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Conferência Tutorial: Atrasos no desenvolvimento

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 Importante conhecer os marcos esperados em cada  Motor grosso
faixa etária.  Comunicação e linguagem
 O desenvolvimento através de uma sequência  Cognitivo
ordenada, imutável, representando cada uma destas  Psicossocial
etapas, que refletem diferentes tipos de maturidade.  O desenvolvimento cognitivo tem suas divisões. Uma
 De acordo com Gesell, existem 5 áreas do DNPM que das mais aceitas são as 4 etapas de Piaget.
devem ser avaliadas:  A sexta área – subjetividade.
 Motor fino

MARCOS DO DESENVOLVIMENTO
¼ porcento da população não engatinham antes de andar

CONCEITO DE ATRASO DE DESENVOLVIMENTO

 É quando uma criança não atinge o marco de desenvolvimento esperado para sua idade em uma ou mais áreas do
desenvolvimento humano.
 O atraso geral do desenvolvimento (AGD) é o atraso em dois ou mais domínios do desenvolvimento – teste de triagem
neonatal
 No conceito mais amplo, inclui retardo mental, encefalopatia crônica não evolutiva, transtornos do espectro autista e atraso
na linguagem

AVALIAÇÃO CLÍNICA
 O diagnóstico é um desafio e demorado, necessitando  Idade corrigida!!!
de várias consultas de seguimento. Deve ser
multiprofissional. DADOS DA ANAMNESE
 Os objetivos da avaliação clínica são:
 Pré natal: hemorragias vaginais, doenças crônicas, DM,
 Classificar e definir o tipo de atraso
ingestão de álcool, tabagismo, HAS, infecções, uso de
 Determinar a etiologia
medicamentos, uso de substâncias ilícitas e história de
 Providenciar intervenções de suporte e
abortos espontâneos.
reabilitação
 Aconselhamento familiar  Parto: Escores de Apgar, prematuridade, intercorrências
 Identificar possíveis intercorrências neonatais, tempo de internação no berçário e PC ao
nascimento.
ANAMNESE  Antecedentes pessoais: hospitalizações, doenças
crônicas, crises epilépticas, uso crônico de medicação,
 Identificar os sinais de alerta na história clínica, cirurgias, crises de alteração da consciência e distúrbios
detalhando o desenvolvimento que a criança se do ciclo sono-vigilia
encontra naquele momento.  Antecedentes familiares: consanguinidade, história de
 Deve ser colhido dados sobre pré-natal, condições de casos semelhantes na família, estado marital e
parto, antecedentes pessoais patológicos e condições socioeconômicas familiares.
antecedentes familiares.
 No caso de crianças prematuras, a idade cronológica EXAME FÍSICO
deve ser corrigida.
 A medição do PC é essencial;
 Atraso presente desde os primeiros meses de vida X
 Exame físico numa criança com suspeita de atraso no
Regressão no desenvolvimento.
desenvolvimento deve ser completo;
 Apgar no primeiro minuto  distúrbios ácidos-
 Pesquisar dismorfismos, estado nutricional, avaliação
básicos/metabólicos
de pele e tegumentos, palpação de abdome e coluna
 Apgar no quinto minuto  dano neurológico
vertebral e exame neurológico minucioso.
 Pesquisar casamentos consanguíneos
SINAIS DE ALERTA PARA ATRASO NO DESENVOLVIMENTO
MOTRICIDADE GROSSEIRA LINGUAGEM
5 meses Persistência da marcha reflexa 8 a 9 meses Não diz “da” ou “ba”
6 meses Não fica sentado com apoio 10 a 11 meses Não diz “dada” ou “baba”
9 meses Não fica sentado sem apoio 16 meses Não produz palavras únicas
10 meses Não fica em pé com apoio 2 anos Não faz frases de duas palavras
15 meses Não anda sem apoio Não usa, pelo menos, um pronome
2,5 anos
2 anos Não sobe ou desce escada pessoal
2,5 anos Não salta 3,5 anos Não fala de modo inteligível
3 anos Não pedala no triciclo 4 anos Não compreende proposições
4,5 anos Não anda na ponta dos pés Não utiliza a sintaxe correta em frases
5 anos
Não é capaz de andar pé ante pé em curtas
5 anos COGNIÇÃO
linha reta
MOTRICIDADE FINA 2 a 3 meses Não faz sentir necessidades
3,5 meses Persistência do reflexo de preensão 6 a 7 meses Não procura o objeto caído
4 a 5 meses Não junta as mãos na linha média 12 meses Não procura o objeto escondido
Não transfere objetos de uma mão 12 a 15 meses Não aponta
8 meses
para a outra Não se interessa pelo jogo de causa-
15 a 18 meses
10 a 11 meses Ausência de pinça (dedo polegar) efeito
15 meses Não põe ou tira objetos de uma caixa 2 anos Não caracteriza semelhanças (animais)
20 meses Não tira meias ou luvas sem ajuda 3,5 anos Não sabe nome próprio ou apelido
2 anos Não faz torre de 5 cubos ou não rabisca Não sabe escolher entre a maior e a
4 anos
2,5 anos Não volta a página de um livro menor de 2 linhas
Não faz torre de 8 cubos ou não esboça 4,5 anos Não sabe contar
3 anos
uma linha reta 5 anos Não sabe as cores ou qualquer letra
Não faz torre de 10 cubos ou não faz PSICOSSOCIAL
4 anos
um círculo 3 meses Não tem sorriso social
4,5 anos Não copia uma cruz 6 a 8 meses Não ri em situação apropriada
5 anos Não imita um quadrado 10 meses Não estranha
1 ano Não se consola/ aceita mimos
 Cada mês de atraso = 1 desvio padrão – precisa 2 anos Agride sem provocação
haver dois desvios padrão de atraso Sem contato ocular nem interação com
2,5 anos
outras crianças
 TRIAGEM DE ADG – DENVER II 3 a 5 anos Não brinca com outras crianças

ALTERAÇÕES
DISMORFISMO – SÍNDROME DO X FRÁGIL
 Síndrome genética associada a retardo mental e memória de curto prazo e capacidade de
autismo. resolução de problemas afetadas.
 Os pacientes com a síndrome se apresentam com  Cognitivo: Retardo mental leve a grave.
dificuldades em áreas do desenvolvimento, cognitivo,  Neuropsicológicas: Depressão, ansiedade,
neuropsicológicas, musculoesqueléticas, alimentares, transtorno opositor-desafiador,
do treinamento de toalete, do sono e condições comportamento semelhante ao do autismo,
médicas recorrentes. comportamento semelhante ao do transtorno
 O diagnóstico é mais comumente feito após a de hiperatividade e déficit de atenção, crises
puberdade, pois as características ao exame físico se convulsivas (tipo parcial complexo dos 6 aos 24
tornam mais frequentes após esse período. meses), dificuldade de alteração de rotinas,
 Deve-se ter alta suspeição diagnóstica, principalmente características de transtorno compulsivo-
em pacientes que apresentem alterações obsessivo, comportamento de autoinjúria.
cognitivo/comportamentais, que em geral se iniciam no  Musculoesqueléticas: Pés planos, pectus
período pré-escolar. Mulheres e homens podem ser excavatum, frouxidão ligamentar, escoliose,
afetados, porém o fenótipo é quase sempre mais grave deslocamento articular.
no sexo masculino.  Alimentares: Refluxo, vômitos, dificuldade de
 Alterações na anamnese ganho de peso e, em alguns casos,
 Desenvolvimento: Atraso dos marcos do comportamento semelhante ao da síndrome
desenvolvimento, atraso de fala e linguagem, de Prader-Willi (obesidade devido a hiperfagia
controle motor grosseiro e fino alterados, grave).
 Sono: Dificuldade de adormecer, despertares  Boca: Palato arqueado.
frequentes, roncos nasais.  Olhos: Estrabismo, nistagmo, astigmatismo e
 Treinamento do toalete: Atraso no desfralde e ptose podem estar presentes.
enurese noturna após o desfralde se  Mãos e pés: Articulações dos dedos
completar. hiperextensíveis, calos nas mãos, dedos com
 Outras condições médicas recorrentes: dupla articulação, prega palmar única, pés
Sinusite, otite média, redução da acuidade planos.
visual.  Tórax: Pectus excavatum e escoliose.
 História familiar: Questionar na anamnese  Genitália: Macrorquidismo é quase universal
história de meninos com retardo mental, mãe em pacientes com a síndrome.
com retardo mental e/ou dificuldades no  Cardíaco: Pode haver sopro cardíaco ou clique
aprendizado, ou membros da família com consistente com prolapso de valva mitral.
história de ataxia e tremores (pelo risco da  Diagnóstico
síndrome de ataxia / tremor associada ao X  Teste de DNA para síndrome do X frágil: É o
frágil). exame que define o diagnóstico. Deve ser
 Crescimento: Entrada precoce no estirão da realizada concomitantemente com o cariótipo
puberdade; estatura final igual ou ligeiramente para identificação de outros tipos de
menor do que a média. Presença de prega aberrações genéticas.
única entre o primeiro e segundo pododáctilos.  O tratamento é ambulatorial, com equipe
Podem apresentar obesidade, baixo multidisciplinar incluindo: geneticista, fonoaudiólogo,
crescimento linear, mãos e pés pequenos e fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogos,
hiperpigmentação difusa. profissionais da educação, neurologista, cardiologista,
 Alterações no exame físico otorrinolaringologista, gastroenterologia, ortopedia,
 Face: Face fina e longa, com orelhas e testa nutricionista, oftalmologista, entre outros que possam
proeminentes, assimetria facial, perímetro ser necessários conforme a evolução do paciente.
cefálico maior que o percentil 50 e mandíbula
proeminente.

MANCHAS CAFÉ COM LEI TE - NEUROFIBROMATOSE


A neurofibromatose (NF) é uma doença autossômica As lesões são do tipo manchas café com leite, semelhantes a
dominante dividida em duas entidades clínicas distintas: NF sardas ou ovais com bordas irregulares, distribuídas pelo
1 (síndrome de von Recklinghausen ou NF periférica) é tronco, pela pelve e pelas dobras flexoras dos cotovelos e
responsável por cerca de 90% dos casos e constitui a dos joelhos; É muito importante que conscientizemos os pais
síndrome neurocutânea mais frequente da infância, que a presença exclusiva dessas manchas pode não ter
apresentando-se com fenótipos variados. Já a NF 2 (NF significado clínico ou que pode não ser NF, bem como que
central) é rara e manifesta-se como neuromas acústicos não existe relação entre o número de manchas presentes e
bilaterais congênitos. O diagnóstico é clínico e não há a gravidade da NF;
tratamento específico, porém podem-se remover os
tumores cirurgicamente. Devemos perguntar sobre o surgimento de tumores
cutâneos avermelhados de vários tamanhos e formatos,
Quadro clínico: Devido ao caráter autossômico dominante visto que os neurofibromas cutâneos costumam surgir na
da doença, devemos perguntar ao acompanhante a história infância. Na criança, é raro o desenvolvimento de neuromas
familiar, sendo que a presença da doença na família é um plexiformes que levem ao espessamento irregular e a
ponto importante no critério diagnóstico. deformidades grotescas;

É importante sabermos que neurofibromas são tumores Quando presentes, as anomalias do esqueleto podem ser
benignos e podem ser periféricos ou centrais cistos ósseos subperiostais, escoliose, pedículos vertebrais,
displasia fibrosa, pseudoartrose, ausência da grande asa do
Devemos saber que a maioria dos pacientes com NF1 é osso esfenoide na parede orbital posterior ou
assintomática, porém alguns podem apresentar sintomas adelgaçamento do córtex de ossos longos. A macrocefalia
neurológicos ou anormalidades ósseas; Como na maioria dos também pode estar presente;
casos, as lesões de pele estão presentes desde o nascimento
ou surgem muito precocemente, devemos perguntar aos É comum a associação de NF1 e hipertensão arterial, sendo
acompanhantes sobre o início do aparecimento das lesões; imprescindível a aferição;
Pode ser que alguns pacientes apresentem glioma óptico e mostrando geralmente alterações de densidade focal na NF1
nódulos de Lisch (hamartomas da íris), apresentando e massas ao longo do oitavo par craniano na NF2.
alterações visuais. Além disso, devemos saber que
alterações das paredes arteriais podem provocar a doença Dois ou mais aspectos devem estar presentes para fechar o
de Moyamoya ou aneurismas arteriais intracranianos. É diagnóstico:
importante procurar na história a presença de cefaleia ou
 ≥ 6 manchas café com leite, com diâmetro no ponto
sinais neurológicos focais que possam indicar tais alterações;
mais largo de > 5 mm nos pré-púberes e > 15 mm nos
Podem estar presentes em algumas crianças problemas de pós-púberes;
aprendizado e comportamento, então devemos questionar  ≥ 2 neurofibromas de qualquer tipo ou 1 neurofibroma
a história escolar e a relação da criança com família e plexiforme;
colegas.  Sardas nas regiões axilares e inguinais;
 Glioma óptico;
Diante de crianças portadoras de NF ou em suspeita,  ≥ 2 nódulos de Lisch (hamartomas da íris);
devemos sempre realizar o exame clínico com  Lesões ósseas características (p. ex.: aplasia esfenoidal,
direcionamento para alterações de pele, ósseas e sistema afilamento da cortical dos ossos longos) com ou sem
nervoso. pseudoartrose;
 Um parente de primeiro grau com NF1 que preencha os
Além disso, devemos solicitar neuroimagem por TC ou RNM
critérios precedentes.
em pacientes com queixas neurológicas que sugiram NF,

MENINGOCELE

Defeito primário do tubo neural mais comum, no qual não ocorre o fechamento do tubo neural até aproximadamente 28 dias de
gestação. Também chamada de espinha bífida.

Diagnóstico pré-natal: Medidas de alfafetoproteína (AFP) no soro materno de 2,5 vezes a mediana no segundo trimestre (16 a 18
semanas) têm uma sensibilidade de 80 a 90% para mielomeningocele. Respeitar a idade gestacional para a mensuração é
fundamental, já que os níveis de AFP mudam ao longo da gestação. A ultrassonografia também pode demonstrar o ní-vel de
término da medula normal e do placoide. A ressonância magnética pré-natal pode definir o defeito com mais precisão.

Diagnóstico pós-natal: É imediatamente óbvio ao nascimento. Algumas massas saculares, geralmente na parte inferior do sacro
(como os teratomas sacrococcígeos) podem ser confundidas com um defeito do tubo neural.

A mielomeningocele pode se localizar em qualquer parte do neuroeixo, mas predomina na região lombossacra. O grau de lesão
gerada depende da sua localização e extensão.

A hidrocefalia ocorre em 84% dessas crianças por associação com a malformação de Arnold Chiari II (malformação da ponte e do
bulbo, com deslocamento para baixo do cerebelo, bulbo e quarto ventrículo para a região cervical superior). A malformação de
Arnold Chiari II ocorre em aproximadamente 90% dos
casos. Observam-se várias anomalias do sistema
nervoso central associadas e, mais importante ainda,
displasia cortical cerebral em até 92% das crianças.

EXAMES COMPLEMENTARES
 Não há algoritmo perfeito
 Avaliação auditiva e oftalmológicas devem ser
consideradas para todos os casos
 EEG se crises eplépticas
 RM devem ser pedidos nos casos em que existam
anormalidades específicas no exame neurológico
 Considerar estudo para pesquisa da síndrome do
X frágil

FLUXOGRAMA DA UNIFES P (2013) 

Ao descobrir um atraso, inicia o tratamento antes


mesmo de pesquisar a etiologia.
ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO EVOLUTIVA (ECINE) – PARALISIA CEREBRAL
 Distúrbio de postura e movimento, secundários a lesões  As formas clínicas podem ser:
permanentes e não progressivas que ocorrem no  Forma espástica – mais prevalente – ttmto com
cérebro em desenvolvimento associados a outras toxina botulínica e equoterapia
condições, como epilepsia, defeitos visuais, dor,  Forma discinética
defeitos auditivos, etc.  Forma atáxica
 Etiologia multifatorial e a prematuridade é o principal  Mais de 50% dos pacientes apresentam crises
fator de risco. epilépticas
 Leucomalacia periventricular aumenta o risco em até 15  Retardo mental é visto em até 25% dos pacientes
vezes.  Grande prevalência de déficits auditivos e visuais
 As causas podem ser pré-natais (genéticas e maternas),  O diagnóstico e o tratamento são semelhantes ao do
perinatais (asfixia, TCE e hiperbilirrubinemia) e pós- atraso do desenvolvimento
natais (TCE, infecções, tumores e AVCs).

RETARDO MENTAL
 Deficiência intelectual ou deficiência mental.  Classificação
 É o comprometimento do desenvolvimento adaptativo.  Leve: QI entre 55 a 69 pontos
 Critérios diagnóstico do DSM-V:  Moderada: QI entre 40 a 54 pontos
 Início em idade inferior a 18 anos  Grave: QI entre 35 a 39 pontos
 Déficits ou prejuízos concomitantes no  Profunda: QI abaixo de 25 pontos
funcionamento adaptativo  Anamnese é essencial para distinguir deficiência mental
 QI menor que 70 de problemas sociais graves.
 Ligeiro predomínio em homens.  Surdez, cegueira e obstáculos ortopédicos presentes
podem dificultar no atraso no desenvolvimento
adaptativo.
 A avaliação psicopedagógica é fundamental para
confirmar a suspeita.

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