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OBRA ANALISADA Sentimento do mundo

GÊNERO Poesia e poema em prosa


AUTOR Carlos Drummond
DADOS BIOGRÁFICOS
Nome completo: Carlos Drummond de Andrade
Nascimento: 31 de outubro de 1902 em Itabira do
Mato Dentro - MG
Morte: 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro
BIBLIOGRAFIA
POESIA

Alguma poesia (1930).


Brejo das almas (1934)
Sentimento do mundo (1940)
Poesias: Alguma poesia, Brejo das almas,
Sentimento do mundo, José -(1942)
A rosa do povo (1945)
Poesia até agora: Alguma poesia, Brejo das almas,
Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos
poemas – (1948)
A máquina do mundo: incluído em Claro enigma
(1949, exemplar único)
Claro enigma (1951)
A mesa: incluído em Claro enigma (1951)
Viola de bolso. (1952)
Fazendeiro do ar & Poesia até agora: Alguma
poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo,
José, A rosa do povo, Novos poemas, Claro enigma,
Fazendeiro do ar. (1954)
Viola de bolso (1955)
Soneto da buquinagem: incluído em Viola de bolso
novamente encordoada - (1955)
Ciclo: incluído em A vida passada a limpo e em
Poemas (1957)
Poemas: Alguma poesia, Brejo das Almas,
Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos
poemas, Claro enigma, Fazendeiro do ar, A vida
passada a limpo – (1959)
Lição de coisas. (1964)
Obra completa: Estudo crítico de Emanuel de
Moraes, fortuna crítica, cronologia e bibliografia
(1964) (publicada sob o título Poesia completa e
prosa (1973), e sob o título de Poesia e prosa
(1979)
Versiprosa. (1967)
José & Outros: José, Novos poemas, Fazendeiro do
ar, A vida passada a limpo, 4 Poemas, Viola de bolso
II (1967)
Boitempo & A falta que ama. (1968)
Nudez: incluído em Poemas. (1979)
Reunião: Alguma poesia, Brejo das almas,
Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos
poemas, Clara enigma, Fazendeiro do ar, A vida
passada a limpo, Lição de coisas, 4 Poemas (1969)
D. Quixote: Glosas a 21 desenhos de Cândido
Portinari (1972)
As impurezas do branco. (1973)
Menino antigo: Boitempo II (1973)
Minas e Drummond. (1973)
Amor, amores (1975)
A visita: incluído em A paixão medida (1977).
Discurso de primavera e algumas sombras (1977)
O marginal Clorindo Gato: incluído em A paixão
medida (1978)
Nudez: incluído em Poemas (1979)
Esquecer para lembrar: Boitempo III (1979)
A paixão medida: desenhos de Emeria Marcier.
(1980).

Nova Reunião - 19 livros de poesias. (1983)


O elefante (1983)
Caso do vestido: adaptado para o teatro por Aderbal
Júnior. (1983)(
Corpo (1984)
Mata Atlântica (1984)
Amor, sinal estranho (1985)
Amar se aprende amando (1985)
Pantanal (1985)
Boitempo I e II: Reunião de poemas publicados
anteriormente nos livros Boitempo, Menino antigo e
Esquecer para lembrar. (1986)
O prazer das imagens (fotografias de Hugo Rodrigo
Octavio - legendas inéditas de Carlos Drummond de
Andrade). (1987)
Poesia Errante: derrames líricos, e outros nem tanto
ou nada. (1988)
Arte em Exposição (1990)
O Amor Natural:Ilustrações Milton Dacosta (1992)
A Vida Passada a Limpo. (1994)
Rio de Janeiro (fotos de Michael Sonnenberg). 1994.
Farewell. (1996)
A Senha do Mundo. (1996, reeditado em 1998, com
o título de Verso na Prosa, Prosa no Verso).
A Cor de Cada um. (1996, reeditado em 1998, pela
Record, com o título de Verso na Prosa, Prosa no
Verso).
José & Outros. (2003; reunião dos livros José,
Novos Poemas e Fazendeiro do ar).

CRÔNICA

Fala, amendoeira. (1957)


A bolsa & a vida. (1962)
Cadeira de balanço. (1966)
Caminhos de João Brandão.(1970)
O poder ultrajovem. (1972)
De notícias & não notícias faz-se a crônica. (1974)
Os dias lindos. (1977)
Crônica das favelas cariocas (1981)
Boca de luar (1984)
Crônicas de 1930/1934 (Crônicas assinadas com os
pseudônimos: Antônio Crispim e Barba Azul 1984)
[Reeditado em 1987 pela Secretaria da Cultura de
Minas Gerais - ilustrações de Ana Raquel.]
Moça deitada na grama. (1987)
Auto-Retrato e Outras Crônicas. Seleção Fernando
Py. (1989)
O Sorvete e Outras Histórias. (1993)
Vó Caiu na Piscina. (1996)
Quando é dia de futebol (2002)

CONTO

O gerente:incluído em Contos de aprendiz (1945)


Contos de aprendiz (1951)
70 historinhas. (1978. Seleção de textos dos livros
de crônicas: Fala amendoeira, A bolsa & a vida,
Cadeira de balanço, Caminhos de João Brandão, O
poder ultrajovem, De notícias & não notícias faz-se
a crônica e Os dias lindos.)
Contos plausíveis (ilustrações de Irene Peixoto e
Márcia Cabral. 1981)
O pipoqueiro da esquina (Desenhos de Ziraldo ,
1981)

História de dois amores (Desenhos de Ziraldo, 1985)


Criança dagora é fogo. (1996)

ENSAIO

Confissões de Minas. (1944)


Passeios na ilha (1952)
Minas Gerais: Antologia (1967)
A Lição do amigo: cartas de Mário de Andrade -
introdução e notas de CDA. (1982)
Em certa casa da rua Barão de Jaguaribe: ata
comemorativa dos 20 anos do Sabadoyle (1984)
O observador no escritório: Memória (1985)
Tempo, vida, poesia: entrevistas à Rádio MEC
(1986)
Saudação a Plínio Doyle (1986)
O avesso das coisas (1987)

ANTOLOGIA

Português

Neste caderno... In: 10 Histórias de bichos (em


colaboração com Godofredo Rangel, Graciliano
Ramos, João Alphonsus, Guimarães Rosa, J. Simões
Lopes Neto, Luís Jardim, Maria Julieta, Marques
Rebelo, Orígenes Lessa, Tristão da Cunha (1947)
50 poemas escolhidos pelo autor (1956)
Antologia poética (1962)
Quadrante: em colaboração com Cecília Meireles,
Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Manuel
Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga
(1962)
Quadrante II: em colaboração com Cecília Meireles,
Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Manuel
Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga
(1963)
Antologia poética: seleção e prefácio de Massaud
Moisés (1965)
Vozes da cidade: em colaboração com Cecília
Meireles, Genolino Amado, Henrique Pongetti, Maluh
de Ouro Preto, Manuel Bandeira e Raquel de Queirós
(1965)
Rio de Janeiro em prosa & verso: antologia em
colaboração com Manuel Bandeira. (1965)
Uma pedra no meio do caminho: biografia de um
poema (1967)
Seleta em prosa e verso: estudo e notas de Gilberto
Mendonça Teles (1971)
Elenco de cronistas modernos: em colaboração com
Clarice Lispector, Fernando Sabino, Manuel
Bandeira, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queirós
e Rubem Braga (1971)
Atas poemas. Natal na Biblioteca de Plínio Doyle:
em colaboração com Alphonsus de Guimaraens
Filho, Enrique de Resende, Gilberto Mendonça Teles,
Homero Homem, Mário da Silva Brito, Murilo Araújo,
Raul Bopp, Waldemar Lopes (1974)
Para gostar de ler: em colaboração com Fernando
Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga
(1977-80)
Para Ana Cecília: em colaboração com João Cabral
de Melo Neto, Mauro Mota, Odilo Costa Filho, Ledo
lvo, Marcus Accioly e Gilberto Freire (1978)

O melhor da poesia brasileira: em colaboração com


João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e
Vinícius de Moraes (1979)
Carlos Drummond de Andrade. Seleção de textos,
notas, estudo biográfico, histórico-crítico e
exercícios de Rita de Cássia Barbosa. (1980)
Literatura comentada (1981).
Antologia poética (1982)
Quatro vozes: em colaboração com Rachel de
Queiroz, Cecília Meirelles e Manuel Bandeira. (1984)
60 anos de poesia: organização e apresentação de
Arnaldo Saraiva (1985)
Quarenta historinhas e cinco poemas: leitura e
exercícios para estudantes de Português nos EUA.
Flórida: University of Florida (1985)
Bandeira - A vida inteira: textos extraídos da obra
de Manuel Bandeira e 21 poemas de Carlos
Drummond de Andrade - fotos do Arquivo (1986)
Álbum para Maria Julieta. Coletânea de dedicatórias
reunidas por Carlos Drummond de Andrade para sua
filha, acompanhado de texto extraído da obra do
autor (1989)
Obra poética. Portugal: Publicações Europa-América,
1989. Rua da Bahia em colaboração com Pedro
Nava (1990)
Setecontos, setencantos: em colaboração com Caio
Porfírio Carneiro, Herberto Sales, Ideu Brandão,
Miguel Jorge, Moacyr Scliar e Sergio Faraco -
organizado por Elias José.
Carlos Drummond de Andrade: org. de Fernando Py
e Pedro Lyra (1994)
As palavras que ninguém diz.: Seleção Luzia de
Maria (1997) Mineiramente Drummond.
Histórias para o Rei: Seleção Luzia de Maria (1997)
Mineiramente Drummond.
A palavra mágica: Seleção Luzia de Maria (1997)
Mineiramente Drummond.
Os amáveis assaltante (1998)

O poeta mineiro deixou livros inéditos que foram


publicados postumamente pela Editora Record: O
avesso das coisas (1987), Moça deitada na grama
(1987), O amor natural (1982) e Farewell (1996).

RESENHA

Publicado pela primeira vez em 1940 (tiragem de


150 exemplares, distribuídos entre os amigos), o
terceiro trabalho poético de Drummond traz o olhar
do poeta sobre o mundo à sua volta, tendendo para
um olhar crítico e significativamente político.
Retrata um tempo de guerras, de pessimismo e
sobretudo, de dúvidas sobre o poder de destruição
do homem. Compõe-se de 28 poemas.

SENTIMENTO DO MUNDO: o primeiro poema


(que deu nome ao livro) revela a visão-de-mundo
do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade
que sempre nos estarrece, porque, por mais que
sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito
desafiante.

O poeta inicia (estrofe 1) indicando suas limitações


para ver o mundo: “Tenho apenas duas mãos”; mas
aponta, em seguida, alguns elementos auxiliares
que o ajudarão a suprir suas deficiências de visão:
escravos, lembranças e o mistério do amor (versos
3 a 5); escravos podem ser os meios escusos de
que nos utilizamos para tocar a vida e decifrá-la e
dela nos aproveitarmos.

O pessimismo denuncia-se com as mortes do céu e


do próprio poeta, na estrofe 2.

Apesar da ajuda incompleta dos companheiros de


vida (“Camaradas”), o poeta não consegue decifrar
os códigos existenciais e pede, humilde, desculpas.

Nas duas últimas estrofes, Drummond pinta uma


visão de futuro bem negativo, mas bem real:
mortos, lembranças, tipos de pessoas que sumiram
nas batalhas da vida (“guerra”, na estrofe 3).

Conclui, na estrofe 5, que o futuro (“amanhecer”) é


bem negro, tenebroso. Feita só de dois versos,
sintetiza seu sentimento do mundo.

Os demais 27 poemas são nuances, explicações


dessa amarga visão inicial da vida.

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO:


Drummond evidencia claramente o sentimento
comungado por nós, simples mortais. É nele que
Drummond fala do "amor que se refugiou no mais
baixos dos subterrâneos, do medo que esteriliza o
braço, no medo da morte e do depois da morte, e
principalmente, no medo dos ditadores e no medo
dos democratas". O poema escrito há pelo menos
60 anos contrasta com a página amarela e triste da
nossa história que insiste em não virar, e se tornar
passado de nossas vidas.

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO: o poema começa


com a saudade profunda de seu lugar de
nascimento, traçado em quatro belas, mas
sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que
aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas,
paradoxalmente: “A vontade de amor (...) vem de
Itabira”; vale dizer que o amor nasce e é servido no
sofrimento. De Itabira vem a explicação de
Drummond viver de “cabeça baixa” (estrofe 3),
verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta
sente uma incomensurável saudade de sua cidade
natal.

O OPERÁRIO DO MAR [POEMA EM PROSA]: o 6º


poema faz o autor escapar da linguagem poética
material (versos) e se apropriar dessa linguagem
poética sem versos, mas bastante poesia imaterial,
em belo painel-definição explicita a grande diferença
social entre operários e não-operários.

Esta belíssima crônica poética, de base surrealista –


tão em voga nos anos trinta, quarenta – serve bem
para duas constatações:

1ª) o sentimento socialista de Drummond que iria


espraiar-se cinco anos após Sentimento do mundo,
na publicação de Rosa do povo, em 1945;

2ª) a visão-de-mundo onírica e bem poética de um


operário universalizado em São Pedro; ele anda
sobre águas por graça de Deus, enquanto burgueses
se espantam por não poderem realizar a mágica;
isto é, aos humildes: a magia divina, aos
prepotentes: a inveja.

Esta crônica poética também pode permitir que se


compare a “apreensão do mistério da palavra” nos
poemas explícitos de Drummond diante desta prosa
poética; por exemplo: “minhas lembranças
escorrem” (Sentimento do mundo, estrofe 1, verso
4) e “feixes escorrem” (das mãos do operário, em O
operário no mar, linha 26). O mistério poético de
lembranças escorrem é bem mais profundo do que
peixes escorrerem imaginariamente das mãos do
operário.

CANÇÃO DO BERÇO: ao observar uma criança no


berço, nosso poeta salienta a fugacidade das coisas
e ressalta alguns valores eternos.

PRIVILÉGIO DO MAR: no poema 12, o autor


continua detendo-se alegoricamente no problema
social das diferenças humanas.

INOCENTES DO LEBLON: ainda no enfoque da


visão social, o poeta fala da riqueza: “inocentes”
significa os que querem ignorar; por isto fingem e
se aproveitam.

LA POSSESSION DU MONDE neste poema 17,


Drummond indica o membro da Academia Francesa
de Letras, em 1884, Georges Duhamel, pedindo
uma risível fruta estragada; como se isso fosse,
como diz o título do poema, ter o mundo nas mãos.

ODE NO CINQÜENTENÁRIO DO POETA


BRASILEIRO: o belo elogio do poema 18 é a
palavra drummoniana a Manuel Bandeira, nascido
em 1886 e que, em 1936, completava 50 anos de
vida. Drummond pede que “seu canto confidencial
(a poesia de Bandeira) ressoe acima dos vãos
disfarces do homem”!

Em DENTADURAS DUPLAS - dedicado ao poeta


Onestaldo Penaforte – uma visão irônica e bem
humorada do envelhecimento.

MÃOS DADAS: o poeta reafirma a sua consciência


da existência de outros homens, seus
companheiros. Com eles é que se sente de mãos
dadas – e renunciou aos seus temas pessoais: uma
mulher, uma história, a paisagem vista da janela.
Não mais se refugiará na solidão porque o que lhe
interessa é o tempo presente em que se acha
inserido, e os homens que o cercam.

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO: o


sentimento do mundo que dá título ao livro começa
a fazer presente. O poeta fala na renúncia dos seus
desejos e inquietações pessoais, que só o deixarão
na mais absoluta solidão: não importa a sua própria
vida, o tempo que passa e a velhice que avança, em
face dos problemas do mundo, dos quais ele tem
uma dolorosa consciência. Sente-se solidário com os
que ainda não se libertaram do sofrimento. Sua vida
se impõe como uma ordem: ela deve continuar,
para enfrentar a realidade de um mundo que ele
imagina carregar no ombros e que não deve pesar
mais do que a mão de uma criança.

ELEGIA 1938: “elegia” - o nome dado pelos gregos


a um tipo cujo tema estava ligado à morte. Seu tom
era, portanto, sempre triste, de lamentação. O ano
de 1938 identifica-se com um período de grande
desenvolvimento industrial e uma grave crise social
e política, que teria como uma das suas
decorrências a Segunda Guerra Mundial. A esse
quadro o poeta refere-se como um “mundo caduco”
Emprega a 2ª pessoa do singular como se estivesse
falando consigo mesmo.

MADRIGAL LÚGUBRE e LEMBRANÇA DO MUNDO


ANTIGO: persona lírica fala da miséria humana e
dos horrores da guerra; contrasta passado e
presente usando a figura feminina como
contraponto.

Não deixa de nos falar das suas sensações durante


uma audição de O BOLERO DE RAVEL.

O Rio de Janeiro é, depois de Minas, o solo de


Drummond. – A INDECISÃO NO MÉIER – o
cotidiano com suas pequenas armadilhas e
ramificações interpõe-se constantemente entre o
poeta e o mundo.

Drummond se reconhece no mundo que precisa ser


salvo , mas também reconhece o distanciamento
entre os homens. Transfigura-se de poeta solitário
em poeta solidário, recria o mundo depurando-o,
buscando sua essência. Ao silêncio contrapõe a
imagem poética.

ESTILO DE ÉPOCA Modernismo – segunda fase

O modernismo no estilo de Drummond levou-o, com


sua linguagem em diferentes ritmos, à
popularização em um país onde se lê pouco.
Mesmo estes que não tinha acesso aos livros eram
retratados.

Drummond, como os modernistas, proclama a


liberdade das palavras, uma libertação do idioma
que autoriza modelação poética à margem das
convenções usuais. Segue a libertação proposta por
Mario de Andrade; com a instituição do verso livre,
acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que
este não depende de um metro fixo (impulso
rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa
corrente mais lírica e subjetiva e outra mais
objetiva e concreta, Drummond faria parte da
primeira, ao lado do próprio Mário de Andrade.
Entretanto é importante notar que a poesia de
Drummond paira acima das periodizações e
modismos literários, permanecendo até hoje
extremamente atual.

VERSOS LIVRES E BRANCOS


Não há rima nos poemas desta obra. A métrica é
dissolvida num coquetel rítmico, cujo conteúdo
corrosivo (a dialética da história), é servido aos
excluídos, mas não consumido por eles: observem
o poema “Morro da Babilônia”.

• caráter prosaico (cotidiano)


• propósito de uma literatura engajada
• uso de sátiras, humor e paródias

Entre o lirismo e a ironia drummoniana estende-se


u’a gama infinita de intenções articuladas ao
princípio modernista , que já dava sinais de
esgotamento em 1940.

Poemas: eu-lírico centrado na primeira pessoa em


tensão com o mundo.

A problemática do nosso caos urbano se faz


presente em vários poemas do itabirano “
Provisoriamente não cantaremos o amor / que se
refugiou mais abaixo dos subterrâneos/Cantaremos
o medo / que esteriliza os abraços (...)”

INTERTEXTUALIDADE

O poema é uma obra sempre inacabada, sempre


disposta a ser completada e vivida por um leitor
novo.

A melhor poesia é sempre uma súmula cultural.


A poesia de Drummond articula um protótipo do
mundo moderno. – o gauche.

Aí está o sentimento de uma região, de um país, e o


sentimento do mundo.

O problema central é o tempo.


A missão do poeta é descer aos infernos do tempo
para rechear-se pelo amor (...) deixa seu canto
concreto e vivo como testemunho (...) vida que
sobreexiste além da morte. (Heidegger)

O sentimento do mundo é liberdade e prisão entre


as convenções e a realidade. Um sentimento que se
apossa de nós diante de um possível espelho. E
como cenário temos a vida. A vida apenas como
uma fotografia de 1940, este sentimento do mundo.
Mas como dói!

SENTIMENTO DO MUNDO =“eu menor que o


mundo”
• poesia social , tem com temas a política, a
guerra e o sofrimento do homem
• desabrocha o sentimento de solidão, marcado
pela impotência do homem, diante de um
mundo frio e mecânico, que o reduz a
objeto.

Aroldo Ferreira Leão, poeta contemporâneo: ou


ele veste máscaras (reserva-se) ou se desnuda
(transborda-se); em súmula, vai à apoteose do
sentimento do mundo e à celebração do eu cercado
do mundo até encontrar-se poeira, ou vai às células
dramáticas do cotidiano do mundo até encontrar-se
poeira também. Aroldo se desnuda, faz auditoria
fiscal de si mesmo. À apoteose do sentimento do
mundo e à celebração do eu cercado deste, ele
discursa sobre a alma, por vezes lha alfabetiza,
encerrando-a em dor – dolência é o advérbio das
ligações, estados e ações de Aroldo.

Ele sempre defendeu uma postura independente e


altiva do Brasil como pré-requisito à preservação da
soberania e da integridade da nação (Guel Arraes)

No seu último governo — 1995-1999 —, retomaria a


abordagem da Zona Canavieira através de um
programa ousado (Promata) de modernização do
parque sucro-alcooleiro e de diversificação das
culturas, incluindo educação de base, formação de
mão-de-obra, preservação e educação ambiental
etc.)

Movido por sua sensibilidade para as condições de


vida do povo pobre do interior, Arraes valorizou
como prioritárias ações destinadas a estender a
eletrificação rural praticamente a todo o território
pernambucano, a baixo custo para o consumidor
final; e a propiciar condições hídricas que pudessem
ajudar pequenos e médios proprietários a enfrentar
a crônica escassez de água. Que sentimento gera
em vocês a respeito?

Todos os anos, no final de janeiro, os principais


líderes do setor privado mundial viajam para a
cidade de Davos, nos Alpes suíços, para participar
do Fórum Econômico Mundial.

O Fórum Econômico Mundial, por exemplo, deixou


de ser, de uns anos para cá, uma reunião de
empresários e economistas de visão estreita para
ampliar seu olhar pelo mundo. Por vezes, um
sentimento misto de pessimismo generalizado da
população mundial e um otimismo contido por parte
dos dirigentes econômicos internacionais que, como
sempre, acorrem a esta reunião anual.

Os organizadores, no entanto, dizem que o Fórum


serve apenas para "melhorar o estado do mundo".
E você, o que pensa? Que sentimento lhe traz?

Muitos são as obras que podem intertextualizar com


esses poemas de Drummond. Concorda? Busque
outras!
VISÃO CRÍTICA
O modernismo não chega a ser dominante nem
mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma
poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o
poema-piada e a descontração sintática pareceriam
revelar o contrário.

A dominante é a individualidade do autor, poeta da


ordem e da consolidação, ainda que sempre, e
fecundamente, contraditórias. Torturado pelo
passado, assombrado com o futuro, ele se detém
num presente dilacerado por este e por aquele,
testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos
homens, de um ponto de vista melancólico e cético.
Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade,
asperamente satírico em seu amargor e desencanto,
entrega-se com empenho e requinte construtivo à
comunicação estética desse modo de ser e estar.

Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande


poeta a se afirmar depois das estréias modernistas,
não se está querendo dizer que Drummond seja um
modernista. De fato herda a liberdade lingüística, o
verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas.
Mas vai além. "A obra de Drummond alcança —
como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto
Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de
solidão, que o desprende do próprio solo da História,
levando o leitor a uma atitude livre de referências,
ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma
Alfredo Bosi (1994). E é exatamente por causa
desta liberdade que a poesia de Drummond é, ainda
hoje, quase vinte anos após sua morte e mais de
setenta e cinco depois de sua estréia, atual,
pertinente e — o mais importante — lida e
declamada nos quatro cantos do país.

O livro objeto de nosso estudo teve sua primeira


edição com apenas 150 exemplares, como já lhes
foi relatado. Para fugir das perseguições e censuras
do Estado Novo Getulista, foi distribuído de mão em
mão, como naquela história do beija-flor que trazia
água no bico para apagar o incêndio na floresta.

Drummond, como o Beija-flor da história, fazia a


sua parte. Em 1941, movida pela força política e
cultural da resistência democrática alcançada pelo
livro de Drummond, a Revista Acadêmica, uma
referência intelectual da época, consagrava o poeta
mineiro dedicando um número inteiro a Drummond
e colocando-o num patamar sem precedentes em
toda nossa poesia.

“O poeta consagra sempre uma experiência


histórica, que pode ser social, pessoal ou ambas as
coisas ao mesmo tempo. Mas ao falar-nos de todos
esses sucessos, sentimentos, experiências e
pessoas, o poeta nos fala de outra coisa: do que
está fazendo, do que está sendo diante de nós e em
nós. E mais ainda, leva-nos a repetir e a recriar seu
poema e nomear aquilo que nomeia: e ao fazê-lo,
revela-nos o que somos” (Octavio Paz, Signos em
Rotação)
A morte emendou a gramática. Morreram Carlos
Drummond. Não era um só. Eram tantos. Mas quem
disse que Drummond morreu? E que ironia! Alguém
tão cético provando que há vida após a morte! Mais
do que qualquer outro gênio soube ser reconhecido
enquanto vivo e não se deixar morrer mesmo
negando os convites para se tornar imortal como
membro da Academia Brasileira de Letras.

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