Você está na página 1de 7

O que é o capitalismo?

Introdução 1
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

1. As duas grandes correntes teóricas que procuram explicar o capitalismo a partir de


pontos de vista diferentes:

1.1. Max Weber (1864-1920)


 Chamada de culturalista (grande importância conferida a fatores culturais);
 Busca explicar o capitalismo a partir de fatores externos à economia;
 Capitalismo constituído a partir da herança de um modo de pensar as relações
sociais (econômicas, inclusive) legadas pelo movimento da Reforma na Europa
(de Lutero e mais ainda Calvinismo);
 Principal ideia desse modo de pensar refere-se a:
o Extrema valorização do trabalho;
o Prática de uma profissão (vocação) na busca da salvação individual;
o Criação de riquezas pelo trabalho e poupança: sinal de que o indivíduo
pertenceria aos “predestinados”
 Ideologia como fundamento de uma ética, que:
o Implica na aceitação de princípios e normas de conduta;
o É a expressão de uma “mentalidade” e de um “espírito” capitalista
 Para Weber existe capitalismo onde quer que a provisão industrial das
necessidades de uma comunidade seja executada:
o Pelo método de empresa
o Pelo estabelecimento capitalista racional e;
o Pela contabilidade do capital.
 Substitui a centralidade marxista da relação capital – trabalho, que constituía
desafio ao mundo ideológico e político liberal (escola alemã: Ferdinand Tonnies,
Ernest Troeltsch, Werner Sombart: “espírito do capitalismo” no livro “O Capitalismo
Moderno” de 1902) [Bobbio].

1
O que é o capitalismo?
Introdução 1
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

1.2. Karl Marx (1818-1883)


 Chamada de histórica (parte da perspectiva histórica);
 Define capitalismo:
o Modo de produção de mercadorias;
o Gerado historicamente desde o início da Idade Moderna;
o Encontrou a plenitude na Revolução Industrial (intenso processo de
desenvolvimento industrial iniciado na Inglaterra da segunda metade do
século XVIII) [acumulação primitiva ou acumulação original];
 Modo de produção:
o Meios pelos quais os meios necessários são apropriados;
o Relações que se estabelecem entre os homens a partir de suas
vinculações ao processo de produção;
 Capitalismo não é apenas um sistema de produção de mercadorias, mas também
um determinado sistema no qual a força de trabalho se transforma em mercadoria
e se coloca no mercado como qualquer objeto;
 Requisitos para que exista o capitalismo:
o Concentração da propriedade dos meios de produção em mãos de uma
classe social;
o Presença de uma outra classe para a qual a venda da força de trabalho
seja a única fonte de subsistência;
 Supra requisitos:
o Estabelecidos ao longo de um processo histórico;
o Transformou as relações econômicas dominantes no feudalismo,
destruindo-as enquanto construía o capitalismo;

2
O que é o capitalismo?
O capitalismo em geral Max Weber e o capitalismo 2.1
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

2. O capitalismo em geral:

2.1. Max Weber e o capitalismo


 Capitalismo: civilização do mundo moderno ocidental;
 Obras em que objetiva compreender o capitalismo como civilização:
o A ética protestante e o espírito do capitalismo;
o História geral da economia.
 Para Weber apenas no Ocidente existe a ciência em estágio de desenvolvimento
que reconhecemos com válido;
 A cultura ocidental é marcada em todas as suas esferas por uma forma peculiar e
determinada de racionalidade que não está presente nas demais civilizações
(Índia, China, Babilônia, Egito...);
 Tentou analisar o que particularizava o capitalismo do Ocidente em referência a
algumas manifestações do capitalismo que também surgiram em outras culturas;
 O impulso de ganho ou a ânsia de lucro monetário, que existe e existiu em todas
as pessoas em todos os países onde se apresenta uma possibilidade objetiva
para isso, por si só, nada tem a ver com o capitalismo;
 Empresa capitalista e empreendimento capitalista já existiam de longa data e em
toda parte;
 O elemento diferenciador do capitalismo ocidental deve ser buscado na intenção
sustentada pelo agente econômico (empreendedor, agente mais eficiente no
Ocidente);
 Dois atributos intimamente ligados só existentes no capitalismo ocidental, ou por
ele acentuados num nível ainda não conhecido:
o Formação de um mercado de trabalho formalmente livre;
o Uso de contabilidade racional: necessidade acentuada pela separação
entre residência e lugar de trabalho → cálculo do custo de produção;
 Interesse: as origens do capitalismo burguês e sua organização racional do
trabalho;
 Capitalismo moderno: vasto complexo de instituições interligadas que trabalham
mais na prática econômica racional do que na especulativa, compreendendo:
o Empresas que operam com inversão de capital a longo prazo;
o Oferta voluntária de trabalho, no sentido jurídico;

3
O que é o capitalismo?
O capitalismo em geral Max Weber e o capitalismo 2.1
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

o Divisão de trabalho no interior das empresas;


o Distribuições das funções entre umas e outras (interna e externa);
o Funcionamento de economia de mercado;
 A ética protestante e o espírito do capitalismo começa investigando os princípios
éticos que estão na base do capitalismo: denominado de seu “espírito”;
 Princípios encontrados na teologia protestante, mais especificamente na
calvinista;
 Hipótese básica de trabalho:
o A vivência espiritual da doutrina e da conduta religiosa exigida pelo
protestantismo teria organizado uma maneira de agir religiosa com
afinidade à maneira de agir econômica, necessária para a realização de um
lucro sistemático e racional;
o O protestantismo valorizava o trabalho profissional como meio de salvação
do homem em contraposição à concepção cristã medieval, preservada pelo
catolicismo, que exigia o desprendimento dos bens materiais deste mundo;

[parou final da pg. 12]

4
O que é o capitalismo?
O capitalismo em geral O modo de produção capitalista 2.2
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

2.2. O modo de produção capitalista


 [P= f(T,K,RN)]
 Comunismo primitivo → escravista → feudalismo → capitalismo (→ através de
crises)
[recomeçamos na pg. 24]
 Equivalente geral ou equivalente comum: é a mercadoria que separada, exprime
os valores das demais mercadorias coletivamente;
 Dinheiro: é a única mercadoria que funciona em determinada sociedade como
equivalente geral único. Antes de desempenhar este papel, tem que ser
socialmente reconhecida como tal (mercadoria-dinheiro);
 A escolha da mercadoria que executará a função de dinheiro dependerá da forma
como os produtores habitualmente exprimem os valores dos seus produtos (gado,
conchas, peles, cigarros, metal preciso, peixe, etc.). Essa escolha dá-se pela
prática comum;
 Prática comum, segundo Marx, é o processo que se desenvolve a partir da prática
diária, independente do planejamento consciente da consciência dos produtores
isolados;
 É equivocada a opinião de que o dinheiro foi conscientemente inventado pelos
produtores e introduzido por um dispositivo técnico destinado a fazer frente às
dificuldades do processo de troca.
 Ouro tornou-se a mercadoria-dinheiro na sociedade burguesa, conforme o Guia
para a leitura do Capital;
 Para o produtor do ouro, este tem papel duplo: é mercadoria específica, para fazer
artigos de joalheria, dentes postiços, etc., ao mesmo tempo que é equivalente
geral.
 Troca como meio de circulação simples de mercadoria:
o Mercadoria (M) – Dinheiro (D) – Mercadoria (M): M – D – M.
o Ocorre em duas partes que já não ocorrem ao mesmo tempo, tornando-se
mais móvel e maleável:
 Venda: M – D
 Compra: D – M
o Produtor troca a sua mercadoria sem valor de uso para ele por dinheiro e
compra mercadorias que satisfaçam suas necessidades (com valor de uso
para ele).

5
O que é o capitalismo?
O capitalismo em geral O modo de produção capitalista 2.2
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

 Processo de troca para o dono do dinheiro: D – M – D ou D – M / M – D


 Parece não fazer sentido:
o No final o proprietário tem a mesma quantidade de dinheiro que tinha no
início;
o Não recebe em troca um valor de uso;
o Expõe o seu dinheiro aos riscos do mercado;
o Não tem muitas garantias de que conseguirá voltara a vender as
mercadorias que comprou ao mesmo preço.
 Marx, em “O Capital”: “dinheiro que circula desta (...) maneira (...) torna-se capital”.
 D – M – D só fará sentido se o possuidor do dinheiro receber mais dinheiro no fim
do que aquele com que entrou inicialmente, isto é a troca toma a forma de D – M –
D’, com D’ > D.
 Mais-valia, conforme escreve Lênin, é para Marx, “este acréscimo do valor
primitivo do dinheiro posto em circulação”
 Só por este processo de expansão do valor, de valorização, o dinheiro se
transforma realmente em capital, processo este que não conhece limites;
 Mais-valia não pode prover de M – D – M (circulação de mercadorias), por não
haver criação de valor adicional, pois o valor da mercadoria é sempre determinado
pelo tempo de trabalho socialmente necessário.
 Também a mais-valia não pode prover de aumento de preços, pois as perdas e
lucros recíprocos dos compradores e vendedores tenderiam a equilibrar-se.
 Força de trabalho humano: no capitalismo é a mercadoria cujo valor de uso é
dotado de propriedade de ser fonte de valor; cujo processo de consumo é ao
mesmo tempo processo de criação de valor (criação de mais-valia);
 Sem meios de produção a força de trabalho tem pouca utilidade;
 Meios de produção: máquinas, instalações, instrumentos de trabalho, matérias-
primas.
Taxa de mais valia (m) = mais-valia (M)
capital variável (V)
 Aumento da mais-valia:
o Prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta);
o Redução do tempo de trabalho necessário (mais-valia relativa)

6
O que é o capitalismo?
O capitalismo em geral O modo de produção capitalista 2.2
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011, 144p.

Composição orgânica do capital (c.o.) = capital constante (C)


capital variável (V)

 Capital constante (C): é a parte do capital investido nos meios de produção cujo
valor transfere-se integralmente ou em parte para o produto acabado
 Capital variável (V): é a parte do capital (salários) investido na força do trabalho. O
capital variável aumenta durante a processo do trabalho. É assim denominado por
ser a parcela do capital que se altera no processo de produção (criando mais-
valia).
 Aumento da composição orgânica do capital: modificação da razão entre o capital
constante e o variável, através do aumento da produtividade do trabalho.
 Processo de centralização de capital: compra de pequenas e médias empresas
por outras maiores ou união de duas grandes firmas para eliminar uma terceira
gerada pela luta concorrencial entre os capitalistas individuais.
 O capital que se expande pela acumulação ... pg. 36-37
 Exército industrial de reserva: Fração da classe operária que não poderá mais
vender sua força de trabalho e perderá seus empregos pela introdução de
aperfeiçoamentos técnicos;
 Ciclo econômico ou ciclo industrial: trajetória de altos e baixos no processo de
acumulação capitalista, constituído de 5 fases ou períodos de atividade:
o Moderada;
o Prosperidade;
o Superprodução;
o Crise;
o Estagnação.

Você também pode gostar