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OCEANO

DO LESTE
Bhagavad-Bhakti-Bheda:
Variedades do Serviço Devocional
Primeira Onda: Sāmānya-Bhakti – Visão Geral do Serviço Devocional
Introdução–Capítulo 1 de O Néctar da Devoção
Segunda Onda: Sādhana-Bhakti – Serviço Devocional na Prática
Capítulos 2–16 de O Néctar da Devoção
Terceira Onda: Bhāva-Bhakti – Serviço Devocional em Êxtase
Capítulos 17-18 de O Néctar da Devoção
Quarta Onda: Prema-Bhakti – Serviço Devocional em Amor por Deus
Capítulo 19 de O Néctar da Devoção
OCEANO DO LESTE:
PRIMEIRA ONDA
____________________________________
Sāmānya-Bhakti:
Introdução–Capítulo 1 de O Néctar da Devoção
Análise da
INTRODUÇÃO de
O NÉCTAR DA DEVOÇÃO
BRS I. I. I – 16

A Introdução de O Néctar da Devoção inclui três tópicos: (1) o maṅgalācaranam do Bhakti-


rasāmṛta-sindhu; (2) uma breve descrição do conteúdo do livro; e (3) uma definição autorizada do serviço
devocional puro.

MAṄGALĀCARANA
Um maṅgalācarana é uma invocação auspiciosa. Portanto, as primeiras palavras de Śrīla
Prabhupāda na Introdução são “invocando auspiciosidade”. (NOD p. xix)

Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica que um maṅgalācarana cumpre três propósitos: (1) definir o
objetivo do livro; (2) permitir que o autor ofereça suas reverências; e (3) oferecer bênçãos. 9

Os seis primeiros versos do Bhakti-rasāmṛta-sindhu constituem o maṅgalācarana de Śrīla Rūpa


Gosvāmī.

O Primeiro Verso
O Primeiro Parágrafo da Introdução

O primeiro verso do Bhakti-rasāmṛta-sindhu define o objetivo do livro: o Senhor Śrī Kṛṣṇa. Ele é a
Suprema Personalidade de Deus porque Ele é o reservatório de todas as rasas (akhila-rasāmṛta-mūrtiḥ).
Śrīla Prabhupāda traduz este verso no Caitanya-caritāmṛta:

akhila-rasāmṛta-mūrtiḥ
prasṛmara-ruci-ruddha-tāraka-pāliḥ
kalita-śyāmā-lalito
rādhā-preyān vidhur jayati

“Que Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, seja glorificado! Em virtude de Seus crescentes
aspectos atrativos, Ele subjugou as gopīs chamadas Tārakā e Pāli e absorveu Śyāmā e Lalitā. Ele é o
atraentíssimo amante de Śrīmatī Rādhārāṇī e é o reservatório de prazer para todas as doçuras
devocionais”. (Cc. Madhya 8.142)

Kṛṣṇa – Reservatório de todas as Rasas

A característica suprema de Kṛṣṇa é Sua personalidade todo-amável, e não Sua posição de


majestade e autoridade. No Caitanya-caritāmṛta, Śrīla Prabhupāda explica este ponto, comparando o
Senhor Nārāyaṇa a um juiz da alta-corte. O juiz é uma figura majestosa e poderosa na corte, mas apenas na
privacidade de seu próprio lar podemos ver a expressão de sua personalidade plena. Em casa, o juiz revela
sua natureza íntima e doce: com seus pais ele é obediente e verdadeiro, com seus amigos ele é confidente e
jovial, e com sua esposa ele é um amante apaixonado.

Similarmente, quando o Senhor Nārāyaṇa executa sua função criativa de Deus, ele revela apenas
Sua majestade e poder. Em casa, Vṛndāvana, contudo, floresce a plenitude de Sua personalidade
maravilhosamente doce. Por conseguinte, Śrīla Rūpa Gosvāmī se dirige a Vṛndāvana-Kṛṣṇa como akhila-
rasāmṛta-murti, e O distingue como o objetivo único do Bhakti-rasāmṛta-sindhu.10
Kṛṣṇa – Aquele que Atrai as Gopīs

“...Através de Suas características universais e atrativas transcendentais Ele cativou todas as gopīs,
lideradas por Tārikā, Pālikā, Śyāmā, Lalitā e finalmente por Śrīmatī Rādhārāṇī.” (NOD, p. xix)

Śrīla Rūpa Gosvāmī agrupa estas cinco diferentes gopīs de acordo com a intensidade de sua afeição
por Kṛṣṇa: Tārakā e Pālikā, Śyāmā e Lalitā e Śrīmatī Rādhārāṇī. Por meio de suas características
radiantemente atrativas, Kṛṣṇa subjuga Tārakā e Pālikā isto é, Ele as controla. Ele atrai Śyāmā e Lalitā,
conduzindo-as para o Seu círculo interno. Śrīmatī Rādhārāṇī é a mais querida de Kṛṣṇa. Ele Se torna o
amante submisso dEla (rādhā-preyān). Tal é o poder incomparável de Sua devoção.11

Kṛṣṇa, o amante de Śrīmatī Rādhārāṇī e o reservatório de todas as rasas, é o objeto e meta do


Bhakti-rasāmṛta-sindhu.

O Segundo Verso
Segundo Parágrafo
hṛdi yasya preraṇayā
pravartito ´ham varāka-rūpo ´pi
tasya hareḥ pada-kamalaṁ-
vande caitanya-devasya

“Embora eu seja o mais baixo dos homens e não tenha conhecimento algum, foi-me
misericordiosamente outorgada a inspiração para escrever textos transcendentais sobre o serviço
devocional. Portanto, presto minhas reverências aos pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu, a Suprema
Personalidade de Deus, que me deu a oportunidade de escrever estes livros.” (Cc. Madhya 19.134)

Śrīla Rūpa Gosvāmī oferece reverências a Śrī Caitanya Mahāprabhu, que o ensinou pessoalmente a
ciência de bhakti-rasa, e o inspirou a escrever o Bhakti-rasāmṛta-sindhu. Śrīla Prabhupāda foi instruído em
consciência de Kṛṣṇa por seu próprio mestre espiritual. Assim, O Néctar da Devoção foi inspirado mais
diretamente por Śrīla Bhaktisiddhānta Gosvāmī e Śrīla Rūpa Gosvāmī, o autor original. Por consequência,
ele adapta seu sumário de forma que este verso ofereça reverências a eles.

“Que eu ofereça minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de Śrīla Rūpa Gosvāmī e de Śrīla
Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Prabhupāda, por cuja inspiração eu me envolvi na tarefa de compilar
este estudo resumido do Bhakti-rasāmṛta-sindhu.” (NOD, p. xix)

Mantendo-se próximo do texto original, Śrīla Prabhupāda afirma, “Esta é a sublime ciência do
serviço devocional como proposta por Śrī Caitanya Mahāprabhu, que apareceu quinhentos anos atrás na
Bengala ocidental, Índia, para propagar o movimento da consciência de Kṛṣṇa.” (NOD, p. xix)

O Terceiro Verso
Terceiro Parágrafo

Aqui Śrīla Rūpa Gosvāmī oferece reverências ao seu guru, declarando que o único propósito do
Bhakti-rasāmṛta-sindhu é agradá-lo.

Śrīla Prabhupāda ofereceu reverências ao seu mestre espiritual no parágrafo anterior, assim ele
traduz este verso na terceira pessoa: “ Śrīla Rūpa Gosvāmī começa seu grande livro oferecendo suas
respeitosas reverências a Śrī Sanātana Gosvāmī, que é seu irmão mais velho e mestre espiritual, e ele ora
para que o Bhakti-rasāmṛta-sindhu possa ser muito agradável para ele.” (NOD, p. xix)12
O Quarto Verso
Quarto Parágrafo

“Ofereçamos nossas respeitosas reverências a todos os grandes devotos e acāryās (instrutores


santos), os quais são comparados a tubarões no grande oceano de néctar e que não se importam com os
vários rios da liberação.” (NOD, p. xix)
Śrīla Rūpa Gosvāmī utiliza a analogia do tubarão para glorificar os devotos de três maneiras: (1) os
tubarões vivem unicamente no oceano; (2) os tubarões rejeitam os rios; e (3) os tubarões jamais são
capturados pela rede do pescador.

Os Tubarões Vivem Apenas no Oceano.

Os tubarões se recusam a residir em qualquer corpo de água menor. Analogamente, os devotos


estão sempre desfrutando do oceano nectário de devoção, e nunca são atraídos aos prazeres menores.

Os Tubarões Rejeitam os Rios.

Os impersonalistas argumentam que a meta última da auto-realização é se fundir com o Supremo,


como um rio, por último, se funde com o oceano. “Os impersonalistas apreciam muito a fusão com o
Supremo, como os rios que deságuam e se fundem no oceano”. (NOD, p. xix)

A falha no argumento deles é que eles não conseguem distinguir precisamente o caminho da auto-
realização da pessoa que o pratica. Se o caminho da auto-realização é como um rio, então a pessoa naquele
caminho é como um peixe no rio, e não o próprio rio. O rio pode se fundir com o oceano, mas não o peixe
que está no rio. Eles penetram no oceano e experimentam suas variegadas formas e seres.

Śrīla Prabhupāda explica, “Os impersonalistas habitam na água do rio, o qual, finalmente, se
mistura com o oceano. Entretanto, eles não dispõem de informação de que no interior do oceano, como no
interior do rio, existem inumeráveis entidades vivas aquáticas.” (NOD, p. xix)

A meta real da auto-realização não é a fusão com o Supremo, mas o ingresso no reino do Supremo,
o qual é pleno de incontáveis formas e entidades. Tendo já alcançado este destino, os devotos jamais
adotam qualquer outro processo de auto-realização que não seja bhakti. “Os tubarões que habitam no
oceano não se importam com os rios que estão desaguando nele... [Eles] não têm nada a ver com outros
processos, que são comparados aos rios que apenas gradualmente chegam ao oceano”. (NOD, p. xix-xx)

Os Tubarões Nunca são Apanhados pela Rede do Pescador

Visto que os devotos nadam na profundidade do oceano do serviço devocional, eles jamais são
apanhados na rede do pescador – as garras de nascimento e morte.

O Quinto Verso
Quinto Parágrafo

Śrīla Rūpa Gosvāmī invoca uma bênção para a proteção do Bhakti-rasāmṛta-sindhu contra os
lógicos argumentadores. “Ele compara a lógica e os argumentos deles às erupções vulcânicas no meio do
oceano. No meio do oceano, as erupções vulcânicas podem causar danos diminutos e, similarmente,
aqueles que são adversos ao serviço devocional do Senhor, e propõem muitas teses filosóficas acerca da
realização transcendental última, não podem perturbar este grande oceano do serviço devocional.” (NOD,
p. xx)
Śrīla Rūpa Gosvāmī concede suas bênçãos mencionando que as pessoas as quais lêem este livro
tornar-se-ão livres das concepções errôneas dos impersonalistas.
O Sexto Verso
Sexto Parágrafo

No verso dois, Śrīla Rūpa Gosvāmī expressa seus humildes sentimentos, e atribui a inspiração para
escrever o Bhakti-rasāmṛta-sindhu a Śrī Caitanya Mahāprabhu. No sexto verso, ele novamente descreve a si
mesmo como incompetente.

Śrīla Prabhupāda resume a humildade de Śrīla Rūpa Gosvāmī e afirma que este é o humor
apropriado de um pregador: “Esta deve ser a atitude de todos os pregadores do movimento para a
consciência de Kṛṣṇa, os quais seguem os passos de Śrīla Rūpa Gosvāmī. Jamais devemos considerar a nós
mesmos como grandes pregadores, porém devemos sempre considerar que somos simplesmente
instrumentos para os acāryās anteriores, e meramente por seguirmos seus passos poderemos fazer algo
para o benefício da humanidade sofredora.” (NOD, p. xx)

Śrīla Rūpa Gosvāmī explica que sua avidez para escrever o Bhakti-rasāmṛta-sindhu brota do desejo
de satisfazer os devotos. Dessa forma, ele abençoa aqueles que leiam seu livro a alcançarem felicidade
transcendental.

CONTEÚDO DO
BHAKTI-RASAMRTA-SINDHU
Sétimo Parágrafo, Versos 7-9

“Originalmente, no Bhakti-rasāmṛta-sindhu, o oceano é dividido como o oceano de água em leste,


sul, oeste e norte, enquanto que as subseções dessas diferentes divisões são chamadas de ondas. Na
primeira parte há quatro ondas, sendo a primeira uma descrição geral do serviço devocional. A segunda
diz respeito aos princípios reguladores para a execução do serviço devocional, e a terceira onda, o serviço
devocional em êxtase. Na quarta onda se encontra a meta última, amor a Deus.” (NOD, p. xx)

Bhakti-rasāmṛta-sindhu
O Oceano do Néctar da Devoção
LADO LESTE LADO SUL LADO OESTE LADO NORTE
Variedades de Bhakti Visão Geral das Rasas Rasas Primárias Rasas Secundárias

1. Visão Geral de Devoção 1. Vibhāva 1. Neutralidade 1. Riso


2. Serv. Dev. na Prática 2. Anubhāva 2. Servidão 2. Maravilhamento
3. Serv. Dev. em Êxtase 3. Sāttvika-bhāva 3. Amizade 3. Cavalheirismo
4. Serv. Dev. em Amor por Deus 4. Vyabhicāri-bhāva 4. Paternidade 4. Compaixão
5. Sthāyi-bhāva 5. Conjugal 5. Ira
6. Medo
7. Horror
8. Mistura de doçuras
9. Distorção de doçuras

DEFINIÇÃO DO
SERVIÇO DEVOCIONAL PURO
A partir do início da página xxi de O Néctar de Devoção, Śrīla Prabhupāda começa a traduzir e explicar a
definição de uttamā-bhakti, serviço devocional puro. Este é o verso mais importante no Bhakti-rasāmṛta-
sindhu:13
anyābhilāṣitā-śūnyaṁ
jñāna-karmādy-anāvṛtam
ānukūlyena kṛṣṇānu-
śīlanaṁ bhaktir uttamā

“Quando o serviço devocional de primeira classe se desenvolve, a pessoa deve estar isenta de todos os
desejos materiais, conhecimento obtido por meio de filosofia monística, e ações fruitivas. O devoto deve
constantemente servir a Kṛṣṇa favoravelmente, como Kṛṣṇa deseja.” (Cc. Madhya 19.167)

Em outras palavras, o serviço devocional puro é a atividade com a intenção de agradar Kṛṣṇa sem
motivo ulterior, e não é coberto por especulações filosóficas ou desejos fruitivos.

Svarūpa-Lakṣana – Características Primárias14

Em O Néctar de Devoção, Śrīla Prabhupāda traduz as características primárias do serviço devocional


puro: “O serviço devocional de primeira classe é conhecido pela tendência que a pessoa possui de estar
completamente ocupado em consciência de Kṛṣṇa, servindo ao Senhor de forma favorável.” (NOD, p.xxi)

Existem três características primárias: (1) serviço devocional é para Kṛṣṇa; (2) serviço devocional é
uma ocupação ativa; e (3) serviço devocional é executado com a intenção favorável.

Kṛṣṇa – Serviço Devocional é para Kṛṣṇa

O serviço devocional puro é para Kṛṣṇa, e não para qualquer outra pessoa. De todas as características
primárias, esta é a mais essencial.

Pode parecer um muito exclusivismo se afirmar que a devoção é apenas para Kṛṣṇa e para nenhuma
outra pessoa. E as pessoas que estão em nossa volta, não podemos amá-las também?

Nós podemos amar apenas Kṛṣṇa, porém Kṛṣṇa não é uma pessoa comum. “Ao falarmos de ‘ Kṛṣṇa’, nos
referimos à Suprema Personalidade de Deus, juntamente com Suas variadas expansões.” (NOD, p.xxiii) Em
outras palavras, Kṛṣṇa e suas expansões são os recipientes adequados de nossa devoção pura.

Śrīla Prabhupāda explica “variadas expansões”: “Ele se expande em Suas partes e expansões plenárias,
Suas partes e expansões diferenciadas, e Suas diferentes energias.” (NOD, p. xxiii)

“Partes e expansões plenárias” se referem a todas as expansões e encarnações de Deus, tais como “...
Baladeva, Saṅkarṣaṇa, Vāsudeva, Aniruddha, Pradyumna, Rāma, Nṛsiṁha e Varāha, bem como muitas outras
encarnações e inumeráveis expansões de Viṣṇu.” (NOD, p.xxiii) “Partes e expansões diferenciadas” se referem
às entidades vivas. “Diferentes energias” se referem aos mundos material e espiritual.

Essas três categorias incluem tudo que existe. “ ‘ Kṛṣṇa’, em outras palavras, significa tudo e inclui tudo.”
(NOD, p. xxiii)

De modo óbvio, é inteiramente inclusivo se afirmar que qualquer coisa e tudo seja um recipiente válido
do serviço devocional puro. Portanto, Śrīla Prabhupāda explana, “Todavia, de forma geral, devemos
compreender Kṛṣṇa como sendo Kṛṣṇa e Suas expansões pessoais... Assim, Kṛṣṇa inclui todas essas expansões,
bem como seus devotos puros.” (NOD, p. xxiii) Dois parágrafos à frente, Śrīla Prabhupāda também inclui a
parafernália de Kṛṣṇa e Sua morada transcendental como objetos genuínos da afeição amorosa pura do devoto.

A conclusão: Kṛṣṇa é o alvo singular da devoção pura. Como consequência desse amor unidirecional
para Kṛṣṇa, a pessoa ama tudo relacionado diretamente com Ele.

Isso não é todo exclusivo nem todo inclusivo.


Anuśīlanaṁ – Serviço Devocional é uma Ocupação Ativa

A devoção pura é a atividade de se oferecer serviço amoroso a Kṛṣṇa. “A palavra específica empregada
por Śrīla Rūpa Gosvāmī neste contexto é anuśīlana, ou o cultivo por se seguir os instrutores predecessores
(acāryās). Ao dizermos ‘cultivo’, nos referimos a atividade. Sem atividade, a consciência sozinha não nos pode
ajudar.” (NOD, p.xxi)

Śrīla Prabhupāda explica que existem dois aspectos de anuśīlana: (1) pravṛtti, excecução de
atividades que são favoráveis à consciência de Kṛṣṇa; e (2) nivṛtti, evitação de atividades desfavoráveis à
consciência de Kṛṣṇa. Podemos realizar ambos pravṛtti e nivṛtti com o corpo, mente e palavras (ver NOD,
p.xxi).

Kṛṣṇa-Anu-Śīlanaṁ

O serviço devocional só é possível pela misericórdia de Kṛṣṇa e de Seus devotos. Sem a assistência
da sucessão discipular, śīlanam não pode se conectar com Kṛṣṇa. Portanto, o prefixo anu (“aquele que
segue”) conecta śīlanam a kṛṣṇa.

Aqueles que seguem Kṛṣṇa formam o guru-paramparā. Realizamos atividades devocionais


seguindo um mestre espiritual, o qual ele mesmo está seguindo o guru-paramparā, que por sua vez, em
última instância segue as instruções de Śrī Kṛṣṇa. Dessa forma, nossas próprias atividades podem se
conectar com os desejos transcendentais de Kṛṣṇa.

Śrīla Prabhupāda explica, “...podemos oferecer muitos serviços com nossas atividades corporais.
Todavia, todas essas atividades devem estar relacionadas com Kṛṣṇa. Essa relação é estabelecida através
da nossa conexão com um mestre espiritual genuíno, que é o representante direto de Kṛṣṇa na sucessão
discipular.” (NOD, p.xxii)

A iniciação do mestre espiritual nos garante pureza e ausência de egoísmo na prática do nosso
serviço. Sem iniciação, não podemos nos conectar com Kṛṣṇa e saber exatamente o que devemos fazer
para agradar ao Senhor.

As Atividades Devocionais estão sob o Controle da Energia Interna

Como todas as atividades do serviço devocional seguem o desejo de Kṛṣṇa, elas fazem parte da
energia interna e espiritual. “Quaisquer atividades realizadas em serviço devocional, ou em consciência de
Kṛṣṇa se encontram diretamente sobre o controle da energia espiritual”. (NOD, p. xxii)
A energia e a inspiração para executar serviço devocional emanam de Kṛṣṇa. Elas se original da
potência espiritual de Kṛṣṇa, fluem para baixo através da sucessão discipular, e são instiladas no nosso
coração pelo mestre espiritual. Por seguir um mestre espiritual genuíno, a pessoa conecta suas energias e
atividades com a energia interna de Kṛṣṇa. Assim, elas se tornam espiritualizadas.
Śrīla Prabhupāda resume, “Em outras palavras, energia é um tipo de força, e esta força pode ser
espiritualizada pela misericórdia do mestre espiritual genuíno e de Kṛṣṇa”. (NOD, p. xxii)

Anukulyena — Intenção Favorável

Śrīla Rūpa Gosvāmī, até o momento, definiu serviço devocional como atividade para o prazer de
Kṛṣṇa (kṛṣṇa-anu-śīlanam). No entanto, ocasionalmente Kṛṣṇa obtém prazer de atividades realizadas por
aqueles que têm uma atitude inimiga em relação a Ele. Por exemplo, os demônios às vezes satisfazem
Kṛṣṇa proporcionando a Ele a oportunidade de lutar e proteger Seus devotos. Assim, eles se ocupam em
atividade que agrada a Kṛṣṇa. Todavia, seria absurdo afirmar que os demônios praticam serviço
devocional.15 Por isso, Śrīla Rūpa Gosvāmī qualifica sua definição com o adjetivo anukulyena (intenção
favorável).
O ponto é que o serviço devocional não é apenas uma atividade que por acaso agrada a Kṛṣṇa.
Deve-se ter a intenção de agradar a Kṛṣṇa. Caso contrário, não é bhakti.
Gramaticalmente, anukulyena é um adjetivo no caso instrumental; é inseparável do substantivo, o
qual ele qualifica. Isso indica que uma atitude favorável e amistosa em relação a Kṛṣṇa é essencial para as
atividades do serviço devocional.
Para explicar este tópico, Jiva Gosvāmī apresentou a analogia do guerreiro e suas armas. Ele diz que
quando o rei convoca um sentinela, se espera que o sentinela apareça adequadamente uniformizado e
armado. Similarmente, kṛṣṇa-anu-silanam deve ser acompanhado de anukulyena, uma atitude favorável. Os
dois elementos são inseparáveis, da mesma forma em que para onde o rei vai, ele é acompanhado pelo seu
séquito.
Em O Néctar da Devoção, Śrīla Prabhupāda faz um jogo de palavras com a analogia sobre o soldado
e suas armas. Então, ele coloca tal analogia dentro do contexto da palavra Kṛṣṇa, explicando que toda
parafernália em conexão com Kṛṣṇa pode também ser o objeto de serviço devocional puro.
Em suma, as atividades devocionais devem ser prazerosas para Kṛṣṇa, e devem ser executadas com
uma intenção favorável. Se uma atividade satisfaz Kṛṣṇa mas não teve a intenção de assim fazê-lo, ela não é
bhakti. Por outro lado, mesmo uma ação que aparentemente desagrade Kṛṣṇa pode ser considerada
serviço devocional puro se a intenção for amorosa. Um exemplo perfeito é o castigo de Kṛṣṇa dado por
Mãe Yaśoda. Por conseguinte, a intenção favorável (ānukūlyena) é de importância decisiva na execução de
serviço devocional.

Tatastha-Lakṣana — Características Secundárias 16

As duas características secundárias do serviço devocional puro são: (1) anyābhilāsitā-śūnyam,


serviço devocional puro é livre de motivação ulterior, e (2) jñāna-karmādy anāvṛtam, serviço devocional
puro não está encoberto por buscas filosóficas ou fruitivas.
Śrīla Prabhupāda resume, “O serviço devocional deve estar isento de desejo por qualquer tipo de
benefício material ou de satisfação dos sentidos, visto que tais desejos são cultivados através de atividades
fruitivas e especulação mental. A fim de manter a pureza de tais atividades conscientes de Kṛṣṇa, a pessoa
deve ser liberada de todos os desejos materiais e especulação filosófica”. (NOD, p. xxi)
As características secundárias de uttama-bhakti servem para distinguir o serviços devocional puro
do serviço devocional comum. O serviço devocional comum é uma atividade com intenção de agradar a
Kṛṣṇa. Adicionalmente, serviço devocional puro é (1) livre de motivação ulterior; e (2) não está encoberto
por buscas filosóficas ou fruitivas.

Anyābhilāṣita-Śūnyam — Livre de Motivação Ulterior

Anyābhilāsitā-śūnyaṁ— livre de motivação ulterior


Anya — outro; abhilāṣitā — desejo inato, “motivação”; śūnyaṁ — desprovido.

Anyābhilāsitā-śūnyaṁ significa “desprovido de qualquer outro desejo.” Śrīla Prabhupāda diz,


“Qualquer desejo exceto para o serviço do Senhor é chamando desejo material.” (NOD, p. xxiv)
Se a pessoa afirmar que o serviço devocional puro é completamente desprovido de desejos
materiais, isso seria muito exclusivo. Portanto, Śrīla Rūpa Gosvāmī modifica a palavra anyābhilāṣa (“desejo
material”) adicionando o sufixo “-tā”.
Abhilāṣa significa “desejo”. O sufixo -tā cria um outro “substantivo”. Portanto, abhilāṣitā
literalmente significa “desejo de desfrute”. Isso diferencia “desejo” de “desejo de desfrute”, onde o
primeiro pode também ser inclusivo para os desejos inatos à existência material, e o último se refere
exclusivamente aos desejos para a satisfação dos sentidos.
Inevitavelmente, os desejos inatos são os instintos básicos para a auto-preservação, tais com o
impulso para sobreviver, comer ou evacuar. A pessoa pode ter estes desejos e mesmo assim não estar fora
do reino do serviço devocional puro, de fato, enquanto, eles não se tornarem uma força motivacional
principal na vida de tal pessoa.
Por exemplo, suponhamos que um devoto tenha dedicado toda a sua energia no avanço da devoção,
e subitamente seja colocado numa situação que ameace sua vida. Ele pode gritar, “Kṛṣṇa, me salve!” Este
desejo não é para o prazer de Kṛṣṇa. É um desejo pessoal de auto-preservação. Porém, é inevitável e inato
à existência. Tais desejos inatos não excluem a pessoa do serviço devocional puro.
A conclusão é que mesmo se houver desejos extras, a motivação da pessoa deve ser mantida
completamente pura. Deve-se desejar apenas agradar ao Senhor, e assim executar serviço devocional puro.

Jñāna-Karmādy Anāvṛtam — Não Encoberto por Jñāna ou Karma

Como mencionado, existem duas características secundárias (tatastha-lakṣaṇam) do serviço


devocional puro: (1) anyābhilāṣitā-śūnyaṁ, livre de motivação ulterior, e (2) jñāna-karmādy anāvṛtam, não
está encoberto por buscas filosóficas ou fruitivas. Estas características secundárias modificam as
características primárias, e portanto distinguem o serviço devocional puro do serviço devocional comum.

Jñāna — Especulação Mental

Não é que a pessoa deva excluir completamente toda a especulação filosófica, mas se os interesses
filosóficos se tornarem mais destacados do que a concentração em bhakti simples, eles irão encobrir a
atitude devocional da pessoa e desqualificá-la para o serviço devocional puro. 17
“O fim último da especulação filosófica deve assim ser Kṛṣṇa, com a compreensão de que Kṛṣṇa é
tudo, a causa de todas as causas, e se deve assim se render a Ele. Se a meta última for alcançada, então o
avanço filosófico é favorável, porém se a conclusão da especulação filosófica for o vazio ou o
impersonalismo, isto não é bhakti”. (NOD, p. xxiv)

Karma — Atividades Ritualísticas

Podemos nos ocupar em atividades sociais comuns e religiosas, todavia tais ocupações não devem
superar nossa ocupação em bhakti direta. Se tais atividades ofuscarem nossa atenção com as atividades
devocionais, tais como ouvir e cantar, elas irão encobrir nossa atitude devocional e no desqualificar do
serviço devocional puro. “Existem muitas pessoas que são muito atraídas pelas atividades ritualísticas
descritas nos Vedas. Contudo, se alguém for atraído simplesmente pelas atividades ritualísticas sem
compreensão de Kṛṣṇa, suas atividades são desfavoráveis à consciência de Kṛṣṇa”. (NOD, p. xxiv)
Um exemplo de atividades ritualísticas que não envolvem o serviço devocional são aquelas
executadas simplesmente devido à convenção social, tais como a oferenda de piṇḍa feita pelo Senhor
Caitanya na morte do Seu pai.18

Outro exemplo de atividade que pode encobrir o serviço devocional é a astrologia. Embora ela
possa servir a algum propósito funcional, o devoto pode gradualmente colocar mais fé na força do destino
do que na potência de bhakti, e assim impedir ou dificultar sua rendição a Kṛṣṇa.
O serviço devocional precisa apenas envolver nove atividades de ouvir, cantar, lembrar, etc.
Qualquer outra coisa é extra, e pode se tornar um impedimento à devoção pura. Por conseguinte, os
devotos puros devem estar vigilantes para não permitirem que as atividades extras sobrepujem e
encubram seu ouvir, cantar, etc. “Na verdade, a consciência de Kṛṣṇa pode ser simplesmente o ouvir,
cantar, lembrar, etc....além do que tudo passa a ser desfavorável à consciência de Kṛṣṇa. Assim, se deve
sempre estar vigilante contra as quedas.” (NOD, p. xxiv)
Ādi — Outras Atividades
O mesmo paradigma pode ser aplicado a qualquer outra busca como renúncia, yoga, etc. Pode-se
empregar estes processos, porém eles não devem encobrir bhakti. Śrīla Prabhupāda resume, “Muitas
formas da assim-chamada renúncia também não são favoráveis ao serviço devocional consciente de
Kṛṣṇa”. (NOD, p. xxiv)

Revisão da Definição

Serviço devocional puro é a atividade com a intenção de agradar a Kṛṣṇa, sem motivação ulterior, e
não encoberta por buscas filosóficas ou fruitivas.
A definição de Śrīla Rūpa Gosvāmī para uttamā-bhakti (serviço devocional puro) é perfeita. Cada
palavra é tão precisa que não podemos confundir o serviço devocional puro com qualquer outra coisa que
seja. Sua definição não é completamente exclusiva, nem completamente inclusiva. Aplica-se perfeitamente
a todos os estágios de devotos — aqueles em prática, e aqueles em perfeição.

Referências Citadas para Apoiar esta Definição


Śrīla Rūpa Gosvāmī cita versos para apoiar sua definição do serviço devocional puro, começando
com o preeminente verso do Nārada Pancarātra descrevendo a imaculada bhakti: sarvopādhi-
vinirmuktam, Śrīla Prabhupāda finaliza sua introdução com uma breve explanação deste verso.

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