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Breve histórico da imprensa homossexual no Brasil

Marcus Antônio Assis Lima

Índice tária, apelavam para posições políticas radi-


cais, à época.
1 A imprensa alternativa 1 Havia, essencialmente, duas classes de
2 O Lampião da Esquina 3 jornais alternativos. Alguns eram predo-
3 A imprensa gay 6 minantemente políticos, baseados, grosso
4 Bibliografia 7 modo, nos ideais de valorização do nacional
e do popular dos anos 50 e no marxismo vul-
1 A imprensa alternativa garizado nos meios estudantis dos anos 60.
Esses periódicos eram, no geral, pedagógi-
No Brasil dos anos 1960 e 1970, movi- cos e dogmáticos.
mentos de contracultura começam a cor- Uma outra classe de jornais foi criada
roer os alicerces do comportamento social, por jornalistas que rejeitavam a primazia
abrindo espaço para uma rebeldia nos costu- do discurso ideológico-militar. Estavam
mes. Com a ditadura militar, houve uma mis- mais voltados, segundo Kucinski, à crítica
cigenação entre esses movimentos e os ide- dos costumes e à ruptura cultural, “tinham
ais político-democráticos e populares. Nesse suas raízes nos movimentos de contracul-
contexto, surge uma imprensa alternativa1 , tura norte-americanos e, através deles, no
que tinha como fundamento comum a oposi- orientalismo, no anarquismo e no existenci-
ção intransigente ao regime militar. Nos pri- alismo de Jean-Paul Sartre.” (KUCINSKI,
meiros quinze anos de ditadura, entre 1964 e 1991:xiv-xv) Investiam principalmente con-
1980, nasceram e morreram cerca de 150 pe- tra o autoritarismo na esfera dos costumes e
riódicos, que circulavam na periferia do sub- no alegado moralismo da classe média. In-
sistema editorial. Alijados da verba publici- troduziram no Brasil temáticas da contracul-
1
A expressão “imprensa alternativa” teria sido cu- tura:
nhada por Alberto Dines, conforme citado em KU-
CINSKI, 1991. O termo “alternativa” contém quatro “A imprensa alternativa / na-
dos significados que podem explicar esse tipo de im- nica ou de underground esteve à
prensa: “o de algo que não está ligado a políticas margem do processo editorial do
dominantes; o de uma opção entre duas coisas reci- mercado (...) essa imprensa, li-
procamente excludentes; o de única saída, para uma
situação difícil e, finalmente, o do desejo das gera- teratura banida, perseguida, acu-
ções dos anos 60 e 70 de protagonizar as transforma- ada, coincidiu com os anos do
ções sociais que pregavam.” (KUCINSKI, 1991:XIII) grande florescimento do milagre
econômico brasileiro. E o lugar da
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literatura no meio dessa sociedade Gilka Dantas, Le Femme, Subúrbio à noite,


da iniqüidade está perfeitamente Gente Gay, Aliança de Ativistas Homosse-
traduzido nessa imprensa que lu- xuais, Eros, La Saison, O Centauro, O Vic,
tou sem fazer parte do mercado e O Grupo, Darling, Gay Press Magazine, 20
do processo econômico. Ela nas- de Abril, O Centro e O Galo. Em Niterói,
ceu dentro de uma sociedade que surgem Os Felinos, Opinião, O Mito e Le
se industrializou rapidamente e é Sophistique2 .
um reflexo do desprezo profundo Fora do Rio de Janeiro, a imprensa ho-
que o sistema tem pela inteligência mossexual se mostrou mais vigorosa em Sal-
e pela cultura.” (FERNANDES, vador. Lá, o mais ativo jornalista homosse-
1987:9) xual foi Waldeilton di Paula, que edita, en-
tre outros: Fatos e Fofocas (1963), de exem-
Dentro desse contexto, é que localizamos plar único que circulava de mão em mão até
o surgimento daquele que pode ser conside- voltar ao ponto de origem, quinzenal e que
rado o primeiro veículo de comunicação de durou até 1967; Zéfiro (1967), datilografado;
massa voltada diretamente para a discussão Baby (1968), também datilografado, com 50
franca e aberta dos direitos das minorias (ne- exemplares reproduzidos por cópias xerox;
gros, índios, mulheres) e, principalmente, da Little Darling (1970), que saía com tiragem
homossexualidade, no Brasil: Lampião da de cem exemplares, diferenciava-se dos de-
Esquina, com edição mensal e tiragem de 20 mais por apresentar, além das fofocas da co-
mil exemplares. Foi diante do constrangi- munidade homossexual baiana, crítica de ci-
mento e preconceito latente que um grupo de nema e teatro e acontecimentos homossexu-
jornalistas viu, em fins da década de 1970, a ais fora da Bahia, sendo que, em 1978, passa
oportunidade certa para fazer valer seus ide- a se chamar Ello. Nesse mesmo período, ou-
ais democráticos. Foi um período em que a tro jornalista, Frederico Jorge Dantas, ten-
discussão a respeito da sexualidade tomou de tava impor um novo conceito à imprensa ho-
assalto o panorama cultural e político, com mossexual, até então limitada a um pasti-
os novos ventos da redemocratização e o fim che do colunismo social: ele edita e distribui
da censura prévia. A era das rupturas influ- informalmente os cadernos Eros, com 150
enciava o nascimento de uma imprensa alta- exemplares, e Entender. Sobre estes dois úl-
mente especializada, segmentada e de cará- timos, diz José Alcides Ferreira:
ter militante, representada pelo jornal Lam-
pião. “Entender se crucificou entre
Antes, em 1961, surge o que talvez possa tantos ‘roteiros’ e mau-caratismo,
ser considerado o primeiro jornal homosse- (...) os travestis invadiram todas
xual do Brasil: Snob, criação de Agildo Gui- as páginas e sujaram a barra (...)
marães. Mimeografado e distribuído entre Eros animou um pouco pela di-
amigos, era mais um colunismo social que ferença sobre os demais, mas foi
um veículo de discussão de idéias. Entre os obrigado a deixar de existir pela
anos 60 e início dos 70, circularam no Rio 2
Esse levantamento e os dados que seguem foram
de Janeiro mais de quinze títulos: Snob, de feitos nos 31 números que circularam de Lampião.

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falta de entendimento com os ditos de homossexualidade de O Pasquim, trouxe


‘representantes’ do colunismo ho- em um editorial:
mossexual do Rio de Janeiro.” (cf.
LAMPIÃO, 1978, 2:14, grifos do “A imprensa ‘progressista’
autor) não costuma incluir a sexualidade
na sua lista dos dez mais (...).
Entre 1962 e 1964 houve, inclusive, o fun- No seu número 436, o Pasquim
cionamento de uma Associação Brasileira de resolveu falar do homossexu-
Imprensa Gay, dirigida por Agildo Guima- alismo. Posição liberal: falar
rães e Anuar Farah, no Rio de Janeiro, que de ‘temas proibidos’. O Pas-
foi fechada pelo regime militar. quim dá um destaque especial
Em 1976 começa a sair diariamente no jor- à imprensa gay. Falando dela,
nal Última Hora, de São Paulo, uma coluna o jornal reafirma que não é ela
de cunho informativo, social e burlesco, fora (...) simulando liberar, quando
da imprensa alternativa: é a Coluna do Meio, a imprensa progressista tratava
do então jornalista Celso Curi. Nessa co- da homossexualidade era apenas
luna, Curi brincava com personagens de cri- para lhe indicar rapidamente
ação própria, contava piada, noticiava acon- o seu lugar no meio social.”
tecimentos sociais e publicava um “Correio (BEIJO, 1977:editorial)
Elegante”. Uma particularidade a tornava
um fato inusitado na imprensa brasileira: era A temática do prazer privilegiada nas pá-
dirigida aos homossexuais. De 30 a 40 car- ginas de O Beijo, que antecipou a iniciativa
tas chegavam à redação, de todas as partes de Fernando Gabeira, não foi bem recebida
do país. Algumas para o “Correio Elegante”, pelos outros alternativos; saíram apenas seis
outras de solidariedade. Leitores enviavam edições.
opiniões gerais, às vezes agradeciam o es-
paço conquistado. Outras cartas traziam ad- 2 O Lampião da Esquina
moestações ou partiam para a agressão di-
reta. A “Coluna do Meio” acabou recu- Para Bernardo Kucinski, “na origem de cada
ando no progresso alcançado, tendo em vista projeto alternativo havia, invariavelmente,
a pressão de grupos econômicos, leitores e, um episódio de fechamento de espaços na
ainda, um processo penal que o jornalista grande imprensa.” (KUCINSKI, 1991:xvi)
teve de enfrentar por atentado ao pudor. Du- Esse parece ter sido um dos motivos que le-
rou até novembro do ano seguinte, quando varam à criação do primeiro alternativo vol-
foi extinta pela própria direção do jornal. tado para os homossexuais, Lampião (ini-
Na imprensa alternativa, Beijo (1977) foi cialmente chamado Lampião da Esquina,
o primeiro a discutir a sexualidade como seu tendo abreviado para Lampião já no segundo
principal tema. O jornal lançou o primeiro número). Editado por nomes como Agui-
grande ataque contra o preconceito com que naldo Silva, Clóvis Marques, Darcy Pen-
a homossexualidade era tratada, principal- teado, Jean-Claude Bernadet, João Silvério
mente na mídia. Em resposta à concepção

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Trevisan, Peter Fry, entre outros, o jornal tra- cartas dos leitores, que se tornavam legítimos
zia, em seu primeiro editorial, a justificativa espaços de visibilidade para a comunidade.
para sua publicação: Pequenas notas contra os atos preconceitu-
osos da sociedade eram constantes. Assim
“A idéia de publicar um jornal
como ataques diretos a homófobos ou quem
que, dentro da chamada imprensa
agisse de modo politicamente incorreto (em-
alternativa, desse ênfase aos as-
bora não se usasse tal terminologia à época)
suntos que esta considera ‘não-
em relação aos homossexuais. Já nos núme-
prioritários’ (...), mas um jor-
ros finais, o jornal começou a publicar fotos
nal homossexual, para quê? (...)
eróticas, o que antes evitava. Com essa trans-
nossa resposta é a seguinte: é pre-
ferência do enfoque, Lampião perdeu a cre-
ciso dizer não ao gueto e, em con-
dibilidade, já que pornografia a indústria cul-
seqüência, sair dele (...) e uma
tural produzia melhor e mais barato. Embora
minoria, é elementar nos dias de
tenha durado pouco, o jornal marcou a im-
hoje, precisa de voz (...) Para isso,
prensa brasileira pelo seu vanguardismo nas
estaremos mensalmente nas ban-
posições defendidas.
cas do país, falando da atualidade
A partir daí, a imprensa homossexual bra-
e procurando esclarecer sobre a
sileira foi tomada pelo pornográfico. Deze-
experiência homossexual em todos
nas de publicações surgiram explorando o nu
os campos da sociedade e da cri-
masculino. Primeiramente, disfarçadas em
atividade humana.” (LAMPIÃO,
revistas como Naturismo, que pregava a vida
1978:2)
saudável e o fisiculturismo; aprimorou-se,
Lampião começou “elegante e terminou depois, em publicações específicas, especi-
pornográfico” (KUCINSKI, 1991:84). Sua almente em São Paulo. Surgiram as revistas
circulação coincidiu com a explosão porno- Gato, Alone Gay, Young Pornogay, entre ou-
gráfica no país, em decorrência da disten- tros títulos. Mesmo revistas não-gays, como
são política, do fim da censura formal e por Rose, chegaram a publicar, na seção de car-
uma demanda reprimida por pornografia. Foi tas, uma coluna dedicada aos anúncios ho-
também uma época em que a homossexuali- mossexuais, reeditando o Correio Elegante,
dade começou a ser “assumida e aceita no de Celso Curi. Embora impregnados de por-
Rio de Janeiro como em nenhum outro lugar nografia, alguns desses periódicos traziam
do mundo.” (idem, 1991:83) Circularam 31 artigos que buscavam discutir questões liga-
números, até junho de 1981. Assim como das à homossexualidade.
os jornais femininos que surgiram na época, Na década de 1990, a publicidade, prin-
seus jornalistas foram se constituindo num cipalmente a norte americana, começa a uti-
grupo ativista específico. lizar uma “estética gay” em alguns de seus
O jornal, em tamanho tablóide, era im- produtos. Aqui, há dois aspectos a serem
presso em preto e branco. Trazia reportagens analisados. O primeiro é quando as grandes
com personalidades não necessariamente ho- companhias vão atrás de um “mercado” gay
mossexuais, contos, críticas literárias, de tea- e o outro é quando implementam temas ou
tro, cinema etc. Grande destaque era dado às representações gays na publicidade. Depen-

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dendo de como são definidas as representa- blico gay ganha mais dinheiro que a média
ções do gay na publicidade, por exemplo, se do grande mercado, que tinha mais escola-
olharmos para o travestismo como uma re- ridade e que consumia mais. Esse foi um
presentação gay ou como uma referência do passo fundamental para atrair a atenção do
“ser gay” veremos que o uso dessa estética mercado publicitário.
começou há muito tempo. No entanto, se Até aqui temos feito referência a anún-
olharmos de uma forma mais específica e ex- cios convencionais na mídia gay e a etapa
plícita, como a representação de casais e si- seguinte da apropriação de uma estética gay
tuações inconfundivelmente gays, essa apro- foi o surgimento de anúncios com temática
priação pela publicidade é mais recente. gay. A partir do momento que começa a
A primeira real representação de um ca- haver uma competição considerável entre as
sal gay, na rede televisiva norte-americana, categorias de empresas anunciantes, foi pre-
foi feita em um comercial da loja de mó- ciso que elas buscassem diferenciar-se entre
veis Ikea, em 1984. A campanha esteve si, o que as teria levado a procurar “falar” de
no ar em não mais que três ou quatro ca- uma forma mais direta com o público leitor
nais, e apenas depois das 22 horas, mas cau- das revistas gays. Os fabricantes de cerveja
sou uma sensação generalizada, porque nin- foram os primeiros a veicular anúncios es-
guém, até então, havia sido tão ousado e pecialmente criados para a mídia gay. Mil-
objetivo quanto ao tema. Virou notícia em ler, Budweiser e Coors fizeram um esforço
todo o mundo. (REVISTA DA CRIAÇÃO, para se aproximar do gay, adotando a lingua-
1998:27) Na mídia impressa, algumas di- gem desse público. (REVISTA DA CRIA-
vulgações importantes aconteceram mais ou ÇÃO, 1998:30-31) No Brasil, a publicidade
menos na mesma época, como um catálogo voltada para o público homossexual caminha
da Banana Republic com uma foto sensual bem mais devagar e, ao folhearmos as publi-
de dois homens, criado por Sam Shahid e fo- cações gays editadas no país, veremos que
tografado por Bruce Weber. Essa dupla já apenas anunciantes como gravadoras e dis-
havia feito trabalhos para a Calvin Klein e tribuidoras de cinema anunciam nessa mídia
introduziu, nos Estados Unidos, a aceitabi- específica. Não podemos, entretanto, nos es-
lidade do corpo masculino na publicidade. quecer dos anúncios vindos das atividades
(REVISTA DA CRIAÇÃO, 1998:28) Con- mercantis propriamente gays. Parece-nos
tudo, o mercado gay vem sendo identificado que a questão econômica é um fator primor-
há 15 ou 20 anos. Algumas grandes empre- dial para conferir maior visibilidade à comu-
sas já haviam começado a veicular anúncios nidade gay. Uma expressão é cunhada pe-
na mídia gay, principalmente na área de en- los publicitários norte-americanos para de-
tretenimento, cinema, música e bebidas, até finir essa “nova” parcela de consumidores:
que, com a explosão da Aids, resolveram re- dink (double income, not kids), ou seja, os
troceder com medo das reações homofóbi- casais gays possuem duas fontes de renda, e
cas que surgiram nos primeiros anos. Essa nenhuma criança. Assim, um novo mercado
retração durou da metade da década de 80
até a metade da década atual. Através de
pesquisas, a publicidade constatou que o pú-

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econômico3 , voltado para essa comunidade, Este, inclusive, traz como encarte o caderno
se desenvolve rapidamente. Segundo pes- Agaivê Hoje, específico sobre temas relacio-
quisas (REVISTA DA CRIAÇÃO,1998:34), nados à Aids.
esse pink market possui um alto poder aqui- No boom mercadológico em que se trans-
sitivo, maior, inclusive, que o dos heterosse- formou a cultura gay, no final do século XX,
xuais nas mesmas circunstâncias4 . o surgimento de uma revista, no mercado
editorial brasileiro, em janeiro de 1995, veio
mostrar que era possível a edição, com su-
3 A imprensa gay
cesso, de uma publicação de público res-
Com a explosão da Aids, que propiciou a trito e temas específicos: a revista Sui Ge-
abertura da mídia para a discussão da sexu- neris, que colocava mensalmente nas bancas
alidade5 , de modo geral, e especificamente de todo o país 30 mil exemplares. Em entre-
da homossexualidade, surgiram publicações vista à Sui Generis, Aguinaldo Silva, um dos
com o intuito inicial de alertar a comunidade fundadores de Lampião, admite que aquele
e discutir as implicações da síndrome na vida “era um jornal alternativo, Sui Generis, por
social. Surgem, assim, os boletins de grupos exemplo, não é uma revista alternativa. Hoje
ligados diretamente à Aids, como o Bole- em dia pode-se chamar isso de imprensa.”
tim Abia, da Associação Brasileira Interdis- (SG, 1997:19).
ciplinar da Aids; o Boletim Pela Vidda, pu- Como aconteceu no final dos anos 1970,
blicação do Grupo Pela Vidda, entre outros, “quando a imprensa alternativa sofreu ou-
chegando ao Voz Posithiva, editado pela or- tra derrota, (...) os grandes jornais re-
ganização não-governamental “Gestos”, vol- solveram fazer profissionalmente o que era
tado exclusivamente para os infectados pelo feito de maneira amadora” (FERNANDES,
vírus. Outra publicação, Saber Viver, sur- 1987:11). A grande imprensa descobrira o
gida em 1999, também se destina às pes- filão. Alguns jornais começam, então, a pro-
soas que vivem com o vírus HIV. Fora es- duzir ao menos uma página semanal dedi-
ses surgem também jornais/revistas de cunho cada ao público GLS6 . É o caso da Folha
mais cultural e de lazer como o Ent& (1994), de S. Paulo, que possuía uma coluna estrita-
distribuído apenas por assinaturas; o Grito mente gay, depois foi ampliada para a página
de Alerta (1994), de Niterói, e o Nós por Noite Ilustrada, sob responsabilidade da jor-
Exemplo (1992), editado pelo “Grupo Noss”. nalista Érica Palomino. Em Minas Gerais, o
3
jornal O Tempo publica, aos sábados, a pá-
Sobre os negócios voltados para o público gay,
ver, por exemplo, CASTELO BRANCO & CER- gina Magazine GLS.
QUEIRA, 1995:30-38. A experiência da revista Sui Generis deu
4
Em oposição a esse “mito da superioridade”, certo e rendeu frutos. Hoje, pode-se encon-
DAHIR (2000) afirma que estudos recentes “mostram trar vários títulos específicos para o público
que as lésbicas ganham mais que as mulheres he-
terossexuais enquanto os homens heterossexuais têm 6
A sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes),
melhores salários que seus colegas gays.” cunhada pelo jornalista André Fischer, entrou no jar-
5
Para uma discussão acerca das relações entre gão jornalístico e caiu no gosto popular, talvez por ser
a Aids e a mídia pode-se consultar, entre outros, mais abrangente que a denominação gay.
FAUSTO NETO, 1999 e CARVALHO, 2000.

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GLS nas bancas (de revistas pornográficas e revistas dedicadas ao nu masculino dominam
títulos voltados para drags e lésbicas). Uma o mercado editorial gay atualmente.
publicação, dentre essas, tem feito bastante Mesmo assim, a grande imprensa e
sucesso, inclusive com o público feminino: mesmo uma editora voltada para o segmento
a G Magazine (1998), que se utiliza de ar- de livros (Edições GLS) dão continuidade ao
tistas, jogadores de futebol e modelos famo- projeto de “sair do gueto” proposta ainda em
sos em ensaios fotográficos de nu masculino. tempos do jornal militante Lampião. Para os
Fez tanto sucesso que várias outras revistas usuários dos serviços da Internet, entretanto,
explorando o nu masculino surgiram, tanto páginas voltadas para o público homosse-
publicações gays como aquelas que se inti- xual surgem a cada dia como, por exem-
tulam “femininas” , como Gold (1999), vol- plo, os sites encontrados nos seguintes en-
tada para o público gay e Íntima (1999), para dereços eletrônicos: www.supersite.com.br,
mulheres e sem nu frontal. A própria Sui www.zeekclip.com.br, www.glsite.com.br,
Generis, detectando a segmentação cada vez www.mixbrasil.com.br, entre vários outros.
maior do mercado, lançou a revista Homens
(1998), com a qual poderia atingir esse pú-
4 Bibliografia
blico ao publicar nus, anúncios de garotos de
programa e criar uma seção de cartas para BEIJO (1977), Rio de Janeiro: Editora Boca,
trocas sentimentais, assuntos não abordados no . 2, Dez.
na Sui Generis por questão de linha editorial.
A revista Sui Generis encerrou suas ativi- CASTELO BRANCO, Adriana & CER-
dades em março de 2000 porque, segundo QUEIRA, Sofia (1995). “O Toque de
entrevista de Feitosa, ele estava cansado de Midas é cor-de-rosa”. In: Jornal do
“renegociar as dívidas todos os meses. Essa Brasil (Revista de Domingo), ano 20, no
tinha virado minha principal preocupação. 1016, 22 de outubro, pp. 30-38.
O jornalismo estava ficando em segundo DAHIR, Mubarak (2000). It pays to love wo-
plano.” (VEJA, 19/04/2000:102) Nessa en- mem. The Advocate, 4 de julho.
trevista, o editor cria uma expectativa sobre
a possibilidade de continuação de Sui Gene- ENT& (1994). Rio de Janeiro: Editora
ris, agora como revista on-line, na rede mun- Tribo, no . 5, pp.13-15.
dial de computadores, que não acarretaria
em custos maiores com impressão e distri- FERNANDES, Millôr (1987). “Imprensa
buição da revista. A outra revista do grupo, Alternativa & Literatura - os Anos de
Homens, de nu masculino, continua saindo Resistência”. Centro de Imprensa Al-
mensalmente. Se logo depois do lançamento ternativa e Cultura Popular, Rio de Ja-
de Sui Generis as outras publicações que neiro: RioArte.
apareceram eram vistas como concorrentes
KUCINSKI, Bernardo (1991). Jornalistas e
imediatas – e a revista seria o “modelo” a ser
revolucionários da imprensa brasileira.
alcançado –, com seu fim o público homos-
São Paulo: Escrita Editorial.
sexual brasileiro viu-se novamente quando
da época do fechamento de Lampião: apenas

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LAMPIÃO (1978), Rio de Janeiro: Editora


Codecri, ano 0, no . 0.

REVISTA DE CRIAÇÃO (Meio & Mensa-


gem) (1998), São Paulo, ano 4, no . 44.

SUI GENERIS (1995-1998), Rio de Janeiro:


Editora Tribo, no .1-41.

VEJA, 19 de abril de 2000.

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