Repete-se com o D ireito Econôm ico o m esmo que se v erifica
com os dem ais ram os do conhecim ento, preocupados em oferecer soluções pró pria s para problem as novos: a determ inação do seu conceito é tarefa perm anente e in te rm in á v e l. Com isto não dize- mos que se tra te de d iscip lin a versá til, mas, apenas, que a insatisfação c u ltu ra l dos seus estudiosos lhes impõe o com prom isso de perm anente p e s q u is a . No m om ento, corre o risco de tornar-se em «m o dism o ». Uma avalanche de entusiasm o ameaça com prom eter-lhe o entend im en to sereno e c o rre to . E não falta m , mesmo, aqueles que ju lga m dom i- ná-lo, apenas pelo acréscim o do adjetivo econômico ao nom inativo do ramo de d ire ito de sua preferência. A estes, fa lta ga lg ar o p rim e iro degrau de observação para não m ais c on fund irem con- teúdo econômico do direito, com D ireito Econôm ico. Esta prim e ira adm oestação é necessária igualm ente para d is tin g ü ir a nossa d is - cip lin a do sim p les tra ta m e n to ju ríd ic o do elem ento econôm ico, ou seja, da legislação sobre tem a econôm ico, em geral, e o que se costum a cha m ar de D ireito da E conom ia. D iferente destas posições é a daqueles que procuram dar cunho sério de ca rá te r cie n tífic o à conceituação do D ireito Econô- m ic o . Mas, ainda entre estes têm sido tantas as respostas, que m uito s se deram ao tra b a lh o de c la s s ific á -la s . Há os que o veem com o a tradu ção do « e sp írito da época», dando ênfase às preocu-
* Conferência inaugural do «Primeiro Seminário Paulista do Direito
Econômico», realizado de 6 a 23 de maio de 1975 em São Paulo. pações econôm icas de nosso tem po. (H e d e m a n n ). Integram as chamadas Teorias da Cosm ovisão. Mas, os que o tom am por um a d iscip lin a autônom a fig u ra n d o ao lado das dem ais, adotam as técnicas usuais de conceituação, p a rtin d o do seu sujeito, do seu objeto e assim por d ia n te . Os problem as se m u ltip lic a m a p a rtir daí. Seu sujeito tem sido considerado de m aneira cada vez m ais am pla. De início, ligando-se a idéia de ativida de econôm ica às regras libera is, p re - dom inou a sedução de considerá-lo com o sendo a empresa. Mas, não só o Estado passou a fig u ra r na in icia tiva econôm ica, com o o pró p rio conceito de em presa recebe tra ta m e n to diverso, indo do em preendim ento, à pessoa que p ra tiq u e a ativida de. M uito s são os que o adm item com o o D ireito da Empresa (Kaskel, Lehm an, Kiraly, Hug), mas severa é a c rític a de que apenas retira m o que outros ram os do d ire ito haviam destinado ao assunto e lhe m udam o ró tu lo . Fortalecem ta is argum entos com o m odo pelo qual HUG, seu grande apóstolo, fala de uma empresa em geral, tra ta d a pela titu la rid a d e e relações ju ríd ic a s com o Estado e ou tra s em presas, organização da economia, nas form as societárias, direito das coisas, na relação da em presa com os elem entos m ateriais de que se serve, tráfico da economia, com o regim e dos atos ju ríd ic o s da empresa perante te rceiros, e direito do trabalho, nas relações da empresa com os seus dependentes. As posições que o tom am pelo objeto correm o risco de generalização. Levam ao D ireito da Produção, da C irculação, da Repartição, do Consumo (S ib u ru ). Sua ligação ao interesse eco- nôm ico como elem ento fun dam e ntal as expõem àquele risco. Há outros cam inh os. Assim , por exem plo, o dos te ó ric o s que penetram o sentido de suas no rm as. Podem destacar as relações entre o D ireito Econôm ico, que garante a segurança e a ordem , o Credo Econômico, que de fine os fin s a serem a tin g id o s e a Política Econômica, que fornece os m eios pelos quais se atingem ta is fin s (M o e n c k m e ir). Também se pode de stacar a «conexão de sentido» dessa norm a (C ottely), levando à ideologia como seu elem ento cen tra l ou ao ob je to do d ire ito quando lhe procuram os o conteúdo concreto. Ainda id e n tifica m o s os que o tom am por D ireito da Direção Econômica (La u tn e r), isto é, da orientação do processo econôm ico p o r regulam entações coativas a serem portadoras do objeto da ativida de econôm ica, dos meios e medidas postos em prática para a sua obtenção. Por o u tro lado, encontram os os que o condicionam a d e te r- m inado sistem a econôm ico (H ans e R obert G o ld sch im d t), isto é, ao conjunto de prin cíp io s que regem o sistem a de bens em uma com unidade. Tam bém vam os to m a r aqueles que o preferem com o o D ireito da C om unidade (B uw ert) alegando que o lib e ra - lism o te ria cuidado da sociedade e c o n figu rado o d ire ito na luta social, enquanto que na com unidade o D ire ito Econôm ico veria o Estado co n d u zir a vida econôm ica sem que para isso tenha, o b rig atoria m en te , de a g ir de modo d ire to ou de s u b s titu ir as forças criadoras do in d ivíd u o . A tualm ente, certos teó ricos buscam elem entos de s im p lifi- cação dos conceitos, considerando-o como o D ireito das Relações Econôm icas ou D ireito do Poder Econôm ico (F arja t), enquanto que outros se perdem em especificações, e, para c o n te n ta r velhas divisões, procuram um D ireito Privado Econôm ico, ou M icro- Econôm ico e um D ire ito P úblico Econôm ico, ou Macro-Eco- nôm ico (S avatier). A verdade, porém , é que, após a P rim e ira Guerra M un dial, o aprendizado das crises dos anos 2 0 e 3 0 e o Segundo C o nflito , ta n to a Ciência Econôm ica com o o pensam ento dos estadistas evoluíram no sen tido de e n c o n tra r fó rm u la s para as novas estru- tu ra s sociais, e que o d ire ito tam bém sente a necessidade de proceder do mesm o m od o. Esta realidade-jurídico-econôm ica que se nos im põe é que nos conduz à te n ta tiv a de a tin g ir um justo- certo, que atendendo à sua natureza com posta harm onize a explicação do certo econômico, dado pela Econom ia, com o modo de ser justo, dado pelo D ire ito . Estamos, até aqui, dian te da pro blem ática geral do d ire ito ante o econôm ico, que nos ocupará por m ais vezes, no de corre r destes raciocínios. H isto ricam e nte, por exem plo, houve aqueles que, p a rtin d o das cara cte rísticas da cham ada «econom ia de guerra» com a m obilização to ta l de forças econôm icas para esse fim , conside- raram o D ire ito Econôm ico apenas com o D ireito de G uerra (K ahn). Sua visão estava com prom etida com a ideologia liberal que não ad m itia esse tip o de vida econôm ica em tem po de paz. Mas, ainda nos prim eiro s autores preocupados com esse novo ram o do d ire ito , deparam os com m anifestações de bastante sen- s ib ilida de para deixar de lado aquele caráter de exceção e p ro cu- rarem d a r tra ta m e n to específico a fatos com o os negócios ou certa natureza de atividades, po r exem plo a agrária (Heym ann, L e h m a n n ). Bastaria le m b ra r in icia tiva s com o a de Justus Whi- Ihelm Hedemann, fundando o In s titu to de D ireito Econôm ico em 1918, para se co n fig u ra r o sentido desta visã o. O que se tem buscado na conceituação do D ireito Econômico, como elem ento fun dam e ntal desse esforço, é d e m o n stra r o modo pelo qual ele tra ta a re a lid a d e -ju ríd ico -e co n ô m ica . E, seguindo esta mesma linha é que vam os te n ta r re u n ir pontos de vista para vos oferecer um conceito a de ba te . Neste traba lh o, reafirm am os a posição fun dam e ntal de fix a r a d istinçã o entre Direito Econômico e conteúdo econômico do d ire ito , não havendo qu a lq u e r confusão possível entre as duas expressões. Do m esmo modo, darem os à expressão economici- dade um sentido pró p rio que será devidam ente esclarecido.
Feitas estas ressalvas, consideram os
O Direito Econômico, um conjunto de normas de con-
teúdo econômico que pelo princípio da economicidade assegura a defesa e a harmonia dos interesses individuais e coletivos, bem como regulamenta a atividade dos respecti- vos sujeitos na efetivação da política econômica definida na ordem jurídica.
P artim os do con dicionam ento de sua norm a típ ic a ser o b ri-
gatoriam ente portadora de conteúdo econôm ico, com o se viu e, com isto, não serem os a tin gidos pela restrição de te r usado o p ró p rio conceito no tra b a lh o de conceituar, pois a diferença in icia l foi cuidadosam ente estabelecida para o uso da expressão econômico na natureza do conteúdo ou na q u a lifica çã o de um ram o do d ire ito . Q ualquer ram o do d ire ito pode ser p o rta d o r de conteúdo econôm ico mas o D ireito Econôm ico o é o b rig a to ria - m ente. Não se lim ita , pois, à realização do certo econômico com as lim itaçõe s do modo de ser justo, que o D ire ito lhe d a rá . Indo m ais além, exigiria um tip o de fo rm u la çã o de «juízos de valor», a um só te m p o portadores dessas duas conotações. Buscarem os o justo-certo, capaz de adequar a conduta econôm ica a norm as ju ríd ica s que im peçam ro m p im e n - tos do e q u ilíb rio ou o estabelecim ento de c o n flito s de interesses. Neste ponto do raciocínio, já não conseguirem os desconhe- cer a presença do Poder Econômico como elem ento capaz de tu m u ltu a r toda a e stru tu ra ju ríd ica de m oldes tra d ic io n a is . O fa to da «concentração c a p ita lis ta » , a d s trito à sobrevivência da em presa na luta libera l da concorrência, o im põe de m odo in e v i- tá v e l. E o d ivó rcio ideologicam ente m an tido entre a ação do Estado e a atividade privada, encarregou-se de fo rta le cê -lo como in stru m e n to de dom inação p a rtic u la r. Se nos detiverm os atentam ente ao fato, ve rifica re m o s que, em verdade, o comprometimento ideológico é uma constante nas e s tru tu ra s econôm icas e ju ríd ica s, assim com o nas p ró pria s te o - rias que pretendem explicá-las da m aneira m ais cie ntífica. Confessamos, por exem plo, que nos é d ifíc il a ce itar a idéia de Economia Pura, mesm o quando os seus áulicos assim o p ro - curam dem onstrar, seja no «p on to de e q u ilíb rio » de W alras ou nas «forças» que sobre ele atuam , com o nos diz Pareto. Estas idéias são elaboradas para uma econom ia de m ercado, que, por sua vez, é com p rom e tida com a ideologia lib e r a l. O mesmo pensamos da norm a ju ríd ica . Tom á-la com o capaz de e xa u rir a idéia de d ire ito , com o se depreende da Teoria do D ireito Puro, não nos pe rm ite ir além da abstração. Pensamos que por sua pró pria natureza, esta norm a é portadora de um comando, que de term in a o comportamento com o um dever ser. Comportamento e ação id en tificam -se e não podemos conceber esta, sem um motivo ou móvel, que se baseia em vivências e fu n - ciona com o nexo causal entre ta is vivências e o juízo de valor, conduzindo-nos à decisão. Ora, se tem os o juízo de valor econômico e chegam os a esta decisão, o comportamento d e fin id o na norm a ju ríd ica vai tra d u z ir o d ire ito de conteúdo econôm ico. Mas, na procura do justo, temos que referí-lo ao juízo de valor ético, que é a justiça, a qual sempre deverá corresponder à ideologia definida para as relações sociais. O fim destas rela- ções sociais, portanto, que é o bem estar geral, passa a fu n cio - nar como juízo de valor político, porque destinado a configurar a racional adequação de meios a fins, na realização do que se defina como expressão do interesse s o c ia l. A análise da realidade jurídico-econôm ica passará a ser levada a efeito, portanto, como condicionada à ideologia que se incorpora na Política Econômica e se institucionaliza na Ordem Jurídica. Esta, em term os de dire ito positivo, exprime-se nas Constituições. O Direito Econômico pretende, justam ente, captar o sentido ideológico assim definido e tratá-lo a seu modo próprio. Esta pro- priedade de tratam ento reside no fato de in tro d u zir a categoria economicidade na determ inação do dever ser expresso em suas n o rm as. Trabalhamos esta idéia a p a rtir de Max Weber e a tomamos como o sentido de racionalidade baseado na linha de «maior vantagem», sendo que esta vantagem, por sua vez, tan to pode ter sentido econômico, como de outra natureza. Por exemplo, as normas de Direito Privado podem basear-se nos dispositivos da Ordem Jurídica para g a ra n tir a prática da livre concorrência, o dire ito de propriedade privada, o uso dos instrum entos contratuais pela afirm ação da autonom ia da vontade, e assim por diante. A ideologia adotada adm itirá tais princípios e corresponde à realidade econômica do mecanismo do mercado, com suas conseqüências todas. Mas, na mesma ideologia podem estar incluídos objetivos como o desenvolvim ento econômico, a solução social do problem a da habitação, a am pliação do m er- cado de emprego, a garantia de um certo nível m ínim o de vida e ou tro s. Definidos na Política Econômica, estes elementos ideo- lógicos passam a condicionar tanto a ação do Estado, como a do p a rticu la r. A estrutura jurídica deverá ser equipada para este fim . E o Direito Econômico incumbe-se de harm onizar aquelas ações evitando o co n flito de interesses. Assim, embora se respeite o dire ito à propriedade privada, este fica condicionado à sua m elhor u tilizaçã o. Os preços de determ inados produtos podem ser controlados. Os lucros de certas atividades, ig ua l- mente. A im portação de determ inados produtos pode ser proibida. O tratam ento excepcional de certa atividade ou região pode ju stificar-se. Não im porta que m uitos desses expedientes possam até mesmo ser considerados anti-econôm icos, pelos conceitos tra d ic io n a is . Pela «econom icidade», isto é, pela racionalidade baseada na ideologia adotada e traduzida na Política Econômica, é que se com preendem tais posições. Nela situa-se a explicação do fato de se con tro la r o poder econômico privado, mesmo no modelo liberal, impedindo-o de in frin g ir os seus princípios fundam entais. E observe-se que não se trata de tom ar o Direito Econômico por um super-direito, por um sentido geral ou método de aplicação e interpretação da norma ju ríd ic a . Ao contrário, afirm a-se como disciplin a autônoma, com campo, conceitos, regras, in stitu tos e método p ró prio s. A isto, acrescente-se a particularidade de não a d m itir sua inclusão nem no Direito Público, como querem m uitos, nem no D ireito Privado, como pretendem outros, mas assum indo a posição de im p or suas normas independentem ente de tal d iv i- são e sempre que se configure o seu modo de ser, no seu campo e sp e cífico . A mais clara exposição de nosso posicionamento, parece requerer o tratam ento de alguns detalhes. Assim, estudando-lhe as categorias do conhecimento, não ficarem os apenas na economicidade. Cottely, por exemplo, d is tin - gue-as em dinâm icas e estáticas, conform e sejam referidas a atos ou a fatos. E enumera, entre outras, a administração, a asso- ciação, os comprometimentos, o domínio dos bens, a convenção, a comunhão, a prestação, a assinação, a gestão, a relação, a participação, e assim por diante. No tocante aos Institutos do D ireito Econômico, tan to nos revelam o seu campo, como os instrum entos de que dispõe. Assim , por vezes, consideramos como ta l, o próprio fato econô- mico erigido a essa condição, como a Produção, a Circulação, a Repartição, o Consumo, a Atribuição, a Concentração e o Desen- volvimento. O utras vezes, tratam os, nesta condição, o conjunto de princípios da pró pria ação econôm ica, como a Intervenção ou o Planejamento. São tra ta d o s ju rid ic a m e n te por norm as típ ica s de D ireito Econômico, vasadas no objetivo de c u m p rir a Política Econômica adotada e entendidos pela « e co n o m ic id a d e » . Quanto às regras de D ireito Econôm ico, são consideradas com o «in stru m e n to s destinados a exercer a m aior eficácia possí- vel em certas funções relacionadas com a econom ia» (G. F arjat). Assim , consideradas ao nível das suas estruturas, destacam -se a sua grande m ob ilida de e o cará te r d is c ip lin a r variado, indo do im perativo ao perm issivo e apresentando grande plasticid ad e. Ao mesmo tem po, definem -se, m ais pela situação econôm ica objetiva do que por intenções subjetivas das p a rte s . Ao nível de sua interpretação, exigem conhecim entos cie n tífic o s de Econom ia, o que tem levado alguns crític o s a v is lu m b ra r nesse fa to o que cham am de «desjuridicização do direito». Não concordam os com tal a firm a tiv a , pois aí ju sta m en te reside o ponto cru c ia l de se e vita r a elaboração de leis por conhecedores da Economia, mas desconhecedores do D ireito, do m esm o modo que se lim ita r a explicação do fa to econôm ico po r m eros laudos técnicos, quando se busca o « ju s to -e c o n ô m ic o » . Por fim , ao nível de sua inter- pretação e aplicação, co n fig u ra m os d e lito s e sanções, mas, ainda aqui destacam os o sentido de «econom icidade», que de fine os lim ite s do lícito, pela satisfação da id e o lo g ia . Equipado com estes in stru m en to s, o D ireito Econôm ico enfrenta os desafios da cham ada sociedade in d u s tria l e, mesmo, das que já se convenciona a p e lid a r p ó s -in d u s tria l. V erifican do bem, o aperfeiçoam ento das técnicas de exercí- cio do Poder Econôm ico tem concom itância com o avanço te c n o - lógico g e ral. Sua capacidade de in filtra ç ã o e de do m ín io do Poder P olítico é um dos traços m ais presentes desta realidade. Pelo d ire ito de voto, consegue atu a r na com posição do Legislativo, e pela am pliação do sen tido de barganha, in flu i na form ação dos «quadros» exe cutivo s. A estru tu ra libera l dem ocrata foi, assim , tu m u ltu a d a em suas bases ideológicas. Os «centros de decisão» desse Poder Econôm ico Privado, po r sua vez, com prom etem a p ró pria idéia de d o m ic ílio ju ríd ico , e apresentam ta l m ob ilida de que nem as e s tru tu ra s ju ríd ic a s das nações m ais poderosas têm conseguido c o n tro la r. A em issão de suas ordens, segue o governo privado das em presas e dos grupos, e furta-se à ju risd içã o dos países em que a tu a m . Dispõem de m eios suficientes para desobedecê-los, como o de cria r graves problem as sociais do tip o «desem prego», ou usarem de expedien- tes piore s. Recursos m ateriais e hum anos passam a ser utilizad os independentem ente de sua localização em q u alque r la titu d e do globo ou em qu a lq u e r país, tendo por referência tão som ente o interesse econôm ico do de tentor desse Poder. Assim , a idéia de «espaço econôm ico», tão desenvolvida na Econom ia, não dispensa mais o correspondente tra ta m e n to ju r í- d ic o . Na graduação dos poderes municipal, estadual e federal, do modelo clássico, tem os que in c lu ir o sentido do poder metro- politano, regional e supranacional, para adaptar o Poder Político à nova realidade. Este é o cam inho que conduz à com preensão das m edidas de natureza econôm ica que visam o estabelecim ento da «em presa-m otriz», deflagradora das forças de dom inação capazes de in flu ir em toda a «área-problem a»; dos conceitos ju ríd ic o s de «á rea -m etropo lita na» , para atender ao fenôm eno da «conurbação», com a expansão horizontal urbana em cidades ten ta cula res; da idéia de «organism os regionais», no in tu ito de s u p rir as falhas do rig o rism o con stitucio na l da autonom ia do Estado-M em bro, no Federalism o, e abrin do as possibilidades do Planejam ento Regional Interno e dos Planos de Integração, numa dim ensão s u p ra -n a c io n a l. Em decorrência, conceitos com o os de «solo», «necessida- des», «bens», interesses « m e tro po litan os» , «regionais», ou «su- pra-nacionais» não se ajustam à m edida das m alhas ju ríd ica s clássicas e têm os seus padrões de finidos no D ireito Econômico. Mas, deixem os de lado estas áreas mais ou menos inusitadas para o d ire ito clássico e id en tifique m os a presença do D ireito Econôm ico bem próxim o daquele. Elementos que o caracterizam estão d istrib u íd o s no corpo de leis vigente em nosso país, e, por vezes, rotulados sob o títu lo de disc ip lin a s tradicio nais, ou jogados em textos esparsos. Buscam eles, à fa lta de uma consolidação ou, mesmo de uma codificação, tra d u z ir nesses setores os p rin cí- pios da política econômica correspondente à ideologia adotada. Assim, na legislação referente a recursos m inerais, energéticos, florestais, à fauna, identifica-se a ideologia preservadora contra a exploração predatória ou con flitan te com os interesses da in ic ia - tiva na cio nal. Exemplo mais recente situa-se no Estatuto da Terra, quando o d ire ito à propriedade privada do solo, para a exploração agro-pecuária, está condicionado ao cum prim ento de índices de produtividade caracterizadores da «empresa rural» ou do « latifún dio por exploração». Estes conceitos, definidos na pró- pria lei, ju stificam medidas de estím ulo ou de sobrecargas fiscais, chegando até à aplicação da ideologia, nos extrem os da garantia de sua continuidade em mãos particulares ou de sua desapro- priação. O exemplo é precioso quando se observa que, enquanto pela ideologia da C onstituição de 1891, com o seu correspondente Código Civil de 1916-1917, a propriedade da terra exprim ia o d ire ito amplo quanto ao uso, na Constituição de 1969, no ante- projeto do Código Civil, em tram itação, e no Estatuto da Terra, vigente, aquele d ire ito de propriedade vincula-se à ideologia do desenvolvim ento, definida por índices de produtividade. O trabalho é outro ponto de toque igualm ente sig n ifica tivo . M uito cedo, a ideologia da autonom ia da vontade e da liberdade de decisão individual com prom eteu o contrato de trabalho com falhas visíveis e possibilitou o nascim ento do D ireito Trabalhista, para con ferir tratam e nto especial àquele tip o de contrato. Mas a sociedade atual viu expandir-se um vasto campo de relações referentes à Política Econômica que reclam am o tratam e nto do trabalho por outros ângulos. Sua m anifestação básica pode ser indicada nas novas responsabilidades do Estado perante o cidadão capacitado a tra b a lh a r. Trata-se, pois do d ire ito ao tra b a lh o . Revela-se por fatos como o «desem prego», as migrações de mão de obra, o seu preparo, a definição do poder aquisitivo pela política salarial, a participação das massas trabalhadoras na efetivação da política econômica, seja como participante da produção, seja como com ponente do mercado consum idor, o padrão de vida tom ado à base da economia dom inante ou da economia dominada, e assim indefinidam ente. Todos estes temas são propostos à decisão do Poder Político ante manifestações do Poder Econômico. Exigem, pois, um direito capaz de solucionar- lhes os conflitos a p a rtir da «econom icidade», ou seja, de modo a g a ran tir o objetivo final definido na ideologia a d otad a. Outro não será o modo de considerar-se o capital nas relações econômicas externas ou internas. Em dimensão in te rna- cional, baldadas foram as tentativas de definir-lhe nacionalidade para condicioná-lo a dispositivos de ordem jurídica vigente e configurada pela fronte ira dos países. No âm bito do próprio país, enquanto instrum ento de circulação da riqueza, condiciona-se à política de emissões de moeda, de dinamização do crédito, de atividade do sistema bancário, dos meios de pagamento, enfim , projetando-se nas condições do poder aquisitivo, nas p o ssib ili- dades do desenvolvimento geral, no em pobrecim ento ou enrique- cim ento sem causa, sem que ao p a rticular sejam dadas seguranças, a não ser pelo prévio conhecimento daquela orien- tação. Conseqüências de surpresas ou de legislação im perfeita redundam em fatos como a descrença no mercado de capitais, a indecisão na economia rural e outras. Ainda no quadro da circulação da riqueza, a inflação reclama algumas considerações, sobretudo pelo fato de co n s titu ir uma form a de política econômica, enquanto que o direito tra d i- cional insiste em entendê-la como fenômeno teratológico do organism o social ou uma exceção ocasional, não merecedora de soluções definitivas. Ora, form a, que é, de política econômica, sua duração pode continuar, como sói acontecer entre nós, e, juridicam ente, perdurante ou não, os seus efeitos são decisivos para os sujeitos de d ire ito . Numa rápida vista ao «Sum ário de Jurisprudência sobre Correção Monetária no Supremo Tribunal Federal» (19 71 ), pudemos contar cerca de 150 julgam entos definidos em treze tipos de ações. Entretanto, não se pode con- c lu ir que o sentido do justo-econômico tenha sido atingido em moldes satisfatórios ao tratam ento da inflação como um in s tru - mento de política econôm ica. A regra da indexação, desenvolvida pelo D ireito Econômico, tratando o mesmo tema pelo princípio da economicidade, teria possibilitado aquele objetivo, em nosso modo de entender, pois que se aplica a ajustar os efeitos da inflação à ideologia, im pedindo resultados in justo s e o seu uso in oportuno ou inadequado. As lim itações na turais dos ram os tra d ic io n a is do d ire ito não conseguem oferecer-nos in stru m en to s capazes de s olucio na r estes típicos problem as da sociedade a tu a l. Técnicas de ação dos próprios governos podem ser u tilizad as com excessos de a rb ítrio em nome de interesses pú blicos, do mesm o modo que os meios de luta do Poder Econôm ico privado fogem ao con tro le do Poder P olítico . Para tal situação é que o D ireito Econômico oferece os recu rsos. Assim , a Intervenção in stitu cio n a liza d a , os Planos legislados, a po lítica econôm ica previam ente de fin id a , corrigem -se do ca rá te r e dos vícios da arb itra rie d a d e , do m esmo modo que a ação privada pre ju d icia l passa a ser coibida pelas norm as da id e o lo g ia . S uprim em -se as m edidas econôm icas de surpresa, por parte dos governantes, e de espoliação pelos p a rti- culares, ou, quando não, caracteriza-se-lhes de modo in discu tíve l, o sentido ilíc ito . Parece estar clara a nossa te n ta tiv a de co n ce itu a r o D ireito Econôm ico com o um ram o do d ire ito capaz de atender a qu a lq u e r m odelo da sociedade m oderna, em vez de apresentá-lo tão som en- te como um «m odelo ju ríd ic o a n ti-lib e ra l» , com o têm fe ito alguns de seus te ó ric o s . Este posicionam ento, se aceito, confere-lhe a condição de independência de esporádicas m odificações na configuração po lítica da organização social e, por isto, le gitim a de modo real a sua condição de ram o autônom o do d ire ito . Eis o que tem os a vos oferecer, senhores, sobre «C onceito de D ireito Econôm ico» no presente m om ento de nossas pesquisas e nos curtos lim ite s de nossa capacidade. Em verdade, pensam os que este « P rim e iro S em inário Pau- lista de D ireito Econôm ico» terá, inevitavelm ente, a projeção nacional que m arcam as boas in icia tiv a s p a rtida s do cen tro cu ltu ra l de São P au lo . Por isto, atrevem o-nos a propor-vos duas tarefas fu n dam e ntais para a p ró pria atualização e p ro fis s io n a li- zação do d ire ito b ra sile iro neste s e to r. Constam de s a ir deste certam e a sugestão aos poderes da R epública e o tra b a lh o p ro fí- cuo de esclarecim ento, no sentido de que, ten do em vista a sua im portância, a) seja estabelecido o ensino de D ireito Econôm ico com o d is c ip lin a o b rig a tó ria do cu rrícu lo m ínim o das Faculda- des de D ireito do B rasil;
b) seja elaborado o Código de D ireito Econôm ico ou a
Consolidação da Legislação B rasileira de D ireito Econô- mico, dando-se sistem atização e hom ogeneização aos dispo sitivos legais esparsos e que, por isto mesmo, são acusados de com plexidade e de contradições.
P articu la rm e nte, pensamos que a fase das discussões te ó ri-
cas desta m atéria já está cum p rida e sua continuação deve ser deixada aos In s titu to s e organism os de p e s q u is a . Urge, agora, fo rm a r p ro fissio nais que a dom inem para ocuparem o vasto m ercado de tra b a lh o a eles destinado e que, no entanto, está indevidam ente preenchido nas assessorias a todos os escalões governam entais e aos três poderes, nas empresas, e nos e s c ri- tó rio s de a d v o c a c ia . Do mesmo modo, é necessário dar-se consistência ao D ireito Econôm ico B rasileiro, sistem atizando a legislação existente e aperfeiçoando-a, pois o fenôm eno do desenvolvim ento é, sem dúvida, o m aior desafio a este tip o de ju ris ta e o B rasil, um dos países que, pelas suas características, mais exigem a ação deste p ro fis s io n a l. Em m atéria de D ireito Econômico, já não tem os mais con- dições para so n h a r. A realidade nacional é, por si, tão grandiosa a respeito, que as tarefa s im ediatas bastam para nos a lim e n ta r as pre ocu paçõ es. . .