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As leis da refração: os dióptros

Nathani Zampirolli - Autor∗


Engenharia Civil, CCT, UENF.

Maurı́cio Menezes de Faria Filho - Colaborador, José Gabriel


Schettino - Colaborador, and Thales Gualberto - Colaborador
(Dated: 23 de maio de 2017)
Ao visualizarmos objetos entre dois meios separados pelo dióptro, observa-se sua distorção devido
a refração da luz. Um banco óptico montado permitiu observar experimentalmente os fenômenos da
refração e reflexão da luz incidente sofre um dióptro. Com isso, obteve-se resultados com pequenos
erros de ı́ndice de refração absoluto e relativo e ângulo crı́tico. Além disso, observou-se que a luz ao
penetrar obliquamente de um meio menos para mais denso, o raio refratado se desvia aproximando-
se da normal enquanto que o penetrar perpendicularmente, não sofre desvio. Comprovou-se a
proporcionalidade entre a razão dos senos dos ângulos e as leis da refração.

I. INTRODUÇÃO Se v1 é o vácuo (c =299.792.458 Km/s.), tem-se o ı́ndice


refração absoluto (n), sendo v a velocidade da luz no meio
Foram os fı́sicos Willebrord Snell, René Descartes e em questão. O fenômeno da refração é regido por duas
Pierre de Fermat, que mais contribuı́ram para as teo- leis. A primeira lei de refração enuncia que o plano de
rias de refração e reflexão da óptica geométrica. O fı́sico incidência e o plano da luz refratada coincidem. A 2a lei
que elevou o estudo da luz para outro patamar foi Isaac da refração é utilizada para calcular o desvio dos raios de
Newton possibilitando que outros fı́sicos como Foucault e luz ao mudarem de meio, e é expressa por:
Maxwell pudessem medir a velocidade da luz em diferen- senθ1 v1
tes meios por exemplo. Atualmente sabe-se que a luz tem = (2)
senθ2 v2
caráter dual: os fenômenos de reflexão, refração, inter-
ferência, difração e polarização da luz podem ser explica- No entanto, sabemos que:
dos pela teoria ondulatória. Na refração, a luz é transmi-
v1 λ1 f λ1
tida de um meio para o outro e como consequência da mu- = = (3)
dança do meio, há alteração de velocidade de propagação v2 λ2 f λ2
e, portanto, sofre desvio da direção original. Destaca-se Além de que:
que nesta mudança de meios com diferentes ı́ndices de re-
v1 n2
fração (n) a frequência da onda luminosa não é alterada. = (4)
A interface entre dois meios transparentes (como o ar e v2 n1
água) é denominado dioptro. A forma da superfı́cie de Ao agruparmos estas informações, chegamos a uma forma
separação entre os meios, superfı́cie dióptrica, caracteriza completa da Lei de Snell:
o tipo de dioptro: plano, esférico, cilı́ndrico, etc. O expe-
rimento permitiu que fosse observado o que é um dioptro, senθ1 v1 λ1 f n2
= = = (5)
calcular o ı́ndice de refração de um meio (acrı́lico), tanto senθ2 v2 λ2 f n1
relativo quanto absoluto e comprovar as leis da refração. Se a incidência for normal, o ângulo de incidência será
zero e então o ângulo refratado será nulo. Nesse caso
a luz não sofre qualquer desvio. A única consequência
A. Fundamentação teórica
da refração no caso da incidência normal é a alteração
da velocidade da luz ao passar de um meio para o ou-
O ı́ndice de refração de um meio é uma grandeza que tro. Se a incidência for oblı́qua então o raio luminoso
expressa a velocidade que a luz possui num determinado se aproximaria mais da normal no meio que for mais re-
meio de transmissão. O ı́ndice de refração relativo (n21 ) fringente (maior ı́ndice de refração). O meio com menor
é definido pela Equação 1, sendo v1 a velocidade da luz ı́ndice de refração é, por outro lado, aquele no qual a luz
no primeiro meio e v2 a velocidade da luz no segundo se propaga mais rápido. A partir de determinado ângulo
meio. de incidência não ocorre mais a refração. Esse ângulo é
denominado ângulo limite ou ângulo crı́tico e pode ser
determinado aplicando a Lei de Snell-Descartes:
v1
n21 = (1)
v2 n1 senθcrı́tico = n2 sen90o (6)

n1
∗ Electronic address: nathani_zampirolli@hotmail.com
arcsenθcrı́tico = (7)
n2
Quando o ângulo indecente é maior que o ângulo limite o ângulo do raio refratado, com a normal, foi de 0o , ou
não ocorre refração. Sendo assim, os raios são todos re- seja, era o mesmo do ângulo incidente. Quando o disco
fletidos e o fenômeno passa a ser chamado de reflexão foi girado 45o no sentido horário, observou-se que parte
total interna. da luz é refletida a 45o aproximadamente com a normal,
e parte é refratada com um ângulo de 28o . O esboço do
que é observado foi esquematizado na Figura 3.
II. METODOLOGIA

Foram utilizados o banco ótico linear, nı́vel, fonte de


luz, suporte para lentes e para diafragma, conjunto de
diafragmas, disco de Hartl, uma lente plano convexo de
8D e 4D, semi-cı́rculo de acrı́lico. Os materiais foram
montados conforme esquematizado na Figura 1.

Figura 3: feixe de luz indicente em 45o e esboço dos fenômenos


ópticos observados.
Figura 1: Esquema representativo da montagem dos materi-
ais.
Interessante destacar que quando a luz passa de um
meio menos denso para um meio mais denso, o raio refra-
Inicialmente, o semi-circulo de acrı́lico foi colocado so-
tado se desvia aproximando-se da normal. Isso devido ao
bre o disco de Hartl conforme a Figura 2 ilustra.
fato de que a luz possui uma velocidade menor no meio
mais denso, por causa das sucessivas reflexões que ela
sofre pelos átomos do meio. Dessa forma, o ı́ndice de re-
fração depende exclusivamente do tipo do meio material
que a luz passa. Além disso, mesmo com essas inúmeras
reflexões, o raio incidente, a reta normal e o raio refra-
tado estão no mesmo plano, comprovando a primeira lei
de reflexão. Com o dioptro na mesma posição, girou-
se o disco em ângulos descritos na Tabela 1. Aferiu-se
então os respectivos ângulos de refração e calculou-se os
senos destes ângulos. Posteriormente foram calculadas
as razões entre os senos dos ângulos de incidência e re-
Figura 2: Feixe de luz incidindo na superfı́cie plana do fração. Os valores bem como a média da relação ente os
dióptro. Em (a), incidencia normal à superfı́cie dióptrica e senos, estão apresentados na Tabela 1.
em (b), feixe de luz indicente em 45o .
Tabela I: Dados e resultados obtidos no experimento rotacio-
Uma vez ligada a fonte de luz branca, a luz incidiu nando o disco de Hartl.
perpendicularmente sobre a parte plana do dioptro e os θ1 θ2 senθ1 senθ2 senθ1 /senθ2
fenômenos ópticos foram verificados. O mesmo foi feito 25 16 0,42262 0,27564 1,53324
girando o disco no sentido horário de 0 a 45o . Poste-
30 19 0,50000 0,32557 1,53578
riormente os ângulos de incidência θ1 foram alterados e
45 28 0,70711 0,46947 1,50618
observou-se os ângulos de refração. A segunda parte do
experimento consistiu em colocar o dioptro de modo que 55 33 0,81915 0,54464 1,50403
o feixe de luz incidisse perpendicularmente sobre a parte 60 35 0,86603 0,57358 1,50987
curva do semi-cı́rculo e os fenômenos foram observados. 75 40 0,96593 0,64944 1,48732
O mesmo foi feito girando o disco em 20o e em seguida, Média 1,51274
observou-se o raio refratado girando lentamente o disco
até 90o no sentido horário. Pela Tabela 1, verifica-se a existência de uma propor-
cionalidade entre o cociente dos senos, o valor aproxi-
madamente 1,51274.A Figura 4 apresenta o gráfico senθ1
III. RESULTADOS E DISCUSSÕES versus senθ2 . Por regressão linear, foi obtida a equação
da reta e o coeficiente de correlação linear. Com isso,
Ao penetrar perpendicularmente na superfı́cie plana foi possı́vel prever o ı́ndice de refração relativo dado pelo
no dioptro, o feixe incidente não se desviava, portanto, coeficiente angular da reta. A reta é dada por:

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da espécie molecular, e, portanto, o ı́ndice de refração
depende da frequência da luz incidente. Isso pode ser
senθ1 = 1, 4601senθ2 + 0, 022720 (8) comprovado matematicamente analisando a Equação 1
considerando v1 =c e v1 =λ: n=c/λ.f. A luz vermelha
possui λ maior, logo, n diminui e então “refrata menos”.
Diferentemente da luz azul que possui λ menor, a qual
“refrataria mais”.
A próxima etapa do experimento consistiu em realo-
car o dióptro de forma com que o raio incidente atingisse
a parte curva do dióptro em seu centro. Observou-se
que não houve refração. Ao girarmos o disco até 20o ,
observou-se uma refração de 29o . No caso de o raio inci-
dente ser normal à superfı́cie dióptrica, não foi observada
refração. No entanto, ao passar de um meio mais denso
para um menos denso obliquamente, o raio refratado so-
fre desvio se afastando da normal. Isto se justifica pelo
fato do raio passar inicialmente por um meio mais denso
(o dióptro de acrı́lico) e posteriormente, por um meio
menos denso, (o ar) e com isso o raio de luz adquire ve-
Figura 4: Arranjo experimental para sen θ1 e sen θ2 . locidade nesta saı́da do meio mais denso. Isso independe
do ângulo até que seja atingido o ângulo crı́tico.
E a correlação linear equivale a R = 0,9997. Dessa ma- O valor do ângulo crı́tico foi calculado a partir da
neira, o ı́ndice de refração relativo obtido pela regressão equação, sabendo que n 1 corresponde ao ı́ndice de re-
linear corresponde a 1,46018. Sabendo que o valor do fração do ar que é equivalente a aproximadamente 1.
ı́ndice de refração relativo real é 1,48000, temos um erro
relativo de 1,33919%. O valor do ı́ndice de refração re-
lativo obtido pela média corresponde a 1,51274, um erro 1
arcsenθcrı́tico = (11)
relativo equivalente a 2,21216%. O ı́ndice de refração 1, 4601
relativo obtido por regressão foi mais próximo do valor
real tendo em vista que este método é mais preciso que
a simples média dos valores. Convém ressaltar que este θcrı́tico = 43, 22358o (12)
erro se justifica pela imprecisão inerente a aferição dos
ângulos no disco de Hartl. No entanto, os erros são con- Conforme descrito em teoria, quando atinge-se tal an-
sideravelmente pequenos e o valor de correlação linear é gulação denominada crı́tica, o raio incidente não é mais
próximo a unidade. Dessa forma, pode-se considerar que refratado, ele é apenas refletido, sofrendo uma reflexão in-
o experimento foi bem-sucedido. A partir da Equação 1 terna total. O valor observado do ângulo critico em que
e do ı́ndice de refração relativo obtido, foi possı́vel obter o raio refratado se tornou rasante à superfı́cie dióptrica
a velocidade da luz que se propaga no meio (acrı́lico), plana foi de 41o aproximadamente. Esses valores não
considerando a velocidade da luz no vácuo equivalente a coincidentes se justificam pelos erros experimentais como
299,792 km/s. aferição equivocada dos ângulos por parte dos operado-
res.

v1 c 299, 79200
n= = = 1, 46018 = (9) IV. CONCLUSÕES
v2 v2 v

Neste experimento foi investigado o ı́ndice de re-


v = 205, 31167km/s (10) fringência do meio acrı́lico e a velocidade de propagação
do feixe de luz no meio. Para isso, foi utilizado uma
O valor da velocidade de propagação da luz no meio é fonte de luz esquematizada de modo que incidisse no ob-
menor que o da luz no vácuo. Essa observação confirma jeto de acrı́lico utilizado acoplado ao disco Harlt. Além
que em nenhum meio a luz caminha tão rápido quanto disso, pode ser comprovada as leis de refração Durante
no vácuo. Dessa forma, o ı́ndice de refração é sempre o experimento pode ser calculado por regressão linear o
maior que a unidade visto que v nunca será maior que ı́ndice de refração do acrı́lico que equivale a 1,46018 e, ao
c. Na refração, a frequência de uma onda é a própria ser comparado com o valore real fornecido, verificou-se
da fonte geradora, isto é, ela se mantém constante. No que o erro obtido durante o experimento correspondeu a
entanto, a luz com alta frequência (menor λ) tem maior 1,33919%. Ao comparar o valor real com o obtido por
energia que luz com baixa frequência distorcendo mais média, comprovou-se que o método com regressão linear
a distribuição eletrônica da molécula, portanto depende é consideravelmente mais precisa. Pode ser determinado

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ainda a velocidade da luz no meio acrı́lico que correspon- crı́tico, sendo justificados por erros de paralaxe e erros
deu a v=205,31167 km/s. Os erros experimentais po- de operação. Dessa forma, conclui-se que o experimento
dem ser considerados pequenos para o cálculo do ı́ndice foi bem sucedido.
de refração no meio acrı́lico e para obtenção do ângulo

V. REFERÊNCIAS [3] Óptica Refração e Leis da Re-


fração. Disponı́vel em:< http :
[1] D. Halliday and R. Resnick, Fundamentos da Fı́sica, //midia.atp.usp.br/ensinonovo/optica/ebooks/ref racao−
9a ed., Rio de Janeiro: LTC, 2010. cap 36, v.4. e − leis − da − ref racao.pdf > . Acesso em: 12 de mai.
[2] Martins, Roberto, Silva, Ana Paula.Princı́pios da óptica 2017.
geométrica e suas exceções:Heron e a reflexão em espelho. [4] Newton e as Cores. Disponı́vel em:<:
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica,v. 35, n. 1, 1605 //mundoeducacao.bol.uol.com.br/f isica/newtonas-
(2013). cores.htm > . Acesso em: 12 de mai. 2017.

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