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Uma das formas mais deslumbrantes do Senhor Krsna é a de Sri Nrsimhadeva, Sua
encarnação como meio homem meio leão. O Senhor Nrsimha aparece para proteger Seu
devoto Sri Prahlada Maharaja do ateísta rei Hiranyakasipu, o próprio pai de Prahlada.
No ventre de sua mãe, enquanto ela permanecia no asrama de Narada Muni, Prahlada
ouviu os tópicos transcendentais concernentes às glorias do Senhor, refugiou-se no
infalível abrigo dos pés de Krsna, e se tornou completamente destemido.
Posteriormente, embora fosse apenas uma criança de cinco anos, possuía firme fé na
proteção do Senhor, e invocou essa mesma devoção pura ao Senhor no coração de seus
colegas de sala da escola ateísta de Sukracarya, o guru dos daityas, ou ateístas
descendentes de Diti. Muito enraivecido pela indesviável devoção de seu filho por seu
pior inimigo – o Senhor Visnu, a forma de quatro braços do Senhor Krsna –
Hiranyakasipu sentenciou Prahlada à morte. Os servos de Hiranyakasipu tentaram de
tudo para matar Prahlada. Tentaram matá-lo por fome, por envenenamento, rogando-lhe
maldições, assombrando-o com demônios e fantasmas, mandando um elefante pisoteá-
lo, prendendo-o com cobras venenosas, arremessando-o de altas montanhas e o
atacando com pedras, fogo e gelo. Apesar de todos os esforços de Hiranyakasipu,
Prahlada permanecia intocado, o que fez a ira daquele rei demoníaco crescer ainda mais.
O Senhor, de fato, nunca demonstra parcialidade para com alguém: samo 'ham sarva-
bhuteshu na me dveshyo 'sti na priyah (Bhagavad-gita 9.29). Ele simplesmente
reciproca cada entidade viva de acordou com seus desejos individuais. O Senhor Krsna
diz no Bhagavad-gita (4.11):
Para vingar a morte de seu irmão, o poderoso daitya Hiranyakasipu prometeu satisfazer
a alma de seu irmão derramando o sangue de Visnu. Para obter o poder e imortalidade
que precisava, executou penitências humanamente impossíveis, através das quais obteve
favores do senhor Brahma, o criador do universo. Hiranyakasipu pensou que poderia se
tornar Deus através de suas austeridades e penitências pessoais. Ele tolamente concluiu
que, uma vez que o Senhor Visnu estava favorecendo os semideuses, Ele também era
uma alma condicionada comum (influenciada por atração e rejeição) que havia se
tornado Deus através de austeridades. Essa mentalidade é própria dos filósofos
Mayavadis, que dizem que cada alma é Deus iludido por maya e, uma vez que a ilusão
seja dissipada, a alma novamente realiza sua identidade como Deus. Essa teoria,
todavia, é inaceitável quando consideramos a supremacia do Senhor Krsna, a Suprema
Personalidade de Deus, como Ele estabelece no Bhagavad-gita (9.10):
mayadhyakshena prakritih
suyate sa-caracaram
hetunanena kaunteya
jagad viparivartate
"Esta natureza material, que é uma de Minhas energias, funciona sob Minha direção, ó
filho de Kunti, produzindo todos os seres, móveis e inertes. Sob sua ordem, esta
manifestação é criada e aniquilada repetidas vezes". A energia material, maya, é uma
das diversas potências do Senhor Supremo. Sendo maya completamente submissa ao
Senhor, não há nenhuma possibilidade do Senhor Supremo e Absoluto ser controlado
por sua influência. As entidades vivas, todavia, uma vez que são partes diminutas do
Senhor, podem ser iludidas. A teoria Mayavada, de que após a liberação a alma se funde
em Deus, é refutada no Bhagavad-gita (15.7, 2.12), onde Krsna declara que todas as
almas jivas são Suas partes eternas, sendo sempre individuais.
Assim como os Mayavadis mantêm a falsa teoria de que uma alma pode se tornar Deus
através de um pouco de penitências, Hiranyakasipu considerava que poderia se tornar
invencível e vencer o Senhor Visnu com seus poderes. Mas Prahlada desafiava seu
poder.
O arrogante Hiranyakasipu rogou-lhe pragas e inquiriu: "De onde você tira forças para
desafiar minha supremacia?".
"O Senhor Visnu é a fonte de minhas forças", respondeu o destemido Prahlada. "Ele é a
origem da força de todos, inclusive da sua".
Ouvir que sua força era produto da graça de Visnu, seu pior inimigo, foi o pior dos
insultos para Hiranyakasipu, que desafiou Prahlada: "Maldito Prahlada, você está
sempre falando sobre um supremo controlador onipresente superior a mim. Se ele está
em todo o lugar, por que, então, Ele não está presente diante de mim neste pilar? Se ele
não aparecer deste pilar, separarei, hoje, sua cabeça de seu corpo com minha espada".
Com essas palavras, Hiranyakasipu golpeou o pilar, do qual ouviu-se um som tão alto
que parecia que a cobertura do universo seria destruída. [Veja a seção extra ao fim
"Como Prahlada Sabia que o Senhor Nrsimha Iria Protegê-lo"].
Para comprovar a afirmação de Seu devoto Prahlada, o Senhor Supremo apareceu do
pilar em uma forma jamais vista, uma forma que não era nem homem, nem leão: a
forma de Sri Nrsimhadeva.
Embora Hiranyakasipu parecesse uma mariposa entrando no fogo quando foi atacar o
Senhor Nrsimha, ele ridiculamente pensou que poderia derrotar o Senhor como fizera
anteriormente com seus demais inimigos. Anteriormente, quando seu irmão fora morto,
Hiranyakasipu, irado, se dirigiu para a residência do Senhor com um tridente em mãos.
O Senhor então desapareceu entrando na narina de Hiranyakasipu. Não conseguindo
achá-lO, Hiranyakasipu considerou que Deus estava morto.
Agora, Hiranyakasipu confrontava o Senhor, que brincou com ele da mesma forma que
um gato brinca com um rato. Quando o sol começou a se pôr, o Senhor Nrsimha
colocou Hiranyakasipu em Seu colo e enterrou Suas garras no torso do demônio.
O daitya exclamou: "Como isso é possível? Meu corpo que está sendo rasgado agora
por Nrsimhadeva é o mesmo corpo que quebrou as presas de Airavata, o elefante de
Indra; é o mesmo corpo que não sofreu nenhum ferimento, mesmo após ter sido
golpeado pelo machado do senhor Shiva". (Nrsimha Purana 44.30)
Como outro aspecto de Sua peça divina, o Senhor de repente se surpreendeu ao ver que
o corpo de Hiranyakasipu havia desaparecido. Quando balançou Suas mãos, todavia, os
pedaços mutilados do corpo de Hiranyakasipu caíram de Suas unhas no chão (Nrsimha
Purana 44.32-35). Assim, entendemos que Hiranyakasipu era apenas um insignificante
inseto se comparado com o leão transcendental, o Senhor Nrsimhadeva, como confirma
Jayadeva Gosvami:
nem por homem nem por animal (o Senhor Nrsimha é meio homem, meio leão)
nem por nenhum semideus, demônio ou serpente divina (o Senhor está acima de todas
essas categorias)
Por fim, Hiranyakasipu não poderia ser morto por nenhuma entidade viva, criada ou não
criada por Brahma. Hiranyakasipu teve o cuidado de garantir que também não seria
morto pelo senhor Brahma, pelo senhor Shiva ou pelo Senhor Visnu, as três deidades
que presidem o universo (as três únicas personalidades que não foram criadas por
Brahma). O Senhor Nrsimha é um lila-avatara, ou encarnação de passatempo do
Senhor Krsna, e não está na categoria que inclui Brahma, Shiva e Visnu, que são guna-
avataras, deidades com o encargo dos três modos da natureza material.
(extra)
Narada e seu amigo Parvata Muni assumiram, então, a forma de dois pássaros e voaram
para o local onde Hiranyakasipu estava em profunda meditação. Lá, eles recitaram três
vezes o mantra om namo narayanaya. Ao ouvir o nome de seu inimigo Narayana, ou
Visnu, Hiranyakasipu atirou uma flecha para matar os pássaros, mas os sábios voaram
para longe.
Ao reaver seus sentidos, Prahlada orou a Varuna: "Ó senhor do oceano, és muito
afortunado, pois sempre vês o Senhor Visnu, que repousa em uma cama de serpente
sobre tuas águas. Por favor, instrui-me a como vê-lO pessoalmente, bem diante de meus
olhos".
Varuna respondeu: "Querido Prahlada, ó melhor dos yogis, simplesmente ora a Ele em
meditação profunda, e o Senhor, que é o benquerente de Seus devotos, certamente
aparecerá diante de ti".
Então, o Senhor Visnu apareceu ali e levantou Prahlada, colocando-o em Seu colo.
Despertado pelas afáveis mãos do Senhor, Prahlada estava com medo, surpreso e
satisfeito por ver o Senhor, e novamente desmaiou em profundo êxtase. O Senhor
abraçou Prahlada, e quando Prahlada recobrou sua consciência, ofereceu reverência no
chão para o Senhor, mas não conseguiu oferecer-Lhe orações.
O Senhor o levantou do chão e disse: "Querido filho, abandone esse medo de Minha
grandeza, pois não Me há ninguém mais querido do que você. Por favor, peça-Me
qualquer coisa que deseje do fundo de seu coração".
Prahlada respondeu: "Meu Senhor, tudo o que desejo é contemplar o néctar de Sua
forma divina, que é raramente vista mesmo pelos mais grandiosos semideuses".
Quando o Senhor insistiu que Prahlada Lhe pedisse uma benção, o grande santo pediu
unicamente devoção imaculada e exclusiva por Ele.
Após abençoar Prahlada dizendo que teria tudo o que desejasse e desfrutaria de todos os
prazeres, o Senhor disse: "Não fique ansioso por Meu desaparecimento, pois Eu nunca
deixo o seu coração. Muito em breve você Me verá novamente, quando, para matar
Hiranyakasipu, Eu aparecerei na forma de Nrsimha – querida pelos santos e mortal para
os ateístas".
O Senhor Nrsimhadeva respondeu: "Prahlada, em sua vida anterior você foi um indigno
filho de um brahmana. Rejeitando as escrituras Védicas, você era extremamente
apegado a diversas atividades pecaminosas. Simplesmente por observar completo jejum
– de alimentos e de água – no auspicioso dia de Meu aparecimento, o Sri Nrsimha
Caturdashi, você obteve o serviço devocional puro por Mim. E todo aquele que observa
esse jejum, Eu lhe garanto eterna bem-aventurança, desfrute e liberação".
O Senhor Nrsimha é uma forma eterna do Senhor que aparece em diversos universos em
diferentes momentos para executar Seus passatempos divinos. Seu Nrsimha Caturdashi,
o décimo quarto dia lunar da lua crescente do mês de Madhusudana, é, portanto,
eternamente um dia sagrado, no qual Seus devotos jejuam a fim de glorificarem o
aparecimento transcendental do Senhor.
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)