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A Atuação Do Psicólogo Como Expressão Do Pensamento Crítico em Psicologia Da Educação
A Atuação Do Psicólogo Como Expressão Do Pensamento Crítico em Psicologia Da Educação
Tabela
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• a importância da conscientização dos mecanismos subjetivos da
dominação e dos motivos que levam a ela, para que a submissão se torne
insuportável e o desejo de viver melhor tome conta dos indivíduos.
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Logo ao fim do primeiro ano, a escola que já havia conversado
semanalmente com a mãe adotiva, faz o encaminhamento da "queixa "
para o Centro de Psicologia, para a Psicologia Escolar.
A escola diz que o ideal seria Herbert ir para uma classe especial, afinal ele
tem "problemas" porque é adotivo. O médico confirma, receitando
medicamentos considerados adequados para o caso. A mãe adotiva diz
que sem os remédios não dá para "agüentá-lo", ele bate nela..., nos
colegas da escola, não obedece, vai para a diretoria, não faz o que a
professora pede... As irmãs adotivas dizem que é muito mimo, que ele tem
tudo o que elas não tiveram. Junto com o pai adotivo elas acham que ele
deve voltar a morar com os pais biológicos. A mãe adotiva e as professoras
acham que tudo fica pior quando Herbert encontra com os irmãos e os pais
biológicos... Quando ele vai brincar na casa dos amigos, ele briga e tem de
voltar para casa. Os pais dos amigos não querem mais que os filhos
brinquem com Herbert. Na escola, quando tem passeios, os pais já
perguntam se o Herbert vai...
A professora disse que Herbert tem problemas para aprender porque viveu
em precárias condições até 2 anos de vida. Noutro dia, disse que tem
problema porque é adotado..., é traumatizado por se sentir abandonado
pelos pais biológicos e é mimado pela mãe adotiva que tenta compensar as
carências...
A mãe adotiva disse que a professora não sabe ensinar, que a escola
chama os pais toda semana para cobrar que façam aquilo que é trabalho
da escola... que a professora deveria ser mais enérgica. Em outro momen-
to disse que cobra demais... Ela também acha que o menino possui
problemas por ser adotivo. "Ele tem problema de cabeça, por isso não
aprende", disse em um dos encontros com a psicóloga...
As irmãs adotivas e o pai culpam a mãe adotiva por dar atenção demais ao
menino. O pai já decretou, ele vai ser como os pais biológicos, não tem
jeito.
Fizemos, com a família adotiva, uma lista do que Herbert faz, para destacar
que a família só observa aquilo que considera errado, negativo. E se pensamos
nos afazeres domésticos já realizados, nas tarefas escolares quando ele realiza,
nos carinhos feitos a todos...? O que faz com que a mãe adotiva o trate de modo
diferente do que o faz com as demais filhas? O que faz o pai adotivo achar que
será igual aos pais biológicos?
Herbert não quer falar, nem vivenciar qualquer situação que se assemelhe
à escola. Quando os temas referem-se a outras situações de seu dia-a-dia,
ele esbofeteia os bonecos, xinga a psicóloga, diz que ela não sabe de nada
e que não vai fazer nada porque está com sono. Diz que não sabe ler nem
escrever Outras vezes diz que vai à escola para aprender...
A psicóloga insiste para que ele faça um desenho, conte uma história, leia
ou ouça a leitura de um livrinho, escreva o seu nome ou alguma letra que
conhece, brinque de escolinha.
Embora irritado com esta condição insuportável que todos (pais, escola, a
psicóloga e ele próprio, que não consegue ver sua realidade de outro
modo, já que é impedido de vivenciá-la...) insistem como sendo a típica
possibilidade... (se conhecessem outras formas de análise talvez tivessem
elementos para romper com essas já cristalizadas)... Herbert vai à aula,
acredita que é lá que irá aprender, quando a professora passa atividades
iguais as dos colegas, ele se empenha e participa ao menos. Quando a
psicóloga diz que ele não precisa fazer a atividade, mas que ela vai realizá-
la... e joga com os pais adotivos, ou lê e escreve... ele entra na atividade e
mostra tudo o que já é capaz de fazer...
Para dar conta desse trabalho, Collares e Moysés (1997) sugerem que o
psicólogo deve olhar não para o que a criança não tem e não sabe, mas para o
que ela sabe e gosta de fazer. Assim como indica Meira (2000), o profissional
deve articular o processo de avaliação/intervenção a partir daquilo que todos
apresentam como dados concretos, já conhecidos, como entendem e agem nas
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situações apresentadas.
A intervenção tem dois eixos principais que não podem ser trabalhados em
separado. O primeiro eixo refere-se à relação
desenvolvimento/aprendizagem em Herbert e em todas as pessoas
envolvidas, na perspectiva da constituição das condições de humanização
pela via do conhecimento de conteúdos pertencentes tanto à educação
escolar, quanto à Psicologia. O segundo eixo refere-se à elaboração de
afetos/emoções como motivos compatíveis com a formação da
consciência.
Todos precisam também entender que a adoção não é limite, mas uma
condição, assim não pode ser causa da não-aprendizagem, da
agressividade, do mesmo modo que o trabalho do professor, da família e
mesmo do psicólogo podem ser condições a serem preservadas ou
superadas. Se tomados como limites, podem imobilizar.
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• Temas/situações geradores de possibilidades de trabalho: condições
necessárias para provocar, desafiar as pessoas envolvidas, em busca da
superação das condições postas no momento, por meio da "queixa"; geradores,
enfim, da atividade principal da criança e da condição de participação de pais,
professores e crianças.
Cada peça do quebra-cabeça era uma casa destruída em parte pelo fogo,
de modo que para reconstruí-la teria que utilizá-la adequadamente
(conforme as regras do quebra-cabeça, adequadas para o trabalho com
conceitos numéricos...).
• Grupo de crianças para privilegiar a relação que elas têm com o que
sabem, gostam, querem fazer, enfatizando os conhecimentos de cada um no
coletivo – tomado como o espaço de manifestação dos diferentes níveis de
conhecimento.
Cada criança seleciona uma atividade que sabe fazer e que os demais não
conhecem... planeja com o psicólogo os passos para ensinar os colegas e
a cada encontro uma delas coordena com a psicóloga os trabalhos...
Herbert fez a lista de material para ensinar a fazer pipa (escreveu o que já
sabia e pediu ajuda em casa, na escola e para a psicóloga...), foram
comprar e arrumar o material, pensou com a psicóloga como ensinar aos
colegas. No dia da reunião, ele fez passo a passo, mostrando aos
colegas... Olhava o trabalho de cada um.... Um menino não conseguiu
fazer, ele deixou a sua pipa e ajudou o menino até dar certo, depois voltou
para a sua...
Noutra reunião, a mãe conta que o filho não tomava o remédio que o
neurologista passou (ela descobriu que ele jogava no lixo) e concluiu: "ele
não podia estar mais calmo por causa do comprimido (...) Eu não insisti
mais para ele tomar".
Outro dia, uma mãe disse à mãe de Herbert: "Lá em casa eu falo: venha
comer! e ponho o prato. Se não vier na hora, fica sem comer e ele não faz
mais isso! Não sei porque tem de ser diferente para o Herbert! Experimente
fazer assim”.
Conversam muito, ele brinca com os irmãos biológicos. Todos falam com
muito respeito da família adotiva. Na volta, muita coisa para contar e
analisar!
Para dar conta dessa tarefa, o psicólogo deve compreender de forma mais
aprofundada tanto as maneiras pelas quais o trabalho educativo produz nos
indivíduos singulares a humanidade que é produzida histórica e coletivamente
pelo conjunto dos homens (Saviani, 1991), desempenhando o papel de atividade
mediadora entre a esfera da vida cotidiana a as esferas não-cotidianas de
objetivação do gênero humano (Duarte, 1995), quanto as funções e a natureza
social do desenvolvimento cognitivo, dos afetos e emoções no processo de
humanização desses indivíduos pela via da apropriação da cultura.
Isso significa que é possível localizar com maior ou menor grau de clareza
e importância diferentes contribuições da Psicologia, provenientes de variadas
tendências teóricas, nos processos constitutivos dos ideários pedagógicos que
fundamentam práticas e propostas educacionais no Brasil.
Mas a tarefa docente vai muito mais além, já que após ter definido os
conteúdos e delimitado a metodologia e os recursos pedagógicos a serem
utilizados, o professor ainda tem de enfrentar um novo desafio: o fato de que nem
todos aprendem do mesmo modo, no mesmo momento e ritmo. Além disso,
alguns alunos parecem simplesmente não aprender nada.
Conforme aponta Bock (2000, p.14), o homem tem sido pensado, tanto na
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ciência quanto no senso comum, a partir dessa idéia de natureza humana, sendo
concebido como portador de uma essência natural e universal. Assim, se
consolida a idéia de que haveria em nós uma semente de homem que vai
desabrochando, conforme somos estimulados adequadamente pelo meio cultural
e social.
Metodologia de trabalho
Sistemática de trabalho
O processo de avaliação
O relatório de avaliação
Não existe um modelo único de plano de intervenção, mas alguns itens não
podem deixar de ser destacados: objetivo geral do trabalho; objetivos específicos
dos projetos a serem realizados com cada um dos segmentos a curto, médio e
longo prazos; principais estratégias a serem utilizadas; condições objetivas
necessárias para a realização da intervenção, tais como horários de reunião,
materiais de apoio e de consumo, recursos humanos, etc.
O processo de intervenção
Na medida em que cada realidade é única, não se pode definir a priori uma
forma de intervenção. No entanto, podemos afirmar que o psicólogo escolar deve
contribuir de diferentes formas para:
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