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Seja o que for o que ela dê a ver e qualquer que seja a maneira, uma foto é
sempre invisível: não é ela que vemos. Pg. 16
Observei que uma foto pode ser objeto de três práticas: (ou de três emoções,
ou de três intenções): fazer, suportar, olhar. O Operator é o Fotógrafo. O
Spectator somos todos nós, que compulsamos, nos jornais, nos livros, nos
álbuns, nos arquivos, coleções de fotos. E aquele ou aquela que é fotografado, é
o alvo, o referente, espécie de pequeno simulacro, eidolon emitido pelo objeto,
que de bom grado eu chamaria de Spectrum da Fotografia, porque essa palavra
mantém, através de sua raiz, uma relação com o “espetáculo” e a ele acrescenta
essa coisa um pouco terrível que há em toda fotografia: o retorno do morto.
Pg.20
Ora, a partir do momento que me sinto olhado pela objetiva, tudo muda:
ponho-me a “posar”, (...), metamorfoseio-me antecipadamente em imagem.
Pg.22
Imaginariamente, (...) não sou nem um sujeito nem um objeto, mas antes um
sujeito que se sente torna-se objeto: vivo então uma microexperiência da morte
(do parêntese): torno-me verdadeiramente espectro. Pg.27
Vejo fotos por toda parte, como todo mundo hoje em dia; elas vêm do mundo
para mim, sem que eu peça (...). Pg. 31
Eu não via, em francês, palavra que exprimisse (...) é o studium, que não quer
dizer, pelo menos de imediato, “estudo”, mas a aplicação a uma coisa, o gosto
por alguém, uma espécie de investimento geral, ardoroso, é verdade, mas sem
acuidade particular. Pg. 45
O segundo elemento vem quebrar (ou escandir) o studium. Dessa vez, não sou
eu que vou buscá-lo (como invisto com minha consciência soberana o campo do
studium), é ele que parte da cena, como uma flecha, e vem me transpassar. (...)
A esse segundo elemento que vem contrariar o studium chamarei então
punctum, pois punctum é também picada, pequeno buraco (...). Pg.46
Já que toda foto é contingente (e por isso mesmo fora de sentido), a Fotografia
só pode significar (visar uma generalidade) assumindo uma máscara. Pg. 58
Para o resto, (...) tudo o que podemos dizer de melhor é que o objeto fala,
induz, vagamente, a pensar. Pg. 62
Fotografia unária tem tudo para ser banal, na medida em que a “unidade” da
composição é a primeira regra da retórica vulgar (e especialmente escolar).
Pg.66
Sinto que basta sua presença para mudar minha leitura, que se trata de uma
nova foto que eu olho, marcada a meus olhos por um valor superior. Esse
“detalhe” é o punctum (o que me punge). Pg. 68
Por mais fulgurante que seja, o punctum tem, mais ou menos virtualmente, uma
força de expansão. Essa força é freqüentemente metonímica. Pg.73