(doutorando em Teoria literária e literatura comparada – FFLCH) Orientadora: Ana Paula Pacheco
Em “Nunca fomos tão engajados” (1994), Schwarz analisa as contradições do
engajamento de esquerda em sua feição contemporânea. Para tanto, delineia em linhas gerais uma espécie de gênese dessas contradições, desde de Nabuco até os anos 1990, passando pelos impasses do nacional-desenvolvimentismo. Nesse arco-histórico, setores ilustrados da classe média viram nas formas arcaicas de propriedade e poder com que se mantinham as classes baixas excluídas barreiras para suas próprias ambições. Essa mobilização e suas ilusões, no entanto, foram cortadas pelo golpe civil-militar de 1964. Nas greves da segunda metade de 1970, as condições de engajamento da intelectualidade haviam mudado: a tal assimetria que tornava complementares a privação das classes baixas e o preparo ideológico dos setores médios teria se transformado (graças à repressão, ao fim do terceiro-mundismo, à integração dos trabalhadores europeus, à mercantilização). A resposta intelectual à redemocratização teria sido decepcionante – principal ponto que gostaríamos de discutir em nossa comunicação. Segundo o crítico, esta teria sido enfraquecida pela relação mudada coma as classes baixas, pelo comprometimento de alguns de seus quadros com a prática de governo (o que gerou novos interesses) e a adoção do horizonte teórico “pacificado” dos países ricos (que prometia a inclusão de todos sob a égide da prosperidade do mercado). Dessa perspectiva, Schwarz afirma que, na verdade, nós intelectuais nunca fôramos tão engajados quanto então, pois estaríamos todos participando institucionalmente de alguma atividade. Buscaremos articular esse diagnóstico com a representação do intelectual formado nesse período histórico a partir da literatura contemporânea brasileira – através do romance Estorvo (1991), de Chico Buarque. Nesta obra, acompanhamos a construção fragmentária de dois personagens intelectuais a partir de um complexo jogo de projeções e memórias fantasiosas, em que o passado ditatorial e o presente democrático se confundem, compondo personas que carregam as contradições da intelectualidade envolvida nesse processo histórico.