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2 Coríntios 5:14-15

Tradução: Nathan Cazé Blog: monoergon.wordpress.com Data: 27 julho 2013

KISTEMAKER, Simon J. ; HENDRIKSEN, William: New Testament Commentary : Exposition of the


Second Epistle to the Corinthians. Grand Rapids: Baker Book House, 1953-2001 (New Testament
Commentary 19), S. 186

14. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos
morreram. [ARA 1993]
A brevidade deste verso não precisa diminuir a sua mensagem pertinente. Estas poucas palavras
apresentam o evangelho que deve ser entendido no contexto deste capítulo. Paulo se opõe aos intrusos e
lembra os membros da igreja de Coríntio de sua fidelidade para com eles como um ministro deste
evangelho. Plenamente ciente da discórdia que os intrusos causam, ele busca remover o conflito ao lembrar
aos seus leitores o evangelho de Cristo.
a. “Pois o amor de Cristo nos constrange”. A conexão entre o verso anterior e esse verso é claro.
Paulo tem sã consciência ao pregar o evangelho da salvação. Este evangelho demonstra o amor indescritível
de Cristo por seu povo.
O Novo Testamento emprega a expressão o amor de Cristo somente três vezes: Paulo faz a pergunta
retórica, “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rom. 8:35); ele refere-se às dimensões do amor de Cristo
e afirma que excede o conhecimento humano (Ef. 3:18-19); e ele observa que o amor de Cristo nos
constrange (v. 14). Deus origina este amor, pois ele enviou o seu Filho unigênito para redimir pecadores
(João 3:16; Rom. 5:8). Ele elege o seu povo em amor e os faz mais do que vencedores por Cristo Jesus
(Rom. 1:7; 8:37).59
Alguns tradutores oferecem um genitivo objetivo nessa frase: “nosso amor por Cristo”.60 Mas muitos
estudiosos entendem que a frase como um genitivo subjetivo: o amor que Cristo tem por nós. Não estamos
dizendo que o amor de Cristo por nós não extrai o nosso amor por ele, mas o intento deste verso é revelar a
morte de Cristo como evidência de seu amor.
O verbo grego synechei, que eu traduzi “constrange”, revela algumas variações. Segue-se algumas versões
representativas:
1. “O amor de Cristo nos impele” (NAB)
2. “Pois o amor de Cristo nos compele” (NIV)
3. “Pois o amor de Cristo nos impele” (NRSV)
4. “Pois o amor de Cristo nos constrange” (NJB)
5. “Pois o amor de Cristo se apodera de nós” (MLB)

A significância deste verbo grego é que Paulo e todos os crentes estão completamente dominados pelo amor
de Cristo, para eles viverem por ele.61 Como Paulo escreve em outro lugar, “Já estou crucificado com Cristo;
e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de
Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gal. 2:20). Quanto a Paulo, ele afirma que
Cristo o constrange. E esta afirmação os seus oponente nunca podem proferir, pois estão governados não por
Cristo, mas por suas próprias ambições.

b. “um morreu por todos; logo, todos morreram”. A cláusula um morreu por todos, que eloquentemente
expressa o amor de Cristo, é o evangelho em suma—talvez uma afirmação de credo da igreja primitiva.
Aclamamos a verdade desta afirmação, porque toda a Escritura testifica-a (ver I Cor. 15:3). É pela leitura da
Palavra de Deus que chegamos a essa conclusão.
59
Consulte Ethelbert Stauffer, TDNT, 1:49.
60
TNT; Héring, Second Epistle of Paul, pp. 41-42; Armin Kretzer, EDNT, 3:306; Windisch, Der Zweite Korintherbrief, p. 181.
Ambas interpretações são sugeridas por Ernest. B. Allo, Saint Paul Seconde Épître aux Corinthiens, 2d ed. (Paris: Gabalda, 1956),
p. 165.
NAB New American Bible [Nova Bíblia Americana]
NIV New International Version [Nova Versão Internacional]
NRSV New Revised Standard Version [Nova Versão Padrão Revisada]
NJB New Jerusalem Bible [Nova Bíblia Jerusalém]
MLB Modern Language Bible [Bíblia de Língua Moderna]
61
Helmut Köster, TDNT 7:883.
Que Cristo morreu na cruz do Calvário é fato; que ele morreu por todos é evangelho. Mas como
explicamos os dois termos por e todos?
Primeiro, vamos ver a preposição por (grego, hyper). Esta ocorre em João 11:50, onde o sumo
sacerdote Caifás sugere ao Sinédrio que ele preferiria ver um homem morrer pelo povo do que ver a nação
inteira perecer. A preposição hyper com referência à morte de Cristo significa substituição, como por
exemplo nas palavras da instituição da Ceia do Senhor, “Isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento,
que por muitos é derramado” (Marcos 14:24; Lucas 22:20). Cristo deu o seu corpo por seus seguidores
(Lucas 22:19; I Cor. 11:24; e ver João 6:51). Ele sofreu e morreu por pecadores (I Pedro 2:21; 3:18); e ele
deu sua vida pelos seus (I João 3:16). Na afirmação, “Cristo morreu por nossos pecados”, o termo hyper
transmite o significado de que Jesus é o nosso representador e substituto. Cristo nos representa advogando o
nosso caso diante do Pai (I Pedro 2:1), e ele é o nosso substituto ao se colocar em nosso lugar e ser o
portador de nossos pecados (v. 21).62 Semelhantemente, “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós” (Gal. 3:13). Quando a preposição hyper ocorrer no contexto da morte de Cristo, isto
significa substituição.63 Assim, o fato de que Cristo tirou a maldição da humanidade através se sua morte é
de fato um sumário do evangelho.
Segundo, o adjetivo todos ocorre duas vezes neste verso e uma no verso 15. Paulo tem em mente que
Cristo morreu por todos os seres humanos? Ou ele está se referindo a todo crente? Podemos dizer que a
morte expiatória de Cristo é suficiente para todas as pessoas, mas eficiente para todos crentes verdadeiros.
Jesus elegeu Judas Iscariotes para ser um nos doze discípulos, ainda assim ele o chama de “um diabo” e
descreve-o como “aquele que estava destinado à perdição” (6:70; 17:12). Somente aqueles que apropriarem-
se da morte de Cristo em fé são incluídos na palavra todos. Precisamos examinar, portanto, o uso da palavra
primeiro nas epístolas de Paulo e então nos versos 14 e 15. Por conseguinte podemos plenamente apreciar o
significado desta passagem.
O uso de “todos” nas cartas de Paulo nem sempre significa universalmente. O apóstolo refutou o
lema de Coríntio “Todas as coisas são lícitas” (I Cor. 6:12; 10:23) nos contextos de imoralidade sexual e de
comida oferecida a ídolos. E a afirmação de Paulo “Porque tudo é vosso” (I Cor. 3:21) aparece em sua
discussão sobre sabedoria terrena e celestial. Como sempre, o contexto determina o sentido de uma dada
expressão.
Se olharmos atentamente para a redação dos versos 14 e 15, observamos que a expressão todos é
modificada por três pessoas ou qualidades: o amor governante de Cristo, o pronome nos, e aqueles que
vivem por ele. Cristo morreu por todos que creem nele, pois a fé é um elemento essencial na redenção do
crente. Para todos os verdadeiros crentes, Cristo estende o seu amor redentor. Embora o pronome nos
frequentemente refere-se a Paulo e seus colegas de trabalho, aqui este é amplo o suficiente para abranger
todos os seguidores de Cristo.
Além disso, este texto deve ser explicado em harmonia com passagens semelhantes (Rom. 5:18; I
Cor. 15:22). Somente aqueles que têm fé verdadeira em Cristo Jesus recebem vida eterna, são reconciliados
com Deus, e são justificados. Aqueles que têm morrido com Cristo são recipientes de vida eterna (Rom.
6:8). Eles são aqueles que são unidos com ele em sua morte e ressureição e estão vivos para Deus.
“logo, todos morreram” é uma breve afirmação que parece ser auto-evidente, se não supérfluo. Mas a
afirmação é uma continuação da cláusula anterior: “um morreu por todos”. Lá, o verbo morrer tem um
significado literal que alude para a morte física de Cristo na cruz. Aqui, o mesmo verbo pode ser usado em
um sentido figurativo, isto é, a remoção da maldição do pecado (Gen. 2:17; 3:17-19; Gal. 3:13). Assim, a
morte de todos que morreram aponta para a morte que Cristo, como o seu representante e substituto,
experimentou por todo o seu povo. Faço três observações: Paulo extrai uma consequência da cláusula
anterior quando diz logo em “logo, todos morreram”; em seguida, o grego literalmente diz “o todo” para
especificar um grupo particular; e por fim, o verbo morreu nesta curta cláusula mostra a ação passada e
singular. A ação ocorreu no Calvário, mas sua significância é para o presente.64
Em outros lugares, Paulo claramente afirma que Deus entregou o seu Filho por todos nós (Rom.
8:32); agora ele também parece dizer, “Cristo morreu por todos nós”. Todos que tem morrido

62
Contra Richard T. Mead, “Exegesis of II Corinthians 5:14–21”, in Interpreting II Corinthians 5:14–21. An Exercise in
Hermeneutics, ed. Jack P. Lewis, SBEC 17 (Lewiston, N.Y.: Edwin Mellen, 1989), p. 147.
63
Hughes, Second Epistle to the Corinthians, p. 193; Ridderbos, Paul, p. 190.
64
John O’Neill conjectura que a cláusula “logo, todos morreram” é uma observação explanatória teológica que um escriba
incorporou no corpo do texto. Mas lhe falta evidencia textual para apoiar sua teoria. “The Absence of the ‘in Christ’ Theology in
II Corinthians 5”, AusBRev 35 (1987): 103.
metamórficamente na cruz morreu com ele,65 pois Cristo e seu povo são um corpo (I Cor. 12:27; Ef. 1:23;
Col. 1:18, 24). Na cruz do Calvário, Cristo Jesus deu o golpe mortal à morte e libertou o seu povo da
escravidão do pecado (Rom. 6:6-7).
15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que
por eles morreu e ressuscitou.
a. “E ele morreu por todos”. Com a conjunção e, Paulo repete as palavras do verso 14. Ele volta ao
uso literal do verbo morrer para indicar a morte de Cristo no Gólgota. Mas a curta cláusula que tem a
palavra todos é explicada por uma frase longa.
b. “para que os que vivem não vivam mais para si”. O propósito da obra redentora de Cristo é que o
seu povo, libertos da maldição do pecado, agora gozam vida em comunhão com ele. Eles não estão mais
espiritualmente mortos, mas são os recipientes de nova vida em Cristo. Objetivos e ambições egoístas são
postas a parte, porque o propósito dos crentes agora é de viver para Aquele que morreu por eles. Diz Paulo,
“Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos;
se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rom.
14:7-8).
c. “mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” No grego, a salientação está na frase por eles,
a frase que está posta enfaticamente entre “para aquele que” e “morreu e ressuscitou”. Paulo chama a
atenção para esta frase e pretende-lo como uma explanação da cláusula anterior (“e ele morreu por todos”).
Ele afirma que Cristo morreu e ressuscitou por aquelas pessoas que agora vivem para ele e produzem fruto
espiritual (Rom. 6:11; 7:4). Através de sua morte, Cristo os libertou do poder deste mundo. E através de sua
ressureição, ele os coloca debaixo de seu domínio para que estes o sirvam como cidadãos de seu reino.
Por fim, os conceitos morreu e ressuscitou estão intimamente relacionados com a frase por eles e
governa isto. É uma coisa dizer que Cristo morreu como o nosso substituto, mas dizer que ele ressuscitou
como nosso substituto é inexato. Portanto, em relação à sua ressureição, Cristo é o nosso precursor, (Fl.
3:21). Deus o ressuscitou dos mortos com a intenção de que nós também seremos como ele. Cristo é as
primícias da colheita da ressurreição (I Cor. 15:20, 49).

65
Jack P. Lewis, “Exegesis of II Corinthians 5:14–21”, in Interpreting II Corinthians 5:14–21. An Exercise in Hermeneutics, ed.
Jack P. Lewis, SBEC 17 (Lewiston, N.Y.: Edwin Mellen, 1989), pp. 133–34.

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