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capa-IA-255.

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27º Congresso Nacional de Laticínios
Instituto de Laticínios Cândido Tostes

38ª Expomaq Exposição de Máquinas, Equipamentos, Embalagens


e Insumos para a Indústria Laticinista

37ª Expolac ProdutosExposição de


Lácteos

37º Concurso Nacional de Produtos Lácteos


8º Congresso Internacional de Leite - Embrapa
12 a 15 de julho de 2010
Expominas - Juiz de Fora - MG - Brasil
Acesse nosso site: www.cnlepamig.com.br

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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.31 n.255 mar./abr. 2010
Belo Horizonte-MG

Sumário
Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Plantas medicinais no contexto de políticas públicas


Angelo Giovani Rodrigues e Carmem De Simoni ................................................................. 7

Identificação botânica das plantas medicinais


Andréia Fonseca Silva, Ana Paula dos Santos e Morgana Flávia Rodrigues Rabelo ............... .13

Conhecimento tradicional do uso medicinal das plantas


Alexandre Américo Almassy Júnior, Andréia Fonseca Silva e Maira Christina Marques Fonseca ... 20
Apresentação
Plantas medicinais nativas e exóticas adaptadas
Quando se fala em plantas medicinais e aro- Viviane Modesto Arruda, Andréia Fonseca Silva e Maira Christina Marques Fonseca ............ 27
máticas, o que vem ao pensamento são os chás que
Validação do uso popular de alguns extratos e óleos essenciais medicinais
a vovó preparava de macela, hortelã, folha de pi-
tanga, chás amargos, de aroma agradável. Rosana Gonçalves Rodrigues das Dores, Vera Lúcia Garcia Rehder e Marta Cristina Teixeira
O costume de utilizar as plantas no tratamen- Duarte . ........................................................................................................................... 40
to de doenças é tão antigo como a existência do
homem. No passado, índios, africanos e europeus, Melhoramento genético de plantas medicinais nativas do Brasil
e hoje, raizeiros, mateiros, benzedores, seringuei- Cláudio Lúcio Fernandes Amaral e José Emílio Zanzirolani de Oliveira . ................................. 47
ros, pescadores, quilombolas e os próprios índios
constituem a base dos conhecimentos tradicionais Domesticação de plantas medicinais
associados às plantas de uso medicinal. Aliado à Ilio Montanari Junior ......................................................................................................... 52
diversidade vegetal brasileira, o uso tradicional
dessas plantas como medicamento coloca o Brasil Orientações gerais para cultivos orgânico e hidropônico de plantas medicinais e
em destaque, quanto ao desenvolvimento de fito- aromáticas
terápicos. Marinalva Woods Pedrosa, Lourdes Silva de Figueiredo, Hermínia Emília Prieto Martinez,
Atualmente, esses chás estão sendo validados Ernane Ronie Martins, Maria Aparecida Nogueira Sediyama e Izabel Cristina dos Santos . ..... 57
e valorizados pela Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), no Sis- Uso de princípios bioativos de plantas no controle de fitopatógenos e pragas
tema Único de Saúde (SUS), abrindo o portal de Marcelo Barreto da Silva, Marcelo Augusto Boechat Morandi, Trazilbo José de Paula Júnior,
acesso ao conhecimento das plantas medicinais Madelaine Venzon e Maira Christina Marques Fonseca ....................................................... 70
brasileiras. É a oportunidade do renascimento do
processo de fusão do saber do povo com o saber Benefícios da homeopatia no cultivo de plantas medicinais
do técnico. O Programa de Desenvolvimento de Vicente Wagner Dias Casali, Daniel Melo de Castro, Cintia Armond, Maira Christina Marques
Plantas Medicinais prioriza ações que vão desde Fonseca, Fernanda Maria Coutinho de Andrade, Elen Sonia Maria Duarte e Viviane Modesto
o cultivo dessas plantas até a sua comercialização Arruda ......................................................................................................................................... 79
e distribuição. Este fato é promissor por ascender
a esperança dos pesquisadores, quanto ao apoio Cuidados na colheita e pós-colheita de plantas medicinais e aromáticas
governamental para a realização de um grande Franceli da Silva e Glyn Mara Figueira .............................................................................. 85
programa de pesquisas com plantas medicinais.
Com base neste contexto, a EPAMIG vem Estratégias para o mercado de plantas medicinais e aromáticas no Brasil:
desenvolvendo pesquisas com plantas medicinais, o exemplo da erva-baleeira
junto aos agricultores familiares do Estado, visan- Pedro Melillo de Magalhães .............................................................................................. 94
do conhecer, identificar e presevar essas espécies.
A parceria firmada recentemente com a Secre- Uso de plantas medicinais na terapêutica animal
taria Estadual de Saúde (SES-MG), que está im- Renata Apocalypse Nogueira Pereira, Marta Cristina Teixeira Duarte, Vera Lúcia Garcia Rehder,
plantando o Componente Verde à Rede Farmácia
Milena Cristina Leite Godoy e Andréia Fonseca Silva ..........................................................101
de Minas, favorecerá o desenvolvimento de ativi-
dades que vão desde o cultivo das plantas medici- Programa de cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares para a
nais até a prescrição de fitoterápicos. agricultura familiar no município de Varginha, MG
Nilmar Eduardo Arbex de Castro, Giorgio Frapiccini e Elifas Nunes de Alcântara ..................107
Maira Christina Marques Fonseca
Andréia Fonseca Silva Programas de produção e fornecimento de fitoterápicos no SUS
Marinalva Woods Pedrosa Rosana Bianchini, Jaqueline Guimarães de Carvalho e José Mário Lobo Ferreira ..................114

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.31 n.255 p. 1-120 mar./abr. 2010

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© 1977 Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364
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EPAMIG

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Vânia Lacerda

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Maria Lélia Rodriguez Simão
Departamento de Pesquisa
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Vânia Lacerda publicação da edição.
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Mairon Martins Mesquita Assinatura anual: 6 exemplares


Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Aquisição de exemplares
PRODUÇÃO Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Divisão de Transferência Tecnológica
DEPARTAMENTO DE PUBLICAÇÕES
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova
EDITOR
CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG
Vânia Lacerda
Telefax: (31) 3489-5002
COORDENAÇÃO TÉCNICA
E-mail: publicacao@epamig.br - Site: www.epamig.br
Maira Christina Marques Fonseca, Andréia Fonseca Silva e
Marinalva Woods Pedrosa CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047

REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA


Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira
Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
NORMALIZAÇÃO Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira v.: il.
PRODUÇÃO E ARTE
Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Erasmo dos
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Reis Pereira, Ângela Batista P. Carvalho, Letícia Martinez e
Fabriciano Chaves Amaral ISSN 0100-3364

Coordenação de Produção Gráfica 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto


Fabriciano Chaves Amaral Econômico. I. EPAMIG.
Capa: Letícia Martinez
CDD 630.5
Foto da capa: Vânia Lacerda

Selo 35 anos Informe Agropecuário: Ângela Batista P. Carvalho


O Informe Agropecuário é indexado na
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Governo do Estado de Minas Gerais

PUBLICIDADE Secretaria de Estado de Agricultura,


Décio Corrêa Pecuária e Abastecimento
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária
CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG
EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV
Telefone: (31) 3489-5088 - deciocorrea@epamig.br

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Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Gilman Viana Rodrigues
Secretário

Potencial de plantas
medicinais e aromáticas
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
Conselho de Administração

depende da pesquisa
Gilman Viana Rodrigues Sandra Gesteira Coelho
Baldonedo Arthur Napoleão Elifas Nunes de Alcântara
Pedro Antônio Arraes Pereira Vicente José Gamarano
Adauto Ferreira Barcelos Joanito Campos Júnior
Osmar Aleixo Rodrigues Filho Helton Mattana Saturnino
Décio Bruxel
Conselho Fiscal
O emprego de plantas medicinais na recuperação da saúde
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva tem evoluído ao longo dos tempos, desde as formas mais simples
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz
José Clementino Santos Celso Costa Moreira
de tratamento local até as formas tecnologicamente sofisticadas da
Presidência
Baldonedo Arthur Napoleão fabricação industrial utilizadas pelo homem moderno. Um número
Diretoria de Operações Técnicas cada vez maior de pessoas busca as plantas para a cura de suas
Enilson Abrahão
Diretoria de Administração e Finanças doenças, seja pelo baixo custo, seja pela facilidade de aquisição.
Luiz Carlos Gomes Guerra
Gabinete da Presidência
O mercado mundial de medicamentos movimenta,
Thaissa Goulart Bhering Viana aproximadamente, US$300 bilhões por ano. Os fitoterápicos
Assessoria de Comunicação
Roseney Maria de Oliveira movimentam globalmente US$21,7 bilhões por ano. No Brasil,
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional
Felipe Bruschi Giorni
estima-se que esse mercado gire em torno de US$160 milhões por
Assessoria de Informática ano, com crescimento acima de 15% nas vendas internas. Em toda
Silmar Vasconcelos
Assessoria Jurídica a cadeia produtiva, o setor fitoterápico movimenta, anualmente,
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo
cerca de R$1 bilhão. Ao todo, são 512 medicamentos fitoterápicos
Assessoria de Negócios Tecnológicos
Jairo Pereira da Silva Júnior registrados, sendo 80 fitoterápicos associados e 432 simples,
Assessoria de Planejamento e Coordenação
Renato Damasceno Netto ou seja, obtidos de derivados de apenas uma espécie vegetal,
Assessoria de Relações Institucionais sendo que apenas 25,92% dessas espécies são da América do
Marcílio Valadares
Assessoria de Unidades do Interior Sul, incluindo aquelas brasileiras, como guaco, espinheira-santa
Júlia Salles Tavares Mendes
e guaraná.
Auditoria Interna
Carlos Roberto Ditadi A utilização de plantas medicinais pela população brasileira
Departamento de Compras e Almoxarifado
Sebastião Alves do Nascimento Neto tem influência das culturas indígena, africana e europeia. Esse
Departamento de Contabilidade e Finanças
Celina Maria dos Santos
conhecimento constitui a base da medicina popular no País.
Departamento de Engenharia Mesmo dispondo desse conhecimento, a fitoterapia no Brasil
Luiz Fernando Drummond Alves
Departamento de Estudos Econômicos e Prospecção baseia-se, oficialmente, em algumas poucas espécies medicinais,
Juliana Carvalho Simões
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais
a maioria exótica e de origem europeia, em detrimento da rica
Mary Aparecida Dias biodiversidade existente no País.
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão Diante deste cenário, percebe-se a necessidade de
Departamento de Publicações
Vânia Lúcia Alves Lacerda
investimento em pesquisas para identificação dessa imensa
Departamento de Recursos Humanos diversidade, suas potencialidades e tecnologias para cultivo,
Flávio Luiz Magela Peixoto
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia manejo, melhoramento e controle de pragas e doenças.
Mairon Martins Mesquita
Esta edição do Informe Agropecuário traz estudos e
Departamento de Transportes
José Antônio de Oliveira informações relevantes sobre a produção de plantas medicinais e
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Fernando A. R. Magalhães, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo aromáticas, bem como perspectivas de mercado para produtores
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa interessados em investir nesta atividade.
U.R. EPAMIG Sul de Minas
Gladyston Rodrigues Carvalho e Rodrigo Fráguas de Carvalho Baldonedo Arthur Napoleão
U.R. EPAMIG Norte de Minas
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
Presidente da EPAMIG
U.R. EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e João Bosco Caldas Campos
U.R. EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
U.R. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Plantas medicinais: saber popular e
conhecimento científico
O diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica
e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, José Miguel
do Nascimento Júnior, é graduado em Farmácia Bioquímica
e Especialista e Mestre em Saúde Pública, pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi coordenador geral
de Assistência Farmacêutica Básica do Ministério da Saúde
e diretor de Assistência Farmacêutica da Secretaria de
Estado da Saúde de Santa Catarina. É membro do Conselho
Gestor do Programa Farmácia Popular do Brasil e professor
da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa
Catarina. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com
ênfase em Assistência Farmacêutica. Atua principalmente
nas seguintes áreas: assistência farmacêutica, avaliação de
serviços de saúde, serviço municipal de saúde, dispensação
Luís Oliveira/MS

de medicamentos e produtos farmacêuticos. Nesta entrevista,


José Miguel destaca a importância do resgate, reconhecimento
e valorização das práticas tradicionais e populares de uso de
plantas medicinais.

IA - O Brasil é um país de grande diver- caseiros e aproximá-los do conhecimento eficácia poderão ser incentivadas e utili-
sidade natural. Os vegetais somam científico. Na maioria das vezes, os conhe- zadas pelo SUS. Tais plantas têm muita
cerca de 55 mil espécies, dentre as cimentos tradicional e popular orientam o aceitação pela população e podem tratar
quais muitas possuem propriedades conhecimento científico, a descoberta e o doenças nos diferentes níveis de comple-
medicinais confirmadas por indí- desenvolvimento de medicamentos. No xidade, em especial na atenção básica, me-
genas, seringueiros e outras etnias entanto, os conhecimentos tradicionais lhorando o acesso à saúde pela população.
do País. Qual a importância e o devem ser salvaguardados e os direitos dos
potencial das plantas medicinais na detentores desses conhecimentos devem IA - Neste caso, será criada uma legis-
medicina tradicional? ser reconhecidos e repartidos os benefícios. lação específica para produção de
O PNPMF prevê a identificação das inicia- plantas medicinais?
José Miguel - O uso sustentável de tivas comunitárias, bem como a definição
plantas medicinais, a proteção e o uso equi- da forma de apoio e a divulgação para os José Miguel - A produção e o cultivo
tativo dos conhecimentos tradicionais são conhecimentos tradicionais, que, em suma, de plantas medicinais têm vários destinos
recomendados pela Organização Mundial possuem papel relevante para a saúde. na cadeia produtiva. Essas plantas podem
da Saúde (OMS), para ampliar o acesso à ser utilizadas in natura, na forma de drogas
saúde das populações. No entanto, a OMS IA - Quais as estratégias e ações do Mi- vegetais (assim consideradas as plantas
aborda a necessidade de garantir qualidade, nistério da Saúde, para o emprego medicinais ou suas partes, que contenham
segurança e eficácia para as terapias e os de plantas medicinais pelo Sistema as substâncias ou classes de substâncias
recursos da Medicina Tradicional, como é Único de Saúde (SUS), e que vanta- responsáveis pela ação terapêutica, após
o caso das plantas medicinais. Para isso, gens trará à população? processos de coleta ou colheita, estabi-
o Programa Nacional de Plantas Medici- José Miguel - Em 2009, o Ministério lização e secagem, íntegras, rasuradas,
nais e Fitoterápicos (PNPMF) dedica um da Saúde divulgou a Relação de Plantas trituradas ou pulverizadas), e ainda, como
capítulo ao conhecimento tradicional e Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus), insumo para a manipulação ou fabricação
popular, já que é imprescindível promover com o objetivo de orientar as pesquisas de de fitoterápicos (produtos obtidos de planta
o resgate, o reconhecimento e a valoriza- 71 espécies vegetais, que têm potencial de medicinal ou de seus derivados, exceto
ção das práticas tradicionais e populares gerar produtos para o SUS. Aquelas plantas substâncias isoladas, com finalidade pro-
de uso de plantas medicinais e remédios medicinais que apresentarem segurança e filática, curativa ou paliativa).
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O cultivo de plantas medicinais deverá IA - Quais são as estratégias do governo fe- José Miguel - Ainda não existe um
ser regulamentado pelo Ministério da Agri- deral para inclusão social das comuni- recurso específico no Plano Plurianual
cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). dades integrantes da cadeia produtiva (PPA) para o PNPMF, porque esse foi
No âmbito de atuação da Agência Na- de plantas medicinais? O incentivo à aprovado somente no final de 2008 e, por
cional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi criação de associações e cooperativas isso, os Ministérios têm utilizado recursos
publicada recentemente a RDC no 10/2010, pode ser uma alternativa? oriundos de outros Programas para imple-
que dispõe sobre a notificação de drogas José Miguel - O Programa Nacional
mentação das ações, entre elas as de PD&I,
vegetais. No tocante às boas práticas de que têm como gestores, além do Ministé-
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi
fabricação das drogas vegetais, em breve aprovado em dezembro de 2008. No ano rio da Saúde, o Ministério de Ciência e
deve ser publicada uma legislação espe- de 2009, os dez Ministérios envolvidos, Tecnologia (MCT) e a Fiocruz, os quais
cífica, assim como para boas práticas de além da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) devem disponibilizar esses recursos, por
fabricação de insumos de origem vegetal. e Anvisa, iniciaram a implementação do meio de editais.
A Anvisa também deve publicar a consulta Programa. A partir da instalação do Comitê No âmbito do Ministério da Saúde,
pública sobre o regulamento técnico para Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterá- devem ser definidas as prioridades para
Farmácia Viva, instituída no SUS por meio picos, do qual fazem parte o governo e a so- pesquisa com a sistematização dos dados.
ciedade civil, e do Grupo Técnico Intermi- Essa pesquisa está sendo realizada a partir
da Portaria GM/MS no 886, de 20 de abril
nisterial, estão sendo definidas estratégias e do levantamento bibliográfico, para as 71
de 2010, que se diferencia da farmácia de
ações prioritárias para o desenvolvimento espécies vegetais da Renisus.
manipulação por realizar todas as etapas,
desde o cultivo, a coleta, o processamento, da cadeia produtiva, conforme o estabele-
cido pelo PNPMF – que a regulamentação IA - Existem alguns preconceitos na socie-
o armazenamento de plantas medicinais, dade quanto à utilização e à eficácia
a manipulação e a dispensação de prepa- de manejo, cultivo/produção de plantas
medicinais deve incentivar o fomento às de plantas medicinais no tratamento
rações magistrais de plantas medicinais e de saúde. Como será realizado o
organizações, ao associativismo e à difusão
fitoterápicos. Vale ressaltar que a Farmácia trabalho de conscientização da po-
da agricultura familiar e das agroindústrias
Viva não será a única forma de acesso pulação e divulgação dos benefícios
de plantas medicinais.
a plantas medicinais e fitoterápicos no desta alternativa terapêutica?
SUS. As secretarias municipais e estaduais IA - Para a implantação do Programa José Miguel - A população, em geral,
poderão optar também por farmácias de Nacional de Plantas Medicinais e tem aceitado muito bem a Fitoterapia,
manipulação próprias ou conveniadas, que Fitoterápicos faz-se necessária a como opção terapêutica, uma vez que a
atendam à resolução da Anvisa, dispensar capacitação de profissionais que
maioria já utilizou ou utiliza plantas me-
drogas vegetais e/ou dispensar fitoterápicos atuem desde o cultivo das plantas até
dicinais e/ou fitoterápicos. Por exemplo, a
industrializados. a prescrição dos fitoterápicos. Como
alcachofra é bastante conhecida por suas
isto será feito?
propriedades colagoga e colerética, utili-
IA - Como será feita a fiscalização e a
José Miguel - Devem ser definidas as zada em dispepsias. É claro que precisam
certificação das plantas medicinais
demandas, identificadas as instituições para ser consideradas as diferentes formas de
destinadas ao SUS?
promover a capacitação. Inicialmente, o Mi- administrar uma planta medicinal ou um
José Miguel - Os critérios de quali- nistério da Saúde espera capacitar médicos fitoterápico, diante da necessidade do
dade, segurança e eficácia para plantas do SUS, para a prescrição dos fitoterápicos, paciente.
medicinais destinadas ao SUS devem ser que são financiados por meio da Portaria Para a conscientização e divulgação
os mesmos para aquelas destinadas ao GM/MS no 2.982/2009. Enquanto isso, dessa opção terapêutica, devem ser ela-
setor privado. 440 farmacêuticos do SUS já estão sendo borados materiais de divulgação, como
Todas as etapas – do cultivo da planta capacitados para a gestão em assistência cartazes, cartilhas, folhetos e vídeos,
medicinal à distribuição do fitoterápi- farmacêutica em Homeopatia e Fitoterapia, visando à promoção de ações de informa-
nos 13 cursos de Pós-gradução Lato Sensu ção e divulgação do tema Uso de Plantas
co – devem ser fiscalizadas pelos órgãos
financiados pelo Ministério da Saúde. No Medicinais e Fitoterapia, respeitando as
competentes, de acordo com os respectivos
regulamentos técnicos.
Programa Mais Saúde, está prevista a meta especificidades regionais e culturais do
de capacitar 480 gestores e outros profissio- País. Este material será direcionado aos
As boas práticas de cultivo, manipula-
nais de saúde, que serão multiplicadores nas trabalhadores, gestores, conselheiros de
ção e/ou fabricação, aliadas às pesquisas, 27 Unidades da Federação. saúde, bem como aos docentes e discentes
devem garantir que as espécies vegetais
da área de saúde e comunidade em geral,
cultivadas sejam aquelas que possuem IA - Quais serão os recursos destinados segundo o PNPMF, que pode ser acessado
os princípios ativos para as respectivas ao desenvolvimento de pesquisas, pelo link: http://portal.saude.gov.br/portal/
indicações terapêuticas. São as mesmas tecnologias e inovação em plantas arquivos/pdf/plantas_medicinais.pdf
utilizadas na produção e na dispensação de medicinais? Como serão disponibi-
plantas medicinais e fitoterápicos. lizados esses recursos? Por Vânia Lacerda

IInnffoorrmmee AAggrrooppeeccuuáárriioo,, BBeelloo HHoorriizzoonnttee,, vv..2391,, nn..224555,, jmu la. r/ .a/ ga ob .r . 22000180

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Plantas medicinais e aromáticas 7

Plantas medicinais no contexto de políticas públicas


Angelo Giovani Rodrigues 1
Carmem De Simoni 2

Resumo - Nas últimas décadas, a Medicina Tradicional/Complementar e Alternativa


(MT/MCA) e seus produtos, principalmente plantas medicinais, cada vez mais têm-
se tornado objeto de políticas públicas nacionais e internacionais, especialmente na
área da saúde, incentivadas pelas recomendações da Organização Mundial da Saúde
(OMS). No Brasil, as plantas medicinais e seus derivados são amplamente utilizados
pela população nos cuidados com a saúde, assim como existem programas de fitote-
rapia inseridos no Sistema Único de Saúde (SUS). Os principais instrumentos nortea-
dores, aprovados em 2006, são a Política Nacional de Práticas Integrativas e Comple-
mentares no SUS, que contempla diretrizes, ações e responsabilidades institucionais,
entre outras, para plantas medicinais e fitoterapia no SUS, e a Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que traz diretrizes para desenvolvimento da ca-
deia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. As políticas nacionais trouxeram
avanços para a saúde no País, pela normatização e institucionalização das experiên-
cias com plantas medicinais e fitoterapia na rede pública e como indutor de políticas,
programas e legislação nas três instâncias de governo.

Palavras-chave: Política pública. Planta medicinal. Fitoterápico. Fitoterapia. Saúde


pública. Medicina tradicional.

INTRODUÇÃO ambiental global (WILSON, 1997). (BRASIL, 2008b). Estas práticas estão
Nas últimas décadas, a Medicina Tradi- cada vez mais popularizadas e valoriza-
Políticas públicas contemplam di-
3
cional /Complementar e Alternativa (MT/ das e são incentivadas não somente pelos
retrizes e linhas estratégicas de atuação
MCA) e seus produtos, principalmente profissionais que atuam na rede básica de
governamental, as quais orientam legis-
lação, programas e projetos para o desen- plantas medicinais, cada vez mais têm-se saúde dos países em desenvolvimento,
volvimento econômico e social do país. A tornado objetos de políticas públicas na- mas também por aqueles países onde a
diversidade biológica ou biodiversidade, cionais e internacionais, especialmente na medicina convencional é predominante no
compreendida como o “conjunto de todos área da saúde, incentivadas pelas recomen- sistema de saúde local (ORGANIZACIÓN
os seres vivos com toda sua variabilidade dações da Organização Mundial da Saúde MUNDIAL DE LA SALUD, 2002).
genética”, tem sido cada vez mais reconhe- (OMS), a qual reconhece a importante Os esforços da OMS em considerar o
cida como um dos elementos centrais para contribuição da MT na prestação de assis- valor potencial da MT, como práticas segu-
o desenvolvimento e bem-estar da humani- tência social, especialmente às populações ras e eficazes, e incentivar sua integração
dade e a grande responsável pelo equilíbrio com pouco acesso aos sistemas de saúde aos sistemas oficiais de saúde orientados

1
Eng o Agr o , D.Sc., Consultor Técn./Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares/Ministério da Saúde - Secretaria de
Atenção a Saúde - Depto. Atenção Básica, CEP 70070-600 Brasília-DF. Correio eletrônico: angelo.giovani@saude.gov.br
2
Médica, M.Sc., Coord./Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares/Ministério da Saúde - Secretaria de Atenção a
Saúde - Depto. Atenção Básica, CEP 70070-600 Brasília-DF. Correio eletrônico: carmem.desimoni@saude.gov.br
3
Abrange os conhecimentos, habilidades e práticas que se baseiam em teorias, crenças e experiências indígenas de diferentes culturas, ex-
plicáveis ou não, utilizadas na manutenção da saúde, tão bem quanto em prevenções, diagnósticos ou tratamentos de doenças físicas e mentais.
(WHO, 2005).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 5 , p . 7 - 1 2 , m a r. / a b r. 2 0 1 0

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8 Plantas medicinais e aromáticas

pelas diretrizes de políticas nacionais são os mais largamente utilizados nas 55 espécies de plantas medicinais
de MT, iniciaram-se no final da década medicinas tradicionais. Para esses medi- com o objetivo, entre outros, de:
de 1970 com a criação do Programa de camentos, relata que os mais importantes Desenvolver uma terapêutica al-
Medicina Tradicional. Um dos principais desafios são critérios de segurança, eficácia ternativa e complementar, com
documentos, frutos desse Programa, foi e qualidade e que dependem de regulamen- embasamento científico, por meio do
“Estratégia da OMS para a Medicina Tra- tação adequada (WHO, 2005). estabelecimento de medicamentos
dicional para 2002-2005”, que contempla No Brasil, as plantas medicinais e seus fitoterápicos originados a partir da
diagnóstico, desafios e potencialidades derivados vêm, há muito, sendo utilizados
determinação do real valor farmacoló-
da MT, assim como o papel e os objeti- pela população nos seus cuidados com a
gico de preparações de uso popular, à
vos da Organização nesse campo. Nesse saúde, seja pelo conhecimento tradicional
base de plantas medicinais. (BRASIL,
documento, a OMS (ORGANIZACIÓN na MT indígena, quilombola, entre outros
2006d);
MUNDIAL DE LA SALUD, 2002) propôs povos e comunidades tradicionais, seja
pelo uso na medicina popular, de transmis- b) a Resolução Ciplan no 8, de 8 de
respaldar os países a:
são oral entre gerações, seja nos sistemas março de 1988, a qual regulamentou
a) integrar as MT/MCA aos sistemas a prática de fitoterapia nos servi-
oficiais de saúde, como prática de cunho
nacionais de saúde, desenvolvendo
científico, orientada pelos princípios e di- ços de saúde, assim como criou
e implementando políticas e progra- procedimentos e rotinas relativas à
retrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
mas nacionais; prática da fitoterapia nas Unidades
Além do conhecimento tradicional asso-
b) promover a segurança, eficácia e ciado às plantas medicinais, da tradição de Assistenciais Médicas;
qualidade das MT/MCA; uso pela população, da rica diversidade de c) as recomendações das Conferências
c) aumentar a disponibilidade e aces- espécies vegetais, da grande sociodiversi- Nacionais de Saúde, do Fórum para
sibilidade das MT/MCA; dade, o País possui infraestrutura tecno- a Proposta de Política Nacional de
lógica para desenvolvimento de produtos Plantas Medicinais e Fitoterápicos,
d) fomentar o uso racional das MT/
oriundos da biodiversidade brasileira com ocorrido em 2001, e do Seminário
MCA, tanto pelos provedores quan-
vistas à ampliação do acesso da população Nacional de Plantas Medicinais,
to pelos consumidores. a serviços e produtos em atenção à saúde,
Fitoterápicos e Assistência Far-
Outro importante documento, publi- assim como redução da dependência tec-
macêutica, ocorrido em Brasília,
cado em 2005, foi o “National Policy on nológica de insumos farmacêuticos.
em setembro de 2003 (BRASIL,
Traditional Medicine and Regulation of Todas as oportunidades e potencial
2006d).
Herbal Medicines”, que discute a situação do País para desenvolvimento das plantas
mundial das Políticas Nacionais de MT/ medicinais e da fitoterapia para a popu- A primeira Política Nacional que
MCA e medicamentos oriundos de plantas lação brasileira e de ações e programas contemplou diretrizes com interface com
medicinais (fitoterápicos, no Brasil). No implantados na rede pública de saúde, a MT, nesse caso a Medicina Tradicional
diagnóstico, 45 países dos 141 que respon- diversos documentos e recomendações Indígena, na qual as plantas medicinais
deram ao questionário afirmaram possuir foram elaborados, visando normatizar esse destacam-se como importante recurso tera-
Política Nacional de MT/MCA e, quanto setor e ampliar o acesso a esses produtos e pêutico, foi a Política Nacional de Atenção
à situação regulatória para medicamentos serviços com segurança e eficácia. Dentre à Saúde dos Povos Indígenas, aprovada
oriundos de plantas medicinais, a maioria estes são citados: por meio da Portaria GM no 254, de 31 de
dos Estados-membros (65%), ou seja, 92 janeiro de 2002, do Ministério da Saúde.
a) o Programa de Pesquisa de Plantas
possuem leis ou regulamentos para esses Nesta Política Nacional:
Medicinais (PPPM) da Central de
medicamentos, onde se inclui o Brasil. Se- Medicamentos (Ceme), do Minis- O princípio que permeia todas as
gundo a OMS, os medicamentos oriundos tério da Saúde, vigente entre 1982 diretrizes é o respeito às concepções,
de plantas medicinais (herbal medicines4) e 1997, que realizou pesquisas com valores e práticas relativos ao pro-

4
Denominado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como material ou preparações de derivados de plantas com uso terapêutico ou outro
benefício à saúde humana, os quais contêm ingredientes ou processados de uma ou mais plantas. Em algumas tradições, material de origem animal
ou inorgânica pode também estar presente (WHO, 2005).

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Plantas medicinais e aromáticas 9

cesso saúde-doença próprios a cada rada pelo Grupo de Trabalho Interminis- o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação
sociedade indígena e a seus diversos terial (GTI), a qual contempla diretrizes e a manutenção da saúde.
especialistas. A articulação com esses para toda a cadeia produtiva de plantas Alguns Estados/municípios possuem
saberes e práticas deve ser estimulada medicinais e fitoterápicos. As diretrizes políticas e legislação específicas para o
para a obtenção da melhoria do es- para plantas medicinais e fitoterapia no serviço de fitoterapia no SUS e laborató-
tado de saúde dos povos indígenas. SUS, incluídas nesta Política Nacional, rios de produção, disponibilizando plantas
(BRASIL, 2002). estão em consonância com as diretrizes da medicinais e/ou seus derivados, além de
Entre as diretrizes cabe destacar: PNPIC (BRASIL, 2006e). publicações para profissionais de saúde e
A PNPIC no SUS e a Política Nacional população sobre uso racional destes pro-
a) articulação dos sistemas tradicionais
Plantas Medicinais e Fitoterápicos trouxe- dutos. Outros, no entanto, possuem com
indígenas de saúde;
ram grandes avanços, entre outros, para a menor nível de complexidade, em virtude
b) produção de ambientes saudáveis e
saúde no País, pela normatização e institu- de implantação recente, da carência de
proteção à saúde indígena;
cionalização das experiências com plantas recursos e de profissionais capacitados ou
c) promoção ao uso adequado e ra- medicinais e fitoterapia na rede pública e pela dificuldade em cumprir as exigências
cional de medicamentos, a qual como indutoras de políticas, programas e da legislação sanitária.
estabelece: legislação nas três instâncias de governo, A necessidade de normatização e insti-
Nas ações que envolvem direta ou fato comprovado pelo aumento significa- tucionalização dessas ações/serviços inse-
indiretamente a assistência farma- tivo de ações, programas e políticas nos ridos no SUS, as demandas da OMS e da
cêutica no contexto da atenção à Estados e municípios brasileiros após as população brasileira pela valorização das
saúde indígena, devem também com- suas aprovações. práticas tradicionais (populares) culmina-
por as práticas de saúde tradicionais ram na formulação e aprovação da PNPIC
dos povos indígenas, que envolvem POLÍTICA NACIONAL DE no SUS, por meio da Portaria GM no 971,
o conhecimento e o uso de plantas PRÁTICAS INTEGRATIVAS de 3 de maio de 2006, do Ministério da
medicinais e demais produtos da far- E COMPLEMENTARES Saúde, após amplo processo de discussão
macopeia tradicional no tratamento (PNPIC) NO SUS: PLANTAS e validação com representantes de gover-
de doenças e outros agravos à saúde. MEDICINAIS E FITOTERAPIA no e da sociedade civil, assim como pela
(BRASIL, 2002). No Brasil, aproximadamente 350 mu- submissão às instâncias de avaliação de po-
Outra política nacional que veio aten- nicípios/Estados, distribuídos em todas as líticas de saúde. Por meio dessa política, o
der à demanda da OMS de formulação de regiões, oferecem ações/serviços com plan- Ministério da Saúde estabeleceu diretrizes
Políticas Nacionais de MT/MCA, visando tas medicinais e fitoterapia no SUS, além para incorporação e implementação da Ho-
integrá-las aos sistemas oficiais de saúde, é de outras práticas integrativas e comple- meopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia,
a Política Nacional de Práticas Integrativas mentares (Homeopatia, MTC/Acupuntura, Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntu-
e Complementares (PNPIC) no SUS, apro- Medicina Antroposófica, entre outras). As ra, assim como para observatórios de saúde
vada em 2006, que contempla diretrizes ações/serviços de fitoterapia ocorrem de do Termalismo Social – Crenoterapia no
para Medicina Tradicional Chinesa/Acu- maneira diferenciada, com relação aos pro- SUS (BRASIL, 2006c).
puntura, Homeopatia e Plantas Medicinais dutos e serviços oferecidos, principalmente Esta Política Nacional visa, entre
e Fitoterapia, assim como para observató- relacionadas com as espécies de plantas outros:
rios de saúde do Termalismo Social e da medicinais disponibilizadas, em virtude Incorporar e implementar as Práticas
Medicina Antroposófica. dos diferentes biomas. No entanto, a maio- Integrativas e Complementares no
O processo de elaboração e a aprovação ria das ações é ofertada na atenção básica SUS, na perspectiva da prevenção de
da PNPIC proporcionaram o desenvolvi- (BRASIL, 2008b), definida na Política Na- agravos e da promoção e recuperação
mento de políticas, programas e ações em cional de Atenção Básica como o conjunto da saúde, com ênfase na atenção
todas as instâncias do governo federal. de ações de saúde, no âmbito individual e básica, voltada para o cuidado con-
Destaque é dado à Política Nacional de coletivo, que abrangem a promoção e a tinuado, humanizado e integral em
Plantas Medicinais e Fitoterápicos, elabo- proteção da saúde à prevenção de agravos, saúde e contribuir para o aumento da

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resolubilidade do Sistema e amplia- mento de plantas medicinais e fitote- cial, em 17 de fevereiro de 2005, o GTI,
ção do acesso às Práticas Integrativas rápicos, priorizando a biodiversidade formado por representantes do Ministério
e Complementares, garantindo quali- do País; da Saúde (coordenação); Casa Civil; Mi-
dade, eficácia, eficiência e segurança ­- promoção do uso racional de plantas nistério da Integração Nacional; Ministério
no uso. (BRASIL, 2006c). medicinais e dos fitoterápicos no do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
SUS; Exterior (MDIC); Ministério do Desenvol-
A PNPIC contempla diretrizes para
vimento Agrário (MDA); Ministério da
Plantas Medicinais e Fitoterapia no SUS, ­- acompanhamento e avaliação da in-
Ciência e Tecnologia (MCT); Ministério
cuja proposta foi construída seguindo o serção e implementação das plantas
do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos
modelo da fitoterapia ocidental, entendida medicinais e fitoterapia no SUS;
e da Amazônia Legal (MMA); Ministério
como: ­- garantia do monitoramento da quali-
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Terapêutica caracterizada pela utili- dade dos fitoterápicos pelo Sistema
(MAPA); Ministério do Desenvolvimento
zação de plantas medicinais em suas Nacional de Vigilância Sanitária;
Social e Combate à Fome (MDS) e por
diferentes formas farmacêuticas, sem ­- estabelecimento de política de finan- representantes da Agência Nacional de
a utilização de substâncias ativas ciamento para o desenvolvimento de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Fundação
isoladas, ainda que de origem vegetal. ações. Oswaldo Cruz.
(BRASIL, 2006c). Essa Política contempla, também, O GTI, após período de discussão, sub-
A abordagem dessa proposta incentiva ações e responsabilidades de entidades sidiado por documentos de fóruns, seminá-
o desenvolvimento comunitário, a solida- federais, estaduais e municipais para a sua rios e conferências, além de regulamenta-
riedade e a participação social, em virtude implantação e implementação, as quais ções nacionais e internacionais, elaborou
de a quase totalidade dos programas no País orientarão os gestores na implantação ou a Proposta de Política que foi submetida
basear-se neste modelo (BRASIL, 2006c). adequação dos programas existentes, assim aos ministros das Pastas envolvidas, para
As diretrizes constantes nesta Política como na formulação de políticas estaduais avaliação e aprovação e, posteriormente, à
para Plantas Medicinais e Fitoterapia são e municipais. Casa Civil da Presidência. Em 22 de junho
(BRASIL, 2006c): de 2006, a Política Nacional de Plantas
POLÍTICA NACIONAL DE Medicinais e Fitoterápicos foi aprovada
- elaboração da Relação Nacional de
PLANTAS MEDICINAIS E na forma do Decreto Presidencial no 5.813,
Plantas Medicinais e da Relação
FITOTERÁPICOS que também instituiu o GTI para elaborar o
Nacional de Fitoterápicos5;
Programa Nacional de Plantas Medicinais
-­ provimento do acesso a plantas me- O desenvolvimento de políticas, pro-
e Fitoterápicos, em conformidade com as
dicinais e fitoterápicos aos usuários gramas e projetos do governo na área de
diretrizes da Política Nacional (BRASIL,
do SUS. A Política preconiza que os plantas medicinais e fitoterápicos e as
2006ae).
serviços podem disponibilizar planta discussões durante a formulação das dire-
A Política Nacional traz como objetivo:
medicinal in natura, planta medicinal trizes para Plantas Medicinais e Fitoterapia
da PNPIC apontaram a necessidade de Garantir à população brasileira do
seca (droga vegetal), fitoterápico
uma Política Nacional que contemplasse acesso seguro e uso racional de
manipulado e/ou fitoterápico indus-
diretrizes para o desenvolvimento de toda plantas medicinais e fitoterápicos,
trializado;
a cadeia produtiva de plantas medicinais promovendo o uso sustentável da
-­ formação e educação permanente biodiversidade, o desenvolvimento
e fitoterápicos, objetivando um projeto
dos profissionais de saúde em plantas da cadeia produtiva e da indústria
conjunto entre órgãos governamentais e
medicinais e fitoterapia; nacional. (BRASIL, 2006e).
não-governamentais.
­- fortalecimento e ampliação da parti- Visando à elaboração da Política Na- Entre as 17 diretrizes contempladas no
cipação popular e controle social; cional de Plantas Medicinais e Fitoterápi- documento, podem ser citadas (BRASIL,
­- incentivo à pesquisa e desenvolvi- cos, foi constituído por Decreto Presiden- 2006e):

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS adota o conceito de fitoterápico descrito na Resolução RDC
5

o
n 48 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), de 16 de março de 2004.

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Plantas medicinais e aromáticas 11

• Regulamentar o cultivo; o manejo Política Nacional previu a criação de É o principal instrumento para orientação
sustentável; a produção, a distribui- Comitê Nacional de Plantas Medicinais e dos gestores federais na implantação das
ção, e o uso de plantas medicinais e Fitoterápicos, GTI formado por represen- diretrizes da Política Nacional, assim como
fitoterápicos, considerando as expe- tantes do governo e dos diferentes setores subsidia o trabalho do Comitê Nacional no
riências da sociedade civil nas suas da sociedade civil envolvidos com o tema, monitoramento e avaliação das ações. Cabe
diferentes formas de organização; posteriormente à elaboração do Programa ressaltar que a Política Nacional de Plantas
• Incentivar a formação e capacitação Nacional. Medicinais e Fitoterápicos é documento
de recursos humanos para o desen- de Estado e, já o Programa, instrumento
volvimento de pesquisas, tecnologias Programa Nacional de
de governo para implantação das ações,
e inovação em plantas medicinais e Plantas Medicinais e
com prazos e responsabilidades, necessita,
fitoterápicos; Fitoterápicos
portanto, de revisão e atualização a cada
• Fomentar pesquisa, desenvolvimento Posterior à aprovação da Política gestão do governo federal.
tecnológico e inovação com base Nacional e com vistas à implementação
na biodiversidade brasileira, abran- de suas diretrizes foi instituído o GTI, POLÍTICAS E PROGRAMAS
gendo espécies vegetais nativas e formado por representantes do Minis- ESTADUAIS/MUNICIPAIS
exóticas adaptadas, priorizando as tério da Saúde (coordenação); da Casa PARA PLANTAS MEDICINAIS
necessidades epidemiológicas da Civil; Ministério da Integração Nacio- E FITOTERAPIA
população; nal; MDIC; MDA; MCT; Ministério
• Incentivar a incorporação racional da Cultura; MMA; MAPA; MDS e por Alguns Estados e municípios elabora-
de novas tecnologias no processo representantes da Anvisa e da Fundação ram suas políticas e regulamentações para
de produção de plantas medicinais e Oswaldo Cruz, pela Portaria no 2.311 do o serviço de fitoterapia na rede pública
fitoterápicos; Ministério da Saúde, de 29 de setembro de de saúde anteriormente à iniciativa do
2006 (BRASIL, 2006b), republicada em governo federal, pela necessidade de nor-
• Garantir e promover segurança, efi-
22 de fevereiro de 2007, com o objetivo de matização das práticas há muito existentes
cácia e qualidade no acesso a plantas
elaborar o Programa Nacional de Plantas nos municípios. Entretanto, a demanda
medicinais e fitoterápicos;
Medicinais e Fitoterápicos. por normatização estadual/municipal
• Promover o uso sustentável da Esse GTI, orientado pelas diretrizes e incrementou-se com a formulação e apro-
biodiversidade e a repartição dos linhas de ação da Política Nacional, ela-
vação das Políticas Nacionais. Atualmente,
benefícios derivados do uso dos co- borou a proposta de Programa Nacional,
o documento da PNPIC é o referencial
nhecimentos tradicionais associados que foi submetida à consulta pública e,
e do patrimônio genético;
para Estados e municípios formularem
após consolidação das contribuições, às
suas políticas, assim como as estratégias
• Promover a inclusão da agricultura instâncias superiores para avaliação e
de formulação e aprovação adotadas pelo
familiar nas cadeias e nos arranjos aprovação. O Programa foi aprovado em 9
governo federal.
produtivos das plantas medicinais, de dezembro de 2008, por meio da Portaria
Sobre as iniciativas estaduais/munici-
insumos e fitoterápicos; Interministerial no 2.960, que também criou
o Comitê Nacional de Plantas Medicinais pais, podem-se citar:
• Incrementar as exportações de fito-
e Fitoterápicos, com representantes de a) Ceará: Decreto no 30.016, de 30 de
terápicos e insumos relacionados,
órgãos governamentais e não-governamen- dezembro de 2009, que regulamenta
priorizando aqueles de maior valor
tais, estes com representantes de todos os a Lei no 12.951, de 7 de outubro de
agregado;
biomas brasileiros (BRASIL, 2008a). 1999, dispõe sobre a Política de Im-
• Estabelecer mecanismos de incentivo O Programa Nacional, em conformida- plantação da Fitoterapia em Saúde
para a inserção da cadeia produtiva de com as diretrizes da Política Nacional Pública no estado do Ceará;
de fitoterápicos no processo de forta- de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e da
lecimento da indústria farmacêutica PNPIC no SUS, traz ações, gestores, órgãos b) Espírito Santo: Resolução no 543/
nacional. envolvidos, prazos e origem dos recursos 2008 do Conselho Estadual de
Para monitoramento e avaliação da para implementação destas ações com Saúde, que aprova a Proposta de
implantação das referidas diretrizes, a abrangência de toda a cadeia produtiva. Institucionalização da Política das
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Práticas Integrativas e Comple- de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com _______. Portaria no 2.311, de 29 de setem-
mentares: homeopatia, acupuntura abrangência da cadeia produtiva de plantas bro de 2006. [Designa Grupo de Trabalho
e fitoterapia, no estado do Espírito medicinais e fitoterápicos, foram formula- (GT), para elaborar o Programa Nacional de
Santo; dos em consonância com as recomenda- Plantas Medicinais e Fitoterápicos]. Diário
ções da OMS e os princípios e diretrizes Oficial [da] República Federativa do Bra-
c) Minas Gerais: Resolução no 1885, de
do SUS, levando-se em consideração, entre sil, Brasília, 2 out. 2006b.
27 de maio de 2009, da Secretaria
outros, o potencial e as oportunidades que ______. Portaria Interministerial no 2.960,
Estadual de Saúde, que aprova a
o Brasil tem para desenvolvimento do de 9 de dezembro de 2008. Aprova o Progra-
Política Estadual de Práticas Inte-
setor, a demanda da população brasileira ma Nacional de Plantas Medicinais e Fitote-
grativas e Complementares;
pela oferta dos produtos e serviços na rede rápicos e cria o Comitê Nacional de Plantas
d) Rio Grande do Sul: Projeto de Lei pública e a necessidade de normatização Medicinais e Fitoterápicos. Diário Oficial
no 108/2006, da Assembleia Legisla- das experiências existentes no SUS. [da] República Federativa do Brasil, Brasí-
tiva do Estado, que institui a Política Essas Políticas têm convergência e lia, 10 dez. 2008a. Seção 1, p.56.
Intersetorial de Plantas Medicinais e sintonia com outras Políticas Nacionais,
______. Secretaria de Atenção à Saúde.
de Medicamentos Fitoterápicos no como a Política Nacional de Saúde, de
Departamento de Atenção Básica. Política
estado do Rio Grande do Sul e dá Atenção Básica, de Educação Permanente,
Nacional de Práticas Integrativas e Com-
outras providências; de Assistência Farmacêutica, de Atenção
plementares no SUS – PNPIC-SUS. Brasí-
o
e) São Paulo: Decreto n 49.596, de 11 à Saúde de Povos Indígenas, de Povos e lia, 2006c. 92p. (Série B. Textos Básicos de
de junho de 2008, que regulamenta Comunidades Tradicionais, de Biodiver- Saúde).
a Lei no 14.682, de 30 de janeiro de sidade, a Política Industrial Tecnológica
______. Práticas Integrativas e Complemen-
2008, institui, no âmbito do mu- e de Comércio Exterior, entre outras, e
tares em Saúde: uma realidade no SUS. Re-
nicípio de São Paulo, o Programa as ações decorrentes dessas políticas são
vista Brasileira Saúde da Família, Brasília,
Qualidade de Vida com Medicinas imprescindíveis para melhoria da atenção
ano 9, p.70-76, maio, 2008b. Edição especial.
Tradicionais e Práticas Integrativas à saúde da população, ampliação das op-
ções terapêuticas aos usuários do SUS, uso ______. Secretaria de Ciência, Tecnologia
em Saúde e a Lei no 14.903, de 6 de
fevereiro de 2009, que dispõe sobre sustentável da biodiversidade brasileira, e Insumos Estratégicos. Departamento de

a criação do Programa de Produção fortalecimento da agricultura familiar, Assistência Farmacêutica. A Fitoterapia no

de Fitoterápicos e Plantas Medici- geração de emprego e renda, desenvolvi- SUS e o Programa de Pesquisa de Plantas

nais no município de São Paulo e mento industrial e tecnológico, inclusão Medicinais da Central de Medicamentos.

dá outras providências. social e regional. Brasília, 2006d. 148p. (Série B. Textos Bá-
sicos de Saúde).

REFERÊNCIAS ______. Política Nacional de Plantas Medi-


CONSIDERAÇÕES FINAIS
cinais e Fitoterápicos. Brasília, 2006e. 60p.
Muitos foram os avanços nas últimas BRASIL. Decreto no 5.813, de 22 de junho (Série B. Textos Básicos de Saúde).
décadas com a formulação e implemen- 2006. Aprova a Política Nacional de Plantas
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD.
tação de políticas públicas, programas e Medicinais e Fitoterápicos e dá outras provi-
Estrategia de la OMS sobre medicina tradi-
legislação, com vistas à valoração e impor- dências. Diário Oficial [da] República Fede-
cional 2002-2005. Genebra, 2002. 67p.
rativa do Brasil, Brasília, 23 jun. 2006a. Se-
tância das plantas medicinais e derivados
ção 1. Disponível em: <http://www.planalto. WILSON, E.O. A situação atual da diver-
nos cuidados primários com a saúde e sua
gov.br>. Acesso em: fev. 2010. sidade biológica. In: _______; PETER, F.M.
inserção na rede pública, assim como ao
(Ed.). Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova
desenvolvimento da cadeia produtiva de ______. Ministério da Saúde. Portaria no 254,
Fronteira, 1997. p.3-24.
plantas medicinais e fitoterápicos. de 31 de janeiro de 2002. Aprova a políti-
Os principais instrumentos norteado- ca nacional de atenção à saúde dos povos WHO. National Policy on Traditional Med-
res, a PNPIC no SUS, com diretrizes e indígenas. Diário Oficial [da] República icine and Regulation of Herbal Medicines:
linhas de ação para “Plantas Medicinais e Federativa do Brasil, Brasília, 6 fev. 2002. report of a WHO Global survey. Geneva,
Fitoterapia no SUS” e a Política Nacional Seção 1, p. 46. 2005. 156p.

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Plantas medicinais e aromáticas 13

Identificação botânica das plantas medicinais


Andréia Fonseca Silva 1
Ana Paula dos Santos 2
Morgana Flávia Rodrigues Rabelo 3

Resumo - A atenção dirigida pelas autoridades e administrações de saúde para o uso


das plantas medicinais aumentou nos últimos anos. As dificuldades financeiras e a
busca constante por melhores condições de vida, por parte da população, são elemen-
tos que podem estar diretamente associados à ampla divulgação das propriedades
curativas de algumas plantas que são, em muitos casos, a única alternativa possível
para comunidades e grupos étnicos. Um dos aspectos mais delicados na fitoterapia
está ligado à identidade das plantas. Por basear-se fortemente em nomes populares, a
verdadeira identidade de uma planta recomendada pode variar muito de região para
região. A uniformização da nomenclatura botânica faz-se necessária para evitar ambi-
guidades, que podem até trazer riscos ao usuário. Estudos que envolvam as plantas, de
maneira geral, devem ser feitos, observando passos que possibilitem sua identificação
científica. Esses passos são: coleta, herborização, identificação e registro em herbário de
alguma instituição de pesquisa e/ou ensino. Serão abordados aspectos importantes da
correta identificação das plantas utilizadas como medicinais.

Palavras-chave: Planta medicinal. Nomenclatura. Herbário. Herborização.

INTRODUÇÃO to dos órgãos, no alívio de sintomas locais enriquecem os conhecimentos sobre a


e no aumento da resistência do organismo; inesgotável fonte medicinal natural: a flora
Em registros históricos de diferentes
estimulam as defesas naturais e suprem a mundial (MACIEL et al., 2002).
civilizações e culturas que se sucederam
falta de certos elementos nutritivos, além O emprego de plantas medicinais na
em nosso planeta, o ser humano iniciou o
uso de plantas imitando os animais, guia- de promoverem a recuperação e a manuten- recuperação da saúde tem evoluído ao
do por instinto e, depois, empiricamente, ção da boa saúde do homem e de animais longo dos tempos, desde as formas mais
associando o poder curativo destas a prá- (MARTINS et al., 1994). simples de tratamento local, provável
ticas mágicas, místicas e ritualísticas, num Usuários de plantas medicinais em utilização pelo homem das cavernas, até
processo de seleção contínua das plantas todo o mundo mantêm em voga a prática as formas tecnologicamente sofisticadas
medicinais (CORRÊA JÚNIOR; MING; do consumo de fitoterápicos, tornando da fabricação industrial utilizada pelo
SCHEFFER, 1991; MING, 1994). válidas informações terapêuticas que foram homem moderno (LORENZI; MATOS,
Plantas medicinais são aquelas que atu- acumuladas durante séculos. De maneira 2002). Com isso, a atenção dirigida pelas
am no combate às doenças, pois destroem indireta, esse tipo de cultura medicinal autoridades e pelas administrações de saú-
ou inibem o desenvolvimento de agentes desperta o interesse de pesquisadores em de ao uso de plantas medicinais aumentou
patogênicos, purificando o organismo; estudos que envolvem áreas multidisci- consideravelmente nos últimos anos, por
ajudam no bom funcionamento do corpo; plinares, como, por exemplo, botânica, diferentes razões e em diferentes setores
estimulam ou normalizam o funcionamen- farmacologia e fitoquímica, que, juntas, (SILVEIRA; BANDEIRA; ARRAIS,

1
Bióloga, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE-Herbário PAMG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: andreiasilva@epamig.br
2
Graduanda em Ciências Biológicas, Estagiária EPAMIG-DPPE-Herbário PAMG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico:
anapsantos.bio@gmail.com
3
Bióloga, Spelayon Consultoria, CEP 30180-003 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: morgana@spelayonconsultoria.com.br

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14 Plantas medicinais e aromáticas

2008). Um número cada vez maior de natureza (MING, 1996; MENTZ; BOR- listas, em um herbário ou pela utilização
pessoas busca as plantas para a cura de suas DIGNON, 2004). de chaves de identificação, descrições e
doenças, seja pelo baixo custo, seja pela Para identificação da planta, segundo ilustrações encontradas em monografias,
facilidade de aquisição (ARAÚJO et al., Ming (1996) e Mentz e Bordignon (2004), dissertações e teses (MENTZ; BORDIG-
2009). Muitos beneficiam-se diariamente devem-se: NON, 2004).
do uso das plantas medicinais sem gasto, a) coletar três amostras representativas
do aspecto geral da planta e que con- Registro
além de não acarretar ônus aos cofres
públicos (GUIÃO, 2003). As dificulda- tenham folhas, flores e frutos; As exsicatas produzidas devem ser
des financeiras e a busca constante por b) anotar dados do local da coleta, tais inseridas em uma coleção botânica ou
melhores condições de vida por parte da como habitat (bioma), altitude e co- herbário e são materiais-testemunhos da
ordenadas geográficas, se possível; pesquisa. Um herbário é uma coleção
população são elementos que podem estar
c) anotar as características principais botânica reconhecida que armazena e ca-
diretamente associados à ampla divulgação
da planta, como altura, em caso de taloga inúmeros espécimes secos colados
das propriedades curativas de algumas
arbóreas, diâmetro, posição das folhas ou costurados em folhas de cartolina. Para
plantas que são, em muitos casos, a única
e flores, cor das flores (observando, se- a inclusão de uma planta herborizada num
alternativa possível para muitas comunida-
paradamente, cálice e corola) e aroma. herbário, é necessário que se faça o regis-
des e grupos étnicos (MACIEL et al., 2002;
Se possível, a planta deve ser fotografa- tro no livro do herbário escolhido. Cada
RODRIGUES; GUEDES, 2006).
da no local da coleta. As fotografias poderão exsicata recebe um número de registro na
O uso de plantas medicinais, quando
agilizar o processo de identificação (MING, etiqueta (Fig. 1), que deve conter, além
feito com critério, só tem a contribuir para 1996; MENTZ; BORDIGNON, 2004). dos dados anotados no momento da cole-
a saúde de quem o pratica. Tais critérios
ta, o nome científico e a família botânica,
referem-se à identificação do quadro clínico Herborização
o nome de quem identificou a espécie,
apresentado (doença ou sintoma), escolha A herborização consiste na preparação nome popular e observações. Após todas
certa da planta a ser utilizada e preparação do material para preservação e correspon- as etapas descritas, as exsicatas montadas
adequada (MARTINS et al., 1994). Neste de à atividade que antecede o processo recebem capa para proteção e identificação
sentido, um dos cuidados mais importantes de incorporação do material no herbário.
dentro dos armários. Nestes, as exsicatas
que se deve ter ao utilizar plantas medi- O material coletado deve ser prensado,
são arranjadas, conforme espécie, gênero
cinais é verificar a correta identificação utilizando jornais, papelões e prensas es-
e família (MING, 1996; MACIEL et al.,
desse vegetal. O emprego correto de plantas peciais de madeira, e seco em estufa ou à
2002; MENTZ; BORDIGNON, 2004).
para fins terapêuticos, pela população em temperatura ambiente. A prensa deve ser
geral, requer o uso de plantas medicinais firmemente amarrada para que a planta,
ao secar, permaneça distendida e possa IDENTIDADE DAS PLANTAS
selecionadas por sua eficácia e segurança MEDICINAIS
ser fixada na cartolina para montagem da
terapêuticas, que se baseiam na tradição po-
exsicata (Fig. 1). O material prensado e Um dos aspectos mais delicados na
pular ou são validadas cientificamente como
seco é então costurado ou colado nas car- fitoterapia concerne à identidade das plan-
medicinais (LORENZI; MATOS, 2002). tolinas previamente cortadas em tamanhos tas. Por basear-se fortemente em nomes
padronizados. As exsicatas (Fig. 1) são vernaculares (populares), a verdadeira
COLETA, HERBORIZAÇÃO, importantes instrumentos para identifica-
IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO identidade de uma planta recomendada
ção de plantas (MING, 1996; MACIEL et
DE PLANTAS pode variar de região para região. Assim
al., 2002; MENTZ; BORDIGNON, 2004).
Estudos que envolvem as plantas, de como plantas completamente distintas po-
maneira geral, devem ser feitos observando Identificação dem ter o mesmo nome popular, algumas
passos que possibilitem a sua identifica- acumulam um grande número deles para
A planta deve ser seguramente iden-
ção científica. Esses passos são: coleta, tificada, o que muitas vezes só pode ser
uma mesma espécie. A uniformização da
herborização, identificação e registro em feito por um botânico especialista em uma nomenclatura botânica faz-se necessária
herbário de alguma instituição de pesquisa determinada família ou gênero. O processo para evitar ambiguidades, que podem até
e/ou ensino. de identificação é realizado a cada vez que trazer riscos ao usuário. Interpretações
se deseja conhecer o nome da planta coleta- taxonômicas errôneas podem não só in-
Coleta
da. A identificação correta de uma espécie duzir o usuário a utilizar uma planta sem
A coleta consiste em retirar uma ou pode ser feita por comparação com outros o princípio ativo desejado, mas também
mais plantas inteiras ou parte delas da exemplares, já determinados por especia- induzi-lo a fazer uso de uma planta tóxica
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Plantas medicinais e aromáticas 15

comumente (VEIGA JUNIOR; PINTO;


MACIEL, 2005), além da contaminação
microbiana, por sua origem natural (BUG-
NO et al., 2005). As pesquisas realizadas
para avaliação do uso seguro de plantas
medicinais e fitoterápicos no Brasil ainda
são incipientes, assim como o controle,
pelos órgãos oficiais, da comercialização
em feiras livres, mercados públicos ou
lojas de produtos naturais (VEIGA JÚ-
NIOR; PINTO; MACIEL, 2005).
Na perspectiva dos profissionais de
saúde, o desconhecimento sobre as in-
dicações e cuidados no uso de plantas
medicinais é um grande entrave (OLI-
VEIRA; DINIZ; OLIVEIRA, 1997),
sendo necessária a adoção de medidas
regulatórias educacionais que garatam
a qualidade das plantas e dos produtos
derivados (BUGNO et al., 2005).

Nomes científicos e
populares
O nome científico é o termo botânico
que designa a espécie, sendo esta a entida-
de base nos sistemas de classificação. Cada
espécie tem apenas um nome científico
(ou botânico), formado por um binômio,
escrito em latim, ou em palavras ou nomes
Andréia Fonseca Silva

latinizados. O binômio latino é formado


pelo gênero e pelo epíteto específico. O
nome do gênero deve ser sempre grafado
em inicial maiúscula e o epíteto específico
em minúsculo (LORENZI; MATOS, 2002;
Figura 1 - Exsicata do acervo do Herbário PAMG/EPAMIG
MENTZ; BORDIGNON, 2004).
No início dos estudos botânicos, mui-
(CORRÊA JÚNIOR; MING; SCHE- lar, ou cientificamente validadas como tos dos trabalhos que buscavam nomear
FFER, 1991; MING, 1994; LORENZI; medicinais (RODRIGUES; CARVALHO, e categorizar os vegetais tinham como
MATOS, 2002). 2001; LORENZI; MATOS, 2002). propósito oferecer um catálogo de plan-
tas com importância medicinal. Muitas
As plantas medicinais devem ser ad- A identificação incorreta de plantas,
plantas foram batizadas levando em conta
quiridas, preferencialmente, por pessoas bem como o uso de diferentes plantas
seus usos medicinais ou propriedades
ou firmas idôneas, que possam dar garan- com a mesma indicação ou o mesmo
empiricamente descobertas por popula-
tia da qualidade e da identificação correta nome popular, pode levar a intoxicações
ções nativas. Podem ser citados os nomes
(MARTINS et al., 1994; RODRIGUES; (RATES, 2001). A toxicidade das plan- Justicia pectolaris, Spigelia anthelmia e
CARVALHO, 2001). O emprego das tas medicinais é um problema sério de Allamanda cathartica, que apresentam
plantas para fins terapêuticos, pela popu- saúde pública. Os efeitos adversos dos propriedades balsâmica, vermífuga e
lação em geral, requer o uso de plantas fitomedicamentos, possíveis adulterações catártica, respectivamente (LORENZI;
medicinais selecionadas por sua eficácia e toxidez, bem como a ação sinérgica MATOS, 2002).
e segurança, com base na tradição popu- (interação com outras drogas), ocorrem Uma planta pode receber vários nomes
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16 Plantas medicinais e aromáticas

populares, comuns, vulgares ou vernaculares, Das árvores de Copaifera langsdorffii copaíba é comercializado em farmácias e
de acordo com a região (LORENZI; MA- é exsudado, pelo furo feito no tronco, um lojas de produtos naturais de todo o País,
TOS, 2002; MENTZ; BORDIGNON, 2004). óleo-resina denominado óleo-de-copaíba. com várias indicações (VEIGA JÚNIOR;
Para exemplificar, citam-se os nomes Esse óleo é utilizado na medicina popular PINTO, 2002).
utilizados para designar uma espécie arbó- brasileira como anti-inflamatório das vias Copaifera é o nome genérico, langsdorffii
rea de tradicional uso medicinal no Brasil: superiores e urinárias, tendo aplicação é o epíteto específico, e Desf. é a abre-
Copaifera langsdorffii Desf. (Fig. 2). mais ampla como antisséptico. O óleo-de- viatura do nome do autor que descreveu

Fotos: Andréia Fonseca Silva

B C
Figura 2 - Copaifera langsdorffii Desf. (Leguminosae: Caesalpinoideae)
NOTA: A - Árvore; B - Folhas; C - Frutos.

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Plantas medicinais e aromáticas 17

e batizou a espécie. Etimologicamente, se observar, principalmente nas feiras livres, encontradas referências etnobotânicas,
a palavra Copaifera é a latinização de que a espécie oferecida não é Maytenus químicas e/ou farmacológicas, indicando
kopa´iwa, do tupi, que significa pau de ilicifolia Mart. ex. Reiss. (Celastraceae) o uso de Eugenia rotundifolia como hipo-
resina, e langsdorffii é uma homenagem (Fig. 3), e sim, provavelmente, Sorocea glicemiante, apesar de inúmeras pesquisas
ao médico e botânico austríaco G. H. Von bomplandii Bailon (Moraceae) (Fig. 3), confirmarem a presença de substâncias
Langsdorffii (SILVA JÚNIOR, 2005). uma das espécies mais utilizadas na adul- com potencial medicinal para esse gêne-
A espécie Copaifera langsdorffii tem teração da espinheira-santa (DI STASI; ro e para a família Myrtaceae em geral
uma ampla ocorrência, sendo encontrada HIRUMA-LIMA, 2002; COULAUD- (OLIVEIRA; DIAS; CÂMARA, 2005;
nos estados do Ceará, Goiás, Maranhão, CUNHA; OLIVEIRA; WAISSMANN, DONATO; MORRETES, 2007).
Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato 2004; SANTOS-OLIVEIRA; COULAUD-
Grosso, Pará, Paraná, São Paulo, Tocan- CUNHA; COLAÇO, 2009). Este é um fato Capim-limão e citronela
tins e, ainda, no Distrito Federal (LOREN- grave, pois Sorocea bomplandii apresenta É muito comum a confusão entre o
ZI, 1992; ALMEIDA et al., 1998; SILVA certa toxicidade, e pessoas que tomam o seu capim-limão e a citronela. Ambos perten-
JÚNIOR, 2005). Na Região Sudeste, chá podem ter problemas no fígado e dores cem à mesma família: Poaceae (Grami-
Copaifera langsdorffii é conhecida po- abdominais (VILLEGAS; LANÇAS, 1997). neae). Há duas espécies que são chamadas
pularmente como copaibeira-de-minas, popularmente de capim-limão: Cymbopogon
copaúba, cupiúva, óleo-vermelho e pau- Abajuru
citratus (DC.) Stapf. (Fig. 5) e Cymbopogon
d’óleo; na Região Amazônica, copaíba, Sob a denominação popular abajuru, flexuosus (Nees ex Steud.) Will.Watson, e
óleo-de-copaíba, copaíba-vermelha, bál- há duas espécies de famílias distintas: duas espécies que são denominadas citro-
samo, oleiro e copaíba-da-várzea e, no
Chrysobalanus icaco L., da família nela: Cymbopogon winterianus Jowitt ex
Nordeste, podoi (LORENZI, 1992). Chrysobalanaceae (Fig. 4) e Eugenia Bor. (Fig. 5) e Cymbopogon nardus (L.)
rotundifolia, da família Myrtaceae (Fig. 4), Rendle. Pelo nome científico percebe-se
IDENTIFICAÇÃO DE ALGUMAS
que são comercializadas simultaneamente que as plantas pertencem ao mesmo gê-
PLANTAS MEDICINAIS
(SILVA; PEIXOTO, 2009). As pesquisas nero. Embora a aparência seja realmente
comprovaram, até o momento, a eficácia muito próxima, dá para diferenciá-las pelo
Espinheira-santa
científica de Chrysobalanus icaco como aroma: o capim-limão apresenta um cheiro
No mercado informal é fácil encontrar hipoglicemiante (DI STASI; HIRUMA- mais suave, que lembra o limão; enquanto
espinheira-santa à venda, no entanto, pode- LIMA, 2002). Entretanto, não foram o aroma da citronela é bem forte.

A B C
Figura 3 - Maytenus ilicifolia Mart. ex. Reiss. (Celastraceae) e Sorocea bomplandii Bailon (Moraceae)
FONTE: Coulaud-Cunha, Oliveira e Waissmann (2004).
NOTA: A - Detalhe do ramo de Maytenus ilicifolia; B - Folha de Maytenus ilicifolia; C - Ramos de Sorocea bomplandii.

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A B
Figura 4 - Chrysobalanus icaco L. (Chrysoblanaceae) e Eugenia rotundifolia Casar. (Myrtaceae)
FONTE: Silva e Peixoto (2009).
NOTA: A - Detalhe do ramo herborizado de Chrysobalanus icaco; B - Detalhe do ramo herborizado de Eugenia rotundifolia.

Fotos: Camila Stefanie Fonseca de Oliveira

A B
Figura 5 - Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. e Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor. (Poaceae)
NOTA: A - Cymbopogon citratus; B - Cymbopogon winterianus.

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Plantas medicinais e aromáticas 19

A citronela é uma planta aromática que comercializadas em Maceió, AL. Revista _______. Estudo e pesquisa de plantas medi-
ficou bem conhecida por fornecer matéria- Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, cinais na agronomia. Horticultura Brasilei-
v.11, n.1, p.84-91, 2009. ra, Brasília, v.12, n.1, p.3-9, maio 1994.
prima (óleo essencial) para a fabricação de
repelentes contra mosquitos e borrachudos. BUGNO, A. et al. Avaliação da contamina- OLIVEIRA, K.R.A.; DINIZ, M.F.F.M.; OLIVEI-
ção microbiana em drogas vegetais. Revista RA, R.A.G. A fitoterapia no serviço de saúde
É considerado um ótimo repelente. O óleo
Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São pública da Paraíba. Revista Extensão, v.2,
da citronela é rico em geraniol e citronelal. p.21-31, 1997. Disponível em: <http://www.
Paulo, v.41, n.4, p.491-497, out./dez. 2005.
Na medicina tradicional, o chá das fo- prac.ufpb.br/publicacoes/revistaextensao/
CORRÊA JÚNIOR, C.; MING, L.C.; SCHE- rev5.html>. Acesso em: 16 dez. 2009.
lhas de ambas as espécies de capim-limão
FFER, M.C. A importância do cultivo de
(Cymbopogon citratus e C. flexuosus) é plantas medicinais, aromáticas e condimen- OLIVEIRA, R.N. de; DIAS, I.J.M.; CÂMARA,
utilizado como calmante. tares. Sob Informa, Curitiba, v.9, n.2, p.23- C.A.G. Estudo comparativo do óleo essencial
de Eugenia punicifolia (HBK) DC. de diferen-
24, 1991.
tes localidades de Pernambuco. Revista Bra-
Jararaca COULAUD-CUNHA, S.; OLIVEIRA, R.S.; sileira de Farmacognosia, João Pessoa, v.15,
Na região Amazônica, várias plantas WAISSMANN, W. Venda livre de Sorocea n.1, p.39-43, jan./mar. 2005.
bomplandii Bailon como Espinheira Santa
do gênero Dracontium (família Araceae) RATES, S.M.K. Plants as source of drugs. To-
no município de Rio de Janeiro-RJ. Revista
são conhecidas como jararaca e utiliza- xicon, v.39, n.5, p.603-613, May 2001.
Brasileira de Farmacognosia, João Pessoa,
das como anti-inflamatório. No Ceará, v.14, p.51-53, 2004. Suplemento. RODRIGUES, A.C.C.; GUEDES, M.L.S. Uti-
em inúmeras publicações, foi atribuída lização de plantas medicinais no povoado
DI STASI, L. C.; HIRUMA-LIMA, A.A. Plantas Sapucaia, Cruz das Almas - Bahia. Revista
a denominação Dracontium asperum medicinais na Amazônia e na Mata Atlânti- Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu,
a uma determinada planta. Mais tarde, ca. 2.ed. São Paulo: UNESP, 2002. 604p. v.8, n.2, p.1-7, 2006.
descobriu-se que se tratava de outra, da DONATO, A.M.; MORRETES, B.L. de. Ana- RODRIGUES, V. E. G.; CARVALHO, D.A. de.
mesma família, mas bastante diferente e tomia foliar de Eugenia brasiliensis Lam. Plantas medicinais no domínio dos Cerra-
provavelmente venenosa, Taccarum ulei (Myrtaceae) proveniente de áreas de restinga dos. Lavras: UFLA, 2001. 180p.
Engl. & K. Krause, que recebia o mesmo e de floresta. Revista Brasileira de Farma-
SANTOS-OLIVEIRA, R.; COULAUD-CU-
cognosia, João Pessoa, v.17, n.3, p.426-443,
nome popular de jararaca (LORENZI; NHA, S.; COLAÇO, W. Revisão da Mayte-
jul./set. 2007.
MATOS, 2002). nus ilicifolia Mart. ex Reissek, Celastraceae:
GUIÃO, M. Utilização de plantas medici- contribuição ao estudo das propriedades far-
nais nas práticas populares. In: BRANDÃO, macológicas. Revista Brasileira de Farma-
CONSIDERAÇÕES FINAIS M.G.L. (Org.). Plantas medicinais & fitotera- cognosia, João Pessoa, v.19, n.2b, p.650-659,
Muitas pessoas estão buscando a cura pia. Belo Horizonte: Faculdade de Farmácia abr./jun. 2009.
da UFMG, 2003. p.85-91. SILVA, I.M.; PEIXOTO, A.L. O abajuru
pelo uso de plantas medicinais, seja pelo
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual (Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia
baixo custo, seja pela facilidade de aquisi-
de identificação e cultivo de plantas arbóreas Casar.) comercializado na cidade do Rio de
ção. Por isso, atualmente, autoridades e ad- Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Far-
nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum,
ministrações de saúde estão dando atenção 1992. v.1, 352p. macognosia, João Pessoa, v.19, n.1b, p.325-
especial para a utilização dessas plantas. 332, jan./mar. 2009.
_______. MATOS, F.J. de A. Plantas medi-
Para o uso adequado das plantas me- cinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova SILVA JÚNIOR, M.C. da. 100 árvores do cer-
dicinais, é necessária a identificação da Odessa: Plantarum, 2002. 512p. rado: guia de campo. Brasília: Rede Semen-
doença ou dos sintomas apresentados, tes do Cerrado, 2005. 278p.
MACIEL, M.A.M. et al. Plantas medicinais:
bem como a escolha certa da planta a ser SILVEIRA, P.F. da; BANDEIRA, M.A.M.; AR-
a necessidade de estudos multidisciplinares.
utilizada e sua preparação correta. Além RAIS, P.S.D. Farmacovigilância e reações ad-
Química Nova, São Paulo, v.25, n.3, p.429-
versas às plantas medicinais e fitoterápicos:
disso, um dos cuidados mais importantes é 438, maio 2002.
uma realidade. Revista Brasileira de Farma-
obter, com especialistas (botânicos) ou pes- MARTINS, E.R. et al. Plantas medicinais. cognosia, João Pessoa, v.18, n.4, p.618-626,
soas que têm tradição na utilização dessas Viçosa, MG: UFV, 1994. 220p. out./dez. 2008.
plantas, como os raizeiros, a identificação MENTZ, L.A.; BORDIGNON, S.A.L. No- VEIGA JÚNIOR, V.F.; PINTO, A.C. O gênero
correta para reduzir os riscos da utilização menclatura botânica, classificação e identi- Copaifera L. Química Nova, São Paulo, v.25,
de plantas não indicadas para a doença. ficação de plantas medicinais. In: SIMÕES, n.2, p.273-283, abr./maio 2002.
C.M.O. et al. (Org.). Farmacognosia: da _______; _______; MACIEL, M. A. Plantas
planta ao medicamento. 5.ed. Porto Alegre: medicinais: cura segura? Química Nova, São
REFERÊNCIAS
UFRGS; Florianópolis: UFSC, 2004. cap.9, Paulo, v.28, n.3, p.519-528, maio 2005.
ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado: espécies ve- p.211-227.
VILLEGAS, J.H.Y.; LANÇAS, F.M. Detecção
getais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, MING, L.C. Coleta de plantas medicinais. de adulterações em amostras comerciais de
1998. 464p. In: DI STASI, L.C. (Org.). Plantas medi- “espinheira-santa” por cromatografia gasosa
ARAÚJO, A.C. et al. Caracterização sócio- cinais - arte e ciência: um guia de estudo de alta resolução (HRGC). Revista de Ciên-
econômico-cultural de raizeiros e procedi- interdisciplinar. São Paulo: UNESP, 1996. cias Farmacêuticas, São Paulo, v.18, n.2,
mentos pós-colheita de plantas medicinais cap.6, p.69-86. p.241-248, 1997.

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20 Plantas medicinais e aromáticas

Conhecimento tradicional do uso medicinal das plantas


Alexandre Américo Almassy Júnior 1
Andréia Fonseca Silva 2
Maira Christina Marques Fonseca 3

Resumo - A utilização de plantas para finalidades medicinais acompanha toda a his-


tória da humanidade. Atualmente, pesquisas etnobotânicas e etnofarmacológicas são
importantes ferramentas de registro e documentação dos usos empíricos de plantas me-
dicinais em comunidades tradicionais, gerando conhecimento útil ao desenvolvimento
de novos medicamentos, à conservação da biodiversidade e à valorização do saber e da
cultura local.

Palavras-chave: Fitoterapia. Etnobotânica. Etnofarmacologia. Planta medicinal.

INTRODUÇÃO plantas medicinais pela população. Essas HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO


culturas constituem as bases da medicina DAS PLANTAS MEDICINAIS
A utilização de plantas medicinais
popular brasileira (MARTINS et al., 1994). A utilização das plantas como estraté-
faz parte da rotina da maioria dos povos,
Apesar dessas influências, a fitoterapia no gia de tratamento em resposta a distúrbios
desde aqueles que ainda mantêm costumes
Brasil baseia-se, oficialmente, em algumas de saúde é tão antiga quanto o próprio ser
primitivos até os da atualidade, que têm
poucas espécies medicinais, a maioria humano. O conhecimento histórico do uso
acesso aos grandes avanços tecnológicos
da nossa era. Existem registros datados exótica e oriunda do velho continente, em de plantas medicinais mostra ao longo da
de 3000 a.C. que na China já ocorria o detrimento da rica biodiversidade e saber história da humanidade que, pela própria
cultivo de diversas ervas, produzindo tradicional dos raizeiros e benzedeiras necessidade humana, as plantas foram os
assim purgantes, diuréticos, cosméticos (GUIÃO, 2003; REIS; MARIOT; STE- primeiros recursos terapêuticos utilizados
e especiarias. Os egípcios usavam, além ENBOCK, 2004). (MARTINS et al., 1994; RODRIGUES;
das plantas aromáticas, muitas outras com Com a expressiva diversidade genética CARVALHO, 2001; ANDRADE; CA-
efeitos sonífero, cardíaco ou purgativo. Os vegetal de cerca de 55 mil espécies cata- SALI, 2002).
assírios também incluíam, no seu receituá- logadas (SANDES; DI BLASI, 2000) e O uso de plantas medicinais teve seu
rio, aproximadamente, 250 plantas terapêu- com tradição no uso de plantas medicinais início, provavelmente, na pré-história.
ticas (CORRÊA; SIQUEIRA - BATISTA; (CALIXTO, 1997), o Brasil pode ampliar Os homens primitivos, assim como os
QUINTAS, 2001). o conhecimento científico do potencial me- animais, iniciaram as práticas de saúde
A domesticação de espécies de plantas dicinal de plantas que até hoje não foram alimentando-se de determinadas plantas,
com fins medicinais e alimentares e o mane- estudadas, espécies nativas em sua grande pelo instinto de sobrevivência. Com isso,
jo de populações naturais são importantes na maioria. Na base dessas pesquisas encon- poderiam observar determinados efeitos
preservação das espécies e na apropriação tram-se as investigações etnobotânica e para minimizar suas enfermidades, acumu-
do conhecimento associado, e vem sendo etnofarmacológica. Segundo Caballero lando conhecimentos empíricos que foram
realizado pelo homem desde o início dos (1983), essas investigações caracterizam- passados de geração para geração. Esse
tempos (BROWN JÚNIOR., 1988). se pelo resgate e registro do conhecimento instinto foi perdido pelo homem moderno,
As culturas indígena, africana e euro- tradicional e das informações sobre os usos porém, nos outros animais ainda pode ser
peia têm influência sobre a utilização de empíricos das plantas. observado; por exemplo, os animais silves-

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. II UFRB - Centro de Ciências Agrárias Ambientais e Biológicas, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio
eletrônico: almassy@ufrb.edu.br
2
Bióloga, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE-Herbário PAMG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: andreiasilva@epamig.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: maira@epamig.br

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Plantas medicinais e aromáticas 21

tres e domésticos, quando estão doentes, tes, incluindo extratos de plantas, metais muitas influências das culturas indígena,
procuram dormir mais e ingerir plantas em (chumbo e cobre) e venenos de animais africana e europeia. Por meio dos pajés, o
busca de remediar o seu estado (CORRÊA; (ALMEIDA, 1993). conhecimento das ervas, bem como os seus
SIQUEIRA-BATISTA; QUINTAS, 2001). No período Védico da Índia, 1000 anos usos, era passado para seus descendentes.
O acúmulo dessas informações pelas a.C., foram registradas mais de mil ervas, Os europeus, que migraram para o País,
sociedades primitivas de todo o mundo, muitas delas ainda em uso pela medicina aprenderam com os índios, acontecendo,
por meio de um processo de sucessivas Ayurvedica (CORDELL, 1993). então, a fusão dos conhecimentos que
experiências, propiciou o nascimento de Na Europa, os sistemas de tratamento vieram da Europa com o conhecimento
uma cultura da arte de curar, que se tornou tiveram início com Hipócrates (460-377 indígena (MARTINS et al., 1994; LOREN-
a base para o nascimento da medicina. No a.C.), considerado o Pai da Medicina, e ZI; MATOS, 2002).
ano de 2698 a.C., na China, o imperador Aristóteles (384-322 a.C.) (WYK; WINK, A contribuição dos escravos africanos a
Shen Ning já provara cem ervas. No seu 2004). Hipócrates descreve na sua obra respeito da utilização de plantas foi com re-
Cânone das Ervas, descreve a conservação Corpus Hipocrateum a enfermidade, o lação, principalmente, aos rituais religiosos
e a administração dessas ervas, e muitas remédio vegetal e o tratamento adequado e às propriedades farmacológicas das plan-
das quais continuam em uso (CORRÊA; (MARTINS et al., 1994). tas. Com essas influências e contribuições
SIQUEIRA-BATISTA; QUINTAS, 2001). Nas primeiras organizações do conhe- nas diferentes áreas da cultura nacional,
Assim como os chineses, também assí- cimento médico e farmacêutico, todas as estabeleceu-se a base da medicina popular,
rios e hebreus, desde 2300 a.C., cultivavam informações referentes às drogas e seus formando no Brasil a tradição do uso de
plantas medicinais, que naquela época usos, na cultura ocidental, eram designadas plantas medicinais. Ao final do século 19
produziam cosméticos e especiarias para Materia Medica (ROBBERS; SPEEDIE; e em todo o século 20, aconteceram pro-
cozinha, além de líquidos e gomas utili- TYLER, 1996). Assim, no período de fundas alterações no estudo de plantas e no
zados no embalsamamento de cadáveres, 50-70 (d.C.), o grego farmaco-botânico, restante da ciência. Com a industrialização
cuja arte foi desenvolvida pelos antigos Pedanios Dioscorides, registrou, em sua e urbanização do País, o conhecimento tra-
egípcios, evitando que estes entrassem em obra De Materia Medica, cerca de 600 dicional passou a ser posto de lado. Com o
estado de putrefação. Foram necessários drogas vegetais e muitas outras drogas fácil acesso aos medicamentos sintéticos, o
vários experimentos com muitas plantas de origens animal e mineral (CORDELL, conhecimento da flora medicinal tornou-se
para dar conhecimento ao mundo e deixar 1993; ROBBERS; SPEEDIE; TYLER, sinônimo de atraso tecnológico (LORENZI;
tal arte como herança (ALZUGARY; AL- 1996; LORENZI; MATOS, 2002). MATOS, 2002).
ZUGARY, 1983; MARTINS et al., 1994; No período de 129-199 (d.C.), Gale- Com as novas tendências mundiais
RODRIGUES; CARVALHO, 2001). no compilou numa série de 20 volumes, de preocupação com a preservação da
Os antigos egípcios, há cerca de 4500 informações de plantas medicinais e seu biodiversidade e as ideias de desenvolvi-
anos a.C., utilizavam grande variedade de uso farmacológico e terapêutico (ROB- mento sustentável, o estudo das plantas
aromas consagrados a certas divindades. A BERS; SPEEDIE; TYLER, 1996). Na medicinais brasileiras tomou novos rumos.
aromoterapia é um ramo da fitoterapia que Idade Média, a medicina e o estudo das Assim, o interesse geral na fitoterapia foi
existe há tempo suficiente para considerar plantas medicinais estagnaram-se, sendo despertado novamente. Hoje, a fitoterapia
seu valor terapêutico e sua ação fisiológica recuperados apenas no início do século e a botânica são aliadas e cooperadoras
benéfica. Na Idade Média, acreditava-se 16, quando recebeu o poderoso impulso da melhoria da qualidade de vida do povo
que determinados aromas espantavam os dos alquimistas (MARTINS et al., 1994). brasileiro (GRANDI, 2000; LORENZI;
espíritos das doenças que acometiam o Até o século 19, os recursos terapêuticos MATOS, 2002; ARAÚJO et al., 2009).
corpo (BALBACH, 1986; ALZUGARY; eram constituídos predominantemente por Atualmente, há um novo interesse nas
ALZUGARY, 1983). plantas e extratos vegetais (SCHENKEL; plantas medicinais. Seu uso está aumentan-
Na história da terapêutica com vegetais, GOSMANN; PETROVICK, 2004). Nesse do e vários medicamentos industrializados
registra-se a contribuição de Mitrídates, século, Pelletier e Caventou desenvolve- têm sido desenvolvidos a partir de plantas
rei de Ponto (atual território da Turquia), ram procedimentos para o isolamento de medicinais, com base nas indicações
no século 2 a.C., sendo considerado o pri- ingredientes ativos, que as plantas me- populares (GRANDI, 2000; CORRÊA;
meiro farmacologista experimental. Nessa dicinais continham (CORDELL, 1993). SIQUEIRA-BATISTA; QUINTAS, 2001).
época, já eram conhecidos os opiáceos Em 1820, esses pesquisadores isolaram a Farnsworth et al. (1986) mostraram que
(substâncias derivadas do ópio) e inúmeras quinina das cascas de Cinchona calisaya 74% das drogas desenvolvidas a partir
outras plantas tóxicas. No Papiro de Ebers, L., substância que, até hoje, é utilizada de plantas tiveram como base estudos
de 1550 a.C., descoberto em meados do no tratamento da malária (SCHENKEL; científicos sobre usos daquelas conhecidas
século passado, em Luxor, no Egito, foram GOSMANN; PETROVICK, 2004). na medicina popular (etnofarmacologia).
mencionadas cerca de 700 drogas diferen- No Brasil, o tratamento de doenças teve A seleção etnofarmacológica favorece a
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descoberta de novas substâncias bioativas, O próprio prefixo etno denotaria a quali- medicinais que, ao contrário dos coletores
além de possibilitar uma certa economia de dade humana relacionada com a botânica “antigos”, não respeitam práticas conserva-
tempo e dinheiro (MACIEL et al., 2002). (HURREL, 1987). cionistas no momento da coleta, causando
Em 1982, em Simpósio de Etnobotâni- risco de sobrevivência às espécies.
ETNOBOTÂNICA E ca ocorrido na cidade do México, definiu- Mota (1997b) complementa que os
ETNOFARMACOLOGIA: A ARTE se a etnobotânica como campo científico estudos de resgate do “saber popular”,
DE ALIAR O CONHECIMENTO que estuda as inter-relações que se estabe- principalmente quanto à utilização de
TRADICIONAL SOBRE O USO lecem entre o ser humano e as plantas ao plantas medicinais, podem originar a
DE PLANTAS MEDICINAIS AO longo do tempo e em diferentes ambientes. descoberta de elementos importantes,
SABER CIENTÍFICO
Ford (1986), por sua vez, definiu-a como que muitas vezes são desconhecidos pela
De acordo com Thomas (1988), até o o estudo das inter-relações diretas entre ciência e que podem levar ao desenvolvi-
final do século 17, na Europa, a motivação homens e plantas. mento de novos medicamentos. De acordo
inicial para o desenvolvimento de estudos Atualmente, a etnobotânica pode ser com Miguel e Miguel (2000), as linhas de
de botânica estava intimamente relaciona- compreendida como o estudo do conheci- pesquisa de plantas medicinais, atualmente
da com a utilidade dos vegetais aos seres mento e das conceituações desenvolvidas seguidas por farmacologistas e químicos,
humanos, essencialmente na área médica, por qualquer sociedade a respeito do mundo não ocorrem aleatoriamente. O trabalho é
mas também na culinária e na manufatura. vegetal. Engloba tanto a maneira como direcionado a partir da utilização popular
Segundo esse autor, era convicção geral algum grupo social classifica as plantas, das plantas, dando origem a um ramo da et-
entre os estudiosos da época que cada parte como seus respectivos usos (AMOROZO, nobotânica conhecido como etnofarmaco-
do mundo das plantas tinha sido projetada 1996). Jorge e Morais (2003) corroboram logia. A etnofarmacologia pode ser definida
para servir a um propósito humano. este conceito e complementam que, além como exploração científica interdisciplinar
No século 18, um desses médicos e bo- de estudar as inter-relações entre o ser dos agentes biologicamente ativos, tradi-
tânicos, Carl Linneus, reconhecido até hoje humano e as plantas, levando em conta cionalmente utilizados ou observados pelo
por seu grande legado ao desenvolvimento fatores ambientais e culturais, atualmente, a homem (HOLMSTEDT, 1991).
da ciência, deu origem à história da etno- etnobotânica caracteriza-se pelo resgate dos De acordo com Elizabetsky (1987),
botânica (PRANCE, 1991). Registrando conceitos locais, que são desenvolvidos com a etnofarmacologia é um tipo de inves-
em seus diários de viagem dados culturais relação às plantas e ao uso que se faz delas. tigação que se baseia nas informações
dos locais que visitava e o modo como os A etnobotânica também é caracterizada coletadas num determinado grupamento
povos faziam uso das plantas, Linneus foi pelo caráter multi e interdisciplinar e pela étnico, onde os remédios elaborados tra-
o precursor das investigações etnográficas busca, junto a comunidades tradicionais, da dicionalmente são considerados “artefatos
relacionadas com o reino vegetal. compreensão das relações do ser humano humanos”, com forma de administração
Esse tipo de investigação não ficou com o ambiente, bem como o resgate das específica e ação terapêutica conhecida.
reduzido ao continente Europeu. No Bra- estratégias de manejo utilizadas por esses A partir dessa concepção, as informações
sil, no século 16, jesuítas encarregaram-se povos, na exploração dos recursos naturais etnofarmacológicas são ponto de partida
de catalogar, experimentar e empregar vegetais, que têm garantido sua sobre- ao estudo das espécies com potencial far-
largamente plantas medicinais brasileiras vivência. Além disso, nos últimos anos, macológico, as quais podem dar origem à
(QUEIROZ, 1984). Já no século seguinte, os estudos etnobotânicos têm auxiliado formulação de novos medicamentos.
os holandeses, Guilherme Piso e Georg na conservação e no uso sustentável da A etnobotânica e a etnofarmacologia
Marggraf, coletaram e registraram usos biodiversidade. Trabalhos etnobotânicos possibilitam:
conhecidos de plantas pelos nativos do realizados em vários países já levaram ao a) descobrir a substância de origem
Nordeste e, no século 19, os alemães J. B. desenvolvimento de programas de conser- vegetal com aplicações médicas e
Von Spix e Carl F. P. Von Martius fizeram vação de espécies com valor medicinal. No industriais, por causa do crescente
notas do uso de plantas pelos indígenas México, Hersch-Martinez (1997) relata interesse pelos compostos químicos
(ALBUQUERQUE, 2008). que a exploração comercial de raízes e naturais;
Várias são as conceituações dadas cascas de espécies medicinais, coletadas de b) acessar o conhecimento de novas
à investigação etnobotânica ao logo do forma extrativista, tem levado à diminuição aplicações a substâncias já identi-
tempo. Originalmente, foi definida por da ocorrência natural dessas plantas. Se- ficadas;
Hasshberger, em 1985, como estudo dos gundo esse autor, em virtude do aumento c) estudar as drogas vegetais e seus
vegetais utilizados por povos aborígenes, da demanda nacional e internacional pela efeitos no comportamento individual
recebendo, portanto, a conotação de ciên- matéria-prima medicinal e o crescente de- e coletivo dos usuários, diante de
cia botânica pertencente a determinado semprego no País, nas últimas décadas, tem determinados estímulos culturais ou
grupamento étnico (AMOROZO, 1996). ocorrido o aumento de coletores de plantas ambientais;
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d) permitir o reconhecimento e a pre- perigosa, porque não é possível desconsi- mente, mil chás e combinações de plantas
servação de plantas potencialmente derar que cada grupamento social possui únicas tiveram o uso medicinal aprovado
importantes em seus respectivos concepções próprias acerca da origem na Alemanha (HILLER, 1995). Considera-
ecossistemas; das doenças, do conceito de saúde e das se prática farmacêutica segura, não ter mais
e) documentar o conhecimento tradi- formas de tratamento e de cura. Muitas que quatro a sete ervas combinadas em um
cional e os complexos sistemas de dessas concepções, por exemplo, relacio- chá (WICHTL, 1989).
manejo e conservação dos recursos nam os processos terapêuticos tradicionais Em alguns casos, a eficácia do chá
naturais dos povos tradicionais; a elementos místicos e, assim sendo, os medicinal é óbvia. Plantas medicinais
f) servir de base de informações, que fatores da vida social que se relacionam com antranoides exercem ação laxativa,
orientem a elaboração de programas à religiosidade terão impacto direto sobre chás com raízes amargas estimulam o
de desenvolvimento e preservação as práticas terapêuticas tradicionais e seu apetite e nada é melhor para um desarranjo
dos recursos naturais dos ecossiste- consequente repasse entre as gerações. estomacal do que jejum e chá de hortelã.
mas tropicais. Vandebroek et al. (2004), em pesquisa O valor medicinal dos chás baseia-se em
A pesquisa etnobotânica e etnofarma- com raizeiros tradicionais dos Andes bo- evidências empíricas (SCHULZ; HAN-
cológica, como forma de resgate cultural, livianos e da Amazônia, concluíram que SEL; TYLER, 2002).
registra e documenta o conhecimento fatores sociais relacionados com as práticas
tradicional e a informação sobre os usos terapêuticas tradicionais desempenham Orientações gerais para o
empíricos das plantas, os quais estão importante papel na transmissão e con- preparo de chá
em franco processo de desaparecimento sequente sobrevivência do conhecimento Existem, basicamente, três maneiras
(MARTINEZ; POCHETTINO, 1992). acerca das plantas medicinais. Andrade de preparar chá:
Andrade e Casali (2002) corroboram e Casali (2002) concluem que o resgate a) infusão: derramar a água fervente so-
esta afirmativa e complementam que tal dos conhecimentos tradicionais junto à bre a quantidade de erva indicada na
conhecimento deve ser resgatado junto à população, pela pesquisa etnobotânica e prescrição ou pacote (por exemplo,
população rural do Brasil, que, pela mis- etnofarmacológica, tem merecido atenção uma colher de chá). Tampar a vasi-
cigenação dos saberes indígena, europeu especial nos últimos anos, em consequên- lha, deixar por 5 a 10 minutos e coar.
e africano, aliada aos anos de experi- cia dos seguintes fatores: De modo geral, a proporção é de uma
mentação empírica, torna essa população a) aceleração no processo de acultura- xícara de chá de água para 8 a 10 g
detentora de grandes conhecimentos sobre ção e perda de valiosas informações da planta fresca ou 4 a 5 g da planta
as plantas medicinais. Todavia, Pedersen populares; seca (LORENZI; MATOS, 2002).
(1988 apud MOTA, 1997a) explica que b) desaparecimento de espécies ainda O ideal é que o chá seja preparado
em muitas comunidades rurais, as práti- não estudadas; em doses individuais, utilizadas logo
cas terapêuticas tradicionais vêm sendo c) ampliação do mercado de plantas em seguida. Caso as doses sejam
suprimidas em detrimento do aumento de medicinais, por causa da preferência frequentes, pode-se preparar uma
consumo de medicamentos farmacêuticos de muitos consumidores por produ-
quantidade maior, que deverá ser
convencionais. Uma das razões apontadas tos de origem natural;
consumida no mesmo dia, mantida
pelo autor, que explicaria esse fato, seria a d) difícil acesso da grande maioria da
em recipiente bem fechado e guar-
descrença dos jovens dessas comunidades população brasileira ao medicamen-
dado de preferência na geladeira;
em relação às práticas terapêuticas tradi- to convencional;
b) decocção: cobrir a quantidade deter-
cionais, o que leva ao rompimento do elo e) assistência médica;
minada da mistura de chá com água
f) crescente interesse das indústrias na
da transmissão oral dos conhecimentos da fria, levar à fervura durante 5 a 10
busca por novos fármacos.
forma como ocorria naturalmente, ou seja, minutos e depois coar. O decocto
por meio do aprendizado feito transgera- deve ser preparado e utilizado no
FORMAS TRADICIONAIS
cionalmente pela socialização de saberes mesmo dia. Esse método é indicado
DE PREPARO DE PLANTAS
no interior dos próprios grupos domésticos quando se faz uso de partes mais
MEDICINAIS
ou da comunidade. duras da planta como, por exemplo,
O descrédito dos jovens pela terapêuti- cascas, raízes e sementes;
ca tradicional, em algumas comunidades, Chá
c) maceração: cobrir a parte da plan-
deve-se ao fato de esse tipo de tratamento O significado do termo chá referia-se ta com água, deixar em repouso
ser considerado arcaico, impreciso e primariamente à folha seca, depois à bebida durante 6 a 8 horas em tempe-
ineficaz, se comparado ao tratamento da preparada a partir dessa folha, sendo logo ratura ambiente e depois coar.
medicina convencional (FACHINI, 1993). aplicado a todas as ervas das quais se po- A maceração fria geralmente é
No entanto, tal generalização pode ser dem fazer infusões potáveis. Aproximada- recomendada para plantas com
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alto teor de mucilagem, como por ativos de várias plantas medicinais. No No preparo do xarope, pode-se juntar
exemplo: plantago e semente de caso do uso do álcool, deve-se dar prefe- parte do chá com o açúcar cristalizado
linhaça. O problema desse tipo de rência ao álcool de cereais. As partes da ou rapadura, ou, ainda, partes da planta
preparo é a contaminação da erva planta devem ser trituradas e maceradas, medicinal em uma calda açucarada. Ini-
por microrganismos (Escherichia armazenadas ao abrigo da luz e em tem- cialmente prepara-se a calda com açúcar
coli, Salmonella spp., Pseudomonas peratura ambiente, durante 8 a 15 dias, cristal ou rapadura, na proporção de uma
aeruginosa e Staphylococcus aureus) devendo-se agitar pelo menos uma vez ao parte e meia a duas para cada parte de
(HEFENDEHL, 1984), já que se dia. Ao final desse processo, o resíduo deve água, em volume, por exemplo, 1 e ½ a 2
encontram no comércio ervas co- ser prensado, filtrado e guardado ao abrigo xícaras de açúcar ou rapadura ralada para
lhidas e processadas sob condições da luz (em vidro escuro). 1 xícara de água. A mistura é levada ao
precárias de higiene; Há controvérsias quanto à quantidade fogo até que seja completamente dissol-
d) inalação: este tipo de preparação une de partes da planta medicinal empregada no vida, formando a calda. Posteriormente,
a ação combinada do vapor d’água preparo das tinturas. A seguir descreve-se um adiciona-se a planta (preferencialmente
com o aroma de drogas vegetais modelo proposto por Martins et al. (1994): fresca e picada) em fogo baixo, mexendo
voláteis, como por exemplo o euca- a) plantas frescas: utilizar a proporção durante 3 a 5 minutos, coar e guardar em
lipto. É normalmente recomendada de 50% em peso de plantas frescas frasco de vidro (MARTINS et al., 1994).
para problemas do aparelho respira- em relação ao álcool a 92° GL, em
É importante conservar o xarope em frasco
tório. Sua preparação e uso exigem volume, isto é, 500 g de plantas
limpo, escaldado e bem fechado para evitar
cuidado rigoroso, principalmente frescas (folhas, flores, etc.) em 1 L
fermentação, desenvolvimento de fungos e
quando se trata de crianças, por de álcool4;
ataque de formigas. O xarope frio pode ser
causa do risco de queimaduras. Os b) plantas secas: utilizar a proporção
obtido filtrando-se a mistura do chá com o
adultos podem colocar a água fer- de 25% em peso de plantas secas em
açúcar, após três dias de contato com três
vente sobre porções da droga vegetal relação à mistura álcool e água, na
a quatro agitações diárias.
(contida em recipiente de aproxima- proporção de sete partes de álcool a
damente ½ L) e aspirar ritmicamente 92° GL e três partes de água desti-
Óleo medicinal
(pode-se contar até três, quando se lada ou fervida em volume, ou seja,
inspira e até três quando se expira), 250 g de planta seca em 700 mL de Os óleos medicinais são, na maioria
durante 15 minutos. O recipiente álcool a 92° GL e 300 mL de água. das vezes, óleos fixos ou ceras líquidas
pode ser mantido no fogo para haver que contêm soluções ou extratos de dro-
contínua produção de vapor. No caso Xarope gas vegetais. São utilizados tanto interna
de crianças, o ideal é utilizar um apa- A palavra xarope vem do árabe: sirab quanto externamente. O óleo de alho é
relho elétrico específico, colocando- e significa bebida feita de um suco doce um exemplo clássico de óleo medicinal
se cuidadosamente ao lado do berço, açucarado. O conteúdo de açúcar dos xa- preparado por extração de material vege-
de preferência após a criança dormir ropes (aproximadamente 66%) é essencial tal por maceração. Outros óleos como o
(MARTINS et al., 1994). para aumentar seu prazo de validade. Os de jojoba, por exemplo, são geralmente
microrganismos não conseguem proliferar utilizados para massagens, especialmente
Tintura e glicerito
em soluções saturadas de açúcar, pois es- na aromaterapia.
As tinturas são soluções alcoólicas tas privam esses microrganismos da água Para preparo caseiro, as ervas secas
ou hidroalcoólicas preparadas a partir de necessária para o seu desenvolvimento.
ou frescas, finamente moídas ou picadas,
vegetais. Se o glicerol for utilizado como Conhecidos pelos médicos árabes
respectivamente, são colocadas em um
solvente, a preparação é conhecida como antigos, os xaropes medicinais entraram
frasco transparente com óleo de oliva, de
glicerito. A realização de extrações com para a medicina europeia no início da
girassol ou de milho (devem-se evitar óleos
uma mistura de glicerol, propilenoglicol Idade Média.
e água tem-se tornado mais frequente do São empregados como agentes aro- minerais), mantendo o frasco fechado dire-
que a extração com etanol e água. Mais matizantes, especialmente na medicina tamente sob o sol por duas a três semanas.
recentemente, o propilenoglicol tem sido pediátrica. Xarope de alteia, de funcho, de O frasco deve ser agitado diariamente.
utilizado como solvente. tanchagem e de tomilho são comumente Uma possível camada de água que se forma
A tintura é a maneira mais simples de prescritos na Alemanha (������������
SCHULZ; HAN- deve ser filtrada e separada. Conservar em
conservar por mais tempo os princípios SEL; TYLER, 2002). vidros escuros para proteger o óleo da luz.

4
GL - Gay Lussac (graduação alcoólica).

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Plantas medicinais e aromáticas 25

Suco ou sumo a) amassar as ervas frescas, bem limpas b) de 1 a 2 anos: ½ xícara (chá) duas
e aplicá-las diretamente sobre a parte vezes ao dia;
Os sucos de plantas são feitos apenas
afetada ou envolvidas em pano fino c) de 2 a 5 anos: ½ xícara (chá) três
com plantas medicinais que não contêm
ou gaze; vezes ao dia;
substâncias químicas muito ativas. No
b) reduzir a planta medicinal a pó, d) de 5 a 10 anos: ½ xícara (chá) quatro
preparo do suco, partes recentemente
misturar em água, chás ou outras vezes ao dia;
colhidas de plantas medicinais são mace-
preparações e aplicá-la envolta em e) de10 a 15 anos: 1 xícara (chá) três
radas em água ou espremidas. Dentre os
pano fino sobre a parte afetada. vezes ao dia;
sucos, comumente utilizados, destacam-se:
suco de agrião, de alho, de rabanete, de f) adultos: 1 xícara (chá) três a quatro
tanchagem e de cavalinha. Pouco se sabe Vinho medicinal vezes ao dia.
sobre a composição química dos sucos de É uma preparação à base de vinho tinto,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
plantas medicinais ou sobre suas possí- na qual se deixa em maceração, durante
veis reações em meio aquoso, no entanto oito dias, uma ou mais plantas medicinais. Atualmente, a população, de maneira
são “remédios” de venda livre, utilizados Como exemplo, cita-se a utilização de geral, está-se voltando cada vez mais para
principalmente na automedicação. sementes de sucupira branca (Pterodon a busca do dito “natural”, não só no que
Tem-se o suco espremendo o fruto, e o polygaliflorus), para auxiliar no tratamento diz respeito à alimentação, mas também
sumo, triturando a planta medicinal fresca do reumatismo (LORENZI; MATOS, 2002). ao tratamento de doenças. Muitos medi-
num pilão, liquidificador ou centrífuga. camentos convencionais acabam tendo
Caso a planta tenha pouca quantidade de Cuidados no uso de seus benefícios diminuídos, em razão dos
líquido, pode-se acrescentar um pouco de preparados fitoterápicos efeitos colaterais que provocam. No Bra-
água e triturar novamente, após uma hora sil, o uso de tais medicamentos também
De modo geral, o horário em que se
de repouso, recolhe-se o líquido liberado torna-se restrito a uma parcela expressiva
faz uso de preparados fitoterápicos é muito
(MARTINS et al., 1994). Esta preparação
importante para obter os efeitos desejados. da população, pelo alto custo e dificul-
também deve ser feita no momento do uso. dades de acesso. As plantas medicinais
Seguem-se algumas regras gerais de uso:
apresentam-se como estratégia importante
Pomada a) desjejum ou café da manhã: tomam-
de tratamento para a população. Porém,
As pomadas podem ser preparadas com se laxativos, depurativos, diuréticos
para que seu uso seja ampliado de forma
o sumo ou o chá concentrado da planta e vermífugos (meia hora antes);
segura, são necessários maiores incentivos
medicinal, misturados com banha animal, b) duas horas antes e depois das e investimentos em pesquisas, principal-
gordura de coco ou vaselina na forma principais refeições: tomam-se as mente de plantas medicinais nativas, ainda
líquida. Pode-se ainda aquecer a erva na preparações antirreumáticas, hepa- tão pouco estudadas. O acesso e o registro
gordura, depois coar e guardar em frascos toprotetoras, neurotônicas, béquicas do conhecimento tradicional, por meio do
bem fechados. Outra forma de preparo é a e antitérmicas; uso do instrumental científico, disponibili-
adição da tintura à vaselina, essa mistura c) meia hora antes das principais zado pela etnobotânica e etnofarmacologia,
deve ser feita em banho-maria ou placa de refeições: preparações tônicas e são passos fundamentais na promoção do
mármore com espátula apropriada. antiácidas; Brasil como potência no desenvolvimento
d) após as principais refeições: todas de novos fármacos, para o tratamento dos
Cataplasma
as preparações digestivas e contra mais diversos distúrbios de saúde que
Consiste na preparação, geralmente a gases; afetam a humanidade.
quente, composta por farinha (mandioca e) à noite antes de dormir: todos os
ou fubá de milho), água e planta medicinal preparados protetores do fígado e REFERÊNCIAS
fresca ou seca triturada. Pode-se realizar o laxativos. ALBUQUERQUE, U. P. de. A Etnobotânica
cozimento da planta medicinal. Essa pre- aplicada para a conservação da biodiver-
Quanto às dosagens dos remédios sidade. In: ______; LUCENA, R. F. P. de;
paração é aplicada sobre a pele na região
caseiros, estas variam de acordo com a CUNHA, L. V. F. C. da (Org.). Métodos e
afetada, entre dois panos finos. Geralmente
idade. Para os chás (infusão, decocção e técnicas na pesquisa etnobotânica. 2. ed.
em casos de tumores, furúnculos e pana- Recife: Comunigraf: NUPEEA, 2008. v.1, p.
rícios deve ser bem quente. Já no caso de maceração) recomenda-se:
227-240.
inflamações dolorosas pode-se utilizar o a) de 6 meses a 1 ano de idade: 1 co- ALMEIDA, E. R. As plantas medicinais bra-
cataplasma morno. O cataplasma também lher (café) do preparado três vezes sileiras. São Paulo: Hemus, 1993. 339p.
pode ser preparado de outras formas menos ao dia (somente com assistência de ALZUGARY, D.; ALZUGARY, C. Plantas
usuais, como: profissional da saúde); que curam. Rio de Janeiro: [s. n.], 1983. v. 1.

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26 Plantas medicinais e aromáticas

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Plantas medicinais e aromáticas 27

Plantas medicinais nativas e exóticas adaptadas


Viviane Modesto Arruda 1
Andréia Fonseca Silva 2
Maira Christina Marques Fonseca 3

Resumo - O uso de ervas para o tratamento de doenças no Brasil é registrado desde sua
descoberta. Com o início da industrialização e urbanização do País, o conhecimento
tradicional da utilização das plantas medicinais foi posto em segundo plano. A preo-
cupação com a preservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável ajudou
no retorno do interesse pela fitoterapia tradicional e na busca de bases mais sólidas
para a validação científica do uso de plantas medicinais brasileiras, uma vez que a
maioria das plantas utilizadas e validadas cientificamente é exótica. Serão apresenta-
das a nomenclatura, as características gerais e a utilização de 14 espécies nativas e exó-
ticas usadas na medicina tradicional brasileira, tais como: Annona crassiflora, Baccharis
trimera, Bixa orellana, Byrsonima verbascifolia, Copaifera langsdorffii, Dimorphandra mollis,
Eugenia dysenterica, Guazuma ulmifolia, Orbignya phalerata, Pterodon emarginatus e Solanum
lycocarpum, Calendula officinalis, Chamomila recutita e Zingiber officinale.

Palavras-chave: Planta medicinal. Planta exótica. Espécie medicinal brasileira. Espécie


medicinal exótica.

INTRODUÇÃO metabólitos, produzidos durante o desen- 100 mil espécies vegetais catalogadas no
volvimento do vegetal, podem ser afetadas Brasil, mas somente 8% foram estudadas
Desde seus primórdios, o homem
pela luz, temperatura, precipitação, ventos quimicamente, e estima-se que apenas
percebeu os efeitos curativos das plantas.
fortes, altitude, características do solo, épo- 1.100 espécies tenham sido avaliadas,
A utilização das plantas medicinais evolui
ca de coleta, estádio de desenvolvimento quanto às suas propriedades terapêuticas
ao longo dos tempos, desde as formas mais
da planta, eventos fenológicos, herbivoria (VARANDA, 2006).
simples de tratamento locais, provavel-
e outras formas de estresse (CALIXTO, Atualmente, os ecossistemas estão sen-
mente utilizadas pelo homem das cavernas, 2001). As plantas representam importante do ameaçados pelo aumento da população
até as formas tecnologicamente sofistica- fonte de produtos naturais biologicamente e pela ineficiência das leis de proteção,
das da fabricação industrial utilizada pelo ativos, os quais constituem modelos para demonstrando a necessidade urgente de do-
homem moderno (LORENZI; MATOS, a síntese de inúmeros fármacos (ELIZA- mesticar as espécies úteis, reflorestar áreas
2008). Independentemente da forma e BETSKY; SOUZA, 2004). desmatadas e racionalizar o uso das florestas,
da maneira utilizada, o homem percebeu No Brasil, a flora é bastante diversifi- a fim de preservar estas espécies e garantir o
que o vegetal medicinal proporcionava a cada em toda a sua extensão, com vege- repasse do conhecimento às gerações futuras
recuperação da saúde do indivíduo. Este tações de diferentes características, cujos (ANDRADE; CASALI, 2002).
fato deve-se à ação terapêutica gerada princípios ativos são desconhecidos. O A importância medicinal, econômica e
pela utilização das plantas medicinais, as número de pesquisas na área de plantas ecológica de espécies nativas brasileiras,
quais sintetizam e armazenam os chamados medicinais tem aumentado, entretanto os bem como o risco de sua extinção pela
princípios ativos (ALMASSY JÚNIOR et dados disponíveis revelam que poucas ação predatória do homem, tem motivado
al., 2005). A natureza e a quantidade de espécies foram estudadas. Há cerca de estudos dessas plantas, visando sua preser-

1
Enga Agra, D.Sc., Profa UEMG - Unidade de Ubá, CEP 36500-000 Ubá-MG. Correio eletrônico: viviarruda@yahoo.com.br
2
Bióloga, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE-Herbário PAMG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: andreiasilva@epamig.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: maira@epamig.br

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vação e aproveitamento racional (SOUZA Características gerais: árvore de copa LER et al., 2007). As folhas umedecidas e
et al., 2003). Além disso, diversas plantas irregular e aberta, de 4 a 8 m. Folhas sim- maceradas, colocadas na testa, provocam
exóticas foram introduzidas no Brasil desde ples, de 8 a 12 cm de comprimento. Flores sono e aliviam enxaqueca.
a colonização e incorporadas na medicina solitárias, de cor esverdeada. Fruto do tipo
popular (LORENZI; MATOS, 2008). baga composta, esverdeada e de superfície Baccharis trimera (Less.)
Neste artigo, apresentam-se estudos de papilada, com polpa branca, mucilaginosa DC. (Fig. 2)
14 espécies nativas e exóticas utilizadas na e doce. Sinonímia: Baccharis genistelloides
medicina tradicional brasileira, bem como Utilização: os frutos são utilizados na var. trimera (Less.) Baker e Molina trimera
sua nomenclatura, características gerais e alimentação e muito apreciados por sua pol- Less. (MISSOURI BOTANICAL GAR-
utilização. pa doce, amarelada e de aroma bastante for- DEN, 2010).
te. As folhas são utilizadas como medicação Família: Asteraceae (Compositae).
PLANTAS MEDICINAIS sudorífica, carminativa, estomáquica, antir- Nomes populares: carqueja, carqueja-
NATIVAS reumática, e anti-helmíntica por via oral e
-amarga, carqueja-amargosa, carqueja-
externamente, em compressas e bochechos,
-do-mato, carquejinha, condamina,
Annona crassiflora Mart. no tratamento de estomatite, nevralgias e
tiririca-de-babado, cacaia-amarga, bacanta,
(Fig. 1) cefaleias, bem como na forma de cataplasma
cacália-amarga, cacália-doce, cuchi-cuchi,
em furúnculos e úlceras para induzir a su-
Sinonímia: Annona macrocarpa Barb. quinsu-cucho, três-espigas, bacárida,
puração. O decocto ou infuso das sementes
Rodr. e Annona rodriguesii Barb.Rodr. quina-de-condamine, tiririca-de-balaio e
é indicado para o tratamento da diarreia
Família: Annonaceae. vassoura (CASTRO; FERREIRA, 2001).
crônica. A forma de preparo é a seguinte:
Nomes populares: araticum, articum, ca- uma colher de sopa de sementes raladas Ocorrência: nativa das Américas é
beça-de-negro, marolo e pinha-do-cerrado. ou picadas para 1 litro de água, devendo- considerada invasora em todo o Brasil
Ocorrência: Cerradão, Cerrado, Cerrado se tomar de três a seis colheres de sopa do (LADEIRA, 2002). É encontrada em to-
denso, Cerrado ralo e Campo Rupestre. chá por dia (RODRIGUES; CARVALHO, das as fisionomias do Cerrado, com maior
Distribuição: Bahia, Distrito Federal, 2001). Em Dorvelândia, GO, as sementes frequência nos Campos sujos.
Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato são usadas contra afecções parasitárias do Características gerais: é uma planta
Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, couro cabeludo, depois de pulverizadas são subarbustiva, aromática, com cerca de 1
São Paulo e Tocantins. misturadas com óleo e faz-se massagem no a 1,6 m de altura, ereta, ramosa, de ramos
Floração: setembro a novembro. cabelo (ALMEIDA et al.,1998). A infusão trialados em toda sua extensão. As alas
Frutificação: dezembro, com frutos das folhas e sementes pulverizadas combate são seccionadas alternadamente de forma
maduros de fevereiro a abril. a diarreia e induz a menstruação (ROES- desigual, estreitas ou largas, planas e leve-

Fotos: Andréia Fonseca Silva

A B
Figura 1 - Annona crassiflora Mart. (Annonaceae)
NOTA: A - Botão floral; B - Fruto agregado imaturo.

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Plantas medicinais e aromáticas 29

mente onduladas, verdes, membranáceas.


As folhas são ausentes na fase adulta. As
flores são reunidas em capítulos agrupa-
dos ao longo dos ramos alados. O fruto é
do tipo aquênio (CASTRO; FERREIRA,
2001; LORENZI; MATOS, 2008).
Utilização: a planta toda é indicada
como antifebril, antirreumática, no trata-
mento de anemias, cálculos biliares, dia-
betes, obesidade, má digestão, reumatismo,
gota, doenças do fígado, rins e baço. É
considerada tônico estomacal, aperiente,
diurética e estimulante do fígado. Externa-
mente, a carqueja é utilizada no tratamento
de feridas, úlceras e afecções do couro
cabeludo (MARTINS et al., 1994; RODRI-
GUES; CARVALHO, 2001; LADEIRA,
2002). Segundo Rodrigues e Carvalho
(2001), o infuso é preparado utilizando
uma xícara de chá da planta picada para 1
Figura 2 - Baccharis trimera Mart. (Asteraceae)
litro de água quente. Tomar quatro a cinco
FONTE: Carqueja (200-).
xícaras de chá ao dia, preferencialmente
antes das refeições e à noite ao deitar-se.

Bixa orellana L. (Fig. 3)


Sinonímia: Bixa acuminata Bojer, Bixa
americana Poir., Bixa odorata Ruiz & Pav.
ex G. Don, Bixa orellana var. leiocarpa
(Kuntze) Standl. & L.O. Williams, Bixa
platycarpa Ruiz & Pav. ex G. Don, Bixa
tinctoria Salisb., Bixa upatensis Ram.
Goyena, Bixa urucurana Willd., Orellana
americana Kuntze, Orellana americana
var. leiocarpa Kuntze e Orellana orellana
(L.) Kuntze (MISSOURI BOTANICAL
GARDEN, 2010).
Família: Bixaceae.
Nomes populares: urucum, urucu,
açafrão, açafroa, açafroa-da-bahia, açafroa-
do-brasil, açafroa-indígena, açafroeira-da-
terra, anoto, colorau, falso-açafrão, orucu,
urucuuba e uru-uva.
Ocorrência: floresta pluvial.
Distribuição: região Amazônica até a
Bahia.
Andréia Fonseca Silva

Floração: janeiro a fevereiro.


Frutificação: junho a agosto.
Características gerais: arbusto grande
ou árvore pequena, com 3 a 5 m de altura,
de tronco revestido por casca parda e copa
bem desenvolvida. Folhas simples, glabras, Figura 3 - Bixa orellana L. (Bixaceae)

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medindo de 8 a 11 cm de comprimento. Ocorrência: Cerrado e Campo sujo. suberosas, escuras, longitudinalmente fis-
Flores levemente róseas, dispostas em pa- Distribuição: Alagoas, Amazonas, suradas. Folhas opostas, simples, inteiras,
nículas terminais muito vistosas. Fruto do Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Gros- subsésseis, com estípulas intrapeciolares li-
tipo cápsula deiscente, ovoide, com dois ou so, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, guliformes; limbo pergaminoso a coriáceo;
três carpelos, coberto de espinhos flexíveis, Pará, Paraná, São Paulo, Tocantins. ápice obtuso, arredondado ou emarginado,
de cor vermelha, esverdeada, amarelada Floração: setembro a novembro (épo- às vezes mucronado; base cuneada a aguda;
ou parda, com 3 a 5 cm de comprimento, ca chuvosa), esporadicamente em outras nervação um tanto elevada na face dorsal e
contendo muitas sementes pretas cobertas épocas. nitidamente elevada na face ventral até as
por um arilo ceroso de cor vermelha e odor Frutificação: novembro a fevereiro. de terceira ordem. Inflorescência racemo
característico. Os frutos são reunidos em Características gerais: árvore ou arbusto terminal, ereto, bracteado. Flores com
cachos com até 17 unidades (LORENZI;
hermafrodita, geralmente medindo até 5 m, cerca de 1,5 cm de diâmetro, zigomorfas,
MATOS, 2008).
às vezes de maior porte, ocráceo-tomento- pediceladas; cinco sépalas, com quatro
Utilização: desde tempos mais remo-
so a gríseo-velutino salvo corola, anteras pares de glândulas; corola amarela com
tos, os indígenas do Brasil já usavam o
pigmento do urucum para pintar a pele,
como ornamento, ou proteção contra
insetos e queimaduras por exposição ao
sol. É utilizado como corante de alimen-
to (colorau) na cozinha nordestina. As
sementes são utilizadas como tonificante
do aparelho gastrointestinal, antidiarreica,
antifebril, estomáquica e no tratamento
caseiro das palpitações do coração, crises
asmáticas, coqueluche e gripe. Na forma
de chá ou maceradas em água fria, como
xarope nos casos de faringite ou bronquite.
Estomáticas, laxativas, anti-inflamatórias
para as contusões e feridas. Empregadas
internamente na cura de bronquite, febre,
doenças respiratórias e, externamente,
em queimaduras. As folhas, bem como a A
infusão, atuam contra bronquite, faringite
e inflamação dos olhos. O pó das folhas é
digestivo, laxante, expectorante, febrífugo,
cardiotônico, hipotensor e antibiótico, agin-
do como anti-inflamatório em contusões,
feridas e afecções do coração. A tintura do
urucum é usada como antídoto do ácido
prússico (veneno da mandioca).

Byrsonima verbascifolia
Rich. ex Juss. (Fig. 4)
Sinonímia: Byrsonima verbascifolia
Fotos: Andréia Fonseca Silva

var. denudata Cuatrec. e Malpighia


verbascifolia L. (MISSOURI BOTA-
NICAL GARDEN, 2010).
Família: Malpighiaceae.
Nomes populares: douradinha-falsa,
mirici, murici, muricizinho, orelha-de- B C
-burro, orelha-de-veado, muricizeiro e Figura 4 - Byrsonima verbascifolia Rich. ex Juss. (Malpighiaceae)
semaneira. NOTA: A - Galho com inflorescências; B - Inflorescência; C - Frutos imaturos.

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tons avermelhados; cinco pétalas, livres, un- BOTANICAL GARDEN, 2010). Ocorrência: Mata de Galeira, Mata Me-
guiculadas, com limbo deltoide, inteiro; dez Família: Fabaceae (Leguminosae): sofítica de Interflúvio, Cerradão Distrófico
estames, desiguais; filetes unidos na base; Caesalpinoideae. e Cerrado.
anteras rimosas, amarelas, oblongas; ovário Nomes populares: copaíba, copaíba- Distribuição: Ceará, Distrito Federal,
súpero, trilocular, globoso, um óvulo por da-várzea, copaúba, cupiúva, oleiro, óleo- Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato
lóculo; três estiletes; três estigmas, simples. de-copaíba, óleo-vermelho, pau-d´óleo, Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, São
Fruto drupa, medindo aproximadamente 1,3 podoi e bálsamo. Paulo e Tocantins.
a 1,5 cm de diâmetro, depresso-globoso,
amarelo; mesocarpo carnoso, fino; nuculâ-
nio de um a três locular com cerca de 6 mm
de diâmetro, de uma a três sementes, adnatas
ao endocarpo; cálice ligeiramente acrescente
no fruto (LORENZI; MATOS, 2008).

Morgana F. Rodrigues Rabelo


Utilização: o murici é usado na medicina
popular. O extrativismo dos seus frutos é de
grande contribuição na alimentação e como
fonte de renda do sertanejo e suas famílias.
O fruto possui polpa carnosa e macia, de
cor amarelo-intenso, sabor adocicado e A
cheiro característico (ALMEIDA et al.,
1998), podendo ser consumido in natura
ou sob a forma de sucos, geleias, sorvetes
e licores (ALVES; FRANCO, 2003). Os
frutos são considerados antiasmáticos,
antifebris, antidiarreicos e no tratamento de
infecções cutâneas. São empregados para
aromatizar vinhos e cachaças (REZENDE;
FRAGA, 2003). A casca é utilizada popu-
larmente como cicatrizante, antitérmica e

Andréia Fonseca Silva


anti-inflamatória, em virtude da sua eleva-
da adstringência, e na indústria de curtume
(ALMEIDA et al., 1998), possui teor de
15% a 20% de tanino, princípio ativo desta B
espécie. O chá da casca do caule é usado
nas disenterias. Os ramos com folhas são
indicados como diuréticos e antissifilíticos.
Preparar o infuso com uma xícara de chá
da planta picada para 1 litro de água quente
e tomar três a quatro xícaras de chá ao
dia (RODRIGUES; CARVALHO, 2001).
Relata-se a presença dos ácidos linoleico,
oleico, esteárico e palmítico no óleo de
Andréia Fonseca Silva

murici (REZENDE; FRAGA, 2003).

Copaifera langsdorffii Desf.


(Fig. 5)
C
Sinonímia: Copaiba langsdorfii (Desf.)
Figura 5 - Copaifera langsdorffii Desf. (Fabaceae: Caesalpinoideae)
Kuntze, Copaifera nitida Mart. ex Hayne
NOTA: A - Ramo com flores; B - Ramo com frutos imaturos; C - Ramos com frutos ma-
e Copaifera sellowii Hayne (MISSOURI duros evidenciando arilo alaranjado da semente.

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Floração: novembro a fevereiro com toses, auxiliando também no tratamento de glabros. Folhas alternas, bicompostas, pa-
pico em janeiro, excepcionalmente esten- doenças venéreas e na cicatrização de feridas ripinadas, pecioladas, sem estípulas; pinas
dendo-se até julho. e úlceras (FERREIRA, 1980). Esse produto de 6 a 14 pares, as proximais muitas vezes
Frutificação: maio a outubro com pico possui atividade antitumor (OHSAKI et al., menores; folíolos com 8 a 22 pares em
em julho, mas excepcionalmente nos pri- 1994). Popularmente, o óleo-de-copaíba cada pina, alternos ou subopostos, curto-
meiros meses do ano. é um poderoso antibiótico da mata. Em peciolulados; limbo com 0,5 a 1,5 mm x 3
Características gerais: árvore herma- algumas regiões, o chá da casca é bastan- a 8 mm, oblongo a elíptico cartáceo; ápice
frodita de até 35 m de altura, glabrescente te utilizado como anti-inflamatório. Em obtuso a arredondado; base arredondada a
salvo ovário, face interna das pétalas e, Belém, a garrafada da casca está sendo subcordada; nervura mediana sulcada na
às vezes, peciólulos e ráquis sericeo- substituta do óleo-de-copaíba, em razão face ventral e elevada na dorsal; nervuras
pubescentes; casca do tronco acinzentada, da dificuldade atual de encontrar o óleo. A secundárias invisíveis; peciólulo com
profundamente sulcada pelo menos na casca é componente de diversos xaropes cerca de 1 mm de comprimento. Inflores-
base, deiscente em placas retangulares para tosse. Nos Andes do Peru, o óleo-de- cência espigas terminais e nós superiores
rosa-escuras por dentro. Folhas alternas, copaíba é utilizado para estrangúria, sífilis
desfolhados, o conjunto possui aspecto
compostas paripinadas, curtamente pe- e catarros. Na medicina tradicional, no Bra-
corimboso, somando mais de 500 flores.
cioladas; estípulas lanceoladas, caducas; sil, recomenda-se o óleo-de-copaíba como
Flores com, aproximadamente, 3 mm de
folíolos de dois a seis pares, alternos ou agente anti-inflamatório, no tratamento
comprimento, actinomorfas, sésseis; cálice
subopostos peciolulados, os superiores em de caspa, em todos os tipos de desordens
cupuliforme com cinco lobos arredonda-
geral maiores do que os inferiores; limbo de pele e no tratamento de úlceras de
dos; cinco pétalas, livres, subiguais; cinco
com 2 a 7,5 cm x 1 a 3,5 cm, elíptico até estômago. A copaíba possui propriedades
estames; anteras rimosas, elíptico-lineares;
oboval, pergaminoso; ápice obtuso até diuréticas, expectorantes, desinfetantes
cinco estaminódios; ovário súpero, unilo-
arredondado, às vezes um tanto desigual; e estimulantes. Vem sendo utilizada nos
tratamentos de bronquite e dor de garganta, cular, subséssil, com muitos óvulos parie-
nervuras quase igualmente salientes nas
como anticoncepcional, vermífugo, derma- tais. Fruto legume indeiscente, com cerca
duas faces, as secundárias e terciárias for-
tose e psoríase. Podem-se utilizar 10 a 12 de 16 a 26 mm de comprimento, oblongo a
mando denso retículo; pontos translúcidos
gotas do óleo, três vezes ao dia, diluídas elíptico-linear, compresso, carnoso, crasso-
frequentemente presentes; peciólulo com
em uma colher de mel (adulto) e 1 a 2 gotas estipado; sementes transversas, numerosas,
2 a 5 mm. Inflorescência panícula tirsoide,
para cada ano de idade, duas vezes ao dia, castanho-avermelhadas, medindo cerca de
terminal e axilar com 100 a 2 mil flores,
diluídas em mel ou leite (RODRIGUES; 10 a 13 mm x 3 a 5 mm, oblongoides, leve-
mas as inferiores paucifloras. Flores com,
CARVALHO, 2001). mente achatadas (ALMEIDA et al.,1998).
aproximadamente, 0,5 cm, actinomorfas
Utilização: a fava de Dimorphandra
monoclamídeas, subsésseis; perigônio
Dimorphandra mollis Benth. mollis possui fonte excepcional de rutina,
creme ou levemente rosado; cinco tépalas,
(Fig. 6) substância extraída dos frutos que provoca
valvares, lanceoladas; dez estames; filetes
longos; anteras rimosas, amarelo-esverde- Família: Fabaceae (Leguminosae): contrações uterinas (FERREIRA, 1980).
adas, oblongas; ovário súpero, unilocular, Mimosoideae. A extração da rutina e de outros flavonoi-
subséssil, com dois a três óvulos parietais. Nomes populares: barbatimão-falso, des glicosilados, destinados à indústria
Fruto folículo ou legume deiscente com 3,5 barbatimão-de-folha-miúda, canafístula, farmacêutica, é feita a partir dos frutos
a 4 cm, oval, castanho-vináceo; semente enche-cangalha, farinha, farinheiro, faveira em estado de pré-maturação, cujo teor
geralmente única, medindo cerca de 1,0 e faveiro-do-cerrado. baixo em mucilagem facilita o processo.
a 1,5 cm de comprimento, negra, oval, Ocorrência: Cerrado. O teor de rutina nas favas é de 6% a 8%.
com arilo lateral alaranjado (LORENZI; Distribuição: Amazonas, Bahia, Distri- Ensaios farmacológicos com o extrato
MATOS, 2008). to Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, aquoso e o etanólico, preparados com
Utilização: o óleo, depois de filtrado, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, os folíolos da planta, mostraram possuir
possui coloração amarelo-pálida a pardo- Piauí, São Paulo e Tocantins. ação antiespamódica, ação hipotensora e
esverdeada, com ligeira fluorescência, sa- Floração: outubro a fevereiro com atividade estimulante. Existe dificuldade
bor amargo e odor aromático característico. pico em novembro, raramente em outras de encontrar frutos no campo, em virtude
Internamente é usado contra hemoptises épocas do ano. do seu extrativismo, estimulado pela in-
(problemas pulmonares), sinusite, picadas Frutificação: janeiro a julho. dústria farmacêutica. As cascas depois de
de insetos, anti-inflamatório nas inflama- Características gerais: árvore herma- pulverizadas, a frio ou por decocção, têm
ções da garganta e dos rins, bronquite, frodita medindo até 15 m de altura, albo- propriedades adstringentes, servindo para
cistite. Externamente é usado contra derma- pubescente salvo corola, androceu e ovário lavagens ou para atuar em hemoptises.
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Plantas medicinais e aromáticas 33

A rutina caracteriza-se por possuir ativida-


de vitamínica P, própria dos bioflavonoi-
des e por sua capacidade de normalizar a
resistência e permeabilidade dos capilares
sanguíneos, especialmente quando as-
sociada à vitamina C, além de reforçar
a membrana dos glóbulos vermelhos. É
indicada para a proteção contra hemorra-
gias capilares em pessoas com hipertensão
ou vítimas de radiação, possui ainda forte
atividade antioxidante, útil na conservação
de alimentos e na manutenção da própria
saúde, com ação contra os radicais livres
retardando o envelhecimento (LORENZI;
MATOS, 2008).

Eugenia dysenterica Mart.


ex DC. (Fig. 7)
Sinonímia: Stenocalyx dysentericus Figura 6 - Dimorphandra mollis Benth. (Fabaceae: Mimosoideae)
(DC.) O. Berg (MISSOURI BOTANICAL FONTE: Dimorphandra mollis (200-).
GARDEN, 2010).
Família: Myrtaceae.
Nomes populares: cagaita e cagaiteira.
Ocorrência: Cerradão Mesotrófico e
Distrófico e Cerrado sentido restrito e ralo.
Distribuição: Bahia, Distrito Federal,
Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí,
São Paulo e Tocantins.
Floração: agosto a setembro.
Frutificação: setembro a outubro.

Carolina de Paula de Souza Moreira


Características gerais: árvore her-
mafrodita de até 10 m de altura, glabra,
salvo botões, pedicelos, folhas, ramos
muito jovens, às vezes pubérulos; casca do
tronco suberosa, profundamente sulcada e
gretada; ramos quadrangulares, esfoliantes.
Folhas opostas, simples, curto-pecioladas a
subsésseis, caducas na floração; limbo com
3 a 8,5 cm x 1,5 a 5,3 cm, ovado ou elíptico; Figura 7 - Eugenia dysenterica Mart. ex DC. (Myrtaceae)
ápice ligeiramente acuminado; base obtusa
a subcordada, frequentemente desigual; longo-pediceladas; cálice com quatro endocarpo suculento; semente com cerca de
nervação reticulada não formando nervura sépalas; coroa alva com quatro pétalas 1 a 1,5 cm de comprimento, de cor creme
marginal nítida; pecíolo com 2,5 a 6 mm livres, elípticas; muitos estames; anteras e oval (ALMEIDA et al., 1998).
de comprimento. Inflorescência e racê- rimosas, elípticas; ovário ínfero, bilocular, Utilização: os frutos da cagaiteira
mulos umbeliformes ou alongados pelo globoso, com dois a quatro óvulos por são consumidos ao natural, na forma de
posterior desenvolvimento vegetativo da lóculo; um estilete, filiforme; um estigma, doces, geleias, sorvetes e sucos, sua polpa
gema terminal, simulando flores isoladas, simples. Fruto baga de 2 a 3 cm de diâme- pode ser congelada por até um ano. O uso
axilares, geralmente com quatro flores, ra- tro, amarelo, depresso-globoso, com uma a alimentar dos frutos é bastante difundido,
ramente com duas a seis. Flores com cerca quatro sementes, coroado pelo cálice seco; devendo-se atentar para a quantidade de
de 1,5 a 2 cm de diâmetro, actinomorfas, epicarpo brilhante, membranáceo, meso e frutos ingeridos, pois em grande quan-
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tidade pode produzir o efeito laxante, Floração: setembro a dezembro. globoso a ovoide, tuberculado; lóculos
principalmente quando os frutos são Frutificação: as árvores podem apre- multiovulados; óvulos axilares; um estile-
fermentados ao sol. Esse efeito laxante é sentar frutos de março a novembro, mas o te, estigma séssil, com cinco lobos petaloi-
responsável tanto pelo nome popular como pico de produção é normalmente de agosto des. Fruto cápsula rúptil com cerca de 2 cm
pelo científico. A garrafada das folhas pro- a setembro. de diâmetro, globosa, cinza-escuro, quando
duz efeito contrário: antidiarreico, além de Características gerais: árvore hermafrodi- maduro; sementes numerosas, com cerca
combater problemas cardíacos (ROESLER ta, medindo até 10 m de altura, com indumen- de 2 a 2,5 mm de comprimento, claras e
et al., 2007). to de pelos estrelados salvo pétalas e androceu ovoides (ALMEIDA et al., 1998).
glabros, as folhas tornam-se glabrescentes Utilização: as folhas e raízes são utili-
Guazuma ulmifolia Lam.
com a idade; ramos dísticos. Folhas alternas zadas popularmente no preparo de chás, em
(Fig. 8)
dísticas, simples, pecioladas, com estípulas; diversas regiões de sua ocorrência. A casca
Sinonímia: Guazuma ulmifolia Lam. limbo com 5 a 9 cm x 2,5 a 5,5 cm, elíptico, é adocicada e utilizada internamente contra
possui cerca de 30 sinonímias botânicas oblongo ou oval, cartáceo; ápice agudo a elefantíase e outras moléstias cutâneas. O
(MISSOURI BOTANICAL GARDEN, decocto adstringente e depurativo da casca
acuminado; base arredondada a cordada;
2010).
margem crenada ou denteada; nervação ele- é usado contra sífilis, doenças cutâneas,
Família: Malvaceae (Sterculiaceae). queda de cabelo e afecções parasitárias do
vada nas duas faces; três nervuras medianas;
Nomes populares: araticum-bravo, couro cabeludo. Na Guatemala, a planta é
pecíolo com 6 a 20 mm de comprimento.
camacã, embira, embiru, envieria, fruta- usada no tratamento de infecções respira-
Inflorescência cimeira axilar, congesta, com
de-macaco, guamaca, guaxima-macho, tórias e problemas gastrointestinais. Sob
guaxima-torcida, ibixuna, mutamba, até 20 flores, caduco-bracteada. Flores com
cerca de 3 mm de comprimento, actinomor- a forma de xarope é indicada contra tosse,
mutamba-verdadeira, pau-de-bicho, pau-
fas, curto-pediceladas a subsésseis; cálice pneumonia, catarro e asma. No Brasil, a
de-motamba, pau-de-pomba, periquiteira e
com três lobos valvares; corola amarela a casca é considerada diaforética, usada para
pojó (ALMEIDA et al., 1998; LORENZI;
amarela-esverdeada; cinco pétalas, cucu- tosse e bronquite, asma, pneumonia, febres
MATOS, 2008).
ladas, unguiculadas, longo-apendiceladas e problemas hepáticos. Os frutos, embora
Ocorrência: Cerradão Mesotrófico,
com apêndice filiforme, bífido, ereto; não oleaginosos, são utilizados como “óleo
Cerrado e Mata Mesofítica.
estames poliadelfos, reunidos em cinco contra queda de cabelo” no Nordeste. O
Distribuição: Amazonas, Bahia, Distri-
grupos de seis; filetes soldados, adnatos óleo é obtido por meio da fervura dos frutos
to Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso
em óleo comestível, ao qual se adiciona
do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, a uma coroa de estaminódios petaloides;
essência perfumada. No Belize, o chá de
Tocantins, Panamá e Guatemala. anteras elípticas; ovário súpero, 5-locular,
suas folhas é empregado contra disenteria
e diarreia e em tratamentos relacionados
com a próstata e estimulante uterino. No
México, o chá da casca é utilizado pelos
indígenas para facilitar o parto, aliviar
as dores gastrointestinais, asma, febre,
diarreia e disenteria. No Peru, o chá da
casca e folhas é empregado no tratamento
de doenças renais, hepáticas e disenteria
(LORENZI; MATOS, 2008).

Orbignya phalerata Mart.


(Fig. 9)
Sinonimia: Attalea lydiae (Drude) Barb.
Rodr., Attalea speciosa Mart., Orbignya
Morgana F. Rodrigues Rabelo

barbosiana Burret, Orbignya lydiae Drude,


Orbignya martiana Barb. Rodr. e Orbignya
speciosa (Mart. ex Spreng.) Barb. Rodr.������
(MIS-
SOURI BOTANICAL GARDEN, 2010).
Família: Arecaceae (Palmae).
Nomes populares: babaçu, babassu,
Figura 8 - Guazuma ulmifolia Lam. (Malvaceae) uauassu, baguaçu e guaguaçu.
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Plantas medicinais e aromáticas 35

de ventre, colite, obesidade, artrite, tumo-


res e inflamações. Os componentes majori-
tários (60%) do mesocarpo são o amido e a
mucilagem, os quais são responsáveis pelas
atividades anti-inflamatória, imunoestimu-
lante e antitrombótica do pó-de-babaçu.
A dose diária não deve ultrapassar a uma
colher de chá por dia, pelo fato de elevar
o teor de açúcar no sangue e desenvolver
bócio. A amêndoa contém, principalmente,
mono e triglicerídeos do ácido láurico e
um pouco de ácido caprílico e cáprico,
que conferem ao óleo (como pró-biótico)
uma ação protetora contra vírus e bactérias
no intestino. Na fração insaponificável,
são encontrados análogos da vitamina
E, fortemente ativos como antioxidantes
(LORENZI; MATOS, 2008).

Pterodon emarginatus Vogel


(Fig. 10)
Sinonímia: Acosmium inornatum
( M o h l e n b r. ) Ya k o v l e v, P t e ro d o n
polygaliflorus (Benth.) Benth., Pterodon
pubescens (Benth.) Benth. e Sweetia
inornata Mohlenbr (MISSOURI
Figura 9 - Orbignya phalerata Mart. (Arecaceae) BOTANICAL GARDEN, 2010).
FONTE: Lorenzi et al. (2004). Família: Fabaceae (Leguminosae):
Faboideae.
Nomes populares: bilro, fava-de-sucupi-
Ocorrência: possui grande poder de cocos fusiformes, pesados, com 10 a 12 cm ra, fava-de-santo-inácio, faveira, sucupira,
invasão nas áreas conturbadas, ocupando a de comprimento por 5 a 10 cm de diâmetro. sucupira-branca, sucupira-do-cerrado e
floresta e o Cerrado (LORENZI et al., 2004). O epicarpo é delgado, escuro; o mesocarpo sucupira-lisa.
Distribuição: Bolívia, Guiana, Surina- é fibroso, seco e farináceo, de coloração Ocorrência: Cerradão, Cerrado e Mata
me, ocupando principalmente todo o Norte esbranquiçada, forma 22% do fruto. O Mesofítica.
do Brasil nos estados do Maranhão, Piauí, endocarpo é espesso, lenhoso, muito duro, Distribuição: Distrito Federal, Goiás,
Mato Grosso e áreas isoladas do Nordeste representando 50% do peso do fruto. Tem Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso
(Ceará, Pernambuco e Alagoas) (LOREN- de uma a três cavidades que abrigam amên- do Sul, Minas Gerais, Piauí, São Paulo e
ZI et al., 2004). doas oleaginosas, fusiformes, alongadas, Tocantins.
Características gerais: o babaçu é com 3 a 7 cm de comprimento por 1,0 a Floração: julho a outubro, com pico
uma palmeira de caule solitário, colunar, 1,8 cm de espessura e contém 60% de óleo em setembro.
com 10 a 30 m de altura e 30 a 60 cm de fixo comestível (LORENZI et al., 2004; Frutificação: frutos imaturos de no-
diâmetro, de grandes folhas pinadas, as LORENZI; MATOS, 2008). vembro a maio, maduros principalmente
superiores eretas e divergentes, com 175 a Utilização: nas comunidades rurais, de junho a julho.
260 pares de pinas estreitas, regularmente são aproveitadas todas as partes da planta, Características gerais: árvore hermafro-
distribuídas sobre toda a extensão da raque. principalmente as folhas e os frutos. O óleo dita, com até 15 m de altura, obscuramente
Inflorescências pistiladas e andróginas do babaçu é obtido por meio de fervura, até pubérula nos ramos, peciólulos e, às vezes,
dispostas na mesma planta. As flores es- a eliminação da água, semelhantemente ao face dorsal das folhas; flores, frutos e face
tão distribuídas em duas fileiras, com três que é feito com o leite de coco. O mesocar- ventral das folhas sempre glabros; casca
sépalas de 1 a 2 mm de comprimento e duas po pulverizado é utilizado, por via oral, no cinza-clara, levemente áspera, soltando
pequenas pétalas. Os frutos são pequenos tratamento caseiro da dismenorreia, prisão placas. Folhas alternas, compostas pina-
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batata de sucupira é utilizada no combate


a reumatismo e gripe (SIQUEIRA, 1981).

Solanum lycocarpum A. St.-Hil.


(Fig. 11)
Família: Solanaceae.
Nomes populares: berinjela, fruta-do-
lobo, jurubebão e lobeira.
Ocorrência: Campo sujo, Cerradão e
Cerrado.
Distribuição: Amazonas, Distrito Fede-
ral, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná,
Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
Floração: durante todo o ano, princi-
palmente de março a novembro.
Frutificação: março a julho.
Características gerais: árvore ou arbus-
to grande, com até 4 m, indumento duplo
pruinoso e tricomas recurvados, creme-
amarelados, salvo face ventral das flores
e cálice acrescente do fruto com acúleos
recurvos. Folhas simples, alternas, pecio-
ladas; limbo foliar com 6 a 24,5 cm x 4 a
14, 5 cm, irregular-ovoide a liratilobado;
ápice arrendondado a agudo; base desigual,
obtusa a subcordada; margem repanda;
Figura 10 - Pterodon emargiantus Vogel (Fabaceae: Faboideae)
pecíolo 0,7 a 7 cm de comprimento. Inflo-
FONTE: Lorenzi (1992).
rescência cincino terminal ou subterminal
com até 15 flores. Flores hermafroditas ou
das, imparipinadas, pecioladas; folíolos um só óvulo parietal, inserido no meio do masculinas, actinomorfas pediceladas com
com 10 a 18 pares, geralmente alternos, lóculo. Fruto legume deiscente com cerca cerca de 3 a 4 cm; cálice gamossépalo,
peciolulados; limbo com 2,5 a 4 cm x 2 de 5 cm de comprimento, castanho-escuro, valvar, 5-lobado, os lobos agudos, cadu-
a 3,8 cm, oval-oblongo, cartáceo, com oval a orbicular, plano-compresso; epicar- cos, a porção soldada acrescente no fruto;
pontuações translúcidas; de ápice retuso po e mesocarpo cartáceos, quebradiços na corola gamossépala, de lilás a roxa, rotácea
a emarginado; base aguda e arredondada; maturação; semente única, central, dotada com cinco lobos agudos; cinco estames,
nervura mediana plana na face ventral; de um invólucro aliforme de endocarpo, de subsésseis, livres, com tricomas; ovário
nervuras secundárias igualmente salientes cor creme, oval a suborbicular (LORENZI; súpero, bilocular; estilete curto; estigma
puntiforme. Fruto baga com 8 a 12 cm de
nas duas faces; peciólulo com 2 a 3 mm MATOS, 2008).
diâmetro, verde; endocarpo polposo, ama-
de comprimento. Inflorescência panícula Utilização: a casca produz óleo volátil
relado, aromático; sementes numerosas,
terminal e nas axilas superiores das folhas e fortemente aromático, utilizado no com-
cinza-escuras, reniformes, achatadas, com
superiores, com cerca de 80 a 200 flores. bate ao reumatismo e diabetes. Esse óleo
testa microfoveolada, cartácea (ALMEIDA
Flores com, aproximadamente, 1 cm de amargoso, misturado com água, é emprega-
et al., 1998).
comprimento, pediceladas; cálice petaloi- do sob forma de gargarejo, proporcionando Utilização: os frutos da lobeira são co-
de, róseo, com três dentes diminutos e dois alívio rápido contra inflamação da gargan- mestíveis, utilizados no preparo de geleias
maiores, oblongos, ciliados, semelhante a ta. O óleo dos frutos inibe a penetração na e reputados como medicinais. O pó branco
um vexilo; corola papilionácea, rósea ou pele humana de cercária (estádio larval) da extraído do fruto verde é utilizado no com-
lilás; vexilo orbicular, retuso; alas e care- esquistossomose (bilharzia). Na falta do bate a diabetes. Os frutos verdes contêm
nas livres, obovais; dez estames subiguais, óleo, usa-se chá das folhas (RIZZO; MON- solasodina, substância química precursora
monadelfos; anteras rimosas, ovais; ovário TEIRO; BITENCOURT, 1985) ou infusão de esteroides. A polpa é enjoativa, possui
súpero, unilocular, longo-estipitado, com dos frutos em água fervente. A raiz ou cheiro ativo e penetrante, contém alcaloi-
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Plantas medicinais e aromáticas 37

Fotos: Andréia Fonseca Silva


A B
Figura 11 - Solanum lycocarpum A. St.-Hil. (Solanaceae)
NOTA: A - Ramo com flores; B - Fruto bacáceo imaturo.

des de natureza pouco conhecida. O suco


dos frutos é aplicado externamente na
eliminação de verrugas (ROESLER et al.,
2007). Os frutos assados são utilizados em
aplicações diretamente sobre órgãos atro-
fiados na sua reconstituição. A infusão da
raiz da lobeira é usada contra hepatite e o
xarope dos frutos contra asma. O chá das
folhas, em decocção, tem ação contra afec-
ções das vias urinárias, cólicas abdominais
e renais, espasmos, epilepsia e reumatismo.
O chá das suas flores, por decocção, em
uso interno, é indicado contra hemorroidas
(LORENZI; MATOS, 2008), asma, gripes
e resfriados. Preparar o infuso com uma

Glyn Mara Figueira


xícara de chá das flores e rodelas do fruto
para 1 litro de água fervente. Deixar esfriar,
adoçar com mel e tomar de quatro a cinco
xícaras do chá por dia (RODRIGUES;
CARVALHO, 2001). Figura 12 - Calendula officinalis L. (Asteraceae)

PLANTAS MEDICINAIS
EXÓTICAS Origem: originária das Ilhas Canárias e las ou alaranjadas, reunidas em capítulos
região Mediterrânea (LORENZI; MATOS, terminais, solitários, densos, simples ou
Calendula officinalis L. 2008). dobrados, sustentados por hastes eretas e
(Fig. 12) Floração: floresce no inverno e na firmes (LORENZI; MATOS, 2008).
Família: Asteraceae (Compositae). primavera (LORENZI; SOUZA, 2001). Utilização: possui ação cicatrizante e
Nomes populares: calêndula, malme- Características gerais: planta anual, antisséptica em uso externo, sendo utiliza-
quer, malmequer-de-jardim, maravilha, herbácea, ereta, ramificada, de 30 a 60 cm da como tonificante da pele no tratamento
maravilha-dos-jardins, bonina, flor-de- de altura. Possui folhas simples, ovaladas, de acne. É sudorífica, analgésica, colagoga,
-todos-os-males, margarida-dourada e espessas, sésseis, com 6 a 12 cm de com- anti-inflamatória, antiviral, antiemética e
verrucária (LORENZI; MATOS, 2008). primento. As flores são pequenas, amare- vasodilatadora (MARTINS et al., 1994).
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38 Plantas medicinais e aromáticas

Chamomilla recutita (L.) inflorescências são capítulos compactos. tratamento de herpes. Industrialmente
Rauschert (Fig. 13) As flores centrais do capítulo são amarelas a camomila é usada na composição de
e as marginais de corola branca. O fruto é sabonetes, perfumes, xampus e loções e
Sinonímia: Chamomilla courrantiana
do tipo aquênio (LADEIRA, 2002; LO- confere aroma e sabor agradáveis a di-
(DC.) C. Koch, Matricaria chamomilla
RENZI; MATOS, 2008). versos alimentos e bebidas (LORENZI;
L., Matricaria chamomilla var. recutita
(L.) Fiori, Matricaria courrantiana DC. e Utilização: a parte utilizada para fins MATOS, 2008).
Matricaria recutita L. (MISSOURI BO- terapêuticos é constituída por capítulos
florais secos, os quais devem ser con- Zingiber officinale Roscoe
TANICAL GARDEN, 2010). (Fig. 14)
Família: Asteraceae (Compositae). servados ao abrigo da luz. Indicada na
Nomes populares: camomila, camomila- medicina popular e científica, na forma Sinonímia: Amomum zingiber L., Curcuma
romana, maçanilha, camomila-comum, de infuso e decocto, como tônico amargo longifolia Wall, Zingiber aromaticum Noronha,
camomila-dos-alemães, camomila-verda- e digestivo, sedativo, facilita a elimina- Zingiber missionis Wall, Zingiber sichuanense
deira, camomila-legítima, camomila-vulgar ção de gases, combate cólicas e estimula Z.Y. Zhu, et al. e Zingiber zingiber (L.) H. Karst.
e matricária (LORENZI; MATOS, 2008). o apetite. É indicada, por via tópica na (MISSOURI BOTANICAL GARDEN, 2010).
Origem: nativa dos campos da Europa aplicação de compressas do infuso quente Família: Zingiberaceae.
e aclimatada em algumas regiões da Ásia sobre o abdômen, no tratamento de cólicas Nomes populares: gengibre, manga-
infantis. O cozimento de capítulos, mistu- rataia, gengivre, gingibre e mangaratiá
e nos países latino-americanos, inclusive
rado ou não com água oxigenada, clareia (MARTINS et al., 1994; LORENZI; MA-
na Região Sul do Brasil. É amplamente
os cabelos. Possui ação emenagoga. A TOS, 2008).
cultivada em quase todo o mundo inclusive
infusão aquosa das flores ou o próprio Origem: originário da Ásia e cultivado
nos estados do Sul e Sudeste do Brasil.
óleo essencial são empregados na forma no Brasil (LORENZI; MATOS, 2008).
Características gerais: é uma planta
de pomadas e cremes e em preparações Características gerais: planta herbácea,
herbácea, anual, aromática, de até 1 m
rizomatosa, perene, com raízes adventícias.
de altura. O caule é glabro, verde, ereto, farmacêuticas de uso externo, proporciona
Possui folhas simples invaginantes, com
ramificado e delicado. Possui folhas di- a cicatrização da pele, alívio da inflama-
15 a 30 cm de comprimento. As flores são
vididas em vários folíolos filiformes. As ção das gengivas, como antivirótico no
de coloração branco-amarelada, o rizoma
é ramificado, de cheiro e sabor picante e
agradável (MARTINS et al., 1994; LO-
RENZI; MATOS, 2008).
Utilização: tônico, expectorante,
estimulante gastrointestinal, aperiente,
combate os gases intestinais (carminati-
vo), vômitos e rouquidão. Externamente é
utilizado para o tratamento de reumatismo
e traumatismo (MARTINS et al., 1994).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de plantas medicinais pela po-
pulação brasileira é bastante difundido, no
entanto, a maioria das plantas utilizadas
não é nativa do Brasil. São plantas introdu-
zidas no País, desde a sua descoberta pelos
colonizadores. A maioria dessas plantas
nativas ainda não é domesticada, não sen-
do cultivada comercialmente, já plantas
exóticas adaptadas, como, por exemplo, a
camomila e a calêndula, são produzidas em
grande escala. É necessário que sejam rea-
Figura 13 - Chamomilla recutita (L.) Rauschert (Asteraceae) lizadas mais pesquisas, principalmente na
FONTE: Lorenzi e Matos (2008). área agronômica e de validação científica
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40 Plantas medicinais e aromáticas

Validação do uso popular de alguns extratos


e óleos essenciais medicinais
Rosana Gonçalves Rodrigues das Dores 1
Vera Lúcia Garcia Rehder 2
Marta Cristina Teixeira Duarte 3

Resumo - Relacionam-se algumas indicações populares de plantas medicinais,


utilizadas no tratamento de diversas doenças prevalentes a testes fitoquímicos
e biológicos, que possam validar relatos e valorizar o conhecimento popular,
quebrando paradigmas. Com isso, buscam-se novas alternativas para a pesquisa com
plantas medicinais, possibilitando maior repetibilidade, menor custo e eficácia na
elaboração de fitopreparado. Serão abordados estudos envolvidos na produção do
primeiro fitomedicamento anti-inflamatório de uso tópico, totalmente desenvolvido
no Brasil, a partir do óleo essencial das folhas de Cordia verbenacea (Boraginaceae),
espécie medicinal nativa da Mata Atlântica e conhecida popularmente como erva-
baleeira.

Palavras-chave: Fitoterapia. Etnofarmacologia. Produtos naturais. Óleos essenciais.


Fitomedicamento. Cordia verbenacea.

INTRODUÇÃO Essa inter-relação direta entre plan- e dinheiro, dois fatores mais visados nas
tas e comunidades é definida como economias ocidentais.
O emprego de plantas medicinais por
etnobotânica. Amorozo (2010) define a A validação do uso popular de plan-
comunidades autóctones é tão remoto
etnobotânica como a ciência que aborda tas, como medicamentos utilizados em
quanto a própria civilização. A utilização
a forma como diferentes grupos humanos determinada doença, está diretamente
tradicional de plantas no Brasil tem influ-
interagem com a vegetação, incluindo as correlacionada com a etnofarmacologia.
ências das culturas indígena, africana e questões relativas ao uso e manejo dos Assim, a busca de informações em comu-
europeia, podendo, hoje, ser considerada recursos vegetais, quanto a sua percepção nidades tradicionais sobre espécies facilita
interação entre saberes. É prioritário o e classificação pelas populações locais, os estudos direcionados para pesquisa de
resgate e a valorização do conhecimento tendo, sobretudo, aspecto interdisciplinar plantas medicinais, que podem corrobo-
popular acerca dos elementos de seu relacionado com Botânica, Agronomia, rar com suas propriedades terapêuticas
ambiente natural. Espaços de expressões Antropologia, Sociologia, Ecologia, ou desmistificar seu uso. Além disso,
culturais, como praças, feiras livres e Farmácia e Química. Estudos etnobotâ- esclarece a fitoquímica, a farmacologia e
mercados, constituem fonte inesgotável nicos facilitam a pesquisa direcionada de a toxicologia dessas plantas, ressaltando a
de trocas intra e interculturais de sabe- fitoterápicos e fitofármacos, pois buscam diferença entre doses terapêutica e tóxica,
res sobre o uso tradicional de espécies as propriedades terapêuticas de dada es- cujo exemplo clássico é dos glicosídeos
vegetais. pécie, traduzindo em economia de tempo cardíacos de Digitalis purpurea L. (digi-

1
Farmacêutica, D.Sc., Pesq. UFOP, Campus Universitário Morro do Cruzeiro, CEP 35400-000 Ouro Preto-MG. Correio eletrônico:
plantasmed@ufop.br
2
Química, D.Sc., Pesq. UNICAMP - CPQBA - Divisão Química Orgânica e Farmacêutica, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico:
rehder@cpqba.unicamp.br
3
Bióloga, D.Sc., Pesq. UNICAMP - CPQBA - Divisão de Microbiologia, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico: mduarte@cpqba.unicamp.br

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Plantas medicinais e aromáticas 41

toxina), para os quais a dose terapêutica incluindo aquelas brasileiras, como guaco de adotarem as alcunhas regionais (maria-
é de 0,07 a 0,1 mg/dia. Tais estudos, na (Mikania glomerata Spreng), espinheira- preta, juá-de-capote, arranca-dente, baba-
maioria das vezes, contradizem o paradig- santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss) de-moça, erva-de-cobra, etc.).
ma de que plantas medicinais, por serem e guaraná (Paullinia cupana Kunth) A partir da identificação, procede-se a
produtos naturais, não fazem mal. (CARVALHO et al., 2008). bioprospecção, que deverá iniciar por meio
Nesse aspecto, é comum ouvir relatos Legitimar o uso popular de plantas me- de propagação ou plano de manejo para
de que plantas amargas são boas para o dicinais e de produtos naturais é objetivo obtenção de material para estudo (devida-
fígado, plantas doces aliviam a flatulência, constante dos pesquisadores dessa área. mente registrado, autorizado nos órgãos
plantas com cheiro são boas para pele. No Tais pesquisadores visam à melhoria da responsáveis e licenciado para coleta).
entanto, é mister que tais ações, apenas qualidade de vida da população brasileira, Assim, administram-se técnicas corretas
com base nas propriedades gustativas, permeada ao acesso a fitoterápicos de qua- de cultivo, colheita ou coleta, pós-colheita,
tenham estudos que fundamentem essas lidade com alta eficácia e baixo custo, o que secagem, processamento e armazenamento
afirmativas. Muitas vezes, ainda se utiliza a permite melhor aceitação popular, manejo da matéria-prima vegetal.
Doutrina das Assinaturas, validando o risco racional da biodiversidade e fortalecimen- A preparação de extratos é feita geral-
eminente de intoxicações, como já relatado to do uso de medicamentos fitoterápicos, mente por percolação (método de extração
com o confrei (Symphytum officinale L.). quer seja em farmácias vivas, quer seja a frio), Soxhlet (método de extração a
Soma-se a esses fatos que 70% da na indústria de medicamentos. No Brasil, quente) ou ácido-base, nos quais se utili-
produção industrial de medicamentos, a importância da Fitoterapia como forma zam processos de partição entre solventes
oriundos de espécies vegetais, foi emba- de tratamento em doenças prevalentes está aquosos ácidos ou básicos e solventes or-
sada em conhecimentos etnobotânicos. atrelada a políticas nacionais, estaduais e gânicos imiscíveis com água (AMARAL et
municipais de plantas medicinais (BRASIL, al., 2006). Por extrato entendem-se formas
Outro dado importante da Organização
2008; MINAS GERAIS, 2009). farmacêuticas de produtos fitoterápicos,
Mundial da Saúde (OMS) é que 65% a
líquidos, moles, espessos ou secos, em
80% da população mundial busca nas
VALIDAÇÃO CIENTÍFICA DE que se retiram, com maior ou menor es-
plantas fins terapêuticos, seja por moti-
EXTRATOS VEGETAIS pecificidade, determinados componentes
vo de pobreza, aceitabilidade, seja por
(SIMÕES et al., 2004). O extrato bruto
descrédito no Sistema Público de Saúde Na manutenção da qualidade do fito-
obtido deve ter seu perfil fitoquímico estu-
(CALIXTO, 2000). Além disso, é impor- terápico, é necessário assegurar a coexis-
dado e doseado seu marcador químico por
tante ressaltar que o mercado mundial tência de substâncias farmacologicamente
técnicas hifenadas.
de medicamentos movimenta, aproxima- ativas ou grupos químicos presentes na
As plantas odoríferas, como Mentha sp.
damente, US$300 bilhões por ano. Os espécie, visto que os princípios ativos de
e Ocimum sp., possuem óleos essenciais,
fitoterápicos movimentam globalmente muitas plantas medicinais, bem como suas
substâncias lipofílicas, voláteis e líquidas,
US$21,7 bilhões por ano. No Brasil, não demais substâncias, são desconhecidos. A
qualidade do fitoterápico pode ser alcança- que podem ser obtidas por destilação, por
existem dados oficiais atualizados, po- arraste a vapor ou por expressão de peri-
rém, estima-se que esse mercado gire em da, se todas as etapas de processamento da
matéria-prima ativa vegetal e manufatura carpos de frutos cítricos. Na maioria das
torno de US$160 milhões por ano, com vezes, o óleo obtido é caracterizado pela
do produto final forem realizadas, conser-
crescimento acima de 15% nas vendas mistura de compostos aromáticos, em que
vando o constituinte ativo e as substâncias
internas, contra um crescimento de 4% um deles é o composto majoritário, sendo
sinérgicas.
nas vendas dos medicamentos sintéticos. considerado o marcador químico. A quan-
Na metodologia de busca de estudos de
Em toda a cadeia produtiva, o setor fito- tificação e a identificação dos componentes
plantas medicinais oriundas de pesquisas
terápico movimenta, anualmente, cerca etnobotânicas, soma-se a identificação ta- de óleos essenciais são feitas por técnicas
de R$1 bilhão (FEBRAFARMA, 2007). xonômica das espécies escolhidas, a partir elaboradas, como cromatografia a gás
Em levantamento recente, junto à Agência da confecção de material testemunho. Essa acoplada a espectrometria de massas ou
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), etapa contribui com a identificação correta outras técnicas hifenadas.
foi encontrado o total de 512 medicamen- da espécie, pois, muitas vezes, as indicações A técnica mais simples utilizada na aná-
tos fitoterápicos registrados, sendo 80 terapêuticas são atribuídas a sinonímia vul- lise dos compostos presentes em extratos
fitoterápicos associados e 432 simples, gar (nomes populares), que pode ser comum e óleos essenciais é a cromatografia em
ou seja, obtidos de derivados de uma es- a outras espécies (erva-cidreira: Melissa camada delgada (CCD). Os doseamentos
pécie vegetal, sendo que apenas 25,92% officinalis L., Lippia alba (Mill.) N.E. Br., mais executados são para compostos fenó-
dessas espécies são da América do Sul, Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), além licos, taninos totais, flavonoides, cumari-
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42 Plantas medicinais e aromáticas

nas, saponinas, alcaloides e quinonas. Após


a identificação e a quantificação destes, PLANTA MEDICINAL
têm-se bioensaios que irão validar sua
eficácia terapêutica. Os bioensaios podem Levantamento etnobotânico
ser simples ou elaborados, de acordo com o
fitoterápico. Englobam testes de atividade Seleção de espécies
biológica, de toxicidade, farmacológicos
e de biodisponibilidade. Os bioensaios
podem envolver organismos inferiores (mi-
crorganismos, microcrustáceos e algas),
Exsicata (material testemunho)  Botânico taxonomista
Depósito em Herbário registrado

Propagação
ensaios bioquímicos, que visam alvos mo-
leculares (enzimas e receptores) e cultura
Cultivo
de células animais ou humanas. Contudo,
o teste adequado dependerá da doença-alvo
e englobará testes in vitro (antimutagênica, Colheita Coleta (autorização)

antioxidante, antiestrogênica, antitumoral,


antifúngica e antibacteriana) antes dos Pós-colheita

testes in vivo (anti-inflamatória, antitu-


Arraste por vapor d’água
moral e em doenças crônicas prevalentes, Prensagem
Secagem in natura
dentre outras). Se a atividade in vitro for Processamento Extração com solventes orgânicos
promissora, caberá realizar testes in vivo, Enfleurage
Extração por CO2 supercrítico
que precisam de aprovação em Comitês
de Ética, como em pesquisa animal e em
Natural ou artificial

ÓLEOS ESSENCIAIS CCD ou CG-EM ou CLAE
humanos, antes de serem realizados e pu-
Moagem ou trituração
blicados. A falta dessa aprovação anulará Solventes orgânicos
Processamento Maceração
todo o trabalho, tornando-o impublicável
Percolação a frio, soxhlet ou ácido-base
e praticamente inútil, mesmo se houver EXTRATOS Rotaevaporação
ação comprovada, que valide o uso popular Liofilização
(Fig. 1).
A partir daí, fazem-se os ensaios pré-
clínicos, clínicos, toxicológicos e de desen- Triagem Controle de qualidade (todo processo)
fitoquímica
volvimento de formulações fitoterápicas Doseamentos - Via HPLC Compostos fenólicos
Fracionamento - Via espectrofotômetro
(xaropes, tinturas, suspensões, emulsões, Flavonoides
cápsulas, comprimidos, pomadas, cremes, Taninos
Toxicidade Cumarinas
géis), com o extrato ou óleo testado, cujos Bioensaios Alcaloides
Atividade biológica
resultados foram favoráveis, desenvolven- in vitro Saponinas
Biodisponibilidade
do novo produto fitoterápico, que ainda SE OS Farmacológico
será submetido a testes de estabilidade e RESULTADOS
FOREM Registro nos Comitês de Ética
biodisponibilidade. Todos os ensaios, em POSITIVOS na pesquisa animal e em humanos
todas as fases de pesquisa, deverão ser
feitos com o maior número possível de Toxicidade
Bioensaios Atividade biológica
repetições. in vivo Biodisponibilidade e outros
No decorrer dos anos, estudos feitos Farmacológico Pré-clínicos
com plantas medicinais, nas universida- Clínicos
des mineiras, procuram operacionalizar a
obtenção de fitoterápicos com qualidade DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÕES FARMACÊUTICAS DE FITOTERÁPICOS

fitotécnica, fitoquímica e farmacológica


Figura 1 - Metodologia resumida do trabalho inicial de preparação de extratos e de óleos
satisfatória. Assim, são observados avan- essenciais de plantas medicinais
ços significativos nas pesquisas sobre o NOTA: CCD - Cromatografia em camada delgada; CG-EM - Cromatografia a gás-espec-
cultivo, melhoramento genético, controle trometria de massa: CLAE - Cromatografia líquida de alta eficiência.

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de qualidade da matéria-prima, análise de há toxicidade moderada, no entanto não catrização de feridas da pele, além do uso na
óleos essenciais e quantificação de rendi- se permite seu uso indiscriminadamente higienização de roupas durante a lavagem
mentos (PLANTAS..., 2002). (CASTRO et al., 2009). (MENDES, 2009).
O resultado é uma série de dados funda- Em folhas e frutos de Citrus aurantium Acredita-se que “o que arde cura”,
mentais à indústria farmacêutica, citando, e Citrus medica (Rutaceae), laranja-da- assim, Almeida et al. (2009) trabalha-
como exemplo, a tanchagem, que, quando terra e cidra, respectivamente, investigou- ram com extrato em acetona de frutos
cultivada à sombra, a produção de seus se a toxicidade para Artemia salina, o de pimenta Dedo-de-moça (Capsicum
princípios ativos é maior, ao contrário da potencial antioxidante in vitro, além de baccatum – Solanaceae), para verificar
capuchinha, que reduz a produção de ácido dosear compostos fenólicos e flavonoides, seu uso como antioxidante, uma vez que,
erúcico ou óleo de Lorenzo, à medida que buscando validar o uso como cicatrizante popularmente, é usada como tópico em fe-
aumenta o sombreamento. Assim, a busca e estomáquico. O doseamento de compos- ridas. A avaliação quantitativa da ativida-
de novas tecnologias de cultivo torna-se tos fenólicos evidenciou que a espécie de antioxidante do extrato em acetona de
prioritária para o pesquisador de plantas C. aurantium apresenta maior teor de C. baccatum (frutos) foi superior a 90%,
medicinais. compostos fenólicos, quando comparado atingindo um máximo de 92,54 ± 0,96%,
a C. medica. O teor de flavonoides encon- e a concentração média de compostos fe-
TESTES DE TOXICIDADE DOS trado nos extratos do epicarpo de ambas nólicos foi de 30,21 µg/µL, confirmando
EXTRATOS VEGETAIS as espécies foi inferior ao encontrado no o potencial para prevenção de estados
extrato de folhas, sendo que o teor em gripais e outros danos celulares.
A fim de estabelecer a toxicidade, C. aurantium foi maior que nos extratos
pode-se fazer o ensaio de letalidade com de C. medica. Os extratos das folhas de
ATIVIDADE ANTIFÚNGICA
o microcrustáceo Artemia salina (Brine C. aurantium e C. medica possuem alta
shrimp larvae), uma das técnicas usadas atividade antioxidante. Os extratos de As infecções fúngicas invasivas
há décadas, como avaliadora da toxicidade folhas de C. medica não apresentaram ci- permanecem como importante causa de
geral de compostos orgânicos. Essa técnica totoxicidade com CL50=12.638,51 µg/mL, morbidade e mortalidade, em especial na
proporciona resultados rápidos, de boa re- no entanto, o extrato do epicarpo com população de pacientes gravemente enfer-
produtibilidade, exige o mínimo de esforço CL50=142,73 µg/mL demonstrou certa mos e os imunocomprometidos. Assim,
e é aplicável em larga gama de análogos, toxicidade. Já do extrato do epicarpo de C. em virtude das limitações terapêuticas,
pelo fato de esse microcrustáceo ser de aurantium obteve-se CL50=95,99 µg/mL do desenvolvimento de resistência, da
fácil crescimento e manutenção. e no extrato de folhas de laranja-da-terra toxicidade relacionada com antifúngicos,
Apesar de haver poucos dados sobre CL50=1.016,38 µg/mL, não evidenciando das significantes interações medicamen-
toxicidade de folhas, raízes e inflorescên- toxicidade. Tal estudo permite concluir tosas e da biodisponibilidade insuficiente
cias de Tithonia diversifolia (Hemsl.) Gray. que o uso interno de cascas de laranja ou dos antifúngicos convencionais, torna-se
(Asteraceae), conhecida popularmente de cidra, quer seja na forma de tintura ou necessário o desenvolvimento de medica-
como flor-do-amazonas, são utilizadas alimentar, não é tão desejável, o que vem mentos para tratar as novas e emergentes
na medicina tradicional, no combate ao contradizer o uso na indústria alimentícia infecções fúngicas.
alcoolismo, contra dores de estômago e de doces (SÁ; RODRIGUES-DAS-DÔRES, O potencial antifúngico de própolis
no combate ao envenenamento. O extrato 2009). verde e do mentol, nas cepas Candida
bruto de inflorescências e suas frações em O extrato alcoólico das raízes de Senna albicans (ATCC-18804), Candida tropicalis
hexano, diclorometano e acetato de etila cernua (Balb.) H.S. Irwin & Barneby, popu- (ATCC-750), Candida parapsilosis (ATCC-
foram avaliados quanto à toxicidade para larmente denominada anil-da-folha-grande 22019) e Candida krusei (ATCC-6258), foi
Artemia salina. Os resultados preliminares ou poirana, apresentou atividade antioxi- avaliado pelo método de microdiluição em
apontaram que, no teste de toxicidade, to- dante in vitro na concentração de 200 ppm. placas com Roswell Park Memorial Institute
dos os extratos de inflorescências tiveram Essa concentração foi efetiva, permitindo, Médium (RPMI), para checar o uso desses
100% de mortalidade (DL50 = 10 µg/mL), assim, enquadrá-la como protótipo a estu- extratos. Os resultados obtidos na determi-
em folhas, a toxicidade foi de 95,45 µg/mL dos mais precisos na busca de substâncias nação da concentração inibitória mínima
e, em raízes, de 114,29 μg/mL. Portanto, antioxidantes, que poderão ser utilizadas no (CIM) demonstram que, própolis e mentol
o uso interno de extratos de inflorescên- tratamento de doenças correlacionadas com são ativos contra C. albicans, C. tropicalis,
cias de Tithonia diversifolia é totalmente estresse oxidativo. Na medicina tradicional, C. parapsilosis e C. krusei na concentração
desaconselhável, não validando a conduta essa planta é empregada como antifúngica, média de 256 mg/mL, o que confirma o
popular. Em extratos foliar e de raízes, antivirótica, antitumoral, purgativa e na ci- uso popular em casos de candidíase bucal
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(monilíase), chamada popularmente sapi- A erva-baleeira foi selecionada para da Universidade Estadual de Campinas
nho (SALVE et al., 2009). estudos em busca de fármaco anti-inflama- (Unicamp), enquanto ensaios de ativida-
A atividade antifúngica de Porophyllum tório de uso tópico. Os testes preliminares de farmacológica foram realizados por
ruderale (Jacq.) Cassini foi testada contra foram realizados com extratos hidroal- pesquisadores da Universidade Federal de
fungos dermatófitos (Trichophyton rubrum coólicos das folhas secas da planta e, no Santa Catarina (UFSC). Os estudos pré-
e Trichophyton mentagrophytes) e Candida decorrer das pesquisas, verificou-se que a clínicos envolveram testes farmacológicos
(C. albicans, C. parapsilosis e C. krusei) atividade anti-inflamatória estava relacio- e toxicológicos em laboratório e depois em
pela técnica de halo de inibição de cresci- nada, principalmente, com a presença de camundongos, seguindo rigorosamente as
mento em placa de Petri. Os resultados con- compostos químicos de baixa polaridade, diretrizes do Conselho Nacional de Saúde
firmaram o uso popular em dermatomicoses, os quais poderiam estar presentes no óleo (CNS) e da Anvisa. Os estudos clínicos
pois houve inibição de crescimento de T. essencial. Assim, iniciou-se o estudo do foram conduzidos pelo Departamento de
rubrum e T. mentagrophytes (FONSECA; óleo essencial das folhas frescas, obtido Ortopedia da Universidade Federal do
COSTA; CASALI, 2006). por hidrodestilação em sistema do tipo Estado de São Paulo (Unifesp), Unicamp
Clevenger (escala de laboratório), e, após e pela Faculdade de Medicina da Pontifícia
ÓLEO ESSENCIAL DE CORDIA confirmação de sua atividade farmacológi- Universidade Católica de Campinas (PUC
VERBENACEA DC.: PRIMEIRO ca, esse óleo foi extraído em maior escala Campinas).
FITOMEDICAMENTO por arraste a vapor e analisado
��������������������
por croma- Para identificação dos compostos
PRODUZIDO NO BRASIL tografia a gás acoplada a espectrometria de ativos, foi realizado um estudo fito-
A espécie Cordia verbenacea DC. massa – cromatografia a gás-espectrometria químico biomonitorado, por meio de
(Boraginaceae) é conhecida popularmen- de massa (CG-EM). Utilizando a CG-EM, ensaios de atividade farmacológica.
te como erva-baleeira, maria-milagrosa, foi possível identificar os principais cons- A fração química mais ativa continha
salicina, baleeira-cambará, camaradinha, tituintes químicos do óleo: monoterpenos maior quantidade de alfa-humuleno,
caraminha, caramoneira-do-brejo, catinga- (alfa-pineno e 1,8-cineol) e sesquiterpenos 1,8-cineol e trans-cariofileno (SANTOS
preta ou, em inglês, black sage. É utilizada (trans-cariofileno, alfa-humuleno, espatulenol et al., 2007). Esses compostos foram
há séculos por caiçaras do litoral paulista e alomadrendeno) (CARVALHO JÚNIOR et testados separadamente, indicando que
na forma de decocto e garrafada (infusão al., 2004). o alfa-humuleno (Fig. 2) era o principal
medicinal da planta), para tratar contusões, Os estudos de cultivo da planta (do- responsável pela atividade anti-inflama-
processos inflamatórios e como cicatrizan- mesticação), obtenção do óleo essencial tória, e que atuava bloqueando a enzima
te. É uma espécie autóctone encontrada e identificação química dos constituintes ciclo-oxigenase 2, presente no metabo-
no Brasil, principalmente nas restingas foram realizados por pesquisadores do lismo das prostaglandinas (substâncias
marítimas do litoral dos estados de São Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Quí- envolvidas nos processos inflamatórios
Paulo até Santa Catarina. C. verbenacea micas Biológicas e Agrícolas (CPQBA) e seus sintomas).
é um arbusto perene, muito ramoso, que
cresce de 1,5 a 2,5 m de altura, com folhas
aromáticas que, quando maceradas, exalam
um cheiro forte proveniente do seu óleo
essencial. CH3
Os primeiros estudos científicos com
essa planta foram realizados por Sertié H3C CH3
et al. (1991), que investigaram a ação
anti-inflamatória e isolaram a artemitina,
composto ativo da classe dos flavonoides.
No final dos anos 90, o Laboratório
Farmacêutico Aché iniciou trabalhos com
plantas medicinais e organizou um grupo
de pesquisa com profissionais de várias H3C
áreas da ciência e universidades brasileiras,
a fim de viabilizar a produção de fitomedi-
camentos no Brasil. Figura 2 - Estrutura do alfa-humuleno

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Plantas medicinais e aromáticas 45

Os estudos agronômicos e químicos Acheflan® (alfa-humuleno) (ACHEFLAN, via oral estão em fase de conclusão e os
foram realizados em conjunto, levando 2009?). resultados são promissores (PASSOS et
em consideração não apenas seu aspecto Os estudos clínicos envolveram cerca al., 2007), evidenciando que a adminis-
morfológico externo, mas principal- de 700 pacientes, em três fases. Na fase I, tração oral do óleo essencial apresenta
mente sua composição química, o que o produto foi testado em cerca de 290 vo- um pronunciado efeito anti-inflamatório
possibilitou selecionar as plantas mais luntários sadios, na fase II, em torno de 90 em diversos modelos de inflamação,
ricas em alfa-humuleno (REHDER et pacientes portadores de tendinites crônicas tanto em ratos quanto em camundongos,
al., 2004). e de dor miofascial (muscular). Na fase III possivelmente por interferir com a expres-
Apesar de a erva-baleeira ser muito analisou-se a eficácia do Acheflan®, em são da citocina TNFa. Os sesquiterpenos
aromática, o teor de óleo essencial é baixo comparação ao medicamento-padrão, no alfa-humuleno e trans-cariofileno podem
(cerca de 0,15% de rendimento), sendo caso o diclofenaco dietilamônico, e teve o ser os principais compostos responsáveis
necessários aproximadamente 800 kg da envolvimento de 340 pessoas, divididas em por esses efeitos. Em seguida, Medeiros et
planta para obter 1 L de óleo essencial. A dois grupos, de acordo com as patologias: al. (2007) e Fernandes et al. (2007) eluci-
fim de caracterizar a variação dos rendi- tendinite crônica e dor miofascial. Por um daram os principais mecanismos de ação
mentos do óleo essencial e determinar a mês, os pacientes foram analisados em do alfa-humuleno e do trans-cariofileno.
época de colheita e a composição química, estudo randomizado, em que os medica- Se os estudos clínicos comprovarem os
foram realizados estudos mensais, durante mentos eram utilizados na versão tópica resultados obtidos nos ensaios pré-clínicos,
um ano. Os melhores rendimentos de óleo três vezes ao dia. nos próximos anos poderá ser lançada no
essencial foram observados nos meses Os resultados mostraram que o mercado uma formulação, de uso interno,
mais chuvosos e quentes do ano, enquanto Acheflan ® era tão eficaz quanto o di- contendo o óleo essencial de erva-baleeira.
os marcadores químicos não apresentaram clofenaco dietilamônico no tratamento
variações significativas entre si e nem nas da tendinite e da dor miofascial. Mesmo CONSIDERAÇÕES FINAIS
épocas do ano, indicando que os melhores sem relevância estatística significativa,
meses para colheita seriam entre dezembro os dados obtidos também mostraram A etnofarmacologia possibilita grandes
e abril, evitando os meses entre julho e uma melhor tolerância no grupo tratado avanços nas pesquisas com plantas medi-
setembro, por causa do baixo rendimento com o alfa-humuleno, especialmente cinais, diminuindo investimentos, direcio-
de biomassa da planta. quando analisada em relação à ausência nando ensaios simples e de baixo custo, os
No Campo Experimental do CPQBA, dos relatos de efeitos adversos, como quais permitem verificar o uso terapêutico
em Paulínia, SP, foram cultivados 12 hec- complicações gastrointestinais e reações dessas plantas pelas comunidades tradi-
tares de erva-baleeira, sendo as colheitas alérgicas locais. Já algumas pessoas trata- cionais. Além disso, pode contribuir para
realizadas três vezes ao ano, a fim de aten- das com diclofenaco relataram a ocorrência o desenvolvimento de novas formulações
der à produção de óleo essencial para as de dores estomacais e reações dermatoló- farmacêuticas fitoterápicas.
diferentes fases de estudo e de lançamento gicas locais, como alergia, vermelhidão e O desenvolvimento do primeiro fitome-
do produto. O processamento das folhas irritação (CIÊNCIA..., 2006). dicamento anti-inflamatório, Acheflan®,
frescas da erva-baleeira foi realizado até Depois de cumpridas todas as eta- de uso tópico, desenvolvido totalmente no
2009, no CPQBA, onde foi montada uma pas dos testes pré-clínicos e clínicos, o Brasil a partir do óleo essencial de Cordia
estrutura composta basicamente por duas Laboratório Aché entrou com o pedido verbenacea, é um exemplo a ser seguido.
dornas de destilação (de 1.500 L cada), de registro na Anvisa, do Acheflan ® , Sendo a C. verbenacea uma planta medi-
um condensador e um vaso separador, para tratamento de tendinites e dor cinal nativa, sua domesticação é um ponto
para extração do óleo em escala industrial. miofascial. Após aprovação da Anvisa, importante a ser considerado na cadeia
Nos últimos anos, outras unidades de o produto passou a ser comercializado produtiva, pois permite a padronização
cultivo e extração do óleo essencial foram na forma de creme e, mais recentemente, da matéria-prima e, consequentemente, a
instaladas no Brasil sob responsabilidade como aerosol. Neste ponto, cabe ressal- produção de um fitoterápico de qualidade.
da Centroflora. tar a necessidade da proteção dos novos Estudos químicos biomonitorados por
Foram necessários sete anos de estudo, fitomedicamentos gerados pelo registro meio dos ensaios de atividade farmaco-
mais de R$15 milhões de investimentos de patentes, o que pode ser observado no lógica, que identifiquem e quantifiquem
em pesquisa, parcerias com importantes site do Instituto Nacional de Propriedade os compostos ativos da planta, estudos de
universidades nacionais e com pesquisado- Industrial (Inpi). formulação do fitomedicamento e estudos
res de renome internacional até chegar ao Outros estudos para utilização do óleo farmacológicos pré-clínicos e clínicos
primeiro medicamento 100% nacional: o C. verbenacea como fitomedicamento por garantem a eficácia do produto.
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Plantas medicinais e aromáticas 47

Melhoramento genético de plantas


medicinais nativas do Brasil
Cláudio Lúcio Fernandes Amaral 1
José Emílio Zanzirolani de Oliveira 2

Resumo - O melhoramento genético de plantas medicinais no Brasil é norteado por


processos convencional e biotecnológico e focado nos componentes do metabolismo
secundário com ação farmacológica e nas partes vegetais que os produzem. Torna-
se importante o conhecimento básico das espécies de interesse, o que é feito pela
caracterização da diversidade genética, bem como a domesticação das espécies e a
seleção de indivíduos promissores. O material selecionado deve ser mantido in vivo/
in vitro, visando difusão e novos avanços de macro e micropropagação. Espécies de
interesse comercial detêm avanços no processo de melhoramento com o objetivo de
garantir aumento de qualidade e de produtividade. Espécies nativas são destacadas,
utilizando, como planta-modelo de melhoramento genético, a espinheira-santa
(Maytenus sp.).

Palavras-chave: Planta medicinal. Espinheira-santa. Maytenus. Caracterização da


variabilidade. Conservação de germoplasma. Melhoramento clássico. Melhoramento
moderno.

INTRODUÇÃO há pouca ou mesmo falta literatura dispo- maitenina e derivados, empregados na


nível acerca do melhoramento genético de normalização das funções gastrointes-
Com os altos índices de doenças existen-
espécies com propriedades terapêuticas, tinais, especialmente como protetores
tes que afligem a humanidade e o aumento
sobretudo no que diz respeito às nativas contra úlceras e gastrites, sendo encon-
do número de patógenos resistentes que
em detrimento das exóticas. trada, predominantemente, na Região Sul
debelam a saúde e o bem-estar humanos, a
Pesquisas com espécies exóticas do Brasil, podendo ocorrer também em
dependência para com os efeitos terapêu-
ticos das plantas torna-se evidente. Assim, ainda se sobressaem às plantas nativas. outras regiões (MAGALHÃES, 2002).
é óbvio obter variedades de plantas que Diferentemente das exóticas, as nativas, É preciso incentivar a utilização
possuam alto rendimento de substâncias em sua maioria, não são cultivadas, sendo sustentável, bem como a conservação
desejadas, bem como manter estas substân- obtidas por processos de extrativismo racional das plantas medicinais, pois estas
cias em níveis conhecidos, a fim de ajudar em praticamente todas as formações podem-se tornar o arsenal terapêutico,
no doseamento, quando da sua aplicação vegetais brasileiras. Existem espécies com a devida importância científica,
farmacológica. que têm grande valor comercial, sen- para o equilíbrio da saúde da população.
O melhoramento das plantas medici- do consumidas em grande escala nos Para ilustrar o estado da arte do melho-
nais tem contribuído para o bem-estar da mercados interno e externo. Para estas, ramento de espécies medicinais nativas
humanidade, reintegrando o homem a um iniciou-se o cultivo, mesmo que ainda de do Brasil, foi selecionada, como modelo,
modo de vida mais natural e harmônico. É maneira tímida. Nessa lista, encontra-se a espinheira-santa (Maytenus ilicifolia e
inegável a atração que essa situação apre- a espinheira-santa (SCHEFFER; MING; Maytenus aquifolia). Porém, enfatiza-se
senta para a natureza humana. No Brasil, ARAÚJO, 1999), planta produtora de que outras ervas genuinamente brasilei-

1
Biólogo, D.Sc., Prof. Tit. UESB - Depto. Ciências Biológicas, CEP 45200-000 Jequié-BA. Correio eletrônico: geneticamaralclfuesb@bol.com.br
2
Biólogo, D.Sc., Prof. IF Sudeste MG - Campus Barbacena, CEP 36205-018 Barbacena-MG. Correio eletrônico: jezoliveira@yahoo.com.br

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ras, a exemplo de macela (Achyrocline A análise cariotípica em células meió- Sistema reprodutivo
satureioides), mentrasto (Ageratum ticas/mitóticas possibilita a identificação
A reprodução, característica funda-
conyzoides), ipecacuanha (Cephaelis dos polimorfismos cromossômicos nu-
mental dos seres vivos, tem por finalidade
ipecacuanha), alecrim-pimenta (Lippia méricos ou estruturais entre os cariótipos
a perpetuação dos organismos, de modo
sidoides), guaco (Mikania glomerata), e a descrição da homologia cariotípica
que os descendentes assemelham-se aos
jaborandi (Pilocarpus jaborandi) e em cultivares ou espécies, fornecendo
ascendentes, porém há possibilidade de
estévia (Stevia rebaudiana), devem ser informações relevantes, tais como: al- ocorrer variações que permitam adap-
mais estudadas, a fim de aproveitar melhor terações cromossômicas, taxa de fertili- tações. Existem dois tipos básicos de
a imensa biodiversidade existente no País dade, problemas no reconhecimento dos reprodução: sexuada e assexuada. Em
(AMARAL; OLIVEIRA; CASALI, 1999). homólogos, não disjunção cromossômica geral, na reprodução sexuada, a prole é
nas anáfases, geração de gametas aneu- geneticamente diferente dos parentais e,
MELHORAMENTO GENÉTICO ploides, porcentual dos genomas parentais na reprodução assexuada, a prole é geneti-
nos híbridos, etc. Esses dados podem ser camente igual aos parentais. A espinheira-
Domesticação inclusos nos esquemas de cruzamentos, santa pode reproduzir-se tanto de modo
Nos últimos tempos, o intenso extra- o que contribui na pré-seleção de linha- sexuado, quanto assexuado.
tivismo provocou reduções drásticas de gens progenitoras ou, ainda, determina o No melhoramento, busca-se, com a re-
espécies em seus locais de ocorrência. porcentual de genomas parentais nos indi- produção sexuada, a variabilidade genética
Uma estratégia de conservação e obten- víduos híbridos (AMARAL; OLIVEIRA; que é explorada na tentativa de selecionar
ção de matéria-prima é o cultivo dessas CASALI, 1999). genótipos superiores em detrimento dos in-
espécies, o que requer estudos sobre as Dessa forma, a indicação de paren- feriores. Para fixar os genótipos desejáveis,
formas de propagação (SCHEFFER; tais favoráveis a hibridações pode ser usa-se a reprodução assexuada, no intuito
MING; ARAÚJO, 1999). auxiliada pelo uso de parâmetros citoge- de evitar a perda dos caracteres-alvo, via
A espinheira-santa vem passando do néticos. Maytenus ilicifolia apresenta-se recombinação de genes durante a forma-
estádio de espécie silvestre para cultivada, com n = 32. Também são encontradas ção dos gametas na meiose (AMARAL;
sendo que suas sementes representam a populações com n = 35 ou n = 40, o OLIVEIRA; CASALI, 1999).
forma mais viável de propagação. Apesar que demonstra a ampla variação cro- O estudo da biologia floral e dos
de a maior parte de cultivos atuais de mossômica dessa espécie (LUNARDI; mecanismos reprodutivos das espécies
espinheira-santa ser formada a partir de
SCHIFINO-WITTMANN; BARROS, vegetais é de fundamental importância no
plântulas coletadas em remanescentes
2004). melhoramento genético de plantas, pois
florestais (MAGALHÃES et al., 1991), a
Assim, o conhecimento citogenético permite definir métodos de melhoramento
crescente demanda de comércio das folhas
é importante, pois permite evitar a redu- mais apropriados, conforme autógamas ou
é porta aberta ao comércio de propágulos,
ção da fertilidade por polinização entre alógamas e, ainda, os detalhes da execução
que poderão subsidiar futuras áreas de
citótipos distintos, e possibilita ampliar a dos programas de melhoramento. Além de
cultivo sistematizado da espécie.
variabilidade genética, via recombinação definir estratégias adequadas de melhora-
Citogenética gênica, pelo cruzamento entre materiais mento, o conhecimento da biologia floral
viáveis. e dos mecanismos reprodutivos permite
A caracterização genética de diferen-
compreender melhor sua história evolutiva
tes acessos de bancos de germoplasma Pré-requisito do e os mecanismos envolvidos (AMARAL;
constitui importante fonte de dados para melhoramento OLIVEIRA; CASALI, 1999).
melhoristas, uma vez que permite melhor
No melhoramento genético de plantas A espinheira-santa possui sistema
gerenciamento do pool gênico, bem como
considera-se como pré-requisito o conhe- reprodutivo misto, mas a alogamia so-
uma seleção mais eficiente dos recursos
cimento prévio do modo de reprodução da bressai à autogamia (SCHEFFER, 2001;
genéticos, facilitando a detecção da varia-
STEENBOCK, 2003). A autofecundação
bilidade genética para fins de biotecnologia espécie que se quer melhorar, pois ao pla-
permite a formação de linhagens e a fe-
e/ou fitomelhoramento. O estudo citogené- nejar qualquer programa de melhoramento,
tico em espécies de importância econômica o desafio que surge ao melhorista refere-se cundação cruzada de híbridos.
pode contribuir de forma significativa nas ao entendimento da biologia floral e dos
Variabilidade genética
etapas que antecedem os cruzamentos mecanismos reprodutivos e à existência ou
de linhagens parentais nos Programas de não da variabilidade genética (AMARAL; A variabilidade genética constitui fonte
Melhoramento Genético. OLIVEIRA; CASALI, 1999). primária dos estudos genéticos, entretan-
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Plantas medicinais e aromáticas 49

to, sem a qual não seria possível ocorrer produzidas pela natureza. Após a coleta transferidos a outro, para formação das
adaptações e evolução nas espécies, bem representativa da variabilidade existente da raízes, obtendo-se plantas inteiras. Estas
como melhoramento genético, pois a espécie em estudo, avalia-se o comporta- são cultivadas no laboratório em substrato
sua não-existência conduz à ausência de mento dessas combinações, colocando-as de aclimatação e, subsequentemente, le-
combinações gênicas favoráveis e/ou des- sob as mesmas condições ambientais. Esse vadas à casa de vegetação antes de serem
favoráveis. Não havendo o que selecionar, processo permite conhecer as diferenças transferidas para o campo em definitivo.
consequentemente, o melhoramento torna- genéticas entre as plantas, pois o ambiente Dentre as principais funções da técnica
se impraticável. Portanto, o sucesso de é igual. Parâmetros que podem variar por de cultura de tecidos cabe dar ênfase, se-
um programa de melhoramento depende diferenças genéticas são: porte, capacida- gundo Amaral, Oliveira e Casali (1999), à
da variabilidade genética dos progenito- de de rebrota, rendimentos de biomassa e produção de:
res envolvidos (AMARAL; OLIVEIRA; princípios ativos (STEENBOCK, 2003).
a) clones, ou seja, material homo-
CASALI, 1999). No Brasil, existe em andamento,
gêneo, em larga escala, de rápida
A variabilidade genética dessa espécie no Centro Pluridisciplinar de Pesqui-
propagação, livres de patógenos,
foi determinada por meio de marcadores sas Químicas, Biológicas e Agrícolas
vigorosos e produtivos;
bioquímicos (STEENBOCK, 2003) e mo- (CPQBA) da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), o programa de b) híbridos, por hibridação somática,
leculares (BITTENCOURT, 2000). Além
melhoramento genético via seleção para por meio de fusão de protoplastos;
da genotípica, a caracterização fenotípica
também foi determinada com base em os caracteres supracitados em Maytenus c) haploides;
marcadores agromorfológicos. Alguns ilicifolia (MAGALHÃES, 2002). Um d) mutantes portadores de caracteres
desses caracteres permitem diferenciar dos métodos mais utilizados é a “seleção desejáveis, por meio do uso de agen-
as espécies de Maytenus umas das outras massal”, no qual as plantas indesejáveis tes mutagênicos ou por variação
(CARVALHO-OKANO, 1992). Em recur- são retiradas da população, promovendo somaclonal;
sos fitogenéticos, em que normalmente são cruzamentos somente entre as melhores e) plantas-biorreatores;
identificados, caracterizados e conservados plantas. Esse tipo de seleção pode-se dar
f) plantas geradoras de vacinas;
muitos acessos, essa ferramenta é bas- em várias fases, como na germinação,
tante útil para agrupar acessos similares na formação de mudas, no cultivo e nas g) conservação de germoplasma ve-
ou distintos e otimizar o trabalho dos avaliações finais de rendimentos. Em getal por criopreservação ou por
melhoristas. todas essas oportunidades de avaliação, é manutenção do material vegetal
possível descartar plantas e ficar com as durante períodos prolongados, sob
Melhoramento clássico melhores combinações gênicas. O ganho condições limitantes de crescimento
de qualidade é substancial, quando se parte e desenvolvimento;
Na maioria das espécies medicinais, a
seleção ainda está por realizar. Na prática, do estado selvagem, e a velocidade do h) biotransformação de compostos
o quadro que se tem de plantas na condi- processo dependerá do ciclo da espécie. pouco interessantes em muito inte-
ção selvagem é a somatória das diferenças Estudos de genética de populações ressantes sob aspecto econômico.
genéticas e ambientais, sem que se saiba têm fornecido subsídios à conservação, Essa técnica permite interferir nas rotas
o que é genético e o que é ambiental. manejo, cultivo e melhoramento de es- metabólicas vegetais pelo cultivo de plantas
As plantas em condição selvagem estão pécies nativas como a espinheira-santa em meio com agentes estressantes, elici-
livres para se cruzarem aleatoriamente, (Maytenus aquifolia e Maytenus ilicifolia), tores e mutagênicos, afetando qualitativa
o que resulta em inúmeras combinações orelha-de-gato (Hypericum brasiliense) e quantitativamente os princípios ativos
gênicas, algumas interessantes, outras e ginseng-do-brasil (Pfaffia glomerata) produzidos, alterando composição e/ou teor
não, conforme o enfoque de interesse. (PERECIN; BOVI; MAIA, 2002). (AMARAL; OLIVEIRA; CASALI, 1999).
Essa fonte de variabilidade é, portanto, Em Maytenus ilicifolia, a produção de triter-
Melhoramento moderno
de enorme valor prático, pois permite penos quinonametídeos foi 100 vezes maior
desenvolver plantas adaptadas para condi- A cultura de tecidos consiste em sele- no sistema in vitro, se comparado à planta in
ções específicas (AMARAL; OLIVEIRA; cionar explantes, fazer sua desinfestação, natura (BUFFA FILHO et al., 2002).
CASALI, 1999). cultivar em meio nutritivo mantido sob Na espinheira-santa, a micropropagação
No trabalho de melhoramento, um condições assépticas, sendo a multipli- via cultivo in vitro tem sido utilizada para a
dos primeiros passos é a coleta da espécie cação dos propágulos feita por meio de produção de material vegetal em larga esca-
nos distintos locais onde ocorre, visando sucessivos subcultivos em meio próprio. la, tanto em Maytenus aquilifolia (PEREIRA
obter o máximo de combinações gênicas Os brotos desenvolvidos em um meio são et al., 1994), quanto em Maytenus ilicifolia
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50 Plantas medicinais e aromáticas

(PEREIRA et al., 1995). O interessante é A conservação de sementes de espi- Maytenus ilicifolia. Eclética Química, São
que, ao contrário de outros casos, as plantas nheira-santa pode ser feita no campo ou em Paulo, v.27, p.403-416, 2002. Número espe-
micropropagadas tiveram produtividade laboratório. A produção de sementes desta cial.
similiar em fitomassa e o mesmo perfil quí- espécie, pelos agricultores (MARIOT; CARVALHO-OKANO, R. M. de. Estudos
mico das matrizes doadoras dos explantes. BARBIERI, 2006), possibilita medidas de taxonômicos do gênero Maytenus Mol.
A variabilidade genética dessas espécies, conservação in situ do tipo on farm. emend. Mol. (Celastraceae) do Brasil
um pré-requisito básico para qualquer No tocante à conservação ex situ, as extra-amazônico. 1992. 253f. Tese (Douto-
rado em Ciências) – Instituto de Biologia,
programa de melhoramento de plantas sementes de M. ilicifolia são classificadas
Universidade Estadual de Campinas, Cam-
via seleção, tem sido determinada por como ortodoxas, podendo ser estocadas a
pinas, 1992.
marcadores bioquímicos e/ou molecula- 20 °C por um longo período em câmara
res. Além da genotípica, a caracterização EIRA, M.T.S.; DIAS, T.A.B.; MELLO, C.M.C.
fria (EIRA; DIAS; MELLO, 1993). Essas
Conservação de sementes de espinheira-
fenotípica também foi determinada com mantêm alta capacidade de germinação por
santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss).
base em marcadores agromorfológicos 60 dias, tanto em condições de ambiente,
Horticultura Brasileira, Brasília, v.11, n.1,
(PERECIN; BOVI; MAIA, 2002). Ao se quanto em câmara seca (15 °C e 45% de p.70, maio 1993.
tratar de recursos fitogenéticos, normal- umidade relativa) ou na câmara fria (5 °C
LUNARDI, M.P.M.; SCHIFINO-WITTMANN,
mente são identificados, caracterizados e e 85% de umidade relativa). Depois de
M.T.; BARROS, I.B.I. Chromosome number
conservados muitos acessos. Assim, os 120 dias, a germinação das sementes da variability in the South American medici-
marcadores são muito úteis para agrupar câmara fria é superior a daquelas manti- nal plant Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss
acessos similares ou distintos e otimizar das sem condições de ambiente (ROSA; (Celastraceae). Cytologia, v.69, n.4, p.439-
o trabalho dos melhoristas na tomada de BARROS, 1997). 445, 2004.
decisão sobre as medidas de conservação a A utilização de tetrazólio, 0,25% e MAGALHÃES, P.M. de. Agrotecnologia
serem implantadas no intuito de preservar 30 °C, e a germinação sobre papel ou para o cultivo da espinheira santa. Campi-
a biodiversidade, como a criação do Ban- areia a 25 °C são igualmente adequadas nas: UNICAMP- CPQBA, 2002.
co de Germoplasma de espinheira-santa. para determinação da qualidade fisioló- _______. et al. Aspectos agronômicos
Verifica-se também a produção por parte gica das sementes (SCHEFFER et al., do cultivo em larga escala de Maytenus
de agricultores de sementes dessa espécie 1997). A melhor temperatura para ger- ilicifolia Mart. ex Reiss. (espinheira-san-
(MARIOT; BARBIERI, 2006). minação está entre 20 °C e 30 °C (ROSA; ta). Horticultura Brasileira, Brasília, v.9,
BARROS, 1997). n.1, p.44, 1991.
Produção de híbridos
_______. et al. Conservação da espécie
O cruzamento entre Maytenus ilicifolia, CONSIDERAÇÕES FINAIS Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss (Espinhei-
que produz, predominantemente, um tipo ra-santa) através da técnica de propagação
Por certo, no Brasil, o Programa de
de flavonoide, com Maytenus aquifolia, por sementes. Revista do Instituto Flores-
Melhoramento de Espécies Nativas ainda
que forma outro tipo, resultou no híbrido tal, São Paulo, v.4, p.519-522, mar. 1992. 2o
é incipiente, sendo que estudos de genética Congresso Nacional sobre Essências Nativas,
que acumula ambas as substâncias farma-
têm sido realizados para fornecer subsídios 1992.
cológicas (TIBERTI et al., 2007).
à conservação, manejo, cultivo e melhora-
MARIOT, M.P.; BARBIERI, R.L. Espinheira-
mento dessas espécies.
Conservação de santa: uma alternativa de produção para
germoplasma pequena propriedade. Pelotas: Embrapa Cli-
REFERÊNCIAS ma Temperado, 2006. 30p. (Embrapa Clima
Além da utilização de germoplasma, Temperado. Documentos, 177).
AMARAL, C.L.F.; OLIVEIRA, J.E.Z.; CASALI,
medidas de conservação foram tomadas V.W.D. Plantas medicinais e aromáticas: me- PERECIN, M.B.; BOVI, O.A.; MAIA, N.B.
no intuito de resgatar e preservar a di- lhoramento genético. Viçosa, MG: UFV, 1999. Pesquisa com plantas aromáticas, medici-
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BITTENCOURT, J.V.M. Variabilidade gené-
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Plantas medicinais e aromáticas 51

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Domesticação de plantas medicinais


Ilio Montanari Junior 1

Resumo - Muitas espécies medicinais brasileiras ainda se encontram em estado


selvagem. Há muitos problemas para cultivar essas plantas, pois não existem
variedades nem técnicas de cultivo estabelecidas. O meio ambiente é também afetado,
pois a demanda por essas plantas é geralmente suprida pelo extrativismo. Até mesmo
a produção de medicamentos fica comprometida, já que não se pode contar com
matéria-prima adequada para sua fabricação. A domesticação e a criação de cultivares
de plantas medicinais nativas são medidas que solucionariam esses problemas.
O valor intrínseco de uma planta medicinal está no seu efeito terapêutico e, para que
este seja adequadamente avaliado, profissionais de outras áreas deveriam participar
dos estudos agrícolas. A domesticação de plantas medicinais é, portanto, um tema
multidisciplinar. A seleção de espécies importantes da nossa flora dão início ao
processo de domesticação. Assim, essas plantas podem tornar-se novas opções
agrícolas, diminuindo o extrativismo e fornecendo às empresas de transformação da
matéria-prima quantidade, regularidade e qualidade adequadas.

Palavras-chave: Seleção. Planta medicinal. Melhoramento.

INTRODUÇÃO a) estudos biológicos; produção da matéria-prima em quantidade,


b) estudos químicos; regularidade e qualidade adequadas, para
O desenvolvimento de um fitoterápico,
c) estudos pré-clínicos; que o medicamento possa ser produzido e
ou seja, de um medicamento farmacêutico
d) estudos clínicos; comercializado.
obtido por processos tecnologicamente
As espécies medicinais brasileiras
adequados, empregando-se, exclusivamen- e) registro;
ainda se encontram em estado selvagem e
te, matérias-primas vegetais (ANVISA, f) mercado.
costumam apresentar ampla variabilidade
2010), precisa ser visto como um processo
Entretanto, não existe uma sequência genética. Variabilidade ou variação gené-
tecnológico. Para se chegar ao final deste
definida ou ordem a ser seguida entre as tica são diferenças, atribuídas a fatores
processo, deve-se trabalhar de forma in-
etapas a, b, c, e d, pois as informações herdáveis, entre indivíduos de uma mesma
terdisciplinar, envolvendo principalmente
geradas pelos progressos em cada fase das espécie (HOYT, 1992). A variabilidade
profissionais das áreas de química, farmá-
pesquisas fornecem subsídios para novos genética, que tem sua origem na ação
cia, medicina, biologia e agrícola. São os
profissionais dessas áreas, os responsáveis progressos em outras etapas (Fig. 1). As- combinada de mutação, recombinação,
por garantir desde a produção da matéria- sim, resultados conseguidos nos estudos alteração numérica e estrutural dos cro-
prima até o seu uso correto, trabalhando pré-clínicos com o extrato de uma planta mossomos, deriva genética, migração, iso-
conjuntamente para que medicamentos podem ser de grande ajuda, tanto para estu- lamento reprodutivo e adaptação, é a base
produzidos a partir de plantas possam ser dos químicos como para estudos agrícolas, da dinâmica do processo evolutivo. É por
usados com eficácia e, se possível, sem por exemplo. Da mesma maneira, resul- intermédio da variabilidade genética que a
riscos à saúde humana. Assim, para que tados provenientes da pesquisa química seleção natural atua e, em consequência, a
uma planta seja comercializada na forma podem ajudar a direcionar as pesquisas própria evolução pode acontecer.
de medicamento, cumprindo os requisitos biológicas, pré-clínicas e clínicas. O cultivo de uma espécie selvagem
exigidos pela legislação, devem ser respei- Esse processo completa-se com o desencadeará mudanças na estrutura ge-
tadas as seguintes etapas, segundo Di Stasi desenvolvimento da forma farmacêutica nética da população manejada, por meio
(1996) e Ferreira (1998): e do estabelecimento da tecnologia de das sucessivas gerações cultivadas. Essas

1
Eng o Agr o , M.Sc., Doutorando, Pesq. UNICAMP - CPQBA, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico: iliomj@cpqba.unicamp.br

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Plantas medicinais e aromáticas 53

quanto a características, como germinação,


Estudos biológicos Estudos químicos resistência a pragas e doenças, vigor, ciclo,
produtividade, porte, etc., além disso, o
produto obtido será quimicamente hetero-
gêneo. Por isso, a variabilidade genética
presente em populações selvagens, se
Estudos pré-clínicos Estudos clínicos não impossibilita, aumenta grandemente
as dificuldades de um cultivo. Por estas
razões, o objetivo inicial da domesticação
Registro Mercado é adaptar a população ao ambiente agrícola.
São centenas, talvez milhares, as espé-
Figura 1 - Etapas para a produção de um medicamento fitoterápico cies medicinais brasileiras, contudo, alguns
objetivos da domesticação são comuns a
mudanças são uma resposta evolutiva da ou atraente de insetos, protegendo contra todas estas espécies, tais como:
população, que antes estava sujeita às pres- doenças, herbivoria, radiação solar, etc. a) alta produtividade;
sões naturais de seleção e que sob cultivo (KHANNA; SHUKLA, 1990).
b) estabilidade produtiva;
está sujeita a pressões diferentes, causadas Os PA possuem funções ecológicas im-
c) homogeneidade da matéria-prima;
pelo homem. Muitas dessas mudanças são portantes para a sobrevivência da espécie e
involuntárias, como a perda da dormência são produzidos (quase todos) pelo metabo- d) ausência de compostos tóxicos;
das sementes, ou voluntárias, quando se lismo secundário das plantas (KHANNA; e) altos teores dos compostos químicos
buscam plantas mais próximas do ideal, SHUKLA, 1990), por isso são conhecidos de interesse;
como mais produtivas ou sem espinhos. também por metabólitos secundários. O f) resistência a fatores bióticos e abi-
Essas mudanças, desencadeadas pelo ato metabolismo secundário não é essencial óticos nocivos.
de cultivar, são uma consequência, um para o crescimento e desenvolvimento
Embora a produção de PA seja o obje-
reflexo da mudança da base genética da do indivíduo, mas é essencial para a
tivo final do cultivo de plantas medicinais,
população cultivada e do aumento do grau sobrevivência e continuidade da espécie
não se pode esquecer que esses estão con-
de parentesco entre as plantas dessa popu- dentro do ecossistema (MANN, 1987).
Portanto, o metabolismo secundário é res- tidos dentro da biomassa, seja casca, folha,
lação, o que consequentemente as torna
ponsável pelas relações entre o indivíduo raiz, etc. Portanto, a produção de biomassa
mais parecidas, mais homogêneas. A este
e o ambiente onde este se encontra e, por é também um objetivo importante na sele-
processo dá-se o nome de domesticação.
causa do seu caráter adaptativo, pode ser ção dessas plantas.
Normalmente, associada aos animais e en-
manipulado geneticamente (KHANNA; Outros aspectos importantes da seleção
tendida no dia a dia com o sentido de aman-
sar, a palavra domesticar pode ser usada SHUKLA, 1990). O fato de o metabo- são:
também em relação às plantas. De origem lismo secundário ser regido pelo código a) germinação uniforme;
latina, significa trazer para o domus, para genético e este interagir com o ambiente, b) amplitude ecológica (que pode ser
casa. Enquanto o cultivo relaciona-se tem grande importância na produção de cultivada em diferentes ambientes);
às atividades humanas na condução do plantas medicinais, pois a qualidade do
c) floração simultânea (os PA variam
processo agrícola, como adubação, poda, produto final é fortemente influenciada
de acordo com o estádio fisiológico
preparo do solo, irrigação, etc., a domes- pelas técnicas e pelo local adotado para sua
de cada indivíduo e, para muitas
ticação, por sua vez, está relacionada com produção e pelas características genéticas
espécies, o florescimento indica o
a resposta genética de plantas (ou animais) da população cultivada.
momento da colheita);
ao processo agrícola (HARLAN, 1975).
CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE d) resistência a pragas e a doenças;
O valor intrínseco de uma planta me-
dicinal está no seu efeito terapêutico. Este, PLANTAS MEDICINAIS e) arquitetura (plantas eretas são im-
por sua vez, é causado pelos princípios Uma ideia comum é que, se a planta portantes na condução do cultivo e
ativos (PA) presentes na planta. As funções nasce e cresce espontaneamente, então há no momento da colheita);
fisiológicas dos PA nas plantas ainda não de ser muito mais fácil fazê-la nascer e f) capacidade de enraizamento (no caso
estão inteiramente esclarecidas, mas a sua crescer sob cultivo. Esta ideia não é correta, de plantas de propagação vegetativa
produção está associada às relações entre pois a variabilidade genética existente entre como, Mikania glomerata (guaco),
a planta e o ambiente onde ela cresce, os indivíduos de uma população selvagem Pfaffia paniculata (ginseng-brasilei-
funcionando, por exemplo, como repelente vai-se expressar em diferenças individuais ro), Arrabidea chica (crajirú), etc.);
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54 Plantas medicinais e aromáticas

g) capacidade de rebrotar (no caso terapeuticamente mais eficientes. A biologia de reprodução influirá
de plantas das quais são coletadas Exemplos da interação entre genótipo e decisivamente na escolha do método de
as partes aéreas, como Maytenus ambiente podem ser observados nos Gráfi- seleção, pois os métodos de melhoramento
ilicifolia (espinheira-santa), Stevia cos 1 e 2 e na Figura 2, onde são mostradas são basicamente dependentes da natureza
rebaudiana (estévia), Baccharis diferenças farmacológicas e químicas em da reprodução da espécie a ser melhorada.
trimera (carqueja), etc.); plantas que cresceram num mesmo am- Uma espécie alógama apresenta grande
h) precocidade. biente, tinham a mesma idade e tiveram o quantidade de genes em heterozigoze,
mesmo tratamento pós-colheita. Como o enquanto que nas espécies autógamas os
INTERDISCIPLINARIDADE NA ambiente (A) onde se desenvolveram era o genes encontram-se em homozigoze. O
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS mesmo, podem-se atribuir essas diferenças objetivo do melhorista, no caso de plantas
MEDICINAIS (F) às diferenças genéticas (G) entre essas autógamas, é o de substituir alelos, en-
Quando se trata do cultivo de plantas plantas, pois F = G + A. Apesar de ser quanto que no caso das plantas alógamas,
medicinais, o importante não é somente a pouco usual na representação do fenótipo, o melhorista tenta aumentar a frequência
biomassa produzida, mas principalmente resultados dos ensaios farmatológicos são dos alelos favoráveis por meio da seleção
o teor de PA obtido (PA/área/tempo). de grande valia na domesticação de plantas. de genótipos considerados superiores (NO-
No entanto, nem sempre se conhecem DARI; GUERRA, 1999). No entanto, em
as moléculas responsáveis pelo efeito ASPECTOS DA plantas autógamas, se o melhorista optar
EXPERIMENTAÇÃO AGRÍCOLA por explorar a variabilidade existente, então
terapêutico da grande maioria das plantas
medicinais brasileiras, o que dificulta o Uma vez definidos os objetivos iniciais seu objetivo será a seleção de linhas puras.
direcionamento da domesticação pelo da domesticação, é preciso propor um Deve-se buscar uma alta resposta à
monitoramento químico. Entretanto, as método de seleção, por meio do qual estes seleção, de maneira rápida e com baixo
pesquisas químicas e farmacológicas são objetivos sejam alcançados. Para que se custo. A resposta à seleção (R) é conse-
ótimas aliadas no processo de escolha de possa escolher e conduzir eficientemente quência direta da intensidade de seleção (i),
genótipos promissores, pois seus resulta- métodos de melhoramento, informações da variabilidade da população selecionada
dos refletem a interação do genótipo (G) a respeito das condições naturais de onde (σ) e da herdabilidade da característica sob
com o ambiente (A), ou seja, o fenótipo a planta ocorre, estudos da biologia de seleção (h2) e pode ser representada pela
(F), pois F = G + A. Mesmo não conhecen- reprodução da espécie são necessários, fórmula R = i*σ*h2. A resposta à seleção é,
do os PA de determinada espécie, ajudados bem como a descrição da variabilidade portanto, consequência da herdabilidade da
por ensaios farmacológicos e fixando o entre e dentro de populações selvagens característica a ser melhorada e da variabi-
ambiente onde a planta se desenvolveu, e a herdabilidade das características de lidade existente. A intensidade de seleção
pode-se direcionar a seleção para plantas interesse (JAIN, 1983). dependerá da escolha do melhorista e de

Gráfico 1 - Atividade anticâncer em cultura de células tumorais humanas do extrato das folhas de dois indivíduos de Smilax brasiliensis
(salsaparrilha)
NOTA: Gráficos cedidos por João E. de Carvalho, Unicamp-CPQBA-Divisão de Farmacologia.
Linhagens de células tumorais: VACC6 - Melanona; MCF - Mama; NCI46 - Pulmão; K56 - Leucemia; OVCA - Ovário; PCO -
Próstata; HT2 - Cólon; NCIAD - Ovário (resistente à múltiplas drogas).

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Plantas medicinais e aromáticas 55

todo para plantas selvagens, porque, além


de simples, é eficiente na exploração de
populações com grande variância genética
e serve tanto para plantas autógamas como
para alógamas. Já a formação de clones,
por propagação vegetativa tradicional
ou por cultura de tecidos, é também um
método simples e rápido na formação de
populações superiores, pois para isso basta
explorar diretamente a variabilidade gené-
tica existente em populações selvagens,
selecionando-se as plantas mais adequadas
aos objetivos do cultivo (PANK, 2006).
Outras técnicas, podem ser usadas,
como a mutação induzida, como forma de
Gráfico 2 - Cromatogramas de extratos de dois genótipos de Mikania laevigata (guaco) ampliar a variabilidade; o uso de marcado-
NOTA: Cromatogramas cedidos por Adilson Sartoratto, Unicamp-CPQBA-Divisão de res moleculares, como forma de analisar
Química Orgânica e Analítica.
a variabilidade genética entre e dentro de
populações; e a criação de plantas trans-
gênicas, incorporando de imediato carac-

Ilza Maria de Oliveira Sousa - Unicamp-CPQBA-Divisão de Fitoquímica


terísticas desejáveis a uma espécie. Mas a
grande variabilidade genética das plantas
medicinais brasileiras pode ser diretamente
explorada e expressivos progressos podem
ser conseguidos com poucos ciclos de
seleção e métodos simples.
Os experimentos fitotécnicos também
são importantes no desenvolvimento de
uma cultivar. Não se pode esquecer que
domesticar é colocar em cultivo, portanto,
as técnicas de cultivo devem ser estudadas
concomitantemente à seleção. Entretanto,
é preciso ter cuidado com experimentos
agrícolas que envolvam plantas selvagens,
pois a precisão experimental dos estudos
fitotécnicos, como espaçamento, produtivi-
Figura 2 - Teste de coloração de extratos de clones de Arrabidaea chica
dade, adubação, etc., pode ser prejudicada
por causa da variabilidade existente, uma
seu conhecimento sobre a população que daquela causada por motivos ambientais. vez que esta pode elevar o coeficiente de
está sendo melhorada. A importância econômica da espécie variação do experimento, se não houver o
A herdabilidade, que é a fração da também deve ser considerada na escolha número adequado de plantas na parcela e
variância fenotípica atribuída à variância do método de melhoramento, pois os in- de repetições. Como são escassas as infor-
genética, indica em que escala uma caracte- vestimentos financeiros de um programa mações sobre ensaios agrícolas anteriores,
rística pode ser influenciada pelo ambiente. de melhoramento podem ser altos. Uma devem-se fazer os primeiros ensaios com o
Variações quantitativas, como biomassa e espécie de pouco valor comercial dificil- maior número de plantas dentro da parcela
teores de PA, são regidas por muitos genes mente justifica a escolha de um método e o maior número de repetições possível.
e, por isso, são fortemente influenciadas complexo. Outra consideração sobre os estudos agrí-
pelas condições ambientais. Portanto, para Por estas razões, a seleção massal e a colas é que suas conclusões só são válidas
conhecer a herdabilidade de uma caracte- seleção clonal são técnicas adequadas para para o ambiente onde foi conduzido o ex-
rística, é preciso separar componentes da iniciar o processo de domesticação de uma perimento e apenas para aquela população,
variância causada por motivos genéticos espécie. A seleção massal é um bom mé- não para a espécie.
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56 Plantas medicinais e aromáticas

CONSIDERAÇÕES FINAIS agricultor uma nova opção agrícola. É a O fato de não se conhecer quais as
falta de opções agrícolas economicamente moléculas responsáveis pelo efeito te-
Se hoje a humanidade se sustenta gra-
viáveis que estimula a agricultura malfeita, rapêutico, não impede que seja feita a
ças aos produtos que vêm da agricultura,
aquela que exaure o ambiente, tornando-o seleção com as plantas medicinais ainda
isto se deve ao trabalho de domesticação
improdutivo. não domesticadas. Ao contrário, a seleção
feito de maneira inconsciente, apesar de
O cultivo de plantas medicinais garante pode contribuir para avanços nos estudos
voluntária, desde os primórdios da agri-
a qualidade da matéria-prima, porque químicos e farmacológicos ao fornecer
cultura até o começo do século 20, quando
permite que se controle o ambiente, as amostras homogêneas, o que possibilita a
então os mecanismos genéticos passaram
características genéticas da população replicabilidade desses ensaios.
a ser conhecidos e a domesticação passou
sob cultivo, o estágio de desenvolvimento
a ser feita conscientemente. Com o co-
das plantas no momento da colheita e REFERÊNCIAS
nhecimento da genética e das ferramentas
as operações de pós-colheita, que são os
estatísticas na experimentação agrícola, ANVISA. Resolução RDC no 14, de 31 de
quatro fatores que influenciam o padrão março de 2010. Dispõe sobre o registro de
o processo de domesticação passou a ser
de uma matéria-prima vegetal. Além disso, medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial
mais rápido.
o cultivo garante a produção do produto [da] República Federativa do Brasil, Brasí-
Domesticar plantas medicinais é uma lia, 5 abr. 2010.
acabado, pois as empresas que transfor-
maneira de preservar a natureza, pois
marão a matéria-prima em medicamento DI STASI, L.C. Conceitos básicos na pes-
alivia a pressão ecológica causada pelo quisa de plantas medicinais. In: ________.
podem prever que quantidade, regularidade
extrativismo. Uma nova espécie que (Org.). Plantas medicinais - arte e ciência:
e padrão de matéria-prima irão trabalhar.
entra num sistema agrícola não compete um guia de estudo multidisciplinar. São
Uma visão geral dos estudos e as etapas Paulo: UNESP, 1996. cap.2, p.29-35.
com a natureza por espaço, por novas
importantes para a criação de uma cultivar
áreas de cultivo, ao contrário, oferece ao FERREIRA, S.H. (Org.). Medicamentos a
são apresentadas na Figura 3. partir de plantas medicinais no Brasil. Rio
de Janeiro: Academia Brasileira de Ciên-
cias, 1998. 141p.
HARLAN, J.R. Crops and man. Madison:
American Society of Agronomy, 1975. 295p.
HOYT, E. Conservação dos parentes silves-
tres das plantas cultivadas. Roma: IBPGRI:
IUCN: WWF, 1992. 52p.
JAIN, S.K. Domestication and breeding of
new crop plants. In: WOOD, D. R.; RAWAL,
K.M.; WOOD, M.N. (Ed.). Crop breeding.
Madison: American Society of Agronomy:
Crop Science Society of America, 1983.
cap.9, p.1-20.
KHANNA, K.R.; SHUKLA, S. Genetics of
secondaire plant products and breeding
for theyr improved content and modified
quality. In: KHANNA, K. R. Biochemical
aspects of crop improvement. Boca Raton:
CRC Press, 1990. p.283-323.
MANN, J. Secondary metabolism. Oxford:
Claredon Press, 1987. 374p.
NODARI, R.O.; GUERRA, M.P. Biodiversida-
de: aspectos biológicos, geográficos, legais
e éticos. In: SIMÕES, C.M.O. et al. (Org.).
Farmacognosia: da planta ao medicamento.
Porto Alegre: UFRGS; Florianópolis: UFSC,
1999. cap.1, p.11-24.
PANK, F. Adaptation of medicinal and aro-
matic plants to contemporary quality and
technological demands by breeding: aims,
methods and trends. Revista Brasileira de
Plantas Medicinais, Botucatu, v.8, p.39-42,
Figura 3 - Esquema para chegar a cultivares a partir de populações selvagens 2006. Número especial.

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Plantas medicinais e aromáticas 57

Orientações gerais para cultivos orgânico e hidropônico de


plantas medicinais e aromáticas
Marinalva Woods Pedrosa 1
Lourdes Silva de Figueiredo 2
Hermínia Emília Prieto Martinez 3
Ernane Ronie Martins 4
Maria Aparecida Nogueira Sediyama 5
Izabel Cristina dos Santos 6

Resumo - A busca por produtos de qualidade e a preocupação com os impactos am-


bientais tornaram o consumidor mais exigente quanto à origem e à forma de cultivo
dos produtos adquiridos. O cultivo orgânico tem sido resgatado por produtores que
buscam um mercado diferenciado. O cultivo hidropônico também tem-se mostrado
viável para a produção de plantas medicinais e aromáticas. Esta técnica vem ganhando
espaço junto a produtores, por proporcionar redução no consumo de água e de defen-
sivos químicos, além de maior produtividade e inclusive aumento no rendimento de
óleos essenciais. No entanto, muito ainda se tem a progredir quanto ao uso de técnicas
de cultivo adequadas, havendo necessidade de pesquisas e de treinamento de mão-
de-obra, para obter produtos de qualidade e que ofereçam quantidade e qualidade de
princípios ativos que atendam às exigências de mercado.

Palavras-chave: Propagação. Tratos culturais. Adubação. Manejo orgânico. Hidropo-


nia. Solução nutritiva.

INTRODUÇÃO alternativa de diversificação de produção científicos sobre a domesticação dessas


e de renda complementar nas pequenas espécies. Embora não sejam requeridas
Nos últimos anos, houve aumento
marcante no uso de plantas medicinais, propriedades rurais (MAZZA et al., 1998; grandes áreas de produção para viabilizar a
não apenas pela população rural, mas LOURENZANI; LOURENZANI; BATA- atividade, verifica-se, ainda, a necessidade
também associado a programas oficiais de LHA, 2004). de especialização da mão-de-obra diante
saúde. Tal fato deve-se à maior facilidade Apesar dessa expansão, pesquisas têm das exigências no cultivo dessas espécies
de obtenção dessas plantas, seja de forma evidenciado que o sistema de produção e no seu processamento (LOURENZANI;
natural, seja de forma processada. Alguns de plantas medicinais apresenta como LOURENZANI; BATALHA, 2004).
programas incentivam sua exploração e/ ponto fraco o emprego de técnicas de No cultivo das plantas medicinais,
ou produção sustentada, inclusive como cultivo inadequadas e carência de estudos destaca-se o sistema orgânico, principal-

1
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG CO-FESR, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: marinalva@epamig.br
2
Eng a Agr a , D.Sc., Prof. Adj. UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Caixa Postal 135, CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico:
lourdesfigueiredo@ufmg.br
3
Eng a Agr a , D.Sc., Prof a Tit. UFV - Depto. Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: herminia@ufv.br
4
Eng o Agr o , D.Sc., Prof. Tit. UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Caixa Postal 135, CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico:
ernane_martins@oi.com.br
5
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
marians@epamig.br
6
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36300-000 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br

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58 Plantas medicinais e aromáticas

mente por se tratar de produtos, muitas nutrientes, por meio da rotação de culturas, Propagação
vezes, consumidos in natura e cultivados da adubação verde, da adição de estrume
A produção de mudas de espécies me-
por agricultores familiares. de animais; do uso de fontes naturais de
dicinais e aromáticas, em geral, é feita a
No entanto, apesar de ser um sistema nutrientes e do controle biológico de pra-
partir de sementes (propagação sexuada)
mais caro para implantação, o cultivo hi- gas e doenças. Essas práticas aumentam
ou de partes vegetativas (propagação asse-
dropônico de plantas medicinais e aromá- a biodiversidade, mantêm a cobertura, a
xuada), ou de ambas as formas em algumas
ticas vem crescendo no Brasil e no mundo, estrutura e a produtividade do solo, pois
espécies (Quadro 1).
por ser especialmente útil em locais com fornecem nutrientes às culturas e mantêm
limitação de área, mas com mercado garan- níveis de insetos, doenças e ervas espon- Propagação sexuada
tido, pois o sistema proporciona produtos tâneas sob controle.
Na agricultura orgânica, estimula-se o Muitas espécies medicinais, por serem
limpos, sem contaminantes ou resíduos de
uso de recursos locais sempre que possível, originárias de regiões com condições cli-
agrotóxicos e de melhor qualidade, o que
por meio da integração das atividades de máticas muito distintas do Brasil, quase
preserva ao máximo seus princípios ativos
produção animal com as de produção ve- sempre não produzem sementes em con-
e aromáticos. Não é raro encontrar produto-
getal, visando obter máxima ciclagem de dições típicas brasileiras, sendo necessária
res que colhem diariamente a recompensa
nutrientes no sistema de produção. Palha a importação de sementes. Exemplo:
de se dedicarem ao cultivo hidropônico,
de culturas diversas, estercos curtidos de plantas de origem europeia, como alecrim
seja de hortaliças, cheiro-verde, seja de (Rosmarinus officinalis), sálvia (Salvia
plantas medicinais, tanto na zona urbana, animais, compostos orgânicos e bioferti-
lizantes podem ser utilizados no manejo officinalis) e melissa (Melissa officinalis).
quanto na rural, especialmente aquela Nem sempre a propagação sexuada
próximo a grandes centros consumidores. e na melhoria do equilíbrio biológico e
nutricional do solo e das plantas. Em pe- permite a uniformização da matéria-prima
Dessa forma, ambos os sistemas de para a indústria farmacêutica, tornando-se
quenas propriedades, onde a agricultura e
cultivo oferecem vantagens e mostram- um entrave na produção de fitoterápicos,
a pecuária coexistem, o esterco de bovinos
se adequados para a produção de plantas já que pode ocorrer grande variabilidade
curtido é muito utilizado. Caso contrário,
medicinais. genética e/ou química entre as plantas,
tem que ser comprado. O composto orgâ-
nico, obtido pela compostagem, também além de maior período de desenvolvimento
SISTEMA ORGÂNICO DE até a colheita.
PRODUÇÃO DE PLANTAS pode ser usado, quando houver disponibi-
MEDICINAIS E AROMÁTICAS lidade de material orgânico na propriedade.
Germinação e dormência
Muitos produtos brasileiros já carre-
Para a produção de plantas medicinais
gam o selo de produto orgânico, emitido As sementes são ditas dormentes
e aromáticas, os sistemas orgânicos de por certificadoras credenciadas no Minis- quando, mesmo em condições adequadas
cultivo são os mais indicados. As normas tério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- para germinarem, não germinam. A causa
de produção, certificação e comercialização mento (MAPA). O selo orgânico garante ao mais comum da dormência em plantas
dos produtos orgânicos no Brasil come- consumidor que o alimento foi produzido tropicais é a impermeabilidade do tegu-
çaram a ser regulamentadas por meio da de acordo com a legislação brasileira e com mento (superfície ou casca da semente)
Instrução Normativa no 7, de 17 de maio de as regras da certificadora. Atualmente, a à água e/ou a gases. Neste caso, pode-se
1999 (BRASIL, 1999). Em 23 de dezem- produção orgânica de plantas medicinais e tentar a escarificação, ou seja, romper de
bro de 2003, foi publicada a Lei no 10.831 aromáticas ainda é incipiente, mas começa alguma forma o tegumento (lixar, cortar
(BRASIL, 2003) e, em 11 de junho de a ganhar expressão próximo a grandes ou imergir em ácido etc.), sem danificar
2004, a Instrução Normativa no 16, a qual centros consumidores, onde indústrias de o embrião, permitindo que a água entre
estabelece os procedimentos a serem ado- fitoterápicos e restaurantes e bufês mais na semente e desencadeie o processo de
tados para registro e renovação de registro sofisticados investem na inovação e no germinação, como com o barbatimão
de matérias-primas e produtos orgânicos de aumento da atratividade. (Stryphnodendron adstringens) e a batata-
origens animal e vegetal (BRASIL, 2004). Estudos têm mostrado que as plantas de-purga (Operculina macrocarpa).
O mercado de produtos orgânicos cres- medicinais respondem bem ao cultivo Sementes de espécies originárias de re-
ce a cada ano no mundo inteiro e requer orgânico, entre elas estão capim-limão, ba- giões não-tropicais podem ter a dormência
geração de conhecimentos e adaptações bosa, erva-cidreira-brasileira (VICENTE; superada, quando submetidas à hidratação
de tecnologias, para a sustentabilidade MAIA; D’OLIVEIRA, 2008), capuchinha ou a baixas temperaturas, tais como a
dos sistemas orgânicos de produção. Na (SANGALLI; VIEIRA; HEREDIA ZÁRA- camomila (Matricaria recutita), a melissa
produção vegetal, esses sistemas geral- TE, 2004), hortelã (ARAÚJO et al., 2006), (M. officinalis) e a artemísia (Tanacetum
mente baseiam-se no aporte de carbono e a calêndula (ARAÚJO et al., 2009). parthenium L.) (FIGUEIREDO, 1998).
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Plantas medicinais e aromáticas 59

QUADRO 1 - Métodos de propagação preferencial de algumas espécies medicinais cultivadas e tomilho podem ter as mudas preparadas
no Brasil dessa forma.
Espécie Método de propagação preferencial A semeadura em sementeira é realizada
Alcachofra (Cynara scolymus) Sementes em canteiro não-sombreado e deve apre-
Alecrim (Rosmarinus officinalis) Sementes/estacas sentar um substrato leve e fértil. No caso
Alecrim-pimenta (Lippia sidoides) Estacas de adubação com o esterco bovino curtido,
Artemísia (Tanacetum parthenium) Sementes aplicam-se 5 kg/m2 e os compostos orgâni-
Colônia (Alpinia speciosa) Rizomas cos na dosagem de 3 a 6 kg/m2 (MARTINS
Babosa (Aloe sp.) Rebentos et al., 1994). No caso de biofertilizante, os
Boldo (Plecthranthus barbatus) Estacas
canteiros devem ser irrigados ligeiramente
Boldo (Vernonia condensata) Sementes/estacas
com o biofertilizante líquido puro dois
dias antes da semeadura (SARTÓRIO et
Calêndula (Calendula officinalis) Sementes
al., 2000). Deve-se usar terra de barranco,
Camomila (Matricaria recutita) Sementes
quando o solo do local tiver muitas plantas
Capim-limão (Cymbopogon citratus) Divisão de touceiras
espontâneas. A semeadura é feita em sulcos
Capuchinha (Tropaeolum majus) Sementes
distanciados entre si de 10 a 15 cm. A pro-
Carqueja (Baccharis sp.) Estacas
fundidade depende do tamanho das semen-
Cavalinha (Equisetum sp.) Divisão de touceiras
tes, sendo geralmente de no máximo 1 cm.
Chapéu-de-couro (Echinodorus sp.) Sementes/rebentos
Há casos em que as sementes são apenas
Confrei (Symphitum sp.) Divisão de touceiras
colocadas sobre o solo e comprimidas
Erva-cidreira (Lippia alba) Estacas
levemente. Logo em seguida, é colocada
Marupari (Eleutherine plicata) Bulbos
a cobertura morta para manter a umidade
Chambá (Justicia pectoralis) Divisão de touceiras
constante no solo e impedir ressecamento.
Arnica (Solidago microglossa) Sementes/estacas A irrigação deve ser feita com regado-
Malva (Malva sylvestris) Sementes/estacas res de crivo fino e repetida com frequência,
Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) Sementes sem encharcar o solo. Com o início da
Fáfia (Pfaffia glomerata) Estacas emergência ou o surgimento das plântu-
Funcho (Foeniculum vulgare) Sementes las, remove-se a cobertura morta. Após
Gengibre (Zingiber officinale) Rizomas a germinação, eliminam-se as plantas
Guaco (Mikania glomerata) Estacas invasoras. Normalmente o semeio é feito
Hortelã (Mentha x villosa) Rizomas com excesso, sendo necessário realizar o
Macela (Achyrocline satureioides) Sementes desbaste das plântulas, eliminando as de
Melissa (Melissa officinalis) Sementes pior aspecto e mal posicionadas, ficando,
Mentrasto (Ageratum conyzoides) Sementes em média, uma planta a cada 5 cm. Esta
Mil-folhas (Achillea millefolium) Rizomas medida é bem variável, pois vai depender
Pata-de-vaca (Bauhinia forficata) Sementes do crescimento da espécie. Geralmente
Quebra-pedra (Phyllanthus sp.) Sementes mudas com quatro a oito folhas definitivas
Sálvia (Salvia officinalis) Sementes/estacas estão prontas para o transplantio.
Tanchagem (Plantago major) Sementes As bandejas de isopor ou de plástico
FONTE: Corrêa Júnior, Ming e Scheffer (1991) e Martins et al. (1994). são utilizadas tanto para o semeio, quanto
para o enraizamento de estacas. Apresen-
tam grande facilidade de manuseio, por
A luz pode ser um importante fator Locais de semeadura serem de fácil transporte, e diminuem o
na germinação de sementes de espécies uso de mão-de-obra e de materiais, já que
Para espécies anuais, normalmente her-
medicinais, por exemplo, quebra-pedra báceas, a semeadura pode ser feita em se- as mudas podem ser plantadas diretamente
(Phyllanthus corcovadensis), picão (Bidens menteira, bandejas de isopor ou plásticas, no campo, com alta porcentagem de pega-
pilosa), mentrasto (Ageratum conyzoides) tubetes plásticos, sacos ou copos plásticos, mento. O substrato deve ser de boa quali-
e carrapicho (Acanthospermum hispidum) para posterior transplantio. Plantas como dade. Uma alternativa é testar fórmulas
(KLEIN; FELIPPE, 1991), havendo neces- melissa, calêndula, mentrasto, capuchinha, de substrato até que se obtenha uma que
sidade de semeadura superficial. alfavaca, manjericão, quebra-pedra, sálvia atenda às seguintes características: retenha
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60 Plantas medicinais e aromáticas

a umidade; permita o desenvolvimento Propagação vegetativa redução do crescimento, podendo favo-


das mudas; mantenha-se integral (torrão natural recer o acúmulo de alguns metabólitos
com raízes) ao ser retirado das células, A propagação vegetativa natural se dá secundários. Porém, a irrigação deve ser
sem desagregar-se. Podem-se utilizar por dois métodos: divisão e separação. suspensa alguns dias antes da colheita, mi-
como substrato: solo, vermiculita, casca O método da divisão consiste em dividir nimizando a redução do teor de princípios
de arroz parcialmente carbonizada e com- mecanicamente (por ferramentas cortantes) ativos em virtude do aumento de umidade
posto orgânico ou esterco curtido, dentre a parte a multiplicar em tamanhos ade- das plantas (CORRÊA JÚNIOR; MING;
outros, em várias proporções, até que se quados para propagação. Na separação, o SCHEFFER, 1991).
chegue próximo ao ideal. O material deve desmembramento das partes se dá por pro- De modo geral, no caso das espécies
ser peneirado e livre de plantas invasoras. cessos naturais ou manuais. Os bulbos são que apresentam estruturas secretoras
separados e plantados diretamente no local superficiais, como os pelos glandulares,
Propagação assexuada recomenda-se o uso de irrigação por mi-
definitivo ou em leito de areia, para melhor
Nesse método, são utilizadas partes da desenvolvimento, como, por exemplo, o croaspersão ou gotejamento, de forma que
planta que, normalmente, não têm função marupari (Eleutherine plicata). Os rizomas o impacto das gotas não promova a ruptura
reprodutiva, como caules aéreos, raízes, também podem ser divididos ou separados, de tais estruturas.
rizomas, folhas, tubérculos, bulbos. O dependendo do caso, e plantados direta- Rotação de culturas e
principal cuidado é obter o propágulo de mente no local definitivo ou enraizados e consórcio
plantas sadias (CORRÊA JÚNIOR; MING; transplantados, como o gengibre (Zingiber
SCHEFFER, 1991). As plantas originadas officinale) (MARTINS et al., 1994). A rotação de culturas é recomendada
são geneticamente iguais à planta-mãe e Algumas espécies, como a babosa em áreas de produção de plantas medici-
precoces (MARTINS et al., 1994). O pro- (Aloe spp.), emitem filhotes ou rebentos a nais, intercalando-se no tempo espécies
cesso é utilizado, quando se pretende obter partir da base do caule, os quais são sepa- de famílias botânicas distintas. Tal prática,
maior homogeneidade entre plantas ou rados e plantados normalmente no local além de dificultar a incidência de pragas e
definitivo (CORREA JÚNIOR; MING; doenças, melhora o aproveitamento dos
quando é impossível propagar por outros
SCHEFFER, 1991). nutrientes do solo de maneira mais racio-
meios, no caso de plantas que não produ-
A divisão de touceiras, que pode estar nal (SARTÓRIO et al., 2000). Na rotação,
zem sementes num determinado local.
compreendida nos três tipos anteriores, devem-se incluir os adubos verdes. Segun-
Estaquia consiste na separação ou divisão de partes do Corrêa Júnior, Ming e Scheffer (1991),
de uma planta em mudas, sendo estas deve-se dar um intervalo de dois a quatro
Na estaquia são utilizadas estacas de anos para o plantio no mesmo local de es-
colocadas em leito de areia ou plantadas
caules lenhosos ou herbáceos, de ponteiro pécies anuais e bienais. Estes autores tam-
diretamente no local definitivo. A mil-
ou de partes intermediárias do galho, em bém recomendam alternar espécies cujos
folhas (Achillea millefolium), o capim-
geral, com 10 a 25 cm de comprimento produtos comerciais são raízes e/ou partes
santo (Cymbopogon citratus) e o confrei
(CORRÊA JÚNIOR; MING; SCHEFFER,
(Symphitum officinale) são multiplicados subterrâneas (bardana, fáfia e gengibre)
1991). Tais estacas são colocadas para com espécies cujos produtos são folhas ou
por esse método (CORRÊA JÚNIOR;
enraizar em leitos de enraizamento ou
MING; SCHEFFER, 1991; MARTINS et flores (alcachofra, calêndula etc.).
diretamente no campo. O plantio consorciado de duas ou mais
al., 1994).
A posição de retirada da estaca de espécies pode reduzir o risco de surgimento
caule, bem como a presença de folhas, Tratos culturais de pragas e doenças, aumentar a produção
pode ser importante em algumas espécies, para espécies compatíveis e maximizar
como o alecrim-pimenta (Lippia sidoides) Irrigação
a utilização da área. Os consórcios têm
ou a erva-cidreira (Lippia alba), nas quais Os princípios ativos das plantas podem sido conduzidos entre espécies herbáceas
as estacas com folhas apresentam maior ter funções ligadas à proteção em relação a medicinais ou olerícolas, sendo uma al-
capacidade de enraizamento ou melhor estresses ambientais, como aqueles ligados ternativa de diversificação viável para o
desenvolvimento radicular. Em espécies ao déficit hídrico, alterações de tempera- manejo dessas culturas. Maia et al. (2009)
de difícil enraizamento, podem ser con- tura, intensidade da radiação luminosa, observaram que o consórcio entre alface,
duzidas podas, visando o surgimento de dentre outros. O caso do estresse hídrico é cenoura, manjericão (Ocimum basilicum) e
brotações e a obtenção de estacas com um dos fatores ambientais que mais afeta hortelã (Mentha x villosa), duas a duas, foi
maior potencial de enraizamento, como a fisiologia das plantas: há fechamento vantajoso para as olerícolas, não afetando
sugerido por Martins et al. (1994). dos estômatos, redução na fotossíntese e a produção de biomassa e o teor de óleo
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essencial do manjericão e da hortelã pelo homeopáticos, armadilhas luminosas, con- forma fresca, in natura, desidratadas ou
consórcio com alface e cenoura. trole biológico, feromônios, entre outros. como óleos essenciais.
Geralmente, plantas bem nutridas Todavia, a hidroponia requer conheci-
Manejo das plantas apresentam maior tolerância ao ataque de mentos técnicos para lidar com o manejo da
espontâneas cultura, da solução nutritiva e do ambiente
doenças. Por isso, é importante avaliar pe-
Nos sistemas orgânicos de produção, riodicamente a fertilidade do solo e fazer as protegido.
a utilização de herbicidas é proibida e é correções necessárias, utilizando produtos
permitidos pela legislação brasileira, para Potencialidades da
desejável a convivência entre as plantas
hidroponia no cultivo de
cultivadas e as plantas espontâneas, desde produção de alimentos orgânicos.
plantas medicinais
que isso não prejudique o desenvolvimento O manejo da irrigação também é essen-
da cultura nem a qualidade final do produto cial para prevenir doenças que dependem A crescente exigência dos principais
desejado. de alta umidade para se desenvolverem. mercados por produtos de boa qualidade
As plantas espontâneas podem ser Além disso, em toda a propriedade deve e de origem certificada, produzidos sem
importantes fontes de alimento alternativo ser feito um rigoroso controle de áreas agressões ao ambiente, vem oferecendo
e abrigo para inimigos naturais de vários cultivadas com outras espécies comer- vantagens adicionais para o uso de hidro-
insetos-pragas. Quando necessário, as capi- ciais, visando eliminar focos de doenças e ponia, principalmente quando se cultivam
nas deverão ser feitas com enxada, enxadi- pragas. Vários são os relatos de produção plantas de interesse farmacêutico (HABER
nhas ou mesmo com a mão, especialmente orgânica em que não foi necessário o con- et al., 2005). Assim, o cultivo hidropônico
quando as plantas já apresentarem flores ou trole de pragas e doenças, tendência que se de espécies medicinais e aromáticas é uma
frutos, para que não sofram dano mecânico acentua com o passar dos anos. alternativa de diversificação para o produ-
tor, uma vez que, a hidroponia associada
que prejudique seu valor comercial.
CULTIVO HIDROPÔNICO DE ao cultivo protegido pode reduzir o uso de
Uma alternativa para controle das
plantas daninhas, proteção do solo e PLANTAS MEDICINAIS defensivos, gerando produtos de melhor
qualidade para o consumidor.
conservação da umidade é a formação de A hidroponia é uma técnica alternativa
Alguns estudos têm mostrado que plan-
cobertura morta sobre o solo, pela colo- de cultivo na qual o solo é substituído pela
tas cultivadas em solução nutritiva poderão
cação de palhada de plantas ou plantio e solução nutritiva, contendo todos os nu- apresentar rendimento de óleo essencial
corte de adubos verdes, antes do cultivo trientes essenciais ao desenvolvimento das até cinco vezes superior aos encontra-
das espécies medicinais. São exemplos plantas. O termo hidroponia é de origem dos em plantas conduzidas em cultivos
de adubo verde: Canavalia ensiformis grega: hydro = água e ponos = trabalho, convencionais (MAIA, 1998), além de
(feijão-de-porco), Crotalaria spp. (várias cuja junção significa trabalho em água. maior produtividade (FERNANDES et al.,
espécies de crotalárias), Mucuna spp. As primeiras pesquisas com cultivo 2004). Outros indicam que a manipulação
(mucuna-preta, cinza, anã), Pennisetum sem solo ocorreram por volta do ano de apropriada de fatores nutricionais pode
americanum (milheto). 1700 e, no Brasil, o cultivo comercial de tornar a hidroponia uma ótima opção para a
plantas em hidroponia teve início por volta produção de compostos benéficos à saúde.
Manejo de doenças e pragas
de 1990, em São Paulo. Atualmente, a hi- Em Matricaria chamomilla a subtração
No manejo orgânico, deve-se privi- droponia é bem difundida em todo o País, do nitrogênio (N) por 12 dias reduziu a bio-
legiar a prevenção de doenças e pragas, sendo bastante utilizada para o cultivo de massa produzida, mas elevou a produção
utilizando-se, para isso sementes de boa diferentes espécies de interesse econômico. de ácidos benzoicos, cinâmicos, siríngicos
qualidade, cultivares tolerantes e resisten- Além da finalidade comercial, o cultivo e vanílicos (KOVÁČIK et al., 2007). Em
tes a pragas e a doenças consideradas de hidropônico tem sido muito utilizado como Achillea colina, baixas concentrações de
risco na região, aumento da diversidade de lazer e também com objetivos terapêuticos N em solução desfavoreceram o meta-
espécies (cultivos intercalares, rotação de por algumas instituições, sendo também bolismo primário e o crescimento, mas
culturas, áreas de refúgio etc.); limpeza das considerada uma terapia ocupacional. proporcionaram maiores quantidades de
ferramentas agrícolas; alteração da época e A hidroponia é mais uma opção de cul- fenóis totais e antioxidantes em folhas e
densidade de plantio, se possível. Também tivo e obtenção de produtos de qualidade raízes (GIORGI et al. 2009). Em Mentha
recomendam-se os métodos curativos e/ou e de negócios, tendo em vista a demanda gracilis, verificou-se que doses de potássio
de manutenção dos níveis de infestação dessas plantas pelas indústrias de fármacos, (K), associadas às maiores produções de
abaixo dos níveis de danos econômicos, cosméticos e de alimentação, tanto no mer- biomassa, não estão associadas à maior
por meio da utilização de biofertilizantes, cado interno como no externo. O produtor produção de óleo essencial. Trabalhando
caldas, extratos botânicos, preparados poderá colher, usar ou vender as plantas de numa faixa de 276 a 690 mg/L de K, esses
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autores obtiveram maior quantidade de Sistemas de cultivo folhosas, flores de corte e hortaliças-fruto.
linalol por planta, quando cultivadas com É o sistema mais utilizado no cultivo de
Os sistemas, quanto ao fornecimento
276 m/L de K. Estudos dessa natureza ainda plantas medicinais e aromáticas. É com-
da solução nutritiva, podem ser circu-
são escassos, mas em poucos anos permi- posto por um conjunto de canais de cultivo
lantes (o excesso de solução aplicada é
tirão otimizar o cultivo hidropônico de em PVC rígido, polietileno ou polipropileno
recuperado, reabastecido e reaplicado) ou
plantas de interesse medicinal (GARLET com orifícios em espaçamento definido de
não circulantes (a solução é aplicada uma
et al., 2007). acordo com as necessidades da cultura. Para
única vez sem reaproveitamento) e pode-se
No Brasil, diversos estudos têm mos- o cultivo de plantas medicinais, são comu-
utilizar ou não substratos para sustentação
trado que é viável o cultivo hidropônico mente utilizados canais com 100 mm de
do sistema radicular. De modo geral, os
de espécies medicinais e aromáticas, tais largura que permitem o cultivo de diversas
cultivos hidropônicos com substratos são
como: menta, manjericão, salsa, cebolinha, espécies (Fig. 2).
usados para culturas com sistema radicular
artemísia, valeriana e melissa, sem prejuízo Esses canais são dispostos a 1 m de al-
e parte aérea mais desenvolvidos.
da característica aromática conferida pelos tura do solo em bancadas com declividade
O cultivo hidropônico pode ser feito
óleos essenciais e com maior produção de 1,5% a 2%. Com auxílio de uma bomba, a
em vários tipos de sistemas, sendo cada
massa verde. Embora sejam oferecidas solução nutritiva é levada do reservatório
um determinado por estruturas próprias. Os
diversas vantagens, a adoção desta técnica até a entrada dos canais de cultivo, por
mais usados são: Nutrient Film Technique
de cultivo ainda é pouco empregada para onde escorre por gravidade, e recolhida
ou técnica do Fluxo Laminar de Nutrientes
espécies medicinais e aromáticas, apesar novamente no reservatório (Fig. 3). O tem-
(NFT), Deep Film Technique ou Floating
de já mostrar sinais de expansão. po de circulação da solução nutritiva e os
(DFT) e cultivos em substratos. Todos os
Em São Paulo, hidrocultores que traba- intervalos de circulação são monitorados
sistemas podem ser usados no cultivo de
lhavam com alface vêm substituindo essa por um temporizador (Fig. 3). Recomenda-
plantas medicinais, desde que se conheçam
cultura por hortelã e manjericão, por apre- se que a solução circule nos canais a cada
seus aspectos nutricionais, ou seja, a for-
sentarem alto retorno econômico, podendo 15 a 20 min, por 10 a 15 min, durante o dia
mulação e o manejo mais adequados das
gerar lucro líquido superior ao cultivo da e se realizem duas a três circulações de 15
soluções nutritivas, além do detalhamento
alface (HABER et al., 2004). Além disso, min em intervalos igualmente espaçados,
das estruturas básicas necessárias que
durante a noite.
esse sistema de cultivo pode ser utilizado compõem cada sistema.
Para hortaliças folhosas, recomenda-se
tanto em escala comercial, como em esco- No Brasil, o NFT é amplamente em-
um fluxo de, aproximadamente, 2 L/min e
las, casas e apartamentos (Fig.1). pregado no cultivo de diversas hortaliças
um volume de 1,5 a 2,0 L de solução por
planta, e o mesmo deve ser seguido no
cultivo de plantas medicinais e aromáticas.
O uso de um reservatório por bancada
tem sido recomendado, pois proporciona
redução nos problemas com doenças nos
cultivos hidropônicos.
No sistema de piscina ou floating,
utiliza-se uma mesa plana, com lâmina de
solução nutritiva (5 a 20 cm), onde as raízes
ficam submersas, e com sistema de entrada
e drenagem para a circulação da solução.
É mais usado para a fase de produção de
mudas, mas também em cultivos comer-
ciais, onde se dá a fase de crescimento das
Hermínia E. Prieto Martinez

plantas nesse tipo de sistema.


A aeroponia é um sistema que visa a
utilização máxima da superfície disponível
com o objetivo de aumentar a oferta de ali-
mentos. Neste sistema as raízes das plantas
são mantidas dentro de câmaras opacas que
Figura 1 - Sistema hidropônico para produção de plantas medicinais em casas e apar- recebem nebulizações regulares de solução
tamentos nutritiva (aerossol) mantendo a umidade
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Fotos: Hermínia E. Prieto Martinez


A B
Figura 2 - Plantas cultivadas em sistema Nutrient Film Technique (NFT)
NOTA: A - Manjericão; B - Hortelã.

Fotos: Hermínia E. Prieto Martinez


A B
Figura 3 - Tanque recebendo a solução nutritiva para recirculação e temporizador para monitoramento dos intervalos de circulação
NOTA: A - Bomba; B - Temporizador.

relativa do ar a 100% no ambiente radicu- da subirrigação e do gotejamento (Fig. 4). são as combinações possíveis entre subs-
lar. Essa terminologia também é utilizada Os substratos utilizados podem ser inor- trato e recipiente.
para denominar os cultivos realizados em gânicos (cascalho, brita, argila expandida, No sistema de subirrigação, a solução
canais de policloreto de vinila (PVC) ou areia, vermiculita, lã mineral e espumas nutritiva é fornecida por sistema de recal-
bambu (Dendrocalamus giganteus) de sintéticas) ou orgânicos (casca de arroz que e tubulação locada no fundo de canais
12 a 15 cm de diâmetro suspensos com carbonizada, turfa, etc.) e devem ser esco- de largura, comprimento e espessura vari-
circulação da solução nutritiva semelhante lhidos de acordo com sua disponibilidade, áveis com substratos pouco ativos quimi-
ao NFT. Esses canais de cultivo são fixados custo e qualidade para cultivo. Também camente. A solução ascende lentamente do
em estruturas metálicas e espaçados de 40 a são diversos os recipientes que podem fundo à superfície do canal, sem, contudo,
70 cm na vertical e 1,0 a 1,5 cm na horizon- ser usados no cultivo hidropônico com molhá-la, banhando as raízes por um pe-
tal, constituindo as unidades aeropônicas. substratos: vasos, tubos de PVC (NFT), ríodo de, aproximadamente, 30 min, após
O cultivo em substratos permite o for- calhetões, filmes plásticos, canteiros de o qual, é drenada para um reservatório. O
necimento da solução nutritiva por meio alvenarias, telhas, etc. Portanto, diversas número de regas diárias depende do tipo e
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Fotos: Hermínia E. Prieto Martinez


A B
Figura 4 - Sistemas de irrigação
NOTA: A - Subirrigação; B - Gotejamento.

da granulometria do substrato, da espécie


cultivada, do clima local e da época do ano,
entre outros. A subirrigação constitui um
sistema fechado ou circulante, e presta-se
bem para substratos com partículas com
diâmetro superior a 6 mm. Substratos com
diâmetro inferior a esse limite prestam-se
bem para sistemas abertos, não-circulantes,
como o gotejamento (MARTINEZ, 2006).

Produção das mudas


A produção de mudas é etapa de gran-

Fotos: Hermínia E. Prieto Martinez


de importância para o sucesso do cultivo
hidropônico. As mudas devem ser bem
formadas e livres de patógenos.
Para sua produção, podem-se utilizar
substratos comerciais organominerais,
espumas fenólicas, areia, vermiculita, etc.
(Fig. 5).
As mudas devem ir para os canais de
cultivo, quando já estiverem bem forma- Figura 5 - Produção de mudas em espuma fenólica
das, o que facilita sua sustentação no siste-
ma. Mudas bem formadas desenvolvem-se óleos essenciais no caso das medicinais época do ano, fatores ambientais (tem-
melhor e atingem mais rápido o ponto de e aromáticas. No cultivo hidropônico, os peratura, luminosidade, umidade), parte
colheita, o que reduz o ciclo de cultivo e nutrientes são fornecidos por meio de so- colhida, etc., ou seja, varia com os fatores
favorece a rotatividade de plantas no sis- luções nutritivas que favorecem o rápido que afetam as exigências da planta que se
tema, ou seja, há maior produção. crescimento e a produção de matéria- está cultivando.
prima de qualidade. No entanto, não existe Dessa forma, após a escolha da es-
Solução nutritiva
uma solução nutritiva ideal para todas as pécie a ser cultivada, deve-se buscar a
Os nutrientes minerais são fundamen- culturas. A composição da solução varia solução nutritiva que melhor atenda as
tais para o crescimento e desenvolvimento com uma série de fatores, como espécie suas necessidades nutricionais. Existem
das plantas e também para a produção de de planta a ser cultivada, idade da planta, diversas soluções nutritivas já testadas e
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Plantas medicinais e aromáticas 65

que se adaptam ao cultivo de várias es- QUADRO 2 - Soluções nutritivas e respectivas concentrações para o cultivo de algumas
pécies, como é o caso das propostas por espécies medicinais e aromáticas
Hoagland e Arnon (1950), Furlani (1996) Solução nutritiva
Cultura Concentração
e Furlani et al. (1999) (Quadro 2). Estas (Fonte)

soluções nutritivas são amplamente uti- Melissa (Melissa officinalis) Furlani et al. (1999) 100%

lizadas no cultivo de diversas hortaliças, Hortelã-pimenta (Mentha piperita) Furlani et al. (1999) 85%
principalmente folhosas, e que nos últimos Hoagland e Arnon (1950) 100%
anos vem sendo testadas para o cultivo de Alfavaca ou manjericão folha larga Furlani et al. (1999) 100%
espécies medicinais e aromáticas. (Ocimum basilicum) Furlani (1996) 100%
Para elaboração da solução nutritiva, Sálvia (Salvia officinalis) Furlani et al. (1999) 50% a 125%
diferentes conjuntos de fertilizantes e Manjericão (Ocimum minimum) Furlani (1996) 100%
sais podem ser utilizados, mantendo-se a
Manjerona (Origanum manjorana) Furlani et al. (1999) 50%
quantidade de nutrientes (mg/L) proposta.
Assim, custo, solubilidade, presença de FONTE: Santos et al. (2005), Fernandes et al. (2004), Haber et al. (2005,2005), Cassiano et
elementos potencialmente tóxicos e de al. (2005) e De Fazio, Zucareli e Boaro (2007).
resíduos insolúveis devem ser conside-
rados na escolha dos fertilizantes e sais. QUADRO 3 - Quantidade de sais para o preparo de mil litros de solução nutritiva
Sempre que possível, deve-se optar por
fertilizantes. Na falta destes, poderão ser Sal ou fertilizante g/1.000 L

usados sais reagentes de grau técnico ou, Macronutrientes


excepcionalmente, produtos químicos Nitrato de cálcio Hydro® Especial 750
puros para análise para o fornecimento Nitrato de potássio 500
de micronutrientes (nutrientes exigidos Fosfato monoamônio (MAP) (purificado) 150
em menores quantidades) (MARTINEZ, Sulfato de magnésio 400
2006). O Quadro 3 apresenta a formulação Micronutrientes
proposta por Furlani et al. (1999) para o
Sulfato de cobre 0,15
cultivo de hortaliças folhosas em geral e
Sulfato de zinco 0,5
que podem ser empregadas no cultivo de
Sulfato de manganês 1,5
plantas medicinais e aromáticas.
Ácido bórico ou Bórax 1,5
Uma forma segura de preparar a solu-
Molibdato de sódio ou 0,15
ção é encher o reservatório com água até 0,15
Molibdato de amônio
2/3 de sua capacidade. Em seguida, deve-se
Tenso – Fe® (FeEDDHMA - 6% Fe) 30
dissolver cada sal separadamente em um
Dissolvine® (FeEDTA - 13% Fe) ou 13,8
balde adicionando-os ao reservatório um
Ferrilene® (FeEDDHa - 6% Fe) 30
a um. Após a adição de macronutrientes
FeEDTANa2 (10 mg/mL de Fe) 180 mL
(nutrientes exigidos em maiores quan-
tidades), de micronutrientes e do ferro
quelatizado, completa-se o volume do
Assim, o volume de água evapotranspirada recomenda-se a realização de análises
reservatório com água, a solução é homo-
deve ser reposto, diariamente, com água periódicas da solução nutritiva, as quais
geneizada e o pH corrigido para a faixa de
de qualidade. permitem a reposição dos nutrientes com
5,5 a 6,5, usando-se ácido clorídrico ou hi-
A CE, medida por condutivímetros menor possibilidade de erro. Nesse caso,
dróxido de sódio, conforme a necessidade.
portáteis, fornece uma informação indi- suplementam-se os nutrientes na proporção
Manutenção e cuidados reta sobre a concentração de nutrientes exata em que foram consumidos.
no cultivo na água. No entanto, a CE avalia apenas A condutividade varia com a formu-
Para o bom desenvolvimento das a quantidade de sais presentes na solução, lação empregada e com os fertilizantes e
plantas, é necessário que se faça, periodica- mas não fornece a concentração individu- sais usados para compô-la, em geral de 2,0
mente, a manutenção da solução nutritiva, al de cada nutriente, ou seja, quais estão e 4,0 dS/m. A condutividade inicial deve
corrigindo-se sempre que necessário o em falta ou em excesso. Para determina- ser restaurada pela adição de nutrientes
volume, condutividade elétrica (CE) e pH. ção da concentração real de nutrientes, sempre que houver queda de 30% a 50%
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na concentração inicial. Se a condutivi- prima para o preparo de fitoterápicos. procedimentos a serem adotados, até que
dade observada corresponde a 50% da Todavia, tanto o cultivo orgânico como o se concluam os trabalhos de regulamen-
concentração inicial, adiciona-se metade hidropônico são práticas promissoras para tação da Lei no 10.831, de 23 de dezem-
bro de 2003, para registro e renovação de
da quantidade de fertilizantes utilizada a produção de plantas medicinais, cada
registro de matérias-primas e produtos de
inicialmente. Depleções maiores podem uma com suas particularidades e benefícios
origem animal e vegetal, orgânicos, jun-
ser atingidas, quando da renovação da e empregam-se muito bem à agricultura to ao Ministério da Agricultura, Pecuária
solução (MARTINEZ, 2006). familiar. Ambas, se bem aplicadas, podem e Abastecimento - MAPA. Diário Oficial
O valor de pH da solução deve ser ser rentáveis, oferecendo um produto dife- [da] República Federativa do Brasil, Bra-
mantido entre 5,5 e 6,5. Abaixo de 5,5, renciado ao mercado. sília, 14 jun. 2006. Seção1, p.4. Disponí-
adicionam-se bases para elevá-lo à faixa É importante ressaltar que, no caso do vel em: <http://www.agricultura.gov.br>.
adequada, tais como hidróxido de sódio cultivo hidropônico, além de conhecimento Acesso em: 4 mar. 2006.
(NaOH) 1 mol/L ou hidróxido de potássio técnico para condução do sistema, a cria- CASSIANO, C. V. et al. Produção hidropô-
(KOH 1mol/L) e acima de 6,5, adicionam- tividade também é uma qualidade-chave nica da sálvia (Salvia officinalis) em dife-
se ácidos para elevá-lo, como ácido nítrico para o sucesso e redução de custos. Nesse rentes concentrações de solução nutritiva.
(HNO3 1N), ácido clorídrico (HCl 1mol/L) sentido, o brasileiro esbanja espírito inova- Horticultura Brasileira, Brasília, v.23, n.2,
p.466, ago. 2005. Suplemento. Resumo do
ou ácido sulfúrico (H2SO4 1mol/L). A me- dor, sempre com uma ideia para solucionar
45o Congresso Brasileiro de Olericultura,
dida do pH é feita com um potenciômetro qualquer problema que aparece no sistema
15o Congresso Brasileiro de Floricultura e
portátil (peagâmetro) na solução nutritiva. e, se aliado ao conhecimento, torna a hi- Plantas Ornamentais e 2o Congresso Bra-
A temperatura ideal da solução nutriti- droponia uma prática rentável e prazerosa. sileiro de Cultura de Técnicas de Plantas,
va é de 12 oC a 25 oC. Para isso, recomenda- 2005, Fortaleza.
se que, principalmente em regiões de clima REFERÊNCIAS
CORRÊA JÚNIOR, C.; MING, L. C.; SCHEFFER,
quente, o reservatório de solução nutritiva ARAÚJO, C. B. O. et al. Uso da adubação M.C. Cultivo de plantas medicinais, condi-
fique aterrado no solo. orgânica e cobertura morta na cultura da mentares e aromáticas. Curitiba: EMATER-
O controle das doenças deve ser feito calêndula (Calendula officinalis L.). Revista PR, 1991. 162p.
preventivamente. A desinfecção do sistema Brasileira de Plantas Medicinais, Botuca-
DE FAZIO, J. L.; ZUCARELI, V.; BOARO, C.
hidropônico ao final de cada cultivo é de tu, v.11, n.2, p.117-123, 2009.
S. F. Desenvolvimento de Mentha piperita L.
suma importância, para evitar problemas ARAÚJO, E. da S. et al. Efeito do tipo e dose cultivada em solução nutritiva com diferen-
com doenças. Assim, deve ser realizada de adubo orgânico na produção de biomas- tes níveis de cálcio. Revista Brasileira de
a desinfecção escalonada de todo o siste- sa da hortelã (Mentha piperita L.). Inicia- Biociências, Porto Alegre, v.5, p.420-422,
ção Científica Cesumar, Maringá, v.8, n.1, jul. 2007. Suplemento 2. Resumos expandi-
ma de cultivo, periodicamente. Para tal,
p.105-109, jun. 2006. Edição Especial. dos do 57o Congresso Nacional de Botânica.
recomenda-se a circulação por 30 min
de uma solução de hipoclorito de sódio BRASIL. Lei no 10.831, de 23 dezembro de FERNANDES, P. C. et al. Cultivo de manje-
(água sanitária). Em seguida, enxágua-se 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e ricão em hidroponia e em diferentes subs-
dá outras providências. Diário Oficial [da] tratos sob ambiente protegido. Horticultura
cuidadosamente todo o sistema, pois o
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Uso de princípios bioativos de plantas no controle de


fitopatógenos e pragas
Marcelo Barreto da Silva 1
Marcelo Augusto Boechat Morandi 2
Trazilbo José de Paula Júnior 3
Madelaine Venzon 4
Maira Christina Marques Fonseca 5

Resumo - O controle alternativo de fitopatógenos e pragas tem sido amplamente dis-


cutido no contexto atual, em que o controle é feito quase que exclusivamente pela apli-
cação continuada e em larga escala de agrotóxicos. O uso indiscriminado de fungicidas
e inseticidas tem promovido diversos problemas ambientais: desequilíbrio biológico,
alteração da ciclagem de nutrientes e da matéria orgânica (MO), eliminação de orga-
nismos benéficos e redução da biodiversidade. Entre as diversas estratégias alternati-
vas aos agrotóxicos, tem sido sugerida a utilização de princípios bioativos de plantas
para o controle de fitopatógenos e pragas, tanto na agricultura convencional quanto
na orgânica. Assim, o uso de extratos de plantas ou de seus metabólitos secundários
tornou-se uma ferramenta a mais a ser incorporada aos sistemas de produção agrícola,
como forma de aumentar a sustentabilidade e a segurança alimentar.

Palavras-chave: Doença. Praga. Controle alternativo. Extrato vegetal.

INTRODUÇÃO prioridades dos sistemas convencionais de doenças, pragas e plantas invasoras.


de agricultura em relação ao uso de fontes Antes da facilidade para aquisição de
A produção de alimentos com degrada-
não renováveis, principalmente de energia, agrotóxicos, os agricultores preparavam
ção mínima dos recursos naturais tornou-se
e muda a visão sobre os níveis adequados e utilizavam produtos obtidos a partir de
uma exigência da sociedade. Destacam-se,
do balanço entre a produção de alimentos materiais disponíveis nas proximidades de
nesse sentido, os alimentos portadores de
e os impactos no ambiente. As alterações suas propriedades. Com a popularização
selos que garantem a não utilização de do uso dos agrotóxicos, aqueles produtos
agrotóxicos no processo produtivo. Com implicam na redução da dependência
foram quase que totalmente abandonados
isso, sistemas de cultivo mais sustentáveis de produtos químicos e outros insumos
e, hoje, muitos deles são chamados alter-
e menos dependentes do uso de agrotóxi- energéticos, e maior uso de processos
nativos. Em virtude da conscientização
cos têm sido desenvolvidos. biológicos nos sistemas agrícolas.
dos problemas ambientais causados pelos
O conceito de agricultura sustentável agrotóxicos, com a consequente busca pela
envolve o manejo adequado dos recursos DEMANDAS POR CONTROLE
redução de seu uso, muitas pesquisas têm
ALTERNATIVO DE DOENÇAS
naturais, evitando a degradação do am- sido direcionadas para a obtenção de tecno-
DE PLANTAS
biente, de forma que permita a satisfação logias e produtos, muitos deles já utilizados
das necessidades humanas nas gerações Um dos principais problemas da agri- pelos agricultores em décadas passadas de
atuais e futuras. Esse enfoque altera as cultura sustentável refere-se ao controle forma empírica no manejo fitossanitário.

1
Eng o Agr o , D.Sc., Prof. UFES - CEUNES, CEP 29931-200 São Mateus-ES. Correio eletrônico: barretofito@uol.com.br
2
Eng o Agr o , D.Sc., Pesq. Embrapa Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: mmorandi@cnpma.embrapa.br
3
Eng o Agr o , Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista CNPq, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
4
Eng a Agr a , Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
5
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: maira@epamig.br

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Métodos físicos, mecânicos e cultu- e) fosfitos, que têm a propriedade de de pesquisa e extensão oferecerem op-
rais podem ser utilizados no manejo de estimular as defesas da planta (in- ções para que sistemas mais sustentáveis
fitopatógenos e pragas. Algumas técnicas dução de resistência) e apresentar sejam adotados. Nesse sentido, projetos de
de controle físico são detalhadas por Cam- efeito fungicida, atuando diretamen- pesquisa pontuais e de curta duração são
panhola e Bettiol (2003), destacando-se: te sobre os patógenos e, em especial, de pouca utilidade. Somente estudos que
a) solarização para o controle de fito- sobre os oomicetos; incluem o monitoramento de sistemas de
patógenos habitantes do solo; f) extratos, outros resíduos de plantas produção nas diferentes áreas do conheci-
e algas marinhas. mento fornecerão informações suficientes
b) uso de coletor solar para desinfes-
Para o controle de pragas, diversos para o entendimento das diferentes inte-
tação de substratos utilizados na
produtos de baixo custo e fácil prepara- rações.
produção de mudas;
ção podem ser utilizados, incluindo as Assim, apenas a substituição de fungi-
c) tratamento térmico e desinfestação
caldas fitoprotetoras e os biofertilizantes cidas ou inseticidas não é suficiente para
de instrumentos de corte, visando garantir uma agricultura “mais limpa”. Há
(VENZON et al., 2010).
diminuir a propagação de doenças necessidade de redesenhar os sistemas de
O uso de extratos de algas marinhas na
como, por exemplo, o raquitismo da produção para atingir sua sustentabilidade.
agricultura é um campo que tem desper-
soqueira e a escaldadura das folhas Nesse sentido, diversos exemplos estão
tado o interesse da pesquisa nos últimos
em cana-de-açúcar; anos. Um dos motivos deve-se ao fato sendo apresentados para a comunidade.
d) uso de luz UVC para controle de de as algas marinhas crescerem rápido,
podridão de maçãs e outras frutas produzirem grande volume de biomassa HISTÓRICO DO USO DE
em pós-colheita; e serem fonte de diversas substâncias PRINCÍPIOS BIOATIVOS DE
PLANTAS NO CONTROLE DE
e) eliminação de determinados com- biologicamente ativas (TALAMINI;
FITOPATÓGENOS E PRAGAS
primentos de onda para o controle PAULERT, STADNIK, 2009). As espécies
de fungos fitopatogênicos em casa mais estudadas são a macroalga-verde O crescente aumento da produção
de vegetação. (Ulva fasciata), a alga-marrom (Laminaria orgânica de alimentos gerou concomitan-
digitata) e a alga Ascophyllum nodosum. temente a demanda por novas tecnologias
A utilização de métodos mecânicos e
Já existem produtos comerciais à base de e produtos que deem sustentabilidade a
culturais está relacionada com a supressão
extratos dessas algas, como por exemplo, este tipo de produção, tornando-a viável
das populações das pragas em determina- tecnológica e economicamente. O ser hu-
o Phyllum®, no Chile, e o Iodus 40®, na
das culturas como, por exemplo, o esmaga- mano sempre procurou recursos oferecidos
Europa.
mento de ovos e brocas e a coleta de lagar- pela natureza com a finalidade de encontrar
Apesar da disponibilidade de diversos
tas em hortaliças e em fruteiras. Medidas produtos e técnicas alternativas para o condições para sua sobrevivência e melhor
como rotação de culturas, aração de solo, controle de doenças e pragas, sua utilização adaptação ao meio em que vive. Nesse
poda, eliminação de restos culturais, entre ainda é restrita. Vários fatores contribuem contexto, o uso de extratos de plantas ou
outras, também são utilizadas no manejo para a adoção limitada dessas técnicas. de metabólitos secundários de plantas é
de doenças e pragas em algumas culturas Um dos principais refere-se à cultura uma ferramenta a mais a ser incorporada
(PAULA JÚNIOR et al., 2009). dos agricultores, que utilizam quase que nos sistemas alternativos de produção de
Bettiol, Ghini e Morandi (2005) apre- exclusivamente agrotóxicos, em razão da alimentos e nos sistemas convencionais
sentam uma série de produtos alternativos facilidade de uso e eficiência desses pro- como forma de aumentar sua sustentabili-
utilizados no Brasil, para o controle de dutos químicos. Outros fatores incluem a dade e segurança.
doenças de plantas, como: formação de pessoal de assistência técnica Informações sobre o emprego de es-
a) leite de vaca para o controle de oídio e extensão rural voltada à recomendação de pécies vegetais no tratamento de doenças
em diversas culturas; agrotóxicos para a solução dos problemas e pragas são encontradas desde os tempos
fitossanitários, e o papel das indústrias mais remotos. Existem relatos do uso de
b) casca de camarão e de outros crus-
de agrotóxicos na assistência técnica aos plantas no controle de pragas na Índia há
táceos para o controle de podridão-
produtores. 4.000 anos; no Egito e na China antiga,
de-raízes;
O uso de métodos alternativos, em ge- produtos derivados de plantas eram em-
c) taninos para o controle da fusariose ral, depende do conhecimento da estrutura pregados no controle de pragas em grãos
do abacaxizeiro; e do funcionamento do agroecossistema. O armazenados (MOREIRA et al., 2005).
d) biofertilizantes produzidos pela conceito absoluto de agricultura sustentá- Com a evolução do uso de produtos quí-
digestão anaeróbia ou aeróbia de vel pode ser impossível de ser obtido na micos no controle de doenças e pragas, não
diversas matérias orgânicas (MO); prática. Entretanto, é função dos órgãos só o conhecimento das plantas bioativas,
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como vários outros métodos tradicionais e como tipo de solo, disponibilidade de água a segunda classe com maior número de
mais sustentáveis foram deixados de lado. e ataque de patógenos e pragas. Plantas da constituintes ativos, na qual se encontram
Os resultados rápidos e o fácil acesso aos mesma espécie, cultivadas em diferentes os óleos essenciais.
agroquímicos fizeram com que a pesquisa localidades, normalmente possuem os É possível analisar os constituintes
e o conhecimento dos métodos alternativos mesmos compostos, mas as proporções em ativos (metabólitos secundários) mediante
de controle caminhassem mais lentamente. que são produzidos podem variar. reações de caracterização química. Desse
Somente após o conhecimento dos im- Esses metabólitos são responsáveis modo, é confirmada a presença e são
pactos ambientais negativos do uso dos por propriedades atribuídas aos vegetais, quantificados os grupos de substâncias,
agrotóxicos, a perda de eficiência e, mais principalmente as espécies medicinais, o como alcaloides, flavonoides, taninos,
recentemente, a demanda da sociedade por que vem sendo corroborado por pesquisas antraquinonas e heterosídeos. Pode-se
uma agricultura mais sustentável e ambien- e tornado cada vez maior o interesse da também proceder à detecção dos consti-
talmente correta, a investigação de outras comunidade científica e da indústria em tuintes ativos nas amostras em análise por
ferramentas de controle está retomando e entender e controlar os processos de sín- cromatografia em camada delgada (CCD)
alcançando o mercado. tese de metabólitos secundários (SILVA; e pela comparação dos vegetais-teste
Atualmente, estudos que envolvem CASALI, 2000). com padrões de identidade e constituição
plantas medicinais têm sido tema de inú- Fatores ambientais podem influenciar conhecidos.
meras análises nos mais variados tipos a quantidade e qualidade dos compostos A CCD consiste em depositar gotas
de eventos. O tema ainda é polêmico e secundários produzidos por determinada da solução em estudo na extremidade de
apresenta diferentes linhas de abordagens espécie de planta. Esses fatores devem ser determinada placa revestida de camada
quanto ao tipo de extrato a ser trabalhado, investigados com vistas a garantir a quali- uniforme de dada substância, na maioria
testes a serem utilizados, padronizações dade dos extratos obtidos e a eficácia de seu dos casos sílica, e promover o desenvol-
no processo de obtenção e controle de uso. É importante considerar as condições vimento do cromatograma por algum
qualidade do produto final. Grande parte em que as plantas são cultivadas, a época solvente que percorre a placa no mesmo
dos estudos científicos concentra-se na de cultivo, o horário de coleta, o estádio de sentido. Assim, a substância aderida à su-
área básica, como identificação e classi- desenvolvimento, os aspectos nutricionais perfície atua como adsorvente e o líquido
ficação botânicas de plantas promissoras, do solo e o estresse incidentes sobre as como eluente, processo que se baseia no
caracterização fitoquímica, identificação plantas portadoras de princípios bioativos. fenômeno da adsorção. Na CCD, a fase
e avaliação de compostos, necessitando Diversas substâncias do metabolismo estacionária é a camada fina formada por
de avanço no seu desenvolvimento para secundário são sintetizadas nas folhas e algum sólido granulado (sílica, alumina,
uso em campo. armazenadas em espaços extracelulares poliamida etc.), depositado sobre a placa
entre a cutícula e a parede celular. No en- de vidro, alumínio ou outro suporte inerte.
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS tanto, podem ser encontradas em todos os Pequenas gotas de solução das amostras
EM PLANTAS órgãos da planta, em espaços intercelulares a serem analisadas são aplicadas em um
As substâncias bioativas encontradas especiais que podem ser quase esféricos ou ponto próximo ao extremo inferior da
nas plantas normalmente são metabólitos isodiamétricos (cavidades ou bolsas) ou placa. Deixa-se a placa secar. Em seguida,
secundários, ou seja, não são utilizados alongados (ductos ou canais). Entre essas coloca-se a placa em recipiente contendo
diretamente para sua nutrição e desenvolvi- substâncias encontram-se taninos, flavo- a fase móvel (solvente ou mistura de sol-
mento. Ao contrário do que sugere o nome, noides, cumarinas, antranoides, terpenos, ventes). A polaridade do solvente deverá
esses compostos não são um material de antraquinonas, heterosídeos cardiotônicos, ser de acordo com a substância que se
refugo ou desprovido de significado para saponinas, etc., os quais possuem proprie- deseja separar. Como somente a base da
as plantas que os produzem. Podem atuar, dades específicas. placa fica submersa, o solvente atinge a
por exemplo, na defesa da planta contra Os terpenos são sintetizados a partir do fase estacionária e sobe por capilaridade.
organismos patogênicos e pragas e na atra- acetil-CoA, via rota do ácido mevalônico. Deixa-se secar a placa após o deslocamento
ção ou repulsão de diferentes insetos. Essas Os compostos fenólicos são substâncias da fase móvel. A revelação da placa é feita
substâncias também auxiliam no aumento aromáticas formadas via rota do ácido com aplicação do reagente que dá cor às
da capacidade de sobrevivência e adapta- chiquímico. Os compostos nitrogenados, substâncias de interesse. A CCD é utiliza-
ção às diferentes condições do ambiente. como alcaloides, são sintetizados a partir da com frequência na análise vegetal em
Por estarem associadas à adaptação a con- dos aminoácidos (Fig. 1). O metabolismo virtude da simplicidade, da rapidez e rigor
dições adversas, a quantidade e a qualidade do acetil-CoA gera o diversificado grupo dos resultados, sendo também utilizada na
desses compostos estão relacionadas com de metabólitos secundários, os isopre- padronização dos fármacos (controle de
os componentes genéticos e ambientais, noides ou terpenoides, que representam qualidade) pelas farmacopeias.
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o potencial de controle de fitopatógenos


pela ação fungitóxica direta, com inibição
do crescimento micelial e da germinação
de esporos, e pela indução de fitoalexinas,
indicando a presença de compostos com
características de eliciadores (SCHWAN-
ESTRADA; STANGARLIN; CRUZ,
2000).
Alcaloides formam um grupo econo-
micamente importante, pois entram na
composição de inúmeros medicamentos.
Plantas produtoras de alcaloides são po-
tencialmente perigosas se utilizadas sem
orientação médica, por isso são tidas como
de uso industrial. Podem causar toxidez
em pequenas doses. A coca e o tabaco
são exemplos de plantas produtoras de
alcaloides. A nicotina extraída do fumo
(Nicotiana tabacum) controla diversos
artrópodes sugadores por ação de contato
e fumigação.
Os taninos fazem parte de uma classe
de compostos denominados fenólicos,
com ampla distribuição no reino vegetal.
São substâncias solúveis em água, mas
com possibilidade de formar complexos
insolúveis, com alcaloides, gelatinas e
outras proteínas (SIMÕES et al., 2004).
Figura 1 - Ciclo biossintético dos metabólitos secundários São considerados os compostos secundá-
FONTE: Dados básicos: Santos (2004). rios mais importantes envolvidos na de-
fesa das plantas contra insetos e doenças
(SWAIN, 1979). Possuem ação bacterici-
PRINCIPAIS COMPOSTOS e princípios amargos. A natureza e a lo- da, fungicida, antiviral e moluscida. Esses
COM ATIVIDADE FUNGICIDA calização desses compostos determinarão compostos são responsáveis pela adstrin-
E INSETICIDA o método mais adequado de extração e a gência de muitos frutos e outros produtos
Os compostos fenólicos (taninos) e parte da planta a ser processada. vegetais. A complexação entre taninos e
os terpenos (componentes do óleo essen- Óleos essenciais são misturas com- proteínas é a base das suas propriedades
cial) constituem a maioria dos compostos plexas de substâncias voláteis, lipofílicas, como fator de controle de insetos, fungos
químicos utilizados na defesa das plantas com baixo peso molecular, geralmente e bactérias. Nas plantas, os taninos são
(MEYER; KARASOV, 1991). O composto odoríferas e líquidas. Na maioria das vezes, efetivos como repelente de predadores
é considerado biologicamente ativo, quan- são compostos de moléculas de natureza por tornarem os tecidos menos palatáveis,
do exerce ação específica sobre determi- terpênica (MORAES, 2009). Podem apre- por causa da precipitação das proteínas
nado ser vivo, seja microrganismo, seja sentar odor agradável e são utilizados em salivares ou pela imobilização de enzi-
organismo superior. Um grande número de indústrias de alimentos e cosméticos. Em mas, impedindo a invasão dos tecidos do
compostos obtidos de plantas é tido como geral são substâncias voláteis, porém, à hospedeiro pelo parasita. Diversos subs-
biologicamente ativo, por apresentar ação temperatura ambiente, apresentam aspecto tratos ricos em taninos conseguem inibir
antimicrobiana, antiviral, inseticida, repe- oleoso e são incolores, com variações para o desenvolvimento de bactérias perten-
lente ou anti-helmíntica, entre outras. Essas o amarelo. Trabalhos desenvolvidos com centes aos gêneros Bacillus, Clostridium,
substâncias podem ser óleos essenciais, extratos brutos ou óleos essenciais obti- Enterobacter, Pseudomonas, Nitrobacter,
resinas, alcaloides, flavonoides, taninos dos a partir da flora nativa têm indicado Staphylococcus e Streptococcus, como
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também inibem o crescimento dos fungos bióticos de ativação destacam-se diferentes da alimentação e morte, após horas ou dias
pertencentes aos gêneros Aspergillus, tipos de microrganismos, como fungos, da exposição (MOREIRA et al., 2005). De
Botrytis, Colletotrichum, Penicillium e vírus e bactérias, bem como moléculas de acordo com O’Brien (1967), o mecanismo
Trichoderma (SCALBERT, 1991). oligossacarídeos, glicoproteínas, oligopep- de ação da rotenona dá-se na cadeia respira-
tídeos e ácidos graxos (PASCHOLATI; tória (transporte de elétrons), impedindo a
MECANISMOS DE AÇÃO LEITE, 1995). Como fatores abióticos, regeneração do NAD+, uma diminuição do
DE EXTRATOS VEGETAIS destaca-se uma série de substâncias consumo de O2 em cerca de 95%, levando o
NO CONTROLE DE químicas, como ácido salicílico, ácido inseto à asfixia e consequente morte.
FITOPATÓGENOS
aminobutírico e ácido 2,6-dicloroisonico- A nicotina, um alcaloide extraído de
Diversos produtos naturais, entre os tínico e benzotiadiazólicos. A indução de plantas do gênero Nicotiana spp. (Sola-
quais os extratos vegetais, têm mostrado a resistência, como o próprio nome indica, naceae), age rapidamente sobre o sistema
capacidade de controlar fitopatógenos. O não se trata da criação de mecanismos de nervoso dos insetos, inibindo os receptores
controle pode ser decorrente da atividade resistência e sim da ativação de mecanis- da acetilcolinesterase. Os sintomas provo-
antimicrobiana exercida diretamente con- mos já existentes na planta. Caracteriza-se cados nos insetos são similares àqueles dos
tra o patógeno, retardando o crescimento pela redução da intensidade de doença na inseticidas carbamatos e organofosforados
micelial ou inibindo a esporulação e a planta após exposição aos eliciadores. (ISMAN, 2006).
germinação de esporos. Outro mecanismo A piperina, encontrada em pimentas
estudado é a ação indireta do produto sobre MECANISMOS DE AÇÃO DE do gênero Piper (Piperaceae), possui ação
a planta hospedeira por meio da ativação EXTRATOS VEGETAIS NO neurotóxica, afeta o sistema nervoso cen-
dos mecanismos de resistência da própria CONTROLE DE PRAGAS tral e causa rápida paralisia do inseto. A
planta, denominado indução de resistência. A atividade inseticida de extratos de cumarina é uma das substâncias tóxicas aos
Os princípios bioativos de plantas podem plantas pode ser manifestada pela mor- insetos presentes no mentrasto (Ageratum
exercer efeitos diretos e indiretos simul- talidade direta, repelência, esterilidade, conyzoides) (Asteraceae), age ligando-se
taneamente. interferência no desenvolvimento e modi- de forma irreversível ao citocromo P450,
A ação antimicrobiana dos extratos ficação do comportamento dos artrópodes. comprometendo a capacidade destoxi-
vegetais sobre fitopatógenos é identificada O modo de ação dependerá da substância cativa do inseto e inibindo a cadeia de
basicamente a partir de ensaio laborato- com atividade inseticida presente na plan- transporte de elétrons.
rial, em que os organismos patogênicos ta. A azadirachtina, encontrada no nim O mecanismo de ação dos limonoides,
são expostos a diferentes concentrações (Azadirachta indica) (Meliaceae), atua presentes nos óleos essenciais, sobre os
dos extratos vegetais ou suas frações, como deterrente alimentar e apresenta insetos, ainda não é compreendido plena-
avaliando-se a interferência no crescimento efeitos endócrinos nos insetos por bloque- mente. O limoneno e o linalol, presentes
vegetativo do fungo, na produção ou ger- ar a síntese e a liberação dos hormônios, no óleo de citros, atuam como inseticidas
minação de esporos. Com esses ensaios, entre os quais o hormônio da ecdise em de contato e fumigação (MOREIRA
são identificadas as plantas, ou partes insetos imaturos. Em insetos adultos, et al., 2005). Óleos essenciais de onze
delas, cujos extratos possuem potencial de mecanismo similar leva à esterilidade das plantas aromáticas da família Lamiaceae
controle de doenças. Vários trabalhos têm fêmeas (ISMAN, 2006). mostraram atividade contra ovos, larvas
sido feitos neste sentido para fungos dos As piretrinas, encontradas em plantas e adultos de Drosophyla auraria, entre as
gêneros Colletotrichum, Cladosporium, do gênero Chrysanthemum (Asteraceae), quais Mentha pulegium (poejo) mostrou-se
Fusarium, Oidium, Phytophthora, Rhizopus, causam paralisia nos insetos, agindo por a mais potente (ADDOR, 1994).
Mucur, Penicillium etc. Em pesquisas des- contato e por ingestão. Possuem ação
sa natureza, buscam-se produtos naturais neurotóxica, por se ligarem aos canais de PLANTAS COM POTENCIAL
que possam atuar em substituição ou em sódio, mantendo-os abertos e resultando em PARA CONTROLE DE
DOENÇAS E PRAGAS
associação aos fungicidas no controle de hipersensibilidade, interrompendo a trans-
doenças. missão do impulso nervoso (MOREIRA et Apesar da inexistência de levantamen-
As plantas apresentam um mecanismo al., 2005). A rotenona é um isoflavonoide tos completos sobre o uso de extratos de
relativamente complexo de defesa contra o encontrado em raízes e rizomas de Derris, plantas no controle de doenças e pragas no
ataque de microrganismos invasores. Esses Lonchocarpus, Tephrosia e Mundulea Brasil, são numerosos os agricultores que
mecanismos são ativados por substâncias (Leguminosae). Causa efeitos tóxicos vêm utilizando com sucesso extratos de
denominadas eliciadores, que podem ter inicialmente nos músculos e nervos dos nim, pimenta-do-reino, pimenta, alho, sa-
origem biótica ou abiótica. Entre os fatores insetos, acarretando interrupção imediata mambaia, eucalipto, mentrasto, cinamono,
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Plantas medicinais e aromáticas 75

Bougainvillea e outras plantas. Diversas registro de alguns fungicidas e, no caso ma, capim-limão, citros e eucalipto, exibem
receitas para o preparo caseiro dos extratos das frutas, as crescentes exigências dos potencial no controle de diversas doenças
podem ser encontradas em material técni- países importadores, quanto aos níveis de em pós-colheita, causadas por patógenos
co, como por exemplo em: Bettiol, Ghini resíduos tolerados nos frutos. Almeida, dos gêneros Penicillium, Aspergillus,
e Morandi (2005) e Venzon et al. (2008). Camargo e Panizzi (2009) observaram Botrytis, Fusarium e Alternaria.
Várias plantas, sejam nativas, sejam que extratos obtidos a partir de alho, ar- O nim é das espécies de plantas mais
exóticas, apresentam alguma atividade ruda, fumo e losna apresentaram maior difundidas para o controle de pragas. A
sobre agentes fitopatogênicos e, portanto, ação fungitóxica a C. acutatum, causador azadirachtina, principal composto tóxico
possuem potencial para ser estudadas, da flor-preta-do-morangueiro, bem como aos insetos encontrado no nim, possui
tendo em vista o desenvolvimento de pro- aos patógenos de pós-colheita, como efeito sobre mais de 200 espécies de artró-
dutos para o mercado. A grande vantagem Botrytis sp., Penicillium sp. e Rhizopus podes. A azadirachtina tem a vantagem de
em trabalhar com produtos comerciais sp. Isto indica a perspectiva do emprego ter baixa toxicidade a mamíferos, peixes
registrados é ter a garantia de eficácia e de extratos como alternativa ao controle e polinizadores (ISMAN, 2006). Possui,
segurança dos extratos utilizados. Como a de C. acutatum, integrando as técnicas de além da ação de contato, ação sistêmica
quantidade de produtos bioativos presentes pós-colheita com as práticas de campo, e translaminar. A aplicação de extrato de
em plantas da mesma espécie sofre diver- minimizando, assim, a utilização de agro- semente de nim, nas concentrações de
sas influências do ambiente e da própria tóxicos. Silva et al. (2008) avaliaram a ati- 0,025 a 0,1 g/L de azadirachtina, em ovos
planta, espera-se que produtos comerciais vidade dos extratos de mil-folhas (Achillea do bicho-mineiro do cafeeiro, Leucoptera
garantam a qualidade e a concentração dos millefolium) e boldo-da-terra (Plectranthus coffeella, causou inibição da formação
compostos bioativos presentes nos extratos barbatus) sobre isolados de Colletotrichum de minas nas folhas. Quando o extrato
comercializados. Outra vantagem do uso spp. obtidos em mamão, banana, cacau e foi aplicado sobre folhas com minas em
de produtos comerciais é que estes, além feijão e obtiveram controle que variou de estádio inicial, houve paralisação do de-
dos compostos bioativos, são apresentados 53% a 82%, com 2.000 ppm do extrato senvolvimento do bicho-mineiro, o que
em formulações que potencializam o efei- bruto das plantas. Posteriormente, ao indicou que o produto teve ação transla-
to dos extratos, facilitam sua aplicação e trabalharem com frações de mil-folhas, minar (VENZON et al., 2005). Para ninfas
manuseio por parte do usuário. obtiveram 100% de eficiência no controle da mosca-branca, Bemisia tabaci, em to-
Várias espécies têm demonstrado de Colletrotrichum musae, na concentração mateiro, o extrato aquoso de sementes de
potencial para uso no controle de doenças de 1.000 ppm. Estes resultados mostram, nim teve ação translaminar, sistêmica e de
de plantas, como Cymbopogom citratus, além da eficiência do uso dos extratos em contato, quando utilizado nas concentra-
Peumus boldus e Caryophyllus aromaticum. pós-colheita, a possibilidade de incremento ções de 1%; 0,5% e 0,3%, respectivamente
Outras plantas da flora brasileira apresen- da eficiência com a evolução dos estudos (SOUZA; VENDRAMIM, 2005).
tam potencial no controle de doenças, seja químicos dos extratos. Além da Azadirachta indica, outras
por atividade fungitóxica, seja por incre- Para patógenos habitantes de solo, meliáceas também possuem caracterís-
mentar a produção de fitoalexinas, como, resultados promissores foram obtidos pelo ticas promissoras no controle de pra-
por exemplo, arruda (Ruta graveolus), ale- uso de extratos de acácia-negra, dissolvi- gas, como a Trichilia pallida (catiguá)
crim (Rosmarinus officinalis), alfafa-cravo dos e aplicados sobre plantas de abacaxi, (TORRECILLAS; VENDRAMIM, 2001).
(Ocimum gratissimum), cânfora (Artemisia o que propiciou a redução da incidência Os extratos de alho são utilizados
canphorata), carqueja (Baccharis trimera), da fusariose em 26% (CARVALHO et contra pulgões, lagartas, mosca-do-chifre
capim-limão (Cymbopogon citratus), citro- al., 2002). e pulgas. Um dos fatores que têm limitado
nela (C. nardus), cúrcuma (Curcuma longa) Plantas do gênero Allium têm demons- seu uso é a falta de seletividade aos inimi-
e gengibre (Zingiber officinale). trado potencial para o controle de doenças gos naturais (MOREIRA et al., 2005). A ni-
O tratamento de doenças em pós- e pragas. Wilson et al. (1997), comparando cotina, apesar da sua eficiência no controle
colheita de frutas e hortaliças tem atraído mais de 345 extratos de plantas sobre a de artrópodes sugadores, é extremamente
especial interesse dos pesquisadores que germinação de esporos de B. cinerea, obti- tóxica a mamíferos, o que limita seu uso no
trabalham com extratos de plantas em de- veram os melhores resultados com plantas manejo de pragas (ISMAN, 2006).
corrência de problemas apresentados pelo do gênero Allium, chegando a 100% de
EXEMPLOS BEM-SUCEDIDOS
controle convencional, como a perda da inibição de germinação em placas.
eficiência de alguns produtos disponíveis Os óleos essenciais apresentam po- Existem, no Brasil, alguns extratos de
no mercado, o aumento da preocupação tencial no controle de doenças de plantas. plantas comercializados para uso agríco-
com a segurança alimentar, a perda de Plantas produtoras de óleos, como a cúrcu- la. Um dos mais estudados no controle
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76 Plantas medicinais e aromáticas

de doenças de plantas é o Ecolife-40®, brasileiras que ainda carecem de avaliação A busca de novos produtos naturais
extrato de biomassa cítrica, composto de quanto à atividade contra insetos e fungos com efeito inseticida e fungicida cons-
bioflavonoides cítricos, fitoalexinas cítri- de interesse na agricultura. Os trabalhos titui um campo de investigação aberto,
cas e ácido ascórbico, que atua por indução que procuraram indicar a presença de ati- amplo e contínuo. A grande variedade de
de resistência e por ação direta contra os vidades de extratos brutos, óleos essenciais substâncias presentes na flora representa
fitopatógenos. Obtiveram resultados sa- e suas frações evidenciam não só mais um um enorme atrativo na área de controle
tisfatórios contra bacterioses nas culturas potencial e sim uma realidade que precisa de fitopatógenos e pragas, principalmente
de pimentão e morango, Botrytis em uva, ser investigada em profundidade com levando-se em consideração que apenas
mal-de-sigatoka na banana, entre outras. O apoio de instituições públicas e privadas. uma pequena parcela dessas plantas foi
produto está registrado como fertilizante A tendência do mercado consumidor é investigada com esse propósito.
no Ministério da Agricultura, Pecuária e a crescente demanda por alimentos livres
Abastecimento (MAPA) e possui selo de de produtos nocivos à saúde do homem e AGRADECIMENTO
certificação orgânica (IBD, Botucatu, SP). prejudiciais à qualidade do ambiente. Para À Fundação de Amparo à Pesquisa do
Produtos obtidos a partir do óleo de nim obtenção desses produtos, é necessário o Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao
têm boa aceitação no mercado por apresen- desenvolvimento de métodos alternativos Conselho Nacional de Desenvolvimento
tar eficiência semelhante aos inseticidas de controle. Os produtos derivados de Científico e Tecnológico (CNPq).
naturais. Além disso, esses produtos apre- plantas apresentam, em princípio, caracte-
sentam baixa toxicidade aos mamíferos. rísticas desejáveis como baixa toxicidade, REFERÊNCIAS
Resultados de pesquisa têm demonstrado baixo custo de desenvolvimento, baixo
ADDOR, R. W. Insecticides. In: GODFREY,
o potencial acaricida e inseticida de produ- efeito residual e baixa persistência no C. R. A. (Ed.). Agrochemicals from natural
tos à base de nim disponíveis no mercado ambiente. products. New York: Marcel Dekker, 1994.
(VENZON et al., 2008). Já existem vários Com algumas exceções, os poucos cap.1, p.1-62.
produtos no mercado brasileiro como Aza- produtos existentes no mercado não são ALMEIDA, T. F.; CAMARGO, M.; PANI-
max®, Dalneem emulsionável®, Organic registrados como fitossanitários em decor- ZZI, R. de C. Efeito de extratos de plantas
Neem® e Neenseto®. rência do custo necessário para atender à medicinais no controle de Colletotrichum
A manipueira (nome indígena para o legislação pertinente. Por outro lado, há a acutatum, agente causal da flor preta do
morangueiro. Summa Phytopathologica,
extrato das raízes da mandioca, Manihot necessidade de comprovação da segurança
Botucatu, v.35, n.3, p.196-201, Jul./Set.
esculenta), subproduto da fabricação da fa- dos produtos para o aplicador, para o con- 2009.
rinha de mandioca, tem sido utilizada como sumidor e para o ambiente.
BETTIOL, W.; GHINI, R.; MORANDI, M. A.
nematicida, inseticida, acaricida, fungicida Para a indústria química, os vegetais B. Alguns métodos alternativos para o con-
e bactericida, superando, nos ensaios expe- são fonte inesgotável de moléculas, muitas trole de doenças de plantas disponíveis no
rimentais, os pesticidas recomendados para desconhecidas, que podem servir de mo- Brasil. In: VENZON, M.; PAULA JÚNIOR,
cada caso, em diferentes culturas (PONTE, delo para síntese química. Geram produtos T. J.de; PALLINI, A. (Coord.). Controle al-
2002). A manipueira contém um composto de baixo custo, eficazes, ambientalmente ternativo de pragas e doenças. Viçosa, MG:
denominado linamarina de cuja hidrólise EPAMIG-CTZM, 2005. p.163-183.
seguros, padronizados, registrados, com
provém a acetona-cianohidrina, da qual controle de qualidade, visando reprodu- CAMPANHOLA, C.; BETTIOL, W. Situação
resultam o ácido cianídrico e os cianetos, e principais entraves ao uso de métodos al-
tibilidade e constância de componentes
ternativos aos agrotóxicos no controle de
além de aldeídos. Esses cianetos são res- químicos e, principalmente, que atendam pragas e doenças na agricultura. In: CAM-
ponsáveis pela ação inseticida, acaricida e às necessidades dos produtores. A pes- PANHOLA, C.; BETTIOL, W. (Ed.). Métodos
nematicida do composto, enquanto o enxo- quisa com plantas medicinais como fonte alternativos de controle fitossanitário. Ja-
fre presente em grande quantidade e outros de defensivos naturais é promissora, com guariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2003.
compostos exercem atividade antifúngica. possibilidade de novas e relevantes des- p.265-279.

cobertas, porém, deve estar alicerçada em CARVALHO, R. A. et al. Controle da fusa-


PERSPECTIVAS DO USO DE estudos interdisciplinares, para que se ob- riose do abacaxizeiro com taninos e vita-
EXTRATO DE PLANTAS minas. João Pessoa: EMEPA-PB, 2002. 28p.
tenham resultados conclusivos. Há ainda a
EMEPA - PB. (Boletim de Pesquisa, 11).
O Brasil é o país com a maior diver- necessidade de implantação de ensaios nas
ISMAN, M. B. Botanical inseticides, deter-
sidade vegetal do mundo. Em contrapo- condições ecológicas de uso do produto,
rents, and repellents in modern agriculture
sição, a composição química das plantas que ainda são em número reduzido, quando and an increasingly regulated world. Annu-
é praticamente desconhecida. Pouco se comparado com a quantidade de ensaios in al Review of Entomology, v.51, n.1, p.45-66,
sabe, em termos fitoquímicos, das plantas vitro publicados (MORAIS, 2009). Jan. 2006.

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Plantas medicinais e aromáticas 77

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Plantas medicinais e aromáticas 79

Benefícios da homeopatia no cultivo de plantas medicinais


Vicente Wagner Dias Casali 1
Daniel Melo de Castro 2
Cintia Armond 3
Maira Christina Marques Fonseca 4
Fernanda Maria Coutinho de Andrade 5
Elen Sonia Maria Duarte 6
Viviane Modesto Arruda 7

Resumo - A ciência da homeopatia propõe nova visão dos organismos vivos. Sua
tecnologia é livre de resíduos de moléculas e acessa de modo natural, rápido e dura-
douro a autorregulação dos organismos vivos por similitude. As plantas medicinais
respondem rapidamente ao estímulo homeopático, sendo as respostas evidenciadas,
principalmente, no metabolismo secundário. A homeopatia, no manejo dos agrossis-
temas, é inserção eficiente e viável por dispensar agrotóxicos, o que permite a rápida
transição dos modelos de produção a condições mais ecológicas e sustentáveis. Culti-
var plantas medicinais com homeopatia é alternativa natural e promissora na produ-
ção de matéria-prima. Traz benefícios à saúde dos trabalhadores rurais, à qualidade
do ambiente e à saúde dos consumidores.

Palavras-chave: Planta medicinal. Preparado homeopático. Autorregulação. Manejo


ecológico. Sustentabilidade. Agricultura familiar.

INTRODUÇÃO As bases conceituais da homeopatia são vivos. Os resultados das pesquisas em


coerentes tanto com as teorias físicas mais plantas e das experiências práticas de uso
A homeopatia foi fundamentada a partir
recentes de compreensão do Universo, da homeopatia no manejo dos agrossis-
de 1796, por Samuel Hahnemann, e desde
quanto com os princípios que norteiam a temas permitem afirmar seus benefícios
então é aplicada no equilíbrio dos seres
produção orgânica e ecológica de alimen- ecológicos, sociais, econômicos, políticos
vivos. Chegou ao Brasil em 1840, sendo
tos (CASALI et al., 2006). e culturais, contribuindo com o desenvol-
incorporada à cultura popular. Segundo Cupertino (2008), a homeopa- vimento sustentável (CNPq, 2007). As
A ciência da homeopatia é embasada tia é ferramenta útil à agroecologia, é facil- homeopatias experimentadas amplamente
em experimentações, possuindo também mente assimilada pelas famílias agrícolas recebem nome em latim, como, por exem-
base teórica, princípios, filosofia e meto- e contribui com os processos de conversão plo, a Nux vomica (Strychnos nux-vomica
dologia. Os fenômenos possuem repetibili- dos agrossistemas aos modelos mais ecoló- L.), planta medicinal conhecida também
dade, relação causa-efeito, são previsíveis, gicos e sustentáveis de produção. como fava-de-santo-inácio, da família das
quantificáveis e descritíveis (CASALI et A homeopatia é ciência e terapêutica Loganiaceae, que contém como princípios
al., 2006). aplicada ao equilíbrio dos organismos ativos alcaloides (estricnina, brucina,

1
Eng o Agr o , D.Sc., Prof. Tit. UFV - Depto. Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: vwcasali@ufv.br
2
Eng o Agr o , D.Sc., Prof. UFLA - Depto. Biologia, Caixa Postal 3037 CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: dmec@ufla.br
3
Eng a Agr a , D.Sc., Prof a UFRB, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio eletrônico: cintiarmond@ufrb.edu.br
4
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: maira@epamig.br
5
Eng a Agr a , D.Sc., Bolsista CNPq/UFV - Depto. Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: fernandamcandrade@hotmail.com
6
Eng a Agr a , D.Sc., Prof a Faculdade Pitágoras, CEP 35160-306 Ipatinga-MG. Correio eletrônico: elensonia@yahoo.com.br
7
Eng a Agr a , D.Sc., Prof a UFMG - Unidade Ubá, CEP 36500-000 Ubá-MG. Correio eletrônico: viviarruda@yahoo.com.br

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80 Plantas medicinais e aromáticas

vomicina, colubrina), ácido sulfúrico e as patogenesias geradas pela experimen- acordo com os processos naturais de dentro
taninos. tação retratam a essência informacional para fora, governada pelo princípio vital
O cultivo das plantas medicinais deve contida nos diversos recursos da natureza (LISBOA et al., 2005).
priorizar práticas ecológicas de produção utilizados como matéria-prima. O que é definido em homeopatia como
que minimizem as interferências humanas Resultados de pesquisas relacionados princípio vital é algo de natureza imaterial,
e contribuam com a integridade do poten- com a patogenesia de diversas substâncias dinâmico e mantenedor da integridade
cial terapêutico das espécies, bem como constam nos textos de Acologia das Altas orgânica. (LISBOA et al., 2005).
a colheita de plantas livres de resíduos Diluições8. Sob o ponto de vista homeopático,
químicos. equilíbrio é sinônimo de saúde e os sin-
A homeopatia é alternativa simples, ba- Medicamento único tomas são apenas sinalizadores do estado
rata, eficiente e promissora ao cultivo das Uma substância é experimentada vital dos organismos, do modo como rea-
espécies medicinais. É tecnologia social e de cada vez, bem como, de acordo com gem diante das relações do meio interno
ecológica coerente com novos paradigmas Hahnemann, cada quadro patológico é com o meio externo, e não a doença em si
de compreensão do Universo e das relações equilibrado com um único preparado ho- (LISBOA et al., 2005).
humanas com a natureza. Está disponível meopático, exatamente aquele que causa Os preparados homeopáticos, quando
a todos que queiram colaborar com a qua- sinais mais similares aos sintomas. escolhidos pela similitude, acessam o
lidade de vida no planeta. princípio vital, veiculando a informação
Doses mínimas e conceitual semelhante ao quadro patoló-
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA dinamizadas gico (CASALI et al., 2006) e fortalecendo
HOMEOPATIA o sistema de defesa/resistência dos orga-
Os preparados homeopáticos são
Os princípios da homeopatia aplicam- obtidos pelo processo de dinamização, nismos vivos de modo rápido, simples e
se a qualquer nível de complexidade, sendo ou seja, diluição mais sucussão (agitação duradouro (LISBOA et al., 2005).
fundamentados pelas recentes teorias da forte) sucessivas de alguma matéria-prima. A homeopatia dispõe de recursos que
Física Moderna. Por isso é denominada A escala de diluição mais comum é a acessam os mecanismos de autorregulação
tecnologia de ponta e ciência do terceiro centesimal, proposta por Hahnemann. Na dos organismos vivos de modo natural
milênio. Hahnemann estabeleceu os quatro escala centesimal, após a 12a diluição, não como se fosse intrínseca (ENDLER;
princípios básicos da homeopatia (CASALI há probabilidade de haver qualquer molé- DORFMAN, 1995), sendo constatado nas
et al., 2006): similitude, experimentação cula da substância original, mas apenas o experimentações que os preparados home-
em seres sadios, medicamento único e registro de suas informações, garantido opáticos têm ação em sistemas biológicos
doses mínimas e dinamizadas. pelo processo concomitante da sucussão vivos em diversos níveis de complexidade
(CASALI et al., 2006). (CASALI et al., 2006).
Similitude Diversas matérias-primas podem ser Na homeopatia, o equilíbrio dos or-
“Semelhante cura semelhante” ou utilizadas na elaboração do preparado ganismos vivos depende dos fenômenos
“cura pelo semelhante”. De acordo com homeopático: vegetais, animais, minerais, vitais terem sentido centrífugo (hologra-
este princípio, qualquer substância capaz microrganismos puros ou não, venenos e ma ao universo) e exonerativo. Havendo
de causar sinais num experimentador sadio misturas diversas, como, por exemplo, fo- supressão dos fenômenos vitais, a doença
será capaz de curar, em doses adequadas, lhas doentes, grãos brocados, frutos ataca- muda o rumo tornando-se centrípeta,
o organismo doente, com sintomas seme- dos por insetos, etc., desde que respeitados interiorizando-se, e agrava o estado do
lhantes aos sinais. os procedimentos (ARRUDA et al., 2005). organismo vivo (animais, plantas, solo,
águas, hominais), alojando-se em órgãos
Experimentação em seres NOVA VISÃO DOS de maior hierarquia (LISBOA et al., 2005).
sadios ORGANISMOS VIVOS A supressão dos sintomas de seres
Na homeopatia, o poder medicinal das E O EQUILÍBRIO PELA vivos implica em voltar a forma do
HOMEOPATIA
substâncias é conhecido pela experimenta- desequilíbrio às hierarquias maiores. A
ção em seres sadios. O conjunto de sinais Dentro da nova visão dos organismos informação que deu origem aos sintomas
manifestado nas experimentações é deno- vivos e o respectivo equilíbrio pela ho- volta ao interior do ser vivo, levando a
minado patogenesia da substância. Assim, meopatia, a cura deve ser praticada em informação do medicamento alopático e

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Acologia das altas diluições, de autoria de Vicente Wagner Dias Casali, Fernanda Maria Coutinho de Andrade e Elen Sonia Maria Duarte, a
ser editado pela UFV-DFT, 2010.

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seus efeitos intoxicantes. Na agricultura, os agrotóxicos das propriedades rurais” Os agricultores homeopatas reconhe-
isso acontece comumente em plantas que (CASALI et al., 2006). cem a necessidade de desintoxicar seus
foram selecionadas, visando à produtivida- A homeopatia, como insumo, con- solos, plantas, animais, águas e a si mes-
de e à dependência dos ambientes propí- tribui na rápida transição dos métodos mos dos agroquímicos, por isso utilizam a
cios a essa maior produção, por exemplo: convencionais de agricultura aos sistemas Nux vomica e outras homeopatias obtidas a
presença de adubos químicos altamente agrícolas sustentáveis, com produção de partir de elementos contaminantes (NPK,
solúveis, nível de água otimizada no solo alimentos saudáveis; por meio da substitui- venenos, agrotóxicos, etc.) (CUPERTINO,
e atualmente dependência de agrotóxicos ção de agroquímicos (ANDRADE, 2007). 2008).
(CASALI et al., 2006). Entretanto, o potencial da homeopatia na A experimentação de novos preparados
agropecuária orgânica extrapola o nível homeopáticos no meio rural, a partir de
COMO A HOMEOPATIA É de insumo, sendo grande sua contribuição recursos locais, tem sido valorizada, por
UTILIZADA NA AGRICULTURA na compreensão dos processos de adoeci- ser vista como estratégia de sustentabili-
mento e cura. O homeopata rural reconhece dade, favorecendo a independência dos
A ciência da homeopatia aplicada
as causas do adoecimento no manejo e agricultores do auxílio técnico e do uso de
na agricultura visa promover a saúde no
histórico de uso da área e dos recursos, à recursos externos à propriedade.
meio rural, produzir alimentos saudáveis,
medida que se integra com o agrossistema. Cupertino (2008), analisando o perfil
manter uma convivência harmoniosa com
Assim, o potencial estende-se também aos dos homeopatas rurais, concluiu que a
o ambiente e buscar a independência da
sistemas agroecológicos, favorecendo a busca da homeopatia como alternativa aos
família agrícola (CASALI et al., 2006).
compreensão das relações e interações, e o agrossistemas depende menos do aprendi-
Este conhecimento vem sendo construído
direcionamento dos processos evolutivos.
conjuntamente por agricultores, técnicos, zado escolar e mais do aprendizado com a
Desse modo, os preparados homeopáticos
terapeutas, pesquisadores e demais estu- natureza. A assimilação dos ensinamentos
podem potencializar práticas de manejo.
dantes e experimentadores da homeopatia. sobre homeopatia revela a simplicidade e a
A escolha da homeopatia para os seres
A iniciativa de aplicar os princípios da ho- lógica natural dos princípios desta ciência.
vivos é feita por similitude, ou seja é es-
meopatia no meio rural partiu de algumas Assim, vem sendo consolidada a im-
colhida aquela substância que, em experi-
famílias agrícolas brasileiras. Em 1999, a plementação da homeopatia no meio rural,
mentação, gera o quadro mais assemelhado
homeopatia passou a ser recomendada na guiada pelo objetivo maior de resgatar e
ao quadro vital do ser adoecido (LISBOA
Instrução Normativa no 7, do Ministério preservar a harmonia do ambiente, a ge-
et al., 2005). De acordo com a Lei de
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ração de alimentos saudáveis e a melhoria
Ressonância, pela similitude, o preparado
(MAPA), sobre a produção orgânica de das condições de vida.
homeopático é capaz de promover o res-
alimentos no Brasil (BRASIL, 1999). Em tabelecimento do equilíbrio por interferir, Homeopatia no cultivo das
2003, o Ministério do Trabalho reconheceu por ressonância, na dinâmica dos processos plantas medicinais
a ocupação homeopata (não médico). As- vitais (BELLAVITE, 2002).
sim, a atividade do homeopata popular foi O agricultor que estuda a homeopatia As plantas medicinais utilizadas como
legalizada no Brasil (CASALI et al., 2006). é experimentador. Realiza analogias entre alimento e na terapêutica humana, animal e
Em 2004, a homeopatia na agricultura foi preparados homeopáticos descritos em vegetal devem ser cultivadas com o manejo
certificada pela United Nations Educatio- livros de acologia com os vários organis- orgânico/ecológico, preservando, assim,
nal, Scientific and Cultural Organization mos da propriedade agrícola. As famílias sua qualidade biológica. A qualidade
(Unesco)/Fundação Banco do Brasil, como agrícolas que aprendem e praticam a ho- biológica refere-se à composição interna
tecnologia social efetiva, a qual implica em meopatia geram a tecnologia aplicada no equilibrada, mas também à ausência de
ser simples, barata e acessível a todos os manejo dos agrossistemas (CNPq, 2007). resíduos químicos provenientes de aduba-
agricultores, não causando dependência A experimentação no meio rural é ções e agrotóxicos.
da unidade familiar agrícola. A efetividade inovadora, pois os agricultores são livres, A homeopatia pode ser utilizada nas
implica em solucionar o problema a que criativos e buscam, nos recursos locais, a etapas de preparo do solo e cultivo de
se propôs resolver. O critério dessa cer- matéria-prima para as homeopatias. Assim, plantas medicinais, sendo útil em diversas
tificação deve-se ao fato de a homeopatia reconhecem o potencial da homeopatia etapas da cadeia produtiva, favorecendo o
ser “método de impacto com resultado feita dos insetos desequilibrados e inva- desenvolvimento de plantas saudáveis, em
comprovado, que soluciona o problema sores (nosódios); a homeopatia das plantas ambiente equilibrado e livre de resíduos de
social do uso racional/ecológico da terra, espontâneas; a homeopatia do solo e da agrotóxicos.
quanto à produção de alimentos saudáveis, rocha-mãe; a homeopatia da urina, dentre Diversas preparações homeopáticas
respeitando a biodiversidade e dispensando tantas outras (CNPq, 2007). interferem na qualidade biológica do solo,
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causando alterações em atributos como de Spodoptera frugiperda interfere no a saúde dos trabalhadores rurais e consu-
atividade e eficiência microbiana, condu- ciclo reprodutivo da lagarta, contribuindo midores. Por serem soluções altamente
tividade elétrica, umidade e formação de para a redução da porcentagem de plantas diluídas, os preparados homeopáticos não
agregados no solo. A homeopatia acessa atacadas. causam extinção de espécies, mas apenas
a dinâmica da matéria orgânica (MO), Além dos nosódios, outras homeopa- organizam/equilibram as populações
contribuindo com a nutrição das plantas tias são úteis no controle de insetos como (ANDRADE, 2007).
e com a estruturação do solo saudável Calcarea phosphorica no controle de Cultivar plantas medicinais é uma al-
(ANDRADE, 2004). pulgão (ARMOND, 2003), Ruta, Sulphur ternativa de renda das famílias agrícolas.
O crescimento de plantas em solo e Magneseia carbonica no controle de A qualidade das plantas agrega valor à
saudável, equilibrado, biologicamente curuquerê-da-couve (MAPELI et al., produção. Por ser simples, barata e acessí-
ativo e eficiente são requisitos básicos à 2007). A Silicea aumenta a resistência das vel a todos os agricultores, a tecnologia da
produção de plantas sadias, defensivas e plantas, sendo aplicada como preventivo. homeopatia tem viabilizado a articulação
mais adaptadas. As homeopatias Sulphur e Pulsatilla, de agricultores com baixa escala de produ-
Segundo Figueiredo (2009), a home- indicadas na indução da floração, também ção, o que é essencial na implantação de
opatia causa alterações em atributos de são aplicadas em casos de desequilíbrios novos modelos tecnológicos com inserção
qualidade da água, tais como: condutivi- na reprodução, floração e frutificação. no mercado.
dade elétrica, oxigênio dissolvido, turbidez Nas podas e na colheita as homeopatias O estudo e a prática da homeopatia têm
e temperatura. Os dados são promissores, Arnica montana e Ignatia amara são efi- promovido melhoria das condições socio-
indicam o potencial de desenvolvimento cientes para minimizar os danos causados econômicas e ambientais dos agricultores
de tecnologias simples e baratas, aplicadas por essas práticas, favorecendo a rápida familiares; bem como benefícios à saúde
ao tratamento da água de irrigação a partir recuperação da planta-matriz (em fase de da família agrícola, seja pelo abandono
das soluções dinamizadas, contribuindo elaboração)9. definitivo dos agrotóxicos, seja pelo co-
para a qualidade das plantas e do ambiente A homeopatia, associada ao manejo nhecimento de práticas naturais com o uso
de cultivo. ecológico das plantas medicinais, con- de recursos locais (CNPq, 2007).
Na propagação das plantas, a home- tribui para a qualidade das plantas e para
opatia propicia maior enraizamento de a conservação do ambiente. O manejo é RESULTADOS DE PESQUISAS
estacas (BONFIM et al., 2008) e aumento essencial à saúde do sistema, assim como
da germinação e vigor das sementes o respeito às particularidades e exigências A Universidade Federal de Viçosa
(SILVEIRA, 2008). das espécies quanto às condições ambien- (UFV) é pioneira, no Brasil, em pesquisa
As soluções dinamizadas são utili- tais. A homeopatia potencializa práticas na área de homeopatia aplicada às plan-
zadas no controle de insetos. Ainda não de manejo, mas não dispensa os cuidados tas. As pesquisas iniciaram-se em 1999,
foram constatados casos de resistência básicos. contando, em 2009, com o acervo de 28
do inseto e nem de prejuízos aos inimigos O cultivo de plantas medicinais é dissertações/teses defendidas e publicadas.
naturais. O alvo é a preservação da espécie atividade promissora. Primeiramente, As plantas medicinais são apontadas
na área, porém com equilíbrio no ambiente cultivar as plantas reduz o extrativismo de como boas experimentadoras dos prepara-
(MAPELI et al., 2007). espécies nativas e espontâneas, enriquece dos homeopáticos (CASALI et al., 2006).
Os nosódios são amplamente utilizados o ambiente em diversidade e colabora com As respostas em plantas são sinalizadas
no meio rural no controle de insetos e mi- a saúde da família agrícola, conservando no metabolismo secundário, o qual está
crorganismos. Nosódio é toda preparação saberes e sendo alternativa nos cuidados diretamente relacionado com a defesa e as
homeopática feita a partir do agente de básicos de saúde. interações ambientais. Assim, as plantas
desequilíbrio (ARRUDA et al., 2005). A homeopatia é tecnologia ecológica, medicinais são úteis à pesquisa básica, con-
Assim, havendo infestação de pulgão, o cujas vantagens do uso são: garantir a eco- firmando em plantas a ação da homeopatia
preparado homeopático obtido a partir do nomia dos recursos naturais, considerando no mecanismo de defesa.
pulgão é denominado nosódio. O nosódio é as quantidades mínimas de matéria-prima Muitas plantas medicinais já foram
tecnologia brasileira, muito eficiente e ela- necessárias na elaboração dos preparados utilizadas como experimentadoras de pre-
borada a partir de recursos da propriedade. homeopáticos; não deixar resíduos no parações homeopáticas. Verifica-se que as
Segundo Almeida et al. (2003), o nosódio ambiente e nos produtos e não prejudicar homeopatias causam alterações:

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ser editado pela UFV-DFT, 2010.

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a) na produção de compostos fárma- ao aumento da dinamização ocorrem de A inserção da homeopatia no manejo


cos-ativos de defesa; forma não-linear (CASALI et al., 2006). dos sistemas agrícolas traz benefícios
b) no crescimento (CASTRO, 2002; As dinamizações homeopáticas causam ambientais por substituir os agrotóxicos,
DUARTE, 2007); efeitos reversos em experimentações, veri- priorizar o uso de recursos da propriedade
c) na estrutura e histoquímica (ARRU- ficados também em estudos de toxicologia e minimizar o aporte de recursos externos,
DA, 2005); de substâncias ponderais, denominados promovendo equilíbrio nas relações dos
Hormese. Fato que também acontece na diversos componentes do sistema.
d) na fotossíntese (SILVA, 2005);
ciência homeopática. A homeopatia em A produção vegetal com homeopatia é
e) na desintoxicação; baixas dinamizações causa determinado inovadora e permite a inclusão de famílias
f) na bioeletrografia (ALMEIDA et al., tipo de sintomas, enquanto que dinami- agrícolas, minimizando os custos de pro-
2002). zações mais altas acarretam sintomas dia- dução e agregando valor à matéria-prima.
As bioeletrografias registram informa- metralmente opostos (BASTIDE, 1995). Estudar e praticar a homeopatia con-
ções do campo eletromagnético referente O comportamento de oscilação também é tribui para o resgate de relações mais har-
à totalidade do organismo. verificado no teor de tanino produzido pela moniosas do ser humano com a natureza,
A homeopatia atua na informação cons- espécie medicinal Sphagneticola trilobata, melhorias na autoestima e autonomia das
trutiva e defensiva dos sistemas de vitali- refletindo a dinâmica interna da planta na famílias agrícolas.
dade (LISBOA et al., 2005). A homeopatia presença de Sulphur, o que confirma o
previne as plantas de estresses, economi- resultado de outros autores (OLIVEIRA REFERÊNCIAS
zando energia, tornando-as mais eficientes et al., 2006). ALMEIDA, A.A. et al. Tratamentos ho-
nutricionalmente em ambiente desfavo- As plantas respondem rapidamente às meopáticos e densidade populacional de
rável (CASALI et al., 2006). Segundo preparações homeopáticas. Segundo Silva Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797)
Armond (2003), Calcarea phosphorica é (2005), Sphagneticola trilobata reage 1 (Lepdoptera: Noctuidae) em plantas de mi-
eficiente no controle de pulgões em Bidens minuto após ser tratada com preparados ho- lho no campo. Revista Brasileira de Milho
pilosa. De acordo com Carvalho (2001), o meopáticos, o que aumenta a fotossíntese, e Sorgo, Sete Lagoas, v.2, n.2, p.1-8. 2003.
preparado homeopático feito da artemísia sendo este efeito persistente ao longo de 20 ALMEIDA, M.A.Z. et al. Teor foliar de cobre
(Tanacethum parthenium) estressada por minutos. No caso da produção de tanino, o durante o desenvolvimento do manjericão
falta de água sinaliza a planta normal, efeito também é quase imediato na planta, (Ocimum basilicum L.) intoxicado com sul-
preparando-a defensivamente, quando fato de cobre e tratado com Cuprum CH30.
uma vez que houve alteração rápida (15
estressada por falta de água. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE HO-
minutos após a aplicação da homeopatia)
MEOPATIA NA AGROPECUÁRIA ORGÂ-
Almeida et al. (2002) verificaram redu- no teor do metabólito secundário. NICA, 3., 2001, Campinas do Sul. Anais...
ção significativa no teor foliar de cobre em De acordo com Lisboa (2006), os Viçosa, MG: UFV, 2002. p.91-95.
plantas de manjericão (Ocimum basilicum), preparados homeopáticos provocaram
previamente intoxicadas com cobre e tra- ANDRADE, F.M.C. Alterações da vitalidade
efeito na assimilação de CO2 da planta do solo com o uso de preparados homeo-
tadas com a homeopatia Cuprum 30CH. Ruta graveolens (arruda). O preparado páticos. 2004. 316f. Tese (Doutorado em Fi-
Em homeopatia é possível promover a
homeopático Cantharis aumentou a assi- totecnia) - Universidade Federal de Viçosa,
desintoxicação dos organismos a partir do Viçosa, MG, 2004.
milação de CO2. O preparado homeopático
próprio agente de intoxicação dinamizado.
Apis mellifica 6CH serve de antídoto à _______. Estratégias e métodos de imple-
As homeopatias Arnica montana 3CH,
patogenesia causada por Cantharis 4CH mentação da homeopatia na agropecuária
6CH e 12CH estimulam maior enraizamen-
em plantas de arruda, significando anta- rural. In: SEMINÁRIO SOBRE CIÊNCIAS
to de estacas de Lippia alba (BONFIM et BÁSICAS EM HOMEOPATIA, 8., 2007, La-
gonismo aos efeitos de Cantharis.
al., 2008). A Arnica montana é indicada ges. Anais... Lages: EPAGRI: UDESC, 2007.
em situações de estresse, como, por exem- p.27-32.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
plo, a produção de mudas, que envolvem
ARMOND, C. Crescimento e marcadores
podas, mudança de ambiente de cultivo e A ciência da homeopatia possui co-
químicos em plantas de Bidens pilosa L.
adaptação. nhecimentos e tecnologias aplicáveis ao (Asteraceae) tratadas com homeopatia.
Os resultados de pesquisa indicam ser cultivo orgânico/ecológico das plantas 2003. 127f. Dissertação (Mestrado em Fi-
fundamental a escolha da homeopatia e medicinais. Por ser livre de resíduos quí- totecnia) - Universidade Federal de Viçosa,
respectiva dinamização, para que sejam micos e por agir de modo natural como se Viçosa, MG, 2003.
observadas respostas das plantas ao estí- fosse intrínseco aos organismos vivos, o ARRUDA, V.M. Aplicações de soluções
mulo. No caso das espécies medicinais, preparado homeopático contribui com a homeopáticas em Achillea millefolium
as respostas do metabolismo secundário produção de plantas de qualidade. (Asteraceae): abordagem morfofisiológica.

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84 Plantas medicinais e aromáticas

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Plantas medicinais e aromáticas 85

Cuidados na colheita e pós-colheita


de plantas medicinais e aromáticas
Franceli da Silva 1
Glyn Mara Figueira 2

Resumo - A qualidade do produto é obtida durante todo o processo produtivo


(pré-colheita), desde a identificação botânica, escolha do material vegetal, época
e local de plantio, tratos culturais, até a determinação da época e dos cuidados
na colheita. Não é possível melhorar a qualidade do produto por meio do
processamento pós-colheita, mas sim minimizar sua perda. A produção de
plantas medicinais e aromáticas apresenta aspectos técnicos que podem definir
a sua viabilidade econômica. O produto agrícola (planta medicinal, aromática ou
condimentar), matéria-prima para uma indústria farmacêutica e/ou alimentícia,
em geral, é processado em locais distantes de seu cultivo, podendo ser armazenado
para processamento durante um período após sua colheita. Sendo assim, a secagem
representa uma operação amplamente utilizada, porém, as condições variam de
acordo com a infraestrutura de cada propriedade, muitas vezes comprometendo
a qualidade do produto no final de seu processo produtivo. A pós-colheita de
um produto agrícola é o conjunto de processos realizados que visa preservar
sua qualidade adquirida pelas técnicas adequadas de cultivo, para aumentar
seu período de conservação. Portanto, o processamento pós-colheita envolve
desde a colheita, observando o uso de mão-de-obra e equipamentos adequados,
a separação da parte de interesse, o processo da secagem, a nova separação do
produto, a embalagem até o armazenamento.

Palavras-chave: Secagem. Armazenamento. Planta medicinal. Planta aromática.


Qualidade. Embalagem.

INTRODUÇÃO reformulação no conceito de qualidade de droga vegetal e entre outros subtópicos,


vida. Neste contexto, a cadeia produtiva preconiza:
Acredita-se que a utilização de plan-
de plantas medicinais, a qual abrange
tas medicinais como terapia preventiva e [...] apresentar relatório descritivo dos
curativa seja tão antiga quanto o próprio do cultivo à comercialização, deve ser
métodos de secagem, estabilização
ser humano. De acordo com o Centro muito bem estudada em todas as etapas
(quando empregados) e conservação
Internacional do Comércio3, a proporção do processo, para que o conjunto propor-
utilizados, com seus devidos contro-
das plantas utilizadas no preparo de pro- cione o medicamento final de qualidade
les, próprios ou do fornecedor[...]
dutos farmacêuticos chega à terça parte e eficiência.
(ANVISA, 2004).
das substâncias sintéticas empregadas na A Agência Nacional de Vigilância
terapêutica convencional. Sanitária (Anvisa), na Resolução no 48 O material vegetal seco é empregado
Existe, hoje, a preocupação com a de 16/3/2004, que dispõe sobre o registro em virtude de sua maior estabilidade quí-
qualidade do produto a ser consumido e a de medicamento, apresenta ressalvas à mica, no entanto, exige cuidados especiais,

1
Enga Agra, D.Sc., Profa Adj. UFRB, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio eletônico: franceli@ufrb.edu.br
2
Enga Agra, D.Sc., Pesq. UNICAMP - CPQBA - Divisão de Agrotecnologia, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico: glyn@cpqba.unicamp.br
3
Informação verbal concedida em 2005.

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a fim de interromper os processos metabó- pletamente abertas, o que facilita a contexto, o sucesso da secagem vai de-
licos que ocorrem após a colheita da planta. secagem; pender da técnica utilizada para aumentar
Muitas plantas possuem compostos e) frutos devem ser colhidos pouco a capacidade higroscópica do ar, isto é, a
economicamente importantes, tais como, antes da maturação. capacidade de absorver a umidade. Se a
óleos essenciais, alcaloides, resinas, ta- temperatura for muito baixa ou a umidade
Existem trabalhos na literatura que
ninos, ceras e outros. No entanto, muitas muito alta, o produto secará lentamente,
estudam época de colheita, determinando,
espécies de plantas nunca foram observa- permitindo a proliferação de microrganis-
por meio de análise do princípio ativo, o
das quanto a seus constituintes químicos mos. Por outro lado, se a temperatura for
teor máximo obtido nas diferentes épo-
e biologicamente ativos, e espera-se que muito alta, o produto terá algo assemelhado
cas, quando se conhece a substância de
novas fontes de materiais com potencial a uma casca externa, que impedirá a saída
interesse.
comercial sejam descobertas. da umidade, causando, desse modo, dete-
Os princípios ativos também apre-
rioração do produto (CRUZ, 1990).
sentam variação, conforme o período do
CUIDADOS NA COLHEITA As características específicas de cada
dia, como, por exemplo, o teor de óleo
A tentativa de definir um compor- produto, associadas às propriedades do
essencial, que geralmente atinge o máximo
tamento padrão ou uma regra para a ar de secagem e ao meio de transferência
próximo ao meio-dia (MIAO et al., 2003;
produção de substâncias bioativas das de calor adotado, determinam diversas
POLL; PETERSEN; NIELSEN, 2003).
plantas medicinais e aromáticas é equi- condições de secagem.
Para a colheita, de maneira geral,
vocada, sendo necessários estudos por Os parâmetros que influenciam o
devem-se observar as condições climáticas
espécie e entre variedades/cultivares de processo de secagem são: a temperatura e
mais favoráveis como: não colher com
uma mesma espécie, para inferir sobre o chuva, solo molhado ou elevada umidade a umidade relativa do ambiente, a tempe-
manejo adequado destas plantas na etapa relativa do ar, pois o processo de secagem ratura e o fluxo do ar de secagem e o teor
pré-colheita. e a qualidade do material tornam-se pre- de umidade inicial e final do produto. A
A colheita de cada planta medicinal judicados. temperatura de secagem tem efeito na qua-
deve ser realizada quando houver, prefe- Equipamentos utilizados na colheita lidade do produto e, para ser determinada,
rencialmente, a maior produção conjunta e acondicionamento para o transporte das devem-se conhecer a finalidade e o tipo
de biomassa e princípio ativo de acordo plantas devem estar limpos e em boas de produto e a umidade inicial (LOPES
com a característica da espécie e da parte condições. A colheita deve garantir ao pro- FILHO, 1983).
de interesse da planta. duto o mínimo de partículas de solo, não O teor de umidade em plantas varia
Existem algumas regras gerais que devendo colocá-lo em contato com o chão. dependendo da parte da planta e da espécie,
indicam a melhor época em função da Após a colheita, deve-se separar todo o e o processo de secagem reduz esse teor
parte da planta: material estranho, como insetos, partes de a valores entre 5% e 12%. No momento
outras plantas, além de partes da própria da colheita, as sementes e os frutos secos,
a) raízes, rizomas, tubérculos e bulbos muitas vezes, já contêm de 10% a 20% de
planta deterioradas por pragas ou doenças,
devem ser colhidos durante o inver- umidade; as cascas contêm entre 30% e
colocando o material de interesse no local
no, após o período de máximo acú- 40%; as folhas entre 60% e 90%; as raízes
de secagem.
mulo, quando entram em repouso;
A distribuição do produto, no local entre 70% e 85% e as flores e frutos entre
b) cascas devem ser colhidas na prima- a ser utilizado para a secagem, deve ser 80% e 90% de umidade (MARTINS et
vera e no verão, pois, em condições uniforme para garantir sua homogeneiza- al., 1994).
ambientais de maior umidade, a ção. Preferencialmente sem a necessidade Considerando o ar utilizado no pro-
retirada das cascas é facilitada, redu- de movimentação, o que pode danificar o cesso, os métodos de secagem podem ser
zindo riscos de danos permanentes material, além de ser mais uma etapa que classificados em natural e artificial:
às plantas; envolve mão-de-obra e um risco a mais de a) secagem natural: é a secagem ao
c) folhas, em geral, são colhidas no contaminação. ar livre, onde o produto úmido é
início da floração. Algumas espécies exposto ao sol ou à sombra, em
permitem vários cortes, colheitas no PROCESSO DE SECAGEM DE um ambiente relativamente seco e
final do período seco com boa rege- PLANTAS MEDICINAIS
ventilado, a fim de que sua umidade
neração durante o período chuvoso; A secagem é um processo de retirada seja removida por evaporação. O
d) flores e sumidades floridas devem de água por evaporação. O equilíbrio entre produto pode ser disposto sobre
ser colhidas antes da formação das temperatura, circulação e umidade relativa tabuleiros perfurados, em camadas
sementes, mas devem estar com- do ar define o processo de secagem. Nesse relativamente finas, revolvido de
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Plantas medicinais e aromáticas 87

modo que uniformize o processo


e seja protegido para não absorver
umidade durante a noite. A exposi-
ção ao sol não é recomendada para
produtos que sofrem descoloração
pela ação da luz. Como nesse
processo natural não existe o con-
trole da temperatura, também não
é recomendado para a secagem de
produtos que contenham substâncias
voláteis ou termolábeis. É um méto-
do relativamente econômico, viável
em climas quentes e secos, porém
requer gasto com mão-de-obra, e,
em geral, é utilizado em cultivos de
menor escala;
b) secagem artificial: é a secagem onde
o produto úmido é acondicionado

Glyn Mara Figueira


em um secador e submetido à ação
de uma corrente de ar aquecido
a uma temperatura controlada.
O aquecimento do ar é feito por
uma fonte de energia calórica. A Figura 1 - Estufa com circulação forçada de ar
secagem artificial envolve gasto no
aquecimento e movimentação do ar.
Esse método permite uma redução Exaustão Ventilação
rápida do teor de umidade dos pro-
dutos recém-colhidos, o que evita
alterações metabólicas e minimiza
a deterioração por microrganismos
e insetos. As condições de secagem
devem ser documentadas, assim
como as demais etapas da produção
Ventiladores
da matéria-prima (MAGALHÃES,
1997). Entrada A Ventilação B
Existem diversos tipos de secadores Figura 2 - Secador a gás (túnel de secagem)
que podem ser adaptados à secagem de NOTA: A - Vista externa; B - Vista interna.
plantas medicinais (Fig. 1, 2 e 3). O princi-
pal cuidado que se deve ter nessa adaptação
é que seja possível controlar a temperatura. abertura e a saída do ar quente e úmido. tências elétricas. O ar aquecido é insuflado
Na secagem artificial, com fins comer- Dentro deve conter estruturas de madeira na parte inferior do secador, formando
ciais, existem os secadores tradicionais que ou metal, onde se apoiam as plantas em fluxo ascendente e passando por uma tela
constituem de galpões, onde o aquecimento feixes ou bandejas (Fig. 3). Esse método de inox, onde está distribuído o material a
do ar pode ser feito de diversas maneiras. vem sendo questionado, por causa do ser seco. A lona que recobre a parte supe-
O mais usual é aquecer o ar numa fornalha extrativismo e do desmatamento de flo- rior do secador tem a função de melhorar
externa, canalizando-o por tubulação para restas em busca das madeiras, que serão a distribuição do ar de secagem. O sistema
o interior do secador. O manejo da tempe- utilizadas nas fornalhas, causando efeitos de prateleiras funciona similarmente ao
ratura e da umidade é feito por meio de um indesejáveis ao meio ambiente. descrito, sendo utilizado na secagem de
termômetro e um higrômetro, localizados Outra experiência é operar o secador mais de uma espécie ao mesmo tempo
no centro do galpão, os quais controlam a com ar aquecido por um conjunto de resis- (MAGALHÃES, 1997).
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88 Plantas medicinais e aromáticas

Fotos: Glyn Mara Figueira


Figura 3 - Detalhes do secador a gás

A câmara seca, que utiliza um desu- a) base seca (Umidade bs) - em relação Atividade de água
midificador na sala de secagem, é uma à massa seca do produto.
A água é um dos mais importantes
alternativa bastante viável. A sala deve Equação 1 componentes dos alimentos, afetando todas
ficar fechada, a fim de evitar a entrada de
as suas propriedades.
ar úmido, o que também contribui para
PH O A água no alimento é dita “água livre”
reduzir a deposição de poeira sobre o 2
Umidadebs =
PMS quando se comporta fisicamente como a
material, mantendo a qualidade. São utili-
água pura, ou seja, com pressão de vapor
zadas armações de madeira e tela plástica
igual à da água pura. A água é referida
(estrados) superpostas ou bandejas plásti- b) base úmida (Umidade bu) - em rela-
como “água ligada”, quando a atividade
cas, sobre as quais as plantas colhidas são ção à massa total do produto.
de água é reduzida, a ponto de a água
depositadas em camadas pouco espessas Equação 2 tornar-se menos ativa e não manter as
(MARTINS et al., 1994). Dados expe-
propriedades químicas e físicas da água
rimentais coletados nas instalações do PH O
2 pura. Por exemplo, não pode congelar ou
Grupo Entre Folhas4 mostraram que este Umidadebu =
PH O + PMS agir como solvente em reações. Ainda,
2
sistema é simples e permite a secagem das pode-se descrever a água nos alimentos
plantas, quando a umidade relativa é fixada em que: por seu comportamento, correspondendo
entre 50% e 60%. PH O = peso de água; à “água ligada” ao mecanismo de ad-
2
PMS = peso da matéria seca. sorção molecular (BOBBIO; BOBBIO,
Conteúdo de umidade
1989).
O conteúdo de umidade de um Os métodos de determinação de umi- É possível estabelecer a relação estreita
produto, na base seca, é a proporção dade podem ser classificados em diretos e entre o teor de água livre no alimento e
direta entre a massa de água presente no indiretos (WEBER, 1995). Nos métodos sua conservação. O teor de “água livre” é
material e a massa de material que não diretos, a umidade de uma amostra é remo- expresso pela atividade de água (aw), que é
contém água ou massa seca. O conteúdo vida e a determinação é feita pela pesagem. dada pela relação entre a pressão de vapor
de umidade, na base úmida, é a quan- Nos métodos indiretos, as determinações de água em equilíbrio sobre o alimento e
tidade de água que pode ser removida são feitas mensurando características fí- a pressão de vapor de água pura, à mesma
do material sem alteração da estrutura sicas do material relacionadas com o teor temperatura (MOHSENIN, 1986). A aw
molecular do sólido: de umidade. também pode ser entendida como a umi-

4
Organização não-governamental que cultiva e trabalha com plantas medicinais, localizada em Viçosa, MG. Os dados foram coletados em 30
de agosto de 1999.

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Plantas medicinais e aromáticas 89

dade relativa em equilíbrio com o produto é utilizada para vaporizar a água e, a ou- sua temperatura (Ts) e da velocidade de
na temperatura considerada. tra, para elevar a temperatura da mistura secagem (dNs/dt), também chamada ciné-
O estudo da curva de sorção fornece (DAUDIN, 1983). tica de secagem, ao longo do tempo, no
informações relevantes, na adequação dos A evolução dessas transferências experimento utilizando ar de propriedades
parâmetros de secagem. A determinação da simultâneas de calor e de massa, no de- constantes.
aw é uma das medidas mais importantes no correr da operação de secagem, faz com A curva (a) representa a diminuição do
processamento e na análise dos materiais que esta seja dividida esquematicamente teor de água do produto durante a secagem
biológicos, no que diz respeito à qualidade em três períodos, mostrados no Gráfico 2. (umidade do produto, Ns, em base seca, em
e à estabilidade. Neste são apresentadas as curvas de evo- relação à evolução do tempo de secagem, t).
O conteúdo de água do material bio- lução do teor de água do produto (Ns), de É a curva obtida pesando o produto a cada
lógico é expresso pelo valor obtido na
determinação de água total contida no
material biológico. Entretanto, esse valor
não nos fornece indicações de como está
ligada a água nesse material biológico,
Ox
como também não permite saber se toda a ida

co
Velocidade de reações e de

çã

áti
crescimento microbiano

água está ligada do mesmo modo ao ma- od

im

ca
el

nz
terial biológico. O valor determinado não

áti
ipí

oe

im
dio

ura
fornece indícios sobre as propriedades que

nz
s

ee

s
to

ed

ria
en
esta água terá, tendo em vista a composição

lev
ad

os

cté
cim

ng
vid

de

ba
do alimento.

re

fu
Ati
cu

to

de
de

en
O valor máximo de aw é 1, para a água

Es

to
o

to
orçã

cim
en

en
pura. Nos alimentos ricos em água e aw de s

cim
a

cim
es
Isoterm

es

Cr

es
acima de 0,90, podem-se formar soluções

Cr

Cr
diluídas com os alimentos, servindo de Atividade de água
substrato para reações químicas e desen- Gráfico 1 - Velocidade relativa de reações em função da atividade de água
volvimento microbiano. Quando a aw baixa FONTE: Bobbio e Bobbio (1989).
entre 0,40 e 0,80, há uma aceleração das
reações químicas pelo aumento da con-
centração dos substratos. Próximo a 0,70,
cessa a atividade microbiana e para aw in- Ns
ferior a 0,30, atinge-se a zona de adsorção (kgw/kgm)
primária, conforme indica o Gráfico 1.
Temperatura
dNs/dt
do produto
Curvas de secagem (kgw/kgm s)
Os produtos biológicos são muito di-
a) Evolução do
ferentes entre si, em virtude de sua forma, c) Evoluçao da
conteúdo de
estrutura e dimensões, além de as condi- unidade temperatura
ções de secagem serem muito diversas, de do produto
acordo com as propriedades do ar de se-
cagem e a forma como se faz o contato ar/ b) Cinética de
produto. Uma vez que o produto é colocado secagem
em contato com o ar quente, ocorre uma
transferência do calor do ar ao produto,
sob o efeito da diferença de temperatura 0 1 2
existente entre eles. Simultaneamente, a
diferença de pressão parcial de vapor de
água existente entre o ar e a superfície do Gráfico 2 - Curva de secagem
produto determina a transferência de vapor NOTA: Exemplo.
no ar. Parte do calor que chega ao produto FONTE: Alonso (1998).

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90 Plantas medicinais e aromáticas

intervalo de tempo pré-fixado durante a encontram-se essencialmente no interior do produto é contínua, sem a presença
secagem sob determinadas condições. produto, fazendo com que a taxa de evapo- de ar e ocupa todos os poros do
A curva (b) representa a cinética de se- ração da superfície ao ambiente seja bem produto. O movimento de água do
cagem do produto, dNs/dt , obtida diferen- superior à taxa de reposição de umidade do interior à superfície ocorre por capi-
ciando a curva (a). A curva (c) representa a interior à superfície do material. laridade e esse mecanismo controla
temperatura do produto durante a secagem. a velocidade de secagem;
A seguir, apresentam-se os três perí- Período 2 - período de taxa
b) segunda fase: a remoção de água da
odos. decrescente de secagem
superfície de evaporação provoca a
Desde o momento em que a água que entrada de ar no interior do produ-
Período 0 - período de indução
ou de entrar em regime migra do interior do sólido para a superfície to, o que dá origem a bolsas de ar
operacional começa a ser deficiente na superfície, a taxa que ficam dispersas na fase líquida
de secagem diminui. dentro dos poros. Nessa fase, o es-
No começo da secagem, a temperatura Apesar de alguns autores definirem o coamento capilar ocorre apenas em
do sistema ar/produto é baixa e a pressão valor de teor de água do produto no ponto alguns pontos localizados.
parcial de vapor da água na superfície do de transição entre os períodos 1 e 2 como
produto (p) é débil, e, por consequência, a No decorrer do período de secagem
sendo o teor de água crítico (Ns, cr), seria
transferência de massa e a taxa de secagem à taxa decrescente (a única geralmente
conveniente denominar este ponto como o
também são débeis. Com a elevação da observada pelos produtos biológicos), a
de inflexão de taxa constante à taxa decres-
temperatura do produto, ocorre o aumen- migração interna da água fixa a cinética
cente de secagem. Este ponto, longe de ser
to de pressão e da taxa de secagem. Esse de secagem. Os diferentes mecanismos
uma propriedade física do material, é um
fenômeno continua até que a transferência que governam o movimento da água são:
ponto que depende inclusive das condições
de calor compense exatamente a transfe-
operacionais de secagem. a) movimento de água líquida sob
rência de massa. Se a temperatura do ar
Durante este período, a troca de calor efeito das forças de gravidade (des-
for inferior àquela do produto, esta última
não é mais compensada, consequente- prezível na secagem de produtos
diminuirá até atingir o mesmo estado
mente a temperatura do produto aumenta biológicos);
de equilíbrio. A duração desse período é
e tende assintoticamente à temperatura
insignificante em relação ao período total b) migração capilar da água líquida sob
do ar. Por todo esse período, o fator
de secagem. a ação da tensão superficial;
limitante é a migração interna de água.
Essa redução da taxa (ou velocidade) de c) difusão de água líquida sob o efeito
Período 1 - período de taxa de um gradiente de umidade, segun-
constante de secagem secagem é, às vezes, interpretada como
uma diminuição da superfície molhada do a Lei de Fick;
Durante este período, como no an- no período 2, mas a interpretação mais d) difusão de água líquida adsorvida
terior, a quantidade de água disponível frequente é pelo abaixamento da pressão sobre as superfícies internas dos
dentro do produto é bem grande. A água parcial de vapor de água na superfície. poros vazios (somente para teores
evapora-se como água livre. A pressão de No final desse período, o produto estará de água muito fracos);
vapor de água na superfície é constante e em equilíbrio com o ar (Ns = Ns, e), e a e) difusão de vapor sob o efeito de
é igual à pressão de vapor de água pura à velocidade de secagem é nula.
temperatura do produto. A temperatura do um gradiente de pressão parcial de
Na secagem da maioria dos produtos vapor de água;
produto, por sua vez, é também constante
biológicos, somente o período de seca-
e é igual à temperatura de bulbo úmido do f) escoamento de água sob o efeito de
gem à taxa decrescente (período 2) está
ar, característica do fato de que as transfe- uma diferença de pressão total entre
presente. O período de secagem à taxa
rências de calor e de massa se compensam o interior e o exterior de produtos
decrescente é, às vezes, dividido em dois
exatamente. A velocidade de secagem é, alimentícios;
ou três outros períodos. Entretanto, nos
por conseguinte, constante. Este período g) migração de água líquida ou vapor
produtos agrícolas e alimentares, é bem
continua, enquanto a migração de água sob o efeito do gradiente de tempe-
difícil indicar com clareza as divisões nas
do interior até a superfície do produto for
curvas experimentais de secagem. ratura.
suficiente para acompanhar a perda por
De acordo com Strumillo e Kudra
evaporação de água na superfície.
(1986), o período de taxa decrescente pode ARMAZENAMENTO DE
Para os materiais biológicos, é difícil a
ser ainda dividido em duas fases: PLANTAS MEDICINAIS
existência deste período, pois as condições
operacionais de secagem são tais que as a) primeira fase: a “água livre” (fase Após a secagem, a conservação do
resistências às transferências de massa líquida) presente no interior do produto dependerá de três itens básicos:
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Plantas medicinais e aromáticas 91

umidade residual, embalagem e tempo de


armazenamento.
Na prática, o usual é embalar quando o
produto encontra-se levemente quebradiço.
Outra maneira é pesar a planta no momento
que chega ao local de secagem e nos dias
consecutivos e, quando apresentar peso
constante, estará apta a ser embalada.
O local de armazenamento deve ser
limpo e sanitizado previamente, cada vez
que uma nova planta entrar no galpão.

Franceli da Silva
O acondicionamento vai depender do
volume que se deseja armazenar. Pequenas
quantidades podem ser armazenadas em
vidros ou sacos de polietileno (Fig. 4 e 5), Figura 4 - Embalagens protetoras
que permitem boa conservação. NOTA: Papel kraft, vidro e polietileno de baixa densidade.
O uso de saco de juta e de papel kraft
(Fig. 4, 5 e 6) é recomendado na embala-
gem de grandes produções. Em todos os ca-
sos, recomendam-se pisos com estrados de
madeira e não encostados na parede. Deve
haver inspeções periódicas, e, a qualquer
indício de deterioração, as plantas devem
ser retiradas do local.
Cada lote a secar deve ser identificado
com o número, nome do produtor, período
de secagem, tipo de secagem utilizada,
início e término da secagem e o visto da
pessoa responsável pelo armazenamento.

Glyn Mara Figueira


Estes cuidados garantem a qualidade e
identidade do produto. Em cada espécie,
seca ou fresca, existirá um ótimo entre em-
balagem e tempo de estocagem. Pesquisas
e experimentações, ao longo do tempo, é Figura 5 - Embalagem protetora de papel kraft e polietileno de baixa densidade
que poderão chegar a estas respostas.

Embalagens protetoras
A qualidade dos produtos alimentícios
e fitoterápicos depende diretamente de
fatores de natureza química, física e bio-
lógica, que atuam sobre o produto durante
o período entre sua produção e seu consu-
mo, denominado vida de prateleira. Neste
contexto, a embalagem é de importância
Glyn Mara Figueira

fundamental.
O armazenamento de alimentos sem a
proteção externa (embalagem) conduz à
oxidação e à degradação de alguns cons-
tituintes, o que, no caso das plantas medi- Figura 6 - Vista interna do ervanário
cinais, é indesejável, pois o recomendável NOTA: Material armazenado em embalagem kraft e polietileno de baixa densidade.

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92 Plantas medicinais e aromáticas

é justamente preservar sua composição a identificação botânica, escolha do ma- CRUZ, G. A. Desidratação de alimentos.
física e química. terial vegetal, época e local de plantio, 2.ed. São Paulo: Globo, 1990. 207p.
Dentre inúmeras funções, a de maior tratos culturais, determinação da época DAUDIN, J. D. Calcul des cinétiques de
destaque em uma embalagem é o fato de de colheita, cuidados no processamento, séchage par l’air chaud des produits biologi-
ques solides. Sciences des Aliments, Paris,
entregar ao consumidor o produto com o embalagem e armazenagem, até o mo-
v.3, n.1, p.1-36, 1983.
mesmo nível de qualidade dos produtos mento do seu uso, de modo que garanta o
LOPES FILHO, J.F. Propriedades térmicas e
frescos ou bem próximo a este. A em- máximo de qualidade para o produto, além
características de secagem de batata. 1983.
balagem atua como barreira de proteção de possibilitar uma capacitação para atingir 43f. Dissertação (Mestrado em Ciência e
do produto contra o contato direto com o o mercado internacional. Não é possível, Tecnologia de Alimentos) - Universidade
ambiente, evitando ou diminuindo assim, portanto, melhorar esta qualidade por meio Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 1983.
as contaminações, manuseio inadequado do processamento pós-colheita, mas sim MAGALHÃES, P.M. O caminho medicinal
e perda das características do produto. As minimizar suas perdas. da plantas: aspectos sobre o cultivo. Cam-
embalagens mais usuais de plantas medi- Embora note-se a crescente demanda pinas: RZM, 1997. 120p.
cinais secas são plásticos, papel, vidro e no mercado de fitoterápicos, este tem sido MARTINS, E.R. et al. Plantas medicinais.
sacos de juta (Fig. 4, 5 e 6). Dentre estas, atendido, na maioria das vezes, com maté- Viçosa, MG: UFV, 1994. 220p.
destacam-se o polietileno de baixa densi- ria-prima sem padronização, de qualidade MÁTHÉ, Á.; FRANZ, C. Good agricultural
dade, o vidro e o papel. duvidosa e ainda fruto do extrativismo practices and the quality of phytomedici-
sem critérios. Tecnologias de produção, nes. Journal of Herbs, Spices & Medicinal
Plants, v.6, n.3, p.101-113, 1999.
CONTROLE DE QUALIDADE incluindo o cultivo da matéria-prima, bem
MICROBIANO EM DROGAS como os processos de secagem de espécies MELO, J.T. et al. Avaliação dos níveis de
VEGETAIS contaminação microbiológica das diversas
medicinais, são de extrema importância.
áreas de produção do laboratório de fitote-
O valor comercial das plantas medici- Considera-se, ainda, a necessidade de rápicos, do Programa de Plantas Medicinais
nais é determinado por sua qualidade. Des- atender aos padrões exigidos pela legis- da Universidade Federal de Juiz de Fora.
sa forma, o aspecto microbiológico merece lação vigente nos campos da química, das Revista Brasileira de Plantas Medicinais,
indústrias farmacêutica e alimentícia, para Botucatu, v.2, n.2, p.45-50, 2000.
imprescindível consideração, pois o exame
de determinada planta fornece informações entrar nos mercados nacional e internacio- MIAO, M. et al. Seasonal, spatial, and inters-
nal. De fato, há uma busca por produtos pecific variation in quercetin in Apocynum
importantes sobre sua qualidade, higiene e
com qualidade, que garantam a segurança e venetum and Poacynum hendersonii, Chine-
sanitização em sua manipulação e, ao longo se traditional herbal teas. Journal of Agricul-
do processamento, adequação das técnicas a eficácia das substâncias ativas de espécies
tural and Food Chemistry, v.51, n.8, p.2390-
utilizadas na preservação e eficiência das medicinais. 2393, Apr. 2003.
operações de transporte e armazenamento Se todos os cuidados durante a colheita
MOHSENIN, N. Physical properties of
do produto (MELO et al., 2000). e a pós-colheita forem realizados, o produ- plant and animal materials. New York:
As plantas medicinais, após a colheita, to chegará ao final da cadeia produtiva com Gordon and Breach, 1986. 841p.
podem conter grande número de fungos boas características para a comercialização POLL, L.; PETERSEN, M.B.; NIELSEN, G.S.
e bactérias, geralmente provenientes do e com valor de mercado, mantendo a inte- Influence of harvest year and harvest time
gridade da matéria-prima vegetal. on soluble solids, titrateable acid, anthocya-
solo, pertencentes à microflora natural
nin content and aroma components in sour
de certas plantas ou mesmo introduzidas cherry (Prunus cerasus L. cv. “Stevnsbaer”.
durante a manipulação (SIMÕES; SPIT- REFERÊNCIAS
European Food Research and Technology,
ZER, 2007). Dependendo das condições ALONSO, L.F.T. Desenvolvimento de um v.216, n.3, p.212-216, Mar. 2003.
de manejo e beneficiamento pós-colheita, aplicativo para o projeto de secadores
SIMÕES, C.M.O.; SPITZER, V. Óleos vo-
industriais. Campinas: UNICAMP – Facul-
microrganismos viáveis podem desen- láteis. In: SIMÕES, C.M.O. et al. (Org.).
dade de Engenharia Agrícola, 1998. 49f.
volver-se, intensificando a contaminação Farmacognosia: da planta ao medicamento.
Exame de qualificação para doutorado em
6.ed. Porto Alegre: UFRGS; Florianopólis;
(WHO, 1992). Engenharia Agrícola.
UFSC, 2007. cap.18, p.467-495.
ANVISA. Resolução RDC no 48, de 16 de
CONSIDERAÇÕES FINAIS STRUMILLO, C.; KUDRA, T. Drying: prin-
março de 2004. Dispõe sobre o registro de
ciples applications and design. New York:
medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial
A qualidade desta matéria-prima será Gordon and Breach Science, 1986. 448p.
[da] República Federativa do Brasil, Brasí-
obtida mediante o uso de boas práticas lia, 18 mar. 2004. WEBER, E.A. Armazenagem agrícola. Porto
agrícolas (BPA) em plantas medicinais Alegre: Kleper Weber Industrial, 1995. 400p.
BOBBIO, F.O.; BOBBIO, P.A. Introdução a
e aromáticas (MÁTHÉ; FRANZ, 1999), química de alimentos. 2.ed. São Paulo: Va- WHO. Quality control methods for medici-
durante todo o processo produtivo, desde rela, 1989. 223p. nal plant materials. Geneva, 1992. p.58-63.

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Estratégias para o mercado de plantas medicinais e


aromáticas no Brasil: o exemplo da erva-baleeira
Pedro Melillo de Magalhães 1

Resumo - O mercado de plantas medicinais e aromáticas no Brasil é um setor em ex-


pansão, que se apoia na demanda crescente por produtos naturais de boa qualidade e
na rica biodiversidade que ocorre no território nacional. A sistemática científica mul-
tidisciplinar aplicada às espécies em estudo, somada aos aspectos legislativos e de in-
fraestrutura, permite ampliar de forma criteriosa o benefício dessas espécies, seja para
um maior número de usuários, seja para novas indicações. Modelo bem-sucedido é
o caso do primeiro anti-inflamatório brasileiro desenvolvido a partir da erva-baleeira
(Cordia verbenacea DC.), que exemplifica as atividades agrícolas, bem como a estratégia
relacionada com o mercado, envolvendo a participação de agricultores familiares e de
grandes produtores.

Palavras-chave: Produto natural. Planta medicinal. Planta aromática. Tratos culturais.


Colheita. Armazenamento. Cordia verbenacea.

INTRODUÇÃO nitários e de certos alimentos. Grande ou ou exportadores, a disponibilidade de


pequeno, o importante é ter um mercado, tecnologia, a logística e vias de acesso e
As plantas medicinais e aromáticas
uma demanda. Atender a essa demanda escoamento. De posse dessas caracterís-
englobam um grande elenco de espécies
da melhor forma possível é a chave para ticas, podem-se eleger as espécies que
que apresentam suas particularidades em
aumentar o próprio mercado e manter- mais se adaptam às condições disponíveis,
diversos parâmetros, inclusive de mercado.
se competitivo (Fig. 1). O mercado se visando sempre o menor custo de produ-
Portanto, pontos comuns que monitoram
abre para os bons produtos ou, para bons ção dentro de critérios de boas práticas
o mercado buscam orientar os produtores
produtos, existe sempre mercado. Daí, a agrícolas (BPA).
para as interações possíveis, caso a caso, importância da qualidade, principalmente No elenco das espécies a serem tra-
entre o mercado de determinados produtos nesses segmentos relativamente pequenos. balhadas, devem-se priorizar aquelas que
de interesse e a condição para atendê-lo. Então, o que produzir com qualidade e dispõem de maior conhecimento científico,
Um primeiro fator comum a ser reco- de forma economicamente rentável dentre pois os produtos decorrentes poderão ser
nhecido é que, de fato, existe uma demanda os itens de interesse da sociedade? A res- inseridos em programas de saúde pública,
potencial por produtos naturais decorrente posta envolve as seguintes considerações: utilizados no setor veterinário, alimentício
da opção da sociedade por produtos mais de um lado as exigências e particularidades e mesmo na defesa vegetal de produção
saudáveis. Porém, se comparada com as do manejo e processamento da cultura e, orgânica.
grandes culturas alimentares, qualquer de outro, as condições ambientais, a infra- Neste sentido, é interessante que faça
planta medicinal apresenta mercado tímido estrutura geral, a mão-de-obra disponível, parte do elenco algumas espécies de
e específico, onde o valor agregado deve- em número e qualificação, e a localização. farmacopeias internacionais, mesmo que
rá compensar a relativa pequena escala. No estado de São Paulo, embora o custo sejam plantas exóticas introduzidas, pois
Já bem maior é o mercado das espécies da mão-de-obra seja bastante elevado, exis- estas têm mercado estabelecido, tais como:
aromáticas, por sua matéria-prima entrar tem outros fatores favoráveis, tais como: calêndula, sálvia, camomila, valeriana e
na composição de cosméticos, domos sa- a proximidade dos centros consumidores maracujá-amargo. Já no grupo das nati-

1
Eng o Agr o , D.Sc., Pesq. UNICAMP - CPQBA, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico: pedro@cpqba.unicamp.br

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Plantas medicinais e aromáticas 95

EXPERIÊNCIA DO CPQBA-
UNICAMP: PRODUÇÃO DA
ERVA-BALEEIRA
Dentre as pesquisas do Centro Pluridis-
ciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas
e Agrícolas (CPQBA) da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) com es-
pécies medicinais, o projeto desenvolvido
em parceria com o Laboratório Aché sobre
a erva-baleeira (Cordia verbenacea DC.)
representa um exemplo bem-sucedido de
estratégia de mercado para planta medi-
cinal.
O início deste estudo teve por base
a indicação de uso popular para trata-
mento de contusões e dores musculares,
cuja propriedade anti-inflamatória do
óleo essencial foi validada pela pesquisa
farmacológica. A partir dos dados cien-
tíficos e do levantamento de mercado de
anti-inflamatórios, foi possível traçar uma
estratégia para a produção sustentável do
Figura 1 - Diagrama das interações do mercado de plantas medicinais e aromáticas
novo medicamento.
O dimensionamento da quantidade
vas algumas das mais interessantes são: chegar mais rapidamente aos objetivos. necessária de óleo essencial para o lança-
espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), De fato, a cadeia permite a melhora da mento do produto foi calculada em 100 kg
carqueja (Baccharis trimera), alecrim- infraestrutura, principalmente de itens anuais. Em 2001, iniciou-se a ampliação da
-do-cerrado (Baccharis dracunculifolia), comuns, tais como: viveiro de produção lavoura no CPQBA, chegando a 12 ha nos
crajirú (Arrabidaea chica), ginseng- de mudas, máquinas e equipamentos para anos seguintes. Um projeto industrial para
-brasileiro (Pfaffia glomerata, Pfaffia preparo do solo, secador e destilador de a extração de óleo essencial por arraste a
paniculata), quebra-pedra (Phyllanthus óleos essenciais. O produtor pode ainda vapor com capacidade de obter 1 kg de
niruri, Phyllanthus amarus), guaco (Mikania optar por atender apenas a certos itens da óleo de erva-baleeira/dia, foi instalado.
laevigata), erva-cidreira (Lippia sidoides, cadeia produtiva, atendendo ao mercado Contudo, apenas em 2003 o produto foi
Lippia alba), capim-santo (Cymbopogon conforme sua vocação ou interesse. lançado no mercado, quando se pôde dis-
citratus), artemísia (Artemisia annua), A produção de sementes de plantas por de quantidade suficiente para assegurar
faveira (Dimorphandra mollis), embaúba medicinais é um dos pilares da cadeia pro- a demanda prevista. Tornou-se, no primeiro
(Cecropia glaziouvii) e erva-baleeira (Cordia dutiva, e existem empresas bem-sucedidas ano, o anti-inflamatório de uso tópico mais
verbenacea). neste ramo no exterior. No Brasil, é uma vendido no mercado brasileiro.
Em quaisquer dos casos, é neces- lacuna importante a ser preenchida. Mas Outras estratégias de produção foram
sário grande atenção com a matriz, de o produtor pode ir mais longe e se ocupar então organizadas envolvendo agricul-
forma que se tenha segurança de que o da formação de mudas, ou ainda chegar à tores familiares e produtores em larga
empreendimento está sendo instalado planta seca ou ao óleo essencial no caso escala. Assim, o óleo da erva-baleeira já
com a espécie correta e, se possível, das espécies aromáticas. Além do mer- é comercializado na Europa e nos Estados
com genótipo superior proveniente de cado tradicional das plantas medicinais Unidos. Novos avanços da investigação
programas de melhoramento. O cuidado utilizadas para obtenção de chás e de científica com esse óleo validam o efeito
com a dinâmica de produção em relação fitomedicamentos, abrem-se novos usos anti-inflamatório também para uso oral,
à obtenção de safras regulares, o respeito como o do setor veterinário e mesmo o da abrindo outro mercado significativo.
ao meio ambiente e a comercialização agricultura orgânica – “plantas para tratar Em paralelo com as áreas de produção
justa são fatores competitivos. Neste plantas”, por meio de novas formulações onde a tecnologia de cultivo e processa-
contexto, os modelos de parceria para provenientes de avanços científicos em mento é aprimorada, o CPQBA trabalha
produção integrada são interessantes para áreas multidisciplinares. no programa de melhoramento genético
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96 Plantas medicinais e aromáticas

da espécie selecionando populações mais em seis ou oito meses de plantas cultivadas boas características agronômicas e alto
produtivas em óleo essencial e no seu a pleno sol podem-se encontrar plantas na rendimento das substâncias de interesse.
marcador químico, o alfa-humuleno. O fase III ou além. A coleta direta em locais onde ocorre a
engajamento de novos produtores sem- espécie, principalmente no litoral, resulta
pre se deu de acordo com a demanda da Propagação em populações heterogêneas por causa do
empresa, evitando excesso de produção e alto grau de cruzamento da espécie.
Pelo fato de o Programa de Seleção
consequentes frustrações comerciais aos
da C. verbenacea ocorrer no CPQBA, A formação de mudas a partir de se-
agricultores. Os principais dados da cul-
este é o instituto mais indicado para o mentes pode ser realizada em viveiro de
tura são expostos a seguir como modelo
fornecimento de material de propagação. tela sombrite (50%). Embora a espécie
dos parâmetros relevantes em um novo
No CPQBA são selecionadas plantas com aceite a propagação vegetativa por estacas,
empreendimento agrícola, inclusive para
monitorar o custo real da produção.

CORDIA VERBENACEA DC.


A espécie Cordia verbenacea (Fig. 2)
pertence à família Boraginaceae. É um
arbusto aromático de folhas simples e ás-
peras. Possui flores brancas agrupadas em
espigas terminais. Os frutos são drupáceos
e vermelhos, quando maduros (Fig. 3).

Ciclo (fenologia)
C. verbenacea é uma espécie perene

Pedro Melillo de Magalhães


com o seguinte hábito de crescimento: no
primeiro estádio de desenvolvimento, a
planta apresenta apenas uma haste prin-
cipal contendo folhas alternadas e ápice
foliar, que é responsável pelo crescimento
vegetativo. Com a diferenciação do ápice
foliar em inflorescência (espiga I, ou fase I) Figura 2 - Cordia verbenacea DC. com espiga floral
surgem, na região logo abaixo da inflores-
cência, três a quatro ramos contendo folhas
e, naturalmente, seus respectivos ápices
foliares. Estes ramos desenvolvem-se de
forma vegetativa, enquanto a espiga I vai-
se formando até produzir frutos e atingir a
senescência. A partir do estádio em que a
espiga I seca, cada um dos ramos abaixo
se desenvolve mais e, ao mesmo tempo, se
diferenciam juntos e seus ápices transfor-
mam-se em espigas produtoras de frutos,
espigas II ou fase II. As espigas II também
irão formar-se e atingir a senescência,
Pedro Melillo de Magalhães

promovendo o desenvolvimento de outros


três a quatro ramos que terminarão em es-
pigas III e assim por diante, conferindo à
planta uma arquitetura bastante ramificada.
Este comportamento é importante para
o planejamento do manejo da cultura. O
crescimento da C. verbenacea é rápido e Figura 3 - Espiga floral de Cordia verbenacea DC. com frutos imaturos e maduros

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Plantas medicinais e aromáticas 97

a formação de mudas a partir de sementes é muito bem à irrigação, mas o solo não deve em partes iguais, 20%, desde o plantio e a
mais interessante, por causa da arquitetura ficar encharcado. O pH do solo deve estar cada 30 dias = 5 vezes). Em solos de baixa
das raízes, da grande quantidade de semen- preferencialmente entre 6 e 6,5, abaixo a média fertilidade, após preparo, adubação
tes produzidas e também da variabilidade disso deve-se proceder a calagem em fun- com Crotalaria Juncea e correção do pH,
genética, importante na domesticação ção da análise de solo. Uma das plantas recomenda-se uma adubação de 500 kg
da espécie. As sementes apresentam teor interessantes para preceder o plantio da de NPK/ha (10-10-10) ou conforme reco-
germinativo de, aproximadamente, 70%, erva-baleeira é a Crotalaria juncea (famí- mendado pela análise de solo, atentando-se
atingido entre 15 e 20 dias após a semeadu- lia Leguminosae). Esta planta tem rápido para o boro (B) e o fósforo (P). Esta mesma
ra. As mudas ficam prontas para transplante crescimento, produz muita biomassa e adubação mineral deve ser aplicada na área
com cerca de dois meses. A semeadura promove significativo aporte de nitrogê- após cada colheita e, portanto, de acordo
deve ocorrer preferencialmente nos meses nio (N), quando incorporada como adubo com a intensidade de cortes realizados.
quentes, outubro a janeiro, para permitir a verde, além de funcionar como subsolador,
transferência para campo ainda na estação destruindo camadas endurecidas e melho- Condução da lavoura
chuvosa e quente. rando a aeração do solo. O plantio dessa Principalmente nos primeiros 30 dias, a
As sementes da erva-baleeira atingem a espécie deve ser realizado no fim do outono cultura deve ser capinada na linha e man-
maturidade de forma muito irregular. A es- com incorporação na primavera. tida com vegetação baixa nas entrelinhas.
piga apresenta, num mesmo momento, flo-
Não se recomenda o uso de herbicidas, Na linha, a capina tem que ser feita com
res e frutos em diferentes estádios (Fig. 3).
não existindo, até o momento, produto enxada e, nas entrelinhas, pode-se usar
Este é, aliás, um processo típico de planta
registrado para a cultura. Para controle roçadeira tratorizada ou costal. Quando a
em estado selvagem, assim como é o seu
de invasoras deve-se manter a entrelinha cultura se fecha, na linha, somente a entre-
florescimento, ou seja, sem época defini-
com cobertura morta (como, por exemplo, linha passa a ser roçada, periodicamente.
da, ocorrendo ao longo de todo o ano. No
a borra da destilação da própria cultura) É interessante que a C. verbenacea
entanto, em consequência do maior cres-
ou com espécie consorciada como o forme um arbusto ramificado a partir de uns
cimento da planta no verão, encontramos
amendoim-bravo (Arachis pintoi). 20 a 25 cm de altura, para que permita o
maior formação de sementes também nesta
O espaçamento para o plantio da C. serviço mecanizado da roçadeira embaixo
época. As sementes devem ser colhidas
quando o fruto apresentar um vermelho-
verbenacea deve ser 0,5 m, na linha, e da “saia”. Para promover a ramificação,
1,6 m ou mais, nas entrelinhas, de acor- um corte prematuro nesta altura pode ser
vivo e brilhante (Fig. 3). Neste estádio,
as sementes têm melhores condições de do com a bitola das máquinas usadas no interessante. Esta poda é recomendada
germinação e normalmente estão sadias. cultivo e na colheita. É importante con- também quando as plantas transferidas
Em fases posteriores, normalmente os siderar a “saia” da planta com, aproxima- para o campo estiverem estioladas. Trata-se
frutos são destruídos por larvas que se damente, 30 cm de cada lado a partir do de uma poda delicada e deve ser realiza-
desenvolvem no interior das sementes, centro da linha, para o dimensionamento da preferencialmente com tesouras, mas
danificando o embrião. adequado da entrelinha. No espaçamento pode-se também usar segadeira, no caso
A coleta regular e diária é necessária, de 0,5 x 1,6 m, a densidade será de 12.500 de grandes extensões.
quando se deseja obter grande quantidade plantas/hectare.
É importante a irrigação abundante Ocorrência de pragas e
de sementes, considerando a concorrência
no momento do transplantio e durante os doenças e seu controle
com os pássaros.
Após a coleta, os frutos devem seguir dois primeiros meses de cultivo. Após o A C. verbenacea atrai uma grande
para secagem em estufa a 35 oC, dispon- estabelecimento da cultura, a planta não diversidade de insetos e, inclusive, existe
do-os em camadas finas e revirando-os morrerá por falta de água, desde que a citação do uso de suas folhas em arma-
periodicamente para facilitar a remoção região tenha chuvas regulares da ordem de dilhas para atrair insetos. Em pequena
da mucilagem que envolve a semente. A 1.500 mm anuais, porém, a irrigação suple- escala (até 200-500 m2), esses insetos não
semente seca estará então pronta para a mentar pode ser necessária no inverno e causavam prejuízos. Com o aumento da
semeadura, sendo que esta operação poderá em sistema intenso de produção. As mudas área para 8 a 12 ha, houve um desequilíbrio
ser feita em bandejas ou diretamente em recém-transplantadas devem ser observa- que causou o aparecimento de uma praga
tubetes, modelo para café ou eucalipto. das quanto ao ataque de formigas. Linhas extremamente agressiva para as folhas
plantadas com gergelim, a cada dez linhas da planta: a larva de um inseto da família
Plantio
da C. verbenacea, reduzem este problema. Chrysomelidae, subfamília Cassidinae,
O solo para cultivo da erva-baleeira A C. verbenacea responde bem à adu- que se alimenta vorazmente das folhas.
deve ser bem drenado. A planta responde bação nitrogenada (100 kg/ha, aplicado Áreas de até 2 ha de cultivo da espécie
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98 Plantas medicinais e aromáticas

foram totalmente arrasadas em cerca de


dez dias (Fig. 4). Felizmente essas larvas
são de fácil controle, por meio do uso de
inseticidas orgânicos assim que surgem os
primeiros sintomas da praga. No entanto,
após o quarto ano de cultivo no CPQBA
foi encontrado um inimigo natural dessas
larvas, um inseto sugador semelhante à
maria-fedida, que suga as larvas ainda jo-
vens. Outros estudos estão sendo desenvol-
vidos para controle dessa praga, incluindo

Pedro Melillo de Magalhães


o tratamento homeopático.

Colheita
Ponto de colheita
Como o óleo essencial está armazenado
nas folhas de C. verbenacea, e estas estão
agrupadas na extremidade dos ramos, Figura 4 - Planta jovem de Cordia verbenacea DC. atacada por larvas de Crisomelídeo
não é recomendado deixar a planta cres-
cer muito. A colheita deve ser realizada
quando a maioria das plantas estiver no
estádio II de desenvolvimento (Fig. 5).
No CPQBA, são realizadas três colheitas
por ano (em cultura estabelecida): março,
junho e novembro. Contudo, espera-se ter
um melhor ajuste dessas datas em função
das épocas do ano e dos estádios de de-
senvolvimento.
A colheita pode ser feita utilizando-se
tesouras de poda, tesouras pneumáticas, se-
gadeira ou colheitadeira tipo “Tarup”. Em

Pedro Melillo de Magalhães


pequenas áreas, recomenda-se a colheita
com tesouras de poda, realizando-se os
cortes nas extremidades da planta. No caso
da segadeira, o corte já será mais baixo, o
que acarreta em material com galhos mais
grossos.
O material colhido deve ser rapidamen- Figura 5 - Lavoura de Cordia verbenacea DC. em ponto de colheita - Unicamp - CPQBA
te processado em destilador. Na destilação
por arraste a vapor, o alfa-humuleno é verbenacea. O material colhido é colocado dornas são cheias com o material colhido
extraído, principalmente, na segunda meia nas dornas de destilação que, no caso do (folhas, flores/frutos e talos), seguindo-se
hora da destilação. Para manter a integrida- CPQBA, são duas de 1.500 litros cada ao pisoteio para a compactação ideal, e
de do óleo e de todos os seus constituintes, (Fig. 6), com um condensador e vaso se- então são fechadas com tampas privi-
deve-se evitar o corte em horários que parador único. O equipamento é feito de das de selo de água. O vapor passa em
não se possa processar imediatamente o aço inox e o vapor é obtido por caldeira a fluxo ascendente na vazão de 50 L de
material vegetal. gás com capacidade de 200 kg de vapor vapor/m3/hora. A destilação se completa
por hora. A instalação dispõe ainda de com 90 min, quando o óleo é retirado do
Destilação com folhas frescas
ponte rolante com talha e dinamômetro vaso separador, separado em funil de sepa-
O processamento de folhas frescas para controle dos rendimentos e para ração, filtrado em coluna de carvão e, em
é o ideal para a extração do óleo da C. facilitar a carga e descarga da massa. As seguida, armazenado em geladeira.
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Plantas medicinais e aromáticas 99

por terem sido anos bem distintos quanto


a ocorrência de chuvas. Na condução
mais recente da lavoura, passaram-se a
realizar dois cortes anuais, em março e
em novembro, sendo que a produtividade
anual mostrou-se equivalente. De fato,
para um manejo mais intenso, com três ou
até quatro cortes anuais, as operações de
reposição de nutrientes e cuidados gerais
com a lavoura devem ser rigorosamente
seguidos.

Armazenamento
Quando o produto final for a folha seca
da erva-baleeira, estas deverão estar com
baixa umidade (10%-12%) e armazenadas
em sacos de papel kraft, duplo, com interior
de polipropileno, em local de temperatu-
ra amena e provido de desumidificador.

Pedro Melillo de Magalhães


No caso de óleo essencial, este deve ser
guardado filtrado, em recipientes de vidro
âmbar, com tampa de rosca com interior
de teflon e armazenados em geladeira na
temperatura de 5 oC a 10 oC.

Comercialização
Figura 6 - Dornas de destilação por arraste a vapor - Unicamp - CPQBA
Na comercialização, sempre que
possível, deve-se tratar primeiro com o
Rendimentos em área a) cuidado para que o corte não estra- comprador antes de investir na obtenção de
comercial gue a planta e permita deixar uma determinado produto. Se isso não for possí-
“saia” para recuperação da parte vel, deve-se trabalhar com amostras (folhas
O rendimento da erva-baleeira com-
vegetativa; ou óleo) que representem o lote disponível
põe-se dos seguintes parâmetros:
b) controle eficaz do mato evitando a que será enviado às empresas interessadas.
a) número de plantas por área;
competição; A embalagem do produto deve permitir a
b) biomassa de folhas por planta; visualização da cor, do aroma e do aspecto
c) controle das pragas;
c) número de cortes por ano; geral do produto (pureza, integridade das
d) adubação de reposição dos nutrien-
d) teor de óleo essencial nas folhas; folhas, ausência de insetos, etc.). O rótulo
tes;
deve conter o nome científico, a parte da
e) teor de alfa-humuleno no óleo. e) a irrigação no inverno irá reduzir a planta e a data de obtenção.
O parâmetro ideal, que traduz o ren- queda de folhas nesta época. Um dos pontos mais importantes na
dimento de interesse, é o peso de óleo es- Os rendimentos variam de 1,77 a negociação do preço é a caracterização do
sencial por área e por ano. Observa-se nos 5,08 kg de óleo/hectare/corte entre as áreas custo de produção, pois o valor final deve
Gráficos 1 e 2 que a safra mais produtiva cultivadas (Gráfico 2), o que demonstra o demonstrar lucro na faixa de 10% a 20%,
é a de março, a qual conta com condições potencial para o aumento do rendimento tendo como base o custo real. Retomando
climáticas bastante favoráveis ao desen- médio (3,29 kg/ha) por meio das operações o exemplo da erva-baleeira, no Quadro 1,
volvimento de biomassa e de produção citadas anteriormente. pode-se verificar o custo de produção da
de óleo. As safras de julho e de novembro Embora as áreas de produção tenham obtenção do óleo essencial a partir das
requerem cuidados especiais para aumen- produtividades diferentes, o comportamen- folhas secas. Outras planilhas podem ser
tar a produtividade, já que as condições to em relação às safras é semelhante (Gráfi- construídas em função do produto final
climáticas não são favoráveis. co 2). O maior desvio-padrão é encontrado (folhas frescas, folhas secas, sementes,
Ações a ser tomadas: entre as safras de julho/2007 e julho/2008, mudas, fração rica em alfa-humuleno).
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100 Plantas medicinais e aromáticas

O preço estimado para as folhas secas da


erva-baleeira é de, aproximadamente, R$
5,00/kg e de R$5.280,00/kg para o óleo
essencial, considerando uma margem de
lucro de 20%. O óleo deve ter como padrão
de qualidade o teor mínimo de 2% p/p de
alfa-humuleno. Para obter 1 kg de óleo, é
necessário processar cerca de 800 kg de
biomassa fresca de erva-baleeira (sendo
o teor de óleo nesta biomassa em torno de
0,12% p/p).

Gráfico 1 - Rendimento médio de óleo essencial de Cordia verbenacea DC. em áreas CONSIDERAÇÕES FINAIS
comerciais na Unicamp - CPQBA colhidas em sistema de três cortes/ano
durante dois anos (média de nove áreas) O cultivo da erva-baleeira é viável
técnica e economicamente para sustentar
o fornecimento da matéria-prima destinada
ao medicamento anti-inflamatório lançado
no mercado. Naturalmente, a instalação
de toda nova cultura, a partir de popula-
ção selvagem, demanda procedimentos
de domesticação para o cultivo em larga
escala, envolvendo o desenvolvimento de
tecnologia de cultivo e processamento pós-
colheita ao longo desses anos de projeto.
Ainda é uma cultura nova, atrelada a pro-
duto de grande impacto no mercado. Ajus-
tes do sistema produtivo para aumentar os
rendimentos, via melhoramento genético e
manejo, são decorrentes desta experiência
no CPQBA em parceria com o Laboratório
Farmacêutico Aché.
Áreas de cultivo comercial de C. verbenacea na Unicamp - CPQBA
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ARRIGONE-BLANK, M. de F. et al. Aduba-
Gráfico 2 - Rendimentos de óleo essencial de Cordia verbenacea DC. cultivada em nove ção química e calagem em erva baleeira.
áreas comerciais no Unicamp - CPQBA, durante 2007 e 2008 (média de Horticultura Brasileira, Brasília, v.17, n.3,
dois cortes) p.211-215, nov. 1999.
MONTANARI JÚNIOR, I. Cultivo comercial
da erva-baleeira. Agroecologia Hoje, Botu-
QUADRO 1 - Estimativa de custos para obtenção de 1 L de óleo de Cordia verbenacea DC. - catu, ano 1, n.3, p.14-15, jun./jul. 2000.
Unicamp - CPQBA
REFSIO, C. et al. Avaliação clínica da efi-
Valor Total cácia e segurança do uso de extrato padro-
Itens de custo
(R$) (R$)
nizado da Cordia verbenacea em pacientes
Cultivo da erva-baleeira 2,00/kg 1.600,00 portadores de tendinite e dor miofascial.
Colheita e beneficiamento de folhas frescas (800 kg, com ramos 2,25/kg 1.800,00 Revista Brasileira de Medicina, v.62, n.1/2,
finos): 4 funcionários + encargos, por 5dias 4.(50,00 + 40,00).5 p.40-46, jan./fev. 2005.
Aluguel de equipamento de destilação/5 dias 60,00/dia 300,00 REHDER, V. L. G. et al. Variação sazonal
Vapor por caldeira a gás (80 kg de vapor/10 horas= 80 kg/hora) - 500,00 dos rendimentos do óleo essencial de erva
Manejo operacional (transporte, operação do destilador, separação 200,00/dia 200,00 baleeira (Cordia curassavica). In: SIMPÓSIO
do óleo e quantificação) DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL,
Total (R$) 4.400,00 17., 2002, Cuiabá. Anais... Cuiabá: UFMT,
2002. p.1.

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Uso de plantas medicinais na terapêutica animal


Renata Apocalypse Nogueira Pereira 1
Marta Cristina Teixeira Duarte 2
Vera Lúcia Garcia Rehder 3
Milena Cristina Leite Godoy 4
Andréia Fonseca Silva 5

Resumo - A busca por fármacos de origem natural, incluindo as plantas medicinais, tem
despertado o interesse tanto do meio científico quanto das indústrias farmacêuticas. O
preço reduzido e os menores efeitos colaterais, em comparação aos medicamentos con-
vencionais, são as principais vantagens da utilização de medicamentos extraídos da
natureza. Neste contexto, destacam-se os fitoterápicos, remédios extraídos das plantas,
que são utilizados tanto na medicina humana como na veterinária. A fitoterapia vete-
rinária trata de forma natural e com menores gastos as patologias que acometem os
animais domésticos. A mastite e a retenção de restos placentários são enfermidades de
bovinos que podem ser tratadas com plantas utilizadas na medicina popular.

Palavras-chave: Fitoterapia. Extrato vegetal. Etnoveterinária. Mastite.

INTRODUÇÃO medicamentos convencionais (MARINHO tornando os temas segurança alimentar e


et al., 2007). qualidade do alimento mais frequentes no
Fitoterápicos são medicamentos obti-
A fitoterapia veterinária trata de forma dia a dia da população. Assim, cresce a
dos a partir de plantas em que se empregam
natural e sem muitos gastos as patologias preocupação com o sistema de produção
exclusivamente derivados de droga vege- que acometem os animais. Um estudo de- e eventuais resíduos de medicamentos
tal. Enquanto o uso de tais medicamentos senvolvido por docentes da Universidade veterinários em produtos como leite e
remonta a antiguidade de maneira empíri- Federal do Amazonas (Ufam) relatou que carne. Nesse contexto, a fitoterapia tem
ca, por meio da observação dos animais aos a fitoterapia veterinária é do conhecimento sido resgatada por meio de pesquisas para o
efeitos da ingestão deste ou daquele vegetal de quase 74% dos entrevistados, entre- tratamento de doenças e controle de parasi-
no seu organismo, o de medicamentos tanto, apenas 36% tiveram oportunidade toses (MITIDIERO, 2002). A utilização da
alopáticos, por sua vez, tem apenas 173 de uso. Este estudo revelou também que fitoterapia é dificultada, pois apenas uma
anos (MITIDIERO, 2002), com crescente as gerações mais jovens depositam maior pequena parte das plantas foi estudada sob
utilização dos medicamentos sintéticos no confiança em drogas modernas ou demons- os pontos de vista fitoquímico, farmaco-
início do século 20 (COSTA et al., 2008). tram um conhecimento mais limitado sobre lógico e toxicológico (GATHUMA et al.,
O uso de fitoterápico tanto na medicina os tratamentos fitoterápicos (ALMEIDA; 2004). Portanto, informações sobre a bioa-
humana (BALDAUF et al., 2009) como na FREITAS; PEREIRA, 2006). tividade ou sobre produtos naturais biologi-
veterinária (LANS et al., 2007; MARINHO camente ativos das várias plantas utilizadas
et al., 2007; AVANCINI; WIEST, 2008b) UTILIZAÇÃO DE PLANTAS NA na medicina popular (FERNANDES et al.,
MEDICINA VETERINÁRIA
deve-se a algumas vantagens, dentre elas 2009) são de grande valia para os tratamen-
destacam-se: preço reduzido e menores Alimentos livres de resíduos são, a cada tos à base de fitoterápicos. Em algumas
efeitos colaterais, quando comparados aos dia, mais demandados pelos consumidores, plantas, a informação sobre a substância

1
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: renata_apocalypse@yahoo.com.br
2
Bióloga, D.Sc., Pesq. UNICAMP - CPQBA - Divisão de Microbiologia, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico: mduarte@cpqba.unicamp.br
3
Química, D.Sc., Pesq. UNICAMP - CPQBA - Divisão Química Orgânica e Farmacêutica, CEP 13140-000 Paulínia-SP. Correio eletrônico:
rehder@cpqba.unicamp.br
4
Médica Veterinária, Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: milegodoy@yahoo.com.br
5
Bióloga, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE-Herbário PAMG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: andreiasilva@epamig.br

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biotiva já está disponível, por exemplo, a muitas vezes, a condução. Ainda dentro dicinal, principalmente quanto ao teor da
insulina na Polymnia sonchifolia (yacon), desta temática de validação experimental, substância bioativa, e trabalhar com nú-
para controle da diabete (VOLPATO et al., percebe-se que em experimentos que uti- mero suficiente de animais por tratamento.
2007); terpenos, polifenóis, flavonoides e lizam metabólicos secundários no controle Estas estratégias podem onerar os ensaios
taninos em Maytenus ilicifolia e Maytenus parasitário, tais como tanino condensa- científicos, mas são imprescindíveis na
aquifolium (espinheira-santa), para con- do, não se toma cuidado com os efeitos validação da ação terapêutica das plantas
trole de transtornos digestivos (MARIOT; deletérios que podem ocorrer ao tratar o utilizadas popularmente.
BARBIERI, 2007), azadirachtina na animal infectado. O consumo de tanino
Azadirachta indica (nim) no controle de está associado à redução da ingestão de ali- EXPERIMENTAÇÃO IN VIVO
insetos hematófagos (SILVA et al., 2007), mento e da digestibilidade da matéria seca. UTILIZANDO PLANTAS
o eugenol no óleo essencial da alfavaca Esses efeitos devem ser levados em conta MEDICINAIS
(Ocimum gratissimum) para controle pa- ao utilizar um fitoterápico que contenha Em teste realizado numa fazenda de
rasitário (NERY; DUARTE; MARTINS, esse metabólito secundário (GITHIORI; produção de leite orgânico, situada no Vale
2009), camazuleno na Chamomilla recutita ATHANASIADOU; THAMSBORG, do Rio Paraíba, no município de Lorena,
(camomila) utilizado como aromatizante 2006). Por outro lado, alguns pesquisado- SP, dez animais com úlcera de úbere, lesões
(BORSATO et al., 2008), o linalol na Aniba res já se preocupam em criar condições de crostosas de, aproximadamente, 6 cm de
duckei (pau-rosa) para controle larvicida campo que podem ser simuladas no labo- diâmetro, foram submetidos a tratamento
de Aedes aegypti (SOUZA et al., 2007), ratório. Por exemplo, a atividade desinfe- com óleo de nim (Dalneem®) (Azadirachta
eugenol no cravo-da-índia (Cinnamomum tante do decocto da escadinha (Hypericum indica). O tratamento consistia em lavagem
aromaticus) como antioxidante, citronelal caprifoliatum) foi avaliada utilizando como da ferida, remoção de crostas, secagem
na citronela (Cymbopogon winterianus) indicador de eficiência diferentes doses e aplicação do óleo de nim, uma vez ao
e geraniol na palmarosa (Cymbopogon infectantes de Staphylococcus aureus, um dia, até a total cicatrização. A cicatriza-
martini), ambos como agentes antimicro- agente infeccioso em mamite bovina, si- ção completa ocorreu em sete dias, não
bianos (SCHERER et al., 2009). mulando as condições práticas relacionadas sendo observada reincidência da lesão. É
Experimentos conduzidos na medi- com os fatores: oito doses infectantes do importante salientar que nos tratamentos
cina veterinária, testando as atividades inóculo, cinco tempos de contato, ausên- tópicos convencionais, o processo de ci-
antibacterianas (AVANCINI; WIEST, cia e presença de matéria orgânica (soro catrização pode levar até 15 dias, havendo
2008a, SCHERER et al., 2009) e controle bovino/leite integral) e suporte (tecido índice de recidivas de até 60% (SILVA;
de endo (NERY; DUARTE; MARTINS, de algodão). Concluiu-se que a melhor SCHWARTZ, 200-).
2009) e ectoparasitas (FARIAS et al., eficácia de aplicação deste decocto é em A eficácia do uso de nim também foi
2007; PIRES et al., 2007; SILVA et al., ambientes limpos e em superfícies não testada no controle de carrapatos em bovi-
2007) dos fitoterápicos, são realizados, porosas. Além disso, a intensidade de ina- nos, comparado ao tratamento com ama-
na maioria, in vitro. Apesar de os testes in tivação do inóculo confrontado foi maior à bectina. O experimento foi realizado com
vitro permitirem uma avaliação da exis- medida que aumentava o tempo de contato 28 animais (10 vacas e 18 novilhas) das
tência de propriedades anti-helmínticas do decocto com o inóculo (AVANCINI; raças Pardo-Suíça e Girolanda. O extrato
dos extratos vegetais e de constituírem WIEST, 2008a). aquoso do nim era preparado na própria
uma etapa preliminar à caracterização A experimentação de fitoterápicos no fazenda, na proporção de 1 kg de folhas
de novos compostos ativos presentes nos tratamento de helmintos gastrointestinais frescas para cada 5 L de água, à tempera-
vegetais (NERY; DUARTE; MARTINS, em pequenos ruminantes não reproduziu tura ambiente. Após 12 horas de descanso,
2009), estabelecendo inclusive concen- os resultados obtidos in vitro, sendo a mistura foi filtrada e armazenada adequa-
trações realísticas da droga, estes não são necessário estabelecer o número de ani- damente até a utilização. O grupo tratado
conclusivos por não avaliarem situações de mais para os estudos in vivo (GITHIORI; com nim recebeu banhos semanais, com
campo (GITHIORI; ATHANASIADOU; ATHANASIADOU; THAMSBORG, 2006). 2 L do extrato aquoso, durante um mês;
THAMSBORG, 2006). Para que as pesquisas na área da ve- o outro grupo foi tratado com amabectina
Experimentos in vitro são conduzidos terinária avancem e forneçam resultados tópica, aplicada no dorso, uma única vez
com maior frequência, principalmente por mais conclusivos, devem ser realizados no início do experimento. Análises foram
apresentarem menor custo e obterem uma experimentos que consigam identificar e realizadas durante todo o experimento
resposta mais rápida, quando se estuda um isolar as substâncias bioativas, além daque- e, ao final, constatou-se que no semiári-
grande número de amostras. O mínimo les que validem os experimentos in vitro do, o nim pode substituir a amabectina
de 15 animais por tratamento deveria ser por meio de experimentos in vivo. Neste no controle de carrapatos (VALENTE;
utilizado para testar o efeito da atividade último item, os pesquisadores devem-se BARRANCO; SELLAIVE-VILLAROEL,
anti-helmíntica no campo, inviabilizando, preocupar com a qualidade da planta me- 2007). Ainda no controle de carrapatos
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Plantas medicinais e aromáticas 103

(Boophilus microplus), foram testados na, 76% de mortalidade. Assim, pôde-se causada por bactérias e/ou fungos. As
extratos alcoólicos de capim-cidreira concluir que a utilização do extrato de P. principais bactérias são Staphylococcus
(Cymbopogon citratus), em rebanhos de va- ornatus no controle de pulgas é uma ótima sp., Streptococcus sp. e Corynebacterium
cas holandesas, com alta infestação. Doze alternativa (LEITE et al., 2006). sp. (COSTA et al., 1985). Testes in vitro
animais foram divididos em três grupos, O efeito anti-helmíntico in vitro dos ex- de sensibilidade e resistência aos antibi-
sendo o primeiro tratado com amitraz a tratos da fruta-do-conde (Annona squamosa) óticos usados no mercado mostraram que
0,025%, o segundo com extrato de capim- sobre o nematoide Ascaridia galli foi con- estes apresentaram alta resistência (60% a
cidreira a 1,36% e o terceiro com extrato de firmado no experimento in vivo, utilizando 100%). Pelo estudo de sensibilidade bac-
capim-cidreira a 2,72%. Quatorze dias após 30 aves adultas. O extrato aquoso da planta teriana diante de diferentes drogas antimi-
o tratamento, constatou-se que no grupo 1 mostrou-se eficiente sobre o controle deste crobianas, verificou-se que os estafilococos
a eficácia do tratamento foi de 97,93%, no nematoide (FERNANDES et al., 2009). foram os microrganismos isolados com
grupo 2, não foram observados efeitos nas maior frequência (58,72%), a cefaloridina
condições desse experimento e, no grupo MASTITE BOVINA: PRINCIPAIS foi a droga de melhor ação, com 79,4% de
3, houve redução média de 25,3% dos MICRORGANISMOS, RESISTÊNCIA amostras sensíveis, seguida do cloranfe-
parasitas (HEIMERDINGER at al., 2006). A DROGAS E USO DE PLANTAS nicol (76,7%) e da gentamicina (72,5%).
Os répteis são muito sensíveis a trata- MEDICINAIS NO CONTROLE DA Com relação aos outros microrganismos
mentos com medicamentos alopáticos, e a DOENÇA isolados, verificou-se que em sua maioria
fitoterapia pode ser uma alternativa interes- A mastite bovina é considerada a doen- foram sensíveis ao cloranfenicol, gentami-
sante para o tratamento de enfermidades ça que acarreta os maiores prejuízos eco- cina, cefaloridina, tetraciclina e nitrofurano.
nesses animais. No Centro de Conservação nômicos à produção leiteira, pela redução De fato, o gênero Staphylococcus
dos Répteis da Caatinga (Campina Grande, da quantidade e pelo comprometimento exerce um importante papel na etiologia
PB), 12 espécies de plantas medicinais da qualidade do leite produzido, ou até da mastite infecciosa bovina, tanto pela
foram testadas para tratamento de répteis pela perda total da capacidade secretora alta frequência da doença como pela pato-
em cativeiro. Dentre as plantas em teste, da glândula mamária. A mastite interfe- logia causada por esta bactéria. A doença é
a semente de jerimum (Cucurbita pepu) re na qualidade do leite, observando-se caracterizada por infecção crônica e pela
foi mais eficaz no combate de endoparasi- teores menores de açúcares, proteínas, habilidade de sobrevivência intracelular
toses, o alho (Allium sativum) apresentou minerais, lactose, caseína, gordura, cálcio do organismo, fato que prejudica grande-
a maior atividade antifúngica, a babosa e fósforo, e um aumento significativo de mente o tratamento da mastite (COSTA
(Aloe babadensis) foi melhor cicatrizante, imunoglobulinas, cloretos e lipases. O leite et al., 1994). Embora em menor frequên-
e para a aroeira (Myracroduon urundeuva), fica impossibilitado de ser consumido e cia que Staphylococcus aureus, outros
confirmou-se a atividade anti-inflamatória. utilizado para fabricação de seus deriva- microrganismos parecem também estar
A camomila (Matricaria chamomila) e o dos, sem considerar os prejuízos causados associados à doença, como Staphylococcus
capim-santo (Cymbopogon citratus) foram pela condenação do leite na plataforma da epidermidis, Corynebacterium bovis,
eficazes como antisséptico e ectoparasitá- usina (DIAS, 2007). Uma vez que o uso Corynebacterium pyogenes, Streptococcus
rio, respectivamente (ALBUQUERQUE de antibióticos é recomendado e que uma uberis, Streptococcus agalactiae, Candida
et al., 2004). ampla variedade de drogas tem sido usada albicans, Escherichia coli, Pseudomonas
Na clínica de pequenos animais, alguns frequentemente de maneira indiscriminada aeruginosa, Klebsiella sp., dentre outros.
experimentos também vem sendo realiza- e inapropriada, esta prática tem levado ao Recentemente, os microrganismos
dos. No Laboratório de Entomologia do agravamento da doença e à ocorrência da envolvidos na gênese da mastite bovina
Instituto de Ciências Agrárias da Univer- resistência microbiana. foram convencionalmente agrupados de
sidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diante deste cenário, a busca por novas acordo com as fontes de infecção e trans-
em Montes Claros, MG, realizou-se um substâncias antimicrobianas a partir de fon- missão, e classificados como contagiosos
experimento com xampus naturais puli- tes naturais, incluindo plantas medicinais, ou ambientais. A bactéria E. coli é conside-
cidas. Foram comparados três xampus: à tem ganhado importância, tanto no meio rada um dos principais agentes de mastite
base de extrato de Plectranthus ornatus científico como nas companhias farma- de origem ambiental. As infecções por E.
(boldo-chinês), xampu comercial (Ciper- cêuticas. No caso da mastite bovina, várias coli na glândula mamária estão relaciona-
metrina®) e sabão de coco no controle de pesquisas, incluindo patentes, indicam a das com o comportamento oportunista do
pulgas (Ctenocephalides canis) em cães ação antimicrobiana de produtos naturais agente, veiculado das fezes dos animais,
domésticos. O sabão de coco apresentou e plantas medicinais sobre microrganismos pela via ascendente, para o canal galac-
uma mortalidade de 27% das pulgas, o resistentes a antibióticos convencionais. tóforo (RIBEIRO et al., 2002). A grande
xampu à base de P. ornatus apresentou A causa mais comum e importante da preocupação é a produção de fatores de vi-
80% de mortalidade e o de Cipermetri- mastite é aquela de natureza infecciosa, rulência pela E. coli, como o fator cytotoxic
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necrotizing factor – necrosante citotóxico desenvolvimento como uma solução al- Na última década, cerca de 12 patentes
(CNF) –, geralmente relacionado com a ternativa para problemas de saúde, estando indicando a aplicação de diferentes espé-
produção de α-hemolisina. Em células bem estabelecido em algumas culturas e cies de plantas medicinais e seus com-
Vero, o CNF induz à formação de células tradições, especialmente na Ásia, América postos para tratamento da mastite bovina
gigantes, multinucleadas e morte celular. Latina e África. Muitas das plantas nativas foram depositadas em diversos países,
No Brasil, o primeiro caso de mastite dessas regiões ainda não foram estudadas e incluindo Estados Unidos, Índia e Canadá.
por Mycoplasma bovis foi na região de estão sendo pesquisadas atualmente quanto As composições propostas são efetivas
Londrina, PR. Dentre as várias espécies à ação biológica, em contraste com plantas contra bactérias que causam a mastite, são
de Mycoplasma, M. bovis é considerado o da Europa, que já foram exaustivamente altamente estáveis e de baixo custo, e com
mais frequente e patogênico nas infecções estudadas. efeitos comparáveis a drogas alopáticas
da glândula mamária, sendo responsável Recentemente, vários grupos de pes- utilizadas no tratamento da mastite.
por surtos esporádicos de alta contagiosi- quisadores de diferentes países têm consta-
dade (PRETTO et al., 2001). A infecção ca- tado a atividade antimicrobiana de extratos, EXPERIÊNCIA PRÁTICA
racteriza-se pelo aumento de casos clínicos óleos essenciais e substâncias isoladas Na Fazenda Barreiro D’antas, que se
que não respondem à terapêutica, gravi- de plantas. Em muitos países, tais como localiza no Distrito de São José de Almei-
dade dos sintomas, múltiplos quartos com Índia, África e países da América Latina, da (Jaboticatubas, MG), cria-se gado de
infecção e redução acentuada na secreção a maioria dos trabalhos começa a partir leite da raça Girolanda. Segundo relatos
láctea. M. bovis pode ser introduzido em de um levantamento etnofarmacológico, dos proprietários, algumas vacas, quando
rebanhos livres da doença pela aquisição com seleção das espécies mais frequentes parem suas crias, retêm os restos placentá-
de animais portadores. No rebanho, o usadas pela população conforme suas rios. Essas vacas são tratadas com chá de
microrganismo é disseminado por aeros- indicações. folhas de lima (Citrus aurantifolia) ou de
sóis durante a ordenha e pelas secreções No caso da mastite bovina, alguns traba- cagaiteira (Eugenia dysenterica). A lima
de animais com distúrbios respiratórios e lhos indicam a ação antimicrobiana da pró- é cultivada no local para alimentação, e a
genitais. A principal medida de controle polis sobre microrganismos resistentes aos cagaiteira é encontrada facilmente por todo
da doença é a detecção e eliminação de antibióticos convencionais (LOGUERCIO o Cerrado, sendo utilizada na alimentação
animais infectados. Paralelamente, são et al., 2006). Cabe citar que a “própolis ver- e como medicinal. Para tratamento das
recomendadas as medidas preventivas para de” é conhecida como uma “invenção” das vacas, as folhas da cagaiteira são coleta-
as mastites contagiosas como a higiene abelhas que usam a resina de uma espécie das de árvores mais próximas da sede da
de ordenha, imersão dos tetos em solução medicinal, o alecrim-do-campo (Baccharis Fazenda. Três colheres de cinza do fogão
antisséptica após a ordenha, desinfecção e dracunculifolia), também conhecida como a lenha são misturadas ao chá das folhas
manutenção do equipamento de ordenha. vassoura-do-campo, para sua fabricação. fervidas (aproximadamente 1 L). A mistura
Atualmente, tem sido sugerido que a Mukherjee, Dash e Ram (2005) citaram é colocada numa garrafa e assim que esfria,
mastite recorrente e crônica, causada por o potencial imunoterapêutico do extrato é dada à vaca. Cerca de 24 horas após a
Staphylococcus spp., pode ser atribuída ao aquoso de Ocimum sanctum (alfavaca, administração, a vaca elimina os restos
crescimento da bactéria na forma de biofil- remédio-de-vaqueiro), que reduziu a conta- placentários (informação verbal)6.
me. Bactérias da mesma linhagem são de gem de bactérias totais e aumentou a conta-
10 a 100 vezes mais resistentes a agentes gem dos neutrófilos e linfócitos, bem como REFERÊNCIAS
antimicrobianos, quando crescem na forma a atividade e o índice fagocítico das células ALBUQUERQUE, H.N. de et al. Uso de plan-
de biofilme, do que quando crescem como após infusão intramamária. Com base no tas medicinais no tratamento de répteis em
células livres (OLSON et al., 2002). Isso extrato estudado, esses autores enfatizaram cativeiro: um estudo preliminar. Revista de
leva à hipótese de que a formação de biofil- o potencial de substâncias naturais para Biologia e Ciências da Terra, João Pessoa,
v.4, n.1, 2004. Disponível em: <http://eduep.
me por S. aureus tem relação com a aparente aumentar a imunidade mamária, uma vez uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/serpentes.
resistência à terapia atual para mastite. que o extrato mostrou possuir princípios pdf>. Acesso em: jan. 2010.
Diante deste cenário, a busca por biologicamente ativos que são antibacte- ALMEIDA, K. de S.; FREITAS, F.L. da C.;
antibióticos naturais, incluindo plantas rianos e imunomoduladores. Também Si PEREIRA, T.F.C. Etnoveterinária: fitotera-
medicinais, tem ganhado importância tanto et al. (2006) purificaram e identificaram pia na visão do futuro profissional. Revista
Verde de Agroecologia e Desenvolvimen-
no meio científico como nas companhias os componentes antimicrobianos do ex- to Sustentável, Mossoró, v.1, n.1, p.67-74,
farmacêuticas. trato de chá verde (Camellia sinensis), e jan./jun. 2006.
O uso de plantas como fonte de medi- constataram sua atividade contra S. aureus, AVANCINI, C.A.M.; WIEST, J.M. Ativida-
camentos é predominante em países em principal responsável pela mastite bovina. de desinfetante do decocto de Hypericum

6
Informação concedida pelos proprietários da Fazenda Barreiro D’antas: Maria José da Silva e Paulo Antônio Fonseca Silva, em 2009.

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Plantas medicinais e aromáticas 105

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Plantas medicinais e aromáticas 107

Programa de cultivo de plantas medicinais, aromáticas e


condimentares para a agricultura familiar
no município de Varginha, MG
Nilmar Eduardo Arbex de Castro 1
Giorgio Frapiccini 2
Elifas Nunes de Alcântara 3

Resumo - O Programa de Cultivo de Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares,


para a Agricultura Familiar, implantado no município de Varginha, MG, com recursos
do governo federal, tem a coordenação da EPAMIG e apoio de várias instituições
estaduais e nacionais. Neste contexto, iniciou-se o processo de fundação da Associação
dos Produtores Orgânicos de Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares
de Varginha, que viabilizará a comercialização da matéria-prima com atacadistas,
restaurantes e, principalmente, com laboratórios de manipulação particulares e
municipais, e posterior distribuição para a população pela rede do Sistema Único de
Saúde (SUS). O cultivo das espécies, com base na agroecologia e sustentabilidade,
visa a produção, o beneficiamento e a secagem da matéria-prima para posterior
comercialização, e, assim, agrega valor às atividades da agricultura familiar. Todos
os agricultores familiares participantes do Projeto foram capacitados e receberam
acompanhamento técnico especializado, em todas as fases de cultivo. As espécies
cultivadas escolhidas para cultivo foram selecionadas a partir dos problemas de
saúde mais comuns na população do município, de acordo com levantamentos de
profissionais da área de saúde. Dessa maneira, será atendida a população no todo: a) o
agricultor familiar com a diversificação de suas atividades e aumento nos rendimentos
da propriedade; b) a população que receberá medicamentos fitoterápicos de qualidade;
c) a Prefeitura que terá uma substancial redução nos gastos com a saúde pública; d) os
técnicos e os pesquisadores que ampliarão seus conhecimentos.

Palavras-chave: Planta medicinal. Fitoterapia. Farmácia Viva. Agroecologia.


Associativismo. Oficina farmacêutica.

INTRODUÇÃO cro, orienta-se também para atender às te, forma-se um conjunto diversificado,
necessidades da agricultura familiar para com horta, roça, pomar e integração das
A economia da agricultura familiar
a manutenção, a longo prazo, das poten- produções animal e vegetal.
brasileira não se fundamenta somente cialidades produtivas do meio natural, A agricultura familiar é considerada
na maximização da rentabilidade dos sempre com o objetivo de contemplar como o principal agente propulsor do
recursos aplicados e na geração do lu- suas necessidades básicas. Normalmen- desenvolvimento comercial e dos serviços

1
Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. Convidado U.R. EPAMIG SM/Bolsista CNPq, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
arbexcastro@oi.com.br
2
Médico, Especialista em Fitomedicina, Prefeitura do Município de Varginha, CEP 37002-590 Varginha-MG. Correio eletrônico: gfrapi@gmail.com
3
Engo Agro, D.Sc. Pesq. U.R. EPAMIG SM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
elifas@epamig.ufla.br

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nas pequenas cidades e com expressão HISTÓRICO DO PROGRAMA aromáticas e condimentares em sistemas
considerável nas médias cidades do inte- agroecológicos na Região Sul de Minas
Desde o início do ano de 2009 está
rior, que, uma vez fortalecida, viabilizada Gerais” contempla as linhas de agroeco-
em curso no município de Varginha, MG,
e ampliada, tem a capacidade de aquecer logia, manejo sustentável de uso múltiplo
o Programa de Cultivo de Plantas Me-
a economia das cidades em sua base. Na em sistemas agroflorestais e agropecuários,
dicinais, Aromáticas e Condimentares,
região Sul de Minas Gerais, embora com agregação de valor à produção mediante
com recursos oriundos da Secretaria de
vocação agrícola regional definida, como processos de agroindustrialização familiar
Agricultura Familiar (SAF), ligada ao
café, leite, frutas e hortaliças, entre outras, rural, desenvolvimento rural sustentável,
Ministério do Desenvolvimento Agrário
observa-se a necessidade de ampliar a comercialização e mercados, alternativas
(MDA), e Fundo Nacional de Desenvolvi-
sua matriz produtiva com a inserção de energéticas (secadores solares), práticas
mento Científico e Tecnológico (FNDCT)
novas alternativas agrícolas, com o intuito produtivas ecologicamente sustentáveis,
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para
principal de aumentar o rendimento da validação e produção de mudas e gestão
Inclusão Social (Secis) pertencente ao Mi-
propriedade familiar de forma sustentada. de sistemas produtivos.
nistério da Ciência e Tecnologia (MCT),
Isso refletirá diretamente no aumento da administrados pelo Conselho Nacional de
renda dos municípios, fazendo com que DETERMINANTES PARA
Desenvolvimento Científico e Tecnológico A IMPLANTAÇÃO DO
as prefeituras estimulem cada vez mais (CNPq). Este Projeto é coordenado pela PROGRAMA DE FITOTERAPIA
a diversificação na propriedade agrícola Unidade Regional EPAMIG Sul de Minas NO MUNICÍPIO DE
familiar. Neste contexto, o cultivo, a produ- (U.R. EPAMIG SM), em Lavras, MG. VARGINHA
ção, o beneficiamento e a comercialização O Projeto tem suas raízes no interesse Desde os primeiros encontros entre
de plantas medicinais, aromáticas e con- e articulação mantidos por instituições técnicos e instituições no ano 2000, vários
dimentares para fins terapêuticos e outros e técnicos desde o ano 2000, quando a eventos e situações foram importantes,
são alternativas viáveis para a agricultura EPAMIG iniciou na Fazenda Experimental para que o Programa de Fitoterapia pudesse
familiar, não só pela agregação da renda Nova Baden, atual Fazenda Experimental desenvolver-se no município de Varginha.
às suas atividades, mas também pelo uso de Lambari (FELB), o cultivo de plantas Contatos frequentes entre técnicos e insti-
dessas plantas para promoção da saúde e medicinais aromáticas e condimentares tuições e aumento da produção científica
também pelo resgate e aplicação dos co- e convidou os poderes públicos de vá- relacionada com as plantas medicinais e de
nhecimentos tradicionais sobre elas. Dessa rias cidades para divulgar o trabalho e experiências como as “Farmácias Vivas”
maneira, é atendida a agricultura familiar, incentivar produtores rurais ao cultivo trouxeram mais clareza e credibilidade
conforme a Lei no 11.326, no seu art. 4o, dessas espécies. Naquela ocasião, vários para o uso seguro de fitoterápicos no Brasil.
que estabelece: técnicos vislumbraram a potencialidade Alguns técnicos do Programa de Fitotera-
e perspectivas de desenvolvimento de pia de Varginha tiveram capacitação nas
A descentralização; a sustentabilidade
ambiental, social e econômica; a equi-
programas de fitoterapia na região Sul áreas de saúde e agronômica; constituição
dade na aplicação das políticas, respei-
de Minas Gerais. Finalmente, em 2008, de um marco regulatório e legal para a
tando os aspectos de gênero, geração pesquisadores da EPAMIG e convidados produção e uso de fitoterápicos e plantas
e etnia; participação dos agricultores tiveram o Projeto aprovado pelo MDA/ medicinais, nas esferas federal, estadual
familiares na formulação e implemen- MCT/CNPq, e com o apoio e cooperação e municipal do País. O papel da Agência
da Empresa de Assistência Técnica e Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
tação da política nacional da agricultura
Extensão Rural (Emater) de Varginha, da como órgão regulador para a produção de
familiar e empreendimentos familiares
Prefeitura do Município de Varginha, do medicamentos, do Ministério da Saúde
rurais. (BRASIL, 2006b).
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural com a criação da Política Nacional de
Também está em conformidade com a (Senar), do Serviço de Apoio às Micro e Práticas Integrativas e Complementares
Política Nacional de Plantas Medicinais e Pequenas Empresas (Sebrae), do Sindicato (PNPIC) em Saúde e a Política Nacional
Fitoterápicos do Decreto no 5.813, que em dos Produtores Rurais de Varginha e da de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
seu objetivo geral é: Universidade Federal de Lavras (Ufla) permitiram a introdução da fitoterapia no
e Universidade de Alfenas (Unifenas), Sistema Único de Saúde (SUS).
Garantir à população brasileira o acesso
seguro e o uso racional de plantas me- deu-se início aos trabalhos para o triênio
OBJETIVOS DO PROGRAMA
dicinais e fitoterápicos, promovendo o 2009-2011. O Projeto intitulado “Geração
uso sustentável da biodiversidade, o de- de renda, conhecimentos e sustentabilidade O Programa tem como objetivo geral
senvolvimento da cadeia produtiva e da socioambiental para a agricultura familiar estabelecer mecanismos para a promoção
indústria nacional. (BRASIL, 2006a). pelo uso e produção de plantas medicinais, dos territórios rurais e da cidadania, com
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Plantas medicinais e aromáticas 109

o envolvimento participativo e associativo ção das plantas colhidas, utilizando agronômica e permitem atender 19 pro-
dos agricultores familiares das comuni- métodos alternativos de secagem, dutores rurais familiares do município de
dades rurais do município de Varginha, e agregando maior valor ao produto Varginha (Fig. 1). Nesta fase, os produtores
visa à sustentabilidade econômica, social, final, como fitoterápicos, artesana- rurais terão capacitação técnica no manejo
ética, ambiental e cultural. As comunidades tos, ervas finas, etc.; agrícola de plantas medicinais, aromáticas
poderão ser fortalecidas pela geração pro- f) comercialização: comercializar a e condimentares, utilizando técnicas agroe-
gressiva de emprego e renda, aumento dos produção das plantas medicinais, cológicas; as propriedades serão equipadas
índices educacionais, capacitação no cul- aromáticas e condimentares direta- com instrumental necessário à produção com
tivo e na utilização das plantas medicinais mente com empresas especializadas a qualidade exigida para a matéria-prima,
e resgate dos conhecimentos tradicionais (atacadistas, laboratórios, farmácias como ferramentas adequadas, sistemas de
associados. Especificamente, o Programa de manipulação e oficinas farma- irrigação e secadores.
visa desenvolver e realizar ações para: cêuticas, restaurantes, empresas de As áreas de cultivo dos produtores
alimentação industrial, supermerca- participantes estão localizadas em regiões
a) inclusão social: promover a cidada-
dos) e outras; distintas do município, para uma obser-
nia e a geração de emprego e renda
vação mais detalhada sobre a variação
para a agricultura familiar e para os g) pesquisa: desenvolver com os
do ambiente, na produção de biomassa e
trabalhadores rurais de associações agricultores familiares, pesquisas
princípios ativos.
pastorais, pautadas no desenvolvi- sociais, técnicas e etnobotânicas.
Os agricultores familiares recebem
mento sustentável e na diminuição Desenvolver tecnologias com pes-
capacitação contínua de técnicas sobre o
dos impactos sociais, econômicos e quisas fitotécnicas e fitoquímicas,
cultivo orgânico das plantas medicinais,
ambientais; validando cientificamente as infor-
sistemas agroecológicos, associativismo
mações do conhecimento popular
b) informação e comunicação: res- e cultura da cooperação, comercialização,
das plantas medicinais. Nesse item
gatar o conhecimento tradicional dentre outras (Fig. 2). Essas capacitações
existe a interação entre os pesquisa-
e disseminar para as comunidades são oferecidas pelas instituições parceiras
dores, os extensionistas e o agricul-
de agricultura familiar informações do Programa. Está em andamento, por
tor familiar, pautada no princípio da
de sustentabilidade das atividades parte dos agricultores, a criação da Asso-
Pesquisa & Extensão em Sistemas
rurais. Apoiar a cadeia produtiva ciação dos Produtores Orgânicos de Plantas
de Produção (P&ESP).
de plantas medicinais, aromáticas e Medicinais, Aromáticas e Condimentares
condimentares em sistema agroeco- de Varginha: Sabor e Saúde. Estão sen-
lógico; ESTRATÉGIAS PARA O do realizados dias de campo e palestras
DESENVOLVIMENTO DO sobre vários assuntos, por pesquisadores
c) educação: promover a formação e a PROGRAMA
capacitação do produtor rural e de e técnicos do Programa e profissionais
seus familiares com a difusão do Pode-se considerar que o Programa de convidados de diversas instituições.
conhecimento por meio de palestras, Fitoterapia, no todo, envolve três segmen- Simultaneamente ao cultivo, os agricul-
tos distintos: tores familiares iniciaram os contatos para
cursos, treinamentos, material didá-
tico, inclusão digital e assistência reconhecimento do mercado, identificando
a) agronômico: cultivo, produção, se-
técnica in loco, sobre o cultivo e cagem e beneficiamento das plantas possíveis compradores (farmácias de ma-
medicinais, aromáticas e condimen- nipulação, supermercados, feiras livres,
utilização das plantas medicinais,
tares com qualidade; restaurantes, empresas distribuidoras de
aromáticas e condimentares;
alimentos, etc.) e realizando visitas técni-
d) diversificação e produção: di- b) farmacêutico: manipulação e trans-
cas em propriedades agrícolas de outros
versificar as atividades rurais e formação em fitoterápicos;
municípios, onde existe algum programa
sistematizar com sustentabilidade c) médico: distribuição dos fitoterápi- semelhante em andamento. Os plantios
as propriedades de agricultura fa- cos por meio do SUS, após prescri- ocorrem, de início, em pequenas áreas,
miliar no município de Varginha, ção e orientação. pois será necessária a experimentação das
com a inclusão da cadeia agroe- Em todos os segmentos, há o acompa- espécies cultivadas e verificação do seu
cológica de cultivo e produção de nhamento de profissionais especialistas, desenvolvimento nas diferentes proprie-
plantas medicinais, aromáticas e como engenheiros agrônomos, farmacêu- dades rurais (variação ambiental). Existe
condimentares; ticos e médicos. também a preocupação dos coordenadores
e) técnicas alternativas de secagem e Os recursos obtidos para o desenvol- do Programa de que os produtores não in-
beneficiamento: realizar a desidrata- vimento deste Projeto contemplam a fase terrompam nem diminuam suas atividades
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110 Plantas medicinais e aromáticas

Fotos: Nilmar E. Arbex de Castro


Figura 1 - Áreas de cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares em algumas propriedades dos agricultores familiares
participantes do Programa de Plantas Medicinais em Varginha, MG

Fotos: Nilmar E. Arbex de Castro

Figura 2 - Grupo de agricultores familiares e técnicos das instituições parceiras durante reuniões de capacitação e com futuros com-
pradores da matéria-prima

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Plantas medicinais e aromáticas 111

habituais e de sustentação econômica em QUADRO 1 - Relação das espécies medicinais selecionadas para cultivo no Programa de Fito-
função da introdução do novo plantio. terapia de Varginha, com respectivos nomes populares, científicos e indicações
Para a escolha das espécies vegetais Espécies
que seriam cultivadas, profissionais das Indicações
Nome popular Nome científico
várias áreas fizeram um levantamento
dos problemas de saúde mais comuns Alho Allium sativum Tratamento da hipertensão arterial leve e
na população do município. Após esse auxílio na prevenção da aterosclerose.
levantamento, definiram-se as espécies Alcachofra Cynara scolymus Ativa a vesícula, protege o fígado e reduz o
medicinais indicadas para as doenças re- colesterol.

latadas, observando-se a Relação Nacional Babosa Aloe vera Cicatrizante nas lesões, queimaduras térmi-
de Plantas Medicinais de Interesse do SUS cas e radiação.

(Ministério da Saúde), que contempla o uso Calêndula Calendula officinalis Cicatrizante e anti-inflamatório.
de 71 espécies vegetais com propriedades
Camomila Chamomila recutita Relaxante, limpeza dos olhos, antiespasmó-
medicinais. Assim, optou-se pelo cultivo
dica e emenagoga.
de 23 espécies vegetais (Quadro 1), sendo
Centela Centella asiatica Ativar a circulação sanguínea e anti-infla-
distribuídas mudas e sementes aos agricul-
matória.
tores, com insumos e ferramentas neces-
Confrei Symphytum officinale Cicatrizante, tratamento de equimoses, he-
sários ao cultivo. As mudas distribuídas
matomas e contusões.
foram adquiridas de instituições idôneas,
Erva-cidreira Melissa officinalis Carminativo, antiespasmódico e ansiolítico
com a devida identificação. Para o aumento
leve.
das áreas de cultivo, os produtores rurais
Erva-cidreira Cymbopogon citratus Calmante e sedativo.
farão a multiplicação das plantas, conforme
recomendação técnica recebida. Erva-doce Pimpinella anisum Expectorante, antiespasmódico, carminativo
Definiu-se também o cultivo de plantas e tratamento de dispepsias funcionais.
condimentares e aromáticas, que, além Espinheira-santa Maytenus ilicifolia Tratamento de dispepsias, coadjuvante no
de propriedades medicinais, apresentam tratamento de gastrite e úlcera gastroduo-
diversos usos, como na culinária e em denal.
artesanatos, entre outros (Quadro 2). Eucalipto Eucalyptus globulus Antisséptico e antibacteriano das vias aéreas
Para a produção deste tipo de matéria- superiores e expectorante.
-prima é de suma importância a qualidade, Gengibre Zingiber officinale Profilaxia de náuseas causada por movimen-
principalmente com relação aos teores to (cinetose) e pós-cirúrgicas.
de princípios ativos dentro dos padrões Guaco Mikania glomerata Expectorante e broncodilatador.
esperados em cada planta. No entanto,
vários fatores alteram os princípios ativos, Guaraná Paullinia cupana Estimulante, adstringente e tratamento de
como por exemplo: ambiente (solo, clima, diarreia crônica.
pragas, doenças, espaçamento e irrigação), Hamamelis Hamamelis virginiana Tratamento de hemorroidas e equimoses.
genética, estádio de desenvolvimento da
planta e pós-colheita (secagem e armaze- Hortelã-pimenta Mentha piperita Carminativo, antiespasmódico intestinal e
expectorante.
namento), etc. Dessa maneira, há acompa-
nhamento durante todo o cultivo e em todas Macela-da-serra Tanacetum parthenium Enxaquecas, dor de cabeça e mal-estar
gástrico.
as épocas nas propriedades, por meio de
Maracujá Passiflora incarnata Ansiolítico leve.
análises fitotécnicas e fitoquímicas, sendo
selecionadas as plantas com maiores teores
Raiz-de-cobra Poligala senega Tratamento da bronquite catarral.
e rendimentos de princípios ativos e de bio-
massa. Assim, assegura-se a qualidade da
Salgueiro Salix alba Tratamento da dor de cabeça.
matéria-prima durante a fase agronômica,
a qual contribui para garantir os efeitos Sene Senna alexandrina Laxante.
terapêuticos dos medicamentos manipula-
dos e a segurança para as demais fases do Valeriana Valeriana officinalis Calmante, sedativo moderado e ansiedade.
Programa (farmacêutica e médica).
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112 Plantas medicinais e aromáticas

QUADRO 2 - Relação das espécies condimentares e aromáticas selecionadas para cultivo A criação de associação por parte
no Programa de Fitoterapia de Varginha com respectivos nomes populares e dos agricultores familiares fortalecerá os
científicos pontos de produção e comercialização da
Nome popular Nome científico matéria-prima, além de favorecer a sociali-
Açafrão Crocus sativus
zação entre as comunidades. O processo de
construção do Programa é constante dada
Alecrim Rosmarinus officinalis
a dinâmica dos trabalhos. À medida que o
Capuchinha Tropaeolum majus grupo cresce novas parcerias surgem. Pro-
Cerefólio Anthriscus cerefolium dutos oriundos da agricultura familiar em
Cominho Cominum cyminum
sistema agroecológico de produção, com
a devida qualidade, em especial plantas
Cúrcuma Curcuma longa/Curcuma zedoaria
medicinais, aromáticas e condimentares,
Erva-doce Pimpinela anisum têm sido alvo de interesse de empresas de
Estragão Arthemisia dracunculus vários segmentos, como laboratórios, ata-
Hissopo Hyssopus officinalis
cadistas, oficinas farmacêuticas e empresas
distribuidoras de alimentos.
Hortelã-pimenta Mentha piperita
Com a difusão do conhecimento, as
Mangerona Origanum majorana comunidades rurais terão bases fortalecidas
Manjericão Ocimum basilicum para estabelecer estratégias de geração de
Orégano Origanum vulgare
renda e melhoria da qualidade de vida, por
meio de práticas sustentáveis de manejo e
Sálvia Salvia officinalis
comercialização das plantas medicinais,
Segurelha Satureja hortensis aromáticas e condimentares.
Tomilho Thymus vulgaris O Programa de Fitoterapia poderá ser
adotado por qualquer município, o que
Urucum Bixa orelana
possibilita o aumento da renda para os agri-
cultores familiares, geração de empregos
na cidade, economia para a administração,
Além das pesquisas fitotécnicas, fi- Secretarias Municipais de Saúde, de
com a distribuição de medicamentos a um
toquímicas e farmacológicas, haverá em Educação, de Desenvolvimento Social e
custo inferior, e segurança para a popula-
todas as fases do Programa pesquisas Habitação e de Agricultura estão empe-
ção que receberá medicamentos fitoterápi-
constantes com a população em geral, além nhadas em atividades que promovam a cos de qualidade.
de ensino e extensão sobre o cultivo e uso popularização do uso de fitoterápicos no
adequado das plantas. As pesquisas aborda- município, bem como a geração de renda AGRADECIMENTO
rão o conhecimento e o uso de plantas me- e emprego e diversificação da produção Ao Conselho Nacional de Desenvol-
dicinais, antes, durante e após o uso delas, rural. Está sendo elaborada a Lei Municipal vimento Científico e Tecnológico (CNPq)
os efeitos, a satisfação do usuário, enfim de Fitoterápicos e Plantas Medicinais de pelo apoio ao Programa, bem como ao
subsídios para uma avaliação detalhada Varginha, o que assegurará a continuidade Ministério do Desenvolvimento Agrário
do Programa. Serão realizadas também do Programa. (MDA), Ministério da Ciência e Tecno-
pesquisas com os agricultores familiares
logia (MCT), Organizações Estaduais de
sobre a produção e seu grau de satisfação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Pesquisa Agropecuária (Oepas), Empresa
A Prefeitura de Varginha, além do apoio de Assistência Técnica e Extensão Rural
ao desenvolvimento de todo o Programa de Para o desenvolvimento do Programa,
do Estado de Minas Gerais (Emater-MG),
cultivo, está introduzindo a fitoterapia no é imprescindível a parceria entre institui-
Prefeitura do Município de Varginha, MG e
SUS do município, garantindo a comer- ções, de caráter multi e interdisciplinar, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
cialização dos medicamentos fitoterápicos e atendimento da população em geral, a de Minas Gerais (Fapemig).
elaborados a partir das plantas medicinais começar pelo produtor rural/agricultor
produzidas; com essa finalidade está em familiar. O apoio e o envolvimento da REFERÊNCIAS
processo a construção de uma oficina extensão com a pesquisa são pontos fortes
BRASIL. Decreto no 5.813, de 22 de junho
farmacêutica para o beneficiamento das para a adaptação das metodologias aos de 2006. Aprova a Política Nacional de
plantas e produção de fitoterápicos. As produtores familiares. Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá ou-

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Plantas medicinais e aromáticas 113

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20 out. 2008. 344p. 1102p.

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114 Plantas medicinais e aromáticas

Programas de produção e fornecimento


de fitoterápicos no SUS
Rosana Bianchini 1
Jaqueline Guimarães de Carvalho 2
José Mário Lobo Ferreira 3

Resumo - O uso de medicamentos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS)


pode assegurar maior autonomia na produção de matéria-prima para a fabricação de
medicamentos e promover tanto o resgate do acervo de conhecimentos tradicionais das
populações envolvidas como a busca de maior conhecimento sobre a biodiversidade
dos ecossistemas brasileiros.

Palavras-chave: Fitoterapia. Planta medicinal. SUS. Tecnologia social.

INTRODUÇÃO como práticas adequadas de segurança professor organizou um sistema de apro-


alimentar. veitamento das plantas nativas da região,
O uso de plantas medicinais é uma
O crescente interesse de usuários e validando-as para produzir e oferecer à
prática de domínio público, cuja história
profissionais de saúde pela utilização população formulações extemporâneas.
remonta aos primórdios da civilização.
de plantas medicinais levou o governo Em Minas Gerais foi aprovada, em
Atualmente, seu uso sob diversas formas
federal à criação da Política Nacional 2009, a Política Estadual de Práticas
está em amplo crescimento e ocupa um
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, Integrativas e Complementares (MINAS
importante papel na atenção básica à saú-
em 2006 (BRASIL, 2006). Em 2008, foi GERAIS, 2009). Quatro experiências de
de. Tal fato amparado pela Organização
aprovado o Programa Nacional de Plan-
Mundial de Saúde (OMS), tem como Farmácias Vivas foram incorporadas pelo
tas Medicinais e Fitoterápicos (BRASIL,
objetivo possibilitar maior acessibilidade SUS: em Ipatinga, já com quase dez anos
2008). Com isso, o Sistema Único de
a remédios e a práticas preventivas à saúde de funcionamento, Santa Luzia, Betim e
Saúde (SUS) passou a incorporar e a
pela população de baixa renda. Nova Lima. Serão descritas, neste artigo,
reconhecer, oficialmente, programas
Um programa de apoio à prevenção de duas dessas iniciativas: a Farmácia Viva do
saúde envolve diversas dimensões: social, que produzem, prescrevem e dispensam
Programa Municipal de Betim, premiada
econômica, ambiental e cultural, e diver- medicamentos fitoterápicos nos Postos
de Saúde dos municípios. pelo Ministério da Saúde na 1a Expogest,
sos atores, como por exemplo, governo
Contudo, ainda existem poucas iniciati- como experiência inovadora no SUS, e a
municipal, associações, universidades,
vas no Sistema Formal de Saúde no Brasil, Farmácia Viva de Nova Lima, contem-
conhecedores da medicina tradicional,
plada com os prêmios “FINEP 2008 de
técnicos e profissionais da saúde. A partir com destaque para a iniciativa pioneira do
deste ambiente multidimensional, pode-se professor Francisco Matos, pesquisador Inovação”, na categoria Tecnologia Social
construir uma rede colaborativa de ação da Universidade Federal do Ceará. Para na Região Sudeste, e o prêmio “Cultura e
que fortaleça a educação e os saberes atender às necessidades de tratamento Saúde”, também em 2008, concedido pelo
locais tradicionais referentes ao cultivo das doenças da população das pequenas Ministério da Saúde, em parceria com o
e ao uso de plantas medicinais, assim comunidades onde vivia e trabalhava, este Ministério da Cultura.

1
Arquiteta, Especialista em Gestão e Planejamento Cultural, Superintendente Executiva Instituto Kairós, CEP 34000-000 Nova Lima-MG.
Correio eletrônico: adm@institutokairos.org.br
2
Farmacêutica, Especialista em Plantas Medicinais, Responsável pelo Programa Farmácia Viva SUS Prefeitura Municipal de Betim - Secretaria
Municipal de Saúde, CEP 32632-090 Betim-MG. Correio eletrônico: jakguimaraes@yahoo.com.br
3
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE/Bolsista FAPEMIG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: jmlobo@epamig.br

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Plantas medicinais e aromáticas 115

FARMÁCIA VIVA NO SUS DE cursos nos anos 2004 e 2005. Em 2006, sustentabilidade com a da implantação
NOVA LIMA, MG foram implantadas hortas que passaram a de um arranjo produtivo local, capaz de
fornecer parte da produção dos remédios garantir grande parte da matéria-prima uti-
A Tecnologia Farmácia Viva: Rede Co-
caseiros. Em 2007, a equipe médica e os lizada no laboratório fitoterápico. Além de
laborativa de Saberes consiste na estrutu-
agentes de saúde do posto localizado na abastecer a produção local, pretendem-se
ração de um arranjo produtivo e educativo,
comunidade, foram capacitados e envol- atingir novos mercados com um trabalho
objetivando a sustentação e implantação
vidos no Projeto. Por meio de uma rede de geração de renda na região.
do Serviço de Fitoterapia no SUS, para
colaborativa de desenvolvimento, as ações Quando o Programa foi iniciado, exis-
atender os postos de saúde do município
atingiram as políticas públicas de educação tiam poucas hortas medicinais na comuni-
de Nova Lima, conduzida por uma or-
dade. Com o fortalecimento de sua prática,
ganização sem fins lucrativos - Instituto e sensibilizaram as famílias das crianças
e adolescentes que estudam na escola o número de quintais produtivos aumentou,
Kairós, sediada nesse município. A partir
municipal local. Em 2008, o programa foi o que vem fortalecendo uma grande rede de
de 2004, iniciou-se um programa voltado
ampliado partindo para o desenvolvimento educação solidária na comunidade por meio
à valorização do uso e do conhecimento
de trocas de mudas, conhecimentos e forta-
popular das plantas medicinais, da fitote- de ações conjuntas às Políticas Públicas
lecimento da tradição e da identidade local.
rapia, de segurança alimentar e de práticas locais de Saúde, incorporando-se ao plano
No arranjo produtivo estão sendo apli-
agrícolas agroecológicas no distrito de São preventivo do Programa Público de Saúde
cados (Fig. 2):
Sebastião das Águas Claras que pertence da Família (PSF).
ao município de Nova Lima, MG. O fortalecimento dessa rede estimulou a) unidades produtivas para forneci-
Por meio desse programa foram de- o trabalho de um grupo de doze voluntá- mento de matéria-prima;
senvolvidas ações de capacitação e for- rios, capacitados no Programa (Fig. 1), b) construção de oficina farmacêutica,
mação da comunidade em parceria com que desenvolve a rotina de produção dos segundo a legislação estadual vigente
a Rede de Intercâmbio em Tecnologias remédios caseiros prescritos pela equipe (BRASIL, 2010);
Alternativas e com a Articulação Pacari do médica do Posto de Saúde. c) capacitação das equipes técnicas e
Cerrado nos temas de segurança alimen- Inicialmente, toda a matéria-prima ne- médicas do SUS envolvidas;
tar, culinária alternativa, agroecologia e cessária para a confecção dos fitoterápicos d) articulação da rede de educação
plantas medicinais. Aproximadamente, 60 era adquirida de fornecedores externos. O informal e práticas tradicionais de
pessoas da comunidade participaram dos Programa ampliou-se e agora busca sua plantas medicinais nas comunida-
des;
e) sistematização de todo o procedi-
mento técnico, pedagógico, metodo-
lógico e científico para reaplicação
em outras realidades.
Um dos fatores limitantes identificados
para a ampliação do cultivo de plantas
medicinais e hortaliças com base agroeco-
lógica na região refere-se ao alto custo do
transporte de adubos orgânicos, devido ao
volume requerido, a distância e o custo de
aquisição. O distrito de São Sebastião das
Águas Claras localiza-se em uma região
em processo de urbanização, o que dificulta
a identificação de unidades rurais que po-
Instituto Kairós - Núcleo Digital

deriam fornecer resíduos provenientes de


criações e lavouras.
Por outro lado, com uma popula-
ção aproximada de 2.500 habitantes, o
distrito possui um número crescente de
restaurantes (45) e pousadas (35), os quais
Figura 1 - Trabalho voluntário na produção de remédios caseiros - Instituto Kairós, concentram um volume considerável de
Nova Lima, MG resíduos sólidos orgânicos, somado ao
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produzido de aparas de jardins (corte de


grama, folhas, podas de ramos e arbus-
Plantas
tos) nos condomínios adjacentes (área
ornamentais
de expansão urbana de Belo Horizonte).
Essa fração sólida de resíduos orgânicos Fitocosméticos Apicultura

recicláveis onera os custos do governo


municipal no recolhimento e transporte
Farmácias
para o aterro sanitário, diminuindo sua Postos de
saúde fitoterápicas
vida útil em função do grande volume,
sobrecarregando-o com resíduos de grande
potencial de reaproveitamento, com alta
concentração de nutrientes. A reutilização Laboratório
desses resíduos, transformados em adubos
orgânicos e condicionados no solo, pode
Comunidade
evitar a disseminação de roedores e outros Bares, rede informal
vetores de doenças, nos locais de acúmulo, pousadas e
restaurantes
e, ao mesmo tempo, subsidiar iniciativas Quintais
produtivos
de produção agroecológica. e hortas
Um projeto desenvolvido no Instituto comunitárias

Kairós visa o aproveitamento desses resí- Residências e


duos para produção de adubos, com base condomínios Horto de
Adubo mudas
na coleta seletiva da fração orgânica para
orgânico
montagem de pilhas de composto termofí-
licas, sem que promova o revolvimento das
leiras e/ou aplicação de maquinário para Figura 2 - Arranjo produtivo para a produção de fitoterápicos e sua disponibilização no
aeração forçada, o que diminui os custos SUS - Instituto Kairós
neste sistema, conforme o processo de
compostagem desenvolvido pela Univer-
sidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
De acordo com uma análise econômica do
custo operacional para a destinação do lixo
em projetos implantados na UFSC (2 t de
resíduos/dia) e nas Centrais de Abasteci-
mento (Ceasa), em São José (5 a 8 t/dia),
houve uma redução de até 35% nos custos
em relação ao tratamento convencional
(INACIO, 1998). As altas temperaturas,
durante o processo de transformação dos
resíduos, garantem a ausência de patóge-
nos comuns ao homem no produto final
manuseado como adubo (matéria orgânica
(MO) estabilizada no processo, rica em
nutrientes).
Na sede do Instituto Kairós foi im-
José Mário Lobo Ferreira

plantada uma unidade de compostagem, a


despeito do terreno com alta declividade,
com o objetivo de aproveitar as aparas de
jardim e os resíduos gerados na cozinha
que abastece, aproximadamente, 200
crianças que desenvolvem atividades no Figura 3 - Pilhas de composto com aparas de jardim e resíduos orgânicos gerados na
programa Escola Integral (Fig. 3). cozinha da sede do Instituto Kairós

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O adubo orgânico produzido na unida- lhas, nativos nos fragmentos de Mata ou observando a época adequada e seguindo
de de compostagem auxiliou na produção Cerrado (dois ecossistemas presentes na as técnicas e os procedimentos para o ma-
de mudas, implantação de hortas e estru- região, além de Campos Rupestres), são nuseio, secagem e armazenamento, é rea-
turação de alguns quintais produtivos na manejados com acompanhamento técni- lizado o beneficiamento dos medicamentos
comunidade (Fig. 4). co, seguido de um Programa de Manejo em laboratório os quais são entregues no
Os medicamentos produzidos a partir Racional. Posto de Saúde, para que sejam prescritos
de cascas, frutos, flores, caules ou fo- Após a colheita das plantas medicinais, pela equipe médica (Fig. 5).

Fotos: José Mário Lobo Ferreira


Figura 4 - Hortas coletivas medicinais e agroecológicas - Instituto Kairós - SUS de Nova Lima, MG

Fotos: Instituto Kairós - Núcleo Digital

Figura 5 - Medicamentos fitoterápicos no Posto de Saúde

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PROGRAMA FITOTERÁPICO munidade, bem como a forma de preparo, contando hoje com, aproximadamente, 150
FARMÁCIA VIVA NO SUS DE a indicação terapêutica e a posologia. Na profissionais prescritores.
BETIM, MG segunda etapa, foi realizada a consolidação O Programa efetivou-se com as
O Programa Fitoterápico Farmácia dos dados de seleção das espécies medi- respostas clínicas descritas pelos profis-
Viva no SUS de Betim, MG, também cinais para compor o Programa Farmácia sionais. Os medicamentos fitoterápicos
teve início em 2004, impulsionado pelas Viva, considerando a cultura popular, a mostraram-se eficazes, isentos de efeitos
necessidades detectadas por profissionais validação científica e a adaptação do cul- colaterais nas doses terapêuticas, além
de saúde do município, tais como: uso tivo à região. A partir deste levantamento, de aumentar a adesão ao tratamento por
indiscriminado e incorreto das plantas me- foi realizada a capacitação de profissionais parte dos pacientes. Atualmente, são ma-
dicinais, troca do tratamento convencional graduados da equipe multiprofissional nipulados aproximadamente 60 tipos de
pela fitoterapia sem nenhuma orientação de saúde do SUS de Betim, MG, dentre medicamentos fitoterápicos de 24 plantas
ou conhecimento dos riscos e a forma medicinais (Fig. 6 ). Tais plantas foram
eles médicos, dentistas, enfermeiros e
inadequada do preparo dos medicamentos. selecionadas a partir dos resultados da pes-
farmacêuticos. Na terceira etapa, ocorreu
Contribuíram para a mobilização e im- quisa de abordagem fitoterápica realizada
a orientação da comunidade quanto ao uso
plantação deste Programa: o alto custo dos no município, aliada à validação científica.
racional das plantas medicinais a partir dos
medicamentos sintéticos e a ocorrência de Do elenco de medicamentos fitoterápi-
resultados obtidos na pesquisa de aborda-
inúmeros efeitos colaterais por eles provo- cos manipulados pelo Programa Farmácia
gem fitoterápica, por meio de encontros nas
cados, bem como a eficácia comprovada da Viva, foi elaborada a Relação Municipal
Unidades de Saúde em grupos operativos
fitoterapia, o crescente interesse da comu- de Medicamentos Fitoterápicos Essenciais
intitulados “Vamos tomar um chá?”. A
nidade pelo uso dessa prática terapêutica (Remume Fito), o que garantiu a continui-
quarta etapa envolveu a manipulação dos dade do Programa e incentivou a aceitação
e a necessidade da orientação dos usuários
medicamentos fitoterápicos prescritos da terapêutica por parte dos profissionais
em relação ao uso correto dos fitoterápicos,
além da possibilidade de ampliar as opções por profissionais inseridos no Programa que prescrevem os medicamentos no SUS.
terapêuticas. Farmácia Viva, capacitados mensalmente Da implantação do Programa até hoje,
O Programa envolveu quatro etapas: nos encontros de Educação Continuada em foram prescritas perto de 93 mil receitas,
na primeira, a capacitação de 450 agentes Fitoterapia, a elaboração de protocolos de totalizando 300 mil medicamentos dispen-
comunitários de saúde para aplicação de prescrição para a enfermagem, odontolo- sados às farmácias das Unidades Básicas de
um questionário etnobotânico em 3.500 gia e clínica médica, e a dispensação dos Saúde, Unidades de Atendimento Imediato,
usuários do SUS de Betim, MG, com o medicamentos nas farmácias das Unidades Maternidade Pública, Centros de Referência
objetivo de realizar um levantamento das Básicas de Saúde da Família e Unidades em Saúde Mental (Cersams), Banco de
plantas medicinais mais utilizadas pela co- Básicas de Saúde do SUS de Betim, MG, Leite Humano e Hospital Público Regional.
Jaqueline Guimarães de Carvalho

Anselmo UBL

Figura 6 - Manipulação dos medicamentos fitoterápicos

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Plantas medicinais e aromáticas 119

Os pacientes mostraram-se mais recep- CONSIDERAÇÕES FINAIS MINAS GERAIS. Deliberação CIB-SUS-MG
tivos à terapêutica com medicamentos fito- no 532, de 27 de maio de 2009. Aprova a
Desde a criação da Política Nacional Política Estadual de Práticas Integrativas e
terápicos, pois reconhecem, nessa prática,
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos em Complementares. Belo Horizonte: Secre-
seus costumes e tradições culturais. Essa
2006, os municípios tentam organizar-se taria de Estado de Saúde de Minas Gerais,
atitude garantiu, ao longo do tratamento, [2009]. Disponível em: <http://www.saude.
para implantação do serviço no SUS, mas
uma maior adesão do paciente, com me- mg.gov.br/cib>. Acesso em: fev. 2009.
como grande parte de sua metodologia en-
lhores resultados clínicos.
contra-se no âmbito do conhecimento das
Com a implantação do Programa
comunidades tradicionais, ainda há muitos BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Farmácia Viva no município, verificou-
obstáculos para sua regulamentação, já que BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
se um declínio no consumo de alguns
a política recomenda seu desenvolvimento Atenção à Saúde. Departamento de Aten-
medicamentos, ou seja, uma redução na
em sintonia com os saberes tradicionais. ção Básica. Política Nacional de Práticas
prescrição desses itens pelos profissionais
Os projetos aqui apresentados estão Integrativas e Complementares no SUS –
de saúde do município, com destaque para PNPIC-SUS. Brasília, 2006. 92p. (Série B.
sendo implantados em plena concordân-
as substituições do Salbutamol xarope pelo Textos Básicos de Saúde).
cia com a legislação brasileira no âmbito
xarope de Mikania glomerata, do Diazepan CARVALHO, J.C.T. Fitoterápicos anti-in-
das plantas medicinais e fitoterápicos.
pela tintura de Melissa officinalis e do cre- flamatórios: aspectos químicos, farmaco-
Neste processo, as experiências práticas
me de Sulfadiazina de Prata pelo creme de lógicos e aplicações terapêuticas. Ribeirão
norteiam a regulamentação e vice-versa.
calêndula + barbatimão. Preto: Tecmedd, 2004. 480p.
Não há um modelo pronto a ser seguido,
A fitoterapia mostrou-se de grande apli- COSTA, A.F. Farmacognosia. 2.ed. Lisboa:
e esse fato motiva os envolvidos a parti-
cação e resolutividade, não só na atenção Fundação Calouste Gulbenkian,1968. 3v.
cipar do amadurecimento da legislação.
básica, como também na secundária e na GILBERT, B.; FERREIRA, J.L.P.; ALVES, L.F.
É importante ressaltar a crescente adesão
terciária. Seu emprego hoje na atenção Monografias de plantas medicinais brasi-
dos profissionais prescritores nos projetos,
terciária é de grande importância, princi- leiras e aclimatadas. Rio de Janeiro: Abifi-
e o apoio das administrações municipais. to, 2005. 250p.
palmente no tratamento de feridas extensas
Verifica-se, com o passar do tempo, uma
e grandes queimaduras, na prevenção MATOS, F.J. de A. Farmácias Vivas: sis-
perfeita adaptação da fitoterapia aos Servi- tema de utilização de plantas medicinais
de escaras em pacientes acamados e nos
ços Públicos de Saúde nos municípios de projetado para pequenas comunidades.
cuidados a lactantes e recém-nascidos. As
Betim e de Nova Lima. 4.ed. Fortaleza: UFC: SEBRAE-CE, 2002.
equipes multiprofissionais capacitadas para
267p.
a prescrição da fitoterapia têm conseguido
REFERÊNCIAS PINTO, J.E.B.P.; SANTIAGO, E.A. de;
maior resolutividade nos quadros clínicos
BRASIL. Decreto no 5.813, de 22 de junho de LAMEIRA, O.A. Compêndio de plantas
mais frequentes da atenção básica, além de
2006. Aprova a Política Nacional de Plantas medicinais. Lavras: UFLA: FAEPE, 2000.
possibilidades terapêuticas, antes inexis-
Medicinais e Fitoterápicos e dá outras pro- 208p.
tentes, como o tratamento intraoral de aftas
vidências. Diário Oficial [da] República PRISTA, L.N. Técnica farmacêutica e far-
e ruptura dentária infantil, tratamento tópi- Federativa do Brasil, Brasília, 23 jun. 2006. mácia galênica. 3.ed. Lisboa: Fundação Ca-
co de fissura mamária e afecções do couro Disponível em: <http://www.planalto.gov. louste Gulbenkian, 1990. 2v.
cabeludo, tratamento da ansiedade perante br>. Acesso em: fev. 2010.
SAAD, G.A. et al. Fitoterapia contemporâ-
intervenção odontológica para pacientes _______. Portaria Interministerial no 2.960, de nea: tradição e ciência na prática clínica.
hipertensos e excepcionais, prevenção 9 de dezembro de 2008. Aprova o Programa Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 424p.
de escaras, hidratação de pele do idoso e Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápi-
SCHULZ, V.; HANSEL, R.; TYLER, V.E. Fito-
portadores de Hanseníase, entre outros. cos e cria o Comitê Nacional de Plantas Me-
terapia racional: um guia de fitoterapia para
A implantação da fitoterapia no SUS dicinais e Fitoterápicos. Diário Oficial [da]
a saúde. 4.ed. São Paulo: Manole, 2002. 386p.
República Federativa do Brasil, Brasília, 10
mostrou-se uma alternativa terapêutica
dez. 2008. Seção 1, p.56. SIMÕES, C.M.O. et al. (Org.). Farmacogno-
eficiente e viável, em todos os níveis de sia: da planta ao medicamento. 5.ed. Porto
atenção à saúde, pois ao mesmo tempo _______. Ministério da Saúde. Portaria no
Alegre: UFRGS; Florianópolis: UFSC, 2004.
886, de 20 de abril de 2010. Institui a Far-
reduziu os custos dos medicamentos em p.1102.
mácia Viva no âmbito do Sistema Único de
cerca de três vezes, bem como a incidência Saúde (SUS). Diário Oficial [da] República TESKE, M.; TRENTINI, A.M.M. Herbarium:
de efeitos colaterais, ampliou as opções Federativa do Brasil, Brasília, 22 abr. 2010. compêndio de fitoterapia. 3.ed. Curitiba: Her-
terapêuticas e proporcionou excelentes barium Laboratório Botânico, 1997. 317p.
INACIO, C. T. Coleta seletiva e composta-
resultados clínicos, restabelecendo de gem de lixo orgânico: um novo caminho VANACLOCHA, B.; CAÑIGUERAL, S. Fito-
forma mais suave e duradoura a saúde do para a reciclagem. Revista Limpeza Públi- terapia: vademecum de prescripción. 4.ed.
paciente. ca, São Paulo, n.49, p.6-13, out. 1998. Barcelona: Masson, 2003. 1092p.

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120 Plantas medicinais e aromáticas

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as ins- trará as seguintes implicações:
tituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários excluídos da edição;
e demais interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
devendo, portanto, ser organizada para atender às necessidades de ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
informação de seu público, respeitando sua linha editorial e a priori- O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
dade de divulgação de temas resultantes de projetos e programas de Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou
pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros. pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edi- de publicação da edição.
ção versa sobre um tema específico de importância econômica para
Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação, a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta. ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no
acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo
Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).
Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas
ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma-
c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos
palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro.
dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm
d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo
devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em
enfocar o objetivo do artigo;
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
f) agradecimento: elemento opcional;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
ZIP disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
normas da ABNT.
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.

n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 5 , m a r. / a b r. 2 0 1 0

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27º Congresso Nacional de Laticínios
Instituto de Laticínios Cândido Tostes

38ª Expomaq Exposição de Máquinas, Equipamentos, Embalagens


e Insumos para a Indústria Laticinista

37ª Expolac ProdutosExposição de


Lácteos

37º Concurso Nacional de Produtos Lácteos


8º Congresso Internacional de Leite - Embrapa
12 a 15 de julho de 2010
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