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VIÇUDDHA
CAITANYA
VÄËÉ
Editorial
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Introdução
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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O processo para alcancar o objetivo mais querido da alma
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
demoníaca ele não desejou nada além do objetivo mais elevado da alma, kṛṣṇa-
-prema, o amor puro por Deus.
Para obter esse amor puro por Deus, que é incrivelmente raro, é absoluta-
mente essencial receber a misericórdia de śrī guru, dos vaiṣṇavas e de Bhagavān.
A menos que uma pessoa sinceramente se abrigue em seus pés de lótus e siga seus
passos, todos os seus esforços em executar bhakti-yoga não produzirão frutos.
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O processo para alcancar o objetivo mais querido da alma
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Çré Çrémad Bhakti Dayita
Mädhava Gosvämé Mahäräja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Todo o seu corpo ficou roxo. Parecia que ele havia sido envenenado. Seu co-
lega ficou muito assustado e sem saber o que fazer. Guru Mahārāja foi então
levado ao Śambhunātha Paṇḍita Hospital. Depois do tratamento, sua saúde
se recuperou. O médico e o oficial de polícia perguntaram: “Quem você acha
que te envenenou?” Guru Mahārāja respondeu: “A pessoa que me deu tabaco
– e não veneno – é meu amigo, fez isso somente para o meu bem-estar. Meu
corpo simplesmente rejeitou o tabaco. Ele não tinha más intenções.”
Após ouvirem a resposta de Guru Mahārāja, o médico e o policial saíram
da sala. O colega que lhe deu tabaco então disse: “Se você tivesse mencionado
meu nome, eu não teria somente perdido meu emprego, mas também acabaria
preso.” Guru Mahārāja respondeu: “Não quero ser a causa do sofrimento de
ninguém. Não posso acusar nem suspeitar de ninguém falsamente. Eu desejo
somente o bem estar de todos e nada além disso.”
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Capítulo 1 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja
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Capítulo 1 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja
irmão espiritual, Śrī Nārāyaṇa Mukherjee, que Śrī Haridāsa havia morrido em
um acidente de carro.
Anos mais tarde, depois que meu Guru Mahārāja construiu o templo da
Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha em Calcutá, o filho de Śrī Haridāsa visitou o tem-
plo (maṭha) para ver (darśana) meu Guru Mahārāja. Quando ele viu o rapaz
prestando-lhe reverência (praṇāma) com grande fé e devoção, ele perguntou
quem era e de onde vinha. O rapaz respondeu: “Eu sou o filho de seu amigo
Haridāsa.” Guru Mahārāja então perguntou sobre o bem-estar de sua família,
sua casa e seu trabalho e deu ao rapaz alimentos oferecidos a Deus no altar
(prasāda) antes de ele ir embora.
Logo mais, Guru Mahārāja contou sobre o incidente de Śrī Haridāsa e
nos ensinou: “O pai dele costumava perguntar: ‘Quem vai manter minha fa-
mília se eu não trabalhar?’ Mas notem que sua família está sendo mantida até
mesmo depois de sua morte. Todas as coisas necessárias para a manutenção,
para os estudos e para as outras necessidades de qualquer pessoa são forneci-
das e orquestradas pelo Próprio Deus (Bhagavān) e mais ninguém.”
prakṛteḥ kriyamāṇāni
guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ
ahaṅkāra-vimūḍhātmā
kartāham iti manyate
Śrīmad Bhagavad-gītā (3.27)
Todos os aspectos da ação material são executados pelos modos da natu-
reza (guṇas), porém aquele cuja inteligência é dominada pelo falso ego (e se
de identifica com o próprio corpo), pensa que é o único responsável pela ação.
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Por todos esses motivos, uma pessoa inteligente rejeita companhias pre-
judiciais e passa a cultivar a companhia de pessoas santas. É porque somente
personalidades santas, com suas instruções poderosas e virtuosas, podem re-
mover os apegos materiais e mundanos do coração.
Ao desfazer esses nós, ele demonstrou sua compaixão sem limites, uma
tolerância imperturbável e compreensão extensa dos significados inerentes às
declarações das escrituras.
Na minha vida antes da renúncia (purva-aśrama), eu aceitava honrar a
prāsada somente se alguém nascido em uma família de brāhmaṇas tivesse
cozinhado, oferecido pessoalmente a Deus (Bhagavān) e então servido a to-
dos; se não fosse assim, eu não comia. Mantive essa prática até mesmo após
estar na companhia dos Gauḍīya Vaiṣṇavas, durante seis anos. Quando mais
tarde me mudei para o templo (maṭha), Guru Mahārāja, sendo completa-
mente consciente de meus hábitos, durante os primeiros cinco anos de minha
estadia ocupou somente os brahmacārīs nascidos em família de brāhmaṇas
nos serviços culinários, bem como na adoração às deidades, na distribuição
de prasāda e de caraṇāmṛta [NOTA].
Durante esse período, eu honrava prasāda sozinho, longe de todos os ou-
tros. Guru Mahārāja, então, pediu a um brahmacārī nascido em família de
brāhmaṇas que entregasse prasāda diariamente em meu quarto.
Eu honrava a prasāda de meu prato e não repetia outras porções. Eu con-
siderava que, após começar a comer, a prasāda restante em meu prato ime-
diatamente se transformava num resto de comida (ucchiṣṭa) e, portanto, não
era mais sagrada e adequada para ser consumida. Portanto, para manter o que
estava no prato ainda puro, eu segurava o prato com a minha mão esquerda
mantendo um pouco de grama kuśa - o sagrado e incontaminável vetiver -
entre o meu polegar e o prato. [NOTA] Além disso, eu ficava em total silêncio
enquanto me alimentava e honrava a prasāda, e se alguém me chamasse em
tal momento, eu imediatamente parava de comer, pois considerava que tal
pessoa havia me tocado através do som, deixando-me assim em uma condi-
ção impura e inadequada para honrar o alimento oferecido no altar (prasā-
da). Além disso, eu considerava humilhante até mesmo pisar na propriedade
de um vendendor de óleo (telī), de um homem de negócios (sāhā) ou de um
ourives. Eu jamais aceitaria comer a prasāda servida em tais lugares. [NOTA]
Quando Guru Mahārāja fundou a Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha em 1955,
numa propriedade alugada na Avenida Rāsa-bihārī 86A em Calcutá, eu me
mudei permanentemente para o templo. Lá, meu Guru Mahārāja me ins-
truiu de maneira indireta dizendo: “É verdade que os Vedas nos aconselham
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tos oferecidos no altar chegou ao fim, assim como também se foi o meu hábi-
to de aceitar somente uma porção de prasāda. [NOTA]
Em Jagannatha Puri eu pude comprovar que a mahā-prasāda nunca deve
ser considerada um resto ou estar contaminada (ucchiṣṭa). Assim, meu hábi-
to de manter uma folha de vetiver (grama kuśa) entre o meu dedo e o prato
também desapareceu.
Durante uma das peregrinações em Navadvipa-dhama, todo o grupo de
peregrinos se reuniu para ouvir hari-katha e honrar a prasāda à sombra de
uma gigantesca árvore Pippala, que crescia na propriedade de um fabricante
de óleo. Lá, estavam servindo floco de arroz hidratado, misturado com rapa-
dura (guḍa), tamarindo e outros ingredientes. Depois que todos terminaram
de honrar a prasāda, os devotos que ficaram responsáveis pelo serviço tam-
bém se alimentaram. Normalmente, Śrī Acintya-govinda Prabhu, Śrī Viṣṇu
dāsa Prabhu e eu servíamos junto com alguns outros devotos a prasāda dos
sannyāsīs e daqueles que viviam no templo (maṭhavāsīs). Naquela época, eu
considerava inapropriado pisar na propriedade de um vendedor de óleo, mas
acabei entrando com um certo pesar, me lembrando de uma canção sagrada
(kīrtana) de Śrī Narotamma dāsa Ṭhākura que eu tinha ouvido dos lábios de
lótus de meu Guru Mahārāja:
śrī gauḓa-maṇḍala-bhūmi,ĵebā jāne cintāmaṇi,tā’ra haya
vraja-bhūme vāsa
Aquele que sabe que a sagrada terra de Śrī Gauḍa-maṇḍala equivale a
uma pedra filosofal que realiza desejos espirituais, alcança a sagrada morada
de Vraja, o mundo espiritual.
Eu também me lembrei de uma frase dita por Śrī Gaura-kiśora dāsa Bābā-
jī Mahārāja: “Nem o homem mais rico do mundo pode comprar uma partí-
cula de poeira da morada eterna e transcendental (dhāma).” Mesmo tendo
superado a minha restrição em pisar naquela terra, eu ainda estava relutante
em aceitar a prasāda ali. Observando a minha relutância e pensando em mim,
Guru Mahārāja citou em voz alta uma frase escrita por um antigo mestre da
nossa linhagem (purva-ācārya), Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura:
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Sem dizer que eu havia acabado de voltar de lá, eu o acompanhei para satisfazer
seu desejo. Como as minhas roupas estavam todas de molho no balde, eu fui
sem camisa usando apenas um dhotī (um longo pedaço de tecido que os ho-
mens utilizam na Índia para cobrir a cintura e as pernas).
Quando chegamos no cais, uma senhora nos tratou como santos (sā-
dhus) e me ofereceu uma camisa nova. Eu pensei em não aceitar, mas Guru
Mahārāja disse: “Aceite a camisa. Se você vai usar ou não, fica por sua conta,
mas aceite. Não se torne um obstáculo para o desejo dessa senhora de prestar
algum serviço.”
No caminho de volta para a nossa tenda (paṇḍāla), após o banho no Gan-
ges, uma segunda senhora veio até mim e me ofereceu halavā (um doce feito
com semolina e manteiga) em um copo feito de folhas. Eu não queria aceitar
alimentos das mãos de uma pessoa que ainda não tivesse sido iniciada na
nossa linhagem espiritual (sampradāya) e, assim, recusei o doce. Mas a boa
senhora disse: “Esta halavā foi feita com ingredientes totalmente puros, com
a única intenção de servir os sábios (mahātmās), eu cozinhei com o mais puro
ghee (manteiga clarificada), feito pelas minhas próprias mãos, com um leite
de vaca puríssimo.”
Guru Mahārāja então me disse para aceitar o doce, e eu obedeci. A se-
nhora ofereceu um copo de halavā para Guru Mahārāja também e ele gracio-
samente aceitou.
No caminho de volta, refleti: “Śrī Guru Mahārāja pessoalmente nos ins-
truiu que não deveríamos comer nada que fosse oferecido por pessoas que
não fossem vaiṣṇavas. Mas então por que naquele dia ele pediu que eu acei-
tasse a oferta daquela senhora?”
Enquanto a minha mente estava ocupada com tal pensamento, Guru
Mahārāja conseguiu perceber a minha perplexidade e assim disse: “Aquela
senhora está oferecendo a sua halavā apenas para as grandes almas (mahāt-
mās) e para mais ninguém. Qualquer que seja seu desejo profundo, a sua úni-
ca intenção, pelo menos aparentemente, era servir os sādhus. É nosso dever
nutrir e encorajar qualquer intenção de servir os sādhus, nunca minimizar
isso. Portanto, só devemos encorajá-la nesse serviço aos sādhus aceitando a
sua oferenda. Se você quiser, você pode dar o que recebeu para uma pessoa
que lhe queira bem, seja confiável e fique satisfeita ao receber algo das mãos
de um sādhu.”
Compreendendo o que Guru Mahārāja queria dizer, eu segui aquelas
instruções e passei a aceitar as oferendas daqueles que possuem um desejo
sincero de servir sādhus.
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Vencer ou morrer
A terra que Guru Mahārāja tinha comprado em Calcutá para estabelecer o
templo da Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha incluía um prédio velho - que precisa-
va ser demolido para a construção do novo templo. Durante a demolição, Śrī
Śrīmad Bhakti Śrīrūpa Siddhāntī Gosvāmī Mahārāja visitou o lugar. Depois
de observar nosso trabalho, ele me perguntou, “Vocês enlouqueceram? Este
prédio foi maravilhosamente construído com os materiais mais refinados,
piso de mosaico italiano, vitrais belgas, portas e molduras de janela feitas com
a melhor madeira da Birmânia (sāguna) – e vocês estão derrubando tudo!
Vocês todos enlouqueceram? Quando Mādhava Mahārāja chegar, por favor
digam que Siddhāntī Mahārāja esteve aqui visitando a obra e que desaconse-
lhou firmemente a demolição deste prédio.”
Eu pessoalmente dei a mensagem de Srīla Siddhāntī Gosvāmī Mahārāja ao
meu mestre espiritual, que me perguntou: “Se o seu objetivo fosse jogar uma
pedra nesta porta aqui à frente, como você faria isso?” Eu respondi fazendo o
gesto de quem atira uma pequena pedra com o mínimo de força.
Guru Mahārāja então perguntou: “Agora, se você quisesse jogar uma pe-
dra muito longe daqui, como você faria isso?” Eu então fiz o gesto de jogar
uma pedra com muito mais força.
Guru Mahārāja concluiu: “Do mesmo modo, quanto mais alto for o ob-
jetivo, maiores serão os nossos esforços para alcançá-lo. Quando Napoleão
chegava no país que ele queria atacar e conquistar, ele queimava ou afundava
seu próprio navio intencionalmente, deixando audaciosamente claro para os
seus soldados que eles tinham que vencer ou morrer. Quando ele deu ordens
ao seu exército que atravessassem os Alpes a pé, muitos soldados ficaram atô-
nitos e disseram, ‘Isso é impossível!’ Napoleão respondeu: ‘A palavra impossí-
vel só existe no dicionário dos tolos.’
“Quando a pessoa fica sem outra alternativa além de agir, ela faz o máxi-
mo esforço para alcançar a meta. Mas se ela tem a menor margem de dúvida,
ela vai pensar eternamente e deixar a ação para depois. Alguém disse, e com
razão, que a necessidade é a mãe da invenção. Portanto, derrube aquele pré-
dio para que nós sejamos forçados a construir um lugar para ficar. Mesmo
porque nós precisamos de um ambiente grande o suficiente para nossas pa-
lestras (hari-kathā) e para o canto dos Santos Nomes (kīrtana), mesmo que
seja um lugar simples, um barracão sem decorações opulentas e refinadas.”
As palavras do meu Guru Mahārāja encheram o meu coração de energia
e de um grande entusiasmo.
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dāsa Prabhu para o nosso templo (maṭha) depois que ele saiu do hospital – e
ali ele morou confortavelmente pelo resto de sua vida.
Nunca deixe para depois ou desperdice a oportunidade
de servir os vaiṣṇavas
Guru Mahārāja organizou um evento que durou três dias no templo da Śrī
Caitanya Gauḍīya Maṭha, em Vṛndāvana, para a consagração e instalação das
deidades no altar. No primeiro dia desse festival, um maravilhoso banquete
foi produzido para servir os vaiṣṇavas dos mais diferentes templos (maṭhas)
de Vṛndāvana; no segundo dia um outro banquete foi oferecido a todos os sa-
cerdotes (brahmāṇas) que cuidam pessoalmente das deidades e dos festivais
sagrados (paṇḍās) de Vṛndāvana e a todos os seus familiares; e no terceiro dia
um banquete foi oferecido ao público em geral, ao qual os vaiṣṇavas e paṇḍās
foram convidados novamente.
Guru Mahārāja gastou mais de vinte e uma mil rúpias naquele festival.
[colocar valor aproximado em reais?]Naquela época, era possível comprar
dois quilos e meio de farinha de trigo com uma rúpia. Até então, nós não
tínhamos uma cozinha apropriada no nosso templo (maṭha). Tudo foi cozi-
nhado em um espaço improvisado com um teto de folha de zinco. Ao obser-
var a situação, alguém disse ao meu Guru Mahārāja: “Com a quantidade de
dinheiro que você gastou nesse festival, você teria construído oito salas novas
para o templo (maṭha)”.
Guru Mahārāja respondeu:“Mais tarde, tanta gente vai aparecer queren-
do doar alguma coisa para a construção dos quartos que vai faltar espaço na
maṭha. Mas a oportunidade que tivermos de servir tantos vaiṣṇavas sêniores
e elevados de uma única vez agora neste lugar, nunca mais vai se repetir.”
Com esse estado de espírito, Guru Mahārāja organizou grandiosos festivais
em muitos locais, tais como Yāṣāḍā, Guwāhaṭī, Kolkata, Purī e outros, e con-
vidou todos os vaiṣṇavas.
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doar o dinheiro que pudessem, mas o valor total arrecadado por eles era qua-
se insignificante em relação ao necessário. Sentindo-se confuso sobre o que
fazer, Guru Mahārāja disse: ”Temos que pensar em outro meio para juntar o
dinheiro necessário”.
Naquele momento, Śrī Śrīmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārā-
ja recitou um verso do Nṛsiṁha Purāṇa:
mādhavo mādhavo vāci
mādhavo mādhavo hṛdi
smaranti mādhavaḥ sarve
sarva kāryeṣu mādhavam
Mādhava está em suas palavras, Mādhava está em seu coração. To-
das as pessoas santas lembram-se de Mādhava, o esposo de Lakṣmī
(a deusa da fortuna) em todos os seus esforços.
Embora o nome “Mādhava” no verso se refira a Bhagavān Śrī Kṛṣṇa, Śrīla
Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja recitou o verso em referência ao meu mais ado-
rado Guru Mahārāja, Śrī Śrīmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī e, assim,
disse, ”Mādhava Mahārāja está nas palavras e nos corações dos seus irmãos
espirituais. Todos os seus irmãos espirituais pensam em Mādhava Mahārāja,
porque ele é capaz de coletar qualquer quantidade de dinheiro (lakṣmī). To-
dos os irmãos espirituais se lembram de Mādhava Mahārāja em todos os seus
empreendimentos, e é por isso que qualquer coisa pode ser realizada quando
Mādhava Mahārāja está por perto. Quem precisaria de alguém além dele?”
Ao ouvir isso, Guru Mahārāja compreendeu que os seus irmãos espirituais
o abençoavam e confiavam nele para realizar esse serviço e, assim, ele ofereceu
reverência a todos eles prostrado ao chão (daṇḍavat-praṇāma). Portanto, com
imensa felicidade, aceitou sozinho a responsabilidade de adquirir o local do
aparecimento de Śrīla Prabhupāda.
Mesmo os devotos da ISKCON, uma organização imensa e com mui-
tos recursos, tinham desistido de comprar esse lugar depois de enfrentarem
inúmeras dificuldades e complicações. Porém embora meu Guru Mahārāja
tenha sofrido inúmeras adversidades físicas e mentais tentando realizar esse
serviço, depois de muito tempo de esforço e persistência, ele chegou muito
perto de completar a tarefa.
Meu Guru Mahārāja me mandou até Purī na companhia dos nossos ado-
ráveis (pūjyapāda) Yaśodā-jīvana Brahmacārī, Ācārya Mahārāja (cujo nome
era Gaurāṅga-prasāda Brahmacārī naquela época) e outros para que ajudásse-
mos a comprar a propriedade onde nasceu Śrīla Prabhupāda. Enquanto estáva-
mos lá, ficamos hospedados numa pequena casa que havia sido comprada por
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Śrī Śrīmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja com o propósito de mais
tarde transformá-la em um templo. Quando chegou o momento do famoso
festival das carruagens do Supremo (Ratha-yātrā), eu enviei Gaurāṅga-prasāda
Prabhu para que ele pedisse permissão a Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja para
que ele nos deixasse ficar em uma pensão (dharmaśālā) durante o festival, já
que muitos de seus discípulos viriam para ficar com ele na pequena casa. Nós
podíamos retornar depois do festival, mas não queríamos atrapalhar Śrīla
Mahārāja ou seus discípulos.
Ao ouvir o nosso pedido, Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja, de maneira afe-
tuosa, porém firme, respondeu: “Como é possível que eu possa aceitar isso?
As palavras ‘sim, vocês podem ficar em outro lugar’, nunca vão sair da minha
boca. Por quê? Porque o trabalho que vocês vieram fazer aqui – comprar o
local de nascimento de Śrīla Prabhupāda – era na verdade um dever nosso, já
que somos os discípulos diretos dele. Mas não fizemos o menor esforço para
realizar isso e vemos que vocês estão realizando essa tarefa com grande entu-
siasmo. Portanto, é impossível que eu aceite essa proposta e peço que vocês
se acomodem e fiquem conosco tranquilamente usando aquilo que podemos
oferecer, embora não tenhamos muitos confortos disponíveis.
Um vaiṣṇava nunca pensa: “Este local é nosso e podemos controlar tudo.
Tudo deve ser feito de acordo com os nossos desejos”. Em vez disso, eles pen-
sam, “Não, este local não é nosso. Este local pertence aos devotos do Senhor
(vaiṣṇavas) e nós somos apenas membros e não proprietários. Nós iremos
cooperar com todos que vierem até aqui, acomodando as pessoas com o que
temos a disposição.
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Śrīla Tīrtha Gosvāmī Mahārāja tinha recusado, Guru Mahārāja pediu a ajuda
de seus outros irmãos espirituais, que acabaram depositando sobre ele toda
a responsabilidade de comprar a propriedade. Naquele momento, depois de
incalculáveis esforços, tinha se tornado impossível para ele renunciar ao seu
papel naquele serviço.
Embora Guru Mahārāja estivesse triste, ele não estava nem um pouco
desencorajado. Ele me disse: “Se não fosse por esse obstáculo, nós teríamos
feito somente progressos graduais em nossos esforços. Mas agora, diante dessa
adversidade, iremos prosseguir com uma determinação ainda maior, fazendo
tudo o que for necessário para alcançar o sucesso.” Pela misericórdia de Śrīla
Prabhupāda, a transferência da propriedade foi efetuada em nome da nossa
Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha um dia antes da Suprema Corte analisar o pedi-
do de suspensão da venda.
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Certa vez, Śrīla Guru dāsa Bābājī Mahārāja se submeteu a uma cirurgia no
olho no District Hospital em Purī. De lá, ele enviou uma mensagem através de
um devoto a Śrī Śrīmad Bhakti Prapanna Daṇḍī Gosvāmī Mahārāja - um dis-
cípulo de Śrīla Prabhupāda - e pedindo a mim para que fôssemos encontrá-lo.
Quando chegamos no hospital, ele me disse: “Estou precisando de que dois
devotos fiquem e cuidem de mim enquanto eu estiver no hospital—um du-
rante o dia e outro durante a noite. Por favor, arrume isso para mim”. Eu então
pedi a meus irmãos espirituais Śrī Lakhana Prabhu e Śrī Yaśodā-jīvana Prabhu
que servissem Śrīla Bābājī Mahārāja durante o dia e a noite, respectivamente.
Quando eu escrevi uma carta a Guru Mahārāja contando isso, ele respon-
deu: “Fiquei muito contente ao saber que todos vocês estão servindo Śrī Guru
dāsa Bābājī Mahārāja apropriadamente. Porque ele está conectado a Śrīla Pra-
bhupāda, ele é digno de nosso serviço. Por favor, utilize os recursos de nosso
templo (maṭha) para garantir que todas as necessidades dele durante a esta-
dia no hospital sejam satisfeitas. Estou ciente da terrível situação financeira da
maṭha em Purī, portanto enviarei dinheiro em breve.”
Como Guru Mahārāja desejava, nós fizemos um arranjo para servir os ali-
mentos oferecidos no altar (prasāda) de nossa maṭha a Śrīla Guru dāsa Bābājī
Mahārāja e tudo mais que ele precisou. Quando Śrīla Bābājī Mahārāja recebeu
alta do hospital, ele não voltou para a Śrī Puruṣottama Gauḍīya Maṭha, mas
expressou seu desejo de permanecer conosco em nosso templo da Śrī Caitanya
Gauḍīya Maṭha em Purī. Na maṭha, uma nova suíte havia sido construída re-
centemente para Śrī Śrīmad Bhakti Hṛdaya Vana Gosvāmī Mahārāja durante
a sua estadia na celebração do śrī vyāsa-pūjā de Śrīla Prabhupāda. [NOTA:
vyāsa-pūjā] Nós fizemos um arranjo para Śrīla Guru dāsa Bābājī Mahārāja
ficar naquele quarto.
Após a cirurgia, foi prescrito a Bābājī Mahārāja que ele utilizasse óculos
escuros, o que dificultava a sua visão. Certa vez, quando honrava prasāda na
maṭha, Śrīla Bābājī Mahārāja cruzou com Śrī Bhagavān dāsa, mas por conta
dos óculos escuros atrapalharem a sua visão, ele não soube dizer quem estava
em sua frente.
Ele perguntou: “Quem é você?”
Śrī Bhagavān dāsa respondeu: “Eu sou o mesmo Śrī Bhagavān dāsa que
o senhor astutamente enviou a Calcutá, liberando o templo de Śrīvāsa-aṅgana
em Māyāpura”.
Ouvindo essas ásperas palavras, Śrīla Bābājī Mahārāja se dirigiu a Śrī
Śrīmad Bhakti Prapanna Daṇḍī Gosvāmī Mahārāja e disse: “Olha o jeito
amargo que esse brahmacārī falou comigo. Mādhava Mahārāja jamais utili-
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Capítulo 1 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja
ram por todos os lados e, por causa disso, muitas pessoas queriam assistir essa
cena. Muitos se reuniram ali no dia seguinte. Quando Guru Mahārāja soube
que muitas pessoas vieram apenas para ver seu kīrtana e sua dança, e que eles
se sentiriam abençoados se pudessem começar o evento com aquela dança,
ele disse “Sábios (sādhus) e vaiṣṇavas não dançam nem cantam para o prazer
e o entretenimento de pessoas comuns. Ao invés disso, eles dançam com o
puro intuito de servir Deus (Bhagavān). Se alguém canta para satisfazer pes-
soas comuns, tal pessoa pode desenvolver afeição ou apego por elas, mas isso
nunca pode ser considerado devoção ao Supremo (hari-bhakti). Dançar ou
cantar com o desejo de obter reconhecimento e elogios de pessoas atraídas
pela matéria é, de fato, algo não diferente do excremento, é completamente
desfavorável a hari-bhakti. Na verdade, essa dança e esse canto se encaixam
na categoria de traiyātrika, ou seja, a mera performance material de dança,
canto e do toque de instrumentos musicais.”
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ra, aceitar ingleses como seus professores (gurus) e seguir seus ensinamentos,
quando eles usam papel para se limparem ao evacuar ao invés de água, algo
muito mais higiênico? O que mais eu deveria falar sobre a falta de etiqueta
ocidental? ”
“Śrī Navadvīpa-dhāma tem sido famosa há muito tempo como a Oxford
indiana, acadêmicos até mesmo de Assam visitam Navadvīpa-dhāma regu-
larmente para receberem educação elevada. Portanto, nós não conseguimos
compreender qual seria o problema em seguir Śrī Caitanya Mahāprabhu, o
Avatar Dourado.”
Śrī Gopinātha Bordoloi ficou sem palavras. Śrīpāda Kṛṣṇa-keśava Pra-
bhu e Śrīpāda Cintāharaṇa Pāṭagiri Prabhu deixaram seu escritório e foram
até onde o meu Guru Mahārāja estava. Quando eles chegaram novamente
no quarto de Guru Mahārāja, eles ficaram muito surpresos ao encontrar Śrī
Bordoloi sentado perto de Guru Mahārāja. Eles entenderam que ele havia ido
de carro enquanto os dois viajaram de rikśaw (uma bicicleta adaptada para
transportar passageiros em uma pequena cabine).
Naquele momento, o canto dos Santos Nomes (kīrtana) estava aconte-
cendo na sala principal do templo. Após o kīrtana, Guru Mahārāja falou ha-
ri-kathā, que terminou com o canto do mahā-mantra. Mais tarde, enquanto
falava com Guru Mahārāja, Śrī Bordoloi disse: “Seu método de pregação é
muito similar ao de Mahātmā Gāndhī; ele repete os nomes de Rāma (rāma-
-dhuna) antes e depois de seus discursos e você também repete os nomes do
Supremo (saṅkīrtana) antes e depois do seu hari-kathā”.
Guru Mahārāja respondeu de imediato: “Quando eu li na revista do Con-
gresso, Young India, sobre a declaração de Śrī Mahātmā Gāndhī, - ‘Eu pode-
ria até sacrificar o canto dos nome de Rāma (rāma-dhuna) por meu país’ –,
eu concluí que as concepções dele são verticalmente opostas as dos Gauḍīya
Vaiṣṇavas, que acreditam com firmeza que até mesmo o mundo inteiro pode
ser sacrificado pelos nome de Deus (rāma-nāma), o que dizer de um país.
Rāma, sendo a Verdade Absoluta, existe para Si mesmo e por Si mesmo e
todos os objetos existem para o Seu serviço eterno. Até mesmo acadêmicos
ocidentais aceitam que a Verdade Absoluta exista para Si mesma e por Si só”.
Śrī Gopinātha Bordoloi ficou muito inspirado pelos pontos de vista pro-
fundamente enraizados e sutis de Guru Mahārāja. Após este incidente, ele com
frequência ouvia hari-kathā de Guru Mahārāja e honrava prasāda conosco.
Ele também muitas vezes expressou seu desejo de abandonar sua vida social
ativa, se tornar um monge renunciante (sannyāsi) e permanecer sempre na
companhia de Guru Mahārāja. Seus companheiros, membros do Partido do
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Capítulo 1 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja
Congresso, porém, diziam a ele: “Se você aceitar sannyāsa (a ordem de vida
renunciada), então sua posição em Assam vai decair rapidamente”. Pouco
tempo depois, Śrī Gopinātha Bordoloi deixou este mundo.
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Çré Çrémad Bhakti Vicära
Yäyävara Gosvämé Mahäräja
A previsão do astrólogo
Certa vez, um astrólogo famoso pela precisão infalível de suas leituras, leu as
mãos de Śrī Sarveśvara Brahmacārī e de outro monge que também vivia no
templo. Ao final da leitura, o astrólogo proclamou com toda a convicção: “Faz
parte do destino de ambos, ter esposa e filhos – está escrito, vocês não vão
poder evitar isso.”
Embora Śrī Saveśvara Brahmacāri fosse ainda muito jovem, Śrīla Prabhupā-
da queria que ele se tornasse um sannyāsi em virtude de sua experiência na
prática do kértana (o canto devocional ao Supremo Śrī Kṛṣṇa) e de seu vasto
conhecimento do siddhānta, as perfeitas conclusões filosóficas da escola gau-
diya-vaiṣṇava.
Mas a previsão do astrólogo tinha deixado o próprio Sri Sarveśvara Brahmaca-
ri relutante em aceitar o voto de sannyāsa, com medo de que o desejo de se casar es-
tivesse latente em seu íntimo. Percebendo a resistência do jovem monge, seu guru,
Śrīla Prabhupāda, disse: “Sannyāsa significa render-se plenamente aos pés de lótus
de Śrī Kṛṣṇa. Por que você está com medo de se refugiar em abhaya-caraṇāravinda
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja
Lhe oferecer alimentos e preparações (bhoga), arranjou tudo o que era necessá-
rio para a realização de tal serviço.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Prabhupāda, todos nós devemos nos encontrar assim que possível.” Desta
forma, ele sempre convidava todos os seus irmãos espirituais quando organi-
zava um festival ou alguma reunião em nosso templo. Lá, ele dava a todos os
seus irmãos a oportunidade de falarem sobre as glórias e sobre ensinamentos
de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvati Prabhupāda.
Durante um desses festivais, um convidado respeitável – um juiz chama-
do Durgānātha Vasu –, que também havia sido apontado como responsável
(sabhā-pati) por presidir o evento em questão, levantou de seu assento e infor-
mou meu Guru Mahārāja que precisava sair por conta de outro compromisso
e, assim, o sabhā-pati (e o hari-kathā) daquela noite estava sendo encerrado.
Muitos discípulos de Śrīla Prabhupāda tinham discursado, entretanto Śrīla
Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja ainda não havia tido a oportunidade de falar.
Vendo que o tempo estava esgotado, meu Guru Mahārāja pediu para Śrīla
Mahārāja que ao invés de falar, executasse o kīrtana. Cumprindo seu pedido,
Śrīla Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja levantou-se e começou o a cantar.
Guru Mahārāja tinha me pedido para acompanhar o juiz até o carro e
para certificar que ele recebesse alguma prashāda. Depois que ele ofereceu
reverencias (praṇāmas) à deidade (Ṭhākura-jī) e aos vaiṣṇavas ali presentes,
caminhamos juntos em direção ao seu carro. Mas quando estávamos saindo,
Śrīla Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja começou a cantar: Nārada muni bājāya vīṇā
rādhikā- rāmaṇa-nāme. Ao ouvir esse lindo kīrtana, o juiz ficou fascinado e
voltou ao seu lugar.
Após o fim do kīrtana, o juiz foi até meu Guru Mahārāja e pediu: “Por fa-
vor, leve esse sannyāsī na minha casa amanhã. Eu nunca havia experimentado
nenhum tipo de êxtase como esse que senti agora, ao ouvir seu kīrtana. Foi
um canto tão purificante que tocou meu coração, quero que a minha família
também experimente isso. Enviarei um carro. Todos vocês, por favor, venham
junto a Mahārāja até minha casa para o kīrtana amanhã.”
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja
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Çré Çrémad Bhakti Kumuda
Santa Gosvämé Mahäräja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja
permaneceram pacíficos.
Cerca de dez minutos depois que ele havia mudado de lugar, um anún-
cio foi dado no alto-falante: “Todos prestem atenção, por favor. O oceano está
muito agitado hoje e não estamos conseguindo controlar o navio. Isso é muito
perigoso. Tudo pode acontecer, então lembrem-se de Deus e orem a Ele por
nossa segurança”.
Ao ouvir isso, um dos passageiros, um homem velho que anteriormente
havia reclamado de Śrī Rādhā-ramaṇa Brahmacārī, começou a chorar e lamen-
tou: “Minha filha vai se casar e eu estou carregando seu dote de casamento e os
ornamentos. Se algo de ruim acontecer ao nosso navio, o que vai ser do casa-
mento de minha filha? Tudo será arruinado”.
Outro passageiro respondeu: “Você não ouviu o anúncio? Eles estão dizen-
do para lembrarmos de Deus, de modo que este não é o momento apropriado
para falar tais coisas”.
O velho respondeu: “Deus não vai nos ouvir, porque nós nunca cantamos
Seus Santos Nomes (bhajana). Mas certamente Ele vai ouvir esse jovem sādhu.
Embora seja muito jovem, ele compreendeu o verdadeiro valor da vida“.
Depois disso, todos os passageiros que tinham anteriormente reclamado
de Śrī Rādhā-ramaṇa Brahmacārī colocaram ele sentado no meio deles e com
força pediram que ele orasse por segurança. Ele respondeu: “Eu ouvi de meu
Guru Mahārāja que o Senhor só ouve as orações dos Seus devotos rendidos.
Como eu ainda não estou rendido a Ele, Ele não vai sequer me ouvir. O que di-
zer de realizar qualquer pedido que eu faça? No entanto o meu Guru Mahārāja
também mencionou que devemos sempre cantar os Santos Nomes de Deus em
conjunto (nāma-saṅkīrtana). Portanto, eu posso cantar o mahā-mantra hare
kṛṣṇa e todos vocês podem repeti-lo em coro. Mas eu não posso garantir que
Deus vá nos ouvir ou nos salvar”. Todos os passageiros aceitaram sua proposta
e começaram a realizar o kīrtana. Depois de algum tempo, o navio chegou em
segurança ao seu destino.
Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja mencionava esse passatempo com frequên-
cia para nos ensinar que tanto as críticas quanto os elogios das pessoas mate-
rialistas não têm absolutamente nenhum valor, portanto nunca devemos nos
deixar afetar por aquilos que eles dizem. Tais pessoas elogiam e criticam apenas
para o prazer de seus próprios sentidos.
A visão profunda das grandes personalidades
Uma vez, Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja e meu paramārādhyatama Guru
Mahārāja, Śrī Śrīmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja, estavam hos-
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
maṭha, meu Guru Mahārāja foi até sua casa e perguntou a Śrī Vaikuṇṭhanātha
Prabhu: “Você é discípulo de Śrīla Prabhupāda. Mesmo que o seu filho esteja
pedindo para voltar para casa, como você pode permitir que ele o faça?”
Śrī Vaikuṇṭhanātha Prabhu respondeu: “Na verdade, eu não desejo que ele
deixe a maṭha, mas ao mesmo tempo eu não quero que ele se sinta mal e pen-
se que não há ninguém para apoiá-lo por ter escolhido outro caminho; eu não
quero que ele se sinta abandonado ou privado de sua herança. Por causa disso,
eu permiti que ele voltasse para casa. Se você prefere que ele permaneça como
brahmacārī e retorne à maṭha, então ele pode ir com você, se ele concordar com
isso. Não tenho objeção alguma, e eu de fato ficaria satisfeito.”
Guru Mahārāja então discutiu o assunto com Śrī Rādhā-ramaṇa Brahmacārī
e eles saíram juntos para a maṭha pouco tempo depois. Embora meu Guru
Mahārāja não fosse um sannyāsī naquela época, ele pediu a Śrī Śrīmad Bhakti
Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja que concedesse sannyāsa a Śrī Rādhā-
-ramaṇa Brahmacārī. Śrīla Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja aceitou a proposta e ele
recebeu a iniciação no templo Kṣīra-corā Gopīnātha em Remuṇā. Desde então,
ele é conhecido como Śrī Śrīmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja.
Nós nunca tínhamos ouvido alguém falar sobre este fato, incluindo o nosso
Guru Mahārāja, até que o próprio Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja nos contou so-
bre o fato durante o parikramā de Vraja-maṇḍala em Vṛndāvana, e também em
outra ocasião na nossa Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha em Chandigarh. Śrīla
Mahārāja frequentemente dizia: “Eu tenho sido incrivelmente abençoado
pela orientação afetuosa de pūjyapāda Mādhava Mahārāja. Ele salvou minha
vida. O que teria acontecido comigo se eu tivesse ficado em casa? Ele me
salvou de um grande perigo”.
Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja e meu Guru Mahārāja estavam entre os
muitos discípulos de Śrīla Prabhupāda que ficaram na Śyāmānanda Gauḍīya
Maṭha em Medinīpura, uma cidade da Bengala. Embora Guru Mahārāja tenha
coletado muitas doações e comprado a propriedade para a construção daquela
maṭha, ele fez tudo em nome de Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja e não em seu
próprio nome. Tal era o carinho que tinha por ele. Śrīla Santa Gosvāmī Mahārā-
ja costumava dizer: “Eu não sou o mestre de algo ou de alguém. Eu sou apenas
um servo. Enquanto meus irmãos espirituais aceitarem o meu serviço, eu os
servirei. Caso já não estejam mais interessados em receber os meus serviços,
procurarei alguém que possa me dar abrigo e ficarei por lá”.
Seu rigor e gravidade
Quer ele estivesse participando de uma reunião, organizando um festival ou
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja
sentado como chairman de uma assembleia, Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja era
sempre extremamente pontual. Fomos testemunhas de que quando ele presidia
um encontro e alguém falava hari-kathā além do tempo previsto, Śrīla Mahārāja
imediatamente o interrompia e terminava seu discurso. Se o orador fosse júnior em
relação a Śrīla Mahārāja, ele o segurava pelas orelhas e pedia que se sentasse e, aos
sêniores, de maneira educada mas com firmeza, ele pedia que parassem de falar.
Ele não tolerava desatenção. Se visse qualquer um durante o hari-kathā –
fosse um bramacārī, um sannyāsī, uma senhora, uma criança ou quem quer que
fosse – fazer algo além de ouvir de maneira sincera, ele repreendia essa pessoa
sem lhe dar a oportunidade de falar, dizendo: “Por favor, se retire. Você não sabe
a etiqueta de como se sentar em uma assembleia de vaiṣṇavas.”
Certa vez, uma mãe de família (mātā-jī) veio ouvir o hari-kathā com seu
neto, que tinha aproximadamente um ano e meio de idade. Quando o menino
começou a chorar em voz alta durante o kathā, ela tentou acalmá-lo. Vendo
isso, Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja disse a ela: “Não fique nesta assembleia por
mais tempo. Somente pessoas atentas que dão prioridade ao hari-kathā são
bem-vindas aqui, e não qualquer outro tipo de pessoa. Você acredita que cui-
dar de seu neto seja mais importante e que o hari-kathā seja secundário. Você
acha que este é um lugar onde as pessoas podem se sentar e fazer o que quiser?
Nosso tempo é muito precioso, não temos interesse em desperdiçá-lo. Por favor,
retire-se imediatamente”.
Se Śrīla Mahārāja visse que uma pessoa que dedicou sua vida ao serviço
constante, ao estudo e ao celibato (brahmacārya) não estivesse seguindo os re-
gulamentos necessários, tais como se barbear e cortar os cabelos na lua cheia
(pūrnimā), ele o castigava dizendo: “Por que você aceitou as roupas de um
brahmacārī? Você só está enganando a si mesmo. Pare de tentar arruinar a sua
vida. Basta seguir os ensinamentos dos nossos gurus. Mesmo se você não enten-
der o propósito de cada princípio, garanto que você será beneficiado ao seguí-los“.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Seu guru-niṣṭhā
Ouvi Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja expor seu ponto de vista sobre os ensina-
mentos que Śrī Caitanyadeva deu a Śrīla Sanātana Gosvāmīpāda:
ra 'svarūpa' haya—kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 20, 108)
Ele disse: “Este verso diz que a forma espiritual (svarūpa) do ser vivo (jīva)
é ser um servo eterno de Kṛṣṇa e, embora isso seja a mais pura verdade, eu gos-
taria de interpretá-lo de uma forma ligeiramente diferente. Do meu ponto de
vista, a palavra kṛṣṇa aqui não significa 'Kṛṣṇa que está realizando Seus passa-
tempos em Goloka Vṛndāvana.’ Em vez disso, eu considero que significa 'Kṛṣṇa,
que aparece na forma de guru neste mundo, liberta almas sinceras das garras de
māyā e as leva aos pés de lótus de Kṛṣṇa, onde elas se ocupam em Seu serviço.
A declaração de Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī dá suporte a minha posição:
guru rūpe kṛṣṇa kṛpā karena bhakta-gaṇe
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 1.45)
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
mos capazes de hospedá-los com tantas facilidades, por favor, faça os ajustes
necessários com as instalações que podemos fornecer, para que vocês possam
permanecer aqui tranquilamente”.
Um vaiṣṇava nunca pensa: “Este lugar é nosso e podemos controlar tudo.
Tudo deve ser feito de acordo com o nosso desejo”. Em vez disso, eles pensam:
“Não, este lugar não é nosso. Este lugar pertence ao vaiṣṇavas e nós somos meros
moradores, não os seus proprietários. Iremos cooperar com quem quer que ve-
nha, acomodando-os de acordo com os recursos disponíveis”.
Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja depois me deu a oportunidade de construir
uma maṭha adequada no terreno daquela casa. Ele me pediu: “Este é um lugar
tão pequeno, mas meus discípulos estão me dizendo que você pode criar uma
planta decente e um esboço para a construção de uma maṭha”.
Eu disse: “Sim, mas por ser pequeno, não pode ser construído de forma re-
tangular. Deve ser feito de uma forma paralela – a parte residencial (āśrama) pode
ser de um lado e o templo pode estar do outro”.
Ele respondeu: “Eu não entendo de 'construção paralela', 'construção re-
tangular' ou qualquer uma dessas coisas. Por favor, apenas faça de tal forma
que tudo aconteça corretamente”. Depois disso, desenhei a planta, inspecionei e
supervisionei todo o processo de construção.
Em um outro momento, ele queria organizar uma grande festa para a inau-
guração de uma maṭha que ele havia construído em Keśīyāḍī, no distrito de
Vardhamāna, na Bengala. Eles propuseram ao rei de Jagannātha Purī que com-
parecesse como um convidado de honra do festival, mas ele se recusou. Sabendo
que eu tinha um relacionamento amigável com o rei, Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja
escreveu para mim, pedindo que eu convencesse o rei a participar da ocasião.
Devido ao pedido de Śrīla Mahārāja, visitei o rei, que disse: “Eu já expliquei
que não poderei participar”.
Eu respondi brincando: “De tal frase, basta remover a palavra 'não' e, então,
será possível”. O rei disse que, embora ele quisesse participar, ele tinha um com-
promisso em outro lugar, ao mesmo tempo em que o festival ocorreria. Depois
de perguntar mais, eu vim a saber que a nova maṭha ficava no caminho de seu
outro compromisso. Eu disse a ele para não se preocupar e que gostaria de or-
ganizar suas viagens e todo o restante se ele concordasse em visitar a maṭha por
um curto período de tempo no caminho. Ouvindo isso, o rei aceitou a minha
proposta. Eu, então, trouxe pessoalmente o rei à maṭha de Śrīla Santa Gosvāmī
Mahārāja para o festival de inauguração.
Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja pediu que eu falasse hari-kathā no mesmo
dia. Eu escolhi explicar sobre a necessidade de uma Gauḍīya Maṭha em Keśīyāḍī,
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Capítulo 2 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Kumuda Santa Gosvāmī Mahārāja
um lugar conhecido por sua abundância de templos. Em tal lugar, pode parecer
que não haveria necessidade de uma pequena maṭha por causa de sua proximi-
dade com muitos templos diferentes. Expliquei que, apesar disso, houve de fato
uma grande necessidade da inauguração de uma Gauḍīya Maṭha, porque mes-
mo que as pessoas tivessem por lá a oportunidade de ir para os muitos templos
da região, elas nunca teriam seus corações transformados. Mas a maṭha é um
lugar onde as pessoas podem tornar suas vidas bem-sucedidas, cobrindo seus
corpos inteiros com a poeira dos pés dos devotos puros. Aqui, um professor es-
piritual estará presente e, aqueles que quiserem se tornar estudantes espirituais
sinceros e verdadeiros, serão bem-vindos a frequentar, aprender e praticar. A
maṭha existe para o bem-estar de tais pessoas e fornece uma grande oportuni-
dade para os seus visitantes de se tornarem afortunados recebendo a misericór-
dia dos devotos que lá residem. Na associação de tais sādhus, o aprendizado dos
verdadeiros e profundos significados dos śāstras é inevitável.
Pela misericórdia de Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja, eu era capaz de prestar
vários serviços para ele. E o resultado desses serviços é que ele ficou satisfeito
comigo, nosso relacionamento se aprofundou e sua afeição por mim tornou-se
forte, tanto que, sempre que ficávamos no mesmo lugar, ele nunca me deixava
honrar prasāda sem ele e nem que permanecesse em qualquer outro lugar que
não o seu quarto.
Durante os festivais ou quaisquer outras reuniões onde meu Guru Mahārāja
ou seus irmãos espirituais estivessem, eu sempre sentava no chão, enquanto eles
se sentavam no estrado, mas Śrīla Santa Gosvāmī Mahārāja uma vez me pediu
que eu sentasse no palco. Sentindo-me embaraçado de sentar no mesmo nível
que os meus guru-vargas, recusei. Mas meu Guru Mahārāja me disse: “Porque
pūjyapāda Santa Mahārāja deu esta ordem, você deve sentar-se conosco. Não
diga não."
Ele foi o primeiro discípulo de Śrīla Prabhupāda a pedir que eu me sentasse
no estrado. Foi a partir daí que comecei a me sentar no palco, algo que eu nunca
havia feito.
É nosso dever lembrar-nos dos vaiṣṇavas em seus dias de aparecimento e
desaparecimento. Negligenciar esta regra é certamente uma aparādha (ofensa).
Nós definitivamente devemos orar para ele continuar a nos conceder a sua
misericórdia.
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Çré Çrémad Bhaktyäloka
Paramahaàsa Mahäräja
Bhāgavata Press
Antes de se tornar um sannyāsī, Śrī Śrīmad Bhaktyāloka Paramahaṁsa Mahārāja,
discípulo de Śrīla Prabhupāda Bhaktisiddhānta Sarasvātī Ṭhākura, era conheci-
do como Mahānanda Brahmacārī.
Enquanto Śrīla Prabhupāda esteve presente neste mundo, Śrī Mahānanda
Brahmacārī coordenava a Bhāgavata Press em Kṛṣṇanagara, que imprimia as
edições do Śrīmad-Bhāgavatam (o purāṇa da devoção) de Śrīla Bhakitsiddhanta
Prabhupāda. Na verdade, o título de diretor não é adequado para um devoto,
pois devotos vêem a si mesmos sempre como meros servos - mas na prática, os
deveres de Śrī Mahānanda Brahmacārī eram exatamente os de um diretor, por
isso nos referimos a ele dessa maneira. Ele organizava tudo para a impressão,
tanto do Śrīmad-Bhāgavatam quanto de outras publicações de Śrīla Prabhupāda
e, para isso, contratou um taquígrafo e um datilógrafo.
Certa vez, o rei de Nadīyā precisou de uma equipe de publicação, mas não
havia ninguém a seu dispor capaz de datilografar ou registrar palavras ditadas. Ao
saber disso, Śrī Mahānanda Brahmacārī ofereceu tanto os serviços do taquígrafo
e datilógrafo da Bhāgavata Press como os serviços de impressão e publicação, já
que a Bhāgavata Press com frequência prestava serviços a clientes externos.
Eles apresentaram o texto do rei perfeitamente exato e sem nenhum erro e,
ao notar a alta qualidade das publicações e o cuidado com o qual os devotos da
Bhāgavata Press produziam tudo, o rei decidiu que ele não enviaria mais suas
publicações futuras até Calcutá, mas utilizaria exclusivamente a nossa Bhāgavata
Press. Assim, a editora ganhou uma reputação extremamente positiva, também
pelos esforços de Śrī Mahānanda Brahmacārī. Todos da região ficaram saben-
do que podiam confiar plenamente nas habilidades dos devotos da Bhāgavata
Press. Por exemplo, caso algum pequeno erro fosse cometido, a editora se en-
carregaria de corrigir a impressão imediatamente.
Eventualmente, Śrī Mahānanda Brahmacārī também se ocupava de adqui-
rir propriedades e terrenos necessários para o templo. Devido a esse e outros
serviços de compra, ele era chamado de Kenārāma, que significa “alguém que
compra tudo”.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Serviço Inteligente
Śrīla Prabhupāda tinha um discípulo chamado Niśikānta Sanyāl, um professor
do Ravensā College da cidade de Kaṭaka. Embora o Sr. Sanyāl tivesse uma famí-
lia inteira para sustentar, ele resolveu doar todo o seu salário para o serviço do
templo, mesmo depois de Śrīla Prabhupāda ter dito:"Se você continuar doando
seu salário para mim como sua família vai sobreviver? Você precisa ficar pelo
menos com o suficiente para a manutenção de todos eles."
Preocupado com essa família, Śrīla Prabhupāda disse a Śrī Mahānanda
Brahmacārī: "Como Niśikānta Sanyāl está doando toda a sua renda para nós,
é nossa responsabilidade cuidar de sua família. Eu quero que você cuide da ma-
nutenção de todos eles." Obedecendo a essa ordem, Śrī Mahānanda Brahmacārī
cuidou das necessidades dessa família durante muitos anos. Tudo o que foi ne-
cessário – educação, casamentos dos filhos e todo o resto – foi financiado e
organizado por ele pessoalmente.
Segundo as escrituras um renunciante não teria a obrigação de prover as
necessidades de uma família (gṛhastas). Ele deve, na verdade, concentrar seus
esforços no serviço a Śrī Hari (Deus), ao guru e aos vaiṣṇavas. Portanto, tal ati-
tude poderia parecer estranha em um primeiro momento. Contudo existem
duas considerações a serem feitas nesta situação. Primeiro, Śrīla Prabhupāda
lhe deu ordens diretas para que mantivesse aquela família,e nunca ninguém
erra ao seguir as instruções de um guru autorrealizado; pelo contrário, seguir
a ordem do guru é o dever do discípulo. Em segundo lugar, Śrī Mahānanda
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Capítulo 3 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Bhaktyāloka Paramahaṁsa Mahārāja
Brahmacārī cuidou de tudo de tal forma que ele mesmo nunca precisasse estar
fisicamente presente para executar essas tarefas, já que para isso ele delegou tais
responsabilidades a várias pessoas. Assim, ele nunca teve que visitar essa famí-
lia nem mesmo uma única vez.
Aceitando sannyāsa
Outro discípulo de Śrīla Prabhupāda, Śrīla Bhakti Svarūpa Parvata Gosvāmī
Mahārāja, nascido em Svarūpa Gañj, possuía uma maṭha chamada Vārṣabhānāvī-
-dayita Gauḍīya Maṭha em Udālā, no estado da Orissa, próximo a Kṣīra-corā
Gopīnātha. Depois que Mahārāja abandonou o corpo, muitos devotos queriam
que aquele templo fosse dado a meu mais que adorável (paramārādhyatama)
Guru Mahārāja, Śrī Śrīmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja, para
que se tornasse um templo da Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha.
Naquela época, os discípulos de Śrīla Bhaktisiddhanta Prabhupāda tive-
ram uma conversa e concluíram que a Śrī Vārṣabhānāvī-dayita Gauḍīya Maṭha
deveria ser dada a Śrī Mahānanda Brahmacārī, pois ele ainda não tinha um
templo, e que ele deveria receber sannyāsa de Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara
Gosvāmī Mahārāja. Ele aceitou a proposta de seus irmãos espirituais e daí
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 3 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Bhaktyāloka Paramahaṁsa Mahārāja
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Çré Çrémad Bhakti Prajïäna
Keçava Gosvämé Mahäräj
Pela divina misericórdia, meu mestre instrutor (śikṣā-guru), cujos pés são mais
que adoráveis (param-pūjyapāda), Śrī Śrīmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī
Mahārāja, apareceu neste mundo no vilarejo de Vānarīpāḍā, que é parte do
distrito de Variśāla, no Bangladeche. Ele pertencia a uma rica família de pro-
prietários de terras. Quando era jovem, suas tias paternas Sarojinī e Priyatamā
o levaram para conhecer Śrīla Prabhupāda Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura.
Como sua tia Priyatamā abandonou o corpo ainda jovem, nós, seus discípu-
los, ouvimos mais acerca de Sarojinī na narrativa sobre a vida de Śrīla Keśava
Gosvāmī Mahārāja.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 4 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 4 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja
longo período na construção desta ação judicial. Eu trabalhei tanto vindo até
você para transcrever o que você ditava, quanto aos pés de Śrī Śrīmad Bhakti
Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja para prover informações precisas para o
tribunal. Agora que você foi derrotado, você não vai apelar o veredito do juiz?"
Śrīla Keśava Gosvāmī Mahārāja respondeu: "Nós iremos proceder apenas
se eles forem contra os ensinamentos de Śrīla Bhaktisiddhanta Prabhupāda."
Então ele me perguntou: "Quantos socos você conseguiria aguentar?" Eu res-
pondi: "Nem mesmo um único soco. Eu não gostaria de receber soco nenhum."
Śrīla Mahārāja então perguntou: "E quantos você poderia tolerar se suas mãos
e pernas estivessem amarradas por cordas?"Eu respondi: "Amarrado, eu seria
forçado a tolerar todos os socos que me dessem." "Da mesma maneira, sempre
que alguém comete erros e age contra os ensinamentos de Śrīla Bhaktisiddhanta
Prabhupāda, nós iremos amarrá-lo e golpear com todas as nossas forças até que
os ensinamentos sejam seguidos." E logo explicou: "Meu único desejo era que
eles voltassem a seguir a linha de Śrīla Bhaktisiddhanta Prabhupāda e vemos
que agora eles estão fazendo isto. Voltaram a usar as vestes de um sannyāsi, es-
tão iniciando outros devotos e cantando em voz alta o hare kṛṣṇa mahā-mantra.
Esse era meu objetivo. Na verdade, nós vencemos. Nossa luta não era por nada
além de estabelecer as verdades conclusivas da nossa filosofia, o siddhānta ade-
quado, e reconectar todos eles a Śrīla Bhaktisiddhanta Prabhupāda."
Mesmo nos dias de hoje, todos os seguidores e devotos de Śrī Auḍulomi
Mahārāja na Bāgbāzār Gauḍīya Maṭha aceitam sannyāsa, fazem o parikramā
de Navadvīpa-dhāma, cantam o mahā-mantra em voz alta e executam o canto
congregacional dos Santos Nomes de Deus (harināma-saṅkīrtana). Tudo isso é
fruto da misericórdia de Śrī Śrīmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja
e é apenas uma fagulha de suas incontáveis glórias.
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Çré Çrémad Bhakti Rakñaka
Çrédhara Gosvämé Mahäräja
83
Viśuddha Caytania-Vāṇī
“Em relação a tal fato, eu tive uma experiência em primeira mão. Śrīla Pra-
bhupāda havia enviado pūjyapāda Mādhava Mahārāja — então Śrī Hayagrīva
Brahmacārī — e eu para adquirirmos algum terreno no local de encontro de
Caitanya Mahāprabhu e Rāya Rāmānanda em Kovvur, próximo às margens do
rio Godāvarī, para lá estabelecer as pegadas (pada-pīṭha) de Śrīman Mahāpra-
bhu. Após muitos dias de esforço sem fim, eu disse: ‘Hayagrīva Prabhu, Śrīla
Prabhupāda nos enviou aqui com uma grande esperança de obter algum ter-
reno para estabelecer o padapīṭha de Mahāprabhu. Meu nome de brahmacārī
dado por Śrīla Prabhupāda era Rāmānanda dāsa, e este é o local de encontro de
Mahāprabhu e Rāmānanda Rāya. Embora nós tenhamos tentado o nosso melhor
para obtermos algum terreno, não fomos bem sucedidos. Qual é a sua opinião?
Nós deveríamos permanecer aqui por mais tempo, ou ir a Madras para pregar?’
Śrī Hayagrīva Prabhu respondeu: “Eu sinto que até agora não empreende-
mos nenhum esforço especial. Creio que deveríamos continuar nos esforçando
por mais algum tempo.”
Śrīla Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja então disse a todos os vaiṣṇavas presentes:
“Vocês podem estimar sua capacidade a partir dessa declaração feita por ele. O
aparente ponto final de nossas tentativas era para ele o ponto inicial de esforços
revigorados. Posteriormente, por meio de seus esforços incansáveis, um terre-
no foi adquirido em Kovvur e a maṭha foi lá estabelecida. Śrīla Prabhupāda cos-
tumava se referir a Śrī Hayagrīva Brahmacārī como sendo o possuidor de uma
‘energia vulcânica’. Śrī Vāsudeva Prabhu costumava chamá-lo de sarva ghaṭe, al-
guém que se sobressai em executar todos os tipos de tarefas”.
“Minha opinião pessoal sobre pūjyapāda Mādhava Mahārāja é de que ele é
comparável a ninguém menos que Śrīla Vakreśvara Paṇḍita, um associado de
Śrīman Mahāprabhu que podia dançar continuamente durante o kīrtana por se-
tenta e duas horas sem se cansar.”
Além da glorificação de meu Guru Mahārāja, esse relato narra uma lição
importante. Embora Śrīla Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja fosse sênior a meu Guru
Mahārāja, tendo ido residir na maṭha e recebido sannyāsa-veśa mais cedo, ele não
hesitava em observar e falar sobre as boas qualidades de seu júnior. Śrī Goloka
Vṛndāvana é a morada mais elevada, superior a todos os planetas Vaikuṇṭha, ela
se mantém eternamente livre até mesmo do menor aroma de ciúme e inveja. Por
Śrīla Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja estar entre as grandes personalidades que são
sinceras (nirmatsara) seguidoras dos amáveis residentes desta mesma Goloka
Vṛndāvana, ele se mantém livre das limitações materiais deste mundo, sendo
portanto capaz de oferecer tal glorificação genuinamente humilde e desprovida
de duplicidade.
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Capítulo 4 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja
Conhecer o Incogniscível
Śrī Śrīmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja certa vez pregou em
Bombaim (atual Mumbai) antes do estabelecimento da Gauḍīya Maṭha por
lá. Śrī M.P. Engineer, o primeiro Advogado Geral da Índia independente, era
então o presidente da Sociedade Teosófica e convidou Śrīla Śrīdhara Gosvāmī
Mahārāja para discursar em uma das reuniões da Sociedade. Devido ao fato de
muitos oradores terem sido convidados, foi solicitado a cada um deles que man-
tivessem seus discursos dentro de concisos quinze minutos.
Em sua fala, Śrīla Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja mencionou que o Supremo
Senhor Śrī Bhagavān é advaya-jñāna para-tattva – que significa “aquele cuja su-
premacia não pode ser conhecida apenas através de esforços individuais, nem
o conhecimento acerca Dele pode ser concedido por outras pessoas (além Dele
mesmo)”:
nāyam ātmā pravacanena labhya
na medhayā na bahunā śrutena
Kaṭha Upaniṣad (1.2.23)
Mādhava está em suas palavras, Mādhava está em seu coração. Todas as
pessoas santas lembram-se de Mādhava, o esposo de Lakṣmī (a deusa da
fortuna) em todos os seus esforços.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
maneira muito bela. Portanto, por favor, tome outros quinze minutos e com-
plete a sua apresentação sobre esse assunto.”
Śrīla Mahārāja então prosseguiu com firmeza para estabelecer o siddhānta
completo e adequado: “Embora os śāstras mencionem que Śrī Bhagavān seja a
Verdade Absoluta não-dual, é mencionado nas mesmas escrituras que se Ele, a
Suprema Verdade Absoluta, não possui a habilidade de se revelar a quem quer
que Ele deseje, então Sua supremacia e qualidades enquanto ser ilimitado e
infinito seriam imediatamente questionáveis. É dito que:
yam evaiṣa vṛṇute tena labhyas
tasyaiṣa ātmā vivṛṇute tanuṁ svām
Kaṭha Upaniṣad (1.2.23)
A Alma Suprema é alcançável apenas por alguém a quem Deus concedeu
a Sua misericórdia. A tal pessoa, Ele revela Sua forma pessoal.
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Capítulo 4 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
meçou seu discurso dizendo: “Devido ao fato dos vaiṣṇavas serem humildes
por natureza, eles se apresentam dizendo ‘dāso ’smī—eu sou vosso servo’.
Advaitavādīs, contudo, sendo incapazes de apreciar tal dignidade, estão sem-
pre desejosos de introduzirem-se orgulhosamente dizendo ‘aham brahmāsmi
— eu sou brahma (o espírito, a Verdade Absoluta)’.” Indiretamente se referindo
à humilde conduta de Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja, ele
disse: “Francamente, não é necessário que os vaiṣṇavas exibam sua humildade
em todos locais e circunstâncias”. Após isso, Dr. Nāgarāja Śarmā prosseguiu es-
tabelecendo seu ponto de vista acerca de dvaitavāda.
No fim do debate, Śrīla Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja disse em seu discur-
so conclusivo como mediador: “É fato que alguém fica com o orgulho inflado
quando convive com pessoas inferiores a si mesma. Mas esse tipo de orgulho
enganoso nunca pode surgir em alguém que sempre se mantém na companhia
de personalidades elevadas e transcendentais. Assim como um pai que natural-
mente se comporta como um sênior diante de seu filho e como um júnior em
frente a seu próprio pai, uma pessoa que convive com aqueles que obtiveram a
perfeição mais elevada — o serviço à Pessoa Suprema — não exibe humildade
de maneira forçada; ao invés disso, a humildade divina naturalmente se mani-
festa em seu coração e é refletida em sua conduta. Se uma pessoa convive com
alguém inferior a ela, o orgulho está sujeito a se manifestar em seu coração”.
Ser humilde não é um processo mecânico, mas sim um subproduto natural
da realização espiritual. Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja referiu-se a si mesmo dizendo:
jagāi mādhāi hôite muñĩ se pāpiṣṭha
purīṣera kīṭa hôite muñi se laghiṣṭha
mora nāma śune ĵei tāra puṇya kṣaya
mora nāma laya ĵei tāra pāpa haya
emana nirghṛṇa more kebā kṛpā kare
eka nityānanda binu jagata bhitare
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 5.205-207)
Sou mais pecaminoso que Jagāi e Mādhāi e até mesmo inferior a um
verme no excremento. O karma positivo, as atividades piedosas daquela
pessoa que ouve meu nome são completamente destruídas. Qualquer
um que pronuncie meu nome cometerá um pecado. Quem neste mundo
além de Nityānanda poderia mostrar Sua misericórdia a alguém tão vil
como eu?
Śrīla Rūpa Gosvāmī, a autoridade mais exaltada na esfera de bhakti, ex-
pressou sentimentos similares:
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Capítulo 4 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 4 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja
(guru-vargas) — assim como Śrī Raghunātha dāsa Gosvāmī, Śrīla Jīva Gos-
vāmī, Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī e outros, que constituem nosso bhāga-
vata-paramparā. Não estamos aqui para pregar com a apreensão e acanhamen-
to de uma senhora, escondendo o rosto atrás de um véu.
“No que tange as doutrinas filosóficas de personalidades como Śrī Śaṅkarā-
cārya, Jaimini, Patañjali, Kaṇāda e assim por diante, a ideologia manifesta por
Svayaṁ Bhagavān Śrī Gaurāṅga Mahāprabhu é sem igual e amplamente supe-
rior às ideologias estabelecidas até mesmo pelos quatro ācāryās vaiṣṇavas pré-
vios — Śrī Rāmānuja, Śrīla Madhvācārya, Śrī Nimbāditya e Śrī Viṣṇusvāmī.
Através de Seus ensinamentos, Ele realçou as imperfeições de tais doutrinas e
derrotou de uma vez por todas as filosofias fabricadas erroneamente. Portanto,
em nossa apresentação da ideologia de Śrīman Mahāprabhu, como é possível
que as ideologias de pessoas como Vivekānanda, Rāmakṛṣṇa Paramahaṁsa e
Bhandarkar não sejam contestadas?”
“Além disso, somos apenas mensageiros do Avatar Dourado, Śrī Caitanya
Mahāprabhu; nosso dever é meramente entregar Seus ensinamentos. Se alguém
nessa assembleia possuir quaisquer objeções, tal pessoa pode apresentá-las a
Śrīman Mahāprabhu, Śrīla Vedavyāsa ou Śrīla Rūpa Gosvāmī. Embora tenha-
mos fé indesviável nesta linhagem ideológica (vicāradhārā), nós nos renderí-
amos sem dúvidas a qualquer pessoa que possa apresentar uma ideologia su-
perior àquela apresentada por Śrīman Mahāprabhu. Mas como tal pessoa não
existe, que ser inteligente não desejaria seguir ou se deixar inspirar pelo auspi-
cioso caminho espiritual descrito por Śrīman Mahāprabhu e Seus seguidores?
“O Śrīmad-Bhāgavatam estabeleceu claramente que Śrī Kṛṣṇa é o próprio
Senhor Supremo (Svayaṁ Bhagavān):
ete cāṁśa kalāḥ puṁsaḥ
kṛṣṇas tu bhagavān svayam
Śrīmad-Bhāgavatam (1.3.28)
Todos os avatāras são: ou porções plenárias, ou porções de porções ple-
nárias da Pessoa Suprema, mas Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original.
“Além disso, o próprio Kṛṣṇa declarou no Bhagavad-gītā que Ele é o objeto
supremo da rendição em versos tais como:
sarva-dharmān parityajya
mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja
ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo
mokṣayiṣyāmi mā śucaḥ
Śrīmad Bhagavad-gītā (18.66)
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Çré Çrémad Bhaktisiddhänta
Sarasvaté Öhäkura
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
de Śrīla Prabhupāda sobre a doutrina Gauḍīya, tal como ela foi ensinada por
Śrīman Mahāprabhu. As instruções de Śrīla Prabhupāda muitas vezes con-
tradiziam e desafiavam as filosofias adulteradas desses grupos adversários. As
pessoas de tais grupos ficaram com inveja da fama crescente e da gloriosa in-
fluência de Śrīla Prabhupāda. Assim, foram até a procissão do parikramā com
a monstruosa intenção de atentarem contra a vida dele. Apesar de tudo, Śrīla
Prabhupāda estava despreocupado e considerou o ataque mortal contra si como
se fosse apenas uma tentativa de agressão física.
Quando os oficiais da polícia chegaram ao local e perguntaram quem esta-
va por trás do ataque, ele respondeu: “Ninguém.”
Seus discípulos obviamente ficaram assustados ao ver seu pouco caso dian-
te do incidente, pois acreditavam que, a menos que tomassem alguma precau-
ção contra seus invejosos inimigos, seria impossível organizar peregrinações
pacíficas no futuro. Em resposta, Śrīla Prabhupāda declarou com firmeza: “O
incidente não causou dano algum. Na verdade, foi favorável para nós; com isso
conseguimos uma coisa impossível que não alcançaríamos nem gastando mi-
lhões de rúpias. O atentado apareceu na capa dos jornais, ou seja, uma quanti-
dade incalculável de pessoas que nunca tinha ouvido falar da Gauḍīya Maṭha do
avatar dourado agora sabem da nossa existência. Personalidades proeminentes
de lugares distantes – como os reis de Tripura, Vārdhamāna, Koch Bihar e até
mesmo o rei de Jaipur – nos procuraram querendo saber sobre o que aconteceu.”
Deste modo, mesmo sendo uma alma eternamente livre das ilusões mate-
riais, um companheiro de Śrī Krishna e, consequentemente, uma personalida-
de sem falhas, livre das influências do karma, Śrīla Prabhupāda, através de sua
própria ética e conduta perfeitas, demonstrou a aplicação adequada do seguinte
verso do Śrīmad Bhāgavatam (10.14.8):
tat te ’nukampāṁ su-samīkṣamāṇo
bhuñjāna evātma-kṛtaṁ vipākam
hṛd-vāg-vapurbhir vidadhan namas te
jīveta yo mukti-pade sa dāya-bhāk
Aquele que ansiosamente espera pela misericórdia sem causa do Supremo,
ao mesmo tempo em que tolera com paciência as reações de seus próprios er-
ros cometidos no passado e que constantemente oferece a Krishna o máximo
respeito em seu coração com suas palavras e seu corpo, é digno de se libertar
do mundo material, pois receber tal bênção se torna seu direito legítimo.
Sua reputação
Em outro momento, enquanto estava se preparando para mais um parikramā
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Reconhecendo sinceridade
Uma vez, um senhor que desejava receber harināma foi até Śrīla Prabhupāda
e disse com o coração sincero, “Mahārāja, tenho levado uma vida abominável.
Comi vários tipos de carne, até mesmo carne de porco. Faço agora o voto de re-
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nunciar a todas essas atividades detestáveis. Por favor, me aceite como um servo
aos seus pés de lótus.”
Embora outras pessoas, apesar de residirem na maṭha há alguns anos,
nunca tivessem recebido a iniciação do harināma ou a dīkṣā, Śrīla Prabhupāda,
reconhecendo a simplicidade e sinceridade daquele homem, concedeu-lhe ini-
ciação sagrada dos Santos Nomes de Krishna.
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Capítulo 5 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhaktisiddhānta SarasvatĪ Ṭhākura
1 - O conteúdo dos Vedas informa que a alma é eterna e que portanto nunca deixa de existir. Porém,
cometer suicídio é uma ação abominável, o Skanda Purana (IV.i.12.12-13) afirma:
Aqueles que se matam penetram a imensa escuridão. Após padecerem através de mil di-
ferentes tipos de sofrimento infernal, nascem como porcos. O suicídio nunca deve ser co-
metido, pois nada de bom recai sobre aqueles que se matam, neste ou em outros mundos.
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Capítulo 5 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhaktisiddhānta SarasvatĪ Ṭhākura
fica que algo está errado. Por favor, envie-o para Kaṭaka imediatamente. Devido
a seu apego por esse jardim, sua relação com Deus pode ficar em segundo plano
e diminuir gradualmente até que seu apego pelo jardim tome conta de tudo. É
nosso dever desenvolver apego por Bhagavān e pelo mundo espiritual.
anāsaktasya viṣayān yathārham upayuñjataḥ nirbandhaḥ
kṛṣṇa-sambandhe yuktaṁ vairāgyam ucyate
Bhakti-rasāmṛta-sindhu (1.2.125)
Uma pessoa sem apego a prazer dos sentidos materiais que aceita quais-
quer facilidades que sejam adequadas para o serviço de Śrī Kṛṣṇa não é
capturada pelas amarras da ilusão ao executar tais atividades. Esse tipo
de desapego é chamado de yukta-vairāgya, que significa uma renúncia
profunda através de uma conexão constante com Śrī Kṛṣṇa.
“Permanecer apegado aos objetos que dão prazer aos sentidos e não aos prin-
cípios estabelecidos pelos nossos ācāryas não só é desfavorável para bhakti, como
é completamente contrário a ela. A verdadeira identidade da nossa Śrī Chaitanya
Maṭha é constituída por seus ideais transcendentais. No momento, a consciência
de Yadumaṇi Bābū está mais inclinada a prestar atenção naquele jardim do que
lembrar-se de Bhagavān. Ele não atingiu o estágio de fé absoluta no qual se enten-
de que servir o jardim do templo é equivalente a servir o próprio Deus. A menos
que a pessoa desenvolva tal fé inabalável, é essencial que ela sirva sob a orientação
de vaiṣṇavas sêniores. Na realidade, Yadumaṇi Bābū simplesmente alimenta a sua
tendência de executar karma e se identifica como o executor da ação. Ele pensa
que é especialista em jardinagem e que pode ensiná-la aos outros“.
Em contraste com essa história, lembramos de Śrīpāda Rāma dāsa Prabhu,
outro discípulo de Śrīla Prabhupāda, que mantinha o jardim na Śrī Chaitanya
Maṭha em Māyāpura. Porém Śrīla Prabhupāda não tinha a mesma opinião sobre
ele, pois ao contrário de Śrīpāda Yadumaṇi Bābū, Rāma dāsa Prabhu nunca se
identificou como sendo o executor de suas ações materiais. Ele tinha aceitado o
seu serviço de jardinagem não para impressionar alguém com seu talento, mas
sim porque ele acreditava que esse serviço era o único meio para ele atingir seu
bem-estar espiritual. Assim, ele cuidava do jardim com firme fé de que estava ser-
vindo Bhagavān e Seus devotos.
Certa vez, quando uma pessoa que queria estudar o purāṇa da devoção a
Deus (Śrīmad-Bhāgavatam) foi até Śrīla Prabhupāda, ele a encaminhou para Śrī
Rāma dāsa Prabhu. Após o encontro com Śrī Rāma dāsa Prabhu, essa pessoa
observou que ele era um simples jardineiro. Quando ela o questionou sobre o
purāṇa sagrado, Rāma dāsa Prabhu explicou que a essência do Bhāgavatam é
ocupar-se no serviço de Bhagavān e de Seus devotos puros. Essa pessoa voltou
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
para Śrīla Prabhupāda e reclamou: “Rāma dāsa Prabhu não é qualificado para
ensinar bhakti. Ele deseja apenas me ocupar em jardinagem, e diz que tal serviço
é a essência do Bhāgavatam.”
Śrīla Prabhupāda respondeu: “Śrī Rāma dāsa Prabhu é um verdadeiro
bhāgavata. Ele aperfeiçoou sua vida por meio de absorver perfeitamente os
ensinamentos do Śrīmad-Bhāgavatam.”
etāvaj janma-sāphalyaṁ dehinām iha dehiṣu prāṇair arthair dhiyā vācā
śreya-ācaraṇaṁ sadā
Śrīmad-Bhāgavatam (10.22.35)
É o dever de todos os seres encarnados realizarem atividades que pro-
movem bem-estar para o benefício de outras pessoas com a sua vida,
riqueza, inteligência e palavras.
Em outro exemplo, que demonstra sua perspectiva transformadora, o próprio
Śrīla Prabhupāda pediu que um devoto comprasse um par de sapatos caros para
Śrī Śrīmad Bhakti Hṛdaya Vana Gosvāmī Mahārāja que vivia descalço pelo tem-
plo, devido a seu caráter renunciado. O devoto enviou sapatos que custaram trinta
e duas rúpias (um preço considerável na época) a Śrīla Vana Gosvāmī Mahārāja
com uma mensagem informando que Śrīla Prabhupāda havia pedido que ele fosse
até Prabhupāda calçando o par de sapatos. Quando Śrī Vana Gosvāmī Mahārāja
obedeceu sua instrução, Śrīla Prabhupāda declarou: “Hoje a sua renúncia alcan-
çou a perfeição, porque você renunciou até mesmo sua ideia de renúncia para o
serviço de Śrīman Mahāprabhu.”
Por outro lado, por ser capaz de enxergar o coração das almas condicionadas,
quando Śrīla Prabhupāda observou um devoto calçando sapatos que custavam
meros oitenta e cinco centavos de rúpias, ele disse, “Você ainda é um grande des-
frutador de objetos materiais que satisfazem os sentidos. É extremamente vergo-
nhoso alguém utilizar sapatos sofisticados depois de ter aceitado a idumentária
(veśa) e os votos de um monge renunciante.“
Śrīla Prabhupāda costumava dizer, “Somente a mulher que merece a posição
de rainha pode se vestir de rainha.” Com tal concepção em mente, embora hou-
vesse um carro disponível no templo, Śrīla Prabhupāda não permitia que todos o
utilizassem livremente.
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Capítulo 5 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhaktisiddhānta SarasvatĪ Ṭhākura
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
sarva-vedānta-sāraṁ hi
śrīmad-bhāgavatam iṣyate
tad-rasāmṛta-tṛptasyā
nānyatra syād ratiḥ kvacit
Śrīmad-Bhāgavatam (12.13.15)
O Śrīmad-Bhāgavatam é aceito como sendo a essência de todo o Vedānta.
Quem quer que tenha sido satisfeito pela doçura transcendental (bhakti-
-rasa) do Śrīmad-Bhāgavatam nunca mais é atraído por qualquer outra
literatura.
cāri-veda—‘dadhi’, bhāgavata—‘navanīta’
mathilena śuke, khāilena parīkṣita
Śrī Caitanya-bhāgavata (Madhya-khaṇḍa 21.16)
Os quatro Vedas são como iogurte e o Śrīmad-Bhāgavatam é como a
manteiga. Śrī Śukadeva Gosvāmīt ransformou aquele iogurte em manteiga,
e Śrī Parīkṣit Mahārāja saboreou esse produto final.
Śrī Rājarṣi Śaradendu Nārāyaṇa Rāya, então disse: “Há muitos outros versos
em várias escrituras que glorificam o Śrīmad-Bhāgavatam da mesma maneira.
Podemos concluir portanto, que o Śrīmad-Bhāgavatam é o texto mais elevado de
toda a literatura védica. Na minha opinião, não há nenhuma escritura superior
ao Śrīmad-Bhāgavatam”. Śrīla Prabhupāda disse novamente, “Āgekaha āra – fale
sobre algo ainda mais elevado.”
Rājarṣi Śaradendu Nārāyaṇa Rāya olhou para ele e respondeu: “Eu não pos-
suo qualificação para dizer algo além disso.” Śrīla Prabhupāda então disse: “O
Śrī Chaitanya-Charitāmṛta é a escritura mais gloriosa de todas. Se eu estivesse
vivo para testemunhar o mundo inteiro desaparecer sob as águas no momento
de sua destruição (mahā-pralaya), eu não salvaria nenhuma outra escritura além
do Śrī Chaitanya-Charitāmṛta; abraçando-o contra o peito enquanto eu nadasse.
O vazio deixado pela aniquilação de todos os textos védicos seria preenchido
simplesmente pela existência do Śrī Chaitanya-Charitāmṛta.”
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Capítulo 5 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhaktisiddhānta SarasvatĪ Ṭhākura
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Capítulo 5 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhaktisiddhānta SarasvatĪ Ṭhākura
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2 - A palavra varṇa em sânscrito significa "cor" e não simplesmente "casta". O texto das escrituras
fala de gradações da evolução da alma através do processo da reencarnação e não de um princípio
que justifique o preconceito e a injustiça, como os vaiṣṇavas esclarecem. A relação entre o compor-
tamento e a consciência é fundamental na explicação de Śrīla Prabhupāda. Os vaiṣṇavas, ao mesmo
tempo em que rejeitam a ideia de castas rígidas e paralisantes, muitas vezes afirmam que é preciso
deixar os modos, as ações hipócritas e egocêntricas, que transparecem a inveja por Deus e pelas
outras entidades vivas – para que a iniciação da dīkṣā alcance um efeito espiritual.
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"Sim, certamente."
“Então com certeza você acredita em reencarnação.”
“Claro que sim”, respondeu Śrī Subhas Chandra Bose. “Qual hindu neste
mundo não acredita em reencarnação?”
Śrīla Prabhupāda em seguida perguntou: “Se por acaso você morresse agora
e nascesse na Inglaterra em sua próxima vida, você continuaria a lutar pela liber-
dade da Índia ou lutaria para manter o domínio inglês sobre ela?”
Śrī Subhas Chandra Bose respondeu: “Eu entendo seu ponto de vista, mas
devemos certamente pensar na liberdade desta nossa pátria.”
E então ŚrīlaPrabhupāda disse: “Você está preocupado apenas com a liberta-
ção temporária e mundana de algumas pessoas que, no momento, possuem uma
designação material, a de serem indianos. Eu, no entanto, estou preocupado com
a libertação não só de toda a raça humana, quero libertar todos os seres vivos da
escravidão a este nível material.”
Śrī Subhas Chandra Bose respondeu: “Eu nunca ouvi nada como isso antes.
Antes de conhecer o senhor, nunca ninguém havia descrito com essas palavras
tão significativas os ensinamentos do Gītā. Mas tenho medo de ter ido longe
demais na minha luta pela liberdade política para olhar para trás agora...” Di-
zendo isso, Śrī Subhas Chandra Bose deixou a maṭha sem fazer qualquer outro
pedido a Śrīla Prabhupāda para que lhe fornecesse homens para lutar pela in-
dependência do país.
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Capítulo 5 - ŚrĪ ŚrĪmad Bhaktisiddhānta SarasvatĪ Ṭhākura
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Püjyapäda Bhaktivedänta
Vämana Mahäräja
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Capítulo 6 - Pūjyapāda Bhaktivedānta Vāmana Mahārāja
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Püjyapäda Bhakti
Vallabha Tértha Mahäräja
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discursos em geral, ele não adicionava uma vírgula sequer ao que nosso Guru
Mahārāja e o guru-varga haviam ensinado. Essa era uma das suas qualidades
mais especiais. Devido a isso, a maioria dos nossos irmãos espirituais cari-
nhosamente se referiam a ele como sendo um gravador vivo.
Especialista em sevā
Certa vez, pūjyapāda Tīrtha Mahārāja (ainda chamado de Śrī Kṛiṣhṇa-Vallabha
Brahmacārī), Śrī Kanhāī Brahmacārī, eu (então Narottama Brahmācarī) e Śrīpād
Mādhavānanda Vrajavāsī, um discípulo de Śrīla Bhaktisiddhanta Prabhupāda, viaja-
mos para Sarbhog, em Assam, para pregar nossa filosofia. Enquanto estivemos
por lá, choveu sem parar e não vimos o sol por quatro ou cinco dias. Ficamos
ilhados, impossibilitados de sair na rua. Durante esse tempo, pūjyapāda Tīrtha
Mahārāj cozinhou para todos nós. Ele era um cozinheiro fantástico e todos gos-
tavam muito do que ele preparava. Esta é uma das qualidades dos vaiṣṇavas,
eles são especialistas em tudo relacionado ao serviço aos grandes santos. Para
pūjyapāda Tīrtha Mahārāj cozinhar era apenas uma das especialidades do seu
serviço devocional (vaiṣṇava-sevā).
Seu humor suave
Após o desaparecimento de Śrī Śrīmad Bhakti Jīvana Janārdana Gosvāmī Pūjyapāda
Tīrtha Mahārāj era também muito bem-humorado (rasika). Enquanto estáva-
mos em Sarbhog, um menino vinha nos ver com frequência, sempre se refe-
rindo a pūjyapāda Tīrtha Mahārāj como sendo o sábio barrigudo (peṭa moṭā
sādhu). Śrīpād Mādhavānanda Prabhu era mais gordo que pūjyapāda Tīrtha
Mahārāj – quem, na verdade, não era tão gordo, por isso ficamos bastante sur-
presos ao ouvir o menino se referir a pūjyapāda Tīrtha Mahārāj desse jeito e não
a Śrīpād Mādhavānanda Prabhu.
Não conseguíamos entender porque aquele menino estava chamando
Mahārāj por esse nome repetidamente, até que um dia eu vi pūjyapāda Tīrtha
Mahārāj sozinho com o menino. Mahārāj-ji estava inspirando profundamente
para expandir sua barriga, que ele mostrava divertidamente ao menino. Assim,
finalmente entendemos porque o menino chamava pūjyapāda Tīrtha Mahārāj
de peṭa moṭā sādhu.
Embora pūjyapāda Tīrtha Mahārāj fosse geralmente muito sério e estive
sempre ouvindo hari-kathā atentamente e servindo os vaiṣṇavas, ele também ti-
nha um ótimo senso de humor.
O Śrī Chaitanya-charitāmṛta (Madhya-līlā 22.75) afirma: “Kṛiṣhṇa-bhakte
kṛṣṇera guṇa sakali sañcāre – todas as qualidades de Krishna surgem em Seu de-
voto.” Dessa forma, podemos entender que, embora os vaiṣṇavas sejam geral-
130
Capítulo 7 - Pūjyapāda Bhakti Vallabha Tīrtha Mahārāja
mente muito sérios, eles também tem um ótimo senso de humor, porque todas as
qualidades de Krishna – que é a fonte de toda a doçura transcendental, incluindo
o bom humor – também estão presentes em Seus devotos puros.
Sua humildade e entrega
Pūjyapāda Tīrtha Mahārāj – bem como uma série de outros devotos, incluindo
eu mesmo – , nunca desejou dar hari-kathā na frente dos membros do nosso
guru-varga, em vez disso, ele estava sempre ansioso para ouvi-los falar sobre
Kṛiṣhṇa. Porém outros brahmacārīs estavam sempre muito ansiosos para falar
hari-kathā. Eles se dirigiam ao nosso Guru Mahārāja e a outros membros do
guru-varga pedindo permissão para falar.
Eu observei em nossos sêniores – particularmente em nosso Guru Mahārāja
e em Śrī Śrīmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāj – uma qualidade es-
pecial: se alguém pedisse a eles para falar hari-kathā, eles nunca permitiam. Por
outro lado, forçavam aqueles que eram relutantes em discursar publicamente a
falar sobre Deus.
Pūjyapāda Tīrtha Mahārāj era um ouvinte perito, mas era muito relutante
em falar hari-kathā. Certo dia, Śrīla Yāyāvara Gosvāmī Mahārāj anunciou: “Hoje
o nosso Śrīman Kṛiṣhṇa-Vallabha Brahmacārī vai dar hari-kathā para nós.” E,
sem protestar, Pūjyapāda Tīrtha Mahārāj deu um hari-kathā, só para obedecer
ao nosso guru-varga. Eu, pessoalmente, testemunhei incontáveis exemplos de
como ele sempre permaneceu sob a guia (anugatya) dos grandes vaiṣṇavas. Sua
completa rendição aos pés de lótus do guru-varga não pode ser comparada.
Sempre buscando o conselho dos vaiṣṇavas
Outra qualidade de Pūjyapāda Tīrtha Mahārāja é que, sempre que ele tinha al-
guma dúvida, ele se aproximava dos nossos sêniores e fazia perguntas a eles.
Um devoto sênior da Maṭha mencionou uma vez: “Embora eu tenha ficado
no templo por muito tempo, realizado peregrinações (parikramā) e muitas ou-
tras atividades espirituais, nada aconteceu; tanto a minha mente quanto a minha
vida não mudaram em nada.”
Ouvindo isso, Śrī Kṛiṣhṇa-Vallabha Brahmacārī e muitos outros devotos fi-
caram um pouco desanimados. Eles questionaram: “Qual é a utilidade de perma-
necer no templo se tal vaiṣṇava, sênior a todos nós, sente que não obteve nenhum
benefício como resultado de sua vida no templo (Maṭha-vāsa)?”
Para solucionar esse enigma, Śrī Kṛiṣhṇa-Vallabha Brahmacārī foi conver-
sar com Śrīpād Kṛiṣhṇa-Keśhava Prabhu, um discípulo de Śrīla Bhaktisiddhanta
Prabhupāda que costumava permanecer na Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha com o
nosso Guru Mahārāj, perguntando: “Prabhu, um vaiṣṇava sênior comentou que
131
Viśuddha Caytania-Vāṇī
ele sente que não recebeu nenhum benefício por ter vivido no templo. Alguns
dos devotos estão incomodados depois de terem ouvido isso. Para ajudar to-
dos eles, estou aqui sinceramente pedindo um esclarecimento. Como entender,
como conciliar tal declaração?"
Vendo sua sinceridade, Śrīpāda Kṛiṣhṇa-Keśhava Prabhu explicou: “Pro-
porcionalmente aos anos de convivência, a humildade naturalmente surge no
coração de alguém que viva na companhia de vaiṣṇavas sêniores e avançados
em bhakti. Assim, por causa de sua humildade espontânea, um devoto que é es-
piritualmente avançado fala sobre sua falta de progresso em bhakti. É assim que
devemos conciliar declarações como estas nas afirmações de vaiṣṇavas sêniores“.
Ao ouvir a resposta de Śrīpād Kṛiṣhṇa-Keśhava Prabhu, Śrī Kṛiṣhṇa-Vallabha
Brahmacārī pôde compreender tudo com clareza.
Kīrtanīyaḥ sadā hariḥ (quem pode pronunciar os Santos Nomes de Deus)
Com o passar do tempo, Pūjyapāda Tīrtha Mahārāja mergulhou completamente
na atividade de dar hari-kathā. Para ele, tornou-se impossível não falar sobre Śrī
Kṛiṣhṇa, onde quer que fosse.
Nosso relacionamento afetuoso
Às vezes, Pūjyapāda Tīrtha Mahārāja me telefonava ou se encontrava comigo
para pedir meu conselho sobre vários assuntos. Se alguém estivesse presente
naquele momento, ele dizia: “Por favor, nos perdoe, mas queremos falar um
com o outro em particular.” Dessa forma, nós costumávamos sentar juntos e
discutir várias coisas.
A relação entre nós é tal que não pode ser facilmente compreendida pela
maioria das pessoas, mas meu coração diz que nosso relacionamento sempre foi
muito doce. Desde o primeiro dia que nos conhecemos, viajamos e moramos
juntos, e juntos servimos nosso Guru Mahārāja de inúmeras maneiras diferentes.
Nós temos – e sempre tivemos – um relacionamento profundo e carinhoso, mas
porque muitas pessoas observam apenas as aparências externas, deixando de
considerar os verdadeiros e sinceros sentimentos que existem entre nós, elas per-
manecem incapazes de perceber nossa profunda e mútua afeição. Em vez disso,
tiram conclusões equivocadas sobre o nosso relacionamento.
Embora eu queira continuar glorificando meu querido irmão espiritual
pūjyapāda Tīrtha Mahārāja, a minha saúde não me permite sentar ou falar por
muito tempo. Hoje, no auspicioso dia de seu divino aparecimento neste mundo,
eu oro aos seus pés de lótus para que ele me perdoe por qualquer ofensa que eu
possa ter cometido contra ele, tanto consciente quanto inconscientemente.
132
Capítulo 7 - Pūjyapāda Bhakti Vallabha Tīrtha Mahārāja
133
Püjyapäda Bhaktivedänta
Näräyaëa Mahäräja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
136
Capítulo 8 - Pūjyapāda Bhaktivedānta Nārāyaṇa Mahārāja
Bhagavān reside onde quer que seus devotos puros sejam glorificados
As palavras de Bhagavān nunca podem se mostrar como sendo falsas; elas são
sempre a verdade (satya). Kṛṣṇa disse no Padma Purāṇā (Uttara-khaṇḍa, 92.21):
nāhaṁ tiṣṭhāmi vaikuṇṭhe
yogināṁ hṛdayeṣu vā
yatra gāyanti mad-bhaktāḥ
tatra tiṣṭhāmi nārada
137
Viśuddha Caytania-Vāṇī
“Eu não resido em Vaikuṇṭha nem no coração dos yogīs. Então onde eu resi-
do, Ó Nārada? Yatra-gāyanti mad-bhaktaḥ – lá onde Meus devotos narram
Minhas glórias, que se conectam naturalmente a eles mesmos”.
Por Kṛṣṇa estar sempre acompanhado dos Seus devotos puros, as glórias
do Senhor são intrinsecamente conectadas a eles. Portanto, a palavra gāyanti re-
fere-se às glórias de Kṛṣṇa conectadas a Seus devotos tais como Śrīmatī Rādhikā,
Nanda Bābā, Yaśodā Mātā, os Vrajavāsīs, śuddha vaiṣṇavas (vaiṣṇavas puros) e
śrī guru. Nesse verso, Kṛṣṇa declara que Ele corre para o lugar onde as glórias dos
Seus devotos são louvadas.
Bhagavān é controlado pelo pedido de Seus devotos
O Śrī Caitanya-caritāmṛta descreve como, durante o festival do Ratha-yātrā, a
carruagem (ratha) daquele Senhor do universo, Śrī Jagannātha, que é absoluta-
mente independente e se move exclusivamente conforme o Seu desejo. Se Ele
não deseja sair do lugar, então ninguém no mundo possui força suficiente para
movê-lo, nem mesmo um milímetro.
Eu mesmo testemunhei tal situação. Embora elefantes, cavalos e multidões
de homens tenham tentado puxar a carruagem, ela permaneceu imóvel. Em tal
momento, um devoto chamado Sadāśiva Ratha Śarmā, que estava sofrendo mui-
to, começou a cantar em voz alta: "Ó Senhor! Como Você pode ser tão cruel?
Milhares de devotos estão sofrendo muito porque Você se recusa a mover Sua
carruagem. Como Seu coração não derrete ao ver o choro profuso e nossos es-
forços intensos?”
Porque seu canto estava impregnado de profunda fé, a gigantesca carruagem
de Jagannātha entrou em movimento, de modo que parecia voar. Naquele dia,
eu testemunhei pessoalmente como o coração do Senhor Se derrete ao ouvir os
pedidos intensos de Seus devotos mais queridos.
A afeição especial de Jagannātha por Seus devotos mais queridos
Certa vez, o rei de Jagannatha Purī, Mahārāja Gajapati, foi ignorado pelo governo
do estado da Orissa durante o festival do Ratha-yātrā. Na celebração, o governo
assume toda a responsabilidade administrativa e a supervisão total do evento. Faz
parte da antiga tradição do festival que o rei varra a rua na frente das carruagens
de Jagannātha antes que as mesmas sejam puxadas pela multidão. O preço dessa
atividade é alto, pois se pressupõe que o governo cubra as despesas de todas as
etapas ligadas ao transporte do rei e de toda sua comitiva até os portões do templo.
Naquele ano em particular, o ministro-chefe da Orissa, para economizar
com os gastos do festival, propôs que o governo ignorasse o ritual de convite ao
monarca. No dia do Ratha-yātrā, então, ninguém do templo de Śrī Jagannātha
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Capítulo 8 - Pūjyapāda Bhaktivedānta Nārāyaṇa Mahārāja
foi buscar o rei, que estava esperando em seu palácio completamente vestido e
preparado para a ocasião.
No local do festival, Baladeva Prabhu, Subhadrā-devī e a Sudarśana chakra
foram levados tranquilamente do templo para as Suas respectivas carruagens
na procissão cerimonial. Contudo, quando os servos (paṇḍās) da deidade
de Jagannātha tentaram levá-Lo, eles não conseguiam levantá-Lo do lugar. Os
paṇḍās de Baladeva Prabhu e Subhadrā-devī foram ajudá-los. Em seus esforços,
alguns deles foram feridos – um deles quebrou a perna, o outro fraturou a mão e
muitos outros paṇḍās sangraram.
Finalmente, Sadaśiva Ratha Śarmā disse em voz alta: “Ouçam todos! Vocês
ofenderam um devoto do Senhor ao deixar de convidá-lo. Insultar um devoto do
Senhor produz resultados tais como os que estamos vendo agora. Como é possível
satisfazer o mestre insultando Seu servo? Vão e, com grande respeito, tragam o rei".
Os paṇḍās ouviram suas palavras e foram buscar sua majestade. Quando
chegou, o rei tocou as vestes de Śrī Jagannāthadeva e orou a Ele: “Ó, Maṇimā
(personalidade incomparável)! Essas pessoas são ajña (ignorantes). Elas são
como crianças desprovidas da visão e da maturidade necessárias para ponde-
rar adequadamente antes de fazerem qualquer coisa. Mas Você é a Suprema
Personalidade Divina, Você sabe de tudo. Por que Você está agindo de tal
maneira, causando sofrimento a tantas pessoas?”
Depois disso, Jagannātha foi finalmente levado até a sua carruagem com fa-
cilidade, sendo erguido por apenas alguns de seus paṇḍās.
Deus afirma que fica mais satisfeito com quem serve Seus devotos do que com
quem O serve diretamente, demonstrando tal fato por meio de Suas atividades.
Ele assim o demonstra diretamente e com frequência. Aqueles que são altamente
afortunados puderam testemunhar esse fato e relatá-lo aos demais. Tais pessoas
são capazes de compreender os profundos significados das escrituras (śāstras).
Lembranças de pūjyapāda Nārāyaṇa Mahārāja
Hoje é o dia de desaparecimento de pūjyapāda Bhaktivedānta Nārāyaṇa
Mahārāja. Nara significa ‘ser humano’ e ayaṇa significa ‘abrigo’. Portanto, quan-
do as escrituras mencionam o nome Nārāyaṇa, se referem a uma personalidade
que é o verdadeiro abrigo de todos os seres vivos.
Pūjyapāda Nārāyaṇa Mahārāja para mim era como um irmão espiritual
(satīrtha). Quando ele era mais jovem e residia em Mathurā, certa vez nos senta-
mos juntos e eu disse a ele: “Mahārāja, por ter nascido no norte da Índia, você é
muito versado em hindi. Seria uma grande fortuna para todos se você viajasse e
pregasse em hindi por todo o país.”
Pūjyapāda Nārāyaṇa Mahārāja respondeu: “Minha saúde não está boa atual-
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 8 - Pūjyapāda Bhaktivedānta Nārāyaṇa Mahārāja
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 8 - Pūjyapāda Bhaktivedānta Nārāyaṇa Mahārāja
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Krishna escuta Seus
devotos amorosos
O sannyāsī e o papagaio
Certa vez, um sannyāsī da Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha saiu para pedir doações
pelas casa e, em uma delas, havia uma papagaia. Assim que o sannyāsī chegou à
porta dessa casa, a ave começou a gritar e se aproximou da cabeça dele. Apesar de
ter tentado de todas as maneiras conversar com a papagaia em Bengali e explicar
que ele era amigo do seu dono, o pássaro não prestou a atenção às palavras dele e
o sannyāsī não conseguiu dar um passo sequer para dentro da casa.
Quando o dono do papagaio viu aquilo, disse: “O que você está fazendo?
Não sabe que ele é meu amigo e não um inimigo?” Ele repetiu as palavras:
“Amigo, amigo, amigo”, em Bengali. Ao ouvir a voz do dono, o papagaio mudou
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
A vaca poliglota
Quando eu morava na Śrī Caitanya Gauḍīya Maṭha em Hyderabad, perto dali
O mesmo princípio que se aplica às aves e aos animais, aplica-se a todos os seres
vivos, semi-deuses, e até mesmo a todos os avatares do Senhor, inclusive ao pró-
prio Supremo Śrī Kṛṣṇa. Qualquer ser vivo presta muito mais atenção e dá mais
valor às palavras de quem o serve e cuida dele com amor. Desse modo, Śrī Kṛṣṇa
responde apenas às orações de quem Lhe presta serviço devocional amoroso ou
àqueles que cultivam um desejo profundo e sincero de prestar semelhante servi-
ço. Ele não escuta as orações de mais ninguém.
Talvez seja essa a razão pela qual nosso param-gurudeva, Śrī Śrīmad
Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura Śrīla Prabhupāda, dizia que não podemos
pregar a devoção à Deus (bhakti) através de qualquer idioma que não seja a pró-
pria linguagem da devoção. Sim, a língua é essencial para expressar as questões do
amor, mas para aqueles que não têm bhakti em seu coração, o mero conhecimen-
to da linguagem não é suficiente para inspirar a devoção a Deus nos demais. É
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Capítulo 9 - Krishna escuta Seus devotos amorosos
somente pela presença de bhakti pura no coração de alguém que suas palavras se
tornam empoderadas de amor divino. Só então é possível que bhakti, a devoção a
Śrī Kṛṣṇa, seja transmitida aos corações de quem ouve tais palavras. E só a par-
tir desse momento os ouvintes se sentem impelidos a se renderem ao serviço
devocional amoroso.
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Näma-cintämaëi
149
Viśuddha Caytania-Vāṇī
kṛṣṇasya nānā-vidha-kīrtaneṣu
tan-nāma-saṅkīrtanam eva mukhyam
Bṛhad-bhāgavatāmṛta (2.3.158)
“Entre as muitas categorias do kīrtana de Śrī Kṛṣṇa, a mais elevada e suprema
é o canto dos Seus Santos Nomes (nāma saṅkīrtana)”.
Pois, transcendentalmente, o nome sagrado e Aquele que possui tal nome
(nāma e nāmī), não são diferentes entre si. A analogia a seguir nos ajuda a com-
preender esse fato.
As limitações do som material
Existem diferentes maneiras de glorificar o Senhor que correspondem ao que
Este mundo material é formado por cinco elementos, a saber: terra, água, fogo,
ar e éter. As respectivas qualidades desses elementos são: cheiro, gosto, for-
ma, tato e som. O som é a mais sutil dentre essas cinco qualidades, e ninguém
consegue impedi-lo de circular por toda parte dentro do mundo material. Por
exemplo, uma vez, durante a guerra entre a Índia e o Paquistão, foram instau-
rados por toda a Índia um toque de recolher e um apagão noturnos. Na época
da guerra, eu estava passando um período num templo da Śrī Caitanya Gauḍīya
Maṭha em Chandigarh e era proibido acender até mesmo uma vela nas ruas e
nas demais áreas públicas. Mesmo assim, com o corte da eletricidade, meu ir-
mão espiritual Bhakti Prasāda Purī Maharāja conseguia ouvir o noticiário sobre
a guerra pelo rádio. Isso nos faz compreender o quão impossível é limitar ou
impedir a difusão do som no espaço.
Neste mundo, os seres ou objetos sutis dominam, controlam e governam
os seres materiais e os objetos densos. Assim, o som permeia tudo e mantém o
controle sobre o mundo inteiro e sobre cada objeto no espaço (vastu). Todas as
transações, como o comércio e a aquisição de terras, e todas as comunicações
– quer aquelas feitas frente-a-frente ou à distância através da tecnologia – acon-
tecem por intermédio do som das palavras. No entanto, o som deste mundo não
passa de uma manifestação de aparā-śakti (a potência externa de Bhagavān) não
podendo, portanto, adentrar o mundo espiritual (vaikuṇṭha). O som material
circula livremente no universo material. Porém, esse som material controla ape-
nas o âmbito da matéria, no máximo sua ação tem efeito dentro das fronteiras
dos catorze sistemas planetários, mas não além deles.
As peculiaridades extraordinárias do som espiritual
Além desse som material, existe outra espécie de som chamado śabda-brahma,
que é a manifestação de Deus (Bhagavān) na forma de som. Esse som trans-
cendental (śabda-brahma) é o som do universo absoluto (Vaikuṇṭha), o objeto
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Capítulo 10 - Nāma-cintāmaṇi
mais sutil do reino espiritual. O nome Kṛṣṇa é o mais sutil de todos os sons
transcendentais. O Kaṭhpaniṣad (1.2.20), descreve Kṛṣṇa como sendo ainda
mais sutil do que aquilo que há de mais sutil na existência. Kṛṣṇa é a mais su-
til de todas as personalidades e o som do Seu Nome é o mais sutil dos sons
transcendentais. Desse modo, o nome de Deus (Kṛṣṇa-nāma) é poderosíssimo
e capaz de controlar tudo o que existe.
O som comum deste mundo material não tem vida, ao passo que śabda-
-brahma é dotado de consciência. O som material precisa de um intermediário
pessoal ou mecânico para ser transmitido de um lugar a outro. No entanto,
śabda-brahma é tão poderoso que consegue viajar por intermédio de sua própria
vontade independente. O som material não possui forma espiritual, ao passo que
śabda-brahma possui uma lindíssima forma transcendental.
Todas as palavras de śabda-brahma correspondem a uma forma própria e
independente. Kṛṣṇa-nāma também possui uma forma eterna de beleza extra-
ordinária (svarūpa); Kṛṣṇa-nāma tem ouvidos, um nariz, uma boca, olhos, pés,
braços, uma cabeça e assim por diante. Essa forma se alimenta, caminha, é ca-
paz de se relacionar reciprocamente com outros indivíduos, descansa, concede
prazer e também saboreia a felicidade. É por isso que os devotos se referem a
Kṛṣṇa-nāma como sendo uma personalidade: Śrī Nāma Prabhu. Com este en-
tendimento, um dos membros do nosso guru-varga, Śrī Bhagavān dās Bābājī
Mahārāja – natural de Kālanā – costumava servir a Śrī Nāma Prabhu como se
serve à Deidade (vigraha), oferecendo-Lhe alimentos (bhoga), adoração (pūjā),
colocando-O para dormir e assim por diante.
Essas são apenas algumas das tantas razões pelas quais Kṛṣṇa-nāma é não
diferente de Śrī Kṛṣṇa. Ouvindo essas verdades podemos compreender a supe-
rioridade de Kṛṣṇa-nāma e porque Śrī Kṛṣṇa-nāma-saṅkīrtana é a principal en-
tre todas as formas de kīrtana.
Deve-se recitar o som transcendental cada vez mais
Conforme Śrīla Jīva Gosvāmī afirma em seu livro Śrī Harināmāmṛta-vyākaraṇa,
um dos objetivos da gramática sânscrita (vyākaraṇa) é reduzir o número de
vogais intrassilábicas (mātrās) sem perder o significado da frase. Quando os
eruditos conseguem reduzir o número de mātrās, eles experimentam uma fe-
licidade equivalente àquela de ser abençoado com o nascimento de um filho.
Porém, essa conquista, essa síntese, é digna de louvor apenas em relação aos
sons do mundo material, e não a śabda-brahma:
vaikuṇṭha-nāma-grahaṇam
aśeṣāgha-haraṁ viduḥ
Śrīmad-Bhāgavatam (6.2.14)
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 10 - Nāma-cintāmaṇi
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 10 - Nāma-cintāmaṇi
ido parar num país estrangeiro, ou que de alguma forma tivesse sido levado para
algum dos planetas celestiais. Apesar de já ter ouvido a respeito daquelas joias
preciosas, ele não conseguia decidir se deveria guardar o ouro ou jogá-lo fora e
pegar as joias que estavam bem na frente dele.
Nosso dever, sempre que estivermos confusos
O mendicante não tinha certeza se as joias eram verdadeiras ou falsas. Ele pen-
sou que se levasse as joias e elas fossem falsas, ele não só perderia o ouro, mas
também ficaria com pedras inúteis. Embora aquelas joias fossem mais do que
preciosas, ele duvidou da autenticidade delas porque não conseguia calcular o
seu valor. Se um joalheiro estivesse com ele naquela ocasião, poderia ter feito a
avaliação correta. Sem dúvida alguma um joalheiro teria descoberto o valor ver-
dadeiro de cada uma delas, bem como a maneira correta de usar todas as pedras
e seus respectivos preços no mercado.
Precisamos ficar alerta quando nos sentirmos confusos
Vale a pena mencionar neste contexto que nem todos os joalheiros têm o mes-
mo nível de expertise ou o mesmo caráter. Vários joalheiros poderão atribuir
valores drasticamente diferentes à mesma joia por conta de suas específicas ca-
pacidades e intenções. Visando o próprio benefício pessoal, alguns joalheiros
desonestos conscientemente atribuem um valor mais baixo a uma pedra muito
preciosa, para então comprar aquela joia ao preço que sugeriram, enquanto ou-
tros são capazes de dar um valor inflacionado às suas próprias pedras para se
aproveitar de um cliente sem conhecimento e obter um lucro exorbitante.
Cinquenta anos atrás em Hyderabad, o dono de uma loja de doces chama-
da Āgrā Sweets comprou uma casa velha. Durante a reforma daquela casa, um
trabalhador encontrou um diamante, mas como não sabia nada sobre diaman-
tes, achou que deveria ser um brinquedo. Por isso, ele deu o diamante ao dono
da casa dizendo: “Eu achei isso aqui. O senhor pode dar aos seus filhos”. O dono
da casa deu ao pedreiro dez rúpias de recompensa e levou o diamante. O traba-
lhador ficou muito satisfeito e elogiou o homem por sua generosidade. O dono
levou o diamante a um joalheiro que avaliou a joia em uma lākha (cem mil rú-
pias). E como o dono da casa era muito inteligente, ele não vendeu o diamante
em Hyderabad, mas o levou a Bengalor para avaliá-lo durante uma viagem de
negócios. O joalheiro de Bengalor avaliou o diamante em trezentas mil rúpias.
Mesmo assim, o dono não o vendeu, ao invés disso, levou a gema para Mumbai,
onde a mesma joia foi avaliada em um milhão de rúpias.
Pela história acima, podemos entender claramente que, embora o diamante
tivesse sido avaliado por três profissionais diferentes, cada um deles forneceu
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 10 - Nāma-cintāmaṇi
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
isso, tiveram que trazer um joalheiro da França, que espantou todo mundo ao
declarar que o valor da joia era em torno de quinhentos crore (1 crore equivale a
dez milhões de rúpias).
Os Sikhs alegaram que a joia pertencia ao seu soberano, Ranjeet Singh; já o
povo da Caxemira disse que a joia era deles, e o governo indiano afirmou que a
joia era um bem nacional e que por isso eles deveriam ser seus donos legítimos.
O verdadeiro valor do Kṛṣṇa-nāma pode ser compreendido por intermédio
da companhia das almas autorrealizadas (sādhu-saṅga)
Enquanto a joia da Caxemira ficou guardada naquele móvel ninguém tinha
noção do seu tremendo valor. Da mesma maneira nós ignoramos totalmente as
glórias do Kṛṣṇa-nāma.
Mesmo que grandes personalidades nos informem das glórias do canto dos
Santos Nomes, isso parece não ser suficiente para nos inspirar a considerar o
mahā-mantra como sendo nossa vida e nossa alma. Primeiro temos que con-
quistar qualificação para só então considerarmos a joia dos Nomes Sagrados que
realiza todos os desejos (nāma-cintāmaṇi) nossa posse mais valiosa. A esse res-
peito, Śrīla Jagadānanda Paṇḍita, companheiro íntimo de Śrīman Mahāprabhu,
escreveu:
ĵadi kôribe kṛṣṇa-nāma sādhu-saṅga kara
bhukti-mukti-siddhi-vāñchā dūre parihara
Prema-vivarta (7.3)
“Se você deseja cantar os nomes de Kṛṣṇa (Kṛṣṇa-nāma), fique na com-
panhia dos devotos puros e rejeite todos os desejos de obter prazer dos
sentidos, libertação e poderes místicos”.
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Capítulo 10 - Nāma-cintāmaṇi
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Quem e verdadeiramente humilde?
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Capítulo 11 - Quem é verdadeiramente humilde?
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Capítulo 11 - Quem é verdadeiramente humilde?
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Como realizar dhäma-parikramä
Śaraṇāgati (6.3.3)
“Na companhia de praṇayi-bhaktas, eu hei de visitar e de contemplar to-
dos os lugares que meu Gaura alegremente visitou. O verdadeiro objetivo
de se realizar o parikramā é evoluir em bhakti e desenvolver amor e apego
aos lugares onde Kṛṣṇa realizou Seus passatempos. Esse apego é transmiti-
do do coração dos praṇayi-bhaktas (devotos que possuem transcendental
e profundo amor pelo Senhor) para os corações de quem aceita refúgio
em Seus pés de lótus. É apenas quando realizamos peregrinações santas
(parikramā) na companhia de semelhantes devotos puros e sob sua guia e
orientação que se obtém o máximo benefício.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 12 - Como realizar dhāma-parikramā
169
Viśuddha Caytania-Vāṇī
isso, falarei apenas se vocês quiserem ouvir – caso contrário, vamos contemplar
(darśana) os demais lugares agora e falaremos de suas glórias quando o tempo
assim permitir, para que vocês possam honrar o alimento oferecido a Deus
(prasāda) o quanto antes”.
Todos responderam quase em uníssono: “Temos bastante comida em nos-
sas casas, no entanto viemos realizar o parikramā e provar o néctar que o senhor
derrama em nossos ouvidos. Não estamos aqui apenas para comer, beber e dor-
mir. Por favor, tenha a bondade de narrar os passatempos que ocorreram nesses
lugares que estamos visitando”.
Então, Śrīla Purī Gosvāmī Mahārāja começou a ler os passatempos de Śrī
Mādhavendra Purīpāda e as glórias do Govinda-kuṇḍa no Śrī Chaitanya-
-Caritāmṛta. Em seguida, ele falou das glórias da colina que Kṛṣṇa levanta em
seus passatempos (Girirāja Govardhana) e recitou o Śrī Govardhana-vāsa-
-prārthanādaśakam, escrito por Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī, no qual ele
ora: “nija-nikaṭa-nivāsaṁ dehi govardhana tvam! – Oh Girirāja Govardhana!
Por favor, permita-me morar perto de você”.
Todo o grupo ali presente ouvia com toda atenção e se mantinha tão quieto
que daria para ouvir um alfinete cair. Muitos derramavam lágrimas e ninguém sen-
tia fome nem sede, porque todos estavam plenamente concentrados no hari-kathā.
Hoje em dia, os devotos que realizam e organizam o parikramā não pre-
cisam se submeter ao mesmo árduo nível de esforço dos devotos do passado.
Eles têm tempo suficiente para relaxar e ouvir hari-kathā. Apesar disso, não pre-
senciamos o mesmo tipo de êxtase e bem-aventurança que experimentávamos
durante aqueles parikramās acontecendo nos grupos de hoje em dia.
Quando realizamos o parikramā na companhia de praṇayi-bhaktas, não te-
mos tempo para bobagens, pois ficamos completamente concentrados em ouvir,
cantar e lembrar das glórias de Kṛṣṇa e do Avatar Dourado. É apenas na compa-
nhia dos devotos puros que podemos compreender e realizar o verdadeiro bene-
fício de fazer as peregrinações no dhama sagrado.
170
Capítulo 12 - Como realizar dhāma-parikramā
171
O processo devocional deve
ser realizado sem trapacas
,
173
Viśuddha Caytania-Vāṇī
sou o seu proprietário legítimo. Por favor, transfira a terra para o meu nome”.
Fazendo o que ele pediu, passei a propriedade da terra para o nome dele.
Quando os residentes do templo ficaram sabendo disso, me perguntaram sur-
presos: “Mahārāja! Madhumaṅgala Prabhu lhe deu a propriedade sobre essa ter-
ra. Por que você transferiu a terra para o nome do irmão dele? Como esse irmão
é um materialista, ele vai usar essa propriedade para o prazer dos seus próprios
sentidos. Não teria sido melhor vender a terra e usar o dinheiro a serviço do tem-
plo? Fazer isso traria benefício espiritual para Madhumaṅgala Prabhu”.
Eu respondi assim: “Por acaso eu poderia conquistar algum benefício es-
piritual servindo à maṭha através de meios impróprios? Alguma escritura reco-
menda a prática da trapaça como um ramo de bhakti? Como é possível que Śrī
Kṛṣṇa, o senhor das seis opulências e que Rādharāṇī, que é sarvalakṣmī-mayī (a
fonte de toda a prosperidade e de todas as potências de Deus, adorada até mesmo
pela própria deusa da fortuna, Lakṣmī Devi), experimentem qualquer tipo de
pobreza? Como então é possível aceitar algo obtido por meios ilegais para prestar
serviço devocional?
“Śrī Madhumaṅgala Prabhu não me instruiu claramente para utilizar sua
propriedade a serviço da maṭha. E ele a transferiu para o meu nome para evitar
complicações ou conflitos futuros enquanto estivesse vivo. Ele não doou a terra
para mim por qualquer outro motivo. Por acaso eu deveria me sentir proprietá-
rio ou apegado a esse bem material simplesmente porque ele abandonou o corpo
inesperadamente sem esclarecer que desejo tinha em relação à propriedade?”
174
Capítulo 13 - O processo devocional deve ser realizado sem trapaças
175
Viśuddha Caytania-Vāṇī
176
Capítulo 13 - O processo devocional deve ser realizado sem trapaças
Considerando tudo como sendo providência divina de Śrī Kṛṣṇa e dos Seus
devotos, o praticante (sadhaka) deve aceitar respeitosamente sua situação atual
e, mantendo-se satisfeito em praticar kṛṣṇa-bhakti amorosamente. Ocupando-
-nos dessa maneira, conquistaremos a misericórdia do Senhor e dos Seus devo-
tos e, assim, alcançaremos a meta mais elevada.
177
Os mais queridos, incomparavelmente
misericordiosos e poderosos comandantes
do exercito de Çré Caitanya Mahäprabhu
Primeira parte
Ao dirigir-se de maneira simbólica à própria mente no Manaḥ-śikṣā (7), Śrīla
Raghunātha dāsa Gosvāmī nos aconselha a sempre prestar serviço devocional
sincero aos queridos comandantes do exército de Śrīman Mahāprabhu:
pratiṣṭhāśā dhṛṣṭā śvapaca-ramaṇī me hṛdi naṭet
kathaṁ sādhu-premā spṛśati śucir etan nanu manaḥ
sadā tvaṁ sevasva prabhu-dayita-sāmantam atulaṁ
yathā tāṁ niṣkāśya tvaritam iha taṁ veśayati saḥ
“Oh, mente, como pode o puro amor divino brotar em meu coração se o
desejo de fama e prestígio (pratiṣṭhā) dança com audácia dentro do meu
peito – como uma meretriz interesseira, uma comedora de cachorros? Por
isso, sempre se lembre e sirva aos incomparáveis e poderosos comandantes
do exército de Śrī Krsna, os queridos devotos do Senhor. Eles removerão
de uma vez por todas esse desejo impuro e iniciarão o imaculado fluxo
de amor que os habitantes da morada sagrada (vraja-prema) sentem por
Deus em seus corações”.
Esses companheiros íntimos de Śrīman Mahāprabhu consideram que o Senhor
é o favorito dos seus corações, ainda mais querido do que suas próprias vidas. A
profundidade da fé que eles sentem por Deus e pelas Suas palavras e instruções
é tamanha, que eles vivem da maneira mais pura seguindo os princípios que o
Avatar Dourado pregou e praticou. Śrīman Mahāprabhu enviou pessoalmente
essas personalidades a este mundo para o bem-estar específico de almas caídas e
condicionadas como nós.
Em Śrī Navadvīpa-dhāma, Śrīman Mahāprabhu deu as primeiras ordens para
a marcha de Seus comandantes, Śrī Nityānanda Prabhu e Śrīla Haridāsa Ṭhākura:
śunô śunô nityānanda, śunô haridāsa
sarvatra āmāra ājñā karahô prakāśa
prati ghare ghare giyā karô ei bhikṣā ‘bôlô
Kṛiṣhṇa, bhajô Kṛiṣhṇa, karô Kṛiṣhṇa-sikṣā’
ihā bai āra nā bôlibā, bôlāi
bādina-avasāne āsi’ āmāre kahibā
Śrī Caitanya-bhāgavata (Madhya-khaṇḍa 13.8-10)
179
Viśuddha Caytania-Vāṇī
O Senhor disse: “Oh, Nityānanda! Oh, Haridāsa! Ouçam. Façam com que a
Minha ordem fique conhecida em toda parte. Vão de casa em casa e implorem a
todos os moradores da seguinte maneira: ‘Cante o nome de Kṛṣṇa, sirva a Kṛṣṇa
e aprenda sobre Kṛṣṇa!”. Nesse verso, “aprenda sobre Kṛṣṇa” refere-se aos ensi-
namentos transmitidos por Kṛṣṇa a Arjuna, a Uddhava, aos Vrajavāsīs e aos de-
mais, bem como às palavras faladas a respeito de Kṛṣṇa por Śrī Brahmā, Śukadeva
Gosvāmī, Bilvamaṅgala Ṭhākura, Jayadeva Gosvāmī e outros.
Śrīman Mahāprabhu prosseguiu: “Não falem nem façam ninguém falar de
outro assunto além de Kṛṣṇa. Ao final do dia, voltem aqui e Me relatem tudo o
que aconteceu”.
Assim como um rei, Śrīman Mahāprabhu quis expandir Seu reino e por isso
revelou aos Seus comandantes Śrī Nityānanda Prabhu e Haridāsa Ṭhākura Seu
desejo de conquistar o império de māyā, a potência ilusória de Bhagavān, e trans-
formar seus residentes em cidadãos naturalizados do Seu próprio reino espiritual.
Todo comandante de exército deve derrotar o inimigo, protegendo e expan-
dindo os limites do império de seu rei. Śrī Nityānanda, o principal comandante
do exército de Śrīman Mahāprabhu, tinha tanta avidez em servir à ordem do Se-
nhor que - sem nenhum interesse pessoal, colocando Sua própria vida em risco
- transmitiu a mensagem de seu mestre aos mais pecaminosos, como os bêbados
Jagāī e Mādhāī. Śrī Nityānanda Prabhu compreendeu literalmente a ordem de
Śrīman Mahāprabhu que os orientou a pregar para todos. Por isso, Nityānanda
quis que mesmo as almas mais pecaminosas tomassem consciência da pura
mensagem divina. Afinal, por que elas deveriam ser deixadas de fora?
Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī refere-se a esses discípulos, os comandantes
do exército de Śrīman Mahāprabhu como atulam, incomparáveis. Eles detêm
capacidades inigualáveis, podendo manifestar uma energia extraordinária, ca-
paz de transformar até os mais pecaminosos, não apenas em devotos comuns,
mas também em mahā-bhāgavatas, ou seja: nos mais elevados e auto realiza-
dos devotos do Senhor, devotos capazes de trazer para todos os seres vivos deste
mundo, o mais elevado bem-estar eterno.
Foi apenas pela misericórdia imotivada de Śrī Nityānanda que Jagāī e
Madhāī obtiveram a misericórdia de Śrīman Mahāprabhu:
brahmāra durlabha āji e dõhāre dibô
e dõhāre jagatera uttama kôribô
e dui-paraśe ĵe kôrilô gaṅgā-snāna
e dõhāre bôlibe se gaṅgāra samāna
nityānanda-pratijñā anyathā nāhi haya
nityānanda-icchā ei jānihô niścaya
Śrī Caitanya-bhāgavata (Madhya-khaṇḍa 13.232-3)
180
Capítulo 14 - Os mais queridos, incomparavelmente misericordiosos e poderosos comandantes
do exercito de Śrī Caitanya Mahāprabhu
Śrī Caitanya Mahāprabhu disse aos devotos reunidos: “Hoje vou conceder
a Jagāī e Mādhāī uma bênção que é difícil de se obter, inclusive para o próprio
Brahmā. Eu os transformarei nos devotos mais honrados do mundo. Todos
aqueles que antes corriam para se lavar no Ganges após encostar neles, a partir
de agora dirão que esses dois homens são tão puros como a própria mãe Gaṅgā.
Uma promessa, um voto que Śrī Nityānanda Prabhu pronuncie, não podem ja-
mais deixar de ser cumprido. Por favor, estejam certos de que tudo isso acaba de
acontecer exclusivamente por causa do desejo de Śrī Nityānanda Prabhu”.
Com relação a Jagāī e Mādhāī, Śrī Vṛndāvana dāsa Ṭhākura Mahāśaya escreve:
kāra śakti bujhite caitanya-abhimata
dui dasyu kare dui mahābhāgavata
Śrī Caitanya-bhāgavata (Madhya-khaṇḍa 13.243)
“Quem pode compreender o misterioso plano de Śrīman Mahāprabhu?
Ele transformou dois ladrões em mahā-bhāgavatas, os mais elevados de-
votos do Senhor”.
Pela misericórdia de Śrīla Haridāsa Ṭhākura, uma prostituta chamada
Lakṣahīrā transformou-se em uma elevada e respeitada devota de Kṛṣṇa:
prasiddhā vaiṣṇavī hôilô parama-mahāntī
baḓô baḓô vaiṣṇava tāra darśanete ĵānti
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līla 3.142)
“A prostituta tornou-se assim uma vaiṣṇavī renomada e avançadíssima.
Muitos vaiṣṇavas proeminentes iam visitá-la”.
Segunda parte
Em uma conversa entre Śrī Caitanya Mahāprabhu e Śrī Rāmānanda Rāya a res-
peito da excelência da poesia de Śrīla Rūpa Gosvāmī, Mahāprabhu glorificou
Śrīla Rūpa Gosvāmī e seu irmão Śrīla Sanātana Gosvāmī da seguinte maneira:
prabhu kahe, – prayāge ihāra hôilô milana
ihāra guṇe ihāte āmāra tuṣṭa hôilô mana
ĩhāra ĵe jyeṣṭha-bhrātā, nāma – ‘sanātana’
pṛthivīte vijña-vara nāhi tāra sama
tomāra ĵaiche viṣaya-tyāga, taiche tāra rīti
dainya-vairāgya-pāṇḍityera tāhātei sthiti
ei dui bh āiye āmi pāṭhāilũ vṛndāvane
śakti diyā bhakti-śāstra kôrite pravartane
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līla 1.197, 200-202)
“Rūpa encontrou-se comigo em Prayāga. Por causa de suas virtudes, meu co-
ração ficou satisfeito com ele. Seu irmão mais velho, cujo nome é Sanātana,
181
Viśuddha Caytania-Vāṇī
182
Capítulo 14 - Os mais queridos, incomparavelmente misericordiosos e poderosos comandantes
do exercito de Śrī Caitanya Mahāprabhu
kālena vṛndāvana-keli-vārtā
lupteti tāṁ khyāpayituṁ viśiṣya
kṛpāmṛtenābhiṣiṣeca devas
tatraiva rūpaṁ ca sanātanaṁ ca
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 19.119)
“Devido à influência do tempo, as conversas a respeito dos passatempos
amorosos de Vṛndāvana haviam praticamente desaparecido. Śrī Gaurāṅga
deva concedeu poder a Śrī Rūpa e Sanātana Gosvāmī para que expressas-
sem, com toda a clareza, esses passatempos sagrados ao derramar sobre
eles o néctar de Sua misericórdia”.
Śrīla Kavirāja Gosvāmī também descreve a maneira pela qual esses dois co-
mandantes seguiram com todo o cuidado as ordens de Śrīman Mahāprabhu:
dui bhāi mili’ vṛndāvane vāsa kôilā
prabhura ĵe ājñā, dũhe saba nirbāhilā
nānā-śāstra āni’ lupta-tīrtha uddhārilā
vṛndāvane Kṛiṣhṇa-sevā prakāśa kôrilā
sanātana grantha kôilā ‘bhāgavatāmṛte’
bhakta-bhakti-Kṛiṣhṇa-tattva jāni ĵāhā hôite
āra ĵata grantha kôilā, tāhā ke kare gaṇana
‘madana-gopāla-govindera sevā’-prakāśana
rūpa-gosāi kôilā ‘rasāmṛta-sindhu’ sāra
Kṛiṣhṇa-bhakti-rasera ĵāhā pāiye vistāra
‘ujjvala-nīlamaṇi’-nāma grantha kôilô āra
rādhā-Kṛiṣhṇa-līlā-rasa tāhā pāiye pāra
‘vidagdha-mādhava’, ‘lalita-mādhava,– nāṭaka-ĵugala
Kṛiṣhṇa-līlā-rasa tāhā pāiye sakala
‘dāna-keli-kaumudī’ ādi lakṣa-grantha kôilô
sei saba granthe vrajera rasa vicārila
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 19.119)
“Enquanto moravam em Vṛndāvana, Śrīla Rūpa e Sanātana Gosvāmī cum-
priram juntos a vontade de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Eles compilaram su-
cessivas escrituras reveladas e, pelas evidências contidas nessas escrituras,
eles encontraram e trouxeram à tona todos os lugares de passatempo de Śrī
Kṛṣṇa, que haviam ficado escondidos com o tempo. Em Vṛndāvana, mani-
festaram o serviço amoroso ao Senhor (Kṛṣṇa-sevā). Śrīla Sanātana Gosvāmī
compilou o Bṛhad- Bhāgavatāmrta, um livro a partir do qual podemos com-
preender as verdades sobre os devotos, sobre processo de bhakti e sobre
Śrī Kṛṣṇa. Ele também compilou incontáveis outros textos sagrados. Quem
poderia enumerá-los?
Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī manifestaram o serviço à dei-
dade de Madanagopāla (Śrī Madana-mohana) e a Śrī Govindadeva, respectiva-
183
Viśuddha Caytania-Vāṇī
mente. Śrīla Rūpa Gosvāmī centrifugou o oceano das nectáreas doçuras espirituais
e apresentou essa essência sob a forma de um livro chamado Bhakti-rasāmrta-
-sindhu. Através desse livro podemos compreender os mais doces detalhes da
pura devoção a Deus (Kṛṣṇa-bhakti). Além disso, ele escreveu o Ujjvalanīlamani,
com o qual podemos compreender, da forma mais completa possível, os passatem-
pos transcendentais amorosos de Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa; duas importantes peças
dramatúrgicas chamadas Vidagdha-Mādhava e Lalita-Mādhava, a partir das
quais podemos compreender toda a doçura (rasa) presente nos passatempos do
Senhor (Kṛṣṇa-līlā); e o Dāna-keli-kaumudī. Somados todos os textos, ele com-
pilou cem mil versos. Em todas essas escrituras, ele explicou de forma elaborada
vraja-rasa, as doçuras transcendentais do local onde o Supremo Se manifesta”.
Assim como o exército de um país cumpre as ordens do governante de uma
nação, Śrīla Rūpa e Sanātana Gosvāmī, por ordem de Śrīman Mahāprabhu, re-
velaram os lugares de passatempo de Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa que haviam ficado es-
condidos por todo aquele tempo – e, pessoalmente, orientaram muitos devotos a
seguirem o caminho de bhakti, ensinando como avançar por esse caminho espi-
ritual. Assim, eles garantiram a continuidade do serviço àquele local sagrado, Śrī
Vraja-maṇḍala, ao longo do tempo. Por terem escrito inúmeros textos espirituais
que descrevem os diferentes tópicos relacionados a bhakti, eles consolidaram os
ensinamentos de Śrīman Mahāprabhu e derrotaram, de uma vez por todas, as
doutrinas heréticas dos seus adversários – a religião imprópria (apadharma), a
religião falsa (upadharma) e a religião enganosa (chala-dharma). Os prodígios
maravilhosos de Śrīla Rūpa Gosvāmī são devidamente enaltecidos em uma can-
ção sagrada (vaiṣṇava-bhajana), escrito por Śrī Mādhava dāsa:
yaṅ kali rūpa śarīra na dharata
taṅ vraja-prema, mahānidhi kuṭharīka,
kon kapāṭa ughāḓata
“Se Śrīla Rūpa Gosvāmī não tivesse aparecido nesta era de Kali, quem teria
aberto as portas da sala do tesouro do amor puro por Deus (vraja-prema)?”
nīra-kṣīra-haṁsana, pāna-vidhāyana,
kon pṛthak kôri pāyata
ko saba tyaji’, bhaji’ vṛndāvana,
ko saba grantha viracita
“Quem, senão Śrīla Rūpa Gosvāmī, poderia ter extraído a essência dos tex-
tos sagrados da mesma maneira que um cisne separa a água do leite? Quem
poderia ter deixado tudo para trás para praticar o canto dos Santos Nomes
(bhajana) em Vṛndāvana? Quem poderia ter escrito tais textos divinos?”
184
Capítulo 14 - Os mais queridos, incomparavelmente misericordiosos e poderosos comandantes
do exercito de Śrī Caitanya Mahāprabhu
ĵab pitu vana-phula, phalata nānā-vidha,
manorāji aravinda
so madhukara binu, pāna kon jānata,
vidyamāna kari bandha
Ele era uma abelha em meio a milhares de margaridas silvestres desabro-
chando na floresta e milhares de lótus que encantam a mente. Sem aque-
la abelha, quem poderia ter conhecido a arte de extrair o néctar presente
(porém oculto) em tais flores?”.
ko jānata, mathurā vṛndāvana,
ko jānata vraja-nīta
ko jānata, rādhā- mādhava-rati
ko jānat soi prīta
“Quem poderia ter compreendido as glórias de Mathurā e Vrṇdāvana?
Quem poderia ter entrado nas complexidades dos passatempos de Deus em
Vraja? Quem poderia ter compreendido o amor transcendental (rati) entre
Śrī Rādhā e Mādhava? Quem poderia ter conhecido aquele amor espiritual?”
Os soldados toleram com serenidade e paciência os problemas em nome
da proteção de seu país. Eles cumprem seu dever mesmo nas condições mais
hostis, em regiões encobertas de neve e assoladas pelo frio intenso. Às vezes falta
alimento e eles sofrem de saudades de seus entes amados. Da mesma maneira,
o exército de Śrīman Mahāprabhu aceita toda sorte de dificuldade afim de satis-
fazer os desejos que Deus encerra em Seu coração: guardar e proteger o reino de
bhakti do ataque dos antagonistas e dos invejosos.
O Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 19.127- 131) menciona:
aniketa dũhe, vane ĵata vṛkṣa-gaṇa
eka eka vṛkṣera tale eka eka rātri śayana
‘vipra-gṛhe’ sthūla-bhikṣā, kāhā mādhukarī
śuṣka ruṭī-cānā cibāya bhoga parihari’
karõyā-mātra hāte, kāthā chĩḍā, bahirvāsa
Kṛiṣhṇa-kathā, Kṛiṣhṇa-nāma, nartana-ullāsa
aṣṭa-prahara Kṛiṣhṇa-bhajana, cāri daṇḍa śayane
nāma-saṅkīrtane seha nahe kona dine
kabhu bhakti-rasa-śāstra karôye likhana
caitanya-kathā śune, kare caitanya-cintana
“Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī não têm residência fixa. Eles vi-
vem pelas florestas debaixo das árvores – uma noite sob uma árvore e a noite
seguinte sob outra. Deixando de lado todo o tipo de prazer material, às vezes
eles aceitam um prato de comida (sthūla-bhikṣā) na casa de um brāhmaṇa
e consideram que não precisam comer mais nada naquele dia. Em outras
ocasiões, sobrevivem com o pouco que recebem ao mendigar de casa em
casa (mādhukarī). Às vezes, conseguem apenas pedaços de pão (roṭī) seco
para comer, ao passo que, em outras ocasiões, recebem um punhado de
185
Viśuddha Caytania-Vāṇī
grão-de-bico assado para mastigar. As únicas posses que eles levam consigo
são um pote d’água, uma coberta feita de panos velhos e sua roupa íntima,
já puída. Eles sempre falam Kṛṣṇa-kathā, cantam Hare Kṛṣṇa e dançam em
êxtase. Todo dia, ocupam quase que todas as vinte e quatro horas em prestar
serviço ao Senhor. Em geral, dormem apenas noventa e seis minutos (quatro
daṇḍas) e, em certos dias, estando plenamente imersos em sua prática do
canto em grupo dos nomes de Deus (nāma-saṅkīrtana), simplesmente se
esquecem de dormir. Em outros dias, escrevem textos transcendentais sobre
as emoções da devoção pura (bhakti-rasa) e, às vezes, ouvem a respeito de
Śrī Caitanya Mahāprabhu e passam seu tempo lembrando-se dEle.”
É por essas razões que Śrīla Kavirāja Gosvāmī escreve:
mahāprabhura ĵata baḓô baḓô bhakta mātra
rūpa-sanātana — sabāra kṛpā-gaurava-pātra
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 19.123)
“Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī eram os receptáculos da mi-
sericórdia e da reverência de todos os famosos devotos do Avatar Dourado,
Śrīman Mahāprabhu”.
Esses dois incomparáveis e dedicados comandantes do exército de Śrīman
Mahāprabhu têm sido o ponto máximo do louvor de muitos vaiṣṇavas. Śrīla
Raghunātha dāsa Gosvāmī, por exemplo, glorifica Śrīla Sanātana Gosvāmī em
seu Śrī Vilāpa-kusumāñjali (6), como segue:
vairāgya-yug-bhakti-rasaṁ prayatnair
apāyayan mām anabhīpsum andham
kṛpāmbudhir yaḥ para-duḥkha-duḥkhī
sanātanaṁ taṁ prabhum āśrayāmi
“Eu hesitava, eu não estava querendo beber o néctar de bhakti-rasa, tão
bem embrulhado pela renúncia material. Porém, Śrīla Sanātana Gosvāmī,
sendo um oceano de misericórdia, tão capaz de tolerar o sofrimento alheio,
habilmente me fez beber desse néctar. Por isso, refugio-me completamente
em Śrīla Sanātana Gosvāmī”.
No livro Śrī Chaitanya-Chandrodaya (9.30), Śrīla Kavi Karṇapūra Gosvāmī
nos conta como Śrīla Rūpa Gosvāmīpāda era querido por Śrīman Mahāprabhu:
priya-svarūpe dayita-svarūpe
prema-svarūpe sahajābhirūpe nijānurūpe prabhur eka-rūpe
tatāna rūpe svavilāsa-rūpe
"Śrīla Rūpa Gosvāmī é muito amado por Śrīman Mahāprabhu. Ele é a per-
sonificação do amor a Deus e, com profunda naturalidade, conhece o cora-
ção do Senhor. Sua forma assemelha-se àquela de Śrīman Mahāprabhu – de
fato, é como se externamente os dois fossem iguais. Śrīla Rūpa Gosvāmī é a
própria personificação dos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu, pois
foi por intermédio dele que o Senhor cumpriu muitas tarefas”.
186
Capítulo 14 - Os mais queridos, incomparavelmente misericordiosos e poderosos comandantes
do exercito de Śrī Caitanya Mahāprabhu
187
Paraçuräma Jayanté
189
Viśuddha Caytania-Vāṇī
Qualquer que seja a ordem que nos dê śrī guru devemos cumpri-la custe o
que custar. No entanto este princípio aplica-se apenas a um guru competente
capaz de satisfazer inteiramente qualquer desejo de seu discípulo. Jamadagni Ṛṣi
não foi apenas o pai de Paraśurāma, senão que também seu guru que tinha como
atender plenamente a solicitação de seu filho. Desse modo, não houve absoluta-
mente erro da parte de Paraśurāma ao matar sua mãe e seus irmãos. O Śrīmad
Bhagavad-gītā (2.19) afirma:
yaenaṁvettihantāraṁ
yaścainaṁmanyatehatam
ubhau tau na vijānīto
nāyaṁhanti na hanyate
Quem acha que a alma mata ou é morta é ignorante, pois a alma não é
nem quem mata nem quem morre.
190
Capítulo 15 - Paraśurāma Jayantī
191
Viśuddha Caytania-Vāṇī
192
Capítulo 15 - Paraśurāma Jayantī
193
O resultado da imitacão
,
195
Viśuddha Caytania-Vāṇī
192
Capítulo 16 - O resultado da imitação
tro lenhador, Varuṇa-deva entrou na água e saiu dela com machados de prata e
ferro em suas mãos. Então perguntou àquele lenhador se algum daqueles macha-
dos lhes pertencia. O lenhador indicou que aquele machado de prata era dele.
Então, Varuṇa-deva voltou a entrar na água e apareceu com um machado de
ferro e ouro em suas mãos. De novo, perguntou ao lenhador se algum daqueles
machados lhes pertencia. O lenhador indicou que o machado de ouro era dele.
Ouvindo as palavras enganosas daquele lenhador, Varuṇa-deva desapareceu na
água, levando consigo o machado de ouro, o machado de prata e também o ma-
chado de ferro do lenhador.
O primeiro lenhador era simples, honesto, veraz, não dado à duplicidade
ou hipocrisia e um sincero seguidor do caminho do dharma. Em consequência
disso, recebeu a misericórdia de Varuṇa-deva, que lhe deu não apenas seu ma-
chado de ferro, como também os machados de ouro e prata. O segundo lenhador
era um trapaceiro, desonesto, mentiroso e dado à dissimulação, que desprezava
o caminho do dharma. Embora externamente tivesse realizado as mesmas ati-
vidades que o primeiro lenhador, por causa de sua conduta ele foi privado não
apenas da misericórdia de Varuṇa-deva, mas também do seu próprio machado
de ferro – sua única riqueza.
Da mesma maneira, uma pessoa que não é dissimulada e está totalmente li-
vre do desejo de conseguir o prêmio da religiosidade (dharma), riqueza (artha),
gratificação dos sentidos (kāma) e libertação (mokṣa), desejando apenas prestar
serviço devocional a Deus (Bhagavān), recebe a misericórdia divina – e sua vida
é bem-sucedida. Por outro lado, aquele que se ocupa externamente do mesmo
serviço que os devotos, mas que permanece dado à dissimulação em seu coração
e, internamente, alimenta o desejo de alcançar dharma, artha, kāma e mokṣa, se
vê privado da verdadeira misericórdia de Bhagavān.
Quem observa as mesmas ramificações de bhakti – como ouvir sobre o
Supremo (śravaṇa) e cantar Seus nomes e glórias (kīrtana) – que os devotos pu-
ros, mas só faz isso externamente sem seguir os humores internos inerentes ao
serviço sincero, é excluído do verdadeiro benefício desse mesmo serviço; os sig-
nificados profundos das escrituras descritos por śrī guru e pelos vaiṣṇavas, bem
como a essência dos seus ensinamentos divinos, não se manifestam em seu co-
ração. Além disso, perde-se o crédito das atividades piedosas espirituais (sukṛti)
acumuladas no passado. Em consequência de praticar śravaṇa, kīrtana e as outras
ramificações de bhakti com mentalidade ofensiva, só se consegue objetos de pra-
zer material. Isso faz com que sua vida se torne mais miserável do era que antes.
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As sutilezas do verdadeiro sevä
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 17 - As sutilezas do verdadeiro sevā
Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Eu não quero ver o rosto de um renunciante
que [com luxúria] fale com mulheres”.
durvāra indriya kare viṣaya-grahaṇa
dāru prakṛti hare munerapi mana
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 2.117-118)
“É tão difícil impedir que os sentidos se voltem para os objetos de prazer,
que mesmo uma estátua de madeira de uma mulher rouba a mente inclusive
de um santo”.
kṣudra-jīva saba markaṭa-vairāgya kariyā
indriya carāiya bule ‘prakṛti’ sambhāṣiyā
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 2.120)
Há muitas pessoas de poucas posses que aceitam a ordem de vida renun-
ciada como se fossem macacos. Elas vão daqui para ali, se envolvendo em
prazeres dos sentidos e falando intimamente com mulheres.
prabhu kahe,—“mora vaśa nahe mora mana
prakṛti-sambhāṣī vairāgī nā kare darśana
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 2.124)
Ele disse ainda: “Minha mente não está sob o Meu controle. Minha mente
não gosta de ver ninguém pertencente à ordem renunciada que converse
intimamente com mulheres.
‘haridāsa kāhā?’ ĵadi śrīvāsa puchilā
‘sva-karma-phala-bhuk pumān’– prabhu uttara dilā
Quando Śrīvāsa Paṇḍita perguntou a Śrī Caitanya Mahāprabhu “onde está
Choṭa Haridāsa?”, o Senhor replicou: “Com certeza, todos colherão os resul-
tados de suas atividades (karma).
tabe śrīvāsa tāra vṛttānta kahila
ĵaiche saṅkalpa, ĵaiche triveṇī praveśila
Śrīvāsa Paṇḍita, então, relatou os detalhes da decisão de Haridāsa e o fato de
ele se lançar às águas na confluência da Gaṅgā, Yamunā e Sarasvatī.
śuni’ prabhu hāsi’ kahe suprasanna citta
‘prakṛti darśana kôile ei prāyaścitta’
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 2.163-165)
Ao ouvir aqueles detalhes, Śrī Caitanya Mahāprabhu sorriu como que satis-
feito e disse: “Se movido por intenções sensuais, alguém olha para mulheres,
este é o único processo de expiação.
Embora nenhum dos ācāryas anteriores tenham mencionado os detalhes,
Śrīla Prabhupāda Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura – que é um ācārya per-
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 17 - As sutilezas do verdadeiro sevā
203
Obter os resultados desejados nas atividades
depende da parceria do corpo com a mente
Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu desejou visitar o sul da Índia sozinho, Śrī
Nityānanda Prabhu, com todo respeito, o convenceu a levar consigo em Sua
viagem o brāhmaṇa Kālā Kṛṣṇadāsa. No caminho, Kālā Kṛṣṇadāsa ficou en-
cantado pelos Bhaṭṭathāris – um grupo de ciganos que aumenta o seu contin-
gente usando mulheres para seduzir os forasteiros – e deixou a companhia de
Śrīman Mahāprabhu, porém depois foi resgatado pelo próprio Mahāprabhu. O
fato de Kālā Kṛṣṇadāsa ter ficado suscetível ao encantamento dos Bhaṭṭathāris
demonstra que, embora ele estivesse diretamente na companhia de Śrīman
Mahāprabhu, sua mente estava em outro lugar.
Para obter o benefício máximo de qualquer atividade é necessário concen-
trar a mente plena e atentamente naquela atividade em particular. As atividades
realizadas apenas com o corpo quase sempre serão infrutíferas, porque tais ati-
vidades não envolvem a atuação da mente. Apesar de um aluno universitário
poder ter um bom registro de frequência, ele mesmo assim não passará em seu
exames se não se concentrar em seus estudos. Desse modo, quando alguém diri-
ge um carro ou opera uma máquina com a mente distraída, é bem provável que
aconteçam acidentes.
Durante a época de Śrīla Prabhupāda Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura,
havia um brahmacārī que já morava na maṭha há dois ou três anos. Certo dia,
Śrīla Prabhupāda apontou para aquele bramhacārī e perguntou aos devotos pró-
ximos dele: “Quem é essa pessoa?”
Confusos, seus discípulos responderam: “Śrīla Prabhupāda, o senhor sabe
perfeitamente bem que ele já está na maṭha há algum tempo. Não conseguimos
compreender porque o senhor nos faz esta pergunta”.
Śrīla Prabhupāda replicou: “Na verdade, eu nunca vi semelhante pessoa na
maṭha.” O significado profundo das palavras de Śrīla Prabhupāda é que, embora
alguém possa estar morando fisicamente na maṭha por muitos anos, ele não resi-
de verdadeiramente no templo a menos que sua mente more ali também.
Em outra ocasião, um brahmacārī estava sentado quieto em um canto quan-
do Śrīla Prabhupāda apontou para ele e perguntou aos devotos ali próximos dele:
“Por que este brahmacārī fala tanto? Digam-lhe para ficar quieto, mesmo que
por um instante”.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 18 - Obter os resultados desejados nas atividades depende da parceria do corpo
com a mente
“Ambarīṣa Mahārāja ocupava sua mente em servir os pés de lótus de Śrī
Kṛṣṇa, suas palavras em descrever as qualidades de Śrī Bhagavān, suas mãos
em limpar o templo de Śrī Hari e seus ouvidos a ouvir a respeito dos bem-
-aventurados passatempos de Acyuta (Kṛṣṇa). Ocupava os olhos em ver a
Deidade de Mukunda, os templos e os lugares sagrados; todos os membros
de seu corpo em tocar os corpos dos bhaktas de Kṛṣṇa; suas narinas em chei-
rar o aroma divino da tulasī oferecida aos pés de lótus de Kṛṣṇa; e sua língua
em saborear a prasāda oferecida a Bhagavān. Seus pés viviam caminhando
para os lugares santos de Bhagavān e ele prestava reverências aos pés de
lótus de Śrī Kṛṣṇa. Ambarīṣa Mahārāja oferecia guirlandas, pasta de sândalo,
alimentos (bhoga) e apetrechos semelhantes a serviço de Bhagavān, não
com o desejo de ele próprio desfrutar, mas sim para receber o amor por Śrī
Kṛṣṇa que está presente apenas em seus (devotos puros) śuddha-bhaktas”.
Śrī Ambarīṣa Mahāraja realizava essas atividades na sequência apropriada,
em primeiro lugar concentrando sua mente, ele recebeu o verdadeiro benefício
das mesmas atividades, apego amoroso a Bhagavān, que é a própria vida de Seus
devotos puros.
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A compaixão e a ausência de dissimulacão
,
´
Pre-requisitos para a prática sincera de Bhägavata-dharma
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 19 - A compaixão e a ausência de dissimulação: Pré-requisitos para a prática sincera
de Bhāgavata-dharma
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 19 - A compaixão e a ausência de dissimulação: Pré-requisitos para a prática sincera
de Bhāgavata-dharma
Kaitava e pratiṣṭhā
Em seu Śrī Manaḥ-śikṣā, Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī afirma nos versos ini-
ciados com are cetaḥ prodyat-kapaṭa-kuṭināṭībhara-khara e pratiṣṭhāśā dhṛṣṭā
śvapacaramaṇī me hṛdi naṭet, que dissimulação (kaitava) é o maior inimigo da
jīva, referindo-se a kaitava como a personificação de um jumento e também
como a mais desavergonhada bruxa que come carne de cachorro, a proscrita
e desclassificada Pratiṣṭhā (o desejo de fama e reconhecimentos mundanos).
Śrīla Dāsa Gosvāmī expressou o sentimento no qual sua mente se deixava
iludir pensando estar purificada quando, na verdade, estava tomando banho
na urina desse jumento, que podemos comparar à dissimulação e à duplici-
dade (kaitava). Na verdade, sua mente estava ardendo e queimando por conta
desse banho impuro. Por fim, ele pede à sua mente que deixe de se envolver
com essa duplicidade e, ao invés disso, banhe-se no oceano nectáreo do amor
puro a Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa Yugala. Pensando nesses versos do Śrī Manaḥ-śikṣā,
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura expressa em seu kīrtana: “pratiṣṭhā lāgiyā, śāṭhya
ācaraṇa – para o prazer (da bruxa chamada) pratiṣṭhā, minha mente sente-se
inclinada à realização de atividades dissimuladas”. Kapaṭa, o ato de mentir, con-
siderado o amante da bruxa Pratiṣṭhā, faz tudo o que pode para agradar a sua
amada e, inclusive, se dispõe a realizar as atividades mais vulgares, evitadas in-
clusive por animais das espécies inferiores.
A palavra kaitava usada por Śrīla Vedavyāsa é explicada em pormenores por
nossos ācāryas, os quais nos aconselham que, para nos libertarmos de kaitava,
precisamos nos refugiar nos mais puros devotos do Senhor.
Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura Prabhupāda escreve:
rādhā-dāsya rahi, chāḓi’ bhoga-ahi
pratiṣṭhāśā nahe kīrtana-gaurava
Vaiṣṇava ke? (16)
Posicione-se em rādhā-dāsya (o serviço a Śrīmatī Rādhikā) e deixe para trás
a serpente do prazer material. Saiba que o desejo por respeito e adoração
nada têm a ver com as glórias do kīrtana.
jaḓera pratiṣṭhā, śūkarera biṣṭhā
jāna nā ki tāhā māyāra vaibhava
kanaka-kāminī, divāsa-jāminī
bhāviyā ki kāja, anitya se-saba
tomāra kanaka, bhogera janaka
kanakera dvāre sevaho mādhava
Vaiṣṇava ke? (2,3)
213
Viśuddha Caytania-Vāṇī
A fama mundana é o excremento dos porcos. Você por acaso não sabe que
semelhante fama é a glória de Māyā? De que adianta empregar o dia e a
noite em busca de ouro e mulheres quando semelhantes coisas são tempo-
rárias? O seu ouro convida à indulgência. Use-o para servir a Mādhava.
Śrīla Prabhupāda também menciona que viver milhões de vidas no corpo de
um animal, no corpo de um mamífero, pássaro ou inseto, é superior a agir com
kaitava em um corpo humano – e que apenas as pessoas honestas sem nenhum
resíduo de duplicidade alcançam o mais elevado bem-estar espiritual.
Em conclusão
Dharma, artha, kāma e mokṣa só podem ser considerados puruṣārtha, a meta
da vida, quando usados para se conquistar prema, o puruṣārtha máximo, o ob-
jetivo espiritual. Caso contrário, deve-se compreender que não passam de pura
tolice. Alguém desejoso de conseguir bhāgavata-dharma (a ocupação eterna
da alma) precisa estar bem ciente disso. Alguém só poderá compreender esses
assuntos após refugiar-se de modo completo e incondicional aos pés de lótus
dos mais queridos companheiros do Senhor e, assim, seguir seus passos. Caso
contrário, serão enganados por Śrī Kṛṣṇa.
214
Capítulo 19 - A compaixão e a ausência de dissimulação: Pré-requisitos para a prática sincera
de Bhāgavata-dharma
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A ocupacão suprema do Senhor Supremo
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
favor, não me considere desavergonhada por eu estar Lhe escrevendo essa car-
ta. Não vejo outra saída. Prometo que jamais me casarei com algum homem
comum feito de carne e ossos. Se Você se negar a me aceitar como Sua esposa,
praticarei rigorosas penitências, abandonarei este corpo e continuarei reali-
zando rigorosas austeridades por centenas de vidas até que eu consiga final-
mente obter Sua misericórdia”.
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Capítulo 20 - A ocupação suprema do Senhor Supremo
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Somente bhakti purifica a nossa mente
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
de ser um servo de Śrī Kṛṣṇa. A partir desse ponto, a mente pode ser chamada de
citta ou sattva. Somente um coração assim puro, estabelecido em seu estado pu-
rificado (viśuddha-sattva ou nirguṇa), completamente livre das contaminações
de tama, raja e sattva-guṇas (as qualidades materiais da ignorância, da paixão e
da bondade), pode para levar Kṛṣṇa a Se manifestar.
Você é o que ‘come’
O Chāndogya Upaniṣad (7.26.2) afirma: “āhāra-śuddhau sattva-śuddhiḥ –
quando nosso alimento (āhāra) é puro, nosso coração (mana) se purifica”.
Também há o seguinte ditado em Hindi: “jaisā khāoge anna vaisā banegā
mana – sua mente se torna igual aquilo que você come”.
O que é importante observar aqui é que para as pessoas de mentalidade
mundana, o termo āhāra se refere apenas àquilo que elas consomem pela boca.
Contudo, na realidade, nós consumimos diferentes espécies de āhāra com to-
dos os nossos órgãos dos sentidos – os olhos, o nariz, a língua, os ouvidos e
a pele. Portanto, o simples fato de consumir alimento santificado pela boca
não é suficiente para purificar a mente (mana); também é preciso santificar o
alimento (āhāra) aceito pelos outros cinco sentidos.
Aceitar āhāra impuro mesmo que apenas com um dos sentidos
pode provocar uma queda
Śrīmad-Bhāgavatam narra que Ajāmila era um homem muito virtuoso, ver-
sado nas escrituras, de boas maneiras, com bom temperamento, disciplinado,
veraz e inclinado a servir a todos os seus hóspedes, particularmente os idosos.
Externamente, não havia impureza em nenhum alimento que ele comia. Um
vez, quando ele voltava da floresta depois de colher frutas, flores e lenha a pe-
dido de seu pai, ele avistou uma prostituta semi-nua envolvida em atividades
impróprias com um homem de quarta categoria (śūdra) luxurioso e sem pu-
dor. Através da prostituta, em consequência do āhāra impuro que invadiu os
olhos de Ajāmila, o demônio da chamada Luxúria apoderou-se de sua mente.
Ajāmila, em consequência disso, caiu de sua plataforma de comportamento
veraz e adequado estabelecido nas escrituras e, assim, afastou-se dos princí-
pios religiosos.
O único processo para purificar a mente
Apesar dos esforços sinceros de nos purificarmos, santificando o āhāra absor-
vido pelos cinco sentidos, ainda resta uma dúvida: se sairemos exitosos ou não.
Como nossa mente ainda não se purificou por completo, os cinco sentidos
–que podem ser comparados a cinco gravadores dentro do nosso corpo – fun-
222
Capítulo 21 - Somente bhakti purifica a nossa mente
cionam automaticamente, apesar dos esforços que fazemos para nos manter
artificialmente afastados dos objetos dos sentidos materiais. Quando um ‘gra-
vador’ pára, o outro automaticamente toca qualquer coisa que tenhamos ante-
riormente gravado por intermédio de nossos sentidos, nesta vida ou em vidas
passadas. Portanto, as gravações anteriores só são deletadas quando paramos
de criar novos registros. A menos que nos esforcemos ininterruptamente, com
sinceridade, para alimentar nossos sentidos com uma dieta purificada, man-
tendo-nos exclusivamente na companhia dos sábios (sādhus), cujas mentes já
estão purificadas, nossas gravações anteriores não serão canceladas. A menos
que façamos isso, não alcançaremos o objetivo e nossa mente não se purificará.
A fim de nos ensinar como limpar a mente, Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī
escreve no Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā, 22.29): “vastutaḥ buddhi
‘śuddha’ nahe kṛṣṇa-bhakti bine – na realidade, não é possível purificar a men-
te sem realizarmos kṛṣṇa-sevā.”
A mente só pode se purificar quando ocupamos todos os nossos sentidos
a serviço de Bhagavān sob a orientação de vaiṣṇavas puros; não é possível fa-
zê-lo de nenhuma outra maneira.
223
Reconhecendo um praëayi-bhakta
O significado de praṇayi-bhakta
O termo praṇayi-bhakta é usado por Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura em seu kīrtana
(Śaraṇāgati 6.3.3):
gaura āmāra, ĵe-saba sthāne
karalô bhramaṇa raṅge
se-saba sthāna, heribô āmi
praṇayi-bhakata-saṅge
“Na companhia de praṇayi-bhaktas, contemplarei todos os lugares que meu
Gaura, o Avatar Dourado visitou com grande júbilo”.
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Capítulo 22 - Reconhecendo um praṇayi-bhakta
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Capítulo 22 - Reconhecendo um praṇayi-bhakta
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
tidos. O primeiro, indica veracidade: “Tudo o que digo é cem por cento ver-
dade”. Esse sentido é expresso quando escrevemos cartas e nos apresentamos
como indivíduos dignos de confiança, pelo fato de finalizarmos com “sincera-
mente” ou “sinceramente seu”.
O segundo significado da palavra “sincero” relaciona-se aos sérios e ho-
nestos esforços que alguém faz para se dedicar a um compromisso que lhe foi
designado ou que ele aceitou conscientemente. O sinônimo em sânscrito para
“sincero” encontra- se no Śrīmad-Bhāgavatam (2.7.42):
yeṣāṁ sa eṣa bhagavān dayayed anantaḥ
sarvātmanāśrita-pado yadi nirvyalīkam
te dustarām atitaranti ca deva-māyāṁ
naiṣāṁ mamāham iti dhīḥ śva-śṛgāla-bhakṣye
Quem quer que seja especificamente favorecido por Deus, Bhagavān, de-
vido à sua rendição sincera – isto é, a rendição sem pretensões de serviço
a Bhagavān –, pode superar o intransponível oceano da ilusão e pode com-
preender Deus. Porém, aqueles que estão apegados a este corpo – que
serve como alimento para cães e chacais –, não podem fazê-lo.
Neste caso, o conceito de sinceridade é evocado pelo uso da palavra
nirvyalīkam, que se refere a quem nunca nutre desejos relativos ao mundo ma-
terial e aspira apenas permanecer o tempo todo ocupado em kṛṣṇa-bhakti. É
este segundo significado que deve ser aceito quando se usa a palavra “sincero”
para descrever indivíduos cujo único desejo é servir a Bhagavān e Seus devotos.
Embora desejos materiais e temporários possam se manifestar em um devoto
– devido à presença de misérias ainda não purificadas, qualidades indesejáveis
(anarthas) que ainda não foram inteiramente extirpadas –, esse devoto deve ser
considerado sincero se traz em seu coração sentimentos genuínos de remorso e
ora pela misericórdia dos vaiṣṇavas para superar tais anarthas.
Bhagavān Śrī Kṛṣṇa disse para Uddhava (Śrīmad-Bhāgavatam 11.20.28-30):
tato bhajeta māṁ prītaḥ
śraddhālur dṛḓha-niścayaḥ
juṣamāṇaś ca tān kāmān
duḥkhodarkāṁś ca garhayan
proktena bhakti-yogena
bhajato māsakṛn muneḥ
kāmā hṛdayyā naśyanti s
arve mayi hṛdi sthite
bhidyate hṛdaya-granthiś
chidyante sarva-saṁśayāḥ
kṣīyante cāsya karmāṇi
mayi dṛṣṭe ‘khilātmani
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Capítulo 22 - Reconhecendo um praṇayi-bhakta
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
dade expressada por Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e Śrīla Rūpa Gosvāmī – e têm
plena fé e convicção em seus corações que querem realizar, a todo custo, o sevā
a Bhagavān e a Seus devotos sem o menor interesse no resultado material. Desse
modo, tais devotos se livrarão de todos os obstáculos.
É simplesmente o real desejo de ser sincero que garante ao devoto a con-
quista da sinceridade. Com essa sinceridade, o devoto se torna capaz de executar
o tipo de devoção (bhakti) que o eleva à plataforma na qual poderá identificar
quem é um praṇayi-bhakta de verdade.
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Capítulo 22 - Reconhecendo um praṇayi-bhakta
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As glórias de invocarmos
os nomes dos puros vaiñëavas
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Capítulo 23 - As glórias de invocarmos os nomes dos puros vaiṣṇavas
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A misericórdia de Kåñëa
depende de snehamayi-sevä
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Capítulo 24 - A misericórdia de Kṛṣṇa depende de snehamayi-sevā
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Me deixo controlar por inteiro pelos Meus devotos. De fato, não sou absolu-
tamente independente. Como Meus devotos são inteiramente desprovidos
de desejos materiais, Eu Me sento exclusivamente no âmago de seus cora-
ções. O que falar, então, do Meu devoto – mesmo aqueles que são devotos
do Meu devoto são muito queridos a mim.
O Senhor afirma ainda (Śrīmad-Bhāgavatam 9.4.66):
mayi nirbaddha-hṛdayāḥ
sādhavaḥ sama-darśanāḥ
vaśe kurvanti māṁ bhaktyā
sat-striyaḥ sat-patiṁ yathā
Assim como as mulheres castas mantêm seus gentis esposos sob controle
pelo serviço que lhes prestam, os devotos puros – que enxergam cada pes-
soa segundo sua respectiva posição e são inteiramente apegados a Mim no
âmbito do coração –, Me mantém sob seu pleno controle.
Se assim é a expressão de amor do Senhor para com Seu devoto Ambarīṣa
Mahārāja, podemos, então, considerar quão intenso deve ser o Seu amor por
anukūlaśakti Śrīmatī Rādhikā. A esse respeito, certa vez Kṛṣṇa assumiu a for-
ma de Śrī Jayadeva Gosvāmī e pessoalmente escreveu as palavras “smara garala
khaṇḍanam, māmā śirasi maṇḍanaṁ, dehī pada-pallavam udaraṁ – Rādhike!
Ofereça os viçosos brotos de Seus pés encantadores como um ornamento para
colocar sobre Minha cabeça” (Gīta-govinda 10.8), expressando, assim, seus sen-
timentos. Para que Kṛṣṇa faça semelhantes declarações ou para que tenha esses
sentimentos de fato, não há absolutamente perda alguma de Sua independência
sumamente divina. Ele não se deixa controlar por ninguém, a não ser pelo Seu
próprio desejo sincero. Logo, essa sua submissão é conhecida como prema-
-paratantrata, dependente apenas de prema.
O afetuoso serviço do rei
Enquanto Dāmodara Paṇḍita garantia a Śrīman Mahāprabhu que Ele com cer-
teza iria Se encontrar com o rei Pratāparudra em algum momento no futuro,
Nityānanda Prabhu sugeriu algo ao Senhor. Se Śrīman Mahāprabhu, propôs
ele, pudesse fornecer ao rei uma veste que Ele próprio já tivesse usado, talvez
a agitação do rei ficasse apaziguada até certo ponto, permitindo-lhe preservar
sua vida. Śrīman Mahāprabhu aceitou aquela proposta e fez com que envias-
sem ao rei uma das roupas por Ele usadas. Embora o rei tenha ficado extrema-
mente feliz ao receber a misericórdia (prasāda) do Senhor sob a forma de Sua
roupa, ele ainda assim ansiou vê-lo (darśana) diretamente.
Depois disso, o rei Pratāparudra aproximou-se de Śrī Rāmānanda Rāya e
pediu-lhe para transmitir ao Senhor suas súplicas sinceras na intenção de vê-Lo
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Capítulo 24 - A misericórdia de Kṛṣṇa depende de snehamayi-sevā
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Capítulo 24 - A misericórdia de Kṛṣṇa depende de snehamayi-sevā
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O verdadeiro significado
de morar em um local sagrado
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Capítulo 25 - O verdadeiro significado de morar em um local sagrado
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Capítulo 25 - O verdadeiro significado de morar em um local sagrado
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O meio para se conquistar paz
eterna e satisfacão
, plena
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Aquele que tem cem peças de prata, deseja mil. Aquele que tem mil pe-
ças, deseja cem mil. Aquele que tem cem mil, deseja um reino. Quem tem
um reino, deseja a posição de imperador. Quem tem a posição de impera-
dor, deseja a posição de um semideus e, depois disso, ele sucessivamente
vai desejar e conquistar as posições de Indra, Brahmā e, eventualmente,
Śiva. Mesmo após chegar a tal posição, sua sede de poder permanece
insatisfeita.
É apenas praticando bhakti que alguém consegue completa
satisfação e paz duradoura
Até que alguém conquiste os pés de lótus da entidade eterna Śrī Kṛṣṇa, que
é a fonte de tudo o que é bom, jamais conseguirá alcançar paz verdadeira ou
satisfação plena:
kṛṣṇa-bhakta—niṣkāma, ataeva ‘śānta’
bhukti-mukti-siddhi-kāmī—sakali ‘aśānta’
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 19.149)
O devoto de Śrī Kṛṣṇa não cultiva desejos, e por isso vive em paz. Aquele
que deseja o prazer dos sentidos, libertação e perfeições místicas, contudo,
continua perturbado.
Todos os seres vivos deste mundo desejam apenas satisfazer seus sentidos,
oferecendo doces sons para os ouvidos, objetos macios para a pele, belas formas
para os olhos, deliciosos alimentos para a língua e doces fragrâncias para o na-
riz. Esses cinco elementos – som, forma, gosto, toque e cheiro – encontram-se
em quantidades completas, infinitas, apenas em Śrī Kṛṣṇa, e Śrī Kṛṣṇa revela
as verdadeiras formas transcendentais desses objetos apenas a Seus devotos
puros. Tendo experimentado as formas puras desses elementos, os devotos de
Śrī Kṛṣṇa ficam completamente satisfeitos e se libertam de todos os desejos de
conseguir algum objeto que não seja o serviço a Śrī Kṛṣṇa. Dessa maneira, eles
conquistam paz de verdade. Portanto, a conquista da paz verdadeira e da satis-
fação plena só é possível pela prática de kṛṣṇa-bhakti.
250
Capítulo 26 - O meio para se conquisstar paz eterna e satisfação plena
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Perguntas e respostas
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Capítulo 27 - Perguntas e respostas
259
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Capítulo 27 - Perguntas e respostas
261
Viśuddha Caytania-Vāṇī
Yukta-vairāgya
Pergunta: Qual é o significado da expressão yukta-vairāgya?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: Por sua renúncia natural, Śrī Śrīmad Bhakti
Hṛdaya Vana Gosvāmī Mahārāja nunca usou calçados durante anos a fio en-
quanto esteve na maṭha. Certa vez, seu mestre espiritual, Śrīla Bhaktisiddhānta
Sarasvatī Gosvāmī Ṭhākura Prabhupāda, quis que ele fosse ao estrangeiro para
pregar a missão de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Śrīla Prabhupāda pediu a seu dis-
cípulo Śrī Kuñja-bihārī Vidyābhūṣaṇa Prabhu (mais tarde conhecido como Śrī
Śrīmad Bhakti Vilāsa Tīrtha Gosvāmī Mahārāja, após aceitar a iniciação sannyāsa)
que fosse a Calcutá e comprasse o par de sapatos mais caro que ele encontrasse
para Śrīla Vana Gosvāmī Mahārāja. Śrī Kuñja-bihārī Vidyābhūṣaṇa Prabhu com-
prou um par que custava trinta e duas rúpias – na época uma quantia muito alta
– e trouxe os sapatos para o templo. Śrīla Prabhupāda disse: “Dê esses sapatos a
Vana Mahārāja e peça que ele venha me ver com eles nos pés”.
Após Śrī Kuñja-bihārī Vidyābhūṣaṇa Prabhu dizer a Śrīla Vana Gosvāmī
Mahārāja a respeito do desejo de Śrīla Prabhupāda, Śrīla Mahārāja calçou os
sapatos e apareceu diante de Śrīla Prabhupāda. Ao vê-lo com os sapatos, Śrīla
Prabhupāda disse: “Hoje o seu vairāgya (renúncia) chegou à perfeição, pois
você renunciou inclusive à sua própria renúncia em prol de um objetivo supe-
rior – o serviço a Śrīman Mahaprabhu.”
Aceitar tudo o que é favorável ao serviço de Bhagavān e aos Seus devotos,
enquanto se rejeita tudo que seja desfavorável ao mesmo serviço é a verdadeira
definição de yukta-vairāgya.
Subhadrā-devī é Yogamāyā
Pergunta: Por que costumam chamar Subhadrā-devī de Yogamāyā?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: Śrī Kṛṣṇa tem uma śakti conhecida como
yogamāyā, que significa “a energia que une os devotos ao Senhor”. Essa potência
do Senhor, em Sua forma externa, separa o indivíduo de Deus – nessa função, tal
potência é chamada de māhāmāyā. Em seu Kalyāṇā-kalpataru, Śrīla Bhaktivinoda
Ṭhākura compôs um kīrtana em que escreveu o seguinte:
kuladevī yogamāyā more kṛpā kôri’
āvaraṇa samvaribe kabe viśvodarī
Oh, Kuladevī Yogamāyā! Quando será que você, tendo misericórdia de
mim, erguerá a cortina com a qual cobre o universo com sua forma externa
chamada de Mahāmāyā?
Esta Yogamāyā organiza e providencia as variedades intermináveis de pas-
satempos do Senhor; é este o serviço (sevā) dela. Embora ela sirva estritamente
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Capítulo 27 - Perguntas e respostas
segundo o desejo do Senhor, suas providências são tais, que tanto os devotos
quanto o Senhor não percebem sua influência e se consideram seres humanos
comuns e independentes. Sem a presença de Yogamāyā, os maravilhosos passa-
tempos do Senhor não podem se manifestar. Logo, a fim de manifestar os secre-
tos passatempos do Senhor em Dvārakā, esta yogamāyā-śakti manifesta-se como
Śrī Subhadrā-devī. Śrī Subhadrā-devī também é conhecida como Bhakti-devī.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
Subhadrā-devī é Yogamāyā
Pergunta: Onde Kṛṣṇa mora?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: Nosso purva ācārya (um mestre das gerações
passadas) Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu em um de seus kīrtanas:
ĵe-dina gṛhe, bhajana dekhi
gṛhete goloka bhāya
Śaraṇāgati (6.3.6)
O dia em que eu vir a devoção (kṛṣṇa-bhakti) na forma do canto em grupo
dos Santos Nomes (harināma-saṅkīrtana) ser praticado em minha casa sob
a orientação de devotos puros, o reino espiritual (Goloka), a morada supre-
ma de Śrī Śrī Rādhā Kṛṣṇa, vai parecer ter se manifestado ali.
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Capítulo 27 - Perguntas e respostas
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
A posição do guru
Pergunta: Qual é a natureza de śrī guru e de suas instruções?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: Quando Hiraṇyakaśipu pediu a seu filho Śrī
Prahlāda que descrevesse a essência dos ensinamentos que ele recebeu de seu
guru, Prahlāda não disse uma palavra sequer sobre as lições de política que lhe
ensinaram os professores do gurukula, Ṣaṇḍa e Amarka. Em vez disso, porém,
falou sobre a essência dos ensinamentos que havia recebido de Śrī Nārada Muni
sobre navadhā-bhakti, ou seja, as nove práticas da devoção a Deus (viṣṇu-bhakti).
Por falar sobre esses ensinamentos, Śrī Prahlāda Mahārāja, que é um de-
voto famoso de Śrī Hari, consolidou o fato de que só quem ensina a respeito de
bhagavad-bhakti é digno de ser chamado de guru – e não quem dá lições relati-
vas aos assuntos materiais deste mundo. Dessa maneira, Śrī Prahlāda destacou
o guru que ensina sobre a prática de hari-bhakti.
O significado de ‘sevā’
Pergunta: Ouvimos falar que a prática de bhakti consiste em sevā, ou serviço. A
quem devemos direcionar tal serviço? Qual é a diferença entre servir ao homem
e servir a Deus?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: Segundo o Garuḍa Purāṇa (Purva-khaṇḍa
231.3), “bhaja-dhātu sevāyāṁ – o significado verdadeiro de bhajana é sevā, ou
serviço devocional”.
Sevā, no verdadeiro sentido do termo, só é prestado ao sevya-vastu ou a alguém
digno de receber serviço – e não a alguém que esteja em um estado miserável.
Ter empatia por uma pessoa em estado lamentável que implora sincera-
mente por algo chama-se “compaixão”, satisfazer seu desejo concedendo-lhe o
objetivo de suas orações chama-se “caridade”. Quando deparamos com essas
pessoas desesperadas, podem surgir sentimentos de compaixão em nosso cora-
ção que nos inspiram a dar algo em caridade.
Esses sentimentos ficam ausentes quando nos colocamos diante de alguém
que não conhece escassez, que não deseja receber nada e a quem muitas pes-
soas ansiosamente esperam poder servir, aguardando a oportunidade. Nessas
circunstâncias, para o nosso bem-estar, esperamos pelo abençoado momento
em que tal pessoa misericordiosamente aceitará as nossas humildes oferendas.
Essas oferendas são o que chamamos de sevā.
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Viśuddha Caytania-Vāṇī
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Capítulo 27 - Perguntas e respostas
nativa. Qual é o problema se ele não sabe todas as regras e proibições ainda?
Chegará um momento em que, com certeza, ele aprenderá a maneira correta de
realizar todas as atividades de bhakti”. nota
Nesta história, Śrīla Svāmī Mahārāja não consolidou um novo siddhānta
para que seus discípulos seguissem pelo resto da vida; pelo contrário, por ele ser
um exímio professor, ele ensinou aquele discípulo em particular segundo sua
natureza e competência.
Concluindo, é impossível que você compreenda, por si só, quais ensina-
mentos de Śrīla Svāmī Mahārāja estão ligados a um tempo, lugar e
circunstância e quais deles são absolutos. Portanto, se você deseja seguir
Śrīla Svāmī Mahārāja, será essencial que aceite refúgio de um vaiṣṇava qualifica-
do que entenda as verdadeiras intenções e as emoções de Śrīla Svāmī Mahārāja.
Convívio à distância
Pergunta: Embora nosso desejo de conviver com os sādhus não pare de crescer,
frequentemente não temos como viajar com eles e estar na sua presença. É pos-
sível obter a companhia deles mesmo que circunstâncias materiais nos separem
fisicamente deles?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: É sempre possível estar na companhia dos
sādhus, mesmo que não possamos estar fisicamente com eles. Se aceitamos
sinceramente o que ouvimos um sādhu ensinar e seguimos sinceramente o que
ele nos ensina, então estaremos na companhia do sādhu, mesmo que não este-
jamos com ele fisicamente.
O significado de “sinceridade"
Pergunta: O que significa ser sincero em nossas práticas de devoção ao Supremo
(kṛṣṇa-bhakti)?
Śrīla Bhāratī Gosvāmī Mahārāja: Sinceridade quer dizer não ter um coração
dissimulado. Se alguém quer tornar-se um praticante sincero da devoção ao
Supremo (kṛṣṇa-bhakti), precisará deixar completamente para trás todas as
espécies de cálculos para o benefício próprio e hipocrisia. O indivíduo deve
pensar: “Eu sou uma pessoa íntegra”.
Bhagavān, em Sua forma de Vāmanadeva, manifestou passatempos como
se fosse o irmão caçula de Indra. Externamente, Indra parecia servir ao Senhor
de muitas maneiras, mas em seu íntimo, ele pensava: “Prestando esses serviços,
minha posição como rei dos planetas celestiais se tornará permanente. Poderei
desfrutar cada vez mais e jamais passarei alguma privação”. Esse é um exemplo
de falta de sinceridade. A pessoa sincera não tem outro desejo além do serviço
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a Śrī Kṛṣṇa e a Seus devotos. Embora alguém possa executar todas as práticas
de bhakti e ouvir harikathā o tempo todo, tal pessoa não pode ser considerada
sincera até que ela se livre de todos os desejos e contaminações egoístas.
Dharma, artha, kāma e mokṣa são elementos conhecidos como ajñānatama.
Ajñāna significa “ignorância” e ajñānatama, “o grau superlativo da ignorância”.
Tudo o que existe nos catorze sistemas planetários deste universo é temporário
e portanto inauspicioso. Qualquer pessoa que deseje semelhantes coisas jamais
poderá ser considerada sincera. O vocábulo “sincero” está reservado a quem
anseia apenas chegar ao universo transcendental para servir Bhagavān.
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Capítulo 27 - Perguntas e respostas
verdadeiras, todavia, com certeza elas são harmoniosas. Nossos Gosvāmīs são
totalmente livres dos quatro defeitos: bhrama (erro), pramāda (confusão),
virpalipsā (enganos) e karaṇāpāṭava (sentidos imperfeitos), assim, eles têm
como apresentar e explicar os passatempos de Śrī Kṛṣṇa. Quando Akrūra es-
tava levando Kṛṣṇa e Balarāma para Mathurā e os dois irmãos foram tomar
banho, ele observou que os dois estavam simultaneamente se divertindo na
água e sentados na carruagem. Akrūra, confuso, pensou: “O que é isso que
eu estou vendo?” Nesse caso, segundo explicam os nossos Gosvāmīs, o Kṛṣṇa e o
Balarāma divertindo-Se na água eram Yaśodā-nandana Kṛṣṇa e Rohiṇī-nandana
Balarāma, que não prosseguiram em direção a Mathurā, permanecendo em
Vraja, ao passo que Devakīnandana Kṛṣṇa e Devakī-nandana Balarāma segui-
ram viagem rumo a Mathurā na carruagem com Akrūra. A inteligência mate-
rial não tem como compreender tal coisa, porque os passatempos do Senhor
estão para além deste reino físico.
No Bhagavad-gītā, Śrī Kṛṣṇa afirma: “janma karma ca me divyam – Meu
aparecimento e Minhas atividades são transcendentais”. Independentemente
do modo como os passatempos do Supremo aparecem para a visão mundana,
eles continuam sendo transcendentais. Por exemplo, embora externamente pa-
reça que Vasudeva Mahārāja trouxe seu filho para Gokula, esse filho, Vāsudeva
Kṛṣṇa, na verdade jamais saiu de Mathurā. Quando eles chegaram à frontei-
ra entre Mathurā e Gokula, Vāsudeva Kṛṣṇa se fundiu em Svayaṁ Bhagavān
Nandanandana Kṛṣṇa. Isso aconteceu sem que Vasudeva Mahārāja percebesse,
pois era vontade do Senhor que essa atividade se mantivesse oculta. Só podemos
enxergar algo que Kṛṣṇa permita que enxerguemos; caso contrário, tal fato com
certeza permanecerá oculto.
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o fato de as pessoas se referirem a Ele como Nārāyaṇa, mas por outro lado, Ele
aceitou quando Śrīla Rūpa Gosvāmīpāda O chamou de “Kṛṣṇa”. Por que será?
Em Hindi, as atividades daqueles que têm fé firme e cega são chamadas
de bheḍa-cāla, atividades tais quais a de uma ovelha. Assim como um rebanho
de ovelhas poderá acompanhar uma ovelha sem motivo algum, muitas dessas
pessoas de fé cega proferem “namo nārāyaṇa” sem levar em consideração o sig-
nificado verdadeiro da expressão; elas adotam essa expressão simplesmente por
terem escutado isso de outras pessoas. No entanto, Śrīla Rūpa Gosvāmīpāda,
sendo inteiramente autorrealizado, compreendia a gravidade e o significado de
sua afirmação, sendo esse o motivo pelo qual Śrīman Mahāprabhu ter aceito
suas palavras.
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Sobre o autor
O autor deste livro, Śrī Śrīmad Bhakti Vijñāna Bhāratī Gosvāmī Mahārāja apa-
receu neste mundo material em uma família de brāhmaṇas Cakravartīs de uma
linhagem (gotra) chamada Bharadvāja, no abençoado dia de Śayana Ekādaśī, 21 de
julho de 1926, na aldeia de Bankurā, em Sītā-Rāmapura na Bengala Ocidental. Os
discípulos de Śrī Śrīmad Bhakti Vicāra Yāyāvara Gosvāmī Mahārāja, que mora-
vam na Śrī Śyāmānanda Gauḍīya Maṭha em Medinīpura, costumavam visitar a
casa onde ele cresceu quando saíam para arrecadar donativos. Estimulado por
aqueles devotos, Śrīla Mahārāja visitava com regularidade o templo (maṭha)
para ver as deidades Śrī Guru-Gaurāṅga e Śrī Śrī Rādhā-Śyāmasundara-jī e tam-
bém para ouvir aulas sobre o Śrīmad-Bhāgavatam. Foi ali que ele conheceu Śrī
Śrīmad Bhakti Dayita Mādhava Gosvāmī Mahārāja, um dos principais discípu-
los de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura, durante uma das muitas visitas
de Śrīla Mādhava Gosvāmī Mahārāja àquele templo.
Após estabelecer um relacionamento próximo e afetuoso com Śrīla Mādhava
Gosvāmī Mahārāja ao longo de muitos anos, Śrīla Mahārāja deixou o seu lar
ainda jovem, em 1955 e, rendendo-se completamente ao serviço de Deus (Śrī
Hari), do guru e dos vaiṣṇavas, foi morar no recém construído templo da Śrī
Caitanya Gauḍīya Maṭha em Calcutá. Naquele mesmo ano, Śrīla Mahārāja re-
cebeu harīnāma e dīkṣā no dia de seu aniversário, Śayana Ekādaśī, e recebeu o
nome Śrī Narottama dāsa.
Durante o período em que morou no templo (maṭha), Śrī Narottama Prabhu
teve a oportunidade de servir intimamente a muitos irmãos espirituais de seu
Guru Mahārāja. Como resultado de tal serviço, ele foi o objeto da afeição da-
queles vaiṣṇavas e de suas profundas bênçãos e, assim, ele pôde compreender
as verdades profundas da filosofia (siddhānta) Gauḍīya Vaiṣṇava. Percebendo a
dedicação inabalável e o serviço dedicado de Śrī Narottama Prabhu a śrī guru,
aos vaiṣṇavas e a Deus (Bhagavān), Śrīla Mādhava Gosvāmī Mahārāja lhe con-
cedeu a ordem de vida renunciada (sannyāsa) em 1969, ocasião em que lhe deu
o nome Śrī Bhakti Vijñāna Bhāratī Mahārāja.
Confiando profundamente nas habilidades de seu discípulo, Śrīla Mādhava
Gosvāmī Mahārāja colocou em suas mãos muitas tarefas importantes – entre
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Sobre o autor
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Título original: Viśuddha Caitanya-Vāṇī
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