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EM PME
FICHA TÉCNICA
Título
Guia para a Eco-inovação em PME
Projeto
Ecoprodutin – Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
Entidade Promotora
AEP – Associação Empresarial de Portugal
Equipa
Maria da Conceição Vieira
Paulo Amorim
Manuela Roque
Depósito Legal
394588/15
Junho 2015
ÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO 9
2. ECO-INOVAÇÃO 10
2.1. Conceito de Eco-inovação 10
3.3. Análise 42
6. CONCLUSÃO 120
7. BIBLIOGRAFIA 121
Figura 29. Avaliação de ideias de acordo com o método das três dimensões - Exemplo
prático 79
Figura 42. Diagrama de árvore para delimitação das fronteiras do sistema em estudo 108
Num mundo em que o preço dos materiais e da energia é cada vez mais elevado, e sem mostrar sinais de
abrandamento, particularmente devido à emergência de potências altamente consumidoras de recursos,
sendo a China o maior exemplo, a produtividade dos recursos afigura-se como um fator fundamental para a
competitividade das empresas a curto/médio prazo.
Paralelamente, a única forma de caminharmos rumo a uma economia mais sustentável, com maior qualidade
de vida para os cidadãos e respeito pelo ambiente é precisamente uma crescente racionalização dos recursos
utilizados no processo produtivo, bem como ao longo de todo o ciclo-de-vida de um produto.
Eco-inovar é precisamente ser capaz de conceber e desenvolver processos produtivos que evitem o desperdício
de matérias-primas e de energia, proporcionando às empresas os tão desejados ganhos de produtividade e
acrescida competitividade. É este o desafio que o projeto «ECOPRODUTIN – Produtividade na Indústria pela
Eco-inovação» vem colocar ao tecido industrial português.
Nesse sentido, o projeto incorpora diferentes ferramentas, que adereçam diferentes propósitos da
eco-inovação nas empresas.
A presente publicação, intitulada "Guia para a Eco-inovação em PME", fornece um conjunto de informações
necessárias à implementação de uma estratégia coletiva, tendo em vista a incorporação da vertente
eco-inovação na gestão empresarial, evidenciando como a sustentabilidade se pode transformar numa
vantagem competitiva e um fator de diferenciação no mercado. O foco deste trabalho é precisamente a
incorporação da eco-inovação na gestão de empresas.
A AEP – Associação Empresarial de Portugal pretende que este estudo constitua uma importante ferramenta
de apoio à implementação da eco-inovação no universo empresarial, de fácil consulta, ideal para guiar os
primeiros passos da implementação de políticas eco-inovadoras quer ao nível operacional, quer ao nível da
gestão empresarial.
A eco-inovação pode ser considerada em relação a todos os tipos de inovações que levem a menor intensidade
de recursos e energia na fase de extração de material, fabrico, distribuição, reutilização e reciclagem e
eliminação. Isso, porém, caso conduza à diminuição da intensidade dos recursos a partir da perspetiva do ciclo-
de-vida do produto ou serviço.
O termo “ciclo-de-vida” refere-se à maioria das atividades no decurso da vida do produto desde a sua
fabricação, utilização, manutenção e deposição final, incluindo a aquisição de matéria-prima necessária à
fabricação do produto. A Análise de Ciclo-de-Vida (ACV) é a compilação e avaliação das entradas e saídas de
materiais e dos potenciais impactes ambientais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo-de-vida.
Num estudo ACV de um produto ou serviço, todas as extrações de recursos e emissões para o ambiente são
determinadas, quando possível, numa forma quantitativa ao longo de todo o ciclo-de-vida, desde que "nasce"
até que "morre" – “from cradle to grave” (do berço ao túmulo) – sendo com base nestes dados que são
avaliados os potenciais impactes nos recursos naturais, no ambiente e na saúde humana.
A eco-inovação tem em conta todo o ciclo-de-vida do produto, em vez de se focalizar apenas em aspetos
ambientais de etapas individuais do ciclo-de-vida. Pode assumir diversas formas, podendo traduzir-se numa
ideia para uma nova start-up ou produto, bem como numa forma de melhoria nas operações já existentes na
empresa. Seja através de produtos novos ou já existentes, este é um conceito que promove a redução de
impactes ambientais nos momentos da conceção, produção, uso, reuso e reciclagem.
Em suma, a eco-inovação é caracterizada pela chamada ecologização do ciclo de inovação, que é o foco no
desenvolvimento de inovações, estruturas organizacionais, instituições e práticas adequadas à redução das
emissões de carbono e de impactos ambientais.
Esse processo é mais do que a substituição para tecnologias de baixo carbono, e sim a evidência de novas
aprendizagens envolvendo a criação de novos conhecimentos, valores, procura de regras e capacidades, assim
como a destruição criativa de antigas práticas e capacidades.
Fundamentalmente, a eco-inovação é algo que faz sentido não só do ponto de vista ambiental, uma vez que
contribui para a preservação do meio ambiente, mas também de um ponto de vista económico, uma vez que
uma maior eficiência nas organizações se traduz invariavelmente em redução de custos e aumento da
competitividade.
Segurança de materiais
POLÍTICA
Justiça na distribuição de recursos
Assim, a eco-inovação contribui não só para a "limpeza" ambiental, como também para a desmaterialização da
sociedade. Ultimamente, contribui para uma economia mais competitiva, um meio ambiente mais saudável e
uma melhoria da qualidade de vida das populações.
A eco-inovação interage com estas quatro vertentes de uma forma tecnológica, bem como de uma forma
não-tecnológica. Ou seja, a eco-inovação não se esgota no aperfeiçoamento e introdução de novas tecnologias,
mas assume também um caráter cultural, de influência na sociedade.
Eco-inovação tecnológica;
Eco-inovação organizacional;
Eco-inovação social;
Eco-inovação institucional;
Eco-inovação no sistema.
Cada uma destas formas de eco-inovação reflete uma abordagem distinta ao problema da sustentabilidade
ambiental e das empresas, sendo, no entanto, indissociáveis e parte integrante de um todo. Assim, nenhuma
destas vertentes tem primazia sobre as outras.
As tecnologias preventivas são necessariamente preferíveis, havendo diversas tipologias destas tecnologias
disponíveis. As mais usuais são as tecnologias de fim-de-linha e as tecnologias integradas.
Contrariamente, as tecnologias integradas ou mais limpas, focalizam-se na causa direta do problema, durante o
processo produtivo ou ao nível do produto. Compreendem todas as medidas direcionadas à redução dos inputs
de materiais e energia, bem como de emissões, durante a produção e o consumo (e.g. substituição de vernizes
tradicionais por vernizes isentos de solventes). Estas soluções são preferíveis às tecnologias de fim-de-linha e
são vistas como o futuro, no caminho para a sustentabilidade empresarial.
Eco-inovação Organizacional
A eco-inovação organizacional compreende instrumentos de gestão que levem a mudanças na organização da
empresa, como por exemplo, a realização de eco-auditorias. A eco-inovação no setor dos serviços torna-se
cada vez mais relevante à medida que os produtos materiais são substituídos por serviços menos intensivos em
materiais.
Eco-inovação Social
Alterações no estilo de vida e comportamentos dos consumidores são usualmente definidos como inovação
social. No âmbito da eco-inovação, este conceito traduz-se numa maior sustentabilidade dos padrões de
consumo. Qualquer inovação bem-sucedida, seja ela tecnológica, organizacional ou institucional na sua
natureza, tem forçosamente que se misturar com os valores e estilo de vida das populações.
Computadores, televisões e automóveis tornam a vida das pessoas mais confortável. No entanto, as empresas
continuam a investir verbas avultadas em campanhas promocionais para vender estes produtos e influenciar as
preferências pessoais.
É expectável que o esforço promocional para a promoção de estilos de vida sustentáveis tenha que ser ainda
mais forte. A título de exemplo, para que se altere a matriz de transportes de uma sociedade, são necessárias
alterações comportamentais que levem a uma maior utilização de comboios, metros, autocarros ou bicicletas.
Para que a eco-inovação social funcione, é necessário estar predisposto a pagar um pouco mais e abdicar de
algo (pelo menos numa fase inicial), bem como a introdução de novas instituições e instrumentos (como por
exemplo, rótulos ecológicos). Assim, é fundamental identificar os principais obstáculos para a difusão de
processos e produtos já existentes, como barreiras institucionais, ausência de infraestruturas, marketing
profissional, conhecimento, qualidade, conforto ou sistemas de distribuição, fatores que podem levar a rácios
custo/benefício desfavoráveis para o consumidor.
Para que um paradigma de desenvolvimento sustentável nos sistemas económico e ambiental seja viável, é
necessário que os incentivos e regulamentação institucional acompanhem o progresso tecnológico. Os recursos
naturais estão fundamentalmente sujeitos a um regime de acesso livre e o seu uso insustentável deriva
também da ausência de arranjos institucionais adequados.
A resposta a esta nova realidade pode vir de redes e agências locais (e.g. para recursos hídricos com relevância
local) ou através de novos regimes de governance global (e.g. instituições responsáveis por assuntos
relacionados com o clima global e a biodiversidade, como é o caso do IPCC – Painel Intergovernamental para as
Alterações Climáticas).
Eco-inovação no Sistema
A eco-inovação no sistema corresponde a uma série de inovações relacionadas entre si que melhoram ou criam
sistemas totalmente novos, proporcionando funções específicas com um reduzido impacte ambiental global.
Uma caraterística chave da inovação no sistema é ser um conjunto de alterações implementadas por desenho.
Por exemplo, a eco-inovação no sistema em relação a uma habitação, não consiste apenas na existência de
janelas isolantes ou de utilização de um melhor sistema de aquecimento - consiste na inovação na conceção
global para melhorar a sua funcionalidade.
As “cidades verdes” são outro exemplo de inovações no sistema no qual os esforços de inovação e de
planificação conduzem a uma combinação de alterações permitindo que o funcionamento da cidade e a vida
nela seja mais “verde”. Inclui, por exemplo, novos conceitos de mobilidade que fazem frente não só aos
serviços tradicionais de transporte público (por exemplo, autocarros) mas também aos sistemas de bicicletas
partilhadas (e a infraestrutura relacionada com o estacionamento de bicicletas) e ainda com a planificação que
visa reduzir a necessidade de viajar (implica que supermercados, centros de dia, etc. se instalem nas novas
zonas residenciais).
A distinção entre os diferentes tipos de eco-inovação não é, no entanto, algo claro. Os diferentes tipos de
inovação andam lado a lado, evoluindo em simultâneo. Ações coletivas de moradores em defesa da
sustentabilidade dos padrões de consumo poderiam ser catalogadas como eco-inovação institucional,
enquanto a sensibilização para as questões ambientais numa empresa se poderia enquadrar no conceito de
eco-inovação social.
O sucesso da eco-inovação depende de uma combinação de avanços científicos, políticos, reformas sociais e
outras alterações institucionais, bem como da escala e direção de novos investimentos. A eco-inovação
organizacional e social terá sempre de ser acompanhada por eco-inovação tecnológica e alguma delas terá que
surgir primeiro.
A eco-inovação pode ir desde o simples controlo da poluição até uma política de ecologia industrial.
A eco-inovação radical, capaz de alterar substancialmente o estado-da-arte é, como se vê na figura, a
eco-inovação não tecnológica, particularmente ao nível institucional e da organização das empresas.
No entanto, a eco-inovação incremental, essencialmente de cariz tecnológico, não deve ser esquecida.
A eco-inovação na sua vertente mais operacional é fundamental para orientar a empresa rumo à
sustentabilidade.
Em termos operacionais, o principal foco da eco-inovação é a melhoria da eficiência de materiais, uma vez que
repensar os consumos de matérias-primas, bem como de água e energia, é a forma mais direta de obter
resultados com impacto considerável nas organizações. No entanto, geralmente considera-se que o conceito
de eco-inovação, em temos operacionais, é composto pelas seguintes vertentes:
Tipo Descrição
Tipo Descrição
Entendido em que consiste a eco-inovação e qual a racionalidade económica subjacente à sua aplicação no
mundo empresarial, é importante perceber de que forma se aplica nas empresas e quais os principais desafios
que se põem à sua bem-sucedida implementação.
De uma forma genérica, a eco-inovação faz-se sentir nas empresas em três vertentes distintas: no modelo de
negócios, nos processos produtivos e nos produtos e serviços oferecidos.
Cadeia de
aprovisionamentos Marketing
Produtividade de
Design
materiais e energia Modelo
Negócios
Investigação e
Resíduos Qual é a Desenvolvimento
e oferta de
emissões valor da
empresa
ao
cliente?
Principais Desafios
Prevenir riscos
Alterar um modelo de negócios é um processo contínuo, sendo por isso importante realizar avaliações
periódicas ao modelo de negócios, de forma a tornar a empresa mais resiliente.
Acrescentar valor
Uma questão fundamental para uma empresa interessada na introdução de medidas de eco-inovação
é saber como criar valor ao cliente, de uma forma que seja não só mais rentável para a empresa, mas
também que consuma uma menor quantidade de recursos.
A necessidade de mobilidade, por exemplo, não implica necessariamente a posse de um carro. A função
desempenhada por um carro pode ser conseguida de muitas outras formas e meios de transporte, ou
simplesmente limitando a necessidade de mobilidade por si só. De forma similar, a forma mais eficiente de
gerir os resíduos da empresa é evitar a sua produção, em vez de desenvolver até os métodos mais sofisticados
de reciclagem.
Principais Questões
Que valor criamos para o nosso cliente?
Que necessidades dos clientes estão a ser satisfeitas com o produto?
Quais são as atividades e recursos que ajudam a empresa a desenvolver e criar valor para os clientes
(know-how, recursos, parcerias estratégicas, propriedade intelectual, etc.)?
Em que medida está o modelo de negócios da empresa dependente do acesso, uso de materiais e
energia por parte da empresa e dos clientes?
É possível conceber uma forma diferente de satisfazer as necessidades dos clientes (por exemplo,
sistemas produto/serviço)?
Principais Desafios
Custos de Deposição
Armazenagem
Custos energéticos
Custo da água
Principais Questões
Podem os resíduos tornar-se materiais auxiliares para a empresa ou para outras empresas?
Podem os resíduos de empresas da região servir de material para o processo produtivo da empresa?
Vantagens da Eco-inovação
Permite à empresa identificar os custos escondidos associados à gestão de resíduos, que vão muito
para além dos custos de deposição;
A realização de auditorias sobre o uso de materiais e fluxos de resíduos permite à empresa reduzir
ineficiências e a quantidade de resíduos produzida, gerando poupanças para a organização (é uma
prática crescente nas empresas e muitas vezes cofinanciada por entidades governamentais);
Potencia a seleção de materiais facilmente recicláveis, o que contribui para a redução dos custos de
deposição de resíduos;
Principais Desafios
Principais Questões
Que tipo e que quantidade de materiais são consumidos ao longo do ciclo-de-vida dos produtos e
serviços oferecidos?
Que medidas podem ser adotadas para reduzir o uso de materiais, energia, água e outros recursos?
Estão a ser considerados materiais e fontes energéticas alternativas para os processos e produtos?
Medidas Rápidas
Investir na eficiência de materiais. Há inúmeros case studies de empresas que adotaram medidas de
melhoria de eficiência de materiais com bons resultados;
Substituir materiais e produtos intensivos em recursos por novos materiais, produtos e serviços menos
intensivos e que melhorem também as funcionalidades do produto final;
Investir na eficiência energética. Está bem documentado o potencial de redução de custos nas
empresas através da implementação de medidas simples de melhoria da eficiência energética.
Principais Desafios
Capacidade de fazer face à volatilidade do preço das commodities e à incerteza no abastecimento de
materiais e satisfação das exigências dos clientes em termos de uma maior transparência na cadeia de
aprovisionamentos;
A informação mais importante a recolher concerne à origem dos recursos usados na produção e
evidência do seu impacte ambiental e social ao longo da cadeia de aprovisionamentos.
Principais Questões
Qual a posição da empresa na cadeia de aprovisionamentos?
Quais são os aspetos de maior valor acrescentado na cadeia de aprovisionamentos?
De que forma pode ser melhorada a colaboração com os parceiros?
Onde podem ser aplicadas práticas sustentáveis, desde a conceção à compra, da produção à
embalagem, da armazenagem ao transporte e, finalmente, na reciclagem?
Quais os riscos e oportunidades de uma gestão sustentável da cadeia de aprovisionamentos?
Vantagens da Eco-inovação
A gestão da cadeia de aprovisionamentos pode contribuir para a eco-inovação através da coordenação
e integração de tarefas. No caso de cadeias de aprovisionamento de circuito fechado, envolve
conceitos como a logística inversa, recondicionamento e remarketing;
Redução de custos pela racionalização dos processos ao longo de toda a cadeia de aprovisionamentos;
Redução de custos pela aquisição prioritária de produtos e serviços ecoeficientes;
Criação de uma "história de sustentabilidade", que permita uma maior fidelização dos clientes à
empresa e aos produtos e serviços oferecidos.
Medidas Rápidas
Avaliar a forma como é gerida a cadeia de aprovisionamentos na empresa;
Mapear e medir os fluxos de entrada e saída de recursos na empresa;
Identificar a dimensão dos fluxos e os papeis e responsabilidades dos intervenientes dentro e fora da
empresa;
Definir papeis e responsabilidades internamente (gestor da cadeia de aprovisionamentos, comités, ao
nível executivo, etc.);
Avaliar riscos e oportunidades através de uma abordagem de gestão de risco/oportunidades;
Realizar benchmarking e analisar o que é feito externamente nesta área;
Estabelecer metas de sustentabilidade e critérios de procurement na cadeia de aprovisionamentos;
Desenvolver indicadores para medir a performance e o progresso;
Incrementar a comunicação externa e interna da empresa;
Encorajar a cooperação entre clientes e fornecedores: esta prática é fundamental para as PME que
consideram a dependência dos clientes uma das grandes barreiras à eco-inovação;
Considerar recorrer a clusters regionais para estruturar a cadeia de aprovisionamento;
Fomentar o uso de tecnologias e sistemas de informação na gestão da cadeia de aprovisionamentos.
Principais Desafios
Desenvolver produtos, serviços e tecnologias eco-inovadoras pode ser sinónimo de alterações
fundamentais nos produtos existentes, o que pode ser custoso a curto prazo mas benéfico a longo
prazo;
Avaliar o risco, particularmente custos/benefícios a longo prazo pode ser difícil;
Perceber os impactes ambientais ao longo de todo o ciclo-de-vida é crucial e um processo complexo;
O know-how e a informação relevante para I&D eco-inovadora podem não estar disponíveis
internamente. Pode ser necessário o recurso a especialistas externos ou ao estabelecimento de
parcerias.
Principais Questões
A empresa tem o know-how, tempo e recursos financeiros para investir em I&D de relevo?
Quem possui as competências necessárias para implementar as atividades de I&D interna ou
externamente?
A equipa de I&D precisa de formação sobre eco-inovação?
De que forma pode o departamento de I&D identificar oportunidades?
A empresa dispõe de sistemas implementados de monitorização de tendências eco-inovadoras
relacionadas com o seu core-business?
Medidas Rápidas
Integrar considerações ambientais na estratégia de I&D;
Alocar uma percentagem do orçamento de I&D à eco-inovação;
Desenvolver um prémio interno anual, destinado a premiar as melhores ideias;
Realizar ações de sensibilização sobre impactes ambientais na empresa, de forma a assinalar
oportunidades e prioridades relacionadas com a eco-inovação;
Analisar necessidades de mercado e tendências que fomentem a eco-inovação e disseminar os
resultados por gestores-chave e designers;
Identificar os impactes ambientais de produtos ao longo de todo o seu ciclo-de-vida, pontos cruciais
de consumo de materiais e energia e formas de melhorar a produtividade dos recursos;
Fomentar a comunicação sobre novas tenologias, materiais e processos direcionada a partes
interessadas cruciais de I&D;
Subscrever fontes de informação sobre tecnologias emergentes, que possam ser aplicadas com
benefício ambiental;
Envolver parceiros-chave e stakeholders pode produzir novas oportunidades para soluções de
eco-inovação ou formas de reduzir os impactes ambientais dos produtos existentes.
Principais Desafios
A conceção do produto pode ser realizada por um grande número de intervenientes, como designers
de produto, engenheiros de design ou consultores, ou pode ser completada por outras áreas técnicas
e de negócios, como parte das suas responsabilidades;
Nas empresas de menor dimensão, a conceção, pesquisa de mercado, investigação e desenvolvimento
podem estar estreitamente ligadas. Quando não é o caso, deve estabelecer-se uma ligação estreita
entre atividades como a avaliação de tecnologias alternativas, produtos concorrentes e protótipos,
bem como a avaliação da performance ambiental, de modo a que se possa fundamentar o processo de
tomada de decisão;
Abordar atributos individuais do produto como a reciclagem, biodegradabilidade ou eficiência
energética de forma independente não significa necessariamente uma redução do impacte ambiental
do produto na sua globalidade. É necessária uma abordagem mais ampla, que englobe todo o
ciclo-de-vida do produto, para que se estabeleçam compromissos, em que um atributo do produto,
como a utilização de materiais de forte intensidade energética, seja contrabalançado por outro, que
pode criar uma maior ou menor eficiência de recursos. Um desafio comum a todas as empresas é
calcular os impactes de produtos que não têm ainda todas as suas especificações delineadas, de forma
eficiente em termos de custos e decidir entre diversos compromissos de diferentes impactes
ambientais. Por exemplo, emissões de CO2 vs escassez de materiais vs utilização de materiais com
compostos tóxicos, etc.;
A implementação de soluções radicais novas pode implicar um grau de criatividade ao longo do
ciclo-de-vida do produto com que a empresa se encontre pouco familiarizada, sendo difícil de executar
internamente;
Os processos de desenvolvimento e recursos produtivos existentes na empresa podem limitar aquilo
que pode ser feito interna e externamente;
A comunicação de informação sobre os impactes ambientais de um produto não é sempre bem aceite
pelo cliente, por vezes não influenciando o seu comportamento (por exemplo, redução do consumo
energético na fase de uso). O ecodesigner pode optar por adotar uma conceção de produto que ajude
o cliente a reduzir os seus impactes ambientais.
Quais são as alternativas disponíveis para melhorar o desempenho ambiental do produto no momento
de conceção?
Qual o potencial para ampliar o tempo de vida útil, potencial de reutilização, refabrico, reparação,
upgrade ou reciclagem de parte/todo o produto? É possível separar as partes?
Pode utilizar-se menos material e menos tipos de materiais, ou materiais substituídos por alternativas
com menor impacte ambiental (por exemplo, materiais recicláveis/reciclados)?
É possível reduzir a energia, água e consumíveis utilizados no processo produtivo ou substitui-los por
outros de menor impacte ambiental?
Que ferramentas estão disponíveis para efetuar uma avaliação dos impactes ambientais associados a
cada uma das fases do ciclo-de-vida do produto no momento de conceção? A utilização dessas
ferramentas requer formação ou especialistas externos para assegurar resultados fidedignos e
compreensíveis?
Que experiência é necessária para o ecodesign? Pode ser feito internamente ou subcontratando?
Que fases de desenvolvimento do produto beneficiariam em ser realizadas externamente?
Medidas Rápidas
Selecionar e aplicar medidas de ecodesign nas áreas consideradas prioritárias (por exemplo, energia,
água, embalagem, etc.);
Formar o pessoal interno, contratar uma entidade externa, efetuar parcerias com universidades ou
centros de investigação, se não houver know-how para o ecodesign na empresa;
Principais Desafios
As considerações em termos do ciclo-de-vida do produto são cada vez mais importantes para os
consumidores (as empresas devem conhecer a origem das suas matérias-primas, como são fabricadas,
embaladas e depostas);
Clientes mais ecológicos são influenciados por recomendações de pessoas de confiança e terceiros. Há
repercussões negativas muito fortes sobre produtos percebidos como greenwashing, devendo as
empresas ser claras acerca das características ambientais dos seus produtos;
Foram realizados estudos de mercado junto de grupos de consumidores para determinação do grau
de sensibilização ambiental, compreensão, oportunidades potenciais e preocupações?
Que necessidades do cliente estão a ser satisfeitas pelos produtos da empresa (por exemplo,
novidade, capacidade de customização, funcionalidade, design, reputação, preço, redução de custo,
redução de risco, acessibilidade, conveniência e/ou usabilidade)?
De que forma pode a melhoria da performance ambiental (por exemplo, redução do consumo
energético e dos custos) incrementar o valor da oferta da empresa? De que forma pode a informação
da performance ambiental da empresa ser incorporada na política de comunicação?
Qual é o argumento-chave de venda face à concorrência? Foi efetuado benchmarking ambiental sobre
produtos concorrentes?
Qual o preço que o mercado está disponível para pagar? De que forma serão afetados o preço, custo e
comunicação da empresa em função do valor acrescentado percebido das características ambientais
do produto?
Que valor acrescentado proveniente das características ambientais do produto pode ser integrado no
conceito-base do produto? De que forma podem as partes interessadas ser recompensadas pela
adoção e promoção das características ambientais do produto?
Vantagens da Eco-inovação
Uma promoção assente em provas claras sobre as qualidades ambientais do produto incrementa a
reputação interna e externamente;
Identificação das características ecológicas do produto pode ajudar a encontrar áreas para
diferenciação do produto;
O estudo dos produtos concorrentes pode identificar forças do produto da empresa face à
concorrência que podem ser exploradas no momento de promoção do mesmo;
O estabelecimento de uma reputação assente no conhecimento ambiental pode atrair novos negócios
e gerar novos consumidores.
Testar as atitudes das partes interessadas sobre os aspetos ambientais. Abordar clientes atuais, bem
como outras partes interessadas, através de diversas formas de media. Utilizar o feedback positivo e
negativo para melhorar o desenvolvimento do produto/negócio e a estratégia promocional;
Realizar benchmarking dos produtos da empresa a produtos concorrentes, sobre aspetos ambientais,
funcionalidade, custo, preço, etc;
Assegurar-se que as alegações sobre a performance ambiental são exatas antes de as incorporar na
política de comunicação;
Recorrer a redes sociais (Facebook, Linkedin, Twitter, etc.) como forma de promover a mensagem
ambiental da empresa;
Organização da Empresa
Planear os trajetos a realizar pela frota para diminuir distâncias Os automóveis híbridos já
percorridas e consumo de combustíveis; apresentam alguma
fiabilidade o que,
Procurar efetuar entregas durante a noite, de modo a evitar as juntamente com o
horas-de-ponta do início da manhã e final de tarde; consumo, proporcionam
poupanças consideráveis
Optar por esquemas de acesso a frotas de veículos em vez de nos custos de transporte.
compra;
O transporte aéreo é
Escolher os automóveis com maior economia de combustível; altamente intensivo em
emissões de carbono. É
Procurar partilhar fretes com outras empresas e assim reduzir os preferível a escolha de
custos de transporte, sempre que necessitar de proceder ao outros meios de
transporte de mercadorias; transporte.
3.1. ENQUADRAMENTO
De forma a auxiliar as empresas na introdução de medidas eco-inovadoras nas suas organizações, decidimos
apresentar neste manual um modelo de integração da eco-inovação na realidade empresarial. O modelo
selecionado foi o método OpenGreen, em virtude da simplicidade da sua aplicação e da sua capacidade para a
geração de resultados positivos de forma rápida.
Identificação de Oportunidades
Esta etapa tem por objetivo identificar oportunidades de eco-inovação em produtos e serviços oferecidos pela
empresa. As etapas seguintes da implementação do método OpenGreen são levadas a cabo por uma equipa de
projeto que contempla representantes das mais variadas áreas da empresa, como o departamento de compras,
logística, vendas, design, etc.
Análise
Esta etapa consiste em documentar todas as dimensões do produto/serviço e contextualizá-las, definir
objetivos e preparar meios para procurar soluções inovadoras, tendo em consideração as limitações da
empresa.
Conceção de Alternativas
Trata-se de chegar ao maior número de ideias possível, em múltiplas direções, de modo a conduzir a soluções
verdadeiramente inovadoras.
Política de Comunicação
Preparar a comunicação sobre o produto, destacando a sua performance ambiental.
Ao longo deste capítulo, abordaremos em maior detalhe cada uma das 7 etapas do modelo de eco-inovação
OpenGreen.
Assim, é fulcral que a empresa analise o seu contexto, de modo a identificar e hierarquizar os sinais favoráveis
à eco-inovação. É necessária uma análise estratégica orientada ao produto e ao ambiente. É este o objeto
deste capítulo.
Esta etapa é crucial e não deve ser negligenciada. Por um lado, permite legitimar a iniciativa de eco-inovação e
fornecer argumentos que convençam o interior da organização. Por outro lado, fornecerá as linhas-mestras
que orientarão o processo de eco-inovação na empresa, assegurando a sua coerência nos vários domínios da
empresa (estratégia, mercado, etc.), fator-chave para o sucesso da operação. Permite igualmente identificar
em que segmento de mercado, gama de produtos, etc., se deve focalizar a eco-inovação.
Como uma análise estratégica clássica, esta exploração visa todos os elementos de contexto da empresa.
A figura seguinte apresenta as variáveis envolvidas nesta etapa do modelo de eco-inovação apresentado.
IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES
Fonte: ADEME
Tal como uma análise estratégica clássica, este processo de análise visa todos os elementos do contexto da
o
empresa. Desta forma, podemos apelidar esta análise como "Análise 360 ".
o
A análise 360 tem em conta as variáveis identificadas na figura anterior (contexto, cadeia de valor e empresa)
relativas a esta etapa do modelo de eco-inovação.
Dentro de cada variável, a análise considera diversas questões (como os impactes ambientais, os distribuidores
ou a concorrência). A resposta a essas questões permite uma melhor compreensão do contexto e assegurar um
melhor processo de tomada de decisão, no âmbito do projeto de eco-inovação. Auxilia a empresa a encontrar
um ou mais projetos de eco-inovação pertinentes.
o
A figura seguinte esquematiza a análise 360 num processo de eco-inovação.
EMPRESA
ESTRATÉGIA DA MARGEM DE
EMPRESA MANOBRA
IMPACTES
AMBIENTAIS
DISTRIBUIDORES CADEIA DE
VALOR
FORNECEDORES CLIENTES
EVOLUÇÃO CONCORRENTES
TECNOLÓGICA
REGULAMENTAÇÃO
CONTEXTO
Fonte: ADEME
o
Figura 8 – Análise 360
o
A análise 360 é uma forma de identificar as oportunidades de eco-inovação no desenvolvimento de
produtos/segmentos de mercado relevantes para a empresa, em função do contexto de mercado, das
oportunidades tecnológicas ou do posicionamento estratégico da empresa. Uma análise correta é o maior
garante de sucesso comercial ou industrial.
A análise deve ser efetuada previamente ao início do processo de desenvolvimento de um novo produto e
enquadrar-se na realidade momentânea ao nível da regulamentação e evolução tecnológica, recolhendo
informação atual e pertinente para as equipas responsáveis.
De seguida, abordam-se cada uma das vertentes previamente elencadas para a identificação de oportunidades
o
de eco-inovação e que fazem também parte da análise 360 (contexto, cadeia de valor e empresa).
Concorrentes
Regulamentação
A que legislação ambiental está sujeito o tipo de produto oferecido pela empresa?
Há nova legislação ou normativos ambientais em elaboração?
Evolução Tecnológica
Fonte: ADEME
Cadeia de Valor
De igual forma ao verificado face ao contexto da empresa, em cada uma das dimensões identificadas nesta
vertente (distribuidores, clientes e fornecedores), há uma série de questões relevantes que a empresa deve
colocar a si mesma no momento da identificação de oportunidades de eco-inovação na cadeia de valor da
empresa. Trata-se de identificar todos os atores com os quais a empresa interage, para satisfazer as
necessidades dos clientes.
Clientes
Fornecedores
Fonte: ADEME
Empresa
Finalmente, o quadro seguinte apresenta as principais questões no âmbito da empresa, nos domínios impactes
ambientais, estratégia da empresa e margem de manobra.
Impactes Ambientais
Quais os principais impactes ambientais associados ao tipo de produto oferecido pela empresa?
Quais os impactes ambientais causados pela empresa em comparação com aqueles causados pela
concorrência?
Que medidas foram já implementadas para minimizar os impactes ambientais dos produtos?
Estratégia da Empresa
Margem de Manobra
O que pode ser mudado a curto prazo? A médio prazo? A longo prazo?
Quais as imposições resultantes de legislação e normas ambientais?
Quais as imposições provenientes do marketing ou dos mercados? Porquê?
Fonte: ADEME
Ao analisar as respostas dadas às questões colocadas anteriormente, a empresa identificará de forma clara as
suas alavancas de impulsão da eco-inovação e os segmentos de mercado mais pertinentes para serem o objeto
dessa ação de inovação.
EMPRESA
Diferenciação pela
Impactes agrícolas qualidade tradicional e Evolução ao nível da embalagem, do
(água, eutrofização, produção local e sustentável processo, das matérias-primas e da
utilização de solos, distribuição, mantendo a qualidade e
ecotoxicidade, imagem de marca tradicional
biodiversidade),
energia (efeito de
estufa, recursos),
resíduos, Procura dos distribuidores
ESTRATÉGIA DA MARGEM DE
matérias-primas EMPRESA
por produtos "verdes" e
MANOBRA embalagens com menor
impacte ambiental
Garrafas mais leves,
IMPACTES
cereais provenientes AMBIENTAIS
de agricultura DISTRIBUIDORES
biológica, pouca
CADEIA DE
inovação nos VALOR
fornecedores
FORNECEDORES Crescente
CLIENTES
consciencialização dos
consumidores para as
questões ambientais e da
saúde
Surgimento de uma EVOLUÇÃO CONCORRENTES
solução inovadora para TECNOLÓGICA
REGULAMENTAÇÃO
o fabrico de cerveja Esforços de
eco-inovação nos
grandes fabricantes,
Diretiva Europeia sobre surgimento de
embalagens: eco-inovação e microcervejeiras e
valorização de resíduos vendas à consignação
CONTEXTO
Fonte: ADEME
De facto, frequentemente as empresas falham na etapa da análise das soluções, gerando as chamas "falsas
boas ideias": aparentemente resolvem um problema, sendo que estão potencialmente a criar um ainda maior.
Assim, as equipas de eco-inovação da empresa devem orientar-se e ser orientadas no sentido de, antes de
iniciar qualquer tipo de solução, procurar colocar de forma correta os problemas a resolver. É esta fase de
"prospeção" que pode levar ao surgimento de autênticas "pepitas" de eco-inovação.
No capítulo anterior foi abordada uma análise estratégica orientada para a oferta e para o ambiente, com vista
a identificar oportunidades de eco-inovação. Esta é já uma primeira fase na colocação de um problema. Na
presente etapa, o objetivo passa por afinar e aprofundar a análise.
ANÁLISE
Problema de
Oportunidade de eco-inovação
eco-inovação bem colocado e
pronto a ser
resolvido
Fonte: ADEME
Figura 10 – Análise
Esta fase de prospeção consiste em diversas variáveis a considerar, com o objetivo de bem explorar um
problema, no sentido de encontrar a solução mais acertada para o mesmo. É importante porque aprofunda a
o
análise 360 previamente discutida, analisando todas as dimensões do problema.
A fase de análise, ou de prospeção, deve ser conduzida no início do projeto, a partir dos dados resultantes da
o
análise 360 , por uma equipa que integre, no mínimo, representantes dos departamentos de marketing,
investigação e desenvolvimento e ambiente. No entanto, é bem vinda a integração de representantes dos
departamentos de compras, qualidade, industrialização, logística, pós-venda, etc.
No final do projeto, os resultados encontrados nesta fase podem ser capitalizados em projetos subsequentes.
Ciclo e Sistemas
Perímetro
Ciclo de Vida
Recursos
Breve Descrição do
Problema Critérios
Fonte: ADEME
COLOCAR O
PROBLEMA DEFINIR AS
CONDIÇÕES
Iterações possíveis
Fonte: ADEME
Colocar o problema;
Documentar o problema;
Reformular o problema;
Definir o resultado ideal;
Definir as condições.
Estas etapas não acontecem necessariamente de forma cronológica, podendo inclusivamente serem revistas
ao longo do desenrolar do processo. Adicionalmente, cada uma destas etapas compreende diversas variáveis
que devem ser analisadas e que foram também identificadas nas figuras anteriores. Essas variáveis e a forma
como se integram em cada uma das etapas mencionadas é apresentada de seguida:
Colocar o Problema
Breve Descrição do Problema
Esta etapa consiste tão simplesmente em identificar de forma clara a situação que se pretende resolver.
o
A análise 360 fornece informação preciosa para descrever corretamente o problema. A bem da simplicidade,
deve procurar-se definir o problema numa frase apenas, de forma assertiva e de fácil compreensão para todos.
Ciclo-de-Vida
Trata-se de descrever o produto e o seu ciclo-de-vida, desde a extração ou produção de matérias-primas até ao
fim-de-vida do produto, passando por todas as etapas de produção, distribuição e consumo.
Este é um elemento essencial a qualquer processo de eco-inovação, geralmente após a realização da análise
o
360 . É aqui que se começa a enraizar um pensamento de ciclo-de-vida no seio da organização.
Para além de se identificarem todas as etapas que compõem o ciclo-de-vida do produto, identificam-se
também os fluxos entre essas etapas e os impactes ambientais causados em cada uma delas.
Nome do produto/sistema;
A análise de ciclo-de-vida aplica-se não só aos produtos, mas também aos serviços, pese embora com algumas
diferenças de abordagem, uma vez que a sua modelização é algo mais complexa. A própria noção de ciclo-de-
vida pode ser questionável, uma vez que o serviço tende a desaparecer no momento de prestação.
No entanto, se observarmos um qualquer serviço, a realidade é que ele agrega diversos ciclos-de-vida em si só,
desde os equipamentos utilizados na prestação de um serviço (automóvel, máquinas, etc.), aos alimentos
consumidos por funcionários, uso de climatização no local de trabalho, etc.
Uso;
Organização;
Infraestrutura;
Material.
Ciclo e Sistemas
A abordagem ao ciclo e sistemas obriga as equipas responsáveis pela eco-inovação e conceção do produto a
uma "ginástica intelectual" ao abordar os "sobresistemas" e "subsistemas" do produto em análise e as
diferentes etapas do ciclo-de-vida.
A abordagem permite explorar de forma sistemática os diferentes níveis do sistema, de modo a reduzir os
impactes ambientais. Esta ferramenta deve ser utilizada no início do projeto, para definir a margem de
manobra, durante o projeto, para efetuar correções nas áreas identificadas e no final do projeto, para que se
possa capitalizar sobre os sucessos atingidos em projetos futuros.
Para a sua utilização, é necessário que se definam as etapas de ciclo-de-vida e os níveis de sistema adequados a
cada projeto de eco-inovação. O sistema é o produto em análise; os subsistemas são as componentes do
produto; o sobresistema é o sistema em que o produto opera. Há portanto uma análise a nível micro (sistema e
subsistema) e a nível macro, global (sobresistema).
O princípio desta abordagem é simples: constrói-se uma matriz, em que o eixo horizontal identifica as
principais etapas do ciclo-de-vida e o eixo vertical os diferentes níveis do sistema.
CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO
Sobresistema
Sistema
Subsistema
Fonte: ADEME
Descrição
O produto em causa é uma cerveja servida em
garrafa ou lata. Os objetivos são:
Malteria
Responder às necessidades do mercado; Fornecedores de
Reduzir os custos de produção a médio Embalagens
prazo;
Concorrer com os grandes players e
diferenciar-se face aos players locais; Ciclo-de- Fabricantes
Cooperativa
Educar o consumidor. Agrícola Vida
Em função disto, o problema pode ser descrito
da seguinte forma:
"Desenvolver uma boa cerveja, com menores
impactes ambientais ao longo do seu Distribuidor
ciclo-de-vida, educando o consumidor no Fim-de-Vida Utilizador
processo"
Ciclo-de-Vida da Cerveja
Ciclo e Sistemas
Sistema Cevada,
Malte Cerveja
Cerveja
Cerveja Garrafa vazia
cereais embalada
Perímetro Cereais no
Grãos Fermentação Garrafa Copo Garrafa
campo
Fonte: ADEME
Análise Funcional
A análise funcional destina-se a garantir que o produto vai de encontro às necessidades dos consumidores, não
considerando ainda as limitações enfrentadas pela equipa de conceção.
Um produto fruto da eco-inovação é acima de tudo um produto funcional que responde às necessidades do
cliente ou utilizador. A análise funcional assume-se como uma ferramenta essencial para qualquer processo de
eco-inovação, pela relevância que assume na perceção das reais necessidades desse mesmo consumidor ou
utilizador.
De seguida, descrevem-se cada uma das etapas que constituem a análise funcional.
Para a realização deste diagrama, o produto em análise é colocado no centro do diagrama. Seguidamente,
elencam-se características do produto ou pontos importantes a referir sobre o mesmo à volta do centro.
Finalmente, é necessário criar ligações entre o produto e as características/pontos-chave identificados.
Esta primeira análise é algo vaga, servindo como um ponto de partida, até que na fase de caracterização de
funções se elabora um pouco mais sobre as temáticas previamente analisadas.
A título de exemplo, a figura seguinte apresenta um diagrama possível para a indústria da cerveja num
mercado típico.
Gosto + ou -1
Amargura Nota = 4/10 Painel de degustação
3 < Nota < 5/10
Fonte: ADEME
Podem ainda ser utilizados modos mais complexos de hierarquização, como por exemplo, a atribuição de um
grau a cada uma das funções.
O quadro seguinte apresenta um exemplo de hierarquização de funções, uma vez mais aplicado à indústria da
cerveja.
Hierarquização
Funções
Fundamental Importante Útil
Gosto X
Aspeto X
Apreço X
Frescura X
Convívio X
Armazenagem X
Resistência ao choque X
Armazenagem em prateleira X
Atratividade ao redor X
Ambiente X
Informações legais X
Fonte: ADEME
Como já foi dito, a avaliação ambiental envolve múltiplos critérios e consideração por todo o ciclo-de-vida de
um produto. A análise do ciclo-de-vida (ACV) é a ferramenta de referência para avaliar o impacte ambiental de
produtos e serviços. Uma cobertura global do ciclo-de-vida recorrendo a uma abordagem multicritério permite
captar os impactes ambientais causados por um produto de forma objetiva, evitando a transferência da
poluição para uma fase diferente do ciclo-de-vida.
No entanto, nesta fase do projeto não é viável o recurso a uma análise do ciclo-de-vida, senão vejamos:
Multiimpactes/ Produção de
Fabrico Distribuição Uso Fim-de-Vida
Multietapas Materiais
Energia
Substâncias Tóxicas
Emissões Atmosféricas
Produção de Resíduos
Fonte: ADEME
Como se pode ver, é efetuada uma análise ao longo do ciclo-de-vida e considerados os principais impactes
ambientais causados pelo produto.
Naturalmente, há impactes ambientais que são relativamente fáceis de observar e de levar em consideração,
como é o caso dos resultantes da produção de matérias-primas ou dos consumos energéticos. No entanto, a
MIME permite incluir outros fatores menos óbvios, como por exemplo, a forma como o consumidor utiliza o
produto ou a quantidade de clientes que o utilizam, que podem ter um peso significativo no impacte ambiental
causado pelo produto.
O preenchimento do quadro anterior envolve uma gradação dos impactes causados, que pode assumir diversas
formas.
A título de exemplo, apresentamos de seguida uma matriz MIME aplicada à indústria da cerveja, em
congruência com o exemplo que tem vindo a ser sistematicamente apresentado. Consideramos três graus com
códigos de cor: a vermelho, o impacte ambiental mais negativo; a amarelo, um impacte ambiental já bastante
significativo; e finalmente, a verde, um impacte ambiental correspondente a aproximadamente zero.
Energia / Efeito de
+ + 0 0 +++ 0
Estufa
Recursos Naturais + 0
Utilização de Solos + 0
Produção de Resíduos 0 0 0 +
Substâncias Tóxicas + 0
Fonte: ADEME
Uma outra ferramenta de que as empresas se podem socorrer é a ferramenta de "Balizagem dos Impactes
Pertinentes", ou BIP. A ferramenta indica as questões a colocar, bem como os impactes ambientais mais
prováveis associados ao produto.
A ferramenta permite hierarquizar rapidamente os principais impactes ambientais de um produto a ser alvo de
eco-inovação, orientando as escolhas da equipa de conceção no sentido de procurar as eco-soluções mais
pertinentes à diminuição dos impactes ambientais associados ao produto/serviço. Esta ferramenta é
particularmente importante quando os conhecimentos sobre a eco-inovação num determinado produto são
ainda pouco desenvolvidos e na ausência de ACV para produtos similares.
É utilizada nas primeiras fases do processo de conceção, para identificar as direções de inovação a privilegiar
ou para hierarquizar as pistas da matriz MIME e na fase de avaliação de ideias, para estimar os
riscos/benefícios associados a cada solução idealizada.
Se sim
Inputs
agrícolas?
Reduzir o consumo
de energia ou seus
impactes
Se sim
Consumo de
energia e
emissões de GEE? Limitar o impacte
de substâncias
tóxicas
Se sim
Uso de
substâncias
tóxicas? Reduzir o
consumo de
consumíveis
Se sim
Consumo de
consumíveis
no uso? Reduzir impactes
na produção e
fim-de-vida
Se sim
Duração de
vida curta?
Fonte: ADEME
O "Balanço do Produto" é outra ferramenta útil na documentação do problema, uma vez que permite ao
utilizador perceber quais são os componentes, matérias-primas, processos ou etapas do ciclo-de-vida
responsáveis pelos principais impactes ambientais provocados, no âmbito do sistema idealizado, e identificar
assim elementos sobre os quais agir prioritariamente. Uma função de comparação permite ao utilizador testar
as soluções de melhoria identificadas.
Esta ferramenta pode ser utilizada gratuitamente e está disponível no seguinte endereço:
http://www.base-impacts.ademe.fr.
Alterações climáticas
-10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Fonte: ADEME
Análise do Uso
Esta análise deve ter em consideração o comportamento real dos utilizadores, o contexto da utilização e
eventuais problemas, permitindo assim obter ganhos ambientais significativos, oriundos de um profundo
conhecimento adquirido. Nesta análise, é importante apreender todos os pontos positivos e negativos da
experiência do utilizador recorrendo-se, sempre que possível, a análise in situ.
A análise de uso deve ser conduzida na fase de análise discutida neste capítulo, antes ou depois das restantes
fases de análise ambiental e funcional. A análise do uso é aliás complementar à análise funcional, podendo
servir como fonte de informação para esta.
A figura seguinte apresenta um exemplo prático da utilização desta ferramenta no setor da cerveja.
Compra da cerveja;
Trajeto de regresso a casa;
Armazenagem;
Conservação;
Dia de consumo;
Abertura da cerveja;
Serviço;
Degustação;
Fim;
Resíduos;
Limpeza.
Conservação
A garrafa de cerveja e
eventualmente a sua embalagem Limpeza
ficam sujeitas a variações de
temperatura e posicionamento.
O copo é limpo e armazenado. É
consumida água para efetuar a
Dia de lavagem.
consumo No dia da degustação, a garrafa
de cerveja sai do seu local de
conservação.
Poderá ainda ficar uns minutos no
congelador, de modo a que fique
fresca.
Fonte: ADEME
Ponto Descrição
Problema a ser resolvido O problema a resolver deve ser descrito de uma forma sintética.
Outros sistemas em que Pode tratar-se um outro domínio da atividade da empresa ou procurar soluções em
existe um problema similar sistemas mais distantes.
Outros problemas a Esta é uma questão aberta, com o objetivo de levar as equipas responsáveis a
resolver aprofundar a reflexão sobre o problema atual e outros que possam surgir.
Fonte: ADEME
O diagnóstico de eco-valor sintetiza as análises funcional, ambiental e de uso, permitindo pôr em perspetiva a
repartição de custos, do valor e dos diferentes impactes ambientais inerentes ao produto ou serviço. A
interpretação deste diagnóstico permite estabelecer os eixos da inovação.
Realiza-se após as etapas de análise ambiental e funcional e antes da reformulação do problema. Uma vez
terminadas as análises ambiental e funcional, é possível cruzar as duas para uma análise de valor.
A primeira etapa para a realização de um diagnóstico de eco-valor é conceber uma tabela de "componentes-
funções", que indica como cada componente contribui para cada uma das diferentes funções.
O quadro seguinte apresenta um exemplo de uma tabela deste tipo, uma vez mais aplicado à indústria da
cerveja. O somatório de cada linha deve corresponder a 100.
Atratividade ao
Armazenagem
Armazenagem
Resistência ao
em prateleira
Informações
Ambiente
Convívio
Frescura
choque
Apreço
Aspeto
legais
Gosto
redor
Água 10 15 75
Cevada/Malte 60 10 10 10 10
Lúpulo 70 10 10 10
Processo 40 20 30 10
Garrafa 30 10 10 10 30 10
Rótulo 30 60 10
Armação 30 30 40
Cápsula 30 30 40
Fonte: ADEME
Para alimentar este diagnóstico de eco-valor, deve proceder-se à realização de uma análise funcional e de valor
(para atribuir um valor a cada função, classificando-as por ordem de importância decrescente, de acordo com o
ponto de vista do consumidor), uma análise de custos (para enquadrar a discussão) e uma análise ambiental
(ou ACV).
Diagnóstico de Eco-Valor
Fonte: ADEME
Histórico do problema
Sem histórico do problema na
empresa.
Fonte: ADEME
Reformulação do Problema
Fonte: ADEME
Esta ferramenta apresenta uma dupla utilidade: por um lado, permite um pensamento outside the box, que é o
grande desafio da eco-inovação; por outro lado, permite à equipa de conceção identificar todas as divergências
potenciais na definição do objetivo, no sentido de se realinhar por um objetivo comum.
A noção de "ideal" é primeiramente definida de forma absoluta, de forma a permitir à equipa de conceção
ancorar-se na realidade sem qualquer tipo de constrangimento na busca de soluções. Numa segunda fase,
procura-se uma noção de "ideal" mais específica e adaptada à realidade da empresa, que permite encontrar
soluções ideais mas realistas para o contexto da empresa.
Microfiltração;
Fonte: ADEME
Definir as Condições
No momento de definir as condições, há três fatores a ter em conta, a saber:
Nível de sistema considerado: consultando a matriz de ciclo e sistemas definida no início do processo,
é possível precisar o sistema em que se opera para resolver o problema na sua nova formulação;
Limitações face a alterações no sistema considerado: o que é que não pode ser mudado, em função de
constrangimentos da empresa, do projeto, etc.?
Alterações autorizadas no sistema: é tudo o que pode evoluir, é a margem de manobra.
Recursos Disponíveis
A exploração dos recursos disponíveis é um dos grandes trunfos da eco-inovação, permitindo evitar a
mobilização de recursos exteriores ao sistema e limitar o seu impacte ambiental.
Esta etapa consiste em fazer um inventário de todos os recursos disponíveis dentro, ou nas proximidades do
sistema, a fim de identificar se um desses recursos pode responder ao nosso problema.
Tudo o que se encontra no sistema ou ao seu redor e que não é utilizado no seu máximo potencial é
considerado um recurso. Vulgarmente, distinguem-se os recursos "substancias" (matérias em todas as suas
formas) dos recursos de "campo" (interações entre as diferentes substâncias, energia e informação, como a luz,
o calor do ar ambiente, a gravitação, uma força de fricção, etc).
Recursos-Substâncias
Sólidos Pedra, rocha, areia, terra, argila, madeira, biomassa, fibras naturais, sal.
Ar, azoto, oxigénio, árgon, hélio, vapores, fumos, aerossóis, temperatura, pressão,
Gás
viscosidade, condutividade térmica, humidade relativa.
Plasma Ar, gás para soldadura, hélio para reatores de fusão, etc.
Recursos-Campo
Fonte: ADEME
Fonte: ADEME
O essencial nesta etapa é mais o colocar das questões do que propriamente a procura de soluções para as
questões propostas.
Este é um processo complexo e algo demorado e, como se viu, em que se podem utilizar inúmeras
ferramentas. Esta situação é muitas vezes um problema em empresas de menor dimensão, com maiores
constrangimentos ao nível dos recursos e com equipas mais atarefadas com o dia-a-dia da organização.
Para facilitar o processo às PME, podem utilizar-se ferramentas mais qualitativas ou semi-quantitativas para
orientar o processo de eco-inovação, tal como as que foram sendo apresentadas anteriormente,
nomeadamente:
Finalmente, a regra dos 4R é também uma boa forma de facilitar o processo de análise de um problema.
A regra dos 4R é usualmente definida como «REDUZIR - REUTILIZAR - RECICLAR - RECUPERAR». No entanto, na
nossa abordagem preferimos substituir o termo "Recuperar" por "Reinventar", uma vez que a recuperação está
de certa forma implícita na reutilização.
Reduzir: reduzir a quantidade de materiais utilizados e, por fim, dos resíduos produzidos;
A utilização da regra dos 4R na análise de um problema é importante, uma vez que permite retirar uma
conclusão simples: se a abordagem a ser considerada para a análise de um problema é menos apurada do que
os predicados da regra dos 4R, a equipa responsável deve seguir a regra para encontrar o caminho mais
indicado para uma boa análise do problema.
Idealizar
Análise Análise de Uso
Funcional Objetivo: pintar paredes;
Compra;
Resultado ideal: a parede tem a
Cor; Aplicação;
coloração desejada sem o
Ausência de Limpeza /
recurso a tinta;
odor; secagem;
Reformular o Problema Obstáculo: os pigmentos são
Lavável; Armazenagem;
necessários à coloração, um
Resistência a ... Para limitar o consumo de matérias-
aglutinante para os ligar e o
UV; primas - onde há maiores impactes na
solvente para oferecer fluidez;
... produção - diminuir as perdas de tinta
Porquê: a superfície bruta da
nas fases de aplicação, limpeza e
Informações do parede não apresenta a
Avaliação armazenagem.
problema coloração desejada e o
Ambiental
consumidor pode pretender
Verniz - forte
Matriz MIME. trocar a cor no futuro;
impacto;
Como: materiais de construção
Aglutinante
coloridos, fotossensíveis, brancos
acrílico -
para projetar...
solventes;
Problema similar: camaleão,
Peso (transp.).
pele bronzeada, oxidação do
cobre...
Extração e
transporte de
Ciclo e matérias- Perímetro
Sistemas -primas
Tinta (mas não a parede);
Alterar a composição e o
Produção da modo de aplicação da tinta;
tinta Lavável;
Não alterar a qualidade ou o
Demolição da local de produção.
parede pintada,
reciclagem
Armazenagem,
transporte e Recursos
Ciclo de Vida distribuição
Componentes da tinta:
Limpeza e aglutinantes, pigmentos,
manutenção solventes, aditivos, lata,
da parede superfície a pintar, pincel, rolo,
pintada balde de tinta, ar,
temperatura, humidade,
Aplicação da gravidade, luminosidade...
tinta
Breve Descrição do Problema
Criar uma tinta fácil de aplicar Armazenagem
para colorir e proteger paredes de restos de Critérios
interiores, a preço competitivo e tinta
Redução do preço atual
com baixo impacte ambiental. em 10%;
Redução mínima de 15%
no consumo de recursos;
Aplicação mais
simplificada.
Fonte: ADEME
Por um lado, focalização da investigação numa oportunidade real de eco-inovação, sustentada por
argumentos detalhados e convincentes;
Por outro lado, ter em consideração todos os elementos suscetíveis de orientarem a investigação no
sentido correto, para soluções pertinentes e melhor alinhadas com a estratégia da empresa.
O objetivo da fase de geração de ideias é chegar a um grande número de ideias, tão diversas quanto possível, a
fim de encontrar uma boa, senão a melhor solução.
CONCEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Fonte: ADEME
A fase de conceção de alternativas deve iniciar-se imediatamente após a colocação do problema. Para tal, é
necessário uma equipa transversal, que agregue perfis o mais variados possível, envolvendo departamentos
como o marketing, investigação e desenvolvimento ou ambiente, mas também a produção, o serviço
pós-venda, etc.
Uma questão recorrente nas equipas de investigação de soluções eco-inovadoras é saber se é necessário
apoiar os trabalhos num método específico de ecodesign, ou se os métodos clássicos são suficientes.
A resposta pragmática a esta questão é que os métodos tradicionais podem ser utilizados. No entanto, acabam
por tornar o trabalho das equipas mais complicado, uma vez que não estão preparados para o problema
específico e as equipas não têm por vezes formação na área. Assim, é mais útil recorrer a ferramentas de
ecodesign, na procura pelas soluções mais indicadas.
De seguida, apresentam-se algumas ferramentas e métodos para facilitar a geração de ideias eco-concebidas.
Mas antes, apresentam-se alguns princípios e boas práticas genéricas, associadas à investigação criativa.
Os elementos do contexto são conhecidos, o objetivo é preciso e os eixos de eco-inovação estão definidos.
A equipa deve, se possível, ser integrada por pessoas com perfis distintos e ser composta por 8 a 10 elementos. É
possível trabalhar com grupos mais pequenos mas a dinâmica é mais difícil de manter e há menor probabilidade
de existirem perfis distintos. É também possível trabalhar em grupos maiores.
A equipa deve ser transversal e mobilizar, no mínimo, os departamentos de marketing, investigação e
desenvolvimento e ambiente. Recomenda-se, no entanto, a participação de outros departamentos, como os
departamentos de compras, logística, produção, equipas de vendas, serviço pós-venda, etc.
É também interessante incluir na equipa alguém que esteja por fora do assunto e não tenha medo de colocar
questões aparentemente "estúpidas".
Para o restante da equipa, é fundamental a existência de um conhecimento profundo sobre o produto ou
serviço em análise, baseado em experiência prática. Caso não seja possível, a primeira tarefa do grupo deve
consistir em adquirir o conhecimento necessário sobre a matéria.
O sucesso de um processo criativo repousa numa alquimia delicada. O orientador do grupo tem que "jogar" com
a sensibilidade de cada um dos membros e garantir que cada um deles se sente integrado e à vontade, de
modo a que as ideias fluam de forma natural, sem constrangimentos.
Um orientador experiente
O orientador do grupo deve controlar a forma da reunião, não se intrometendo nas discussões, procurando
estimular e dinamizar o intercâmbio. Deve favorecer a existência de um clima de confiança e relaxamento. É o
orientador que garante o respeito pelos processos e a produtividade da reunião.
Será necessário iniciar um processo de eco-inovação para a resolução de um problema que outras empresas ou
outros setores de atividade já abordaram e resolveram? Na verdade, o ideal é uma conjugação de abordagens:
iniciando-se um processo de eco-inovação interno, absorvendo informação externa disponível.
Na verdade, nada impede que o processo criativo seja alimentado pela experiência acumulada. Aliás, é até
recomendável, a bem da criatividade.
Fonte: ADEME
Qualquer sessão de investigação criativa deve iniciar-se pela apresentação e explicitação dos eixos de
eco-inovação a tratar. O grupo encarregue da tarefa poderá sentir que o objeto de estudo é demasiado vasto,
sendo esta a altura de o delimitar - é uma primeira fase de convergência - um princípio fundamental da
criatividade é alterar entre fases de divergência e convergência, distinguindo-as claramente.
Seguidamente, entramos na fase de divergência, em que se procuram ideias. Inicia-se esta fase com uma
sessão de "descongestionamento". Nesta sessão de descongestionamento, todos os participantes são livres de
exprimirem as suas ideias sem qualquer reserva, independentemente da sua relevância para o objeto em
estudo: é uma forma de abrir os fluxos criativos. Essas ideias são então anotadas num quadro que fica visível ao
longo de toda a reunião, podendo ser utilizadas por qualquer interveniente ao longo das discussões.
Após a fase de descongestionamento, podemos entrar numa fase de jogo. Frequentemente, criam-se várias
equipas entre a equipa presente na sessão, com o objetivo de forçar alguma competitividade na resolução de
problemas. Esta fase permite focar um pouco mais a equipa, aumentar os níveis de competitividade salutar e
orientá-la para problem solving. Esta metodologia auxilia na criação de um sentimento de urgência e na
solidariedade entre membros de equipa.
A seguir, é a fase da geração de ideias, usualmente através de ferramentas como o brainstorming. Algumas
regras inerentes ao brainstorming são:
Construir sobre as ideias dos outros é a chave do brainstorming, uma vez que a criatividade coletiva da equipa
é superior à criatividade individual dos participantes.
Para que seja produtiva, uma sessão de geração de ideias deve estar bem estruturada, com etapas bem
delineadas e orientada para manter e fomentar a dinâmica e criatividade dentro do grupo. Deve também ser
escrupulosamente orientada, com um registo sistemático de todas as ideias que vão sendo apresentadas, para
uma máxima eficácia da sessão. Esta fase de divergência gera muitas ideias, às vezes mais de 100 e que devem
ser bem geridas.
Ultrapassada esta fase divergente, voltamos a uma fase de convergência, em que o grupo organiza as ideias
produzidas e escolhe quais as que devem ser aprofundadas. Estas ideias devem ser transcritas numa "ficha de
ideias", que será distribuída pelos participantes para que a aprofundem e detalhem.
Nome da ideia
Descrição da ideia
Dificuldades e
obstáculos
Opção
Plano de ação
Fonte: ADEME
Após algum tempo da realização da sessão, idealmente cerca de duas semanas, o grupo reencontra-se para
uma nova fase de avaliação e seleção de ideias.
Divergência:
jogo/descongestionamento/idealização
Ser
criativo Aprofundar:
Procurar elementos
complementares para finalizar ILUMINAÇÃO Documentar fichas de ideias
a escolha dos eixos da
eco-inovação
Geração de ideias
Estar Ser
atento perseve-
rante
INCUBAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO
Fonte: Créargie
De seguida, apresentam-se três ferramentas possíveis de suporte à criatividade num contexto de eco-inovação,
a saber:
Para cada uma das ferramentas apresentadas, são indicados alguns casos reais em que podem ser aplicadas, de
modo a suportar o processo criativo em contexto de eco-inovação.
Cada um dos recursos disponíveis deve ser considerado individualmente e como uma solução potencial ao
problema em questão. Deve colocar-se sistematicamente a seguinte pergunta: "De que forma pode este
recurso contribuir para a resolução do problema?".
O autoabastecimento é apenas uma forma da empresa utilizar os seus próprios recursos em prol de si própria,
para alimentar outras áreas de processo. Um exemplo clássico desta situação é a utilização de recursos
produzidos como matéria-prima ou fonte de energia.
A combinação destas duas ferramentas permite encontrar soluções para o problema colocado, sem recorrer a
elementos externos ao sistema. Conduz a soluções eficazes e respeitadoras do ambiente, desde que nenhum
material adicional seja introduzido no sistema.
Para que se perceba o funcionamento desta ferramenta, recorremos a um exemplo. O exemplo de aplicação da
ferramenta tem como pano de fundo uma empresa transportadora aérea. Vamos supor que a empresa
pretende eco-conceber os bancos de uma das suas aeronaves: o ponto de partida óbvio seria diminuir o peso
dos bancos, o que levaria o consumo de combustível do avião a diminuir.
No momento da inventariação dos recursos disponíveis no avião, a equipa enumera todos os objetos nas
proximidades dos bancos. Ao apontar os espaços para colocar as bagagens dos passageiros, geralmente acima
das suas cabeças, alguém teve a ideia de remover esses equipamentos e colocar as bagagens por baixo dos
bancos do avião. Isto leva a que os bancos se tornem mais pesados - contra o propósito inicialmente proposto -
mas tornando o avião, na sua globalidade, mais leve. Poderão também existir vantagens em termos da
acessibilidade dos passageiros às suas bagagens.
Princípios Criativos
Os princípios criativos são um conjunto de fatores que fomentam a criatividade e podem ser de natureza
variada. Neste manual identificamos 8 princípios criativos que nos parecem importantes, de modo a simplificar
a análise. O recurso a estes princípios é uma forma de fomentar a geração de ideias.
Extração;
Segmentação;
Qualidade local;
Assimetria;
Combinação;
Universalidade;
Inversão;
Autoabastecimento.
O recurso a estes princípios pode também ser útil mais à frente, na etapa de implementação de soluções, na
resolução de problemas secundários.
A forma para a implementação dos princípios passa por lançá-los na discussão e propor formas de aplicação de
cada um deles no problema em causa. O seu objetivo é menos o de encontrar uma solução definitiva e mais
uma forma de gerar ideias para estimular a criatividade e induzir soluções alternativas.
O quadro seguinte apresenta os 8 princípios criativos identificados, acompanhados de exemplos práticos para
facilitar a sua compreensão.
O objeto em causa serve para abastecer funções Rato de computador sem pilha,
Autoabastecimento de manutenção e/ou auxiliares. Utilização de carrega através do movimento da
resíduos (matéria-prima, energia...). mão.
Fonte: ADEME
A estruturação das ideias num mapa é uma forma de acelerar a geração de novas ideias.
As equipas podem e devem recorrer a experiências prévias de eco-inovação na empresa e fora dela para
começarem a mapear ideias. Basicamente, as eco-soluções funcionam como um suporte para a criatividade do
grupo.
As eco-soluções devem ser utilizadas após a etapa de conceção de alternativas mas também na etapa de
capitalização, com a empresa a poder recorrer ao mapeamento efetuado para o utilizar em outros
produtos/serviços.
Fonte: ADEME
A figura seguinte apresenta um exemplo prático da utilização desta ferramenta, contextualizado no setor das
tintas.
A esta situação costuma-se chamar "uma escolha em situação de informação imperfeita". Para gerir esta
situação, a equipa procurará maximizar o seu conhecimento sobre as diferentes soluções apresentadas,
consultando as fichas de ideias e recorrendo a um processo de avaliação racional.
No final da sessão de criatividade, cada participante deve analisar um pequeno número de fichas de
ideias;
Devem trabalhar sozinhos ou com mais uma pessoa no sentido de aprofundar cada ideia, explorar
oportunidades tecnológicas, procurar soluções similares em outros setores, recolher elementos sobre
os custos associados à implementação da solução, sobre os impactes ambientais prováveis, avaliar
potenciais benefícios para os clientes, etc.;
Uma vez regressados para avaliar e selecionar ideias, cada um dos participantes deve partilhar os
resultados da sua investigação com o grupo que, num processo de escolha coletiva, determinará as
ideias a conservar para o projeto de eco-inovação.
A fase de seleção de alternativas ocorre após a geração de um grande número de ideias eco-inovadoras e é
implementada por uma equipa multidisciplinar.
SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Fonte: ADEME
Na realidade, esta fase do processo de procura de uma solução eco-inovadora consiste numa análise
custo/benefício.
Ao longo deste capítulo, descrevemos em maior detalhe cada um destes critérios de avaliação de ideias.
Este não é propriamente um processo novo. Aliás, o departamento de marketing de qualquer empresa procede
a uma análise deste tipo antes do lançamento de qualquer produto/serviço.
Podem ser utilizados inúmeros métodos distintos, de acordo com o mercado em questão, a cultura da
empresa, a natureza do seu relacionamento com os clientes, etc. Pode reunir-se um focus group, com um
pequeno número de potenciais clientes, recorrer a painéis de internet, a questionários enviados aos clientes ou
a protótipos. Em suma, as possibilidades são imensas.
Este tipo de iniciativa permite às empresas hierarquizar as soluções em vista e atribuir-lhes um valor de
mercado.
A análise efetuada deve tentar pôr as questões ambientais o mais à margem possível, uma vez que serão
tratadas em outra etapa. Aqui, o importante é avaliar as questões de funcionalidade e utilização do produto e o
valor que o cliente dá por esse mesmo produto.
Sendo recomendável que se recorra aos princípios da ACV para a avaliação ambiental das ideias, é
notoriamente difícil realizar análises detalhadas para cada uma das ideias propostas. De facto, é tecnicamente
impossível recolher dados precisos para o que são ainda soluções vagas e pouco trabalhadas. Adicionalmente,
seria um processo extremamente demorado, que travaria completamente o processo de eco-inovação em
curso.
Assim, é necessário recorrer-se a soluções mais pragmáticas e simplificadas. No entanto, é importante reter
que se devem realizar avaliações de performance ambiental quer de carater quantitativo, quer de caráter
qualitativo.
Um segundo método, mais consistente com os princípios da ACV, consiste numa avaliação quantitativa de
grande alcance mas de rápida execução. Este processo apelida-se de screening ACV.
Não se recorre aqui a uma ACV em sentido estrito - o quadro metodológico não é respeitado, a modelização é
simplificada e não há recolha de dados primários - trata-se de procurar indicadores abrangentes que permitam
comparar as soluções propostas.
Os resultados desta abordagem são altamente incertos, uma vez que estão muito dependentes de uma correta
diferenciação das soluções. No entanto, em função do grau generalista da abordagem, é por vezes difícil
distinguir entre soluções similares, particularmente ao nível da sua performance ambiental.
Ao longo deste manual, foi já apresentada uma ferramenta que pode auxiliar na resolução desta situação, sob
a forma do Balanço do Produto, mas há muita outras ferramentas disponíveis, diversas delas gratuitamente, e
que permitem a realização de um screening ACV.
Avaliação de Custos
A avaliação económica de uma ideia eco-inovadora não é substancialmente diferente da avaliação económica
de qualquer outra ideia, consistindo basicamente num exercício de avaliação de custos.
Naturalmente, esta análise de custos é de caráter global, tendo em linha de conta os custos suportados pela
empresa ao longo de todo o ciclo-de-vida de um produto/serviço. Este é um critério de análise fundamental
para garantir que a empresa não encontra uma solução com melhor performance ambiental e menores custos
ao nível de uma etapa do ciclo-de-vida mas que na generalidade está a aumentar os custos da empresa quando
considerado o ciclo-de-vida na sua integralidade.
Aos custos, é facilmente atribuído um valor económico. Quantificar economicamente o valor para o cliente é
um exercício que poderá também ser realizado. No entanto, este exercício torna-se extremamente perigoso no
domínio da avaliação ambiental.
É certo que existem métodos para quantificar economicamente os impactes ambientais mas essas abordagens
tendem a ser muito fragmentadas e heterogéneas: diferentes modos de valorização monetária são propostos
para tratar diferentes impactes ambientais. Assim, é aconselhável seguir-se uma análise multicritério, que
considere individualmente as três dimensões em estudo.
A figura seguinte apresenta um caso prático, no setor das telecomunicações, de um processo de avaliação de
alternativas, tendo em conta estas três dimensões.
2
Otimizar as operações de
logotipagem dos telefones
Permitir teletrabalho
no domicilio
1
Fonte: ADEME
Figura 29 – Avaliação de ideias de acordo com o método das três dimensões - Exemplo prático
Para as equipas com tempo ou recursos limitados, uma abordagem alternativa pode ser a avaliação das ideias
de forma qualitativa ou semi-quantitativa, utilizando uma tabela como a apresentada de seguida.
As ideias podem ser avaliadas de acordo com subcritérios provenientes das suas características: por exemplo,
para um pequeno aparelho elétrico, a avaliação na vertente ambiental resulta da tripla estimativa da duração
de vida, consumo energético durante a utilização e capacidade para reciclagem em fim-de-vida. Para evitar
erros é preferível trabalhar em equipa e atribuir notas após debate com direito a contraditório.
Marketing - ++
Fabrico -- + -
Custo ++ - --
Ambiente + ++
Fonte: ADEME
Não há métodos de seleção de ideias melhores do que outros; há apenas métodos mais ou menos apropriados
a uma determinada realidade, situação, cultura empresarial, etc.
A figura seguinte ilustra alguns exemplos relativamente aos métodos de seleção de ideias identificados.
Fonte: ADEME
Avaliar um grande número de ideias (mais de 40) torna-se uma tarefa hercúlea;
Para melhor compreensão, um gráfico é melhor solução do que uma tabela repleta de valores;
É possível que o primeiro resultado, fruto de avaliação minuciosa dos critérios e intensa ponderação,
não corresponda às verdadeiras convicções/perceções dos participantes. No entanto, nada os impede
de modificar as suas notas e/ou a ponderação dada a cada critério. Uma outra forma de lidar com este
desvio é permitir a cada participante três intervenções para exprimirem separadamente as suas
escolhas da "cabeça", "coração" e "instinto".
Finalmente, cabe apenas salientar que o processo aqui descrito, nomeadamente o de divergência criativa,
documentação e avaliação de ideias e posterior seleção de uma solução, pode beneficiar da existência de um
(ou mais) ciclos de divergência/convergência suplementares. De facto, a experiência mostra que num grande
número de situações, não é possível que todos convirjam para uma única solução, criando-se ao invés uma
shortlist de ideias com, por exemplo, três soluções. Estas potenciais soluções podem depois amadurecer por
meio de investigação adicional, cálculos complementares, prototipagem rápida, simulações, etc.
Testes e validação em laboratório e na unidade produtiva, bem como abordagem aos clientes para
preparar a política de comunicação;
Uma vez selecionadas as ideias e antes de lançar o produto/serviço no mercado, é altura de começar a
implementar as soluções eco-inovadoras identificadas pelo grupo de trabalho. Esta tarefa deve ser levada a
cabo pela equipa do projeto, sob a responsabilidade do chefe do projeto e em colaboração com um
trabalhador especialista na área dos impactes ambientais associados ao produto.
Fonte: ADEME
Esta é uma fase crítica em qualquer projeto, uma vez que incorre no risco de atrasos, disparo de custos,
problemas de qualidade ou resistência ao processo por parte de múltiplos atores.
Todo o trabalho preparatório efetuado na fase anterior à geração de ideias visa maximizar as hipóteses de
sucesso mas a aposta não será ganha pelo mero lançamento do produto no mercado. Por vezes inicia-se um
processo de eco-inovação cheio de boas intenções, seguem-se todos os passos de acordo com a metodologia
proposta e selecionam-se soluções eco-inovadoras, apenas para se chegar ao final do projeto e perceber que a
performance ambiental do produto/serviço da empresa é medíocre.
Ou seja, o objetivo não é meramente teórico: o que interessa é passar de uma solução eco-inovadora no papel
para um produto eco-inovador lançado ao mercado.
Ao longo deste capítulo elencam-se algumas opções disponíveis para as empresas assegurarem ou, pelo
menos, melhorarem as hipóteses de sucesso de um projeto de eco-inovação.
Durante o período de transição em que as equipas não estão completamente familiarizadas com o projeto
eco-inovador, recomenda-se a inclusão de um critério de medição da performance ambiental nos pontos de
mudança de etapa.
Este critério, de acordo com as ambições do projeto, poderá ou não bloquear a continuidade do mesmo. Em
todo o caso, contribui para a sensibilização das equipas e integração de uma cultura eco-inovadora na
empresa.
Os elementos recolhidos anteriormente, quer na análise 360º, quer através de estudos de mercado ou da análise
das funções e uso, serão úteis a uma análise de rentabilidade, em virtude do conhecimento sobre o mercado e
potenciais clientes que aportam.
Plano de ação
Na etapa de avaliação e seleção de ideias, são identificadas possibilidades de melhoria que são organizadas
num plano de ação construído de uma forma clássica: quê, quando, quem, etapas, recursos...
A execução deste plano não tem grandes particularidades, consistindo na monitorização do cumprimento de
restrições e calendário.
Nas empresas, os planos de ação assumem múltiplas formas, desde simples listas de ações planos altamente
complexos que envolvem toda a organização.
Teste e validação
Ao longo do processo, é vital validar a performance ambiental, de modo a garantir que se encontra ao nível
proposto. Esta validação sustenta a comunicação ambiental em dados quantitativos, essenciais para a
credibilidade de todo o processo eco-inovador. Completa a validação clássica de custos e qualidade.
Indicadores
Há dois grandes tipos de indicadores que podem acompanhar a realização do projeto: indicadores de
realização e indicadores de resultados.
Os indicadores de realização são uma forma de medir os avanços conseguidos em cada etapa, por exemplo,
através de uma taxa de realização.
Os indicadores de resultados destinam-se a definir o eco-valor do produto a ser concebido, usualmente por meio
do rácio valor para o cliente/impacte ambiental.
A construção de uma metodologia de cálculo genérica para o eco-valor é uma tarefa praticamente impossível.
No entanto, é possível definir critérios quantitativos para segmentos de mercado específicos.
De facto, os impactes ambientais de maior dimensão, bem como os eixos de criação de valor para o cliente,
podem ser identificados e traduzidos em valores numéricos. O valor do cliente dependerá dos níveis atingidos
em cada uma das funções do produto (apreço pelo produto, consumidor responsável, etc.).
O eco-valor será uma relação entre o valor para o cliente, a performance ambiental e o custo do produto.
Pode ainda recorrer-se a outros indicadores de realização, como por exemplo, a quantificação percentual da
realização do projeto face às metas propostas.
Fonte: ADEME
Incumprimento de prazos;
Derrapagem de custos;
Perda de qualidade;
Falta de motivação no departamento de compras;
Falta de motivação de vários atores da empresa;
Falta de entusiasmo dos clientes;
Problemas técnicos na implementação.
O quadro seguinte descreve abreviadamente as principais considerações a tecer sobre cada uma destas
dificuldades, bem como possíveis formas de resposta.
Incumprimento de prazos
Como todos os processos de rutura, a eco-inovação requer um período de aprendizagem, particularmente nos
primeiros projetos realizados. Este é obviamente um fator desfavorável, que pode levar a atrasos. Uma forma de
contornar esta situação é através da criação de soluções parciais, a serem "montadas" e implementadas em
timings específicos do projeto.
Derrapagem de custos
As soluções eco-inovadoras não são mais dispendiosas do que as soluções tradicionais. Aliás, são menos
dispendiosas por inerência (redução das matérias-primas utilizadas, diminuição do consumo de energia, redução
do peso da embalagem...).
No entanto, há diversos fatores que podem levar a um aumento dos custos de produção, como a produção de
pequenas séries, falta de experiência, alteração tecnológica, etc.
Na maioria dos casos, o benefício económico é, mesmo assim, evidente, se alargarmos a análise a todo o ciclo-
de-vida do produto, comparando custos globais. Como já foi referido anteriormente, mesmo que por vezes o
custo de uma determinada etapa possa aumentar (matérias-primas mais caras, tecnologia mais cara, etc.), o
que interessa é que os custos globais desçam.
Se os custos de utilização do produto diminuírem, o cliente terá esse acréscimo de valor em atenção e
considerá-lo-á no preço que está disposto a pagar. O aumento da qualidade e duração de vida, por exemplo,
podem ser justificativos de um preço de venda superior, cobrindo assim os custos adicionais de uma qualquer
etapa específica do processo de eco-inovação.
Perda de qualidade
Um novo produto implica alterações no processo produtivo, sendo que a sua implementação pode tornar-se
complexa. Podem surgir problemas associados à qualidade que, se não forem rapidamente resolvidos, podem
pôr em causa todo o projeto.
A solução passa essencialmente por testar o mais a montante do processo de eco-inovação possível, a
passagem do produto à produção e validar os processos de produção em simultâneo com o processo de
desenvolvimento do produto.
Quando se fala em novos produtos, fala-se também em novas matérias-primas e novos componentes e, assim,
em novos fornecedores. Caberá ao departamento de compras efetuar nova prospeção de fornecedores, sendo
que há um risco forte de ausência de relacionamento com os objetivos da empresa e de recurso aos
fornecedores habituais.
Uma possível solução é a implementação de um programa de sensibilização e formação para integrar estes
trabalhadores no processo de eco-inovação da empresa.
A resistência interna pode vir de todos os departamentos da empresa: produção, qualidade, vendas, etc. Como
no caso do departamento de compras, a solução pode passar por programas de sensibilização e formação.
É possível que o interesse inicial dos clientes em produtos eco-inovadores seja desapontante. De facto, as
estatísticas mostram que a maioria dos intervenientes não estão dispostos a pagar muito mais por eco-inovação.
Nesse sentido, a empresa deve antecipar esta reação e oferecer produtos que, para além dos seus predicados
ambientais, oferecem também funcionalidade, atratividade e qualidade.
Desenvolver um novo produto acarreta necessariamente novos problemas a resolver ao longo de todo o
processo de desenvolvimento e a montante da produção. Estes problemas não são acidentes, mas antes fator
inerente à inovação. Estes problemas deverão ser considerados secundários, uma vez que surgem após o
problema inicial e podem ser resolvidos através de ferramentas e eco-inovação ou simplesmente da criatividade
de grupo. Efetivamente, são uma segunda ronda de eco-Inovação.
Fonte: ADEME
Quando os problemas são descobertos tardiamente, a solução escolhida é usualmente a menos inovadora e
selecionada numa lógica de "apagar o fogo". Assim, é possível aprofundar o contexto do projeto desde cedo e
procurar soluções para potenciais problemas nas fases iniciais de implementação.
POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO
Performance ambiental
Produto/serviço
reconhecida e
eco-inovador pronto
apreciada por
a lançar no mercado
potenciais clientes
Fonte: ADEME
De certo modo, simultaneamente incentivar ao consumo, condição necessária para o sucesso da empresa, e
promover a reutilização dos produtos e prolongamento da sua vida útil pode parecer paradoxal para uma
empresa interessada em vender o máximo possível e maximizar o lucro. No entanto, como já se viu
anteriormente, estas situações nem sempre são "preto e branco", sendo que a empresa deve considerar o
ciclo-de-vida do produto na sua globalidade, só assim podendo concluir sobre a melhor forma de vender o seu
produto/serviço.
Para a compreensão da política de comunicação de uma empresa é importante conhecer dois conceitos
importantes: comunicação responsável e comunicação de eco-inovações.
Uma comunicação responsável é um estilo comunicacional que visa educar o consumidor sobre as questões
ambientais e sociais. A comunicação de eco-inovações refere-se à aplicação prática dos princípios da
comunicação responsável em contexto de eco-inovação e as formas de estabelecer essa mesma comunicação
entre a empresa e as suas partes interessadas.
Este processo formativo permitirá, a prazo, diminuir o gap entre os impactes ambientais medidos e aqueles
que são percecionados pelo público.
Normas e Legislação
Antes de analisarem os princípios inerentes a uma comunicação responsável, é importante referir algumas
normas e legislação em vigor sobre a matéria. Mais importante do que a legislação propriamente dita neste
contexto, são as normas. As normas, contrariamente à legislação, são de caráter voluntário mas são muito mais
exigentes e podem ser um fator motivacional para a implementação da eco-inovação numa empresa. São
também uma ótima forma da empresa comunicar com os seus clientes (os ganhos de imagem são
substanciais).
As ecolabels dirigem-se fundamentalmente a produtos business to consumer (B2C) e são atribuídas por um
organismo oficial. Os critérios são definidos a partir de uma ACV sobre a categoria de produtos em
consideração e o produto em causa passa a ser obrigatoriamente controlado por terceiros.
Como foi dito, as ecolabels tendem a ser mais utilizadas em mercados B2C, enquanto as declarações
ambientais de produto são preferencialmente utilizados em mercados B2B (business to business). É também
sempre possível recorrer às autodeclarações ou à certificação do processo de ecodesign, através da norma
ISO 14006.
60% CO2
HC + NOX
Hidrocarbonetos
CO2
Produto contém 60% de
materiais recicláveis 0% 50% 100%
Fonte: ADEME
Não banalizar ou minimizar a crise ambiental nem denegrir uma prática ou um produto ecológico.
Impulsionar a marca e defender predicados ecológicos como motor da mudança em outros setores da
sociedade;
Uma política de comunicação responsável é uma parte fundamental de uma política de marketing responsável.
O marketing não se limita a conduzir a política de comunicação da empresa, antes personificando toda a
estratégia de uma empresa.
O marketing pode ser definido como a ciência que concebe uma oferta em função de uma análise das
necessidades dos consumidores, tendo em conta as capacidades da empresa e as restrições da sua envolvente
(ambientais, sociodemográficas, concorrenciais, legais, culturais...).
Não entrando em grande detalhe, uma vez que não é o foco deste manual, o marketing mix de uma empresa
assenta nos 4P, tal como descritos por McCarthy, a saber:
Product (produto);
Place (praça ou local);
Price (preço);
Promotion (promoção).
Estes 4P interagem com as necessidades dos clientes através dos denominados 4E, tal como descritos por
Graves, a saber:
Experience (experiência);
Exchange (troca);
Everyplace (todos os locais);
Evangelism (evangelização).
A figura seguinte ilustra a forma como estas duas dimensões do marketing (4P e 4E) intersetam a eco-inovação
numa empresa. A metodologia utilizada para a eco-inovação é a mesma a que se recorreu no capítulo 2, em
que se identificaram 4 níveis distintos para a eco-inovação, nomeadamente:
Materiais e componentes;
Arquitetura do produto;
Salto tecnológico;
Alteração do modelo de negócios.
Ecoeficência
Economia da
Eco-design Eco-inovação
Ganho nos impactes x Ganho nos serviços prestados
funcionalidade
incremental
Eco Valor
Alteração do
modelo de
negócios
Conceção do "Economia da
produto Funcionalidade"
Materiais e
componentes
Salto
tecnológico,
novas funções e
novos usos
Este modelo faz a metodologia dos 4P evoluir para um novo modelo que leva em consideração o ciclo-de-vida
do produto, permitindo novas abordagens e modelos de marketing e negócios alternativos. Tendo em
consideração todos os fatores chave ao sucesso de uma oferta inovadora dos pontos de vista ambiental e
social, o marketing mix responsável pode facilitar o lançamento de um produto e a política de comunicação da
empresa.
A comunicação responsável não deve ter como único objetivo o aumento do consumo dos produtos da
empresa, mas antes procurar criar laços entre a própria empresa e o consumidor, de modo a construir um
relacionamento longo entre as partes.
Para que tal suceda, a empresa deve garantir que a sua comunicação é factual e exata, refletindo corretamente
as características dos seus produtos e serviços. Deste ponto de vista, um conceito importante a focar é o de
greenwashing.
O greenwashing é uma prática que tem por objetivo passar uma imagem mais ecológica de um produto, marca
ou empresa ao público, quando não há factos que a sustentem.
Este tipo de práticas deve ser evitado a todo o custo. A comunicação responsável é aqui uma ferramenta eficaz
no combate a situações deste tipo.
A comunicação responsável é uma questão de conteúdo e mensagem: com coerência e bom senso é possível
criar uma política de comunicação eficaz, capaz de oferecer um produto ou serviço mais forte ao mercado.
Comunicação de Eco-inovações
Uma vez percebidos os fundamentos de uma comunicação responsável, é necessário aplicá-los às
eco-inovações. O importante é transformar uma vantagem ambiental do produto num verdadeiro benefício
para o cliente e comunicá-lo de forma correta. É necessário aplicar os predicados da eco-inovação ao próprio
processo de comunicação.
Antes de mais, é necessário colocar algumas questões fundamentais quanto ao processo de comunicação,
nomeadamente:
No entanto, há outros fatores que devem ser considerados nesta análise, nomeadamente a coerência de uma
ação deste tipo com os valores da marca e a gama de produtos atualmente oferecida pela empresa.
Evidenciar os predicados "verdes" da nova geração de produtos pode tornar de imediato obsoleta a geração
anterior. Esta é uma situação que deve ser antecipada e gerida, uma vez que pode levar à criação de stocks de
difícil venda.
Por outro lado, a comunicação de eco-inovação não é um processo estático: de nada vale desenvolver um
produto eco-inovador se os clientes não tiverem interesse em utilizá-lo. Assim, são necessárias campanhas de
sensibilização e outro tipo de iniciativas.
Uma forma de minimizar estes efeitos é a criação de uma iniciativa bem estruturada, que ofereça maior
confiabilidade ao cliente. Um bom exemplo disto mesmo é a iniciativa ECO2 da Renault, que procura
estabelecer um relacionamento entre a marca e o cliente sobre a performance ambiental dos seus veículos.
Alguns exemplos da comunicação da Renault neste âmbito incluem afirmações como:
O nome da iniciativa, bem como as afirmações sustentadas suscitam no cliente um duplo interesse: económico
e ecológico.
Em teoria, há uma procura "verde", ainda que limitada, entre os clientes profissionais e consumidores.
Também em teoria, poderia pensar-se que bastaria "acenar" os predicados verdes de um produto ao cliente
para que este o comprasse. Na prática, isto raramente se verifica.
De facto, mesmo que um consumidor exija informação ecológica sobre um produto (certificações, emissões,
etc.), este não está particularmente interessado em "comunicação verde", que muitas vezes se assemelha a
greenwashing.
Na realidade, um cliente não compra um produto porque este é "verde", mas sim porque lhe reconhece
qualidade, sendo a vertente ecológica mais uma entre as características do produto.
Definir a comunicação a desenvolver para um produto eco-inovador consiste não em comunicar os aspetos
ecológicos deste, mas antes em identificar as verdadeiras vantagens ecológicas para o cliente final, exprimindo
os seus argumentos sobre essa base, independentemente da natureza desses mesmos argumentos (de cariz
ambiental ou não).
Em conclusão, comunicar exige adequar a mensagem ao seu destinatário e ao meio em que é difundida. Definir
estes aspetos é uma questão de fundo do marketing, uma vez que a segmentação do mercado é o que permite
à marca posicionar-se e criar produtos e mensagens adaptados a cada tipologia de clientes.
Há diversas formas de traçar um perfil de cliente, seja através de estudos de mercado, painéis de teste,
campanhas específicas, etc. É importante que se estabeleça esse perfil, tanto em mercados B2C como em
mercados B2B.
O quadro seguinte descreve em maior detalhe cada uma destas tendências a serem levadas em conta na
comunicação de eco-inovações.
Fabrico local
O produto fabricado localmente é cada vez mais preferido face a um produto global e mais desumanizado.
Embora a marca "made in Portugal" tenha ainda alguns problemas associados, fundamentalmente de imagem,
essa perceção está a mudar e a produção local é cada vez mais uma vantagem competitiva. Adicionalmente,
a melhoria ambiental é evidente, particularmente ao nível dos impactes ambientais associados ao transporte de
matérias-primas e produtos.
O fabrico local é assim uma questão de imagem mas também uma forma de otimizar a cadeia logística.
Moderação do consumismo
A crise económica e financeira que atingiu a maioria do mundo nos últimos anos produziu impactos ao nível dos
padrões de consumo. Longe do consumismo desenfreado que caracterizou épocas de prosperidade
económica como os anos 80 e 90, as prioridades mudaram hoje mais para a procura do bem-estar do que
propriamente para a aquisição da última moda.
Assim, qualquer eco-inovação e política de comunicação que a suporte, deve ter esse facto em atenção, para
além de procurar promover o último salto tecnológico.
Fonte: ADEME
O argumento pertinente não é a qualidade ambiental do produto, mas sim se esse produto constitui uma
verdadeira solução a um problema largamente reconhecido.
A adoção da eco-inovação implica uma mudança na atitude dos clientes e essa mudança requer um enorme
esforço de sensibilização por parte das empresas. Alguns pontos importantes a reter nesse sentido são os
seguintes:
No atual ecossistema económico, todo o consumidor, tal como qualquer decisor numa empresa, está em
estado de solicitação perpétuo, tanto do ponto de vista mediático, como do ponto de vista da aquisição e
utilização de um produto ou serviço. Em simultâneo, estamos cada vez mais "ligados" e a quantidade de dados
disponíveis sobre os clientes é cada vez maior em termos quantitativos e qualitativos. É possível, através de
variadíssimas ferramentas, recolher e analisar dados de clientes de forma regular, o que permite segmentar os
mercados e identificar soluções de comunicação adequadas.
Os consumidores procuram cada vez mais informação, sendo que as novas formas de comunicação, como a
internet ou as redes sociais, gozam de uma via de comunicação muito mais direta e direcionada face aos meios
de comunicação tradicionais. Os próprios meios de comunicação tradicionais estão a abordar novas formas de
comunicação, desde os programas de tv com possibilidade de replay, aos jornais com edição online.
É importante compreender todo este contexto e perceber que todas as formas de comunicação têm os seus
méritos, sendo recomendável que se efetue uma abordagem multicanal. Caberá a cada empresa perceber
qual a melhor forma de fazer passar a sua mensagem.
Numa altura de comunicação quase instantânea, virtual e em rede, o regresso a uma dimensão mais direta e
humana parece ser uma solução comunicacional que resulta bem.
A forma adapta-se bem a todos os suportes utilizados mas o "coração" da comunicação assenta na força da
mensagem. Neste aspeto, há diversos fatores a ter em conta na comunicação, como o uso de certas buzz words
(reciclável, biológico, etc.), o próprio nome do produto ou iniciativa (como a iniciativa ECO2 da Renault citada
previamente) ou a criatividade e capacidade agregadora das ações de comunicação.
Não se fala do ambiente com paisagens floridas como pano de fundo. Antes, faz-se através da construção de
uma narrativa e de bom storytelling, que "fale" com o cliente.
Mesmo com a forma comunicacional mais adaptada aos seus objetivos, de nada serve à empresa isolar-se.
De facto, é vital envolver os trabalhadores, os clientes, os fornecedores, associações e outras partes interessadas.
É particularmente importante envolver os clientes no momento da conceção dos produtos e da mensagem a
transmitir, fazendo-os interagir com todo o processo, para que se sintam mais ligados ao produto, à marca e à
empresa.
O recurso às redes sociais é a forma mais direta de conseguir isto, pelo efeito de partilha e criação de buzz.
Implicar os fornecedores da empresa é também um objetivo a seguir. Muitas vezes, os esforços das empresas
cedem neste mesmo ponto: por muito que uma empresa se esforce por ter uma imagem "verde", de nada lhe
valerá se existirem problemas com os fornecedores (veja-se o exemplo da Nike com a subcontratação de
serviços no sudeste asiático ou o esforço da McDonalds em garantir a origem dos seus produtos).
O envolvimento de ONG, associações ou organismos oficiais que possam certificar os produtos da empresa
pode também ser um fator que dá força a uma campanha promocional. A força de uma marca como a WWF
(World Wide Fund for Nature), por exemplo, vale mais do que mil palavras e substitui quase toda a comunicação
que uma empresa possa fazer para convencer o público do estatuto "verde" dos seus produtos. A associação a
entidades deste tipo pode ser altamente vantajosa.
Pese embora o crescimento dos meios de comunicação online, a verdade é que a comunicação tradicional
continua a ser a que mais hipóteses tem de ser vista pelo cliente. O colapso nas vendas de jornais e revistas em
papel, bem como de outlets físicos parece já ter ultrapassado o seu pico, com estes meios de comunicação a
apresentarem alguns sinais de recuperação.
A verdade é que há ainda muito espaço para eco-inovar na comunicação via meios tradicionais. Métodos
tradicionais como a disponibilização de amostras ou cupões em revistas continuam a ter elevadas taxas de
sucesso. Por outro lado, muitas marcas estão a criar boutiques físicas com novos serviços para chegar a clientes
a que acedem apenas online.
Fonte: ADEME
As eco-inovações estão ao serviço de um mundo em constante mutação e a comunicação que as suporta deve
procurar ligar as empresas a esse processo de mutação, ao zeitgeist.
Envolva-se! Divirta-se!
Recursos
(análise 360º,
Projeto de prospeção de
eco-inovação bem eco-inovação, ideias) e
sucedido boas práticas para
projetos futuros
Fonte: ADEME
O papel da empresa nesta fase é conceber metodologias adequadas, que garantam uma capitalização do
conhecimento de forma simples e rápida, de modo a assegurar uma boa transferência de experiência
eco-inovadora de projeto para projeto e de equipa para equipa.
Uma forma de agilizar este processo é recorrer às ferramentas utilizadas durante um projeto de eco-inovação
aquando da elaboração e implementação de um novo projeto. Ao longo deste manual, fomos exemplificando
inúmeras ferramentas pertinentes, a serem utilizadas em diferentes etapas do projeto, nomeadamente:
o
Identificação de oportunidades: a análise 360 por setor de atividade pode ser reutilizada
regularmente pelos departamentos de marketing, I&D e ambiente da empresa. As diferentes
oportunidades identificadas podem dar origem a projetos simultâneos ou sucessivos;
Exploração do ciclo-de-vida: pode ser reutilizada na implementação de um novo projeto;
Identificação dos níveis do sistema: idem;
Impactes ambientais: a análise de estudos ACV, bem como a modelização para avaliação ambiental
rápida do ciclo-de-vida do produto (screening ACV) e a matriz MIME, podem ser reutilizadas;
Análise funcional: idem;
Análise de uso: idem;
Geração de ideias: as ideias geradas devem ser registadas, de modo a facilitar a procura de soluções
em projetos futuros. As soluções efetivamente implementadas devem ser capitalizadas sob a forma de
uma "árvore de soluções".
Cada solução registada deve ser ilustrada e detalhada num texto curto. Desta forma, uma equipa a trabalhar
num projeto de eco-inovação pode chegar facilmente a soluções previamente encontradas e que se possam
integrar no projeto em curso.
As equipas responsáveis pela conceção e implementação de cada uma das soluções devem também ter as
formas de contacto dos seus integrantes registadas na árvore, o que permite um intercâmbio quase imediato
entre os responsáveis do projeto atual e do projeto anterior para troca de ideias.
Este tipo de capitalização das soluções encontradas é muito mais prático do que o recurso a métodos mais
tradicionais, como a elaboração de um relatório extenso, que a equipa encarregue do novo projeto raramente
terá tempo de explorar.
Este método enceta um benefício adicional: quando as equipas exploram um determinado ramo da árvore,
podem encontrar uma solução que se aplica em outro ramo, criando novas ramificações na árvore. Por
exemplo, uma equipa pode explorar a variável "consumo de energia" nos ramos "energia" e "resíduos".
As diferentes ramificações deverão ser registadas de forma diferente. Assim, nas ocorrências principais deve
encontrar-se:
A questão que se coloca neste capítulo não é como implementar o processo ao nível do projeto, mas antes ao
nível da empresa. O que importa aqui são os elementos mais ligados à gestão da empresa.
Após se propor um quadro geral de divulgação de uma política de eco-inovação na empresa e da análise das
alterações que tal política acarreta, a empresa tem que focar-se em alguns pontos essenciais como quais as
competências necessárias, que tipo de organização, que tipo de processo, cronologia das operações, etc.
De um modo geral, pode falar-se em três fases distintas de implementação da eco-inovação, ao nível da gestão
da empresa, a saber: INÍCIO - ACELERAÇÃO - MATURIDADE.
Tempo
Integrar o desenvolvimento
Cultivar a sensibilidade das Integrar o desenvolvimento sustentável na reflexão
equipas de desenvolvimento sustentável nas atividades estratégica
Ações sustentável
Transferir a responsabilidade Identificar as oportunidades
Construir a argumentação ao nível operacional de criação de valor a
médio/longo prazo
Fonte: ADEME
A resposta mais imediata a esta questão é recorrer a exemplos para convencer todos do mérito do projeto.
A empresa pode lançar um ou mais projetos-piloto, de forma a testar o método, ajustá-lo às suas necessidades,
identificar ferramentas pertinentes, desenvolver práticas, etc. Fundamentalmente, a empresa estará a criar um
caso de sucesso que servirá para convencer a organização internamente.
Uma outra resposta simples vai no sentido de a empresa colher os "low hanging fruits", ou seja, implementar
medidas de baixo custo que reduzem impactes ambientais e custos. Preferencialmente, a empresa deve, nesta
fase inicial, optar por selecionar projetos que ofereçam ganhos ao nível do ambiente, dos custos e do valor
para o cliente.
Seguidamente, a empresa deve iniciar a implementação do seu projeto de eco-inovação de forma progressiva.
Deve procurar fazê-lo da forma mais inclusiva possível, chamando a si os responsáveis de todos os
departamentos da empresa, procurando que estes se questionem, no lançamento de qualquer projeto, sobre
as vantagens de o fazer de uma perspetiva eco-inovadora.
Fase 2: Aceleração
Antes de mais, é preciso perceber que o ato de integrar a dimensão ambiental na conceção de produtos e
serviços constitui uma mudança radical que, como qualquer processo de mudança, deve ser acompanhada.
Entre outros aspetos, deve ter-se em consideração que:
A mudança envolve, em maior ou menor dimensão, todas as funções da empresa, pois toca no centro
de toda a atividade da empresa, ou seja, na sua oferta;
Trata-se de uma mudança significativa mas que se pode implementar de forma progressiva, sendo necessário
sensibilizar, formar e informar um elevado número de pessoas, convencer a organização interna mas também
as partes interessadas da empresa, fornecedores, clientes, acionistas, etc.
Nesta fase, é fundamental que as equipas diretamente ligadas ao projeto, nomeadamente, os departamentos
de marketing, I&D e ambiente, disponham das competências necessárias.
Na fase de aceleração da eco-inovação, mais do que procurar saber quais os impactes ambientais associados a
um produto ou serviço, é importante identificar os impactes associados a um local ou a uma etapa específica
do processo produtivo.
A escolha por um ou por outro dependerá largamente do nível de conhecimento, da dimensão da empresa e
do número de projetos a decorrer. Numa fase de transição, a empresa pode optar pelo modelo centralizado e
evoluir para um modelo repartido, à medida que a prática se vai disseminando.
A empresa pode apoiar-se em outras experiências que tenha tido com a mudança, como por exemplo, a
adoção de políticas de qualidade total.
Fase 3: Maturidade
A fase de maturidade de um processo de eco-inovação visa antecipar os problemas, criando uma cultura de
eco-inovação na organização, proativa, em vez de uma atitude reativa, na tentativa de solucionar problemas
pontuais.
Para tal, é necessário integrar a noção de desenvolvimento sustentável na reflexão estratégica da empresa e
identificar as oportunidades de criação de valor, numa perspetiva de médio e longo prazo. No final do
processo, o capital imaterial da empresa será altamente valioso.
Naturalmente, este é um processo que demora anos a concluir-se, mas que as empresas devem procurar desde
cedo. Mas há várias questões que se colocam neste ponto. Antes de mais, como constituir equipas e procurar
soluções, se não há um problema identificado para resolver?
Uma vez mais, não se trata aqui de endereçar questões pontuais, mas sim de construir uma verdadeira cultura
eco-inovadora na empresa. Nesse sentido, os departamentos mais ligados à eco-inovação (ambiente, I&D,
marketing), devem possuir a autoridade para implementar um projeto deste tipo quando acharem necessário.
Deve procurar-se criar um clima de flexibilidade, que permita à eco-inovação crescer de forma sustentada nas
organizações, tornando-se intuitiva.
A maioria das grandes empresas recorrem ao processo de eco-inovação "Stage-Gate" para o desenvolvimento
de novos produtos. Este método divide o processo em etapas, ou "gates" (portões). O essencial do esforço de
eco-inovação acontece logo no primeiro "gate".
Viabilidade Testes e
Enquadramento G1 G2 Desenvolvimento G3 G4 Lançamento G5
e business validação
case
Fonte: ADEME
A empresa pode optar por formação específica ou genérica, direcionadas às funções da empresa diretamente
relacionadas com o processo de eco-inovação, como o marketing, a investigação e desenvolvimento ou o
departamento de compras. São possíveis duas abordagens distintas, de acordo com a cultura e a organização
da empresa, a saber:
Formação que mistura perfis - tem a vantagem de veicular um dos fatores-chave do sucesso de um
processo de eco-inovação: trabalho em equipa;
Formação por tipo de perfil - permite ajustar mais facilmente o discurso aos públicos específicos,
trazendo questões específicas a diferentes públicos.
Um ponto fulcral que não deve ser negligenciado é a sensibilização/formação da gestão de topo. De nada serve
mobilizar e formar equipas se os decisores não percebem o processo e não procuram impulsioná-lo.
A empresa assegura que as pessoas com cargos relevantes (como o responsável do ambiente) têm
competência para entender e/ou aplicar as metodologias e ferramentas para a identificação e
avaliação dos aspetos ambientais dos produtos ao longo do ciclo-de-vida?
Fonte: ASEIC
De acordo com a utilização prevista, os indicadores podem ser definidos de formas muito distintas. Na
generalidade, é possível distinguir entre dois tipos de indicadores distintos, a saber:
Indicadores de realização;
Indicadores de resultados.
Os indicadores de realização têm em linha de conta os esforços desenvolvidos para atingir um determinado
objetivo, enquanto os indicadores de resultados focalizam-se na performance obtida.
Os resultados podem ser avaliados de diferentes formas, considerando-se um projeto ou toda a empresa.
Nos indicadores de resultados, é possível contabilizar, entre outros fatores:
Etc.
Os indicadores de realização tendem a ser utilizados mais para consumo interno, para orientação do processo
ou comunicação interna. Neste último caso, permitem incentivar as equipas e manter uma dinâmica de
realização na ausência de resultados tangíveis que, naturalmente, levam o seu tempo a surgir.
Para a comunicação externa da empresa, os indicadores de resultados são muito mais convincentes para
investidores, clientes e outras partes interessadas, uma vez que fornecem informação quantificada e
verificável.
5.1. ENQUADRAMENTO
Será melhor utilizar copos de plástico ou canecas de cerâmica? Fraldas descartáveis ou reutilizáveis? Reciclar
ou incinerar os óleos usados?
Quer se trate de um mercado de consumo final ou de um mercado industrial, é necessário avaliar e comparar
impactes ambientais associados a produtos e serviços de diferentes atividades, de modo a responder
fundamentadamente a questões deste tipo.
A análise do ciclo-de-vida é a ferramenta de referência para a avaliação ambiental de produtos, tecnologias, e
até mesmo das organizações. O objetivo deste capítulo é identificar princípios, apontar aspetos metodológicos
chave e assinalar conselhos práticos para a implementação de uma análise de ciclo-de-vida numa empresa.
Antes de mais, é necessário perceber que o ciclo-de-vida de um produto é composto por diversas etapas. De
uma forma geral, podem apontar-se 8 etapas distintas, que são apresentadas na figura seguinte.
Distribuição
Fabrico do
produto Utilização
Fabrico de CICLO DE
componentes Fim de vida
VIDA
Produção de Reciclagem e
materiais valorização
Extração de
matérias-primas
Fonte: ADEME
O ciclo-de-vida de um produto/serviço contempla uma série de inputs, ou entradas, em cada uma das suas
etapas (como matérias-primas, água, energia...), bem como de outputs, ou saídas, que assumem a forma dos
impactes ambientais (na atmosfera, no ar, nos solos...).
A análise de ciclo-de-vida de um produto consiste na elaboração de um balanço dos materiais que entram e
saem num sistema, obtendo-se através desse balanço uma série de impactes ambientais potenciais que
servirão de base para o projeto de eco-inovação, no momento de conceção de objetivos e hipóteses para o
projeto. Esta análise aplica-se aos produtos, processos e organizações.
VIDA Descarga
Água para o solo
Outputs
Inputs
Fonte: ADEME
Genericamente, as empresas podem recorrer a dois tipos de abordagem numa análise de ciclo-de-vida: uma
abordagem multicritério ou uma abordagem global.
No caso da abordagem multicritério, consideremos o seguinte exemplo: uma atividade de combustão provoca
múltiplos impactes ambientais, desde o efeito de estufa proveniente das emissões de CO 2 à acidificação
atmosférica através das emissões de HCL ou SO 2, mas também à poluição local (poeiras) ou ecotoxicidade
(dioxinas, metais pesados...).
Esta grande diversidade de impactes ambientais desmultiplica-se ainda pelas diversas vertentes ambientais (ar,
solos, água...), tornando difícil fazer escolhas fundamentadas assentes num só critério. Assim, não é possível
levar em consideração apenas um critério (efeito de estufa ou consumo de água, por exemplo), mas antes
recorrer a uma abordagem multicritério.
Há que ter em conta que estas variáveis são relativamente independentes, não havendo nenhuma razão para
que evoluam de forma proporcional.
No caso da abordagem global, consideram-se adicionalmente as etapas a montante e a jusante do objeto de
análise. Recorrendo novamente ao exemplo da combustão, teria que se ter em consideração também a
extração e fabrico do combustível, tratamento dos resíduos da combustão, etc.
De igual forma, ao analisar um produto, a análise não se pode restringir à fase de produção, devendo incluir
também as fases intermediárias de transporte.
Certos produtos são mais poluidores na fase de utilização (como os automóveis), enquanto outros (como as
pilhas), poluem mais na fase de fim-de-vida. Desenvolver uma abordagem multicritério e ter em consideração
todo o ciclo-de-vida são duas condições essenciais para uma avaliação ambiental de um produto, uma vez que
permitem soluções que não se limitam a transferir os impactes ambientais de uma etapa da vida do produto
para outra mantendo, ou até agravando, o impacte ambiental global.
A figura seguinte apresenta a forma como se relacionam estas quatro etapas de uma análise de ciclo-de-vida
de um produto.
Objetivos e
1 âmbito do
estudo
2 Inventário
Interpretação 4
Avaliação
3
dos impactes
Fonte: ADEME
Com a ACV, é possível não só comparar produtos distintos como várias versões do mesmo produto.
De modo a que se possam comparar dois produtos, é necessário definir uma base de comparação equitativa,
normalmente assente na função cumprida pelo mesmo.
Assim, ambos os produtos necessitam de "x" unidades de serviço para cumprir uma mesma função.
Consequentemente, são estas as quantidades a registar no inventário a realizar (etapa seguinte do estudo ACV)
e não as quantidades "físicas" de cada produto.
É este o fluxo de referência que permite identificar as quantidades necessárias de cada produto para cumprir
idêntica função.
Relativamente ao âmbito do estudo, particularmente ao nível de sistema a ter em conta para a elaboração do
inventário, este situa-se após a etapa de extração de matérias-primas e antes do tratamento de resíduos.
Naturalmente, esta representação linear do ciclo-de-vida é uma simplificação: de facto, em cada etapa do
ciclo-de-vida há não só inputs e um produto principal, como outros inputs e produtos, como coprodutos,
subprodutos, resíduos, etc.
Para efetivamente se identificar o nível de sistema, é necessário recorrer a um diagrama de árvore que parte
de cada etapa do ciclo-de-vida "linear", selecionado à partida, e que identifique etapas adicionais necessárias
ao lançamento do produto no mercado.
Input C
Input AB
Input B
Input AA
Input A
Extração de Produção
matérias de Fabrico Distribuição Uso Fim de Vida
primas materiais
Tratamento
de resíduos
Fonte: ADEME
É importante perceber que, pese embora a dimensão global que um estudo deste tipo acarreta, é necessário
alargar o seu âmbito de forma progressiva e controlada, de modo a não se correr o risco de estar perante uma
análise de ciclo-de-vida ao mundo inteiro.
Basicamente, fixam-se limites para cada um dos critérios que, ao serem cumpridos, delimitam o âmbito do
estudo. Recorrendo a um exemplo: se são fixados limites mínimos de 2% nos critérios de materiais e energia,
todas as etapas que não correspondam a uma entrada mínima de 2% dos materiais utilizados ao longo do
ciclo-de-vida e 2% da energia consumida, e que não impliquem substâncias consideradas perigosas, podem ser
desconsideradas para o estudo em curso. Adicionalmente, será também útil, por precaução, somar os materiais
utilizados e os consumos de energia de todas as etapas descartadas, de modo a garantir que, no seu conjunto,
se mantêm pouco significativas.
Uma dificuldade acrescida na limitação do âmbito do estudo prende-se com o facto de, em muitos setores
industriais, a produção de coprodutos ser extensa, tornando difícil identificar os respetivos impactes associados
a cada um dos produtos. Neste caso, a norma ISO 14040 recomenda:
Redefinir de forma mais detalhada o sistema e verificar se o problema resulta de uma agregação de
várias funções desconexas;
Caso não seja possível, agregar os impactes ambientais de uma fileira comum a dois coprodutos,
baseando-se num critério físico: materiais, energia...;
Caso não seja ainda satisfatório, recorrer a outros critérios, nomeadamente económicos.
Para que se perceba melhor, recorremos a um exemplo: a produção de queijo. A produção de queijo, para
além do produto principal, gera também soro de leite, utilizado na alimentação animal.
Neste caso em particular, em que a produção de queijo é o foco principal, o recurso a uma análise baseada no
critério económico parece fazer mais sentido. No entanto, surge aqui mais um problema: a variação dos preços
da alimentação animal a nível mundial. Esta variação pode enviesar a análise. Assim, é necessário incluir mais
uma variável: a perspetiva histórica, e considerar uma análise ao longo do tempo.
O que se pode concluir é que diferentes formas de análise podem levar a resultados completamente dispares.
A figura seguinte ilustra isso mesmo, recorrendo ao exemplo da produção de queijo.
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Queijo Soro de leite
Fabrico de
Leite
Queijo
Critério: Económico
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Queijo Soro de leite
Fonte: ADEME
Finalmente, é importante referir mais uma questão que torna difícil a delimitação do âmbito de um estudo
ACV: a reciclagem de materiais.
Este é um problema clássico numa ACV uma vez que, na maioria dos casos, a reciclagem não é efetuada em
ciclo fechado, ou seja, no seio de uma mesma fileira, antes fazendo parte de um ciclo aberto. O produto
reciclado, por exemplo, uma garrafa de plástico, pode ser utilizada para o isolamento de edifícios ou em
vestuário - as duas fileiras estão ligadas pelo processo de reciclagem, sendo difícil a qual das fileiras atribuir os
benefícios ambientais da reciclagem da garrafa de plástico.
Ponto prévio: todas as operações de reciclagem oferecem benefício ambiental. Trata-se aqui de identificar a
que fileira esse benefício deve ser atribuído ou de que forma reparti-lo pelas fileiras. Para tal, há dois métodos
distintos, que podem levar a resultados díspares, a saber:
O método dos stocks, que consiste em identificar os sistemas ao nível do stock de materiais
homogéneos e prontos a reciclar. Ou seja, todas as operações que ocorram a montante desse stock
são atribuídas à fileira que gera o material a reciclar e todas as operações que ocorram a jusante são
atribuídas à fileira responsável pelo seu consumo. Este método tem a tendência de aligeirar o balanço
ambiental da fileira que consome o material a reciclar, uma vez que o material é fornecido com uma
"carga ambiental" nula.
O método dos impactes evitados, que consiste em alocar a totalidade dos custos e benefícios da
reciclagem à fileira que gera o material a reciclar. Este método tem a tendência contrária ao anterior,
aligeirando o balanço ambiental da fileira a montante e agravando o da fileira a jusante.
A título de exemplo, vamos considerar o caso de uma viatura em fim-de-vida, em que o aço será reciclado para
o varão do betão armado a ser utilizado em edifícios.
Recorrendo ao método dos stocks, a ACV do automóvel incluirá a fresagem e triagem dos materiais. Não há
aqui contabilização de recursos de aço, uma vez que o material é considerado como uma matéria-prima
secundária. Por sua vez, a ACV do edifício inclui o transporte da sucata resultante para os fornos elétricos e a
transformação em betão armado. Aqui não há consumo de aço ou de carvão, apenas de uma matéria-prima
secundária. A figura seguinte ilustra um processo de reciclagem pelo método dos stocks.
Fonte: ADEME
Com o método dos impactes evitados, a situação é bastante diferente. As operações secundárias de produção
de aço integram a ACV do automóvel mas o seu impacte ambiental é contabilizado de uma forma ficticiamente
baixa no balanço ambiental.
Este processo existe porque se considera o aço reciclado a partir da sucata como equivalente ao aço "virgem"
utilizado no início do processo - isto leva a um balanço ambiental muito favorável ao automóvel, já que o
consumo elétrico do aço produzido de forma elétrica em siderurgia é muito menor do que o da fileira integrada
(fornos de aço). Esta solução será mais pertinente quando a qualidade dos materiais reciclados é similar à
qualidade das matérias virgens e menos pertinente no caso oposto.
A figura seguinte ilustra um processo de reciclagem pelo método dos impactes evitados.
Stock de Utilizador
Aço Fundição Utilizador Siderurgia Aço Aço Fundição Aço
sucata secundário
de aço primário (elétrica) reciclado de aço reciclado
de aço
do aço
Menos Considerado
como equivalente
Procedimento fictício,
acrescentado para
equilibrar o balanço
Fonte: ADEME
Na realidade, não há uma solução objetiva para este problema: tal como na alocação de custo na gestão da
empresa, também a alocação dos impactes ambientais é uma questão de convenção e compromisso.
Neste aspeto, uma solução possível é a combinação dos dois métodos, utilizando uma ponderação dos
resultados de 50% para cada um dos métodos.
Emissões para Arsénico Kg 1,33E-08 4,05E-09 3,29E-10 2,71E-10 2,29E-09 8,41E-09 0 2,34E-08
água doce Chumbo Kg 4,46E-08 1,39E-08 2,37E-09 4,07E-10 1,65E-08 2,77E-09 0 8,30E-08
Emissões para
--- --- --- --- --- --- --- --- --- ---
água salgada
Emissões no
--- --- --- --- --- --- --- --- --- ---
solo
Perigosos Kg 4,47E-05 1,36E-05 0 0 0 0 6,70E-04 7,15E-04
Resíduos Industriais Kg 0,033 2,26E-04 7,41E-05 0 0 0 -5,47E-05 0,035
Inertes Kg 2,93E-05 0 0 0 0 0 0 2,93E-05
Fonte: ADEME
Efeito de estufa;
Acidificação atmosférica;
Criação de ozono fotoquímico;
Degradação da camada do ozono;
Poluição da água;
Esgotamento de recursos naturais não renováveis.
Há ainda diversos outros indicadores, como por exemplo, indicadores referentes ao uso do solo ou às emissões
radioativas. O espectro dos impactes a avaliar varia de acordo com o objeto do estudo.
Por outro lado, são realizadas análises de sensibilidade para verificar a robustez dos resultados em cenário de
alteração de hipóteses. De igual forma, são realizadas análises de incerteza para verificar o efeito dos dados
menos precisos que integram o cálculo.
Em suma, comparam-se cenários alternativos sobre a conceção do produto ou qualquer outra fase do
ciclo-de-vida, com o cenário de referência.
Após esta análise, os resultados podem ser apresentados de diferentes maneiras, podendo facilitar ou não a
sua interpretação. Alguns pontos a ter em atenção nesta matéria são:
É certo que este tipo de indicador é imensamente prático; no entanto, a sua fundamentação científica é
escassa, uma vez que a agregação de indicadores de diferentes grandezas numa mesma modelização não leva
em conta as compensações ou acréscimos que podem ocorrer.
No caso dos impactes ambientais, esta situação não pode ocorrer, uma vez que estes são, em grande medida,
independentes, não havendo mecanismos de compensação possível entre impactes. De facto, um pouco
menos de acidificação atmosférica não pode ser compensado por um pouco mais de efeito de estufa.
Em suma, estes indicadores agregados, mais do que resultado da investigação científica, são uma construção
social.
A lógica desta análise é focalizar a atenção, para cada produto, nos impactes em que o contributo do produto é
superior ao da maioria dos produtos no mercado.
De referir que esta abordagem não prejudica em nada as diferenças relativas entre a gravidade de cada
impacte ambiental. De facto, mais do que substituta, esta abordagem é complementar com a apresentada
anteriormente. É apenas mais uma forma de apresentar os resultados.
Como consideramos os resultados parciais da poluição total numa dada zona geográfica, torna-se simples
exprimir os resultados normalizados em " habitantes equivalentes ", facilitando a compreensão.
A figura seguinte apresenta uma forma de ilustrar a margem de progresso da empresa em diversas vertentes,
face aos impactes ambientais que geram.
IMPACTE AMBIENTAL
Margem de Progresso
Impacte Ambiental
Fonte: ADEME
Local: Processo:
Descrição do processo:
Entradas de energia
Unidade Quantidade Comentário, origem dos dados Origem
(fuelóleo, eletricidade...)
Saídas de materiais
Unidade Quantidade Comentário, origem dos dados Destino
(produtos)
Fonte: ADEME
Esta qualidade é expressa em termos da pertinência dos dados, da sua representatividade geográfica,
tecnológica e temporal.
Um erro comum é recorrer a informação já presente na base de dados da empresa, mesmo que não
corresponda exatamente ao objeto de estudo, em vez de recolher novos dados. A título de exemplo, os
impactes associados à produção de arroz serão muito diferentes de acordo com o tipo de cultura e o número
de colheitas anuais.
Em traços gerais, podem apontar-se algumas considerações básicas sobre este assunto:
Para orientar as escolhas de conceção, ainda muito a montante do processo, basta uma modelização
de caráter genérico;
Para documentar uma escolha tecnológica, recomenda-se uma ACV comparativa com dados primários
sobre as etapas que diferem em cada tecnologia.
Nesse sentido, há inúmeras ferramentas informáticas disponíveis, com maior ou menor complexidade e mais
ou menos custosas. No entanto, a escolha por uma ferramenta particular deve estar mais relacionada com a
qualidade dos dados disponíveis do que propriamente com estes ou outros fatores.
Estes softwares de apoio à análise de ciclo-de-vida, sejam eles de caráter genérico ou setorial, são então
suportados por bases de dados próprias ou públicas.
O quadro seguinte apresenta algumas ferramentas informáticas de apoio à ACV, bem como as bases de dados
em que se apoiam.
Fonte: ADEME
Campo de Intervenção
A análise de ciclo-de-vida não é solução para todos os problemas de avaliação ambiental: é particularmente
adequada para a avaliação de impactes globais, como o efeito de estufa. Por outro lado, os indicadores de
toxicidade são muito superficiais. Assim, a ACV, somando os fluxos emitidos ao longo do ciclo-de-vida, não
representa de forma precisa os impactes ambientais de cariz local.
É certo que têm sido feitos esforços de geolocalização de impactes mas a verdade é que, sendo interessante de
um ponto de vista teórico, na prática a pouca disponibilidade de dados locais tem limitado em muito esse
esforço.
No entanto, é relevante conservar os dados de emissões de substâncias tóxicas em contexto de ACV, uma vez
que podem servir de sinal de alarme para lançar uma investigação complementar, como por exemplo, uma
análise toxicológica.
Adicionalmente, uma análise de ciclo-de-vida considera apenas os fluxos quantificáveis e passíveis de soma. Na
maioria das vezes, ficam de parte fatores como a emissão de ruido, ondas eletromagnéticas, alterações na
paisagem, etc.
Em suma, todos estes limites são campos passíveis de investigação e progresso. Assim, a ACV pode cobrir uma
grande variedade de domínios distintos.
A análise de ciclo-de-vida é uma ferramenta reconhecida por empresas e poder público e que está em
constante mutação, sendo sistematicamente estudada e melhorada.
Um dos desafios futuros é levar esta ferramenta imprescindível a um nível de notoriedade ainda maior, entre
profissionais e a própria sociedade civil.
Desde clientes a colaboradores, passando por fornecedores, parceiros, poder público, comunidades locais,
acionistas ou investidores, todos reclamam maior transparência das empresas na assunção dos impactes
ambientais causados pela sua atividade, bem como um esforço de melhoria da performance ambiental.
É esta junção de fatores que torna a análise do ciclo-de-vida uma ferramenta indispensável.
O estudo ACV permite às empresas percecionar melhor as escolhas de investimento, orientar a investigação e
desenvolvimento internas, conduzir o desenvolvimento de novos produtos, valorizar os produtos nos
mercados, negociar a elaboração de nova regulamentação com o poder político, etc. Em suma, é uma forma de
orientar a estratégia da empresa.
Cabe a cada empresa utilizar esta ferramenta da forma mais apropriada ao seu contexto de mercado, às suas
ambições, cadeia-de-valor, contexto tecnológico, enquadramento legal...
A análise de ciclo-de-vida é a ferramenta mais relevante ao dispor das empresas para maximizarem a triple
bottom line, metodologia que mede o sucesso de uma organização não pela definição tradicional que vê a
maximização de lucro como fim único, mas antes pela ponderação de três vertentes distintas: económica,
social e ambiental.
Económico
CUSTO LUCRO
Subemprego
Consumo
Filantropia Comércio de Recursos
Justo
Uso Gestão
da Terra de
Resíduos
Segurança dos
Trabalhadores
Social Ambiente
Fonte: Wikipedia
Foi destacada uma ferramenta que nos parece constituir a base de qualquer processo de eco-inovação, a
análise do ciclo-de-vida (ACV). Este destaque visou elencar os aspetos fundamentais do funcionamento desta
ferramenta e enaltecer a sua importância, com o objetivo de potenciar a sua utilização mais frequente no
universo empresarial português.
Adicionalmente, foram apresentadas inúmeras medidas eco-inovadoras simples, com o objetivo de aproveitar
os chamados low hanging fruits, ou seja, medidas que permitem resultados rápidos e com baixos custos para a
empresa.
Com este "Guia para a Eco-inovação em PME" procurámos dotar as empresas nacionais, particularmente as de
menor dimensão, de uma ferramenta simples e de caráter inerentemente prático, de auxílio à implementação
da eco-inovação nas suas organizações.
EIO, Closing The Eco-Innovation Gap – An economic opportunity for business, 2012;
EIO, Europe in transition - Paving the way to a green economy through eco-innovation, 2013;
OCDE, The Future of Eco-Innovation: The Role of Business Models in Green Transformation, 2012;
http://www.eco-innovation.eu;
http://pt.wikipedia.org.
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