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Conceito e Evolução Da Filologia
Conceito e Evolução Da Filologia
edições diplomáticas;
edições críticas;
Um caso mais simples está em um dos versos do Hino Nacional brasileiro, que
é cantado de duas formas, cabendo à Filologia provar como é o verso original do
texto de 1909, escrito por Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) e música
de Francisco Manuel da Silva (1795-1865), tocada pela primeira vez em 1831,
sem nunca ter um texto definitivo, todos ruins de letra ou de conteúdo. A sua
oficialização veio em 1922, pouco antes dos festejos do primeiro centenário da
nossa independência política.
Este foi o aproveitamento que dessa estrofe fez Duque Estrada, substituindo
o céu do primeiro verso pela terra:
Lembro aos meus amáveis leitores que as linhas acima são um exercício de Fi-
lologia. Acrescento ainda que a recusa da palavra várzeas se deveu ao verso que
teria uma sílaba a mais com o feminino do possessivo tuas e o enxerto no quarto
verso foi motivado exclusivamente pela melodia do nosso Hino, que é 78 anos
mais velha que a sua letra. Enquanto a estrofe do poema de Gonçalves Dias tem
quatro versos de sete sílabas métricas, a do Hino Nacional tem versos ímpares
de sete sílabas e versos pares de onze sílabas. Assim, portanto, faltavam quatro
sílabas, que o autor teve de inventar: no teu seio. Do ponto de vista puramente
informativo, o resultado me parece medíocre, se considerarmos a oração desse
quarto verso com o verbo que fica subentendido:
Pátria Amada,
Brasil!
A citação dos versos do nosso maior poeta romântico foi, entretanto, uma de-
licada mostra de carinho e admiração que Duque Estrada tinha pelo bardo mara-
nhense. Para finalizar, uma visão filológica me leva a ver na falta dos adjetivos do
poema de Gonçalves uma nítida hesitação entre a dor portuguesa e a saudade
brasileira: iria o poeta escolher adjetivos para as paisagens brasileiras, acerbando
a sua saudade, ou para as portuguesas, avolumando a sua dor? A melhor solução
foi eliminá-los – por ser menos penosa.
Observe-se ainda que o nosso Hino Nacional apresenta no seu final também
uma diferença no canto do primeiro dos seus versos: a primeira sílaba da palavra
plácidas pode se ouvir cantar com uma de duas notas, sendo correta apenas a
mais baixa na escala musical.
Operações filológicas
O estudo das divergências entre línguas da mesma origem é que provocou o
aparecimento da Filologia em 1816 com a obra Sistema de Conjugação do Sâns-
crito em comparação com o Grego, o Latim, o Persa e o Germânico, escrita pelo
cientista alemão Franz Bopp (1791-1867). Todas essas línguas derivam de uma
protolíngua muito mais antiga e sem nenhum documento escrito: o indo-euro-
peu, língua de um povo que morava no centro do continente asiático no final do
Período Neolítico (7000-2500 a.C.) e que pouco mais de mil anos depois migrou
para as terras europeias e hindus: eram os ários.
Essa maior facilidade de concluir à vista de textos escritos talvez tenha sido o
fator que retardou o aparecimento da Linguística moderna: enquanto a Filologia
moderna começa em 1816, a verdadeira Linguística moderna nasce exatamente
cem anos depois com a obra de Ferdinand de Saussure (1857-1913) Cours de Lin-
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Embora seja uma digressão, acrescento que belo se diz da coisa rara e bonito
da coisa encontradiça, ficando lindo entre elas. Todas indicam, porém, alguma
coisa que agrada sob um julgamento pessoal.
Se o verbo ire tomou uma forma supletiva na sua passagem para as línguas
românicas, escapando assim de uma homonímia, ele mesmo produziu outra
homonímia curiosa, porque as suas formas de pretérito perfeito do indicativo
seriam desastrosas:
eu i / tu iste / ele iu
eu vou / eu ia / eu fui
Tanto nas línguas germânicas, mais antigas, quanto nas neolatinas, bem mais
recentes, o significado histórico de (bem) alimentado do particípio passado pas-
sivo altus, a, um se perdeu junto com o verbo, mas conservou-se um significado
que nascera de uma metonímia, que se produz pela troca do significado anterior
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Principais autores
A Filologia românica começa com uma obra de extrema importância por
abrir um novo método de estudo, a Grammatik der Romanischen Sprachen (Gra-
mática das Línguas Românicas). Foi escrita pelo professor alemão Friedrich Diez
(1794-1876) entre 1836 e 1844. Conhecia a língua portuguesa e chegou a tradu-
zir muitos trechos de Os Lusíadas, certamente para o curso que deu em 1872 na
cidade de Bonn sobre a nossa epopeia. Além dessa obra capital, deixou-nos em
1863 um livro em que estuda a língua e a poesia anteclássica da nossa língua
portuguesa: Über die erste portugiesische Kunst- und Hofpoesie (Sobre a primitiva
poesia artística e palaciana portuguesa).
Aniceto dos Reis Gonçalves Viana (1840-1914), por sua vez, tem uma impor-
tância capital para o aprimoramento da ortografia da língua portuguesa, que se
desembaraça dos aspectos da velha escrita dos romanos. O latim usava muitas
consoantes duplas, mas cada uma delas era pronunciada e, portanto, não trazia
dificuldade de escrita para os letrados: accommetter era um desses abusos. A sua
Ortografia Nacional, de 1904, tem sido um roteiro desde a sua publicação e res-
pondeu pelo primeiro decreto do Governo que a oficializava em 1911 em todo o
território português. Dele e dessa obra nos fala Houaiss (1991, p. 12).
eliminação dos símbolos de etimologia grega ph, ch (com o som de k), rh, y: pharmacia –
farmácia, estylo – estilo;
O que Júlio Moreira escreveu vem reunido em seus Estudos da Língua Por-
tuguesa, um volume de 1911 e outro, póstumo, de 1918, editado por Leite de
Vasconcelos: os principais assuntos abordados são diversas questões de sintaxe
histórica e popular
Foi com certeza o vulto mais admirado na história das letras do século pas-
sado com obras relevantes nas áreas da Dialetologia, Etimologia, Filologia e Le-
xicografia. Nascido e morto carioca, compreende-se com facilidade o motivo de
ele ter escrito uma obra marcante no campo dialetal: O Linguajar Carioca, de
1922. Importa ainda citar a sua obra de 1945: Tesouro da Freseologia Brasileira.
Coloco aqui o seu nome, ainda que tenha feito menos no campo da Filolo-
gia, mas muito mais no da Linguística moderna, que introduziu no Brasil, dei-
xando-nos uma série de livros com suas ideias sobre a língua portuguesa, além
do ensino universitário. Cabe-lhe a honra e glória de ter publicado no Brasil o
primeiro livro da Linguística moderna em 1940: os seus Princípios de Linguística
Geral, que trazem para cá o Estruturalismo. Por sua importância, seus livros têm
edições sucessivas:
As edições de seus livros pela Editora Vozes explica-se talvez por ele ter sido o
tempo todo professor universitário na cidade de Petrópolis, também sede dessa
Editora franciscana. A sua longa permanência fora do centro intelectual do país
sempre me deixou preocupado com o fato de que um autor e professor de méri-
tos incontestáveis não tenha sido chamado a uma das Instituições de Ensino da
cidade do Rio de Janeiro para onde acorriam os melhores, salvo ele.
A maioria dos seus livros deixa perceber não apenas o empenho com o lado cien-
tífico de suas pesquisas, mas ainda o desejo de aplicá-las para a melhoria do ensino.
Dizem que os deuses têm ciúme de algumas criaturas que espalham magna-
nimamente o seu saber por onde andam e por isso os chamam mais cedo: foi o
que aconteceu a Serafim da Silva Neto, que escreveu a sua primeira obra sobre o
latim vulgar aos 17 anos. Foi diretor da Revista Brasileira de Filologia e deixou-nos
as seguintes obras:
Texto complementar
Evolução e desagregação
(SILVA NETO, 1957, p. 13-16)
Ao cabo de seu aprendizado, a criança fixa uma língua que não é exata-
mente a mesma das pessoas que lhe serviram de modelo. Essa diferença,
imperceptível numa geração, vai-se acumulando aos poucos.
Criação e difusão
Por isso a todo instante surgem inovações, cujo destino vai depender da
estrutura social, ou seja, no caso, da força com que a língua, como instituição,
se impõe aos indivíduos.
Atividades
1. Em que se distingue a Filologia e a Linguística?
Dicas de estudo
BUENO, Francisco da S. Estudos de Filologia Portuguesa. São Paulo: Saraiva,
1959.