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Revista Brasileira de

NUTRIÇÃO
FUNCIONAL
Brazilian Journal of Functional Nutrition

ISSN 2176-4522
ano 19. edição 80
www.vponline.com.br

RECEITA
Drink Refrescante de
Melancia com Laranja e Hortelã

Ação dos compostos bioativos


dos alimentos no envelhecimento e longevidade

Efeito do néctar de camu-camu


(Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a glicemia
de adultos normocolesterolêmicos

Os 60+ da
Agricultura Sustentável
Editorial

Dra. Valéria Paschoal


Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional

Encerrando mais um ano de atualizações científicas na área da Nutrição


Funcional, essa edição conta com artigos sobre nutrição clínica, alimentos e efeitos
à saúde e sustentabilidade.

Inovação, valorização da biodiversidade e aplicabilidade clínica: todos esses


conceitos são contemplados em um importante artigo original sobre os efeitos do
néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico
e a glicemia de adultos normocolesterolêmicos, que mostra o alto potencial dessa
fruta amazônica para contribuir com a saúde da população, enaltecendo nossa rica
diversidade nativa.

Ainda sobre a abordagem nutricional e efeitos à saúde dos alimentos e considerando


o aumento da expectativa de vida da população e de várias doenças crônicas não
transmissíveis, uma revisão esclarecedora acerca da ação dos compostos bioativos dos alimentos
no envelhecimento e longevidade reforça a importância de uma alimentação rica e equilibrada
nutricionalmente com alimentos naturais, para que a longevidade seja atingida com vitalidade positiva.

Na área de nutrição clínica, duas revisões trazem atualizações importantes de temáticas


recorrentes na prática clínica do nutricionista, sobre o efeito do ômega-3 no perfil cognitivo de
crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista e sobre os efeitos da dieta plant-based
no perfil inflamatório relacionado à obesidade.

A abordagem e a importância da sustentabilidade têm aumentado em todo o planeta. Dessa forma,


a atualização e o entendimento sobre esse tema é fundamental para que possamos acompanhar as
tendências e sermos agentes de transformação. Nessa edição, trazemos uma revisão com reflexões
sobre a relação entre o ser humano e a sustentabilidade, nos âmbitos do conhecimento, ação, realidade
e perspectivas.

Para finalizar, a edição conta com a primeira parte de uma série inspiradora sobre os 60+ da
Agricultura Sustentável, abordando como eles chegaram à longevidade com energia vital e qualidade
de vida produzindo alimentos nos modelos de culturas agroecológicas. Na sessão de gastronomia,
um delicioso drink refrescante de melancia com laranja e hortelã é uma nutritiva opção para você
se hidratar nesse verão.

Boa leitura e feliz 2020!


Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

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Expediente

Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2019 - edição 80


Indexação: Sumários (www.sumarios.org) e ESALQ (http://dibd.esalq.usp.br)
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Coordenação e Autores

Conselho Editorial
Ana Cláudia Poletto
Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em Fisiologia
Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do programa de Fisiologia
Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia Endócrina, atuando nos temas:
mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene SLC2A4, sensibilidade à insulina,
metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus.

Ana Vládia Bandeira Moreira


Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela
Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003).
Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório de Análise
de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de Técnica Dietética na
Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na especialização na UFV.

Anna Cecília Queiroz de Medeiros


Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Experiência na área
de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados fisiológicos.
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Fátima Aparecida Arantes Sardinha


Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em
Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/EPM.
Docente convidada do curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional
em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

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Coordenação e Autores

Fernanda Serpa
Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de
residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidada
dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de Bombeiros do RJ.
Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar.

Gilberti Hübscher
Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde pela
PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada dos cursos de
pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e Trabalho da Feevale (RS).
Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).

Márcia Cristina Paiva


Nutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-
graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro
do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos (Bombas de
infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José dos Campos - SP.

Rosangela Passos de Jesus


Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de
Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição Clínica
Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof Edgard Santos.

Sandra Matsudo
Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós-doutorado
em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do Laboratório de
Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal de Envelhecimento e
Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade Física e Saúde Pública - Agita
Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário FMU. Editora Executiva da Revista
Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso - Física e Funcional”, “Envelhecimento
e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”.

Valéria Paschoal
Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista Brasileira
de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição Clínica Funcional e
Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do
Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à
Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica
Funcional: câncer” "Tratado de Nutrição Esportiva Funcional" e "Nutrição & Sustentabilidade: alimentando um
mundo saudável". Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).
Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported
Agriculture - Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação
Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados).
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

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Coordenação e Autores
Lista de Autores

Bianca Languer Vargas


Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Pelotas-RS. Mestre em Ciência de Alimentos pela Universidade
Federal do Amazonas-AM. Atuou como nutricionista da Secretaria Municipal de Saúde de Camaquã-RS, sendo
coordenadora do Programa Bolsa Família e do Programa Nacional do Ferro, do Governo Federal. Atualmente
é docente do Curso de Nutrição da Universidade Paulista (UNIP), ministrando disciplinas das áreas de Nutrição
Humana e Saúde Pública. Tem experiência em Saúde Pública e Nutrição Oncológica e experiência em pesquisas
em ambas as áreas.

Daniela de Araújo Medeiros Dias


Nutricionista. Mestre em Nutrição e Saúde pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Nutrição Clínica
e Funcional-UNICSUL e especialista em Nutrição Clínica pela Universidade Federal de Goiás. Pós-graduada em
Nutrição Esportiva Funcional pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional e pós-graduada em
Terapia Nutricional e Avaliação do Paciente com Enfermidades Renal. Docente do Curso de Nutrição do Centro
Universitário UNICEUB.

Estela de Oliveira Azevedo


Nutricionista pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Atualmente em especialização como Terapeuta
Ayurvédica pela Escola Yoga Brahma Vidyalaya. Curso de Inglês Yázigi Avançado com domínio em leitura, escrita
e conversação. Intercâmbio em Santa Fé/USA, High School.

Flávia Amaro Gonçalves


Possui graduação em Nutrição, especialização em Saúde da Família, Gestão da Segurança de Alimentos e mestrado
em Ciência de Alimentos. Atualmente é aluna do Programa Multi-Institucional de Pós-Graduação em Biotecnologia
da Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Análise Nutricional
de População.

Francisca das Chagas do Amaral Souza


Tem mestrado em Ciência de Alimentos e Doutorado pelo Programa Multi-Institucional em Biotecnologia oferecidos
em convênio com a Universidade Federal do Amazonas. Atualmente é Tecnologista Sênior/ Pesquisadora do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, líder do Grupo Alimentos e Nutrição na Amazônia – INPA. Bolsista
de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora - DT. Professora dos Cursos Agricultura
no Trópico Úmido (INPA) e Engenharia de Produção (UFAM). Pesquisadora Associada do programa de Doutorado
em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede BIONORTE. Atua na área de Ciência dos Alimentos com ênfase em:
Compostos Bioativos, Metabolômica Nutricional, Química de Alimentos, Nutrição Experimental, Biotecnologia,
Tecnologia de Alimentos Funcionais voltados para os alimentos da Amazônia.

Jaime Paiva Lopes Aguiar


Especialista em Nutrição e Ciências dos Alimentos pelo Instituto de Nutricion de Centro America Y Panamá -INCAP.
Atualmente é Pesquisador Titular III do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA-MCTIC. Membro do
Comitê Assessor do CNPq na área de Alimentos, Revisor ad hoc de Revistas Nacional e Internacional. Atualmente
é Gestor do Laboratório de Físico-química de Alimentos (LFQA/CSAS/INPA) vinculado ao Sistema Brasileiro de
Tecnologia (SIBRATEC) e a Rede Nacional de Analista de Alimentos (RENALI). Publicou vários trabalhos inéditos
em periódicos nacionais e estrangeiros, Autor de varias Contribuições Científicas, Comunicações, Anais de
Eventos, Palestras, Conferências, Congressos, folders, Livros e mais de 20 capítulos de livros e livros, em periódicos
especializados Nacionais e Internacionais e Jornais de noticias, entrevista em TV, rádio e em Revistas de Divulgação
Científicas . Possui algumas patentes e produtos tecnológicos e outros itens de produção técnica. Participou de
vários eventos no Brasil. Orientou vários trabalhos de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso de
pós-graduação nas áreas de Nutrição, Agronomia e Ciência e Tecnologia de Alimentos. Revisor ad hoc de Revistas
Nacional e Internacionais e participa de vários projetos de pesquisas. Atua na área de Ciências e Tecnologia de
Alimentos, com ênfase em Valor Nutricional dos Alimentos. Publicou a primeira Tabela de Composição de Alimentos
da Amazônia, em particular as frutas, peixes e outros Alimentos da Amazônia. Em suas atividades profissionais
interagiu com colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais
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frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica é experiência na área de Ciência e Tecnologia de


Alimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: Minerais, Processamento de frutos da Amazônia, Cubiu,
Camu-Camu, açaí, pupunha, alimento regional, dietas, Biodisponibilidade de minerais, e composição química e
nutricional.

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Coordenação e Autores

Luis Gustavo Patricio Nunes Pinto


Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (Unesp) de Bauru,
integrante da Articulação Regional de Agroecologia (ARA); principais temas de pesquisa: Agroecologia, produção
orgânica e biodinâmica, Agricultura familiar, sustentabilidade rural e ambiental.
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0003-2598-1944

Neiva dos Santos Souza


Nutricionista. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, Fitoterapia Funcional e Nutrição Esportiva Funcional
pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista do departamento científico da VP
Centro de Nutrição Funcional. Autora do livro Autora do livro “Nutrição Funcional, Sustentabilidade & Agroecologia:
alimentando um mundo saudável”. Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional
e em Fitoterapia Funcional da Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Membro da coordenação
científica da Revista Brasileira de Nutrição Clínica Funcional. Membro do Laboratório de Neurobiologia da Pineal
- UNIFESP.

Renata Alves Carnauba


Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Doutoranda em Ciências dos Alimentos pela
Universidade de São Paulo. Especialista em Revisão Sistemática e Meta-Análise pela Universidade de São Paulo. Pós-
graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-graduanda em Genômica Nutricional pela Unicsul em parceria com
a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista do Departamento Científico da VP Centro de Nutrição Funcional.

Wagner Alessandro dos Reis


Nutricionista graduado pelo Centro Universitário Newton Paiva. Especialista em Formação Pedagógica para
Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado
em Nutrição Esportiva Funcional e em Fitoterapia Funcional pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição
Funcional. Docente convidado nos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional, Nutrição Clínica
Funcional e Fitoterapia Funcional pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional.
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

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Índice

Ação dos compostos bioativos dos alimentos no envelhecimento e longevidade


8

Efeito do ômega-3 no perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com transtorno do espectro


14 autista: uma revisão da literatura

Short communication: Dieta plant-based e efeitos no perfil inflamatório relacionado à obesidade


23

Efeito do néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a
glicemia de adultos normocolesterolêmicos
27

O ser humano e a sustentabilidade: Conhecimento, ação, realidade e perspectivas


36

Os 60+ da Agricultura Sustentável


41

Receita: Drink Refrescante de Melancia com Laranja e Hortelã


52
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7
Renata Alves Carnauba

Ação dos compostos bioativos


dos alimentos no envelhecimento
e longevidade
Action of food bioactive compounds on aging and longevity

Resumo
Estudos epidemiológicos têm evidenciado que a ingestão de compostos bioativos dos alimentos (CBA), além de associar-se com menor
risco de doenças crônicas, está relacionada com menores taxas de mortalidade. Os principais efeitos dos CBA relacionam-se com a
atenuação dos efeitos cumulativos do inflammaging e, por consequência, da progressão de doenças relacionadas à idade. Neste sentido, a
ingestão de carotenoides (licopeno, luteína e zeaxantina) e polifenóis (ácidos fenólicos, flavonoides, estilbenos e lignanas) está associada
com o reduzido risco de declínio cognitivo leve em idosos. Ainda, estudos apontam que os níveis de β-caroteno, epigalocatequina galato
e resveratrol correlacionam-se positivamente com a atividade da telomerase, enzima que atua na manutenção do comprimento dos
telômeros. Faz-se necessário que mais estudos sejam desenvolvidos para aprofundar os conhecimentos sobre o papel desses compostos
em desfechos clínicos desfavoráveis relacionados à idade.

Palavras-chave: Inflammaging, fitoquímicos, compostos bioatiovos dos alimentos, carotenoides, polifenóis, glicosinolatos.

Abstract
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019. doi: 10.32809/2176-4522.45.80.01

Epidemiological studies have shown the relationship between food bioactive compounds (FBC) intake and lower mortality rates. The
main effects of FBC correlate with the attenuation of cumulative effects of inflammaging and, as a consequence, with progression of
age-related diseases. In this sense, the intake of carotenoids (lycopene, lutein and zeaxanthin) and polyphenols (phenolic acids, flavo-
noids, stilbenes and lignans) is associated with reduced risk of mild cognitive decline in the elderly. Furthermore, studies indicate that
the levels of β-carotene, epigallocatechin gallate and resveratrol are positively correlated with the activity of telomerase, an enzyme
that acts to maintain telomere length. Further studies are needed to understand the role of these compounds in unfavorable age-related
clinical outcomes.

Keywords: Inflammaging, phytochemicals, food bioactive compounds, carotenoids, polyphenols, glucosinolates.

8
Ação dos compostos bioativos dos alimentos no envelhecimento e longevidade

Introdução promoção do envelhecimento saudável, bem como

A
os resultados de estudos evidenciando o efeito
A relação entre alimentação e saúde já é do consumo desses compostos no mencionado
bem estabelecida na literatura científica. As desfecho em diversos grupos e populações.
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),
como diabetes mellitus, câncer, doenças Estresse oxidativo e inflamação
cardiovasculares e doenças neurodegenerativas,
têm sua alta incidência e prevalência justificadas Os CBA variam extensamente em estrutura
pelo crescimento de quatro principais fatores de química e, consequentemente, em função
risco, que são tabagismo, uso prejudicial de álcool, biológica. No entanto, os carotenoides, polifenóis
inatividade física e consumo de uma alimentação e glicosinolatos desempenham algumas ações
não saudável1. No que se refere à alimentação, comuns, sobretudo as atividades anti-inflamatória
as DCNT possuem forte ligação com a chamada e antioxidante. O envelhecimento e as alterações
transição nutricional, fenômeno caracterizado pelo funcionais relacionadas à idade estão associados ao
consumo excessivo de alimentos processados e acúmulo de danos oxidativos em macromoléculas
ultraprocessados e insuficiente de alimentos de (proteínas, lipídios e DNA) por excesso de espécies
origem vegetal2,3. reativas de oxigênio (ERO) e de nitrogênio (ERN).
Os benefícios à saúde do consumo de frutas, O aumento do estresse oxidativo estimula a
hortaliças, cereais, legumes e grãos têm sido produção de substâncias pró-inflamatórias, como
atribuídos ao fato desses alimentos apresentarem, as interleucinas 1α (IL-1α), 6 (IL-6), 8 (IL-8), 13
além dos nutrientes essenciais, os chamados (IL-13) e 18 (IL-18), proteína C-reativa (PCR)
compostos bioativos dos alimentos (CBA). Por e fator de necrose tumoral α (TNFα), que, por
definição, os CBA são compostos extranutricionais sua vez, modificam o estado redox celular e
presentes naturalmente em pequenas quantidades gera o aumento de radicais livres. Assim como
nos alimentos e, quando ingeridos em quantidades o estresse oxidativo, o aumento da inflamação
significativas, exercem efeitos benéficos à saúde vem sendo reportado como um processo inerente
humana. Por existirem na natureza em grande ao envelhecimento, recebendo o nome de
número, com ampla variação em estrutura química, inflammaging12,13.
os CBA são divididos em diversas classes, sendo Da mesma forma que o aumento do estresse
os polifenóis, carotenoides e glicosinolatos os três oxidativo e da inflamação são processos naturais
principais grandes grupos de CBA presentes na do envelhecimento, é reportado que ambos se
dieta humana habitual4. associam com o envelhecimento acelerado e
Estudos epidemiológicos têm evidenciado progressão de doenças relacionadas à idade (Figura
que a ingestão de polifenóis, carotenoides e 1). Isso ocorre devido ao comprometimento da
glicosinolatos, além de associar-se com menor proliferação celular em resposta aos danos que
risco de DCNT5-7, está relacionada com menores ocorrem durante a replicação celular. Por esse
taxas de mortalidade8,9. Nesse sentido, esses três motivo, os CBA estão associados com o menor
compostos tem ganhado atenção de pesquisadores risco de doenças e de mortalidade, uma vez que
interessados na investigação do seu papel no podem atenuar os efeitos cumulativos do estresse
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envelhecimento e longevidade10,11. A seguir, serão oxidativo e da inflamação7-9,14.


abordados os principais mecanismos pelos quais os
compostos bioativos dos alimentos podem agir na

9
Renata Alves Carnauba

Figura 1. Inflammaging e relação com doenças relacionadas à idade

No estudo de González et al., a ingestão dietética de declínio cognitivo leve em idosos, principal
de polifenóis e de flavonoides totais correlacionou- fator de risco para o desenvolvimento de doenças
se inversamente com os níveis de malondialdeído neurodegenerativas. Os autores apontam que
(MDA), marcador de dano oxidativo em lipídios, em estes efeitos observados podem ser justificados
159 idosos institucionalizados. Interessantemente, por ações desempenhadas na redução do dano e
os pesquisadores encontraram que, a cada 20mg morte neuronal por reações oxidativas, na inibição
de aumento na ingestão de flavonoides e flavanois, da geração de ERO, da peroxidação lipídica e da
houve uma redução de 0,15 e 0,19 µmol/L nos oxidação de proteínas19-21.
níveis circulantes de MDA, respectivamente15. Com relação aos glicosinolatos, os potenciais
Corroborando com estes resultados, estudo benefícios do consumo desses compostos e, mais
avaliando os efeitos da ingestão do carotenoide especificamente, dos seus produtos de hidrólise com
astaxantina (4mg/d) por 4 semanas por adultos de ação biológica, como os tiocianatos, isotiocianatos
meia-idade mostrou que a intervenção promoveu e nitrilas, ainda foram pouco estudados. Os
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019. doi: 10.32809/2176-4522.45.80.01

a redução dos níveis circulantes de MDA e a estudos disponíveis são desenvolvidos em culturas
descamação de corneócitos da superfície cutânea de animais ou células e evidenciam a atividade
da face, quadro este característico de indivíduos antioxidante e anti-inflamatória exercida pelos
mais jovens16. produtos derivados dos glicosinolatos23. Em
O cérebro, devido ao elevado consumo de humanos, são encontrados estudos de coorte
oxigênio, é particularmente vulnerável ao estresse mostrando efeitos benéficos sobre a redução do
oxidativo, processo este apontado como a causa risco de diabetes mellitus24, de alguns tipos de
de doenças neurodegenerativas como doença de cânceres, como de próstata, mama e cólon25-27, e
Alzheimer e Parkinson17. Neste sentido, estudos tem de doenças neurodegenerativas28.
apontado que a ingestão dietética de carotenoides Outro desfecho clínico relevante associado com
(licopeno18, luteína e zeaxantina18,19) e polifenóis a senescência são as doenças crônicas relacionadas
(ácidos fenólicos20, flavonoides20,21, estilbenos22 e à visão. Alguns carotenoides, mais especificamente
lignanas20,21) está associada com o reduzido risco a luteína e zeaxantina, constituem o pigmento de

10
Ação dos compostos bioativos dos alimentos no envelhecimento e longevidade

cor amarela da mácula, região central da retina de β-Caroteno se correlacionaram positivamente


relacionada com a visão. Como componentes com a atividade da telomerase, independente de
da mácula, a luteína e a zeaxantina atuam na fatores como gênero, idade e tabagismo. Para as
neutralização de radicais livres e na filtragem da análises de comprimento telomérico, não foram
luz azul, reduzindo danos fotoxidativos29. Por encontradas associações positivas com os níveis
esse motivo, estudos epidemiológicos apontam a de β-Caroteno. Na comparação entre os indivíduos
correlação inversa entre o consumo dietético de doentes e controles saudáveis, os idosos com
luteína e a zeaxantina e o risco de degeneração doença de Alzheimer apresentaram menores
macular relacionada à idade, doença que afeta concentrações plasmáticas do carotenoide e menor
a mácula e é a principal causa de cegueira em comprimento telomérico, em comparação aos
idosos30,31. controles33.
Para os polifenóis, existem diversos estudos
Telômeros experimentais realizados em culturas de células
evidenciando a ação de certos compostos na
Os telômeros são sequências repetidas de modulação da telomerase. Pesquisadores da
nucleotídeos presentes nas extremidades dos Universidade de Catanzaro (Itália) evidenciaram
cromossomos, essenciais para a manutenção que o extrato concentrado dos polifenóis da
da integridade estrutural e estabilidade do tangerina promoveu o aumento da atividade da
cromossomo. No entanto, como um processo telomerase em culturas de queranócitos34. Outro
fisiológico natural, a cada ciclo de divisão celular, estudo, este avaliando o efeito da epigalocatequina
a longitude dos telômeros é reduzida e os mesmos galato, mostrou que o flavonoide preveniu o
vão ficando mais curtos. Ao alcançar um tamanho encurtamento dos telômeros de células cardíacas35.
crítico, a célula perde a sua capacidade de divisão, Ações semelhantes são encontradas para o
entrando no estado de senescência celular. resveratrol, um polifenol da classe estilbeno que
Embora este seja um processo natural, pode ser foi associado com inibição da senescência de
influenciado por fatores genéticos e ambientais e, culturas de células progenitoras endoteliais por
dentre os fatores ambientais, a alimentação ganha aumento da atividade da telomerase36.
destaque, com alguns carotenoides e polifenóis
atuando no retardo do encurtamento dos telômeros Conclusão
e, por consequência, do envelhecimento32.
Um possível mecanismo de ação dos CBA De acordo com os estudos disponíveis, os
sobre o encurtamento dos telômeros é por meio CBA agem favoravelmente na redução do risco
da modulação da telomerase, enzima altamente de doenças relacionadas à idade por meio das
especializada que sintetiza DNA telomérico aos reconhecidas atividades antioxidante e anti-
terminais cromossômicos e, portanto, atua na inflamatória, diminuindo, por consequência, o
manutenção do comprimento dos telômeros. No risco de mortalidade. Outro efeito evidenciado
estudo de Boccardi et al., foi avaliada a associação por estudos é sobre os telômeros, especificamente
entre os níveis plasmáticos de β-Caroteno, o no estímulo da ação da enzima telomerase. Faz-se
comprimento telomérico de linfócitos e a atividade necessário que mais estudos sejam desenvolvidos
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periférica da telomerase em 68 idosos, sendo para aprofundar os conhecimentos sobre o


37 portadores de doença de Alzheimer e 31 papel desses compostos em desfechos clínicos
saudáveis. Os resultados apontaram que os níveis desfavoráveis relacionados à idade.

11
Renata Alves Carnauba

Referências bibliográficas

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Organization, 2017.
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Public Health Nutr; 21(12): 2267-2270, 2018.
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Biodisponibilidade de nutrientes. 5ª ed. São Paulo (Barueri): Editora Manole, 2016. P.949-987.
5. TRESSERRA-RIMBAU, A.; GUASCH-FERRÉ, M.; SALAS-SALVADÓ, J. et al. Intake of total polyphenols and some classes
of polyphenols is inversely associated with diabetes in elderly people at high cardiovascular disease risk. J Nutr; pii:
jn223610, 2016.
6. STEINBRECHER, A.; NIMPTSCH, K.; HÜSING, A. et al. Dietary glucosinolate intake and risk of prostate cancer in the
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Ação dos compostos bioativos dos alimentos no envelhecimento e longevidade

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13
Estela de Oliveira Azevedo e Daniela de Araújo Medeiros Dias

Efeito do ômega-3 no perfil cognitivo


de crianças diagnosticadas com
transtorno do espectro autista:
uma revisão da literatura
Effect of omega-3 in the cognitive profile on children diagnosed with
autism spectrum disorders: a literature review

Resumo
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou autismo é o termo utilizado para caracterizar uma condição neurodesenvolvimental, que pode
causar desordens comportamentais e que normalmente se apresenta nos primeiros anos de vida do indivíduo. A literatura atual demonstra
que a ingestão adequada do ácido graxo poli-insaturado (AGPI) ômega-3 indica uma possível redução nos sintomas característicos
do TEA, sendo uma possibilidade de abordagem nutricional para esse público. Esta revisão tem como objetivo relacionar o efeito do
ômega-3 na melhora do perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com autismo na redução dos sintomas característicos e no possível
avanço da qualidade de vida desse grupo.

Palavras-chave: Ômega-3, DHA, EPA, autismo, transtorno do espectro autista, crianças autistas, suplementação.

Abstract
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019 doi: 10.32809/2176-4522.45.80.02

Autism Spectrum Disorder (ASD) or autism is the term used to characterize a neurodevelopmental condition, which can cause behav-
ioral disorders and is usually present in the first years of the individual. Current literature demonstrates that adequate ingestion of
omega-3 polyunsaturated fatty acids (PUFAs) indicates a possible reduction in the characteristic symptoms of ASD, being a possibility
of nutritional approach for that group. This review aims to relate the effect of omega-3 on improving the cognitive profile of children
diagnosed with autism, reducing the characteristic symptoms and improving the possibility of the quality of life of such group.

Keywords: Omega-3, DHA, EPA, autism, Autism Spectrum Disorder, autistic children, supplementation.

14
Efeito do ômega-3 no perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista: uma revisão da literatura

Introdução autismo podem ser resultados de estresse

T
oxidativo, metilação inadequada, disfunção
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou das mitocôndrias e distúrbios na sulfatação. De
autismo é o termo utilizado para caracterizar acordo com Marcelino7, pode haver a relação
uma condição neurodesenvolvimental que com disbiose intestinal, disfunção imunológica,
atinge o funcionamento do cérebro, causando fatores ambientais e alteração da permeabilidade
desordens comportamentais, e que normalmente da mucosa intestinal.
se apresenta nos primeiros anos de vida do A intervenção nutricional é um dos
indivíduo¹. tratamentos que auxiliam na melhora dos
O termo “autismo” foi inicialmente introduzido sintomas comportamentais no TEA, e pesquisas
na literatura médica por Eugen Bleuler (1857- científicas indicam que a ingestão adequada do
1939), em 1911, mas foi descrito apenas em ômega-3 (ω-3) está relacionada com a melhora
1943 pelo psiquiatra alemão Leo Kanner (1894- da qualidade de vida dessas pessoas. O ômega-3
1981). As crianças autistas analisadas no estudo é um conjunto de ácidos graxos poli-insaturados
de Kanner tinham como característica principal a conhecidos como ácidos graxos essenciais,
incapacidade de se relacionarem com as demais ou seja, não são produzidos pelo organismo
pessoas². e são adquiridos através da dieta. Essa classe
De acordo com o Autism Research Institute - de lipídios é importante no desenvolvimento
Instituto de Pesquisas sobre o Autismo³, durante e funcionamento ideal do sistema nervoso
muitos anos o autismo foi raro, ocorrendo em central (embriogênese e infância)8, atuando na
uma a cada 10.000 crianças. Hoje, a Organização regulação enzimática, sinalização celular, síntese
Mundial da Saúde (OMS) calcula que o autismo de eicosanoides e determinação da plasticidade
afeta uma em cada 160 crianças no mundo4, sináptica9.
e tem aumentado nas últimas décadas, o que O ômega-3 é principalmente composto pelo
pode motivado pelo aumento de critérios dos ácido docosahexaenoico (DHA) e pelo ácido
diagnósticos, dos serviços de saúde relacionados eicosapentaenoico (EPA). O DHA, quando
ao transtorno, aos fatores ambientais, entre incorporado às membranas celulares dos neurônios,
outros. auxilia na ligação dos neurotransmissores aos
Essa condição deriva de mudanças que seus devidos receptores, diminui a inflamação
ocorrem em certas áreas do cérebro, como a e inibe citocinas pró-inflamatórias. O EPA está
inflamação, o peso cerebral, a migração celular relacionado com a proteção contra o estresse
anormal e o aumento da densidade de neurônios oxidativo, ao aumentar o suprimento de oxigênio
do sistema límbico. Essas mudanças impactam e glicose para o cérebro10.
na realização de atividades, como as experiências A ingestão adequada do ômega-3 traz diversos
sensoriais e perceptivas, no comportamento benefícios, como a melhora dos distúrbios
social, na emoção e na memória5. O diagnóstico neurodegenerativos, alterações imunológicas,
do autismo é caracterizado pelas alterações diminuição de doenças crônicas¹¹, maturação da
na comunicação, nas interações sociais, nos rede cerebral, transdução de sinal¹², prevenção
comportamentos repetitivos, na dificuldade de e tratamento de doenças inflamatórias do trato
aprendizagem e na presença de interesses fixos, gastrointestinal, doenças cardiovasculares e
intensos e restritos¹. infecções¹³.
Ainda não se sabe a origem do autismo, A ingestão do ômega-3 na relação com
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mas pesquisas têm encontrado relações o TEA pode trazer resultados positivos no
neurobiológicas e genéticas6. Segundo o comportamento e na saúde geral desses indivíduos.
Autism Research Institute³, muitos casos de O ω-3 é fundamental para a maturação da rede

15
Estela de Oliveira Azevedo e Daniela de Araújo Medeiros Dias

cerebral; mantém a transmissão dos impulsos Biblioteca Virtual em Saúde, desenvolvidos a


nervosos nas membranas celulares, melhorando partir do Medical Subject Headings (MeSH) da
as respostas neurológicas; atua como mediador U.S. National Library of Medicine, que permite
inflamatório; melhora a estabilização do humor; o uso da terminologia comum em português e
reduz a inflamação; auxilia na sobrevivência inglês.
neuronal, na arborização dendrítica e no Foram analisados arquivos como artigos
neurodesenvolvimento¹². experimentais, livros e publicações oficiais de
Indivíduos com TEA que não fazem o uso organizações internacionais de saúde. Todos os
adequado de ômega-3 podem ter sintomas de trabalhos analisados constaram no período de
alterações de comportamentos mais elevados. 2008 a 2018. Foram selecionados trabalhos nas
Além disso, a suplementação de DHA e EPA, em línguas portuguesa, inglesa e espanhola. Para
períodos críticos de gestação e lactação, é essencial a pesquisa foram utilizados descritores como:
para a sinaptogênese e mielinização, além da ômega-3, DHA, EPA, autismo, transtorno do
maturação cortical, podendo também auxiliar espectro autista, crianças autistas, suplementação.
a reduzir o risco de déficits psicopatológicos e A pesquisa foi realizada nas bases de dados
cognitivos na idade adulta14. PubMed, SciELO, Elsevier e MedLine.
O aumento significativo da quantidade de
pessoas diagnosticadas com TEA enfatiza a Análise de dados
importância de estudos científicos acerca de
sua relação com a nutrição, visando melhorar A análise de dados foi iniciada com a leitura
os sintomas que os portadores desse transtorno dos títulos. Em seguida foi realizada a leitura dos
apresentam. resumos e, ao final, a leitura dos artigos na íntegra.
Diante do exposto, este estudo teve como Após a leitura dos títulos e resumos dos artigos
objetivo realizar uma revisão bibliográfica foram excluídos aqueles que não contemplavam
sobre o efeito do ômega-3 na melhora do perfil o tema.
cognitivo de crianças diagnosticadas com TEA, Inicialmente, foram identificados 125 artigos
na redução dos sintomas característicos e na por meio de palavras-chave, dos quais 20 foram
possível melhora da qualidade de vida desse excluídos por não estarem de acordo com o critério
grupo. de inclusão: ano de publicação entre 2008 e 2018.
Após análise do título e resumo, 28 estudos foram
Metodologia excluídos por não estarem adequados ao tema ou
por não incluírem o objeto na pesquisa. Foram
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019 doi: 10.32809/2176-4522.45.80.02

Desenho do estudo excluídos 67 trabalhos por serem artigos de revisão


de literatura e outros documentos. Ao final, foram
O presente estudo foi realizado por meio utilizados 10 artigos para esta revisão, conforme
de uma revisão de literatura que analisou a descrito na Tabela 1.
importância do uso do ômega-3 em crianças
com TEA, mediante consulta às bases de dados Resultado e Discussão
SciELO, Elsevier, PubMed e MedLine. Na
Mediante os critérios de inclusão e exclusão
busca nos bancos de dados foram utilizadas
de artigos, foram selecionados 10 artigos para a
as terminologias cadastradas nos Descritores
presente revisão (Figura 1).
em Ciências da Saúde (DeCS) criados pela

16
Efeito do ômega-3 no perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista: uma revisão da literatura

Figura 1. Descrição da seleção dos artigos.


Pesquisa Geral
N = 125

Anos de Publicação: 2009 a 2018

N = 125
artigos
Somente crianças autistas

N = 77
artigos
Artigos experimentais

Resultado Final
N = 10

Foram elegíveis dez artigos de acordo com os do ômega-6, não respondeu ao tratamento com
critérios estabelecidos nesta revisão, conforme melhoras significativas durante o período do
observados na Tabela 1. Destaca-se que foi estudo (p<0,25). No entanto, após 6 meses, 47%
verificada uma heterogeneidade em relação ao do grupo suplementado mostrou redução nos
tamanho da amostra e dose/resposta de ômega-3 sintomas de déficit de atenção e na hiperatividade
em crianças com TEA. A literatura atual demonstra (p<0.08).
a suplementação de AGPI ômega-3 como uma Em um grupo de 57 crianças com TEA de 3
possibilidade de abordagem nutricional no TEA, a 8 anos de idade, Bent et al.17 realizaram um
de maneira a melhorar os sintomas. Assim, estudos estudo clínico piloto randomizado controlado
foram realizados para determinar a eficácia e e baseado na internet. O objetivo do estudo foi
os benefícios da suplementação de ômega-3, analisar o efeito da suplementação do ômega-3
contudo, os resultados são ainda inconclusivos. na diminuição da hiperatividade nesse grupo. As
Devido ao aumento do número de crianças crianças foram suplementadas com 650 mg de
diagnosticadas com TEA ao longo das décadas, a ômega-3 (1,3 g/dia), sendo 350 mg de EPA e 230
necessidade de tratamentos para esse grupo é cada mg de DHA, duas vezes ao dia. Após 3 meses
vez maior15. Na busca de encontrar alternativas de estudo, as crianças tiveram, de acordo com a
para o tratamento desse transtorno, estudos Subescala de Hiperatividade, uma maior redução
analisaram o efeito da suplementação do ômega-3 na hiperatividade (-5,3 pontos) em comparação
na melhora dos sintomas característicos desse com o grupo placebo (-2,6 pontos), mas a diferença
grupo, por ser um ácido graxo que tem como um não foi estatisticamente significativa (melhora de
dos principais efeitos atuar no desenvolvimento 1,9 pontos no grupo ômega-3). O estudo concluiu
do sistema neurológico¹¹. que é necessário um tamanho maior de amostra
Johnson et al. 16 avaliaram os efeitos do para melhor determinar a eficácia dos ácidos
ômega-3 e do ômega-6 no déficit de atenção e graxos ômega-3.
na hiperatividade em 75 crianças e adolescentes Yui et al.¹², em um estudo clínico randomizado,
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(8 a 18 anos) diagnosticadas com TEA. O estudo duplo-cego, de 16 semanas, controlado por


randomizado e controlado por placebo, seguido placebo, incluíram 13 indivíduos na faixa etária
de 3 meses com suplementação do ômega-3 e de 6 a 28 anos. O grupo suplementado recebeu

17
Estela de Oliveira Azevedo e Daniela de Araújo Medeiros Dias

240 mg de ARA+DHA. Para a análise dos araquidônico (AA) e 144 mg de ácido gama-
resultados da suplementação, foram examinados linolênico, 60 mg de vitamina E e 3 mg de óleo
os níveis plasmáticos de antioxidantes transferrina de tomilho). No pós-tratamento, os participantes
e superóxido dismutase, que são marcadores de mostraram melhorias significativas em todas as
transdução de sinal. A análise de variância com subescalas da Escala de Responsividade Social
medidas repetidas revelou que a dieta com essa (p<0,01) e as escalas de Síndrome de Problemas
suplementação melhorou significativamente a taxa de Atenção e Sociais do Child Behavior Checklist
de comunicação social (p<0.003) medida pelo (p<0,05). Os níveis basais dos ácidos graxos no
grupo estudado e o retraimento social (p<0.04). sangue também foram preditivos de resposta
Em relação aos níveis plasmáticos de transferrina, ao tratamento com ômega-3. Dessa forma, a
houve aumento significativo (p<0.03), e em suplementação com ácidos graxos ômega-3 foi
relação aos níveis de superóxido dismutase no bem tolerada e não causou efeitos colaterais
plasma, houve mudança entre os dois grupos graves, fornecendo auxílio no tratamento do TEA.
(p<0.08), indicando aumento na transdução de O estudo caso-controle de Ghezzo et al.20
sinal. Esse estudo demonstra uma melhoria na foi realizado com 2 grupos: grupo 1, com 21
interação social de crianças com TEA por meio crianças autistas; grupo 2, com 20 crianças em
da regulação da transdução de sinal, quando desenvolvimento. O estudo sugere que o estresse
suplementadas com ômega-3. oxidativo pode influenciar nos sintomas do TEA.
Mankad et al.18, em um estudo randomizado, Foi avaliado o painel biomarcador, analisando um
controlado por placebo, com 38 crianças pré- possível desequilíbrio do seu estado redox. Foram
escolares (2 a 5 anos de idade) diagnosticadas aferidas medidas para comparações de estresse
com TEA, avaliaram a redução dos sintomas oxidativo, composição lipídica e características
característicos do transtorno, quando suplementadas funcionais da membrana eritrocitária. Alguns
com ômega-3. Nas primeiras 12 semanas, as dos biomarcadores moleculares de estresse
crianças consumiram 1,5 g de EPA+DHA, e a dose oxidativo, como as substâncias reativas ao ácido
foi dobrada na semana 24. Não houve diferença tiobarbitúrico eritrocitário, isoprostano e hexanoil-
significativa entre os grupos no período de 0 a lisina, foram elevadas no grupo estudado.
24 semanas nos escores compostos de autismo Atividade ATPásica (p<0,0001), redução da
do Inventário Comportamental dos Transtornos fluidez da membrana eritrocitária (p<0,0123) e
Invasivos do Desenvolvimento (“PDDBI”, p=0,5). aumento dos níveis de lipoperóxidos (p<0,0021)
Utilizando a pontuação de problemas do Sistema foram vistos no estudo. Aumento de ácidos graxos
de Avaliação Comportamental para Crianças monoinsaturados (p<0,0076), diminuição do EPA
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019 doi: 10.32809/2176-4522.45.80.02

(“BASC-2”), houve um grupo significativo por (p<0,04) e do DHA (p<0,0065) foram encontrados
interação de semanas na pontuação do problema no grupo 1 em comparação ao grupo 2. Esse estudo
de externalização (p=0,02). Não houve semana demonstra que algumas características clínicas do
estatisticamente significativa de melhora na autismo parecem estar relacionadas com alguns
linguagem (p=0,6). Este estudo não fornece a parâmetros de perfil de lipídios e na fluidez da
hipótese de que a suplementação com 1,5 g de membrana.
DHA+EPA reduz os sintomas de crianças autistas. Parellada et al.²¹, em um estudo de 8 semanas,
Em um ensaio clínico piloto aberto de Ooi et com 68 crianças e adolescentes suplementados
al. de 12 semanas, 41 crianças e adolescentes
19
com ômega-3 (962 mg/dia e 1155 mg/dia para
(idades entre 7 e 18 anos) receberam, duas vezes crianças e adolescentes, respectivamente),
por semana, 15 ml de líquido contendo 1 g/dia de investigaram se essa suplementação melhora na
ômega-3 (840 mg DHA, 192 mg EPA, 1278 mg membrana eritrocitária de ômega-6/ômega-3,
óleo de prímula puro, dos quais 66 mg de ácido no status antioxidante plasmático, associados ao

18
Efeito do ômega-3 no perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista: uma revisão da literatura

desenvolvimento do cérebro, e no comportamento mg de ω3 (425 mg de EPA, 110 mg de DHA, 74


de autistas. O tratamento com ômega-3 melhorou mg de outros ácidos graxos ômega-3), 198 mg
a relação da membrana ômega-6/ômega-3 de w-6 (incluindo 128 mg de GLA) e 15 mg de
dos eritrócitos (p<0,008), sem alterar o status ácidos graxos ômega-9. A dosagem variou entre
antioxidante plasmático. Houve uma melhoria 1 cápsula/dia e 4 cápsulas/dia, de acordo com o
significativa nos escores das subescalas de peso corporal da criança. Houve uma melhora
Motivação Social e Comunicação Social com um significativa na capacidade intelectual não-verbal
tamanho de efeito moderado a grande (p=0,004). no grupo de tratamento em comparação com o
Dessa forma, a suplementação ômega-3 pode ser grupo sem tratamento (p=0,009). O grupo de
estudada como um complemento para terapias tratamento teve aumentos significativamente
comportamentais em autistas. maiores em EPA, DHA, carnitina e vitaminas A,
Sheppard et al.²², em um estudo piloto de B2, B5, B6, B12, ácido fólico e coenzima Q10.
um ensaio clínico randomizado, selecionaram Os resultados positivos desse estudo sugerem que
31 crianças, entre 18 a 38 meses de idade e que uma intervenção nutricional é eficaz na melhoria
nasceram com menos de 30 semanas gestacionais do estado nutricional, do QI não verbal e de outros
com risco de TEA. Durante 3 meses as crianças sintomas na maioria dos indivíduos com TEA.
receberam 338 mg de EPA, 225 mg de DHA, 280 No estudo de Boone et al.24, foi realizado um
mg de ômega-6 total (incluindo 83 mg de GLA) ensaio clínico randomizado, duplo-cego, placebo-
e 306 mg de ômega-9 totais, como dose diária controlado de 90 dias, com 31 crianças com idades
única. Foram medidas as habilidades de linguagem entre 18 e 38 meses que nasceram com ≤ 29
no início e após a suplementação. A combinação semanas de gestação e que apresentavam sintomas
de gestos e de palavras aumentou para crianças de autismo. As crianças foram suplementadas com
no grupo de tratamento (p<0,05) em relação ω3 com o objetivo de melhorar os perfis sensoriais.
ao grupo placebo. Esses resultados sugerem a Apesar de não ser estatisticamente significativo
possível eficácia da suplementação de ômega-3 e (p=0,13), a importância do efeito para redução
de ômega-6 para o desenvolvimento da linguagem de comportamentos associados à sensibilidade
em crianças com risco de TEA. sensorial foi de médio a grande (p=0,57). Os
Adams et al.²³, em um estudo randomizado resultados fornecem suporte para maiores ensaios
controlado, com 12 meses de duração, analisaram randomizados de suplementação de ácidos graxos
a melhora na capacidade intelectual não-verbal ômega para crianças em risco de dificuldades de
de 67 crianças e adultos, entre 3 e 58 anos de processamento sensorial, especialmente aqueles
idade, com a suplementação de ômega-3 e de nascidos prematuros.
outras vitaminas. Cada cápsula continha 609

Tabela 1. Interferência da suplementação de ω-3 em crianças com transtorno do espectro autista


(2009-2018)

Autor(es) Estudo População Objetivos Resultados

Johnson et al.16 Ensaio Crianças (n=75) Avaliar a suplementação A maioria não respondeu ao tra-
randomizado Grupo 1 (n=37) do ω3/ω6 no déficit de tamento. Porém, um subgrupo de
controlado por EPA = 558 mg atenção e hiperatividade 26% respondeu com mais de 25%
placebo DHA = 174 mg (TDAH) de redução dos sintomas de TDAH
ácido gama-linoleico = 60 (p<0,04).
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mg
VIT E = 10,8 mg
Grupo 2 (n=38)
cápsulas idênticas
contendo azeite

19
Estela de Oliveira Azevedo e Daniela de Araújo Medeiros Dias

Autor(es) Estudo População Objetivos Resultados

Yui et al.¹² Ensaio clínico crianças autistas (n=13) Avaliar a eficácia da O grupo 1 obteve redução
randomizado, Grupo 1 (n=7) DHA 40 mg; suplementação de ácido significativa da taxa de comunicação
duplo-cego ARA 40 mg; Astaxantina araquidônico (ARA) social (p<0,003) e do retraimento
controlado por 0,16 mg adicionado ao DHA com social (p<0,04). Em relação aos
placebo Total = 240 mg (6 cápsulas/ a melhora da interação níveis plasmáticos de transferrina,
dia) social e da diminuição houve aumento significativo
Grupo 2 (n=6) cápsulas dos comportamentos (p<0,03), e em relação aos níveis de
idênticas de azeite repetitivos entre crianças superóxido dismutase no plasma
e adultos autistas houve mudança entre os dois grupos
(p<0,08).
Ghezzo et al.20 Ensaio Crianças autistas Avaliar se o estresse Correlação significativa entre a
caso-controle (n=21) oxidativo influencia na pontuação global da Escala de
patogênese do TEA, Avaliação do Autismo Infantil e
utilizando um painel outras características clínicas, como
biomarcador integrado, a atraso cognitivo/desenvolvimento
fim de avaliar o possível (p=0,05) e hiperatividade (p=0,01).
desequilíbrio do seu
estado redox
Bent et al.17 Ensaio piloto Crianças autistas (n=57) Determinar a eficácia do Crianças suplementadas com
randomizado Grupo 1 (n=29) w3 = 1,3 ω3 para o tratamento da ômega-3 tiveram maior média
controlado g/d hiperatividade de melhora da hiperatividade em
Grupo 2 (n=28) comparação com o grupo placebo.
1,3 g de óleo de cártamo
Ooi et al.19 Ensaio piloto Crianças autistas (n=41) Avaliar a suplementação Houve melhoras significativas
aberto DHA 840 mg de ω3 associada com em todas as Subescalas de
EPA 192 mg melhoras significativas Responsividade Social (p<0,01) e as
nos sintomas e Escalas de Síndrome de Problemas
comorbidades do TEA, de Atenção e de Problemas Sociais
e a associação entre do Child Behavior Checklist (p<0,05).
alterações nos níveis
de ácidos graxos e
uma maior resposta ao
tratamento
Mankad et al.18 Ensaio Crianças (n=38) Avaliar a eficácia do Grupo com a suplementação
randomizado Grupo 1 (n=19) ω3 na redução dos com ω3 durante 3 meses não foi
controlado por DHA+EPA = 1,5 g (3,5 ml/ sintomas do autismo e estatisticamente superior ao placebo
placebo, dia de formulação líquida) avaliar esse efeito no (p = 0,5).
duplo-cego Grupo 2 (n=19) desenvolvimento da
3,5 ml de formulação linguagem no grupo
líquida de azeite refinado
e triglicerídeos de cadeia
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019 doi: 10.32809/2176-4522.45.80.02

média
Parellada et al. 21 Ensaio clínico Crianças autistas (n=68) Investigar se a O tratamento com ω3 melhorou a
randomizado, Grupo 1 (n=33): suplementação de ω3 relação ω3/ω6 nas membranas dos
cruzado, (5-11 anos) EPA = 577,7 pode melhorar a relação eritrócitos (p<0.008), e houve uma
controlado por mg; DHA = 385 mg; do ω3/ω6 nas membranas melhora significativa nas pontuações
placebo (12-17 anos) EPA = 693 mg; eritrocitárias, o status das subescalas de Motivação Social e
DHA = 462 mg; Grupo 2 antioxidante plasmático Comunicação Social (p=0,004).
(n=35): Parafina líquida e e o comportamento das
vitamina E crianças autistas
Sheppard et al. 22 Ensaio clínico Crianças autistas (n=27) Avaliar o desenvolvimento Crianças suplementadas de ω6/
randomizado Grupo 1 (n=14) de linguagem em crianças ω3 por 3 meses aumentaram
EPA = 338 mg autistas durante 3 meses significativamente o uso de
DHA = 225 mg gestos e de palavras a mais do
ω6 = 280 mg que as crianças que receberam
Grupo 2 (n=13) o suplemento de óleo placebo
acrescenta a dose ω3 (p<0,05).
testada

20
Efeito do ômega-3 no perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista: uma revisão da literatura

Autor(es) Estudo População Objetivos Resultados

Boone et al.24 Ensaio Crianças autistas (n=31) Descrever os perfis Apesar de não ser estatisticamente
randomizado, Grupo 1 (n=15) sensoriais e analisar os significativa (p=0,13), a importância
duplo-cego, EPA = 338 mg; DHA = 225 efeitos da suplementação dessa suplementação para a redução
controlado por mg; do DHA, EPA e ácido de comportamentos associados
placebo. ω6 = 280 mg; gama-linolênico (GLA) no à sensibilidade sensorial teve de
ω9 =306 mg. processamento sensorial médio a grande efeito (p = 0,57).
Grupo 2 (n=16) de crianças autistas
ácido palmítico = 124 mg; nascidas com ≤ 29
ácido esteárico = 39 mg; semanas de gestação
ácido linoleico = 513 mg;
ALA = 225 mg;
ácido oleico = 1346 mg
Adams et al.23 Ensaio Crianças autistas (n=67) Analisar a melhora na O grupo suplemento teve melhorias
randomizado Grupo 1 (n=37) capacidade intelectual significativamente maiores do que
controlado. ω3 = 609 mg (425 mg de não verbal com o grupo placebo nos sintomas
EPA, 110 mg de DHA); ω6 = intervenção nutricional relacionados ao autismo
198 mg;
com suplementação de (p = 0,008), na hiperatividade (p =
ω9 = 15 mg
Grupo 2 (n=30): grupo ω3 em crianças autistas 0,003) e linguagem receptiva
placebo (p = 0,03).

Conclusão e redução de problemas de atenção.


Algumas limitações foram encontradas nos
Diante do exposto, este estudo teve como trabalhos descritos, como a falta de padrão na
objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre quantidade de ômega-3 a ser suplementada e
a relação entre o efeito do ômega-3 na melhora do o período das análises de dados dos estudos.
perfil cognitivo de crianças diagnosticadas com Também houve limitações em relação às
TEA, na redução dos sintomas característicos e pesquisas científicas experimentais no ano de
na possível melhora da qualidade de vida desse 2018, sendo necessária a inclusão de pesquisas
grupo. dentro de 10 anos atrás, sendo necessários
As famílias dessas crianças relatam estudos mais atuais.
a complexidade de tratar dos sintomas Diversos fatores determinam o quadro de
característicos do transtorno. Os estudos descritos sintomas no TEA e se relacionam principalmente
neste trabalho concluem, em sua maioria, aos aspectos patológicos e ambientais. O
uma eficácia na suplementação do ácido graxo tratamento não se limita apenas à suplementação
ômega-3 em relação à melhora nos aspectos de um determinado nutriente, e sim ao conjunto
cognitivos da criança com TEA, bem como de um trabalho multidisciplinar na área da saúde,
melhora da comunicação social, aumento do uso visando melhorar gradativamente a qualidade de
de gestos e de palavras, redução da hiperatividade vida dessas pessoas.

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115: 64-70, 2017.

22
Neiva dos Santos Souza

Short communication: Dieta plant-based


e efeitos no perfil inflamatório relacionado
à obesidade
Short communication: Plant-based diet and effects on obesity-related
inflammatory profile

Resumo
A obesidade é considerada um problema de saúde pública global, que vem atingindo taxas alarmantes de incidência em vários continentes.
De etiologia complexa e multifatorial, a obesidade tem como característica um quadro inflamatório crônico de baixo grau, sendo um
importante fator de risco para a morbimortalidade. Tal panorama levanta a urgência de medidas estratégicas inovadoras e eficazes para
sua prevenção, controle e tratamento, principalmente em relação a estilo de vida e alimentação, que são um dos principais fatores de
risco para a doença. Assim, a adoção de padrões alimentares mais saudáveis e menos industrializados, baseados em uma alimentação
mais natural, podem ser promissoras. As dietas plant-based, por estimularem o consumo de alimentos de origem vegetal, ricos em
nutrientes e compostos bioativos com atividade antioxidante e anti-inflamatória, podem ser uma estratégia em potencial, uma vez que
podem se associar com a melhora de biomarcadores relacionados ao perfil inflamatório da obesidade, minimizando os riscos de doenças
crônicas associadas e de mortalidade.

Palavras-chave: Obesidade, plant-based, dieta, inflamação.

Abstract
Obesity is considered a global public health problem, with alarming incidence rates on several continents. With a complex and multi-
factorial etiology, obesity is characterized by a low-grade chronic inflammatory condition, being an important risk factor for morbidity
and mortality. This scenario raises the urgency of innovative and effective strategics measures for its prevention, control and treatment,
especially in relation to lifestyle and diet, which are one of the main risk factors for the disease. Thus, the adoption of healthier and
less industrialized eating patterns based on natural diet may be promising. Plant-based diets, by stimulating the consumption of plant
foods, rich in nutrients and bioactive compounds with antioxidant and anti-inflammatory activity, may be a potential strategy since
they may be associated with the improvement of obesity-related inflammatory biomarker profiles, minimizing the risks of associated
chronic diseases and mortality.
www.vponline.com.br

Keywords: Obesity, plant-based, diet, inflammation.

23
Neiva dos Santos Souza

A
A obesidade é uma doença multifatorial fundamental1.
de elevada prevalência e incidência em todos As doenças crônicas não transmissíveis
os continentes, refletindo em maior risco de (DCNT), como a obesidade, se associam fortemente
mortalidade na população. Pode estar acompanhada a padrões alimentares considerados não saudáveis
de várias comorbidades relacionadas à síndrome pela presença de alimentos processados ou
metabólica, como hipertensão, diabetes mellitus, ultraprocessados, bem como pelo baixo consumo
resistência à insulina, hipercolesterolemia e de alimentos de origem natural e/ou vegetal ou
hipertrigliceridemia, as quais também contribuem minimamente processados2.
para o declínio funcional do organismo e para a Hall et al.3, em um estudo conduzido com
mortalidade1. 20 adultos com peso estável, randomizados
Esse panorama, de aumento exponencial para consumir uma dieta ultraprocessada ou
da obesidade e doenças associadas, suscita não processada por 2 semanas consecutivas
preocupações nos âmbitos econômico e social seguidas imediatamente pela dieta alternativa,
por ser um grave problema de saúde pública, que identificaram aumento na ingestão calórica e
requer, portanto, a tomada de medidas estratégicas ganho de peso (0.9 ± 0.3 kg) com o consumo da
emergenciais, as quais ainda necessitam ser dieta ultraprocessada, ao passo que a ingestão de
inovadoras, indo além da prevenção primária e das uma dieta não processada foi relacionada com
intervenções tradicionais no estilo de vida. Nesse menor ingestão energética e perda de peso (0.9
sentido, dentre as bases fisiológicas e bioquímicas ± 0.3 kg) (Figura 1). Os autores discutiram que o
a serem exploradas para o direcionamento de consumo de uma dieta ultraprocessada pode estar
novas terapias, estão os diferentes marcadores relacionado com prejuízo na sinalização intestinal
inflamatórios associados à obesidade, uma vez para saciedade, influenciando o reforço alimentar
que essa é considerada uma doença inflamatória e ingestão alimentar, inclusive por mecanismos
crônica de baixo grau. Tais marcadores podem ser distintos da palatabilidade ou densidade calórica
considerados fatores de risco modificáveis pelos dos alimentos.
hábitos de vida, e a alimentação tem um papel

Figura 1. Mudanças na ingestão calórica e no peso corporal após o consumo de dieta ultraprocessada
ou não processada em indivíduos com peso estável no baseline.
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019. doi: 10.32809/2176-4522.45.80.03

Fonte: Hall et al.3


24
Short communication: Dieta plant-based e efeitos no perfil inflamatório relacionado à obesidade

Ainda, já foi evidenciado que dietas pró- como base 2 recordatórios alimentares de 24h –
inflamatórias (classificadas pelo índice inflamatório no baseline e aos 2 e 6 meses. Os participantes
da dieta – Dietary Inflammatory Index – DII), veganos, vegetarianos e pescovegetarianos,
ricas em gordura saturada, açúcar e sal, podem em relação aos semivegetarianos, obtiveram
estar relacionadas ao maior risco para obesidade, melhorias significativas no escore DII aos 2 meses
bem como à expressão gênica de fatores pró- (p<0,05), sem diferenças aos 6 meses. Os autores
inflamatórios, inclusive de maneira dependente discutiram que o maior impacto sobre o escore
da composição corporal e de condições sociais4. DII no curto prazo indica que as estratégias devem
Os estudos anteriores chamam a atenção dar suporte à adoção e manutenção abordagens
para uma dieta menos industrializada e mais dietéticas plant-based também em longo prazo, o
natural, com benefícios que vão além de uma que possivelmente contribuiria para a redução dos
possível mudança na palatabilidade e menor riscos e para o tratamento de doenças associadas
ingestão energética, uma vez que os alimentos à inflamação, como a obesidade.
não processados se destacam pelo maior aporte Além de mudanças no perfil inflamatório da
de nutrientes e compostos bioativos com dieta, outras investigações avaliaram os efeitos
atividade anti-inflamatória e antioxidante, quando dessas dietas em alguns parâmetros bioquímicos
comparadas com ultraprocessadas. associados à inflamação.
Nesse cenário, as dietas plant-based (baseadas Um estudo transversal comparativo incluindo
em plantas) vêm ganhando destaque na associação 240 mulheres adultas com sobrepeso e obesidade
com a redução do risco de diversas DCNT, investigou os impactos de uma dieta plant-
incluindo a obesidade5. Esse padrão alimentar based sobre os níveis enzimas hepáticas, fatores
tem por objetivo conduzir uma alimentação mais inflamatórios e perfil de adipócitos. A análise
natural e mais sustentável, evitando ou excluindo dos questionários de frequência alimentar e dos
alimentos de origem animal e priorizando o parâmetros avaliados indicaram que o perfil
consumo de alimentos de origem vegetal6,7. Dessa mais saudável da dieta (com a presença de grãos
forma, as dietas plant-based além de reduzir o integrais, frutas, vegetais, cereais e bebidas,
risco de risco de tais doenças, também podem como chá e café), bem como sua maior adesão,
minimizar o uso ou serem coadjuvantes em terapias resultou em redução significante nos níveis de
medicamentosas e contribuir para menores taxas proteína C reativa ultrassensível (PCR-us) e do
de mortalidade8, graças à inclusão de alimentos fator de transformação do crescimento β (TGF-β)
ricos em vitaminas, minerais, compostos bioativos (p<0,0001), indicando que o aumento na ingestão
e fibras, que podem desempenhar atividades de fibras, antioxidantes, gorduras insaturadas,
antioxidante, anti-inflamatória, vasodilatadora e micronutrientes e redução de gorduras saturadas e
quimiopreventiva9,10. ferro, contribuiu para a redução do peso corporal
Especialmente em relação a efeito anti- e dos fatores inflamatórios analisados12.
inflamatório, alguns estudos foram conduzidos Najjar et al.13, de forma semelhante, também
para avaliar os efeitos de dietas plant-based em encontraram resultados favoráveis na redução de
indivíduos obesos. alguns marcadores inflamatórios em pacientes com
Turner-McGrievy et al.11 examinaram, em um sobrepeso e obesidade (n = 31) consumindo uma
estudo randomizado e controlado com adultos dieta plant-based por 4 semanas. Os resultados
com sobrepeso e obesidade, as diferenças na evidenciaram redução significante dos níveis de
ingestão de nutrientes e nos escores do índice interleucina-6 (IL-6), glóbulos brancos totais,
inflamatório da dieta (DII) durante 6 meses. Os fosfolipase A2, PCR-us e fibrinogênio, além de
participantes foram randomizados para receber reduções de LDL-colesterol e lipoproteína a –
instruções dietéticas de dieta vegana (n=12), Lp(a) – no sangue.
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vegetariana (n=13), pescovegetariana (n=13), Os efeitos sobre o perfil de biomarcadores


semivegetariana (n=13) ou onívora (n=12), sendo inflamatórios relacionados à obesidade  também
um dos fatores avaliados o escore DII, tendo foram encontrados em uma revisão sistemática

25
Neiva dos Santos Souza

e meta-analítica de 29 ensaios clínicos (com um caracterizar estratégias promissoras na redução dos


total de 2689 indivíduos), a qual evidenciou que riscos e no tratamento da obesidade. Os padrões
o consumo de dietas plant-based (como as dietas alimentares plant-based são marcados pelo
mediterrânea, nórdica e DASH - Abordagens consumo de alimentos de origem vegetal, como
Dietéticas para Parar a Hipertensão) foi associado frutas, verduras, legumes e sementes, bem como
à diminuição nas concentrações médias de PCR, menor consumo de alimentos de origem animal
IL-6 e, até certo ponto, da molécula de adesão e industrializados, assim, o maior consumo de
intracelular-1 (sICAM-1), permitindo aos autores vitaminas, minerais, fibras e compostos bioativos
concluírem que dietas plant-based podem estar com capacidade antioxidante e anti-inflamatória
associadas a uma melhora no perfil inflamatório fica evidente, sendo essa a principal justificativa
relacionado à obesidade, o que sugere um potencial para os seus efeitos benéficos na obesidade.
para a terapia e redução dos riscos de DCNT14. Apesar dos resultados promissores, mais
Todos esses dados inferem os benefícios estudos prospectivos precisam ser conduzidos
de dietas plant-based no perfil inflamatório para a confirmação desses resultados, bem como
relacionado à obesidade, contribuindo para a mais ensaios clínicos que incluam a avaliação
redução dos riscos das comorbidades associadas clínica de sinais e sintomas de maneira associativa
a essa doença, que tem como característica aos parâmetros bioquímicos, de forma a analisar
a inflamação crônica de baixo grau. Dessa mais profundamente a modulação do quadro
forma, intervenções nutricionais voltadas para inflamatório crônico de baixo grau da obesidade.
a modulação das vias inflamatórias podem

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26
Flávia Amaro Gonçalves, Bianca Languer Vargas, Jaime Paiva
Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza,

Efeito do néctar de camu-camu


(Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh)

sobre o perfil lipídico e a glicemia de


de adultos normocolesterolêmicos
Effect of camu-camu nectar (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) on
lipidic profile and glycemia of normocholesterolemic adults

Resumo
As doenças crônicas não transmissíveis vêm aumentando consideravelmente, representando atualmente um dos mais importantes problemas de saúde
pública. Nesse cenário, as medidas preventivas ocupam lugar de destaque, devendo ser combinadas orientações para a redução das doenças cardiovasculares,
como por exemplo o incentivo a uma alimentação saudável, rica em frutas e hortaliças. A região Amazônica é detentora de diversas espécies vegetais
que possuem alto potencial para aproveitamento industrial e que podem contribuir com a saúde da população, dentre as quais encontra-se o camu-camu,
um fruto que se destaca pelo seu notável teor de vitamina C. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito do néctar de camu-camu
(Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) nos níveis séricos de colesterol, triglicerídeos e glicose em adultos. Participaram da pesquisa 17 indivíduos adultos
normocolesterolêmicos. Após a seleção da amostra, os indivíduos foram distribuídos em dois grupos: grupo intervenção (GI), que recebeu néctar de
camu-camu, e grupo controle (GC), que recebeu vitamina C sintética, ambos na concentração de 500 mg de ácido ascórbico, durante 15 dias. Foram
realizados exames bioquímicos no início e ao final da intervenção com a finalidade de verificar as possíveis interferências no colesterol total e frações,
glicemia e triglicerídeos. Após quinze dias de consumo do néctar de camu-camu, o GI apresentou uma redução de 4,0% no valor médio de colesterol total.
No grupo GC o valor médio inicial de colesterol encontrado foi de 145 mg/dl e final de 148 mg/dl. Em relação às concentrações de HDL-colesterol, não
se observou diferença significativa entre os tratamentos (p>0,05), independentemente do tipo de intervenção, porém o GC apresentou uma tendência de
11% no aumento de HDL-colesterol. Quanto à concentração plasmática de LDL-colesterol foi observada no GI uma redução de 2,4%, e no GC houve um
aumento de 10,8%. A pesquisa mostrou uma tendência à diminuição dos níveis de triglicerídeos em ambos os grupos, apresentando uma redução de 10,2%
para o GI e 25,8% para o GC. A concentração de glicose apresentou uma redução de 2,4% para o GI e um aumento de 10,8% para o GC. Conclui-se que
a ingestão do néctar de camu-camu apresentou resultado mais eficiente quando comparado à vitamina C sintética. A dose de 500 mg de vitamina C pode
ser estabelecida como referência para futuros estudos em indivíduos hipercolesterolêmicos ou que tenham uma inadequação do consumo dessa vitamina.

Palavras-chave: Fruto amazônico; perfil lipídico; ácido ascórbico.

Abstract
Chronic noncommunicable diseases are increasing considerably, currently representing one of the most important public health problems. In this scenario,
preventive measures occupy a prominent place where guidelines for reducing cardiovascular disease should be combined, such as encouraging healthy
eating habits, rich in fruits and vegetables. The Amazon region has several vegetative species that have high potential for industrial use and that can
contribute to the health of the population, among which is camu-camu, a fruit that stands out for its remarkable vitamin C content. Thus, the present
study aimed to evaluate the effect of camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) nectar on serum cholesterol, triglyceride and glucose levels in
adults. Seventeen normocholesterolemic adult individuals participated in this research. After sample selection, the subjects were divided into two groups:
intervention group (GI) receiving camu-camu nectar and control group (GC) receiving synthetic vitamin C, both at a concentration of 500 mg ascorbic
acid for 15 days. Biochemical tests were performed at the beginning and at the end of the intervention in order to verify possible interferences in total
cholesterol and fractions, glycemia and triglycerides. After 15 days of camu-camu nectar consumption, GI showed a 4.0% reduction in the mean total
cholesterol value. In the GC group, the average initial cholesterol value found was 145 mg/dl and the average final value was 148 mg/dl. Regarding
HDL-cholesterol concentrations, no significant difference was observed between treatments (p> 0.05), regardless of the type of intervention, but the GC
showed a tendency of 11% to increase HDL-cholesterol. Regarding the plasma concentration of LDL-cholesterol, a reduction of 2.4% was observed in
GI, and in the GC there was an increase of 10.8%. The research showed a trend of triglyceride levels decrease in both groups, with a reduction of 10.2%
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for GI and 25.8% for GC. Glucose concentration decreased 2.4% for GI and 10.8% for GC. In conclusion, the ingestion of camu-camu nectar was more
efficient when compared to synthetic vitamin C. The 500 mg dose of vitamin C may be established as a reference for future studies in individuals with
hypercholesterolemia or who have inadequate consumption of this vitamin.

Keywords: Amazonian fruit; lipid profile; ascorbic acid.

27
Flávia Amaro Gonçalves, Bianca Languer Vargas, Jaime Paiva Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza

Introdução Na Amazônia peruana, Alvarado-Vertiz (1969)

A
e Gutierrez-Ruiz (1969) relataram o consumo do
Atualmente, o estado de saúde das populações camu-camu na forma de sucos, geleias, sorvetes
tem melhorado consideravelmente devido às e balas. Uma das alternativas para a utilização
modificações que vêm ocorrendo na sociedade. desse fruto é na forma de néctar, uma bebida
Entretanto, as doenças crônicas não transmissíveis natural, nutritiva, pronta para o consumo e de
vêm aumentando consideravelmente, representando fácil processamento7. Nesse contexto, o presente
hoje um dos mais importantes problemas de saúde estudo teve como objetivo avaliar o efeito
pública1. do néctar de camu-camu (Myrciaria dubia)
Dentre os fatores de risco considerados de sobre o perfil lipídico e a glicemia de adultos
maior relevância para o desenvolvimento de normocolesterolêmicos.
doenças cardiovasculares destacam-se o fumo,
a hipertensão arterial, a dislipidemia, o diabetes Materiais e métodos
mellitus, alguns hábitos relacionados ao estilo
de vida, como dieta rica em calorias, gorduras Obtenção do néctar de camu-camu
saturadas, colesterol e sal, consumo de bebida
alcoólica, obesidade e sedentarismo2,3. Foram utilizados frutos de camu-camu
Nesse cenário, as medidas preventivas ocupam maduros, procedentes da fazenda Yurican,
lugar de destaque, devendo ser combinadas localizada no km 100 da Rodovia AM-010, no
orientações para a redução das doenças município de Rio Preto da Eva, Amazonas. Os
cardiovasculares. Assim, ganha importância uma frutos foram encaminhados ao Laboratório de
proposta de alimentação saudável, com dietas que Alimentos e Nutrição do Instituto Nacional de
estejam ao alcance da sociedade como um todo e Pesquisas da Amazônia (INPA), onde foram
que tenham um impacto sobre os mais importantes submetidos a processo de seleção, lavagem
fatores relacionados às várias doenças. Aumentar em água corrente e potável, sanitização com
o consumo de frutas e hortaliças regionais é um hipoclorito na proporção de 200 ppm por 30
exemplo de proposições que preenchem esses minutos e enxágue em água corrente e potável.
requisitos4. Posteriormente, os frutos foram processados em
A região Amazônica é detentora de uma despolpadeira previamente higienizada, para
enorme biodiversidade de frutos com potencial obtenção do néctar. Este foi armazenado em
econônico e nutricional, dentre os quais sacos plásticos de 1 kg, devidamente etiquetados
encontra-se o camu-camu (Myrciaria dubia e congelados à temperatura de -18oC, até o
(Kunth) McVaugh), também conhecido como momento da utilização.
caçari, araçá-d’água ou sarão, caracterizado
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019. doi: 10.32809/2176-4522.45.80.04

principalmente pelo seu alto teor de ácido Seleção da amostra


ascórbico, que supera significativamente frutas
cítricas como limão e laranja (50 a 60 vezes Para a seleção da amostra, ao início do estudo
mais). Devido a esse recurso, o camu-camu é de aplicou-se um questionário contendo perguntas
grande interesse a ser explorado nas indústrias relacionadas aos critérios de elegibilidade. Após
alimentícia e farmacêutica5. esse procedimento foi realizada a avaliação
Esses frutos são caracterizados como globosos antropométrica e bioquímica.
de superfície lisa e brilhante, com 2 a 4 cm de Para a avaliação nutricional por meio da
diâmetro e peso médio de 8,4 g, coloração antropometria foram aferidas medidas de peso
variando de vermelho-escuro a púrpuro-negro e altura segundo as recomendações da OMS8,
quando maduros. Possuem de uma a quatro utilizando-se balança digital da marca InBody®,
sementes por fruto, sendo o mais comum de modelo R20, com capacidade de pesagem de
duas a três, reniformes, elipsoides, cobertas com até 150 kg e precisão de 100 g e estadiômetro
malha de fibrila6. adulto com escala máxima de 200 cm e precisão

28
Efeito do néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a glicemia de adultos normocolesterolêmicos

de 0,1 cm. Os materiais foram acomodados em procedidas análises bioquímicas de glicemia,


local firme e reto, e as medidas foram coletadas colesterol total e frações e triglicerídeos, em
com o indivíduo ereto, descalço e portando autoanalisador bioquímico da marca Mindray®
o mínimo de roupas e objetos possível. Para a modelo BS 120. Para a realização dos testes
verificação da estatura foi assegurado, ainda, que foram utilizados kits de reagentes específicos
o indivíduo estivesse com a cabeça posicionada para cada tipo de exame da marca Dialab®.
de modo a formar um ângulo de 90º com a linha O projeto obteve aprovação do Comitê de
do horizonte. Ética da Universidade Federal do Amazonas
A classificação do estado nutricional foi (UFAM).
realizada pelo cálculo do Índice de Massa
Corpórea (IMC), que utiliza o peso em quilos Grupos de estudo
dos indivíduos e o quadrado de sua altura em
metros, sendo expresso em kg/m². Os pontos Após análise dos questionários utilizados na
de corte para atribuição da classificação do seleção da amostra, os indivíduos que atenderam
estado nutricional segundo esse indicador são aos critérios de elegibilidade foram distribuídos
os estipulados pela OMS8, que preconiza como em dois grupos para o início da intervenção. Foi
normais ou eutróficos os indivíduos que possuam solicitado aos voluntários que não modificassem
IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m², com baixo peso os seus hábitos de alimentação ou de atividade
indivíduos com IMC igual ou inferior a 18,4 kg/ física, quando houvesse, durante todo o período
m², com sobrepeso aqueles com IMC entre 25 e experimental.
29,9 kg/m² e com obesidade aqueles com IMC O primeiro grupo, grupo intervenção (GI),
superior a 30 kg/m². recebeu 50 ml de néctar de camu-camu durante
A avaliação da composição corporal foi o período de 15 dias consecutivos. O segundo
realizada utilizando-se aparelho de bioimpedância grupo, grupo controle (GC), recebeu o ácido
elétrica da marca InBody®, modelo R20, que ascórbico sintético misturado em água e sucralose
mede os índices de gordura e água corporal na mesma proporção do néctar de camu-camu.
por meio de uma corrente elétrica de baixa Ambos os grupos receberam diariamente
intensidade. O indivíduo foi orientado para estar aproximadamente 500 mg de vitamina C.
em jejum de no mínimo 4 horas e posicionar-
se ereto no aparelho, com os pés descalços e Armazenamento de informações e análise
segurando com ambas as mãos o “bastão” de dos dados
corrente elétrica, estando o aparelho posicionado
em local reto e firme. Com os índices de gordura Todos os dados coletados foram preenchidos
e água corporal gerados pela bioimpedância manualmente no questionário do estudo pelos
elétrica foi possível estimar os percentuais de pesquisadores, no momento da coleta. Os
massa gorda e massa magra de cada participante questionários foram identificados pelo nome
da pesquisa e classificá-los de acordo com os do participante e por um código numérico
valores preconizados para adultos pelo National a ele atribuído. Além dos questionários
Health and Nutrition Examination Survey III impressos, todas as informações coletadas foram
(NHANES III)9. armazenadas em planilhas do Microsoft Excel.
A coleta de sangue, antes e ao final da Foram consideradas como desfecho as
intervenção, foi efetuada via punção venosa em variações nos níveis séricos de glicemia,
um dos braços do indivíduo, estando este sentado colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol
e em jejum de pelo menos oito horas. Foram e triglicerídeos após a intervenção. Os resultados
coletados 5 ml de sangue por meio de seringa foram analisados por protocolo de intervenção
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estéril descartável, e o procedimento foi realizado (todos os participantes do estudo). Foi procedida
por um profissional treinado (bioquímico). Por análise descritiva da amostra e verificação da
meio do material sanguíneo coletado foram diferença entre as médias de todos os desfechos

29
Flávia Amaro Gonçalves, Bianca Languer Vargas, Jaime Paiva Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza

por meio do Teste t de Student, com nível desistência de alguns voluntários, o estudo
de confiança de 95% e probabilidade de 5% encerrou com a participação de 17 indivíduos do
(p<0,05), utilizando-se o programa estatístico gênero feminino.
Instat. Os dados clínicos dos indivíduos voluntários
mostraram que os valores iniciais das variáveis
Resultados e Discussão estudadas nos grupos não apresentaram nenhuma
diferença estatisticamente significativa entre
Iniciaram o estudo 20 indivíduos, no entanto, elas, demonstrando satisfatória homogeneidade
durante o desenvolvimento e em razão da entre os grupos (Tabela 1).

Tabela 1. Dados clínicos dos indivíduos pertencentes aos grupos de estudo.


Variáveis GI* (n=9) GC* (n=8) p-valor**
Idade (anos) 24,0 ± 2,78 25 ± 5,64 0,5015
Peso (kg) 58,0 ± 8,92 59,0 ±12,39 0,7673
Altura (m) 1,61 ± 5,19 1,57 ± 6,19 0,1911
IMC (kg/m2) 22,0 ± 3,33 24,0 ± 3,57 0,3906
Gordura corporal (%) 29,0 ± 7,75 33,0 ± 6,97 0,3505
Glicemia de jejum (mg/dl) 81,0 ± 7,37 74,0 ± 5,51 0,0548
Colesterol total (mg/dl) 149,0 ± 22,59 145,0 ± 26,0 0,7662
LDL-colesterol (mg/dl) 88,0 ± 18,18 87,3 ± 22,40 0,9537
HDL-colesterol (mg/dl) 48,0 ± 9,42 41,0 ± 13,67 0,2920
Triglicerídeos (mg/dl) 68,0 ± 22,63 85,0 ± 47,43 0,3934
*Valores expressos em média ± desvio padrão; GI – grupo intervenção; GC – grupo controle
** Valores maiores que 0,05 não representam diferença estatisticamente significativa

Após quinze dias de consumo do néctar de dos ratos, reduzindo o colesterol total e o LDL-
camu-camu, o GI apresentou uma redução de colesterol.
4,0% no valor médio de colesterol total. No grupo McRae e Richardson11 relataram que, para
que consumiu ácido ascórbico sintético (GC) o populações hipercolesterolêmicas (> 280 mg/
valor médio inicial de colesterol encontrado foi dl), a vitamina C é capaz de atingir diminuições
de 145 mg/dl e final de 148 mg/dl, porém não nos níveis de colesterol total no soro quando
houve diferença significativa entre os grupos em comparação com outros suplementos
de estudo (Figura 1). Entretanto, o grupo que
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nutricionais.
recebeu a vitamina C provida pelo néctar de Em uma pesquisa com oito indivíduos de idade
camu-camu demonstrou maior efeito na redução média de 26 anos, foi encontrada uma redução de
do colesterol total quando comparado ao grupo 8,26% nos níveis séricos de colesterol total após
que recebeu a vitamina C na forma sintética. o consumo de 1000 mg de vitamina C sintética
Na análise individual do GI, 78% da amostra durante o período de quatro semanas12.
estudada apresentou uma redução do colesterol McRae13, após meta-análise de treze ensaios
total após o consumo de 50 ml/dia de néctar controlados e randomizados, evidenciou que
de camu-camu, sendo a diminuição máxima de a suplementação de pelo menos 500 mg de
14,5% (Figura 2). vitamina C durante o período de quatro semanas
No estudo realizado por Schwertz et al.10, a pode resultar numa diminuição significativa
ingestão do suco de camu-camu apresentou efeito nos níveis de colesterol total, LDL-colesterol
modulador do perfil lipídico em ratos. Dentre as e triglicerídeos. No entanto, foi observado um
doses de suco utilizadas, a 10 ml.kg-1 foi a que aumento não significativo nos níveis de HDL-
apresentou melhor resposta sobre o perfil lipídico colesterol.
30
Efeito do néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a glicemia de adultos normocolesterolêmicos

Figura 1. Concentração plasmática de colesterol total entre os grupos intervenção (GI) e controle
(GC) nos períodos de 0 e 15 dias.

Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,005).

Figura 2. Concentração plasmática de colesterol total dos indivíduos do grupo intervenção (GI) nos
períodos de 0 e 15 dias.

Em relação às concentrações de HDL- em vista que alguns estudos epidemiológicos


colesterol, não se observou diferença significativa demonstraram que a ingestão de vitamica C
entre os tratamentos (p>0,05), independentemente está positivamente correlacionada com as
do tipo de intervenção, porém o GC apresentou concentrações de HDL-colesterol13,14. Entretanto,
uma tendência de 11% no aumento de HDL- o resultado do GI assemelha-se a estudos
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colesterol (Figura 3). realizados por Vinson e Jang15 e Gokce et al.16


Após a intervenção, houve uma redução onde os níveis de HDL-colesterol também foram
de 4,1% nos níveis de HDL-colesterol no GI reduzidos após a suplementação com vitamina C.
(Figura 3), resultado contrário ao esperado, tendo

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Flávia Amaro Gonçalves, Bianca Languer Vargas, Jaime Paiva Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza

Figura 3. Concentração plasmática de HDL-colesterol entre os grupos intervenção (GI) e controle


(GC) nos períodos de 0 e 15 dias.

Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,005).


Quanto à concentração plasmática de LDL- o grupo placebo, houve uma redução bastante
colesterol foi observado no GI uma redução significativa nos níveis séricos de colesterol
de 2,4%, e no GC houve um aumento de total e LDL-colesterol em todos os grupos de
10,8%, porém esses valores não se diferenciam tratamento (p <0,001), tendo como conclusão
estatisticamente (Figura 4). que as vitaminas antioxidantes C e E ou sua
Rezaian et al.14 realizaram um estudo combinação podem efetivamente reduzir o
com cento e vinte indivíduos, sem doença colesterol e os níveis de LDL-colesterol em
cardiovascular conhecida, com 50 anos e mais, indivíduos idosos saudáveis. Tais resultados
que foram distribuídos aleatoriamente em demonstram que independente do estágio de
quatro grupos. Cada grupo foi posteriormente vida o consumo de vitamina C é benéfico, pois
randomizado para receber vitamina C, vitamina promove resultados satisfatórios em relação ao
E, combinação de vitaminas C e E e grupo perfil lipídico.
placebo, durante 75 dias. Em comparação com
Figura 4. Concentração plasmática de LDL-colesterol entre os grupos intervenção (GI) e controle
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019. doi: 10.32809/2176-4522.45.80.04

(GC) nos períodos de 0 e 15 dias.

32
Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,005).
Efeito do néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a glicemia de adultos normocolesterolêmicos

A presente pesquisa apresentou uma tendência da pesquisa corroboram com os achados por
à diminuição dos níveis de triglicerídeos em Shidfar et al.17 onde os triglicerídeos também
ambos os grupos, apresentando uma redução de apresentaram redução após a administração de
10,2% para o GI e 25,8% para o GC (Figura 5). 500 mg de vitamina C por mais de 10 semanas
Embora não encontrada diferença significativa em pacientes com hiperlipidemia.
entre os grupos de estudo (p>0,05), os resultados
Figura 5. Concentração plasmática de triglicerídeo entre os grupos intervenção (GI) e controle (GC)
nos períodos de 0 e 15 dias.

Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,005).

A concentração de glicose apresentou uma Em estudo realizado por Ganesh et al.20, 35


redução de 2,4% para o GI e um aumento indivíduos receberam 500 mg de vitamina C
de 10,8% para o GC, porém sem diferença durante doze semanas e obtiveram uma redução
significativa entre os grupos (p>0,05) (Figura significativa da glicemia de jejum, tendo como
6). Os resultados encontrados no GI deste conclusão que a suplementação com ácido
estudo estão de acordo com dados publicados ascórbico para indivíduos diabéticos pode
anteriormente que demonstraram redução na proporcionar um meio simples de prevenção e
glicemia após o consumo de vitamina C18,19. melhoria das complicações do diabetes.

Figura 6. Concentração plasmática de glicose entre os grupos intervenção (GI) e controle (GC) nos
períodos de 0 e 15 dias.
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33
Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,005).
Flávia Amaro Gonçalves, Bianca Languer Vargas, Jaime Paiva Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza

Apesar de os resultados encontrados no sim o consumo de dieta balanceada com frutas,


presente estudo serem estatisticamente não verduras e legumes25.
significantes, qualquer pequena alteração pode Segundo Vinson e Jang15, o consumo de
ter efeitos benéficos na incidência de doenças suco de frutas cítricas junto com a vitamina C
coronarianas, especialmente pela ausência de pode aumentar a capacidade da vitamina C
toxicidade quando a suplementação de vitamina para combater a oxidação lipídica e promover
C não ultrapassa o limite recomendado. a redução nos níveis de lipídios no sangue.
Em 1991, o estudo Multinational Monitoring Enquanto ricos em vitamina C, os sucos de frutas
of Trends and Determinants in Cardiovascular cítricas contêm também compostos conhecidos
Disease, realizado em populações europeias, como flavonoides, e essa combinação pode ser
mostrou significante associação inversa entre mais vantajosa do que o consumo de qualquer
níveis plasmáticos de vitamina C e mortalidade agente isolado para promoção da saúde.
por doenças cardiovasculares21. Segundo Singhal et al.26, todas as vitaminas
Outra meta-análise com sete estudos do tipo antioxidantes e frutas podem diminuir
coorte, que relacionaram a ingestão de vitaminas significativamente os níveis de peróxidos lipídicos
antioxidantes e a sua suplementação com as e carga oxidante em pacientes coronarianos. No
doenças cardiovasculares em adultos, mostrou entanto, as frutas são a melhor escolha, pois
que a suplementação de vitamina C (mediana também modificam favoravelmente o perfil
de ingestão juntamente com suplementação de lipídico. Em pesquisa realizada com adultos que
756 mg/dia) obteve resultado positivo quanto à apresentavam doença cardiovascular, durante
prevenção de doença cardiovascular22. 30 dias, os referidos autores evidenciaram
Pesquisa realizada por Cobbold et al.23 que no grupo que recebeu frutos houve uma
demonstra que a suplementação diária com uma diminuição significativa do colesterol total e de
mistura de vitamina C e de outros nutrientes LDL-colesterol e aumento do HDL-colesterol (p
antioxidantes pode reduzir a peroxidação <0,01).
lipídica, o que sugere que os antioxidantes Embora o tamanho da amostra do presente
podem ser úteis para doentes com uma história estudo seja pequena e a duração curta, o valor dos
de doença cardiovascular. Os autores sugerem, resultados encontrados não pode ser descartado.
também, que a vitamina C pode, de fato, ser No entanto, estudos com maiores amostragem e
ainda mais benéfica do que outros antioxidantes período de duração, juntamente com a avaliação
normalmente utilizados na protecção contra a de outros parâmetros bioquímicos, podem render
oxidação lipídica. resultados mais significativos de forma a elucidar
Fiates et al.24 ressaltam que, atualmente, o exato papel da vitamina C no perfil lipídico.
grande parte da ingestão diária de vitamina
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019. doi: 10.32809/2176-4522.45.80.04

C deve-se ao consumo de sucos artificiais Conclusão


enriquecidos com essa vitamina, que possuem
elevado teor de açúcares e conservantes, não O grupo de adultos normocolesterolêmicos
sendo recomendados em uma dieta balanceada e que ingeriu néctar de camu-camu apresentou
saudável. Neste sentido, o néctar de camu-camu redução nos níveis de colesterol total, LDL-
apresenta-se como uma excelente opção para colesterol, triglicerídeos e glicose, enquanto
composição da alimentação diária, tendo em o grupo que recebeu ácido ascórbico sintético
vista seu valor nutricional, em particular como apresentou redução somente nos níveis de
fonte de ácido ascórbico e flavonoides. triglicerídeos. A dose de 500 mg de vitamina C
Não há evidência de pesquisas randomizadas, pode ser estabelecida como referência para futuros
controladas e com número suficiente de estudos em indivíduos hipercolesterolêmicos
indivíduos adultos que demons¬trem a prevenção ou que tenham uma inadequação do consumo
de eventos relacionados à aterosclerose por desta vitamina. O consumo de néctar de camu-
meio da suplementação medicamentosa com camu, assim como de frutas em geral, deve ser
antioxidantes. Portanto, a IV Diretriz Brasileira incentivado, pois oferece efeito benéfico à saúde
34
sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose e prevenção de doenças.
de 2007 não aconselha a suplementação, mas
Efeito do néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a glicemia de adultos normocolesterolêmicos

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35
Luis Gustavo Patrício Nunes Pinto

O ser humano e a sustentabilidade:


Conhecimento, ação, realidade e perspectivas

Human and sustainability:


Knowledge, action, reality and perspectives

Resumo
A grande concentração da população humana e a extensa área ocupada por ela, não apenas em sua acomodação física, mas também
para todas as consequentes necessidades implícitas na sua manutenção, como a produção de alimentos, a mineração, o descarte dos
resíduos urbanos e outros serviços, promovem uma extração dos recursos naturais, degradação e contaminação ambiental em velocidade
superior à capacidade de autorregeneração dos ambientes. É crescente o despertar de interesse e esforço das nações, organizações de
diversos setores, cidadãos e outras entidades sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Alteração em legislações,
acordos internacionais e até mesmo as mudanças de hábitos e posturas mais conscientes da população, estão promovendo a geração
de novos conhecimentos técnicos e científicos, além de modelos e processos que visam promover maior sustentabilidade. Difundir o
conhecimento através de educação ambiental pode ampliar as possibilidades destes esforços serem mais eficazes, além de poder ser
um agente facilitador no processo de conscientização do ser humano e na receptividade dos mesmos para implantação de processos e
sistemas para uma gestão integrada destas atividades fundamentais, como as de produção, consumo e descarte de alimentos, seja na
mineração ou em diversas outras industrias que estão em nosso cotidiano. Apesar de demonstrarem grande potencial na promoção do
desenvolvimento sustentável, com viabilidade financeira e inclusão social, essas atividades toam como nas “Leis da Natureza”, onde
todos os setores e hierarquias precisam estar envolvidos no processo e em sintonia.

Palavras-chave: Sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, educação ambiental.


Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019 doi: 10.32809/2176-4522.45.80.05

Abstract
The large concentration of the human population and the area occupied by it, not only in their physical accommodation, but also for all
the consequent needs implied in their maintenance, such as food production, mining, the urban waste disposal, among other services,
promote the extraction of natural resources, degradation and environmental contamination at a greater speed than the environment
capacity of self-regenerating. The interest and effort of nations, organizations from several sectors, citizens and other of sustainable
development entities is growing. Changes in legislation, international agreements and even more aware attitudes and habits changes
of the population, are promoting the generation of new technical and scientific knowledge, as well as models and processes that aim
to promote greater sustainability. Disseminating knowledge through environmental education can broaden the possibilities of these
efforts to be more effective, and can be a facilitating agent in the process of awareness of the human being and their receptivity to the
implementation of processes and systems for the integrated management of these fundamental activities. Such as food production, con-
sumption and disposal, whether in mining or in various other industries that are in our daily lives. Despite showing great potential in
promoting sustainable development, with financial viability and social inclusion, these activities are similar to the “Laws of Nature”,
where all sectors and hierarchies need to be involved in the process and in tune.

Keywords: Sustainability, sustainable development, environmental education.

36
O ser humano e a sustentabilidade: Conhecimento, ação, realidade e perspectivas

A
A reflexão sobre as diversas formas de das plantas. Ainda, outros processos como os de
degradação ambiental causadas por algumas salinização do solo, provocado por excessos de
das principais atividades antrópicas, como as de irrigação com sistemas de drenagem ineficientes,
mineração, agricultura, industriais, energéticas são associados ao desmatamento e ao uso de
e outras necessárias para suprir nossas mais adubos químicos1-9.
singelas necessidades, em contraposição com Este principal modelo de agricultura
as expectativas geradas por todo conhecimento convencional adotada em nossa sociedade
técnico-científico que desenvolvemos com a demonstra também favorecer os processos de
finalidade de utilizá-lo como uma ferramenta erosão, desertificação de solos e a redução da
para o alcance de um desenvolvimento mais diversidade biológica e do patrimônio genético
sustentável, foram utilizadas como critério para destas áreas, pois necessitam de diversas e
construção desta revisão bibliográfica. constantes intervenções que agenciam a contínua
Foi considerado como objetos para estudo, degradação ambiental, comprometendo a
artigos, teses e outras revisões da literatura exploração sustentável do meio ambiente1,4.
especializada, disponíveis nos principais bancos Em estudo desenvolvido no sul do Brasil, foi
de dados científicos, posteriores ao ano de 2015, demonstrado um comparativo do processo de
e incluiu trabalhos que foram desenvolvidos em desertificação entre um cultivar de Eucaliptos
diversas áreas, setores e localidades. (EF), uma pastagem nativa (GN), um tratamento
convencional em área de produção de milho
Ações e realidades (CT) e uma área não vegetada (NVS). Pode-
se constatar uma menor agregação no grau de
As atividades degenerativas do ambiente estabilidade do agregado de água que se ordenou
necessitam de ações de compensação e restauração, na seguinte posição: EF> NG> CT. O solo NVS foi
estes danos podem ser denominados “passivos completamente desprovido de agregação, possível
ambientais”, termo que, apesar de variar de acordo causa de sua exposição às intempéries e erosão
com a fonte, foi definido pela SABESP, em sua eólica. Esta conclusão do autor demonstra que
publicação “O Guia de Recuperação de Áreas nosso principal sistema de produção de alimentos
Degradadas”, como: “modificações impostas pela promove a desertificação com mais eficiência
sociedade aos ecossistemas naturais, alterando que outras atividades antrópicas de alteração
(degradando) as suas características físicas, do ambiente comumente entendidas como
químicas e biológicas, comprometendo, assim, a degradantes, como as pastagens e o eucalipto,
qualidade de vida dos seres humanos”. Já Sanchez, relacionados neste trabalho5.
em seu livro “Desengenharia”, define degradação A construção civil e o descarte sanitário dos
do solo de maneira mais ampla, além da poluição resíduos, também são setores que demandam um
de causas antrópicas, incorporando a perda de crescimento exponencial na abertura de novas
matéria orgânica devido à erosão ou a movimentos áreas para ocupação e são responsáveis por
de massa, compactação e qualquer alteração nos espantosos níveis de degradação dos solos e dos
organismos vivos em sua definição1,2,3. demais fatores ambientais10,11.
Para que possamos garantir as nossas Se considerarmos o volume de resíduos e
necessidades mais básicas, como a alimentação, de desperdício de alimentos que ocorrem em
muitos impactos negativos são causados no restaurantes, escolas e em empresas que oferecem
ambiente. Além do desmatamento, queimada e refeição aos funcionários que são destinados aos
outras técnicas utilizadas na abertura de novas aterros sanitários, na melhor das hipóteses, já
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áreas para produção, os insumos nutricionais à ficaríamos assustados.


base de combustíveis fósseis e compostos tóxicos Um estudo desenvolvido na cidade de São
são altamente contaminantes para o solo, água Paulo tomou como referência o levantamento de
e organismos vivos que se utilizam na defesa dados um restaurante industrial de grande porte
37
Luis Gustavo Patrício Nunes Pinto

que serve três (03) refeições por dia com uma adequada a todo e qualquer tipo de resíduo
rotina eficaz na gestão do preparo dos alimentos. provindo de suas atividades, sejam pessoas físicas
Os resultados apontaram que a sobra limpa ou jurídicas, de direito público ou privado e que
foi a menor contribuinte. A média constatada sejam responsáveis de maneira direta ou indireta
neste levantamento foi de quase sessenta quilos pela geração de resíduos sólidos13.
de resíduos alimentares por refeição10. Nesta O Brasil demonstra, também, ser um solo
pesquisa, o contribuinte que mais se destacou na fértil para o desenvolvimento de programas,
geração de resíduos foi o retorno dos pratos dos tecnologias inovadoras e de conhecimentos
funcionários, demonstrando a importância da técnico-científicos, todos com grande potencial
educação ambiental nos processos cotidianos e de utilização na promoção do desenvolvimento
na incorporação de hábitos mais sustentáveis10. sustentável. Descobertas científicas, aliadas à
Esse volume de resíduos das refeições gerados interdisciplinaridade de trabalhos, iniciativas
por período pode parecer pequeno quando e pesquisas desenvolvidas, novas propostas de
pensamos neles individualmente. Porém, apenas modelos, equipamentos e alternativas menos
deste sítio pesquisado, são encaminhados mais de agressivas ao meio ambiente estão se tornando
cinco toneladas de resíduos orgânicos oriundos economicamente viáveis e cada vez mais
do restaurante, além dos outros rejeitos que acessíveis1.
serão gerados em suas atividades industriais de O solo é um ecossistema dinâmico e complexo,
produção10,12. e oferece grande potencial de tratamento e
Para podermos visualizar e entender a reversão das condições degradadas, se estudado
importância do impacto causado apenas pela e manejado corretamente1-5, 6,11,12,14,15.
fração orgânica dos resíduos urbanos descartados Uma área de estudo que emerge com grande
em aterros sanitários no Brasil, o Instituto de propriedade é o das alternativas de descontaminação
Pesquisas Aplicadas (IPEA), em 2012, estimou de solos, conhecidos por biorremediação e
que este tipo de resíduo urbano traduz cerca de fitorremediação. Já é possível destacar várias
51% do total dos resíduos e somam um peso técnicas bem estudadas e efetivas, conforme a
superior 94 mil toneladas por dia12. caracterização do solo e do contaminante. Estas
É notório que precisamos tomar providências diferentes técnicas em cada um destes modelos
como sociedade para alterar esta realidade e que podem ter efeito passivo, estimulante, reativo,
teremos grandes desafios para isto. Mas será que extrativo, transformador ou mesmo estabilizador
já não temos a capacidade ou até mesmo algumas de tais moléculas em áreas contaminadas por ações
condições, ferramentas e respostas já prontas para antrópicas1,9.
desenvolvermos e/ou alterarmos estes e outros Outros estudos complementares aos citados
processos de maneira a serem mais sustentáveis? anteriormente apontam a eficácia no uso de
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019 doi: 10.32809/2176-4522.45.80.05

biopolímeros, que promovem aumento da coesão


Conhecimentos e perspectivas e agregação das partículas do solo, afetam
positivamente a retenção da água na camada
O Brasil está em convenção com 17 objetivos mais superficial do solo e reduzem a taxa de
do desenvolvimento sustentável das Nações evaporação. Estas condições fornecem ambientes
Unidas, que fomentam a fiscalização, a criação mais adequados para germinação da vegetação
e a adequação de melhores Leis e diretrizes que e para o cultivo de plantas que serão utilizadas
possam salvaguardar ou restituir o ambiente nos tratamentos de contramedida dos processos
sobre os impactos de nossa atuação, como por de descontaminação e desertificação dos solos
exemplo, as cidades de Brasília e São Paulo, que em regiões que apresentam baixos índices de
têm legislação para atender a Política Nacional precipitação14.
de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305 de 2010, Com objetivo de entender e maximizar a
que alterou a Lei no 9.605 de 1998 e passou a eficácia no processo de dessalinização dos solos,
responsabilizar o próprio gerador pela destinação estudos abordam alternativas que envolvem

38
O ser humano e a sustentabilidade: Conhecimento, ação, realidade e perspectivas

práticas mais adequadas de drenagem associadas a sustentabilidade2,3,10-12,17.


um melhor planejamento e aplicação de técnicas de Enquanto pesquisas validam diferentes técnicas
irrigação, pousio e uso de plantas resistentes para de compostagem a partir de resíduos alimentares,
o tratamento e posterior manutenção destas áreas desenvolvidas para utilização deste produto
e que, quando aplicadas em conjunto, possuem final como agente de grande potencial adsortivo
potencial para reduzir os efeitos insalubres do e também de imobilização de metais pesados.
excesso de sais nos solos4,7,8. Outros estudos analisam a qualidade de compostos
Medidas de acompanhamento para maior advindos destas mesmas origens, incluindo
entendimento e possível prevenção dos processos àqueles gerados no pós-preparo e eventualmente
de desertificação têm sido criados. O Sistema de carnes. Ambos demonstraram o quão promissor
Alerta Precoce contra seca e desertificação (SAP), podem ser, se aplicados em grandes escalas10,12.
desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisa As técnicas de compostagem do lodo do esgoto,
Espaciais (INPE), recebeu uma premiação na têm intuito de reduzir o material contaminante
Convenção das Nações Unidas para o Combate à oriundo dos processos de tratamento de esgotos
Desertificação. Esta premiação foi concedida pelo e alterá-lo para uma condição inerte em relação
programa Dryland Champions15. ao meio ambiente. Através destes processos de
Este programa coordenado pelo INPE está compostagem, ocorrem a redução de patógenos
atuante em 20% do território brasileiro e propõe e de concentrações de materiais contaminantes e
a contraposição dos dados coletados após a insalubres ao solo e ao meio ambiente, permitindo
identificação de Indicadores Regionais de inclusive seu uso como condicionador de solos na
Desertificação e Áreas Ambientalmente Sensíveis, agricultura, em condições específicas10,12,18.
através da análise de imagens e informações
geradas por satélite, aferições topográficas, Considerações finais
climatológicas, geológicas, além da observação
da cobertura vegetal, fatores socioeconômicos e A nossa realidade demonstra que temos grandes
padrões de usos da terra adotados nestas regiões15. desafios no alcance de um desenvolvimento mais
Com finalidade de reduzir o impacto na geração sustentável para a humanidade. Porém, a partir
da bioenergia de etanol, estudos que sugerem deste estudo, pôde-se observar um alvorecer de
alternativas de consórcios com leguminosas e conhecimentos e o surgimento de novas formas de
aplicações de biocarvão demonstraram ser uma atuação que nos possibilitam almejar e alcançar
prática mais sustentável. Sua utilização melhora tais objetivos.
o rendimento para a produção de etanol16. Conclui-se nesta revisão bibliográfica, que já
No Brasil, temos grandes empresas com cases possuímos diretrizes mais eficientes, conhecimentos
de sucesso na produção orgânica da cana-de- suficientes, capacidade de ação e ferramentas
açúcar, com seus produtos derivados e distribuídos necessárias para iniciarmos algumas mudanças
em todo o país. em nossos processos mais primordiais de maneira
Considerando a importância econômica, social a torná-los mais sustentáveis.
e ambiental que envolvem a geração dos resíduos Um outro ponto que deve ser ressaltado
orgânicos, muitos estudos interdisciplinares e neste estudo é a importância e a necessidade da
com olhares para diferentes utilizações destes inclusão e planejamento de ações de educação
chamados resíduos, surgem e oferecem novas ambiental, tratando-a como agente facilitadora
formas de olhar para este material e o seu na implantação e apropriação de novos hábitos,
potencial nas mais diversas aplicações, como assim como na promoção do rompimento com
mais uma poderosa ferramenta de promoção da antigos paradigmas.
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39
Luis Gustavo Patrício Nunes Pinto

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40
Os 60+
da Agricultura Sustentável

Parte 1
José Maria Filho – Jornalista
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41
Por: José Maria Filho – Jornalista

Como eles chegaram à longevidade com energia vital e qualidade de vida


produzindo alimentos nos modelos de culturas agroecológicas

O último Censo Agropecuário (https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/) realizado em 2017 pelo


IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística– trouxe um retrato do Brasil rural, e os números
surpreendem.
São 351 milhões de hectares de áreas de estabelecimentos agropecuários no Brasil, sendo que
apenas 12% são ocupados por estabelecimentos de agricultura familiar ou orgânica, o que equivale a
590.834 estabelecimentos.

Em termos de gêneros e faixa etária, o quadro é o seguinte:

Faixa Etária Mulheres Homens


75 anos ou mais 75.991 310.147
65 anos ou mais 136.155 649.000
55 a 64 anos 202.738 983.964

Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Sítio A Boa Terra: 39 anos de agricultura sustentável

Sítio a Boa Terra: A trajetória do holandês naturalizado brasileiro Joop Stoltenborg, que completou
recentemente 80 anos de vida, dos quais mais de 35 anos trabalhando com agricultura orgânica e
sustentável em Itobi, interior de São Paulo.
Joop, nascido na Holanda em 16 de novembro de 1939, e sua esposa Tini Schoenmaker, também
holandesa naturalizada brasileira, iniciaram suas atividades na agricultura sustentável em 1981. Foram
3 casais, um grande pasto, 5 árvores e um sonho: criar uma comunidade autossustentável, fraterna,
com dezenas de familiares carentes. Cultivar a terra de forma comunitária.
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

Campo de abobrinha e Joop, fundador do Sítio A Boa Terra, em Itobi, no interior de São Paulo

42
Os 60+ da Agricultura Sustentável – Parte 1

Antes de iniciar na agricultura sustentável,


Joop tem história e uma aventura para contar.
Ele sempre trabalhou em agricultura: “Aos
7 anos já ajudava meu pai a tirar leite, pois
tínhamos uma produção, então sempre tive
na agricultura meu propósito de vida”. Aos
25 anos, Joop trocou o sítio da família na
Holanda pela agricultura de larga escala
no Canadá. De lá, em 1966 viajou para
o Brasil em um fusca, numa viagem que
durou seis meses, para visitar seu tio que
também era agricultor. Conheceu Tini, que
havia vindo para cá em 1959, aos 11 anos,
com toda sua família e muitos bulbos de Tini e Joop
flores. Joop decidiu então se estabelecer no Brasil: casou-se com Tini e continuou seu trabalho na
agricultura convencional. Com o passar do tempo, Joop foi-se incomodando cada vez mais com
o uso de agrotóxicos, que provocavam a intoxicação de trabalhadores, morte de animais, além da
contaminação do solo e dos rios. Preocupado com a saúde das pessoas, também ficou inconformado
com a ideia de jogar veneno nos alimentos. Inspirado em livros como “Small is Beautiful”, de Ernst
Friedrich Schumacher, na viagem à China e outros encontros inspiradores, Joop sentiu que realmente
era hora de mudar!

Tini e Joop em 2019 e Joop no jardim do Sítio

Sua esposa Tini percebeu a desigualdade social e buscou intervenções: juntos, inovaram, investiram
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esforços no sentido também da transformação social e encontraram na sustentabilidade social e


ambiental os caminhos para mudanças. Abandonaram uma estrutura financeiramente estável, familiares
e amigos para começar, junto com mais dois casais, uma nova vida. Nasceu assim, em 1981, um dos
sítios pioneiros de agricultura orgânica no Brasil: o Sítio A Boa Terra.

43
Por: José Maria Filho – Jornalista

Primeiro plantio de árvores e a casa onde se instalaram quando chegaram

Na área ambiental, começaram com uma horta orgânica com distribuição de cestas na região –
inicialmente indo de carroça e, depois, de carro com uma carretinha atrás. Ao mesmo tempo, deram
início a uma marcenaria de móveis feitos de madeira de eucalipto para evitar o uso de madeiras nobres
das florestas. Para obter esses eucaliptos para a marcenaria, plantaram um eucaliptal, que existe no
sítio até hoje.
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

Joop nos primeiros cultivos e a carroça utilizada nos primeiros tempos para distribuir a produção

44
Os 60+ da Agricultura Sustentável – Parte 1

Em 1985, formaram a ATRAI –


Associação dos Trabalhadores Rurais
de Itobi. Mais de sessenta famílias, na
maioria trabalhadores rurais, receberam,
cada uma, um hectare de terra no Sítio,
para cultivar seus próprios mantimentos e
vender o excedente para aumentar a renda
familiar. Produziam ao mesmo tempo que
continuavam o seu trabalho como diaristas
nas safras da região.
A ATRAI teve a terra em comodato até
o ano 2000, quando foi encerrada pelo fato
de o preço do arroz ter caído muito com as
Trabalhadores reunidos na ATAI
grandes plantações no Rio Grande do Sul,
tirando a lucratividade da produção em pequena escala.
A partir das reuniões da ATRAI surgiu a Associação dos Sem Casa de Itobi: 107 famílias construíram
suas casas em mutirão, inaugurando, em 1993, o Bairro da União em Itobi.

A transição do modelo agrícola convencional para o sustentável:


a agricultura orgânica

Para Joop, “a transição da atuação na agricultura


convencional para a orgânica não foi simples, pois estávamos
acostumados a operar com químicos para eliminar pragas e
ervas daninhas, mas, com efeitos colaterais danosos ao meio
ambiente, à saúde dos agricultores e para os consumidores,
era urgente a mudança”.
“Iniciamos com horta para consumo próprio e, aos poucos
desenvolvemos a produção, encontramos as parcerias
que nos proporcionaram assistência técnica para aumento
da produtividade, melhoria do solo e da qualidade doas
alimentos”.

Joop e Tião, colaborador do sítio há 25 anos

Comercialização

O Sítio A Boa Terra é referência no mercado de orgânicos: além do Joop e Tini, as filhas Violeta
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e Nicolette e mais 30 colaboradores desenvolvem uma agricultura sustentável, que cuida da saúde
humana e do meio ambiente, com práticas de sustentabilidade ambiental e social. “Hoje cultivamos
legumes, folhosos e temperos, tudo certificado orgânico, e contamos com os agricultores parceiros que
nos abastecem de outros alimentos como frutas, ovos, pois nosso principal modelo de comercialização
é de cestas que são entregues em domicílio, mas também vendemos para lojas em São Paulo, temos
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Por: José Maria Filho – Jornalista

nossa feira de orgânicos no Sítio, que funciona aos sábados das 7h às 12h, e outros modelos
de comercialização”.
O Sítio também é um ambiente utilizado pelos escolares para educação ambiental, onde eles têm
contato com a terra, cultivam e experimentam os alimentos orgânicos. “Temos grupos de alunos
constantes visitando o sítio, em ações pedagógicas. Também promovemos cursos modulares no sítio
para profissionais de saúde, enfermeiros e agentes de saúde, que saem do seu ambiente de trabalho,
a Policlínica da Prefeitura de Itobi, e fazem uma imersão no Sítio A Boa Terra, onde passam a ter
conhecimento para multiplicar no setor de saúde, num contexto de saúde integrativa“, diz Joop.
“A longevidade só é possível quando há uma sintonia entre os propósitos para sua vida e a do outro.
Essa energia positiva é transformadora, e a agricultura orgânica estrutura e organiza esse ambiente,
econômico, social e de bem-estar”, lembra.
Para ele, o convívio num ambiente sustentável, em harmonia com a natureza é o segredo da sua
longevidade. “Não me sinto livre no ambiente urbano: vou a São Paulo, mas só fico aliviado quando
entro na rodovia de volta a Itobi. Acordo às 6h da manhã, tomo meu suco verde, como minhas frutas;
no almoço priorizo um bom prato de salada com muitos vegetais verdes escuros, mas bem colorido,
antes de partir para o prato quente, também composto de alimentos sustentáveis. Faço a alimentação
complementar ao longo do dia e vou dormir em torno de 23h diariamente. A longevidade com qualidade
de vida só é possível quando se está em harmonia com a natureza, os animais, aves, abelhas, planta-se
num solo com energia vital, com sua microbiota preservada pela bactérias e fungos necessários para
termos um solo vivo, e que tudo isso beneficie as pessoas que estão com você, seja colaborando na
produção agrícola, seja os integrantes da comunidade local e consumidores”.
Joop enfatiza a importância de se investir em pesquisas científicas para potencializar ainda mais a
agricultura orgânica. “Precisamos de mais estudos que tragam condições técnicas para os agricultores
romperem os obstáculos que ainda temos na produção. Os técnicos precisam ter mais contato com
esse perfil agrícola para pensarem soluções de curto, médio e longo prazos que trabalhem a saúde do
solo, melhorem a produtividade, e que isso seja levado aos agricultores, que precisam de capacitação
para se consolidarem no campo com qualidade de vida”.
Saiba mais sobre o Sítio A Boa Terra em:
www.sitioaboaterra.com.br
Instagram: @aboaterra
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Os 60+ da Agricultura Sustentável – Parte 1

Sítio Pinhal, do produtor Zundi Murakami,


é destaque na cidade de São Paulo

O Sr. Zundi Murakami e, à direita, com a família

O Sr. Zundi, como carinhosamente é chamado, ganha pela empatia com o público. Com seu alto
astral, aos 79 anos ele está sempre presente na produção do sítio, que fica na região de Parelheiros,
zona sul de São Paulo, assim como nas feiras de orgânicos da capital paulista.
Nasceu em Embu das Artes, na grande São Paulo, em 21 de junho de 1940, e brinca: “No documento
nasci em 21 de junho de 1938, na época faziam mutirões para registrar as crianças. Ganhei 2 anos,
hahaha!”.
O Sr. Zundi é agricultor experiente, entusiasta e referência em produção de banana, em Parelheiros.
Foi comerciante, metalúrgico e, no Japão, onde residiu por 10 anos, atuou como intérprete. Atualmente,
o principal alimento que produz é a banana orgânica - aliás, toda sua produção é certificada orgânica.
Depois dessas experiências em outras atividades, em 2008 resolveu partir para aquilo de que gostava,
a agricultura, já que desde cedo conviveu no sítio dos pais, e optou pela agricultura familiar, orgânica
certificada. Ele possui 2 funcionários na produção e conta com a família: esposa, filha, filho e neto.
Murakami é pai de 3 filhas, 1 filho, tem 3 netas e 4 netos.

Longevidade
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Outros alimentos produzidos no Sítio Pinhal, do Sr. Zundi
Por: José Maria Filho – Jornalista

Sobre como chegar à longevidade com saúde e qualidade de vida, o agricultor tem uma receita
muita simples: o bom humor, sempre.
“Acredito estar tudo bem com a saúde, sem colesterol, sem diabetes. Minha alimentação diária é
completa: me alimento bem pela manhã, almoço e jantar, com muitas frutas, verduras e legumes”.
Brincando, complementa: “Preciso de um chocolate e chá a noite, levanto cedo e durmo bem”.
Sobre o trabalho, o Sr. Zundi diz: “Não falta, estou todos os dias aqui. Estar em harmonia com a
natureza traz o retorno naturalmente: plantar, cuidar, colher com amor, conservar com elas, faz toda
diferença”.
Outra dica simples e importante que o Sr. Zundi nos dá sobre a longevidade: “Fazer o que gosta é
o segredo, não esperar nada em troca, e sim o retorno natural da natureza”.
A banana é o carro-chefe da sua produção, mas outros alimentos também têm espaço no sítio,
como: mandioca, batata-doce, chuchu, feijão, abobrinha, abóbora Kabocha, tomate, açafrão-da-terra,
mandioquinha, inhame, milho, laranjas, limão, atemoia, pitaia, amoras, pupunha, ora-pro-nóbis.

A comercialização é feita especialmente nas feiras de orgânicos da capital paulista

Toda produção é voltada para a comercialização nas feiras orgânicas da capital, pois seu sítio é
associado da AAO – Associação de Agricultura Orgânica, onde comercializa às terças, aos sábados e
domingos. Vende também nas feiras de orgânicos da Prefeitura de São Paulo: às terças-feiras no Jardim
Anália Franco; às quartas na feira noturna na Vila Mariana; às quintas na Biodinâmica, em Santo Amaro;
aos sábados na Rua Curitiba, no Ibirapuera; e aos domingos nos shoppings Villa Lobos, Lar Center.

Bananal do Sítio Pinhal, em Parelheiros, zona Sul de São Paulo


Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

O Sr. Zundi não pensa em parar de trabalhar: “Tenho saúde, tento passar os conhecimentos para
eles (filhos e netos) absorverem. Não tenho como ensinar tudo: com os erros e acertos irão aprender. A
experiência é válida, estão pegando gosto pela agricultura, e isso me deixa feliz. Se vai ter continuidade
o tempo irá dizer - eu espero que sim”, finaliza.
Saiba mais sobe o Sítio Pinhal, o Sr. Zundi e sua família em: @murakamiorganicos

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Os 60+ da Agricultura Sustentável – Parte 1

Produtor Mitsu Hino, do Sítio Hino, em Botucatu

O Sítio Hino, localizado na Colônia Santa Marina, no bairro


Demétria, em Botucatu, é especializado na produção de caqui, maçã,
uva, lichia, banana prata e, em menor quantidade, batata-doce, batata
inglesa, cenoura, tudo produzido numa área de 20 hectares, com
certificação orgânica.
Foi fundado e é dirigido pelo Sr. Mitsu Hino, de 77 anos, nascido
em Ferraz de Vasconcelos, na grande São Paulo, no dia 3 de maio
de 1942.
Ele iniciou na agricultura sustentável em 2000. Ele, a esposa
Paula, de 65 anos, o filho Lucas e 1 funcionário são responsáveis pela
produção. Conta ainda com 4 parceiros, que fazem a distribuição e
colaboração.
A transição para a agricultura sustentável veio com muitas
dificuldades, diz Mitsu. “Tivemos que nos adaptar às novas técnicas
de cultivo, preparar o solo diferente, com o tempo que ele demanda,
ver o meio ambiente de outra forma, entender que todos os seres
O Sr. Mitsu na produção de caqui em vivos integram o meio ambiente e precisam estar conectados para
seu sítio em Botucatulo a orquestra fluir harmoniosamente. Além disso, muitas foram as
dificuldades junto ao consumidor, como a comercialização, entre outros obstáculos. Hoje comercializamos
os produtos para distribuidores que vendem em São Paulo: temos a Terra Frutas Orgânicas; a Luciana e o
Nil; fazemos duas feiras aqui em Botucatu, terças e sábados; e ainda comercializamos hortaliças, legumes
e banana para a alimentação escolar de Botucatu.

Sobre saúde , qualidade de vida e longevidade: a agricultura orgânica


é um organismo vivo
Para Mitsu, saúde e longevidade dependem muito de como se vê a vida, quais são seus objetivos,
mas o ambiente e a alimentação livre de químicos, produzidos de forma orgânica, é a receita. “Aposto
na agricultura orgânica porque ela é um organismo vivo, e, como tal, desde o solo, as aves, os animais,
os insetos e microrganismos de que o solo precisa ficam preservados. Eu não chegaria na idade que
estou tralhando na agricultura convencional, porque os primeiros a serem prejudicados com o uso dos
agrotóxicos são os que os manuseia, os trabalhadores”.
O Sítio recebe pequenos grupos para visitação, basta agendar previamente.
Mais informações sobre o Sítio Hino e sua produção e pontos de comercialização dos alimentos
podem ser obtidas pelos telefones: (14) 99744-5620 (Sr. Mitsu) e (14) 99639-1775 (Lucas).

Sítio São Pedro em Taubaté: três gerações na agricultura sustentável


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Vicente Locatelli e o filho Cláudio Locatelli, do Sítio S. Pedro em Taubaté, e à direita Vicente Locatelli
e o neto Ronaldo Locatelli
Por: José Maria Filho – Jornalista

Desde 1996 produzindo alimentos orgânicos certificados no Sítio São Pedro, em Taubaté, o Sr.
Vicente Locatelli, de 95 anos, é pai de 4 filhos, 9 netos e 7 bisnetos e acompanha a continuidade
do seu trabalho que é executado pelo filho Cláudio Locatelli de 64 anos, que tem 3 filhos e 3 netos,
sendo um dos filhos Tiago Locatelli, que cursa agronomia, além dos demais membros da família que
trabalham na propriedade, que no total são 5 pessoas.

Produção de couve-flor no Sítio São Pedro, em Taubaté

O sítio atua na olericultura (área da horticultura que abrange a exploração de hortaliças e que engloba
culturas folhosas, raízes, bulbos, tubérculos, frutos diversos e partes comestíveis de plantas), e produz
atualmente cerca de quarenta variedades de alimentos orgânicos, incluindo tomate, rúcula, cebolinha,
berinjela, couve-flor, entre outros que são comercializados na Feira Santa Terezinha, em Taubaté.
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

Tomate cereja da produção do Sítio São Pedro

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Os 60+ da Agricultura Sustentável – Parte 1

Berinjela e tomate cereja do Sítio São Pedro- Taubaté

Longevidade: precisa de vitalidade para chegar até lá e para fazer o que gosta

Tanto pai como filho são enfáticos ao afirmar que “a Longevidade está ao alcance de todos, basta fazer
o que se gosta e a agricultura sustentável nos traz a energia que precisamos para todo dia trabalharmos
a terra, fazermos a colheita quando chega a hora e levarmos alimentos saudáveis às pessoas”. Sobre
parar de trabalhar eles afirmam: “vamos até quando Deus nos dar saúde e coragem”.
Saiba mais sobre a produção da família Locatelli e o Sítio São Pedro, em Taubaté, pelos canais abaixo:
Celular: (12) 997950842
Whatsap: (12) 996571501
E-mail: locatellitiago335@gmail.com

A série Os 60+ da Agricultura Sustentável continua na próxima edição.

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Wagner Alessandro dos Reis

Drink Refrescante de
Melancia com Laranja e Hortelã

Ingredientes Modo de preparo


• 2 xícaras (chá) de melancia sem sementes picada • Bater no liquidificador todos os ingredientes
• 3 colheres (sopa) cheias de hortelã picada (exceto a água com gás). Colocar em uma taça
• 1 xícara (chá) de água de coco natural decorada com rodelas de laranja e folhas de
• Suco de duas laranjas grandes hortelã e completar com água com gás. Servir
• Açúcar demerara orgânico a gosto (se necessário) imediatamente com gelo.
• Água com gás o suficiente para completar a taça
Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

Rendimento
03 porções
(300ml)

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Drink Refrescante de Melancia com Laranja e Hortelã

Propriedades nutricionais da receita


• A melancia (Citrullus lanatus) é uma fruta consumida in natura ou na forma de suco, sendo sugerida,
em estudos, como altamente nutritiva para a reparação de estados metabólicos como diabetes,
aterosclerose e redução da pressão arterial1. Contém grandes quantidades de vitamina C e carotenoides
como β-criptoxantina, β-caroteno e licopeno, sendo este mais biodisponível em comparação com o
licopeno do tomate1,2. Ainda, contém citrulina, que participa do sistema de síntese de óxido nítrico em
seres humanos e exibe efeitos antioxidantes e vasodilatadores3.

• A laranja (Citrus sinensis) é uma fruta fonte de potássio, magnésio, cálcio, sódio, vitamina C, ácido
fólico, fibras dietéticas, carboidratos, peptídeos, ácidos graxos, fitoesteróis, cumarinas, compostos
voláteis (óleos essenciais) e flavonoides, como a naringenina, hesperetina e nobiletina4,5. Esses
flavonoides possuem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes, melhoram o perfil lipídico, função
endotelial e diminuem a pressão arterial6.

• Por sua ação antioxidante7, os flavonoides, juntamente com os carotenoides (principalmente o


β-caroteno), vitamina C, vitamina E, glutationa e coenzima Q10, podem auxiliar nos mecanismos de
fotoproteção cutânea, anulando os vários processos bioquímicos induzidos ou mediados pela radiação
solar ultravioleta (UV)8,9. No estudo de Heinrich et al.10, a suplementação por 12 semanas com 24mg/
dia de uma mistura de carotenoides (licopeno, β-caroteno e luteína) melhora o eritema induzido por
UV em humanos, sendo o efeito comparável ao tratamento diário com 24mg de β-caroteno isolado.

• A hortelã-pimenta (Mentha piperita L.) é uma erva popular que pode ser usada na forma de óleo,
extrato, tintura, infusão ou consumida in natura, associada a pratos salgados e doces e em sucos. Seus
óleos essenciais garantem um odor fresco e um sabor pungente seguido por uma sensação refrescante11.
Como propriedades medicinais incluem ações antitumorais, antimicrobianas e antioxidantes12. O óleo
essencial da hortelã-pimenta foi considerado como um tratamento alternativo eficaz, a curto prazo, da
síndrome do intestino irritável em humanos, cujo efeito é mediado por suas atividades antioxidantes
e anti-inflamatórias13.

• A água do coco, o endosperma líquido dos cocos verdes (Cocos nucifera L.), é composta por
aproximadamente 94% de água, além de carboidratos (sacarose, glicose e frutose), aminoácidos,
sódio, potássio, magnésio, fósforo, cloro e ácidos orgânicos14,15. É uma bebida consumida como uma
alternativa importante para a reidratação oral14, sendo indicada para tal pelo fato de apresentar uma
densidade semelhante à do plasma sanguíneo, pH favorável, presença de aminoácidos essenciais,
vitaminas do complexo B, ácido ascórbico e eletrólitos diversos16.

Referências bibliográficas

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Proinflammatory Metabolites in High-Fat-Fed Male C57BL/6 J Mice. J Nutr; pii: nxz267, 2019.
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temperature on watermelon juice quality. J. Sci. Food Agric; 93(15):3863-3869, 2013.
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nutritional properties: A review. Food Chem; 104(2):466-479, 2007.

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Wagner Alessandro dos Reis

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Molecular and Metabolic Effects. Plant Foods Hum Nutr; 68(1):1-10, 2013.
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repair mechanisms. Arch Dermatol Res; 302(2):71-83, 2010.
10. HEINRICH, U. et al. Supplementation with beta-carotene or a similar amount of mixed carotenoids protects humans
from UV-induced erythema. J Nutr; 133(1):98-101, 2003.
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and Improves Survival in Lipopolysaccharide-Treated Macrophages. J Immunol Res; 2017:2078794, 2017.
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Rev Bras Nutr Func; 45(80), 2019

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