RESUMO DO ARTIGO PARÂMETROS DE QUALIDADE DE CARNES
E PRODUTOS CÁRNEOS: UMA REVISÃO.
A bovinocultura é um dos destaques do agronegócio brasileiro, de
acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo e o consumo de carne bovina no país é o segundo maior, perdendo apenas para o consumo de aves. Ademais, seu consumo é influenciado por fatores econômicos e comerciais, como o preço e a qualidade. A carne bovina é composta principalmente por tecido muscular estriado esquelético, representando de 35% a 65% do peso das carcaças. Além disso, também contém tecidos conjuntivos, epiteliais e nervosos. Em termos de composição química, a carne contém umidade (65% a 80%), proteína (16% a 22%), gordura (3% a 13%) e carboidratos (cerca de 1%), além de minerais como ferro, zinco, cobre, fósforo, potássio e magnésio.
A carne contém três grupos principais de proteínas: miofibrilares,
sarcoplasmáticas e do estroma. As proteínas miofibrilares são responsáveis pela estrutura muscular, textura e maciez da carne. As proteínas sarcoplasmáticas contribuem para a cor da carne e desempenham funções metabólicas. As proteínas do estroma, como o colágeno, estão nas estruturas conjuntivas e afetam a resistência e elasticidade da carne. A composição proteica varia de acordo com a espécie, corte e processamento da carne
Pós abate ocorre o processo de conversão do músculo em carne, as
meias carcaças bovinas geram diferentes tipos de cortes cárneos que podem ser comercializados inteiros, porcionados ou como matéria prima para derivados. A carne pós abate passa por diversas transformações químicas que podem ser agrupadas em três fases: pré-rigor mortis, rigor mortis e pós-rigor mortis. O pré-rigor é caracterizado pela glicólise ativa, que leva à acidificação da carne devido à conversão do glicogênio em ácido lático. O rigor mortis é o enrijecimento do músculo devido ao esgotamento das reservas energéticas, e a fase de pós-rigor é quando a carne retorna à flexibilidade devido à atuação de enzimas endógenas. Durante essas fases, ocorrem alterações na qualidade e nas propriedades funcionais da carne.
A qualidade da carne bovina envolve diferentes aspectos, como a
qualidade visual, gustativa, nutricional e os parâmetros de segurança. Os consumidores buscam produtos seguros e com boa qualidade sensorial. A vida útil da carne é determinada por propriedades como cor, carga microbiana e sabor. Vários fatores, como temperatura, oxigênio, enzimas, luz e micro- organismos, influenciam a qualidade da carne e sua vida útil. A oxidação da cor é um exemplo de alteração físico-química que pode ser potencializada pela ação de micro-organismos
A carne e os produtos cárneos são facilmente contaminados por micro-
organismos durante a produção, exigindo cuidados desde a produção até a comercialização para garantir a segurança alimentar. A contaminação da carne ocorre principalmente durante o abate e o processamento, devido a fontes como facas, panos, mãos dos trabalhadores e equipamentos. O ambiente de processamento de carne não é estéril, tornando a contaminação inevitável. Condições higiênico-sanitárias adequadas e o cumprimento das exigências legais são fundamentais para a produção e comercialização de carnes seguras e de qualidade. A contaminação por micro-organismos deteriorantes durante a produção afeta a velocidade de deterioração da carne, enquanto os micro- organismos patogênicos devem estar ausentes para evitar doenças. A legislação brasileira estabelece a ausência de Salmonella spp. em 25g de carne. Embora seja importante monitorar os micro-organismos deteriorantes na carne bovina, não há um padrão recomendado pela legislação brasileira
Os principais gêneros de micro-organismos deteriorantes em carnes são
Pseudomonas, Moraxella, Acinetobacter e Aeromonas. Esses micro- organismos se desenvolvem na carne devido às condições favoráveis, como alta atividade de água, pH próximo à neutralidade e alto teor de nutrientes. A contaminação ocorre a partir do ambiente e da manipulação durante o abate e processamento.
A presença desses micro-organismos resulta em alterações na cor, odor
e sabor da carne. O crescimento excessivo de mesófilos na carne, acima de 107 UFC/g, indica deterioração e compromete os atributos sensoriais. A quantidade elevada de micro-organismos pode levar ao esgotamento de glicose na carne, resultando na utilização de aminoácidos como fonte de energia e na formação de metabólitos que causam odor e sabor desagradáveis. A deterioração também leva à formação de limo superficial devido à produção de polissacarídeos por bactérias. Além disso, podem ocorrer alterações na cor da carne devido à produção de metabólitos microbianos. Pseudomonas é uma das espécies que cresce mais rapidamente em carnes refrigeradas e armazenadas em aerobiose.
A segurança dos alimentos é um desafio para a indústria e outros
setores da cadeia produtiva, devido aos surtos de doenças transmitidas por alimentos contaminados. A contaminação da carne pode ocorrer durante o processamento, como na manipulação durante o corte de bifes. A manipulação inadequada da carne representa um risco para a saúde pública, tanto para quem a manipula quanto para os consumidores. A Salmonella spp. e o Staphylococcus são exemplos de micro-organismos patogênicos que podem contaminar a carne através de utensílios, equipamentos e manipuladores. A manipulação também pode causar contaminação por micro-organismos deteriorantes. Estudos demonstram que a manipulação é uma fonte significativa de contaminação, tanto por patógenos quanto por micro- organismos deteriorantes, e condições precárias de manipulação e comercialização de carnes representam riscos para a veiculação de micro- organismos patogênicos
Os micro-organismos indicadores, como os coliformes, são utilizados
para avaliar a qualidade higiênico-sanitária de alimentos durante o processamento, produção e armazenamento. Os coliformes, representados por gêneros como Enterobacter, Citrobacter, Klebsiella e Escherichia, são comumente encontrados em carnes e podem indicar a presença de contaminação. A detecção de coliformes em alimentos não necessariamente indica a presença de micro-organismos patogênicos, mas a presença de coliformes termotolerantes sugere condições propícias para a contaminação e proliferação desses micro-organismos. Estudos têm mostrado a presença de coliformes em carnes comercializadas, indicando a necessidade de melhorias nas condições higiênico-sanitárias. Por exemplo, a carne de sol comercializada apresentou alta incidência de coliformes, mesmo após processamentos como a salga. Análises realizadas em carne bovina moída em São Luís-MA também encontraram altas contagens de coliformes totais e termotolerantes
A carne de qualidade é valorizada pelo consumidor devido às suas
características organolépticas, como cor, retenção de água, textura, odor e sabor. A cor da carne é influenciada principalmente pela mioglobina, mas também por outras proteínas heme. A formação e controle da cor da carne envolvem reações de oxidação, oxigenação e redução da mioglobina, além de fatores como pH, composição gasosa, pressão de oxigênio e condições de armazenamento e processamento. Diferentes formas da mioglobina determinam a cor da carne.
A cor ideal da carne é um vermelho brilhante, associado ao frescor,
quando há altas pressões de oxigênio. Em condições de ausência de oxigênio, a carne apresenta uma coloração púrpura devido à predominância da deoximioglobina. Baixas pressões de oxigênio podem levar à formação de um pigmento amarronzado chamado metamioglobina, que é considerado uma deterioração da carne.
Vários fatores afetam a cor da carne fresca, como condições pré-abate,
tipo de músculo, crescimento bacteriano, temperatura e luz. Além disso, substâncias adicionadas durante o processamento podem influenciar a cor da carne. O pH é um parâmetro importante para avaliar a qualidade da carne, influenciando suas propriedades funcionais, sensoriais e o crescimento de micro-organismos.
A Capacidade de Retenção de Água (CRA) é uma propriedade
fundamental para a qualidade da carne, tanto para o consumo como para o processamento. A CRA está relacionada com as interações entre proteínas e água, sendo influenciada pelo pH da carne. A perda de peso durante o armazenamento e a cocção da carne são parâmetros indiretos da CRA e afetam a qualidade e o rendimento da carne. Esses aspectos físico-químicos e propriedades funcionais das proteínas miofibrilares são importantes para entender a qualidade da carne e influenciam diretamente sua utilização e aceitação pelo consumidor.
Portanto, a qualidade da carne bovina é influenciada por vários fatores,
incluindo a composição química, as transformações bioquímicas pós-abate e a presença de micro-organismos. A garantia da qualidade e segurança da carne bovina é fundamental para atender às exigências dos consumidores e manter a competitividade do agronegócio brasileiro