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O Filsofo Do Pessimismo - Brev PDF
O Filsofo Do Pessimismo - Brev PDF
PENSAMENTO DE SCHOPENHAUER
"(...) por mais maciço e imenso que seja este mundo, sua existência
depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a
consciência em que aparece." (apud RODRIGUES TORRES FILHO, 1980).
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A COISA EM SI é um dos conceitos mais complicados da filosofia. A questão é
saber se existe alguma coisa em qualquer lugar ou mesmo se existe lugar ou
tempo sem a presença ou a existência de um ser, um sujeito capaz de perceber tais
COISAS, conhece-las, enfim, ter plena consciência delas. Kant acreditava que as
"coisas em-si", em pureza ontológica, de ser, são sempre inacessíveis ao
conhecimento humano. A consciência perceptiva produz representações referenciais
das coisas mas não é capaz de exatidão de conhecimento, porque tal exatidão
implicaria experiência objetiva do sujeito de deixar de ser sujeito para se confundir
no ser do próprio objeto de conhecimento. Em outras palavras, conhecer verdadeira
e inteiramente a realidade "ÁRVORE", por exemplo, exige a experiência subjetiva e
indizível de ser ÁRVORE, experiência cuja tradução ou representação em signos
quaisquer, é impossível.
Schopenhauer entende que não existem "COISAS", antes, existe UMA SÓ COISA
que determina a existência de todas as outras ou ainda, uma só fonte de onde
emanam todas as expressões objetivas de realidade. O próprio ser consciente, um
homem, por exemplo, é uma objetivação dessa COISA-FONTE-Única que o filósofo
identificou como sendo VONTADE. Mesmo o corpo humano seria uma objetivação
da vontade e a percepção física que temos de nós mesmos não se confunde com
aquele nós que percebe esse "nós mesmos".
Nesta situação, a única saída para uma existência humana suportável, tão
fortemente destinada ao sofrimento, seria o controle da Vontade Inferior através de
esforços que conduzam a uma Vontade Superior, esta, capaz de dominar os
desejos da consciência objetiva, do Ego. O primeiro passo seria a superação do
egoísmo, no sentido de entender o si mesmo como algo mais que a personalidade
condicionada pela cultura. As "vontades" meramente pessoais tentem a entrar em
conflito com as outras vontades pessoais que interagem na coexistência dos
homens. Para escapar aos sofrimentos dos desejos contínuos, o homem necessita
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superar sua individualidade renunciando às solicitações do mundo e dos instintos,
entregando-se aà realidade última que é o NADA - o nada querer, o nada desejar.
ESCRITOS
PARERGA E PARALIPÔMENA
capítulos V, VIII, XII e XIV
trechos selecionados
DEUS
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Contra o panteísmo,sustento principalmente que ele não diz nada. Chama Deus ao
Mundo não significa explicá-lo, mas apenas enriquecer a língua com um sinônimo
supérfluo da palavra Mundo (...) com isso não se diz nada, ou ao menos que se
explica ignotum per ignotius (o desconhcido pelo mais desconhecido). - p 185 |
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Estes panteístas conferem ao Sansara o nome Deus. Por outro lado, os místicos
dão o mesmo nome ao Nirvana. Deste, porém, contam mais do que podem saber:
o que não fazem os budistas; motivo porque seu Nirvana é precisamente um
relativo nada.
DIGNIDADE E COMPAIXÃO
Falando sobre ética, Shopenhauer assinala que a natureza humana não se distingue
pela dignidade, por um conjunto de valores morais mas pela compaixão.
Por isto desejo (...) estabelecer a seguinte regra: com cada pessoa com quem
tenhamos contato, não empreendamos uma valorização objetiva da mesma
conforme valor e dignidade,não consideremos portanto a maldade de sua vontade,
nem a limitação de seu entendimento, e a incorreção de seus conceitos (...) mas
observemos somente seus sofrimentos, suas necessidades, seu medo, suas dores.
Assim, sempre teremos com ela parentesco, simpatia, e, em lugardo ódio ou
dodesprezo, aquela compaixão que unicamente forma a agapé (amor), pregada
pelo evengelho. (p 189)
VÍCIO E VIRTUDE
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Neste trecho, observa-se a influência filosófico-religiosa oriental, em especial
a indiana, no pensamento de Schopenhauer. É uma influência que aparece com
freqüência, como, por exemplo, na apologia da libertação dos sofrimentos por meio
da aceitação do Nada e da anulação da personalidade. Sobre os budistas, comenta
que em sua busca de perfeição espiritual não atentam somente para as virtudes
mas enfatizam a necessidade de bem conhecer os vícios e as condutas
características que os identificam. O vício deve ser conhecido para ser superado.
AVAREZA E DESPERDÍCIO
Não é a avareza que constitui um vício, mas seu oposto, o desperdício (...)
limitação aimal ao presente (...) e repousa na ilusão de um valor positivo e real dos
prazeres dos sentidos. Assim, a miséria e a carência futuras são o preço com que o
esbanjador adquire estes prazeres vazios (...) Por isso deve-se fugir dele (do
esbanjador) como de um empesteadoe, descoberto seu vício, dele se afastar a
tempo, para que, quando mais tarde ocorrerem as conseqüências, não se tenha
que ajudar a sustentá-las (...) também não há por que esperar que aquele que
desperdiça futilmente sua própria fortuna, deixe intata a de um outro, apresentada
a suas suas mãos; mas sui profusus, alieni appetens (Tendo desperdiçado o
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seu, cobiça o de outrem), nos corretos dizeres de Salústio (...) Assim o
desperdícionão só conduz ao empobrecimento, mas, por intermédio deste, ao
crime: os criminosos das camadas abastadas quase todos assim se tornaram em
conseqüência do desperdício.(p 192)
SOBRE MALDADE
(...) mesmo o maior dos gênios é decididamente limitado numa esfera qualquer do
conhecimento, fundamentando assim seu parentesco com a espécie humana
essencialmente errada e absurda; assim, qualquer um possui algo de moralmente
mau, e mesmo o melhor e mais nobre caráter nos surpreenderá ocasionalmente
com traços isolados de maldade. (...) Pois justamente por forças deste seu
componente mau, deste princípio mau, foi obrigado a tornar-se homem. (p 194)
OS CÃES E A MASCARADA
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(...) a diferença entre as pessoas é inavariavelmente grande e muitos se
assustariam se vissem o outro tal como ele é efetivamente. (...) o véu do disfarce,
da falsidade, da dissimulação, da careta, da mentira e da fraude (...) sobre tudo se
estende (...) por trás de todas as virtuosas exterioridades. Daí provêm as
amizades quadrúpedes. Como suportaríamos a infinita dissimulação, falsidade e
malícia dos homens se não houvesse os cães, em cuja face honesta podemos mirar
sem desconfiança? Nosso mundo civilizado não passa de uma imensa
mascarada. Ali encontramos cavaleiros, padres, soldados, doutores, advogados,
sacerdotes, filósofos, e o que não mais! Porém estes não são o que representam:
são simples máscaras. (...)
INVEJA
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espírito para os homens, para esta inveja não há consolo ; nada mais lhe resta
senão odiar os assim privilegiados. (...) da sua escuridão, o invejoso lançara sobre
o invejado a censura, o escárnio, zombaria e calúnia, igual ao sapo que do interior
de um buraco lança o seu veneno. (p 198-199)
FATALIDADE DO SER
MAU CARÁTER
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Falando sobre o sofrimento da existência como ser humano, Schopenhauer
chama a atenção para o fato de que as dores físicas e emocionais impressionam
muito mais aos sentidos, entendimento e memória que os prazeres, estes, fugidios
e facilmente esquecidos.
[Por outro lado, o homem, porque pensa, porque reflete sobre si mesmo em
relação aos outros que o circundam ainda acumula necessidades geradas por
simples ambição, anseio de honras, além das dores causadas pelas situações que
produzem o sentimento de vergonha]
(...) a capacidade cognitiva superior (...) faz a vida do homem mais cheia de
sofrimento do que a vida do animal (...) o conheimento, por mais imperfeito, é o
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verdadeiro caráter da animalidade. Na medida em que sobre a escala da
animalidade, cresce proporcionalmente a dor. (...) nos animais mais inferiores,
ainda é bem restrita: por isto, p. ex., insetos que arrastam atrás desi o corpo
arrancado preso apenas por um fio, ainda são capazes de comer. Porém mesmo
nos animais mais superiores, ao lado da ausência de conceitos e do pensamento, a
dor ainda não se compara à experiência do homem. (... p 218 e 221)
A VIDA
Na infância, nos situamos frente ao curso futuro de nossa vida (...) Sorte
que não sabemos o que efetivamente virá. (...) Todos desejam para si uma idade
avançada, portanto, um estado em que a situação é: "Hoje está mal, e doravante,
o amanhã será pior até sobrevir o mal definitivo". (p 222)
DEUSES
Brama cria o mundo por meio de uma espécie de pecado original (...) mas
ele próprio permanece nele até sua expiação. Muito bem! No budismo, o mundo
surge em conseqüência de um turvamento inexplicável após uma paz duradoura,
na claridez celeste do estado de bem-aventurado do Nirvana. [Ou seja, no
budismo, segundo Schopenhauer, o mundo surge por uma espécie de fatalidade] ...
como conseqüência de falhas morais (...) se torna gradualmente pior até assumir o
triste aspecto do presente. Excelente! Para os gregos o mundo e os deuses eram
obra de uma necessidade misteriosa: isto é tolerável (...) Ormuzd vive em luta
contra Ahriman: perfeitamente admissível. Mas um tal deus Jeová, que animi
causa e de gaité de coeur (por própria vontade e livremente) produz este mundo
de necessidade e miséria, e feito isso ainda aplaude a si mesmo, com pánta kalá
lían ("Todas as coisas são realmente belas"), isto é INTOLERÁVEL! (...) contra uma
tal visão do mundo como da obra bem sucedida de um ser onisciente, de bondade
infinita e ao mesmo tempo onipotente, clama demasiado forte, de um lado a
miséria, de que está pleno este mundo, e de outro a visível imperfeição e mesmo a
distorção burlesca do mais perfeito de seus fenômenos, o humano. Aqui repousa
uma dissonância insolúvel.
O MUNDO
(...) para a orientação na vida (...) nada se presta melhor do que o hábito
de considerar este mundo como local de penitência, (...) Como instituição penal, a
penal colony, (...) concepção esta que também encontra sua justificativa teórica e
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objetiva não somente na minha filosofia, mas na sabedoria de todas as épocas, ou
seja, no bramanismo, no budismo, em Empédocles e Pitágoras; como também
Cícero afirma (em Fragmenta de Philosophia), que ensinavam os antigos sábios,
por ocasião da iniciação nos mistérios: Nos ob aliqua scelera suscepta in vita
superiore, poenarum luendarum causa natus esse (Nascemos para expiar as
penas de alguns crimes contraídos na vida anterior). (...) Mesmo no cristianismo
genuíno e bem compreendido, nossa existência é concebida como conseqüência de
uma culpa, um passo em falso. (...) Partindo desse ponto de vista, poder-se-ia
pensar que o tratamento apropriado entre os homens, em lugar de Monsieur, Sir,
etc,. deveria ser "companheiro de infortúnio", compagnos de misères, my fellow-
sufferer. Por mais estranho que possa parecer, corresponde à coisa, lança sobre o
outro a luz apropriada e recorda o necessário, a tolerância, paciência, piedade,
amor ao próximo. (... p 225)
SEXO
CELIBATO E CLAUSURA
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(...) aqueles que consideravam com seriedade sua salvação eterna,
escolheram a pobreza de livre vontade quando o destino não a proporcionara.
Assim como Buda Schakya Muni, que, nascido príncipe, voluntariamente adotou o
bastão da mendicância; e o fundador da ordem mendicante, Francisco de Assis, que
como jovem nobre, no baile em que se apresentavam as filhas dos notáveis, e
questionado: "E então, Sr. Francisco, não ireis brevemente eleger alguma entre
essas belas?" - retrucou, "Elegi para mim umamuito mais bela: La Porvetá (A
Pobreza). (p 233)
BIBLIOGRAFIA
SCHOPENHAUER, Arthur. Parerga e Paralipômena In Coletânea de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
[col. Os pensadores]
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