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Pinacoteca apresenta, pela primeira vez, duas séries completas

de sua coleção, referentes ao artista argentino León Ferrari

Crítico contumaz da Igreja Católica e da ditadura argentina, falecido em 2013,


doou, em vida, 33 das 50 obras que compõem a exposição

Abertura: 26 de outubro de 2019, sábado, às 11h


Em cartaz: até 16 de fevereiro de 2020

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta, de
26 de outubro de 2019 a 16 de fevereiro de 2020, a exposição León Ferrari: Nós não sabíamos, que reúne cinquenta obras
pertencentes ao museu, de autoria do argentino. Organizada pelo Núcleo de Curadoria e Pesquisa da Pinacoteca, a mostra ocupa
a sala C, contígua à exposição do acervo da produção artística brasileira do século XIX da Pinacoteca, e enfatiza o aspecto político
que marcou a produção de Ferrari, carregada por uma crítica contundente às instituições de arte, aos sistemas políticos e à moral
vigente nas décadas de 1960 e 1970. Esta é a primeira vez que o museu exibe duas séries completas de sua coleção, relacionadas
ao artista falecido em 2013.

León Ferrari é um dos artistas latino-americanos mais consagrados mundialmente. Foi aclamado na Bienal de Veneza,
em 2007, na qual recebeu o Leão de Ouro, em reconhecimento por sua obra. Em sua prática artística, faz uso de distintas
linguagens, como a escultura, o desenho, a caligrafia, a colagem, a instalação e o vídeo. Esse conjunto heterogêneo e os temas
abordados revelam tanto seu caráter de pesquisador e ativista como a preocupação com a investigação estética da linguagem,
questionando o mundo ocidental, o poder e a normatização que ditam os valores da religião, da arte, da justiça e do Estado. A
repetição, a ironia e a literalidade também são recursos de sua poética, reconhecidos desde suas obras iniciais.

Na década de 1960, os desenhos e as esculturas de Ferrari são permeados pelo questionamento ético da religião e a
denúncia contra o imperialismo. Em 1976, um golpe militar forçou o artista e sua família a deixarem Buenos Aires, mudando-se
para São Paulo, onde permaneceram até a década de 1990. Durante sua permanência no Brasil, Ferrari integrou-se ao circuito
local de experimentalismos, envolvendo-se com o processo de revitalização da linguagem através da produção de heliografias,
fotocópias e arte postal. Ao retornar à Argentina, o artista continuou a produzir obras de arte politicamente engajadas,
questionando os desaparecimentos que aconteceram durante a Ditadura Militar.

Para a presente exposição, a Pinacoteca apresenta duas séries doadas pelo artista ao museu, pertencentes a um lote de
33 obras oferecidas por ocasião de sua exposição Poéticas e políticas, 1954-2006, com curadoria de Andrea Giunta, realizada na
instituição em 2006. O processo de doação passou à etapa seguinte, em 2008 – quando, então, outras obras foram
acrescentadas ao conjunto – e foi totalmente concluído em 2014, através de sua neta Anna Ferrari, um ano após o falecimento
do artista. “As séries expostas nunca foram mostradas em sua totalidade. Elas partem de uma mesma operação, que é a
intervenção feita pelo artista sobre páginas de veículos de comunicação. Ferrari explora o poder narrativo das imagens,
interferindo nelas de modo a potencializar a mensagem que elas transmitem”, comenta a curadora-chefe da Pinacoteca, Valéria
Piccoli.

A primeira série, Nosotros no sabíamos [Nós não sabíamos], 2007, faz parte de um conjunto de trabalhos que teve
início em 1976, quando o artista começou a recortar artigos jornalísticos que denunciavam o surgimento de corpos de
desaparecidos, após o golpe militar argentino, em várias áreas da cidade de Buenos Aires e ao longo da costa do Río de La Plata.
Nessas obras, os recortes foram sendo reunidos em forma de livro. O título da série, que dá nome à exposição, surge como
enfrentamento à atitude “nós não sabíamos”, argumento usado por parte da população, à época, para justificar sua indiferença
acerca do terrorismo praticado pelo Estado, entre 1976 e 1983.

Já a série Nunca Más, 2006, refere-se aos fascículos homônimos, publicados no jornal Página 12 (Buenos Aires,
Argentina), entre os anos 1995 e 1996. A obra é resultante das capas desses fascículos produzidas pelo autor. Aos fascículos, era
anexado o relatório preparado em 1984 pela Comisión Nacional sobre la Desaparición de las Personas – CONADEP, contendo
listas com os nomes de pessoas desaparecidas durante os anos da ditadura no país. As publicações citadas que deram origem ao
trabalho ocorreram entre 1995 e 1996, havendo posteriormente uma reedição feita pelo próprio jornal Página 12, com novos
trabalhos, em 2006. A data considerada pela Pinacoteca refere-se ao ano de impressão dos atuais suportes.

Integram também a exposição a obra Primera carta al Papa, 2007, e L’Osservatore Romano, 2007, 43 impressões
digitais sobre papel, que se refere a um tradicional jornal homônimo elaborado pelo Vaticano, cujo primeiro número remonta ao
ano de 1861, tendo como diretriz rebater calúnias contra o Pontificado Romano, recordar os princípios da Igreja Católica e da
justiça, entre outros, ideias frequentemente dotadas de viés político. Crítico declarado à Igreja Católica e, especialmente, à Igreja
Católica argentina, Ferrari selecionou edições entre 2000 e 2001, associando às manchetes da publicação diversas imagens e
ilustrações relacionadas à história da religião católica, retratando, sobretudo, imagens de pecadores e castigos, ou imagens
eróticas ou ainda imagens contemporâneas relacionadas ao nazismo e à ditadura argentina.

SOBRE LEÓN FERRARI

León Ferrari nasceu em 1920, em Buenos Aires, Argentina, e faleceu naquela mesma cidade, em 2013. Individuais recentes
incluem: Prosa política de León Ferrari, Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino (MJBC), Rosario, Argentina (2019);
León Ferrari. Palabras ajenas, Museo Jumex, Cidade do México, México (2018); The Words of Others: León Ferrari and Rhetoric in
Times of War, Pérez Art Museum (PAMM), Miami (2018); Roy and Edna Disney/CalArts Theater (REDCAT) e Los Angeles, Estados
Unidos (2017).

Participou de diversas mostras coletivas, com destaque para Words/Matter: Latin American Art and Language at the Blanton,
Blanton Museum of Art, The University of Texas, Austin, Estados Unidos (2019); Géométries Américaines, du Mexique à la Terre
de Feu, Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, Paris, França (2018); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, The
Metropolitan Museum of Art (The Met Breuer), Nova York, Estados Unidos (2017); International Pop, Dallas Museum of Art,
Dallas; The Walker Art Center, Minneapolis, Estados Unidos (2015); Encuentros/Tensiones, Museo de Arte Latinoamericano de
Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina (2013), entre outras.

Suas obras integram coleções como Daros Latinamerica Collection, Zurique, Suíça; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos
Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Rio de Janeiro, Brasil; The
Museum of Modern Art (MoMA), Nova York, Estados Unidos; e Tate Modern, Londres, Reino Unido.

SERVIÇO

León Ferrari: Nós não sabíamos


Curadoria do Núcleo de Curadoria e Pesquisa
Abertura: 26 de outubro de 2019, sábado, às 11h
Visitação: 26 de outubro de 2019 a 16 de fevereiro de 2020
De quarta a segunda, das 10h às 17h30 – com permanência até as 18h
Classificação indicativa: 12 anos

Pinacoteca de São Paulo:


Edifício Pina Luz
Praça da Luz 2, São Paulo, SP – Sala C, 2º andar
Ingressos: R$ 10,00 (entrada); R$ 5,00 (meia-entrada para estudantes com carteirinha)
Menores de 10 anos e maiores de 60 são isentos de pagamento
Aos sábados, a entrada da Pina é gratuita para todos.

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