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Olá a todos! Este ano, por ainda fazer muito frio, pedi à minha mãe para me ensinar a
fazer alheiras. Antigamente, a minha mãe e a minha tia faziam-nas nas férias da semana
do dia 1 de Novembro (bons velhos tempos em que, para além do dia 1 de Novembro ser
feriado, também significava uma semana de férias!), mas como agora nem feriado temos,
quanto mais férias, as alheiras ficaram um bocado abandonadas.
Apesar da maioria das pessoas não pensar em fazer alheiras, achei que seria boa ideia
partilhar a maneira de as fazer aqui no blogue, mais não seja para ficar registado. Espero
que gostem, apesar do post ser longo, e, quem sabe, pode ser que alguém ache útil e se
aventure, também, a fazê-las!
Antes da receita, deixo a história das alheiras, retirada da wikipédia e com um toque
meu, para os leitores estrangeiros ou mesmo portugueses que não saibam a história desta
iguaria:
Cá na terra do meu pai é costume fazerem-se as alheiras usando também toucinho, mas
eu gosto é das que faz a minha mãe, que aprendeu com a madrinha do meu pai. São uma
delícia e, apesar de ser contra tudo o que dê muito trabalho na cozinha, para fazer estas
alheiras vale a pena. Vou tentar explicar o melhor possível, mas qualquer dúvida já sabem
é só deixarem um comentário ou mandarem um e-mail!
Utensílios necessários
Panela(s) de pressão (ou então, uma panela grande de ferro, se tiverem a sorte de ter uma
- ou várias!)
Lareira
Alguidares grandes
Colher de pau grande
Varinha mágica/almofariz
Algodão/cordão para chouriços
Facas afiadas
Agulhas de coser (com linha enfiada)
Pregos ou traves no tecto para fumeiro (na divisão da lareira)
Enchedeira - Podem encontrar à venda por aqui nalgumas mercearias, a nossa contudo
foi comprada na Feira da Luz
Enchedeira
Modo de fazer:
Numa panela de pressão (nós fizemos em duas, em duas rodadas portanto seriam quatro
panelas de pressão!) ou na panela de ferro, cozer as carnes com bastante água (que cubra
bem as carnes), até a carne ficar bem cozida (tem de se soltar do osso sem esforço). Na
panela, juntamente com as carnes, juntar o sal, 2 dentes grandes de alho, um dos molhos
de salsa e o galho de louro.
Primeira leva de panelas de pressão!
Enquanto as panelas fervem, preparar as tripas, que vêm em meadas (as tais bicas!) e
cheiram mal que se farta. Num alguidar, pô-las de molho com água a ferver, metade do
vinagre e metade da aguardente, bem como algum detergente para a louça. Deixar de
molho alguns minutos, mudar a água e repetir, com o resto da aguardente e do vinagre.
Passar bem por água.
As tripas de molho
Tirar as carnes das panelas e esperar que arrefeçam. Reservar e coar o caldo.
Enquanto as carnes arrefecem, cortar as fatias do pão. Confesso que, de toda esta saga,
foi o que me custou mais! Primeiro, eu não sei cortar pão... Quer dizer, corto fatias
normais, numa tábua, com a faca do pão, mas não é isto que se pretende. A ideia é
ficarmos com fatias tão finas que lembrei folhas de papel (daí o pão ter de estar bastante
duro para se puder cortar). E não estou a exagerar! (Ninguém gosta de comer alheiras
com bocadões de côdea, pois não?). Reservar num alguidar bem grande.
A minha mãe a cortar o pão. Dá jeito protegerem-se com um pano nos joelhos, para se
aproveitarem bem todas as migalhas
Agora é tempo de virar as tripas. Parece complicado, mas é a coisa mais fácil deste
mundo. Fiz um passo a passo para ser mais fácil de explicar:
1 - Cortar as tripas com cerca de 2 palmos de tamanho.
2 - Pegar numa das pontas da tripa e enfiar no seu interior todo o resto da ripa, de modo
a ficar numa espécie de bolsa (cuidado com as unhas grandes, não vão elas furar a tripa).
3 - Pôr a ponta debaixo da água a correr e deixar que a força da água faça todo o trabalho
de virar a tripa.
4 - E pronto, já estão as tripas viradas! Agora é só repetir as lavagens com a água a
ferver. Se ainda tiverem um cheiro muito intenso, juntar aguardente e vinagre como da
primeira vez (nós fizemos isso).
Escorrer as tripas. Agora é altura de lhes dar o nó. Também parece difícil, mas é bastante
simples e, apanhando-lhe o jeito, é num instante. Também fiz outro passo a passo para
que todos percebam:
1 - Cortar o fio com aproximadamente dois palmos (antes grande demais que pequeno
demais!)
2 - Segurar uma das pontas da tripa entre o polegar e o indicador. Segurar também,
paralelamente, a ponta do fio.
3 - Passar a ponta do fio em redor do polegar, pelo lado esquerdo, e rodeá-lo pela frente
do indicador.
4 - Enfiar o fio pela linha que se criou.
5 - Dar um puxão bem forte (isto é importante, para a tripa não se desatar quando se
estiver a encher).
6 - Dobrar para a frente a ponta da tripa.
7 - Repetir o nó de há bocado, rodeando o polegar pelo lado esquerdo.
8 - Passar a ponta pela linha recém-formada e dar outro puxão rápido..
9 - Dispor as tripas num prato, todas viradas para o mesmo lado para ser mais fácil na
altura em que se estiverem a encher.
Por esta altura já as carnes devem estar frias. Desfiar em pedacinhos pequenos.
Picar um ramos grande de salsa. Descascar duas cabeças e meia de alhos grandes (parece
muito, mas por alguma razão se chamam alheiras!).
Cá estão eles, à espera de novas instruções!
Por esta altura fomos jantar. Podem deixar isto tudo preparado de um dia para o outro, se
não quiserem ou não puderem fazer tudo no mesmo dia.
Aquecer o caldo das carnes. Tem de estar bem quente mas sem ferver.
Entretanto triturar os alhos com um pouco do caldo, utilizando a farinha mágica ou um
almofariz. Reservar.
Deitar o caldo quente sobre as fatias de pão. Mexer com uma colher de pau grande e
abafar com um pano durante alguns minutos.
Aqui voltámos a coar o caldo, para termos a certeza que
não ia nada que não interessasse!
Entretanto aquecer as carnes, pondo-as de molho num pouco de caldo ou água quente.
Aquecer o azeite.
Juntar alho ao pão embebido e mexer bem com a colher de pau.
Juntar o colorau.
A minha irmã despejando colheres bem aviadas de colorau,
enquanto a minha prima ima mexendo com a colher de pau.
Usem roupa que possam sujar à vontade, que se forem como eu acabam o serviço como
o Cristo ao fim da Via Sacra (o que até nem está mal, visto estarmos na Quaresma!).
Como nós não sabemos acender a lareira (isto é real e verídico: este ano o meu pai não
teve férias, portanto não temos quem nos acenda a lareira) ficaram a escorrer na casa do
forno de um dia para o outro (elas escorrem azeite e água por umas horas, portanto é
boa ideia proteger o chão com sacas ou plásticos), antes de irem para casa do meu primo
Xico onde a lareira está acesa o dia inteiro.
Agora é esperar quatro dias até estarem prontas a comer (há gente que as tira mais tarde
do fumeiro, mas nós gostamos assim). Como já foram feitas anteontem, sábado já estão
prontas para grelhar.
Ter o cuidado de acender as lareira e mantê-la acesa durante todo o dia.
Espero que tenham gostado! É assim que se fazem as alheiras à nossa maneira ;)
Confecção:
«Vou fazer chouriço, e sei que o Sr.Manel sabe as quantidades que são necessárias...»
«Então quantos quilos tem o porco?E quantos quilos de chouriço vai fazer a menina?»
Lá fomos falando sobre quantidades e modos de fazer...
Da prateleira tirou uns potes lindos e super antigos que pareciam ser de porcelana com
letras grandes "Pimenta" "Cominhos" "Cravinho" "Colorau"
No balcão as folhas cortadinhas a navalha de papel pardo.
Sem olhar pega num pedaço de papel e começa a enrolar fazendo assim um
cartuxo,depois outro e mais outro...
Vai falando comigo sobre os tempos da sua juventude...vai recordando e eu vou
apreciando a sua arte.
Olho as prateleiras à volta e pouca coisa resta em cima delas para venda...«São as
grandes superficies Menina as culpadas! Sabe o que é pior?! As pessoas são levadas a
gastar mais e nem sempre ficam bem servidas!»
Um Mestre !
Uma compra que podia ser feita em 10 minutos demora cerca de 40 m!!!
Tenho a loja fechada com um "Volto já" mas parecia que não iria voltar mais naquela
tarde :))
Queria ficar ali ,mas tinha que ir trabalhar...mas de nada valia mostrar que tinha pressa!
Lá ia pesando o cominho...fechava o pacote, tapava com muita calma e serenidade o
pote,parecia que o acariciava e que lhe mermurava um até já....Pesava o
cravinho...fechava o pacote e os mesmos movimentos...
«Então Menina e deseja mais alguma coisa?!»
«Cevada! Meio quilo de ceveda!»
«Esta é da boa ,sabe? Pura, em grão!Então e vai fazer numa cafeteira à lareira?!»
«Vou sim Sr.Manel»
Devagarinho , como que a pedir às pernas para o acompanharem naqueles movimentos
lentos, lá trouxe até ao balcão a minha cevada acabadinha de moer na maquina velhinha
e cansada ali ao lado.
Maravilhoso!
Pago e despeço-me com um "Até logo".
À noite vou com a minha mãezita temperar as carnes cortadinhas...
Na lareira uma boa fogueira.Depois das canas cheias era o momentos das colocar lá em
cima e ... apreciar o nosso trabalho
Variedades
O Fumeiro de Vinhais tem Protecção Comunitária IGP-Indicação Geográfica Protegida,
certificação atribuída pela União Europeia e que se traduz num reconhecimento das
qualidades específicas dos enchidos de Vinhais, permitindo que o consumidor adquira
produtos com a garantia de genuinidade e qualidade. O fumeiro é confeccionado a partir
de raças autóctones da região, de que é senhor o porco Bísaro, alimentado à base de
produtos naturais, tornando a sua carne de qualidade superior, suculenta e saborosa. A
excelência da matéria-prima, aliada à confecção tradicional e o clima da região
contribuem para que o fumeiro de Vinhais tenha lugar de destaque no país.
Salpicão de Vinhais (IGP)
O salpicão de Vinhais é um
enchido cuja base de confecção é o lombo de porco Bísaro ou de porco cruzado com
esta raça autóctone. O preparado de carne, devidamente condimentada com sal, vinho
tinto ou branco da região, água, alho, colorau e louro é introduzido numa tripa grossa de
porco de forma cilíndrica. Depois de curado, o salpicão pode ser consumido cru,
finamente fatiado, ou, enquanto fresco, ser assado na brasa.
O butelo de Vinhais é um
enchido fumado, confeccionado com carne de porco, gordura, ossos e cartilagens da
costela e coluna vertebral de porco Bísaro ou cruzado com esta raça. As carnes com
ossos e as cartilagens, depois de condimentadas com sal, alho colorau, louro, água e
vinho branco ou tinto da região, são introduzidas em estômago, o chamado bucho,
bexiga ou tripa do intestino grosso do porco. Este enchido deve ser consumido cozido.