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CARNES E DERIVADOS
As carnes e derivados constituem produtos altamente perecíveis. Cuidados muito especiais devem ser mantidos
durante todas as operações. Os processos visam minimizar deterioração e prolongar a vida de prateleira com
níveis de qualidade aceitáveis.
Contaminação da carne
A contaminação é definida como a presença de qualquer substância ou agente em quantidade que torna o produto
inaceitável ou potencialmente perigoso ao consumidor. Os contaminantes incluem resíduos químicos alimentares
(antibióticos, pesticidas, etc) acumulados nos tecidos, excesso de aditivos, matérias estranhas (fragmentos de
insetos, pelos de roedores, areia, etc), parasitas e microrganismos.
PRINCÍPIOS MICROBIOLÓGICOS:
Os tecidos animais são livres de microrganismos com exceção das superfícies externas (peles e
tegumentos) e trato digestivo. As defesas humorais e celulares praticamente não funcionam após a morte animal.
No abate, todas as medidas são tomadas para minimizar a contaminação e multiplicação microbiana. Há
de se lembrar que nem toda multiplicação microbiana é ruim; i.é: as fermentações, cura e maturação são
processos microbianos benéficos para algumas características da carne.
• Contaminação inicial:
As bactérias da carne têm suas principais origens no conteúdo intestinal e solo. A introdução pode ocorrer
durante a sangria por equipamento contaminado (neste momento o sangue ainda está circulando). A
contaminação da superfície da carne continua durante todas as operações de abate.
As medidas higiênico-santitárias apenas reduzem estas contaminação e, a carga microbiana inicial constitui
fator importante na determinação do vida de prateleira dos produtos cárnicos e sua aceitabilidade.
2. Microrganismos na carne
Muitos microrganismo podem ser encontrados na carne mas, apenas poucos, encontram condições para se
multiplicar e causar danos ao produto. Necessariamente, este não são aqueles encontrados, inicialmente, em
grande número. Em geral, as bactérias de multiplicam mais rapidamente que os fungos e leveduras.
• Fatores intrínsecos:
! pH: A carne possui o pH final de 5,4 a 5,6 que permite o crescimento de fungos, leveduras e bactérias
lácticas. A maioria dos microrganismos tem pH ótimo de crescimento próximo ao neutro (pH7,0). Os
fungos crescem em pH que varia de 2,0 a 8,0. A acidez favorece seu desenvolvimento. As leveduras
crescem melhor entre pH 4,0 e 4,5.
! Potencial de oxi-redução: Os microrganismos aeróbios são favorecidos por altos níveis de potencial
de oxi-reduçào. Enquanto que, os anaeróbios são favorecidos por níveis baixos. O potencial de oxi-
redução cai com a conversão de músculo em carne.
• Fatores extrínsecos:
Temperatura de estocagem, umidade e oxigênio são os principais fatores que interferem na multiplicação de
microrganismos na carne. A forma física da carne (carcaça, partes, moída) favorece muito esta multiplicação.
! Temperatura: Cada microrganismo tem sua temperatura ótima de crescimento; o máximo e a mínima. A
maioria cresce bem entre 15-40ºC. O congelamento mata ou causa injúria à maioria das bactérias na
carne. Há decréscimo da contagem bacteriana com o congelamento. A temperatura menor que 5ºC
restringe o crescimento da maioria das bactérias espoliativas e todos as patogênicas. Portanto, esta é a
temperatura crítica de refrigeração.
" Psicrófilos: Crescem bem abaixo de 20ºC (leveduras, fungos e algumas bactérias – Pseudomonas,
Achromobacter, Micrococcus, Lactobacillus, Streptococcus, Leuconostoc, Pediococcus,
Flavobactarium e Proteus), estes últimos podem produzir substâncias histaminiformes em pescado
sem alterar o frescor do produto.
" Mesófilos: Crescem bem entre 20-45ºC
" Termófilos: Crescem acima de 45ºC
! Umidade relativa: Está intimamente relacionada com a temperatura de refrigeração. A umidade deve ser
baixa na temperatura de refrigeração para evitar o efeito “suar” que facilita espoliação da carne. As
bactérias requerem umidade relativa elevada para multiplicação; acima de 90%, as leveduras 87-92% e,
os fungos 84% ou menos.
! Oxigênio: Quanto a necessidade de 02 para multiplicação, os microrganismos podem ser aeróbios,
anaeróbios e facultativos. Os fungos e leveduras de carnes são aeróbios. Na superfície da carne
predominam as bactérias aeróbias e facultativas. No seu interior da carnes, as bactérias facultativas e
anaeróbias. O uso de embalagem com filmes de alta barreira e atmosfera modificada reduzem ou
previnem integralmente o desenvolvimento de bactérias aeróbias.
! O estado físico da carne, determinado pela sua forma física (Carne moída e CMS) expõe a carne a
grande contaminação.
DETERIORAÇÃO DA CARNE:
Como definição, pode-se dizer que a deterioração é o ponto em que a carne torna-se imprópria ao
consumo humano. A deterioração não significa decomposição ou putrefação, necessariamente. A deterioração
pode ser causada, também, por fatores outros que não microbianos; tais como: invasão de insetos, reações
enzimáticas e oxidativas intrínsecas da carne.
As enzimas hidrolíticas endógenas e microbianas são responsáveis pela degradação das proteínas, lipídeos,
carboidratos e outras moléculas complexas da carne. As primeiras degradações são realizadas pelas enzimas
endógenas seguidas pelas dos microrganismos.
• Cor
• Odor
• Sabor
• Maciez
• Outras propriedades de processo
O aparecimento de pigmentos oxidados na carne e resultado, na maioria das vezes, da ação de algumas
bactérias que transformam a mioglobina e oximioglobina em metmioglobina e outras formas, resultando em
cores cinzas, marrons ou verdes.
O aumento da maciez e aparecimento de odor característico na carne pode ser resultado da ação de enzima
microbianas em adição a enzimas endógenas presentes nos tecidos.
Deterioração aeróbia: A deterioração da carne por bactérias e leveduras aeróbias, geralmente, resultam na
formação de limo, odores, sabores indesejáveis e alteração na coloração. O tipo do microrganismo, temperatura e
aw são os fatores que afetam estas características.
A deterioração da carne por fungos resulta em superfícies pegajosas. A deterioração aeróbia está limitado,
essencialmente, à superfície e as áreas afetadas podem ser removidas pela toalete da carne. Entretanto, o
crescimento extensivo pode levar à contaminações profundas, particularmente dos ossos e tecidos conjuntivos.
Intoxicação é definida quando a carne é veiculadora de substâncias tóxicas, que podem ser, tanto
químicas como de origem microbiana. O botulismo é um exemplo típico de intoxicação de origem bacteriana.
Infeção está relacionada com a ingestão de carne e derivados contendo microrganismos com potencial
infeccioso. Neste, as salmoneloses constituem típicos exemplos. Entre outras importantes toxinfeções que
podem ser veiculadas pela carne e derivados estão: Clostridium perfringens, Staphylococcus aureus,
Escherichia coli – destacando-se as cepas enterohemorrágicas 0157:H7 e, mais recentemente, os Príons.
APÊNDICE
Tabela 2 - Níveis de bactérias em carcaças e águas colhidas em diferentes pontos do abate de frangos
Tabela 3 - Disseminação de uma cepa de E. coli marcada durante o abate de frangos portadores da
bactéria externamente (tegumentos cutâneos) ou no trato digestivo (internamente)
(a) média Log10 UFC/Carcaça; (b) Nº de amostras positivas/examinadas; (c) 1º tanque; (d) 2º tanque
Adaptado de: Almeida & Silva. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 1992.
Tabela 4 - Disseminação de uma cepa de E. coli marcada durante o abate de frangos portadores da
bactéria externamente (tegumentos cutâneos) ou no trato digestivo (internamente).
Carcaças após
• Escaldamento 0/5 3/5
• Depenação 3/5 2/5
• Evisceração 4/5 1/5
• Resfriamento 4/5 1/5
Superfícies
• Correias transportadoras 2/2 2/2
• Dedos da depenadora 1/1 3/3
• Extrator de vísceras 1/1 2/2
2/2 2/3
• Luvas de manipuladores
0/1 0/2
• Mesa de embalagem
Água de escaldamento 0/3 1/3
Água de resfriamento 1/3 0/3
Adaptado de: Almeida & Silva. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 1992.
Tabela 5 - Efeito da imersão das aves em água quente, antes do escaldamento, na redução da
contaminação bacteriana final das carcaças
Temperatura (ºC)
Água de imersão UFC / Carcaça Redução em Log10
45 – 50 ºC 7,98a 0,1
54 ºC 7,56 0,5
65 ºC 7,84 0,2
74 ºC 7,80 0,2
Controle 8,04
(a) Média Log10 UFC de bactérias aeróbias totais por carcaça ou g.
Adaptado de: Almeida & Silva. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 1992.
Tabela 6 - Percentagem de contaminação das mãos e equipamentos por Salmonelas nas várias fases do
abate de bovinos
ESFOLA DO DIENTEIRO 72 93 - 80
ESFOLA VENTRAL 60 65 30 46
ESFOLA DO TRAZEIRO 40 80 22 31
REMOÇÃO DA PELE 40 - 28 30
REMOÇÃO DA CABEÇA 52 55 - 54
AMARRIO DO RETO 50 65 - 60
Microrganismos Contaminação*
Mesófilos 100,0 %
Psicrotróficos 42,3 %
Bolores e leveduras 19,2 %
Coliformes totais 73,1 %
Estafilococos coagulase positiva 3,8 %
Salmonella sp. Ausente
Tabela 9 - Efeito do tratamento de carcaças de frangos com ácido fosf6rico, durante o processo de
resfriamento, na redução da contaminação bacteriana
a
Média de duas repetições. Log 10 UFC/Carcaça
b
Nº de amostras positivas/examinadas.
NR = Não realizado.
Adaptado de: Almeida & Silva. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 1992.
Tabela 10 - Microrganismos presentes na superfície do TENSOR FASCIAE LATEAE bovino (maninha)
após tratamento com ácidos orgânicos e armazenagem em câmara fria (7 ± 2ºC)
Tabela 11 - Perfil de 85 manipuladores de alimentos do Município de São Paulo (Março A Julho 1997)
CARACTEÍSTICA RESULTADOS
Fonte: Picone. In: IV Cong. Nac. Hig. Alim., Olinda, PE, 1997.
Tabela 12 - Alterações em carnes e derivados produzidas por microrganismos