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Śrī Śrīmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja

[27 de fevereiro de 2024 é o dia do advento divino (āvirbhāva) de Śrī Śrīmad Bhakti
Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja em Vṛndāvana, Índia. O que se segue é um artigo
sobre suas glórias extraído do livro ‘Meus Amados Mestres’, de Śrī Śrīmad Bhakti Vijñāna
Bhāratī Gosvāmī Mahārāja.]

EXEMPLOS EXTRAORDINÁRIOS DE
UMA PERSONALIDADE EXTRAORDINÁRIA

Meu śikṣā-guru, Śrī Śrīmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja,


costumava dizer: “Quando eu estava no ventre de minha mãe, um renunciante veio à
nossa casa e deu um doce a minha mãe, que ela aceitou e comeu. Segundo ela, essa foi a
razão pela qual nunca tive quaisquer desejos materiais, pela qual sempre quis me tornar
renunciado e pela qual vim para Śrīla Prabhupāda muito jovem.”

Quando Śrīla Maharāja era bebê, um grande pássaro o levou para o céu e o trouxe
de volta. Tais acontecimentos nunca poderão acontecer a pessoas comuns; eles são
indicativos de personalidades extraordinárias.

SUAS PATHA-PRADARŚAKA GURUS

Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja fez seu advento divino na aldeia de Vānarīpāḍā,
no distrito de Variśāla, Bangladesh. Ele pertencia a uma família de ricos proprietários de
terras. Quando ele era jovem, suas tias paternas Śrī Sarojinī dāsī e Śrī Priyatamā dāsī o
levaram para conhecer Śrīla Prabhupāda Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura. Como Śrī
Priyatamā dāsī deixou seu corpo muito cedo, geralmente ouvimos mais sobre Śrī Sarojinī
dāsī na narração da história de vida de Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja.

UMA JOIA ENTRE SEVAKAS

No início de sua vida na maṭha, Śrīla Mahārāja era conhecido como Śrī Vinoda-bihārī
Brahmacārī. Mais tarde, Śrīla Prabhupāda lhe concedeu o título de ‘Kṛti-ratna’, uma
designação pela qual ele se tornou bem conhecido. Kṛti significa ‘atividade’ e ratna
significa ‘joia’ e, portanto, o título ‘Kṛti-ratna’ refere-se a uma personalidade que é perita
em realizar atividades relacionadas ao serviço ao guru e aos vaiṣṇavas, e que considera
tais atividades sua vida e alma. Esse título convinha justamente a Vinoda-bihārī
Brahmacārī, pois ele era uma joia entre os sevakas.

RECONCILIANDO INSTRUÇÕES APARENTEMENTE CONFLITANTES


Quando Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī aceitou o abrigo dos pés de lótus de Śrīla
Prabhupāda ainda jovem, ele permaneceu como brahmacārī em Śrīdhāma Māyāpura.
Certo dia, depois de receber uma carta da mãe de Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī, Śrīla
Prabhupāda ordenou que Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī lhe fizesse uma visita em casa.
Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī meditou sinceramente sobre o que fazer. De um lado
estava um ensinamento que ele havia recebido anteriormente de Śrīla Prabhupāda:

sakala janme pitā-mātā sabe pāya


kṛṣṇa guru nāhi mile, bhajahô hiyāya
Śrī Caitanya-maṅgala (Madhya-khaṇḍa)

Em todas as espécies de vida obtém-se uma mãe e um pai. No


entanto, é raro encontrar um guru genuíno e Kṛṣṇa. É preciso
perceber isso desde o âmago do coração.

Do outro lado estava a ordem de Śrīla Prabhupāda para visitar sua mãe.

Ao contemplar essas instruções aparentemente conflitantes, Śrī Vinoda-bihārī


Brahmacārī considerou que a primeira instrução refletia o humor interno de Śrīla
Prabhupāda baseado na verdade imparcial, e que a última possivelmente foi dada para
examiná-lo ou testar sua dedicação a Śrīla Prabhupāda.

Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī concluiu: “Śrī guru nunca pediria a um discípulo


que mantivesse relações mundanas, mediante as quais o discípulo fica preso pelas cordas
do apego. Em vez disso, ele sempre instrui seus discípulos a compreenderem seu
relacionamento com a entidade eterna, Śrī Bhagavān. Portanto, seguirei as instruções de
Śrīla Prabhupāda para perceber a raridade de se obter a associação de śrī guru. Me
absterei de visitar a casa da minha mãe. Ao fazer isso, não estarei desobedecendo a Śrīla
Prabhupāda. Na verdade, ele ficará mais satisfeito do que se eu cumprisse sua ordem
imediata de visitar minha casa.”

O instinto de Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī de agradar seu gurudeva


permanecendo na maṭha estava correto, e assim Śrīla Prabhupāda concedeu-lhe sua
misericórdia.

SERVIR COM GENEROSIDADE

Como o pai de Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī era um rico proprietário de terras,


ele estava acostumado a gastar muito durante seu tempo em casa. Depois de aceitar o
abrigo de Śrīla Prabhupāda e ingressar na maṭha, ele recebeu o serviço de administrar as
propriedades da Śrī Caitanya Maṭha, o que exigiu que ele visitasse várias propriedades
em Māyāpura a cavalo. Só de vê-lo os moradores ficaram com medo. Sempre que cruzava
o Ganges, ele pagava ao barqueiro não contando a tarifa exata, mas enfiando a mão no
bolso e oferecendo tudo o que tirasse. Todos os barqueiros imploravam: “Ó Vinoda Bābū,
por favor, venha comigo! Deixe-me levá-lo em meu barco.”

Certa vez, um devoto reclamou com Śrīla Prabhupāda: “Trabalhamos arduamente


para arrecadar doações para a maṭha, mas Vinoda-bihārī Prabhu gasta
desnecessariamente esses fundos suados para pagar às pessoas muito mais do que lhes é
devido. Ele não presta atenção à quantia que dá. Isso é apropriado?”

Śrīla Prabhupāda perguntou àquele devoto: “Quanto dinheiro você gastava


diariamente quando morava em casa?”

“Um paisā”, respondeu o devoto.

“E quanto você gasta agora?”

O devoto respondeu timidamente: “Cerca de dez paisā”.

Śrīla Prabhupāda disse: “Vinoda-bihārī costumava gastar aproximadamente cem


rúpias diariamente, e agora gasta cerca de cinco rúpias. Qual de vocês, então, é
verdadeiramente renunciado?”

Aqueles que não tinham a visão adequada viram que Śrī Vinoda-bihārī
Brahmacārī estava desperdiçando doações destinadas ao serviço de Śrī Hari, guru e
vaiṣnavas. Mas Śrīla Prabhupāda compreendeu suas verdadeiras intenções. Por meio de
sua generosidade, Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī estava criando aliados que apoiariam a
Śrī Gauḍīya Maṭha no caso de qualquer oposição futura.

UMA RESPOSTA ATIVA A UMA PERGUNTA PASSIVA

Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī sempre fazia tudo o que fosse necessário para o
serviço a Śrīla Prabhupāda. Certa vez, Śrīla Prabhupāda perguntou-lhe de maneira nao
explícita: “Somos incapazes de adquirir o bhajana-kuṭīra de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
em Godrumadvipa?” Embora a pergunta fosse passiva, ela teve grande gravidade para Śrī
Vinoda-bihārī Brahmacārī. Ele se viu incapaz de permanecer em paz enquanto não
tivesse adquirido aquela propriedade. Esse era o seu humor de serviço para Śrīla
Prabhupāda. Além do bhajana-kuṭīra de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, ele também
adquiriu com sucesso o local de Chand Kazi e muitos outros lugares em Śrīdhāma
Māyāpura.

PROTEGER OS DEVOTOS DE OFENSORES VIOLENTOS

Além de administrar as propriedades da Śrī Caitanya Maṭha, Śrī Vinoda-bihārī


Brahmacārī recebeu o serviço de administrar os processos judiciais da instituição. Os
muçulmanos naquela época ocupavam muitos lugares sagrados de Māyāpura, incluindo
Candraśekhara-bhavana, Śrīvāsa-aṅgana, a residência de Śrīdhara-kholaveca e o samādhi
de Chand Kāzī. Um dia, os muçulmanos que ocupavam o samādhi de Chand Kāzī
espancaram alguns brahmacārīs da Śrī Caitanya Maṭha. Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī foi
incapaz de tolerar esse comportamento violento para com os devotos. Sendo protetor, ele
abriu um processo judicial em nome da Śrī Caitanya Maṭha e, como resultado, alguns dos
muçulmanos foram presos.

Śrīla Prabhupāda não gostou do fato de os muçulmanos terem sido presos. Ele
disse: “Devemos nos opor às atividades injustas que estão sendo feitas, mas não às
pessoas que as fazem. Não devemos tentar punir as pessoas colocando-as na prisão, mas
sim sustentando corajosamente os princípios que defendemos e denunciando atividades
injustas.” Assim, por ordem de Śrīla Prabhupāda, os devotos pagaram a fiança dos
muçulmanos.

ARRISCANDO SUA VIDA PARA SERVIR ŚRĪLA PRABHUPĀDA

Em sua época, Śrīla Prabhupāda pregou destemidamente contra muitas das


práticas e crenças de apasampradāyas (linhagens filosóficas desviadas) que alegavam
estar na linha de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Ele declarou em voz alta que era imoral
cobrar dos peregrinos para terem darśana da Deidade de Bhagavān e era errado
considerar que os brāhmaṇas são os únicos candidatos qualificados para a posição de
guru. Sua propagação da verdadeira doutrina Gauḍīya de Śrīman Mahāprabhu desmentia
e desafiava as filosofias contaminadas dessas seitas falsas e, portanto, colocava em risco
as doações e senso de prestígio deles. À medida que a fama e a influência de Śrīla
Prabhupāda continuaram a crescer, esses grupos ficaram cada vez mais invejosos.

Durante o Śrī Navadvīpa-dhāma parikramā de 1925, Śrīla Prabhupāda liderou um


grupo de cerca de cinco mil peregrinos e cento e oito tocadores de mṛdaṅga. Na frente do
enorme grupo de parikramā estava uma banda e a Deidade de Śrīman Mahāprabhu, que
cavalgava magnificamente em cima de um elefante. Os antagonistas das
apasampradāyas invejosas atacaram o parikramā em Prauḍhāmāyā Talā com a intenção
perversa de tirar a vida de Śrīla Prabhupāda.
Sentindo o imenso perigo que seu gurudeva corria, Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī
não hesitou em agir. Ele rapidamente acompanhou Śrīla Prabhupāda até um lugar
seguro, onde então brilhantemente trocou suas roupas brancas pelas vestimentas cor de
açafrão de Śrīla Prabhupāda e providenciou para que ele fosse enviado de volta à maṭha
com alguns outros devotos. Fazendo-se passar por Śrīla Prabhupāda, Śrī Vinoda-bihārī
Brahmacārī então esperou o fim do ataque com grande risco de sua vida.

Enquanto isso, Śrī Paramānanda Brahmacārī, sevaka pessoal de Śrīla Prabhupāda,


disfarçou-se como um morador local, para que ninguém o reconhecesse como um devoto
da Gauḍīya Maṭha. Substituindo seu dhotī por uma gamacha e carregando um narguilé,
ele foi à delegacia para denunciar o ataque. Policiais logo chegaram ao local e a multidão
se dispersou.

Assim como uma pessoa levanta instintivamente o braço para se proteger dos
golpes de um agressor, Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī — que era um membro
não-diferente de Śrīla Prabhupāda — por reflexo protegeu seu gurudeva não apenas
desse ataque físico vingativo, mas também de ataques filosóficos. Por meio de sua
pregação ousada e tenaz, ele defendeu destemidamente as conclusões filosóficas de Śrīla
Prabhupāda.

FÉ FIRME EM ŚRĪLA PRABHUPĀDA, O


EMISSÁRIO DE ŚRĪLA BHAKTIVINODA THĀKURA

Em vários lugares, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu que é desnecessário


construir templos ou maṭhas, pois tais atividades inevitavelmente levam a processos
judiciais nos quais os membros de uma instituição lutarão por suas diversas propriedades
e bens. Contudo, vemos, por outro lado, que Śrīla Prabhupāda construiu muitas maṭhas.
Não devemos, contudo, concluir que Śrīla Prabhupāda ignorou as instruções de Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura. Em vez disso, devemos compreender que ele executou
perfeitamente a vontade de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura.

Como associado íntimo de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, Śrīla Prabhupāda


compreendeu o coração de Ṭhākura. Portanto, ele poderia facilmente compreender o
raciocínio sutil e as implicações por trás de cada uma de suas instruções. Todo
ensinamento tem aspectos positivos e negativos. Ao descrever o estabelecimento de
instituições espirituais como desnecessário ou mesmo desfavorável, Śrīla Bhaktivinoda
Ṭhākura alertou sobre o resultado negativo de tais esforços. Mas isso não significa que a
criação de instituições espirituais não tenha aspectos positivos. Śrīla Prabhupāda
entendeu que mesmo ao custo de possíveis lutas internas, a construção de uma maṭha
será bem-sucedida se apenas um de seus residentes progredir sinceramente no caminho
da devoção pura a Bhagavān.

Todos os devotos da missão de Śrīla Prabhupāda, incluindo Śrī Vinoda-bihārī


Brahmacārī, trabalharam arduamente para adquirir terras e construir e manter maṭhas.
Eles nunca questionaram a lealdade de Śrīla Prabhupāda em seguir adequadamente as
instruções de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura. Eles acreditavam firmemente que as palavras
e atividades de Śrīla Prabhupāda estavam de acordo com os ensinamentos de Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura e que a aprovação de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura estava com ele.

EXPONDO UM LÍDER INCOMPETENTE

Após o desaparecimento de Śrīla Prabhupāda Bhaktisiddhānta Sarasvati Ṭhākura,


chegou o momento de selecionar um novo presidente-ācārya da Gauḍīya Maṭha. Guru
Mahārāja acreditava que Śrī Śrīmad Bhakti Pradīpa Tīrtha Gosvāmī Mahārāja era o
candidato mais digno. No entanto, no devido tempo, Śrī Ananta-vāsudeva Prabhu foi
nomeado por unanimidade para o cargo, com Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī servindo
como secretário.

Quando a má reputação de Śrī Ananta-vāsudeva Prabhu veio à tona, Śrī


Vinoda-bihārī Brahmacārī chamou Guru Mahārāja e disse: “Hayagrīva Prabhu! Enfiamos
as mãos em fezes molhadas. Se estivesse seco, não teria um cheiro tão repugnante. Mas,
infelizmente, a realidade é que o seu fedor e repulsividade são excessivos. Devemos sentir
remorso e nos redimir por termos apoiado Ananta-vāsudeva e por ter demorado tanto
para entender o que realmente estava acontecendo. Uma pessoa incompetente deve ser
ajudada, mas uma pessoa inábil que engana o público em geral, desempenhando o papel
de um líder capacitado, deve ser evitada. Ajudemos as pessoas do mundo expondo essa
pessoa, para que todos possam ver sua verdadeira natureza.

“Por causa do seu temperamento vaiṣṇava refinado e gentil, todos o consideram


um amigo e dão importância ao que você diz. Portanto, por favor, reúna todos e organize
uma reunião, para que possamos juntos determinar como nos opor a ele.”

A pedido de Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī, Guru Mahārāja reuniu seus irmãos


espirituais e realizou uma reunião, após a qual foi decidido abrir um processo judicial
contra Śrī Ananta-vāsudeva Prabhu. Foi esse processo judicial que tornou possível à
Gauḍīya Maṭha dividir-se legalmente em duas facções.

SUA INTOLERÂNCIA MESMO AO MENOR DESVIO


A pregação de Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī inspirou seu irmão mais velho a se
refugiar em Śrīla Prabhupāda e se juntar à maṭha. Quando Śrīla Prabhupāda ordenou
que o irmão dele aceitasse sannyāsa, ele não quis. Embora Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī
fosse mais jovem, ele repreendeu seu irmão mais velho, dizendo: “Por que você não está
satisfazendo o desejo de Śrīla Prabhupāda de lhe dar sannyāsa?” Depois de considerar
essas palavras de encorajamento, seu irmão concordou em aceitar sannyāsa. Após esse
incidente, ficou conhecido como Śrī Śrīmad Bhakti Kevala Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja.

Algum tempo depois da partida física de Śrīla Prabhupāda, Śrīla Keśava Gosvāmī
Mahārāja observou Śrīla Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja e seus seguidores se desviando
dos ensinamentos de Śrīla Prabhupāda de três maneiras: (1) eles ensinaram que o
mahā-mantra Hare Kṛṣṇa não deve ser cantado em voz alta, mas silenciosamente, de
forma que ninguém possa ouvir a vibração sonora; (2) embora Śrīla Prabhupāda tenha
iniciado pessoalmente alguns de seus discípulos, incluindo Śrīla Auḍulomi Gosvāmī
Mahārāja, na ordem sannyāsa, eles abandonaram seu sannyāsa-veśa (vestes) açafroado e,
em vez disso, usaram bābājī-veśa branco, pregando que sannyāsa-dharma é estritamente
proibido em Kali-yuga; e (3) embora Śrīla Prabhupāda tenha estabelecido pessoalmente
Śrī Navadvīpa parikramā, eles rejeitaram sua execução.

Incapaz de tolerar até mesmo o menor desvio dos ensinamentos de Śrīla


Prabhupāda, Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja cortou completamente seu relacionamento
com Śrīla Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja e aqueles que o seguiram. Ele nunca permitiria
que seus discípulos fossem para Bāgbāzār Gauḍīya Maṭha ou para qualquer outro lugar
onde Śrīla Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja e seus seguidores residissem. Se Śrīla Keśava
Gosvāmī Mahārāja descobrisse que um de seus discípulos foi até a maṭha de Śrī
Auḍulomi Mahārāja, ele ordenaria que aquele devoto jejuasse por três dias, comendo
apenas pañca-gavya (os cinco produtos da vaca – leite, iogurte, ghee, esterco e urina)
como forma de expiação. Ele diria: “Por que você foi lá? Você agora está impuro; você
deve se purificar realizando esta expiação.”

Finalmente, Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja decidiu abrir um processo contra


Śrīla Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja e seus seguidores, anunciando corajosamente que,
por não aceitarem muitos dos ensinamentos de Śrīla Prabhupāda, eles não poderiam ser
considerados seus verdadeiros discípulos e, consequentemente, não deveriam ter
permissão para residir em suas maṭhas.

Meu Guru Mahārāja, Śrī Śrīmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja,
prestou-me o serviço de transcrever os ditados de Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja
relativos ao processo judicial. Eu então levaria esses ditados para Śrī Śrīmad Bhakti
Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja, que ajustaria a linguagem e editaria para maior
clareza. Quando tudo estivesse concluído, eu iria ao tribunal e apresentaria os
documentos finalizados.

No dia em que o juiz deveria apresentar o veredicto, Śrīla Auḍulomi Gosvāmī


Mahārāja e seus seguidores apareceram no tribunal vestindo sannyāsa-veśa açafrão e
foram seguidos por uma grande procissão cantando em voz alta o mahā-mantra. Śrīla
Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja deu sannyāsa a oito pessoas naquele dia.

Na frente do juiz, eles disseram: “Estamos fazendo Navadvīpa-dhāma parikramā,


usando roupas cor de açafrão e carregando nossos sannyāsa-daṇḍas. Além disso,
estabelecemos uma maṭha em nome de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura, e
estabelecemos sua mūrti (forma de Deidade) na maṭha que estamos construindo em
Godrumadvīpa.”

Embora anteriormente eles não tivessem planos de ter uma maṭha em nome de
Śrīla Prabhupāda ou de manter sua mūrti lá, sentindo-se ameaçados pelos esforços
ousados de Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja, eles nomearam sua maṭha ‘Śrīla
Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gauḍīya Maṭha’. Eles negaram todas as alegações apresentadas
por Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja e disseram audaciosamente: “Apenas veja! Estamos
cantando alto, usando trajes sannyāsa, e demos à nossa maṭha o nome de Śrīla
Prabhupāda. Como ele pode afirmar que não somos discípulos de Śrīla Prabhupāda?”

Vendo que isso era verdade, o juiz concedeu a decisão em favor de Śrīla Auḍulomi
Gosvāmī Mahārāja e seus seguidores. Parecia que Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja havia
sido derrotado. Implorei: “Muitos de seus irmãos espirituais estiveram envolvidos na
construção deste caso por muito tempo. Eu também trabalhei muito para transcrever
seus ditados, indo até Śrīla Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja para editar e fornecer
informações ao tribunal. Agora que perdemos o caso, você não vai apelar ao veredicto do
juiz?”

Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja respondeu: “Só prosseguiremos se eles


contrariarem novamente os ensinamentos de Śrīla Prabhupāda”.

Ele então perguntou: “Quantos socos você consegue tolerar?”

Eu respondi: “Nem mesmo um único soco. Eu me oporia veementemente a levar


um soco.”

Śrīla Mahārāja perguntou: “E quantos você poderia tolerar se suas mãos e pernas
estivessem amarradas com cordas?”
Eu respondi: “Eu seria forçado a tolerar o que quer que fosse dado”.

“Da mesma forma, sempre que alguém cometer erros e for contra os
ensinamentos de Śrīla Prabhupāda, amarraremos suas mãos e bateremos nele com toda a
nossa capacidade até que aceitem esses ensinamentos.” Ele então explicou: “Meu único
desejo era que eles seguissem novamente a linha de Śrīla Prabhupāda, e vemos que agora
eles estão fazendo isso. Eles agora estão usando roupas de sannyāsa, concedendo
sannyāsa a outros e cantando em voz alta o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Esse era o meu
objetivo. Portanto, fomos vitoriosos. Nossa luta não foi por outro motivo senão
estabelecer os siddhāntas (verdades conclusivas) adequados e reconectá-los com Śrīla
Prabhupāda.”

Mesmo agora, todos os seguidores de Śrīla Auḍulomi Gosvāmī Mahārāja e devotos


de Bāgbāzār Gauḍīya Maṭha aceitam sannyāsa, realizam Navadvīpa-dhāma parikramā,
cantam o mahā-mantra em voz alta e executam harināma-saṅkīrtana. Tudo isso se deve
à misericórdia de Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja.

“NÃO ESTAMOS AQUI PARA NEGOCIAR COM IMOBILIÁRIO”

Enquanto Śrīla Prabhupāda estava fisicamente presente, Śrī Vinoda-bihārī


Brahmacārī desejava comprar um pedaço de terra de propriedade muçulmana adjacente
ao Śrīvāsa-aṅgana, que pertencia a Śrī Caitanya Maṭha. Os proprietários muçulmanos, no
entanto, recusaram-se a vender essas terras a Śrī Caitanya Maṭha, pois tinham inveja da
crescente influência da organização em Māyāpura. Após algumas divergências depois da
partida de Śrīla Prabhupāda, Śrī Vinoda-bihārī Brahmacārī separou-se oficialmente da
Śrī Caitanya Maṭha, mudou-se para Śrī Navadvīpa-dhāma e formou o Śrī Gauḍīya
Vedānta Samiti. Depois de aceitar sannyāsa, ele ficou conhecido como Śrī Śrīmad Bhakti
Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja. Depois de ouvirem sobre sua recente saída da Śrī
Caitanya Maṭha e em uma tentativa de sabotar a instituição, os proprietários
muçulmanos ficaram muito felizes em vender a terra para Śrīla Keśava Gosvāmī
Mahārāja.

Assim que os devotos da Śrī Caitanya Maṭha souberam que Śrīla Keśava Gosvāmī
Maharāja havia adquirido aquela terra, eles quebraram o muro e reivindicaram que ela
fosse parte de sua propriedade.

Quando mencionei isso a Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja, ele riu e disse: “Isso é
muito bom. Quando Śrīla Prabhupāda estava aqui, eu quis comprar aquela terra e
tomá-la dos muçulmanos. Irritava-me o fato de sermos donos de todas as propriedades
vizinhas, exceto aquele pequeno pedaço de terra, que pertencia a pessoas que realizavam
atividades contrárias ao bhakti. Não comprei esta terra para meu próprio prazer, mas
para o serviço de Śrīla Prabhupāda. Não há mal nenhum se a Śrī Caitanya Maṭha
reivindicá-la. Pelo contrário, tenho sorte que eles o tenham levado para o serviço de Śrīla
Prabhupāda.”

Ele então afirmou: “Não estamos aqui para negociar no setor imobiliário. Nosso
único dever é servir Śrīla Prabhupāda e os vaiṣṇavas.”

“NÃO NOS JUNTAMOS À MAṬHA PARA ACUMULAR PROPRIEDADE”

Um incidente semelhante aconteceu após a partida de Śrīla Prabhupāda. Os


devotos da Śrī Caitanya Maṭha queriam vender uma propriedade que possuíam, onde
havia um pomar de mangas. A propriedade ficava em um lugar chamado Rāutalā, em Śrī
Navadvīpa. Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja, entretanto, se opôs à venda e abriu um
processo judicial contra eles. Não podendo usar seu próprio nome para abrir o processo
judicial porque já havia sido preso devido a falsas acusações feitas contra ele, ele o abriu
sob o nome de seus irmãos espirituais Śrī Śrīmad Bhakti Vijñāna Āśrama Gosvāmī
Maharāja e Śrī Khagena Prabhu. Contudo, quando os devotos da Śrī Caitanya Maṭha
testemunharam no tribunal, eles insistiram que nunca tiveram a intenção de vender
aquela propriedade e que não tinham intenção de vendê-la no futuro. Eles também
apresentaram ao tribunal uma declaração escrita nesse sentido. Ao ouvir isso, o juiz
rejeitou o caso e anotou nos autos que o terreno nunca será vendido.

Como eu era extremamente júnior em relação a Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja,


inicialmente tive um medo respeitoso dele e nunca lhe fiz perguntas. Mas à medida que
continuei meu serviço diário de transcrição com ele, esse temor gradualmente
desapareceu.

Quando expressei meu desapontamento por ter perdido o processo judicial,


apesar de nossos melhores esforços e depois de contrair dívidas consideráveis, Śrīla
Keśava Gosvāmī Maharāja disse: “Você é muito jovem. Você não consegue entender
nada.”

Fiquei intrigado com sua resposta. “Eu não entendo”, eu lhe disse.

Ele então explicou: “Embora legalmente possa parecer que perdemos e eles
ganharam, na realidade fomos nós que ganhamos e eles que perderam”.
Isso só me confundiu mais. “Mais uma vez, eu não entendo. Como poderíamos ter
vencido quando o caso foi arquivado?”

Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja disse: “Aparentemente, preciso ser explícito para
que você entenda. Ouça, não nos juntamos à maṭha para acumular propriedades. Esse
processo judicial não era sobre terras. Era uma questão de princípio. Esta terra pertencia
a Śrīla Prabhupāda e ele queria que fosse usada para a missão de Śrī Caitanya
Mahāprabhu. Como resultado do nosso processo judicial, eles apresentaram um
documento formal ao tribunal declarando que nunca o venderão. Eles agora são
obrigados por lei a manter a terra. Portanto, nós vencemos e eles perderam.”

O ĀCĀRYA-LEÃO

Embora Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja parecesse magro e frágil, ele era tão feroz
quanto um leão em sua conduta e dedicação a Śrīla Prabhupāda. Quando ele manifestou
seus passatempos de doença, Guru Maharāja e Śrī Jaga-mohana Prabhu o visitaram,
levando-me com eles como seu sevaka. Durante a visita deles, Guru Maharāja perguntou
a Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja: “Como continuaremos com esses processos judiciais
se você estiver manifestando passatempos de doença?”

Embora Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja parecesse estar muito doente, sua
resposta foi tão poderosa que continua a ressoar em meus ouvidos até hoje. Ele disse:
“Não importa o que aconteça comigo, os residentes da maṭha devem continuar com esses
processos judiciais, caso contrário não terão o direito de permanecer na maṭha”.

PREOCUPADO APENAS COM A MISSÃO DE


ŚRĪLA PRABHUPĀDA, NÃO COM LUCROS OU PERDAS

Em seus primeiros dias, a Śrī Devānanda Gauḍīya Maṭha em Navadvīpa consistia


em apenas duas salas: uma para Ṭhākurajī e outra para Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja e
seu sevaka. Embora suas posses fossem poucas e seus fundos escassos, ele foi a primeira
pessoa a iniciar um parikramā anual de Śrī Navadvīpa-dhāma separado da Śrī Caitanya
Maṭha. Ele fez empréstimos de vários indivíduos para facilitar o parikramā e acolheu o
maior número possível de peregrinos, sem pedir taxa de participação a ninguém. Ele não
estava preocupado com lucros e perdas; sua única preocupação era continuar a missão de
Śrīla Prabhupāda. Tal era a sua consciência elevada.

Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja costumava dizer: “Embora muitas pessoas


tenham permanecido com Śrīla Prabhupāda durante os primeiros dias da maṭha, ele
nunca ordenou que nenhum deles pedissem esmolas. Os devotos eram servidos por meio
de quaisquer doações que os doadores fizessem por vontade própria. Por causa da
escassez de provisões, na prasāda do almoço, todos recebiam uma única tigela de arroz e
verduras silvestres. Quando fazíamos parikramā com Śrīla Prabhupāda, todos ficavam
debaixo das árvores. Śrīla Prabhupāda conhece nossa condição atual, por isso está
enviando muitas coisas. Agora, quando realizamos parikramā, ficamos sob grandes
tendas e servimos grandes quantidades de prasāda aos peregrinos.”

Embora na realidade ele não tivesse muito e precisasse que pedir dinheiro
emprestado para organizar os parikramās, Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja sem dúvidas
viu a misericórdia de Śrīla Prabhupāda em todos os lugares e de maneira genuína nunca
sentiu falta dela.

PEREGRINAÇÕES EM TREM PRIVADO

Śrīla Keśava Gosvāmī Maharāja foi a primeira pessoa na história da Gauḍīya


Maṭha a organizar parikramās aos locais sagrados da Índia. Ele reservava um trem
particular e conduzia os peregrinos em viagens ao norte da Índia, ao sul da Índia e a
outros lugares do país. O trem particular tinha duas seções: uma para cozinhar e outra
para limpeza e demais serviços. O grupo do parikramā parava onde quisesse pelo tempo
que desejasse antes de seguir para o próximo lugar.

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