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o RErI'ORNO 1\ 0 DI~SEKro
•• N i\ S()LII))\O DOS Ci\lvlP()S I)E AI-lGOOf\O

•e (~Ot\i1BATE DE Nl~GI{C) l~ DE CÃES

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•• S~\} EorrORA HUCrI'EC


São Paulo, 1995

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t:;> 1994 bv Les Éditions de Minuit. Direitos de tradução (de, pela •e
ordem em que aparecem nesta ed ição, RoôertZucco, Taõataôo, Le
Rt'lour nu Dárrt, Dans la Solitl4d~ dt!S-C/ltll!lpS d~ Colo" c Combm t/t
N;grr. fI dt, Chiem') e de publicação reservado" pela Editora de
••
Humanismo, Ciência e Tecnologia "Hucirec" Ltda., Rua Gil
Eanes, 713---04-601-042SãoPaulo, Brasil. Telefones: (01 l)5309,?OR ••
••
!: 5,13 ·0('53. Fac-símile: (Ol1)535-41R7 .

ISBN 85.271.0289.7
Foi feito o depósito legai.
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•• i\ origem deste livro 9

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Beatriz Azevedo/Letícia CaUTa
Uma dramaturgia que perturba, pro v {)m, revela,
questiona e fascina 11

•• Fernando Peixoto .

•• TEATRO DE 13ERNAHD-~vlAHIE KOLTI~S

e Roberto Zueeo
Tabataba 47
19

•• O Retorno ao Deserto .13


Na Solidão dos Campos de Algodão t"J'9

•• ( ~ ( 'Jllbate de Negro e de C ãe s / OS

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•• BEATRIZ AZEVEDO / LETÍCIA COURA

•• CABARET BABEL

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•e !lt'I'IJIIlt/-iJf{Jfie KO/I()S, nascido na França, foi
"/)1'1"10
um europeu
e apaixonado pela J\/Í'1à' e pelas Américas. SUfI.i !)(fI,i
";,III/lO.\' rnnrcistas com profissionais que IItJ!){J/h(I/ (I/!/ rom SI/(/
ohra. ( ;o/lh('({'/!/os 11m pouco mais sobre o IIIÚ'Vt'/ :W til' A'o!/h-

I. ••
/1'11/1111/ qnrstõrs qu« 1/0S dizem respeito muito riirrtamentc; e/e percorrendo os (fIfés árabes que ele /I"(;'qtiefl/m..'(J , o bfli/TO onde
ronhrre o Brasil como ningué1l/, Il/OmV(I, o II/{'/,./i que /0 maca, flmb/m/eJ que marcam profun-
11.1.1';11/ ('011/0 Bn;cht ofoi para fl tI/mr/tI til' fiO, acreditamos quc dnmcntr .W (/ r/mmflturgifl.
15olll/ld-,JlI/I1e Koltês será 1111/11/(//"(0 jJflm o teatro brasiteiro dl/ Seu inn.io François Kottês nos presenteou ('(}!II suas obras

••
dá 11(!tI r/l' (){7, mediras. f flillr/fl em Paris 1/lIVflmOS o primeiro contara tom
:1 {,'ia . (.'{J/Jflr('t B(//){'/, moolda por Il/lla "pflix(lo ti pl1mt'im :11. JirÔIJ/C I .in do 11 , editor de Ko!lfJ I/(J França ((difioll.\' r/(
Icirma quc aconteceu II{J Espanha em /99J, realizou 1/0 ano se- ,Jlifl ll i /) , o q/lI 'j)o.\Si!Ji!itOIl esta publim{r1o.

•• ,f!,l l i l/ /t o (;ido til' Leitura e PI:'Sq//ÚII da obra de I\o/tes 1/(/ il/illl/ -


(lI 1-"'(/1/((;.1'11 til' S(IO PIIU!O. Traduzimos e !t'1I/0S todas fI,i .fIl(IS

1)('(11.1' /J,'{/JIimr/fls 11a França. Partiriparam do tido' atores. ar-


Dr 'i..'O/ /11 rIO Rmsi! WIJ/ lodo f sse matcria]
11/0.1' O Cido r inirinmos os t'II'\"(/ÍOS d(J
esp et ácul o !'í'.I'II!/(Jr!o desse mergulho pl"ojúlldo
r)pOt'
11(1 IJ/r/O

{ :'tf}(1JI1I
rrtoma-
IUf lO,

obm r/f

••
11(1

/; S/IIS pids/i(os, músicos f inrclcctuois, e o rntusiasmo J/llgir/o /lOS !\o!/h-.


k~'OII (I Paris ('11/ /JIISUI de mais i/~rOml(I(/jI'S soln» o (////01'. f,fll/((u/OJ simultnnra mcnt», pr'((/ r licrofnsrn: rI(1 r.'irl, (,'"b(l-

•• /';11/ UII/ II/(~i pcnonrmos ()J / I'II/IOS ondr JI/IIS o!lmjrí hllVilllll
.Iir/o ( /l O'/l II r/II S, recolhemos artigos, ('I/t/"{!Y)ÚfaS, fotos, fomos "
/Urlio Francc CU!fure OI/de suas petas estão graoadas, reali-
1"(/Na/)I'! r drl Fdilom f l uritr: !)oll/as-dr-!(I!/«(I 111'.1".1'11 oll,wdir/
ncressdria: jJII/JIimr jJl'!(/ primrirn vez 110 /lIf/.l'i! (I 0/)/(/ r/('
Rt/7/(II"{!-.II(//ie Ko!/éJ ,

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•• IJMA DRA1\1ATlJRGIA QlJf1~ PERrrIJR]~A,
•e I{I~VB:LA, QlJr~S'I'I()NA l~: 1~'ASC~INA
I)ROVOCA,

•• I;'ERNI\NDO PEIXOTO

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-,

.Vo dia 10 de maio de 1990>rlli (/Oteatro ,)challúiihlle, e/ll /Jt'lll1rbtldor:!f'm/lro q/lt'por fi ~t;U 11.1 insta nresfiçuei mesmo olha li-
Rn /i/ll, assistir a mais recente encenaç ão de 11m dos mais exp res- do flSPCSSOflJ çu« I/afjuele momento passavam pelfl Lr/miner Plat »

••
.lÍL'OS diretores contemporâneos, por q/lem semp re rioe grande UI/de cstd [ocalizada ,1 casa de espetriculos, no centro do que em
/u1l1lira(r1o ~ P;t;;:~~FvEu1Jf70 conhecia nem o texto, Roberto entâo Berlim Uridenta], efiquei examinando cada um, sobretudo
Zucco, nem o autor, o francês Bernard-Mnrie Koltês. Desde as os maisjooens. pensando que a~t;/lém poderia ser como o personn-

•• jJrilllúras cenas fiquei fascinado e surpreso: eu jrí havia oisto


dn .crsos lral/fllhos de S/ei1J e é evidente que o vigor e a f O/FI da
gem que havia cisto em cena: um jovem que comete uma série de
assassinatos com a/l.wlula tra11fjüilidade, COIIIO fi/OS cotidianos

•• /illg/lf/grlll cênica não foram II1f1a novidade, mas a permanente e


i//(/lIir((/ inocnção e criatividade do texto, a sucessão de cenas
il/t'sjJt'!f/dfls construindo uma narmtiua de drmna/lllgia imá/i/tl
11 orm a is, sem motivos, sem ódio, sem ser provocar/o, flfI verdade
se1l/ ser (/qui/o que normalmente classificamos COIIIO 1111/ "doente"
assassino.

••
0/1 /1111

(' j)(}/(im, (()11/ instantes de tlllI realismo crI/ti em seguida snãsti- No dia segl/inle /lem cedo corri parti (I Livraria Fran cesa de
(II/t/OS por fllll quase teatro de absurdo, a mescla conturbada e Redim Ptlrtl ver se encontrava outros textos do mesmo autor. A

•• rontraditária entre lima temdtica social e individual, a luta de


rlassrs e a intimidade da família, cria ndo imagens feitas de
leitura atenta do excepcionalprograma distribuído aos espectado-
rrs da Sch(wbiihne já me havia dado as primeiras informaç ões

••
simbolos e mitos, do cotidiano e do imngindrio, me deixaram sobre Kolrês e SI/fi obra. l11gl/flS companheiros do teatro alemão
rcalmrnt« perplexo. Algumas seqüências são para mim alé hoje fl(Jfjl/tla mesma noite haoinm me/alado sobresua obra como uma
inrsçurcioeis, assim como me marcou muiro fi pOHibilidade dl' n"Uda(tlo únirrt, e /flllI/lém que Koltis, nascido em Alcrz. ('11/ f) de

•• uma dramaturgia que às oezesparecia lima rigorosareproduçâo


n'(t/islfl , ris Vi'US parecia próxima do universo poético e moral de
dt Jean_p eneI, às oezes trazia fiam (J rena o realismo
abril de 1.948, havia [aleado em Paris em 15 de a/lril de 1989.
Comprei três liv I'OS , o que havia,jllstammte as outras trêsPt'(flS
qUf, j""/fll!/{'1//t' Roberto Zucco e o IJlroiuimo mas
e O/J/ i/S

(lfIdit'iulIal 0/1 o rralismo dirJ!ili(() dr Brcdu. SflÍ do teatro


('()!II ( 0 111

admirrice! didlogo Tub utaba, esrâo agora reunir/os aqu] neste

•• (fIlTfg(l!Jdo o impacto e a dilacerante tem ática como algo vivo e volume: O Retorno ao Deserto, Na Solidão dos Campos de

•• )1
ir
.'., ', , 1" \ i il'..T
Algodão e (.~}m);m;,<:el""egro.c dcães. C ('.omccn
, .a aeoora-tos
J ' • I trndusi« par« o a/mujo a pera Cai s Oeste {It? Koltis (fllid.\', .1' .'/(/
••
no mesmo tii;' lI: ml'/kotl\"n cerlr~ de que estaua diant« do mais


, :\~t1 ~ .,.:: :,;~ . ,! ;, .·:1t·,).· ,. ;;:.·ú;I.'f~fnr~ tl 'nmillj,rgv tio ft"{/!ro/ill"cêscontem-
prímám ptra encenada 1/0 IJrnsi], !1'IIr/O t'stn·{/t/o ('1lJ Sdo / 'fI/tiO 110
Teatro Pf';O/ em 8 dt' figoslo rll' IlN.,'t) ;'1/1 /mr/II(rlo r/t I ';flli/;o ri; ••
p I;/i/llev . Em' OJ {ex/os, e~lom/1{fo 1I111f1 temritica sempre

di(tlnlle i : inesprraria, Koltis conseglle IIItrgulh{/r (/ f undo ,,(1


'i.'{'f(/ fl t/f ' m il tl i/di}ô/ú/ e r!;/f/rf /'fllltc rio ser h 11111m/v, .I'lia {'x isth/d,!
Biasi (dinj l 70 de. Jfarcdo iJfan:h;oro). Itliillt:r afirma qt« /\o/!h'
f to» (,);{'/11 p/o ra /O /1(/ dra mar«l'J!.il/ r onIfm/)()râ /1[(1: "/is /Jt '(t1J do.'
(){I II'O S autores grl'tI / IIJt' II !C p ossua n fI/IC//(/,í IIlIJa rst r u tttr « dr
••
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, _~ - '1" ..•.•- -- ---,. . - - - - - .- • .• -

('/lll /um to .rlJdi'(.,J/r(II,o cenqua nto. p art e de uma estrutura socia l


/OI1!IfJ i/fI
,
,k it~iuJ'tj(l.d c oiolénda, ,'1l1flJ( ;"r/t';,,/r;//vt!/wlqlll' rm
- - ._ .- - .. • . ..

i /l l n :!!,tl l' fi ;I!t/~!!,(I / ( '(I!/.W/;·;)(/ no teatro . I~' /m{el'li d tornar


obsru r« r ";;/I/;/l f/I'{'s/a rsrrura r/t ;"'I! ~[?I. ~'~~'. }"·(!!!h', (/0 ('f) 11 trrir i o,
••
j )( IJI/ll!/ f'Il /(, "/I~d(/fl(fi . I': sem dúv;r!11 estes trxtos, m il/o 1/(/ vf'l'f!flde
tOr/i l fi O!JIt1 de K()/(h', s/io i!J!IÍJlIl/OS oigorosos para fi ronstruçâo
\ . .,,- . . " -_ -- . . "
hrí 1111/(/ estrutura df.jrJ..;L Isso lfilf'! ' (;;';.:('1' fl"Co (111/01' rst.! ma is 011
~;;~~;~;-;;i;;·;,~~/~;;~~,,-~:j;/{'J(;'// re{,/1/ Si'fIS textos, cin seusjJCI :W!l rl ,!!,tli S. I,;/I ••
••
til' (>/>d tÍm !o.\ onde r/ imaginação e ti im){;'Il(/io necessariamente al'ho isso /lI1I;/O imponanre. fi 0 l'!jllt' neste momento rr t t /l dà/fúl
((lrlO que .i/t/'s!illI/~ · qll;liq;~~~·: -(t,hdllU:i;;;; ·c;~/:; :··J10 .co ncencionai. gera] t: 1/ {'x t i l/{rlO do ali/OI'. fi e.\ jJlti,:r7o do antordo tesro ( 1t"1I1/1// 1II

/)('.i(o/m· Itltllb/lil ofnsctnio de HeitlerJfii//i.'I'[Jor Kalrês. Af l'Smo do !M11'0 . l por isso fjlle A.o//ó· nofuI/do r!o IÍ 11;1'0 filie ///1' in/rrrss«
mio .filiand o {mAces,, () qUf' (.'(lU SO/l po/e"m;(.'(l 11t1 t:/) (){ 'll ...lfNI/fr 11(/ I/O 'CV/ d li'lIl/(lllIIgia" .

••
II ••
I:o/Í("S nasceu ePI IUc tz : no interior da Fra1J(II, elll.9 de abril de
I tf/ ,\'. Itcixou (I âd(/de com dezessete, dezoito (más, Viajo« em
tris (11/ 0.1' .\'('11/

dt/)(J/:\', afirma :
esa rocr nada c, num« rutrro isra a L. l' . l ln», til/ OS

"qllflllr/O '1.;01/"; I1 ('S(.'I'I.1.'('I', [ oi ('fJIII /JII'/f llJ/f'Il lf'


••
sf:~!i id/l /1(/1"(10 (''rI11f1dd e para Novo Yorl: Em !970, com ointe
\
('riois anos..foi pela primeira vez (10 teatroe.ficouemocionado
I '
com
'
tI~krrntr ".
.VO ano S(!!,lIill!( oinjo « par a I / N':i;éli(/, r/(:jJois jJ fl l'll oa ri os ••
o I/"f 'V i II , ,(;ob,re!ltdo com 'a atriz illaria Casares. 'I<: começou em OIl!I'f),\ pn/srs da ,.(/iim e chtx olI(I passarseis meses 1/(/ g t)"!fII'. fl /fI ,
,l'f :'.!..lI i d fl (I cscrroer-snà iprimeira pt'(fl, Lcs Arncrtumcs, npartir 1979 , OI/de csrrece« ç~~.~ltC de Negro c de .~~_~ 1' .\fg Ulltio
do rom a nce I IlfJância de G,ârki, o't exto Ioi enrenndo em Estrasbur.. ele, " 1111'" povoado onde nrlo.lf17(,vrwifie7;;(,."jJ('!iítol". E'/IJ 1981,
••
go nomesmo fI,no. C014v;t!ndo por/Jubel1 GigJlollx, qlle (l SSÚ tiU fiO
{'.ljJc l dnt/o , ingresJo////o Teatro Nnáo1JaldeE J/nlsl"' rgoeescrcuell
jJassou qll{//I'O meses em Nova Yod.· t !leste mesm o Imo .l"IIfI pe(fI r~a
N li i r JLI ste A V ~lIH Les f o r<~ rs é f!la:I/ar!a fllJ jJtlIis, /l O Pc!i! ••
'l ·ril'ÍlJ.I I('xtos f{IIe.f{;/((~n mOfltadosj)e/os flIO r tJ!(JlII1WJ. E studofl

{F/ ter/o lia l'SCO/ (J d o 7:!\fL\~ e em {971 ele IIlt:.rmo montou . flaqur/a
Or/O)//, por.ll'al/..I.llc /Jo/!/ (' R;ml'd FOl/lfIllfl . RegreSJOu/lO f/1/0
segu;lItt (I ,~/o'Ua rod' eem 7983fillallll l'll/t' es/ti;rl 1111 F Ii'I/l{fI , ( 0111
( idar/e, r ,a ~L~ich.e t' Pro~cs Ivre. No filIO segui nte fi rddio !'nl11cc rlirq,'(/o r/f' 1),/11';((' Chll ('{/II , Comb ate de Negro e de Cks, /lO
••
( .'! I/IIIIi' //{ lJisl1li/ill (! perfi L' Hédtage. f('!ldo i Jf tl! ?fI Dl/Jaris (:01f/O Thài//(: r!es : i lll{/ ll d i et:l" de fI/fl ll lr.nr, tendo IIIiche/P;rmli (' j JhilljJ/J(!
"I{i:~ prill ájJal.' 01111"".1' texto s JelJs st10 ena:llar!OJ 011 fnl!lsmitidos Léo!flleI á.liC:II/e do t/tllro. N U lllfI t:1ltl t"'iJÍJta a Nj(/l!1i SiIllO//, em
••
por /i/rlio. Fui 19?7, /lO Fe.fliva/"Q[l" de il vigllOI1 , t's/rim, ('01n 1983 , Ko//ts der/tlroll: "N" refi /idade, essa obrfl llflJ ( 't:1I rle U1II(/
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.\IIft' dm '[/io, L ;l N uir Jliste Avant Les Forêrs: eltíhf1'l..';f/ paJsado visdo jiI/ Jií..'f'1 i!'l nd, !/l/lS el1()/'IIll'lIIe11/l' ('!IlOÚ0 1/{lfl le: lIIill :}a /Jli -
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mrirn 'uiVlo dfl l Í/i i cfI ! Q//fllldo desci do aoiâo, me senti ag,.u/ido existe fi ordem normal, !IIf/S sim uma outra ordem O,,70.W, quefoi
e .w /Jf"CI"dopdo tremendocalor q//e 1IIe pesaoa 11f1 11 uca, que arrasa , seformando ". E prossegue: "Senti oontndedefaiardesre peqllello

•• r 11/I(,IIfIJ rll~i1'0}S.ici
fi lVi-im '1/ /1(' ctt
(/S aeroporto, todas as id/ias .W!J/f?
pOI1t1S do
trazia se solidificaram utuna cena: 11m policia!
mundo, qt« é excrprional e, apesar r/isso, 1Ir10 110.1' pnrcce
((/1110 do
estranho;eugostaria rlt' conla resta rstrnnlia impressâo qllese S('II te

•• IIlgro úfllifl com c ioléncin em ,,11I rir Sl'II S irmãos. Avr/1/rei e rle
I r/H'IIlc I/~(, rnronrrr!com essa úllnált inois/oe', 1IIflJ oniprcsrntr,
1/ 1/1' div'irlifl úlll!Jo/imlllm,1' os RmwO.I· c os Negros. Olhá para os
r/O arraoessnresteeSpfl(O imenso , apnrrntemente deserto,com ri IlIz
tjll(, vai 1/II/drlllrlo r/O passar ria 11 o itc. os rntdos rios jJII.I'.WS r as
cozes ql/e I'('SSO(/III. a(l.,TUllll a reu Iado. 1111/(/ /I/f/O qt« .l1IiJil(l/l/ m l ('

•• 'v1:r:.ms , /0;" sruria í.,t'I :r:.0IlI,tl dos 11I1'111'.,' mas IIO\' olhos rlr/r,1 In11/11/1. '11 11' aga rt r:". F tlll!r/fl ('//1 I ()Sfi rstn'in, I!O F",I't1i 'lt/ til' .h)f'.."ol/,
1111/ rid i o Irll) 1/1/1'11.1'0 , 11/1(' 11/(' I/.I'SIIJ/ri (' (1)1'11 fl llI 'tI o /(u/o d os , '.lj !);ILIl Ll, /1'tII1Sllti/ir/o jlt'!ll1'tír/IO rtn . 1' (Ir' tlgr J.I'/II .

•• lt rnnros ".
/-:11I ! (1)''; I\o/Ih)oi pnm o ,..\'emg tl !. [<; pII;';imll 1111I 1"01111/1/((',

I ,;I FlIit~ } C lle v;I\ Trcs Loin Duns b Vitlc,


f ()S7 / o ano r/l' rstn'ia rle Na Sol id;\() dlls
Algod~o cnr Nantrrr« ('011I
(: :lIl1POS

direçãorlePntrirr ( ,'hái·("' . S{g ílllr!O o


de

••
IJ" e hflvit'/ escrito pn5/Jl70 I\o/I{\, "e umn histôrin de dois po'SolJagt'!/s, IIIIIt'/ roncrr-
em f f)7ó. Afirmo/l fJlIC seu grrl!lrl(' sonho era o de escreoer romau- J{/ , 11m didlogo à maneira do século .\ 1'111". Sobre .l1IfI cnrcnaçâo,
rrs; II/fl S n/lo rsarcin. /}()I'f{I{(' IIr/O /}()r!trifl oi orr disso. r:1t/n '(/1I rltr/fI 1'01/1/1I/11f1 rntrroist« fi Didir«, I/('/'{'II':.(' ('1/1 f f)S7: "ru

•• 1-:11I I f)SS I\ó/I/ s crio no NmJi/! 1': sll'f)l' no RIO d('.Ifl!l(lm I' ('111
_ _ ___0_. 1 .__ . - ' --.- - ---. .-- . .... .---- . ...
· · -, -·- - - -1 · -· - -- - · ~

S(/I) I 1111I / 0 , jJf'!o menos. De SI/O l'au]» ('S(I'("t'('/III1f/a mIM, dflladfl


~ -- -- - .
/)1'0011('1 ao 11I(.1'11/0 Iml/)(} /}('I'11If/!/((er 1/(/'" I{(/f/OI' r a'riro r, sobrr-
111r/O, /)('1'/"11//1'(('1' rr/riro. rft amar Koltês por f/f/ui/o IJIII·,.j,. /, r/t

•• dl' li de dezembro de 1985, ti S('II 11'111r/o ,


Pilldo /1 (l/liIO 1/I('lho/': 1I1/1f1 NOVfI ror!: lalilla ,!Jfll..,dhenlfl,
sa, I /,(//)fl (('inl; /)(11"(1 mim,
onde comenta:

sou antrs '"11 raro IJ'"' 111/1 /fI,f.!,III/0,


"SI/O
ronf«:
tr ntri-]» (,(Jl I/ O 1111/ fi 1110,. como 0 .1' outros. Se ri/.e."lf/II ('01.111
flgll/rirl, ~'!.CJ!fl/t'Ce_mJUlo-úJNg{/, l'II sei que droo ///{' r/i.,,.,.. 1<; rll
IJ!!()/do o Sl'II texto dfl mcsm« maneira (0/110 fI/!(Jldo SIt(I!.·('J/Jt'fln '
1Ir/1) 1/1('

••
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1'1I me emociono mais jOgfll/rlO é'/II maquinas eletrõniras 1III/IIfI 011 1 I/tIII·Cf/1(.\', Jt'!Ido i/~j;d fi d e (0/110 Imito o hrí!Jilo de ser r'()/II
(,S/I/(Il' rir' corrrdor sórdido de bus.. f()I1~1' de St/O Pal//o do qll(, eles. Diro isso, se (0/11((0 fi ler referências (11/ n/fl(rlO ri O/J/(I rft'

•• jJf/.l'sUllldo ao 101lgo r/OJ quiiãmctros de praias do Rio ( ...)".


FlII f 986 t'.l'/Iiifl 110 l'ltéii/rc deJ Amrl11r1iersrle Nr/lllerre ri perfi
Koltês, IIr/O sr70 sel1f/o l e/('rlllcias
p e(fls filie t'II jd eIl(eIlci. Sl'II tMlro
tirfldas da expetiêlltia rll' Jllf/J
11(/0 se pfll"cre fi IIclJhum 01111'0

•• '-
(: ~I is Oeste [01/1 dil"C(t/o de Palrl[e G!térâill e lendo Alaria Casa-

d, ri./ii'IlINlo e/mro. (,'01l1enlrl Kolles: "1\0 oeslede Novfl YorÁ.',


.I/ rlllhr/II/W , 1I111!1 [(/fIlo do Wesl E 11 ri, onde eslá o velho pOll0,
('11/
IJllepOSJfI {'x isl i r , (/ lIenhulIl alltor-mesmo cOlllemporâneo -
{'li Ifllhfl fII;n,fldo - com o GC1Ie/, por exell/plo ",
f 988 llllll fll/O de II/lIilOJ flcol1lecime1/l0s. Em NfllllelTe,
filie

CO/ll

•• (,.\' /:'/1'11I fI~r.;lIl1 S Itflllgfurs; há 11m em pflltlr///flr, aballdollarlo, 11111


gm ll r/c !tflllgflrVfl.ÚO, olldepflJJel rtlg'I1Ilt1J noill's escondirlo. J~ 11111
rlilt'(iío d e1.1It:·llolldy, eslrlifl IIl1lfllmdu(liofellfl por Ko/I{\ de 1111/
texlo de Shflü.ljJef/!"C, Conto de Inverno. So!Jn: fi (,XjJl'riàláfl ,

•• /lI grl" SI/1IlrNllflI!e estmllho, 11m refúgio rir 1/IfIlr/(f.!,OS, birhflJ , Cflme-
Ms, 1ft run10 rle mlltflJ, 1111/ /lIgarollr!r fi p'o/kifl lIrlo entra 111l11rf/,
jJo/' obsmms mzões. Rf/sta mIm,. e você se dá c011ta rle qlle eslrí
df'dflroll Ko/lfJ em-ell/revisla fl r. fiaI/e.' "F. C'UitlCl1Il' IJ/I{' nt IIr/O
/}(/S.l'tIlifl fi vidalmdllzillrlo, II/flS dl' vez fll/ tjllflllt!O
me prodllz mll;lo pmze,., é IIl1/fl
t .1'/1'Im!Jfllho

eXfJCliêllâa fi mflis. (. ..) 1;'(/f/IIÚI

e IIfllll /lIgarp,ivllegifltio d~ Intl1ldo, IImfl eJpéâe de quadrado mú- SltflÁ'e.ljJefll"C permite 'ver como ele (OIlSll'lIla SllflS o/J///S e ('O!n qUi'

•• Iff70,íflI1lenle flbandonado em meio flllm jardim, onde flS pltmtas


podC/iflm ler lfr,sr:ido de mfllleim d~lerehle: um 11Igflr onde nr/o
li!Jt'rr/rJr/e"./<: rJindfl f.flermo, com t/iI"C(r1ode Chéref/ll, tem/o i Ui d reJ
Pi((o/i á./irllte do elenco, es/dia O Retorno ao I)cscrro. Em

•• 13

•-
entrcuisra fi i~l. Ge1/S01l, afirma Koltês: "Eu cstnua 1'I1l IJl t'/Z em nhas fit'(/I S, e« (/111'11I0: !·: S/{/I!l(}.I' cercados rldfl. Os 1!I%I'ÍS!t{,\' rm •--•
I f}(íO. Jll'lI pai era oficia]e naquela tÍJOCtI c oltan da Jl rgilia. 11 fém
disso, (} m/égio ')ftlll/ -Clémcnl estaca situado 0 11 p/mo /;(tÍl'I'f)
seus amomooei: s.io de 1I/1l(/ f..Jio/tm:ill, de 1I!1/(/ mllldade trrrror],
r -:/r/o />1 o.'! los /1(1/(1 11/(//(/1' (/ i odos ". I': OJII ti»1111: "Os l'ill 'f)jlr'l/S rut
os O(itil'lI/tlis, s/io os vo (/atlá ro,\ monstros. j';xis/(III SOJJ1('JI -
••
••
ri m /I!', Fivi a lhegar/a do Genem] Mnssu , (/,1" t>"p/OJiJ{,J nos {I/PI' .f!/'I II!,

(; 1(1 /1('.1' , t/lr/o de longe, sem lo' uma opinião, e apenas meficaram Ir OJ IJ/l llfI,f,"(l n t. i , (1'1(' ( (I (/(110 (//;."()/(I /1/111(// te ma,!!,1I (fiá).i /}(Jl'tjflt

i///!I 1l '.i W)('S , 1/.1 opiniões eu só as tive mais tard«. Nr70 qu;.'i escrecer /)()SSII O)/ [{Jl/O nohrcz«, (1l"iSloOllâfl incrioe]. floll/lp.o/ me
/111/(/

nmn pe(fI sobre fi guerr(/ da il rgilia, 1IJ(1J, sim, mostrar como [Um
dii:~,( ' (111oscocêpode' sentir emoções ri partirde acontecimentos /fIlC
f>tll "ty e f) único poú do 1JI1I11f!o, assim ('()JlJO 1I1J/{/ ilha, /)(1/(1 mim.
onder« li": njilgimitt. (...) f'II tenho V()!I /(ltlo ltj idal'lúS,iO. jJois (1.1' ••
se r/r.' ·m'{)o/'i.)tJfJ na exterior. No interior, utdo transcorria de modo
(,,/m llho: a Argt!lifl parecia n ão existir e, apesar disso, os (afú
coaoa»: pdos ares e osdraoes eramjogados no r/o. Haoia estetipo
mi"/J(/J pr(flJ [ala m disso. ( isso
csa rcer /111/(/ /Jt(tl. Sâo tiS
fi//( '

c ezcs coler«: tomo essa".


t: (liJlda em 191."/1.) que A'o!th' cscreoc Roberto Zucco, sem
pot!t' III( daI" a idâ(/ tft

••
(/"L ,i o/i1UÚI (1 que 11111(1 criança é seusioel, ainda qu« 11/10 a
(OIll/) u ,t INl a . Entre os doz« i:' os 'dezesseú rJuos as impressões s.io
dlÍ'l.!idr/ seu /i'XIO/lla;sj(l.ifÚ/I/J/!t I:' pt:ltlIrvflrlor.
O/Jlr/ !J(IStf,r!tl nn [atos reais, a o m enos lI/til/ /JeIJu!!(/,!!,r/ll fJltt
Trata -se rÍt' lIJ1Ja
••
du ·is/vas. creio filie a/se decide tudo. Tudo . No mc« ((/.1'0, eoidcn-
tcntrnrc. raloez tenha sido isso() que me Ieoo« Ii me interessar mnis
rralmcntr existi», {/IJI dia A'v//h' v iu lllllJl "mrtrõ" nm
"!JflJ((/ -SC" COIll asfotosde 1/ IJIjovt'1J/ (I fiehavia assassinado ,'( IJI Pfi -
/ /// 'lrI Z rir
••
••
/n/ os cstra ngeiros tio que pe/os [rnnceses. (:0111 prel'Jlrii tn li i/o (friO /ú';aí. FirvfI/t/StÚ/IIJo como rostor(/ IJt/rza riojO'()(,IJI, SO l tI rsrrcuo
(/ 111' (,/fi /ll o snngi« novo ria França. que se a França ciccssc rlr/Jois assistiu, !)t!tl /c/I'UiJr70 , a o mesmo
e tlllllqiii/o . l 'oucosdias
somente do sangue dosfranceses se canoertcria nutn pcsadeto, em I tlj>flZ, q//(' !I(i v';f/ sido preso, {Jm/Jallt/o pelos /elhados ria pliS(IO,
(/( f!.lJ nnrecido li S II /( /I . A esterilidade /0/(/1 no plano nrttstico e em

lodoJ os n/I /l OS li.


soldo ji'llllflr/O/l t'!fIS (ri ma rn s dr l(kL/ I~iriO, rlr:saj!(wrlo o munrio,
dugalldo afiouso de cuecas, ate ser n :mf1Ifl;,atio. VO//lfl/(/O a ser ••
Fstfl é uma temritica quase p enl/fl1lell/e em Koltês: os mnrgj-

I/ fI/ ", os fSIrrll1geiroJ, fi pol/tit't] {' ti PO/fCifl, (I vio/êllt.ia gml,ti/a

( lI'. ,\ 'lI l1/fl Ol/tr:,vistflll KI(ifIJ Gnmau e SrlIJilll' Sf~/tlf, e/tl / : 1ft
fil eso, écn(('I Tar/o 1;,'(/11 hosp ila I pJi(/uirí/rim r sIIiátil, -se do meslJlo
f!iodo Iflle havia fOJlletido seu primeiro oimt' (o priJllriro rle /lilli-
10.1 ou!ro.l) fjfl(IIIr/O maloll SO l pní/Jlio pai ('OtJj II/H'//tl.l (/flill:<',(,
••
OltlU/ll'O de 1988, e/e/a,z" 1~/i't'1llfiçiieJ {JflSI(I1I/e c/tlI'IIS: "l'.:II lilll/UI ) aI/os.

mit)(í"I'Í idé/flJpoHúals lias millha.sj>t(fls, i1gente ndo f .lO't;ve jJe('tl'; \ A:o!/tJ 1II0/TC t'/II /S de aóril r/t 1989, ('(}II/ fJ/lan!!l/a e 1"" (IJ/OS. ••
( O/li idà (IS, t7 gente escn"ve pe(as {Otn pessoas. Fu, Si' qUÚ{:f', eu \ E Roberto Zucco tem Jlla es/dia IIl1l1ldifl/tl/J 12 dca/Jril rlt /991 7

('.iO(' ,,'O !Im Pt1f1f/do pO/líico, fIlm eu !lão fa(o panflelos políticos ) 1111 Scha/lóiillllt: l'1JI f]edilll, com din'(tio r/t: PtterStcill , D/I,w/lr os

peÇfls. 1';/1 não lenho Ilfllhlllllll I'lIziio jJlII'II f'SOl!'uer I etlSttiOJ, 110 IIIf:J t!"/FJerúro, Slá// ('(m(t 't!etllIlllfI!Ollgfl clllrrvis/f/
••
••
IltlS minhas

lIIJ/fI fl t(fl, 1/ Il rlo sel' o/ a/o tieesu't'tN:'I', éo finico E em 0"'1'0 l,.edlO i ti Ali1l1? j.rIl(J i'l/ /, ria qlla/ l'xtli'lIíI/O,l /l1IJ trccho c.lpecia/tJj e17tl'
li.

(/r. \J1/ tl .i Ulltl o '11ff'dW!/!fI de (:/irm~·t'ses médios li: "Seépreâ.w/I1I'III·/ t').jJlê.l'Sivo .w /" I(' Sl l t l vú /iV do ft'X/O di' Hemal'{/-ll{arit' Ao/ti',\':

rir IJ/fllgillflis em lermos de violência, srio eles. Os veniadeiros'


/fl mrios s/lo os /Jllrgllescs do in/erior. Eu qllú mOJ'lral' que
"Df/as ('O':S(/ S lIIe ill!rreJj'(11ll pmliclI/al'lIlente nes/a ;) 1'{rI , li
S!io\
p,imál il é flmtl illterrog{/(âo sobre (J t:xiJ!êllcia hIJlJ/fIIf(f t' I',I'!(/ ••
/~/:'lId(.I' flue (/ gefl~e TlrlO considera COtn.o mfllgif1a~S, :/Il'.Jiio elí'J 0..1' igllol'llllcia onde t'J! fJ1f/OS fi I t .\jJci/o d(l ol igem desl/l (/gl'{'ssi'~.úr/(/de.
IIJ i l / '().I', os {(JJaSSl1Ios. Quando mellClOfiflm ti 'V/Olt'l/f'/fI 1/tlJ Iflf- Dl: onde v em 1i (/(d o ril?J!rf/fÍvíI ,\('/!/ lI/oli·v o.7(:O1!/{) dll J f./Ol/ilf/!')
••
j..J
••
••
••
.\'1)1 r/il/Jo/lloS r/I' /or/os OS lII oddo.l til' discursos f'.\jJ/ial /it ,oS 1//(1' r//((' jJlISSII Ii srr iJllt'r/;II/rlllll'l/l(' a fontr r/(' todos os /Jt'mr/oJ c o /Jn:f!,11
iI .lS/:'-'.. /(/{/ 1JI qur I ) i'll/o r/o (//II /Jil'll /I' , rIo utrio socini. , l /rIS mlli/o OJ r/t'I/ JI'.1rI intrrcir. NII e d h a //{Iglrlill, o homcn: agi rl afn- uor ou

r/t'jJJi ·s.w '~ ·'I'IIIOS 'l''!' CS/rlS an rilisrsndo s/io .l'II j i·(I·I'II /c.I . RI's/ rl rntâo contra II .I0(;N /rl rit' qur disruriasuas ações. F!Jl !/I ((O , o /: O!Jl(,II/, o

•• 111Il/fI/o u k III t'r/O, r/t'

/rh 'tI. .1 c.\'i.l/rl1tÍrl dc


ronfnsâo, dr irritatrio. P rIS.1'rI a ser iurontro-
/( /11 111 ntndor, dI' /(111 '[azrdor r/c rI / OS
'[azrrior' , 1/170 tem /lO//: /1111 ronta lo ('()IJ/ rrsociedade .1'/' nrio lo: (()III
(I so(icr!(/(/t rIo ('sjJc/rÍm lo, qur SI' ron/(1/ /11 ('11/ O/goli,. 0.1'/ 11/0.1e /Ir/O

•• Iki /!'II /icos m il / /110 .1' 011/1'0.1' r' (() !I trn si 1II{'.I/1/0, .I{'111 nrn]: /(111

11/),111 'li /f' , o/l l ·ir.:.rl II n /It/ il' f' 1I .i f' ({)I!;)o ll lrl l' rom (I iu rrrtr-:a t' rr

1!lí ~ 'il/r l if) /IJi' o (()1II/)()I'/IIIIIt'I//O do h0 1ll1'111 f'1II gt'lfll. :\'(1 OO:!!..t'lII
moric o disrmir mais nada.
II srr o n i l / l l'/ l rI.I
, l / as as 1I0.l'Sil.\ .Wrir'r/rlr/I'S !lI/O r.'s/i/o I't'!/I/Úr!II .'

isso? :1jil//( tlO r/I' !/l ir'f) / I'(,.I-,i/l.i l-ilil l · os ,"dhos

.W J//I O.l /l t'II!i( OS.. 111/.1 11/(,.I!JlO .1'1'/11 mora], ( (}!Jl0 to rto» o., /Inú; i . t'it'

•• I /' '.1/11 rilícil /rl rstr), .1'0 1/ r/lí f 'ir/rl,

,1.I (.i
rssr srntintrnto fjl/{ ' ror/os nos tenros
1i//i!JIo.i II IIO.i , r/(/ 1I0.lStl ilJl/)()!I :Jlr-ir1 /Jrl l ll /II ~('I' 11( i!,/(/ J,'r l coisa :
f1n á stI d i ' IlJIlr l II jJO/('O.i(': / o j ÚII r/a / ' /{ iI . 'rlll /O fi"ift- 0 ///10

[unrion rtrin: /)t'I.tá/ll ji -;r'~/I , /l1I/11.iÍ//I{/ ( I/o di' r'/: orl lll ' nrtrrior. "

•• 11.', 111 iíJ ul.r);


,;/Ii / il r/() 011
II/gf/JIi';;111', / 1t'II.II11' OI /lm Nr!l/ rls. F S.if' 1t'I I/ill/(/I/O do

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l /l ll li I! O ; '/ j l' jJl'o/II r'lI/ II .I, f! F II/ rl.'.!,fI,I/O IIr 0// (,'I r/ rll '/"';" . Il tI /' !I !l ,.. !,-(/:I; '/' 101.'

,II Jli "'·OI /Ii Il / ·.i,' i lll t'r/i ll /illllr'lI/I ' I 'OIIl O ill.l"l /II" I / / ()I', tl/'.l· //lI fi.~ ·OS , ((III /Ir l i /.iSlt!/o ri O /) o l /sd l l ' Rrru ]: .i r:'..', .'l i rio III1 f! Ji.l r/ O rft- n / I ";,' i . I 'il//IIIO! /I I

,I 111t'."III II.\ , lo /I/ /i l r/ li /(I I hlllllrl l/il, rtlll /UI r/ /1f1//I Ji '-;',t/ I 'Ir. O l/ rÍt' (' ( ; J/r'fl hOldi OJ/rll' o: 1/.I.\rl//I III /I'.1' / JlIf/o rllJ/ 1{'; '111 .I"If '/ ·~ ' irl/ I {o/ i

•• 1111 11 11/ 1"111 11111(1 .~ 'f'I dr/(lci/l/ /(J -::. r1o dr:.. -i: -rr (' r/r ' .1'('1' IIl11hOIJl('III ; / 'OI'

'/ II( r's míhn o S('1r' 011 o IJi~1 sr /)()df'llIOS/~ / ~('1' 11111 '-;:'r/ /I /Jillg '; S r/ O
r/i rll/ rl, (',\"('O l/rll ' assassinatos / I"r/l/.w : i / i r/o.l dÚi '/ rlllll'II /t' /I d rl /d r'·

, ·i.li / O r 'I~/ '~o ' r"I//n'~·i.i/rll' n J/I'Ii-z.'I /J dll/"lIII/I' l odfl ri ,1:1,1 : ·il/'.!,II/I

•• '/ /Ir '.i / ;;(',i 111 11i /o ,!!,/o /}(tis , tnuito .~~t'I "I/ Ú r/ IIC .11' CS(()I1r/CIlI (1/I IÍS rio
r/II ·,.'i o /r lt't·i ri i IIS/ i ll / i v rl . :\ '1/ 0 / 11/JI imrh II cr: Il r/ hi.llririrl rIo trarro
0 11 r/rlli /cJ'lI / l lIi'/ /fil e sr i!l/IYJr/II.'Zo 11111 '(/ / 0 1' crim in oso' srin
/1'I11f/

IIIOlic rl-
(flm/I/ill. A: ol//'s frr-;; n/i 'dlllill f'.\jJl/rilll a (,SSf' [ato. 1 111(1) //I tI//1 ri

rril /ll Crl .w /Jos o /hos r/a 11/li l / i r/i/O , /(11/ ,I!,Iillltlr' 11 líIJ//'ro rit'/Jr '.iS(/r/.l ri ur

romcntn (/ 11(1/ 0 . : I!i l/ h (/ JI:'..!


,1l/l rlt/ illln'!'o,!!/I(r/o / : 1/1/(' j>a/ld I't'/J!'t'-

•• ( ti o . . 1/rIS / II /Jlilllr'im vez l/f/C d(' ,: II/JI't'SI'IIIIIr/O

!l/orill. .Vrís (//m ll / f(lIlI O.l III/fi/o.l rlll l"(s/litÍJ r/r: RO/J('I/o, p";!/f'!jJa!-
sem 1I1'I//:/(JlJfl senta a '(,'iO/Óltill, OI/ o criminoso r SIIfI (I(r/o rrilllillltl, r/i!!,rIlIlOS "

'li / OI' ailllillo.w ' 1/(/ OIJ;III';-;'(/(r/O /J.fú//lim ria 1I0 SJ(/ SOI-;,.r/illlt'; :1

•• II/f'II/(, f' 1JI (,'(,11('/, I/1rl.1' d t's são !I//(i/o IJIrli.' S('! lI ;IIIf/l /l tiJ (' fl/1 (' %

,(I/ /ido II/lIi/o 1I/11iJ !Jlol"rlis. Nri.l r'1/((JJI/Ii'/!JlO.l lIil/r/1I r'!Jl C'I'IIf'! o

X/X.
a(r/o I r i lll ; I/ OS(/ J't'f>/{'JI'I//Ol/ S('/II / I /{' 101/ j>aprl 1/11 t'(()I/O/lt1il rlll

Sooú/llrlt, drl / ('/I/rlo illdis/h 'll slhd. /1d 11/1/ /('111/10 II /l'ríS,I;tI -sc 111/11

••
\'m / i ll/f'J/l l t!i .lJll o (' o !Jloli't!i.wlO r/o .f / n t!o A'o//I\ ('(JI//(/ II Illlti/O illlr'li ·S.l/ · os (//O.i rlt' 111l/'L'/lli'I rios n illlillo.los. () I/ o/iliritio

/ ,i, / r)l 'lrl rk i sl' .Irl' I~W/llr/O, r!t'.I.I(, /)()/m ' ,l!,1Im/o rIr 11/ 0.1' ;1/('.\j)/i((Í'<. 'ti.l / Jo/; r i rt! J't/JII"S('/I /fl'i.'11 //11/ /) II/)d /I 'rllm/jilllr/rlll/l'II/111. : I / i/ is , .1'0 1/

r' il/f'.\ j ilim r/ns ( OJII 1/ll/rl /lotá/r"1 (l/I/Ol ltlir/llr/t', (' .1'1'/1/ j) mr/ll ~il' II / or/os os g m ll r/l's /l1f/lrll/o/{'.I, (, '/ill'II/IIl'SI/ rl 0/1 . I / II I /Jt'//:, IIr/O hrí

•• II.'r l /OI (fJll dtl.lf/o !JlOI /tI. f i o ((}/I/llílio, hrí 1/11 / h'(ll (()1//líI/IO.l

11/(/(//11'.1 (() II / / rl /or/OJ OS rlid/(\, JCI/ / i ll/l 'II /0S r' 'Ut!O/{'J, NO/J('I/o
1('1// 1'0.'

":1/(/.1' !l oir', o /)(J/)d rio 'a/o I' aimil/o.I'O' (IImllllll /llIIrl I/ O'V II

• /lrlSS II i l .1('1' 11.'J i JII O t'r'I'r/rl r/Ú I'O 1/0/1/1'/1/. ..I 'h t' m i'Zo(/ ( i i o ' / il/ cvi/d-

~'d :1//11/ r/o JIIa;.1 / O f S11/ell/ rl r/fI Img/r/i(/: ((Ir/ri hOI!lt'1!l /fl/ ('frloz,
1I('(('.,· úr/(/Iit'. r/ldo jJrl.\s(/ Ii J( I' j Jlí /J/illl. p ll/ rl .ft:I' ((JII l rl r/o. j )llss il.'d

r/I' Stl' r/ijill/r/ido IIr/ R f'/ní!JIim rios (,fllll(/f'()eS r/O 1fI(S1I/0 /e/!/jJo

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d' Ol//I"rl.'· ojJ( tJt'J. j)Ol'fjl/(' df' /f'l1l rOI/ Jriél/tÍa rlfSJl' a .uflJJ1l/alo. o

hOllll'/II .1'15 j}{)r/r (oIJ/f//-lo mlll II!/la t/I).IC t'x/m rft hl/ásr', 11 mjill '()/.
fjl/{'I'/!/ Rnjill/ . 1'()r/('-S(,//~t'I' 111//11 rOflf'xiio Illlllldirt/ do l/olititÍlio

/Jolitirll. : l g I/{ 'J'I (/ lIr1o /poJsiL-'t/pOl'agom ,/Je!o 111 {'/I 0 .1 1/0 (kir/t'I//(', '

(' rIr' Ii/I(I//I' 11 illrlil'lÍ///o Otirlê1l/It/, tom/(///a rll' 'l'iol/llrirl OI.'!! ,IIII;

•• IS
----------------------------r•
~. {/drl ,

r!tSi(' \
sente-s» sempre 110 desejo -- e 11(1 jlOs1(/io _.- de j>(lItiâjJ(Jr
O / O,i criminosos. /':le éI'raticamcmrforçado a 'prlltiáptlr'.
criminoso, fjll t' fI/}() II/rl SOl r ccoi: ... rrpnra o ! V i (iJ (f) rio
iljJ ()II!(it!fI 11 0

1'('/ /111, t rm VO//fI o jJú/;/;(() Im/il armir fi ({I(,!l(l/O /JOI ' lI/li ;IIS/flll/t
••
;.: como uma (/;':Cllf/(f70. Tudo, em torno de nós, t: ciÍlIlp/ia: desse
('.1' / (/(/ 0 de coisas. Nos aeroportos, oshomens te reoisram, rc tocam,
c /1'1' ,1'1'/1 momento d(' g lti6fl , ('111 /I/Oitl fl{tlO, I/f/S Idas dL' /dl'i,.'islio,
() públiro J!n 'âsf~ 'ter e.\j h'l'ià láfIS', Os po breJ criminosos trrml- ••
If'/J!'f/Jrlf m n fisicamente/J(1/YI açõesterroristas. Pensando nisso 011
n.i o, f'Jf(/1 I1()J mergulhados JltJJfJ tensão . (iNando a viagem (/(01/-
11'((' sent urna hisrôria, de uma certafo rtna , hd 111I;'1 d{'(cp('/io. St.'
na»: send o 'CI timas : d rs SIl O os fi torrs fjllt'/(/~em o h'fI/ ro, rir's/fl zf'lII
() /I' flbfl/IJO
-t:o
pcio: outros.
contado Ih'S/rI cena de Roberto Zucco, tlqllc/tI fjUi'
fillt' t;
••
(I (i!,1I m.t coisa acontece, esM-Jepresente com fi fá mnra, nenhuma

1/1-:./iO jJII/{1 "rio se fl!)foxilflflr, todas as I(I ZiJ('.1 para pf,'/úripa l',
t'lI prefir o. I'~ a rrnn centro], fI mrl ;S oonita, li IIIftÍ.I' longa, n mnis

OIl ,Wt!fI, F/fi in //ll ol(i,'/ lot!fI (I Ilj i !i !íll 0';StlO tia IH'(f1 ronto 1011 ••
Trm-sr I!!l'.WlO n teutaçdo de se colornrcm pt'ligo, l i (limara estd IOdo , ,.

••
III
••
Fillftllllen/e, para cncerrur f stn ;Il/rodlt(/io
(f}!Il/Jlt'x a e tâo rica, fi uma dramaturgia onde o social eo indiv/rl"o
fi uma oãra /i/o SO!I/'{' fi IM 11'0 r sun «/ilizfI{tlo, soorc t/~' 1I do fl /l(' d I' /1 0(1(' mil /(/1' . (. .. ,1
NtI 1'f.'(lIit!m/t IIIr/O isso po(/trifl .1'(' resm»i 1 1/0 St'II /imul lo qttr a gm te ••
••
sr II /{ 'sdm ll numa fdflCf70 íOllfllllJf1r!fI c rlitl l/:i:Il, l'!uj/(('I1Iln trmn jJ(J,iS II; til' se srnrl» tliflll/(, flr 1111I gOl/fr/, ' auto r. II llll! tlt.'/{'UllillfUlo

I (II //{;/, 1/11111 reiacion amento conturoaao f dilacerante, em eSI)(J{O,f momento , a gel/ li' St' e!J('(JI//,.fI no cro ncnr: rom (/.1' mesmas /raçõcs:
(:i/(' I / O\' e /rdlfldos, em qt« é p OSJí v el a SI"PI't'Sfl pel'fllt7llt'llle de fi tldlllitll(/if) c f/ ('.I'/l/j}('jfl(rlO , S o/!/os S!I/ ! J/'t,t'l /(l id o.l' f}OI'tJI/(, S I/ fi

/( m /lhu'(/'IIIos o 1/0.1',1'0 r/;/(Io.:mdo cotidiano que nem e'Jt'llIjJ!'t'.f{íâl


fk ifkll /~jlm nllos em fl OJ.W dia-a-dia, nadn mclhor 1"e as !>alfl-
escritura m/O((I .1(/IIpI'e turra .1'/ 1'/(' inu mcrrit.c] til.' ql/tS/f)(,S. DI' (Illdl'
V t' 1II isso? COI!IO d I' rscrccr? flor (I"r cxruamenrc isso! /)(:i/a/(II" ••
'~ ' l iI \ r/l' gl//1ldr. con àcrcdor, qur encenou oririas dns IJf('/J fft
111"

A'o///:r c rir quem foi gmllr/e amigo: Patrice ehtre/IU, N lI lIl rl 1.' fI -
uruist«, on rJII/II/lro til' 1987, a Didirr Jilfrmzl', SIII!-!,t' t i jJOglIlI-
.11/1/;' ; (. .. )

conhecendo
F (I ,I!,O I/l' f l(fI / lf l o !l nj;ll /o 6 m lll' I//(' .1'('/11

Htl'l/fllri-:IIfllie }:o//h' (0 11/0 f'II


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Ko'ti»?". F a resposta {/t Chéreflll: " 'lia/o fico lI c/tiro tlt'srle o medir/a, esl tl ,'dfl((I O é IflIlIIJill/ 1111I(1 rr/l l {iío d" j idel ;r!ot!r. Mfls i
jJIÚIO/' io, l'~ lima r tfrl (rJo a IImf/ eSDi/llrtl. Ou fJnlt'S, fi 11111(/
I/ufdir/mle, a lil!ltlfOl{a de utiliz..//(ão d e umfJ língua - fi nossrl ,
!1I1111 fitldidm/e que 1ldo ri Ido'! til! fIJJeg ll l'(/ r. Uma fitldidtl dc
d%l'o;tl, di/lá!. FOI'r/llf 11(10 épnáso,'ic,.rego t' sfI,I,'erqllf St' es/ill!I(J.\' ••
••
ojÍfllld,i - - e (lO que Kol/i:'S Ihe/n.z dizer, do que (I peça rt!fl/a. Ou COII Ctliodo,l' tlt' qllt' I/II/tl tias pe((/J não é boa, m/o devemos "/OI/ ltÍ-
.i,j d , a I't.'/f l (áo 'l I/f! }·:o//es es/aóelece elt' fII e.illiO ('OfII o mlllldo, (.'01'1 /a , P O ilj/((', ,l'O/J/ ( / lI tiO, se lIIo"lfl l'!lm til/lo,. ( 'OIl / O Ilj> Olii l/({) lIi/o ri
/('i// f'(). , l/ t',i1ll0 qlle ell ntlo /t'lJha fi flU'SJlla V Ú{/ o 1ue d e ,I'O/; I'f t i Illl lh ll el..'i d l'll /i' j}()I' tic/ill i(tlo, is.iO é t tilltia 11/('1/0.1' fjl/fll/do se Il flla

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I l't,'i'ir/a (/t. t il 'mIJo fi impre,utlorlc fIlt'olimm/ardrs/f/ IdflCrlO. Sem til' Ao/rh·. l l l/ll fw/orexllfll/fIlIlCtl/f! r:Olllp / t'.\'() , FII /O!lh'': ( Olls(ifll -
t!ÚO;t!fI pO"fllt' há fOr/fi ' ' '!tI
IJtl!'!t' de JlltIY pli~(jmjJ(l(õ('S I/(/S fjil{//j· da disso ainda /l'lrtl!J{l/hfl!/r/o tIIllll /) (,(1I mil/o Na Solid:1O d(,s
( li 11/1 ' I'fl'OlIl/{'(o f qllt' ji'na/lJIt:'fll( c'tI /)(.'.i ':/lO fl.l' 1I1t'Jl!Jf/.l' r/úoid'lJ Ca ll1pm de A!got!iío .. ._. fllI fI/tltl, rtl/Ill do IlIflis, 1/lIIM/fio agori/

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,l/.I'!.\:} {I.r ;1/ ,1 0 11/0 ) :./ ·IJ/ .I".l .\',} ,lf-/ .JII!J l/.II){/ O/-PP"/iJ O,I,!.J,J.If! ~'/ 'O/ l U / l I
., ·O.l.U / li! IJII /I!/ /1O) ,O!l)I)).I.I(/I~/: I)/S,}P oP,U'iJ),I' o 'O!.I;!/S.I/I' o O/!"/11 ,}j·-.IIJ.//.I"OIl/ ().\p.J.lc/ ;! 'IJ/XlJ.! »s .10/111) lI/li 0pllIJ!I!J '0l!/II :./
'OP!lJlU/ /1,1/10(/ "1.1' Oll/SJIII-, O!!)IJ.).J..I(/I~/: IJIIS J./(/O S ,r! 1)/lI o.ntot] /1111 ' IJ.J! IIÇj.l.J/)/II/ o!!.\'! [)(/ IJ[(/11.1.1.1" ,J.J.U l l c/ 0,1'.1'/ '0/11!.O/l 1/.1no lU 0/ .J.\' 0.11/1.1/
.I.)(/I),I·,lP 0LI)I),I'II.lj· I) 0lf/l'~l .. ·.1! " / 0 .'),.' !.J lU ' O,Jl/ Oc/ 1III1.1,}),I'/J/{ !iJ li,} 1J.1lJc/.I.J.1r7.l.JJ,} I) l}/ /I,l/IlIJ.J! /l 1I .J.I'-./IJ./iJI).WO .1 ,JF'.),}P ,m !J 1I1;I!1'JiF ' .I"! I)//(
,r?//o.y ,}! .II)/ F -jJ. lIJl l l.7l1 "P I)),}(j mi,!,\p.lc/ l' ·J(l 7. IJ.\:l.IO/ II I) 11111 O/l/O.J IIIJ/j!XJ opu J.I'/JII!J ,m !J . f.}~!P 0/11.1",1/11 1/!-.J.I'-.lJPOd ·.I:U O/ll I) ,I'(J) )/ (I( !
'Z:,H2.I)PW I) ' .r!I)/II O,J1!Oc//lII/.I!.I(/O.).I:'P.lP './IJ.IJc/SJJpO '.I.l·Z IJ./c/ 0.1/"0 O/!"/11 [(/,7/r!.\':./ '.7/ II I/ /.I 0 {/ III ! O/!III" jl l)jJ ,JI/!J.l0d '';P I/ jJ! f-/P ! / I) / ,I",lP
/1111 fJlf 'O{/lfI.J/ otasst« OI) 'O.I'.I!P II/!/v :'1 (' ..) 1)IW!'l0.lc/ ° J.I'.\'d? opu 'Z!p / II 0/SJ us SI//f '()J .I!'l!Ic/ OI) j<lO-/,I',I'(} c/ II/J.I!P S!'J/II'J ',O/c/II/!S ,1'1 1) /11
,I'IJIV ·1J. / / II 0 ,JI/ !J O!/]I).J!"1111/0.J S!I)II/ '0/./,\'1 .I'! IJIII. / JI .J/Hu/ /ú,c/ IJIl/" l/.I P/lIJII/ IJP.lJZ;J)/V '.I,I.I f/ O) .I',/P lJ .l'lJ.I!O) .I'/)(],O/l J./ Ú /llJr p li '.1(11) 0/1/ 0)
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.e- NA SOLIDÃO DOS CAl'vIPOS DE ALGODÃO

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Um deal é umatransação comercialbaseada emvaloresproibidos
ou estritamente controlados, e quese conclui, em espaços neutros,
indefinidos, e não preoistos para este lISO, entre fornecedores e
••
pedintes, por acordo tácito, sinaisconvencionais 011 conversação e
dedllplo sentido - com o objetivo de contornar osriscos detrai-
e
ção e de trapaça qlle uma tal operação implica -, a qualquer
hora do dia e tIIJ noite, independentemente das horas regula-
mentares de a!Jtrturo dos /lIgam de comlmo homulogados, mas
•e
deprtftrlncia 4SAortlS lI1I qlllesltSestõo fechados.
••

,.-

-e

••
o J)E/\LEH
Se você <Inda na rua, a est a hora e neste lugar, é que você
dcsc j.i alguma coisa que você não tem, e esta coisa, eu po sso .
para ser lima puta , que () que você vai me pedir
c que basta a você, sem quc se sinta ferido pela aparente
inju stiça que há em ser o pedinte frente ~quelc que oferece,
l'1I j.i te nho,

•• fo rnec ê -Ia a você; pois se cu estou ne ste lugar desde muito


m uis tempo do que você, e por muito mais tempo do que
você, c q ue mesmo esta hora que é aquela das relações
me fazer o pedido.
J~l que não h á urna verdadeira injustiça sobre esta terra a
não ser a própria injustiça d a ter ra, qlle é estér il pelo frio ou

•• selvagens entre os homens e os animais não me tira daqui, é


que e u te n ho o que é pre c iso para sat isfaze r o desejo que
estéril pelo quente e raramente fértil pela doce mistura do
quente ~ do frio; 1150 há injustiça para quem anda so b re a

•• passa na minha frente , e é co mo um peso do qual eu preciso


me livrar em c im a de qualquer um , homem ou anim al. que
passe na minha freme .
mesma porção de terra su bm e t id a ao mesmo frio ou ao
mesmo quente ou i\ mesma doce rnisruru, e rod o homem 011
animal que pode olhar um outro homem o u animal nos olhos

•• I;: por isso que eu me aproximo de vo cê, apesar da hora


que é aq uel a onde norm a lmente o homem e o a n im al se
é o seu igual pois eles anelam sobre LI mesma linh a fina e pla-
na da liberd ade de ação" , escrav os dos mesmos frio s e dos

••
j(JgJI11 sc lvuge mc nre um so bre o o ut ro, eu me aproximo , cu, mesmos calores, rico s do me smo je ito e, do me smo je ito ,
de voc ê. as m ãos abe rt as e as palm as viradas na s ua direção, pobres; e a única fronteira que existe é aquela entre o
co m a humild ade daquele que ofere ce frente àquele que comprador e o vendedor, mas incerta, ambos possuindo o

•• com p ra, com a humildade daquele que possui frente àquele


qu e de sej a: e cu vejo o seu desej o como quem vê lima luz que
se ace nd e , em uma ja ne la no alto de UI11 pr édio, na hora do
de sejo e o objeto do desejo, ao mesmo tempo vazio e
saliente, com menos injustiça ainda do que há e m ser m acho
o u fêmea entre os homen s ou os <m ima is. l~ po r isso que cu

•• cre p úsculo: eu me aproximo de voc ê co m o o c re p úsc u lo se


.rprux imn (\I..:ss:\ primeira luz, calmamente, respeitos amente,
pego emprestado pro visoriamente a humildade c te crnprcs-
ro a arrog~n('ia, a fim de que nos distingam Ul11 do cHltrO :1 csr.i

•• qu usc .rfc runsarn c ntc, deixando Li embai xo na fila () animal


e (l ho mem puxarem suas co le iras e mostrarem selvagerncn-
te os dent e s um ao outro.
hora que é incvituvclmcntc a mesma p ara você e para mim.
Me diga então, virgem melancólica , neste momento 0 11 -
de gfllnhem su rd ame nte homens e animais, 111C d ig:\ a coi sa

•• )'\':10 q ue eu tenha adivinhado o que você possa dese jar ,


11CI1l que cu esteja apressado em conhecer: pois o desejo de
que você de seja e que eu posso te fornecer, e eu a fornece -
rei calmamente ~ l você, quase rcspcirosarncnrc , i.ilvcz com
afeição ; em segllid ~l, depois de ter preenchido os vazios e

••
11111 comprador é a coisa mais melancólica que existe, que se

co nte m p la como um pequeno segredo que pede apenas para aplanado os montes que estão em nós, nós nos disrunciare-
se r revelado cque se toma um tempo antes de revelá-lo; mos um cIo outro, em equilíbrio sobre o fino e plano fio da

•• com o um p resente que se recebe embrulhado e que se toma


um tempo desfazendo o laço. Mas é que eu mesmo desejei,
d es d e o tempo em que estou neste lugar, tudo o que todo
no ssa liberdade de ação, satis fe itos no meio dos homens e
dos animais . insatisfeitos por serem homens e insatisfeitos
por serem animais: mas não me peça para adivinhar o seu


ti
ho me m ou animal pode desejar a esta hora escura, e que o faz
sair de casa apesar dos grunhidos selvagens dos animais
ins at isfe ito s e dos homens insatisfeitos; é por isso que eu sei,
• Jogo til; paluvru sem co rrespondê nc ia em portuguê s. () uuror el1lpr çga

e melhor que () comprador inquieto que guarda ainda por um


aqui a palavra /fI/;/lIde; em fruncôs, a distância de UI1l pnnro em relação

••
ao equador ou, crn sentido figurado , a liberdade de 01\:1, ), COI1)O no
rc rnpn o seu mistério como lima pequena virgem educada CCXCll. (NT.)

• 91
desejo; eu serei obrigado a enumerar tudo o que eu possuo uma imprescritível lei da força da gravidade que é própria a
.'••
para satisfazer aqueles que passam na minha frente desde
o tempo em que estou aqui, e o tempo que seria necessário
você, que você carrega, visível, sobre os ombros como uma
mochila, e que te prende a esta hora, neste lugar de onde ••
a esta enumeração secaria o meu coração e cansaria sem
dúvida a sua esperança.
você avalia suspirando a altura dos prédios.
Quanto ao que eu desejo, se ele fosse algum desejo do
qual cu pudesse me lembrar aqui, na escuridão do crepús-
••
o CLIENTE culo, no meio de grunhidos de animais dos quais não vemos
Eu não estou andando em um certo lugar e a uma certa nem a cauda, além desse desejo garantido que cu tenho de ••
hora; eu estou andando, s6 isso, indo de um ' ponto a outro, te ver deixando cair a humildade e que você não me dê de
para negócios privados que se tratam nesses pontos e não em presente a arrogância - pois se eu tenho alguma fraqueza
perCLirso; eu não conheço nenhum crepúsculo nem nenhum pela arrogância, eu odeio a humildade, em mim c nos outros,
••
tipo de desejo e eu quero ignorar os acidentes do meu e essa troca me desagrada - , o que eu desejaria, você com
percurso. Eu ia desta janela iluminada, atrás de mim, lá no certeza não teria. Meu desejo, se ele é mesmo um, se eu o
alto, a essa outra janela iluminada, lá em frente, segundo uma . exprimisse a você, queimaria o seu rosto, faria você afastar as
••
linha bem reta que passa através de você porque você está aí mãos com um grito, e você sumiria na escuridão como um
deliberadamente posicionado. Acontece que não existe ne- cachorro que corre tão depressa que não se vê nem a cauda ••
nhum meio que permita, a quem vai de uma altura a uma dele. Mas não, a perturbação deste lugar e desta hora me faz
outra altura, evitar descer para ter de subir em seguida, com esquecer se eu já tive algum dia algum desejo do qual eu
o absurdo de dois movimentos que se anulam e o risco, entre pudesse me lembrar, não, eu não tenho mais que oferta a te
••
os dois, de esmagar a cada passo o lixo jogado pelas janelas; fazer, e vai ser preciso que você faça um desvio para que eu
quanto mais no alto se mora, mais o espaço é são, mas a queda não tenha o que fazer, que você se desloque do eixo que eu ••
••
é mais dura; e quando o elevador te deixou embaixo, ele te seguia, que você se anule, porque essa luz, lá no alto, no alto
condena a andar no meio de tudo isso que não quisemos lá do prédio, da qual se aproxima a escuridão, continua imper-
em cima, no meio de uma pilha de lembranças podres, como, turbavelrncntc brilhando; ela fura essa escuridão, como um
no restaurante, quando um garçom te p~epara a conta e fósforo aceso fura o pano que pretende asfixiá-lo,
~
enumera, ao seu ouvido atento, todos os pratos que você já
está digerindo há muito tempo.
Seria preciso aliás que a escuridão fosse ainda mais densa,
o DEALER
Você tem razão em pensar que eu não estou descendo de
••
e que eu não pudesse perceber nada do seu rosto; então eu nenhum lugar e que eu não tenho nenhuma intenção de
teria, talvez, podido me enganar sobre a legitimidade da sua subir, mas você se enganaria se acreditasse que eu sofro por
presença e do desvio que você fazia para se colocar no meu isso. Eu evito os elevadores como um cachorro evita a água.
••
caminho e, por minha vez, fazer um desvio que se adaptasse Não que eles se recusem a me abrir a porta nem que eu tenha
ao seu; mas qual escuridão seria suficientemente densa para horror a.me fechar neles; mas os elevadores em movimento ••

-
fazer com que você parecesse menos escuro do que ela? não me fazem cócegas e eu perco ali minha dignidade; e , se eu
há noite sem lua que não pareça ser meio-dia se você gosto de sentir cócegas, eu gosto de poder não mais senti-
caminha nela, e esse meio-dia me mostra suficientemente las desde que minha dignidade o exija. Tem elevadores que
que não foi o acaso dos elevadores que te colocou aqui, mas são como certas drogas, o uso exagerado te deixa flutuando,
••

92
..•
•ta nunca em cima nunca embaixo, tomando linhas curvas por
linhas retas, c congelando o fogo no seu centro. No entanto,
dia, nos lugares de comé rcio homologados e iluminados com
luzelétrica. Talvez eu seja puta, mas se eu sou, meubordel

••
desde o tempo em que estou neste lugar, eu sei reconhecer não é deste mundo; ele se expõe, o meti, à luz legal e fecha
as chamas que, de longe, atrás dos vidros, parecem geladas suas portas à noite, tirnbrado pela lei e iluminado pela luz
como crepúsculos de inverno, mas das quais basta se aproxi- elétrica, pois mesmo ,1 luz do sol não é confiável e tem
mar, calmamente, talvez afetuosamente, para se lembrar de complacências. O que você espera, você, de um homem que
ti
•• que não tem mesmo claridade definitivamente fria, e meu
objetivo não é te apag ar, nus te abrigar do vento, e secar a
umidade ela hora ao calor de sta chama .
não dá um passo (lúenão seja homologado e timbrado e legal
e inundado de luz elétrica nos lugares mais insignificantes e
escondidos? E se cu estou aqui, em percurso, na espera, em

•• Pois, não importa o que você disser, a linha sobre a qual


voc ê andaria, de reta talvez que ela fosse, ficou torta quando
você percebeu a minha presença, e eu percebi () momento
suspenso, em deslocamento, impedido, fora d :1 vida, provi-
sório, praticamente ausente, por assim dizer não aqui -- pois
se dizemos de um homem que atravessa o Atlântico de avião

•e preciso onde você me percebeu pelo momento preciso onde


o seu caminho ficou curvo, c não curvo para te distanciar de
que ele está em tal momento na Groenlândia', será que ele
está mesmo? ali no coração tumultuado do oceano? - e se eu

•• mim, mas curvo para vir até mim, senão nós nunca teríamos
nos encontrado, mas você teria se disrunciudo mais ainda de
mim, pois você andaria à veloc idade daquele que se desloca
fjz um desvio, se bem que minha linha reta, do ponto de onde
cu venho ao ponto para onde eu vou não tenha motivo,
nenhum, de ser entortada de repente, é que você cst.i me

•• de um ponto a outro; e cu não teria nunca te alcançado


porque eu me desl oco lentamente, tranq üilamente, qua se
barrando o caminho, cheio de intenções ilícitas e de presun-
çõe s em relação a mim de intenções ilícitas. Ora saiba que ()

•• imovclmcnte, com o passo de quem não está indo de um


ponto a outro mas de quem, em um lugar invariá vel, espre ita
aquele que passa na su a frente e esp e ra que ele modifiqu e
que mais me repugna no mundo, mais mesmo que a intenção
ilícita, mais que a própria atividade ilícita , é o olhar daquele
que presume que você está che io de intenções ilícitas e

•e ligeiramente seu percurso. E se e u d igo que você fez uma


curva, c que sem duvida você vai afirm ar que foi um des vio
habitu ado a tê -Ias; não some nte por causa do próprio olhar,
suspeito entretanto ao ponto de tornar suspeita uma torrcn-

.- p~lf,l me ev itar, c que eu afirmarei em resposta que foi um


movimento para se aproximar, sem d úvida é porque no final
te de montanha - e o seu olhar faria subir de novo a lama no
fundo ele um copo d'água - , mas porque, unicamente pelo

•• elas contas você realmente não desviou, que toda linha reta
apenas existe relativamente a um plano, que nós nos move-
peso desse olhar sobre mim, a virgindade quc"csd em mim
se sente subitamente violada, a inocência culpada, e a linha

••
mos segundo dois planos distintos, c que no final de rodas as reta, suposta de me levar de um ponto luminoso a um outro
contas só existe o fato de que você me olhou e que eu ponto luminoso, por sua causa fica curva e se transforma em
interceptei esse olhar ou o inverso, e que, partindo, de um labirinto escuro no escuro território onde eu me perdi.

•• absoluta que era , a linha sobre a qual você se deslocava fi-


cou relativa e complexa, nem reta nem curva, mas fatal. o DEALER
Y oc ê faz o possível para enfiar um espinho .embaixoda

•e o CLIENTE
Entretanto eu não tenho, para te agradar, desejos ilícitos.
sela do meu cavalo para que ele se irrite e dispare; mas, se
meu cavalo é nervoso e às vezes indócil, eu o mantenho

••
Meu próprio comércio, cu o faço nas horas homologadas do com urna rédea curta, e ele não dispara tão facilmente: urn .

93


__----------------------w-•
espinho não é uma lâmina, fQFU cavalo sabe a espessura de
---sela couro e pode se adaptar à coceira. No entanto, quem
você a mim, nem que seja porque cu poderia, por orgulho, ter
andado sobre você como uma b()~~\" esmaga um papel cnuor- ••
••
conhece completamente os humores dos cavalos? Às vezes JUr~do, pois eu sabia, por causa desse tamanho que Liz a
eles suportam uma agulha enfiada no dorso, às vezes uma nossa diferença primeira - e a esta hora e neste "lugar s6 o
! poeira que fica na sela pode fazê-los empinar e girar sobre tamanho faz a diferença -, nós dois sabemos quem é a horu
eles mesmos e derrubar o cavaleiro. e quem, o papel engordurado,
e
Saiba então que se eu falo com você, a esta hora, assim,
calmamente, talvez ainda com respeito, não é como você :
pela força das coisas, segundo uma linguagem que te faz ser
o CLIENTE
Se no entanto cuo fiz, saiba que eu desejaria n ão ter
••
reconhecido como aquele que tem medo, um pequeno
medo agudo, insano, visível demais, como aquele que uma
olhado para você. O olhar caminha e se coloca e acredita cs-
rár "em terreno neutro e livre, como uma abelha em um ••
•e
criança tem de um possível tapa de seu pai; eu tenho a campo de flores, como o focinho de uma vaca dentro do
linguagem daquele que não se deixa reconhecer, a lingua- espaço cercado de uma pradaria. Mas o que fazer com o
gem desse território e dessa parte do tempo onde os homens olhar? Olhar em direção ao céu me fàZficarnosrál gico e fixar
puxam a coleira e onde os porcos batem a cabeça contra a
cerca; eu mantenho a minha língua como um garanhão é
mantido pela rédea para que ele não se jogue sobre a égua,
o c~~o me entristece, lamentar alguma coisa c lcmbrurqpe
nós não a tC?mos são duas coisas igualmente inoportunas.
Então é preciso olhar diante de si, à sua altura, qualquer que
••
porque se eu soltasse a rédea, se eu afrouxasse ligeiramente
a pressão dos meus dedos e a tração dos meus braços, minhas
seja o nível onde o pé está provisoriamente colocado; é por
isso que quando eu andava aqui onde eu estava andando há ••
palavras desmontariam a mim mesmo e se jogariam em
direção ao horizonte com a violência de um cavalo árabe
que percebe o deserto e que nada mais pode frear.
pouco e onde eu estou agora parado, meu olhar devia bater
cedo ou tarde em todas as coisas que estivessem postas ou
andando na mesma altura que cu; acontece que, pela distân-
••
É por isso que sem te conhecer, desde a primeira palavra
eu te tratei corretamente, desde o primeiro passo que eu dei
na sua direção, um passo correto, humilde e respeitoso, sem
cia e pelas leis da perspectiva, todo homem e todo animal
está provisoriamente e aproximadamente à mesma altura
que eu. Talvez, na verdade, a única diferença que nos resta
•e
saber se alguma coisa em você merecia respeito, sem nada para nos dístíngüir,-otia ·Únícã 'i"~}~~~'iç~~e-~"~cê preferir, é, e
êõ"~h~~er de você que pudesse me fazer saber se a compara-
ção de nossos dois estados autorizava que eu fosse humilde
aquda que faz com que um tenha vagamente medo de um
possível tapa do outro; e a única semelhança, ou única justiça ••
e você arrogante, eu deixei para você a arrogância por causa se você preferir, é a ignorância onde estamos do grauscgun-


".•
da hora do crepúsculo na qual nós nos aproximamos um do do o qual esse medo é compartilhado, do grau de realidade
outro, porque a hora do crepúsculo na qual você se aproxi- futuro desses tapas, e do grau respectivo de sua violência.
mou de mim é aquela onde a correção não é mais obrigatória Assim não estamos fazendo nada além de reproduzir a
e passa a ser então necessãria, onde nada mais é obrigatório
for~· urna relação selvagem na escuridão, e eu poderia ter
caído sobre você como um trapo sobre a chama de uma vela,
relação comum dos homens e dos animais entre eles nas
horas e nos lugares ilícitos e tenebrosos que nem a lei nem
a eletricidade invadiram; e é por isso que, por ódio aos
••
eu poderia ter te puxado pela gola da camisa, de surpresa. E animais e por ódio aos homens, eu prefiro a lei e eu prefiro e
esta correção, necessária mas gratuita, que eu te ofereci, liga

94
a luz elétrica e eu tenho razão em acreditar que toda luz
••
••


-e
••
natural e todo ar não filtrado e a temperatura das estações não
corrigjda faz o mundo ficar arriscado; pois não há paz nem
d irc ito nos elementos naturais, não há comércio no comércio
rur de que tenho realmente um, esfregar minha lembrança
como uma casca para fazer correr o sangue, se isso é verda-
de, por que você continua a ~uard;l-Ias cscondidus, suas

.•
ilícito, há apenas a ameaça e a fuga c o golpe sem objeto para mercadorias, embora eu tenha parado, e esteja aqui, esperan-
vender e sem objeto para comprar c sem moeda válida e sem do? como mima grande mochila, trancada, que você carrega
escala de preços, trevas, trevas dos homens que se abordam nos ombros, como uma impalpável lei da força da gravidade,
durante a noite; e se você me abordou, é porque na verdade como se elas não existissem e só devessem existir tomando
você quer me bater; c se eu te per~l!ntasse porque você quer a forma de um desejo; como aqueles homens qlle ficam em

•• me h.ucr, você me responderia, eu sei, que é por lima rnzão


secre ta sua, que não é ne cessário, sem dúvida, que cu
frente d:1S boates de J'I";P-'l'(IJl'. que te puxam pelo cotovelo,
quando voc ê csr.i voltando pra casa, ;', noite, p.ir.: dorm ir, c te

•• conbc çn. I':nr~o eu não te pcrgunrurci nada. Por aC1SO a geme


f:1L! :1 11111;1 telha que cai do teto e que vai quebrar a sua
cl!)e<,;:l? A gente é uma abelha que pousou sobre a flor ruim ,
e n riain /la ore Ihu: c la cst.i aq 11 i, cst a noi te. Ao passo '1"e se
você as mostrasse para mim, se você desse UIlI 1l01l1C ;) sua
oferta, coisas lícitas ou ilícitas, mas com nome e então no

•• o focinho de urna vaca que qui s pastar do outro lado da cerca


elétrica; a gente se cala ou foge, a gente lamenta, espera , a
mínimo julg:íveis, se você as nomeasse, CII saberia dizer não ,
c cu não me sentiria mais como uma árvore hal:ln\':tl!:l por

••
ge nte L1z () que pode, motivos insanos, ilegalidade, trevas, um vento vindo de parte nenhuma e que dcscst rururu suas
1':11 pus o pé na valera de UIIl cst.ihuln onde correm raízes . Porque cu sei dizer nào c eu gosto de dizer n:jo, cu sou
mistérios como dejetos de animais; e foi desses mistérios e capaz de te fascinar com os meus nãos, de te fazer desc(2.hr~r

•• deSS;l cscurid âo que são seus que saiu a re~ra que quer que
cut rc dois hOIlH.;nS que se encontrem seja preciso sempre
escolher ser aquele que ataca; c sem dúvida, ~1 esta hora e
todas as fUrJll:1S que existem de dizer não, qlle l'Ollle\·;.I.I.~1p(l.r. ...
todas as formas que existem de dizer sim, C(~lllO as pessoas

••
que experimentam todas as camisas e rodos ossap;lt.os para
ucsrcs Itlg:lfeS, seria preciso se aproximar de rodo horucm 011 nào levar nenhum. e o prazer que elas têm em experi11lc.u.car

-
animal sobre o qual o olhar tenha se colocado, bater nele e lhe todos é feito apenas do prazer que elas t êm em recusá-los
dizer: cu não sei se era sua intenção bater em mim, por urn.i todos. Decida-se, mostre-se : você é o bruto que destrói a
r ;lZ ~O i nsuna e misteriosa que de qualquer maneira você não calçada, ou você é comerciante? nesse caso estenda primeiro
e teria julgado necessário rue contar, mas, seja como for, cu sua mcrc .idoria, c nós demorarcillÓs()l11;ífül(l-;l.

•e preferi fazê-lo primeiro, e a minha razão, se é insana, ao


menos não é secreta: estava no ar, pela minha presença e o DEALER

•• pela SU;1 C pela conjunção acidental de nossos olhares, a


pos:.;ibilidade de que você me batesse primeiro, e cu preferi
ser a telha que cai do que a cabeça , a cerca elétrica do que o
lt porque cu qllero ser corncrciantcçc..nJ() bruto, mas
ver&~dci'ro comerciante, qlle'clIllão t~ digo o que cu possuo
c te 'ofe reço; pois eu não quero ter de suportar uma recusa,

•• focinho da vaca.
Se não, se fosse verdade q uc nós sornas, você o vendedor
com a posse de mercadorias tão misteriosas qqe você se
que é a coisa que todo comerciante mais teme no mundo,
porque é uma arma da qual ele mesmo não dispõe. Assim, eu
nunca aprendi a dizer não, e definitivamente eu não quero
ti recusa em revelá-las e que eu não tenho nenhum meio de aprei1dt-t~ masrodos os tipos de sim, cu sei: sim espere um

e adivinhá-Ias, e eu o comprador com um desejo tão secreto pouco, espere muito, espere comigo uma eternidade aqui;

•• que cu mesmo () ignoro e que eu precisaria, para me asscgu- sim eu tenho, cu terei, eu tinha e eu terei de novo, eu nunca

95

••c
__----------------------------r•
tive mas eu terei pra você. E que venham me dizer: digamos riras que pov?am ~ mundovem não.da..a.valiação'Iespectiva
que alguém tenha um desejo, que o confesse, e que você não m ' forças, porque então, o mundo se dividiria muito sim- ••
tenha nada para satisfazê-lo? eu direi: eu tenho o que é plesmente entre os brutos e as senhoritas, rodo bruto se
preciso para satisfazê-lo: se me dizem: imagine no entanto jogaria sobre cada senhorita e o mundo seria simples; mas 0 -
que você não tem? - mesmo imaginando, eu tenho sempre. que mantêm o bruto, e o manterá ainda por eternidades, a
••
E que me digam: suponhamos que no fim das contas esse distância da senhorit~ é o mist~~~~0!!Url~~).<?_ a infinita e
desejo seja tal que absolutamente você não queira nem ter estranheza das armas, como essas pequenas bombas que elas
a idéia do que é preciso para satisfazê-lo? Bom, mesmo não carregam em suas bolsas de mão, cujo líquido elas jogam nos
querendo, apesar disso, eu tenho o que é preciso, assim olhos dos brutos para fazê-los chorar; e vê-se bruscnmcutc os
•e
mesmo. . brutos chorando na frente das senhoritas, toda di~nidade
Mas quanto mais um vendedor é correto, mais o compra- destruída, nem homem, nem animal, passarem a ser nada,
dore ·pe·r~~;s·~;-t~do vendedor procura satisfazerum desejo apenas lágrimas de vergonha na terra de um campo. (~ por
••
que ele ainda não conhece, ao passo que o comprador) isso que brutos e senhoritas se temem c desconfiam tanto
submete sempre seu desejo à satisfação primeira de poder uns dos outros, porque só impomos os sofrimentos que nós
•e
recusar o que lhe é oferecido; assim seu desejo inconfessado mesmos podemos suportar, e só tememos os sofrimentos
é exaltado pela recusa, e ele esquece seu desejo no prazer O que nós mesmos não somos capazes de impor. ••
••
que ele tem em humilhara vendedor. Mas eu não sou da raça Então não se recuse a me dizer ()objeto, cu te peço, da sua
dos comerciantes que invertem suas placas para satisfazer o febre, do seu olhar sobre mim, a razão , a dizê-Ia a mim; e se
gosto dos clientes pela cólera e indignação, Eu não estou trata-se de não ferir absolutamente sua dignidade, bom,
aqui para dar prazer, mas para preencher o abismo do desejo, diga-a como a dizemos a uma árvore, ou perante o muro de
recordar o desejo, obrigar o desejo a ter um nome, arrastá-lo uma prisão, ou na solidão de um campo de algodão no qual
até a terra, dar-lhe uma forma e um peso, com a crueldade se anda, nu, à noite; a dizê-Ia a mim sem nem me olhar. Pois
••
obrigaróeia que existe em dar uma forma e um peso ao a verdadeira única crueldade desta hora do crepúsculo onde
desejo. E porque eu vejo o seu aparecer como saliva no canto nós dois nos mantemos não é que um homem fira o outro, ou •e
dos seus lábios que seus lábios engolem, eu esperarei que ele o mutile, ou torture-o, ou lhe arranque os membros e a
corra ao longo do seu queixo ou que você o cuspa antes de cabeça, ou mesmo faça-o chorar; a verdadeira e terrível
te dar um lenço, porque se eu te der o lenço cedo demais, eu crueldade é aquela do homem ou do animal que torna o
••
sei que você o recusaria, e é um sofrimento que eu definiti- homem Oll o animal inacabado, que o interrompe como e
varnente não quero sofrer. reticências no meio de lima frase, que se desvia dele depois
Pois o que todo homem ou animal teme, a esta hora onde de tê-lo olhado, que faz, do animal ou do homem, um erro do
o homem anda na mesma altura que o animal e onde todo . olhar, um erro do julgamento, um erro, como uma carta que
••
animal anda na mesma altura que todo homem, não é o se começou e que se amassa bruscamente logo depois de ter
sofrimento, pois o sofrimento se mede, e a capacidade de escrito a data. ••
impor e de tolerar o sofrimento se mede; o que ele teme
acima de tudo, é a estranheza do sofrimento, e de ser levado O CLIENTE
a suportar um sofrimento que não lhe seja familiar. Assima Você é um bandido estranho demais, que não rouba nada
•e
distância que se manterá sempre entre os brutos e as senho- ou demora demais a roubar, um ladrão excêntrico que entra
••
.•1
96
.

•• à noite no pomar para balançar as árvores, e que vai embora Se é assim, se você se esforça, com o empenho suspeito

•• sem levar as frutas. Você que é o habituado a esses lugares,


e eu sou o estrangeiro; eu sou aquele que tem medo e que
do traidor, em me acuar a agir com ou contra você para que,
em todos os casos, eu seja culpado, se é isso, então, reconheça

••
I tem razão em ter medo; eu sou aquele que não te conhece, ao menos que cu realmente ainda não agi nem por nem
que não pode te conhecer, que apenas imagina a sua silhue- contra você, que não há nada ainda a me criticar, que eu me
ta na escuridão. Era você quem tinha de adivinhar, de no- conservei honesto até este instante. Testemunhe a meu

•• mear alguma coisa, e então, talvez, com um movimento de


cabeça, eu teria aprovado, com um sinal, você teria sabido;
mas eu não quero que o meu desejo seja espalhado por nada
favor que eu não tive prazer na escuridão onde você me
parou, que eu apenas parei aqui porque você colocou a
mão em cima de mim; testemunhe que eu chamei a luz,

•e como sangue sobre uma terra estrangeira. Você não arrisca


nada; você conhece de mim a inquietude e a hesitação e a
que cu não me introduzi na escuridão como um ladrão, por
minha própria vontade e com intenções ilícitas, mas que eu

•e desconfiança; você sabe de onde eu venho e para onde eu


vou; você conhece estas ruas, você conhece esta hora, você
conhece os seus planos; eu, eu não conheço nada, eu arrisco
fui surpreendido aqui e que eu gritei, como uma criança na
sua cama cuja lâmpada que fica acesa a noite inteira se apaga
de repente.

•• tudo. Na sua frente, eu estou Coma na frente desses homens


travestidos em mulheres que se fantasiam de homens, no ODEALER

••
fim, não se sabe mais onde está o sexo. Se você acredita que eu esteja animado por intenções
Porque sua mio se pôs sobre .mim como aquela do de violência em relação a você - e talvez você tenha razão
bandido sobre sua vítima ou como aquela da lei sobre Q - , não dê cedo demais nem um gênero nem um nome a esta

•• bandido, e desde quando eu sofro, ignorante, ignorante da


minha fatalidade, ignorante se eu sou julgado ou cúmplice,
por não saber do que eu sofro, eu sofro por não saber qual
violência. Você nasceu com o pensamento de que o sexo de
um homem se esconde em um lugar preciso e que ele fica lá,
e você guarda cautelosamente este pensamento; entretanto,

•• ferida você1me faze por onde corre meu sangue. Talvez na


verdade você não seja nada estranho, mas astucioso; talvez
eu sei, eu - apesar de nascido da mesma maneira que você
- , que o sexo de um homem, com o tempo que ele passa

•• você seja apenas um servidor disfarçado ~a lei como a lei


mantida secreta à imagem do bandido para perseguir ()
bandido; talvez você seja, finalmente, mais leal do que eu.
esperando e esquecendo, ficando sentado na solidão, se
movimenta calmamente de um lugar a outro, nunca escon-
dido em um lugar preciso, mas visível lá onde não o pro-
e E então por nada, por acidente, sem que eu tenha dito na- curam; e que nenhum sexo, passado o tempo onde o homem

•• da nem desejado nada, porque eu não sabia quem você é,


porque eu sou o estrangeiro que não conhece a língua, nem
os costumes, nem o que aqui é mau ou conveniente, o certo
aprendeu a se sentar e a descansar tranqüilamente na sua
solidão, se parece com nenhum outro sexo, não mais do que
um sexo macho se: parece com um sexo fêmeo; que não se

•• ou o errado, e que age como deslumbrado, perdido, é como


se eu tivesse te pedido alguma coisa, como se eu tivesse te
pedido a pior coisa possível e fosse culpado por ter pedido.
trata de disfarce de uma coisa como esta, mas uma doce
hesitação das coisas, como as estações intermediárias que
não são nem verão disfarçado de inverno, nem inverno 'de
e Um desejo como sangue aos seus pés correu fora de mim, verão.
e um desejo que eu não conheço e não reconheço, que você Entretanto uma suposição não merece que se perturbem

•• é o único a conhecer, e que você julga. por ela; é preciso manter sua imaginação como sua pequena

97

• ...
-----------------------------------
noiva: se bom vê-la vagabundear, é estúpido deixá-la Acontece que, da mesma forma que eu sei -sem explicar
••
••
é

perder o senso das conveniências. Eu não sou astucioso, mas mascam uma certeza absoluta-que a terra sobre a qual nós
curioso; eu tinha posto minha mão no seu braço por pura estamos colocados você e eu e os outros está ela mesma
curiosidade, para saber se, a uma carne que tem aparência colocada e!11 equilíbrio sobre o chifre de um touro e mantida
daquela de uma galinha depenada, corresponde o calor da nesta posição pela mão da providência, da mesma forma eu
galinha viva ou o frio da galinha morta, e agora, eu sei. Você me esforço, sem realmente saber por que mas sem hesitação,
••
sofre, seja dito sem te ofender, do frio como a galinha viva em ficar no limite do que é conveniente, evitando o incon-
depenada pela metade, como a galinha acometida, no senso veniente como uma criança deve evitar se pendurar na beira ••
••
estrito do termo, de uma doença que faz cair as penas; c, do telhado antes mesmo de compreender a lei da queda dos
quando eu era pequeno, eu corria atrás delas no galinheiro corpos. E da mesma forma que a criança acredita que a
para tocar nelas e descobrir, por curiosidade pura, se sua proíbem de se pendurar na beira do telhado para impedi-Ia
temperatura era aquela da morte ou da vida. Hoje que eu te de voar, eu acreditei muito tempo que proibiam o menino
toquei, eu senti em você o frio da morte, mas eu senti de ceder suas calças para impedi-lo de descobrir o entusias-
e •
••
também o sofrimento do frio" como s6 um ser vivo pode mo ou a melancolia de seus sentimentos. Mas hoje que eu
· t& ve ",ào b .
so f rer. É por ISSO que eu te estendlmeu casaco para co rir compreendo mais as coisas, que eu reconheço mais as coisas
os seus ombros, já que eu não sofro, eu, do frio. E eu nunca que eu não compreendo, que eu fiquei neste lugar e nesta
sofri disso, ao ponto em que eu sofri por não conhecer esse hora tanto tempo, que eu vi passar tantos passanrcs, que eu
sofrimento, ao ponto em que o único sonho que eu tinha, os olhei e que às vezes eu pus a mão nos braços deles, tantas
quando eu era pequeno - desses sonhos que não são ob- vezes, sem compreender nada e sem querer compreender
••
jetivos mas prisões suplementares, que são o momento nada mas sem renunciar para tanto a olh á-los e fazer o
onde a criança percebe as barreiras de sua primeira prisão, possível para pôr minha mão nos braços deles - porque é ••
como aqueles que, nascidos de escravos, sonham que são mais fácil agarrar um homem que passa do que lima gali-
filhos dos patrões - , meu pr6prio sonho era conhecer a nha no galinheiro -, eu sei bem que não há nada de incon-
neve e o gelo, conhecer o frio que é o seu sofrimento. veniente nem no entusiasmo nem na melancolia que seja
••
Se eu te emprestei meu casaco apenas, não que eu não preciso esconder, e que é preciso seguir a regra sem saber
é

saiba que você sofre do frio não apenas rio alto do seu corpo, por quê . ••
••
mas, seja dito sem te ofender, do alto até embaixo e talvez Além do mais, seja dito sem te ofender, eu esperava, ao
mesmo um pouco além; e, no quo me diz respeito, eu terei cobrir os seus ombros com o meu casaco, tornar sua aparência
sempre pensado que seria preciso ceder ao friorento a peça mais familiar aos meus olhos. Estranheza demais pode fazer
de roupa correspondente ao lugar onde ele sente frio, com o . com que eu fique tímido, e, vendo você vir em minha dire-
risco de se encontrar nu, de alto a baixo e talvez mesmo um ção agora há pouco, eu me perguntei porque o homem
pouco além; mas minha mie, que não era de jeito nenhúm não doente se vestia como lima galinha acometida por
••
avarenta mas dotada de senso das conveniências, me disse uma doença que faz cair as penas e que perde suas penas e
que se era válido dar sua camisa ou seu casaco ou qualquer continua andando no galinheiro com as penas fixadas sobre
coisa que cubra o alto do corpo, é preciso sempre hesitar ela apesar de sua doença; e sem dúvida, por timidez, eu teria
••
longamente I dar seu.~ sapatos, e que em nenhum caso é me contentado em coçar a cabeça e faz~Wll desvie) para.tc., e
conveniente ceder ... calças. evitar, se eu não tivesse visto, no seu olhar fixo em mim, o
••
.•1
98
..•
,
••
vislumbre daquele que vai, no senso estrito do termo, pedir eu sou paciente porque não se ofende um homem que se
alguma coi sa, e esse vislumbre me distraiu da sua roupa distancia quando se sabe que ele vai retroceder. Não se pode
rid ícula. voltar atrás de um insulto, enquanto se pode voltar atrás de

•• o CLIENTE
uma gentileza, e é melhor abusar desta do que usar urna só
vez o outro. ~ por isso que eu não ficarei com raiva ainda,

••
O que você espera tirar de mim? Todo gesto que eu tomo porque eu tenho o tempo de não ficar com raiva, e eu tenho
por UIl1 golpe acaba como uma carícia; é inquietante ser o tempo de ficar com raiva, e eu ficarei com raiva talvez
acariciado quando se deveria apanhar. Eu exijo que ao quando todo esse tempo tiver corrido.

•e me~os você desconfie, se você quer que eu me demore. Já


que você pretende por acaso me vender alguma coisa, por
que não duvidar primeiro de que eu tenha com o que pagar?
o CLIENTE
E se - por hipótese - eu admitisse que só tinha usado


-
meus bolsos, talvez, estejam vazios; teria sido honesto que a arrogância - sem gosto - porque você tinha me pedido
você me pedisse primeiramente para expor meu dinheiro para usá-Ia quando você se aproximou de mim com algum

••
no balcão, como se faz com os clientes duvidosos . Você não objetivo que eu não adivinho ainda - pois cu não tenho
me perguntou nada do tipo: que prazer você tira do risco ele muito talento para adivinhar - e que me retém enquanto
se r engana d o ? Eu não vim a este lugar para encontrar do- isso aqui? se por hipótese eu te dissesse que o que me ret ém

•• çuru: a doçura corra em pedaços, ela ataca por partes , retalha aqui fosse a incerteza que eu tenho dos seus objetivos, e o
as forças como um cadáver numa sala de med icin a. Eu interesse que c u tenho nisso? Na estranheza da hora e
pre ci so da minha integridade: a hostilidade, ao menos , me estranheza do lugarc e stranheza do seu avanço em direção

•• manterá inteiro. Fique com raiv a: se não, onde cu vali bu scar a mim eu teria a vançado em direção a você, movido por e sse
minha força? Fique com raiva: nós ficaremos mais próxi- movimento conservado na sua totalidade de maneira indelé-

•• mos dos nossos negócios, e nós teremos certeza de que vel até que um movim ento contrário lhe foi transmitido. Se
esta mos tratando ambos do me smo negócio. Pois, se eu fosse por inércia que eu tivesse me aproximado de você ?
co m p re e ndo de onde eu tiro o meu prazer, eu nào com- levado até embaixo não por vontade própria ma s por essa

•• p ree ndo de onde você rira o seu ,

o DE!\LER
. atração que exper imentam os príncipes que vão se m isturar
à plebe nos albergues, ou a criança que desce escondida até

••
o porão. a atração do objeto min úsculo e solit.irio pela ma ssa
Se eu tivesse por um instante duvidado de que você não escura, impassível que está na sombra; eu teria vindo até
tives se o necessário para pagar o que você ve io procurar, eu você, medindo tranqüilamente a moleza do ritmo do meu

•• teria me desviado quando você se aproximou de mim. Os sangue nas minhas veias, com a questão de saber se essa
comércios comuns exigem de seus clientes provas de que moleza seria excitada ou esgotada completamente; lenta-
estes possam pagar, mas as lojas de luxo adivinham e não mente talvez, mas cheio de esperança, sem desejo formulá-

•• perguntam nada, nem se rebaixam nunca para verificar o vel, pronto a me satisfazer com o . que me oferecessem,
montante do cheque e a conformidade da assinatura. São porque, qualquer coisa que me oferecessem, teria sido como
objetos para vendere objetos para comprar cais que a questão o sulco de um campo estéril durante tempo demais por
e não se coloca de saber se o comprador será capaz de quitar o abandono, ele não diferencia os grãos quando eles caem

•• prcço nem quanto tempo ele gastará para se decidir. Assim sobre o campo; pronto a me satisfazer com tudo, na estra-

•• 99

prar de mim poderá muito bem servir a qualquer outro se-
••
••
nheza da nossa aproximação, de longe eu teria acreditado
que você se aproximava de mim, de longe eu teria tido a por hipótese - você não tiver utilidade para ela.
impressão de que você me olhava; então, eu teria me apro-
I ximado de você, eu teria te olhado, eu teria chegado perto
de você, esperando de você - coisas demais - coisas de-
mais, não que você adivinhasse, pois eu mesmo não sei,
o CLIENTE
A regra "q ue r que um homem que encontra um outro
acabe sempre lhe dando um tapinha nas costas enquanto
••
eu mesmo não sei adivinhar, mas eu esperava de você e o
gosto de desejar, e a idéia de um desejo, o objeto, o preço,
falam de mulher; a regra quer que a lembrança da mulher
sirva de último recurso aos combatentes cansados; a regra ••
e a satisfação,

üDEALER
quer isso, a sua regra; eu não me submeterei a ela. Eu não
quero que encontremos a nossa paz na ausência da mulher,
nem na lembrança de uma ausência, nem na lembrança de
••
Não há vergonha em esquecer à noite aquilo de que n6s
nos lembraremos pela manhã; a noite é o momento do.
qualquer coisa que seja. As lembranças me desagradam e as
ausências também; à comida digerida, eu prefiro os pratos
e•
••
esquecimento, da confusão, do desejo tão esquentado que nos quais ainda não tocamos. Eu não quero uma paz vinda de
se torna vapor. Entretanto a manhã o leva como uma gran- qualquer lugar; eu não quero que encontremos a paz.
de nuvem acima da cama, e ele será estúpido de não prever Mas o olhar do cachorro não contém nada além da supo-
à noite a chuva da manhã. Se então por hipõtese você me
dissesse que você está no momento desprovido de desejo a
exprimir, por cansaço ou por esquecimento ou por excesso
sição de que tudo, em volta dele, é cachorro com toda
certeza. Assim você afirma que o mundo sobre o qual nós
estamos, você e eu, é mantido na ponta do chifre de um touro
••
de desejo que leva ao esquecimento, por hip6tese de retorno
eu te diria para decididamente não se cansar mais e pegar
pela mão de uma providência; acontece que eu sei, eu, que
ele flutua, colocado sobre as costas de três baleias; que não ••
emprestado aquele de algum outro. Um desejo se rouba mas
. não se inventa; acontece que o casaco de um homem conser-
va o mesmo calor se vestido por um outro, e um desejo se
há providência nem equilíbrio, mas o capricho de três mons-
tros idiotas. Nossos mundos não são então os mesmos, e
nossa estranheza está misturada às nossas naturezas como a
••
pega emprestado mais facilmente do que Orna roupa. Já que
custe o que custar eu devo vender e custe o que custar você
uva no vinho. Não, eu não levantarei a pata, na sua frente,
no mesmo lugar que você; eu não sofro a mesma força da ••
••
precisará comprar, bom, compre para outros além de você- gravidade que você; eu não vim da mesma fêmea. Porque
qualquer desejo que esteja por aí e que você pegar resolverá não é de manhã que eu acordo, e não é nos lençóis que eu
a questão - , para divertir por exemplo e satisfazer quem durmo.


-
acorda perto de você de manhã nos seus lençóis, uma
noivinha que desejará ao acordar alguma coisa que você não üDEALER
tem ainda, que você terá prazer em oferecer a ela, e que você Não fique com raiva, paizinho, não fique com raiva. Eu
ficará feliz em possuir porque você terá comprado de mim. sou apenas um pobre vendedor que conhece apenas este
É a sorte do comerciante que existam tantas pessoas diferen- pedaço de território onde eu espero para vender, que não
tes tantas vezes ligadas a tantos objetos diferentes de tantas conhece nada além do que a sua mãe lhe ensinou; e como ela
••
maneiras diferentes, pois a memória de uns é substituída não sabia nada, ou quase, eu não sei nada também, ali quase. e
pela memória de outros. E a mercadoria que você vai com- Mas um bom vendedor tenta dizer o que o comprador quer

100
••


••
••
ouv rr, c, para tentar adivinhar, ele precisa tocar-lhe um que fazemos melhores negócios sob o abrigo da fam ilia rid a-
pou co pa ra rec o n hece r o odor. O se u odor não me foi nem U1H de. Eu não procuro te enganar, e não peço nada que você não
pou co familiar, nós na verdade não saímos da mesma mãe . queira dar. A única camaradagem que vale a pena que nós

•• ~b s a fim de poder te abordar, cu su p us que você bem que


saiu de uma mãe você também como eu, supondo que sua
mãe te fez irmãos como ri mim, em um número incalculável
tenhamos n~o implica ag ir de uma certa maneira, mas não
agir; eu te proponho a imobilidade, a infinita paciência e a
injustiça cega do amigo. Já que .I1 ~lO há justiça entre quem

•• como uma crise de soluço depois de uma grande refeição, e


que o que nos aproxima em todo caso, é a ausência de
não se conhece, e não há amizadeentre qúeil1 sc-conn-ecc·,
'~~~~~~ i_~=~~·-(l-~ ~~-~~· tlá ·1;(;rlt-e-·sc n1 1)a rr.:~ !l.~.~): _ rvl i n ha mãe


rarid ade que nos caracteriza a ambos. E cu me agarrei a isso sempre me disse que era e stúpido recusar um guarda -chu-
do pou co que nós ternos em comum, pois podemos viajar va quando se sabe que vai chover.
ti muito tempo no deserto com a condição de que tenhamos


-
um ponto de referência em algum lugar. ~Ias se eu me () CLIENTE
e nga ne i, se voc ê não saiu de uma mãe, e ninguém te fez Eu preferia voc ê astucioso a amigável. A amizade é mais

••
irmã os, c se você não tem uma noivinha que acord a com você pão -dura do que a traição. Se fosse um sentimento do qual
pela manhã nos seus lençóis, paizinho, cu te peço perdão. cu precisasse, cu teria dito a você, cu teria te perguntado o
D ois ho mens que se cruzam não têm outra es colha senão preço, e eu o teria quitado . Mas os sentimentos se trocam

•• ba te r um no o u tro, com a violência do inimigo ou a doçura d a


frate rn ida d e. E se eles es colhem no final, no deserto desta
hora, evocar aquele que não est á aqui, passado ou sonho, ou
apena s contra se us semelhantes; é um falso comérc io com
uma falsa moeda, um comérc io ele pobre que imita o comér-
cio. Por acaso trocamos um SíJCO de arroz contra um saco de

•• falru, é que não enfrentam d iretamente a e str anheza cxugc -


rudu. Diante do mistér io é conveniente se a brir c se re vel ar
arroz? Você não tem nada a o fe rece r, é por isso que você joga
se us se ntime ntos no balcão, como os maus comércios fazem

•• inte iramente a fim de forçar o mistério a se revelar por sua


vez . As lembranças são as arma s se cretas que o homem
g ll~l [( b com ele quando est á de spido, a última franqueza que
o abatimento sobre a mercadoria contrabandcad.r. e depoi s
não é mais po ssível reclamar do produto. E u não tenho
sent imento para te dar em retorno; de sta 1110ecLi cu estou

•• o briga a franqueza em retorno; a última nudez. Eu não tiro


daquilo que cu sou nem glória nem confusão, mas porque
de sprovido, eu não pensei em trazê -Ia comigo, você pode me
revistar. E ntão, guarde a sua mão no seu bolso, guarde a sua


você me é desconhecido, e mai s desconhecido ainda a cada mãe na sua família , guarde as suas lembranças para a sua
inst ante, bom, como meu casaco que eu tirei c estendi para solidão, é a coisa mais insignificante.

•• você , corno minhas mãos que eu te mostrei desarmadas, se


eu sou cachorro e você humano, ou se cu sou humano e você
Eu não vou querer nunca essa familiaridade que você
.tenta , escondido, instaurar entre nós. Eu não quis a su a mão

•• outra coi sa além disso, de alguma raça que eu seja e de


alguma raça que você seja, a minha, ao menos, eu ofereço
~lOS seus olhares, eu deixo você tocar nela, me apalpar e se
no meu braço, cu não quis o seu casaco, eu n ão quero () risco
de ser confundido com você. Pois saiba que, se você foi
surpreendido há pouco pela minha roupa, e voeê não achou

•e habituar n mim, como um homem se deixa revistar para


não esconder suas armas.
É por isso que eu te proponho, prudentemente, grave-
que era bom esconder a sua surpresa, a minha surpresa foi ao
menos tão grande quando eu te olhei se aproximando de .
mim. Mas, em terreno estranho, o estrangeiro toma o hábito
e mente, tranqüilamente, olhar para mim com amizade, por- de mascarar o seu espanto, porque para ele toda esquisitice

•• 101


'r
torna-se costume local, e ele precisa se habituar como ao ODEALER
••
clima ou ao prato regional. Mas se eu te levasse entre os
meus, e que você fosse, você, o estrangeiro forçado a escon-
Mas agora é tarde demais: a conta está cortada e será
preciso que ela seja liquidada. É justo roubar de quem não ••
••
der o seu espanto, e nós os nativos livres para expor o nosso quer ceder ~ guarda com ciúme nos seus cofres para seu
espanto, nós ficaríamos em volta d~ você te apontando com prazer solitário, mas é grosseiro roubar quando tudo está para
o dedo, nós te temaríamos com certeza por um carrossel de vender e tudo para comprar. E se é provisoriamente conve-
parque de diversões, c me perguntariam onde se compram
os bilhetes.
Você nio está aqui para o comércio. Você está aqui mais
niente dever a alguém - o que é apenas um justo prazo
combinado - , é obsceno dar e obsceno aceitar que te dêem ••
e•
gratuitamente. Nós nos encontramos aqui para o comércio e
para a mendicância, e para o roubo que a sucede como a não para a batalha, então não será justo que haja um perdedor
guerra às discussões. Você não está aqui para satisfazer e um ganhador. Você não vai partir como um ladrão com os


-
desejos. Porque desejos, eu tinha, eles caíram em volta de bolsos cheios, você esquece o cachorro que guarda a rua e
nós, nós os pisoteamos; grandes, pequenos, complicados, que vai te morder o cu.
fáceis, teria sido suficiente que você se abaixasse para pegá- Já que você veio aqui, no meio da hostilidade dos homens
los aos pu nhados; mas você os deixou rolar para a sarjeta,
porque mesmo os pequenos, mesmo os fáceis, você não tem
e dos animais em cólera, para não procurar nada alcançável,
já que você quer ser machucado por não sei que razão ••
com o que satisfazê-los. Você é pobre, e você está aqui não
por gosto mas por pobreza, necessidade e ignorância. Eu não
finjo que estou comprando imagens piedosas nem pagando
obscura, você vai precisar, antes dc virar as costas, pagar, e
esvaziar seus bolsos, para que não se fique devendo nada, e
nada seja dado. Desconfie do comerciante: o comerciante
••
os acordes miseráveis de uma guitarra num canto de rua. Eu
faço caridade se eu quero fazer, ou eu pago o preço das coisas.
que é roubado é mais ciumento do que o proprietário que é
assaltado; desconfie do comerciante: seu discurso tem a ••
Mas que os mendigos mendiguem, que eles ousem estender
a mão, e que os ladrões roubem.
Eu não quero nem te insultar nem te agradar; eu não
aparência do respeito c da doçura, a aparência da humildade,
a aparência do amor, a aparência apenas.
••
quero ser nem bom, nem mau, nem bater, nem apanhar,
nem seduzir, nem que você se esforce para me seduzir. Eu
quero ser zero. Eu temo a cordialidade, eu não tenho voca-
O CLIENTE
o que é então que você perdeu e que eu não ganhei?
porque eu posso fuçar a minha memória, eu não ganhei
••
ção para parentesco, e mais do que aquela dos golpes eu
• temo a violência da camaradagem. Sejamos dois zeros bem
nada, eu não. Eu aceito pagar o preço das coisas; mas eu não
pago o vento, a escuridão, o nada que está entre nós. Se você ••
redondos, impenetráveis um ae outro, provisoriamente jus-
tapostos, e que rolam, cada um na sua direção. Aqui, que nós
estamos sós, na infinita solidão desta hora e deste lugar que
perdeu alguma coisa, se a sua fortuna está mais leve depois
de ter me encontrado do que ela era antes, onde então pas-
sou o que falta a nós dois? Mostre para mim. Não, eu não
••
não são nem uma hora nem um lugar definíveis, porque não
tem razão para que eu te encontre aqui nem razão para que
você cruze por mim aqui nem razão para a cordialidade
desfrutei de nada, não, eu não pagarei nada.

ODEALER
••
nem valor razoável para nos preceder e que nos dê um sen-
tido, sejamos simples, solitários e orgulhosos zeros.

102
Se você quer saber o que esteve desde o início inscrito na
sua fatura, e que você vai ter de pagar antes de me virar as

-
••
e


: costa s, eu te direi que é a espera. e a paciência, e a mercado-
ria que o vendedor cria para o cliente, e a esperança de
distraído. Venha comigo; procuremos gente, pois a solidão
nos cansa.

•• vender, a esperança principalmente, que faz com quc todo

-
homem que se aproxima de rodo homem com um pedido o DEt\LI·:n
111) olhar seja de cara um dcvc.lur . Ik toda promessa de I lú este casaco que vocô n.io pegou quando cu o estendi
venda se deduz a promessa de comprar, e h.i a multa a pagar para você, e agora, vai ser preciso que você se .ihaixc para

•• para quem rompe ri promessa. pegá-lo.

•e () CLIENTE
N ós não estamos, você e cu, perdidos sozinhos no meio
dos campos . Se eu ch .nnnssc deste lado, em direção a essa
() CLIENTE
Se 110 entanto eu cuspi em algu/ll:! cois ;I. eu () fiz sobre
generalidades, e sobre urna roupa que é apenas urna roupa;

•• parede, 1:í no alto, em direção ao céu, você veria luzes IHi-


lhurcm, p:ISSOS se aproximando, socorro . Se ~ duro odiar
c se csr.i nu sua direção , não é contra você, e vocô não t inhu
nenhum movimento a fazer para se esquivar do escuro; e

••
soz inho, para muitos isso se torna um prazer. Você ataca os se você faz um movimento para recebê-lo na cara, por gosto ,
homens mais do que as mulhere s, porque você teme o grito por perversidade ou por cálculo, não impede q!le seja .ipc-
das mulhe res, e você supõe que rodo homem achará indigno nas por este pedaço de pano que cu mostrei algum despre-

•• .~rit:l r; você conta com a ,d ignidade , a vaidade, a mudez dos


homens. Eu te dou essa dignidade, ele presente. Se é mal que
zo, c um peda\:o de pano não pede conta . N :-IO, cu nào
curvarei 'as costas na sua frente, isso é impossfvcl , cu não

••
você me deseja, eu chamarei, cu gritarei , eu pedirei soco rro, tenho a flcxihilidadc de um contorcionista de feira. Tem
CII vou te fazer ouvir rodas as maneiras que existem de pc d ír movirncnros que o homem não pode fazer, corno o de l.uu -
socorro, pois eu conheço todas, bcr o SC II IH('lIHio CII. EII não p~lgarei 1111);1 lCl1[;I~';io que eu

•e () I)I'::\LER
Se não é a desonra da fuga que te impede, por que você
não tive .

o DEALER
•• não foge ? t\ fuga é um meio sutil de combate; você é sutil;
\ 'iICl' deveria fugir. Você é corno essas senhoras gordas nos
Não é conveniente P:lf:\ 11111 homem deixar insultarem
sua roupa. Pnrquc se a verdade ir.i injusriç« dcste 111\11\(10 é

•• S;lI(ICS de ch á que se metem entre as mesas entornando as

c,fcreiras: você caminha o seu cu atrás de você como um


pecado pelo qual você tem remorso, e você se vira em todos
aquela do acaso do nascimento de UIIl homem, do ~lCISO do
lugur e du hora, a única just içu, lo a sua vestimenta, A roupa
de um homem é, melhor do que ele mesmo, () que ele tem

•• os sentidos para fazer crer que o seu cu não existe. f\, las não
v.ii adi .mrur nada, vão te morder o cu assim mesmo.
de mais sagrado: ele mesmo que não sofre; o ponto de
equilíbrio onde a justiça compensa a injustiça. e l1~O se deve
maltratar esse ponto. I:~ por isso que é preciso julg:lr um

•• () CI .. II·:NTE
I':u n ão sou da raça daqueles que atacam primeiro . Eu
homem pela SlI:I roupa, não pela sua CHa, nem pelos seu s
braços, nem pela sua pele. Se é normal cuspir sobre o

e peço tempo. Talvez fosse prefer ível. finalmente, catarmos nuscirucnto de um homem, é perigoso cuspir sobre a sua

••
uns piolhos em vez de ficarmos nos mordendo. Eu peço rebeli ão.
tempo. Eu não quero ser acidentado como um cachorro

,. 103
------------------------------------r•
O CLIENTE
Bom, eu te ofereço a igualdade. Um casaco na poeira, eu
eu não conheço.
••
pago com um casaco na poeira. Sejamos iguais, na igualda-
de do orgulho, na igualdade da impotência, igualmente de-
O DEALER
Não há regra; só h á meios; há apenas armas. ••

sarmados, sofrendo igualmente do frio e do quente. A sua
serninudez, a sua metade de humilhação, eu as pago com a O CLIENTE
metade das minhas. Resta-nos outra metade, é bastante su-
ficiente para ousar ainda se olhar e para esquecer o que per-
demos todos os dois por inadvertência, por risco, por espe-
Tente me alcançar, você não conseguirá; tente rnc fe-
rir: quando o sangue corresse, bom , seria dos dois lados e,
inevitavelmente, o sangue nos unirá, como dois índios, no

-••
rança, por distração, por acaso. A mim, vai me restar ainda a canto do fogo, que trocam seu sangue no meio dos animais
inquietude persistente do devedor que já reembolsou. selvagens. Não há amor, não há amor. Não, você não pode-

o DEALER
Por que, o que você pede, abstratamente, inalcançavel-
rá alcançar-nada quejá não tenha sido alc.lnç~ld-~, porque
um homem morre primeiro, depois procura sua morte e a
encontra finalmente, por acaso, sobre o trajeto casual de
••
mente, a esta hora da noite, por que, isso que você teria
pedido a um outro, por que não ter pedido a mim?
uma luz a uma outra luz, e ele diz: então, era só isso.
••
O CLIENTE
Desconfie do cliente: ele tem o ar de' procurar uma coisa
ODEALER
Por favor, na gritaria da noite, você não disse nada que
você desejasse de mim, e que eu não tivesse ouvido?
••
enquanto quer uma outra, da qual o vendedor não descon-
fia, e que ele obterá finalmente. O CLIENTE ••
O DEALER
,

Se você fugisse, eu te seguiria; se você caísse com os


Eu não disse nada; eu não disse nada . E você , você não me
ofereceu nada, na noite, na escuridão tão profunda que cla
pede tempo demais para que a gente se acostume. que eu e•
meus golpes, eu ficaria perto de você para o seu despertar; e
se você decidisse não acordar, eu ficaria ao seu lado, no seu
sono, no seu inconsciente, além. No entanto, eu não dcsc-
não tenha adivinhado?

o DEALER
••
jo brigar com você. Nada.
••
O CLIENTE
Eu não tenho medo de brigar, mas eu temo as regras que
"Q C L IENT E
Então, qual arma?
•e
••
-••
104


e l

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