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GESTÃO DE PRODUTOS

E MARCAS SUSTENTÁVEIS
Professor: Edson Seiti Miyata
GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 1
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO 7

EMENTAS 8
AULA 1: MARKETING 3.0 8
AULA 2: RESPONSABILIDADE SOCIAL 8
AULA 3: GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE 8
AULA 4: DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS 8
AULA 5: GESTÃO DE PRODUTOS 8
AULA 6: ECODESIGN – PRODUTOS SUSTENTÁVEIS 9
AULA 7: BRANDING DE SUSTENTABILIDADE 9
AULA 8: POSICIONAMENTO, EMBALAGEM E ROTULAGEM 9

AULA 1: MARKETING 3.0 10

INTRODUÇÃO 10
CONTEÚDO 11
INTRODUÇÃO 11
MARKETING 1.0: A VISÃO CLÁSSICA 12
MARKETING 2.0: O CLIENTE NO CENTRO 13
MARKETING 3.0: HUMANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE 16
OS 3 CS DO MARKETING 3.0 18
FINALIZANDO 20
ATIVIDADE PROPOSTA 21
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 21
APRENDA MAIS 23
REFERÊNCIAS 23

AULA 2: RESPONSABILIDADE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 24

INTRODUÇÃO 24
CONTEÚDO 25
INTRODUÇÃO 25
AS ORIGENS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 26
CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL 30
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 31
AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: O MODELO DE SACHS 32

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A EMPRESA SUSTENTÁVEL NO MARKETING 3.0 33
ATIVIDADE PROPOSTA 35
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 35
SAIBA MAIS 36
REFERÊNCIAS 36

AULA 3: GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE, COCRIAÇÃO E CONSUMO


COLABORATIVO 37

APRESENTAÇÃO 37
CONTEÚDO 38
INTRODUÇÃO 38
GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE E POSTURA COLABORATIVA 39
COCRIAÇÃO DE VALOR E DE PRODUTOS 41
CONSUMO COLABORATIVO 44
ATIVIDADE PROPOSTA 49
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 49
APRENDA MAIS 50
REFERÊNCIAS 50

AULA 4: DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS: A PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL 53

INTRODUÇÃO 53
CONTEÚDO 54
INTRODUÇÃO 54
O QUE É UM PRODUTO? 55
O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS (PDP) 56
CLASSIFICAÇÃO DOS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO 59
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS (DPS) 60
O MODELO TRIPLE BOTTOM LINE 62
ATIVIDADE PROPOSTA 65
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 65
APRENDA MAIS 66
REFERÊNCIAS 66

AULA 5: GESTÃO DE PRODUTOS: A PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL 68

INTRODUÇÃO 68

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CONTEÚDO 69
INTRODUÇÃO 69
GESTÃO DE PRODUTOS: CONCEITOS PRELIMINARES 70
AS INTERFACES DA GESTÃO DE PRODUTOS COM OUTRAS ÁREAS DA EMPRESA 72
GESTÃO DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS 74
DIRETRIZES DA GESTÃO DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS 75
AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA (ACV) 75
PRODUÇÃO MAIS LIMPA 76
LOGÍSTICA REVERSA 77
3 R – REDUZIR, REUSAR, RECICLAR 78
ATIVIDADE PROPOSTA 79
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 80
APRENDA MAIS 81
REFERÊNCIAS 81

AULA 6: ECODESIGN - O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS 83

INTRODUÇÃO 83
CONTEÚDO 84
INTRODUÇÃO 84
ECOLOGIA INDUSTRIAL 85
O CONCEITO DE ECODESIGN 88
ETAPAS DE UM PROJETO DE ECODESIGN 90
ATIVIDADE PROPOSTA 96
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 96
APRENDA MAIS 97
REFERÊNCIAS 97

AULA 7: BRANDING DE SUSTENTABILIDADE 99

INTRODUÇÃO 99
CONTEÚDO 100
INTRODUÇÃO 100
MARCA 101
BRAND EQUITY 105
BRANDING 106
BRANDING DE SUSTENTABILIDADE 107

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ATIVIDADE PROPOSTA 110
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 111
REFERÊNCIAS 112

AULA 8: POSICIONAMENTO, EMBALAGEM E ROTULAGEM DE PRODUTOS


SUSTENTÁVEIS 113

INTRODUÇÃO 113
CONTEÚDO 113
INTRODUÇÃO 113
POSICIONAMENTO COMPETITIVO 114
POSICIONAMENTO COMPETITIVO SUSTENTÁVEL 116
EMBALAGEM 117
EMBALAGEM SUSTENTÁVEL 119
ROTULAGEM 122
ROTULAGEM AMBIENTAL 123
ATIVIDADES 127
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 127
APRENDA MAIS 128
REFERÊNCIAS 128

BIBLIOGRAFIA 130

CHAVES DE RESPOSTA 131

ATIVIDADE PROPOSTA 131


AULA 2 131
ATIVIDADE PROPOSTA 131
AULA 3 132
ATIVIDADE PROPOSTA 132
AULA 4 132
ATIVIDADE PROPOSTA 132
AULA 5 133
ATIVIDADE PROPOSTA 133
AULA 6 133
ATIVIDADE PROPOSTA 133
AULA 7 134
ATIVIDADE PROPOSTA 134

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AULA 8 134
ATIVIDADE PROPOSTA 134

APRESENTAÇÃO DO CONTEUDISTA 135

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 6


APRESENTAÇÃO
Gestão de produtos e marcas sustentáveis

No decorrer da evolução social, cultural, política e econômica da sociedade, pouco


destaque foi dado às responsabilidades coletiva e individual quanto à preservação da
qualidade de vida do homem e dos recursos naturais.

Durante a segunda metade do século XX, impulsionados por notícias alarmantes sobre
fenômenos como o aquecimento global, a intensificação de ocorrências climáticas
extremas e a escassez da água, esses temas emergiram definitivamente na agenda global.

Diante desse cenário, a pressão social por mudanças cresceu absurdamente. Aos poucos,
os consumidores passaram a demandar produtos – tanto bens quanto serviços – que
estivessem em conformidade com a lógica do termo SUSTENTABILIDADE. A atividade de
marketing foi uma das principais ações afetadas por esse novo padrão de pensamento.

Para atender a esses desafios tão presentes em nosso cotidiano, esta disciplina ressalta a
necessidade de estimular as organizações bem como os consumidores a agirem com mais
responsabilidade socioambiental, assumindo esse novo posicionamento em favor do
desenvolvimento sustentável.

Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos:


• Definir desenvolvimento, produto e marca sustentáveis;
• Reconhecer o novo papel do gestor de produtos no paradigma do desenvolvimento
sustentável;
• Criar um plano de gestão e de desenvolvimento de produto sustentável.

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Ementas

Aula 1: Marketing 3.0


Nesta aula, estudaremos os fundamentos da evolução do marketing, desde seu
surgimento, na década de 1950, até os dias atuais. Nesse sentido, abordaremos as
orientações do marketing clássico, dentre as quais podemos ressaltar aquelas voltadas
para o produto e para as vendas. Por fim, explicaremos a recente teoria do Marketing 3.0
bem como suas implicações no contexto da gestão de produtos e marcas sustentáveis.

Aula 2: Responsabilidade social


Nesta aula, definiremos os conceitos de responsabilidade social e de desenvolvimento
sustentável. Em seguida, explicaremos os diversos fenômenos que contribuíram para o
surgimento e a ascensão desses termos, apontando os vários domínios que os constituem
– tais como o ético, o econômico e o legal. Por fim, analisaremos a noção de empresa
sustentável e suas implicações no contexto do Marketing 3.0.

Aula 3: Gestão da sustentabilidade


Nesta aula, definiremos os conceitos de gestão da sustentabilidade, cocriação e de
consumo colaborativo. Tais noções são fundamentais para compreender como e por que
as empresas têm-se empenhado em mudar a lógica da relação com seus stakeholders.
Além disso, aprenderemos que, na era do desenvolvimento sustentável, tanto a produção
quanto o consumo precisam ser mais eficientes e gerar menos impactos socioambientais.

Aula 4: Desenvolvimento de produtos


Nesta aula, abordaremos o processo de desenvolvimento de produtos. Ao estudarmos sua
evolução, observaremos que, antes, esse processo se concentrava nas empresas e dava
prioridade a variáveis como o custo e o retorno sobre investimento. Mas, atualmente, o
desenvolvimento de produtos tende a seguir o pensamento sustentável, no qual tais
variáveis clássicas convivem com novas abordagens, tais como o impacto socioambiental,
a reusabilidade e o consumo responsável.

Aula 5: Gestão de produtos


Nesta aula, definiremos o conceito de gestão de produtos e identificaremos seu papel na
era do desenvolvimento sustentável. Em seguida, abordaremos questões como a nova

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 8


perspectiva do ciclo de vida para produtos sustentáveis, a importância da implementação
de uma política de produção mais limpa, a necessidade do investimento em logística
reversa e, por fim, o monitoramento do desempenho ambiental das empresas.

Aula 6: Ecodesign – produtos sustentáveis


Nesta aula, definiremos o conceito de ecodesign – fruto da filosofia do desenvolvimento
de produtos sustentáveis. Primeiro, trataremos das etapas do projeto baseado nessa
noção, que correspondem ao planejamento, à análise e à definição de estratégias, ao
desenvolvimento, ao detalhamento, à produção, à comercialização e à avaliação de
resultados. Em seguida, identificaremos os benefícios do ecodesign, tais como os ganhos
ambientais e de imagem.

Aula 7: Branding de sustentabilidade


Nesta aula, definiremos o conceito de branding e identificaremos a importância dessa
atividade para a construção das marcas de empresas. Para dar conta desse estudo,
explicaremos a nova abordagem dessa noção no contexto do desenvolvimento sustentável
– aquela que envolve desafios como o ganho de competitividade, o foco na interação com
o cliente, a credibilidade, a cocriação de valores e o alinhamento entre discurso e prática
de sustentabilidade.

Aula 8: Posicionamento, embalagem e rotulagem


Nesta aula, definiremos o conceito de posicionamento e apontaremos sua relação com o
branding, discutindo sobre como essa noção tem sido abordada na era da
sustentabilidade. Além disso, explicaremos os processos de desenvolvimento da
embalagem e da rotulagem de produtos sustentáveis, incluindo temas como o uso de
material sustentável e os aspectos da rotulagem ambiental.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 9


Aula 1: Marketing 3.0

Introdução
“Se negligenciarmos a sustentabilidade, voltaremos à era de escassez. Se não fizermos o

que é certo, entraremos na era do desmarketing” – (PHILIP KOTLER).

Observe como esta citação de Kotler vai ao encontro de uma das mais prementes

preocupações do homem contemporâneo: o iminente risco de um colapso das condições

de vida no planeta. Você certamente já leu, assistiu ou escutou temas como a escassez de

água, a excessiva emissão de gás carbônico na atmosfera ou a degradação das condições

de vida em países pobres.

O meio corporativo tem sido pressionado para assumir uma posição mais ativa e mais

responsável nestas questões. E é neste contexto que emerge uma nova filosofia de

marketing capaz de abarcar estas demandas: é o Marketing 3.0, que será focalizado nesta

primeira aula da disciplina Gestão de Desenvolvimento de Produtos e Marcas Sustentáveis.

Objetivos:

• Definir Marketing 3.0.

• Explicar a evolução do marketing, desde seu início até os dias atuais.

• Organizar as premissas que circundam o conceito de Marketing 3.0.

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Conteúdo

Introdução
Em algum momento, você já refletiu sobre seu comportamento como consumidor há uma

década? Para quem está na casa dos 40 anos de idade ou mais, proponho a mesma

reflexão considerando um passado mais distante, de 20 anos atrás ou mais. Será que sua

forma de se relacionar com produtos, marcas e empresas mudou? Será que as empresas

mantêm o mesmo tratamento com seus clientes?

Desde seu início, nos idos da década de 1950, quando foram publicados os primeiros

estudos acadêmicos sobre o tema, o marketing tem sofrido transformações que

acompanharam a dinâmica célere da economia em escala internacional. Mesmo em um

cenário no qual coexistiam as ideologias socialista e capitalista, que dividiam o mundo em

dois grandes blocos oponentes entre si, o marketing avançou em largos passos.

Estas transformações acompanharam não apenas os movimentos dos diversos setores

produtivos mundo afora. O principal motor destas transformações tem sido o stakeholder

primário de qualquer organização: o cliente.

Hoje, qualquer profissional ou autor de marketing professará com segurança que o cliente

é o centro de qualquer negócio. Provavelmente, você pensará (com razão) que este tipo

de frase se tornou um lugar comum não apenas no marketing, mas no vocabulário de

gestão empresarial. Porém, por incrível que pareça, a história nem sempre foi assim.

Nos próximos slides, vamos entender resumidamente como ocorreu a evolução do

conceito de marketing. Esta compreensão é fundamental para contextualizar a relação

entre marketing e produtos sustentáveis, conforme estudaremos no decorrer desta

disciplina.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 11


Marketing 1.0: a visão clássica
Na lógica atual da competitividade, seria impensável considerar uma empresa que

sobrevivesse e lucrasse com foco exclusivo na produção em detrimento do esforço em

compreender os clientes que comprarão este produto. Tente imaginar, por exemplo, uma

montadora que fabrique e venda apenas um modelo de carro e em uma única cor. Como

cliente, será que você aceitaria este tipo de imposição?

De forma resumida, podemos destacar três orientações que compõem o cenário da

chamada visão clássica do marketing: a orientação para produção, a orientação para o

produto e a orientação para vendas. Essas orientações não devem ser entendidas como

“extintas” ou “ultrapassadas”, pois há empresas que ainda fazem uso delas.

A seguir, vamos compreender o contexto de cada uma dessas orientações.

A orientação para produção se apoia na tríade alta eficiência de produção, baixos

custos e distribuição massificada (KOTLER; KELLER, 2012). Hoje, a China pode ser

apontada como um exemplo de mercado no qual esta orientação é visível, pois os custos

de produção e de distribuição são drasticamente reduzidos com a enorme disponibilidade

de mão de obra barata.

A orientação para o produto conduz a empresa a concentrar seus esforços no

desenvolvimento de produtos com superioridade nos diferenciais. Ofertar um produto de

alto desempenho é uma opção estratégica promissora. Por outro lado, a empresa deve

ficar atenta para não focar excessivamente no produto em detrimento da sua relação com

o cliente, assim como em detrimento das variáveis que cercam este produto (tais como

precificação, comunicação e distribuição).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 12


Finalmente, a orientação para vendas se fundamenta em ações agressivas e altamente

persuasivas para transacionar produtos. É comum que o cliente seja abordado de forma

invasiva e que o vendedor aja com impetuosidade. Este tipo de ação é de alto risco, pois o

cliente pode se sentir coagido e constrangido.

Esta visão clássica do marketing, por meio das três orientações aqui explicadas, está

focalizada em gerar demanda para os produtos de uma empresa. Observe que tanto no

aspecto teórico quanto na aplicação prática, esta visão clássica está fortemente

sustentada no histórico modelo dos quatro Ps criado por Jerome McCarthy na década de

1960: desenvolva um produto, determine um preço, faça a promoção e coloque-o no

ponto de venda (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010).

Mas a economia mudou, a sociedade mudou, o mercado mudou, as empresas mudaram. E

a teoria do marketing, certamente, também precisou mudar, conforme veremos agora.

Marketing 2.0: o cliente no centro


Se a visão clássica do marketing estava centrada nos processos e nos produtos da

empresa, a década de 1970 subverteu esta lógica. Desse momento em diante, as

empresas precisaram olhar para fora dos seus muros, o que propiciou uma nova filosofia

de relacionamento com seus mercados consumidores.

Mas, você provavelmente poderá fazer o seguinte questionamento: o que fez as empresas

mudarem sua perspectiva, ou seja, deslocar seu foco do produto para o cliente?

Para Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), os seguintes fatos históricos propiciaram esta

migração do Marketing 1.0 para o Marketing 2.0:

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 13


• o abalo econômico deflagrado pela crise do petróleo, atingindo especialmente a

economia ocidental;

• a emergência de uma nova economia pujante nos países asiáticos, com especial

destaque ao Japão, na década de 1980, obrigando as empresas a compreender estes

novos mercados;

• a retração da demanda na economia ocidental, obrigando as empresas a se

tornarem mais eficientes e mais competitivas para conquistar consumidores mais seletivos

em suas escolhas;

• a commoditização dos produtos, ou seja, a diminuição na percepção de diferenciais

entre os produtos concorrentes;

• a mudança do comportamento do consumidor, cada vez mais atento, mais ativo e

mais consciente de seus direitos.

Este quadro fomentou a criação de um novo paradigma que cunhou a era do Marketing

2.0: o foco nas necessidades do cliente. Isso representou uma mudança na lógica dos

negócios: em vez de encontrar os clientes certos para um produto, a ordem agora é criar

os produtos certos para o cliente.

Na esteira destas mudanças, as empresas também precisaram aprender a customizar

produtos para seus clientes. Esta foi outra virada dramática na relação entre empresas e

clientes. Antes, no Marketing 1.0, a produção era padronizada, massificada e, em muitos

casos, inflexível. No Marketing 2.0, a produção precisou se equilibrar entre a padronização

e a personalização, tanto para os bens quanto para os serviços.

Na matéria intitulada “A customização da indústria: um item de cada vez”, a publicação da

revista on-line Exame (Editora Abril) analisou casos recentes deste fenômeno. Você

poderá observar na prática como a lógica da customização está fortemente presente nas

empresas atualmente. Leia o seguinte trecho para compreender melhor:

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 14


Um número cada vez maior de empresas oferece a seus clientes a possibilidade de
criar itens exclusivos. É uma mudança histórica. Desde que a Ford lançou seu
primeiro automóvel, no início do século 20, as empresas privilegiam a produção
em série. Quanto maior for a escala e menor a variedade, melhor.
A lógica de produção continua a mesma desde então: é a fábrica que define o que
as pessoas vão comprar. A Dell foi uma das primeiras a inverter o jogo ao permitir,
nos anos 90, que seus clientes configurassem os computadores. Mas apenas agora
o avanço da tecnologia possibilita a produção de itens exclusivos a custos
razoáveis em diversos mercados.
Com máquinas inteligentes e sistemas de produção digitais, a mesma fábrica
consegue fazer milhares de produtos diferentes. A mudança cultural também joga
a favor da customização. As novas gerações cresceram acostumadas a poder
fazer escolhas. Os smartphones são o maior exemplo: seus aplicativos permitem
que cada pessoa crie o próprio celular.
É improvável que existam dois aparelhos iguais em todo o mundo. “Os novos
consumidores querem ter a mesma liberdade de escolha em todas as suas
compras. E as empresas precisam se adaptar”, diz Miguel Duarte, sócio da
consultoria de inovação Strategos.
A customização tem uma vantagem óbvia: os consumidores aceitam pagar mais
por produtos sob medida. A Coca-Cola instalou 1 700 máquinas de refrigerante em
restaurantes e cinemas dos Estados Unidos que oferecem 100 combinações de
sabores. Com elas, os refrigerantes custam 30% mais do que nas máquinas
tradicionais. (EXAME.COM. Disponível em
<http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1021/noticias/um-item-
de-cada-vez>.)

Observe que as premissas apontadas anteriormente (necessidades dos clientes, produtos

certos para o cliente e customização, entre outras) são adotadas tanto por empresas que

fabricam bens quanto por aquelas que produzem serviços. Vamos analisar o trecho desta

outra matéria intitulada “Google lança serviço de busca com resultados personalizados”,

da publicação da revista on-line Exame (Editora Abril):

A função "Search plus Your World" (busque mais seu mundo, em uma tradução
literal) foi apresentada como uma mudança importante pelo site líder no serviço de
buscas na internet.
‘Há uma enorme quantidade de conteúdo na web hoje em dia mas, em certo
momento, este conteúdo não tem nome, nem rosto’, disse à AFP Ben Gomes, do
Google.
‘O conteúdo mais relevante é das pessoas que a gente conhece, razão pela qual
estamos introduzindo as buscas em seu mundo pessoal’, acrescentou.
As pessoas com contas no Google poderão fazer com que o motor de busca inclua
nos resultados conteúdo aprovado por elas para ser compartilhado com amigos no
Google+ ou no Picasa. (EXAME.COM. Disponível em:
<http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/google-lanca-servico-de-busca-
com-resultados-personalizados?page=1>).

Com as relações de consumo cada vez mais personalizadas, o marketing novamente

vivenciou uma transformação. Atender às necessidades do cliente e customizar a oferta

para se mostraram insuficientes em uma sociedade cada vez mais crítica e mais cética. E

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 15


como o marketing hoje tenta acompanhar esta nova revolução? É isto que estudaremos a

seguir.

Marketing 3.0: humanização e sustentabilidade


Antes de explorar o conceito de Marketing 3.0, é preciso compreender os acontecimentos

que suscitaram sua construção.

A década de 1990 e o início da década de 2000 foram marcados pela consolidação do

pensamento one to one (um a um), segundo o qual as empresas devem se relacionar com

seus clientes de forma personalizada. Conforme estudamos no Marketing 2.0, a

customização é um dos pontos altos deste fenômeno.

Entretanto, mais uma vez o comportamento do consumidor se transformou. O problema

não está na lógica da personalização e da customização (que se mantiveram), e sim na

sequência de fatos que compuseram o quadro macroambiental e que geraram impactos

globais.

Vamos nos empenhar para conhecer e compreender alguns destes fatos.

• Crise norte-americana – o estouro da bolha imobiliária e a falência de grandes

corporações como o Lehman Brothers marcaram duramente a década de 2000,

deflagrando crises econômicas, política e de confiança não apenas em território norte-

americano, mas em todo o globo.

• Crise nos países da União Europeia – o alto grau de endividamento público e

as dificuldades de gestão na condução desta crise também abalaram os países da

chamada zona do euro.

• Aumento da pressão por políticas empresariais mais responsáveis – o

consumidor do século XXI, cada vez mais crítico e mais enérgico, reivindica das empresas

uma postura mais ativa e mais responsável com relação às questões sociais e ambientais.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 16


• Consumidores conectados e com voz ativa – o boom das soluções de

conectividade, com especial destaque aos dispositivos móveis (tablets e smartphones) e

aos aplicativos da web (redes sociais, games interativos, mensagens instantâneas),

propiciaram a geração e o compartilhamento de informações em uma escala jamais vista

na história da humanidade.

• Crescente protagonismo dos países em desenvolvimento – as crises norte-

americana e europeia convivem com a emergência e a pujança dos países em

desenvolvimento, principalmente aqueles que pertencem ao bloco (BRIC) (Brasil, Rússia,

Índia, China e África do Sul), o que tem deslocado investimentos para estes mercados,

assim como a necessidade de estudar em profundidade seus consumidores.

Vamos observar na prática como estes fatos têm desenhado o novo consumidor do século

XXI. O seguinte trecho da matéria intitulada “Novo consumidor prestigia ética e exige

reinvenção do varejo, diz estudo”, da publicação da revista on-line Exame (Editora Abril),

mostra uma boa noção deste novo contexto:

As pesquisas apontam que as decisões de compra são arraigadas em princípios


éticos, ambientais e da comunidade; o novo consumidor quer não apenas que a
sua marca favorita compartilhe esses valores, mas ajude-o a expressá-los mais
plenamente.
No aspecto econômico, o consumidor europeu contemporâneo está mais
cauteloso. A pesquisa revela que na Alemanha, 72% dos consumidores afirmaram
que gastarão menos do que em 2010 – quadro semelhante ao da Espanha e
França onde 82% e 74% dos consumidores, respectivamente, declararam a
mesma intenção de reduzir gastos.
Em contraste, as economias do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) revelam
otimismo. Na Índia, até 2013 o varejo deve faturar US$ 833 bilhões, subindo para
US$ 1,3 trilhão até 2018 [...]. (EXAME.COM. Disponível em:
<http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/novo-consumidor-prestigia-etica-e-
exige-reinvencao-do-varejo>).

Será que você se reconhece neste cenário? Pense, por exemplo, se você já exigiu de

alguma empresa uma resposta rápida e transparente a alguma solicitação. Por mais

corriqueiro que isto pareça ser, ao reivindicar seu direito de ser bem atendido você

assume um papel mais político como consumidor.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 17


Nesta nova lógica de relacionamento, o consumidor não atuará apenas para garantir a

obtenção dos benefícios prometidos pelo produto. Gradualmente, o consumidor tem

questionado as empresas e o Governo com relação às boas práticas que sejam

socialmente e ambientalmente responsáveis.

É curioso observar que este novo marketing, alcunhado por Kotler, Kartajaya e Setiawan

(2010) de M arketing 3.0, desloca a visão da necessidade individual para a visão da

necessidade coletiva. A lucratividade e a sobrevivência do negócio serão obtidos na

medida em que os consumidores reconhecerem e valorizarem a contribuição das

empresas para o bem-estar humano, “respeitando as características de cada um e dos

elementos culturais, emocionais, espirituais e ambientais que têm configurado a dinâmica

de mercado atual, além de determinar as atitudes e os comportamentos do consumidor

contemporâneo” (SILVA; AGUIAR; FALCÃO; COSTA, 2012).

Os 3 Cs do Marketing 3.0
Imagine-se no lugar de um profissional de marketing que foi desafiado a aplicar o

conceito de Marketing 3.0 em seu negócio. É possível que seu primeiro questionamento

seja este: “por onde devo começar?” O conhecimento dos 3 Cs do Marketing 3.0 será um

bom ponto de partida.

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) desenvolveram este modelo para fundamentar, de

forma resumida, os princípios básicos do Marketing 3.0. Vamos estudá-los na sequência.

Cocriação – a criação de produtos não deve ser uma atividade isolada dentro da

empresa. Pelo contrário, um novo produto ou o aperfeiçoamento de um produto existente

deve ser resultado da colaboração de vários stakeholders: a empresa, o cliente, os

fornecedores e os parceiros de canal. Outros stakeholders podem se integrar, tais como

imprensa e órgãos governamentais.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 18


É importante que a cocriação seja uma atividade efetivamente disponibilizada e

monitorada pela empresa. Ela não deve ser uma ação pontual, e sim uma diretriz cultural

e estratégica do negócio.

A internet tem sido um importante celeiro de iniciativas de cocriação de produtos. Como

exemplo, analise a plataforma de cocriação do projeto Coletivo Verde - isponível em:

<http://www.coletivoverde.com.br/cocriacao>.

Criação de comunidades – este princípio se apoia na necessidade que as pessoas têm

de pertencer e de se filiar a algum grupo. Este comportamento tem se acentuado por

meio das redes sociais, nas quais os consumidores se agrupam e interagem uns com os

outros. O que une os membros de um grupo (ou comunidade) é a similaridade de valores

e aspirações.

Para uma empresa mergulhada no Marketing 3.0, estas comunidades são fundamentais

para o negócio. Quanto mais a empresa se aproximar e apoiar estas comunidades, maior

será o sentimento de vínculo que os membros destas comunidades construirão com a

marca e o produto.

Construção de personalidade – Kotler; Kartajaya e Setiawan (2010) ressaltam que no

Marketing 3.0 a empresa deve definir o DNA de sua marca por meio de uma identidade

única e diferenciada. Este DNA deve estar apoiado no princípio de que a empresa vende

experiências , e não apenas produtos (sejam bens ou serviços).

Considere alguns dos valores que apresentamos até agora: bem-estar, colaboração,

comunidades e responsabilidade, entre outros. Ao definir a personalidade da sua marca,

pense em construir uma relação destes valores com os diferenciais da experiência que seu

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 19


produto e/ou sua empresa pode fornecer ao consumidor. Procure focalizar além da

promessa funcional básica do seu produto. Estabeleça uma forte relação entre um valor

do Marketing 3.0 e um valor do seu produto e/ou da sua empresa e/ou da sua marca.

Finalizando
Convidamos você a refletir sobre as oito características levantadas por Kotler entre as

empresas mais admiradas do mundo. Esta lista foi publicada na HSM On-line.

1. Os interesses de todos os stakeholders são alinhados.

2. Os salários de seus executivos são relativamente modestos.

3. A alta administração adota uma política de “portas abertas”.

4. A remuneração e os benefícios de seus funcionários são elevados para a categoria. O

treinamento de seus funcionários é mais longo e a rotatividade da mão de obra é menor.

5. Os funcionários são contratados quando mostram entusiasmo pelos clientes.

6. Os fornecedores são considerados parceiros legítimos, que colaboram para melhorar a

produtividade, melhorar a qualidade e reduzir os custos.

7. A cultura corporativa é seu maior ativo e sua principal fonte é a vantagem competitiva.

8. Os custos de marketing são muito menores que os de outras empresas do setor e, ao

mesmo tempo, a satisfação e a retenção de clientes são muito maiores.

Pare saber mais: "Kotler: uma visão humanizada do marketing e dos negócios". HSM On-

line. Disponível em: <http://www.hsm.com.br/artigos/kotler-uma-visao-humanizada-do-

marketing-e-dos-negocios>.

Estas oito características estão em conformidade com o conceito de Marketing 3.0? O que

você pensa? Invista tempo para refletir sobre isso.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 20


Atividade proposta
“Vivemos a era da participação e da sociedade criativa. Para as empresas, isso significa

estar mais próximas de seus clientes, trabalhando de maneira unida com eles, pois os

consumidores ajudarão as corporações a criarem seus novos produtos e iniciativas de

marketing. É o conceito da cocriação” (PHILIP KOTLER).

Fonte: Philip Kotler propõe às empresas o conceito do marketing 3.0. Exame. São Paulo:

Abril, 2010. Disponível em <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/philip-kotler-

propoe-as-empresas-o-conceito-do-marketing-3-0>. Acesso em: 10 jun. 2013.

Conforme estudamos nesta Aula 1: o Marketing 3.0 aprofunda a importância do vínculo

entre empresas e clientes, conferindo-lhe importância ímpar. O conceito de cocriação,

defendido por Kotler na citação acima, é um claro sinal desta postura. Coloque-se no lugar

de um profissional de marketing. Quais ações você executaria para propiciar a atuação de

seus clientes como cocriadores?

Exercícios de fixação
Questão 1: A clássica visão dos 4 Ps de Jerome McCarthy está fundamentada na

seguinte filosofia:

a) ( ) Identifique um produto, reduza o preço, espalhe a promoção e virtualize o ponto

de venda.

b) ( ) Diferencie o produto, aumente o preço, faça a promoção e pulverize o ponto de

venda.

c) ( ) Agregue valor ao produto, flexibilize o preço, reduza a promoção e coloque-o no

ponto de venda.

d) ( ) Desenvolva um produto, determine um preço, faça a promoção e coloque-o no

ponto de venda.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 21


e) ( ) Elimine um produto, reduza o preço, faça a promoção e terceirize o ponto de

venda.

Questão 2: O Marketing 2.0 foi deflagrado pelos seguintes fatores, EXCETO:

a) ( ) O abalo econômico deflagrado pela crise do petróleo, atingindo especialmente a

economia ocidental.

b) ( ) A emergência de uma nova economia pujante nos países asiáticos, com especial

destaque ao Japão, na década de 1980, obrigando as empresas a compreender estes

novos mercados.

c) ( ) A retração da demanda na economia ocidental, obrigando as empresas a se

tornarem mais eficientes e mais competitivas para conquistar consumidores mais seletivos

em suas escolhas.

d) ( ) A commoditização dos produtos, ou seja, a diminuição na percepção de

diferenciais entre os produtos concorrentes.

e) ( ) O repentino aumento da demanda de consumo, com especial destaque aos

Estados Unidos e aos países europeus da zona do euro.

Questão 3: A filosofia do Marketing 3.0 está fundamentada nas seguintes premissas:

a) ( ) Foco na lucratividade e foco na retenção de clientes.

b) ( ) Humanização nas relações e responsabilidade socioambiental.

c) ( ) Distribuição personalizada dos produtos e hipervirtualização.

d) ( ) Gestão colaborativa e redução dos custos de marketing.

e) ( ) Cultura de resultados e foco nos recursos humanos.

Questão 4: Os três princípios básicos do Marketing 3.0 são:

a) ( ) Retenção de clientes, nichos de mercado e branding.

b) ( ) Diferenciação, qualidade e custos reduzidos.

c) ( ) Experiência diferenciada, responsabilidade socioambiental e resultados.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 22


d) ( ) Cocriação, criação de comunidades e construção de personalidade.

e) ( ) Bem-estar coletivo, reciclagem e redes sociais.

Aprenda mais
Assista ao vídeo com a matéria jornalística sobre o conceito de pegada ecológica, do

programa Cidades e Soluções, da emissora Globo News, disponível em nossa galeria de

vídeos.

Referências
HSM ON-LINE. Kotler: Uma visão humanizada do marketing e dos negócios. HSM

Management. São Paulo: HSM, 2010. Disponível em:

<http://www.hsm.com.br/artigos/kotler-uma-visao-humanizada-do-marketing-e-dos-

negocios>. Acesso em: 10 jun. 2013.

KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. M arketing 3.0: From Products to

Customers to the Human Spirit. New Jersey: Wiley, 2010.

KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de M ark eting . São Paulo: Pearson, 2012.

SILVA, M. E et al. A perspectiva responsável do Marketing e o consumo consciente: uma

interação necessária entre a empresa e o consumidor. Organizações em contexto, São

Bernardo, ano 8, n. 16, 2012. Disponível em:

<https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/OC/article/view/2989>.

Acesso em 10 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 23


Aula 2: Responsabilidade social e desenvolvimento
sustentável

Introdução
“Em um futuro próximo, apenas as empresas que determinarem a sustentabilidade como

um objetivo conquistarão vantagem competitiva. Isto implica em repensar os modelos de

negócios, assim como os produtos, as tecnologias e os processos” (NIDUMOLU,

PRAHALAD e RANGASWAMI).

O crescimento econômico tem sido, historicamente, a mais importante pauta das nações.

A lógica do enriquecimento atinge tanto a esfera coletiva quanto a individual. Porém, hoje

a sociedade tem questionado com mais intensidade os efeitos do enriquecimento “sob

qualquer custo”.

Crescer e enriquecer trazem efeitos colaterais, tais como a exploração descontrolada dos

recursos naturais, a geração excessiva de lixo e a criação de uma cultura que prioriza o ter

em detrimento do ser. Quando se trata dos países em desenvolvimento, o quadro pode

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 24


ser mais dramático. Ali, podemos carregar nas tintas da desigualdade social, da

exploração da mão de obra barata e dos conflitos sociais.

Este cenário tem estimulado a sociedade a cobrar uma postura dos governos e das

empresas no sentido de tratar estes assuntos com maior senso de urgência. Aos poucos,

uma nova lógica tem conquistado força e voz: a lógica da responsabilidade social e do

desenvolvimento sustentável. Mas, o que significa ser responsável socialmente? E se

desenvolver sustentavelmente? Como a atividade do marketing se relaciona com estas

questões? Estes são os assuntos desta aula.

Objetivos:

• Definir responsabilidade social.

• Definir desenvolvimento sustentável.

• Analisar o Marketing 3.0, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável.

Conteúdo

Introdução
Em alguma ocasião você já se perguntou sobre as consequências das ações que você

executa em seu cotidiano? Podemos pensar em uma ação banal e corriqueira, como

manter a torneira aberta enquanto você escova os dentes. Também podemos pensar em

uma ação mais complexa, como decidir entre demitir ou não demitir um funcionário que

está sob sua gestão.

Em ambos os casos, independente do grau de complexidade, sua decisão vai criar impacto

sobre outras pessoas. Se você mantiver sua torneira aberta todos os dias enquanto escova

os dentes, quantos litros de água você desperdiçará ao final de um mês? Esta água, se

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 25


não fosse desperdiçada, resultaria em uma conta de água mais barata e no uso mais

racional desse recurso que, segundo os analistas, ficará cada vez mais escasso.

Sobre demitir ou não um funcionário, imagine o impacto que esta demissão causará na

vida deste funcionário. Por outro lado, se o motivo da demissão for bem justificado, quais

serão as consequências para a empresa ao manter um funcionário que não é adequado ao

perfil daquela vaga?

Como estes exemplos se relacionam com o tema desta aula? Assim como suas decisões

geram impacto na sua vida e na vida de outras pessoas, falar sobre responsabilidade

social e sustentabilidade é também questionar o quanto sua empresa está consciente dos

impactos que as atividades do seu negócio causam sobre as pessoas. Considere também

os impactos que uma empresa causa sobre o ambiente natural no qual ela está inserida e

do qual ela extrai diversos recursos.

Se o Marketing 3.0 focaliza na humanização das relações entre empresas e clientes, a

responsabilidade social e sustentabilidade são conceitos por meio dos quais as empresas

poderão cumprir sua parte neste processo da conquista do bem-estar coletivo. Logo,

convidamos você a explorar estes conceitos tão prementes no mundo contemporâneo.

As origens da responsabilidade social


É muito comum que a responsabilidade social seja fortemente associada à noção de

filantropia. Esta associação ocorre, muitas vezes, por causa das aplicações equivocadas

que as próprias empresas fazem do conceito de responsabilidade social.

Ações de voluntariado e de doações são bem-vindas se realizadas com seriedade e com

planejamento. Por outro lado, o perigo está em reduzir o conceito de responsabilidade

social a estas iniciativas assistencialistas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 26


A própria evolução da teoria da responsabilidade social contribuiu para esta visão

equivocada. Um dos grandes expoentes da teoria da responsabilidade social é o autor

Archie Carroll que, em 1979, escreveu um famoso artigo no qual apresentou a conhecida

pirâmide da responsabilidade social.

Figura 2.1

Fonte: adaptado de BARBIERI; CAJAZEIRA (2012), sobre original de CARROLL (1991)

Observe como esta pirâmide ressalta, no topo, a presença da filantropia. Anos mais tarde,

o próprio Carroll reviu este modelo teórico e realizou a seguinte autocrítica: da forma

como se apresentava, aquela pirâmide sugeria uma relação hierárquica entre as quatro

responsabilidades, como se a base fosse menos importante do que o topo. Além disso,

Carroll também observou que aquela pirâmide sugeria a filantropia como a “mais

importante” dimensão da responsabilidade social.

Em 2003, Carroll apresentou uma nova proposta de modelo teórico da responsabilidade

social. Dentre as mudanças, destacam-se a retirada da dimensão filantrópica e o

estabelecimento de três domínios: o domínio econômico, o domínio ético e o domínio

legal.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 27


Figura 2.2

Fonte: adaptado de Barbieri; Cajazeira (2012), sobre original de Schwartz; Carroll (2003)

Segundo Barbieri e Cajazeira (2012), estes três domínios podem ser entendidos da

seguinte forma:

Domínio econômico – envolve atividades que geram impacto econômico favorável para a

empresa. Estes impactos podem ser diretos (incremento de vendas e prevenção de ações

de litígio) e indiretos (melhoria na imagem da empresa e elevação da motivação dos

funcionários).

Domínio legal – São as “respostas dadas pela empresa com relação às normas e princípios

legais” (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012, p. 57). Neste domínio, a empresa deve zelar

constantemente pelo cumprimento das leis. Como exemplos, podemos citar a

descontinuação de produtos perigosos ou nocivos ao meio ambiente e a aplicação correta

da legislação trabalhista com seus funcionários.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 28


Domínio ético – compreende as obrigações da empresa para que mantenham a relação

transparente e a conduta ética com seus diversos stakeholders. Em palavras mais simples,

é agir corretamente em prol do bem-estar de todos.

Este novo modelo proposto por Carroll propicia que uma empresa dê mais ênfase a um

dos três domínios da responsabilidade social, conforme a figura a seguir.

Figura 2.3

Fonte: adaptado de BARBIERI; CAJAZEIRA (2012), sobre original de SCHWARTZ;

CARROLL (2003)

Por outro lado, o ideal é que a empresa adote o seguinte perfil de responsabilidade social,

no qual os três domínios atuam de forma equilibrada.

Figura 2.4

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 29


Fonte: adaptado de BARBIERI; CAJAZEIRA (2012), sobre original de SCHWARTZ;

CARROLL (2003)

Conceito de responsabilidade social


Existem várias definições para o conceito de responsabilidade social. Para fins didáticos,

vamos nos concentrar nas duas seguintes contribuições, citadas por Barbieri e Cajazeira

(2012):

Instituto Ethos – “[...] é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente

da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento

de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,

preservando recursos socioambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a

diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”.

International Organization for Standardization (ISO) – “[...] responsabilidade de uma

organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio

ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que: contribua para o

desenvolvimento sustentável [...]; leve em consideração as expectativas das partes

interessadas; esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as

normas internacionais de comportamento; esteja integrada em toda a organização e seja

praticada em suas relações”.

Por meio destas definições, você já deve ter observado a forte presença do termo

desenvolvimento sustentável, o que nos leva a inferir que estes dois termos –

responsabilidade social e sustenbalidade – são íntimos e complementares. Portanto,

vamos nos dedicar agora à compreensão do termo desenvolvimento sustentável.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 30


Desenvolvimento sustentável
Você sabia que o termo desenvolvimento sustentável tem suas origens no século XIX?

Apesar de muitos pensarem que este termo é muito recente, as raízes de sua filosofia já

haviam sido expostas no acelerado processo de industrialização dos países desenvolvidos

naquela época. Cientistas e artistas foram os pioneiros na criação de movimentos em prol

da preservação das áreas protegidas da ação humana, propiciando as origens da lógica

preservacionista.

Nos Estados Unidos, por exemplo, “o Parque Nacional de Yellowstone [...] é considerado a

primeira dessas áreas e marco importante do movimento ambientalista” (BARBIERI;

CAJAZEIRA; 2012, p. 63).

Mais à frente, já na década de 1970 em diante, a Organização das Nações Unidas (ONU)

promoveu diversos eventos nos quais o tema principal foi a crise socioambiental

deflagrada e aumentada pelo acelerado processo de industrialização, em escala global. Em

nome do crescimento econômico e da manutenção do conforto propiciado por diversas

novas tecnologias, os recursos naturais foram explorados de forma desordenada e

descontrolada.

Três eventos da ONU fomentaram o surgimento oficial do termo desenvolvimento

sustentável: a Assembleia da ONU (1986), a divulgação do Relatório Brundtland (1987) e

a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente de Desenvolvimento (1992), sendo

esta última sediada na cidade do Rio de Janeiro e mais conhecida como Eco 92.

Para a ONU, desenvolvimento sustentável é “aquele que atende às necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas

próprias necessidades” (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012, p. 64) Em outras palavras, o

desenvolvimento sustentável é promover o avanço das conquistas humanas, em suas

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 31


diversas dimensões, por meio da utilização racional, responsável e repositora dos recursos

naturais e humanos.

Existem duas dimensões de pacto: o intrageracional, que é o pacto realizado pelos

membros da geração atual com foco nas necessidades atuais, e o intergeracional, que é o

pacto realizado pelos membros da geração atual com foco na manutenção dos recursos

para as gerações futuras.

Além dos pactos geracionais, existe também a necessidade do pacto internacional, no qual

todos os países precisam estar alinhados e devem assumir o compromisso de seguir os

princípios do desenvolvimento sustentável, utilizando inclusive os recursos legais cabíveis

para se garantir o cumprimento deste pacto.

As dimensões da sustentabilidade: o modelo de Sachs


Se você precisasse ordenar os pressupostos do desenvolvimento sustentável para aplica-

los em sua empresa, é provável que uma certa sensação de insegurança viesse à sua

mente. Afinal, são vários os aspectos que devem ser considerados.

Para facilitar esta tarefa, Barbieri e Cajazeira (2012) citam o modelo proposto pelo autor

Ignacy Sachs, segundo o qual o desenvolvimento sustentável contém as seguintes cinco

dimensões:

1. Dimensão social: promover a equidade na distribuição dos bens e da renda e

reduzir a desigualdade nos padrões de vida das pessoas.

2. Dimensão econômica: gerir de forma eficiente os recursos da empresa.

3. Dimensão ecológica: aumentar a capacidade de carga do planeta, evitar danos ao

meio ambiente e investir em recursos renováveis e/ou recicláveis.

4. Dimensão espacial: equilibrar o assentamento urbano com o assentamento rural;

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 32


5. Dimensão cultural: respeitar a diversidade humana e as especificidades de cada

ecossistema humano, em prol do bem-estar coletivo.

A empresa sustentável no Marketing 3.0


Vamos à reta final desta aula. Agora, nosso desafio é integrar os conceitos de

responsabilidade social e desenvolvimento sustentável e de Marketing 3.0.

Você estudou que uma empresa socialmente responsável deve ter clareza dos impactos

que seu negócio causa à sociedade e ao meio ambiente. Esta mesma empresa, para

seguir o conceito de desenvolvimento sustentável, deve produzir bens e/ou serviços por

meio da utilização racional e cuidadosa dos recursos naturais e humanos, de forma que

não comprometa estes recursos para as gerações futuras.

Nesta perspectiva, “da confluência destes dois movimentos, o da responsabilidade social e

do desenvolvimento sustentável, surge o conceito de empresa sustentável” (BARBIERI;

CAJAZEIRA, 2012, p. 69).

Logo, uma empresa sustentável é aquela que observa e segue as boas práticas de

responsabilidade social e de desenvolvimento sustentável. Em termos práticos, pense em

uma empresa que:

• respeita seus funcionários;

• interage com as comunidades do entorno;

• respeita os direitos do seu cliente;

• respeita as leis, os regulamentos e os contratos;

• respeita os limites ambientais e dos recursos naturais;

• em última instância, está focalizada na manutenção das condições de vida no

planeta e no bem-estar coletivo da geração atual e das gerações futuras.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 33


Em outras palavras, a empresa sustentável “preza pela necessidade do crescimento

ocorrer de forma sensata, assegurando que os benefícios do desenvolvimento sejam

duradouros e não comprometam as necessidades das gerações futuras. Ele prioriza a

qualidade e não a quantidade, com a redução da utilização de matérias-primas e produtos

e o aumento da reutilização e reciclagem” (LIMA et al., 2009).

E quanto ao Marketing 3.0? A conclusão é relativamente simples. Empresas socialmente

responsáveis e engajadas com o desenvolvimento sustentável são aquelas que atuam sob

a perspectiva do Marketing 3.0.

Você se lembra dos princípios gerais do Marketing 3.0 que estudamos na aula anterior?

Valores como humanização, sustentabilidade, comunidades, criação colaborativa e bem-

estar coletivo estão ali, fortemente presentes. O Marketing 3.0 representa mais uma etapa

evolutiva do percurso histórico da teoria do marketing.

O Marketing 3.0 é, afinal, um reflexo dos movimentos da responsabilidade social e do

desenvolvimento sustentável. Estes movimentos propiciaram (e até mesmo “forçaram”)

esta mudança paradigmática do marketing.

Uma empresa sustentável não deve estar focalizada na produção, nem no produto, nem

na venda, nem na satisfação individual do cliente. Uma empresa sustentável deve estar

focalizada no bem-estar coletivo, nas boas práticas (em suas diversas dimensões) e na

salvaguarda dos recursos naturais e humanos.

Para finalizar esta aula, convido você a ler o seguinte trecho da matéria “Façam o que

faço em sustentabilidade”, da publicação Exame (Editora Abril):

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 34


É cada vez mais comum que empresas criem padrões inflexíveis de conduta social
e ambiental para banir fornecedores que não as cumprem. [...] Empresas como a
fabricante de artigos esportivos Nike e as três maiores redes de supermercados do
Brasil - Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour - se uniram no início deste ano para
deixar de comprar couro e carne de fornecedores de gado criado em áreas
desmatadas da floresta Amazônica.
Para muitas empresas, as boas práticas socioambientais não devem ser guardadas
como um segredo interno - e sim disseminadas. [...] Desde 2006, o Bradesco
organiza encontros semestrais com alguns de seus principais fornecedores para
debater assuntos relacionados à sustentabilidade. Além de palestras com
especialistas de diversos temas, os representantes de fornecedores bem-sucedidos
sobem ao palco para dividir suas experiências.

Atividade proposta
No site da empresa Ypê, visite o link “Sustentabilidade” no endereço

<http://www.ype.ind.br/sustentabilidade/>. Escolha um dos três compromissos

(ambiental, social ou econômico) ali citados e explicados. Em seguida, explique como este

compromisso que você escolheu se relaciona com os princípios do Marketing 3.0.

Exercícios de fixação
Questão 1: A pirâmide da responsabilidade de Carroll (1979) possui as seguintes

características:

a) ( ) É dividida em quatro partes, que são a filantropia, a legislação, a ética e a

economia.

b) ( ) É dividida em três partes, que são a ética, a economia e a legislação.

c) ( ) É dividida em quatro partes, que são a ética, a preservação ambiental, a política e a

economia.

d) ( ) É dividida em duas partes, que são a filantropia e a ética.

e) ( ) É dividida em três partes, que são a filantropia, a preservação ambiental e a ética.

Questão 2: O desenvolvimento sustentável compreende dois importantes pactos

geracionais, que são:

a) ( ) O pacto não geracional e o pacto multigeracional.

b) ( ) O pacto intergeracional e o pacto internacional.

c) ( ) O pacto atual e o pacto futuro.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 35


d) ( ) O pacto transgeracional e o pacto retrogeracional.

e) ( ) O pacto intrageracional e o pacto intergeracional.

Questão 3: O modelo de desenvolvimento sustentável de Sachs é composto das

seguintes dimensões, EXCETO:

a) ( ) A dimensão social.

b) ( ) A dimensão econômica.

c) ( ) A dimensão ecológica.

d) ( ) A dimensão regulatória.

e) ( ) A dimensão espacial.

Saiba mais
Assista à matéria jornalística sobre as ações de responsabilidade social da

Unimed/Nordeste, disponível em nossa galeria de vídeos.

Referências
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e

empresa sustentável – da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2012.

KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0: From Products to

Customers to the Human Spirit. New Jersey: Wiley, 2010.

LIMA, A. P.; ROCHA, F. M.; TREINTA, F. T.; LIMA, G. S. A. Implementação do conceito de

triple bottom line em empresa de pequeno porte. In: V CONGRESSO NACIONAL DE

EXCELÊNCIA EM GESTÃO - GESTÃO DO CONHECIMENTO PARA A

SUSTENTABILIDADE. Niterói: UFF, 2009. Disponível em:

<http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg5/anais/T8_0164_0780.p

df>. Acesso em: 10 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 36


NIDUMOLU, R.; PRAHALAD, C.K.; RANGASWAMI, M. R. Why sustainability is now the key

driver of innovation. Harvard Business Review. [S.I.] Harvard Business Review, 2009.

Disponível em: <http://hbr.org/2009/09/why-sustainability-is-now-the-key-driver-of-

innovation/>. Acesso em: 10 jun. 2013

Aula 3: Gestão da sustentabilidade, cocriação e


consumo colaborativo

Apresentação
“As inovações são orientadas mais pelas mudanças de comportamento do que pelas

mudanças tecnológicas ou mercadológicas, além de emergirem, tipicamente, de baixo

para cima do que de cima para baixo” (FRANÇOIS JEGOU; EZIO MANZINI).

Diante da crescente pressão por apresentar resultados vinculados a indicadores de

sustentabilidade, as empresas têm estudado e investido em ações que propiciem uma

nova lógica de produção e de consumo. Questões como controle ambiental, redução de

impactos socioambientais e consumo responsável estão na pauta das empresas que

desejarem sobreviver no longo prazo.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 37


A responsabilidade pela implementação de uma nova lógica de produção e de consumo

não está mais restrita às empresas e ao Governo. O papel dos consumidores tem sido

gradativamente enfatizado, pois são estes os atores que, na ponta da cadeia de valor,

regulam a demanda e exercem pressão social por mudanças.

Neste sentido, há dois conceitos fundamentais para se compreender este novo contexto: a

cocriação de produtos e o consumo colaborativo. Se antes os papéis eram definidos e

executados de forma isolada, agora empresas e stakeholders precisam se reeducar e se

realinhar para atuar de forma conjunta e compartilhada, conforme estudaremos nesta

aula.

Objetivos:

• Definir gestão da sustentabilidade.

• Definir cocriação de produtos.

• Definir consumo colaborativo.

• Explicar o papel das empresas e seus stakeholders no cenário colaborativo.

Conteúdo

Introdução
Você certamente já leu sobre os impactos socioambientais causados pelo crescimento

econômico, com especial destaque aos países emergentes. Em 23 de fevereiro de 2010,

foi publicada uma matéria no O Globo On-line que fazia o seguinte alerta:

Países em desenvolvimento, como o Brasil, vão se defrontar com


montanhas de lixo eletrônico perigoso (originários de velhos e
dilapidados computadores, celulares, impressoras, TV, brinquedos
etc.) e enfrentar graves problemas ambientais e de saúde, se não
melhorarem a coleta e a reciclagem desse material. (Fonte:
<http://oglobo.globo.com/economia/onu-alerta-para-aumento-do-
lixo-eletronico-em-emergentes-3049634#ixzz2WQOroava>).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 38


Com o aumento da renda média do brasileiro e seu consequente aumento do poder de

consumo, vivemos hoje uma encruzilhada: como crescer e ser sustentável ao mesmo

tempo? Em uma era na qual predomina a cultura do descarte (inclusive para bens de

maior valor agregado, tais como eletrônicos), as empresas precisam se confrontar com o

desafio de minimizar drasticamente os impactos sociais, econômicos e ambientais

causados pelo ciclo produção-consumo-descarte.

Não são apenas as empresas que precisam ficar mais responsáveis e mais conscientes de

seu papel na agenda do desenvolvimento sustentável. Se por um lado a produção precisa

estar alinhada com este novo paradigma da sustentabilidade, por outro lado os

consumidores também precisam ser reeducados e precisam mudar seu comportamento de

consumo. Trata-se de um compromisso em mão dupla.

Se todos precisam estar integrados a esta filosofia de produção e consumo consciente,

não faz mais sentido que os atores envolvidos neste processo ajam de forma isolada. É

preciso qualificar e intensificar o elo entre empresas e stakeholders, criando uma postura

colaborativa nas relações, conforme estudaremos nesta aula.

Gestão da sustentabilidade e postura colaborativa


Nosso ponto de partida será compreender como os conceitos de responsabilidade social e

de desenvolvimento sustentável podem ser traduzidos e adaptados para a lógica das

organizações.

Para facilitar seu entendimento, vamos destacar a seguinte contribuição de Alencastro

(2012), que propõe o uso do termo gestão da sustentabilidade. Vamos analisar sua

definição:

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 39


[...] podemos chamar de gestão da sustentabilidade as ações e as estratégias
formuladas para alcançar um determinado objetivo organizacional [...] sempre
considerando as demandas socioambientais dos stakeholders. Dessa forma, a
responsabilidade socioambiental passa a fazer parte das estratégias de negócios e
permite a integração da empresa com a sociedade. (ALENCASTRO, 2012, p. 103)

Observe que o termo gestão da sustentabilidade, conforme sugerido pelo autor, consegue

propor uma aplicação integrada dos conceitos de responsabilidade social e de

desenvolvimento sustentável.

Agora, preste atenção à última sentença desta definição que destaca “a integração da

empresa com a sociedade”. Esta é uma questão fundamental para tudo que será discutido

nesta aula, pois esta integração empresa/sociedade sinaliza que tanto as empresas quanto

seus stakeholders não podem mais agir de forma isolada.

O seguinte gráfico pode nos ajudar a visualizar de forma mais clara este pensamento:

Figura 3.1

Fonte: adaptado de ALENCASTRO (2012), sobre original de PORTER; KRAMER (2002)

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 40


Você percebeu como os benefícios econômicos das empresas devem se integrar com os

benefícios sociais? Por outro lado, se este pensamento for objeto de uma reflexão mais

profunda, podemos inferir que empresas e stakeholders fazem parte, em última instância,

de um único e amplo grupo que denominamos sociedade.

Portanto, a gestão da sustentabilidade, tal como propõe Alencastro, é uma

responsabilidade de todos. Esta noção de responsabilidade coletiva e compartilhada é o

que sustenta a importância da postura colaborativa, tanto na produção quanto no

consumo.

Diante destes desafios, vamos nos aprofundar em dois novos paradigmas que são

fundamentais para dar sustentação à filosofia da gestão da sustentabilidade e da postura

colaborativa: a cocriação e o consumo colaborativo.

Cocriação de valor e de produtos


O conceito de cocriação foi globalmente disseminado por meio dos autores C. K. Prahalad

e Venkat Ramaswamy como uma proposta de inovação no processo de criação de valores.

Vamos compreender o que motivou estes autores a proporem esta mudança de

perspectiva.

A criação de valores tem sido tradicionalmente centrada na perspectiva da empresa. Nesta

concepção, é a empresa quem analisa e define os valores que devem ser entregues ao

cliente. Se por um lado o cliente é pesquisado e escutado, por outro lado ele raramente

participa ativamente do desenvolvimento dos produtos. Conforme observam Prahalad e

Ramaswamy (2004), as funções primárias do marketing estavam na troca e na extração

mútuas de valores entre empresas e clientes.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 41


Entretanto, esta relação que dá mais voz ativa às empresas foi duramente impactada pela

transformação dos consumidores na última década. Dentre estas mudanças, podemos

destacar:

• o maior acesso à informação;

• o poder que os consumidores têm para gerar, disseminar e compartilhar

informações;

• a postura mais ativa e mais consciente dos consumidores quanto aos seus direitos;

• a crescente preocupação dos consumidores quanto às questões de

sustentabilidade.

Logo, podemos compreender a cocriação como o processo colaborativo de

desenvolvimento de produtos envolvendo empresas e stakeholders que devem dialogar e

atuar conjuntamente, a fim de definir o produto e seus respectivos valores, de forma que

haja entrega de benefícios para a empresa e para os stakeholders.

Considerando a filosofia da gestão da sustentabilidade, podemos complementar a esta

definição o papel relevante de produtos que serão cocriados à luz da responsabilidade

socioambiental das empresas que os produzem e dos consumidores que os comprarão.

Em termos práticos, como o conceito de cocriação pode ser aplicado nas empresas?

Prahalad e Ramaswamy (2004) sugerem o uso de um modelo teórico chamado DART,

composto por quatro elementos de interação: diálogo, acesso, risco-benefício e

transparência .

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 42


Figura 3.2

Fonte: traduzido do original de PRAHALAD; RAMASWAMY (2004)

O diálogo é o elemento que enfatiza a abertura não apenas do canal de comunicação,

mas principalmente de uma relação efetivamente interativa entre empresa e cliente.

Isso significa ir além de ouvir o cliente, pois será preciso criar uma relação na qual

aprendizado e experiência sejam compartilhados na prática. Esta interação poder ser

física (por meio de encontros) e virtual (por meio de plataformas especialmente

dedicadas para a esta interação).

O acesso propõe um novo olhar sobre a lógica criação de produtos e transferência de

propriedade. O que está em jogo não é mais a posse de um produto (seja bem ou

serviço), mas sim o acesso às experiências que este produto propiciará ao cliente. Por

exemplo, para utilizar um carro não será mais necessário comprá-lo. Alugar ou usar de

forma compartilhada serão as alternativas para que o cliente tenha acesso ao produto e,

principalmente, à experiência que o produto propiciará.

O risco-benefício é um fator que será avaliado com mais cuidado pelo cliente. Se o

produto será um resultado de cocriação entre empresa e cliente, logo ambos deverão

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 43


calcular e assumir os riscos advindos deste produto. O cliente também assumirá maior

grau de responsabilidade com relação a estes possíveis riscos. Por outro lado, a

cocriação estimulará que os ganhos sejam mais equilibrados para as partes envolvidas.

Por fim, a transparência irá favorecer a construção de uma relação de maior confiança

e de maior compromisso entre empresa e cliente. A relação tende a ser mais aberta e

mais colaborativa.

A filosofia da cocriação também sugere outra mudança importante: o mercado consumidor

passa a ser compreendido como um grande fórum de cocriação, e não mais apenas como

target a ser atingido. Dentre as várias implicações deste novo cenário, podemos destacar:

• a convergência entre empresas e clientes, com menor distinção de papéis

rigidamente definidos;

• a cocriação do produto e de seus valores em múltiplos pontos de interação, à luz

da experiência que será propiciada ao cliente;

• a intensificação do diálogo entre os consumidores e as comunidades de

consumidores.

Consumo colaborativo
Na discussão sobre a gestão da sustentabilidade, tradicionalmente a maior carga de

responsabilidade é atribuída às empresas. Porém, já estudamos que os consumidores

também devem assumir uma postura mais ativa e devem assumir responsabilidades nesta

cadeia de relações. Até agora, focalizamos nas etapas do desenvolvimento e da produção.

Agora o foco será à ponta deste processo: o consumo. Será nesta etapa que o papel do

consumidor ficará mais visível.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 44


O ponto de partida será compreender o conceito de consumo consciente. Vamos

considerar que “os indivíduos, enquanto consumidores, também devem reestruturar suas

formas de pensamento para uma melhor atuação na sociedade, ou seja, deve-se assumir

um comportamento de consumo consciente para que a dinâmica de mercado possa

direcionar totalmente para essa nova maneira de atuação.” (SILVA et al., 2012).

O crescente destaque que os veículos de comunicação têm reservado ao tema da

sustentabilidade é um fator fundamental para contextualizar a importância da mudança de

atitude do consumidor. Os fenômenos climáticos extremos, a escassez progressiva de

recursos naturais (dentre os quais se destaca a água potável), a poluição derivada das

energias não limpas, a degradação das condições de vida em países pobres, a ocupação

urbana desordenada e a perspectiva de colapso no abastecimento de alimentos são alguns

dos fatos que abriram olhos, ouvidos e corações dos consumidores. Por sua vez, as

empresas também têm se sensibilizado com estas questões, seja por iniciativa própria ou

por pressão externa.

Torna-se cada vez mais urgente a revisão do nosso comportamento de consumo. Para se

ter uma ideia do impacto das nossas decisões de consumo para a sustentabilidade, reflita

sobre os seguintes números retirados do Instituto Akatu:

Segundo a Universidade das Nações Unidas (UNU), um computador comum (24


quilos, em média) emprega ao menos dez vezes o seu peso em combustíveis
fósseis (contribuindo para o aquecimento global) e 1.500 litros de água em seu
processo de fabricação (INSTITUTO AKATU).

Atualmente, a humanidade já consome 50% mais recursos renováveis do que a


Terra consegue regenerar, mesmo em uma situação de enorme concentração do
consumo, em que apenas 16% da população mundial é responsável por 78% do
total do consumo no planeta (INSTITUTO AKATU).

Diante dessas estatísticas inquietantes, o termo consumo colaborativo tem conquistado

mais espaço globalmente. Mas, quais são os fundamentos deste conceito?

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 45


De acordo com Maurer et al. (2012):

O conceito de consumo colaborativo, descrito pela primeira vez por Algar


(2007), e posteriormente ampliado por Bostman e Rogers (2011), parece ser
uma ideia inovadora, mas, na verdade, descreve um comportamento de uma
prática tradicional já empregada pela humanidade desde as primeiras formas
comerciais e que esteve em utilização até a emergência do modelo capitalista
de produção, centrado na acumulação de riqueza e posse de mercadorias
(MAURER et al, 2012).

O consumo colaborativo está fundamentado nos seguintes parâmetros:

• compartilhar bens e serviços;

• ter acesso a bens e serviços em vez de ter propriedade sobre estes;

• consumir de forma racional e sustentável.

Atualmente, o modelo teórico de consumo colaborativo mais reconhecido é o de Rachel

Bostman e Roo Rogers. Segundo eles há três sistemas de consumo colaborativo:

Sistemas de serviços de produtos – Para se consumir um determinado produto, o

consumidor paga pela utilização deste por um tempo predeterminado, sem a necessidade

adquiri-lo. Os serviços de aluguel fazem parte deste sistema.

Mercados de redistribuição – É fundamentado no princípio da troca e de doação de

produtos usados, no qual pode haver transferência de propriedade. Móveis, roupas e

livros são exemplos de produtos que são redistribuídos com frequência.

Estilos de vida colaborativo – Trata-se de uma mudança de atitude perante a

comunidade que o consumidor vive. O princípio é de dividir ou trocar “ativos intangíveis

como tempo, espaço, habilidades e dinheiro” (MAUREN et al, 2012). Dentre as ações mais

conhecidas estão o crowdsourcing (cocriação de produtos em plataformas on-line),

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 46


crowdfunding (financiamento coletivo), crowdlearning (aprendizado colaborativo em

plataformas on-line) e coworking (compartilhamento de escritórios coletivos).

Apesar de ser um conceito ousado e inovador, o consumo colaborativo ainda pode ser

visto com ressalvas por boa parte dos consumidores. Como barreiras a serem superadas

pelo consumo colaborativo, podemos citar:

• o sentimento de apego que os consumidores têm com seus bens, inclusive por

questões afetivas;

• o sentimento de materialismo, que é dar excessiva importância ao ter em

detrimento do ser;

• a relação que se estabelece entre acúmulo de bens e status socioeconômico.

No livro “Collaborative services – social innovation and design for sustainability”, os

autores e colaboradores desta obra citam diversas experiências de consumo colaborativo.

Por ora, vamos destacar os três seguintes exemplos:

1) The Home Laundry – Em vez de utilizar uma lavanderia comercial, o usuário

se cadastra neste serviço no qual as roupas são lavadas e passadas por famílias que

prestam o serviço em sua própria casa e com seu próprio equipamento doméstico. O

público-alvo é de clientes solteiros, estudantes e idosos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 47


Fonte: JEGOU, F.; MANZINI, E. (Coord.) Collaborative services: social innovation and

design for sustainability. Milão: Edizioni POLI Design, 2008, p.55.

2) Family Take-Away – Famílias se cadastram como prestadoras de serviço, a

fim de preparar entre 3 ou 4 porções extras além do que será servido à família. Estas

porções extras são vendidas para clientes cadastrados, geralmente solteiros,

estudantes e idosos.

Fonte: JEGOU, F.; MANZINI, E. (Coord.) Collaborative services: social innovation and

design for sustainability. Milão: Edizioni POLI Design, 2008, p.59.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 48


3) Kids Clothing Chain – É um serviço de compartilhamento de roupas infantis.

Após realizar o cadastro, a mãe entrega as roupas de seu filho e, em troca, leva uma

caixa com roupas já usadas por outras crianças da mesma idade. As roupas muito

gastas são substituídas, reiniciando o ciclo de uso e de reuso.

Fonte: JEGOU, F.; MANZINI, E. (Coord.) Collaborative services: social innovation and

design for sustainability. Milão: Edizioni POLI Design, 2008, p. 85.

Atividade proposta
Leia a matéria jornalística Empresas não têm outra opção a não ser cocriar, afirma
especialista, da publicação Pequenas Empresas Grandes Negócios (Editora Globo).
Disponível em nosso material complementar.
Nesta matéria, foi entrevistado o especialista e professor de marketing Venkat
Ramaswamy, que explica sua perspectiva sobre a necessidade de as empresas
investirem intensivamente em ações de cocriação com consumidores.
Após ler a matéria, reflita sobre a seguinte questão: você está preparado para assumir
uma postura colaborativa com seus clientes, inclusive no processo de desenvolvimento
do produto? Faça associações com as ideias apresentadas por Ramaswamy.

Exercícios de fixação
Questão 1: Sobre a gestão da sustentabilidade, está CORRETO afirmar que:

a) ( ) A responsabilidade é prioritariamente das empresas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 49


b) ( ) A responsabilidade é prioritariamente dos consumidores.

c) ( ) A responsabilidade é prioritariamente do governo.

d) ( ) A responsabilidade é da sociedade e de todos que a compõem.

e) ( ) A responsabilidade é das empresas e dos consumidores sustentáveis.

Questão 2: O modelo DART, criado por Prahalad e Ramaswamy (2004), se refere-se:

a) ( ) Aos quatro elementos de interatividade que sustentam o conceito de cocriação.

b) ( ) À sigla do evento da ONU no qual este modelo foi apresentado em 1992.

c) ( ) Às quatro etapas do processo de cocriação de valores sustentáveis.

d) ( ) Às quatro dimensões da sustentabilidade empresarial.

e) ( ) À sigla ISO que normatiza a certificação de empresas sustentáveis.

Questão 3: De acordo com o modelo teórico de Bostman e Rogers, o sistema no qual há

troca e doação de produtos usados, com possibilidade de transferência de propriedade, é

denominado:

a) ( ) Sistema de serviços de produtos.

b) ( ) Estilo de vida colaborativo.

c) ( ) Mercados de redistribuição.

d) ( ) Guarda compartilhada.

e) ( ) Crowdsourcing.

Aprenda mais
Assista ao seguinte vídeo sobre consumo colaborativo, produzido por O Globo, disponível

em nossa galeria de vídeos.

Referências
ALENCASTRO, M. S. C. Empresas, ambiente e sociedade: introdução à gestão

socioambiental corporativa. Curitiba: Intersaberes, 2012.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 50


JEGOU, F.; MANZINI, E. (Coord.) Collaborative services: social innovation and design

for sustainability. Milão: Edizioni POLI Design, 2008. Disponível em:

<http://81.246.16.10/videos/publications/collaborative_services.pdf>. Acesso em: 02 jun.

2013

MAURER, A. M.; FIGUEIRO, P. S.; CAMPOS, S. AL. P.; SILVA, V. S.; BARCELLOS, M. D.

Yes, we also can. O desenvolvimento de iniciativas de consumo colaborativo no Brasil. In:

XXXVI Encontro da Anpad. Rio de Janeiro: ANPAD, 2012. Disponível em:

<http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnANPAD/enanpad_2012/ESO/Tema%2007

/2012_ESO968.pdf >. Acesso em: 16 jun. 2013.

MORAES, M. B.; COSTA, B. K. Cocriação de valor e perspectiva da lógica dominante: um

estudo em uma empresa do setor aeronáutico. In: The 4th International Congress on

University-Industry Cooperation. Taubate: Unitau, 2012. Disponível em:

<http://www.unitau.br/unindu/artigos/pdf581.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2013

PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, V. Co-creation experiences: the next practice in value

creation. Journal of Interactive Maketing. [S.I]: v. 18, n. 3, 2004. Disponível em:

<http://deepblue.lib.umich.edu/bitstream/handle/2027.42/35225/20015_ftp.pdf&embedde

d=true?sequence=1>. Acesso em: 16 jun. 2013.

SILVA, M. E.; AGUIAR, E. C.; FALCÃO, M. C.; COSTA, A. C. A perspectiva responsável do

Marketing e o consumo consciente: uma interação necessária entre a empresa e o

consumidor. In: Organizações em Contexto. São Bernardo do Campo: Umesp, 2012.

Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-

ims/index.php/OC/article/view/2989>. Acesso em: 10 jun. 2013

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 51


GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 52
Aula 4: Desenvolvimento de produtos: a perspectiva
sustentável

Introdução
“[...] a sustentabilidade não é irreconciliável com o crescimento econômico, [...] ao

contrário, pode ser importante fonte de vantagem competitiva e de geração de valor para

acionistas e comunidade em geral” (MILSTEIN, 2004).

Em meio à crescente pressão social por ações empresariais mais responsáveis, o

desenvolvimento de produtos tem se destacado como um importante foco de investimento

em pesquisas voltadas à minimização dos impactos que são gerados para a sociedade e

para o meio ambiente.

Seja na adaptação, na melhoria ou na criação de produtos, as empresas precisam ficar

gradativamente mais conscientes e mais preparadas para gerenciar os rastros que estes

produtos deixam para trás. Isto pode ocorrer na forma da geração de resíduos, da

exploração desordenada dos recursos naturais, da emissão de dejetos e da ocorrência de

impactos sociais.

O desenvolvimento de produtos, antes focalizada em questões essencialmente

empresariais, agora precisa se alinhar à filosofia da sustentabilidade. Em termos práticos,

isto representa a obrigação de as empresas repensarem seu modo de produção, buscando

metodologias e processos que vão ao encontro da utilização racional e responsável dos

recursos dos quais dispomos. Este será o fio condutor que nos guiará nesta aula.

Objetivos:

• Definir desenvolvimento de produtos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 53


• Definir produto sustentável.

• Descrever as diretrizes do desenvolvimento de produtos sustentáveis.

Conteúdo

Introdução
O desenvolvimento de produtos é considerado um processo de negócio cada vez
mais crítico para a competitividade das empresas, principalmente com a crescente
internacionalização dos mercados, aumento da diversidade e variedade de
produtos e redução do ciclo de vida dos produtos no mercado. (AMARAL et al,
2006, p. 4)

Tradicionalmente, as empresas investem boa parte de seus esforços na criação e no

aperfeiçoamento de seus produtos. Nas fases da orientação para a produção e da

orientação para o produto, conforme já estudamos, este foco era especialmente

exacerbado. O processo de produção e o produto propriamente dito centralizavam as

atenções do negócio.

Com o advento da orientação para o marketing, as empresas redirecionaram seu foco

para o cliente. Na medida em que os produtos se tornam mais vulneráveis à substituição e

que os setores se tornam mais competitivos, o papel do cliente se torna mais ativo e seu

poder de barganha cresce gradativamente. Se antes o cliente precisava se adaptar ao

produto, agora é o produto que precisa se adaptar ao cliente.

Nesta evolução do relacionamento entre empresas e clientes, certamente o

desenvolvimento de produtos também precisou ser repensado. A consolidação do

pensamento do marketing propiciou que uma nova filosofia emergisse: a de que o

desenvolvimento de produtos representa a interface entre a empresa e o mercado. Em

outras palavras, o produto é concebido, planejado, manufaturado e distribuído para o

cliente e com o cliente.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 54


Outro importante elemento a ser acrescentado foi a filosofia da sustentabilidade. Hoje, a

eficiência produtiva deve ser combinada com indicadores de sustentabilidade. Logo, não

basta desenvolver um produto que prometa redução de custos ou que apresente

diferenciais funcionais. É preciso ir além e considerar os impactos sociais e ambientais que

podem ser gerados por este mesmo produto. São estas as questões a serem estudadas

nesta aula.

O que é um produto?
Um dos grandes desafios de qualquer empresa é criar soluções que atendam tanto às

demandas sinalizadas pelo cliente quanto às demandas culturais, financeiras e

estratégicas da própria empresa. Estas soluções se materializam na forma de um produto

a ser produzido pela empresa e a ser ofertado para o mercado.

Em primeiro lugar, será necessário compreender o conceito de produto. Vamos recorrer à

seguinte definição de Kotler e Keller (2012):

Muitas pessoas acham que um produto é uma oferta tangível, mas ele é tudo o
que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo,
incluindo bens físicos, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares,
propriedades, organizações, informações e ideias. (KOTLER; KELLER, 2012, p.
348)

Logo, você deve ter observado que devemos quebrar um mito ainda presente no

vocabulário tanto de leigos quanto de profissionais de marketing e das demais áreas da

gestão: o mito de que produto se refere apenas aos bens, ou seja, aos produtos tangíveis.

O conceito de produto abarca também os produtos intangíveis, mais conhecidos como

serviços. Observe que Kotler e Keller (2012) também citam pessoas, lugares e ideias como

exemplos de produto.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 55


Vamos considerar um produto intangível (ou serviço) como o transporte de cargas.

Transportar cargas é um serviço que deve ser rigorosamente planejado antes de ser

ofertado ao mercado. Ele não é criado espontaneamente nem aleatoriamente. Ao

contrário, este serviço deve passar por um processo que compreende etapas como análise

concorrencial, análise de mercado, disponibilização de espaços físicos, disponibilização de

equipamentos, disponibilização de recursos humanos, elaboração de fluxos de trabalho,

planilha de custos e implementação de sistemas, entre vários outros aspectos.

Um serviço de transporte de cargas também deve ser concebido e gerenciado de forma

sustentável. Imagine, por exemplo, os impactos que a frota de veículos causará na

qualidade do ar, pois estes veículos emitirão poluentes na atmosfera. Outro exemplo é

avaliar as condições físicas e psicológicas dos condutores destes veículos, que muitas

vezes estarão expostos a situações de estresse. Estas condições devem ser previstas e

gerenciadas no negócio.

Entretanto, por um questão didática, nesta disciplina vamos nos concentrar nos produtos

tangíveis ou bens de consumo. A literatura disponível sobre desenvolvimento de produtos

tem tradicionalmente se concentrado nos produtos tangíveis, inclusive à luz da

sustentabilidade.

O processo de desenvolvimento de produtos (PDP)


Já compreendemos o conceito de produto. Também ressaltamos que nesta disciplina, por

uma questão didática, vamos nos concentrar nos produtos tangíveis ou bens de consumo.

Agora, partiremos à análise do conceito de desenvolvimento de produtos.

Vamos comparar as seguintes duas definições:

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 56


[...] pode ser definido como a transformação de um ideia (oportunidade de
negócios) em um produto acabado, pronto para ser vendido. Este processo é
desdobrado em uma série de atividades e visa combinar as informações obtidas no
mercado, a respeito dos concorrentes e do perfil do consumidor, com as
capacidades e possibilidades tecnológicas da empresa. (SILVA E ZAWISLAK, 2007)

[...] desenvolver produtos consiste em um conjunto de atividades por meio das quais busca-
se, a partir das necessidades do mercado e das possibilidades e restrições tecnológicas, e
considerando as estratégias competitivas e de produto da empresa, chegar às
especificações de projeto de um produto e de seu processo de produção, para que a
manufatura seja capaz de produzi-lo” (AMARAL et al., 2006)

Observe a ocorrência de algumas ideias em ambas as definições. A primeira que podemos

destacar é a importância de ouvir o mercado, cuja concepção é própria da orientação de

marketing. A segunda ideia é a de estabelecer uma análise comparativa com os demais

players do setor, a fim de contrastar as características do seu produto com as

características dos produtos dos seus concorrentes. A terceira ideia é obedecer à

capacidade produtiva da empresa, pois o produto em desenvolvimento não pode estar

nem além nem aquém do potencial de infraestrutura (em seus vários aspectos) da

empresa.

Figura 4.1

Fonte: adaptado do original de AMARAL et al. (2006)

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 57


Na Figura 4.1, observe a diferença entre o processo tradicional e o processo atualizado.

No processo tradicional, cada etapa era executada de forma estanque, com baixo grau de

integração. O que persistia era a imagem da “passagem de bastão” em detrimento de um

processo mais agregador. Veja como o desenvolvimento do produto era uma ação

direcionada para uma única equipe (como, por exemplo, a equipe de engenheiros).

Já no processo atualizado (“novo escopo”), o processo permite maior diálogo entre as

várias equipes envolvidas. Além disto, o desenvolvimento do produto agrega diversas

áreas, propiciando uma metodologia multidisciplinar e integradora.

A atividade do desenvolvimento de produtos compreende múltiplos atores, etapas e ações

que devem se comunicar e se integrar em uma rede complexa e multidisciplinar. O

seguinte diagrama criado por Amaral et al. (2006) ilustra bem esta concepção:

Figura 4.2

Fonte: adaptado do original de AMARAL et al. (2006)

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 58


Note que os autores integram estes processos em um processo único e de maior

amplitude, denominado Processo de Desenvolvimento de Produto, também

conhecida pela sigla PDP.

Dentre os vários stakeholders envolvidos no PDP, podemos destacar o cliente e o

fornecedor. Para Silva e Zawislak (2007), o PDP deve sempre monitorar os movimentos

sinalizados pelos clientes, com especial atenção aos aspectos comportamentais de

consumo e aos aspectos psicográficos. Este monitoramento, em última instância, deve

mostrar para a empresa a real noção do valor esperado pelo cliente. Se o valor esperado

pelo cliente for corretamente identificado, analisado e contextualizado no projeto do

produto, a empresa maximizará o potencial de retorno deste produto, inclusive sob a

forma de lucro.

Com relação aos fornecedores, os autores destacam a fundamental participação destes no

PDP já no início do processo, contrariando a antiga percepção de que os fornecedores

devem ser envolvidos ao final do planejamento. Os fornecedores devem contribuir com a

empresa por meio de suas expertises específicas, pois este conhecimento especializado

poderá agregar ideias que propiciarão benefícios como redução de tempo, redução do

risco de retrabalho, criação de soluções alternativas e, principalmente, o estabelecimento

de uma relação mais alinhada com a empresa já ao início do processo.

Classificação dos projetos de desenvolvimento de produto


A classificação de um projeto de desenvolvimento de produto varia de acordo com os

critérios que serão considerados pela empresa. Diante da diversificação das propostas

presentes na literatura e dentre as empresas, vamos nos concentrar na seguinte

classificação sugerida por Amaral et al. (2006):

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 59


• Projetos radicais (breakthrough) – compreendem modificações profundas sobre o

projeto original; incorporam novas tecnologias e novos materiais; requerem mudanças

profundas também na produção.

• Projetos plataforma ou próxima geração – o projeto do produto é modificado

significativamente, mas a tecnologia e os materiais são mantidos; foco na criação de uma

nova geração do produto ou da família do produto.

• Projetos incrementais ou derivados – consiste na criação de produtos derivados,

híbridos ou modificados a partir do produto existente; podem focalizar em novos produtos

de custos reduzidos ou com novas aplicações.

• Projetos follow-source – como o nome já sugere, trata-se de adaptar o produto

originário da matriz da empresa de acordo com as características do mercado que irá

recebê-lo; as alterações são superficiais, pois as diretrizes do projeto original da matriz

devem ser obedecidas.

Desenvolvimento de produtos sustentáveis (DPS)


Após termos estudado os princípios do desenvolvimento de produtos e do processo de

desenvolvimento de produtos (PDP), agora estamos aptos para contextualizar esta

atividade à luz da filosofia do desenvolvimento sustentável.

Em um cenário global gradualmente dominado por demandas socioambientais e por

questões de sustentabilidade, o conceito de desenvolvimento de produtos precisou ser

adaptado para esta nova realidade. Hoje, as empresas precisam projetar suas ações para

além da geração de valor para o cliente e da geração de valor para o negócio. Conforme

estudamos nas aulas anteriores, a sociedade tem se organizado fortemente para cobrar

ações que propiciem sustentabilidade social, econômica e ambiental.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 60


Além da pressão social, houve também um movimento interno das empresas para se

adaptarem a este novo cenário. Sobre este assunto, veja como Barbieri e Cajazeira (2012)

analisam esta questão:

Muitas empresas e entidades empresariais se engajaram espontânea e


ativamente na formulação de propostas de gestão ambiental coerentes com
os objetivos do desenvolvimento sustentável, criando para isso modelos de
gestão que procuram reduzir a quantidade de materiais e energia por bem
ou serviço produzido, substituir insumos obtidos de recursos naturais não
renováveis por insumos provenientes de recursos renováveis, eliminar
substâncias tóxicas, entre outras providências. (BARBIERI E CAJAZEIRA,
2012, p. 71)

Após estas leituras, a seguinte pergunta possivelmente já se formou em sua mente: como

podemos diferenciar o desenvolvimento de produtos tradicional do desenvolvimento de

produtos sustentáveis (DPS)?

A diferença fundamental está na presença fortalecida do termo sustentabilidade, conforme

já estudamos nas aulas anteriores. Isto quer dizer que as empresas devem desenvolver

produtos que preservem as condições de vida das gerações atuais e, principalmente, das

gerações futuras. As empresas, portanto, devem estar focalizadas no desenvolvimento de

produtos e de processos que estejam alinhados com as questões socioambientais, tão

prementes nos dias atuais. (JABBOUR; SANTOS, 2007).

Logo, o desenvolvimento de produtos sustentáveis (DPS) pode ser compreendido como

um projeto que se dedica à criação de um produto e de seu respectivo processo de

produção de acordo com os pressupostos da sustentabilidade, tais como o uso racional e

responsável dos recursos naturais, a preservação das condições de vida das gerações

atuais e futuras e o descarte responsável após o consumo.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 61


Também podemos citar a seguinte definição de Rounds e Cooper (2002), segundo a qual

o DPS deve considerar, de forma sistematizada, os critérios socioambientais durante todo

o processo de desenvolvimento de um produto, inclusive na fase do pós-desenvolvimento

e de pós-consumo (ROUNDS; COOPER apud JABBOUR; SANTOS, 2007).

O modelo triple bottom line


Nos esforços de se criar um modelo teórico para apoiar a prática do DPS, existe uma

contribuição que tem sido amplamente aceita e aplicada tanto no meio acadêmico quanto

no empresarial. Este modelo é conhecido como triple bottom line, criado pela empresa

britânica SustainAbility, especializada em consultoria para projetos de sustentabilidade

(BARBIERI; CAJAZEIRAS, 2012).

A proposta central deste modelo é partir da premissa de que a sustentabilidade deve gerar

resultados mensuráveis em três dimensões: a econômica, a social e a ambiental.

Figura 4.3

Fonte: adaptado do original disponível em:

<http://www.brasilplan.com.br/sustentabilidade.html>. Acesso em: 23 jun. 2013


GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 62
A integração destas três dimensões afeta tanto a perspectiva da empresa quanto a

perspectiva da sociedade e dos grupos de pressão.

Na perspectiva da empresa, o triple bottom line alerta que os resultados financeiros

devem estar equilibrados com a avaliação dos impactos socioambientais do produto e,

mais amplamente, do negócio.

Já na perspectiva da sociedade e dos grupos de pressão, o triple bottom line lembra que

as empresas têm obrigações socioambientais a serem cumpridas, mas também precisam

lucrar.

Quanto às três dimensões do triple bottom line, vamos analisá-las em maior profundidade.

Na dimensão social, a empresa deve zelar pelo bom relacionamento com as comunidades

que são afetadas pelo negócio. Além disto, a empresa também pode considerar a

realização de ações ligadas ao bem-estar e ao progresso destas comunidades, tais como

educação, lazer e cultura. Também deve ser ressaltada a importância do capital humano

da empresa, que envolve os funcionários e seus familiares.

Na dimensão ambiental, o foco está na gestão do capital natural, que compreende os

recursos naturais utilizados pela empresa e os impactos ambientais causados pelo

negócio. Devem ser considerados os bens ambientais (matérias-primas) e os serviços

ambientais (redução da pegada de carbono, redução da emissão de poluentes, utilização

de energia limpa).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 63


Na dimensão econômica, deve ser reconhecida a necessidade de uma empresa em obter

lucro. Por outro lado, este lucro deve ser conquistado de forma sustentável, ou seja,

devem ser considerados e avaliados os impactos socioambientais causados pelo produto e

pelo negócio. Conforme observam Barbieri e Cajazeira (2012):

A empresa que instalou equipamentos para captar e tratar poluentes [...] está
reduzindo os custos sociais produzidos pelas externalidades negativas. [...] É
necessário que a empresa avalie os passivos ocultos decorrentes das suas
responsabilidades perante suas partes interessadas [...] para considerá-los a fim
de obter o resultado líquido referente à dimensão econômica da sustentabilidade.
(BARBIERI E CAJAZEIRA, 2012, p. 73)

Foram criadas variações do triple bottom line, apoiadas na ideia central das três

dimensões. Uma variação amplamente conhecida é o modelo dos 3 Ps, que compreende

os elementos profit (lucro), planet (planeta) e people (pessoas). Estes elementos se

correlacionam com as dimensões do triple bottom line da seguinte forma: profit –

econômico; planet – ambiental; people – social.

Figura 4.4

Fonte: adaptado de BARBIERI; CAJAZEIRA (2012), sobre original de MARREWIJK (2003)

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 64


Atividade proposta
Consulte a página sobre fornecimento sustentável de matérias-primas da empresa
Unilever, no endereço:
<http://www.unilever.com.br/sustentabilidade/fornecimentosustentavel/>.
Nesta página, você poderá analisar diversos compromissos assumidos pela Unilever com
relação ao fornecimento sustentável de várias matérias-primas, tais como óleo de palma,
açúcar, papel, óleo de colza, frutas e vegetais, entre outros citados.
Após analisar esta página, escolha uma matéria-prima. Comente como o compromisso
assumido pela Unilever com esta matéria-prima escolhida pode ser analisado à luz do
modelo triple bottom line.

Exercícios de fixação
Questão 1: Sobre o desenvolvimento de produtos, está correto afirmar que:

a) ( ) Este processo pressupõe a alteração das características originais do produto.

b) ( ) Apenas a alta gestão executiva deve participar deste processo.

c) ( ) A linha de produção não pode ser modificada, mas o produto sim.

d) ( ) A compra de matéria-prima é uma questão analisada fora deste processo.

e) ( ) Uma ideia deve ser transformada em um produto viável e acabado.

Questão 2: Na classificação dos projetos de desenvolvimento de produtos, o projeto

follow-source:

a) ( ) Consiste na criação de produtos derivados, híbridos ou modificados a partir do

produto existente.

b) ( ) Exige modificações profundas sobre o projeto original e incorpora novas tecnologias

e novos materiais.

c)( ) É a adaptação do produto originário da matriz da empresa de acordo com as

características do mercado que irá recebê-lo.

d) ( ) Tem foco na criação de uma nova geração do produto ou da família do produto.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 65


e) ( ) Está focalizado na eliminação radical das linhas de produto menos rentáveis para a

empresa.

Questão 3: No modelo triple bottom line, a dimensão econômica diz respeito:

a) ( ) À realização de ações ligadas ao bem-estar e ao progresso destas comunidades.

b) ( ) À conquista do lucro de forma sustentável, considerando os impactos

socioambientais causados pelo produto.

c) ( ) Ao bom relacionamento entre a empresa e as comunidades que são afetadas pelo

negócio.

d) ( ) À busca do ponto de equilíbrio do negócio, com foco na redução de custos de

matéria-prima e de produção.

e) ( ) Aos compromissos firmados entre a empresa e seus acionistas, garantindo uma

distribuição justa dos lucros.

Aprenda mais
Assista ao vídeo sobre o mercado de carros elétricos, do programa Cidades e Soluções, da

emissora Globo News, disponível em nossa galeria de vídeos.

Referências
AMARAL, D. C. et al. Gestão de Desenvolvimento de Produtos: uma referência para

a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006.

BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e

empresa sustentável – da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2012.

DEMAJOROVIC, J.; MATURANA, L. Desenvolvimento de produtos sustentáveis. Estudo de

casos: purificadores de água Brastemp e carpetes Interface. Rev. de Gestão Social e

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 66


Ambiental. RGSA. São Paulo: v. 3, n. 3, 2009. Disponível em:

<http://www.revistargsa.org/rgsa/article/view/179/80>. Acesso em: 10 jun. 2013.

HART, S. L.; MILSTEIN, M. B. Criando valor sustentável. GV Executivo. São Paulo: FGV,

v. 3, n. 2, 2004. Disponível em: <http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/3363.pdf>.

Acesso em: 10 jun. 2013.

JABBOUR, C. J. C.; SANTOS, F. C. A. Desenvolvimento de produtos sustentáveis: o papel

da gestão de pessoas. Rev. Adm. Pública. Rio de Janeiro: v. 41, n. 2, 2007. Disponível

em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

76122007000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 1º jun. 2013.

KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de Marketing. São Paulo: Pearson, 2012.

LIMA, A et al. Implementação do conceito de triple bottom line em empresa de pequeno

porte. In: V Congresso Nacional de Excelência em Gestão – Gestão do

Conhecimento para a Sustentabilidade. Niterói: 2009.

SILVA, K. M.; ZAWISLAK, P. A. O processo de desenvolvimento de produtos: um estudo

de casos de três empresas fornecedoras da cadeia automotiva do Rio Grande do Sul. In:

Revista de Administração Contemporânea – RAC Eletrônica. Rio de Janeiro: v. 1,

n. 2, art. 4, 2007. Disponível em:

<http://www.anpad.org.br/periodicos/arq_pdf/a_635.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 67


Aula 5: Gestão de produtos: a perspectiva sustentável

Introdução
[...] torna-se essencial o interesse pelos processos produtivos industriais e a
realização de projetos e estudos que visem à redução e à erradicação de poluentes
gerados, a fim de garantir a preservação do meio e os benefícios econômicos para
a própria indústria. (Mario Sergio C. Alencastro)

A atividade da gestão de produtos tem passado por transformações importantes, tanto na

definição do seu conceito quanto na aplicação deste na prática empresarial. Basta

lembrarmos que o foco empresarial – outrora concentrado na produção, no produto e nas

vendas – hoje está focalizado nas diversas relações estabelecidas entre a empresa e os

stakeholders.

Não foi apenas o papel da gestão de produtos que mudou. Devemos também salientar a

profunda transformação macroambiental que fez emergir gradualmente os temas da

responsabilidade socioambiental e do desenvolvimento sustentável. Como o produto deve

ser gerenciado de acordo com estas novas perspectivas? Este é o tema que vai guiar

nossos estudos nesta aula.

Objetivos:

• Definir gestão de produtos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 68


• Definir gestão de produtos sustentáveis.

• Descrever as diretrizes da gestão de produtos sustentáveis.

Conteúdo

Introdução
A importância da função de gerenciamento de produtos tem crescido no meio
empresarial devido à aceleração no ritmo de lançamento de novos produtos [...].
As grandes empresas, detentoras de amplos compostos de produtos, atribuem a
estes gerentes a desafiadora tarefa de tornar cada item atraente para o mercado-
alvo a que se destina. (MOREIRA et al., 2004, p. 17)

Para qualquer negócio, o produto materializa a solução que aquela empresa propõe a fim

de suprir uma necessidade ou um desejo demandado pelo cliente. Por outro lado,

conforme já estudamos, a lógica atual não está centrada no produto, mas sim no cliente e

na experiência que será gerada neste cliente.

Hoje, a gestão do produto enfrenta esta inquietação: como tornar meu produto mais

atraente e mais competitivo aos olhos do meu cliente? Afinal, é o produto que deve estar

ajustado ao cliente, e não o contrário.

Além destas questões, a gestão de produtos também precisou se adaptar à crescente

pressão que os stakeholders da empresa têm exercido quanto ao desenvolvimento

sustentável. Isto representa um novo compromisso (e também um novo desafio) para a

empresa, pois ela deve monitorar o destino do produto após o consumo.

Logo, não basta desenvolver, produzir, distribuir e comercializar. A gestão do produto

deve sistematizar ações que propiciem um destino adequado ao produto após seu uso, a

fim de evitar o agravamento dos impactos socioambientais que o descarte inadequado

pode causar ao homem e ao meio ambiente.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 69


Em face a estas questões, vamos analisar e compreender como a pauta do

desenvolvimento sustentável influi na atividade da gestão de produtos, assim como na

relação do cliente com o produto.

Gestão de produtos: conceitos preliminares


Gestão de produtos, gerência de produtos ou administração de produtos?

Independentemente do termo que você adotar, esta atividade gera impactos diretos na

forma como a empresa se relaciona com seus produtos, cuja atividade se constitui em

algo especialmente desafiador no contexto de grandes negócios com portfólios

multifacetados e complexos.

Por opção didática, nesta disciplina vamos fazer uso do termo gestão de produtos. Vamos,

portanto, buscar definições para esta atividade.

Para Moreira et al (2004), “a diversidade da oferta exige o desenvolvimento de estratégias

diferenciadas para o posicionamento de cada produto em mercados ou em segmentos de

mercado” (MOREIRA et al, 2004, p. 2).

Para a empresa BASF, a gestão de produtos “é um processo integrado de negócios,

direcionado na melhoria contínua do manuseio seguro de nossos produtos, construindo

parcerias com nossos clientes”.

(BASF, disponível em <http://www.basf.com.br/default.asp?id=6863>.)

Considerando leves diferenças nas abordagens, observe como estas duas definições se

dedicam a focalizar a relação do produto com o cliente. Isto parece confirmar como a

filosofia da orientação do marketing repercute tanto no meio acadêmico quanto no meio

empresarial, sinalizando que o cliente e a experiência do cliente estão no centro dos

processos, incluindo a gestão de produtos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 70


A gestão de produtos também deve realizar o monitoramento do produto no mercado, o

monitoramento dos players do setor, a gestão do relacionamento com os parceiros de

canal, a avaliação dos resultados de vendas e a condução de eventuais medidas

preventivas, corretivas ou reativas para proteger o produto.

Quanto à organização da atividade, a gestão de produtos pode classificar os produtos por

segmentos, também chamados de famílias ou linhas de produtos. Cada família ou linha é

composta de produtos com características similares. Esta segmentação por famílias ou

linhas facilita significativamente o trabalho do gestor de produtos, pois geralmente a

empresa designa um gestor para cada família ou linha.

Observe na Figura 5.1 um exemplo de família ou linha de produto. Neste caso, extraído da

empresa Carrefour, existe uma linha principal chamada Linha Viver. Nesta linha principal,

cuja marca “Viver” funciona como guarda-chuva e traduz a proposta de valor do produto,

ainda há seis sublinhas: Viver Light, Viver Zero, Viver Soja, Viver Orgânico, Viver Diet e

Viver Enriquecidos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 71


Figura 5.1

Fonte: Carrefour – Linha Viver. Disponível em:

<http://www.linhaviver.com.br/index.php/conceito>

A atividade da gestão de produtos, assim como qualquer outra área de uma empresa, não

pode atuar de forma isolada. O princípio é exatamente o oposto, ou seja, um gestor de

produtos será bem-sucedido em suas ações somente por meio de sua intensa relação com

as demais áreas e equipes, conforme veremos a seguir.

As interfaces da gestão de produtos com outras áreas da empresa


Dentre as diversas áreas com as quais o gestor de produtos deve se relacionar, existem

algumas que exercem influência mais visível e mais direta em sua atividade. Isto se

justifica pelos pontos de interseção que frequentemente ocorrem entre a gestão de

produtos e as seguintes áreas: pesquisa e desenvolvimento (P&D), produção, marketing,

finanças e logística.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 72


Pesquisa e desenvolvimento – Compreende as equipes envolvidas no processo de

desenvolvimento de produtos (PDP), conforme estudamos na Aula 4. É importante o

gestor de produto participar do PDP desde o início do projeto, pois é ele quem vai

gerenciar operacionalmente e comercialmente o resultado final deste trabalho.

Produção – Uma vez desenvolvido e validado o produto, este será materializado em larga

escala pela produção. A interface entre o gestor de produto e o gestor de produção

costuma ser muito intensa, pois “é comum uma mesma unidade fabril atender a diversas

demandas internas de fabricação” (MOREIRA et al., 2004, p. 9). Ainda de acordo com este

autor, há outras decisões que devem ser feitas conjuntamente, tais como tamanho do lote

e indicadores de desempenho.

Marketing – Esta é outra área de grande interseção com a gestão de produtos. Por estar

focalizada no atendimento e na entrega de valor ao cliente, o marketing pode criar pontos

de divergência com o gestor de produtos, pois este último tende a priorizar a produção

em escala e a limitar a diversificação do portfólio. Por outro lado, o marketing atua em

parceria por fomentar ações ligadas ao branding, à comunicação, às estratégias de

distribuição, à pesquisa de mercado e ao relacionamento com os parceiros de canal.

Finanças – Resumidamente, o foco da área de finanças é gerenciar de forma racional e

eficiente os recursos da empresa. Um ponto de divergência a ser destacado é o princípio

de que para cada desembolso deve haver um retorno rápido que recompense o

investimento. Entretanto, tanto o gestor de marketing quanto o gestor de produto podem

argumentar que este retorno pode não ocorrer imediatamente, o que pode gerar um

conflito com a área financeira e deve ser negociada entre as partes envolvidas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 73


Logística – As decisões de distribuição e de transporte do produto afetam diretamente a

atividade do gestor de produtos. Devem ser analisadas questões como o volume a ser

transportado, o grau de perecibilidade e de fragilidade do produto e a integração com

decisões específicas de logística, tais como as características da frota, dos recursos

humanos e dos prazos de entrega.

Gestão de produtos sustentáveis


Até o momento, estudamos as questões tradicionais da gestão de produtos. Porém, agora

precisamos nos concentrar na adaptação desta visão tradicional à perspectiva do

desenvolvimento sustentável. Neste contexto, passaremos a usar a expressão gestão de

produtos sustentáveis.

Estudamos que um dos papéis da gestão de produtos é posicionar o produto no mercado-

alvo a ser atendido, o que exige a interface com diversas áreas como P&D, marketing,

produção, finanças e logística, entre outras. Também ressaltamos que o monitoramento

deste produto no mercado, o monitoramento de concorrentes e a avaliação dos resultados

de vendas também são da competência do gestor de produtos.

Agora, no cenário da responsabilidade socioambiental e do desenvolvimento sustentável, a

gestão de produtos precisou se atualizar. Isto demandou a incorporação de uma nova

filosofia para esta atividade, à luz dos impactos que o produto pode gerar nas esferas

social, ambiental e econômica.

A gestão de produtos sustentáveis pode ser compreendida como uma atividade que

agrega as questões socioambientais aos papéis tradicionalmente executados pelo gestor

de produtos, conforme explicado anteriormente. Como exemplo, podemos citar que o

processo de manufatura do produto deve estar em conformidade com os regulamentos e

as normas ambientais previstas no mercado. Outro exemplo que podemos citar é a

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 74


elaboração de relatórios de sustentabilidade, nos quais os resultados da empresa estarão

vinculados às ações de responsabilidade socioambiental e de desenvolvimento

sustentável.

Diretrizes da gestão de produtos sustentáveis


Apesar da gestão de produtos sustentáveis ser um campo de conhecimento recente, já

podemos compilar importantes contribuições advindas desta área. Para facilitar e

organizar nosso estudo, vamos analisar algumas de suas diretrizes mais conhecidas.

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)


De acordo com Hinz, Valentina e Franco (2007), a avaliação do ciclo de vida do produto

(ACV) propõe uma metodologia que permite analisar os impactos ambientais de uma

empresa, o que inclui seus produtos e seus processos de produção. Curi (2012) ressalta

que estes impactos ambientais devem ser analisados desde a extração da matéria-prima

até o descarte do produto, o que também pode ser conhecido como o trajeto “do berço ao

túmulo” (BARBIERI apud CURI, 2012).

Em linhas gerais, a avaliação do ciclo de vida compreende cinco etapas principais: a

extração de matéria-prima, a transformação da matéria-prima, o transporte, o consumo e

o descarte.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 75


Figura 5.2 – Ciclo de vida do produto

Fonte: adaptado do original de CURI (2012, p. 90)

Produção mais limpa


A produção mais limpa (P+L ou PmaisL) pode ser compreendida como “uma estratégia

aplicada na produção e nos produtos, a fim de economizar e maximizar a eficiência do uso

de energia, matérias-primas e água e, ainda, minimizar ou reaproveitar resíduos gerados”

(HINZ; VALENTINA; FRANCO, 2007).

Outra definição que podemos considerar é a seguinte: “produção mais limpa significa a

aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos

processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e

energia, através da não geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados, com

benefícios ambientais e econômicos para os processos produtivos” (Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, traduzido do original em inglês da United

Nations Industrial Development Organization – UNIDO. Disponível em

<http://www.fiesp.com.br/perguntas-frequentes/o-que-e-producao-mais-limpa-pl/>).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 76


A produção mais limpa é uma metodologia com características preventivas e com foco na

redução de resíduos no processo produtivo. Esta metodologia contrasta com as

tradicionais técnicas conhecidas como “fim-de-tubo”, cuja preocupação com o controle dos

resíduos é mínima e ocorre apenas no final do processo produtivo, induzindo a ações

reativas.

Na Figura 5.3, analise comparativamente o fim-de-tubo e a produção mais limpa:

Figura 5.3 – Comparação entre fim-de-tubo e produção mais limpa

Fonte: SENAI-RS (2003)

Logística reversa
Uma das questões mais importantes na gestão de produtos sustentáveis é o destino do

produto na fase pós-venda e pós-consumo. Desta preocupação, foi desenvolvido o

conceito de logística reversa, cuja atividade está focalizada no planejamento, na operação

e no controle logístico do retorno do produto ao ciclo produtivo , na fase pós-venda

ou pós-consumo (LEITE, 2003; SILVA et al., 2006). Em palavras mais simples, a logística

reversa deve propiciar o “caminho de volta” do produto ao fabricante, a fim de que este

tome providências tais como o reuso, a reciclagem ou o descarte adequado do produto.

Outra definição que podemos considerar é a do Ministério do Meio Ambiente, segundo o

qual a logística reversa é um “instrumento de desenvolvimento econômico e social

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 77


caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a

coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento em

seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação.” (MINISTÉRIO DO MEIO

AMBIENTE. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-

perigosos/logistica-reversa>).

Figura 5.4

Fonte: LEITE (2003, p. 17)

A logística reversa pós-consumo está focalizada nos produtos descartados pelo

consumidor, a fim de propiciar o retorno destes produtos ao ciclo produtivo. A logística

pós-venda segue o mesmo princípio, porém com foco nos produtos com pouco ou

nenhum uso, muitas vezes descartados pelos parceiros de canal (varejistas, por exemplo).

3 R – reduzir, reusar, reciclar


O exponencial aumento na geração de lixo e seu descarte inadequado têm representado

grandes inquietações em nossa sociedade. Desta preocupação emergiu o modelo 3 R, que


GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 78
compreende três ações focalizadas na redução do lixo por meio do consumo responsável,

racional e consciente. A função do gestor de produtos sustentáveis é considerar o

importante papel do consumidor como parceiro ativo da empresa, educando-o sobre sua

responsabilidade no contexto do desenvolvimento sustentável.

O modelo dos 3 R é constituído das seguintes ações:

Reduzir o consumo – O consumidor deve diminuir o consumo de produtos supérfluos, de

produtos descartáveis e de embalagens. Já as empresas devem reduzir a emissão de

resíduos, reduzir o uso de matéria-prima e investir em embalagens menores (SANTOS;

SANTOS, 2009).

Reutilizar o produto – Trata-se de reaproveitar ou dar novos usos ao produto já

consumido. O uso de garrafas PET na fabricação de móveis é um exemplo de reutilização

de produtos. Eletrodomésticos usados e em perfeito estado podem ser entregues para

doação ou até mesmo revendidos para outro consumidor interessado.

Reciclar o produto – É o processamento do produto usado e/ou de seus componentes, a

fim de incorporá-los novamente ao ciclo produtivo (SANTOS; SANTOS, 2009), propiciando

a geração de novos produtos. A reciclagem de latas de alumínio é um bom exemplo.

Atividade proposta
Leia a matéria “A reinvenção do papel na Abril”, disponível em nosso material
complementar.
Nesta matéria, você analisará as ações que a empresa Abril tem realizado para reduzir os
impactos socioambientais quanto ao uso do papel, cuja matéria-prima é fundamental
para os produtos desta empresa.
Após analisar esta matéria, comente sobre as correlações entre as ações executadas pela
Abril e as diretrizes da gestão de produtos sustentáveis, tais como produção mais limpa,
3 R e logística reversa.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 79


Exercícios de fixação
Questão 1: Qual das seguintes áreas está focalizada no atendimento e na entrega de

valor ao cliente, além de criar pontos de divergência com o gestor de produtos porque

este tende a priorizar a produção em escala e a limitar a diversificação do portfólio?

a) ( ) Finanças.

b) ( ) Marketing.

c) ( ) Pesquisa e desenvolvimento.

d) ( ) Logística.

e) ( ) Produção.

Questão 2: A gestão de produtos sustentáveis pode ser compreendida como uma

atividade que agrega as questões socioambientais aos papéis tradicionalmente executados

pelo gestor de produtos. Logo, qual dos seguintes documentos pode comprovar para a

sociedade este compromisso da empresa, assim como os resultados advindos desta

filosofia?

a) ( ) As planilhas de custos de produção.

b) ( ) O balanço patrimonial.

c) ( ) O manual de ética empresarial.

d) ( ) A certificação ambiental.

e) ( ) Os relatórios de sustentabilidade.

Questão 3: Qual das seguintes opções apresenta corretamente uma característica da

metodologia “fim-de-tubo”?

a) ( ) O uso da matéria-prima e da água devem ser eficientes.

b) ( ) Os componentes tóxicos devem ser evitados.

c) ( ) A proteção ambiental é uma área para especialistas competentes.

d) ( ) As ações devem ser prioritariamente preventivas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 80


e) ( ) A responsabilidade socioambiental é um compromisso transversal na empresa.

Aprenda mais
Assista ao vídeo sobre o Programa Amazônia, da empresa Natura, disponível em nossa

galeria de vídeos.

Referências
ALENCASTRO, M. S. C. Empresas, ambiente e sociedade: introdução à gestão

socioambiental corporativa. Curitiba: InterSaberes, 2012.

CURI, D. (Org.) Gestão ambiental. São Paulo: Pearson, 2012.

HINZ, R. T. P.; VALENTINA, L. V. D.; FRANCO, A. C. Monitorando o desempenho

ambiental das organizações através da produção mais limpa ou pela avaliação do ciclo de

vida. Revista Produção On-line . Florianópolis: ABEPRO/UFSC, v. 7, n. 3, 2007.

Disponível em: <http://producaoonline.org.br/rpo/article/view/66/66>. Acesso em: 1º

jun. 2013.

LEITE, P. R. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice

Hall, 2003.

MOREIRA, J. C. T. (Coord.) Gerência de produtos. São Paulo: Saraiva, 2004.

SANTOS, K. DOS; SANTOS, J. B. DOS. Concepção e prática dos 3Rs – reduzir, reutilizar e

reciclar na indústria eletromecânica de Mossoró. In: IV Congresso de Pesquisa e

Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica. Belém: IFPA, 2009.

Disponível em: <http://connepi2009.ifpa.edu.br/connepi-anais/artigos/47_3125_796.pdf>.

Acesso em: 25 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 81


SENAI-RS. Implementação de Programas de Produção mais Limpa. Porto Alegre:

Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI-RS/UNIDO/INEP, 2003. Disponível em:

<http://srvprod.sistemafiergs.org.br/portal/page/portal/sfiergs_senai_uos/senairs_uo697/

proximos_cursos/implementa%E7%E3o%20PmaisL.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2013.

SILVA, V. M. D. S et al. Uma visão sobre os conceitos básicos de logística reversa. In:

XIII Simpósio de Engenharia de Produção. Bauru: 2006. Disponível em:

<http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/anais_13/artigos/170.pdf>. Acesso em 1º jun.

2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 82


Aula 6: Ecodesign - o desenvolvimento de produtos
sustentáveis

Introdução
Entende-se que o desenvolvimento sustentável seja fundamental para o
crescimento econômico, simultaneamente no que se refere à preservação do meio
ambiente e à melhoria das condições sociais. O ecodesign é uma alternativa de
projeto que propõe que as análises dos aspectos econômicos e ecológicos
caminhem juntas no projeto de produtos. (BORCHARDT et al.)

O desenvolvimento econômico observado nos países emergentes propiciou o ingresso de

milhões de indivíduos ao mundo do consumo. A demanda por produtos antes

considerados supérfluos ou inacessíveis aumentou expressivamente. Hoje, os

consumidores de celulares, televisores, aparelhos de ar condicionado, cosméticos,

vestuário, alimentação e automóveis, dentre outros bens, cresce exponencialmente, com

destaque aos mercados dos países emergentes.

Por outro lado, esta pujança econômica agravou as questões socioambientais em uma

escala inédita. Dentre estas questões, podemos destacar a demanda acelerada por

matéria-prima, a altíssima geração de lixo e a obsolescência acelerada dos produtos.

Nesta aula, estudaremos como o conceito de ecodesign pode ser compreendido e aplicado

como um novo e urgente paradigma que poderá, gradativamente, minimizar os impactos

socioambientais aqui descritos.

Objetivos:

• Definir ecodesign.

• Explicar o papel e a importância do ecodesign na perspectiva do desenvolvimento

sustentável.

• Descrever as etapas de um projeto de ecodesign.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 83


Conteúdo

Introdução
Desde as origens da Revolução Industrial na Inglaterra do século XVIII, a sociedade tem

sido transformada profundamente e globalmente nas esferas econômica, social e

ambiental. A introdução de inovações tecnológicas, a consolidação do conceito de

indústria, o surgimento do proletariado e a primazia da vida urbana sobre a vida no

campo, dentre muitas outras mudanças, alterou definitivamente os rumos da história que

viria em seguida.

Já no século XX, figuras importantes como Henry Ford e Frederick Taylor ajudaram a

acentuar a aceleração industrial mundo afora, com especial enfoque nos países que

adotaram o sistema econômico capitalista.

No século XXI, vivemos outro momento transformador, no qual os países considerados

emergentes têm apresentado vigoroso crescimento econômico. Tanto a produção quanto

o consumo de produtos tem crescido em ritmo acelerado, alterando profundamente o

estilo de vida dos indivíduos.

Foi necessário traçar este rápido panorama evolutivo da nossa história recente para

compreendermos porque o tema do desenvolvimento sustentável é tão urgente nos dias

atuais. A industrialização desenfreada, a prática do consumismo e a explosão demográfica

nos centros urbanos têm gerado graves passivos ambientais e sociais.

A mistura de progresso com degradação em escala global torna essencial a discussão

sobre o controle mais rigoroso dos diversos danos socioambientais causados no decorrer

dos últimos séculos. Tal situação se agravou ao ponto de ser questionada a viabilidade da

vida humana no planeta nas próximas décadas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 84


Dentre as iniciativas surgidas para reverter este processo, focalizaremos na contribuição

do ecodesign , cujo conceito se fundamenta, de forma resumida, na criação e na

produção de produtos que propiciem a redução dos danos ambientais, conforme

estudaremos a seguir.

Ecologia industrial
Nosso ponto de partida está na compreensão de alguns fundamentos que sustentam a

noção de produção sustentável, tais como:

• priorizar o uso de recursos renováveis;

• racionalizar o uso de recursos não renováveis;

• evitar a emissão de resíduos que não são reabsorvidos pelo ecossistema;

• obedecer aos limites do espaço ambiental, principalmente dos países em

desenvolvimento (MANZINI E VEZZOLI apud BORCHARDT et al., 2008).

Estes princípios se correlacionam com um conceito denominado ecologia industrial,

segundo o qual os resíduos e as matérias-primas devem ser reciclados continuamente em

um sistema fechado ou quase fechado, no qual apenas a energia solar pode ser usada de

forma dissipada (BORCHARDT et al., 2008).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 85


Figura 6.1

Fonte: KAZAZIAN apud BORCHARDT et al., 2008

Para Ribeiro (2010), a ecologia industrial deve prevenir a emissão de poluentes, reciclar

material, reutilizar resíduos e estender a vida dos produtos. Este autor ainda cita que “é

possível organizar todo o fluxo de matéria e de energia que circula no sistema industrial

de maneira a torná-lo um circuito quase inteiramente fechado” (RIBEIRO, 2010).

No conceito de ecologia industrial, está prevista a formação de parques ecoindustriais

(RIBEIRO, 2010) ou de arranjos industriais (BORCHARDT et al., 2008), que estão

apoiados na complementaridade e na integração entre as unidades de produção ou entre

indústrias diferentes. De forma prática, os resíduos de uma unidade ou de uma indústria

podem ser repassados e aproveitados como matéria-prima em outra unidade ou indústria,

criando um círculo virtuoso.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 86


Figura 6.2

Fonte: TEIXEIRA E YOSHIKAWA, [S.I.] / Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT

Podemos considerar o conceito de ecologia industrial como o principal alicerce da

produção sustentável. Conforme observa Ribeiro (2010), “ao aplicar os princípios da

ecologia industrial, empresas ecorresponsáveis eliminam resíduos, reduzem desperdícios,

levam seus fornecedores a reduzir as emissões de carbono, promovem a eficiência

energética, redesenham processos, reciclam e reutilizam recursos e reduzem impactos

[...]” (RIBEIRO, 2010).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 87


O conceito de ecodesign
A preocupação com o desenvolvimento sustentável tem suas origens no século XIX,

conforme já estudamos na Aula 2. Por outro lado, foi na década de 60 que este

movimento começou a ganhar os contornos tal como conhecemos hoje (NAIME et al.,

2012).

O registro do primeiro projeto de produto sustentável se localiza na década de 70. Nesta

ocasião, pneus usados serviram como matéria-prima para produzir um sofá, sinalizando a

primeira tentativa de disseminar a ideia de reaproveitamento de materiais (NAIME et al.,

2012).

Figura 6.3

Fonte: NAIME et al., 2012 apud BÜRDEK, 1999.

Inspirada por estas iniciativas, foi na década de 90 que a American Electronics Association

estimulou o desenvolvimento de produtos eletrônicos com foco na redução dos impactos

ambientais.

Esta ação foi bem recebida por este setor e, aos poucos, disseminou-se nos meios

empresarial e acadêmico. Surgia o termo ecodesign (BORCHARDT et al., 2008).

Várias são as definições para o termo. Resumindo as principais, podemos dizer que:

O ecodesign é a integração sistemática de considerações ambientais no processo


de design de produtos (entendidos como bens e serviços). O principal objetivo do

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 88


ecodesign é desenvolver produtos que contribuem para a sustentabilidade, através
da redução do seu impacto ambiental ao longo do ciclo de vida, a par de requisitos
tais como funcionalidade, qualidade, segurança, custo, facilidade de produção,
ergonomia e estética. (ROCHA et al., 2011)

No ecodesign, o projetista seleciona e articula soluções de projeto segundo seu


impacto no ciclo de vida do produto: fabricação, embalagem, uso, troca de peças e
fim de vida. O projetista objetiva a utilização do produto, pois o mesmo não é
independente nem homogêneo e exige outros produtos e atores para a sua
fabricação, o seu transporte e o seu uso, em uma abordagem transversal e
multidisciplinar. (BORCHARDT et al., 2008)

Ecodesign é uma ferramenta de competitividade utilizada pelas empresas nas


áreas de arquitetura, engenharia e design, tanto no mercado interno quanto
externo, atendendo novos modelos de produção e consumo, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável através da substituição de produtos e processos por
outros menos nocivos ao meio ambiente. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, S.I.)

Conforme estudamos na Aula 4, podemos inferir que o conceito de ecodesign é um

modelo teórico e produtivo em resposta ao conceito de desenvolvimento de produtos

sustentáveis. Como modelo de produção, o ecodesign precisa seguir diretrizes que vão ao

encontro do objetivo geral de reduzir o impacto socioambiental do produto. Dentre estas

diretrizes, podemos citar:

• o uso de matérias-primas de baixo impacto ambiental, observando os princípios de

não toxicidade, da reciclagem, do reuso e da não emissão de resíduos;

• a simplicidade e a modularidade do produto, observando o uso de menos matéria-

prima, a facilidade na montagem/desmontagem e a facilidade de substituição de peças em

detrimento da troca do produto;

• redução do consumo de energia, observando os princípios da ecologia industrial,

conforme já estudado nesta aula;

• uso de energia limpa e renovável, tais como a eólica e a solar;

• a extensão da vida útil do produto, evitando o descarte prematuro;

• o reaproveitamento de embalagens e o uso de refis;

• a garantia da segurança para funcionários e consumidores, observando a não

utilização de materiais tóxicos ou substâncias perigosas e a preferência por componentes

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 89


à base de água em vez de hidrocarboneto (adaptado de VENZKE apud BORCHARDT et al.,

2008).

Figura 6.4 – Energia eólica

Fonte: Info Exame

Etapas de um projeto de ecodesign


Para compreendermos como um projeto de ecodesign deve ser realizado na prática,

vamos recorrer ao passo a passo elaborado por Rocha et al. (2011), devidamente

adaptado para esta aula.

De acordo com este modelo proposto por Rocha et al. (2011), as seguintes sete etapas (já

com adaptações) devem ser executadas em um projeto de produto à luz do ecodesign:

1) Planejamento do projeto

2) Análise do produto

3) Definição das diretrizes do projeto

4) Desenvolvimento do conceito do produto

5) Detalhamento do produto
GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 90
6) Produção e lançamento

7) Avaliação do produto e do projeto

Agora, vamos analisar cada etapa em maior profundidade.

1) Planejamento do projeto

1.1) Compromisso da alta gestão com o projeto – o primeiro passo é garantir o

envolvimento e o comprometimento dos gestores da alta gestão com o projeto (top-

down). Os principais líderes devem ser os primeiros a seguir e a cobrar a cultura do

ecodesign para toda a organização.

1.2) Definição da equipe do projeto – recomenda-se que esta equipe seja pequena e bem

organizada, com foco nas seguintes especialidades: design, produção e gestão

socioambiental. No decorrer da execução do projeto, outros especialistas devem ser

envolvidos (tais como qualidade, marketing e logística, entre outros), pois o ecodesign é

um processo de desenvolvimento de um produto sustentável que requer uma postura

multidisciplinar ao longo de todas as etapas e subetapas. Nas decisões mais complexas, a

alta gestão deve estar diretamente envolvida.

1.3) Definição da justificativa do projeto – considere os objetivos do seu negócio e o grau

de inovação que sua empresa pretende conquistar, assim como os ganhos

socioambientais e os ganhos econômicos. Uma sugestão é recorrer ao modelo triple

bottom line, conforme estudamos na Aula 4.

1.4) Seleção do produto-alvo – se esta for a primeira experiência de sua empresa em

projeto de ecodesign, o recomendável é selecionar apenas um produto e elegê-lo como

produto-piloto. A escolha deve estar fundamentada em dois fatores: o alinhamento deste

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 91


produto com a justificativa do projeto (item 1.3) e o grau de complexidade deste produto,

sendo que o ideal é iniciar com um produto mais simples.

1.5) Elaboração do briefing – o briefing é um documento no qual constará uma breve

descrição do projeto e do produto. Este servirá como um guia tanto para a equipe quanto

para parceiros externos (por exemplo, fornecedores e intermediários da cadeia).

1.6) Elaboração do plano do projeto – Faça a estruturação do plano de acordo com as 8

etapas aqui previstas, indicando as ações, os responsáveis, os recursos necessários e os

prazos.

2) Análise do produto

2.1) Definição da unidade de negócios – a unidade de negócios pode ser uma já existente

na estrutura da empresa. Esta unidade ficará responsável por gerenciar o produto,

incluindo a avaliação de impacto socioambiental e a avaliação econômica.

2.2) Análise de mercado – considere questões como dimensionamento do mercado, taxa

de crescimento, rentabilidade, custos e fatores psicográficos.

2.3) Análise ambiental – identifique os principais impactos propiciados (ou que podem ser

propiciados) pelo produto. Correlacione estes impactos a estágios específicos no ciclo de

vida do produto.

2.4) Análise econômica – deve ser estudada a viabilidade econômica do projeto para o

negócio, assim como o potencial de rentabilidade para a empresa, os custos envolvidos e

a relação custo-benefício.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 92


2.5) Análise dos requisitos legais – é fundamental se certificar de que seu produto está em

conformidade com os diversos aspectos legais que envolvem o projeto. A depender do

produto em questão, há regulamentos e normas específicas para cada caso. Consulte

órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, as agências reguladoras, o Inmetro e a

(ABNT), dentre outras possibilidades. Informe-se também com as entidades do seu setor,

tais como associações e sindicatos.

2.6) Ecobenchmarking – faça uso da metodologia do benchmarking com foco na análise

das características de sustentabilidade. Compare seu produto com similares no seu próprio

negócio, nos seus concorrentes ou em negócios de outros setores que tenham experiência

com ecodesign.

3) Definição das diretrizes do projeto

Nesta etapa, a equipe deve definir, em conjunto com as demais áreas envolvidas no

projeto, as diretrizes que nortearão o desenvolvimento, a produção e a comercialização do

produto à luz do ecodesign. Dentre estas diretrizes, podemos destacar as seguintes

possibilidades:

- seleção de matéria-prima de baixo impacto socioambiental;

- redução do uso de matéria-prima;

- uso de técnicas de produção mais limpa;

- extensão da vida útil do produto;

- investimento em logística reversa.

4) Desenvolvimento do conceito do produto

De acordo com Rocha et al. (2011), esta etapa “tem como objetivo desenvolver ideias e

propostas sobre como melhorar o produto [...], como desenvolver uma ideia de negócio

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 93


(produto e/ou serviço) ambientalmente adequada, com uma boa relação custo-benefício e

que satisfaça as necessidades dos clientes.” (ROCHA et al., 2011, p. 27).

Portanto, a equipe precisará definir um conceito para o produto em questão. Isto significa

que uma identidade deve ser criada para este produto, de forma que a proposta de

valor seja claramente informada para seu mercado-alvo.

O conceito do produto pode estar focalizado em aspectos racionais (durabilidade,

economia e baixa emissão de resíduos, entre outros) ou em aspectos

emocionais/subjetivos (imagem a ser agregada, tais como status, modernidade e senso de

coletividade etc.).

5) Detalhamento das especificações do produto

5.1) Definição das especificações – a equipe deve integrar profissionais como designers,

engenheiros, gestores de produção, profissionais de marketing e fornecedores para

detalhar as especificações do produto. Estas especificações podem ser:

- Técnicas: forma, dimensão, propriedades, tipo de material, técnicas de produção,

normas.

- Qualidade e segurança: requisitos legais, avaliação dos riscos de produção e de

consumo, definição dos tipos de testes.

- Ambientais: matéria-prima reciclada ou reusada, energia renovável, produção mais

limpa.

- Econômicos: investimentos na produção, investimentos de marketing, avaliação de

custos, retorno financeiro.

- Requisitos legais: regulamentos e normas que afetam este produto.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 94


5.2) Desenvolvimento do protótipo – o protótipo do produto será fundamental para a

realização dos testes, o que facilitará possíveis ajustes no projeto e no produto.

6) Produção e lançamento

6.1) Produção – após a conclusão do desenvolvimento do produto, já devidamente

homologado, será iniciada a fase de produção. Todos os detalhes da linha de produção

devem estar em conformidade com as especificações definidas na Etapa 5.

6.2) Comunicação interna do produto – os resultados do projeto, assim como o produto

final, devem ser amplamente comunicados e compartilhados com toda a empresa. Desta

forma, todos deverão ter conhecimento do produto e deverão estar alinhados com os

objetivos a serem conquistados.

6.3) Lançamento no mercado – este é um momento crítico para o projeto, pois o produto

finalmente será comunicado, ofertado e transacionado com os clientes. Tanto a empresa

quanto seus parceiros externos (fornecedores e intermediários de cadeia) devem estar

integrados e alinhados. Recomenda-se que o perfil sustentável do produto seja enfatizado

nesta etapa.

7) Avaliação do produto e do projeto

7.1) Avaliação do projeto – faça uma análise crítica da condução deste projeto, avaliando

a metodologia utilizada, a participação das equipes envolvidas, a condução dos processos

e as possíveis falhas cometidas no decorrer do projeto.

7.2) Avaliação do produto – Propicie o feedback dos clientes, dos funcionários, dos

parceiros externos e demais stakeholders. Potencialize os pontos fortes do produto e

organize-se para melhorar os pontos fracos apontados nestes feedbacks.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 95


7.3) Elaboração do relatório de avaliação – a formalização por meio de um relatório é

fundamental tanto como registro formal quanto como ferramenta de compartilhamento de

experiências e de resultados.

Atividade proposta
Leia a matéria “Marks & Spencer lança sofá ecológico de fibra de coco”, disponível em
nosso material complementar.
Após analisar esta matéria, reflita sobre a seguinte questão: o sofá ecológico da Marks &
Spencer pode ser considerado um projeto de ecodesign? Justifique sua posição com o
referencial teórico estudado nesta aula.

Exercícios de Fixação
Questão 1: Qual das seguintes premissas NÃO está prevista no conceito de ecologia

industrial?

a) ( ) Prevenir a emissão de poluentes.

b) ( ) Priorizar o uso de energia limpa e renovável.

c) ( ) Reutilizar resíduos por meio de arranjos produtivos.

d) ( ) Estender a vida útil dos produtos.

e) ( ) Promover sistemas abertos de geração de resíduos.

Questão 2: O ecodesign valoriza a simplicidade e a modularidade do produto. Qual das

seguintes alternativas explica corretamente estas características?

a) ( ) A simplificação nas planilhas de custo da empresa, priorizando os benefícios

financeiros advindos dos ganhos socioambientais.

b) ( ) O uso de menos matéria-prima, a facilidade na montagem/desmontagem e a

facilidade de substituição de peças em detrimento da troca do produto.

c) ( ) A garantia da segurança para funcionários e consumidores, observando a não

utilização de materiais tóxicos ou substâncias perigosas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 96


d) ( ) A redução de etapas no processo de produção, promovendo a terceirização de

processos fora do escopo de negócios da empresa.

e) ( ) Todas as alternativas acima explicam a simplicidade e a modularidade do produto.

Questão 3: A análise dos requisitos legais de um produto fruto de um projeto de

ecodesign deve considerar:

a) ( ) O pagamento dos tributos que serão cobrados da empresa.

b) ( ) A contratação de um advogado especializado em gestão ambiental.

c) ( ) A conformidade com os regulamentos e as normas que envolvem este produto.

d) ( ) Os limites de ganhos financeiros que serão propiciados por um produto sustentável.

e) ( ) A prestação de contas com as organizações não governamentais.

Aprenda mais
Visite o site do Ministério do Meio Ambiente, com especial atenção aos links referentes ao

ecodesign, no endereço <http://www.mma.gov.br/component/k2/item/7654>.

Referências
BORCHARDT, M. et al. Considerações sobre ecodesign: um estudo de casos na indústria

eletrônica automotiva. Ambiente e Sociedade. Campinas: PROCAM-USP, v. 9, n. 2,

2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/asoc/v11n2/v11n2a09.pdf>. Acesso em:

10 jun. 2013.

NAIME, R.; ASHTON, E.; HUPFFER, H. M. Do design ao ecodesign: pequena história,

conceitos e princípios. Rev. Elet. Em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental.

Santa Maria: UFSM, v. 7, n. 7, 2012. Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-

2.2.2/index.php/reget/article/view/5265/3630>. Acesso em: 11 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 97


RIBEIRO, M. A. Ecologia Industrial. Portal do Meio Ambiente. Niterói: REBIA, 2010.

Disponível em: <http://www.portaldomeioambiente.org.br/blogs/mauricio-andres-

ribeiro/4516-ecologia-industrial>. Acesso em: 29 jun. 2013.

ROCHA, C. (Coord.) Manual de Ecodesign – InEDIC. Lisboa: InEDIC, 2011. Disponível

em: <http://www.adam-europe.eu/prj/5887/prd/1/2/InEDIC_MANUAL_PT.pdf>. Acesso

em: 10 jun. 2013.

TEIXEIRA, C. E.; YOSHIKAWA, N. K. Ecologia industrial e sustentabilidade. Instituto de

Pesquisas Tecnológicas – IPT. São Paulo: IPT, [S.I.]. Disponível em:

<http://www.ipt.br/colunas_tecnicas/17.htm>. Acesso em: 29 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 98


Aula 7: Branding de sustentabilidade

Introdução
Na medida em que as marcas mais poderosas do mundo almejam agregar valores
socioambientais, os líderes de negócios e os profissionais de marketing enfrentam
o novo desafio de diferenciar suas empresas, seus produtos e seus serviços em um
mercado cada vez mais ocupado por competidores sustentáveis. (BEMPORAD;
BARANOWSKI)

No contexto do desenvolvimento sustentável e dos produtos sustentáveis, a atividade do

branding também precisou se reinventar. Mais conhecida como a função do marketing

responsável pela gestão da marca, o branding precisou ir além do tradicional papel de

guardião da imagem de uma empresa e de seus produtos. Hoje, ele precisa investir em

ações dialógicas e em relacionamento.

Esta nova postura do branding também deve se alinhar com a responsabilidade

socioambiental que os consumidores esperam identificar nas empresas e em seus

produtos. Soma-se a isso o fato de os consumidores estarem mais bem informados e o

aumento do grau de competitividade, inclusive em termos qualitativos. São estes os

principais desafios que o branding de sustentabilidade precisará enfrentar no século XXI,

conforme estudaremos nesta aula.

Objetivos:

• Definir branding e brand equity.

• Definir branding de sustentabilidade.

• Explicar os princípios que norteiam o branding de sustentabilidade.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 99


Conteúdo

Introdução
Você possivelmente já ouviu, leu ou até mesmo replicou uma ou mais destas afirmativas:

• O consumidor de hoje é cada vez mais volátil. Ele não se prende a uma marca, pois

se permite experimentações.

• Está mais difícil conquistar o consumidor. Ele está mais exigente e mais crítico.

• A mente e o comportamento do consumidor são caixinhas de surpresa. Ninguém

mais pode garantir que entende destas caixinhas com tanta segurança e precisão.

• Não é só o preço que atrai o consumidor. Precisamos daquele “algo a mais” para

atraí-lo e conquistá-lo.

Se estas frases soam familiares para você, podemos dizer que temos um bom começo

para entendermos a importância do tema desta Aula 7. Em mercados e setores tão

complexos, competitivos e multifacetados como aqueles que temos hoje, o papel do

branding tem assumido uma posição de alto valor estratégico. Conforme vimos

anteriormente, apenas um bom preço não é suficiente para conquistar o consumidor e

muito menos para mantê-lo.

O consumidor de hoje é mais crítico e mais complexo. Por outro lado, este mesmo

consumidor também tem sido desafiado ao estar exposto a uma profusão de ofertas,

marcas e signos que podem deixá-lo atordoado em muitos momentos. Se por um lado há

muitas opções para serem avaliadas, por outro esta multiplicidade de informações pode

confundir o processo de decisão de compra do consumidor.

Conforme estudaremos a seguir, vamos entender como o branding pode ser uma teoria e

uma atividade importantes nesta era de superlativos, com especial destaque ao papel do

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 100


branding para os produtos e as marcas que são construídas à luz da filosofia do

desenvolvimento sustentável.

Marca
Nosso primeiro passo será entender o conceito de marca. Uma das definições mais usadas

e citadas por autores e profissionais de marketing é aquela criada pela American

Marketing Association (AMA), “marca é um nome, termo, símbolo, desenho ou uma

combinação desses elementos que deve identificar os bens ou serviços de um fornecedor

ou grupo de fornecedores e diferenciá-los dos da concorrência” (AMA apud KELLER;

MACHADO, 2006, p. 2).

Keller e Machado (2006) fazem uma análise crítica desta definição da AMA. De acordo

com estes autores, o nome, o termo, o símbolo e o desenho são os elementos de uma

marca, e não a marca propriamente dita.

Logo, qual conceito de marca podemos usar? De forma bem simples, vamos lembrar que

a marca é uma forma de “batizar” um fornecedor e seus produtos (sejam estes bens ou

serviços). Assim como um indivíduo precisa ter o registro de um nome ao nascer, a

comparação também vale para o nascimento de uma empresa e de seus respectivos

produtos.

Entretanto, não basta apenas que um nome seja registrado. Este nome deve representar

a identidade desta empresa e/ou deste produto. É o que chamamos de associação, ou

seja, a marca é a ponte que liga o produto à sua identidade.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 101


A escolha do nome de uma marca é um processo conhecido como Naming. Esta é,

provavelmente, a etapa mais difícil na construção de uma marca. O nome da marca

precisa considerar uma série de associações, dentre as quais podemos destacar:

• o benefício central do produto;

• a sonoridade do nome;

• a originalidade do nome;

• a facilidade de lembrança do nome;

• a imagem que se deseja projetar com este nome;

• possíveis promessas racionais que devem ser projetadas com este nome.

Figura 7.1 – Exemplos de marcas brasileiras consagradas

Fontes: <http://www.bradesco.com.br/html/classic/index.shtm>;

<http://www.natura.net/br/index.html>; <http://www.petrobras.com.br/pt/>.

Hoje, o consumidor está mais habituado ao uso de ferramentas sofisticadas de tecnologia

da comunicação, com especial destaque aos dispositivos móveis como celulares,

smartphones e tablets. Logo, podemos inferir que a marca que deseja sobreviver e

progredir neste cenário precisa incorporar características exigidas por estes consumidores

hiperconectados, tais como a capacidade de interação, o imediatismo e o valor agregado

(DIAS, 2011, p. 68).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 102


Com relação aos papéis que uma marca desempenha, podemos analisá-los em duas

perspectivas: a do consumidor e a do fornecedor.

A figura abaxo ilustra bem estes papéis dos dois lados:

Figura 7.2

Fonte: KELLER; MACHADO, 2006, com adaptações.

Criar e administrar uma marca têm sido uma atividade muito mais complexa. Dentre as

diversas justificativas que podem ser explicadas, vamos nos concentrar nas seguintes, de

acordo com a perspectiva de Keller e Machado (2006):

Os clientes estão mais críticos e mais bem informados – desde os primeiros

movimentos consumeristas na década de 1960 até os dias atuais, o consumidor tem

adotado uma postura muito mais ativa e reivindicadora. No Brasil, um importante fator foi

a instituição do Código Brasileiro do Consumidor em 1990, que trata “do conjunto de

normas que estabelece os direitos do consumidor e os deveres dos fornecedores de

produtos e serviços no país”, assim como “padrões de conduta, prazos e penalidades em

caso de desrespeito à lei”.

(BRASIL. S.I. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/para/servicos/defesa-do-

consumidor/codigo-defesa-consumidor>).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 103


Os clientes têm maior poder de barganha – na medida em que os clientes se

qualificam, estes também passam a ter acesso a tecnologias de comunicação inéditas e

propiciadas pela internet. O grande marco foi a popularização das redes sociais, pelas

quais o consumidor pode atuar como juiz das empresas e dos produtos, além de

disseminar exponencialmente suas experiências e as de outros consumidores.

Proliferação de novas marcas e produtos – está cada vez mais difícil se diferenciar

dos competidores. Logo, um dos principais atributos diferenciadores que restam aos

fornecedores é a marca, que pode conjugar aspectos afetivos com aspectos racionais.

Mesmo assim, administrar uma marca neste cenário tão competitivo tornou-se uma

atividade especialmente desafiadora.

Mídia fragmentada – a popularização da internet e das emissoras pagas mudou

significativamente o comportamento do consumidor perante os meios e seus respectivos

veículos. Se até a década de 1990 a veiculação de um comercial em uma emissora líder da

TV aberta representava retorno garantido, hoje esta lógica tem sido muito questionada.

Grande parte deste público, antes cativo, agora migra para a internet e para as opções

pagas da TV. Administrar uma marca em meio a este público consumidor tão difuso exige

estudo, pesquisa, planejamento e controle muito criterioso.

Aumento dos custos e pressão por resultados financeiros – diante de um público

mais exigente, das mídias fragmentadas e do alto grau de competitividade, o custo para

lançar ou manter uma marca tem crescido nas últimas décadas. Some-se a isto a intensa

pressão por resultados financeiros aos quais os profissionais de marketing têm sido

submetidos. Não é raro que estes fatores, em conjunto, incentivem “soluções paliativas

rápidas, cujas consequências talvez sejam adversas no longo prazo” (KELLER; MACHADO,

2006, p. 29).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 104


Brand equity
Após compreendermos o que são uma marca e suas principais implicações, vamos discutir

um segundo conceito fundamental: o brand equity. Em uma tradução livre, brand equity é

o “patrimônio da marca” ou “valor patrimonial da marca”. O que se entende por

patrimônio?

Toda marca é composta por um “conjunto de atributos intangíveis [...] representado por

todas as associações positivas (funcionais ou emocionais) relacionadas à marca” (SANTOS

apud KELLER; MACHADO, 2006, p. 30). E quais são estes atributos intangíveis? A

preocupação com a sustentabilidade socioambiental pode ser um exemplo, assim como a

excelência na seleção da matéria-prima. O brand equity é este conjunto de atributos

intangíveis positivos que assume o papel de valor patrimonial da marca.

Outra definição que podemos destacar é a seguinte: “brand equity é o valor adicional da

marca sob o prisma do consumidor e da empresa que a possui para diferenciar seus

produtos [...] e a própria organização” (SAMPAIO apud KELLER; MACHADO, 2006, p.30).

Ainda segundo este autor, para o consumidor o brand equity justifica o quanto ele se

dispõe a pagar pelo produto (design, durabilidade, prestígio, status), enquanto para a

empresa o brand equity propicia o aumento de share of mind (quantas pessoas se

lembram da minha marca), de share of heart (quantas pessoas preferem a minha marca)

e de market share (qual a participação da minha marca no mercado).

Por fim, existe a definição de Martins (2006), segundo a qual o brand equity “é tudo

aquilo que uma marca possui, de tangível e intangível”, além de ser “a somatória dos

valores e atributos das marcas, que devem se transformar em lucros para os seus

proprietários e acionistas” (MARTINS, 2006, p. 193).

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 105


Em uma visão prática, a empresa precisa estar apta a avaliar seu brand equity, inclusive

em termos monetários. Existem consultorias especializadas neste tipo de atividade que

utilizam diferentes metodologias. Em uma visão geral, podemos destacar alguns atributos

que são considerados para efeito de avaliação do brand equity, tais como: patentes,

copyright, licenças, análise de custos e valor de mercado comparado (MARTINS, 2006).

Branding
Com os conceitos de marca e de brand equity estudados, vamos definir a atividade do

branding.

Para Keller e Machado (2006), branding compreende as atividades que otimizam e

facilitam a gestão de uma marca, tornando-a um diferencial competitivo. Dentre estas

atividades, os autores citam o design, o naming, a proteção legal, a pesquisa de mercado,

o posicionamento e a comunicação.

Na visão de Martins (2006), “branding é o conjunto de ações ligadas à administração das

marcas [...] que, tomadas com conhecimento e competência, levam as marcas além de

sua natureza econômica, passando a fazer parte da cultura e influenciar a vida das

pessoas” (MARTINS, 2006, p. 8).

Ainda podemos acrescentar que o branding é uma atividade centrada na gestão da marca

em seus múltiplos aspectos, cujo papel é especialmente importante nesta era de

hipercompetitividade e de commoditização dos produtos, ou seja, um produto tende a ter

menor capacidade de diferenciação em comparação aos seus concorrentes. Logo, uma

marca forte, bem construída e com alto brand equity será uma forma de diferenciar seu

produto para além dos atributos tradicionais.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 106


Figura 7.3 – As marcas brasileiras mais valiosas em 2012 –

Fonte: Interbrand - Disponível em:

<http://www.interbrand.com/Libraries/Branding_Studies_Portuguese/Marcas_Brasileiras_

Mais_Valiosas_-_2012.sflb.ashx>.

Branding de sustentabilidade
O fortalecimento da filosofia do desenvolvimento sustentável tem mudado

significativamente a forma como as empresas conduzem seus negócios. Apesar de este

movimento ainda ser incipiente em muitos mercados, é inegável que a pressão social por

este tipo de atitude vem crescendo.

A proliferação de termos relativos à questão da sustentabilidade é um importante sinal

deste avanço. A imprensa e o meio empresarial têm criado e disseminado expressões

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 107


como negócio verde, ecoeficiência, biocapacidade, consumo consciente e pegada

ecológica, dentre muitos outros.

Para Dias (2011), esta perspectiva do desenvolvimento sustentável redefine a atividade do

branding. Hoje, a marca deve ser compreendida e construída como uma imagem

consistente da empresa e do produto, agregando valores como ética, justiça e

humanidade. A marca deve ser cada vez mais simbólica e cultural.

Esta análise está alinhada com o paradigma do Marketing 3.0, conforme estudamos na

Aula 1. O consumidor se vincula a uma marca na medida em que nela identifica valores

humanos e socioambientais, compreendendo que aquela marca assume um papel de

responsabilidade perante as questões que mais mobilizam a agenda da sustentabilidade.

Bemporad e Baranowski (2008) destacam os seguintes cinco princípios que orientam o

branding de sustentabilidade:

1) Integração entre promessa e ação – os consumidores estão mais críticos e mais

vigilantes quanto à coerência entre o discurso da empresa e as ações práticas, exigindo

produtos realmente sustentáveis.

2) Copropriedade – as empresas devem entender que sua marca e seu negócio não

pertencem unicamente ao proprietário ou aos acionistas, pois os stakeholders exigem uma

participação cada vez mais ativa, influenciando inclusive nas decisões da empresa.

3) Proposição de triplo valor – as marcas sustentáveis devem se fundamentar em três

valores: os benefícios práticos do produto, os benefícios socioambientais do produto e os

benefícios comunitários do produto.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 108


4) Transparência – a comunicação das ações e dos resultados das empresas deve ser

feita de forma consistente e transparente, comprovando aos stakeholders a efetividade da

postura de responsabilidade socioambiental da empresa.

5) Participação – a empresa na era da sustentabilidade deve construir sua marca

ouvindo o consumidor e recorrendo a suas diversas experiências, utilizando este

conhecimento como capital para o seu negócio.

Assim como Bemporad e Baranowski (2008) criaram sua perspectiva sobre o branding de

sustentabilidade, outro autor, chamado Maddock (2010), também sugere uma abordagem

que pode ser vista como complementar à primeira que analisamos. Para Maddock (2010),

o branding de sustentabilidade deve se apoiar nos seguintes cinco princípios:

1) seja competitivo por meio de inovações sustentáveis;

2) relacione-se com seu consumidor e entenda quais soluções sustentáveis ele deseja;

3) desenvolva soluções sustentáveis com foco no seu core business;

4) mantenha uma comunicação aberta e dialógica com seu consumidor;

5) comprove credibilidade em sua postura sustentável por meio de resultados

concretos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 109


Figura 7.4 – As 50 marcas mais sustentáveis do mundo

Fonte: INTERBRAND/BEST GLOBAL GREEN BRANDS – Publicado em Exame.com

Atividade proposta
Assista ao vídeo de apresentação da linha Ecobril, da empresa Bombril, disponível em
nossa galeria de vídeos.
Após assistir a este vídeo, reflita sobre as seguintes questões: quais são os valores que
compõem o brand equity da marca Ecobril? E como este brand equity se apoia na
filosofia do desenvolvimento sustentável?

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 110


Exercícios de fixação
Questão 1: Qual das seguintes premissas NÃO está prevista no processo de naming de

uma marca?

a) ( ) O benefício central do produto.

b) ( ) A sonoridade do nome.

c) ( ) A imagem que se deseja projetar com este nome.

d) ( ) Possíveis promessas racionais que devem ser projetadas com este nome.

e) ( ) A associação com o sobrenome do fundador da empresa.

Questão 2: Sobre o brand equity, qual alternativa explica corretamente este conceito?

a) ( ) É a construção de um fundo de investimento no qual a empresa deposita o lucro

obtido pela venda da marca.

b) ( ) É a somatória dos valores e atributos das marcas, que devem se transformar em

lucros para os seus proprietários e acionistas.

c) ( ) É a garantia que uma empresa deve fornecer ao consumidor quanto ao

cumprimento das promessas de venda de um produto.

d) ( ) É a igualdade, em termos de peso de importância, entre os elementos de uma

marca, tais como nome, símbolo e desenho.

e) ( ) Todas as afirmativas estão erradas.

Questão 3: Na perspectiva de Bemporad e Baranowski (2008), o branding de

sustentabilidade deve se apoiar nos seguintes princípios:

a) ( ) Integração entre promessa e ação e proposição de triplo valor.

b) ( ) Redução de custos de comunicação e participação do consumidor.

c) ( ) Prioridade às questões de reuso/reciclagem/redução e copropriedade.

d) ( ) Redução da margem de lucro do negócio e proposição de triplo valor.

e) ( ) Prestação de contas com as organizações não governamentais e copropriedade.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 111


Referências
BEMPORAD, R.; BARANOWSKI, M. Branding for sustainability – Five principles for

leveraging brands to create shared value. In: BBMG. New York: BBMG, 2008. Disponível

em:

<http://www.packagedesignmag.com/sites/www.packagedesignmag.com/files/BBMG_sust

ainability_white_paper_0.pdf >. Acesso em: 16 jun. 2013.

DIAS, H. Eco-branding – a revolution in the new media age. Comunicação e

Sociedade. Braga: CECS/Universidade do Minho, v. 19, 2011. Disponível em:

<http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/comsoc/article/view/898/858>. Acesso em

1º jul. 2013.

KELLER, K. L.; MACHADO, M. Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson,

2006.

MADDOCK, G. M. The five C´s of sustainability branding. In: Bloomberg Businessweek.

New York: Bloomberg, 2010. Disponível em:

<http://www.businessweek.com/managing/content/aug2010/ca2010089_664415.htm>.

Acesso em: 16 jun. 2013.

MARTINS, J. R. Branding – um manual para você criar, gerenciar e avaliar

marcas. São Paulo: Global Brands, 2006. Disponível em:

<http://www.globalbrands.com.br/artigos-pdf/livro-branding-o-manual-para-voce-criar-

gerenciar-e-%20avaliar-marcas.pdf>. Acesso em 1º jul. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 112


Aula 8: Posicionamento, embalagem e rotulagem de
produtos sustentáveis

Introdução
A sustentabilidade deve ser a base para a inovação empresarial e, no futuro,
somente quem fizer da sustentabilidade uma meta terá vantagem competitiva”.
(Mario Sergio C. Alencastro)

A decisão de se posicionar como empresa sustentável não deve ficar restrita ao discurso.

Este compromisso deve ser assumido na cultura organizacional e, principalmente, nas

ações que são realizadas pelas diversas áreas e instâncias do negócio. O modo de

produção e as relações da empresa com os stakeholders precisam seguir os preceitos da

sustentabilidade.

Nesta última aula, vamos estudar como o conceito de posicionamento deve ser avaliado e

executado por empresas sustentáveis. Também estudaremos as implicações práticas no

campo da embalagem e da rotulagem de produtos sustentáveis, que são fundamentais

tanto para sinalizar o compromisso da empresa com a sustentabilidade, quanto para

facilitar a comunicação deste compromisso ao consumidor.

Objetivos:

• Definir posicionamento competitivo sustentável.

• Explicar os elementos que compõem uma embalagem sustentável.

• Explicar os elementos da rotulagem ambiental.

Conteúdo

Introdução
Na medida em que se fortalece o paradigma do desenvolvimento sustentável, maior será

a pressão social sobre as empresas e sobre o Governo para que seus produtos (tanto bens

quanto serviços) sejam igualmente sustentáveis. Esta nova postura implica na necessidade

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 113


de rever e harmonizar a relação de uma empresa com seus diversos stakeholders, dentre

os quais se inclui o consumidor.

Entretanto, mais do que enfatizar o desenvolvimento sustentável no discurso, é

fundamental que as empresas apliquem em seu cotidiano os princípios que norteiam um

negócio sustentável. As ações práticas devem se apoiar na perspectiva da

responsabilidade socioambiental, sempre em equilíbrio com os objetivos econômicos e

mercadológicos da empresa.

Dentre as várias ações práticas que podem se apoiar no paradigma do desenvolvimento

sustentável, podemos destacar duas que são altamente impactantes aos olhos e à

experiência do consumidor: a embalagem e a rotulagem dos produtos. Apesar de a

embalagem e da rotulagem serem aspectos especialmente sensíveis à fabricação e à

oferta de bens, também podemos aplicar estes princípios na produção e na oferta de

serviços.

Nesta última aula da nossa disciplina, estudaremos a importância do posicionamento

competitivo para as empresas, com enfoque no desenvolvimento sustentável. Também

estudaremos como este posicionamento pela sustentabilidade pode ser traduzido na

embalagem e na rotulagem dos produtos.

Posicionamento competitivo
Sua empresa e seus respectivos produtos devem ser facilmente reconhecidos por seu

consumidor. Esta é uma condição essencial para que sua marca seja lembrada, citada e

preferida nos mercados em que ela está presente e atuante. Entretanto, este

reconhecimento não é conquistado imediatamente nem aleatoriamente.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 114


A construção e a conquista deste reconhecimento é um dos objetivos centrais do processo

de posicionamento de uma empresa e, em consequência, do posicionamento de sua

marca e de seus produtos. Mas como uma empresa constrói seu posicionamento?

Para Kotler e Keller (2012), posicionamento consiste em projetar o produto e a imagem da

empresa na mente dos consumidores, de forma que sua marca conquiste um lugar

diferenciado. O posicionamento deve explicitar a essência da marca, “identificando os

objetivos que ela ajuda o consumidor a alcançar e mostrando como isso é feito de

maneira inigualável” (KOTLER; KELLER, 2012, p. 294).

Hooley et al. (2011) definem posicionamento como “uma declaração de metas de

mercado, isto é, onde a empresa competirá, e da vantagem diferencial ou como a

empresa irá competir” (HOOLEY et al., 2011, p. 35). Ainda nesta perspectiva, o

posicionamento deve ser competitivo, ou seja, a empresa deve buscar e construir um

conjunto de diferenciais que a coloque em um patamar distinto dos seus competidores.

Se o posicionamento competitivo da empresa deve se apoiar em sua vantagem diferencial,

precisaremos, então, compreender este último conceito. De forma resumida, uma

vantagem diferencial é uma “competência distintiva em relação à concorrência” (HOOLEY

et al., 2011). Dentre os exemplos de vantagem diferencial, podemos citar a durabilidade

do produto, a qualidade da matéria-prima, o preço baixo, o prestígio da marca e o design,

dentre muitas outras possibilidades.

O que Hooley et al. (2011) chamam de vantagem diferencial, Kotler e Keller (2012)

chamam de proposição de valor focada no cliente. Os termos são diferentes, mas a ideia

central é similar. Observe na Figura 8.1 alguns exemplos práticos.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 115


Figura 8.1

Fonte: KOTLER; KELLER (2012)

Posicionamento competitivo sustentável


Na era da sustentabilidade, as estratégias de posicionamento das empresas tendem a

convergir gradualmente para este paradigma. Hart e Milstein (2004) sugerem o uso do

modelo do valor sustentável, segundo o qual as empresas devem se posicionar por meio

dos quatro motivadores globais de sustentabilidade.

O primeiro motivador global de sustentabilidade é a industrialização acelerada e suas

consequências (uso desordenado de matéria-prima, geração de resíduos, poluição,

alterações climáticas, impactos no ecossistema).

O segundo motivador é a complexidade das relações com os stakeholders, com destaque

para o fortalecimento de grupos de pressão como as organizações não governamentais e

demais organizações da sociedade civil.

O terceiro motivador é o conjunto de “tecnologias emergentes que oferecem soluções

poderosas e revolucionárias que podem tornar obsoletas as bases de muitas das atuais

indústrias que usam energia e matérias-primas de forma intensiva” (HART; MILSTEIN,

2004, p. 69). O foco destas tecnologias emergentes está no uso de alternativas limpas.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 116


Finalmente, o quarto motivador “relaciona-se com o aumento da população, da pobreza e

da desigualdade associado à globalização” (HART; MILSTEIN, 2004, p. 69), no qual o

desenvolvimento socioeconômico deve ser promovido de forma responsável e sustentável.

Na Figura 8.2 você poderá analisar como estes motivadores podem servir de ponto de

partida para a formulação do posicionamento competitivo sustentável de uma empresa.

Figura 8.2 – O modelo de valor sustentável e os motivadores globais de sustentabilidade

Fonte: HART; MILSTEIN (2004)

Embalagem
Inicialmente, a embalagem foi compreendida como um elemento do produto que,

conforme sugere o nome, embala e protege o conteúdo a ser vendido para o consumidor.

Ao cumprir esta função, a embalagem propicia não apenas o acondicionamento, mas

também o armazenamento, o transporte e a exposição do produto ao consumidor.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 117


Figura 8.3 – Evolução da embalagem do Leite Condensado Moça Nestlé

Fonte: Mundo do Marketing

De acordo com Mestriner (2007), o início do século XIX foi marcado pelo surgimento das

embalagens com maior apuro estético, graças ao trabalho desenvolvido por artistas como

pintores, ilustradores e gravadores. Nesta época, as artes das embalagens apresentavam

a estética art nouveau, que era o estilo característico deste período.

Figura 8.4 – Embalagem do Polvilho Antisséptico Granado, fabricado em 1903, com

estética art nouveau

Fonte: GRANADO

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 118


Décadas mais tarde, já em 1950, houve a crescente popularização do modelo de varejo

dos supermercados, consolidando o sistema de autosserviço, no qual o consumidor tem

acesso direto ao produto sem necessitar da intervenção de um balconista. Esta mudança

na relação entre consumidores e produtos foi fundamental para que a embalagem

ganhasse uma nova dimensão. Agora, a embalagem passa a ser responsável em

“apresentar, explicar e vender o produto, o que desencadeou uma verdadeira revolução

no design e na comunicação aplicados à embalagem” (MESTRINER, 2007, p. 4).

Na década de 1970, com o fortalecimento da atividade do marketing, a embalagem

acumula nova função. Desta vez, a embalagem é usada para ações de promoção de

vendas, incentivando “as vendas por meio da inclusão de figurinhas, estampas e pequenos

brindes” (MESTRINER, 2007, p. 5).

Hoje, a embalagem é uma ferramenta essencial na atividade do branding, pois propicia a

“sustentação ao trabalho de construção da imagem de marca”, além de ser fortemente

“utilizada para construir relacionamento com os consumidores” (MESTRINER, 2007, p. 5).

Também vale ressaltar que a embalagem tem sido amplamente utilizada como mídia, pois

ela pode ser utilizada como veículo de comunicação que transmite mensagens para o

consumidor.

Embalagem sustentável
A aplicação do conceito de sustentabilidade deve-se passar, em primeiro lugar, pelo

estudo da melhor solução de embalagem de acordo com o produto a ser acondicionado.

Pensando na proteção à saúde e ao bem-estar do consumidor, a empresa deve garantir

que a embalagem entregará um produto em conformidade com as exigências sanitárias e

de segurança em vigor no mercado em questão.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 119


O próximo passo é buscar soluções sustentáveis para a embalagem ao longo de seu ciclo

de vida, ou seja, desde seu desenvolvimento até seu descarte, a fim de “minimizar a

geração de resíduo e desperdício, prevendo a destinação final adequada, oferecendo o

reaproveitamento de seu material e não tendo efeitos indesejáveis no meio ambiente.”

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGEM. Disponível em:

<http://www.abre.org.br/comitesdetrabalho/meio-ambiente-e-

sustentabilidade/embalagem-sustentavel/>.)

Logo, o desafio da embalagem sustentável é equilibrar estas duas pontas: de um lado,

garantir o acondicionamento adequado do produto; do outro lado, garantir a minimização

dos impactos socioambientais da embalagem no decorrer do seu ciclo de vida.

Mohan (S.I.) desenvolveu os seguintes princípios (aqui apresentados com adaptações)

que devem ser seguidos por empresas que desejam se aprofundar no desenvolvimento e

na fabricação de embalagens sustentáveis:

1) Utilize a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), conforme estudamos na

Aula 5.

2) Avalie cada componente da sua embalagem, a fim de identificar pontos de melhoria

com foco no uso reduzido de matéria-prima e no uso de recursos limpos e renováveis.

3) Estude soluções que otimizem o custo de fabricação e de distribuição, pois já existe

tecnologia que propicia inovações como eliminar bandejas de papelão e reduzir o uso de

plástico, dentre outras.

4) Sempre que possível, invista em embalagens que possam ser reusadas pelo

consumidor, no aumento da vida útil da embalagem, e que possam ser recicladas,

propiciando a devolução delas ao ciclo produtivo da empresa.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 120


5) Pesquise a viabilidade de mudanças na fórmula do seu produto, investindo, por

exemplo, em produtos com fórmulas concentradas que diminuem o uso de água em sua

composição e que reduzem o tamanho da embalagem.

6) Conheça a origem da matéria-prima de sua embalagem e eleja fornecedores

comprovadamente alinhados com as práticas sustentáveis.

Figura 8.5 – Embalagem da água mineral Crystal, fabricado pela The Coca Cola Company,

cuja composição contém 30% de cana-de-açúcar.

Fonte: INSTITUTO AKATU

Figura 8.6 – Exemplos de produtos concentrados na linha de amaciantes de roupas

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 121


Fonte: Behind Brands

Rotulagem
A rotulagem consiste na inscrição de informações sobre o produto que é feita em sua

embalagem. Esta inscrição pode ser feita por meio da fixação de papéis adesivados sobre

a embalagem ou por meio da impressão direta na embalagem.

Figura 8.6 – Exemplos de rotulagem: à esquerda, o rótulo foi adesivado, enquanto à

direita o rótulo foi impresso diretamente na embalagem

Fonte: Superinteressante

O rótulo de um produto deve indicar informações como quantidade, prazo de validade,

composição do produto, identificação do fabricante, endereço, contatos, identificação do

lote e instruções de uso. No caso dos rótulos de alimentos, devem ser acrescentadas

informações como ingredientes, método de conservação e valor nutricional,

Recomenda-se ao fabricante que seja realizado um estudo detalhado sobre a legislação de

embalagem e rotulagem em vigor no mercado em questão. No caso brasileiro, podemos

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 122


citar o Ministério da Saúde, o Ministério da Agricultura, a ANVISA, o Inmetro e o Código

de Defesa do Consumidor.

Rotulagem ambiental
Vamos analisar as seguintes definições de rotulagem ambiental:

O objetivo dos rótulos ambientais é indicar as características ambientais de um


produto ou serviço. Em geral, aparecem como um símbolo impresso na própria
embalagem. [...] Ele funciona como um comprovante de que a empresa ajuda a
conservar a natureza. (CURI, 2012, p. 85)

“A rotulagem ambiental constitui [...] um serviço prestado ao consumidor de informação

sobre a performance ambiental do produto e dos processos utilizados na sua fabricação.

Assim ajuda a orientar a escolha dos consumidores ao incluir dados sobre o desempenho

ambiental ao lado de itens como preço, riscos à saúde, qualidade e quantidade”

(ALENCASTRO, 2012, p. 80)

“A rotulagem ambiental é uma ferramenta de comunicação que objetiva aumentar o

interesse do consumidor por produtos de menor impacto, possibilitando a melhoria

ambiental contínua orientada pelo mercado” (ABRE, 2012, p. 5).

O primeiro passo é adotar a Simbologia Técnica de Identificação de Materiais. Os símbolos

identificam com clareza qual o tipo de material utilizado na embalagem daquele produto,

facilitando o processo de seleção para posterior descarte coletivo e reciclagem. Por outro

lado, conforme ressalta a ABRE (2012), o uso da Simbologia Técnica de Identificação de

Materiais, de forma isolada, não pode ser considerado rotulagem ambiental e nem fornece

garantia de que aquela embalagem será reciclada.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 123


Figura 8.7 – Exemplos de símbolos de identificação de materiais

Fonte: Associação Brasileira de Embalagem (ABRE)

Se a empresa assumir oficialmente seu compromisso com as práticas de sustentabilidade,

ela deve adotar a Simbologia Técnica de Descarte Seletivo, acompanhado da Simbologia

Técnica de Identificação de Materiais, conforme mostra a Figura 8.8.

Figura 8.8 – À esquerda, a Simbologia Técnica de Descarte Coletivo; à direita, um dos

símbolos de identificação de materiais, a ser aplicado conforme o tipo de material usado

na embalagem.

Fonte: Associação Brasileira de Embalagem (ABRE)

Quanto à classificação da rotulagem ambiental, os autores apresentam análises com

ligeiras diferenças. Para fins didáticos, nesta aula vamos adotar o referencial teórico de

Alencastro (2012). Para este autor, podemos classificar a rotulagem ambiental nas duas

principais categorias:

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 124


1) Rotulagem de primeira parte – O processo parte da iniciativa dos fabricantes e, por

esta razão, é também chamada de autodeclaração ambiental. A rotulagem é feita por

meio de programas implementados. O objetivo é enfatizar atributos como biodegradável,

reciclável, retornável, não agride a camada de ozônio, entre outros (Alencastro, 2012).

Figura 8.9 – Exemplos de rótulos de primeira parte (autodeclarações) no Brasil

2) Rotulagem de terceira parte – O processo parte de órgãos independentes e pode ser

voluntário ou mandatário. A rotulagem voluntária é realizada “por entidades, organizações

comerciais ou não governamentais reconhecendo que o produto cumpriu determinado

padrão ambiental previamente estabelecido” (DIAS apud ALENCASTRO, 2012, p. 81).

Ainda segundo este autor, o exemplo mais conhecido é a categoria dos selos verdes.

Figura 8.10 – Exemplos de rótulos de terceira parte – voluntário/selos verdes

Fontes: ALENCASTRO (2012); BLAUER ENGEL

Já a rotulagem mandatória é obrigatória. Pode ser de dois tipos: a mandatória informativa

e a mandatória de alerta/aviso de risco. A rotulagem mandatória informativa apresenta

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 125


informações sobre consumo de energia e consumo de combustível, enquanto a rotulagem

mandatória de alerta/aviso de risco adverte quanto a possíveis danos que podem ser

causados para a saúde e a segurança do consumidor.

Figura 8.11 – Exemplo de rotulagem mandatória informativa – Programa Brasileiro de

Etiquetagem (PBE)/modelo de etiqueta de eficiência energética elaborado pelo Inmetro

Fonte: Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)

Figura 8.12 - Exemplos de rotulagem mandatória de alerta/aviso de risco

Fonte: Dnit apud ALENCASTRO (2012)

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 126


Atividades
Visite a página sobre sustentabilidade da empresa Philips, no endereço
<http://www.sustentabilidade.philips.com.br/o-que-sustentabilidade-para-a-
philips.htm>.

Leia com especial atenção os links “Nossa promessa de marca”, “Nossa estratégia de
negócios”, “Desafios compartilhados” e “Reconhecimentos em sustentabilidade”. Em sua
perspectiva, a Philips pode ser considerada uma empresa com posicionamento focalizado
na sustentabilidade? Comente.

Exercícios de fixação
Questão 1: O posicionamento competitivo sustentável se apoia nos motivadores globais

de sustentabilidade, conforme preconizam Stuart Hart e Mark Milstein. Assinale a única

alternativa que indica um motivador INCORRETAMENTE:

a) ( ) A industrialização acelerada.

b) ( ) O derretimento das calotas polares.

c) ( ) As relações com os stakeholders.

d) ( ) A pobreza e a desigualdade social.

e) ( ) As matrizes energéticas poluentes.

Questão 2: O desafio da embalagem sustentável é equilibrar dois interesses: de um lado,

garantir o acondicionamento adequado do produto; do outro, garantir a minimização dos

impactos socioambientais da embalagem no decorrer do seu ciclo de vida.

Qual das seguintes alternativas analisa corretamente esta afirmativa?

a) ( ) O primeiro interesse é verdadeiro, enquanto o segundo interesse é falso.

b) ( ) O primeiro interesse é falso, enquanto o segundo interesse é verdadeiro.

c) ( ) Ambos os interesses são verdadeiros.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 127


d) ( ) Ambos os interesses são falsos.

e) ( ) A afirmativa se aplica apenas às empresas certificadas com um selo verde.

Questão 3: Sobre a rotulagem ambiental, existe um tipo cujo processo parte da iniciativa

dos fabricantes e, por esta razão, é também chamada de autodeclaração ambiental. Qual

o nome correto deste tipo de rotulagem?

a) ( ) Rotulagem de primeira parte.

b) ( ) Rotulagem de terceira parte - mandatória informativa.

c) ( ) Rotulagem de terceira parte - mandatória de alerta/aviso de risco.

d) ( ) Rotulagem de terceira parte - voluntária.

e) ( ) Simbologia Técnica de Descarte Coletivo.

Aprenda mais
Assista ao vídeo sobre sustentabilidade da empresa Aché Laboratórios, disponível em

nossa Galeria de vídeos.

Referências
ALECANSTRO, M. S. C. Empresas, ambiente e sociedade: introdução à gestão

socioambiental corporativa. Curitiba: InterSaberes, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGEM. Diretrizes de Rotulagem Ambiental para

Embalagens – Autodeclarações Ambientais Rotulagem do Tipo II. 2. ed. São

Paulo: ABRE, 2012. Disponível em: <http://www.abre.org.br/wp-

content/uploads/2012/07/cartilha_rotulagem.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2013.

BARBOZA, E. M. F. Rotulagem ambiental – rótulos ambientais e análise do ciclo de vida

(ACV). In: Avaliação do Ciclo de Vida de Produtos e Sistemas Produtivos – ACV.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 128


Brasília: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), 2001.

Disponível em: <http://acv.ibict.br/publicacoes/realtorios/Rotulagem%20Ambiental.pdf>.

Acesso em: 16 jun. 2013.

CURI, D. (Org.) Gestão ambiental. São Paulo: Pearson, 2012.

HART, S. L.; MILSTEIN, M. B. Criando valor sustentável. GV Executivo. São Paulo: FGV,

v. 3, n. 2, 2004. Disponível em <http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/3363.pdf>.

Acesso em 10 jun. 2013.

HOOLEY, G.; PIERCY, N. F.; NICOULAUD, B. Estratégia de marketing e

posicionamento competitivo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. São Paulo: Pearson, 2012.

MESTRINER, F. Gestão estratégica de embalagem. São Paulo: Pearson Prentice Hall,

2007.

MOHAN, A. M. 10 tips for sustainable package design. In: Greener Package. [S.I.],

Summit Media Group, Inc. Disponível em:

<http://www.greenerpackage.com/source_reduction/10_tips_sustainable_package_design

>. Acesso em: 16 jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 129


BIBLIOGRAFIA
AMARAL, D. C. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para a

melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006.

BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social e empresarial e

empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2012.

JEGOU, F.; MANZINI, E. (Coord.). Collaborative services: social innovation and design

for sustainability. Milão: Edizioni Poli Design, 2008. Disponível em:

<http://81.246.16.10/videos/publications/collaborative_services.pdf>. Acesso em: 2 jun.

2013.

KELLER, K. L.; MACHADO, M. Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson

Prentice Hall, 2006.

KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0: from products to customers

to the human spirit. New Jersey: Wiley, 2010.

MOREIRA, J. C. T. Gerência de produtos. São Paulo: Saraiva, 2004.

ROCHA, C. Manual de ecodesign. [S.I.]: InEDIC, 2011. Disponível em:

<http://www.adam-europe.eu/prj/5887/prd/1/2/InEDIC_MANUAL_PT.pdf>. Acesso em: 2

jun. 2013.

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 130


Chaves de resposta
Aula 1

Atividade proposta
Pense em ações que propiciem uma comunicação mais próxima e mais aberta com seu

cliente. Você pode considerar tanto uma ação presencial (por exemplo, a condução de

uma pesquisa de focus group) quanto uma ação remota (por exemplo, a participação do

cliente em aplicativos ou games interativos em um hot site ou via mobile). Tenha em

mente que quaisquer destas (ou outras) ações devem motivar seu cliente a agir de forma

ativa, a opinar e a se sentir valorizado, além de garantir mecanismos que propiciem o

feedback da empresa ao cliente.

Exercício de fixação

Questão 1: D

Questão 2: E

Questão 3: B

Questão 4: D

Aula 2

Atividade proposta
A escolha do compromisso será realizada pelo aluno. É importante observar como as

premissas e as ações descritas naquele compromisso escolhido podem ser relacionadas

com os princípios do Marketing 3.0. Por exemplo: há alguma ação que se relaciona com o

princípio da humanização nas relações entre empresa e cliente? Há alguma ação que se

relaciona com o princípio do bem-estar coletivo?

Exercício de fixação

Questão 1: A

Questão 2: E

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 131


Questão 3: D

Aula 3

Atividade proposta
Para formular sua reflexão, considere os pressupostos estudados nesta aula. Faça

associações com o conteúdo da entrevista na matéria que você leu. Seja honesto consigo

e avalie quais obstáculos você deve ultrapassar para assumir uma postura colaborativa

com seu cliente. Estes obstáculos podem ser tanto individuais quanto da empresa na qual

você atua.

Exercício de fixação

Questão 1: D

Questão 2: A

Questão 3: C

Aula 4

Atividade proposta
Quaisquer das matérias-primas citadas no compromisso de fornecimento sustentável da

Unilever podem gerar impactos econômicos, sociais e ambientais, conforme se preconiza

no modelo triple bottom line. Analise estas três dimensões de impacto. Procure

fundamentar seu comentário com resultados mensuráveis. Faça pesquisas para buscar os

números. Se você não consegui-los, elabore seu comentário com inferências, desde que

estas sejam bem fundamentadas.

Exercício de fixação

Questão 1: E

Questão 2: C

Questão 3: B

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 132


Aula 5

Atividade proposta
Todas as ações descritas na matéria podem ser relacionadas a alguma diretriz da gestão

de produtos sustentáveis. Como exemplo, podemos destacar o uso do papel composto de

70% de bagaço de cana. O uso de bagaço de cana é um exemplo de logística reversa e a

redução na derrubada de eucaliptos é um exemplo de produção mais limpa. Desenvolva

seu pensamento a partir de correlações como estas.

Exercício de fixação

Questão 1: B

Questão 2: E

Questão 3: C

Aula 6

Atividade proposta
Para elaborar sua justificativa, procure características deste produto que estejam

alinhadas (ou não) com as diretrizes do ecodesign. Analise se o conceito de ecodesign e a

metodologia do projeto de ecodesign estão representados neste projeto.

Exercício de fixação

Questão 1: E

Questão 2: B

Questão 3: C

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 133


Aula 7

Atividade proposta
Elabore sua reflexão considerando as características dos produtos da linha Ecobril que são

descritas no vídeo, associando-as aos princípios do desenvolvimento sustentável e do

ecodesign. Também recomendamos a redação de um resumo descritivo do brand equity

da marca Ecobril.

Exercício de fixação

Questão 1: E

Questão 2: B

Questão 3: A

Aula 8

Atividade proposta
Elabore sua reflexão considerando os princípios expostos pela Philips nos links indicados e

associando-os ao conceito de posicionamento competitivo. Considere também como a

Philips faz uso dos demais conceitos que estudamos no decorrer desta disciplina.

Exercício de fixação

Questão 1: B

Questão 2: C

Questão 3: A

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 134


Apresentação do conteudista
Minicurrículo
Edson Seiti Miyata é Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Especialista em Marketing pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), Bacharel
em Comunicação Social e em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal
Fluminense (UFF) e Licenciado em Comunicação Social pela UCAM. Possui experiência nas
áreas de Marketing, Comunicação, Educação a Distância (EAD) e Educação Corporativa.
Atualmente, é pesquisador-tecnologista do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (INMETRO). Além disso, atua como professor da Universidade Estácio de Sá
(UNESA), na modalidade a distância, nos seguintes cursos e disciplinas: Graduação em
Administração, Graduação Tecnológica, MBA e Pós-Graduação em Marketing. Neste último
curso, também exerce a função docente na modalidade presencial.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8887335087367720

GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS SUSTENTÁVEIS 135

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