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Cena do Fidalgo
O Fidalgo representa a nobreza e critica aqueles que só pensam no seu estatuto social.
Este personagem depara-se com o diabo, vindo carregado com a sua cadeira de espaldar, que
representa os bens materiais e o poder, o pajem, que simboliza a tirania que exercia sobre o seu
povo e o manto com cauda que simboliza a sua vaidade. No início da cena, o Fidalgo apresenta-se
muito relaxado no diálogo que tem com o diabo, porém á medida que o discurso vai avançando e
que vão sendo feitas as acusações por parte do diabo e posteriormente pelo Anjo, o seu humor
altera-se um pouco, mostrando arrogância e irritação. O seu percurso cénico, resume-se a falar
inicialmente com o Diabo e, posteriormente com o Anjo. Tanto o diabo como o anjo acusam-no de
ter sido tirano perante o seu povo, acusa-o de vaidade e de ridicularizar os mais pobres. Perante
estas acusações o Fidalgo apresenta como argumentos, o facto de ter na terra quem reze por ele, e
o simples facto de ser fidalgo de solar. Este segundo, mostra como esta personagem estava
convencida de que o seu estatuto social lhe iria valer para poder ir para o paraíso.
Durante o discurso com o Diabo, e perante o argumento de defesa, que tinha quem rezasse por ele
em terra, Gil Vicente pretende criticar as práticas ocas da religião. Perante a recusa do Anjo de
embarcar o Fidalgo no seu barco este mostra-se arrependido, mas ao conversar novamente com o
Diabo, ainda tenta regressar a terra apresentando como argumento o de querer ir ver a sua amante
e posteriormente a sua mulher. O Diabo responde-lhe que tanto a amante como a mulher tinham
chorado de alegria no seu funeral e que tinha sido enganado a vida toda. É por fim condenado ao
Inferno.
Cena do Onzeneiro
O Onzeneiro, representa a burguesia e um vício social da época. Com ele Gil Vicente, pretende
criticar os burgueses que naquele tempo se dedicavam aos juros de onze por cento aplicado aos
empréstimos de dinheiro. O Onzeneiro entra em cena e depara-se com o diabo que o trata como seu
parente, mostrando com ironia que a personagem tinha qualquer coisa a ver com ele, que era como
se fossem da mesma família. A personagem vem irritada e a reclamar que lhe estavam mesmo a
entregar dinheiro quando morreu. Uma bolsa de dinheiro é o símbolo cénico que o Onzeneiro traz
consigo e que representa a sua ganância pelo dinheiro. Este é acusado pelo Anjo de ter roubado a
vida toda, de ter o coração “cheio de dinheiro” e de ter uma ligação obsessiva ao dinheiro. Por ter
esta obsessão tão grande, quando o Anjo lhe recusa a passagem para o Paraíso, este pensa que é
porque não tem dinheiro para pagar, querendo regressar á terra para o ir buscar e assim ter a
salvação. O Onzeneiro realiza um percurso em que fala primeiro com o Diabo, depois com o Anjo e
por fim é também condenado ao inferno.
Cena do Parvo
O Parvo é uma quebra na rotina, e não pretende criticar ninguém, mas sim tornar a peça não tão
monótona e criar um pouco o cómico. Esta personagem, não é acusada de nada, nem transporta
objetos cénicos, pois tudo o que fez foi sem consciência alguma. A sua entrada em cena, cria logo o
cómico, o qual tem vários tipos que se apresentam ao longo da cena e da peça (cómico de situação,
de personagem e de linguagem). O Parvo fala primeiro com o Diabo, que o tenta convencer a entrar
na sua barca, mas ao falar com o Anjo este leva-o consigo, devido á sua simplicidade, ingenuidade e
a não ter errado nas ações que fez, pois fê-las sem consciência. O Anjo, diz ao Parvo que fique por
ali até aparecerem mais pessoas, o que foi feito com a intenção de este travar também diálogo com
as restantes personagens.
Cena do Sapateiro
Cena do Frade
O Frade representa o Clero. Este tem uma entrada em cena muito pouco vulgar para um padre,
vindo a cantar e com uma moça pela mão. Esta é um dos seus elementos cénicos, juntamente com o
seu equipamento de esgrima (broquel, espada, capuz e capacete) e com o seu hábito. A moça
representa o seu rompimento dos votos de castidade a que os padres são obrigados e o equipamento
de esgrima representa as práticas mundanas a que o padre se dedicava. Este frade é um pouco fora
do vulgar, que é visível pela sua entrada em cena, ou seja dedicava-se a bens materiais o que é
exatamente oposto á condição de um padre e por isso é acusado pelo diabo de não ter exercido
corretamente a sua profissão, de ter quebrado os votos de castidade e de fazer coisas pouco
próprias da sua condição social. O Frade defende-se dizendo que ir para o inferno não tinha ficado
escrito no seu “contracto”, e argumentando que no seu convento ele não era o único a quebrar os
votos de castidade (pretende-se aqui alargar a crítica). Esta personagem, não dialoga com o Anjo,
apenas com o Parvo, pois o Anjo nem se dá ao trabalho de falar com uma personagem que
supostamente deveria ir para o Paraíso, pois deveria agir de acordo com o bem. Por fim, o Frade
resigna-se e vai para o Inferno.
Cena da Alcoviteira
Cena do Judeu
O Judeu representa a religião e pretende salientar como os Judeus eram mal considerados pelos
cristãos. Tanto o Diabo como o Anjo não o acusam diretamente, pois o Diabo não o quer na sua
barca, por estes serem muito mal considerados. É apenas acusado pelo Parvo de comer carne nos
dias santos, que na sua religião era proibido. O Judeu aparece em cena com um bode, que
representa a sua religião. O Judeu, ao contrário das outras personagens quer ir para a barca do
inferno, pois já sabe que é condenado. Perante a recusa do Diabo, o Judeu roga-lhe pragas.
O seu percurso em cena passa pelo Diabo, que lhe recusa a passagem, tentando o Judeu entrar
através do seu dinheiro, o que revela outro carácter dos Judeus – o apego ao dinheiro; pelo Anjo, em
que apenas fala com o Parvo, e por fim volta ao Diabo que como o leva obrigado diz que o leva a
reboque.
O Corregedor e o Procurador aparecem juntos em cena, para por um lado quebrar a monotonia e por
outro para alargar a crítica a todos os que trabalham com leis. Representam, assim a classe dos
magistrados, criticando o funcionamento da justiça. O Corregedor é quem se apresenta primeiro em
cena, trazendo consigo os processos que representam a corrupção. No diálogo com o Diabo, mostra-
se convencido de que a sua posição social o irá salvar. Seguidamente aparece o Procurador, que vem
auxiliar o Corregedor, mostrando assim a cumplicidade que existia nos membros da justiça. O seu
símbolo cénico são os livros. Ambos são acusados de enganarem os mais pobres, de aceitarem
dádivas dos Judeus, de julgarem mal os processos e de aceitarem roubos. O principal argumento dos
dois é a sua posição social, argumentando também com o facto de dizerem que agiram sempre
segundo a justiça e quando o Diabo acusa o Corregedor de aceitar as dádivas dos Judeus, este
desculpa-se com a sua esposa, afirmando que ele não tinha nada a ver com isso.
Ambos são condenados ao Inferno e no fim o Corregedor fala com Brízida Vaz (Alcoviteira), pois
conhece-a dos problemas com a justiça.
Cena do Enforcado