ceia de maneira
indevida? Tudo isso evidencia que a Santa Ceia é mais do que um memorial do que Cristo
fez pelos pecadores e um ato de reafirmação de fé do participante.

A Ceia do Senhor é um meio de graça, isto é, um meio que Deus usa para nos nutrir
e fortalecer espiritualmente. Por isto, devemos participar dela regularmente. Na antiga
aliança, o israelita que deixasse de participar da páscoa, serajustificativa, era eliminado do
povo de Deus (Nm 9. 13). Na nova aliança, o crente que deixa de participar da Ceia do
Senhor, sem justificativa, está fechando um canal de bênçãos pua a sua vida e se
aniquilando espiritualmente.
Mas não basta participar, é necessário também que a participação seja correta. O apóstolo Paulo
escreveu aos coríntios que a causa de existir entre eles "muitos fracos e doentes" (1 Co 11.30)
era a falta de discernimento na participação na Ceia do Senhor. O crente deve examinar-se a si
mesmo, preparar-se e participar da Ceia do Senhor. Quem se examina e deixa de se preparar e
de participar, está negando o Senhor Jesus Cristo; está dizendo "sim" ao pecado e "não" a
Cristo.
"Qual é pois, a função da Santa Ceia? A de uma balança nas contas, a de uma limpeza
na casa, a de um banho no corpo (_.).Isso tudo não pode ser adiado, segundo interesses pessoais,
sem graves prejuízos.116

Conclusão

Os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo – o batismo e a Ceia do Senhor


– são sinais e selos do pacto da graça. Eles são, também, o instrumento que Deus usa para
fazer uma diferença visível entre os que pertencem à igreja e os de fora. Por isto, os que são
de Cristo devem receber o batismo e participar regulamente da Ceia do Senhor.
Capítulo 26 ______________
oCristão ea
Responsabilidade
Social
Na maior parte da história da igreja os cristãos entenderam que o socorro aos sofredores
era uma parte importante da sua vocação no mundo. Eles não acreditavam que havia qualquer
conflito entre essa preocupação e outros interesses da vida cristã. As diferenças, quando
existiam, referiam-se a questões secundárias como que tipo de pessoas deviam ser
auxiliadas e os métodos a serem utilizados. Foi somente no século 20 que o envolvimento social
da igreja se tomou um pomo de discórdia, rompendo o consenso que havia imperado por
longo tempo. Vale a pena considerar alguns aspectos dessa questão.

0 Precedente Bíblico

Os leitores da Bíblia não deixam de perceber o espaço que ela dedica â temática
social. O Antigo Testamento está repleto de preceitos, instituições e narrativas
referentes ao assunto. As figuras do pobre, do órfão, da viúva e de outras pessoas em
situação de fragilidade e desamparo povoam as Escrituras Hebraicas. A lei de Moisés continha
dispositivos que iam além do mero atendimento de necessidades imedi atas, criando
condições para que houvesse maior justiça e menor desigualdade na sociedade de Israel. São
exemplos disso a lei da rebusca (Lv 19.9-10; 23.22; Dt 24.19-2 1) e o ano de jubileu (Lv 25.8-
34). Quando se chega à literatura profética, em especial aos chamados "profetas éticos" do século
oitavo antes de Cristo (lautas, Oséias, Amos e Miquéias), a justiça, a misericórdia e a
generosidade no trato com os sofredores se tomam um tema dominante, quase que onipresente.

Jesus retomou e aprofundou essas preocupações. Numa época em que a


religiosidade judaica havia se cristalizado em tomo de três práticas formais — as
esmolas, a oração e o jejum — o Senhor corrigiu algumas distorções vigentes,
ensinando que a prática da caridade devia ser humilde, desinteressada e motivada
pelo amor (Mt 5.7; 6.1-4; 7.12). Ao anunciar o evangelho do reino, ele apontou
como uma de suas principais características a sensibilidade diante da dor alheia e a
prontidão em assistir os desafortunados. Ele mostrou isso de modo magistral
através de alguns de seus ensinos mais apreciados, como a parábola do Bom
Samaritano (Lc 10.30-37) e a inquietante história do Grande Julgamento (Mt 25.31-
46).

Na mente das primeiras gerações de cristãos ficou a imagem de Jesus como


alguém que passou pelo mundo fazendo o bem (At 10.38). O ensino apostólico
colocou a beneficência no centro da vida cristã — a misericórdia ou benignidade é
um dos dons espirituais e um fruto do Espírito (Riu 12.8; G15.22); deve-se fazer o bem
a todos, a começar dos irmãos em Cristo (GI 6.940); a solidariedade deve ir além das
meras palavras ou boas intenções, para manifestar-se em ações concretas (Tg 2.1516;
1 Jo 3.17-18). A instituição do diaconato, uma classe de oficiais voltada
especificamente para a assistência aos necessitados, testifica sobre a importância
desse aspecto da vida cristã.
A Experiência da Igreja

Os primeiros cristãos atribuíam grande valor à prática da misericórdia. A


hospitalidade e as ofertas para fins caritativos eram generalizadas entre os fiéis.
Um documento da época afirma: "O jejum é melhor que a oração, mas as
esmolas melhores que ambos" (2 Clemente 16). Faziam-se coletas regularmente
em benefício dos pobres ou de condiscípulos que enfrentavam dificuldades. Aqueles
que estavam presos ou sofriam outros tipos de perseguição por causa da sua fé
eram objeto de especial

1 Clemente fala de cristãos que se vendiam como escravos para poderem socorrer os
necessitados (55.2). Quando surgiam epidemias, os fiéis não deixavam de dar
assistência aos enfermos
e de sepultar os mortos. As viúvas, os órfãos, os enfermos, os deficientes e as crianças
recebiam especial cuidado. Os cristãos rejeitavam firmemente o aborto e o infanticídio.
Em períodos de grave conturbação social, como nos estágios finais do
Império Romano, a igreja era a única instituição que estava preparada para
ajudar as populações afligidas pela guerra, pestilências e catástrofes naturais. Um
desdobramento preocupante ocorreu ainda no período antigo
e se aprofundou na Idade Média — o entendimento de que a pobreza e a caridade
tinham um valor meritório diante de Deus. Isso acabou desvirtuando as motivações
que levavam muitas pessoas a se desfazerem dos seus bens e a socorrerem os
necessitados. Além disso, uma atitude fatalista em relação à pobreza involuntária
impedia que os pobres superassem a condição em que viviam. Apesar dessas
mazelas, a história desse longo período atesta o profundo envolvimento dos cristãos com

o suprimento das necessidades dos seus semelhantes. O monasticismo


desempenhou notável papel nesse particular, tendo como uma de suas principais
atividades a assistência social.

Os reformadores protestantes questionaram o aspecto meritório da beneficência


medieval, mas mantiveram a antiga ênfase na caridade cristã. Eles escreveram,
ensinaram e pregaram amplamente sobre o assunto, bem como tomaram importantes
iniciativas nessa área. Isso pode ser ilustrado pelas ações de João Calvino, o
reformador de Genebra. Em sua vasta produção literária, particularmente em seus
sermões e comentários bíblicos, ele abordou amplamente a temática social. Mais
que isso, Calvino foi um grande incentivados do retorno do diaconato cristão
ás suas

defendendo os pobres das agressões dos poderosos. Finalmente, ele apoiou pessoalmente duas
importantes instituições caritativas de Genebra: o Hospital Geral e o Fundo Francês para
os estrangeiros carentes.

Um aspecto interessante da história posterior do protestantismo é que


os períodos de revitalização espiritual foram marcados por intensa preocupação
social. Isso se deu com o pietismo alemão, com o puritanismo inglês e com os
grandes despertamentos norte -americanos. Todos esses poderosos
movimentos espirituais se voltaram intensamente para questões práticas como
educação, missões e beneficência. Esse consenso dos evangélicos em tomo da
compatibilidade entre a vida espiritual, a evangelização e o serviço cristão, viria a
ser questionado ao longo do século 20.
0 Evangelho Social
O "evangelho social" foi um movimento de grande importância no
protestantismo norte-americano por cerca de cinqüenta anos (1880-1930).
Influenciado pelo liberalismo teológico, mas distinto do mesmo em vários aspectos,
foi uma resposta à crise urbana ocasionada pelo crescimento econômico dos Estados
Unidos após a Guerra Civil. Seus principais teóricos foram Washington Gladden,
Josiah Strong e, especialmente, Walter Rauschenbusch 1861-1918, um pastor
batista e professor de seminário cujo livro O Cristianismo e a Crise Social o tornou
nacionalmente famoso em 1907. Outros livros seus foram Cristianizando a Ordem
Social (1912) e Uma Teologia para o Evangelho Social (1917).

O movimento pretendia dar uma resposta bíblica e cristã à situação de exploração e


abandono experimentada pelos trabalhadores e imigrantes que viviam nos cortiços das grandes
cidades. Insistia em conceitos como "a implantação do reino de Deus na terra" e a
importância de uma "sociedade redimida". Essas idéias foram popularizadas no Brasil pelo livro
Em Seus Passos, que Faria Jesus? (1897), do pastor congregacional

Charles Sheldon, traduzido e publicado em 1902 pelo Rev. José Maurício Higgins. O evangelho
social tendia a dar uma ênfase excessiva à transformação da sociedade, via a missão cristã no
mundo principalmente em temos de ação social, minimizava a piedade e a teologia
tradicionais e tinha um otimismo pouco realista em relação ao ser humano.

Nessa mesma época, surgiu nos Estados Unidos um outro importante


movimento – o fundamentalismo – caracterizado por uma forte aversão ao
liberalismo. Por causa das ligações do evangelho social com a teologia liberal e
suas ênfases diferentes do protestantismo conservador, os fundamentalistas
rejeitaram não só o novo movimento, mas a própria noção de envolvimento social,
como algo incompatível com a vida cristã e a pregação do evangelho. A partir de então,
os chamados "evangélicos" afastaram-seda área social em que haviam atuado por
tanto tempo ao lado de cristãos com outras convicções. Somente com o
Congresso de Lausanne, na Suíça, em 1974, os evangélicos voltariam a interessar-
se pela responsabilidade social.

A Teologia de Libertação
Essa teologia foi um esforço de dar uma resposta cristã a uma situação análoga,
porém em outro contexto: a América Latina de meados do século 20. Num período
de grandes tensões políticas, econômicas e sociais, em que populações inteiras
experimentavam injustiças, opressão e exclusão social, teólogos católicos e
protestantes articularam uma nova teologia centrada no conceito bíblico de Deus como
libertador. Seus principais proponentes foram, do lado católico, Gustavo Gutiérrez,
lona Luis Segundo, Jon Sobrino, José Porfirio Miranda, Hugo Assutrann,
Henrique Dussel e os irmãos Boff; do lado protestante. Rubem Alves e José
Miguei Bonino.

A teologia da libertação acabou sendo rejeitada por um grande número de católicos e


protestantes, em virtude de algumas de suas ênfases principais: a tendência reducionista
de encarar o reino de Deus somente da perspectiva de libertação política e social, a utilização
de categorias do pensamento marxista para analisaras realidades da América Latina, o apoio
tácito ou explícito a movimentos da esquerda radical e o desprezo da teologia e piedade
tradicionais, acusadas de serem alienantes. O liberacionismo acabou se esvaindo como
movimento articulado, mas intensificou as reservas de amplos setores cristãos quanto ao
envolvimento com as causas sociais. Entre os evangélicos, surgiu uma alternativa à
teologia da libertação, o conceito de "missão integral" representado pelos membros da
Fraternidade Teológica Latino-Americana, como Samuel Escobar e Renê Padilla.

Conclusão

Em virtude do ensino bíblico, do exemplo de Cristo e das lições da história, os cristãos


não podem ignorar o desafio social. Como a justiça social é uma das implicações do
evangelho, evitar essa área traz sérias dificuldades para a consciência cristã e para o
testemunho cristão. O fato de alguns movimentos terem tido problemas nessa abordagem, não
isenta os cristãos da sua responsabilidade. Ao contrário, num mundo afligido por tantas
situações que atentam contra a vida, a dignidade e o bem-estar dos seres humanos, é
mister que os cristãos redobremos seus esforços no sentido de seguir os passos daquele que
"andou pela terra fazendo o bem".

Capítulo 27 ______________

o Compromisso do
Presbiteriano Autentico
O verdadeiro presbiteriano é uma pessoa comprometida com Jesus Cristo. E este
compromisso com Cristo dá significado, vitaliza e direciona a sua vida cristã. Podemos ver isto
na vida do apóstolo Paulo. Veja o testemunho escrito por ele: "Bem que eu poderia
confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda
mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu
de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, per seguidor da i grej a; quant o à
j ust iça que há na lei , irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda
por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade
do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as
considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé" (TI, 3.4-9). A vida do apóstolo girava em tomo do seu compromisso com Cristo. "Muitas
experiências já demonstraram que é muito mais fácil fazer uma coisa quando se tem um
objetivo em vista. Quanto mais você se aproxima de uma meta, maior é a força que esta meta
exerce sobre você".'

Para ilustrara importância e a força do compromisso, transcrevo, a seguir, um texto escrito


por Nélio DaSilva:
Na Olimpíada de 1996, que teve lugar em Atlama, na Geíngia, certamente que houve
momentos memoráveis, os quais ficarão registrados nos anais do momento máximo do
esporte, mundial.

Um dos pontos altos dessa última competição teve como personagem a jovem americana
Kerri Strug, vencedora da equipe de ginástica, representando o seu país.
Durante um dos seus voleios, sobre a barra, ela sofreu uma séria contusão no tornozelo
esquerdo. A dor era intensa e quase que insuportável; porém, com uma determinação de
ferro, ela foi em frente até ao último minuto da sua apresentação, consciente de que deveria
fazer aquilo para o qual fora convocada a fazer.
Na conclusão do seu último voleio, a jovem desmaiou de tanta dor e teve que ser carregada, a
fim de receber o pRnuo mais cobiçado de toda a competição. Suas palavras, após o
recebimento da medalha de ouro, foram estas: "Eu simplesmente coloquei na minha mente
que tinha que prosseguir até o final. Eu não poderia desistir naquele momento. A dor era
intensa e na minha mente eu ensaiava dizendo: só falta mais um voleio, eu posso conseguir,
eu posso conseguir... !'n

Kerri Strug estava comprometida com a equipe de ginástica, com o seu


país e consigo mesma; ela estava consciente de que tinha que prosseguir até o
final, e na força do compromisso superou todos os obstáculos. "Eu não poderia
desistir', disse ela. O cristão também não pode desistir. E o seu compromisso com
Cristo é um estímulo que o ajuda a superar os obstáculos que aparecem à sua frente.

Declaração de Fé, Promessas e Compromissos

O compromisso do presbiteriano autêntico tem duas dimensões: espiritual


e institucional. A dimensão espiritual diz respeito ao seu relacionamento pessoal com
Jesus Cristo; e a dimensão insfilucional, ao seu relacionamento com a igreja. O plano
de Deus para a nossa salvação inclui a igreja como organização instituída pelo
Senhor Jesus para retinire congregar seu povo. O verdadeiro cristão pertence à igreja
invisível e deve pertencer também â igreja visível, pois "como a alma humana se
adapta a um corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível, que
consiste, não de almas, mas de seres
humanos que têm alma e corpo, assume necessariamente forma visível numa organização
externa, por meio da qual se expressW'.3
Quem recebe Jesus como Salvador e S enhor deve confessar isso diante
dos homens. Jesus afirmou: "Portanto, todo aquele que me confessar diante dos
homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele
que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que
está nos céus" (Mt 10.32,33). Por isso, a Igreja Presbiteriana exige daqueles que
querem tornar-se membros dela a sua pública profissão de fé.

Mas, o que é profissão de fé? É uma cerimônia pública, onde o crente faz
uma declaração de fé, reconhece deveres, faz promessas e assume compromissos
com a igreja e com Jesus Cristo.
Na cerimônia de profissão de fé, a pessoa que está sendo recebida como
membro de uma Igreja Presbiteriana faz a seguinte declaração de fé, que inclui
também promessas e compromissos:
I. Creio e m um só Deus que subsiste em três pessoas: o Pai, Criador de todas as coisas
visíveis e invisíveis; o Filho, que foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da
virgem Maria, o qual morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa
justificação; e o Espírito Santo, santificador de nossas almas
-
e doador
da vida.
2. Creio que as Escrituras Sagradas do Velho e do Novo Testamento são a Palavra de Deus
e a única regra de fé e prática dada por Ele â sua Igreja, e que são falsas e perigosas todas
as doutrinas e cerimônias contrárias a essa Palavra, e todos os usos e costume,,
acrescentados à simples lei do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
3. Confesso que fui concebido(a) em pecado; que, por natureza, sou incapaz de cumprir
perfeitamente a lei de Deus, inclinado(a) antes a amare fazer o que essa lei condena, tendo
pecado muitas vezes por pensamentos, palavras e obras.
4. Creio firmemente que o sangue de Cristo me purifica de todo pecado, e que não há outro
meio de se alcançar o perdão e o poder santificados senão a graça de nosso Senhor Jesus
Cristo e a obrado Espírito Santo, que Jesus dá a todo o que lho pede.
5. Estou agora sinceramente arrependido(a) do mal que tenho feito diante de Deus e
resolvido(a) a fazer uso diligente de todos os meios de graça por Ele ordenados para o bem
de seu povo, e a seguir os preceitos de sua lei, deixando de fazer o que Ele me proíbe em
sua Palavra, e fazendo toda a sua vontade au.iliado(a) por sua graça.
6. E prometo mais que, como membro desta igreja, me sujeitarei sempre â sua disciplina e
às autoridades nela constituídas para o seu ensino e governo, enquanto forem fiéis ás
Sagradas Escrituras.'

A seguir, o celebrante declara que essa profissão de fé e as solenes promessas feitas


pela pessoa que está sendo recebida como membro selam uma aliança entre essa pessoa e Deus.
A profissão de fé não é o ponto final do testemunho público do crente; é o ponto
de partida. Jesus deixou isso bem claro, quando disse: "Vós sois o sal da terra; ora, se o sal
vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora,
ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade
edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do
alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim
brilhe também a vossa luz diante dos homens, pua que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mt 5.13-16).

Compromisso com a Igreja

A Igreja Presbiteriana "reconhece o foro íntimo da consciência, que escapa à sua


jurisdição, e da qual só Deus é Senhor; mas reconhece também o foro externo que está
sujeito à sua vigilância e observação".' Por isso, a Igreja estabelece normas de conduta e
de comportamento para seus membros, e exige deles o cumprimento de alguns deveres.
São deveres dos membros da Igreja, conforme o ensino e o espírito de Nosso Senhor Jesus
Cristo:
a) Viver de acordo com a doutrina e prática da Escritura Sagrada;
b) Honrar e propagar o Evangelho pela vida e pela palavra;
c) Sustentar a Igreja e as suas instituições, moral e financeiramente;
d) Obedecer às autoridades da Igreja, enquanto estas permanecerem fiéis às Sagradas
Escrituras;
e) Participar dos trabalhos e reuniões da sua Igreja, inclusive assembléias.'

Compromisso com Jesus


Além de compromisso com a Igreja, o presbiteriano autêntico tem também
compromisso com Jesus Cristo. E este compromisso implica numa tomada de posição radical.
Lucas registra que Jesus "dizia a todos: Se alguém quer vir após mim,
a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lc 9.23). Na instrução aos doze
apóstolos, Jesus declarou: "Quem
ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; quem ama seu filho ou
sua filha mais do que a mim, não
é digno de mim; e quem não toma a sua cruz, e vem após mim não é digno de mim" (Mt
10.37).
Essas declarações de Jesus foram colocadas em prática várias vezes. Nicodemos,
líder dos fariseus, membro da mais
alta corte de justiça da Judéia, procurou Jesus fazendo-lhe os maiores elogios: "Rabi, sabemos
que és Mestre vindo da parte
de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele"
(Jo 3.2). Mas Jesus não ficou
impressionado com os elogios, nem coma alta posição social de Nicodemos, e respondeu-
lhe: "Em verdade, em verdade te
digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo 3.3). Ao homem
que queria primeiro sepultar seu
pai, para depois seguira Jesus, o Mestre ordenou: "Deixa aos mortos o sepultar os seus
próprios mortos. Tu, porém, vai e

prega o reino de Deus- (Le 9.60). Àquele que queria primeiro despedir-se de seus parentes, para
depois segui-lo, Jesus disse: "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é
apto para o reino de Deus" (Le 9.62). E a respeito da multidão que o aplaudia, mas sem
compromisso, Jesus declarou: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está
longe de mim" (MC 15.8). Em certa ocasião Jesus fez um discurso muito duro, e por isto muitos
deixaram de segui-lo. Diante disto seria natural que ele abrandasse suas exigências. Mas
Jesus não voltou atrás; pelo contrário, confrontou os seus próprios discípulos,
dizendo-lhes: "Porventura, quereis também vós outros retirar-vos?" (Jo 6.67). Jesus não
aceita crente pela metade, porque ele não pode salvar o homem pela metade. Ou somos
inteiramente crentes, ou então estamos completamente perdi dos. O apóstolo Paulo tinha
conhecimento das exigências de Jesus, por isto ele declarou: "Esmurro o meu corpo e o
reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado"
(1 Co 9.27).

Muitas pessoas se julgam cristãs, mas, na realidade, são apenas admiradoras de Jesus Cristo.
Outras, gostam de Jesus e, por isto, pensam ser cristãs. Mas, o verdadeiro cristão é aquele que
tem compromisso com Jesus.

O compromi sso com Jesus deve expressar -se no comportamento diário de seus
servos. De nada adiantam as declarações de fé que não correspondem aos atos da pessoa.
Quanto a isso, Jesus afirmou: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia,
hão de dizer -me: Senhor, Senhor ! Por ventura, não temos nós profetizado em teu
nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos
milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniqüidade" (Mil 7.21-23). Os cristãos nominais, que têm um discurso cristão mas
vivem como pagãos, terão uma terrível surpresa no juizo final!

Conclusão
Um dos maiores problemas da igreja em nossos dias é a falta de compromisso de seus
membros. Falta seriedade com a Palavra de Deus. Falta responsabilidade com a igreja. Falta
compromisso com Jesus Cristo. O resultado disso é uma fraqueza generalizada dos
membros da igreja que resulta no enfraquecimento da própria igreja.

Precisamos mudar esta realidade. Os membros de nossas igrejas precisam levar a sério a
Palavra de Deus, ser responsáveis com a Igreja e, realmente, comprometidos com Jesus Cristo.
Se cada membro da igreja for, realmente, uma pessoa comprometida com Jesus Cristo, com
o Evangelho e com a sua i gr ej a, a si t uação de nossas i gr ej as mudar á t ant o que
surpreenderá as previsões mais otimistas que forem feitas. "E o Deus da paz, em breve,
esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás" (Riu 16.20).
Capítulo 28 _________

E En ó§0 Virá
o IM
O ser humano nasce, cresce, frutifica e... morre. Algun, apenas nascem; outros
até chegam a crescer, mas não frutificam Mas todos morrem. Chegará o dia em que
leremos o jornal pela última vez, tomaremos a última refeição, daremos o último suspiro
e... partiremos.
Para quem parte, aqui na terra será o fim. Mas a nossa vida não se limita aos
poucos anos que aqui passamos.
A nossa salvação resulta de um processo que se iniciou antes da fundação do
mundo, antes de existir o tempo, portanto, na eternidade, e que se consumará também
na eternidade. Deus nos contemplou com a sua graça, "assim como nos escolheu,
nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por
meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.4,5). E o
processo se consumará quando estivermos vivendo em os "novos céus e nova
terra, nos quais habita justiça" (2 Pe 3.13).

Morte e Ressurreição
A Bíblia Sagrada ensina, de modo bem claro, que a alma do verdadeiro servo
de Deus, logo após a morte, entra imediatamente num estado de bem-
aventurança consciente. Quando o ladrão arrependido suplicou: "Jesus, lembra-
te de mim quando entrares no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te
digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23.42,43). E o apóstolo Paulo,
quando sentiu que a sua morte
se aproximava, declarou que morrer é "partir e estar com Cristo" (Fp 1.23).
O corpo volta ao pó, mas não desaparecerá para sempre. Ele entra em
decomposição, mas um dia se levantará rto túmulo. "Todos os mortos serão
ressuscitados com os seus mesmos corpos e não outros, posto que com
qualidades diferentes, ficarão reunidos ás suas almas para sempre".'
A doutrina da ressurreição do corpo faz surgir em nossas mentes muitas
interrogações. Uma delas é sobre as pessoas que foram sepultadas mutiladas. No
caso de pessoas que morrem em acidentes aéreos, é possível que partes de seu
corpo sejam sepultadas muito distantes umas das outras. E como será a ressurreição
dessas pessoas? No grande capítulo da ressurreição dos mortos — 1 Coríntios 15 — o
apóstolo Paulo responde: "Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em
que corpo vêm? Insensato! O que semeias não nasce, se prim eiro não morrer;
e, quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como
de trigo ou de qualquer outra semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar
e a cada uma das sementes o seu corpo apropriado. Pois assim também é a
ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscitaria
incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza,
ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual" (1 Co
15.35-38, 4244). A ressurreição será operada pelo poder de Deus, e ele sabe como
resolver esse e outros problemas. O corpo ressuscitado será o mesmo que foi
sepultado, porém de substância diferente. O corpo que temos corresponde às
necessidades deste plano físico de existência; o corpo ressuscitado será um corpo
perfeitamente adaptado às necessidades do tipo de vida que teremos na outra
existência.
Devemos lembrar também que nem todas as pessoas passarão pela morte.
Os que estiverem vivos na segunda vinda de Cristo não morrerão, mas serão
transformados num abrir e
fechar de olhos. O apóstolo Paulo explicou este assunto assim: "Eis que vos digo um mistério:
Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar
de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transtornados. Porque é necessário que este corpo corruptível
se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade" (1 Co
15.51-53).

A Segunda Vinda de Cristo


A Escritura Sagrada relaciona a ressurreição dos mortos com a segunda vinda
de Cristo. O apóstolo Paulo escreveu: "Não queremos, porém, irmãos, que
sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como
os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e
ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, [rua, em sua companhia os que
domem. (..J ) Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida
a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos
em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos
ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor" (1 Ts 4.13,14,16,17).
Jesus prometeu voltar ao mundo para consumar sua obra. Ele disse aos
discípulos: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito.
Pois vou preparar-vos lugar. E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e
vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também"
(Jo 14.1-3). Esta promessa foi repetida várias vezes, de várias maneiras. No
momento da ascensão de Jesus, estando os discípulos "com os olhos fitos no
céu, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles, e lhes
perguntaram: Varões galileus, por que estais
olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo
como o vistes subir" (At 1. 10,11).
A segunda vinda de Cristo será um fato maravilhoso para os seus servos. Mas
será terrível para os ímpios. "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a
terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e
das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das
coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados.
Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória" (Lc
21.25,26).
A promessa da segunda vinda de Cristo é uma fonte de conforto e esperança para
o cristão. Billy Graham escreveu que "cristão algum temo direito de andar por aí torcendo
as mãos, imaginando o que devamos fazer diante da atual situação do mundo. A
Escritura diz que em meio à perseguição, confusão, guerras e boatos de guerr a,
devemos reco nfort a r -nos mutuamente com o conhecimento de que Jesus
Cristo está voltando em triunfo, glória e majestade -.2
Quando se dará a segunda vinda de Cristo? Ninguém sabe. Jesus afirmou
que nem os anjos sabem o dia e a hora, mas apenas o Pai (Mt 24.36). Por isto, a
recomendação de Jesus é esta: "Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem
o vosso Senhor" (Mt 24.42).

0 Juizo Final e o Destino Eterno

Jesus declarou também que, na sua segunda vinda, julgará os homens: "Porque
o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então,
retribuirá a cada um conforme as suas obras" (Mt 16.27)
Algumas pessoas perguntam: Se os salvos estão no céu e os ímpios no inferno,
por que haverá um juízo final? A resposta é que o juízo final não tem como objetivo
definir o destino eterno dos homens. A Bíblia ensina que este destino é

determinado na hora da morte de cada pessoa. Quem morre firmado em Jesus Cristo,
está salvo; quem morre em seus pecados, está eternamente perdido. O propósito do juízo
final é expor, diante de todas as criaturas racionais, a glória de Deus num ato formal que
engrandecerá a sua santidade, justiça, graça e misericórdia. No juízo final Deus manifestará a
sua graça e misericórdia, salvando os pecadores que se arrependeram e aceitaram Cristo; e a sua
justiça, condenando aqueles que permaneceram rebeldes e que morreram em seus pecados.
No juízo final serão julgados os anjos decaídos, isto é, Satanás e seus demônios, e
todos os indivíduos da raça humana. Algumas pessoas entendem que os crentes não
serão julgados, já que Jesus prometeu que aquele que dá ouvido à sua palavra
"tema vida eterna, não entra em juízo, mas pass ou da morte para a vida" (Jo
5.24). Mas o contexto mostra que as palavras de Jesus indicam que os salvos
não entrarão em juízo condenatório, ou seja, não serão condenados. Os ímpios
serão julgados e condenados; mas os salvos serão julgados e absolvidos,
porque Jesus j á sofreu na cruz o castigo que merecemos, "o Senhor fez cair
sobre ele a iniquidade de nós todos" (Is 53.6).
Os ímpios sofrerão eternamente. Não sabemos, com precisão, em que
consistirá o castigo dos ímpios. Mas é possível entender, pela Escritura Sagrada, que
eles serão privados totalmente do favor divino, experimentarão uma perturbação
infindável, sofrerão dores reais no corpo e na alma, e estarão sujeitos às dores de
consciência, à angústia, ao choro e ao desespero.
Os salvos herdarão o céu e também a nova criação. A Bíblia não diz claramente
como será esta nova criação. Mas o apóstolo Pedro afirmou que Jesus ficará no céu
"até aos tempos da restauração de todas as cousas" (At 3.21). E que "esperamos novos
céus e nova terra, nos quais habita justiça" (2 Pe 3.13). Sabemos que toda a criação foi
atingida pelas consequências
do pecado. E cremos que Deus restaurará a criação, após o juizo final. Muitos
teólogos acreditam que Deus vai restaurar o universo às condições originais em que
ele foi criado. E os servos de Deus, com corpos imortais e almas inteiramente
aperfeiçoadas, habitarão na terra e servirão ao Criador eternamente, em
espírito e em verdade.

Conclusão

A perspecti va de habit ar mos a t err a, t otalment e restaurada, enche o nosso


coração de grande alegria. Contudo, a Bíblia não diz claramente que este é o futuro que nos
espera. Mas, graças a Deus, afirma que o nosso futuro será glorioso. O apóstolo João descreveu
a visão que lhe foi dada do nosso futuro assim: "Então, ouvi grande voz vinda do trono,
dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos
de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a mortejá
não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram"
(Ap 21.3,4). E o apóstolo Paulo registrou que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o aram"
(11 Co 2.9).

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