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Direito Executivo Lebre de Freitas PDF
Direito Executivo Lebre de Freitas PDF
CIVIL III
葡京法律的大学 Miguel Teixeira de Sousa
大象城堡 | 2016/2017
José Lebre de Freitas | 大像城堡
Não dispensa
a consulta dos
manuais
Índice
Lebre de Freitas:
第一 Parte Geral .........................................................................................................12
A – Conceito e fins da ação executiva ........................................................................12
Delimitação ............................................................................................................................. 12
Tipos ........................................................................................................................................ 13
Função ..................................................................................................................................... 13
Normas substantivas e normas processuais ....................................................................... 14
O acertamento e a execução................................................................................................. 15
Juiz e agente de execução...................................................................................................... 16
B – Pressupostos da ação executiva......................................................................................... 17
Pressupostos específicos ....................................................................................................... 17
Pressupostos gerais ................................................................................................................ 18
C – Titulo Executivo.................................................................................................................. 19
Noção ...................................................................................................................................... 19
Espécies ................................................................................................................................... 19
1. A sentença condenatória ...................................................................................................... 19
2. O documento exarado ou autenticado por notário ................................................................. 24
3. Os títulos de crédito ............................................................................................................. 27
4. O título executivo por força de disposição especial.................................................................. 28
Natureza e função do título executivo ................................................................................ 30
Consequências da falta de apresentação do título executivo ........................................... 33
Uso desnecessário da ação declarativa ................................................................................ 33
D – Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação ................................................................ 34
Conceito .................................................................................................................................. 34
Regime: certeza e exigibilidade............................................................................................. 35
Regime: a liquidez .................................................................................................................. 40
E – Competência do Tribunal .................................................................................................. 43
Competência em razão da matéria ...................................................................................... 43
Competência em razão da hierarquia .................................................................................. 43
Competência em razão do valor .......................................................................................... 44
Competência em razão do território ................................................................................... 44
Competência internacional ................................................................................................... 45
Competência convencional e regime da incompetência .................................................. 47
O depositário .......................................................................................................................... 95
O registo da penhora ............................................................................................................. 96
Levantamento da penhora .................................................................................................... 97
O – Função e efeitos da penhora ............................................................................................. 98
Função da penhora ................................................................................................................ 98
Perda dos poderes de gozo ................................................................................................... 98
Ineficácia relativa dos atos dispositivos subsequentes...................................................... 99
Preferência do exequente .................................................................................................... 100
P – Oposição à penhora .......................................................................................................... 100
Meios de oposição ............................................................................................................... 100
1. Oposição por simples requerimento ..................................................................................... 100
2. Incidente de oposição à penhora .......................................................................................... 101
3. Embargos de terceiro ......................................................................................................... 103
4. Ação de reivindicação ........................................................................................................ 109
Q – Convocações e concurso ................................................................................................. 110
Convocações ......................................................................................................................... 110
Pressupostos específicos da reclamação de créditos....................................................... 113
A ação de verificação e graduação de créditos ................................................................ 116
R – Venda executiva ................................................................................................................ 119
Modalidades .......................................................................................................................... 119
Remissão e preferências ...................................................................................................... 122
Efeitos.................................................................................................................................... 123
Anulação................................................................................................................................ 126
Natureza ................................................................................................................................ 128
S – Pagamento .......................................................................................................................... 128
Meios de atingir o pagamento ............................................................................................ 128
Consignação de rendimentos ............................................................................................. 128
Ordem dos pagamentos ...................................................................................................... 129
Pagamento em prestações................................................................................................... 129
T – Extinção e anulação da execução.................................................................................... 130
Extinção da execução .......................................................................................................... 130
Anulação da execução ......................................................................................................... 132
Renovação da ação executiva ............................................................................................. 132
Recursos ................................................................................................................................ 134
ii. Bens onerados com garantia real a favor do credor (beneficium excussionis realis – ........... Erro!
Marcador não definido.
iii. Na execução de dívidas: .............................................. Erro! Marcador não definido.
1. Da associação sem personalidade jurídica, o património dos associados que a contrario, após a
penhora do fundo comum (artigo 198.º, n.º2 CC), e, na falta ou insuficiência daquele, o património
dos restantes associados, proporcionalmente à sua entrada no fundo comum;Erro! Marcador não
definido.
2. Do titular do EIRL, alheias à exploração do estabelecimento, os bens do EIRL, quando sejam,
de modo comprovado, insuficientes os demais bens do comerciante (artigo 10.º, n.º1 e 22.º Decreto-Lei
n.º248/86 ); .......................................................................... Erro! Marcador não definido.
b. Associações sem personalidade e EIRL.................. Erro! Marcador não definido.
6. Responsabilidade subsidiária subjetiva: ............................ Erro! Marcador não definido.
a. Fundamento substantivo: .......................................... Erro! Marcador não definido.
b. Procedimento: ............................................................. Erro! Marcador não definido.
i. Antes da reforma de 2013: ............................................. Erro! Marcador não definido.
Várias hipóteses se abriam no regime procedimental, consoante contra quem fosse
movida a execução, consoante houvesse ou não citação prévia do devedor subsidiário
e consoante o momento da citação. Acrescia ainda a necessidade de adequar o regime
da invocação do benefício da excussão prévia. ............. Erro! Marcador não definido.
ii. Depois da reforma de 2013: ............................................ Erro! Marcador não definido.
Disponibilidade e transmissibilidade ............................... Erro! Marcador não definido.
§39.º - Impenhorabilidades objetivas................................... Erro! Marcador não definido.
Impenhorabilidades absolutas. A impenhorabilidade da Constituição da República. O
direito à habitação .............................................................. Erro! Marcador não definido.
Impenhorabilidades relativas ............................................ Erro! Marcador não definido.
Impenhorabilidades parciais ............................................. Erro! Marcador não definido.
1. Penhora de créditos de rendimentos pessoais ...................... Erro! Marcador não definido.
a. Objeto e limites; as alterações da Reforma de 2013Erro! Marcador não definido.
b. Aplicabilidade às indemnizações de seguro ............ Erro! Marcador não definido.
c. Isenções e reduções de penhora. As alterações da Reforma de 2013................ Erro!
Marcador não definido.
d. Aumento da penhora. As alterações da Reforma de 2013Erro! Marcador não
definido.
e. Penhora de quantias pecuniárias ou de saldo bancário de conta à ordem ........ Erro!
Marcador não definido.
§40.º - Dívidas conjugais ....................................................... Erro! Marcador não definido.
Enquadramento material .................................................. Erro! Marcador não definido.
Execução de dívida comum ............................................. Erro! Marcador não definido.
第一 Parte Geral1
1FREITAS, José Lebre de; A Ação Executiva à luz do Código de Processo Civil de 2013; &.ª edição; Coimbra
Editores; Coimbra, fevereiro de 2014.
Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo
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ação executiva e como tem lugar essa reparação? Trata-se sempre, como inculca
a redação, defeituosa, do artigo 10.º, n.º4 CPC, de obrigações?
Tipos: resulta do artigo 10.º, n.º6 CPC a existência de três tipos de ação executiva:
1. Para pagamento de quantia certa: um credor, o exequente, pretende obter o
cumprimento duma obrigação pecuniária através da execução do património do
devedor, o executado (artigo 817.º CC). Para tanto, apreendidos pelo tribunal os bens
deste que forem considerados suficientes para cobrir a importância da dívida e das
custas, tem lugar, normalmente, a venda desses bens a fim de, com o preço obtido,
se proceder ao pagamento. O exequente obtém assim o mesmo resultado que com a
realização da prestação que, segundo o título executivo, lhe é devida.
2. Para entrega de coisa certa: o exequente, titular do direito à prestação duma coisa
determinada, pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao devedor (executado) e
seguidamente lha entregue (artigo 827.º CC). Pode, porém, acontecer que a coisa não
seja encontrada e, neste caso, o exequente procederá à liquidação do seu valor e doo
prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e vendendo-se bens do
executado para pagamento da quantia liquidada (artigo 867.º CPC). Neste tipo de
processo, pode assim o exequente obter um resultado idêntico ao da realização da
própria prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente. Por
outro lado, o direito à prestação da coisa pode ter por base uma obrigação ou um
direito real.
3. Para prestação de facto:
a. Quando o facto é fungível: o exequente pode requerer que ele seja prestado
por outrem à custa do devedor (artigo 828.º CC), sendo então aprendidos e
vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do custo da
operação;
b. Quando o facto não é fungível: o exequente já só pode pretender a
apreensão e a venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do
dano sofrido com o incumprimento (artigo 868.º CPC).
c. Quando ocorre a violação de um dever de omissão (prestação de facto
negativo): o exequente, consoante os casos, pedirá a demolição da obra que
porventura tenha sido efetuada pelo devedor, à custa deste, assim como a
indemnização do prejuízo sofrido, ou uma indemnização compensatória
(artigo 829.º CC e 876.º CPC). Assim, neste tipo de processo o credor pode
obter o mesmo resultado que obteria com a realização, ainda que por terceiro,
da prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente. E,
embora em todos os casos se realize uma prestação de natureza obrigacional,
a obrigação de demolir ou indemnizar pode resultar da violação dum direito
real.
Função: desta breve análise dos tipos de ação executiva, algumas conclusões é possível tirar:
1. A ação executiva pressupõe sempre o dever de realização duma prestação: esta
prestação constitui, na maioria das vezes, o conteúdo duma relação jurídica
obrigacional, primária ou de indemnização. Mas nem sempre: também nos direitos
reais podem fundar pretensões a uma prestação a efetuar a favor do seu titular
(pretensões reais). A afirmação de que apenas obrigações podem dar lugar à ação
executiva só tem cabimento quando se utilize o termo obrigação num sentido lato que
abranja qualquer relação jurídica que tenha por conteúdo, ainda que só
subordinadamente a uma relação ou situação jurídica de outra natureza, o dever de
realizar uma prestação, e significará então que as restantes relações ou situações
jurídicas de Direito Privado não podem, enquanto tais, dar lugar a procedimento
executivo. Este aspeto é comum ao objeto da ação executiva e ao da ação declarativa
de condenação.
2. A ação executiva não pode ter lugar perante a simples previsão da violação
dum direito: através dela, o exequente via separar um direito violado. O autor que
tenha obtido a condenação do réu a abster-se de certa conduta violadora dum seu
direito ou a cumprir uma obrigação ainda não vencida só poderá propor ação de
execução depois de consumada a violação ou de se ter tornado exigível a obrigação.
Das duas situações (dúvida e violação) que originam o processo civil, apenas a
violação tem a ver com a génese do processo executivo, que, sem deixar de ter na sua
base, tal como o processo declarativo, um conflito de interesses, logicamente
pressupõe a prévia solução da dúvida que possa haver sobre a existência e a
configuração do direito exequendo.
3. Através da ação executiva, o exequente pode obter resultado idêntico ao da
realização da própria prestação que, segundo o título executivo, lhe é decida
(execução específica): quer por
a. Meio direto:
i. Apreensão e entrega da coisa ou quantia devida;
ii. Prestação do facto devido por terceiro.
b. Meios indiretos:
i. Apreensão e venda de bens do devedor e subsequente pagamento; ou, em sua
substituição,
ii. Um valor equivalente do património do devedor (execução por equivalente);
4. O tipo de ação executiva é sempre determinado em função do titulo executivo:
consoante deste conste uma obrigação pecuniária, uma obrigação de prestação de
coisa ou uma obrigação de prestação de facto, assim se utiliza um ou outro dos três
tipos de ação, ainda que por esta se vise obter, não a prestação, mas o seu equivalente.
5. A satisfação do credor na ação executiva é conseguida mediante a
substituição do tribunal ao devedor: porque este não efetuou voluntariamente a
prestação devida, ou não procedeu à demolição da obra que não podia ter feito, o
tribunal procede à apreensão de bens para, em substituição do devedor, pagar ao
credor, ou para conseguir meios que permitam custear a prestação, por terceiros em
vez do devedor, do facto por este devido.
Normas substantivas e normas processuais: instrumental como qualquer outro, o
processo executivo visa um resultado de Direito substantivo: a satisfação do direito de exequente.
Como, fora dos casos de execução específica direta, tal implica a apreensão, normalmente
seguida da venda, de bens do património do devedor, os efeitos de natureza real destes atos
executivos e a necessidade de os articular com eventuais direitos de terceiros sobre os bens
apreendidos importa o estabelecimento de normas que são também de Direito substantivo.
As disposições dos artigos 819.º a 826.º CC Vêm responder a esta necessidade. Ao Direito
substantivo cabe ainda a prévia definição dos regimes de responsabilidade patrimonial e de
sujeição (sujeitabilidade) à execução dos bens objeto de garantia real e de obrigação de
2Mas a sua eficácia fica resolutivamente condicionada à recusa do agente designado (artigo 720.º, n.º 8 CPC).
Quando o exequente não faça a designação, bem como quando a designação feita fique sem efeito, passa ela a
caber à secretaria, já não por livre escolha (de entre os inscritos em qualquer comarca do país), mas segundo a
ordem da escala constante da lista oficial (artigo 720.º, n.º2 CPC).
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omissões por ele praticados (artigo 723.º, n.º1, alínea c) CPC). Tal como o hussier 3francês, o
agente de execução é um misto de profissional liberal e de funcionário público, cujo estatuto
de auxiliar da justiça implica a detenção de poderes de autoridade no processo executivo. A
sua existência, sem retirar a natureza jurisdicional ao processo executivo, implica a sua larga
desjudicialização (entendida como menor intervenção do juiz nos atos processuais) e também
a diminuição dos atos praticados pela secretaria. Não impede a responsabilidade do Estado
pelos atos ilícitos que o agente de execução pratique no exercício da função, nos termos
gerais da responsabilidade do Estado pelos atos dos seus funcionários e agentes, decorrente
da Lei n.º 67/2007, 31 dezembro.
Pressupostos específicos: para que possa ter lugar à realização coativa duma prestação
devida (ou do seu equivalente), há que satisfazer dois tipos de condição, dos quais depende
a exequibilidade do direito à prestação:
1. O dever de prestar deve constar dum título: o título executivo. Trata-se de
um pressuposto de caráter formal, que extrinsecamente condiciona a
exequibilidade do direito, na medida em que lhe confere o grau de certeza que o
sistema reputa suficiente para a admissibilidade da ação executiva. A configuração
do título executivo como pressuposto processual não é muito duvidosa, sem
prejuízo da sua articulação com o direito exequendo, cujo acertamento no título
já foi dito constituir a única condição da ação executiva.
2. A prestação deve mostrar-se:
a. Certa;
b. Exigível;
c. Líquida;
Certeza, exigibilidade e liquidez são pressupostos de caráter material, que
intrinsecamente condicionam a exequibilidade do direito, na medida em que sem
eles não é admissível a satisfação coativa da pretensão. Quanto à configuração
como pressuposto processual da certeza, exigibilidade e liquidez da prestação,
embora também como pressupostos usem aparecer, entre nós, qualificadas, dir-
se-ia que melhor lhes cabe a qualificação de condições da ação executiva,
enquanto características conformadoras do conteúdo duma relação jurídica de
Direito material. Mas a certeza, a exigibilidade e a liquidez só constituem
requisitos autónomos da ação executiva quando não resultem já do título
executivo; caso contrário, diluem-se no âmbito das restantes características da
obrigação e a sua verificação é, tal como elas, presumida pelo título, sem qualquer
especialidade de regime a ter em conta. Trata-se assim de exigências de
3Embora seja um funcionário de nomeação oficial e, como tal, tenha o dever de exercer o cargo quando
solicitado, é contratado pelo exequente e, em certos casos (penhora de bens móveis ou de créditos), atua
extrajudicialmente, sem prejuízo de poder recorrer ao Ministério Público, quando o devedor não dê informação
sobre a sua conta bancária e a sua entidade empregadora, e de poder desencadear a hasta pública, quando o
executado não vende, dentro de um mês, os bens móveis penhorados (o que normalmente este não faz); pela
sua atuação, não só responde perante o exequente, mas também perante o executado e terceiros.
4Quanto ao interesse em agir, não se vê como possa faltar numa ação pela qual é atuada a garantia do direito
do exequente.
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C – Titulo Executivo
Noção: vimos como o acertamento é o ponto de partida da ação executiva, pois a realização
coativa da prestação pressupõe a anterior definição dos elementos (subjetivos e objetivos) da
relação jurídica de que ela é objeto. O título executivo contém esse acertamento
«A pretensão material está acertada, sobre ela não devendo ter lugar mais nenhuma controvérsia
no processo de execução, [mesmo no caso de] exequibilidade provisória da sentença antes de
formado o caso julgado, [em que ocorre um] acertamento condicionado»5;
daí que se diga que se diga que constitui a base da execução, por ele se determinando o fim
e os limites da ação executiva (artigo 10.º, n.º5 CPC), isto é, o tipo de ação e o seu objeto,
assim como a legitimidade, ativa e passiva, para ela (artigo 53.º, n.º1 CPC), e, sem prejuízo
de poder ter que ser complementado (artigos 714.º a 716.º CPC), em face dele se verificando
se a obrigação é certa, líquida e exigível (artigo 713.º CPC). O termo título inculca a ideia de
que se trata dum documento. Adiante veremos, ao tratar da natureza do título executivo, se
esta ideia é rigorosa. Sem, por ora, irmos mais longe no estudo do seu conceito, contemo-
nos em constar que o título executivo ganha a relevância especial que a lei lhe atribui da
circunstância de oferecer a segurança mínima reputada suficiente quanto à existência do
direito de crédito que se pretende executar. Há que fazer, assim, a análise das diversas
espécies de título executivo, só depois partindo da tipologia legal para o conceito.
Espécies: o artigo 703.º, n.º1 CPC enumera, nas suas alíneas, quatro espécies de título
executivo. Embora não corresponda a um critério doutrinário rigoroso (bastará atender ao
caráter residual da alínea d)), esta enumeração constitui o ponto de partida da análise que se
segue. Assim, são as seguintes, as espécies de título executivo:
1. A sentença condenatória:
a. Conceito: ao utilizar a expressão sentença condenatória (artigo 703.º, n.º1,
alínea a) CPC), quis o legislador (embora de modo não muito feliz) demarcar
o conceito do de sentença de condenação, expressão utilizada no regime
anterior e considerável de ser tomada como equivalente a sentença proferida
em ação declarativa de condenação. É que, em qualquer tipo de ação (não
apenas de condenação, mas também de mera apreciação, constitutiva ou até
de execução), tem, em princípio, lugar a condenação em custas e a decisão
que a profere constitui título executivo para o efeito da sua cobrança coerciva.
O mesmo se diga quanto à condenação da parte em multa, em indemnização
como litigante de má fé ou em sanção pecuniária compulsória. Por outro lado,
discute-se se a sentença de mérito favorável proferida em ação declarativa
constitutiva é, enquanto tal, suscetível de ser executada. O problema põe-se
quando por ela são criadas obrigações, que, como tais, podem ser objeto de
incumprimento. À primeira vista, dir-se-á que, nestes casos, a sentença
constituí título executivo, por forma perfeitamente análoga à sentença
proferida em ação declarativa de condenação. Mas, se bem se vir, o efeito
constitutivo da sentença produz-se automaticamente, nada restando dele para
5 Bruns-Peters
executar, e o que pode vir a ser objeto de execução é ainda uma decisão
condenatória, expressa ou implícita, que com ele se pode cumular
(condenação no pagamento dos alimentos fixados, condenação na
desocupação e entrega do prédio arrendado: artigos 936.º, n.º4 CPC e 1081.º,
n.º1 CC). Quanto às sentenças de mérito proferidas em ações de simples
apreciação, é pacífico que não se pode falar de título executivo. Efetivamente,
ao tribunal apenas foi pedido que aprecie a existência dum direito ou dum
facto jurídico e a sentença nada acrescenta quanto a essa existência, a não ser
o seu reconhecimento judicial. Pela sentença, o réu não é condenado no
cumprimento duma obrigação pré-existente, nem sequer constituído em
nova obrigação a cumprir. Vigorando o princípio do dispositivo,
compreende-se que tal sentença não possa ser objeto de execução. Pode
ainda acontecer que a condenação seja proferida em processo de natureza
não civil, por exemplo de caráter penal (sentença em que o réu seja
condenado a pagar uma indemnização ao ofendido) ou administrativo
(sentença de condenação do Estado em indemnização por ato de gestão
pública, ilícito ou lícito). Também aqui temos uma sentença condenatória.
Das sentenças judiciais, só a de condenação constitui, pois, nos termos
explanados, título executivo. O termo sentença abrange os acórdãos
(artigo 156.º, n.º3 CPC).
b. Trânsito em julgado e liquidez: para que a sentença seja exequível, é
necessário que tenha transitado em julgado, isto é, que seja já insuscetível de
recurso ordinário ou de reclamação (artigo 628.º CPC), salvo se contra ela
tiver sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo (artigo 704.º,
n.º1 CPC). A atribuição de efeito meramente devolutivo significa que é
possível executar a decisão recorrida na pendência do recurso. Constitui hoje
a regra no recurso de apelação (artigo 647.º CPC); tem sempre lugar no
recurso de revista (artigo 676.º CPC). Ora, se tiver sido instaurada execução
na pendência de recurso com efeito meramente devolutivo, essa execução,
por natureza provisória sofrerá as consequências da decisão que a causa
venha a ter nas instâncias superiores. Assim, quando a causa vier a ser
definitivamente julgada, a decisão proferida terá o efeito:
i. De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda,
absolvendo o réu (executado);
ii. De modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda, mantendo uma
condenação parcial do réu (artigo 704.º, n.º2, 2.ª parte CPC).
Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida decisão que, por sua vez, seja
objeto de recurso para um tribunal superior, a execução:
i. Suspender-se-á ou modificar-se-á, consoante a decisão da 2.ª instância for total
ou parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso for também atribuído
efeito meramente devolutivo;
ii. Prosseguir-se-á tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada
com a decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito
suspensivo, o qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia
proferida (artigo 704.º, n.º2, 2.ª parte CPC).
À ação executiva proposta na pendência do recurso pode também ser
suspensa a pedido do executado que preste caução, destinada a garantir o
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6 Não encontramos equivalente no novo regulamento 1215/2012, portanto, este artigo é, ainda, relativo ao
regulamento Bruxelas I – o regime foi alterado com o Regulamento 1215/2012 portanto não terá aplicação
7 Pensamos poder ser regime substituído o presente no artigo 36.º R 1215/2012. Dentro das limitações da
revogação
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8 Não encontramos paralelo para atualizar face ao regulamento 1215/2012, mas atente-se aos artigos 45.º e
seguintes deste Regulamento (talvez seja isso).
9 Idem.
3. Os títulos de crédito:
a. O regime anterior: o CPC 1961 conferia exequibilidade aos documentos
particulares, assinados pelo devedor, constitutivos ou recognitivos de
obrigações. A norma resultou duma progressiva evolução do nosso Direito
no sentido de generalizar a exequibilidade dos documentos particulares. Para
que os documentos particulares, não autenticados, constituíssem título
executivo, era imposto:
i. Como requisito de fundo: que deles constasse a obrigação de pagamento
de quantia determinada ou determinável por simples cálculo
aritmético, de entrega de coisa ou de prestação de facto;
ii. Como requisito de forma: que, quando se tratasse de documento assinado
a rogo, a assinatura do rogado estivesse reconhecida por notário.
b. O título de crédito, enquanto tal: o CPC de 2013 restringiu drasticamente
a exequibilidade dos documentos particulares, arrepiando o caminho que
entre nós ela tomava: a alínea c) do artigo 703.º, n.º1 CPC apenas concede
exequibilidade aos títulos de crédito, ainda que meros quirógrados, desde que,
neste caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem do próprio
documento ou sejam alegados no requerimento executivo. A letra, a livrança
e o cheque são, pois, os únicos documentos particulares a que a lei geral hoje
confere exequibilidade. Quanto ao cheque, alguma jurisprudência
(minoritária) tinha entrado, após a revisão do CPC de 1961, a negar-lhe
exequibilidade, com o argumento de que ele mais não é do que uma ordem
de pagamento, pela qual não se constitui nem reconhece qualquer obrigação
(Ribeiro Coelho). Assim se esquecia que o preenchimento do cheque à ordem
ou a sua entrega ao portador tem implícita a constituição ou o
reconhecimento duma dívida, a satisfazer através da cobrança dum direito de
crédito (cedido), contra a instituição bancária. Só é exigido o reconhecimento
da assinatura do devedor no título de crédito quando ele não saiba ou não
possa ler, sendo então assinado a rogo. Fora deste caso, o reconhecimento,
por notário, da assinatura do devedor tem a utilidade de obstar ao pedido de
suspensão da ação executiva pelo executado que, em embargos, alegue a não
genuinidade da assinatura.
c. O título de crédito, enquanto quirógrafo: prescrita a obrigação cartular
constante de uma letra, livrança ou cheque, poderá o título de crédito
continuar a valer como título executivo, desta vez enquanto escrito particular
consubstanciando a obrigação subjacente? Assim foi entendido na vigência
do CPC 1961, antes e depois da revisão de 1995-1996, embora com vozes
discordantes (Eurico Lopes Cardoso ou João de Castro Mendes). E é essa
orientação que claramente se vê hoje consagrada no artigo 703.º, n.º1, alínea
c) CPC). Quando o título de crédito mencione a causa da relação jurídica
subjacente, o título prescritivo vale como documento particular respeitante à
relação jurídica subjacente. Quanto aos títulos de crédito prescritos dos quais
não conste a causa da obrigação, há que distinguir consoante a obrigação a
que se reportam:
iii. O extrato de conta passado por sociedade, com sede em Portugal, dedicada à
concessão de crédito por via de emissão e utilização de cartões de crédito, titulando
o respetivo saldo (artigo 1.º Decreto-Lei n.º 45/79, 9 março);
iv. Os certificados passados pelas entidades registadoras de valores mobiliários
escriturais, a estes relativos (artigo 84.º CVM);
v. O documento de contrato de mútuo concedido pela Caixa Geral de Depósitos, nos
termos do artigo 9.º, n.º4 Decreto-Lei n.º 287/93, 20 agosto.
Natureza e função do título executivo:
1. O título é um documento: após a análise feita, é altura de tirarmos conclusões sobre
a natureza e a função do título executivo. Quer os títulos criados pelas alíneas b) e c),
quer aqueles a que se reporta a alínea d) do artigo 703.º, n.º1 CPC constituem,
inequivocamente, documentos escritos. Sabido que o documento escrito é um objeto
representativo duma declaração e como tal constitui meio de prova legal plena
(artigos 362.º, 371.º, n.º1 e 376.º, n.º2 CC), parece impor-se a conclusão de que o
título executivo extrajudicial ou judicial impróprio é um documento, que constitui
prova legal para fins executivos, e que a declaração nele representada tem por objeto
o facto constitutivo do direito de crédito ou é, ela própria, este mesmo facto. No
caso, porém, da sentença condenatória, o aspeto dinâmico da injunção ao réu para
que realize uma prestação devida sobressai sobre o aspeto estático do documento em
que ela se materializa. Se a tomarmos como paradigma do título executivo – ato
jurídico esse que, aplicando e concretizando o direito, torna possível, graças à sua
estrutura de comando, a subsequente atuação prática da sanção se a ordem judicial
não for cumprida. Esta diferente perspetiva de aproximação do conceito de título
executivo deu origem a uma célebre polémica, hoje clássica, entre
a. Carnelutti, para quem a sua natureza era de documento; e
b. Liebman, para quem revestia a natureza de ato.
Esta segunda conceção acabaria, no caso dos títulos executivos negociais, por fazer
coincidir o título com o próprio negócio, quando há muito a doutrina vem afirmando
que a ação executiva, baseada no título, goza, em face da obrigação exequenda, duma
autonomia paralela à do título de crédito em face da obrigação subjacente. Quanto a
definição do título como documento, compatibiliza-se com esta autonomia, desde
que no documento, enquanto título, se veja mais a materialização ou corporalização
dum direito exequível do que o meio de prova do facto constitutivo desse direito. O
título executivo extrajudicial constitui documento probatório da declaração de
vontade constitutiva duma obrigação ou duma declaração direta ou indiretamente
probatória do facto constitutivo duma obrigação e é este seu valor probatório que
leva a atribuir-lhe exequibilidade. Por sua vez, o título executivo judicial constitui
documento probatório dum ato jurisdicional que acerta (dá por provado, nem que
seja por implicação) esse facto constitutivo. Mas a consideração da inexequibilidade
da sentença de mera apreciação, que também realiza esse acertamento, leva a concluir
que tal não chega para explicar a constituição do título executivo judicial, o qual
requer também a emanação duma ordem (jurisdicional) emitida em função dum
pedido (do autor). Talvez esta dualidade de justificações da figura seja insuperável e,
na tentativa de chegar a um conceito unitário, se tenha de ficar pela afirmação de que
uma e outra são consideradas, cada qual no seu campo específico, base suficiente da
executiva, fazer nela prova de que foi efetuada, por aplicação analógica do artigo
715.º, n.º1 a 4 CPC.
2. Obrigações genéricas: vimos que só são incertas quando, no género em que se
recorta o seu objeto, há uma pluralidade de espécies, podendo a quantidade que o
devedor está obrigado a prestar ser de uma ou outra dessas espécies. Aplica-se a todo
o regime descrito para as obrigações alternativas, sendo certo que esta figura é um
misto de obrigação genérica e alternativa.
3. Obrigações a prazo: se a obrigação tiver prazo certo, só decorrido entre a execução
é possível, pois até ao dia do vencimento a prestação é inexigível. Fica então o
devedor imediatamente constituído em mora (artigo 805.º, n.º2, alínea a) CC), a
menor que o credor não tenha realizado os atos de cobrança da prestação que
porventura lhe incumbissem, como acontece, com especial relevância (dada a regra
do artigo 772.º CC), nos casos em que a prestação deva ser efetuada no domicílio do
devedor. Esta situação de mora do credor não impede a propositura da ação
executiva, como resulta do artigo 610.º, n.º2, alínea b) CPC, conjugado com o artigo
551.º, n.º1 CPC, bem como do Direito substantivo. O preceito do artigo 610.º, n.º2,
alínea b) CPC só é diretamente aplicável aos casos de obrigação pura em que não
tenha sido feita interpelação ou esta tenha tido lugar fora do local do cumprimento.
Mas é aplicável, por analogia, ao caso de obrigação a prazo em que o credor deva
proceder à cobrança no domicílio do devedor, mas não a mora do devedor.
Adaptando o preceito a esta situação, temos que a dívida está vencida no momento
da propositura da ação, mas a mora do devedor só tem lugar a partir da citação. A
responsabilidade pelas custas incumbe, porém, neste caso, ao autor (artigo 535.º, n.º2,
alíneas b) CPC). Se ele a quiser evitar, deve proceder previamente ao ato de cobrança,
provado que, por sua parte, o efetuou, nos termos do artigo 715.º, n.º1 a 4 CPC.
Note-se, por último, que o artigo 610.º, n.º2, alínea b) CPC não utiliza o termo
inexigibilidade no sentido técnico do termo, mas como sinónimo de não vencimento.
No caso de obrigação com vencimento dependente de prazo a fixar pelo tribunal,
tem o credor, na fase liminar da ação executiva, de promover a fixação judicial do
prazo, nos termos aplicáveis dos artigos 1026.º e 1027.º CPC (artigo 874.º CPC, no
domínio da obrigação para prestação de facto). Pelo artigo 713.º CPC, trata-se,
também neste caso, de transição que precede a determinação do tipo de ação
executiva. Controvertida é a questão da licitude do pactum de non exequendo ad tempas,
pelo qual credor e devedor acordam em que a obrigação, já vencida, não será sujeita
a execução durante determinado prazo. Contra a sua admissibilidade diz-se que
representa uma renúncia (embora parcial) ao direito de ação, que é irrenunciável. Mas
a favor dela argumenta-se que, no campo do direito disponível, não há razão para
que o credor, que pode remitir a obrigação, não se possa vincular a retardar a sua
execução. Enquanto configurado como modalidade do pactum de non petendo, o pactum
de non exequendo é, como este, ilícito; mas, se for entendido como estipulação de novo
prazo de cumprimento da obrigação, não se vê razão que obste à sua validade. É pura
questão de interpretação da vontade das partes. Quando o pacto é válido, a obrigação
fica, após a sua celebração, sujeita ao regime das obrigações a prazo.
4. Obrigações puras: o vencimento depende, neste tipo de obrigações, do ato de
interpelação, intimação dirigida pelo credor ao devedor para que lhe pague. Tratando-
se de prestações exigíveis a todo o tempo, a citação equivale a interpelação, se esta
não tiver tido lugar anteriormente (artigos 610.º, n.º2, alínea b) e 551.º, n.º1 CPC).
Quer a interpelação não tenha sido efetuada, quer ela tenha sido feita mas não
acompanhada (nem seguida) dos atos que ao credor incumbia realizar, a ação
executiva pode ter lugar, embora com a consequência de o autor pagar as custas. Se
a interpelação tiver sido devidamente realizada, ao credor exequente competirá
prova-lo, nos termos do artigo 715.º CPC, para evitar a sua condenação em custas.
5. Obrigações sob condição suspensiva: a prestação de obrigação sob condição
suspensiva só é exigível depois de a condição se verificar, pois até lá todos os efeitos
do respetivo negócio constitutivo ficam suspensos (artigo 270.º CC). Daí que o artigo
715.º, n.º1 a 4 CPC, exija ao credor exequente a prova da verificação da condição,
sem o que a execução não é admissível. Claro que no caso de condição resolutiva o
problema não se põe: a obrigação produz todos os seus efeitos em face do título
executivo e ao executado caberá, em oposição à execução, provar que a condição
ulteriormente se verificou, extinguindo ex tunc a obrigação (artigo 729.º, n.º1, alínea
g) CPC).
6. Obrigações sinalagmáticas: estando o credor obrigado para com o devedor a uma
contraprestação a efetuar simultaneamente, para o que basta não terem sido
estipulados diferentes prazos de cumprimento (artigo 428.º CC), incumbe-lhe,
independentemente da invocação, pelo devedor, da exceção de não cumprimento,
provar que a efetuou ou ofereceu (artigo 715.º, n.º1 a 4 CPC), sob pena de não poder
promover a execução. Embora não se trate de caso de inexigibilidade, é-lhe dado, no
plano dos pressupostos da execução, tratamento semelhante ao dos casos de
prestação inexigível. Como, por sua vez, também o exequente podia invocar a seu
favor a exceção de não cumprimento do contrato, basta-lhe provar que ofereceu a
sua prestação contra a exigência da que lhe é devida. O mesmo regime, devidamente
adaptado, se aplica ao caso de o credor (exequente) dever cumprir a sua prestação
antes da do seu devedor.
7. Prova complementar do título: da exposição feita deriva que a certeza e a
exigibilidade da obrigação exequenda têm de se verificar antes de serem ordenadas
as providências executivas, pelo que, quando não resultem do próprio título nem de
diligências anteriores à propositura da ação executiva, se abre uma fase liminar do
processo executivo que visa tornar certa ou exigível a obrigação que ainda não o seja,
sem prejuízo de ter lugar no próprio requerimento de execução a atuação, a
desenvolver para o efeito, que dependa pura e simplesmente da vontade do credor,
bem como a solicitação, por ele, da atuação do tribunal, do devedor ou de terceiro
que para o mesmo efeito seja necessária (fixação de prazo; escolha da prestação). Mas,
quando a certeza e a exigibilidade, não resultando do título, tiverem resultado de
diligências anteriores à propositura da ação executiva, há que provar no processo
executivo que tal aconteceu. Trata-se agora duma atividade, também liminar, de
prova, a ter lugar, como a anterior, no início do processo. A esta atividade de prova
(prova complementar do título) se refere o artigo 715.º CPC, nos seus n.º1 a 4, os
quais têm alcance geral, pelo que se aplicam, para além dos casos neles expressamente
previstos (obrigação dependende de condição suspensiva ou duma prestação por
parte do credor ou de terceiro), a todos aqueles em que a certeza e a exigibilidade não
resultam do título executivo, mas já se verificavam antes da propositura da ação
executiva, assim como ainda àqueles em que, sendo a prestação exigível em face do
título, o credor queira provar que ocorreu o vencimento e a mora do devedor, para
Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo
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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017
evitar a sua condenação em custas. Nas execuções com processo sumáario, em que
não há lugar a despacho liminar (artigo 855.º, n.º1 CPC), a certeza e a exigibilidade
da obrigação exequenda são verificadas pelo agente de execução, sem intervenção do
juiz:
a. Em face do título executivo, se à data esses requisitos já se verificavam
ou se a exigibilidade resultar do simples decurso dum prazo certo nele
estipulado;
b. Perante documento, apresentado no processo, que prove a ocorrência,
posterior à formação do título, do facto constitutivo da certeza ou
exigibilidade.
Tendo, porém, o agente de execução dúvida quanto à verificação desses pressupostos,
cabe-lhe suscitar a intervenção do juiz, que decidirá (artigo 855.º, n.º2, alínea b) CPC).
Nas execuções com processo ordinário, em que há despacho liminar (artigo 726.º,
n.º1 CPC), cabe ao juiz verificar se a obrigação exequenda é certa e exigível, em face
do título executivo e da prova documental complementar. Sendo necessária a
produção de prova (extradocumental) para a verificação da certeza ou exigibilidade
da obrigação, o exequente oferece-a no requerimento executivo (artigo 724.º, n.º1,
alínea h) CPC), seguindo-se sempre despacho liminar (artigo 715.º, n.º3 CPC). Não
ocorrendo causa de indeferimento ou aperfeiçoamento (artigo 726.º, n.º2, alínea b) e
4 CPC), o juiz, a menos que entenda necessária a audição do executado, designa dia
para a produção de prova, a qual é sumariamente feita, em termos semelhantes aos
estatuídos pelo artigo 345.º CPC para a fase liminar dos embargos de terceiro, após
o que, se o juiz entender provada a certeza e a exigibilidade, o processo prossegue
(com ou sem citação prévia do executado, conforme o caso). Tem caráter de exceção
a audição do devedor: inculca-o a redação do artigo 715.º, n.º3 CPC («a menos que…»)
e justifica-o a evolução legislativa no sentido de proporcionar a realização da penhora
antes da citação e da oposição. Entendendo, porém, o juiz que essa audição é
necessária, o devedor é logo citado para pagar ou opor-se à execução (artigo 715.º,
n.º4 CPC), com a advertência de que, não contestando os factos, alegados no
requerimento executivo, constitutivos da certeza ou exigibilidade da obrigação, eles
se terão por assentes, sem prejuízo das exceções vigentes no processo comum de
declaração (artigo 568.º CPC). A contestação do executado só pode ter lugar na
oposição à execução, mediante invocação do fundamento consistente na incerteza
ou inexigibilidade da obrigação exequenda (artigo 729.º, alínea e) CPC). Continua,
porém, o exequente a ter o ónus da prova dos factos de que depende a exigibilidade
e a certeza da obrigação exequenda (verificação da condição; efetivação ou oferta da
contraprestação ou da prestação devida por terceiro; escolha extrajudicial da
obrigação) ou o seu vencimento (interpelação extrajudicial; cobrança frustrada no
domicílio do devedor).
8. Consequências da falta de certeza ou exigibilidade: proposta execução baseada
em título de que resulte a incerteza da obrigação ou a inexigibilidade da prestação,
não sendo imediatamente oferecida e efetuada prova complementar do título nem
requeridas as diligências destinadas a tornar a obrigação certa ou a prestação exigível,
foi discutido, na vigência do Direito anterior à revisão do CPC 1961, se o juiz devia
proferir despacho de indeferimento liminar ou despacho de aperfeiçoamento.
Constitui orientação fundamental do Código a de proporcionar o aproveitamento
(artigo 1085.º CPC), impõe que as partes possam expor as suas razões de facto de de
Direito antes da decisão dos árbitros. Designadamente, o executado pode querer pôr
em causa, mediante contestação da liquidação, a própria imposição da arbitragem e,
baseando-se esta em estipulação das partes, necessitar de provar, por exemplo, que
o compromisso não existiu ou caducou. Por outro lado, ao devedor há de ser dada a
possibilidade de impugnar os valores alegados. Não basta, por isso, que o exequente
requeira a arbitragem e nomeie o seu árbitro, sem necessidade de especificar, nos
termos aplicáveis do artigo 716.º, n.º1 CPC, os valores que considera compreendidos
na prestação devida. A remissão do artigo 361.º, n.º1 CPC (para o qual, por sua vez,
remete o artigo 716.º, n.º6 CPC) para o artigo 358.º, n.º2 CPC, que trata da dedução
do incidente de liquidação, com sujeição às normas gerais do artigo 293.º CPC,
aponta para a necessidade dessa especificação na petição inicial da arbitragem (artigo
33.º, n.º3 LAV), seguida de contraditório – isto não obstante a simplicidade de que
normalmente se reveste a liquidação da obrigação exequenda constituída ou
reconhecida em título extrajudicial. A liquidação considera-se feita:
a. Em conformidade com o laudo dos dois árbitros nomeados pelas
partes, no caso de acordo entre eles (artigo 361.º, n.º3 CPC);
b. Em conformidade com o laudo do árbitro nomeado pelo tribunal, se
se verificar divergência, único caso em que esse árbitro intervém, não
para desempenhar, mas com autonomia relativamente aos laudos dos
dois outros (artigo 361.º, n.º3 e 4 CPC).
As restantes normas processuais a aplicar na arbitragem determinam-se de acordo
com a lei geral (artigo 30.º, n.º2 e 3 LAV).
5. Pedido de entrega de universalidade: quando o exequente pede, de acordo com
o título executivo, que lhe seja entregue uma universalidade, constituiria
desnecessária complicação do acesso à justiça negar a possibilidade de dedução
genérica do pedido, na ação executiva, quando ao exequente não seja possível fazê-
lo no requerimento inicial, por a universalidade se achar na posse do executado e não
ter meios para a ela aceder. Neste caso, devidamente justificado, o pedido ilíquido é
admitido, procedendo-se à liquidação em incidente imediatamente posterior à
apreensão dos bens e anterior à sua entrega ao exequente (artigo 716.º, n.º7 CPC).
6. Formação de caso julgado: a decisão de mérito favorável proferida no incidente
de liquidação tem como efeito quantificar ou especificar o objeto da obrigação
constante (normalmente) do documento autêntico, completando o título mediante o
acertamento dum aspeto do seu objeto que nele está por acertar e ao qual se
circunscreve o juízo declarativo. Não se trata propriamente de delimitar o objeto da
obrigação exequenda, mas sim o de determinado título executivo. Consequentemente,
a sentença de liquidação da obrigação exequenda constitui caso julgado que obsta a
que, em nova execução fundada no mesmo título, se volte a discutir a liquidação da
mesma obrigação; mas não poderá impedir que tenha lugar um novo incidente de
liquidação da mesma obrigação em execução fundada noutro título; nem é invocável
como caso julgado numa ação declarativa autónoma (inclusive de restituição do
indevido). Quando, sendo o título executivo uma sentença (de condenação no que
se vier a liquidar), a liquidação tem lugar na instância declarativa, a sentença de
liquidação que a complementa fica a integrar o âmbito objetivo do caso julgado por
ela formado.
E – Competência do Tribunal
subsidiariamente) aplicáveis à ação executiva, uma vez que, sem prejuízo de poderem
não ser as mais conformes com este tipo de ação, não lhe são, no entanto, contrárias.
Não obstante, a revisão atendeu às razões invocáveis de iure constituindo para que não
fossem admitidos desvios às normas de competência para a execução das decisões
judiciais. O mesmo se dispôs, em paralelismo com o regime vigente na ação
declarativa referente a direitos reais ou pessoais de gozo sobre bens imóveis (artigo
70.º, n.º1 CPC), quanto à ação executiva para entrega de coisa certa e por dívida com
garantia real (artigos 89.º, n.º2 e 104.º, n.º1, alínea a) CPC); mas aqui foi-se longe
demais e estendeu-se a regra aos casos em que a coisa a entregar ou o bem onerado
é um bem móvel. Longe demais foi também, a meu ver, a Lei n.º14/2006, 26 abril,
ao impor o conhecimento oficioso da incompetência fundada na inobservância da
regra geral da 1.ª parte do artigo 89.º CPC (ressalvadas as exceções da 2.ª parte do
mesmo artigo). Passo a passo, o regime legal vai-se aproximando da posição outrora
defendida por Anselmo de Castro, mas no âmbito dum regime da incompetência
relativa também descaracterizado no âmbito da ação declarativa. O artigo 104.º, n.º1,
alínea a) CPC impede, sem distinguir, o afastamento das normas dos artigos 85.º, n.º1
e 89.º, n.º1, 1.ª parte e n.º2 CPC. Só fora do âmbito destas normas é admitida às
partes a liberdade de estipulação do foro competente (artigo 95.º, n.º1 CPC) e
consentida ao exequente, desde que o executado não se oponha, a determinação do
tribunal em que pretende que siga a ação executiva.
CPC). A sentença que vier a ser proferida constituirá caso julgado perante o chamado
não interveniente, por imposição do artigo 320.º CPC, sendo que, no caso de
litisconsórcio necessário, tal solução resulta da sua própria natureza e da finalidade
de assegurar a legitimidade das partes a que obedece o preceito do artigo 261.º, n.º1
CPC. No regime do novo Código, a sentença condenatória pronuncia-se sobre a
situação jurídica do chamado, mesmo que o litisconsórcio seja voluntário (artigo
320.º CPC), pelo que, ainda que não intervenha, o terceiro fica, com a citação,
constituído como parte e, sendo condenado, aplica-se-lhe a norma do artigo 53.º
CPC e não a do artigo 55.º CPC. Nos casos de intervenção acessória (artigos 321.º e
326.º CPC), embora o interveniente, provocado ou espontâneo, tal como o não
interveniente provocado, seja abrangido pelo caso julgado (artigos 323.º. n.º4 e 332.º
CPC), não lhe é conferida legitimidade para a ação de execução da sentença que o
constitui, visto que, sendo na causa um mero auxiliar da parte principal, a apreciação
da sua posição jurídica terá lugar em ação autónoma, embora condicionada pelos
limites decorrentes da formação daquele caso julgado (prejudicial). Não se vê, pois,
que tenha hoje aplicação a norma do artigo 55.º CPC.
5. O Ministério Público: ao Ministério Público compete promover a execução por
custas e multas impostas em qualquer processo (artigo 57.º CPC). Além desta
legitimidade específica do Ministério Público para a ação executiva, conservam
aplicação as normas que, em geral, regulam a sua legitimidade processual (artigos 21.º
a 24.º CPC).
Consequências da ilegitimidade das partes: a ilegitimidade constitui uma exceção
dilatória de conhecimento oficioso (artigos 577.º, alínea e) e 578.º CPC). Consequentemente,
cabe ao juiz, quando se verifique, seja insanável e haja lugar a despacho liminar, indeferir
liminarmente a petição inicial (artigo 726.º, n.º2, alínea b) CPC); mas, sendo sanável, cabe-
lhe proferir despacho de aperfeiçoamento (artigos 6.º, n.º2 e 726.º, n.º4 CPC) e, seguidamente,
só se não for sanada indeferir o requerimento executivo (artigos 726.º, n.º5 CPC). Aplica-se
igualmente o artigo 734.º CPC. Quando seja citado não obstante uma ilegitimidade insanável,
ainda que não manifesta, o executado tem a possibilidade de se opor à execução por
embargos (artigo 729.º, alínea c) CPC, quanto à sentença).
G – Patrocínio judiciário
Litisconsórcio:
1. Litisconsórcio inicial: o conceito e o regime do litisconsórcio são, na ação executiva,
os mesmos que na ação declarativa. Assim, quer vários autores formulem contra um
só réu um pedido único (litisconsórcio ativo), quer um autor formule contra vários
réus um pedido único (litisconsórcio passivo), quer um pedido único seja formulado
por vários autores contra vários réus (litisconsórcio simultaneamente ativo e passivo),
são-lhe aplicáveis as mesmas normas que o regem no processo declarativo, sem que
o facto de constar do título uma pluralidade de devedores, ou um terceiro com
património sujeito à execução para além do devedor, implique, só por si, a necessária
propositura da ação executiva contra todos os obrigados ou sujeitos à execução. Há,
pois, litisconsórcio voluntário sempre que, podendo o pedido ser formulado apenas
por um autor ou apenas contra um réu, tenha sido deduzido por vários autores ou
contra vários réus. Convém ter presente que tanto a obrigação conjunta (artigo 32.º,
n.º1 CPC), como a solidária (artigo 517.º CC) e a garantia por bens de terceiro (artigos
641º., n.º1, 667.º, n.º2 e 717.º CC), assim, como, do lado ativo, a obrigação indivisível
com pluralidade de credores (artigo 538.º, n.º1 CC) e as relações reais que lhe são
equiparadas (artigos 1286.º, n.º1, 1405.º, n.º2 e 2078.º, n.º1 CC), podem configurar
casos de litisconsórcio voluntário. Há, por outro lado, litisconsórcio necessário
quando a lei, o negócio jurídico ou a própria natureza da prestação a efetuar imponha
a intervenção de todos os interessados na relação controvertida. Os casos em que
esta imposição surge são, na ação executiva, muito mais raros do que na ação
declarativa e por isso já foi defendida a inexistência de litisconsórcio necessário em
sede de execução. No entanto, alguns casos de litisconsórcio necessário são
verificáveis na ação executiva:
11 Já o artigo 34.º, n.º1 CPC não se aplica à ação executiva porque o exequente nunca, por via dela, perde ou vê
limitado um seu bem ou direito. Dir-se-á, porém, que, dada a formulação do caso julgado nos embargos de
executado e nos embargos de terceiro, o litisconsórcio pode vir a ser necessário, nos termos gerais da ação
declarativa, nessas ações apensas ao processo executivo: qualquer dos cônjuges poderá pedir, em ação de
execução para entrega de coisa certa, a entrega da casa de morada de família e, ainda que casado em regime de
comunhão, a do bem imóvel ou estabelecimento comercial, comum ou próprio (artigo 1682.º-A CC); mas,
porto em causa, em qualquer dos embargos, o direito do exequente, o cônjuge deste teria de intervir como réu
nessa ação declarativa.
12 Quanto ao artigo 34.º, n.º3 CPC só se aplica à ação executiva para entrega de coisa certa, por via da sua última
parte, como ficou referido: considerado na sua 1.ª parte, além das dificuldades a que a sua aplicação daria lugar
quando a prática do ato e a subscrição do título não coincidissem (atos dos dois cônjuges mas título referido a
um só, ou vice-versa), não se verifica na ação executiva a razão de ser do preceito, dirigido à salvaguarda de
ambos os cônjuges quando está em causa a definição (mas não a execução) dum regime de responsabilidade
patrimonial comum; a 2.ª parte do artigo, apenas diretamente aplicável à ação declarativa e nem sequer nela
gerando um litisconsórcio necessário (ao autor é facultado optar entre a propositura da ação só contra o autor
do ato ou também contra o seu cônjuge), só poderia defender-se impor o litisconsórcio na ação executiva
quando tivessem sido condenados ambos os cônjuges, mas apenas se se entendesse que configuravam
litisconsórcio necessário os casos de sentença de condenação de vários réus litisconsortes; considerada,
finalmente, a última parte do artigo, tão-pouco é defensável a sua aplicação à execução da obrigação pecuniária
com base na ideia de tutela do interesse do cônjuge do devedor perante a possibilidade de alienação de bens
comuns ou carecidos do seu consentimento para poderem ser alienados, pois essa tutela é assegurada, como
veremos, pelo mecanismo próprio que resulta dos artigos 741.º e 787.º CPC. (Castro Mendes é contra e Miguel
Teixeira de Sousa também, porém, limitadamente, aos casos em que há título executivo contra ambos os
cônjuges e mesmo quando há título executivo apenas contra um cônjuge, bastando, pois, que a dívida seja
comunicável) e Rui Pinto quando haja título executivo contra ambos os cônjuges.
Código) é hoje mais adequado considera-lo, a partir da citação, uma parte principal,
dado ter um estatuto equiparado ao do executado, continuando os credores
reclamantes a ser meras partes acessórias. A equiparação do cônjuge do executado a
estes consta do artigo 787.º CPC: tendo direitos idênticos aos do executado, os dois
estatutos processuais pouco diferem após a citação (ponto de divergência: a
responsabilidade pelas custas da execução), sendo assim o cônjuge parte principal.
Quanto aos credores reclamantes, ficam, uma vez citados, com alguns dos poderes
processuais que cabem ao exequente e, por outro lado, a falta da sua citação, tal como
a do cônjuge do executado, tem, embora limitadamente, o mesmo efeito que a falta
de citação do réu (artigo 786.º, n.º6 CPC), o que permite considera-los como partes.
Dado, porém, que é taxativamente limitado o elenco dos poderes processuais que
podem exercer no processo de execução e que não têm a disponibilidade do seu
objeto, não se constituem como partes principais, mas como partes acessórias. Ora
a oposição do litisconsorte (parte principal) e a da parte acessória ou auxiliar (artigo
328.º CPC) não se confundem.
Coligação: por força do artigo 56.º CPC, a coligação é admitida em processo executivo
quando, não se baseando um dos pedidos em decisão judicial a executar nos autos da ação
declarativa (artigo 709.º, n.º1, alínea d) ex vi artigo 56.º, n.º1 CPC), cumulativamente se
verifiquem os seguintes pressupostos:
1. A espécie de ação executiva decorrente de cada um dos pedidos deve ser a
mesma (pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa ou prestação de facto), a
menos que todos se baseiem numa mesma sentença (artigos 709.º, n.º1, alínea b) e
710.º, ex vi 56.º, n.º1 CPC);
2. Tendo a execução por fim o pagamento de quantia certa, as várias obrigações
devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético (artigo 56.º,
n.º2 CPC);
3. O Tribunal deve ser competente internacionalmente e em razão da matéria e
da hierarquia para a apreciação de todos os pedidos, ainda que não o seja em
razão do valor ou do território (artigo 709.º, n.º1, alínea a) ex vi 56.º, n.º1 CPC);
4. Cada um dos pedidos, individualmente considerado, deve ter de ser apreciado
em processo executivo comum, ou no mesmo processo executivo especial que
caberia para a apreciação dos outros pedidos, não interessando, para o efeito, se
se tratar de execução de sentença, a forma de processo declarativo em que ela tenha
sido proferida, e sem prejuízo de o juiz poder autorizar a cumulação, adequando a
forma processual às necessidades do caso concreto (artigo 709.º, n.º1, alínea c) ex vi
56.º, n.º1 CPC)13;
5. Tratando-se de coligação passiva, é ainda necessário que a execução tenha
por base, quanto a todos os pedidos, o mesmo título (artigo 56.º, n.º1, alínea
b) CPC) ou que os devedores sejam titulares de quinhões no mesmo
património autónomo ou de direitos relativos ao mesmo bem indiviso,
quando um ou outro sejam objeto de penhora (artigo 56.º, n.º1, alínea c) CPC).
13A exceção é corolário do princípio da adequação formal (artigo 547.º CPC), que a economia processual
aconselha.
Por virtude da remissão do artigo 56.º, n.º3 CPC para os n.º2 a 5 do artigo 709.º CPC
observam-se na coligação, quanto à competência em razão do valor e do território, as regras
seguintes:
1. Quando todos os pedidos se fundem em títulos judiciais impróprios, a ação
executiva corre no tribunal do lugar onde haja corrido o processo de valor mais
elevado;
2. Quando haja pedidos fundados em título judicial impróprio e outros em título
extrajudicial, a ação executiva corre no tribunal em que haja corrido o processo em
que o título se formou;
3. Quando todos os pedidos se fundem em título extrajudicial, a competência
determina-se nos termos dos n.º2 e 3 do artigo 82.º CPC;
4. Segue-se a forma de processo ordinário quando os pedidos originariam,
isolados, formas de processo comum distintas.
Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação
ilegal:
1. Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos litisconsortes
é fundamento de ilegitimidade da parte (artigo 33.º, n.º1 CPC). No despacho liminar,
quando o houver, o juiz deve convidar o exequente a requerer a intervenção principal
do terceiro (artigos 6.º, n.º2 e 726.º, n.º4 CPC) e, se o exequente não corresponder
ao convite, indeferir liminarmente e requerimento executivo (artigo 726.º, n.º5 CPC
– ver também o artigo 734.º CPC). O vício pode, porém, ser corrigido pelo exequente
até 30 dias sobre o trânsito em julgado do despacho de indeferimento liminar (ou de
rejeição oficiosa da execução, nos termos do artigo 734.º CPC) ou da sentença que
julgue procedentes os embargos de executado. Permite-o o artigo 261.º CPC,
mediante o chamamento da pessoa cuja falta é motivo de ilegitimidade, e, se já estiver
extinta à data do chamamento, a instância é renovada, pagando o exequente as custas.
2. No caso de coligação ilegal, por não verificação de algum dos pressupostos atrás
enunciados, o juiz, havendo lugar a despacho liminar, profere despacho de
aperfeiçoamento, convidando o exequente – ou exequentes – a que escolha o pedido
relativamente ao qual pretende que o processo prossiga, e só no caso de ele não o
fazer absolverá o executado da instância (artigos 38.º e 726.º, n.º4 e 5 CPC); quando,
quanto a algum dos pedidos, se verificar a incompetência absoluta do tribunal ou a
inadequação da forma de processo, o princípio da economia processual impõe que
se profira um despacho de indeferimento parcial e a causa prossiga relativamente aos
outros pedidos (artigo 726.º, n.º3 CPC; verificada a incompetência absoluta do
tribunal ou a inadequação da forma de processo quanto a todos os pedidos, tem lugar
o indeferimento liminar total (artigo 726.º, n.º1, alínea b) CPC).
Quer no caso de preterição de litisconsórcio necessário, quer no de coligação ilegal, o
executado pode opor-se à execução (artigo 729.º, alínea c) CPC).
Cumulação simples de pedidos:
1. Formas: a coligação constitui uma cumulação de pedidos. Mas pode também o
exequente (ou os mesmos exequentes litisconsortes) cumular pedidos contra o
o processo comum para entrega de coisa certa é regulado nos artigos 859.º a 867.º CPC e o
que visa a prestação de facto nos artigos 868.º a 877.º CPC. Supletivamente, aplicam-se:
1. Ao processo sumário de execução para pagamento de quantia certa, as disposições
do processo ordinário (artigo 551.º, n.º3 CPC);
2. À execução para entrega de coisa certa e para prestação de facto, as disposições
aplicáveis da execução para pagamento de quantia certa (artigo 551.º, n.º2 CPC);
3. Aos processos especiais, as disposições reguladoras do processo comum ordinário
(artigo 551.º, n.º4 CPC).
Tenha-se, finalmente, em conta a disposição do artigo 551.º, n.º1 CPC, que determina que
são subsidiariamente aplicáveis ao processo de execução, com as necessárias adaptações, as
disposições reguladoras do processo de declaração. Nesta aplicação, deve sempre atender-se
à diferente natureza dos processos e, portanto, não são aplicáveis as disposições reguladoras
do processo declarativo que estejam em desacordo com a natureza da ação executiva, mas
só as que com essa se mostrem compatíveis.
J – Delimitação
Só os títulos dos quais conste uma obrigação pecuniária podem dar lugar a processo
executivo para pagamento de quantia certa. Através deste, pretende obter-se o cumprimento
forçado duma obrigação desta natureza, quer ela resulte diretamente dum negócio jurídico,
quer tenha uma causa diferente, em que se inclui o não cumprimento dum negócio jurídico
do qual derivem obrigações não pecuniárias. Mas tal não evita que os processos de execução
para entrega da coisa certa (artigo 867.º CPC) e para prestação de facto (artigo 869.º CPC) se
possam converter em processos de execução para pagamento de quantia certa, visando o
pagamento duma indemnização ao exequente e, quanto ao segundo, quando não haja
conversão, o devedor é executado pela quantia necessária ao custeamento da prestação de
facto a efetuar por outrem (artigo 870.º CPC). A obrigação pecuniária reveste normalmente
a natureza de obrigação de quantidade, cujo objeto é um certo valor expresso em moeda que
tenha curso legal em Portugal (artigo 550.º CC). Quanto às outras duas modalidades que
pode assumir (obrigação de moeda específica e obrigação em moeda em curso legal apenas
no estrangeiro), a primeira dá sempre lugar à execução para pagamento de quantia certa,
mesmo que falte ou não tenha curso legal a moeda estipulada (artigo 555.º e 556.º CC),
enquanto a segunda se executa através do processo para entrega da coisa certa.
K – Fase Inicial
(artigos 85.º, n.º1 e 626.º CPC). Não tem, neste caso, de ser acompanhada por cópia
da sentença.
2. Tramitação complementar do requerimento inicial: o requerimento inicial pode
ser recusado pela secretaria, nos casos do artigo 725.º, n.º1 CPC (paralelo ao artigo
558.º CPC, que rege a ação declarativa):
a. Quando tenha sido omitido um requisito do requerimento executivo
(assinatura; utilização da língua portuguesa; utilização do modelo aprovado;
elemento exigido pelo artigo 724.º, n.º1 e 4 CPC, quando que só
eventualmente);
b. Quando não seja apresentado o título executivo ou seja manifesta a
insuficiência do título apresentado.
O ato de recusa é reclamável para o juiz, mas a decisão deste é irrecorrível, salvo
quando se funde na falta de exposição dos factos (artigo 725.º, n.º2 CPC). Recebido
o requerimento inicial, seguem-se, como na ação declarativa, a distribuição (salvo
quando a execução tenha lugar nos autos do processo declarativo em que tenha sido
proferida a decisão exequenda) e a autuação, bem como as eventuais diligências para
tornar certa ou exigível a obrigação, a designação do agente de execução pela
secretaria, quando o exequente o não tenha designado ou ele tenha recusado a
designação feita (artigo 720.º, n.º2 e 8 CPC), e a subsequente notificação a este da
designação efetuada (artigo 720.º, n.º3 CPC). Segue-se a produção de prova
complementar do título, nos casos em que deva ter lugar.
Despacho liminar:
1. Tem sempre lugar: a revisão do Código aboliu o despacho liminar, como regra, na
ação declarativa, mas manteve-o na ação executiva. A reforma da ação executiva
continuou a afirmar, como regra, a necessidade do despacho liminar, mas introduziu
tantas exceções que ele passou a constituir estatisticamente uma exceção. O novo
Código, ao desdobrar em ordinária e sumária a forma do processo comum, impõe
na primeira o despacho liminar e dispensa-o na segunda. Aliás, esse controlo judicial
prévio constitui a característica fundamental da forma ordinária em face da forma
sumária. O despacho liminar pode ser, nos termos gerais, de indeferimento de
aperfeiçoamento ou de citação.
2. Aperfeiçoamento e indeferimento liminar: desde a sua revisão, o Código
privilegia claramente a providência de mérito, em preterição da decisão proferida em
aplicação de normas processuais. Esta opção legislativa, conforme com as
orientações processualísticas hoje correntes, traduz-se na ação executiva,
designadamente, no realce dado ao aperfeiçoamento do requerimento inicial: quando
haja despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a suprir a falta de
pressupostos processuais e as outras irregularidades de que enferme o requerimento
executivo, desde que sanáveis (artigo 726.º, n.º4 CPC), e só no caso de não
suprimento deve, num segundo despacho, indeferir o requerimento (artigo 726.º, n.º5
CPC)14. O indeferimento liminar imediato é reservado para os casos em que seja
manifesta:
14 Assim, por exemplo, nos casos de representação irregular do exequente, de falta de autorização ou
deliberação que o exequente devesse ter obtido, de falta de constituição de advogado por parte do exequente,
quando obrigatória, ou de falta, insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por parte do mandatário que
tenha proposto a ação executiva (artigos 27.º a 29.º, 34.º, n.º2 e 48.º CPC), tal como também nos de falta de
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apresentação do título executivo, de omissão do requerimento das diligências destinadas a tornar certa,, exigível
ou líquida a obrigação, de falta de alegação ou requerimento de prova dos factos constitutivos da transmissão
do crédito ou do débito e de coligação ou cumulação simples ilegal, impõe-se a utilização do despacho liminar
de aperfeiçoamento, só seguido de indeferimento no caso de, na sua sequência, o vício não ser sanado.
15 O juiz indefere o requerimento executivo quando seja manifesta a falta ou a insuficiência do título executivo
(artigo 726.º. n.º2, alínea a) CPC), escapando a segunda situação ao controlo da secretaria.
ameaçaria. Para tanto, deve alegar e provar os factos que justifiquem o perigo de perda da
garantia patrimonial, já por via do conhecimento que o devedor tome da execução, já em
consequência do tempo que decorra até à penhora. A semelhança com o arresto é grande e
o requisito do periculum in mora idêntico; só a prova do fumus boni iuris é dispensada, visto que
o título executivo já presume a existência do direito exequendo. A dispensa da citação prévia
pode ser requerida relativamente a qualquer executado, incluindo o devedor subsidiário com
benefício da excussão prévia. Dispensada a citação prévia, o executado é citado depois da
penhora, podendo, nos 20 dias subsequentes, opor-se à penhora ou à execução ou a ambas
cumulativamente (artigos 727.º, n.º4 CPC e 856.º, n.º1 e 3 CPC). Se a oposição à execução
improceder, o exequente responderá pelos danos que culposamente cause ao executado, se
não tiver atuado com a prudência normal, além de incorrer em multa e sem prejuízo de
eventual responsabilidade criminal (artigos 727.º, n.º4 e 858.º CPC). Esta norma de
responsabilidade é paralela à do artigo 374.º, n.º1 CPC, relativa ao requerente da providência
cautelar julgada injustificada ou que venha a caducar. Quando ocorra a cumulação sucessiva,
o executado já não é de novo citado (para pagar ou opor-se à execução do segundo título),
mas apenas notificado para o efeito (artigo 728.º, n.º4 CPC).
L – Oposição à execução
Meio: uma vez citado (ou notificado, nos termos do artigo 728.º, n.º4 CPC, em consequência
de cumulação sucessiva), o executado pode opor-se à execução por meio de embargos (artigo
728.º, n.º1 CPC). A oposição do executado visa a extinção da execução, mediante o
reconhecimento da atual inexistência do direito exequendo ou da falta dum pressuposto,
específico ou geral, da ação executiva. Constituindo os embargos de executado uma
verdadeira ação declarativa, que corre por apenso ao processo de execução, nela é possível
ao executado, não só levantar questões de conhecimento oficioso, mas também alegar factos
novos, apresentar novos meios de prova e levantar questões de Direito que estejam na sua
disponibilidade. Como resulta do artigo 787.º CPC, pode também opor-se à execução o
cônjuge do executado, citado nos termos do artigo 786.º, n.º1, alínea a) CPC.
Fundamentos:
1. Na execução da sentença: a nossa lei processual enumera os fundamentos de
oposição à execução de sentença, distinguindo:
a. A sentença dos tribunais estaduais (artigo 729.º CPC): e, no âmbito desta,
dando tratamento especial à sentença homologatória de confissão ou
transação das partes (artigo 729.º, alínea i) CPC);
b. A sentença do tribunal arbitral (artigo 730.º CPC).
A enumeração constante das alíneas a) a h) do artigo 729.º CPC (execução de
sentença dos tribunais estaduais) engloba a falta de pressupostos processuais gerais,
a falta de pressupostos processuais específicos da ação executiva e a inexistência atual
da obrigação exequenda, incluindo a compensação. Algumas observações sobre
aqueles, destes fundamentos, que não foram já anteriormente analisados:
a. Falsidade: verifica-se nos casos indicados no artigo 372.º, n.º2 CC, pode
revestir a modalidade de falsidade ideológica o de falsidade material,
incluindo nesta última a contrafação, e tem por objeto todo o processo
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tem de ser arguida pelo réu (artigo 197.º, n.º1 CPC), de onde resulta
que a só pode ser arguida nos embargos.
Com este vício (falta ou nulidade da citação para a ação declarativa) nada tem
a ver com a falta ou nulidade da citação para a ação executiva, a qual é
fundamento de anulação da execução (artigo 851.º CPC). Tenha-se ainda em
conta o fundamento da revisão do artigo 696.º, alínea e) CPC.
e. Caso julgado: quando, fora do esquema das impugnações, são proferidas
duas decisões sobre a mesma questão,, apenas é eficaz a que primeiro
transitar em julgado (artigo 625.º CPC), com a consequência de ser
inexequível a segunda, pelo que, pedida a execução desta, pode o executado
opor-se. Esta exceção é de conhecimento oficioso (artigo 578.º CPC) e,
quando o processo em que foi proferida a decisão primeiramente transitada
tenha corrido no mesmo tribunal, também o é o facto em que ela se funda
(artigo 412.º, n.º2 CPC).
f. Facto extintivo ou modificativo da obrigação: abrange as várias causas de
extinção das obrigações, designadamente o pagamento, a dação em
cumprimento, a consignação em depósito, a novação, a remissão e a confusão
(artigo 837.º CC e seguintes), bem como aquelas que as modificam
(designadamente por substituição do seu objeto, extinção parcial ou alteração
de garantias), a prescrição e, no que respeita às pretensões reais, as causas de
extinção e de modificação do direito em que se baseiam (incluindo aquelas
de que decorre a transmissão do direito real), em como a usucapião. A
compensação é, no novo Código, autonomizada na alínea h) do artigo. Ao
exigir-se a prova documental destes factos (com a exceção da prescrição) e
sem prejuízo da prova por confissão do exequente, introduz-se um
desfasamento entre o direito substantivo (em que só vigora a limitação do
artigo 395.º C e o direito processual executivo. A alínea g) do artigo 729.º
CPC põe ainda a questão de saber se, ao estatuir, por respeito pelo caso
julgado, que o facto extintivo ou modificativo há de ser posterior ao
encerramento da discussão no processo de declaração – ou conhecido depois
dele: superveniência subjetiva –, ela se contenta, no caso das exceções sem
sentido próprio, com a ocorrência, ao tempo, dos respetivos pressupostos ou
exige que também até então tenha tido lugar a declaração de querer fazer
valer a exceção, dado que tal declaração constitui um pressuposto do efeito
jurídico dela decorrente. Da consideração do lugar paralelo do artigo 860.º
CPC (invocanbilidade de benfeitorias na ação executiva para entrega de coisa
certa) retira-se, tido em conta o n.º3 que lhe foi aditado na revisão do Código,
que a exceção em sentido próprio não pode ser feita valer na oposição
quando se baseie em pressupostos já verificados à data do encerramento da
discussão. Não obstante a alínea g) não referir os factos impeditivos, devem
entender-se sujeitos ao mesmo regime (da invocabilidade em oposição,
quando os respetivos pressupostos se tenham verificado já depois de
encerada a discussão da causa) aqueles que integrem exceções em sentido
próprio.
g. Compensação: a nova qualificação processual que se pretendeu dar à
compensação no artigo 266.º, n.º2, alínea e) CPC levou à sua autonomização
como fundamento de embargos de executado. É que, excedendo a
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artigo 569.º, n.º2 CPC é excecional em face da norma geral do artigo 139.º, n.º3 CPC
(extinção da faculdade de praticar o ato com o termo do prazo perentório),
aparecendo ligada ao estabelecimento do efeito cominatório decorrente da falta de
constestação, que, como vimos, a omissão de embargar não tem. Ora a aplicação do
artigo 569.º, n.º2 CPC ao prazo para a oposição implicaria que os atos executivos,
máxime a penhora, tivessem de aguardar o termo do prazo para a oposição do
executado citado em último lugar, em detrimento do exequente em contradição com
o caráter individualizado das providências executivas. Por isso, defendemos, perante
as normas originárias do CPC de 1961, a sua inaplicabilidade. A revisão do Código
consagrou esta exclusão, em norma que agora se encontra no artigo 728.º, n.º3 CPC.
5. Efeitos da pendência: deduzida a oposição à execução, esta não é, em regra,
suspensa (artigo 733.º, n.º1 CPC), mas nem o exequente nem outro credor pode ser
pago, na pendência dela, sem prestar caução (artigo 733.º, n.º4 CPC). Há, no entanto,
três possibilidade de o embargante conseguir a suspensão da execução (alíneas a), b)
e c) do artigo 733.º, n.º1 CPC):
a. De alcance geral, consiste na prestação de caução: se o embargante
presta caução, o juiz deve determinar a suspensão da execução. Não é
estabelecido prazo para a prestação de caução, devendo entender-se que ela
pode ter lugar a todo o tempo e não apenas com a petição inicial de oposição,
pois não se justificaria qualquer restrição temporal. A caução é prestada nos
termos do incidente referido no artigo 915.º CPC e regulado no artigo 913.º
CPC.
b. Circunscrita às ações fundadas em documento particular sem a
assinatura reconhecida, tem lugar quando o embargante alegue que a
assinatura não é genuína: quando a execução se funde em documento
escrito particular cuja assinatura não tenha sido notarialmente reconhecida e
o executado alegue, em oposição à execução, que não o assinou o pretenso
devedor, o juiz, ouvido o exequente, pode suspender a execução se for junto
documento que indicie que a alegação do opoente é verdadeira. Neste caso,
a suspensão não é automática: o juiz só suspenderá a execução, dispensando
a prestação de caução se, ouvido o embargado, se convencer da séria
probabilidade de a assinatura não ser do devedor;
c. Tem lugar quando o embargante impugne a exigibilidade ou a
liquidação da obrigação: também neste caso, onde é impugnada a
exigibilidade da obrigação exequenda ou contestada a liquidação feita pelo
exequente, o que o executado só pode fazer por embargos pode o juiz,
ouvido o embargado, suspender a execução com dispensa de prestação de
caução.
De acordo com o artigo 733.º, n.º3 CPC, cessa a suspensão se, durante mais de 30
dias, o embargante mantiver, com negligência, o processo de embargos parado. A
suspensão mantém-se na fase de recurso, tenha a oposição sido julgada procedente
ou improcedente. Com a decisão definitiva sobre a oposição, a execução extingue-se,
quando a oposição proceda (artigo 732.º, n.º4 CPC), ou prossegue, quando
improceda, os mesmos efeitos se produzindo se não tiver havido suspensão.
6. Tramitação: sabemos já que os embargos à execução constituem uma verdadeira
ação declarativa, que corre por apenso ao processo de execução. Iniciam-se com uma
petição inicial, que terá de ser articulada em obediência à norma do artigo 147.º, n.º2
CPC. Uma vez ela autuada, o processo é concluso ao juiz para proferir despacho
liminar. O despacho deve ser de indeferimento:
a. Se os embargos tiverem sido deduzidos fora do prazo (artigo 732.º, n.º1,
alínea a) CPC);
b. Se for invocado fundamento para além dos admitidos pelos artigos
729.º a 731.º CPC (artigo 732.º, n.º1, alínea b) CPC);
c. Se for manifesta a improcedência da oposição do executado (artigos
732.º, n.º1, alínea c) CPC).
Deve sê-lo também se ocorrer, nos embargos de executado, exceção dilatória
insuprível de que o juiz deva conhecer oficiosamente (artigo 590.º, n.º1 CPC).
Proferido despacho de citação, o exequente é notificado para contestar no prazo de
20 dias, sem mais articulados (artigo 732.º, n.º2 CPC). Não contestando o exequente,
consideram-se admitidos os factos alegados na petição de embargos, aplicando-se o
artigo 567.º, n.º1 CPC (revelia do réu), com as exceções do artigo 568.º CPC; mas,
porque, diferentemente do que acontece em processo declarativo comum, o
exequente que não conteste já assumiu a posição de vir a juízo, propondo a ação
executiva, não são dados com os expressamente alegados no requerimento inicial da
execução (artigo 732.º, n.º3 CPC). Terminada a fase dos articulados, aplicam-se aos
termos subsequentes do processo as normas do processo comum de declaração
(artigo 732.º, n.º2 CPC). É admissível a suspensão da instância dos embargos de
executado por ocorrência de causa prejudicial (artigo 272.º, n.º1 CPC).
M – Objeto da penhora
recurso do despacho que o juiz vier a proferir, o incidente fica por aqui e o exequente
só em ação separada poderá demonstrar a existência de outros bens da herança para
além dos inventariados;
2. Ou a aceitação foi pura e simples e o executado tem, em oposição à penhora,
de alegar e provar que os bens penhorados não provieram da herança e que
dela não recebeu mais bens do que aqueles que indicou, ou, se recebeu mais,
que os outros foram todos aplicados em solver encargos dela (artigo 744.º, n.º3
CPC).
Outros patrimónios autónomos há que implicam semelhante limitação da responsabilidade
do proprietário, não podendo credores constituídos por via da prossecução dos respetivos
fins pagar-se por bens do património geral do respetivo titular. Assim acontece no caso do
estabelecimento individual de responsabilidade limitada.
Extensão da penhora:
1. Âmbito inicial: de acordo com o artigo 758.º, n.º1 CPC (integrado na secção da
penhora de imóveis, mas aplicável à penhora de móveis e de direitos pelos artigos
772.º e 783.º CPC), a penhora abrange as partes integrantes (se se tratar dum bem
imóvel: artigo 204.º, n.º3 CC) e os frutos, naturais ou civis (artigo 212.º, n.º2 CC), do
bem penhorado. Mas a mesma disposição legal admite que as partes integrantes e os
frutos sejam expressamente excluídos no ato da penhora e igualmente os exclui da
penhora quando estão sujeitos a algum privilégio. Tratando-se de frutos naturais ou
de partes integrantes, só o proprietário (ou o titular de direito real menor de gozo
que o consinta) tem a faculdade de operar a separação jurídica da coisa móvel.
Embora esta pressuponha a sua desafetação (separação material definitiva) do prédio,
é admissível, antes dela, um ato de alienação autónoma, cujo efeito translativo apenas
se produz com a separação (artigo 408.º, n.º2 CC), sem prejuízo do direito a
indemnização do adquirente condicional no caso de o transmitente não a efetuar.
Paralelamente, a exclusão da penhora tem também em vista a futura desafetação e,
produzindo o efeito imediato de restrição do objeto da penhora, só virá a restringir
identicamente o objeto da venda executiva se, entretanto, a separação material tiver
lugar. Assim, só pode quanto a eles, haver exclusão da penhora se o executado
(proprietário ou titular de outro direito real de gozo) nela consentir: designadamente,
tratando-se de partes integrantes, só o proprietário as pode materialmente separar,
dada a perda de valor (delas e do imóvel) decorrente da separação. Mas, no caso dos
frutos pendentes, que são suscetíveis de penhora autónoma quando não falte mais
de um mês para a época normal da colheita, a sua separação material do bem que os
produz, quando tenham sido excluídos da penhora, pode ter lugar sem intervenção
do proprietário, na época em que normalmente devam ser colhidos, de onde se retira
que também podem ser excluídos da penhora. Estando em causa os frutos civis, cuja
autonomização como objeto duma penhora separada não põe os mesmos problemas,
a sua exclusão da penhora é admissível, sem restrições, sem prejuízo da integração
dos frutos civis futuros no objeto da venda subsequente. O termo privilégio está, no
artigo 758.º, n.º1 CPC, usado num sentido amplo, em que se incluem, não só o
privilégio creditório sobre frutos (naturais ou civis), torna claro que são excluídos da
administração do depositário e que são eficazes os atos de disposição do direito sobre
N – A fase da penhora
Atos preparatórios:
1. Descoberta de bens: antes da reforma da ação executiva, cabia às partes (o
executado, em primeiro lugar; o exequente, subsidiariamente; desde logo o exequente,
no processo sumário) nomear os bens a penhorar, ao que se seguia um despacho
judicial a ordenar a penhora (ou a recusá-la, sendo ilegal ou excessiva). No Direito
oriundo da reforma, deixou de haver nomeação e despacho. No requerimento
executivo, é dada indicação dos bens do executado que o exequente conheça (artigo
724.º, n.º1, alínea i) CPC), com as precisões que lhe seja possível fornecer (artigo
724.º, n.º3 CPC, quanto à penhora de direitos), indicação que é dada na medida do
possível. O agente de execução não fica vinculado a penhorar os bens indicados:
deve, em princípio, respeitar a indicação que lhe é feita, mas só se tal não importar a
inobservância da cláusula de proporcionalidade e adequação que lhe cabe, em
primeira linha, respeitar e que pode levar a que outros bens sejam penhorados (artigo
753.º, n.º3 e 751.º, n.º1 a 3 CPC). Assim:
a. A apreensão terá em conta o montante da dívida exequenda e o das
despesas previsíveis da execução, a eles se devendo adequar tanto
quanto possível, o valor pecuniário estimado como realizável com a
alienação dos bens a apreender;
b. Devem ser penhorados os bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil
realização;
16Na falta de residência habitual, já não parece que a residência ocasional ou, muito menos, a casa onde a pessoa
se encontre (artigo 82.º, n.º2 CC) preencha o requisito do artigo 757.º, m.º4 CPC, pelo que não será para elas
necessário despacho judicial.
17Por exemplo, é penhorável a posição do promitente comprador fundada em contrato com eficácia real, bem
como a do titular de direito de preferência de origem legal ou fundado em contrato a que as partes tenham
atribuído eficácia real. É também penhorável, na pendência da condição, o direito que seja objeto de negócio
condicional, cuja alienação, de eficácia subordinada à do próprio negócio, a lei expressamente admite (artigo
274.º, n.º1 CC); está neste caso a expectativa de aquisição de bem vendido com reserva de propriedade.
Da leitura das disposições legais por exclusão de partes: ela tem lugar quando não
está em causa o direito de propriedade plena e exclusiva do executado sobre coisa
corpórea nem um direito real menor que possa acarretar a posse efetiva e exclusiva
de coisa (corpórea) móvel ou imóvel. Esta tripartição legal (a., b. e c.) deve-se mais
a considerações práticas de regime, designadamente atinentes ao modo de realização
da penhora, do que a uma tripartição rigorosa. Não obstante a heterogeneidade da
categoria da penhora de direitos, poder-se-á falar de três diferentes formas básicas de
penhora, embora, com a reforma da ação executiva, tenham deixado de corresponder
inteiramente aos três indicados tipos de objeto da penhora.
O depositário: a penhora implica, em regra, um depositário. Este é:
1. Na penhora de coisas imóveis e, por aplicação subsidiária, na de coisas
móveis sujeitas a registo e na de direitos (artigos 772.º e 783.º CPC): o agente
de execução ou, quando as diligências de execução são realizadas por oficial de justiça,
pessoa por este designada (artigo 756.º, n.º1 CPC);
2. Na penhora de coisas móveis não sujeitas a registo (artigo 764.º, n.º1 CPC): o
agente de execução que efetua a diligência;
3. Na penhora de estabelecimento comercial (artigo 782.º, n.º4 CPC): pessoa
designada pelo juiz, quando estiver paralisada ou deva ser suspensa a atividade do
estabelecimento (artigo 784.º, n.º4 CPC).
Além dos deveres gerais do depositário (artigo 1187.º, 1188.º, 1191.º e 1195.º CC), cabe-lhe
administrar os bens ou direitos penhorados, com a diligência dum bom pai de família, e
prestar contas da sua administração (artigo 760.º, n.º1 CPC). Através dele, é exercida a posse
do tribunal, sempre que a esta haja lugar. Mas há casos em que não há lugar, por desnecessária,
à figura do depositário. Assim acontece, desde logo, no caso da penhora de direito de crédito.
Se o devedor cumprir a obrigação, relativamente à prestação principal e às prestações
acessórias (máxime juros) porventura devidas, fará depósito à ordem do agente de execução
ou, na sua falta, da secretaria, ou entregará a coisa ao agente de execução ou à secretaria, que
funcionará como depositário, conforme os casos (artigo 777.º, n.º1 CPC). Se não cumprir,
caberá ao exequente (ou ao adquirente do direito pela venda) executar o crédito (artigo 777.º,
n.º3 CPC). Excetuam-se apenas os casos em que haja de ser apreendida uma coisa dada em
garantia, como acontece, em regra, com o penhor (artigo 773.º, n.º7 CPC). Tão-pouco há
lugar a depositário no caso de penhora de direito ou expectativas de aquisição, quando não
haja lugar à apreensão complementar da coisa sobre que incide, e no de penhora de (outro)
direito potestativo, bem como no de penhora de automóvel não apreendido. Quanto aos
casos de penhora de direito a bem ou património indiviso, de quota em sociedade comercial
ou de direito de habitação periódica, podem implicar a constituição de depositário; assim
será, pelo menos, sempre que o direito penhorado careça de ser administrado (artigo 760.º,
n.º1 CPC). Quando não seja o agente de execução, o depositário pode ser removido se não
cumprir os deveres do seu cargo (artigo 761.º, n.º1 CPC). Sendo depositário o agente de
execução, a violação dos seus deveres constitui atuação, dolosa ou negligente, sancionada
nos termos do artigo 720.º, n.º4 CPCP e podendo levar à sua destituição, pelo órgão com
competência disciplinar, para todos os efeitos do processo (e não apenas para os decorrentes
do depósito).
O registo da penhora:
1. Quando tem lugar e para quê: já sabemos que a penhora de bens sujeitos a registo
se efetua, em regra, com a comunicação à conservatória competente. É o que
acontece nos casos de:
a. Imóveis ou direitos reais sobre imóveis (artigos 755.º, n.º1, 781.º, nº.5,
783.º CPC e 2.º, n.º1, alíneas a) e n) CRPr);
b. Móveis sujeitos a registo ou direitos reais sobre eles (artigos 768.º, n.º1,
783.º CPC, artigo 5.º, n.º1, alínea f) Registo da Propriedade Automóvel,
artigo 4.º, alínea f) Decreto-Lei n.º 42.644, 14 novembro 1959, e artigo
6.º, alínea i) dos Estatutos do Instituto Nacional de Aviação Civil,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º133/98, 15 maio);
c. Quota do contitular de direito que dê lugar a registo (artigos 781.º, n.º1
e 783.º CPC);
d. Quota ou direito sobre quota de sociedade comercial (artigos 781.º,
n.º6 e 3.º, alínea f) CRCom);
e. Direito ao lucro e à quota de liquidação de sociedade em nome coletivo
ou de parte social de sócio comanditado de sociedade em comandita
simples (artigo 781.º, n.º6, por analogia, ou artigo 783.º CPC e 3.º,
alínea e) CRCom);
f. Direito de autor (artigos 783.º CPC e 215.º, n.º1, alínea d) CDA);
g. Direito a patente, modelo, desenho ou marca (artigos 783.º CPC e 31.º
CPI).
Mas outras vezes, o registo da penhora constitui um ato a esta subsequente, a efetuar
com base em certidão do auto que atesta a sua realização. É o que acontece nos casos
de:
a. Direito de crédito com garantia real sujeita a registo (hipoteca,
consignação de rendimentos e penhor de crédito garantido por
hipoteca: artigos 773.º, n.º7 CPC, 2.º, n.º1, alínea o) CRPr e 5.º, n.º1,
alínea e) Registo de Propriedade Automóvel);
b. Direito ou expectativa real de aquisição de bem sujeito a registo
(artigos 778.º, n.º1 e, por analogia, 773.º, n.º7 CPC);
c. Bens ou direitos sujeitos a registo que integrem o estabelecimento
comercial (artigo 782.º, n.º6 CPC).
No segundo grupo de casos, o registo é obrigatório, constituindo ónus do exequente.
Com efeito, não só é condição da eficácia do ato da penhora perante terceiros, nos
termos gerais, como é também condição do prosseguimento do processo de
execução, o qual só tem lugar após a junção do certificado do registo da penhora e
da certidão dos ónus que incidam sobre os bens por ela abrangidos (artigo 755.º, nº.2
CPC).
2. Inscrição em nome de terceiro: pode acontecer que o bem penhorado esteja
inscrito em nome de terceiro. Tem então aplicação o artigo 119.º CRPr, que ordena
a citação do titular da inscrição registada para, no prazo de 10 dias, vir declarar se o
bem penhorado lhe pertence, sob pena de a execução prosseguir. Se o titular da
inscrição declarar que o bem lhe pertence, o exequente, se quiser manter a penhora,
instaurará contra ele uma ação declarativa de propriedade, autónoma relativamente à
execução, que fica, entretanto, suspensa quanto ao bem em causa, sem prejuízo de o
exequente poder desistir da penhora ou requerer a sua conversão em penhora de
direito litigioso.
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Levantamento da penhora:
1. Em geral: efetuada a penhora, ela irá, em princípio, subsistir até à venda do bem
penhorado. Pode, porém, extinguir-se por causa diferente da venda executiva, quer
essa causa implique a realização do fim da execução, quer não. Então, a penhora é
levantada. É o que acontece:
a. Quando ocorra uma causa de extinção da execução, diferente do
pagamento posterior à venda executiva;
b. Quando seja julgada procedente a oposição à penhora;
c. Quando o exequente desista da penhora, nos casos em que lhe é
permitida a substituição por outro bem penhorado (artigo 751.º, n.º4,
alínea a) a e) CPC);
d. No esquema dos efeitos legais do acordo do pagamento em prestações;
e. Se a execução estiver parada durante seis meses, por negligência que
não seja imputável ao executado, e este requerer o levantamento
(artigo 763.º, n.º1 CPC);
f. No caso de desaparecimento do bem penhorado.
Determinado o levantamento da penhora, procede-se ao cancelamento do respetivo
registo, se a ele tiver havido lugar (artigo 101.º, n.º2, alínea g) CRPr).
2. Desaparecimento do bem penhorado: se ocorrer o desaparecimento do bem
penhorado, das duas uma:
a. Ou há lugar a indemnização e a penhora transfere-se para o bem sub-
rogado (crédito ou quantia paga), nos termos do artigo 823.º CC;
b. Ou não há lugar a indemnização e a penhora extingue-se, por falta de
objeto (para o caos análogo da hipoteca: artigo 730.º, alínea c) CC).
3. Paragem da execução:
a. Anteriormente à reforma da reforma: a penhora era levantada, a
requerimento do executado e mediante despacho judicial, quando a execução
estivesse parada nos seis meses anteriores ao requerimento, por negligência
do exequente. Tal pressupunha que este tivesse o ónus de impulso da
execução, isto é, que uma norma especial, tal como previsto no artigo 6.º,
n.º1 CPC, o onerasse com a prática dum ato de que dependesse o
prosseguimento da ação executiva, entendendo-se que não podia o exequente
perder a garantia que lhe é conferida pela penhora em consequência dum ato
que não lhe fosse imputável.
b. Com a reforma da reforma: passou, porém, o Código a determinar que o
levantamento da penhora tenha lugar (sempre a pedido do executado,
dirigido agora ao agente de execução) em qualquer caso em que no processo
não tenha sido efetuada nenhuma diligência para a realização do pagamento
nos seis meses anteriores ao requerimento do executado, por ato ou omissão
que não seja da sua responsabilidade. A norma passou, tal e qual, do artigo
847.º, n.º1 CPC de 1961 para o atual artigo 863.º, n.º1 CPC. Prescinde-se
assim, hoje, do conceito de ónus, fazendo recair na esfera jurídica do
exequente o efeito, não só de omissão por ele praticada, caso em que pagará
custas (artigo 763.º, n.º3 CPC), mas também de omissão que se deva ao
agente de execução ou ao tribunal (juiz, oficial de justiça ou secretaria).
P – Oposição à penhora
Meios de oposição: o nosso sistema jurídico concede quatro meios de reagir contra uma
penhora ilegal:
1. Oposição por simples requerimento: penhorada uma coisa móvel encontrada
em poder do executado, a lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz do
processo, prova documental inequívoca de que ela pertence a terceiro, mediante
simples requerimento acompanhado dessa prova, presumindo até lá que a coisa
pertence ao executado (artigo 764.º, n.º3 CPC). Esta disposição surgiu em
consequência da supressão do protesto no ato da penhora, de que anteriormente
tratava o artigo 832.º CPC 1961. Meio específico de oposição que a lei apenas
facultava ao executado (ou a alguém em seu nome), o protesto no ato da penhora
esgotava o seu âmbito de aplicação no domínio da impenhorabilidade subjetiva
(pertença dos bens a terceiro ou, por interpretação extensiva, ao executado e a
terceiro: compropriedade, desdobramento da propriedade plena bem comum do
casal). Feita, no ato da penhora, o funcionário encarregado da penhora procedia a
uma averiguação sumária, após o que, se fossem apresentados documentos que
claramente provassem a declaração, deixaria de a efetuar, sem prejuízo do direito de
decisão final do juiz; mas, sendo a prova apresentada duvidosa, a penhora era
efetuada, decidindo depois o juiz. Pressupunha-se que a questão da penhorabilidade
subjetiva do bem não tinha sido suscitada no processo antes do despacho ordinatório
da penhora, pois, assim sendo, o funcionário judicial não podia sobrepor-se ao juiz.
Suprimindo o meio do protesto no ato da penhora, a lei processual presume que
pertencem ao executado os bens móveis encontrados em seu poder: tal como para
os efeitos do artigo 747.º CPC, relativos aos bens encontrados em poder de terceiro,
entende-se estarem em poder do executado todos aqueles sobre os quais ele exerce
posse ou detenção, ou pode exercê-la por se encontrarem na sua esfera de controlo,
designadamente em imóvel que lhe pertença ou que em nome próprio utilize. Para a
ilisão desta presunção, com as consequências de a penhora efetuada não se manter e
a coisa ser restituída, é exigido um documento do qual resulte inequivocamente que
os bens pertencem a terceiro, ou que terceiro tem sobre eles direito real menor de
gozo que implique a sua usufruição (caso em que o objeto da penhora deve ser
reduzido, de modo a abranger apenas o direito do executado). A apresentação de
documento autêntico com data anterior à da penhora, ou de documento particular
que tenha sido autenticado, reconhecido ou apresentado em serviço público (que
nele tenha atestado a apresentação) em data anterior à da penhora, é normalmente
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suficiente para o efeito, se não houver motivo sério para duvidar da sua genuinidade
ou da validade do ato documentado. A ilisão da presunção por este meio expedito só
pode ter lugar em casos em que se torne manifesto o direito do terceiro. A ilisão faz-
se perante o juiz, dado a decisão a proferir constituir exercício da função jurisdicional.
Tal implica que o levantamento, ou a redução, da penhora não seja ordenado, salvo
caso de manifesta desnecessidade, sem a prévia audição do exequente, em
observância do princípio do contraditório (artigo 3.º, n.º3 CPC). Não ordenando o
juiz o levantamento da penhora, não fica precludido o direito de o terceiro deduzir
oposição por embargos, mesmo quando tenha sido ele a requerer o levantamento. A
oposição à penhora por simples requerimento é hipotizável em outros casos. A
questão da sua admissibilidade vem de muito antes da reforma da ação executiva,
tendo havido inclusivamente quem entendesse que o executado podia sempre reagir
por esse meio a uma penhora ilegal, sem prejuízo de seguidamente, quando não
cumprido o seu levantamento, poder ainda recorrer aos embargos de terceiro. Eu
próprio sustentei nesta obra que, quer o exequente, quer o executado, podiam, entre
o momento da nomeação do bem à penhora (pela contraparte) e do despacho que a
ordenasse, introduzir no processo, por simples requerimento, elementos que
possibilitassem ao juiz decidir da penhorabilidade ou impenhorabilidade (subjetiva
ou objetiva) do bem nomeado; mas que, fora o caso em que o juiz não tivesse
conhecido de questão concreta de penhorabilidade que se levantasse, apesar de o
dever ter feito, por o processo conter os elementos suficientes para o efeito (caso
este que era de nulidade e dava lugar, consoante os casos, a recurso ou reclamação:
atual artigo 615.º, n.º4 CPC), o uso do requerimento, após o despacho ordinatório
da penhora, só era admissível para o exequente, quando a nomeação tivesse sido feita
pelo executado. Perante o disposto no atual artigo 723.º, n.º1, alínea c) e d) CPC, é
indubitável que, na falta de outro meio de impugnação da penhorabilidade do bem
apreendido ou a apreender, o exequente pode suscitar perante o juiz a questão da
impenhorabilidade. Por outro lado, indicado pelo exequente, na petição inicial,
determinado bem como suscetível de penhora, pode o executado, antes mesmo da
sua apreensão. Nestes casos, o requerente levanta, em requerimento, a questão da
impenhorabilidade, carreando para o processo os elementos indispensáveis à sua
verificação e oferecendo a prova para tanto necessária. Ouvida a contraparte, essa
prova, é seguidamente produzida, juntamente com a que esta ofereça, decidindo o
juiz em conformidade. Restam ainda os casos em que a lei admite o requerimento
(artigos 744.º, n.º2 CPC; e 738.º, n.º6 CPC, quando o requerimento seja apresentado
depois da penhora).
2. Incidente de oposição à penhora: meio de oposição privativo do executado (e
do seu cônjuge, por via do disposto no artigo 787.º, n.º1 CPC) constitui o incidente
de oposição à penhora. Trata-se, desta vez, de casos de impenhorabilidade objetiva,
visto ser pressuposto que os bens penhorados pertencem ao executado. Três são as
situações que, segundo o artigo 784.º CPC, podem fundar a oposição do executado
à penhora:
a. Inadmissibilidade da penhora dos bens do executado concretamente
apreendidos ou da extensão com que ela foi realizada;
b. Imediata penhora de bens do executado que só subsidiariamente
respondam pela dívida exequenda;
direito real menor de que não é titular, mas embargará procedentemente para
evitar a penhora do seu direito. Para que a ação seja, pois, decidida no plano
da titularidade do direito de fundo, e não no da posse, é necessário que esse
direito seja invocado pelo embargante na petição inicial ou pelo embargado
na contestação, sem prejuízo, porém, da cognoscibilidade oficiosa da exceção
de propriedade quando sejam alegados e provados os factos em que ela se
baseia.
c. Embargos do cônjuge do executado: os embargos de terceiro são,
portanto, o meio específico de reação contra a penhora por parte de terceiros,
baseando-se na impenhorabilidade subjetiva dos bens destes. Mas terceiro
pode ser o cônjuge do executado. Permite-lhe expressamente o artigo 343.º
CPC, quando tenha essa posição, a dedução de embargos para defesa dos
seus direitos relativos aos bens próprios, bem como dos relativos aos bens
comuns que indevidamente hajam sido atingidos pela penhora. Ao
embargante cabe provar a natureza (própria ou comum) dos bens
penhorados. Tratando-se de bens próprios, a penhora não pode subsistir,
uma vez que, mesmo quando respondam pela dívida segundo o direito
substantivo, não podiam ser apreendidos sem que o seu proprietário fosse
executado. Tratando-se de bens comuns, em dois casos não pode o cônjuge
do executado embargar:
i. Quando tenha sido citado nos termos do artigo 740.º, n.º1 CPC e o executado
não tenha bens próprios;
ii. Quando a penhora incida sobre bens levados para o casal pelo executado ou por
ele posteriormente adquiridos a título gratuito e/ou sobre os rendimentos de uns e
outros desses bens, ou sobre bens sub-rogados no lugar deles, ou ainda sobre o
produto do trabalho e os direitos de autor do executado, dado que estes bens, ainda
que comuns, respondem ao mesmo tempo que os bens próprios (artigo 1696.º,
n.º2 CC). Mas os embargos já são admissíveis quando, por haver bens
próprios do executado, não esteja verificado o condicionalismo em
que atua a responsabilidade subsidiária, bem como quando não tenha
sido feita a citação do cônjuge nos termos do artigo 740.º, n.º1 CPC.
d. Tramitação: anteriormente qualificados como ação (possessória) e, após a
revisão do Código, como incidente (de intervenção de terceiro) da instância
executiva, os embargos de terceiro constituem, quando deduzidos contra a
penhora, uma tramitação declarativa dependente do processo executivo e que
corre por apenso a este (artigo 344.º, n.º1 CPC). Devem ser deduzidos no
prazo de 30 dias subsequentes à penhora, ou ao possuidor conhecimento
desta pelo embargante (artigo 344.º, n.º2 CPC), podendo, no entanto, sê-lo
ainda antes da penhora, desde que depois do despacho que a ordena (artigo
350.º CPC); nunca, porém, depois da venda ou adjudicação dos bens (artigo
344.º, n.º2 CPC). Devem ser deduzidos contra o exequente e o executado
(artigo 348.º, n.º1 CPC). Têm a particularidade de se desdobrarem em duas
fases:
i. Uma fase introdutória: tem por finalidade a emissão, pelo tribunal, dum
juízo de admissibilidade. O embargante deve, na petição inicial,
oferecer prova sumária dos factos em que funda a sua pretensão
Q – Convocações e concurso
Convocações:
1. Em geral: feita a penhora, são convocados para a execução os credores do executado
e, em certos casos, o seu cônjuge (artigo 786.º, n.º1 a 5 CPC). Por estas convocações,
vai dar-se a possibilidade de intervenção na ação executiva a outras pessoas para além
do exequente e do executado. Vimos já que essas pessoas convocadas, uma vez que
intervenham no processo, passam a desempenhar, ao lado do exequente ou do
aproveite ao exequente, sem que dela possa beneficiar ou por ela possa
ser prejudicado esse outro credor. Assim, devendo o credor pignoratício
ser pago antes do credor privilegiado (artigo 749.º CC), a questão só se porá
se algo sobrar depois dele pago, aplicando-se a norma à distribuição do
remanescente; e, devendo o credor hipotecário, naqueles casos em que tal
não importe inconstitucionalidade, ser pago depois do credor privilegiado, há
que apurar o remanescente do produto da venda hipotizando o pagamento
integral ao credor hipotecário, fazer, na base desse remanescente, o
apuramento da parte devida ao exequente nos termos da norma do n.º3 e
seguidamente deduzir na parte do credor privilegiado a parte assim atribuída
ao exequente.
Quer a norma do artigo 788.º, n.º4 CPC, quer a do artigo 796.º, n.º3 CPC, conhecem
a restrição decorrente da inadmissibilidade, por inconstitucionalidade, dos privilégios
creditórios imobiliários gerais.
3. O título executivo: é aplicável tudo quanto se disse sobre o título executivo
enquanto pressuposto da ação executiva. Mas, podendo um credor com garantia real
sobre o bem penhorado não dispor ainda de título no termo do prazo para a
reclamação, é-lhe facultado requerer, dentro deste prazo, que a graduação dos
créditos aguarde a sua obtenção (artigo 792.º, n.º1 CPC), em ação já pendente ou a
propor no prazo de 20 dias (artigo 792.º, n.º7, alínea a) CPC), sem prejuízo de o
processo executivo prosseguir até à venda ou adjudicação dos bens penhorados e de
se fazer entretanto a verificação dos restantes créditos (artigo 792.º, n.º6 CPC). É,
porém, ainda possibilitada a formação dum título executivo judicial impróprio, que
evitará a propositura da ação: o executado é notificado para, no prazo de 10 dias, se
pronunciar sobre a existência do crédito invocado (artigo 792.º, n.º2 CPC) e, se o
reconhecer ou nada disser (a menos, neste caso, que esteja pendente ação declarativa
para a sua apreciação), considera-se formado o título executivo, sem prejuízo de o
crédito poder ser impugnado pelo exequente ou restantes credores (artigo 792.º, n.º3
CPC). Havendo que propor ação (por o executado ter negado a existência do crédito),
nela intervêm, como partes em litisconsórcio necessário, o exequente e os credores
reclamantes com garantia real sobre o mesmo bem (artigo 792.º, n.º5 CPC). Constitui
ónus do credor provar que propôs a ação e ónus do exequente, quando a ação esteja
já pendente à data do requerimento, provar que o credor nela não requereu a
intervenção principal do exequente e dos restantes credores. Cabe também ao
exequente provar a negligência do credor em promover os termos da ação, com a
consequência de esta estar parada durante 30 dias; no final, cabe ao credor provar,
em 15 dias, a obtenção de decisão favorável e ao exequente que foi proferida decisão
desfavorável (artigo 792.º, n.º7 CPC). Ao possibilitar a formação do título executivo
judicial impróprio, a reforma da ação executiva simplificou o processo conducente à
obtenção do título. Outra solução, que radicalmente suprimiria a necessidade da ação
autónoma, consistiria em dispensar o título executivo, reservando a apreciação da
existência do crédito para o apenso de verificação e graduação.
4. A certeza da obrigação: se a obrigação do credor não for qualitativamente
determinada, ele lançará mão dos meios que o exequente tem à sua disposição para
a tornar certa (artigo 788.º, n.º7 CPC). Quando a escolha não dependa do credor e
este não torne certa a obrigação dentro do prazo que tem para reclamar, a dedução
assegurada pela ação executiva e altera, por forma não transparente, a base
em que assenta a constituição das garantias especiais, razão esta pela qual
alguns privilégios creditórios gerais foram declarados inconstitucionais, com
força obrigatória geral.
2. Formação de caso julgado: tal como relativamente às outras ações declarativas em
dependência funcional da ação executiva, também em face da ação de verificação e
graduação dos créditos se coloca a questão da eficácia extraprocessual da sentença
nela proferida. Mas, diversamente do que acontece nos embargos de terceiros, nos
embargos de executado, a ação de verificação e graduação dos créditos não oferece
ao devedor garantias idênticas ou equiparáveis às da ação declarativa comum. Nela
vigora o efeito cominatório pleno, que a revisão do Código aboliu no âmbito do
processo declarativo comum, mesmo quando o executado, não pessoalmente
notificado do despacho que admita as reclamações (designadamente, por se verificar
o condicionalismo do artigo 240.º CPC), tenha sido citado editalmente para a
execução. O reconhecimento do crédito não impugnado tem assim lugar, ainda que
os factos alegados pelo reclamante não permitam essa conclusão e que o executado
não tenha tido efetivo conhecimento da ação. Por outro lado, se esta constatação
levará a defender que o caso julgado material só se produz na ação de verificação e
graduação de créditos quando o executado nela tenha intervenção efetiva ou quando
para ela tenha sido pessoalmente notificado e todos os créditos sejam impugnados
(pelo exequente, por outro credor reclamante ou pelo cônjuge do executado), a
consideração de que, em qualquer caso, o objeto da ação de verificação e graduação
não é tanto a pretensão de reconhecimento do direito de crédito como a de
reconhecimento do direito real que o garante relega o reconhecimento do crédito
para o campo dos pressupostos da decisão, como tal não abrangido pelo caso julgado.
Assim se explica que, apesar de expressamente reconhecer a força de caso julgado,
nos termos gerais, às sentenças de mérito proferidas nos embargos de executado
(artigo 732.º, n.º5 CPC) e nos embargos de terceiro (artigo 349.º CPC), o Código
nada diga sobre a sentença de verificação e graduação de créditos. O caso julgado
produz-se, pois, apenas quanto ao reconhecimento do direito real de garantia, ficando
por ele reconhecido o crédito reclamado só na estrita medida em que funda a
existência atual desse direito real. Verificado o pressuposto da intervenção do
executado na ação, o caso julgado forma-se quanto à graduação, mas não quanto à
verificação dos créditos.
3. Estado de insolvência do executado: se ocorrer a situação de insolvência do
executado (artigo 3.º CIRE) e for, em consequência, requerida, no respetivo processo
especial, a recuperação de empresa ou a insolvência, pode qualquer credor requerer
a suspensão da execução, a fim de impedir que nela se façam os pagamentos (artigo
793.º CPC). No processo de insolvência o concurso é universal, nele reclamando
também pagamento os credores comuns do insolvente. Sabemos já que, decretada a
insolvência, cessa a preferência concedida pela penhora.
R – Venda executiva
Modalidades:
1. Quais são: uma vez os bens penhorados, pode a sua venda não dever esperar o
momento normal para ser realizada, sendo então feita antecipadamente (artigo 814.º
CPC). Tal pode acontecer por os bens estarem sujeitos a deterioração ou depreciação
ou por haver manifesta vantagem na antecipação da venda. Cabe então ao juiz
autorizar a venda antecipada, que é efetuada pelo depositário ou, quando este seja o
executado, pelo agente de execução, em ambos os casos por negociação particular
(artigo 828.º, alínea c) CPC). Fora estes casos excecionais, as diligências para a venda
dos bens só se iniciam com o termo do prazo para as reclamações de créditos.
Terminado o prazo para as reclamações de créditos, a execução prossegue, sem
prejuízo de correr paralelamente o apenso de verificação e graduação (artigo 796.º,
n.º1 CPC). Tem então lugar, em regra, a venda dos bens penhorados para, com o
produto nela apurado, se efetuar o pagamento da obrigação exequenda e das
verificadas no apenso de verificação e graduação. Distinguindo-se, até à reforma da
ação executiva, entre venda judicial e venda extrajudicial. Embora a venda seja
sempre um ato executivo, pretendia a lei distinguir assim os casos em que esse ato
tem lugar no próprio tribunal daqueles em que tem lugar fora do tribunal. Continua
a venda por propostas em carta fechada a ser feita no tribunal, ainda que por vezes
presidida pelo agente de execução, com ausência do juiz (artigos 800.º, n.º3 e 829.º,
n.º2 CPC). Mas a distinção deixou de ser expressa. Deixou, por outro lado, a venda
de ter de ser ordenada pelo juiz, como acontecia antes da reforma (ressalvados os
casos de venda antecipada). São modalidades de venda (artigo 811.º, n,º1 CPC):
a. A venda em leilão eletrónico;
b. A venda em mercados regulamentados;
c. A venda direta a pessoas ou entidades que tenham direito a adquirir
os bens penhorados;
d. A venda mediante propostas por carta fechada;
e. A venda por negociação particular;
f. A venda em estabelecimento de leilões;
g. A venda em depósito público.
Caso especial de venda executiva constitui a adjudicação dos bens penhorados
(artigos 799.º e seguintes CPC), que se articula com a modalidade da venda por
propostas em carta fechada.
2. Quando têm lugar: a indicação da modalidade de venda cabe ao agente de execução
(artigo 812.º, n.º2, alínea a) CPC). Limita-se ele, em regra, a verificar os requisitos de
que a lei faz depender a modalidade de venda. Tem, porém, a possibilidade de escolha
entre a venda por negociação particular e a venda em estabelecimento de leilão,
quando se frustre a venda de coisa móvel em depósito público (artigos 832.º, alínea
e) e 834.º, n.º1, alínea b) CPC), e pode, por motivo justificado, entender que não é
de recorrer à modalidade (preferencial) da venda em leilão eletrónico. Fora os casos
seguidamente indicados (entenda-se, na modalidade excecional por imposição da lei),
a venda em leilão eletrónico constitui, no CPC 2013, a modalidade preferencial de
venda dos bens móveis e imóveis (artigo 837.º, n.º1 CPC). Se ela não for, por motivo
justificado, utilizada, ou se frustrar, a venda por propostas em carta fechada
constituirá a forma normal da venda executiva de bens imóveis e a venda em depósito
público ou equiparado a forma normal da venda executiva de bens móveis (artigo
764.º, n.º1 e 836.º, n.º1 CPC), constituindo as restantes formas excecionais. Sendo o
bem penhorado um direito, a venda por propostas em carta fechada deve ter lugar,
não só quando tenha por objeto um estabelecimento comercial de valor superior a
500 UC (artigos 816.º, n.º1 e 829.º, n.º1 CPC), mas também, por analogia, quando
esteja em causa um direito real respeitante a bem imóvel ou a estabelecimento
comercial de valor superior a 500 UC; nos outros casos (direitos reais menores sobre
coisas móveis, quotas-partes em coisas móveis, direito ou expectativa de aquisição
de coisa móvel ou direito de crédito), deve o agente de execução, também por
analogia, poder escolher entre a venda por negociação particular e a venda em
estabelecimento de leilão. As modalidades excecionais têm lugar:
a. Quando a lei as impõe, como acontece com:
i. Os instrumentos financeiros e as mercadoras com cotação em mercados
regulamentados, que nestes são vendidos (artigo 830.º CPC);
ii. Os bens que determinadas pessoas têm direito a comprar e por isso lhes são
vendidos diretamente (artigo 831.º CPC), incluindo os que tenham sido objeto de
contrato-promessa com eficácia real;
iii. Os bens cujo valor seja inferior a 4 UC, que são vendidos por
negociação particular (artigo 832º, alínea g) CPC);
iv. Os bens que não se tenha conseguido vender mediante propostas em carta fechada,
que são vendidos, em regra, por negociação particular (artigo 832.º, alínea d)
CPC);
b. Quando o exequente, o executado ou um credor reclamante com
garantia sobre os bens a vender proponha a venda em estabelecimento
de leilão e não haja oposição dos restantes (artigo 834.º, n.º1, alínea a)
CPC), ou quando todos estejam de acordo na venda por negociação
particular (artigo 832.º, alíneas a) e b) CPC);
c. Quando a lei concede ao agente de execução a opção entre mais de
uma modalidade de venda.
A determinação da modalidade de venda é precedida da audição do exequente, do
executado e dos credores com garantia sobre os bens a vender (artigo 812.º, n.º1 CPC)
e comunicada seguidamente aos mesmos, que podem reclamar para o juiz. Este
decide, sem admissibilidade de recurso (artigos 812.º, n.º6 e 7 CPC). A venda em
leilão eletrónico faz-se nos termos da Portaria n.º 282/2013, 29 agosto (artigo 837.º,
n.º1 CPC). Quanto à venda por propostas em carta fechada, consta das seguintes
formalidades:
a. É ficado em 85% do valor-base dos bens o valor a anunciar para a
venda (artigo 816.º, n.º2 CPC);
b. São publicados editais e anúncios, sem prejuízo do recurso a outros
meios que garantam maior publicidade (artigo 817.º CPC);
c. Entre o momento das publicações e o da venda, o depositário tem
obrigação de mostrar os bens a quem pretenda examiná-los (artigo
818.º CPC);
d. São notificados os titulares do direito de preferência na alienação dos
bens (artigo 819.º CPC);
e. As propostas são abertas na presença do juiz, salvo quando, na venda
de estabelecimento comercial, ele não o entenda necessário (artigo
829.º, n.º2 CPC), tendo lugar, quando necessária, licitação entre os
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podendo ele propor uma ação comum em que o seu direito será
reconhecido contra o adquirente na venda executiva.
ii. Os que sejam de constituição (ou registo) posterior à constituição (ou registo) de
qualquer deles: distingamos, aqui, três momentos possíveis de
constituição (ou registo) do direito real de gozo:
1. Posterior à constituição (ou registo) da penhora;
2. Anterior à constituição (ou registo) da penhora, mas depois
da constituição (ou registo) dum direito real precedente do
exequente;
3. Anterior à constituição (ou registo) de qualquer direito real
do exequente, mas depois da constituição (ou registo) do
direito real de garantia invocado por um dos credores
reclamantes;
Em qualquer destas hipóteses, a lei determina que os bens se
transmitam livres do direito real do terceiro, o que é o mesmo que
dizer que se transmite a propriedade plena e não apenas o direito real
menor de gozo do executado. Nas hipóteses 1. e 2., tal não oferece
dificuldade: o direito do exequente não pode ser limitado por um
direito posterior, que na primeira hipótese até normalmente lhe é
inoponível e na segunda deu certamente lugar a uma execução
movida, nos termos do artigo 54.º, n.º4 CPC, contra o devedor e o
terceiro. A penhora, consequentemente, abrangeu a propriedade
plena e é essa que é transmitida. Mas, na hipótese 3., as coisas
complicam-se. Agora a penhora não abrangeu certamente, tal como
não abrangeu no primeiro caso (direito real de gozo anterior a
qualquer direito real de garantia), o direito real de gozo do terceiro,
mas a lei vem dizer que, pela venda, o bem se transmite livre desse
direito real. Estaremos perante um caso em que o objeto da venda
pode ir além do objeto da penhora? Ou deverá o artigo 824.º, n.º2
CC ser interpretado restritivamente, quando se refere a qualquer
arresto, penhora ou garantia a favor do exequente? A interpretação
literal do artigo (o termo qualquer dificilmente se referirá apenas ao
exequente) tem por si a consideração da grande probabilidade de
prejuízo que, para o credor com garantia constituída antes da
limitação da propriedade plena, adviria de, na interpretação restritiva,
obter na execução o pagamento de parte apenas do seu crédito, em
consequência da restrição apresentada pelo direito do executado à
data da execução, vendo-se obrigado a nova execução contra o
terceiro para obter o pagamento do resto do crédito. Embora a
reclamação de créditos tenha, como vimos, a finalidade de garantia
do credor, e não tanto a de pagamento do seu crédito, certo é que a
venda, não da propriedade plena, mas de direitos parcelares, pode
prejudica-lo: a soma do que estes renderem será o que renderia a
propriedade plena. Certa parece ser, portanto, a conclusão de que o
artigo 824.º, n.º2 CC tem de ser interpretado como estamos fazendo;
mas, então, o único meio de aproximar o objeto da penhora do da
venda estará na disponibilidade do credor com direito real de garantia
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direitos reais (artigos 692.º, 823.º, 1478.º a 1481.º e 1539.º, n.º2 CC). Claro que,
recorrendo a juízo, o titular do direito real terá de fazê-lo em processo distintivo e
autónomo da execução. Por outro lado, só pode fazer valer o seu direito, no plano
real, enquanto o remanescente da venda não for recebido pelo executado ou, uma
vez recebido, enquanto for possível provar a origem da quantia em dinheiro à qual
se arroga direito. Julgamos que esta é a interpretação mais conforme com os
princípios e com os interesses dos titulares de direitos reais preteridos na execução.
4. Cancelamento de registos: caducando, nos termos estudados, direitos sobre bens
sujeitos a registo, o agente de execução comunica a venda ao serviço de registo
competente e este procede, oficiosamente, ao cancelamento das inscrições respetivas,
incluindo a da própria penhora (artigo 827.º, n.º2 CPC). O cancelamento faz-se
perante o título da transmissão dos bens, do qual constará, quando a venda não tenha
lugar mediante propostas em carta fechada ou em depósito público, que ela é feita
pela pessoa para tanto legitimada (artigo 833.º, n.º1, 834.º, n.º2 e, também, 831.º CPC),
no âmbito da execução. Efetuada simultaneamente com o cancelamento das
inscrições relativas aos direitos que tenham caducado, a inscrição da venda obedece,
tal como a da penhora (artigo 755.º, n.º1 CPC), ao princípio da instância.
Anulação:
1. Casos de anulação: a venda executiva é anulável quando ocorra algum dos
fundamentos indicados nos artigos 838.º e 839.º CPC. Desses, alguns respeitam a
vícios nos pressupostos do ato:
a. Existência de ónus ou limitação que não tenha sido tomado em
consideração e exceda os limites normais inerentes aos direitos da
mesma categoria;
b. Erro sobre a coisa transmitida, por desconformidade com o que tiver
sido anunciado (artigo 838.º, n.º1 CPC).
Outros integram nulidades processuais:
c. Falta ou nulidade da citação do executado revel (artigo 839.º, n.º1,
alínea b) CPC);
d. Nulidade de ato anterior de que a venda dependa absolutamente
(artigos 839.º, n.º1, alínea c) e 195.º, n.º2 CPC);
e. Nulidade da própria venda (artigos 839.º, n.º1, alínea c) e 195.º, n.º1
CPC).
Outros ainda têm a ver com a irregular constituição, originária ou superveniente, do
processo executivo, por falta de pressupostos ou inexistência da obrigação
exequenda:
f. Anulação ou revogação da sentença exequenda;
g. Procedência da oposição à execução ou à penhora (artigo 839.º, n.º1,
alínea a) CPC).
Consagra-se, enfim, a impenhorabilidade subjetiva do bem vendido, reconhecida em
ação de reivindicação (artigo 839.º, n.º1, alínea d) CPC).
2. A tutela do comprador: os dois primeiros fundamentos (existência de ónus ou
limitação não considerado e erro sobre a coisa transmitida), constantes do artigo
838.º CPC, visam a tutela do comprador e por isso estão na sua exclusiva
disponibilidade. Integram situações de erro acerca do objeto jurídico (ónus ou
limitação) ou material (identidade ou qualidade da coisa transmitida) da venda, mas
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S – Pagamento
proceder (artigo 803.º, n.º2 CPC). É efetuada, tal como a penhora, por comunicação à
conservatória (artigo 803.º, n.º4 CPC), que a regista por averbamento ao registo da penhora
(artigo 803.º, n.º5 CPC), ou, no caso do título de crédito, por comunicação à entidade
registadora (artigos 102.º, 103.º CVM, 305.º, n.º3, alínea i) e 340.º CSC), sendo seguidamente
objeto de averbamento no título (artigos 805.º, n.º3 CPC, 102.º, n.º1 e 103.º CVM). Consiste,
como a designação inculca, na afetação, com eficácia real, dos rendimentos dos bens
penhorados ao pagamento do crédito do exequente (artigo 656.º, n.º1 CC), na totalidade
deste ou no remanescente que esteja por pagar. Das três modalidades da consignação
admitidas pelo artigo 661.º, n.º1 CC, apenas a de atribuição de rendimentos provenientes de
contrato de locação ou equiparado é possível, mas tal não exclui que o contrato possa ser
celebrado com o próprio exequente. Uma vez feita a consignação e pagas as custas da
execução, esta é julgada extinta, levantando-se as penhoras que incidam sobre outros bens
(artigo 805.º, n.º1 CPC) e mantendo-se a penhora sobre o bem cujos rendimentos foram
consignados, no seu efeito de assegurar a preferência a favor do exequente (artigo 805.º, n.º2
CPC). Esta preferência virá, designadamente, a interessas ao exequente no caso de venda
judicial do bem penhorado, em outra execução: se esta for movida por credor que não tenha
direito real de garantia constituído em data anterior à penhora, o consignatário será pago
antes dele, do mesmo modo, será pago antes dos credores reclamantes que tenham garantia
real posterior. Vê-se também que, existindo credor com garantia real anterior à penhora, que
não tenha sido convocado para reclamar o seu crédito (em virtude do artigo 803.º, n.º3 CPC),
o consignatário pode ter de mover nova execução para penhora de novos bens, se o valor
obtido pela venda judicial em execução que venha a ser movida por esse credor não chegar
para o seu pagamento. Este risco está em perfeita consonância com a dispensa da citação
dos credores ainda não efetuada, pois de outro modo seriam injustificadamente prejudicados
os não convocados. Note-se, finalmente, que este regime caracteriza a consignação de
rendimentos como uma dação pro solvendo (artigo 840.º CC).
Ordem dos pagamentos: o pagamento coercivo tem lugar segundo a ordem determinada
na sentença de graduação de créditos, sendo, porém, sempre pagas em primeiro lugar as
custas da execução (artigo 541.º CPC) e sendo atendidos igualmente, na respetiva ordem, os
direitos reais de gozo que tenham caducado com a venda executiva e sejam oponíveis à
execução. Ao executado é entregue o eventual remanescente. Mas, por imposição da lei
tributária (artigo 81.º CPPT), o levantamento desse remanescente não pode ter lugar sem que
o executado, ou o adquirente do remanescente, prove que nada deve à Fazenda Nacional.
Os direitos da Fazenda Nacional, já excessivamente tutelados através do esquema dos
privilégios creditórios criados por lei especial, voltam assim a sê-lo na fase do pagamento.
Feita a distribuição, sem precedência de despacho judicial que a ordene (como acontecia no
Direito anterior à reforma), a execução, atingido o seu fim, extingue-se.
Pagamento em prestações: com a revisão do Código, tornou-se admissível, fora do
esquema da transação, o pagamento em prestações da dívida exequenda. Necessário é que o
exequente e o executado manifestem o seu acordo com um plano de pagamento, que
comunicam ao agente de execução (artigo 806.º, n.º1 CPC), antes da transmissão do bem
penhorado ou, no caso de venda por propostas em carta fechada, até à aceitação da proposta
vencedora (artigo 806.º, n.º2 CPC). No CPC 1961, seguia-se a suspensão da instância
executiva. O novo Código optou pela sua extinção (artigo 806.º, n.º2 CPC), embora a
instância se renove quando o acordo não seja cumprido e o exequente pretenda obter a
satisfação do remanescente (artigo 808.º, n.º1 CPC), bastando para tanto a falta de pagamento
de uma prestação (artigo 781.º CC). Como, a partir da reclamação de créditos, há que atender
também ao interesse dos credores reclamantes, também o credor cujo crédito esteja vencido
pode requerer a renovação da instância para satisfação do seu crédito (artigo 809.º, n.º1 CPC).
Se o fizer, ao exequente é conferido o direito de denúncia do acordo, a exercer no prazo de
10 dias contados da notificação que para o efeito lhe é efetuada; se exercer esse direito, o
remanescente do seu crédito será satisfeito pelo produto da venda do bem penhorado, nos
termos da graduação de créditos (a efetuar ou já efetuada); se não o exercer, perde o direito
de garantia constituído a seu favor pela penhora e, assumindo a posição de exequente o
credor que tenha exercido o direito a prosseguir com a execução, esta prossegue apenas para
satisfação do seu crédito e dos restantes credores reclamantes com garantia real sobre o bem
penhorado (artigo 809.º, n.º2 e 4 CPC). O acordo de pagamento a prestações pode, no novo
Código, abranger os credores reclamantes, estando nesse caso sujeito ao regime do artigo
810.º CPC (acordo global). No regime oriundo da revisão do CPC 1961, salvo convenção
em contrário e sem prejuízo da constituição de outras garantias, a penhora já feita mantinha-
se, após o acordo, até integral pagamento. O novo Código fez outra opção: se o exequente
declarar que não prescinde da penhora, esta converte-se automaticamente em hipoteca ou
penhor, como tal averbado no registo sendo caso disso e mantendo a prioridade da anterior
garantia (artigo 807.º, n.º1 a 4 CPC). Sob pena de injustificada desigualdade entre os credores,
esta hipoteca ou penhor legal deve entender-se sujeita ao regime de ininvocabilidade no
processo de insolvência que é estatuído pelo artigo 140.º, n.º3 CIRE para a hipoteca legal,
idêntico ao da penhora.
Extinção da execução:
1. Causas: a causa normal de extinção da execução é o pagamento coercivo. Mas, tal
como a ação declarativa se pode extinguir sem que se tenha atingido a sentença de
mérito, também na ação executiva a extinção pode ter lugar por causas diferentes do
pagamento coercivo, seja por extinção da obrigação exequenda, seja por motivos
diferentes.
2. Extinção da obrigação exequenda: o pagamento pode efetuar-se coercivamente
na sequência dos atos executivos que conheceremos, ou por ato voluntário do
executado ou de terceiro. A este se refere o artigo 846.º CPC. Embora o preceito se
refira apenas ao pagamento das custas e da dívida exequenda, no cálculo da quantia
a depositar há que entrar também em conta com os créditos reclamados, quando o
requerimento for feito após a venda ou adjudicação de bens, cuja eficácia em nada é
afetada pelo ato de pagamento que lhe seja posterior. A este pagamento voluntário
se chama remição da execução. Mas, além de pelo pagamento (coercivo ou
voluntário), a obrigação exequenda pode extinguir-se por qualquer outra causa
prevista na lei civil: dação em cumprimento, consignada em depósito, compensação,
novação, remissão, confusão (artigo 837.º a 873.º CC). Ocorrida extrajudicialmente a
extinção, é junto ao processo documento que a comprove, após o que tem lugar a
liquidação da responsabilidade do executado (quanto a custas ou, após a venda ou
adjudicação de bens, também quanto aos créditos reclamados para serem pagos pelo
produto da venda desses bens) e a subsequente extinção da execução.
3. Outras causas: a execução pode ainda extinguir-se em consequência da revogação
da sentença exequenda (em instância de recurso, que tenha efeito meramente
devolutivo) ou da procedência dos embargos de executado. Pode também o juiz,
oficiosamente, extinguir a instância nos termos do artigo 734.º CPC (rejeição
oficiosa), até ao primeiro ato de transmissão de bens penhorados. Pode também a
execução extinguir-se por não serem encontrados nem indicados bens penhoráveis
(artigos 748.º, n.º3, 750.º, n.º2, 855.º, n.º4 CPC), bem como em consequência da
adjudicação pro solvendo do direito de crédito (artigo 806.º, n.º2 CPC) ou da
sustação integral da segunda execução sobre o mesmo bem (artigo 794.º, n.º4 CPC).
Pode ainda o exequente desistir da instância ou do pedido, caso em que, porém, a
exemplo do que acontece com as causas de extinção referidas no número anterior,
serão pagos os credores graduados se já tiver havido venda ou adjudicação de bens
(artigo 848.º CPC). A desistência do pedido, tendo na ação executiva a mesma
natureza de Direito Privado que tem na ação executiva, não pode ser entendida como
renúncia ao direito de executar o crédito (o que brigaria com a irrenunciabilidade do
direito de ação), mas como renúncia ao próprio crédito exequendo. De particular
tem, porém, que não é homologada por sentença, produzindo diretamente, não só
os seus efeitos de Direito Civil (como na ação declarativa), mas também o efeito
processual de extinção da instância executiva. Podem, finalmente, dos casos de
extinção da instância (em geral) indicados no artigo 277º CPC, verificar-se na ação
executiva a deserção (artigo 281.º CPC) e a transação (com alcance paralelo ao da
desistência do pedido).
4. Termo do processo executivo: até à reforma da ação executiva, a extinção da
execução tinha lugar, salvo o caso de deserção da instância (artigo 281.º CPC),
mediante uma sentença que lhe punha termo e devia (tal como hoje a ocorrência da
extinção automática da execução: artigo 849.º, n.º2 CPC), ser notificada ao executado,
ao exequente e aos credores reclamantes. A natureza desta sentença era controvertida.
Para quem entendia haver lugar à formação de caso julgado material no processo
executivo, constituía-o essa sentença, sempre que por ela se julgasse extinta a
execução por extinção da obrigação exequenda. Mas, atenta a estrutura e a função da
ação executiva e a circunscrição do atributo de caso julgado às decisões sobre a
relação material controvertida (artigo 619.º, n.º1 CPC), as quais, por sua vez,
pressupõem uma atividade processual desenvolvida em contraditoriedade, defendi,
nas edições desta obra anteriores à reforma da ação executiva, que a sentença de
extinção da execução não era dotada da eficácia de caso julgado material. Por ela era
tão-só verificado o termo da ação executiva e, mesmo quando tal ocorresse por
extinção da obrigação exequenda, cuja característica de definitividade se colocava
tão-só no plano da relação processual, por ela extinta com a mera eficácia de caso
julgado formal (artigo 620.º CPC). A sentença de extinção da execução não surtia,
pois, eficácia fora do processo executivo. Com a reforma da ação executiva, deixou
de ter lugar essa sentença, produzindo-se automaticamente o efeito extintivo da
instância (artigo 849.º, n.º1 CPC). A questão da formação de caso julgado no
processo executivo deixou, pois, de se poder pôr. Mas, hoje como ontem, o efeito
de Direito substantivo do facto extintivo da obrigação exequenda (pagamento ou
outro) invocados na ação executiva não deixa de se produzir, obstando ao êxito duma
nova ação executiva, mas não impedindo a propositura, pelo executado, duma ação
de restituição do indevido.
Anulação da execução: o processo de execução pode ser anulado, salvando-se apenas o
requerimento inicial. Tal acontece quando se verifique a falta ou nulidade da citação, a qual
pode ser arguida a todo o tempo, enquanto não deva considerar-se sanada pela intervenção
do interessado. A falta ou nulidade da citação rege-se pelas disposições dos artigos 187.º a
191.º CPC que não estejam em contradição com o artigo 851.º, n.º1 CPC, decorrendo do
artigo 187.º CPC que a anulação do processo não implica nulidade do requerimento inicial
de execução, que se aproveitará.
Renovação da ação executiva:
1. Causas: depois de extinta, a ação executiva pode renovar-se no mesmo processo.
Isso pode acontecer:
a. Por iniciativa do exequente, para cobrança coerciva de prestações
vincendas (artigo 850.º, n.º1 CPC) ou do remanescente do crédito
exequendo após o pagamento efetuado por força do direito de crédito
penhorado (artigos 779.º, n.º2 CPC e, implicitamente, 799.º, nº.6 CPC),
bem como mediante indicação superveniente de bens penhoráveis
(artigo 850.º, n.º5 CPC), nomeadamente após a extinção, sem venda do
bem penhorado, da execução em que ele tenha reclamado, como titular de
segunda penhora sobre o mesmo bem (artigo 794.º, n.º4 CPC);
b. Por iniciativa dum credor reclamante que pretenda prosseguir com a
execução (artigo 809.º, n.º1 e 850.º, n.º2 CPC);
c. Por iniciativa do exequente ou dum credor reclamante, para cobrança
coerciva do remanescente do crédito, quando alguma das prestações
acordadas para pagamento não seja paga (artigos 808.º, n.º1 e 810.º,
n.º3 CPC);
d. Por iniciativa do executado, que requeira a anulação da execução, por
falta ou nulidade da citação.
2. A satisfação de prestações vincendas: o primeiro caso pode verificar-se quando a
execução tem por base um título de trato sucessivo. Trata-se dum título executivo do
qual conste uma obrigação periódica ou a pagar em prestações. Vencidas novas
prestações, a execução pode renovar-se no mesmo processo, a fim de nele se
proceder à sua cobrança. Claro que isto só é possível quando no título conste a
obrigação de pagamento de todas essas prestações (sentença que julgue procedente
um pedido formulado nos termos do artigo 557.º, n.º1 CPC; escritura pública de
abertura de crédito ou de fornecimento, em execução da qual sejam efetuadas várias
prestações nos termos do artigo 707.º CPC; etc.).
3. A satisfação de crédito reclamado: o segundo caso pode verificar-se quando a
extinção da execução tenha lugar após a reclamação dum crédito já vencido, mas
antes da venda ou adjudicação dos bens que o garantem. Pode então o credor
requerer, no prazo de 10 dias contados da notificação da extinção da execução (artigo
849.º, n.º2 CPC), o prosseguimento desta para pagamento dos eu crédito, após
verificação e graduação (se estes atos ainda não tiverem tido lugar), por força dos
bens sobre os quais tem garantia. O requerente assume a posição de exequente e a
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ação executiva prossegue, limitadamente a esses bens, pelo produto de cuja venda
serão pagos, não só o novo exequente, mas também os credores para o efeito
graduados. A renovação da ação executiva por iniciativa do credor reclamante pode,
nomeadamente, ter lugar quando a extinção da execução tenha ocorrido por extinção
da obrigação exequenda, por desistência do exequente ou por transação. Mas já não
pode nos casos de procedência da oposição à execução ou de revogação da sentença
exequenda, como resulta do regime que decorre dos artigos 839.º, n.º1, alínea a) CPC
(há lugar à anulação da venda executiva por revogação da sentença ou procedência
da oposição), 847.º, n.º2 e 848.º, n.º1 CPC (o pagamento aos credores graduados para
serem pagos pelo produto de bens vendidos ou adjudicados é apenas previsto nos
casos de extinção da obrigação e de desistência do exequente). A solução harmoniza-
se com a ideia geral de que a reclamação de créditos não visa diretamente a satisfação
dos créditos reclamados. A norma do artigo 850.º, n.º2 CPC alia a uma razão de
economia processual a consideração duma presunção de responsabilidade do
executad6o que, no caso da procedência da oposição à execução ou da revogação do
título executivo judicial, se mostra ilidida.
4. A entrega dos bens ao adquirente: o artigo 828.º CPC concede ao adquirente dos
bens penhorados o direito de requerer a sua entrega na própria execução. É assim
enxertado, na ação executiva para pagamento de quantia certa, um pedido de
execução para entrega de coisa certa, dirigida contra quem os detenha. Não se trata
duma ação executiva para entrega de coisa certa nem da conversão duma execução
para pagamento de quantia certa em execução para entrega certa. Se, como deve ter
tido lugar, a tomada de posse efetiva do bem penhorado pelo depositário (artigos
757.º, 764.º, n.º1 e 782.º, n.º4 CPC, entre outros), o adquirente será, por sua vez,
normalmente empossado (artigo 827.º, n.º1 CPC), não tendo de recorrer ao artigo
828.º CPC; mas, se o depositário não tiver cumprido estes seus deveres, resta ao
adquirente exigir a entrega, sem prejuízo de eventual indemnização moratória. Por
outro lado, nos casos em que, por consentimento do exequente ou por o bem
penhorado ser a casa de habitação efetiva do executado, é este o depositário, bem
como naqueles em que sobre o bem penhorado incida direito de retenção de terceiro,
também designado depositário (artigo 756.º, n.º1 CPC; no caso de arrendamento,
este sobrevive à venda executiva), não se aplica o artigo 757.º, n.º1 CPC, mas aplica-
se o artigo 827.º, n.º1 CPC: extintos, com a venda, os direitos reais do executado e
do titular do direito de retenção (artigo 824.º, n.º1 e 2 CC), o depositário deve
imediatamente entregar o bem ao agente de execução para este o entregar ao
adquirente ou dele fazer a este entrega direta; se não o fizer, não cumprindo o seu
dever de restituição, o adquirente requererá a entrega, sem prejuízo do direito a
indemnização que tenha contra o depositário relapso. Resta, finalmente, a
possibilidade, ainda que remota, de o depositário designado pelo oficial de justiça
(artigo 756.º, n.º1 CPC) ou o próprio agente de execução (enquanto depositário, ou
enquanto destinatário da restituição efetuada pelo depositário) não entregar o bem
ao adquirente. Não sendo estabelecido limite temporal para o exercício deste direito,
pode acontecer que ele ocorra já depois de proferido o despacho de extinção da
execução, caso em que, embora a lei expressamente não o diga, o prosseguimento da
ação executiva implicará a sua renovação. Pode, com efeito, acontecer que o
adquirente só então conclua pela necessidade de obter a entrega judicial, que até aí
haja tentado sem êxito. Tal como no caso da arguição da falta ou nulidade da citação
do executado (artigo 851.º, n.º3 CPC), o requerimento de entrega pode ter lugar
mesmo depois de transitada em julgado a sentença que declare extinta a execução.
Recursos:
1. Apelação autónoma: estão sujeitas a recurso de apelação (autónomo), a interpor no
prazo geral de 30 dias (artigo 638.º, n.º1 CPC) e com sujeição às condições gerais de
admissibilidade do artigo 629.º CPC, as decisões finais proferidas nas ações
declarativas que correm por apenso ao processo de execução (embargos de
executado, nos termos do artigo 732.º, n.º2 CPC; verificação e graduação dos créditos;
nos termos do artigo 791.º, n.º1 CPC), bem como as proferidas no incidente
declarativo de liquidação (artigo 853.º, n.º1 CPC). É indiferente o fundamento
(substantivo ou processual) da oposição à execução, bem como o título (judicial,
arbitral, judicial impróprio, extrajudicial) em que se tenha baseado a execução. A
decisão proferida no incidente de oposição à penhora dos artigos 784.º e 785.º CPC
pode também ser objeto de recurso de apelação, mas com redução para 15 dias do
prazo para o interpor (artigo 853.º, n.º1, 644.º, n.º2, alínea i) e 638.º, n.º1 CPC). Cabe
também recurso de apelação (a subir imediatamente, em separado e com efeito
meramente devolutivo: artigo 853.º, n.º4 CPC) das decisões interlocutórias do
processo de execução enunciadas no artigo 853.º, n.º2 CPC, bem como das decisões
(finais) de indeferimento liminar e de rejeição do requerimento executivo (artigo
853.º, n.º3 CPC).
2. Impugnação não autónoma: as decisões interlocutórias proferidas nas ações e
incidentes declarativos no artigo 853.º, n.º1 CPC, bem como as decisões
interlocutórias, não constantes dos n.º2 e 3 do artigo 853.º CPC, proferidas no
processo de execução, só podem, em princípio, ser impugnadas com o recurso que
venha a ser interposto da decisão final (artigos 644.º, n.º3 e 852.º CPC). Mas, não
havendo recurso da decisão final, podem ser autonomamente impugnadas em
recurso único, a interpor após o trânsito daquela decisão, desde que tenham interesse
para o apelante independentemente dela (artigos 644.º, n.º4 e 852.º CPC).
3. Revista: além dos casos em que é sempre admissível recurso de revista (artigo 629.º,
n.º2 CPC), este só pode ser interposto, nos termos gerais, dos acórdãos da relação
proferidos sobre apelação das decisões finais do incidente de liquidação, da ação de
verificação e graduação de créditos e dos embargos de executado (artigo 854.º CPC).
Delimitação: a ação executiva para entrega de coisa certa tem lugar sempre que o objeto da
obrigação, tal como o título o configura, é a prestação duma coisa. Tal como no caso da
obrigação pecuniária, o qualificativo certa tem a ver com o pressuposto processual da certeza
da prestação, pelo que não obsta à execução a necessidade de se proceder à individualização
das unidades que serão objeto da prestação a efetuar no caso de obrigação genérica cujo
objeto se apresente qualitativa e quantitativamente determinado. Sempre, portanto, que o
título configure uma obrigação de prestação de coisa, deve usar-se o processo de execução
para entrega de coisa certa, ainda que esta já não exista, seja objeto dum direito incompatível
com o do exequente ou não venha a ser encontrada, casos estes em que tem lugar a
subsequente conversão da execução para entrega de coisa certa em execução para pagamento
de quantia certa.
Características: diversamente da ação executiva para pagamento de quantia certa, a ação
executiva para entrega de coisa certa não se traduz na efetivação de direitos sobre o
património do devedor. Por ela, o credor faz valer, não a garantia patrimonial do seu crédito,
mas sim a faculdade de execução específica, mediante a apreensão da coisa que o devedor
está obrigado a prestar-lhe. Não é requerida a execução do património do devedor (artigo
817.º CC), mas sim a entrega judicial da coisa devida (artigo 827.º CC). Não há, por isso,
neste tipo de ação, lugar a penhora. Para realizar o direito exequendo, o tribunal procederá à
apreensão da coisa e à sua imediata entrega ao exequente, após efetivação das buscas e outras
diligências que forem necessárias (artigo 861.º CPC). Como diz expressamente o n.º1 deste
artigo, a este ato de apreensão aplicam-se, conforme os casos, em tudo quanto não esteja
especialmente previsto, as normas processuais reguladoras da penhora de bens imóveis, de
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bens móveis ou da quota dum comproprietário que forem compatíveis com a natureza da
ação executiva em causa. Mas a apreensão da coisa devida não tem a função nem os efeitos
da penhora. Assim, não consubstancia a constituição dum direito real de garantia nem é
dirigida à ulterior transmissão da coisa apreendida, mas sim à sua entrega ao exequente, que
normalmente lhe é feita ato contínuo. Em consequência, não confere ao exequente qualquer
direito de preferência nem opera a transferência da posse da coisa para o tribunal. Podendo
a ação executiva ter na sua base um direito real ou um direito de crédito, a entrega da coisa
logo investe o exequente numa posse em nome próprio ou em nome alheio, quando nela
não se limita a mantê-lo; e, mesmo quando a apreensão e a entrega aparecem como atos
temporalmente bem separados, o tribunal não deixa de atuar, desde a apreensão, como mero
detentor da coisa em nome do exequente, a quem a irá entregar. Não se põe normalmente o
problema da ineficácia dos atos dispositivos subsequentes, pois o executado conserva, após
a apreensão, exatamente os mesmos direitos que anteriormente tinha: se for titular dum
direito real sobre a coisa, com o poder de dela dispor, continuará a poder valer-se da mesma
forma deste seu poder; se não tiver qualquer direito real sobre a coisa ou o seu direito não
englobar a faculdade de dela dispor, será nulo, por ilegitimidade, qualquer negócio jurídico
de disposição que celebre, antes ou depois da apreensão. Só no caso excecionalíssimo de a
transferência da propriedade se processar com a entrega da coisa ao exequente e esta não ter
lugar logo a seguir à apreensão é que se poderia ver utilidade na aplicação da disposição do
artigo 819.º CC; mas, uma vez entendido que a apreensão logo constitui o exequente na posse
da coisa apreendida, através do tribunal, dificilmente a transferência da propriedade deixará
de operar com o ato de apreensão. Acresce que os limites objetivos à penhorabilidade dos
bens não têm aplicação ao caso de execução específica da obrigação de entrega de coisa
determinada, uma vez que a cobertura da pretensão do credor pelo título executivo constitui
já demonstração suficiente de que não há razões sociais (de interesse geral ou de interesse
particular do devedor) que obstem à entrega. Do que se deixa dito decorrem dois outros
aspetos deste tipo de ação executiva:
1. Não há lugar a concurso de credores;
2. Não há lugar à venda executiva.
Tramitação:
1. Requerimento e oposição: apresentado o requerimento executivo, realizada a
tramitação que lhe é complementar e proferido o despacho liminar de citação, o
executado é citado para, no prazo de 20 dias, fazer a entrega da coisa ou opor-se à
execução (artigo 859.º CPC). A oposição segue o mesmo regime que na execução
para pagamento de quantia certa. Mas, quando o cumprimento da obrigação possa,
na oposição deduzida à execução de sentença, ser verificado por meio de inspeção
judicial ou perícia, não se justifica a restrição probatória do artigo 729.º, alínea g) CPC,
visto que por esse meio se pode atingir segurança maior do que a decorrente dum
documento, que, por isso mesmo, as partes normalmente dispensarão. Por outro lado,
o executado pode – salvo se, tratando-se de execução de sentença, tiver tido a
possibilidade de o fazer na ação declarativa e não o tiver feito (artigo 860.º, n.º3 CPC)
– invocar na oposição, além dos fundamentos previstos nos artigos 729.º e 730.º CPC
(respetivamente, nos casos de execução de sentença judicial e de sentença arbitral), a
realização de benfeitorias que tenha feito (artigo 860.º, n.º1 CPC). Basear-se-á para
CPC, que impõe a citação do cônjuge do executado quando a coisa apreendida for
um bem imóvel ou estabelecimento comercial próprio do executado, mas de que ele
não possa livremente dispor. No entanto, a convocação só pode ter por fim permitir
ao cônjuge citado a impugnação do crédito exequendo na oposição à execução.
3. Apreensão e entrega: feitas as buscas e outras diligências que forem necessárias à
apreensão da coisa, o tribunal apreende-a e investe o exequente na posse. O
investimento tem lugar mediante:
a. Tradição ou entrega material da coisa móvel, precedida, se se tratar de
coisa fungível (artigos 207.º e 539.º CC), das operações necessárias à
concentração da obrigação (artigo 861.º, n.º2 CPC);
b. Entrega simbólica da coisa imóvel, mediante entrega material de
chaves e documentos e notificação do executado, bem como dos
arrendatários e outros possuidores em nome próprio ou alheio (cuja
situação jurídica, derivada do executado, ou do próprio exequente,
porque compatível com o direito deste, deva subsistir), para que
reconheçam e respeitem o direito do exequente (artigo 861.º, n.º3 CPC),
havendo ainda que observar os artigos 863.º a 866.º CPC quando a
entrega tenha por objeto coisa imóvel arrendada (artigo 862.º CPC);
c. Investimento do exequente comproprietário na posse da sua quota-
parte, com notificação do administrador dos bens, se o houver, e dos
comproprietários (artigos 861.º, n.º3 e 781.º, n.º1 CPC).
Quid iuris se a coisa a entregar se encontrar penhorada em ação executiva para
pagamento de quantia certa? A apreensão não é possível. Mas, desde que o facto de
que resultou o seu direito não esteja afetado por ineficácia perante a execução para
pagamento de quantia certa, o exequente pode opor-se à penhora, se para tanto
estiver legitimado, por embargos de terceiro ou por invocação de sentença proferida
em ação de reivindicação (que constitua o seu título executivo ou, quando este for
extrajudicial, tenha vindo mais tarde a obter em ação que proponha), após o que,
levantada a penhora, a execução para entrega de coisa certa, entretanto suspensa,
poderá prosseguir. Quando porém, tenha um mero direito de crédito, só lhe resta o
recurso à ação de indemnização por incumprimento. O mesmo se aplica no caso de
arresto da coisa a apreender. Ficou dito que a notificação do possuidor, em nome
próprio ou alheio, para que reconheça e respeite o direito do exequente deve ter lugar
quando a sua posse tenha procedido do executado (ou do próprio exequente), deva
subsistir e seja compatível com o direito do exequente. Mas pode um terceiro ter a
posse da coisa a apreender por via dum título autónomo, isto é, originário ou
procedente de outro terceiro, ou ter derivado do executado uma posse incompatível
com o direito do exequente. Deverá a execução ficar suspensa, por falta de título
executivo contra o terceiro ou, no caso de ele existir, por o terceiro não ter sido
demandado na ação executiva, ou deverá a apreensão ter lugar, sem prejuízo do
direito do terceiro a fazer valer o seu direito em ação autónoma? Não sendo
extrapoláveis para outras ações de execução para entrega de coisa certa as soluções
específicas consignadas nos artigos 863.º a 866.º CPC para a execução de despejo, há
que procurar nas normas do direito substantivo a solução do conflito de situações
jurídicas que se apresente, tendo em conta que, diversamente do que acontece na
ação executiva para pagamento de quantia certa, nem o titular do direito real de
garantia nem o titular do direito real de aquisição têm modo de satisfazer os seus
direitos no processo de execução e que o ato de apreensão não desempenha uma
função normal de garantia. Assim, o agente de execução que seja confrontado com a
oposição do terceiro possuidor no ato da apreensão, deve, em regra, suscitar a
questão perante o juiz, nos termos do artigo 723.º, n.º1, alínea d) CPC; mas, se o juiz,
ao abrigo do artigo 727.º, n.º2 CPC, tiver dispensado a citação prévia do executado,
se o direito do exequente dever manifestamente prevalecer sobre o invocado pelo
terceiro ou se se tratar de coisa suscetível de fácil sonegação, a apreensão não deve
deixar de ser feita, mediante aplicação analógica do artigo 747.º, n.º1 CPC, quando o
exequente funde a ação executiva num direito real ou numa obrigação de restituir
(por via de esbulho, nulidade, anulação ou resolução dum contrato, cessação dum
direito pessoal de gozo, etc.), mas já não quando a execução se funde em mero direito
pessoal de gozo do exequente. Suscitada a questão perante o juiz é aplicável
analogicamente o artigo 764.º, n.º3 CPC e, seja a coisa móvel ou imóvel, a apreensão
não será ordenada quando o terceiro produza prova documental inequívoca
(considerado, por seu lado, o título do exequente) de que é o proprietário da coisa,
ou titular de outro direito real que dela lhe conceda a posse, o mesmo se aplicando
quando, realizada a apreensão, a prova documental seja subsequentemente
apresentada ao juiz; não sendo inequívoca a prova apresentada e não havendo
urgência na apreensão, pode o juiz ordenar que se aguarde o decurso do prazo para
a dedução de embargos. O terceiro pode opor-se à apreensão através de embargos
de terceiro, que podem ter função preventiva (artigo 350.º CPC), ou lançar mão da
ação de reivindicação. Os embargos, se forem fundados na posse, improcederão se
neles ficar assente a propriedade do exequente ou a do executado (artigo 348.º, n.º2
CPC) ou, no caso de esbulho, a sua melhor posse (artigo 1278.º, n.º2 e 3 CC); mas,
sendo procedentes, a execução extingue-se, sem prejuízo da possibilidade da sua
conversão e execução para pagamento de quantia certa. Fundando-se a execução em
mero direito pessoal de gozo do exequente, a apreensão só se manterá se o possuidor
tiver derivado a sua situação jurídica do executado por causa sobre a qual deva
prevalecer o direito do exequente. De qualquer modo, a prevalência do interesse do
exequente ou do do terceiro resulta dos regimes de Direito substantivo aplicáveis.
Conversão da execução: quando não é encontrada a coisa a cuja entrega o exequente tem
direito, máxime quando ela já não exista, tem lugar a conversão da ação executiva. Liquidada
a indemnização devida pelo incumprimento (correspondente ao valor da coisa e à reparação
de quaisquer outros danos), seguem-se a penhora e os demais termos da ação executiva para
pagamento de quantia certa (artigo 867.º CPC). Nela, só por fundamento superveniente (nos
termos do artigo 728.º, n.º2 CPC) pode ter lugar oposição do executado. Mas não só quando
a coisa não é encontrada se dá a conversão da execução. A esse é de assimilar o caso em que
sobre a coisa incida direito de terceiro que, prevalecendo sobre o do exequente e com ele
sendo incompatível, impeça o investimento material ou jurídico na posse. Quer num quer
noutro caso, o exequente, mesmo sabendo já que a execução específica se malogrará, deve
instaurar a ação executiva para entrega de coisa certa e só na sua pendência poderá requerer
a ulterior conversão.
Delimitação: a ação executiva para prestação de facto tem lugar sempre que o objeto da
obrigação, tal como o título o configura, é uma prestação de facto, seja este de natureza
positiva (obrigação de facere) ou negativa (obrigação de non facere). Mais uma vez, é ao título
executivo que há que recorrer, em obediência à norma do artigo 10.º, n.º5 CPC, para
determinar o tipo da ação executiva, ainda que o exequente venha a obter, pela execução, em
vez da prestação de facto que lhe é devida, um seu equivalente pecuniário – ou porque, sendo
o facto infungível, não é possível obter de terceiros a sua prestação, ou porque, tratando-se
embora de facto fungível, o exequente vem, perante o incumprimento e nos termos da lei
civil, a optar pela resolução do contrato e pela indemnização por perdas e danos. Claro que
o direito à indemnização pecuniária, quando o exequente possa por ela optar, pode ser
exercido, não em execução para prestação de facto, mas em ação declarativa em que se peça
a condenação do réu na indemnização pretendida; e então, uma vez obtida sentença a seu
favor, o credor lançará mão de ação executiva para pagamento de quantia certa. Mas, sempre
que o título configure uma prestação de facto, e sem prejuízo da norma do artigo 710.º CPC
sobre a cumulação de pedidos baseados numa única sentença, é à correspondente execução
que há que recorrer. Por outro lado, a distinção entre a execução para entrega da coisa certa
e a execução para prestação de facto nem sempre é fácil de fazer e determinar figuras situam-
se na fronteira entre as duas espécies de prestação. É o que acontece nos casos em que o
devedor está obrigado a entregar uma coisa após a sua criação ou montagem ou após
determinadas alterações, ou obrigado a prestar um facto e ao mesmo tempo a entregar certas
coisas acessórias. As dificuldades do primeiro tipo de situação são bem ilustradas pelas
divergências doutrinárias a que dá lugar a distinção entre a empreitada e a compra e venda
de coisa futura, a fabricar pelo vendedor. Nos outros dois tipos de situação, em que há uma
prestação principal e uma prestação acessória de diferente natureza, têm, em regra, de ser
movidas duas ações executivas para a realização duma e de outra (artigo 709.º, n.º1, alínea b)
CPC); mas quando, movida execução pela prestação principal, haja lugar à indemnização por
equivalente pecuniário de ambas as prestações, a liquidação da indemnização pelo
incumprimento da prestação acessória deve ser feita juntamente com a liquidação da
indemnização pelo incumprimento da prestação principal, no âmbito da conversão da
execução interposta. Por outro lado, a apreensão duma coisa acessória, isto é, destinada a
servir a finalidade de cumprimento duma obrigação de prestação de facto, pode ter lugar na
ação executiva para prestação do facto.
Prestação de facto com prazo certo:
1. Direitos do credor perante o incumprimento: na interpretação do artigo 868.º,
n.º1 CPC, é inequívoco que, quando a obrigação é de prestação de facto infungível,
isto é, insubstituível por uma prestação de terceiro por lhe ser essencial a pessoa do
devedor, o credor não pode senão executar o seu direito à indemnização, a menos
que, não sendo a infungibilidade natural, a ela renuncie, pedindo a prestação por
terceiro do facto que tenha sido objeto do contrato. Quanto à prestação de facto
fungível, o artigo 868.º, n.º1 CPC consagra, aparentemente, a possibilidade de o
credor optar entre a execução específica (por outrem) e a indemnização
compensatória. Esta possibilidade de opção, que o artigo 828.º CC não contraria, é
admitida pela doutrina dominante, mas negada por Castro Mendes, para quem o
credor, em paralelo com o que acontece na execução para entrega de coisa certa, não
pode optar pela indemnização enquanto a prestação por outrem for possível, uma
vez que esta terá para ele o mesmo resultado que a prestação pelo devedor e o artigo
566.º, n.º1 CC estabelece como princípio geral que a indemnização pecuniária só é
admissível quando a reconstituição natural não seja possível. Recordemos o regime
geral do incumprimento das obrigações. Atrasando-se o devedor na realização da
prestação, mas sendo esta ainda possível, ocorre a situação de mora do devedor
(artigo 804.º, n.º2 CC), pela qual este é constituído na obrigação de reparar os danos
causados ao credor em consequência do atraso (artigo 804.º, nº1 e 806.º, n.º1 CC),
sem prejuízo de permanecer obrigado a efetuar a prestação, com o correspondente
direito do credor de exigir judicialmente o cumprimento (artigo 817.º CC). Mas, se,
em consequência da mora, o credor perder o interesse objetivo que tinha na prestação
ou se esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente for fixado (artigo
808.º CC), tal como quando a prestação se torne impossível por causa imputável ao
devedor (artigo 808.º, n.º1 CC), a simples mora cede lugar ao incumprimento da
obrigação e, então, o credor tem direito, em lugar da prestação, a uma indemnização
compensatória. Ora, de acordo com este esquema de soluções, uma vez não prestado
certo facto pelo devedor, na data do vencimento, o credor fica com direito à
indemnização moratória, mantendo o de exigir a prestação que lhe é devida: a simples
mora do devedor não lhe confere o direito de, desde logo, pedir a indemnização
compensatória. Mas, quando, citado para uma ação que pode revestir natureza
executiva, o réu não realize a prestação, na impossibilidade legal de o forçar
fisicamente a fazê-lo, a obrigação deve ter-se por definitivamente incumprida e só no
plano da indemnização é que o credor poderá fazer valer o seu direito contra o
devedor. Ora, quer tenha lugar a realização do facto por terceiro, quer o simples
recebimento, pelo credor, duma indemnização compensatória, isto traduz-se sempre,
para o devedor, no pagamento duma indemnização fixada em dinheiro: a execução
para prestação de facto positivo fungível visa menos a execução específica da
obrigação, no sentido comum do termo, do que garantir ao credor a prestação do
facto por outrem sem contestação do seu custo e sem se expor a ter de suportar o
excesso sobre esse custo. A ser assim, quando a prestação de facto fungível não é
efetuada, das duas uma:
a. Ou é ainda possível a prestação por terceiro e a indemnização
compensatória a suportar pelo devedor deve ser calculada em função
do custo atual da prestação do facto por terceiro: o devedor pagará o que
ao credor for necessário para que fique em situação idêntica àquela em que
estaria se a obrigação tivesse sido cumprida;
b. Ou a prestação por terceiro já não é possível e a indemnização
compensatória deve ser calculada em função do incumprimento: o
devedor compensará o credor dos danos sofridos por ter ficado sem a
prestação a que tinha direito.
No primeiro caso, é indiferente ao devedor que ao credor, recebida a indemnização
devida, recorra ou não à prestação por terceiro. Mas, se o credor pretender
efetivamente a prestação do facto por terceiro, poderá o seu custo efetivo ser
controlado pelo tribunal e não correrá o risco de, recebida a indemnização, vir a
pagar mais do que aquilo que recebeu. Tendo o credor a faculdade de optar, atende-
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formulado, quer ela já tenha sido fixada na ação declarativa, quer se pretenda agora a
sua fixação (artigo 876.º, n.º1 CPC).
2. A verificação da violação: uma vez que o ato ilícito do executado tem sempre, neste
tipo de obrigações, natureza positiva, a sua prova tem sempre de ser efetuada, por
aplicação analógica do artigo 715.º CPC, na fase liminar da execução. De particular
há, porém, que, quando a violação consista numa outra, esta deve ser verificada
através de perícia, que ao autor cabe requerer (artigo 876.º, n.º1 CPC). Verificada a
violação, o perito avalia logo o custo da demolição (artigo 876.º, n.º3 CPC). Se não
houver obra feita e a violação não tiver deixado quaisquer vestígios materiais, a prova
do ato ilícito do executado terá de ser feita por outros meios, inclusivamente pelo
depoimento de testemunhas. Claro que, se a verificação da violação tiver sido feita
em ação declarativa prévia, não há que repetir na ação executiva, a qual será proposta
em conformidade com o decidido na sentença exequenda.
3. Posição do executado face à execução: citado para a ação executiva, o executado,
além de intervir na fase liminar de verificação da violação, pode:
a. Proceder à demolição da obra, se obra houver, reparando assim
voluntariamente o dano;
b. Opor-se à execução: quanto a esta, pode ter por fundamento, quando haja
obra feita, o facto de a sua demolição representar para o executado um
prejuízo consideravelmente superior ao sofrido pelo exequente (artigo 876.º,
n.º2 CPC), caso em que a execução é suspensa logo após a realização da
perícia, independentemente de caução (artigo 876.º, n.º4 CPC).
4. Termos posteriores: reconhecida a falta de cumprimento da obrigação o juiz ordena
a demolição da obra, se a houver, à custa do executado, e fixa a indemnização devida
ao exequente (ou apenas fixa esta, se não houver demolição), seguindo-se, conforme
os casos, os demais termos da ação executiva para prestação de facto com prazo certo,
ou a sua conversão em ação executiva para pagamento de quantia certa (artigo 877.º,
n.º2, que remete para os artigos 869.º a 873.º, todos CPC). Quando a obrigação
violada for uma obrigação de pati, isto é, de tolerar certas obras ou factos a realizar
pelo credor, entende Anselmo de Castro que pode haver lugar a atos de assistência
judicial à realização da obra, a fim de impedir a continuação da violação pelo
executado. Não obstante o silêncio da lei, a solução impõe-se, em integração da
lacuna.
Execução por alimentos: pode ter por base um documento autêntico ou particular que
contenha a sua fixação por acordo das partes (artigo 2006.º CC) ou uma decisão judicial, quer
proferida no procedimento cautelar de alimentos provisórios (artigos 384.º a 378.º CPC),
quer em processo comum de alimentos definitivos. Aplicam-se-lhe as normas reguladoras
do processo comum para pagamento de quantia certa, com especialidades que têm em conta
a especial natureza da obrigação em causa:
1. O exequente pode requerer a adjudicação de parte dos vencimentos, pensões ou
outras prestações periódicas que o executado receba, ou a consignação de
rendimentos dos seus bens, para pagamento das prestações vencidas e vincendas de
alimentos, o que tem lugar sem precedência de penhora (artigo 933.º, n.º1, 2 e 3
CPC)M
2. Não há citação prévia (artigo 933.º, n.º5 CPC);
3. A oposição à execução ou à penhora não suspende a execução (artigo 933.º, n.º5
CPC).
Outra especialidade consiste no enxerto, no processo executivo pendente, da ação declarativa
de cessação ou alteração dos alimentos, provisórios ou definitivos (artigo 936.º, nº.1 e 2 CPC).
Não sendo estipulado prazo para a propositura desta ação, é de entender que pode ter lugar
a todo o tempo, sem efeito suspensivo da execução.
Investidura em cargos sociais: a pessoa eleita ou nomeada para um cargo social que for
impedida de o exercer pode requerer a investidura judicial (artigo 1070.º, n.º1 CPC). Após
contraditório (artigo 1070.º, n.º2 e 3 CPC), se o juiz ordenar a investidura, abre-se a fase
executiva do processo. A investidura é feita por funcionário judicial, que faz a entrega ao
requerente de todas as coisas de que deva ter a posse, após as diligências executivas, incluindo
arrombamento, que para o efeito forem necessárias (artigo 1070.º, n.º1 CPC). São
seguidamente notificados os requeridos de que não deverão impedir ou perturbar o exercício
do cargo (artigo 1071.º, n.º2 CPC).
Execução por custas e execução de despejo: não constitui hoje processo executivo
especial a execução por custas. Quanto à execução de despejo, é enquadrada no processo
comum destinado à entrega da coisa certa. A ambas, porém, se seguem algumas referências.
Ao abrigo da legislação revogada pelo Decreto-Lei n.º 224-A/96, 26 novembro, a execução
por custas tinha lugar, em certos casos, em processo especial. Desde então, o processo de
execução por custas segue os termos do processo comum, ainda que com a dispensa da
citação de credores, quando os bens penhorados sejam insuficientes para o pagamento das
custas e o executado não disponha de outros bens penhoráveis (artigo 35.º, n.º5 Regulamento
de Custas), e com observância do disposto no artigo 36.º RegCustas sobre a cumulação de
execuções. Nela não intervém agente de execução, cabendo a realização das diligências do
processo de execução a um oficial de justiça (artigo 722.º, n.º1, alínea a) CPC). A ação de
despejo foi, até à Lei n.º 49/90, 10 agosto, que aprovou o Regime do Arrendamento Urbano,
um processo especial de natureza mista, iniciado com uma fase declarativa e seguindo, se
necessário, por uma fase executiva. Revogadas as disposições do Código que regulavam a
ação de despejo, esta, quando respeitante a prédio urbano, conservou a natureza mista, mas
passou, na sua fase declarativa, a ser um processo comum (artigo 56.º, n.º1 RAU), em que,
proferida a sentença, se podia enxertar a fase executiva, que continuou a revestir a natureza
de processo especial de execução para entrega de coisa certa, que se processava mediante um
mandado emitido para o efeito (artigo 59.º, n.º1 RAU). Com o NRAU, a ação executiva de
despajo autonomizou-se da ação declarativa, constituindo título executivo alguns dos
indicados no artigo 15.º NRAU. Embora se afirme como processo comum, o processo
executivo para entrega de coisa imóvel arrendada está sujeito às regras específicas dos artigos
863.º a 866.º CPC. A execução tem lugar em face de toda e qualquer pessoa que esteja na
detenção do prédio, e não apenas perante o arrendatário, a não ser que o detentor exiba título
de subarrendamento ou cessão do direito ao arrendamento que perante ele seja eficaz (artigo
863.º, n.º2 CPC). Nestes casos excecionais, a execução do mandado é suspensa, mas incumbe