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Quando a mulher negra se


movimenta, toda a estrutura da “
sociedade se movimenta com ela.

Angela Davis
Objetivos da coleção “feminismos plurais”
● Linguagem como mecanismo de
“[...] Pensar em feminismo negro é poder;
justamente romper com a cisão criada ● “Deixar de lado” dicotomias
numa sociedade desigual, logo é pensar
vazias e diálogos que levam a
projetos, novos marcos civilizatórios para
lugar nenhum;
que pensemos em um novo modelo de
sociedade. Fora isso, é também divulgar a ● Epistemologia da verdade
produção intelectual de mulheres negras, revertida em epistemologias
colocando-as na condição de sujeitos e diversas → mostrar diferentes
seres ativos que, historicamente, vêm perspectivas.
pensando em reexistências e resistências.”
(Grifo nosso. p. 14)
Um pouco de história
O PERCURSO
INTELECTUAL E
DE LUTA DE
MULHERES
NEGRAS
DURANTE A
HISTÓRIA
Sojourner Truth
Sojourner Truth (Isabella Baumfree)

● Adotou o nome de Sojourner Truth em


1843
● Abolicionista, afro-americana, escritora e
ativista dos direitos da mulher

E eu não sou uma mulher?


1851, Convenção dos direitos da mulher, Akron,
Ohio. Registrado por Frances Gages
E eu não sou uma mulher?
“Se minha caneca
“É preciso ajudar as mulheres a subir numa não está cheia nem
carruagem” pela metade e se
sua caneca está
“É preciso carregá-las quando atravessam um
quase toda cheia,
lamaçal”
não seria
“Elas devem sempre ocupar os melhores mesquinho de sua
lugares” parte não completar
a minha medida?”
“Mulheres = Mulher Branca”
O FEMINISMO
HEGEMÔNICO E
AS VÁRIAS
POSSIBILIDADES
DE SER MULHER
Angela Davis
A DESCOLONIZAÇÃO
EPISTEMOLÓGICA E A
IDENTIDADE SOCIAL
● HIERARQUIZAÇÃO DE SABERES
● PRIVILÉGIO EPISTÊMICO
● QUEM PODE FALAR OU NÃO
● A OPRESSÃO DE CARÁTER RACIAL
● DESCOLONIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
● NEUTRALIDADE EPISTEMOLÓGICA
● A MANUTENÇÃO DO PODER PELA LINGUAGEM
Mulher negra: o outro do outro
Simone de Beauvoir e Grada Kilomba
O Mesmo e o Outro
● “[...] diz-se que a mulher não é pensada Em uma coletividade para se identificar,
a partir de si, mas em comparação se estabelecer como algo precisa-se do
com o homem.” (p. 35) Outro. Para Simone de Beauvoir o
→ o homem e o não-homem processo de transição da humanidade de
● submissão e dominação estado natural para estado cultural se deu
● má fé (sentido sartreano): “tentativa de por meio da formação de pensamentos
isentar-se da responsabilidade ao ponto construídos sobre a ótica da dualidade.
de reduzir-se à pura coisidade (em si), é
tornar-se passivo e atribuir suas ações Com isso, a mulher é a que ocupa o lugar
[...]” (p. 96) a características como do outro na sociedade em que as ideias
personalidade, religião, gênero ou são desenvolvidas por homens.
etnia.
O Outro do Outro
● Grada Kilomba aponta que a mulher Kilomba aprofunda na análise de
negra é o Outro do Outro, pois: Beauvoir e refina o entendimento dos
→ em discursos sobre racismo o lugares determinados socialmente pela
sujeito é o homem negro; intersecção de gênero e raça.
→ nos discursos sobre feminismo o
sujeito é a mulher branca; Ela evidencia que a universalidade que
→ nos discursos sobre etnia não há separa homens de mulheres deve ser
um lugar definido. desmontada e reconstruída, somada a
outros elementos que influenciam nos
● Nem brancas, nem homens, sendo lugares socioculturais, ocupados, no
assim o Outro do Outro. discurso.
“Se não se nomeia uma realidade ,
sequer serão pensadas melhorias
para uma realidade que segue
invisível” (p. 41)

“Tirar essas pautas da invisibilidade


e um olhar interseccional
mostram-se muito importante para
que fujamos de análises simplistas
ou para se romper com essa
tentação de universalidade que
exclui.” (p. 42-43)
O que é lugar de fala?
● Ideia de discurso na perspectiva
FIQUE QUIETO, foucaultiana;
● Pensar o discurso para além de
ESSE NÃO É O um amontoado de palavras, mas
como parte de um sistema que
SEU LUGAR DE estrutura determinado
imaginário social em que falamos
FALA. de poder e controle;
● A conceituação apresentada é do
contexto da comunicação;
● Não há uma definição epistemológica
sobre o termo lugar de fala, a origem
do termo é imprecisa;
● Acredita-se que ele emerge da
discussão do que é o feminist stand
point - diversidade, teoria racial
crítica e pensamento decolonial.
● Teoria do ponto de vista ● Collins: analisa o lugar de fala do
feminista como ponto de partida grupo partindo para as
para falar de lugar de fala; experiências individuais.
● A teoria do ponto de vista Considera o locus social;
feminista precisa ser discutida a ● Hekman: analisa o ponto de vista
partir da localização dos grupos e o lugar de fala pela perspectiva
nas relações de poder. individual.
Busca-se aqui,
sobretudo, lutar para
para romper com o
regime de autorização
discursiva.
Lugar de fala e AD
Análise do Discurso e “O que é lugar de fala?”
● Ideologia;
● Lugar Social e Sujeito Empírico;
● Lugar Discursivo e Sujeito do discurso;
● Sujeito Assujeitado;
● Processo de subjetivação;
● Lugares de enunciação.
EU e NÓS - as narrativas em primeira pessoa
“Nesse modelo [de status, identidade e Assim como a língua não é um ritual sem
pertencimento], homens brancos falhas (como nos lembra Pêcheux), a
poderosos definem-se como sujeitos, os ideologia também não o é e tampouco o
verdadeiros atores, e classificam as corpo. Se os equívocos da língua
pessoas de cor e as mulheres em termos irrompem na língua, na zona do
de sua posição em relação a esse eixo impossível, e a ideologia marca os
masculino branco. Como foi negada às equívocos historicizados, podemos nos
mulheres a autoridade de desafiar essas arriscar a dizer que o corpo seria o lugar
definições, esse modelo consiste de de simbolização onde se marcariam os
imagens que definem as mulheres negras sintomas sociais e culturais desses
como um outro negativo, a antítese virtual equívocos (FERREIRA, 2013, p.
da imagem positiva dos homens brancos.” 104-105).
(COLLINS, 2016, p. 105.)
“Como ver de fora aquilo no interior do qual o
olhar é tomado?”
Produzindo o acontecimento não como emanação de um sujeito pleno – disputando
com outros sujeitos (jurídicos, políticos ou universitários) o direito à fala- mas como
a construção de um efeito de retorno repercutindo aquilo que trabalha às margens
dos discursos. Ou para dizer de outro modo: uma prática tirando as consequências
da deslocalização tendencial do sujeito enunciador (monarca, porta-voz ou
representante) e do sistemático desregramento que afeta atualmente as bases do
performativo, a ponto de que o poder da coisa dita ou escrita parece, por vezes, se
identificar com o puro efeito de um eco anônimo devolvido pelas bordas (PÊCHEUX
(2016 [1980], p. 27-8).
Todo mundo tem lugar de fala
Todo mundo tem lugar de fala

● Lugar de fala e representatividade


● O conceito de lugar de fala não visa restringir a troca
de ideias
● Todas as pessoas possuem lugares de fala (localização
social)
● Disputas de narrativas no espaço virtual
● Pensar lugar de fala é romper com o silêncio instituído
para quem foi subalternizado
Referências bibliográficas Lucas Machado
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte, MG.
Milene Magalhães
Letramento: Justificando, 2017. Priscila Cristina
Richard Saraiva
HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Explosão Feminista: arte, cultura, Yasmine Evaristo
política e universidade. 1ª edição. São Paulo: Companhia das Letras,
2018. 7º período | Letras - CEFET-MG
| 2019-1

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