Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Jesus de Nazaré e o Reino de Deus, Uma Abordagem A Partir Do Pensamento de Jon Sobrino PDF
Jesus de Nazaré e o Reino de Deus, Uma Abordagem A Partir Do Pensamento de Jon Sobrino PDF
ele é o símbolo pelo qual Jesus quis exprimir o seu projeto. Sua vida
inteira se compreende a partir dessa noção, sua figura histórica só tem
sentido a partir dessa realidade do Reino de Deus. Ele ocupa lugar
central na vida de Jesus e, por conseguinte, na teologia que quer
compreendê-lo. (MANZATTO, 2007, p. 40)
Tal temática adquire centralidade não só na vida de Jesus, mas também numa reflexão
cristológica latino-americana. O artigo disserta sobre a relação entre Jesus e o Reino de
Deus, com o intuito de compreender Jesus a partir do Reino.
Para isto será tomado o pensamento do teólogo Jon Sobrino, devido a gama de
obras que abordam a temática aqui trabalhada. Sobre a reflexão teológica de Jon
Sobrino assim se refere Manuel Hurtado:
Encontra-se na reflexão de Jon Sobrino esta centralidade que será trabalhada neste
artigo. De início argumentando sobre como o Reino aparece na atuação histórica de
Das duas expressões é preciso dizer, em primeiro lugar, que são palavras
autênticas de Jesus. Em segundo lugar, que expressam realidades totalizantes,
pois com “reino de Deus” Jesus expressa a totalidade da realidade e aquilo que
é preciso fazer, e com “Pai” Jesus expressa a realidade pessoal que dá sentido
último a sua vida, aquilo em que Jesus descansa e que, por sua vez, não o
deixa descansar. Finalmente, “reino de Deus” e “Pai” são realidades
sistematicamente importantes para a teologia porque a partir delas pode
organizar e hierarquizar melhor as múltiplas atividades externas de Jesus, pode
conjecturar o que foi Jesus em sua interioridade e, certamente, pode dar a
razão de seu destino histórico de cruz.(SOBRINO, 1994, p. 105)
Está claro que o centro da pregação de Jesus não foi ele mesmo. Partindo de sua
experiência única com o Pai, experimentando uma nova forma de sentir, perceber e
conceber Deus, Jesus se dedica a realizar uma única atividade, o anúncio do Reino,
fundamento da sua existência.
Jesus prega o Reino de tal forma que este aparece, em sua pregação, como a
realidade última a ser buscada, ou como realidade última da divindade manifestada à
humanidade. Alguns aspectos mostram como Jesus se posicionava diante desta
realidade e a seriedade com que se dedicava a dar mostras do que era fundamental.
Sobrino apresenta tais aspectos: a pregação do Reino enquanto proximidade, a tomada
de uma decisão ante sua pregação e por último a exigência do seguimento radical 1 (cf.
SOBRINO, 1999, p. 152-153).
O primeiro aspecto indica como Jesus delimita o Reino. Este não é uma
realidade apenas futura ou uma expectativa utópica, o que poderia fazer alguns supor
que se tratava de uma fantasia de Jesus. Contudo, ele está se realizando, está
próximo, não física nem geograficamente, mas em seus gestos e palavras. Afirma
Sobrino que
Jesus tem a audácia de pregar não somente a vinda do reino, como também a
proximidade e a certeza dessa vinda – ainda que em princípio o reino pareça
tão pequeno como um grão de mostarda (cf. Mc 4, 30ss) –. Diferentemente dos
apocalípticos, pois Jesus não anuncia a salvação somente para o futuro, mas
afirma que já está chegando (cf. Mc 1,15), se bem que no final mudara ou
2
incrementara sua visão com o discurso apocalíptico (cf. Mc 13) (SOBRINO,
199, p. 152)
1
Jon Sobrino Apresenta nesta obra cinco aspectos que mostram a centralidade do Reino na vida de Jesus. Contudo,
tomaremos apenas três destes aspectos para fundamentar este artigo.
2
“Jesús tiene la audacia de predicar no sólo la venida del reino, sino la cercanía e la certeza de esa venida – aunque
al principio el reino parezca tan pequeño como um grano de mostaza (cf. Mc 4, 30ss) -. A diferencia de los
apocalípticos, pues, Jesús no anuncia la salvación sólo para el futuro, sino que afirma que ya está llegando (cf. Mc 1,
15), aunque al final cambiara o matizara su visión en el discurso apocalíptico (cf. Mc 13 par.)”.
Jesus é bem claro quando exige uma resposta. Tal resposta é decisiva para a salvação,
pois a mesma passa evidentemente pela experiência com ele. Ainda que seja explícito
o caráter escatológico do Reino, é interessante a necessidade da resposta de seus
interlocutores. Deve haver uma contrapartida da parte daqueles que ouvem Jesus.
O terceiro aspecto aparece mais como consequência da resposta, isto é, da
tomada de decisão surge o seguimento. Aparece aqui a exigência do seguimento
3
“Jesús tiene tambiém la pretensión de que la salvación escatológica se decide con la toma de postura ante él. En
Mc 8, 38, la tradición más antígua, Jesús afirma que ‘quién se avergüence de mí y de mis palabras en esta generación
adúltera y pecadora, también el Hijo del hombre se avergonzará de él cuando venga en la gloria de su Padre com los
ángeles’. En este pasaje Jesús [...] tiene la osadía de hacer depender la salvación de cómo se reaccione ante él”.
4
“El fenômeno del seguimiento no era cosa novedosa em tiempo de Jesús, pues los rabinos tenían discípulos y
enviados [...]. Lo novedoso es que Jesús exige el seguimiento, con gran radicalidad, pues hay que dejarlo todo y sin
condiciones (cf. Lc 9, 57-62), y hay que hacerlo por el mero hecho de ser llamado por Jesús y para estar unido a la
persona de Jesús, no sólo a su causa, como aparece em los inícios de su misión [...]. Como es sabido, a diferencia de
los rabinos Jesús no plantea el seguimiento en torno a la ley, sino en torno al reino y a su persona. Por éso él es que
“llama” a los discípulos, y no son éstos los que Le eligen – lo cual implica uma relación que expresa algún tipo de fe
– ”.
5
“la conclusión és que Jesús es presentado de tal manera que pudo aparecer realmente como alguien ‘muy especial’
en relación a lo que para él y sus oyentes era lo último: el reino de Dios. De esta forma, lo último aparece
relacionado intimamente con él”.
Considerações finais
Diante da realidade a teologia parece ter-se ocupado demais com a ontologia e
esquecido o homem concreto. A possibilidade de uma reflexão diferente é apresentada
pela teologia latino-americana como teologia da libertação. Diante das vicissitudes do
ser humano o pensamento teológico latino-americano volta-se para o homem concreto,
por isso a cristologia da libertação resgata o Jesus histórico. O enfoque desta
cristologia é a prática de Jesus, proveniente da Galileia, nazareno. Este Jesus
apresenta um modo de viver a fé, uma mentalidade nova de se relacionar com Deus, e
traz em sua pregação a realidade nova da iminência e concretização do Reino de Deus.
Jesus ousa sentir e pensar Deus de uma forma diferente, ele faz experiência de
Deus como Abbá. De forma que tal experiência o leva à prática do anúncio do Reino.
Com este anúncio Jesus deixa transparecer uma realidade não apenas escatológica,
mas atual. Diante do modelo de homem perfeito os cristãos têm diante de si o grande
desafio de construir novas práticas de vida, a grande tarefa de dinamizar sua vivência
cristã e eclesial e modificar a estrutura social. A tarefa da teologia, para a reflexão
teológica elaborada na América Latina, não é apenas atualização do dogma e
especulação teológica, mas também um chamamento a um modo de vida diferente, ela
contém em si um convite à ação. É sobretudo um convite ao seguimento.
Seguir o Cristo é trabalhar incessantemente para que irrompa o Reino de Deus
proclamado por Jesus de Nazaré. Empenhar-se na realização do Reino é considerar o
sofrimento experimentado por Jesus. Sofrimento que é igual ao de tantos homens e
mulheres que ao longo da história sofreram a repressão das estruturas de poder. É
sofrimento de milhões que vivem em nossa América Latina, na África ou na Ásia
padecendo fome e miséria, suportando a ignomínia da exclusão social. Seguimento
Referenciais
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso
tempo. Petrópolis: Vozes, 1986.
BOMBONATTO, Vera Ivanise. Seguimento de Jesus: categoria cristológica. In
Horizonte Teológico, Belo Horizonte, v. 1, nº 2, p. 79-89, jul./dez. 2002.
FABRIS, Rinaldo. Jesus de Nazaré: História e interpretação. São Paulo: Loyola, 1988.
HILGERT, Pedro Ramão. Jesus histórico: ponto de partida da cristologia latino-
americana. Petrópolis: Vozes, 1987.
HURTADO, Manuel. Novas Cristologias: ontem e hoje, algumas tarefas da cristologia
contemporânea. In Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 40, nº 112, p. 315-341,
set./dez. 2008.
MANZATTO, Antonio. Cristologia latino-americana. In SOUZA, Ney de (org). Temas de
teologia latino-americana. São Paulo: Paulinas, 2007.
PAGOLA, José Antonio. Jesus, Aproximação histórica. Petrópolis: Vozes, 2010.
SOBRINO, Jon. Jesus, o libertador I: A história de Jesus de Nazaré. São Paulo: Vozes,
1994.
_____. La fe en Jesucristo: ensayo desde las víctimas. Madrid: Trotta, 1999.