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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL- UNICSUL

VP CONSULTORIA NUTRICIONAL
DIVISÃO DE ENSINO E PESQUISA
CURSO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA FUNCIONAL

Maria Rosa Etcheverry Centeno Rodrigues

Implicações biológicas do autismo:


a nutrição como base do tratamento

CURITIBA
2010
1
Maria Rosa Etcheverry Centeno Rodrigues

Implicações biológicas do autismo:


a nutrição como base do tratamento

Monografia apresentada ao curso


de pós-graduação Lato sensu da
VP Consultoria Nutricional –
Divisão Ensino e Pesquisa e da
Universidade Cruzeiro do Sul como
requisito para conclusão do curso
de Especialização em Nutrição
Clínica Funcional.

Orientador: Dra. Gilberti Helena


Hübscher Lopes

CURITIBA
2010
2
Dedicatória

Dedico este trabalho a todos àqueles que se encontram no espectro autista e seus
familiares, pela admirável dedicação, carinho e amor incondicional a estas crianças
especiais, que me inspiram a buscar cada vez mais conhecimentos que possam lhes
ajudar a desabroxar.

3
Agradecimentos

Agradeço às pessoas que de alguma forma fizeram parte desse processo.

Ao Dr. Rogério Rita, que me abriu as portas para este trabalho, sempre me
impulsionando com casos desafiadores e sendo facilitador da minha busca pelo
conhecimento através da construção do acervo da “nossa biblioteca”.

À Lola, pelo apoio e incentivo no meu trabalho no consultório.

Aos queridos pais dos meus pacientes autistas, que muito me ensinam com sua
postura paciente e amorosa, me motivando a buscar cada vez mais.

Às minhas grandes amigas e colegas da nutrição, Juliana Rey, Graziela Popper e


Caroline Broering, que muito contribuiram com este trabalho, cada uma a sua
maneira.

À Juliana Lopes, amiga querida e psicóloga de crianças especiais, por todas as


dúvidas e conhecimentos compartilhados sobre este assunto tão misterioso e
fascinante. Obrigada pelos conselhos e pelo “empurrãozinho” para que eu me
sentisse capaz de cumprir com o prazo final.

Como não podia deixar de ser, à minha mãe, pela paciência nesses dias anteriores
à entrega do trabalho e pelo apoio a todo momento, e ao me pai, por me aconselhar
e tentar revisar esse trabalho “muito técnico”.
4
RESUMO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por uma disfunção nas


áreas do comportamento, comunicação e interação social. Comumente se manifesta
nos três primeiros anos de vida e os déficits no desenvolvimento normal podem ser
progressivos quando não tratados adequadamente. Sua prevalência vem crescendo
nos últimos anos, assim como a quantidade de pesquisas na área. A etiopatogenia
do autismo é complexa e não está bem definida. A multifatoriedade parece ser a
hipótese mais plausível, com fatores ambientais determinando o espectro de
manifestações biológicas em indivíduos geneticamente suscetíveis. Os estudos têm
evidenciado que a presença de desequilíbrios bioquímicos e metabólicos contribui
para o quadro de sintomas típicos do autismo. Sistema gastrointestinal, imunológico
e de destoxificação estão normalmente comprometidos nesses indivíduos, formando
uma teia de interconexões que afeta, sobretudo, o sistema neurológico. Nesse
contexto de desequilíbrios biológicos, a nutrição tem um papel fundamental. O
objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura em termos das
implicações fisiológicas mais comuns no autismo, associado às diferentes
estratégias de intervenção nutricional existentes, com enfoque nas dietas especiais
para o autismo. Ainda são poucos os estudos comprovando a eficácia de tais dietas,
mas tanto as pesquisas quanto as evidências empíricas se mostram promissoras
nesta área. As dietas não foram desenvolvidas especialmente para autistas, mas
utilizam princípios que podem ser direcionados aos sintomas e comprometimentos
mais acentuados em cada indivíduo. Esse ajuste individual pode ser complexo e de
difícil implementação, podendo trazer prejuízos nutricionais ao paciente. Neste
sentido, a avaliação e o acompanhamento do profissional nutricionista nas
intervenções dietéticas dos transtornos do espectro autista são fundamentais,
permitindo maior adequação e efetividade no tratamento.

Palavras-chave: Autismo, Transtorno do Espectro Autista, Implicações Biológicas


do Autismo, Intervenção Nutricional, Intervenção Dietética, Dietas Especiais para o
Autismo.

5
ABSTRACT

Autism is a developmental disorder characterized by a dysfunction in the areas of


behavior, communication and social interaction. Commonly manifests in the first
three years of life and the deficit in normal development may be progressive if not
treated properly. Its prevalence is increasing in recent years, as the amount of
research in the area. The pathogenesis of autism is not well defined. The
multifactorial nature seems to be the most plausible hypothesis with environmental
factors determining the spectrum of biological events in genetically susceptible
individuals. Studies have shown that the presence of biochemical and metabolic
imbalances contributes to the symptoms typical of autism. Gastrointestinal system,
immune and detoxification are usually compromised in these individuals, forming a
web of interconnections that affects mainly the neurological system. In this context of
biological imbalances, nutrition has a key role. The aim of this study was to review
the literature in terms of physiological implications more common in autism, linking
the different existing nutritional intervention strategies, focusing on special diets for
autism. There are only few studies demonstrating the efficacy of such diets, but much
research and empirical evidence have shown promise in this area. The diets were
not designed specifically for autistic children, but they use principles that can be
directed to the symptoms and impairment most noticeable in the individual. This
individual adjustment can be complex and difficult to implement and can bring harm
to the patient nutrition. In this sense, assessment and monitoring of professional
nutritionists in dietary interventions for autism spectrum disorders are crucial,
allowing for greater adequacy and effectiveness of treatment.

Keywords: Autism, Autism Spectrum Disorder, Biological Implications of Autism,


Nutritional Intervention, Dietary Intervention, Special Diets for Autism.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 4

2.1 HISTORICO ........................................................................................................................... 4

2.2 DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO ............................................................................................ 6

2.3 PREVALÊNCIA E ETIOLOGIA ...........................................................................................10

2.4 IMPLICAÇÕES BIOLÓGICAS DO AUTISMO ...................................................................13

2.4.1 Metilação, Transulfatação e Sulfatação ......................................................................13

2.4.2 Toxicidade, Metais Pesados e Mercurio .....................................................................19

2.4.2.1 Avaliação laboratorial de toxinas e da destoxificação ........................................22

2.4.3 Sistema Gastrointestinal e Digestão ...........................................................................24

2.4.3.1 Digestão prejudicada .............................................................................................25

2.4.3.2 Disbiose ..................................................................................................................26

2.4.3.3 Supercrescimento de leveduras ...........................................................................28

2.4.3.4 Síndrome de hiperpermeabilidade intestinal (Leaky Gut Syndrome) ................36

2.4.3.5 Hipersensibilidade alimentar e opióides ..............................................................39

2.4.3.6 Avaliação laboratorial da saúde gastrointestinal .................................................44

2.4.5 Sistema Endócrino e Glandular ...................................................................................47

2.4.5.1 Avaliação laboratorial de hormônios e glândulas ...............................................48

2.4.6 Sistema Imunológico e Inflamação (Intestino e Cérebro) .........................................49

2.4.7 Deficiências Nutricionais comuns no Autismo ............................................................52

2.4.7.1 Avaliação laboratorial do estado nutricional ........................................................53

2. 5 INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS NO AUTISMO: UMA VISÃO FUNCIONAL............55

2.5.1 Hiperpermeabilidade e Inflamação Intestinal .............................................................56

2.5.2 Deficiências Nutricionais ..............................................................................................57

2.5.3 Supercrescimento de Leveduras .................................................................................58

2.5.4 Toxicidade e Destoxificação Insuficiente ....................................................................59


7
2.5.5 Metilação, Transulfatação e Sulfatação Prejudicadas ...............................................60

2.6 INTERVEÇÕES DIETÉTICAS NO AUTISMO: DIETAS ESPECIAIS..............................62

2.6.1 Dieta Sem Glúten e Sem Caseína (SGSC) ................................................................62

2.6.2 Dieta do Carboidrato Específico (Specific Carbohydrate Diet - SCD) e Dieta da


Síndrome do Intestino e Psicologia (Gut and Psychology Syndrome - GAPS) ................64

2.6.3 Dieta da Ecologia do Corpo (The Body Ecology Diet™ - BED)................................65

2.6.4 Dieta Weston A. Price (WAP) / Nutrindo Tradições (Nourishing Traditions) ...........66

2.6.5 Dieta Anti-Fúngica (Feast Whithout Yeast) ................................................................67

2.6.6 Dieta Pobre em Fenóis (Feingold Diet e Failsafe Diet – Low Phenols) ...................69

2.6.7 Dieta Pobre em Oxalato (Low Oxalate Diet) ..............................................................69

2.6.9 Dieta de Eliminação e de Rotação (Sensibilidades Alimentares) .............................72

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 77

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 79

8
1 INTRODUÇÃO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por uma disfunção nas


áreas do comportamento, comunicação e interação social. Sua prevalência vem
crescendo nos últimos anos. O envolvimento dos pais tem acelerado o
entendimento desta patologia e com isso cresce o interesse da comunidade
científica em testar novas hipóteses e estabelecer relações causais, contribuindo
para o avanço no conhecimento e tratamento desta condição.

Muitas vezes o autismo pode ser acompanhado de déficits cognitivos, neurológicos,


epilepsia, convulsões, doenças auto-imunes e outras particularidades. Comumente o
transtorno se manifesta nos três primeiros anos de vida e os déficits no
desenvolvimento normal podem ser progressivos quando não tratados
adequadamente. Sua etiopatogenia não está bem definida, mas a multifatoriedade
parece ser a hipótese mais plausível. A literatura mais recente sugere que a
hereditariedade associada aos fatores ambientais desempenha um papel importante
no desenvolvimento do autismo.

Exposições tóxicas no pré-natal (teratógenos) e vacinações freqüentes nos primeiros


anos de vida são coerentes com a sintomatologia do espectro autista, mas além
destas, diversas outras teorias e correlações são apresentadas na literatura atual.
Anormalidades nas vias de metilação e sulfatação, alterações da metalotioneína e
deficiências nutricionais são levantadas em vários estudos. Estas alterações
acarretam na inabilidade de destoxificar xenobióticos e metais tóxicos, o que eleva o
estresse oxidativo gerando danos neurológicos, além de afetar a resposta
imunológica e o sistema gastrointestinal. Quando a via de sulfatação se mostra
ineficiente pode comprometer a permeabilidade da mucosa intestinal e da barreira
hemato-encefálica, o que leva a perda da seletividade de substâncias tóxicas.

A hiperpermeabilidade da membrana intestinal, presente nos autistas, tem como


manifestações clínicas múltiplas intolerâncias alimentares, formação de exorfinas
(opióides) através de componentes da dieta, exposição elevada a metais pesados, a
xenobióticos e toxinas microbianas. Estes fatores comprometem sobremaneira o
organismo desses indivíduos. Desequilíbrios no sistema imunitário ocorrem com

1
elevada freqüência, podendo ser causa ou conseqüência das anormalidades
observadas. Desarranjo na produção de anticorpos, desvio das subpopulações de
células T, aumento de citocinas inflamatórias e outras deficiências imunes, são
compatíveis com a inflamação crônica e auto-imunidade presentes em muitos
casos.

Problemas gastrointestinais, intoxicação, alergias, distúrbios do sono, dificuldade de


interação social, comprometimento em áreas do desenvolvimento neurológico e
cognitivo, hiperatividade, agressividade e múltiplas estereotipias são implicações
desses desequilíbrios no organismo e definem o quadro complexo de alterações
físicas, emocionais e psicológicas no autismo.

Neste contexto de desequilíbrios bioquímicos e metabólicos que afetam múltiplos


sistemas orgânicos, a alimentação parece desempenhar um papel bastante positivo,
auxiliando no equilíbrio do indivíduo como um todo.

Alguns estudos, relatos empíricos e inquéritos familiares mostram evidências de que


as intervenções dietéticas têm alcançado algum sucesso na melhora dos sintomas
do autismo. Existe à disposição de pais, cuidadores e profissionais uma gama de
opções de dietas especiais que podem ser direcionadas ao tratamento de indivíduos
com autismo.

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura em termos das
implicações fisiológicas mais comuns no autismo, assim como as diferentes
estratégias de intervenção nutricional existentes. As dietas especiais popularmente
difundidas entre as comunidades de autismo serão descritas neste trabalho, sob as
perspectivas da gastroenterologia, imunologia e excitotoxicidade.

Para tal, foi realizada uma revisão da literatura científica indexada ao Pubmed. Os
descritores utilizados foram: autism, autism spectrum disorder, ASD, diet, yeast,
candida, biofilm, gastrointestinal, gut permeability, leaky gut, dysbiosis, probiotic,
Saccharomyces boulardii, clostridium, detoxification, gut microflora, gluten, casein,
opioid, allergy, food sensitivity, immune system, cytokine, oxidative stress, oxalate,
salicylate e neuroinflamation. Foram levados em consideração artigos datados de

2
1992 a 2010, com ênfase nas publicações mais recentes. Livros relacionados ao
tema também foram utilizados.

3
2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HISTORICO

Em um artigo intitulado "distúrbios autísticos do contato afetivo" o psiquiatra Leo


Kanner, publicou em 1943 os primeiros relatos de casos sobre um distúrbio no
desenvolvimento infantil denominando-o de autismo. Ele definiu três padrões de
sintomas: (1) falha de usar a linguagem para desenvolvimento da comunicação, (2)
anormal reciprocidade social e (3) desejo obsessivo e ansioso pela manutenção da
mesmice, como visto nos rituais repetitivos e interesses circunscritos (KIDD, 2002).

Kanner acreditava que o autismo tinha uma causa neuropsicológica e com base
nesse contexto, em 1950, quando as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud
estavam em voga, o autismo foi atribuído às "mães geladeiras”, atribuindo à frieza
materna, o desencadeamento do autismo. Esta visão, posteriormente pautada pelo
professor Bruno Bettelhem em seu livro "A fortaleza vazia: autismo infantil e o
nascimento do eu" em 1967 (“The empty fortress: infantile autism and the birth of the
self”), que alegou que o trauma da criança não amada a conduz à doença (CUBAŁA-
KUCHARSKA, 2010), foi tão amplamente aceita pela categoria médica, que a
maioria dos pesquisadores e os médicos não buscaram respostas para autismo,
pois acreditavam que era uma doença intratável do ponto de vista da
medicina. Ainda hoje muitas crianças que recebem o diagnóstico de autismo não
são submetidas a maiores investigações médicas, já que esta condição é ainda
percebida como psicológica por muitos profissionais.

O primeiro grande ataque a teoria de Bettelheim foi conduzido por Bernand Rimland,
psicólogo e pai de um menino autista, ele foi a primeira voz com autoridade para
contrapor a pesquisa de Bettelheim e pôr em dúvida as suas teorias (CUBAŁA-
KUCHARSKA, 2010). Rimland fundou Associação Americana de Autismo em 1965 e
o Instituto de Pesquisa de Autismo (Autism Research Instituto – ARI) em 1967, após
publicar o livro "Autismo Infantil: a síndrome e suas implicações para a teoria neural
do comportamento". No ano de 1995 deu início ao movimento Derrote o Autismo
Agora! e Protocolo DAN! Desde então tem contribuído para a pesquisa e tratamento
no campo biomédico do transtorno do espectro autista. Seus primeiros estudos
focaram na toxicidade do mercúrio nas vacinas (ARI, 2010.). Dentro da comunidade
4
médica em geral o diagnóstico e a avaliação também melhorou, assim como o
ritmo e a intensidade das investigações (KIDD, 2002).

5
2.2 DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento, que atualmente pode ser associado


a diversas síndromes. Os sintomas variam amplamente, o que explica por que hoje
se referem a esta patologia como um espectro de transtornos. O autismo se
manifesta de diferentes formas, variando o grau de comprometimento
desencadeado.

Atualmente a comunidade médica define o autismo como um transtorno psiquiátrico,


justificando o diagnóstico com base em critérios encontrados no Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV (APA, 2000). (MELLO, 2005)Esses
critérios incluem disfunção na interação social, comprometimento da comunicação e
padrões de comportamento característicos, como movimentos repetitivos e
esteriotipias. De acordo com o DMS-IV, o autismo é um transtorno invasivo do
desenvolvimento (TID), geralmente manifestado nos primeiros 3 anos de vida e se
insere no espectro mais amplo de anormalidades, classificada como Transtorno do
Espectro Autista (TEA). Dentro do TEA existem cinco variantes, incluindo:

1. Transtorno autístico ou Autismo clássico (com ou sem regressão)

2. Síndrome de Asperger

3. Transtorno Desintegrativo da Infância (Síndrome de Heller)

4. Síndrome de Rett

5. Transtorno Invasivo do Desenvolvimento - Sem Outra Especificação (PDD-NOS) /


Autísmo atípico

O diagnóstico médico do autismo é feito basicamente através da avaliação do


quadro clínico da criança por meio de diferentes sistemas de avaliação. Todos eles
utilizam critérios de comportamento para diagnóstico do autismo, baseado em
prejuízos apresentados nos três domínios ou “tríade”, conforme caracterizaram
Lorna Wing e Judith Gould em seu estudo em 1979: a) prejuízo qualitativo na
interação social; b) prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não-verbal; c)
comportamento e interesses restritivos e repetitivos (JOHNSON e MYERS,
6
2007;MELLO, 2005). Para se obter um diagnóstico de autismo é necessário haver
sintomas nesses três domínios: pelo menos dois sintomas dos aspectos sociais,
pelo menos um de comunicação e pelos menos um de comportamento, com um total
de seis desses sintomas.

A Tríade é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas


com condições de inteligência que podem variar do retardo mental a níveis acima da
média. A dificuldade de comunicação é caracterizada pela dificuldade em utilizar
com sentido todos os aspectos da comunicação verbal e não verbal. Isto inclui
gestos, expressões faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação na linguagem
verbal; a dificuldade de sociabilização é a dificuldade de relacionar-se com os
outros, a incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e emoções. Há uma
dificuldade em se colocar no lugar do outro, e de compreender fatos a partir da
perspectiva de outra pessoa; e por fim, se estende às várias áreas do pensamento,
linguagem e comportamento da criança e pode ser mais bem visualizada pela
presença de comportamentos obsessivos e ritualísticos, compreensão literal da
linguagem, falta de aceitação das mudanças e dificuldades em processos criativos
(MELLO, 2005).

Estes critérios de diagnóstico estão publicados em alguns documentos de


referência, como a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização
Mundial de Saúde (OMS, 1992) e no Manual de Diagnóstico e Estatístico – 4ª edição
(DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2000). Ambos seguem um
esquema de diagnóstico bastante semelhante, no entanto são problemáticos porque
excluem e desaconselham o diagnóstico de outras condições coexistentes com o
autismo (por exemplo: TDAH, transtornos bipolar e psicótico) (GILLBERG, 2005).

Entre outros questionários existentes, os formulários desenvolvidos pelo Dr. Bernard


Rimland do Instituto de Pesquisa do Autismo (ARI) são bastante utilizados e
consideram o autismo como um transtorno neurológico e não psiquiátrico, ou seja, o
autismo é caracterizado como um conjunto de desequilíbrios bioquímicos que levam
a desbalanços neurológicos e de neurotransmissores, os quais resultam em
sintomas psicológicos (sociais e comportamentais), além de manifestações físicas. O
Formulário ARI’s E-2 checklist para Diagnóstico tem sido utilizado por muitos pais e

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profissionais para auxiliar no diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Para verificar a eficácia das várias intervenções feitas em seus filhos, o ARI também
utiliza o Formulário ARI’s E-3 checklist para Pesquisa, compilando em um banco de
dados de acesso livre todas as informações obtidas dos pais (ARI, 2010.).

Apesar de não existirem exames laboratoriais específicos para diagnosticar o


autismo, o que dificulta a detecção precoce e um diagnóstico conclusivo, vários
marcadores biológicos podem ser utilizados para identificar alterações metabólicas
freqüentemente associadas ao autismo, servindo de auxílio na avaliação do quadro
e principalmente na escolha do tratamento mais adequado. Exemplos de exames
são o teste de alergias e sensibilidades alimentares (IgA, IgE e IgG), avaliação de
metais tóxicos, análise fecal, pesquisa de fungos nas fezes, avaliação dos ácidos
graxos, presença de anticorpos no soro, marcadores hepáticos e da via de
metilação, ácidos orgânicos na urina, entre outros.

Enquanto os pais relatam alterações no comportamento da criança no primeiro ano


de vida, muitas não recebem o diagnóstico até idade mais avançada. Essa
dificuldade em estabelecer um diagnóstico precoce ocorre pela distribuição bimodal
do autismo, com grupos de crianças apresentando graves problemas já nos
primeiros anos de vida, enquanto outros apresentam essas dificuldades somente
após um período de desenvolvimento aparentemente normal (ASSUMPÇÃO e
PIMENTEL, 2000). Portanto, embora às vezes surjam sintomas característicos do
autismo por volta dos dezoito meses, raramente o diagnóstico é conclusivo antes
dos vinte e quatro meses, sendo este feito com maior freqüência após os trinta
meses de vida (MELLO, 2005). O diagnóstico precoce é importante para poder
iniciar a intervenção educacional especializada o mais rápido possível juntamente
com intervenção nutricional.

Arthur Krigsman classifica três formas de autismo de acordo com o início do seu
aparecimento: autismo de “aparecimento precoce”, quando diagnosticado muito
cedo, por volta dos 6 meses de idade e parece ser bastante raro; “regressivo”, no
qual o desenvolvimento ocorre normalmente até por volta dos 18 aos 24 meses,
quando o progresso na linguagem e habilidades sociais são perdidas, as vezes de
uma hora para outra; e “platô”, no qual o desenvolvimento parece ter estabilizado em

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torno de um ano de idade, mas ao longo do tempo fica evidente que a criança está,
na verdade, regredindo lentamente (MATTHEWS, 2008).

O autismo regressivo é o tipo mais comum e parece estar estreitamente relacionado


a etiologia ambiental, pois a regressão no desenvolvimento é clara, quando não
súbita, sendo freqüentemente relacionada pelos pais à algum evento ou gatilho,
como à exposição à pesticidas causando convulsões, exposição à vacinas,
causando febre alta e perda da fala (MATTHEWS, 2008). Segundo o relatório do
VAERS – “Vaccine Adverse Event Reporting System” – banco de dados mantido
pelo “Centers for Disease Control and Prevention” (CDC) e “Food and Drug
Administration” (FDA) – 61% das crianças tiveram evidências de regressão no
desenvolvimento após vacina no ano de 2007 (VAERS, 2010).

De acordo com o ARI, antes de 1990, aproximadamente dois terços das crianças
autistas eram autista desde o nascimento e um terço regredia após um ano de
idade. Os resultados foram baseados no Formulário ARI’s E-3 checklist para
Pesquisa, respondidos por centenas de famílias de autistas (ARI, 2010.).

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2.3 PREVALÊNCIA E ETIOLOGIA

O autismo pode ser identificado em todos os grupos raciais, étnicos e


socioeconômicos, porém os estudos epidemiológicos apontam maior incidência no
sexo masculino, com média de 3,5 a 4 vezes meninos para cada menina, mas
existem evidências mostrando maior severidade dos sintomas no gênero feminino
(ASSUMPÇÃO e PIMENTEL, 2000;KLIN, 2006).

Antes de 1980, o termo “autismo” foi usado primeiramente para se referir a um


transtorno raro, que afetava aproximadamente 1 em cada 2.000 crianças (RICE,
2009). De acordo com a estatística mais recente do Centro de Prevenção e Controle
de Doenças (CDC, 2006), a prevalência média de autismo nos Estados Unidos é de
aproximadamente 1 em cada 110 crianças.

Nos Estados Unidos houve um aumento na prevalência de autismo superior a


1.000% em 20 anos. Dados similares foram notificados no Reino Unido, Oriente
Médio e Ásia. (CDC, 2006). No Brasil não existem dados estatísticos, mas conforme
o censo escolar do INEP/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação – o qual é realizado
anualmente em âmbito nacional, nos anos de 2005 e 2006 foram catalogadas 7.123
e 7.513 escolas e classes especiais com atendimento de alunos autistas,
respectivamente. A partir de 2007, com a mudança de terminologia de autismo para
TID, incluindo outros transtornos na categoria, como Rett, Asperger e Transtorno
Desintegrativo da Infância (TDI), esse número aumentou, passando para 25.050 e
26.189 em 2008 (LAZZERI, 2010).

Há fortes indicações que a incidência do autismo esteja aumentando, mas nenhum


marcador biológico de diagnóstico definitivo ainda foi encontrado (BULL, 2003).
Alguns autores referem-se a esse fenômeno como epidemia de autismo. As
Hipóteses levantadas para essa ocorrência são a ampliação do conhecimento a
cerca da doença, tanto pelos profissionais como pelos familiares destas, com
aumento do número de diagnósticos e notificações dos casos pelos órgãos
competentes; e o real aumento da incidência da doença, que sugere fortemente a
influência dos fatores ambientais no desencadeamento do autismo (CDC,
2006;KLIN, 2006;SHAW, 2009).
10
Os estudos na área do autismo infantil, desde as primeiras considerações, feitas por
Kanner em 1943, até as mais recentes reformulações em termos de classificação e
compreensão da síndrome, têm sido permeados por controvérsias quanto a sua
etiologia.

Crescem as evidências de que o autismo é uma desordem complexa e multifatorial


que envolve o cérebro e o corpo, sendo resultado de vulnerabilidades genéticas
interagem com fatores ambientais.

Hoje a ciência já identifica vários distúrbios biológicos associados a esta doença, os


quais podem desempenhar um papel na etiologia da doença ou agravar esta
condição. As pesquisas na área do autismo infantil têm identificado inúmeros
problemas médicos associados a esta patologia.

O mais proeminente dos problemas parece estar relacionado às patologias do trato


gastrointestinal, incluindo a disbiose, supercrescimento fúngico, hiperpermeabilidade
intestinal, formação de exorfinas (opióides), má digestão, insuficiência hepática e do
pâncreas exócrino, múltiplas sensibilidades alimentares, alergias, doença
inflamatória intestinal, doença celíaca, síndrome de má absorção com conseqüente
deficiência nutricional (HORVATH e PERMAN, 2002).

Na maioria dos pacientes autistas investigados até o momento observa-se alteração


do sistema imunológico. A inflamação crônica, com citocinas inflamatórias
aumentadas, parece ter papel muito importante no agravamento das suas condições
(MOLLOY, 2006). Além disso, alguns trabalhos sugerem a auto-imunidade como um
mecanismo na patogênese do autismo, devido aos achados de auto-anticorpos
contra estruturas do sistema nervoso central (LI, 2009).

Os pacientes com autismo freqüentemente apresentam distúrbios nas principais vias


bioquímicas do organismo, incluindo a metilação, sulfatação e transulfatação,
levando ao aumento da permeabilidade intestinal e do estresse oxidativo, diminuição
da destoxificação de xenobióticos, metais pesados, pesticidas e endotoxinas, como
amônia, arabitol, ácido tartárico (CUBAŁA-KUCHARSKA, 2010)

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Muitos pesquisadores identificaram distúrbios do metabolismo de
neurotransmissores em pacientes autistas, incluindo a dopamina, serotonina,
glutamato e ocitocina (CUBAŁA-KUCHARSKA, 2010). Achados recentes mostram
também alterações mitocondriais com interferência no metabolismo energético
(GARGUS e IMTIAZ, 2008;ROSSIGNOL e BRADSTREET, 2008).

12
2.4 IMPLICAÇÕES BIOLÓGICAS DO AUTISMO

2.4.1 Metilação, Transulfatação e Sulfatação

Esses processos são essenciais para a manutenção da saúde e quando não estão
funcionando adequadamente trazem sérios prejuízos às funções celulares.

As vias bioquímicas de sulfatação, metilação e transulfatação são interdependentes


e essenciais para muitos processos no organismo, incluindo a destoxificação,
eliminação de metais pesados, digestão, função imune, função celular e metabólica,
desenvolvimento neurológico, integridade da mucosa intestinal e equilíbrio da
microbiota (MATTHEWS, 2008). Uma disfunção nesse mecanismo parece explicar
as desordens comumente encontradas nos indivíduos com Transtorno do Espectro
Autista.

A metilação é necessária para a cura e regeneração, vital para todos os processos


envolvendo o DNA, controlando a ativação e o silenciamento de genes. Dela
dependem os hormônios, vitaminas, neurotransmissores, enzimas e anticorpos.
Desempenha papel importante na disposição, humor, bem-estar, concentração e
estado de alerta (JAMES, 2006).

A transulfatação envolve uma etapa da cascata bioquímica após a homocisteína e


lida com substâncias como cisteína, taurina, sulfato e glutationa. Essas substâncias
estão altamente envolvidas na destoxificação, função antioxidante e outros
processos importantes. A cisteína pode ser convertida em taurina, a qual é usada
para produção do sal biliar para digestão de gorduras, além de possuir função no
sistema nervoso central. Cisteína também participa da formação de metalotioneínas,
proteínas essenciais na eliminação de metais tóxicos, incluindo o mercúrio, proteção
do cérebro contra toxicidade induzida pelo glutamato, além da expressão de genes
(MATTHEWS, 2008).

Quando a metilação e a transulfatação estão funcionando adequadamente, a


cisteína pode ser convertida em glutationa, maior antioxidante intracelular. Ela é
necessária para a manutenção da vitamina C e E, para destoxificação de
substâncias químicas e metais pesados, para a integridade da barreira intestinal,

13
formação e ativação das células T auxiliadoras, aumentando as resposta da via Th1
(combate a infecções) e reduzindo a Th2 (inflamação e auto-imunidade)
(MATTHEWS, 2008).

A cisteína pode também ser convertida em sulfato para participar da sulfatação, que
é a habilidade de utilizar sulfato em uma gama de processos bioquímicos. Esse
processo também é chamado de fase II da destoxificação hepática, onde o sulfato
se conjuga a toxinas possibilitando sua eliminação. O sulfato é uma molécula
enxofrada, que precisa ser convertida a sua forma ativa, fosfoadenosil fosfosulfato
(PAPS), a qual está envolvida com respiração celular, destoxificação, digestão,
integridade da barreira intestinal e hemato-encefálica, produção de ácidos biliares,
enzimas, proteínas e síntese de tecidos (MATTHEWS, 2008).

Considerando os processos na qual está envolvida, a deficiência na sulfatação


levará a um conjunto de problemas secundários, que podem perpetuar um ciclo
vicioso de desequilíbrios, por exemplo: baixa destoxificação (permite que toxinas
exógenas e endógenas causem disrupção no cérebro); aumento da permeabilidade
intestinal (permite absorção de toxinas que causam danos neurológicos e de
macromoléculas, que podem aumentar as sensibilidades alimentares ou formar
opióides com ação cerebral, além de reduzir a absorção de nutrientes); digestão
prejudicada (leva à menor absorção de nutrientes, necessários para todas as
funções orgânicas), entre outros.

A pesquisadora Rosemary Waring foi quem primeiro apontou este problema em


crianças autistas, quando encontrou baixos níveis da enzima fenol-sulfotransferase
(PST) e de seu substrato (sulfato) no soro, resultando na diminuição da capacidade
de oxidação dos compostos fenólicos. Em sua revisão, a autora encontrou diversos
estudos mostrando transtornos de sulfatação em 73% a 92% das crianças com TEA
(WARING e REILLY, 1993).

A enzima PST, responsável pelo processamento dos compostos sulfúricos, ou


fenólicos, deve processar fenóis (ingredientes artificiais e aditivos derivados do
petróleo), os salicilatos (encontrados naturalmente em frutas e vegetais) e as aminas
fenólicas (como a dopamina e serotonina). Anterior a Dra Waring, ainda na década
de 1970 o Dr. Feingod reconheceu que crianças com TDAH não eram capazes de
14
processar ingredientes artificiais e alimentos ricos em fenóis, sugerindo uma
incapacidade nesse mecanismo (FEINGOLD, 2010).

A membrana celular dos compostos fenólicos é composta por água e gordura, o que
permite a passagem através da barreira hemato-encefálica. Os neurotransmissores
são basicamente compostos fenólicos. Alguns desses fenóis químicos (aditivos
alimentares) são muito similares a neurotransmissores, e podem agir como
neurotoxinas, ligando-se aos receptores de neurotransmissores e estimulando
artificialmente o cérebro, podendo causar manifestações como hiperatividade, dor de
cabeça, agressividade e comportamento auto-agressivo, impaciência, distúrbios do
sono, vermelhidão nas orelhas e bochechas, fadiga, riso inapropriado e redução da
função neuromuscular. Essas reações ocorrem de 20 minutos a 2 horas após a
ingestão do alimento. Segundo Dr. Feingold, isso ocorre quando essas substâncias
que não são devidamente processadas e destoxificadas, atravessam a barreira
hemato-encefálica e causam disrupção no cérebro (FEINGOLD, 2010)

Muitos dos sintomas se sobrepõem a outros desequilíbrios, causando dúvidas


durante a avaliação. Os dois sinais mais óbvios são bochechas e orelhas vermelhas
e um desejo incomum por alimentos ricos em fenóis e/ou salicilatos. Os que mais
causam confusão no diagnóstico são sinais de riso inapropriado, muito comum no
supercrescimento de leveduras; comportamento auto-agressivo e agressividade,
efeito clássico dos opióides do glúten e caseína; fadiga ou hiperatividade, que pode
ser relacionada a muitos fatores, incluindo leveduras. Um diário alimentar
documentando todos os sintomas da criança é uma excelente maneira de auxilia os
pais e profissionais nessa identificação (MATTHEWS, 2008).

Com relação à metilação, recentemente um estudo conduzido por James e


colaboradores (2009 -art.8) analisou o plasma de crianças autistas e encontrou
significativa redução na proporção média de S-adenosil-metionina plasma (SAMe)
para S-adenosil-homocisteína (SAH), assim como na concentração de glutationa
reduzida (GSH) e seus precursores, indicando uma baixa capacidade de metilação e
da capacidade de destoxificação, com aumento no estresse oxidativo. Esses
achados mostram resultados semelhantes a estudos anteriores, que encontraram
concentrações plasmáticas significantemente reduzidas de metionina, SAMe,

15
homocisteína, cistationa, cisteína e glutationa total, enquanto os níveis de SAH,
adenosina e glutationa oxidada estavam extremamente elevados no plasma de
autistas, mostrando não só uma deficiência de metilação, mas de transulfatação
(JAMES, 2004;JAMES, 2006;KERN e JONES, 2006;PASCA, 2006).

De acordo com Dr. Richard Deth, altas concentrações de SAH levam à inibição do
ciclo da metionina, pela limitação da enzima metionina-sintetase. A atividade desta
enzima é necessária para a ativação do receptor de dopamina D4, que promove a
atenção e sincronização neuronal (DETH, 2008). A dopamina tem um papel central
na atenção. Alguns estudos mostram a relação do mau funcionamento da dopamina
em razão da metilação insuficiente, contribuindo para o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) (MATTHEWS, 2008).

Em seu artigo, Deth e colaboradores descrevem a “hipótese redox/metilação do


autismo'', no qual o estresse oxidativo, iniciado por fatores ambientais em indivíduos
geneticamente vulneráveis, iniciam múltiplas respostas adaptativas, envolvendo o
metabolismo de sulfatação. A baixa proporção entre SAMe/SAH reduz a
probabilidade de metilação do DNA, interferindo na regulação epigenética
(silenciamento ou ativação de genes), fundamental para o desenvolvimento normal.
O déficit neurológico (atenção e cognição) secundário à redução na capacidade de
sincronização de redes neurais é conseqüência desta interferência. Polimorfismos
genéticos que afetam o metabolismo de enxofre, metilação, destoxificação,
sinalização de dopamina e a formação de redes neuronais ocorrem mais
freqüentemente em indivíduos autistas (DETH, 2008).

Considerando que o estresse oxidativo é uma característica sistêmica do autismo,


as conseqüências do comprometimento na metilação e disrupção epigenética serão
expressas em tecidos não-neuronais, dando origem aos diversos sintomas comuns
do autismo, como disfunção imune e gastrointestinal (DETH, 2008).

Diversos nutrientes são necessários para metilação, como o precursor metionina e


cofatores, colina, betaína vitamina B12, ácido fólico e magnésio. Para a
transulfatação é fundamental a adequação da vitamina B6, magnésio, zinco e na
sulfatação o molibdênio é o cofator. A limitação dos nutrientes ou polimorfismos nas
enzimas que fazem a sua conversão parecem ser uma das razões para a deficiência
16
de componentes essenciais, como por exemplo, sulfato, cisteína, taurina e
glutationa, levando aos prejuízos da maioria dos processos metabólicos encontrados
nos indivíduos autistas.

Estudos têm demonstrado resultados bastante positivos com a suplementação de


nutrientes que participam das vias de metilação e transulfatação. Crianças autistas
normalmente respondem bem a suplementação de vitamina B12, segundo mostra o
inquérito com pais de autistas pelo realizado pelo Instituto de Pesquisa do Autismo,
com 72% de respostas positivas (ARI, 2009 ).

Dr. James Neubrander, pioneiro no uso de injeções de metilcobalamina em TEAs,


afirma que 85% a 90% das crianças autistas respondem positivamente à
suplementação (MATTHEWS, 2008). No estudo de Jill James, após a
suplementação de ácido folínico (forma ativa do ácido fólico) e TMG (trimetilglicina
ou betaína), houve a normalização dos metabólitos do ciclo da metionina, enquanto
os da transulfatação permaneceram anormais Após adição de metilcobalamina,
todos os metabólitos foram normalizados (JAMES, 2006). Em seu estudo mais
recente, James demonstrou aumento significativo na capacidade metabólica dessas
vias após suplementação de metilcobalamina e ácido folínico, cofatores da enzima
metionina-sintetase, responsável pela remetilação da homocisteína (JAMES, 2009).

Estudos com altas doses de vitamina B6 foram iniciados na década de 1960 e a


combinação com o magnésio, tem mostrado resultados bastante positivos nas áreas
da interação social, comunicação e comportamento. Findling e colaboradores
avaliaram a eficácia de altas doses de piridoxina e magnésio no tratamento de
autistas, a partir da revisão de 18 estudos realizados entre 1966 e 1996,
comprovando a eficácia da suplementação (FINDLING, 1997). Dr. Shaw, em 1964,
avaliou o uso de mega doses vitamina B6, B3, B5 e vitamina C, em 200 crianças
com autismo e verificou melhora significativa em 40% dos casos em 21 itens
relacionados ao comportamento após o uso da vitamina B6. Em estudo posterior,
Shaw observou melhora no contato visual, do interesse pelo mundo ao redor, da
comunicação verbal e redução das estereotipais após o uso de altas de vitamina B6
e magnésio (SHAW, 2009). Na avaliação mais recente feita pelo ARI, o uso da
Piridoxal-5-Fosfato – P5P (vitamina B6 na sua forma ativa) foi positiva em 48% das

17
crianças e a vitamina B6 em associação com o magnésio obteve 48% de eficácia
(ARI, 2009 ).

Além da importância na metilação, a P5P age como cofator para a maioria das vias
metabólicas de formação de neurotransmissores e catecolaminas incluindo a
serotonina, o ácido gama amino-butírico (GABA), dopamina, epinefrina e
norepinefrina (KIDD, 2002), contribuindo para o prejuízo da atenção e sincronização
neuronal.

Os defeitos na metilação e sulfatação podem ter muitas razões. Muitos genes já


foram identificados como responsáveis por erros de metilação. As causas para o
defeito de sulfatação podem ser genéticas ou adquiridas (ex: mercúrio de vacinas),
ou as duas. Além da baixa regulação por interferência de nutrientes e enzimas
deficientes, conforme descritos acima, algumas substâncias tóxicas como o cloro
parece afetar negativamente a sulfatação. Na realidade, níveis elevados de
substâncias tóxicas que se utilizam de substâncias destoxificantes desempenham
um papel causal no defeito de sulfatação (MATTHEWS, 2008).

18
2.4.2 Toxicidade, Metais Pesados e Mercurio

Conforme explicitados anteriormente, indivíduos autistas possuem uma baixa


capacidade de eliminação de xerobióticos e metais pesados, estando expostos a
elevada toxicidade e aumento do estresse oxidativo.

Os primeiros estudos envolvendo a influência da exposição a metais pesados no


autismo e aumento do estresse oxidativo, surgiram a partir da suspeita de que
vacinas estariam desencadeando sintomas autísticos em diversas crianças. Essa
hipótese começou a ser largamente investigada pautada na presença do timerosal,
conservante utilizado na maioria das vacinas desde a década de 1930. Segundo
Bernard, o timerosal contém 49,6% de etilmercúrio (BERNARD, 2001).

Recentemente o mercúrio foi removido da maioria das vacinas na América e Europa,


porém, durante décadas milhões de crianças foram afetadas pela grande quantidade
de mercúrio usada como preservativo. Mas em muitos países o timerosal ainda é
utilizado. No Brasil, algumas vacinas como a da gripe, por exemplo, mantêm este
conservante.

O timerosal nas vacinas é injetado diretamente na corrente sanguínea, ignorando


muitos dos sistemas de defesa, como o intestinal. O mercúrio atravessa a barreira
hemato-encefálica e se aloja no tecido, causando dano cerebral. Além do mais,
bebês não possuem defesas para destoxificá-lo, já que a bile, que ajuda a eliminar
as toxinas do organismo, não é produzida em crianças antes dos 4-6 meses de vida
(MATTHEWS, 2008).

As reações de intoxicação por mercúrio são muito semelhantes aos sintomas vistos
em indivíduos autistas. Os sintomas compartilhados por ambos são, entre outros,
abano das mãos, balanço e andar incessante e sobre a ponta dos pés, aumento da
sensibilidade para barulhos e cheiros, interrupção do desenvolvimento da fala, pobre
contato visual, redução do tônus muscular, dificuldades com o sono, transtornos
concentração, memória, irritabilidade, depressão, ansiedade, aumento da
agressividade (BERNARD, 2001).

19
Além da presença do mercúrio em vacinas, existem outras fontes de intoxicação,
como as amalgamas dentárias, brinquedos infantis, através do leite materno
(quando a mãe foi exposta), alimentação, especialmente através de peixes e frutos
do mar contaminados, principalmente a cavala, peixe espada e cação, seguido do
robalo e atum (MATTHEWS, 2008), além de corantes como o amarelo tartrazina e o
xarope de milho, utilizado com principal adoçante da indústria alimentícia desde a
década de 1980, a partir da qual houve grande aumento na prevalência de casos de
autismo (DUFAULT, 2009).

A toxicidade do mercúrio das vacinas é maior que a da exposição ambiental ao


mercúrio, segundo observou Dr. Harley. Em presença da albumina e testosterona, a
toxicidade deste metal aumenta. O pesquisador demonstrou 100% de morte celular
em cultura de neurônios quando adicionado o hormônio masculino, contra 5%
somente na presença do timerosal. Em contraposição, o estrogênio teve efeito
protetor com a toxicidade pelo mercúrio, o que pode explicar a diferença de 4:1 vista
entre meninos e meninas que desenvolvem autismo (MATTHEWS, 2008).

Crianças com TEA apresentam um aumento da carga corporal de mercúrio


demonstrada em diversos estudos. O mercúrio inibe ligantes da cisteína na
metalotioneína (MT), proteína que normalmente se liga a íons metálicos, tais como
cobre e zinco e é responsável pela eliminação de metais tóxicos (DUFAULT, 2009).
O consumo de alimentos contaminados por mercúrio leva à deficiência de zinco e
induz ao mau funcionamento da MT. Esse funcionamento alterado pode levar a
grave deficiência de zinco e permitir que o cobre atinja níveis tóxicos nas
membranas, levando a peroxidação lipídica e dano celular. A exposição cerebral ao
estresse oxidativo excessivo pode levar a perda na capacidade de aprendizagem.
Evidências sugerem que crianças com TDAH possuem deficiência de zinco e que o
consumo de aditivos alimentares que empobrecem o zinco plasmático aumentam o
comportamento hiperativo (desatenção e impulsividade) tanto em indivíduos com
TDAH quanto na população normal (DUFAULT, 2009). Conforme o levantamento do
ARI sobre as avaliações realizadas com os pais, o tratamento com zinco foi eficaz
em 54% das crianças autistas (ARI, 2009 ).

20
Um número grande de estudos tem demonstrado que a exposição ao mercúrio pode
causar disfunções imunológicas, sensoriais, neurológicas, motoras e
comportamentais e essas semelhanças se estendem a neuroanatomia e bioquímica
(GEIER, 2009). O último Consenso científico sobre agentes ambientais associados a
distúrbios do desenvolvimento neurológico publicado pelo “Collaborative on Health
and the Environment's Learning and Developmental Disabilities” afirmou que não há
dúvidas que a exposição ao mercúrio leva ao transtorno do espectro autista (LDDI,
2008).

É hipotetizado que o autismo resulta da combinação da suscetibilidade genéticas e


bioquímicas sob a forma de uma reduzida habilidade de excreção do mercúrio e/ou
aumento da exposição ambiental em um momento decisório do desenvolvimento
(DETH, 2008).

O estresse oxidativo em autistas está associado ao aumento dos marcadores de


peroxidação lipídica, níveis de ácidos graxos urinários e malondialdeído plasmático,
assim como elevados níveis de citocinas inflamatórias (DETH, 2008). Os danos
causados pelo stress oxidativo incluem, principalmente, a clivagem do DNA (LEE,
2002), lise mitocondrial, oxidação de proteínas, (ADAMS, 2001), bem como
a peroxidação de lipídios da membrana celular (MARKS, 1996).

Devido à sua alta taxa metabólica e sua capacidade relativamente reduzida de


regeneração celular, o cérebro é particularmente sensível aos danos oxidativos
(ANDERSEN, 2004). Além disso, é altamente suscetível à peroxidação lipídica, visto
sua composição principalmente de ácidos graxos poliinsaturados. Os mecanismos
de defesa antioxidante normais contra essas agressões (glutationas, vitamina E, C e
carotenóides) encontram-se freqüentemente diminuídos em indivíduos autistas,
agravando o dano oxidativo ao tecido cerebral.

As citocinas inflamatórias somadas ao estresse oxidativo levam à ativação


microglial, indicando neuroinflamação e anomalias neuroimunes, conforme
observado no cérebro post-mortem de autistas (DETH, 2008;PARDO, 2005). O
maior efeito da ativação da microglia é a excreção de glutamato para o espaço
extracelular. A microglia ativada é citotóxica para os neurônios e acredita-se o

21
principal mecanismo seja esse. Evidências de neurotoxinas aumentadas em cérebro
de autistas já foram documentadas (PASTURAL, 2009).

As células da glia perfazem cerca de 90% de todas as células do cérebro e só


iniciam a sua formação após o nascimento, enquanto a maioria dos neurônios já
está formada nessa etapa (MATTHEWS, 2008). Esse processo envolve elevada
necessidade de sulfato, na qual a criança possui boa reserva adquirida da mãe logo
antes do nascimento. A maturação do cérebro é mais intensa pouco antes dos dois
anos de idade, justamente na mesma época que ocorre a grande maioria das
vacinações. As mães com sulfatação deficiente podem não suprir a criança com
sulfato suficiente através da placenta, prejudicando o processo de formação
neuronal.

Durante a gravidez, a ocitocina, um peptídeo neuroativo é necessário para o


trabalho de parto. A ocitocina requer sulfato. Quando o nascimento está
comprometido, talvez pela falta de ocitocina, uma ocitocina sintética é aplicada na
gestante. Pesquisas indicam que um grande percentual de mães de crianças
autistas, necessitou de ocitocina sintética durante o trabalho de parto. A ocitocina,
também conhecida como “hormônio social” ou “hormônio do amor” é responsável
pelo reconhecimento social e ligação afetiva. Sua deficiência pode ser responsável
por muitos casos de anormalidade sociais em crianças com TEA (MATTHEWS,
2008).

2.4.2.1 Avaliação laboratorial de toxinas e da destoxificação

Perfil completo de destoxificação (sangue, saliva e urina): avalia a destoxificação


hepática através da fase I e II, incluindo a sulfatação. Feito no Exterior (Genova
Diagnostics)

Teste de provocação de urina para toxicidade de metais pesados: é necessário


usar altas doses de um agente quelante para avaliar eliminação de metais tóxicos.
Esse teste é bastante utilizado no protoloco DAN!, mas alguns pesquisadores

22
consideram muito agressivo. Feito somente no exterior (Metametrix Clinical
Laboratory, Doctor’s Data e Great Plains Laboratory)

Painel de metais no cabelo para toxicidade de metais pesados: para avaliar


principalmente exposição recente e o que está sendo excretado. Feito no exterior
(Metametrix Clinical Laboratory, Doctor’s Data e Great Plains Laboratory)

Painel de poluentes ambientais na urina: analisa níveis de fitalatos, benzeno,


estireno e outros poluentes ambientais. Feito no exterior (U.S. Biotek)

Porfirinas (urina): avalia os efeitos de toxicidade na via de biossíntese do


grupamento Heme. Avalia os efeitos negativos da sobrecarga tóxica no sistema
orgânico. Realizado no exterior (Metametrix Clinical Laboratory, Great Plains
Laboratory, Laboratoire Philippe Auguste)

23
2.4.3 Sistema Gastrointestinal e Digestão

Crianças com Transtorno do Espectro Autista freqüentemente são acometidas por


sintomas gastrointestinais (GI). Recentemente, muitas pesquisas se dedicam a
encontrar uma associação entre o autismo e as patologias do trato gastrointestinal.

Um número cada vez mais significativo de pacientes autistas é atendido em clínicas


pediátricas de gastroenterologia, sugerindo um aumento na prevalência de sintomas
GI, incluindo diarréia crônica, obstipação, flatulência, distensão e dor abdominal.
Alguns autores relataram uma associação entre autismo e doença inflamatória
intestinal, esofagite de refluxo, gastrite, má absorção de dissacarídeos (GILGER e
REDEL, 2009;JYONOUCHI, 2005 ;JYONOUCHI, 2002;SMITH, 2009), hiperplasia
nodular linfóide e enterocolite (SRINIVASAN, 2009;WAKEFIELD, 1998)
(GALIATSATOS, 2009;KRIGSMAN, 2010). De acordo com o ARI, 50% das crianças
com TEA sofrem de obstipação e/ou diarréia (ARI, 2010.).

Diversos estudos documentaram a presença de sintomas GI em 80% das crianças


autistas (D’SOUZA, 2006;HORVATH e PERMAN, 2002;HORVATH e PERMAN,
2002). Valores similares foram relatados neste estudo, com 70% das crianças dentro
do espectro autista com sintomas GI, contra 28% do grupo controle (VALICENTI-
MCDERMOTT, 2008). Recentemente, Smith e colaboradores compararam crianças
autistas, crianças com outros transtornos de desenvolvimento neurológico e grupo
controle. O estudo confirmou o aumento dos sintomas GI em crianças com autismo,
no entanto, não encontrou diferença significativa entre autistas e crianças com
outros transtornos neurológicos, sugerindo que essa pode não ser uma questão
específica do autismo (SMITH, 2009).

No presente ano de 2010, 143 crianças autistas com sintomas GI crônicos foram
submetidas à biopsia de intestino por ileonoscopia. Dos sujeitos analisados, 78%
apresentavam diarréia, 59% dor abdominal e 36% com obstipação. A análise
histológica mostrou inflamação crônica do íleo e/ou do cólon em 74% dos pacientes,
consistindo em colite ativa ou crônica (69%). Foi encontrada uma significativa
associação entre a inflamação intestinal e o início do aparecimento transtorno.
Sendo que o tipo “platô” e o “regressivo” apresentaram maior risco de inflamação
quando comparado aos autistas com “aparecimento precoce” da doença. Não se
24
sabe ao certo razão para esta diferença, mas pode ter uma ligação com a o tipo de
agente etiológico para cada grupo, sendo necessárias maiores investigações
(KRIGSMAN, 2010).

A prevalência de sintomas GI em indivíduos com TEA tem sido objeto de muitas


pesquisas, porém, os resultados permanecem controversos. Enquanto muitos
estudos mostraram o aumento de sintomas em autistas, outros não encontraram
diferenças significativas entre autistas e os grupos controles (MOURIDSEN,
2009;NIKOLOV, 2009). Segundo a Academia Americana de Pediatria (GILGER e
REDEL, 2009), apesar da ampla aceitação popular de uma conexão entre o autismo
e doenças gastrointestinais, ainda são limitados os estudos epidemiológicos que
investigam esta relação, sendo necessários mais estudos de base populacional e
com metodologias melhor delineadas para avaliar essa relação.

Investigações a cerca do papel do intestino no comportamento e desenvolvimento


neurológico de crianças autistas tem suscitado muitas hipóteses e correlações pelos
pesquisadores. Algumas das alterações GI mais estudadas no autismo serão
descritas a seguir:

2.4.3.1 Digestão prejudicada

A digestão dos alimentos nos autistas normalmente está prejudicada. Uma das
causas é a baixa sulfatação, conforme mencionado anteriormente. O sulfato ativa a
gastrina, a qual inicia a cascata para outras reações da digestão. A gastrina libera o
ácido clorídrico e pepsina, que aumentam a acidez, proporcionando a quebra das
proteínas e utilização dos aminoácidos, matérias-primas para hormônios, enzimas,
neurotransmissores e tecidos. O pH reduzido estimula a secretina, hormônio
digestivo produzido no duodeno e jejuno, pela ação das proteínas parcialmente
digeridas no intestino. A secretina estimula o pâncreas a produzir bicarbonato, bile e
enzimas pancreáticas para dar seguimento à digestão. A gastrina também estimula
a liberação da secreção de enzimas pancreáticas e de colecistoquinina, a qual ativa
a liberação da bile. A bile emulsifica as gorduras para serem digeridas e absorvidas
pelo intestino delgado, mas também tem um papel importante na eliminação de

25
toxinas do organismo. As enzimas pancreáticas são necessárias para digestão
posterior das gorduras, carboidratos e proteínas (MATTHEWS, 2008). Fica bastante
clara a importância do sulfato na digestão após descrever todo o processo.

Baixos níveis de secretina, colecistoquinina, ácido clorídrico, enzimas digestivas,


além de ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais são comumente
encontrados em indivíduos autistas e podem ser explicadas pelo mecanismo acima
descrito. Dentre as diversas terapias utilizadas no tratamento biomédico do autismo,
pode-se citar a suplementação de enzimas digestivas, ácidos graxos essenciais,
vitaminas e minerais e secretina. Esta apresentou eficácia em 43% das crianças
autistas, enquanto enzimas digestivas obtiveram 62% de aprovação no tratamento e
os ácidos graxos 59%, segundo o último levantamento do ARI. As vitaminas e
minerais foram analisadas separadamente (ARI, 2009 ).

2.4.3.2 Disbiose

Existem dois tipos principais de bactérias no trato gastrointestinal (TGI), as aeróbicas


e as anaeróbicas. A primeira necessita de oxigênio para viver no ambiente intestinal,
enquanto as anaeróbicas podem morrer se o oxigênio estiver presente. Outro grupo
de microorganismos que colonizam naturalmente o intestino são os fungos e as
leveduras, além de poder abrigar helmintos, protozoários e vírus.

Estima-se que existam 500 espécies diferentes de bactérias no trato intestinal


humano, predominando as bactérias anaeróbicas (95 a 99%), num total de
aproximadamente 100 trilhões, ou seja, mais que o total de células do organismo. A
colonização das bactérias não se dá de maneira uniforme ao longo do TGI, visto que
elas apresentam atividades diferentes dependendo do local de colonização. No
estômago o número de bactérias é pequeno devido ao ácido clorídrico, que
neutraliza e controla sua proliferação. A partir do íleo a quantidade de bactérias
começa a ficar mais evidente e o intestino grosso é a região com maior massa
bacteriana, com 13 gêneros diferentes. Devido ao trânsito mais lento em
comparação ao restante do TGI, permite uma maior adesão e colonização
bacteriana (DAVISON e CARVALHO, 2008;SHAW, 2009).

26
A microbiota intestinal sofre constante modificação, por conta do dinamismo
fisiológico de eliminação fecal, sendo que a colonização do TGI é temporária. Existe
um complexo equilíbrio entre os microorganismos residentes no intestino, pela
interação entre bactérias probióticas (representam um percentual pequeno e
exercem efeito benéfico); bactérias comensais (maior parte das bactérias e podem
promover tanto o equilíbrio quanto o desequilíbrio); bactérias patogênicas (podem
causar doenças agudas e crônicas e devem estar em baixa população num intestino
saudável, proliferando rápido em um ambiente oportuno). Esse equilíbrio entre os
microorganismo é chamado de microbiota normal (DAVISON e CARVALHO, 2008).

A microbiota intestinal equilibrada é um dos componentes de defesa mais


importantes do organismo, juntamente com a integridade da barreira mucosa e o
sistema imune entérico. As bactérias intestinais possuem diversos mecanismos de
proteção do hospedeiro, que agem individualmente ou em conjunto: competição pelo
substrato e pelos sítios de adesão de mucina; manutenção de um ambiente
fisiologicamente restritivo (pH, potencial redox e produção de metabólitos tóxicos
para os patógenos); produção de antibióticos como a bacteriocina (DAVISON e
CARVALHO, 2008).

A maturação e o desenvolvimento da imunidade local e sistêmica, assim como o


equilíbrio entre Th1 e Th2 (conforme será explicado mais adiante), sofrem grande
influência da microbiota intestinal. A maior parte das células imunes do organismo
encontra-se no intestino e seu desenvolvimento diário depende do estímulo dos
microorganismos.

Quando o equilíbrio da microbiota é perturbado temos um estado de disbiose


intestinal, o qual é definido pelos efeitos nocivos da microbiota via: (1) mudanças
quantitativas e qualitativas na própria microbiota intestinal; (2) mudanças na sua
atividade metabólica; (3) mudanças em sua distribuição no TGI (HAWRELAK e
MYERS, 2004).

Os fatores que influenciam neste desequilíbrio podem iniciar no momento do parto,


pelo primeiro contato da criança com as bactérias do canal vaginal e região anal da
mãe, colonizando o intestino do bebê principalmente com lactobacilos e
bifidobactérias, considerando uma mãe sem disbiose. Outro fator importante é a
27
amamentação, que fornece matéria-prima para o crescimento das bactérias
probióticas. Essa relação já é bem documentada na literatura.

Ao considerar o quadro inverso, gestante com disbiose, nascimento de parto


cesáreo, falta de aleitamento materno e uso de fórmulas infantis, o resultado será
uma criança com elevada propensão à disbiose. Adicionalmente, o uso de
antibióticos, principalmente precoce; alimentação desequilibrada, com alto consumo
de açúcar refinado, laticínios, alimentos industrializados, excesso de gordura
proteína e álcool, associado ao baixo consumo de frutas, hortaliças e cereais
integrais; além de má digestão; jejum prolongado; estresse físico e emocional,
infestações e infecções intestinais; decréscimo do sistema imune; motilidade
intestinal reduzida; exposição à xerobióticos; doenças inflamatórias intestinais; uso
crônico de medicamentos; entre outros, são fatores que podem causar alteração da
ecologia intestinal.

2.4.3.3 Supercrescimento de leveduras

A partir da segunda guerra mundial os antibióticos foram produzidos em escala


comercial. Enquanto em 1949 a produção era de 80 toneladas por ano, uma
quantidade bem baixa e grande parte de uso injetável, em 1954 a indústria produziu
250 toneladas/ano, já de uso oral. Mas em 1990 é que houve uma explosão na
comercialização e uso de antibióticos, alcançando 20.000 toneladas no ano. A partir
dessa década os casos de autismo, TDAH e outros distúrbios como fibromialgia
aumentaram consideravelmente a sua incidência (SHAW, 2009).

Nos Estados Unidos uma das principais razões do uso de antibióticos em crianças é
para tratar otite média, uma infecção no ouvido. De acordo com dados do Painel
para Otite Média, pediatras e cientistas americanos concluíram que as infecções de
ouvido são responsáveis por 1/3 de todas as consultas pediátricas e 75% dos
retornos, sendo que entre 1975 e 1990 os atendimentos de otite aumentaram 150%
(24,5 milhões de consultas/ano). Crianças menores de dois anos possuem a maior
incidência de consultas, como também são responsáveis pelo maior aumento
(224%) (SHAW, 2009).

28
Infecções de ouvido e uso excessivo de antibióticos são extremamente freqüentes
na população com TEA, acarretando no aumento de leveduras intestinais, as quais
enfraquecem o sistema de defesa contra infecções, estabelecendo um verdadeiro
ciclo vicioso. Outra hipótese segundo Shaw, é que o uso de antibióticos permite o
crescimento das leveduras, enquanto o sistema imunológico ainda está em
desenvolvimento. O sistema imune não “percebe” a levedura como um patógeno e
não desenvolve anticorpos que permite que o sistema imune a mantenha sob
controle (SHAW, 2009).

Concomitantemente ao uso de antibióticos, tem aumentado o número de bactérias


resistentes. Alguns estudos demonstraram que o aumento do uso de antibióticos em
animais destinados à alimentação humana seleciona as bactérias multi-resistentes,
que acabam infectando humanos, seja pela carne, leite e subprodutos ou pelas
fezes por contaminação (SHAW, 2009).

Os antibióticos acarretam no desequilíbrio da microbiota ao matar não só a bactéria


patogênica causadora da infecção, mas também as bactérias probióticas, permitindo
o crescimento das leveduras e das bactérias patogênicas mais rapidamente.
Bactérias probióticas apresentam mais dificuldade de recolonizar o intestino. Esse
não é o único mecanismo que desencadeia o supercrescimento de leveduras, mas
muitas vezes é um fator contribuinte (SHAW, 2009)

Esse processo ocorre com qualquer indivíduo, saudável ou não, em uso de


antibióticos. Entretanto, parece afetar mais severamente crianças com autismo,
sendo muito comum apresentarem supercrescimento de leveduras (MATTHEWS,
2008) e infecções por Clostridium spp (FINEGOLD, 2008;MARKIEWICZ e
MACQUEEN, 2009). As leveduras, para defesa e sobrevivência, produzem
substâncias que são tóxicas quando absorvidas, principalmente através da mucosa
permeável, adentram a corrente sanguínea, circulam por todos os tecidos e são
excretadas através da urina (CARREIRO, 2009). Esses subprodutos do metabolismo
microbiano podem ser analisados através do teste de ácidos orgânicos na urina.

Além da produção dessas toxinas, as leveduras são capazes de se converter em


formas mais invasivas, potencializando a sua virulência e dificultando seu controle.
Quando na sua forma micelial, as leveduras se fixam firmemente na mucosa através
29
das hifas (prolongamentos) e produzem exoenzimas que digerem as células da
parede intestinal e facilitam ainda mais sua invasão e fixação no tecido. Uma
variedade de enzimas digestivas é secretada pelas leveduras, como fosfolipase A2,
catalase, aspartil proteases, fosfatases ácidas e alcalinas, coagulases, quaratinases
e proteases, desencadeando um processo inflamatório local. Evidências sugerem
que a enzima aspartil protease é capaz de digerir anticorpos IgA e IgM, produzidos
pelo sistema imune como reação às leveduras (SHAW, 2009). Esses processos
associados desencadeiam ou agravam a permeabilidade da mucosa intestinal.

De todos os fungos oportunistas relacionados a infecções humanas, a Candida sp é


sem dúvida a mais comum e estudada, especialmente Candida albicans,
microorganismo inicialmente comensal do intestino humano. As infecções
provocadas pelas várias espécies de Candida são extremamente difíceis de tratar e
manter sob controle, devido aos seus eficientes mecanismos de virulência, descrito
em diversos estudos.

Os mecanismos mais importantes parecem ser a aderência à mucosa intestinal e


sua alta capacidade de formação de biofilmes (DONGARI-BAGTZOGLOU,
2009;KUMAMOTO e VINCES, 2005;RAMAGE, 2005;UPPULURI, 2009). Estes
patógenos produzem um biofilme como mecanismo de defesa para evitar a detecção
do pelo sistema imunológico, o que lhes permite sobreviver em ambientes hostis.
Evidências sugerem que este é o principal fator infecções recorrentes e resistência
aos antibióticos e antifúngicos (MORALES e HOGAN, 2010;SCHULZE e
SONNENBORN, 2009;USMAN, 2009). O biofilme caracteriza-se pela associação de
microorganismos em relações simbióticas que aderem fortemente à superfície
mucosa pela formação de uma matriz protetora composta por polissacarídeos, os
quais são mantidos juntos pela combinação de minerais carregados negativamente,
como o cálcio, magnésio e ferro (Figuras 1 e 2). Infelizmente, com a expansão
anormal de bactérias e biofilmes de levedura, a microbiota benéfica é reduzida muito
rapidamente, aumentando a disbiose. Os íons negativos em biofilmes são
vulneráveis a certos quelantes, como o EDTA. A adição de enzimas específicas
ajuda a romper a matriz de polissacarídeo. Essa combinação permite a exposição
das bactérias e leveduras anteriormente protegidas pela camada do biofilme, ficando

30
vulneráveis ao ataque do sistema imune, medicamentos antimicrobianos e
antifúngicos naturais.

Figura 1 – Ilustração esquemática demonstrando a formação do biofilme: Na sequência de cima para


baixo: (1) sítios de ligação dos microorganismos na superfície; (2) aderência (primeiras espécies); (3)
co-aderência (outras espécies); (4) microcolônias (biofilme). Fonte: (KLEESSEN e BLAUT, 2005).

Figura 2 - Microscopia de biofilme formado por bactérias Staphyloccocus aureus na superfície de um


cateter. Fonte desconhecida.

31
Esse tratamento faz parte do Protocolo do Biofilme, estabelecido pela Dra. Usman,
médica DAN e pesquisadora na área de desequilíbrios bioquímicos e tratamentos
em crianças com TDAH e autismo especialista no tratamento biomédico do
autismo. Seu protocolo é um trabalho ainda em andamento, que consiste em quatro
etapas: 1) Lise e descolamento do biofilme com o uso de enzimas que degradam
poli e dissacarídeos, EDTA, lactoferrina (quelante de ferro), 2) ataque aos
microorganismos com agentes antimicrobianos e 4) limpeza do intestino, com fibras
solúveis e carvão ativado, 4) restabelecimento da ecologia intestinal, com o uso de
pré e probióticos, alimentos fermentados e antibióticos naturais (alho, orégano,
tomilho, páprica) (USMAN, 2009).

Outros fatores de virulência muito importantes são a produção de exoenzimas, já


descritas anteriormente, o “switching fenotípico” e a produção de tubos germinativos,
ou seja, habilidade das leveduras de transição morfológica para forma de micélio
(hifas), com maior capacidade invasiva, entre outros fatores (CARREIRO,
2009;KUMAMOTO e VINCES, 2005).

Os principais subprodutos do metabolismo de fungos e leveduras, resultantes do


processo de fermentação dos carboidratos, principalmente o açúcar, são
(CARREIRO, 2009;SHAW, 2009):

Arabinose: é uma aldose, tipo de açúcar formado a partir do arabitol, um álcool de


açúcar produzido pela Cândida. Bactérias intestinais e provavelmente o fígado
convertem o arabitol e arabinose. Existem suspeitas de que o arabitol é absorvido
pela circulação portal, convertida no fígado em arabinose e eliminada na urina sem
metabolização endógena.

Segundo Dr William Shaw, a arabinose pode reagir com a lisina, aminoácidos


presente em várias proteínas. Essa molécula (arabinose-lisina) pode formar um
cruzamento com a arginina de uma proteína adjacente, dando origem a um
composto chamado pentosidina. Essa estrutura pode cruzar proteínas diferentes e
alterar tanto a estrutura quanto a função biológica das mesmas, podendo ter um
efeito devastador em todo o organismo. A estrutura patológica característica é o
emaranhado neurofibrilar, que está associado à doença de Alzheimer e também

32
podem ser encontrados danos similares no cérebro de autistas. É possível que e
formação da pentosidina seja responsável por desmielinização, estimulação de
doenças auto-imunes e redução da flexibilidade das proteínas estruturais do
colágeno e músculo. Além disso, por se ligar à lisina, a pentosidina bloqueia a
ativação de enzimas que possuem lisina em seus sítios de ativação, diminuindo o
acesso às suas coenzimas, vitamina B6, biotina e ácido lipóico, durante as reações
enzimáticas. Isso pode levar à deficiência funcional dessas vitaminas, mesmo com
ingestão adequada.

Apesar de não ser um ácido orgânico, a arabinose pode ser identificada na urina,
por esse exame. Alguns estudos encontraram níveis elevados de arabinose na urina
de mulheres com candidíase vulvo-vaginal recorrente e em pacientes autistas,
sendo nesses valores normalmente muito elevados. A arabinose pode ser
encontrada naturalmente em alguns alimentos, sendo a maçã sua a maior fonte. O
tratamento antifúngico pode prevenir a formação de novas pentosidinas, pela
redução da arabinose.

Ácido tartárico: é uma substância altamente tóxica que pode lesar músculos e rins.
É produzido pela fermentação de alguns fungos, como o Saccharomycies
Cerevisiaie, e segundo Dr. William Shaw, parece poder ser formado a partir da
quebra da arabinose, ou seja, a partir da Cândida.

O ácido tartárico é uma substância química análoga ao ácido málico, componente


chave do ciclo de Krebs, processo necessário para fornecer energia ao organismo.
O ácido tartárico pode então, inibir a enzima fumarase, responsável pela conversão
de fumarato em ácido málico, interrompendo o ciclo de Krebs nesta etapa, além de
reduzir o suprimento do ácido málico para outras funções celulares, como a
neoglicogênese – processo de formação de glicose a partir de outros substratos
energéticos, como aminoácidos e o próprio ácido málico – a fim de evitar queda de
energia para o sistema nervoso central e músculos.

A falta de energia para sistema nervoso e músculo acarreta vários sintomas


relacionados à hipoglicemia, como tontura visão turva, mãos e pés frios, taquicardia,
suor, dor de cabeça, sonolência, falta de concentração, confusão mental, desânimo,
vontade excessiva de comer doces, falta de saciedade, depressão, síndrome do
33
pânico e convulsões, além de dores musculares, cansaço e fraqueza nas pernas e
fibromialgia.

É comum o ácido tartárico encontra-se elevado na urina de autistas pela avaliação


dos ácidos orgânicos.

Acetaldeído: é uma substância neurotóxica que pode ser formada tanto pelo
metabolismo do álcool, através da fermentação do açúcar pelos fungos e leveduras
(ex: Candida albicans), como pela exaustão de combustíveis fósseis e queima do
fumo.

Para ser excretado, o álcool é primeiro convertido em acetaldeído pela enzima álcool
desidrogenase, depois em ácido acético pela enzima aldeído desidrogenase, sendo
então eliminado. Quando substâncias tóxicas são destoxificadas pela mesma via do
acetaldeído, o organismo pode acumular as tóxicas. Essa conversão é dependente
de vários nutrientes, como o molibdênio, niacina e vitamina B5. Indivíduos com
supercrescimento de Candida comumente apresentam deficiência de molibdênio. A
fermentação do açúcar da dieta pela Candida albicans irá promover o aumento na
produção de acetaldeído, potente agente neurotóxico. Através de diferentes vias o
acetaldeído pode danificar estruturas cerebrais, especialmente sob exposição
crônica.

O acetaldeído pode reagir com neurotransmissores, como dopamina e serotonina,


formando compostos parecidos com opióides, capazes de reduzir os impulsos
sensoriais. Esse composto é classificado como tetrahidroisoquinolonas, a qual está
relacionada à adicção por substâncias tóxicas. Além disso, o acetaldeído pode
diminuir a habilidade da proteína tubulina de acessar os microtúbulos – que
conferem suporte e sustentação às células nervosas e dendríticas – interferindo
assim na transferência de substâncias bioquímicas essenciais para as células
dendríticas, que fazem a comunicação das células nervosas no cérebro e induzindo
à atrofia e morte gradual das mesmas. Além de estar envolvido com a degeneração
cerebral de indivíduos com doença de Alzheimer e alcoolistas crônicos, esse
processo de toxicidade induzido pelo acetaldeído pode estar relacionado à
patogênese ou interferir no desenvolvimento neuronal de autistas.

34
O acetaldeído também induz a deficiência de vitamina B1, utilizada no processo de
produção de energia e necessária para a produção de acetilcolina, neurotransmissor
responsável pela atenção, foco, concentração e aprendizado. Outra vitamina afetada
é a niacina (vitamina B3), juntamente com sua coenzima NAD, que é indispensável
para energia celular, principalmente das células nervosas, para formação de
neurotransmissores e para ativação das enzimas álcool desidrogenase e aldeído
desidrogenase, responsável pela destoxificação do acetaldeído.

O ácido pantotênico (vitamina B5), na sua forma ativa (coenzima A), exerce um
papel crítico na adequação da função cerebral. A coenzima A reage com o acetato
para formar Acetil-CoA, que alimenta o ciclo de Krebs. O acetaldeído possui alta
afinidade pelo Acetil-CoA, suprimindo a sua atividade e, por conseguinte a produção
de energia celular. Essa toxina tem afinidade pela piridoxal-5-fosfato, forma ativa da
vitamina B6, necessária para a formação de todos os neurotransmissores. Essa
ligação impede que a vitamina exerça suas diversas funções no organismo, mesmo
em níveis adequados.

Outra via na qual o acetaldeído interfere é na metabolização dos ácidos graxos


essenciais, ômega-3 e ômega-9 em sua forma ativa, pois desativa fortemente a
delta-6-dessaturase, enzima necessária para essa conversão.

Após entendimento de todas as interferências que o acetaldeído gera no organismo


por meio do supercrescimento de fungos e leveduras, é possível associar muitos
sintomas vistos em indivíduos autistas com a síndrome fúngica: falta de
concentração e memória, depressão, redução dos reflexos, irritabilidade, ansiedade,
inquietação reações de pânico, confusão mental, menor acuidade sensorial,
diminuição da energia mental, desejo por doces e frutas, tendência a vícios (ex:
açúcar).

Gliotoxinas: são substâncias imunotóxicas, ou seja, tóxicas para o sistema


imunológico. Elas induzem apoptose em muitas células imunológicas, suprimindo as
repostas específicas contra microorganismos (ex: Candida sp), reduzindo a
capacidade do hospedeiro de combater infecções. Segundo Dr. William Shaw, essa
toxina é uma das principais causas de deficiência imunológica dos autistas, além do

35
Mannan, outra toxina de leveduras (Candida e Saccharomyces cerevisiae) com
efeito imunossupressor.

Antígenos presentes na Candida: foram identificados 178 antígenos diferentes na


Candida, o que pode ser responsável pelas reações cruzadas a outros fungos e
também ao tecido humano, devido à similaridade que possuem na seqüência de
aminoácidos a esses antígenos. Uma reatividade cruzada potencial dos anticorpos
produzidos contra alguns antígenos da Candida e o glúten – na seqüência de
aminoácidos da alfa e gama-gliadina – foi recentemente documentada. Esse
mecanismo pode conduzir à intolerância ao trigo ou mesmo à doença celíaca em
pessoas geneticamente predispostas. Além disso, pode desencadear inflamação
intestinal pela presença das glicoproteínas da parede celular, que tem o potencial de
estimular a liberação de substâncias pró-inflamatórias – histamina e prostaglandina
(PGE2) – por mastócitos.

Além dos sintomas já relacionados acima, decorrentes da ação tóxica dos


subprodutos das leveduras, outros sintomas comuns de supercrescimento de fungos
incluem: flatulências, distensão abdominal, obstipação ou diarréia, infecções
fúngicas (vagina, unhas, pé de atleta, sapinho), pruridos em áreas quentes e úmidas
(cotovelos, joelhos, genitais), congestão nasal crônica, aparência de embriaguês,
pensamento “embaçado” e riso inapropriado. Enquanto muitos desses sinais podem
sobrepor-se a outros desequilíbrios, como hipersensibilidades alimentares, o
“comportamento estranho”, como começar a rir do nada, parece ser o mais óbvio
sintoma de aumento de fungos em pacientes autistas.

2.4.3.4 Síndrome de hiperpermeabilidade intestinal (Leaky Gut Syndrome)

A mucosa intestinal possui uma função paradoxal, pois é responsável pela absorção
de nutrientes e ao mesmo tempo age como uma barreira celular que seleciona os
componentes tóxicos e macromoléculas, sendo fundamental a sua integridade para
a saúde do indivíduo.

Os nutrientes são absorvidos por dois mecanismos: mais comumente, as células


transferem as moléculas alimentares para a corrente sanguínea pela membrana
36
basal pela via transcelular; a segunda via é chamada paracelular, ocorre quando as
moléculas alimentares passam através de espaços entre as células. A intensidade
com que ocorre essa passagem entre as células reflete a permeabilidade intestinal.
Quando as células epiteliais da mucosa intestinal são danificadas, ocorre uma
redução na absorção transcelular proporcional ao aumento da absorção paracelular.

Quando ocorre uma agressão na integridade da mucosa intestinal, a estrutura de


adesão das células epiteliais – os desmossomos – é danificada, aumentando a
absorção paracelular como consequencia (DAVISON e CARVALHO, 2008),
conforme visualizado abaixo na figura 3:

Figura 3 – Ilustração esquemática da mucosa intestinal intacta (esq.) e danificada, demonstrando a


hiperpermeabilidade intestinal, com aumento da absorção transcelular (dir). Fonte: (KLEESSEN e
BLAUT, 2005).

A alteração da integridade da mucosa decorre de um processo crônico de


inflamação na mucosa intestinal, podendo ser causado por diversos fatores, que
permite que macromoléculas alimentares não digeridas, metais tóxicos, subprodutos
de fungos e bactérias patogênicas e outros xenobióticos consigam entrar na corrente
sanguínea, e provoque sintomas sistêmicos. Ao mesmo tempo, a alteração da
permeabilidade intestinal também compromete a absorção dos nutrientes, que
geralmente são absorvidos via transcelular, podendo levar à depleção das reservas
37
corporais de antioxidantes, derivados de sulfato, glutationa e metionina,
exacerbando o quadro já comprometido, pela deficiência de substratos para fazer a
renovação do epitélio celular danificado (CARREIRO, 2008;DAVISON e
CARVALHO, 2008;MATTHEWS, 2008).

Esse processo, por si só, pode provocar sintomas físicos, mentais e emocionais,
consequentes do desencadeamento de alergias alimentares e ambientais,
dificuldade de destoxificação, desequilíbrios hormonais, comprometimento das
funções do sistema imunológico e carência dos nutrientes necessários para
formação, manutenção, renovação e função celular (CARREIRO, 2008).

Muitos fatores podem alterar a integridade da mucosa intestinal, sendo a causa ou


fator agravante da inflamação, incluindo: desequilíbrio da microbiota intestinal,
supercrescimento de leveduras, infecções GI por bactéria, fungos ou vírus (natural
ou por imunização), alergias e sensibilidades alimentares (ex: caseína e glúten),
intolerâncias alimentares (ex: lactose), neutralização do ácido clorídrico, respostas
auto-imunes excessivas e crônicas, deficiência de enzimas digestivas seguida de
digestão incompleta de proteínas, gorduras e carboidratos, uso de medicamentos
(anti-inflamatórios não esteroidais, corticóides, anticoncepcionais, antióticos,
laxantes e quimioterápicos), jejum, parto prematuro e exposição alimentar precoce
antes de 4-6 meses; carências nutricionais (zinco, ácido fólico, vitamina A, B12, B5 e
glutamina), baixo cosumo de fibras dietéticas e excesso de carboidratos refinados e
substâncias químicas e sulfatação insuficiente dos glicosaminoglicanos (GAGs),
entre outras (CARREIRO, 2008;DAVISON e CARVALHO, 2008;MATTHEWS, 2008).

As glicosaminoglicanas (GAGs) são longas cadeias de polissacarídeos que


possuem muitas funções, incluindo a integridade intestinal. Para que as GAGs
exerçam sua função, elas precisam ser sulfatadas. GAGs não sulfatadas tem um
dos maiores impactos nos indivíduos com autismo, pois são altamente variadas,
específicas e reguladas, influenciando nos seguintes processos celulares: função da
membrana (integridade intestinal e cerebral), interação proteína/proteína, interação
ligante/receptor, sinalização da proteína G, sinalização de cálcio, junções celulares
(comunicação célula/célula), diferenciação, crescimento, endocitose, gerenciamento
dos cátions na superfície celular (MATTHEWS, 2008).

38
Os processos listados a cima são ameaçados quando o pool de sulfato do
organismo é muito baixo. Na presença de infecção, no intestino ou outro local do
organismo, as GAGs são derramadas e macrófagos vão para o local, rompem o
tecido e liberam sulfato, o qual é posteriormente excretado pela urina. Essa
combinação de eventos em resposta à infecção pode ser a explicação do porque as
enterocolite ou infecções crônicas de ouvido em autistas podem induzir os
problemas crônicos de sulfatação (MATTHEWS, 2008).

Quando o sulfato está baixo e as GAGs não são sulfatadas, podem levar ao mau
funcionamento do sistemas, especialmente na barreira intestinal e hemato-
encefálica, ambos locais que necessitam de boas defesas. Em suas pesquisas, Dra.
Waring encontrou baixos níveis de sulfato no sangue e altos níveis de sulfato na
urina de autistas (WARING e REILLY, 1993). Da mesma forma, White documentou
níveis elevados de permeabilidade intestinal em crianças autistas (WHITE, 2003).

Indivíduos com aumento do transporte paracelular são mais predispostos a absorção


de metais pesados, xenobióticos e macromoléculas alimentares, que ao estimularem
o sistema imune, liberam mediadores inflamatórios típicos do processo de
hipersensibilidade alimentar (DAVISON e CARVALHO, 2008). Esses, por sua vez,
aumentam ainda mais a permeabilidade do intestino, criando um círculo vicioso.

2.4.3.5 Hipersensibilidade alimentar e opióides

Sensibilidade alimentar é um tipo de alergia, mediada por anticorpos IgG, IgM, que
formam imunocomplexos (ligação antígeno-anticorpo) e envolve o sistema
complemento. Segundo a classificação de Gell e Combs, é uma reação de
hipersensibilidade tipo III, desencadeadas por macromoléculas, relacionada ao
desenvolvimento de alergias tardias ou “escondidas”. Diferentemente da alergia
imediata (mediada por IgE), desencadeia sintomas de 2 a 72h após o contato inicial
com o antígeno, nesse caso, o alimento, dificultando a identificação do causador A
imunoglobulina IgG específica tem meia-vida de 21 dias na circulação e o mastócito
sesibilizado por ela circula por 2 a 3 meses (CARREIRO, 2008).

39
A sensibilidade alimentar pode ser herdada da mãe ou mais comum, adiquirida
devido um estado de hiperpermeabilidade intestinal, que pode ser resultado de
supercrescimento de leveduras. Danos na barreira intestinal propiciam a passagem
de proteínas alimentares mal digeridas para a corrente sanguínea. Proteínas
presentes na corrente sanguínea são identificadas como antígenos, desencadeando
uma reação imunológicas contra esses “agentes invasores”.

O antígeno alimentar após entrar na corrente sanguínea desencadeia uma cascata


de reações imunológicas, mediante o estímulo de citocinas, culminando na formação
do imunocomplexo, ou seja, ligação antígeno-anticorpo. Em condições normais
esses imunocomplexos logo serão removidos da corrente sanguínea pelo Sistema
Monócítico Fagocitário (SMF); porém, quando presentes em grandes quantidades,
podem desencadear reações alérgicas por ação citotóxica primária e por ação
mecânica. Os imunocomplexos pequenos e médios são circulante, solúveis e
tóxicos; enquanto os grandes são pesados e insolúveis, causando obstruções
mecânicas por precipitação. Os anticorpos IgM e IgG também podem ativar o
sistema complemento para amplificar o combate ao agressor, quando esse não é
eliminado normalmente, resultando em um processo inflamatório mais intenso que
pode virar crônico quando não regulado. O local de circulação (ação tóxica) ou
obstrução (ação mecânica por deposição na superfície de órgãos ou capilares) do
imunocomplexo no organismo é que irá definir o quadro clínico do indivíduo, pela
reação inflamatória gerada (CARREIRO, 2008).

Os sintomas advindo de alimentos alergenos podem ser os mais diversos, incluindo


alterações comportamentais e emocionais como hiperatividade, inquietação,
irritabilidade, agressividade, birra, depressão, fadiga e retração, além de sintomas
físicos de obstipação, diarréia, dores musculares e muitos outros. Esses são muitos
dos sintomas vistos em indivíduos autistas. Apesar de não serem a causa do
autismo, a identificação e eliminação dos alimentos alergênicos pode reduzir muitos
dos seus sintomas, com a melhora do comportamento e aprendizado.

O alimento mal digerido também pode gerar inflamação por ação direta no intestino
e aumentar a permeabilidade da barreira intestinal. Esse “efeito dominó” pode levar
a mais sensibilidades alimentares devido à mudança da ecologia intestinal, que

40
permite o crescimento de leveduras e outros microorganismos patogênicos,
produtores de toxinas, que sobrecarregam o fígado e depletam as reservas de
nutrientes. Normalmente a inflamação acarreta prejuízos na absorção de nutrientes,
a qual pode afetar qualquer sistema do organismo, incluindo energia celular,
reparação de tecidos e função imune.

Os alimentos que mais causam reações de hipersensibilidade são indiscutivemente


o glúten e os laticínios, seguido da soja, milho, ovos, amendoim, oleaginosas, peixes
e frutos do mar, cítricos, fermento de pão, açúcar e chocolate. Entretanto, qualquer
alimento pode causar alergias dependendo da individualidade bioquímica e do
hábito alimentar de cada um.

O aumento da permeabilidade intestinal pode levar à hiper-reatividade do sistema


imune e causar sensibilidade e alergias a substâncias químicas e inalantes,
deprimindo ainda mais o sistema imunológico e podendo precipitar reações auto-
imunes. Estudos realizados por Jyonouchi mostraram que crianças autistas tem
maior produção de citocinas pró-inflamatórias em resposta às proteínas da dieta
(leite, glúten e soja) em comparação com o controle. Ambos estudos encontraram
maior resposta imune inflamatória nas crianças autista com problemas GI quando
comparadas às autistas sem sintomas GI, sugerindo uma possível ligação entre
problemas GI e sintomas comportamentais mediados por alterações imunológicas
inatas (JYONOUCHI, 2005 ;JYONOUCHI, 2005 ;JYONOUCHI, 2002).

Além de causarem reações de hipersensibilidade, glúten (proteína presente no trigo,


centeio, cevada e aveia comercial) e a caseína (proteína presente no leite e
derivados), são altamente agressivas aos autistas, devido à capacidade de formar
compostos com atividade opióide. Quando uma proteína não é quebrada
adequadamente em aminoácidos (possivelmente pela deficiência de enzimas
digestivas), restarão peptídeos de cadeia longa no intestino, os quais poderão
escapar para corrente sanguínea através da mucosa intestinal permeável.

Esses peptídeos conseguem atravessar a barreira hema-hencefálica e causar um


efeito opióide-like, ligando-se a receptores opióides no cérebro, sendo capazes de
mimetizar o efeito de drogas opiáceas como a morfina e heroína (SHAW, 2009).
Kidd descreve os opióides como pequenos polímeros de aminoácidos também
41
chamados de exorfinas (KIDD, 2002). O peptídeo do glúten com ação opióide ficou
conhecidos como glúteomorfina ou gliadomorfina (fração da gliadina) e a caseína
como caseomorfina. Os opióides reagem com áreas do cérebro como o lobo
temporal, envolvido com a fala e integração auditiva (SHAW, 2009). A interferência
nos neurotransmissores em nível simpático e reduz a força dos impulsos sensoriais,
induzindo respostas e interferindo diretamente com o sistema nervoso central
(BRUDNAK, 2002;KIDD, 2002;SHAW, 2009;WHITE, 2003).

Muitos dos sintomas da morfina são similares aos que observamos nos autistas,
como insensibilidade a dor e pensamento nebuloso (embaçado). Alguns acham que
é por isso que algumas crianças balançam a cabeça incessantemente, pois estão
tão entorpecidos que tentam sentor algo ou libertar-se do “nevoeiro” que estão
experienciando. De acordo com Braverman (1987), a taurina, aminoácido sulfurado,
pode ter um efeito anti-opióide (MATTHEWS, 2008).

A digestão do glúten e da caseína no lúmen do intestino delgado é dada pela ação


de peptidases pancreáticas e intestinais, que libera peptídeos de cadeia curta,
estruturalmente semelhantes às endorfinas naturais. Indivíduos autistas mostraram
níveis elevados de β-caseomorfina-7 na urina, um derivado das caseomorfinas
(WHITE, 2003).

A caseomorfina e a gliadomorfina são compostas por sete aminoácidos, ambas


iniciando o N-terminal na seqüência TYR-PRO (tirosina e a prolina) com os pró-
resíduos adicionais (prolina) nas posições 4 e 6 dos peptídeos, como indicado
abaixo (SHAW, 2009):

A incapacidade de quebrar esses peptídeos pode indicar uma deficiência genética


possível da dipepitidil peptidase IV (DPP IV) em crianças com autismo. Essa enzima
também está presente nas células do sistema imunológico chamadas linfócitos. Esta
célula particular é denominada células TCD4+ auxiliadoras (Thelper), a qual é

42
idêntica ao marcador de superfície celular CD26. A DPP IV é responsável pela
quebra dos peptídeos nos quais o aminoácido prolina (Pro) encontram-se na
segunda posição, tanto para caseomorfina como para gluteomorfina. Além do
sistema imune, a enzima é encontrada na mucosa intestinal, rins e vasos
sanguíneos (BRUDNAK, 2002;SHAW, 2009). A DPP IV é inativa ou ausente em
crianças com autismo (CAVE, 2001).

A gliadorfina e caseomorfina são substratos importantes para a enzima DPP IV.


Cada molécula de caseomorfina e gliamorfina é processada duas vezes pela
enzima. Após a remoção de dois peptídeos, os tripeptídeos permanecem com a
prolina na posição central. Os peptídeos são potentes inibidores da DPP IV, que irão
essencialmente desativar a enzima que se auto-destrói após a quebra da
gliadomorfina e caseomorfina. Como resultado, muitas outras funções da DPP IV
podem ser prejudicadas, como a inibição de outros peptídeos regulatórios
importantes. De fato, a inibição da DPP IV pela caseomorfina e a gliadorfina, podem
ser mais importantes que os efeitos opióides destas moléculas (SHAW, 2009).

Uma pesquisa preliminar feita pelo Laboratório Great Plains indica que a gelatina
bovina, subproduto do colágeno de ossos, tendões e patas de animais após abate, é
um potente inibidor da DPP IV. A gelatina bovina é usada em muitos produtos pela
indústria alimentícia e farmacêutica. É o ingrediente principal das cápsulas de
suplementos alimentares e medicamentos. Muitas vacinas, em especial a MMR
(sarampo, caxumba e rubéola) e a DPT (= tríplice, que protege contra difteria,
coqueluche e tétano), utilizam a gelatina hidrolizada em sua composição (SHAW,
2009). É interessante testar a sensibilidade das crianças a gelatina, eliminando
todos o resquícios da dieta, inclusive dos suplementos alimentares. Hoje é possível
solicitar cápsulas vegetais na manipulação de suplementos nutricionais, além de
existir marcar no mercado com essa opção.

A vacina MMR é um potente inibidor da DPP IV in vitro, provavelmente pelo seu


conteúdo de gelatina hidrolizada, que na hidrólise libera peptídeo com prolina na
terceira posição ou tripeptídeos com prolina na segunda posição. Mas são
necessárias maiores pesquisas para determinar se a gelatina hidrolizada é um fator
de reação adversa nas vacinas para as crianças autistas. Vários trabalhos apontam

43
a gelativa como principal fator de risco para as reações vacinais imediatas graves,
indicando uma reação imunológica anormal no autismo após vacinação com MMR,
DPT e Varicela. As crianças que apresentaram reações possuem elevado número
de anticorpos IgG e IgE no soro para gelatina (SHAW, 2009).

A restrição do glúten e da caseína como intervenção inicial no tratamento biomédico


do autismo se pauta nessas teoria de opióides e hiperpermeabilidade intestinal, que
permite a passagem dos peptídeos não digeridos para a corrente sanguínea, com
posterior dano neurológico.

Alguns laboratórios internacionais avaliam a presença dos peptídeos de glúten e


caseína na urina, atravez do teste de peptídeos urinários. Em muitas investigações a
cerca da teoria dos opióides de glúten e caseína foram encontradas evidências
desses peptideos aumentados na urina de crianças autistas, exercendo o papel de
marcador biomédico na avaliação da doença. Em contrapartida, outros estudos
como o de Cass e colaboradores não evidenciou peptidúria opióide em crianças com
autismo e S. Asperger ou qualquer outra alteração urinária em correspondência ao
grupo controle, indicando uma fraqueza do marcador em termos de plausibilidade
biológica e clínica (CASS, 2008). Ainda não existe um conceso na literatura sobre a
validade desse exame.

2.4.3.6 Avaliação laboratorial da saúde gastrointestinal

Sensibilidades alimentares / avaliação de imunoglobulinas: teste sanguíneo de


IgG para alimentos e alergenos ambientais. Exame realizado no exterior (Great
Plains Laboratory, Genova Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory, US Biotec)
ou no Brasil (Instituto de Microecologia do Brasil)

Alergias alimentares imediatas / avaliação de imunoglobulinas: teste de IgE


para alimentos e alergenos ambientais, os quais são realizados no Brasil. Existem
testes se sangue para IgE total e específico (Rast); e testes cutâneos: Skin Prick
Test, Skin Patch test e Intradermal Test.

44
Alimentos e substâncias inflamatórias: avaliação de inflamação celular mediada
por alimentos e aditivos alimentares, como glutamato monossódico (GMS). Ao invés
de medir a resposta IgG, esse teste avalia a real resposta inflamatória celular a
alimentos e aditivos. Feito somente no exterior. Pode ser medido por LEAP Test
(Signet Diagnostic Corporation).

Exames de fezes gastrológico completo / Coprológico Funcional: avalia a


digestão, absorção e assimilação, crescimento de leveduras, parasitas e disbiose
intestinal. Feito no exterior (Genova Diagnostics, Great Plains Lab., Doctor’s Data)
ou no Brasil (Instituto de Microecologia do Brasil). O coprológico funcional menos
completo é feito em laboratórios tradicionais.

Efeitos Gastrointestinais: usa análise do DNA para identificar microorganismos


nas fezes, incluindo anaeróbicos, os quais são inviáveis nas culturas de células.
Podenão ser são efetivo quanto o gastrológico completo pois em somente amostra
de fezes pode-se perder alguns micróbios. Feito no exterior (Metametix Clinical
Laboratory).

Permeabilidade Intestinal: teste de urina para síndrome do intestino permeável.


Avalia a presença de dois açúcares não metabolizados, lactulose e manitol, na urina.
Exame realizado no Brasil.

Teste de Doença Celíaca (Imunoglobulinas): trasglutaminase-IgA, antiendomísio


(IgA e IgG), anti-gliandina (IgA e IgG). Exames realizados no Brasil. A biopsia
intestinal é o teste definitivo para diagnóstico, porém mais invasivo.

Teste de Ácidos Orgânicos na Urina: detecta subprodutos do metabolismo de


leveduras, fungos e bactérias; metabolismo dos ácidos graxos e carboidratos;
intermediários do ciclo de krebs (energia celular e produção de energia); marcadores
de vitaminas e cofatores de metilação; marcadores do metabolismo de
neurotransmissores; dano oxidativo e marcadores antioxidantes; indicadores de
destoxificação; oxalatos e outros. Segundo Jullie Matthews, existe alguma
discrepância nos marcadores usados no teste de arabinose ou arabitol entre os
laboratórios e leveduras são notoriamente difícies de testar com precisão. Great

45
Plains parece ser melhor para oxalatos e Metametrix para leveduras. Exame feito
somente no exterior (MATTHEWS, 2008).

Teste de suco de beterraba (para ácido clorídrico): teste caseiro, normalmente


usado médicos naturopatas para determinar os níveis de HCl no estômago. Beber ½
copo de suco de beterraba com algumas gramas de proteínas (30 ou 60g). Registrar
a coloração da urina nas próximas 6h. A cor vermelha da beterraba é quebrada pelo
HCl. Se ele estiver baixo, a urina terá um tom de rosa claro a vermelho. Se o HCl
estiver normal, a urina ficará amarela.

46
2.4.5 Sistema Endócrino e Glandular

Indivíduos autistas freqüentemente cursam com problemas endócrinos, como


desordens da tireóide e insuficiência adrenal, além do mau funcionamento do
pâncreas (ARI, 2010.).

A hipoglicemia é comum naqueles com TEA, assim com a resistência insulínica


desencadeada pela inflamação (MATTHEWS, 2008). Uma intervenção dietética com
baixo consumo de carboidrato refinado e açúcar, priorizando proteínas e gorduras
normalmente são suficientes para regular a glicemia. Alterações no funcionamento
da tireóide podem causar fadiga, depressão, obstipação intestinal, dores
musculares, falta de atenção e irritabilidade, sintomas comuns do autismo, além de
ser a maior responsável por retardo mental no mundo. De acordo com o ARI,
“hormônios sintéticos para tireóide não são recomendados, já que são incompletos”
(ARI, 2010.).

As glândulas adrenais, produtoras de hormônios importantes como o DHEA e


cortisol, com freqüência apresentam baixo funcionamento no autismo, podendo
causar sintomas como ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (TOC),
dificuldade em alternar tarefas, problemas de integração sensorial, birras,
movimento corporal repetitivo, inabilidade de tolerar as pessoas. Em contrapartida o
cortisol, hormônio de resposta ao estresse encontra-se elevado, freqüentemente
levando a distúrbios do sono. A resposta ao estresse prolongado pode criar
inflamação no cérebro. Os glicocorticóides do estresse persistentemente em níveis
elevados prejudicam a função neural do hipocampo, causando a morte dos
neurônios (MATTHEWS, 2008).

Além do aumento do cortisol, a inabilidade de produzir ou metilar a melatonina


(hormônio que regula o sono) pode ser uma das causas do distúrbio do sono desses
indivíduos. A suplementação de melatonina em crianças com TEA tem auxiliado as
crianças a entrar no sono, diminui a vigilância noturna e o caminhar durante a
madrugada. Além disso, a melatonina é um poderoso antioxidante cerebral, que
protege os neurônios dos danos por mercúrio (SHAW, 2009). Alguns autores
recomendam uso por pequenos períodos (3 meses) até regularizar outras causas.

47
De acordo com a pesquisa do ARI, 66% dos pais relataram melhora em seus filhos
com este tratamento (ARI, 2009 ). O Instituto também afirmar que a melatonina é
extremamente segura e altas dosagens em animais não possui toxicidade (ADAM,
2007). No Brasil, até o dado momento, a comercialização da melatonina não é
aprovada pela ANVISA. Refluxo gastroesofágico e dores abdominais provenientes
da má digestão também podem manter a criança acordada. A vitamina B6 também
pode auxiliar com o sono, além de outros suplementos que impulsionam a metilação,
como a vitamina B12, ácido folínico e dimetilglicina (DMG), podem ajudar se a
mesma estiver reduzida (MATTHEWS, 2008).

2.4.5.1 Avaliação laboratorial de hormônios e glândulas

Análise da Melatonina (saliva): pode ajudar em indivíduos com distúrbios do sono.

Tireóide (soro): uma avaliação completa da tireóide envolve TSH, T3 e T4 livro, e


anticorpos anti-tireoglobulina e anti-peroxidase. O T3 reverso também pode ser
avaliado.

Adrenal (soro e saliva): análise de cortisol e DHEA. A avaliação pela saliva é mais
precisa.

Todos os exames são realizados no Brasil.

48
2.4.6 Sistema Imunológico e Inflamação (Intestino e Cérebro)

É sabido que a integridade funcional do intestino também é essencial para o


equilíbrio do sistema imune, que possui 70% do tecido linfóide associado ao
intestino, o GALT, produtor de linfócitos B e T (corresponde a 20% das células
intetsinais), além de outros componentes da mucosa como IgA secretora e fagócitos.
O GALT torna o intestino o principal órgão imune do corpo. É um sistema
responsável pela tolerância à antígenos alimentares e bactérias colonizadoras do
intestino, além do reconhecimento e rejeição de patógenos (CARREIRO,
2008;DAVISON e CARVALHO, 2008).

As células T auxiladoras (T helper cells = Th) são componetes cruciais para o


funcionamento do sistema imune. Th1 é o sistema imune celular, responsável pelo
combate a microorganismos, diretamente através dos macrófagos. Th2 é o sistema
imune humoral, mediado por anticorpos, envolvido com a inflamação e respostas
auto-imunes. Idealmente, os sistema Th1 e Th2 devem estar equilibrados, cada um
respondendo apropriadamente quando necessário.

O balanço entre Th1 e Th2 está frequentemente alterado em crianças autistas,


conforme obserado em alguns estudos (CROONENBERGHSA, 2002;LI,
2009;MOLLOY, 2006). Tipicamente os linfócitos Th1 estão reduzidos, levando à
inabilidade de lutar contra vírus, bactérias e fungos, enquanto o Th2 predomina,
aumentando alergias e problemas auto-imunes. Não é incomum crianças com
autismo apresentarem auto-anticorpos contra a proteínas básica da bainha de
mielina e outras estruturas do Sistema Nervoso Central (GOINESA e WATER,
2010), contra a tireóide (T. Hashimoto) e contra o pâncreas (diabetes). A resposta
inflamatória é superativada enquanto a anti-inflamatória é menos ativa. Isso leva a
significativa inflamação em todo o organismo, incluindo o intestino e o cérebro. No
entanto, os artigos apresentam resultados conflitantes na avaliação das citocinas,
sendo que alguns mostram ambas as vias Th1 e Th2 significativamente
aumentadas, com predominância da Th2, sem aumento compensatório da citocina
regulatória IL-10 (MOLLOY, 2006), enquanto outros mostram maior estimulação da
via Th1 (por aumento do TNF-gama), sem diferença significativa de Th2, porém com

49
aumento significativo das citocinas pró-inflamatórias, IL-6 e o fator de necrose
tumoral-alfa (TNF-alfa) (CROONENBERGHSA, 2002;LI, 2009).

Essa alteração da regulação imune pode ser um fator contribuinte para a inflamação
e estresse oxidativo nas crianças autistas. Suh e colaboradores estudaram o papel
do metabolismo de aminoácidos sulfurados na regulação da função de leucócitos no
sangue e no estresse oxidativo e encontraram redução significativa na concentração
de SAMe, cisteína e glutationa intracelular de leucócitos de autistas em comparação
com crianças normais (SUH, 2008).

Quando as reservas de sulfato encontram-se reduzidas e a enzima fenol-sulfo-


transferase (PST) não funciona adequadamente para fazer a destoxificação dos
fenóis, o sistema imune pode ser severamente afetado. Fenóis podem causar
sobrecarga tóxica e/ou estimular respostas alérgicas. A exposição a compostos
fenólicos pode causar deprimir a serotonina enquanto eleva a histamina e
prostaglandinas. Substâncias fenólicas (como os derivados de petróleo) podem
reduzir as células T-supressoras ou o total de células T (MATTHEWS, 2008).

Os fenóis sobrecarregam o sistema de destoxificação, exterminando muitos dos


antioxidantes necessários para as funções imunes, como as vitaminas A, C e E,
além da glutationa, importante para a relação Th1 e Th2 (MATTHEWS, 2008).
Estudo recente avaliou os antioxidantes plasmáticos de crianças e adolescentes
autistas e encontrou níveis significativamente reduzidos (KRAJCOVICOVA-
KUDLACKOVA, 2009). O mercúrio também bloqueia a sulfatação, além de deprimir
diretamente as funções imunes. Achandos recentes mostraram que pequenas doses
de mercúrio estimula mastócitos a liberar fator de crescimento endotelial vascular
(VEGF) e interleucina-6 (IL-6), uma citocina inflamatória, ambos responsáveis por
causar disrupção na barreira hemato-hencefálica e inflamação no cérebro
(KEMPURAJ, 2010).

Outras citocinas inflamatórias começaram recentemente a ser estudadas no


autismo. A interleucina-23 (IL-23) é um fator de sobrevivência recém-descrito para
uma população especial de linfócitos T, ou seja, as células Th-17, que secretam IL-
17, TNF-alfa e IL-6. Tem sido demonstrado que as células Th-17 são um
subconjunto de células T patogênicas envolvidas na auto-imunidade e doenças
50
inflamatórias crônicas. Com base nas evidências crescentes de disfunção
imunológica no autismo, incluindo, possíveis processos auto-imunes e inflamatórios,
um grupo de pesquisadores avaliou pela primeira vez as células Th17 de indivíduos
autistas e demonstrou que os níveis de citocinas IL-23 foram significativamente
diferentes em crianças com autismo em comparação aos controles com
desenvolvimento típico, porém, não houve diferença estatística na IL-17 em
comparação aos controles. A diminuição da produção de IL-23 plasmática
observado em crianças com autismo pode exercer um efeito sobre a produção e
sobrevivência das células Th-17, contribuindo para condições as neuroinflamatórias,
como a observada no autismo (ENSTROM, 2008).

51
2.4.7 Deficiências Nutricionais comuns no Autismo

Deficiências nutricionais são comuns no autismo, o que acarreta em muitos


desbalanços bioquímicos e sintomas comuns do transtorno. Enquanto a maioria das
crianças com autismo tem uma alimentação limitada em nutrientes, mesmo que ela
consuma uma dieta variada e nutricionalmente adequada, ela precisa ser capaz de:
(1) digerir e quebrar adequadamente o alimento até uma forma absorvível; (2)
absorver os nutrientes através de um trato GI saudável; (3) converter os nutrientes a
uma forma utilizável em nível celular. Infelizmente, a maioria das crianças com TEA
são incapaz de executar essas três funções.

As deficiências mais comuns nos TEA incluem as vitaminas B6, B1, B3, B5, B12, A e
C, ácido fólico, biotina, taurina, zinco, selênio, magnésio e ácidos graxos essenciais
(MCCANDLESS, 2004). O estudo de Vagellar em 2000 avaliou o “status” nutricional
de 20 crianças autistas e demonstrou que mais de 50% apresentavam baixos níveis
desses nutrientes (KIDD, 2002). E estudo mais recente encontrou níveis
insuficientes de licopeno e vitaminas A e E no plasma de autistas, indicando baixo
consumo de alimentos fontes (KRAJCOVICOVA-KUDLACKOVA, 2009).

James Adams, em 2006 encontrou níveis de piridoxina 75% maiores em autistas,


resultado consistentes com a revisão de trabalhos anteriores, que esclarece seus
resultados aparentemente contraditórios: (1) a enzima piridoxal-quinase tem uma
atividade muito baixa em autistas e (2) os níveis da vitamina ativa, piridoxal-5-fosfato
(P5P) são anormalmente baixos em crianças com autismo, mostrando uma
inabilidade da enzima em converter a piridoxina em P5P, sua forma ativa
(MATTHEWS, 2008)..

Para determinar as deficiências nutricionais alguns exames laboratoriais são


oferecidos por laboratórios, nacionais e internacionais. Os testes funcionais
mensuram status de vitaminas e minerais, além de metais tóxicos (painel de
minerais no cabelo, sangue total e eritrócitos), função hepática de vias específicas,
níveis de aminoácidos plasmáticos, painel de ácidos graxos, avaliação da digestão,
absorção e perfil de microorganismos nas fezes.

52
Essas análises auxiliam muito o profissional a escolher a melhor forma de
suplementação e intervenção dietética, entretanto, como todos os exames, não são
perfeitos já que dependem de interpretação humana e entendimento científico. Não
é possível mensurar, por exemplo, o nível exato de neurotransmissores ativos no
cérebro avaliando aminoácidos e outras matérias primas. No entanto, juntando todas
as “peças do quebra-cabeça”, exames laboratoriais e avaliação de sinais e sintomas,
nos permite um entendimento melhor do paciente, assim como a escolha da
intervenção nutricional mais adequada.

2.4.7.1 Avaliação laboratorial do estado nutricional

Painel de ácidos graxos (sangue): avaliação dos ácidos graxos EPA, DHA, GLA e
outros, juntamente com as proporções necessárias para função cerebral e resposta
inflamatória apropriadas. Feito no exterior (Great Plains Laboratory, Genova
Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory)

Painel de Aminoácidos (urina e sangue): a análise de urina é preferencial. Ajuda a


avaliar deficiências nutricionais e marcadores bioquímicos e metabólicos, usados na
metilação, na formação de neurotransmissores e outros. Teste realizado no exterior
(Great Plains Laboratory, Genova Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory)

Painel de Minerais ou Mineralograma (sangue total e eritrócitos): avalia o estado


nutricional dos minerais no sangue total (plasma + intracelular) e somente no
eritrócito (intracelular). Feito no exterior (Great Plains Laboratory, Genova
Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory) e no Brasil, a avaliação do sangue total
(Biominerais e Toxilab)

Estresse oxidativo: Muitos testes podem ser feitos, incluindo estado de Coenzima
Q10, estado de peroxidação lipídica (soro), 8-hidroxi-2’-deoxiguanosina (urina),
marcador de dano oxidativo, entre outros testes. Alguns são realizados somente no
exterior (Metametrix Clinical Laboratory) e outros também no Brasil.

Vitaminas e antioxidantes totais (sangue): avaliação de vitaminas no soro. Podem


ser feitos em separado, alguns necessitando de interpretação. Vitamina D (25-
53
hidroxi vitamina D3 ou 25-OH-D3, é o hormônio ativo), vitamina B12, ácido fólico,
ferritina (reserva de ferro), ceruloplasmina (análise de cobre e ferro), fosfatase
alcalina (auxilia avaliação de vitamina B6), cálcio iônico e PTH, entre outros. Testes
realizados no Brasil.

Perfil Lipídico (colesterol e frações e triglicerídeos): a avaliação do colesterol é


fundamental no autismo, pois muitas crianças possuem colesterol baixo devido a
uma desordem genética chamada Síndrome de Smith-Lmni-Optiz (SLOS), que
causa deficiência de colesterol e provoca sintomas autísticos, além de ser comum
no autismo em geral. A suplementação de colesterol pode reverter muitos sintomas
do autismo na SLOS (TIERNEY, 2006;TIERNEY, 2000).

54
2. 5 INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS NO AUTISMO: UMA VISÃO FUNCIONAL

Segundo Hipócrates, pai da medicina moderna, "Toda a doença começa no


intestino”, e isso certamente se mostra verdadeiro no autismo. Conforme descrito no
capítulo anterior, a digestão e a saúde do intestino afetam o cérebro por diversos
mecanismos, refletindo em muitos dos sintomas vistos no autismo.

O alimento interage constantemente com o intestino e pode ter um profundo impacto


nesses sintomas. Eliminar os alimentos ofensivos e que contribuem para infamação,
desencadeiam respostas imunes (sensibilidades alimentares), e aumentam a
toxicidade, é crucial. Em contrapartida, é essencial adicionar alimentos que
oferecem suporte para as funções do organismo, através do fornecimento dos
nutrientes necessários.

O entendimento de que intestino e cérebro estão conectados ajuda a explicar porque


os sintomas do autismo e a saúde em geral melhoram através de uma alimentação
que oferece suporte para a digestão, saúde gastrointestinal (GI) e processos
bioquímicos. Existe uma estreita relação entre bioquímica e saúde GI, visto que
todos os processos celulares que requerem energia, nutrientes e enzimas para a
sua função, requerem uma digestão adequada, capaz de absorver todos os
nutrientes necessários para estes processos.

Estado de deficiência nutricional, incapacidade para digerir e absorver nutrientes,


limitação de um nutriente particular, ou uma incapacidade para converter um
nutriente em sua forma ativa, pode comprometer os processos bioquímicos. Por
isso, a alimentação é determinante. Oferecendo suporte à digestão e processos
bioquímicos de todo o organismo por meio da nutrição e uso de dietas específicas, é
possível melhorar os sintomas do autismo. A seguir serão elucidadas algumas das
intervenções nutricionais no autismo, direcionada aos problemas mais comuns desta
população, conforme descrito no capítulo anterior.

55
2.5.1 Hiperpermeabilidade e Inflamação Intestinal

Primeiramente deve-se melhorar a digestão e recuperação da mucosa intestinal,


reduzindo a inflamação. Esses são passos importantes, que irão auxiliar todo o
tratamento nutricional, devido à influência da saúde GI sobre todos os processos
bioquímicos do organismo. Seguindo o princípio dos 4R’s, devemos:

1. Remover: patógenos intestinais, alergenos alimentares e xenobióticos. É


preciso eliminar todos os alimentos que inflamam o intestino - alimentos
alergênicos (glúten, caseína, soja, milho, ovos, são os mais comuns,
dependendo da individualidade); eliminar alimentos ricos em pesticidas e
aditivos alimentares; auxiliar na redução de microorganismos patogênicos
através do consumo de alimentos com propriedades antifúngicas, antibióticas
e antiparasitárias (óleo de coco virgem, sementes de frutas cítricas, semente
de abóbora e de melão, alho, cebola, orégano, cúrcuma, tomilho e outras
ervas); aumentar a freqüência evacuatória, diminuindo o contato das toxinas
com o intestino. Priorizar uma ótima hidratação e consumo de fibras;
2. Recolocar: enzimas digestivas e reequilibrar o pH estomacal, por meio de
chás digestivos e estimulantes do HCl (alecrim, sálvia, gengibre, canela, erva-
doce, hortelã cidreira, etc.), limão, vinagre de maçã crú, abacaxi, aloe vera.
Essa última também é rica em enzimas digestivas e auxilia na reparação da
mucosa.
3. Reinocular probióticos: recomendar o uso de alimentos fermentados, como
kefir de água de coco verde, kefir de leites vegetais, kefir de água, vegetais
fermentados, como chucrute caseiro (não pasteurizado), além de
suplementos de probióticos com pelo menos 5bilhões de UFC. É importante
prover a matéria-prima para fermentação pelas bactérias benéficas,
oferecendo alimentos prebióticos, ricos em fibras solúveis e fermentáveis,
como FOS, inulina ou amido resistente (banana verde, alho, cebola, raiz de
bardana, batata yacon, aspargo, lentilha, feijão, ervilha, raiz de chicória,
alcachofra de Jerusalém, mel, entre outros).
4. Reparar a mucosa intestinal: através de uma dieta não irritativa, com a
exclusão de açúcar, farinhas refinadas, frituras, gordura trans, café, chá preto,
refrigerantes, cacau, alimentos industrializados em geral; o reparo da mucosa

56
é feito com aporte de nutrientes necessários para a regeneração e
proliferação celular, e deve ser feito através de uma alimentação equilibrada e
variada, além de suplementos alimentares. Os nutrientes prioritários neste
processo são: zinco, vitaminas E, A, C, B12, ácido fólico, glutamina, além de
antioxidantes e antiinflamatórios (ômega-3, óleo de linhaça, gengibre, alho,
açafrão, aloe vera). Pode ainda se pensar nas frutas e vegetais crus, fontes
de fibras solúveis para produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC)
pelas bactérias probióticas. Os AGCC servem de energia para as células
intestinais, assim como a glutamina, combustível principal dos enterócitos. O
óleo de coco virgem é rico em triglicerídeos de cadeia média (TCM) e a
manteiga Ghee é fonte de butirato, um AGCC.

2.5.2 Deficiências Nutricionais

É papel do nutricionista buscar a melhora da qualidade da alimentação, adequando


tanto em quantidade quanto em qualidade e variedade, com o objetivo de ofercer
todos os nutrientes necessários para a complexidade de processos bioquímicos do
organismo. Para que a absorção desses nutrientes ocorra adequandamente, é
necessário um TGI saudável e funcional. Então, melhorar a digestão é de extrema
importância para se obter a variedade de nutrientes provenientes dos alimentos e
suplementos nutricionais. Algumas das estratégias que podem ser utilizadas são:

1. Melhorar a digestibilidade dos alimentos: socar, hidratar e germinar grãos


aumenta a sua digestibilidade, hidratar e germininar sementes e oleaginosas,
fermentar os vegetais; sucos vegetais aumentam a digestibilidade e
densidade de nutrientes;
2. Melhorar a qualidade nutricional da dieta: umentar o consumo de alimentos
ricos em nutrientes, como vegetais, frutas, cereiais integrais, sementes; além
de retirar toda a alimentação vazia; Como grande parte das crianças, autistas
frequentemente tem um baixo consumo de hortaliças. Além de apresentar de
diferentes formas à crianças, adicioná-las às preparações de forma
imperceptível também é uma forma de aumentar os nutrientes da dieta;

57
3. Esconder as verduras e legumes para as crianças autistas que são altamente
seletivas na escolha da comida, popularmente conhecidas como “picky
eaters”, ou “comedores exigentes”. Adicionar vegetais nos sucos,
almôndegas, panquecas, muffins, molhos e sopas é uma boa maneira de
disfarçá-los;
4. Suplementação nutricional: vitaminas, minerais, ácidos graxos e aminoácidos
quando necessário, podem ser prescritos, visto a dificuldade de obter níveis
ótimos da alimentação nesses casos.

2.5.3 Supercrescimento de Leveduras

A levedura é um microorganismo prejudicial que pode afetar o nível de energia,


clareza de pensamento e saúde intestinal, na maioria das vezes, desencadeado pelo
uso de antibióticos. Conforme descrito anteriormente, seu crescimento gera
inflamação no intestino e reduz a função intestinal. As seguintes intervenções
nutricionais podem auxiliar no combate/controle dos fungos:

1. Remover açúcar e todos os doces, principal fonte para fermentação e


crescimento dos fungos;
2. Remover alimentos que promovem fermentação por fungos: principalmente
amidos e farinhas refinadas (biscoitos, bolos, pães). O açúcar das frutas,
especialmente frutas secas e sucos de frutas, contém maiores quantidades
de açúcar, e pode ser um problema para alguns; É prudente evitar as frutas
mais doces e altamente fermentáveis, como uva, maçã, laranja; Algumas
dietas, descritas mais a frente, eliminam todos os amidos ou todas as frutas.
3. Remover da dieta os alimentos que contêm fungos: fermento de pão e
alimentos freqüentemente contaminados por bolores (frutas secas,
oleaginosas, alguns cereais, carnes e queijos curados, vinagres, melão,
melancia, entre outros);
4. Suplementar probióticos e alimentos fermentados: para criar um ambiente
competitivo com as leveduras e bactérias patogênicas.

58
2.5.4 Toxicidade e Destoxificação Insuficiente

Quando o sistema de destoxificação não está funcionando otimamente ou está


sobrecarregado por toxinas pré-existentes, evitar toxinas adicionais provenientes da
dieta é importante. Estes produtos químicos conseguem atravessar a barreira
hemato-encefálica e afetar o cérebro, criando hiperatividade, agressividade,
irritabilidade e comportamento de auto-agressão. Algumas medidas a serem
tomadas:

1. Evitar aditivos alimentares: ingredientes artificiais são todos muito difíceis


para o organismo processar. Dentre eles, os mais deletérios são: corantes
artificiais (vermelho 40# e amarelo tartrazina), flavorizantes (vanilina),
conservantes (BHA e BHT), glutamato monossódico, adoçantes artificiais,
hidrolisado de proteínas vegetais, autolisado de leveduras, extrato de
leveduras e gordura trans;
2. Evitar alimentos e preparações que possam conter toxinas: (a) de
microorganismos, bactérias e bolores, evitar o consumo de alimentos
preparados e armazenados por mais de dois dias, frutas e verduras
estragadas (b) metais pesados, como o alumínio presente nas panelas, na
água tratada, no papel alumínio e alimentos enlatados; (c) migrantes de
embalagens, como o plástico de utensílios de armazenamento, copinhos
plásticos, garrafas pet, etc.; (d) contaminantes de origem animal e vegetal,
drogas veterinárias usada na criação de animais, como promotores de
crescimento, antibióticos, esteróides, além dos metais pesados provenientes
de peixes e frutos do mar (mercúrio, cádmio e arsênico), e pesticidas usados
na agricultura convencional;
3. Consumir alimentos orgânicos: livres xenobióticos e metais pesados
(dependendo do solo) e não transgênicos (organismos geneticamente
modificados - OGM). O gado deve ser livre e alimentado com pasto (sem
agrotóxico), os ovos e frangos devem ser orgânicos, garantindo que não
sejam contaminados por arsênico. Orgânicos normalmente contêm mais
vitaminas e minerais, portanto são mais nutritivos.
4. Adicionar alimentos que dão suporte ao fígado: nutrientes que participam da
destoxificação hepática (zinco, cobre, vitamina A, B2, B3, B5, B6, B12, ácido

59
fólico, ferro, colina); compostos enxofrados, sendo as brássicas a principal
fonte, além do alho. Outros alimentos e fitoterápicos que dão suporte para o
fígado podem ser utilizados: silimarina (cardo mariano), resveratrol, dente-de-
leão, chá verde, boldo, alcachofra, própolis, extrato de arroz integral, aloe
vera, entre outros.

2.5.5 Metilação, Transulfatação e Sulfatação Prejudicadas

Conjunto de reações bioquímicas que não funcionam adequadamente em muitas


crianças com autismo. Essas vias podem ser melhoradas através do fornecimento
dos nutrientes necessários e redução/ eliminação de substâncias que
sobrecarregam essas vias.

1. Excluir os alimentos ricos em compostos fenólicos: é importante limitar os


alimentos ricos em fenóis e salicilatos. Fenóis artificiais estão presentes em
aditivos derivados de petróleo, como todos os corantes e flavorizantes e
conservantes artificiais. Mesmo os fenóis naturais, os salicilatos, encontrados
em muitas frutas, vegetais e oleaginosas, como uvas, passas, maçãs,
morangos, amêndoas, mel, e outros, podem gerar diversas alterações de
comportamento, sintomas emocionais e físicos.
2. Auxiliar as vias da metilação e sulfatação através de suplementação:
nutrientes que podem dar suporte para essas vias bioquímicas são os
doadores de metil e nutrientes que participam como cofatores enzimáticos da
metilação e transulfatação (vitamina B12, ácido fólico, vitamina B6, zinco,
magnésio, colina, DMG e TMG (betaína) e molibdênio) são importantes
suplementos a se considerar. O consumo de alimentos ricos em doadores de
metil, como o MSM (metil-sulfonil-metano), destaque para a couve, é
recomendado, além da ingestão dos outros nutrientes.

Segue exemplo de algumas fontes alimentares de nutrientes importantes para os


processos descritos:

60
 Beta caroteno e vitamina A: cenoura, batata doce, damasco, abóbora,
abóbora, melão, manga, couve, couve, espinafre, brócolis, óleo de fígado de
bacalhau, manteiga Ghee, fígado e gema de ovo
 Vitamina C: batata doce, abóbora, brócolis, couve-flor, folhas verdes, cítricos;
 Vitamina B6: semente de girassol, pistache, nozes, lentilhas, feijão, farelo de
arroz, melado;
 Vitamina B12: fígado, ovos, peixes, cordeiro, vaca;
 Ácido fólico: feijão, germe de arroz, fígado, aspargos, brócolis, bananas;
 Ferro: melado, fígado, semente de abóbora, ovo de pata;
 Zinco: semente de abóbora, nozes, legumes, gengibre, aveia
 Magnésio: batata doce, abóbora, brócolis, folhas verdes, algas marinhas,
cereais integrais, nozes, castanhas, leguminosas;
 Cálcio: gergelim, semente de girassol, brócolis, couve, folhas verdes,
abóbora, algas marinhas, nozes;
 Ômega 3: peixes e óleo de fígado de bacalhau, semente de linhaça, semente
de abóbora, sementes de cânhamo, gema de ovo (orgânico)

61
2.6 INTERVEÇÕES DIETÉTICAS NO AUTISMO: DIETAS ESPECIAIS

A dieta é uma estratégia intencional quanto à ingestão de alimentos. Existem dois


principais focos na intervenção dietética do autismo. Primeiro, a remoção de
alimentos ofensores, ingredientes artificiais e alimentos vazios, seguido da adição de
alimentos nutritivos, fundamentais para o sucesso da intervenção dietética na
criança.

Neste capítulo serão descritas as principais dietas utilizadas no tratamento do


autismo em todo o mundo, popularmente conhecidas como “Dieta Especiais para o
Autismo” (ASD Special Diets). As particularidades de cada uma, assim como a
indicação de seu uso são pautadas nas teorias descritas anteriormente e nas suas
implicações refletidas no organismo dos indivíduos com TEA.

As dietas mais utilizadas e com maior eficácia, conforme o levantamento do ARI


incluem a Dieta do Carboidrato Específico (SCD), seguida da Dieta Sem Glúten e
Sem Caseína (SGSC) (ARI, 2009 ). Além destas, a dietas de Eliminação, de
Rotação, da Síndrome do Intestino e Psicologia (GAPS), da Ecologia do Corpo
(BED), Feingold, Pobre em Oxalato e Weston A. Price são também utilizadas par o
autismo e serão descritas a seguir:

2.6.1 Dieta Sem Glúten e Sem Caseína (SGSC)

Normalmente a dieta SGSC é o ponto de partida na jornada de intervenções


dietéticas no autismo e costuma ser a base de muitas outras dietas mais
avançadas. As informações a cerca da dieta são bastante abundantes e o mercado
é cada vez mais favorável àquele que precisam restringir glúten e caseína.

Como afirmado anteriormente, esta dieta elimina o glúten, proteína encontrada em


trigo, centeio, cevada, espelta (trigo vermelho), kamut (variedade de trigo), aveia
comercial, e caseína, proteína encontrada em produtos lácteos. Estas proteínas
podem ser muito inflamatórias levando a problemas digestivos, tais como diarréia,
constipação, gases, flatulência, bem como confusão mental e falta de atenção.

62
Muitos pais consideram a dieta de exclusão do glúten e caseína uma intervenção
muito efetiva e relatam melhorias em vários níveis: digestão, comunicação verbal,
contato visual, conexão e outros. De acordo os resultados da pesquisa do ARI , 69%
dos pais reportam notável melhora nos sintomas com a dieta SGSC. No entanto,
55% dos pais que implementam uma dieta de eliminação de somente glúten ou
caseína, relatam melhora significativa. Várias hipóteses têm sido sugeridas para
explicar esses resultados positivos, conforme já apresentado no capítulo anterior.

Knivsberg e colaboradores relataram em um estudo duplo-cego de uma dieta de


eliminação de glúten e caseína, com testes feitos antes e depois de um ano,
mostrando melhorias estatisticamente signifcantes no grupo da dieta com relação ao
distanciamento social, rotinas e rituais, e respostas para a aprendizagem
(KNIVSBERG, 2002). Em seu trabalho Elder comentou sobre relatórios notáveis de
pais e professores de crianças serem "curados" de autismo pela implementação com
dietas livre de glúten e de caseína, adquiririndo linguagem e notável entrosamento
social. Seu artigo descreve um estudo prévio com 149 crianças diagnosticadas com
autismo submetidas a dieta SGSC, com 81% das crianças apresentando melhora
em 3 meses (ELDER, 2006).

Vojdani e colaboradores mediram os anticorpos IgG, IgM e IgA contra gliadina e


caseína, proteína básica da mielina do cérebro, ovo, milho e soja em 50 crianças
com diagnosticadas com autismo. Análises indicaram que um número signifcante de
crianças desenvolveram anticorpos contra caseína e gliadina. Além disso, foi
demonstrado que a caseína e a gliadina ligam-se a linfócitos enzima CD26
tecidual, sugerindo o um gatilho para infamação e resposta imune (ELDER, 2006).
Essa discussão indica que mais de um mecanismo suporta a hipótese que justifica a
escolha de um dieta isenta de glúten e caseína para o autismo (VOJDANI, 2003).

Sem dúvida essa é a intervenção dietética mais utilizada por pacientes autistas,
porém muitos estudos ainda buscam verificar a sua validade. Uma recente revisão
procurou determinar a eficácia da dieta livre de glúten e / ou caseína na melhora do
comportamento, funcionamento cognitivo e social em indivíduos com autismo,
encontrou somente 35 ensaios clínicos randomizados, amostra pequena para
realizar uma meta-análise. Destes apenas três tratamentos obtiveram significativos

63
efeitos a favor da intervenção dietética, três resultados não mostraram diferença
significativa entre os grupos da dieta e controle. Dez estudos não puderam ser
calculados porque os dados foram distorcidos e nenhum estudo relatou
desvantagens ou danos com a dieta (MILLWARD, 2009).

Embora a eliminação do glúten e da caseína da dieta possa ser útil, muitos


pacientes geralmente necessitam de refinamentos posteriores dessa dieta, adotando
outras abordagens dietéticas.

2.6.2 Dieta do Carboidrato Específico (Specific Carbohydrate Diet - SCD) e Dieta da


Síndrome do Intestino e Psicologia (Gut and Psychology Syndrome - GAPS)

A Dieta do Carboidrato Específico (SCD) é uma dieta que elimina todos os açúcares
complexos, incluindo a remoção do melado, açúcar de cana, o néctar de agave,
xarope de arroz, de mandioca, de milho, e outros. Ela também remove todos os
amidos e féculas, tais como grãos, cereais e tubérculos. Não se trata de uma dieta
de baixo carboidrato ("low carb"), mas de carboidrato específico ("specific carb"). Os
carboidratos nessa dieta são predominantemente açúcares simples
(monossacarídeos), como o mel, frutas, iogurte corretamente fermentado e alguns
vegetais. A dieta também permite a ingestão de carnes, peixes, ovos, nozes, alguns
tipos de feijão e lentilha após hidratar, e todos os vegetais não-amiláceos.

A SCD foi idealizada por Elaine Gotschall, inicialmente como um tratamento para a
colite ulcerativa, sendo posteriormente popularizada entre a comunidade autista
como um meio de tratar os sintomas gastrointestinais e possíveis problemas
comportamentais.

A SCD tem como objetivo reduzir a inflamação no intestino, baseada na premissa de


matar de fome os microorganismos patogênicos, restabelecendo a saúde intestinal.
Essa teoria é apresentada no livro “Breaking the Vicious Cycle”, que descreve o ciclo
que se estabelece como resultado da má digestão de carboidratos complexos. Os
CHO que não são digeridos e absorvidos, permanecem no intestino e são
fermentados pelos microorganismos. O supercrescimento de levedura e bactérias

64
resulta em disbiose, subprodutos bacterianos e fúngicos, e produção de muco, mas
também pode causar injúria na mucosa intestinal, contribuindo para digestão
deficiente dos dissacarídeos, criando assim, um ciclo vicioso. SCD é baseada na
premissa de não oferecer matéria-prima para o crescimento dos fungos e assim
restabelecer a saúde intestinal (GOTTSCHALL, 2007).

Normalmente a SCD não é a primeira dieta de escolha por ser mais restritiva que a
dieta SGSC e de mais difícil aplicação. No entanto, na presença de condições
inflamatórias intestinais significativas, alguns pais iniciam direto com a SCD.
Segundo a nutricionista DAN, Jullie Matthews, a SCD é uma dieta ideal para o
autismo, porém normalmente é aplicada quando a dieta SGSC não é suficiente e os
problemas digestivos permanecem ou quando benefícios adicionais são almejados
com a evolução das dietas (MATTHEWS, 2008).

Uma variação da SCD é a dieta “Gut and Psychology Syndrome” (GAPS), que
estabelece uma conexão entre as funções do sistema digestivo e o cérebro. Este
termo foi criado pela Dra. Natasha Campbell McBride em 2004, após trabalhar com
centenas de crianças e adultos com doenças neurológicas e psiquiátricas, como
TEA, TDAH, esquizofrenia, dislexia, dispraxia, depressão, transtorno obsessivo-
compulsivo (TOC), transtorno bi-polar e outros problemas neuropsicológicos e
psiquiátricos. Ela usa os mesmos fundamentos da SCD, mas com inclui outros
princípios, como o uso de alimentos fermentados e caldos/brodos nutritivos
(CAMPBELL-MCBRIDE, 2010).

2.6.3 Dieta da Ecologia do Corpo (The Body Ecology Diet™ - BED)

Donna Gates foi pioneira da BED, que centra na reconstrução da imunidade e da


microbiota intestinal. Esta dieta usa princípios tradicionais de cura, como o uso de
alimentos fermentados (Kefir de coco verde e fermentação caseira de vegetais);
alimentos alcalinizantes (vegetais são os principais), alimentos de fácil digestão,
princípios da combinação de alimentos, limitação/exclusão de açúcar e amido entre
outras recomendações direcionadas ao supercrescimento de leveduras e promoção
do reequilíbrio da microbiota intestinal (GATES, 2006). Os benefícios desta

65
abordagem no autismo são apoiados por estudos sobre a microbiota intestinal nesta
população (FEINGOLD, 2010). Utilizando uma dieta limitada em carboidratos
simples em um modelo animal, Vargas observou a redução da colonização por
Candida (VARGAS, 1993).

Semelhante à dieta macrobiótica, a BED recomenda o uso de algas e grãos menos


amiláceos e acidificantes, como quinoa, amaranto, trigo-sarraceno, painço,
propriamente hidratados e germinados para permitir fácil digestão. Grãos como
arroz, trigo e aveia não são permitidos, além de frutas e leguminosas nos primeiros
estágios da dieta. Cada refeição deve ser combinada e seguir a proporção da regra
80:20, com 80% de vegetais sem amido e 20% de proteínas ou grãos. Não é
permitida a combinação de proteínas com vegetais amiláceos, pois, segundo os
princípios da dieta, necessitam de pH estomacal diferentes, sendo neutralizado
quando consumidos em associação, permitindo a fermentação do amido pelas
leveduras. Produtos lácteos não são incentivados inicialmente, pois a lactose serve
de substrato para os fungos, porém o uso de Ghee é investigado em uma fase
posterior (GATES, 2006).

Embora a BED seja difícil de implementar, é uma dieta equilibrada, que retorna a
atenção para o poder de alimentos tradicionais e o uso de alimentos fermentados
em favor de uma microbiota intestinal saudável. É considerada uma das dietas de
base da intervenção nutricional do autismo, tendo 58% de aprovação pelos pais,
juntamente com outras dietas antifúgicas, segundo levantamento do ARI que relatam
incrementos significativos na digestão e outros quesitos (ARI, 2009 ).

2.6.4 Dieta Weston A. Price (WAP) / Nutrindo Tradições (Nourishing Traditions)

Desenvolvida na década de 1930 e 1940 por Weston A. Price, após estudar as


culturas indígenas em vários lugares no mundo antes da globalização, na busca de
uma conexão entre nutrição e saúde nessas populações. Price verificou que todas
as culturas que tinham uma dieta mais balanceada, a base de vegetais e alimentos
de origem animal, eram mais saudáveis. Nesta época os alimentos processados e
aditivos alimentares estavam recém sendo introduzidos, inclusive na cultura

66
indígena, influenciadas pela alimentação moderna. O autor pode então observar os
efeitos da dieta ocidental versus as dietas tradicionais indígenas (PRICE, 2010).
Suas pesquisas estão publicadas em seu livro “Nutrition and Physical Degeneration”,
um alerta sobre os malefícios da ocidentalização e mecanização da produção de
alimentos sobre a saúde. Em 1970 os fundamentos de Price para uma alimentação
saudável foram popularizados por Sally Fallon no livro “Nourishing Traditions”
(FALLON, 2001).

A Fundação Weston A. Price promove o retorno ao antigo modo de viver e produzir


alimentos, que suporta a saúde dos animais e das pessoas que se alimentam
destes, além da qualidade da terra para produção de vegetais (PRICE, 2010).

Alguns dos princípios desta dieta incluem o consumo de: gorduras de boa qualidade,
como ovos, manteiga, leite, carnes, todos orgânicos e alimentados com pasto, além
de óleo de coco virgem; laticínios crus, não pasteurizados; grãos, leguminosas e
sementes hidratados e germinados; brodos e caldos nutritivos; alimentos lácteos
fermentados; além, é claro, de abolir os alimentos da cultura moderna, como todos
os industrializados contendo aditivos, alimentos a base de soja (exceto fermentados)
e açúcar refinado.

Essa dieta é rica em ômega-3, gorduras saturadas (de boa qualidade) e colesterol,
todas importantes para o desenvolvimento neurológico e funções celulares. Mas seu
uso deve ser avaliado individualmente, principalmente para aqueles com
comprometimento da vesícula biliar e dificuldade na digestão de gorduras.

2.6.5 Dieta Anti-Fúngica (Feast Whithout Yeast)

Esta é a dieta mais básica e popular das dietas anti-candida, baseada no livro “Feast
Whithout Yeast” (SEMON e KORNBLUM, 1999). Apesar de restritiva, é umas das
menos complicadas dentre as dietas antifúngicas conhecidas, pois restringe o
consumo de alimentos que alimentam a Candida: açúcares, incluindo frutas e
carboidratos refinados, alimentos fermentados (exceto fermentação por
lactobacilos), alimentos mofados, envelhecidos e curados (ex: carnes e queijos) e

67
fermento biológico usado em pães e massas. Além disso, restringe ou recomenda a
redução de trigo, lácteos, ovos, corantes artificiais, flavorizantes e conservantes,
baseando-se em uma alimentação saudável e natural.

Assim como a maioria dos protocolos antifúngicos, a maioria dos alimentos


fermentados não é recomendada. No entanto, muitos estudos têm demonstrado os
benefícios do consumo de probióticos (BOIRIVANT e STROBER, 2007;CULLIGAN,
2009;HART, 2009;KAUR, 2009), assim como alimentos contendo probióticos, por
exemplo, chucrute “cru”, kefir, kombucha e vinagre de maçã não-pasteurizado, ricos
em lactobacilos, os quais desempenham um papel fundamental no restabelecimento
da microbiota saudável e controle do crescimento desordenado de leveduras,
associado à melhora na função imune.

Maior precaução no uso dos alimentos fermentados deve-se ter em indivíduos com
forte sensibilidade (IgG) ao fermento biológico e levedo de cerveja, visto que alguns
alimentos como o kefir e kombucha, também contém leveduras. Não obstante,
possuam cepas de leveduras probióticas, como o Saccharomycies Boulardii, que
tem demonstrado eficácia em doenças inflamatórias e infecciosas do trato
gastrintestinal em ensaios clínicos randomizados, duplo-cego controlados. Os
mecanismos de ação de S. boulardii dependem, principalmente, da inibição de
algumas toxinas bacterianas, efeitos antiinflamatórios e efeitos estimulantes sobre a
mucosa intestinal, tais como estímulo trófico das enzimas da borda em escova e
efeitos imunoestimulador. Em pediatria há evidências de que S. boulardii é benéfico
para o tratamento de gastrenterites agudas e prevenção da diarréia associada a
antibióticos (VANDENPLAS, 2009). Revisão sistemática e meta-análise comprova a
segurança e eficácia do uso deste probiótico em várias doenças, porém, mais
ensaios clínicos são incentivados para o tratamento de doenças inflamatórias
crônicas (doença de Crohn, síndrome do intestino irritável e diarréia relacionada com
o HIV) e prevenção de recorrências de Clostridium difficile (MCFARLAND, 2010).

A dieta antifúngica para o autismo normalmente está associada a outras dietas,


como a SGSC, restrição ou rotação dos alimentos alergênicos, eliminação dos
produtos industrializados, GMS, corantes, conservantes e adoçantes artificiais.

68
2.6.6 Dieta Pobre em Fenóis (Feingold Diet e Failsafe Diet – Low Phenols)

A dieta de Feingold (1985) foi descrita primeiramente no livro “Why your child is
hyperactive”. Os fundamentos da dieta baseiam-se nos benefícios da restrição
alimentar em crianças com TDAH. O autor, Ben Feingold, prevê várias melhorias
comportamentais após a eliminação dos corantes alimentares e flavorizantes. Na
observação de Feingold, a eliminação de aditivos alimentares da dieta de seus
pacientes hiperativos leva a um de declínio dramático dos sintomas, podendo
inclusive eliminar o uso de medicamentos (FEINGOLD, 2010).

Além das substâncias sintéticas, ele também recomenda evitar os salicilatos


naturais, encontrados em uma variedade de frutas, como maçãs, damascos, frutas
vermelhas, cerejas, uvas, bananas, nectarinas, laranjas, pêssegos, ameixas, uvas e
passas, tomates e pepinos, além de amêndoas, nozes, amendoim, entre outros.
Dentre os aditivos artificiais, destacam-se a maioria dos cereais produzidos
industrialmente, lanches prontos, assados, peixes congelados, doces, bebidas com
adoçantes, sobremesas e outros alimentos que contenham aditivos sintéticos, como
corantes, flavorizantes, conservantes, realçadores de sabor e adoçantes artificiais
(BETH, 2010).

A deficiência da enzima fenol-sulfo-transferase (PST) é a responsável pelos


sintomas de sensibilidade aos salicilatos, que incluem olheiras profundas,
hiperatividade, dificuldade de adormecer à noite, riso inadequado e bater a
cabeça/rindo, hiperatividade e agressividade.

Uma variação da dieta Feingold é a Failsafe, descrita por Sue Dengate (2008) como
uma intervenção para indivíduos com TEA. Esta dieta preconiza a redução de
aditivos alimentares, salicilatos, aminas e realçadores de sabor, como o GMS
(MATTHEWS, 2008).

2.6.7 Dieta Pobre em Oxalato (Low Oxalate Diet)

Oxalato é um sal formado no fígado como produto residual do metabolismo de


aminoácidos. Também está presente em uma ampla gama de alimentos e bebidas,
69
incluindo chá, café, chocolate, frutas e produtos hortícolas. O oxalato se liga a certos
minerais como o cálcio e forma cristais de oxalato. Normalmente, um intestino
saudável não absorve uma quantidade excessiva de oxalatos da dieta, pois são
metabolizados por enzimas de bactérias intestinais e excretados nas fezes
juntamente com o cálcio . A principal espécie de bactéria envolvida na degradação
de oxalato no intestino é a anaeróbia Oxalobacter formigenes, encontrada no cólon
de seres humanos (COLIN, 2004;DUNCAN, 2002).

A ausência ou redução deste microrganismo no intestino pode ser acompanhada da


elevação da concentração do oxalato urinário, aumentando o risco de formação de
cristais de oxalato. Estudos mostrando uma ligações entre a ocorrência de
nefrolitíase e a presença de Oxalobacter formigenes sugerem que a terapia com
antibióticos pode contribuir para a perda deste organismo da microbiota. No estudo
de Duncan, a doxiciclina, claritromicina e alguns outros antibióticos inibiram a
degradação de oxalato de duas cepas humanas de O. Formigenes (COLIN,
2004;DUNCAN, 2002;SIVA, 2009). Considerando que indivíduos autistas
frequentemente possuem histórico de uso de antibióticos e disbiose intestinal, esta
pode ser uma das razões para os níveis excesivos de oxalato nos testes de ácidos
orgânicos urinários desses pacientes, especialmente na presença de
supercrescimento de leveduras intestinais.

Estudos em animais e em voluntários humanos indicaram que, quando administrado


terapeuticamente, o O. formigenes pode se estabelecer no intestino e reduzir a
concentração de oxalato após administração de uma carga de oxalato, reduzindo
assim a incidência provável de formação de cálculos de oxalato de cálcio. Além
disso, a utilização de probióticos com bactérias lácticas que metabolizam oxalato
pode fornecer uma alternativa válida para o O. formigenes (DUNCAN, 2002;SIVA,
2009).

Na presença de hiperpermeabilidade intestinal os cristais de oxalatos podem


alcançar a corrente sanguínea e atingir altas concentrações no sangue, na urina,
nos tecidos e causar lesões. Nos tecidos, o oxalato leva à inflamação e dor. Esse
processo no intestino cria um ciclo vicioso com aumento da permeabilidade da
mucosa decorrente da inflamação, levando à absorção excessiva de oxalato. Nas

70
células, o oxalato aumenta estresse oxidativo, depleta a glutationa e acentua a
inflamação relacionada ao sistema imunológico (MATTHEWS, 2008).

Diversos alimentos contêm oxalatos, em diferentes proporções, concentrando-se


nas raízes e talos. As maiores fontes são: soja e derivados, feijão branco,
amendoim, amêndoas, castanha de caju, trigos, espinafre, acelga, beterraba, couve,
salsinha, aipo, vagem, alho-poró, frutas roxas (berries), morango, kiwi, uvas tintas,
figo, tangerina, ameixa, cacau, chocolate e chá preto (OWENS, 2010). Não existem
evidências suficientes de que uma dieta com baixo oxalato seja necessária em caso
de oxalatos aumentados para indivíduos autistas. É possível que a correção da
disbiose intestinal e recuperação da permeabilidade intestinal sejam prioritárias, já
que pode ser uma das maiores causas do excesso de absorção de oxalatos.

2.6.8 Dieta Crudista (Raw Food Diet)

A alimentação crudista, crudívora ou “viva” é baseada no consumo de alimentos crus


e não processados. A “Alimentação Viva” preocupa-se com a vitalidade ou “Energia
Vital” de todos os alimentos. Segundo esse conceito, o alimento proveniente da terra
com maior vitalidade é o vegetal no início de seu crescimento e, por isso, as
sementes germinadas e brotos constituem as bases da Culinária Viva. As
informações básicas e fundamentais sobre a “Alimentação Viva” são encontradas
nos trabalhos da Dra Ann Wigmore, que escreveu vários livros sobre o assunto na
década de 80 na Califórnia – EUA. Embora o conhecimento sobre os benefícios
remonte a Hipócrates (Dieta Hipocrática), a autora tem o mérito de organizar e
popularizar o conhecimento que hoje se constitui num movimento ecológico baseado
no “Estilo de Vida da Alimentação Viva”. O programa culinário proposto por Ann
Wigmore se baseia no consumo de sementes em processo de germinação e de
brotação, acompanhado de verduras, legumes e frutas cruas, in natura, além dos
alimentos fermentados e desidratados. Segundo ela, as sementes quando
germinadas produzem grande quantidades de enzimas digestivas que facilitam o
processo digestivo de todos os alimentos, além de potencializarem a energia vital
em seu interior. Também os sucos e os alimentos fermentados são fontes de

71
enzimas digestivas e carregados de energia vital. A culinária viva é então, um
conjunto de alimentos elaborados de forma que facilitem a digestão, sem
processamento pelo fogo e pelo resfriamento (FIOCRUZ, 2010).

No Brasil, os trabalhos sobre Alimentação Viva foram adaptados inicialmente pela


professora Ana Branco – Dep. de artes e design da PUC - Rio, que tem o mérito de
associar a arte com a saúde, através do laboratório de pesquisas do Biochip e
ampliado posteriormente pelo grupo Terrapia, constituindo uma parceria para
fortalecer o caminho da Promoção da Saúde no Centro de Saúde Escola Germano
Sinval Faria (CSE) da Escola Nacional de Saúde Pública-FIOCRUZ (FIOCRUZ,
2010).

Os princípios da “alimentação viva” baseiam-se na preservação das enzimas


presentes nos alimentos crus e da vitalidade dos mesmos, visto que o aquecimento
acima de 46ºC destrói as enzimas, além de muitas vitaminas e antioxidantes. Os
alimentos que necessitam cocção, como grãos, devem ser germinados para permitir
a digestão. Sementes e oleaginosas também devem ser hidratadas por 8h e/ou
desidratadas em baixas temperaturas. Acredita-se que a germinação reduza a
quantidade a quantidade de salicilatos (compostos fenólicos) dos vegetais, sendo
benéfica para indivíduos com dificuldade de sulfatação (MATTHEWS, 2008).

Por ser rica em vegetais, esta dieta auxilia no balanço ácido/básico e no reequilíbrio
da microbiota intestinal. Para indivíduos autistas que tem problemas de processar
fenóis, a germinação de grãos, sementes e oleaginosas parece ser benéfica. A dieta
crudista não precisa ser seguida estritamente. Seus princípios podem ser
incorporados a outras dietas. Algumas pessoas não têm uma boa capacidade
digestiva para consumir certos tipos de alimentos crus, já que a cocção auxiliar na
quebra das moléculas e torna mais fácil a digestão.

2.6.9 Dieta de Eliminação e de Rotação (Sensibilidades Alimentares)

Independente da dieta de base escolhida, a remoção dos alimentos alergênicos é


crucial. Essa dieta funciona mais como um refinamento para outras dietas do que

72
uma dieta por si só. Dependendo do indivíduo, é preciso remover totalmente alguns
alimentos, mas em alguns casos pequena quantidades são toleradas, tendo um bom
resultado com a dieta de rotação.

Para determinar quais alimentos devem ser eliminados ou rotacionados deve-se


fazer uma dieta de eliminação/provocação ou basear-se em exames laboratoriais de
que testam anticorpos IgG para uma variedade de alimentos, porém podem
apresentar 10 a 15% de falso-positivos e falso-negativos.

Maior dificuldade na implementação ocorre em indivíduos sensíveis a praticamente


todos os alimentos, tornando a dieta de eliminação extremamente restritiva.

A dieta de eliminação/provocação envolve a eliminação de grande quantidade de


alimentos possivelmente problemáticos por no mínimo uma semana,
preferencialmente por um mês. Os alimentos mais alergênicos são: leite e derivados,
glúten, ovos, milho, açúcar, chocolate, amendoim, oleaginosas, cítricos, produtos
contendo corantes artificiais, aditivos e conservantes. Posteriormente deve ser
reintroduzido um alimento por vez, de duas a três porções no mesmo dia, com o
registro dos resultados nos próximos três dias. Existem diferentes metodologias de
provocação. Cada alimento novo pode ser testado a cada três dias, quando não
houve reação do anterior, ou, aguardar um mês para testar alimento. Além disso, a
provocação pode ser feita por grupos alimentares ou por alimento em separado.
Esse teste é mais confiável que o exame laboratorial, porém pode ser muito restritivo
e difícil de identificar as reações, devido aos diferentes fatores que podem causar o
mesmo sintoma.

Após a remoção do glúten e caseína da dieta é comum a substituição por produtos a


base de soja e milho, dois alimentos que comumente causam sensibilidades,
especialmente em indivíduos autistas. A remoção de ambos freqüentemente é
acompanhada da melhora no comportamento e atenção dessas crianças.
A soja possui proteínas de difícil digestão, portanto é inflamatória para o intestino.
Além disso, interfere na função tireoidiana, possui ação estrogênio-símile e contém
muitos fatores anti-nutricionais que reduzem a absorção de cálcio, magnésio, zinco,
e outros minerais. Por estas e outras razões, o uso da soja e seus derivados deve
ser evitado para paciente autistas, incluindo soja fermentada, óleo de soja e lecitina
73
de soja. Além do mais, praticamente toda a soja comercializada é geneticamente
modificada e com grande quantidade de pesticidas, o que pode trazer ainda mais
prejuízos para o organismo.

O milho também é um alergeno bastante comum e que permeia a alimentação


moderna. Seus subprodutos são largamente utilizados pela indústria alimentícia
como ingrediente base, aditivos e adoçantes. Como exemplo é possível citar o
álcool, vinagre, xarope de milho rico em frutose, xarope de milho rico em
glicose, maltodextrina, amido de milho, dextrose, goma xantana, algumas vitaminas
C e xilitol, corante caramelo, ácido cítrico e aromas naturais. Praticamente toda a
produção de milho do mundo é geneticamente modificada (GM). Segundo Matthews,
o milho GM contém o gene de uma bactéria produtora de toxina e seu uso ainda não
foi testado em seres humanos e no meio ambiente. O milho GM parece ser
particularmente inflamatório para o intestino, mesmo em indivíduos não sensíveis. O
milho orgânico não é transgênico, porém, são necessários mais estudos a cerca da
contaminação de culturas não GM via polinização (MATTHEWS, 2008).

Dependendo do nível de sensibilidade do indivíduo, é necessário evitar todos os


produtos derivados do milho, enquanto em outros casos, é possível consumir
somente milho orgânico e limitar ou rotacionar os produtos e ingredientes à base de
milho. A goma xantana é uma substância comumente utilizada nos produtos sem
glúten, para conferir elasticidade à massa, porém a fração protéica do milho está
ausente. Mesmo assim, indivíduos muito sensíveis podem não tolerar esse
ingrediente. O amido de milho é outro ingrediente extensamente utilizado produtos
industrializados e caseiros, em especial os isentos de glúten. Conforme já citado no
capítulo anterior, alguns estudos mostram a relação do xarope de milho com o
autismo por conta do mercúrio. Adicionalmente, esse produto pode ser inflamatório e
propiciar o supercrescimento de leveduras intestinais pelo seu conteúdo alto de
açúcares.

Ovos são extremamente difíceis de eliminar por completo numa dieta isenta de
glúten, pois conferem maciez e emulsificação às massas. Mas além de receita sem
ovos, existem algumas opções de substituição dos mesmos, como goma de linhaça,

74
biomassa de banana verde, bicarbonato de sódio, suco e limão e vinagre, gelatina e
purês de frutas e vegetais.

Qualquer alimento de consumo freqüente pode desencadear uma reação de


hipersensibilidade em indivíduos suscetíveis e aumento da permeabilidade intestinal.
A retirada do alimento alergênico auxilia muito no processo de recuperação da
mucosa intestinal, pois reduz o processo inflamatório local. No entanto, uma dieta
que elimina muitos alergenos alimentares pode resultar em uma alimentação restrita
e pouco variada, especialmente em crianças seletivas (picky eaters), favorecendo o
desencadeamento de novas sensibilidades no organismo. A variação e rotação dos
alimentos é a melhor maneira de evitar as reações de hipersensibilidade.

Após o período de dessensibilização do alimento alergênico (mediado por IgG),


tempo variável para cada indivíduo, muitas vezes é possível retornar o consumo do
mesmo sem desencadear reações de sensibilidade no organismo, quando o
consumo é rotativo, ou seja, com intervalo mínimo de 4 dias. No entanto, esta regra
não se aplica a todos os alimentos. Depende tanto da individualidade bioquímica,
quanto da associação de outros fatores. No caso de autistas, glúten, caseína, soja,
açúcar, aditivos alimentares e outros não devem ser reintroduzidos na dieta.

Conforme se pode visualizar no resumo das dietas especiais (Quadro 1), a dieta de
rotação é aprovada por 55% dos pais, enquanto a eliminação isolada de alguns
alimentos também foi eficaz para algumas crianças autistas, segundo último relatório
do ARI (ARI, 2009 ).

75
Quadro 1: Dietas especiais para o autismo – Avaliação de pais de crianças autistas
sobre os efeitos comportamentais das intervenções dietéticas (ARI, 2009 ).

Resultados da Pesquisa
Opções de dietas especiais do ARI
% de pais que relataram
para o autismo uma significativa melhora
dos sintomas de seus filhos
SGSC SGSC - 69%
Sem glúten (trigo, centeio, cevada, espelta, kamut, Sem Laticínios - 55%
aveia comercial) ou Sem caseína (laticínios) Sem Trigo - 55%

Dieta de Eliminação/Rotação (Sensibilidades Sem Ovos – 45%


alimentares) Sem Chocolate – 52%
Elimina todos os outros alimentos alergênicos: soja, Sem açúcar– 52%
milho, ovos, cítricos, amendoim, chocolate, açúcar Dieta de Rotação – 55%

Dieta do Carboidrato Específico (SCD) / GAPS


Restringe os carboidratos a somente frutas, vegetais
SCD - 71%
não amiláceos e mel. Não permite grãos, vegetais
amiláceos e fibras mucilaginosas

Dieta pobre em Salicilatos e Fenóis


(Feingold/Failsafe)
Feingold - 58%
Restringe alimentos ricos em fenóis, incluindo todos os
ingredientes artificiais e frutas ricas em salicilatos

Dieta da Ecologia do Corpo (BED)


Dieta antifúngica que combina princípios de dieta anti-
candida incluindo: sem açúcar, equilíbrio ácido/básico,
alimentos fermentados e combinações de alimentos Dietas antifúngicas em geral –
58%
Dietas antifúngicas
Restringe todos os açúcares, incluindo as frutas, além
de carboidratos refinados (pães, massas, biscoitos...)

Dieta de baixo Oxalato (LOD)


LOD - 50%
Restricts high oxalate foods (nuts, beans, greens)

Weston A. Price / Nutrindo tradições


Boa qualidade de gorduras e melhora da digestibilidade ------
de grãos

Dieta Crudista
Alimentos crus, germinados e desidratados em baixas
------
temperaturas. Dieta a base de verduras, frutas,
castanhas, sementes e grãos germinados.

76
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até recentemente o autismo era considerado uma doença de base neurológica com
enfoque psiquiátrico e os dados a cerca desta patologia na literatura eram bastante
limitados. Hoje, as evidências apontam cada vez mais para uma causa multifatorial,
com influências ambientais sobre uma genética suscetível. Atualmente o autismo é
estudado sob a perspectiva bioquímica e metabólica, considerando os múltiplos
sistemas orgânicos em desequilíbrio, como o neurológico, gastrointestinal,
imunológico e de destoxificação.

Não obstante a crescente produção científica relacionada ao tema, grande parte dos
dados ainda são fragmentados, reflexo da complexidade desta patologia que parece
não ter uma explicação única. O encaixe das peças deste quebra-cabeça – símbolo
para a conscientização do autismo – permite um olhar integralizado destes
indivíduos, fundamental no processo terapêutico proposto atualmente, onde a
intervenção nutricional é peça integrante e pré-requisito para outras abordagens.

Este trabalho apresentou algumas opções de dietas especiais à disposição de pais,


cuidadores e profissionais, que podem ser direcionadas aos indivíduos autistas.
Estas dietas, conhecidas com “dietas especiais para o autismo” vem sendo
largamente utilizadas, principalmente fora do Brasil, onde o conhecimento sobre o
tratamento biomédico do autismo está mais avançado e as informações sobre as
dietas especiais, mais acessíveis ao público.

Ainda são poucos os estudos comprovando a eficácia de tais dietas, mas tanto as
pesquisas quanto as evidências empíricas se mostram promissoras nesta área. No
entanto, as dietas não são desenvolvidas especialmente para o autismo. São
direcionadas aos sintomas e comprometimentos mais pronunciados e devem ser
adaptadas conforme as necessidades individuais. Esse ajuste individual pode ser
complexo e de difícil implementação, podendo trazer prejuízos nutricionais ao
paciente. Além disso, muitos fatores influenciam na efetividade da intervenção
dietética, como a escolha da dieta mais apropriada para cada indivíduo e sua
família, a rigorosidade na implementação dessas estratégias, a adequação às

77
necessidades nutricionais, a inclusão da família na dieta do autista, os tratamentos
realizados simultaneamente, entre outros.

Neste sentido, a avaliação e o acompanhamento do profissional nutricionista nas


intervenções dietéticas dos transtornos do espectro autista são fundamentais,
permitindo maior adequação e efetividade no tratamento. Além das dietas, outras
estratégias nutricionais devem ser utilizadas. Estudos bem delineados a cerca da
utilização de dietas especiais no autismo são necessários, assim como a
multiplicação dos conhecimentos atuais sobre a nova visão de tratamento do
autismo dentro da área da saúde.

A nutrição parece exercer um caráter de base no tratamento biomédico do autismo,


oferecendo suporte e aumentando a eficácia das diversas terapias existentes. O
funcionamento mais adequado do organismo por meio de ajustes bioquímicos e
metabólicos parece facilitar o processo de aprendizagem e desenvolvimento de
habilidades dos indivíduos dentro do espectro autista. Grande parte das terapias
aplicadas em transtornos invasivos do desenvolvimento trabalha a autonomia dos
pacientes, em busca de melhor qualidade de vida, convívio social e familiar. Existem
diversas possibilidades de terapias para o autismo, mas a interdisciplinaridade tem
se mostrado o caminho mais eficaz. Certamente o acolhimento e o fim do
preconceito são fundamentais para que a inserção desses indivíduos na sociedade
seja cada vez maior.

78
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