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Conto Budista 7

Os Nobres Sem Teto “Sharihotsu, Mokuren”

Entre os discípulos de Buda se encontrava Sharihotsu. Seu tio, seu pai e


também sua mãe, todos eram pessoas muito inteligentes. Principalmente sua mãe
Shari, era muito inteligente. O nome “Sharihotsu” significa filho de Shari.
Sharihotsu, por sua vez, alem de gostar de estudar, também era muito
inteligente. Aos oito anos de idade já havia aprendido quase todas as doutrinas
existentes na Índia. As pessoas diziam a seu respeito:
Fisicamente é menor que as outras pessoas, mas em compensação, tudo que se
pergunta ele sabe.
Sharihotsu tinha um grande amigo, chamado Mokuren que também era muito
inteligente e gostava de estudar. Os dois sempre estudavam juntos. Os professores
de todo o país já não tinham mais o que lhes ensinarem.
Quando completaram 15 anos, já eram mestres que ensinavam a mais de
250 discípulos.
Mesmo assim, tanto Sharihotsu como Mokuren, procuravam se aprofundar
cada vez mais nos estudos.
Certo dia Sharihotsu deparou com um monge chamado Meshou. Meshou era
um dos primeiros cinco discípulos de Buda.
Além disso, era um discípulo que em tudo se espelhava no Mestre Buda.
Seja para sentar, andar, comer ou falar, era uma cópia fiel de seu Mestre.
Sharihotsu ao ver Meshou tão respeitoso, comedido e sereno, perguntou:
Estou maravilhado com todos os seus gestos. Que tipo de iluminação possui?
Quem é seu mestre?
Meshou respondeu:
Não possuo nenhuma iluminação. Eu apenas estou praticando exatamente
como meu Mestre Buda, pratica.
Sharihotsu perguntou novamente.
Que tipo de ensinamento Buda prega?
Meshou torna a responder:
O ensinamento de Buda é imensurável e profundo, portanto eu não sou capaz
de lhe ensinar. Mas sei que Buda prega a respeito da causa do nascimento e morte
de tudo.
Ao ouvir isso, no interior de Sharihotsu acendeu uma chama que despertou-
lhe uma forte emoção,pois era o ensinamento que durante toda vida buscara.
Sharihotsu foi correndo contar a Mokuren.
Dessa forma os dois se tornaram discípulos de Buda. Sharihotsu era o mais
sábio entre eles e Mokuren era dotado de poderes divinos.
Certa vez Sharihotsu e Mokuren ficaram ouvindo os ensinamentos até tarde
da noite. De repente disseram:
- Vamos procurar alguma casa que possa nos hospedar para dormir.
Dizendo isso foram entrando na vila. Só que em cada casa que iam, ouviam:
- Na minha casa já estão posando muitos monges. Não há lugar para mais
nenhum.
Não encontrando onde pousar, Sharihotsu pousou embaixo da marquise de
uma casa e Mokuren embaixo de uma árvore.
Os dois disseram:
É exatamente como Buda prega. Não tendo apego, em qualquer
circunstância, não reclamará nem sentirá insatisfação. Ao contrario sente-se
confortável. Nossa como é bom!
No dia seguinte, um fiel que ia visitar Buda, quando passou pela vila e viu
Sharihotsu e Mukuren “sem teto” ficou abismado. Pois quem estava pousando sem
teto, expondo-se ao vento e a chuva era nada menos que os mais notáveis
discípulos de Buda.
O fiel ainda pensou:
- Que tipo de discípulos são os demais que, permitem tão nobres monges
flagelarem-se dessa forma. Se isso for permitido, dirão que os discípulos de Buda
não tem um pingo de educação, em relação aos mais velhos.
Os demais que estavam pousando dentro da casa. Todos saíram e
espantados viram o quanto tinham sido egoístas, pois sequer haviam se
preocupado com a hospedagem dos dois.
Sharihotsu e Mokuren, por sua vez tranqüilos, não faziam questão de
comida gostosa e nem tão pouco de um teto caloroso. Tiveram uma excelente noite
livre de quaisquer apegos.
Por isso contrariando a preocupação de todos que observavam, Sharihotsu e
Mokuren levantaram-se tranqüilamente e começaram a caminhar como se nada
tivesse acontecido.
Logo após Buda ficar sabendo desse acontecimento, reuniu todos os fieis e
discípulos e novamente ensinou-lhes detalhadamente como servir e respeitar os
mais velhos e os discípulos superiores.
Contos Infantis Budistas (Bukkyou Douwa).1994.Ed.Daihoukou.Konishi Senzui. p.26

Conto Budista 10
O Nobre Kassennen

Se desfazendo do orgulho

No sul da Índia havia um reino chamado Abantii. Neste reino vivia um rei milionário
e seus dois filhos. O filho mais velho que havia viajado por toda Índia a estudos
acabara de retornar. Todas as pessoas que participaram da palestra que este filho
mais velho ministrou saíram dizendo.
- Nossa, como ele se tornou sábio! Deve ter se tornado no homem mais sábio do
mundo!
Seu pai, orgulhoso de seu filho prodígio disse ao filho mais novo que se chamava
Narada:
- Estude bastante e torne-se como seu irmão.
Após ouvir estas palavras do pai, Narada subiu no púlpito de onde seu irmão
acabara de discursar. Dali repetiu todas as palavras do discurso sem nenhum erro.
As pessoas se assustaram.
Seu irmão mais velho o detestando por isso pensou:
- Como pôde ele assimilar perfeitamente em apenas uma vez o que demorei anos
para aprender? Se eu não acabar com ele certamente não terei minha vez neste
reinado.
O pai, percebendo este intuito do irmão mais velho, ordenou que Narada fosse
morar num outro reino na casa de seu tio por parte de mãe. Achou que assim,
Narada estaria protegido.
Este tio de Narada era o famoso profeta Ashita, que logo após o nascimento do
menino Buda, quando chamado pelo rei, pai de Buda, predisse “Este menino será o
Rei dos reis ou se tornará no Iluminado Buda” e que também ,após ter feito essa
previsão começou a chorar por saber que, pela sua idade, já não mais estaria vivo
quando o menino atingisse a iluminação.
Narada, ao lado do tio aprendia tudo que lhe era ensinado e logo não havia mais o
que aprender. Seu tio Ashita, momentos antes de falecer lhe disse:
- Logo em breve o mundo terá um Buda, o Iluminado. Quando isso acontecer quero
que imediatamente torne-se discípulo dele.
Porém, após o falecimento de seu tio, Narada assumiu seu posto no comando e
orientação das pessoas. Tornou-se respeitado e adquiriu muitas riquezas. Também
passou a se achar o maioral e que não havia ninguém que fosse mais sábio do que
ele. Havia se esquecido completamente das últimas palavras de seu tio.
Certo dia ficou sabendo que, nas paredes das ruínas de um castelo localizado no
meio do campo havia uma escrita considerada indecifrável por todos. Narada todo
orgulhoso disse:
- Me acompanhem. Iremos até esta parede e mostrarei a vocês como se lê o que
todos vocês chamam de indecifrável.
De fato, logo que chegou diante da parede Narada fez a leitura. Estavam escritas
três perguntas.
“O que é ser estúpido”? O que é ser sábio? O que é concluir as causas indiretas?
As pessoas exclamaram dizendo que Narada realmente poderia ser um iluminado.
Afinal acabara de demonstrar capacidade inigualável. Porém, surgiu alguém que
perguntou qual era a resposta daquelas perguntas.
Narada, apesar de ter conseguido ler, não soube responder.
Poderia até tentar, mas seria uma resposta incompleta. Afinal, um ser estúpido
visto por um mais estúpido ainda pode ser considerado um sábio. E um sábio visto
por outro sábio pode ser considerado um estúpido. Quanto ao concluir as causas
indiretas,não entendia nada.
Chegando ao seu limite, foi à procura da resposta. Visitou os considerados Seis
Grandes Mestres da época, mas ninguém soube lhe responder. Quando estava
quase desistindo lembrou de Buda. Daquele que seu tio havia lhe avisado que tão
logo atingisse a iluminação tornasse seu discípulo.
Buda, além de jovem com trinta e cinco anos havia atingido a iluminação apenas
há alguns dias. Narada pensou:
- Acho que nem vou perguntar ao Buda. Se os Seis Grandes Mestres da atualidade
não souberam responder, quanto mais este novato Buda.
Mas, logo repensou.
-Espere um pouco. Se eu, mesmo tão jovem, ao ouvir apenas uma vez o que meu
irmão havia pregado fui capaz de aprender é porque a sabedoria não depende de
idade. Acho que vou consultar o Buda.
Chegando ao Buda, tão logo fez as perguntas ouviu as respostas.

“Estúpido é aquele que vive em meio à tentação e não percebe.


Sábio é aquele que mesmo em meio às tentações é sereno.
E, concluir as causas indiretas,significa que, se independente de qualquer
circunstancia,acontecimento ou não, manter fé sólida no Darma Sagrado atingirá a
iluminação”

O inteligente Narada compreendeu o significado das respostas de Buda e sentiu-se


envergonhado pela sua tamanha arrogância. Logo em seguida suplicou ao Buda
que o torna-se seu discípulo e disse:
- Prometo que não deixarei mais me levar por nenhum tipo de orgulho.
Buda,após aceitá-lo como discípulo disse.
- Você compreende rapidamente os ensinamentos. Será respeitado como o Nobre
Kassennen e, em matéria de debate será o meu discípulo número um.

Contos Infantis Budistas (Bukkyou Douwa).1994.Ed.Daihoukou.Konishi Senzui. p.38

Conto Budista 9
Sharihotsu e seu Tio
O absoluto e não absoluto

Sharihotsu tinha um tio muito estudioso e inteligente que se chamava, Kutira. Era o
irmão mais novo de sua mãe. Sua mãe, por sua vez casou-se com um grande
estudioso chamado Tiisha.
Tinha hábito de debater com a mãe de sharihotsu. Às vezes conseguia convencê-la
de suas teorias e outras vezes era convencido. Porém, logo que se iniciou a
gravidez de Sharihotsu, seu tio nunca mais conseguia convencer sua mãe e sentia-
se derrotado todas as vezes que tentava debater. Imaginou ele;
- Não deve ser somente força da sua mãe. Certamente o bebê que está por nascer
é muito inteligente e, por essa virtude ela está tão fortalecida ! Quando este bebê
nascer eu não estiver mais inteligente que agora, certamente parecerei um idiota
na frente dele.
Após pensar dessa forma Kutira tomou uma decisão. Partiu rumo a uma longa
jornada e viagem de estudos. Como na época o bramanismo era a religião
predominante prometeu não voltar para casa e não cortar as unhas até aprender
todos os ensinamentos das Dezoito Grandes Doutrinas bramanistas.
Sua unha cada vez crescia mais. Cresceu tanto que as pessoas passaram a chamá-
lo de o Brâmane das Unhas Compridas. Depois de dezesseis anos ele retornou para
casa e perguntou;
- Onde está meu pai Matara e minha irmã Shari ?
- Os dois morreram
- Então, onde está o filho da minha irmã ?
- O filho da sua irmã nasceu e, em homenagem a sua mãe Shari, recebeu o nome
de Sharihotsu. Após ter aprendido todos os ensinamentos das Dezoito Grandes
Doutrinas bramanistas aos oito anos de idade, há pouco tempo partiu daqui para se
tornar discípulo de Buda.
Seu tio ficou totalmente desnorteado. Afinal, tudo que demorou uma vida toda para
aprender, seu sobrinho prodígio aprendera até os oito anos de idade. Também,
sentiu-se na responsabilidade de ir resgatá-lo. Achava que uma pessoa, como
Sharihotsu, com tanta capacidade, não precisaria se tornar discípulo de ninguém,
pois certamente não encontraria ninguém a sua altura.
Kutira disse;
- Buda deve estar enganado meu sobrinho. Só pode ser isso. Caso contrário meu
sobrinho não teria corrido atrás ele.
Dito isso saiu rumo a Oushadyou, onde Buda se encontrava. Ao chegar ficou
abismado ao ver o que seu sobrinho fazia. Viu seu sábio sobrinho abanando Buda
com grande leque oferecendo-lhe um pouco de vento para aliviar-lhe o calor que
fazia.
Kutira, não conseguia entender o porquê disso. Pensou um pouco e logo em
seguida desafiou Buda dizendo;
- Nobre Buda, por favor, aceite um debate comigo. Sei que o Senhor prega a única
e absoluta verdade. Porém, segundo meus estudos e praticas de dediquei durante
dezesseis anos, sei que não há nada neste mundo que possa se dizer que é
absoluto. Diga-me se estou correto ou não?
Buda serenamente respondeu.
- Você acabou de dizer que não existe nada absoluto neste mundo não é?
Pergunto-lhe então, você concorda com a absoluta inexistência do absoluto que
você mesmo acabou de negar ?
Kutira, estudou por dezesseis anos, debateu com incontáveis estudiosos e nunca
havia sido derrotado. Agora, está suando frio diante de uma simples pergunta de
Buda. Pensou;
- Se responder que concordo com a inexistência do absoluto, ainda assim, seria
uma afirmação da existência do absoluto. E, se responder que não concordo estarei
discordando do eu próprio disse. Depois de muito pensar respondeu;
- Não concordo e nem discordo.
Sendo assim, Buda perguntou novamente;
- Então se você não concorda nem mesmo com que você prega, irá se basear em
que para debater comigo? Seria o mesmo que uma pessoa que desconhece
totalmente os ensinamentos.
Kutira ficou sem palavras. Buda prosseguiu;
- Toda a existência é como você disse, é impermanente e se transforma
constantemente. Porém, se analisar, perceberá que existe uma causa para tudo
isso que vê como resultado da transformação. Tanto a alegria como a tristeza se
origina dessa forma. Portanto, se retroceder o processo dessa transformação, verá
que elas se originam dentro de nossos corações. Principalmente a tristeza e
sofrimento, se originam em nossa ignorância e estupidez. Por isso, se dedicar-se a
uma pratica que o afaste destas causas negativas receberá grandes bênçãos !
Kutira comoveu-se com a explicação delicada e convincente de Buda. Logo
percebeu que era a verdade que estava ouvindo. Não havia mais como se orgulhar
dos estudos que havia feito, nem mesmo duvidar das pregações de Buda.
Simplesmente disse;
- Por favor, torne-me seu discípulo também.
Buda, após ordená-lo monge, diante de todos elogiou-o;
- Dentre meus discípulo, Kutira é o que mais rápido compreende os ensinamentos.
Após isso as pessoas passaram a chamá-lo de Nobre Kutira.

Conto Budista 5
Buda Pai & Filho
Era a primeira vez que Buda voltava a seu país, depois de ter atingido a
iluminação. Rafula e sua mãe de longe observavam a aproximação de Buda. Seu
aspecto era belo e soberano.
Sua mãe lhe disse:
-Aquele é seu pai. Rafula era o filho de Buda. Rafula cumprimentou-o
respeitosamente e lhe disse:
-Por favor, meu pai, divida o que tem comigo.
Buda observou Rafula a sua frente por alguns instantes e disse:
-A única coisa que tenho são os ensinamentos. Por acaso deseja recebê-lo,
ingressar ao sacerdócio e levar a vida ascética?
Enquanto dizia isso Buda acariciava o cabelo de seu filho.
Logo em seguida Rafula emocionado respondeu.
-Sim, quero.
Buda solicitou ao seu discípulo Sharihotsu que preparasse toda a cerimônia de
ordenação. Preocupado com detalhes, Sharihotsu perguntou.
-Que tipo de cerimonial, como alojá-lo, seu traje, e alimentação, como deverão
ser?
Buda respondeu.
-Exatamente igual ao de todos os outros, não lhe dê nenhum tratamento especial
por ser filho meu.
E assim, tal como todos os outros, Rafula tornou-se sacerdote e discípulo de
Buda.
Certa vez, quando Rafula acompanhava Buda numa peregrinação pela cidade,
repentinamente foi golpeado violentamente por uma pessoa que era contra o
budismo. Rafula com a cabeça sangrando pensou: Que violência absurda, vou
encontrar a pessoa que me machucou, acabar com ela e toda sua família. Pensou
com tanta raiva que sua fisionomia era legível a qualquer um.
Buda abraçou-o e, limpando o sangue que escorria pelo seu rosto disse:
-Você já havia aprendido sobre isso, que ao adotar o sacerdócio passaria por todos
esses sofrimentos. Sabendo que tudo que faz e lhe acontece é em função da
expansão, deve fortalecer-se e com compaixão melhorar a cada dia.
-Rafula, apesar de não ter pensado realmente em revidar sentiu-se
envergonhado em ter sido tomado pela raiva da pancada. Rafula continuava sua
vida sacerdotal, mas ainda muito novo e inexperiente preocupava muito seus
companheiros.
Certo dia quando Buda voltou de uma missão solicitou a Rafula que pegasse
água do poço e lavasse os pés nela. Rafula ouviu e foi pegar a água. Foi quando
Buda perguntou-lhe.
-Pode usar essa água para beber?
-Não agora, após ter lavado os pés nela.
-Tem razão, mesmo tendo sido potável, uma vez usada já não se pode mais
beber. Então, use a bacia para comer.
Rafula respondeu:
-Eu não posso usar a mesma bacia para comer e beber.
-Tem razão também. Acabou de lavar os pés na bacia, não deve usá-la para
comer. Depois de ter colocado os pés na bacia e já não se pode usar para colocar
coisa limpa nela.
Dizendo isso, Buda chutou levemente a bacia de barro que, rodopiou e se
quebrou. Logo em seguida perguntou a Rafula se lamentava a bacia ter sido
quebrada.
Rafula respondeu:
-Não, ela estava suja e não servia para mais nada mesmo.
Buda completou:
-Isso mesmo. Agora pense comigo. Quando as pessoas vêm me procurar
você as engana sempre respondendo o lado oposto de onde estou. Está sendo
como uma bacia suja. Se sujando dessa forma, logo as pessoas não lamentarão
mais se quebrar.
Os ensinos que prego são proveniente da maior pureza que existe. Portanto,
deve tornar-se capaz de não manchá-lo, tanto de forma física, oral, como mental.
Se realmente não tornar-se sábio e indispensável aos outros, não terá se tornado
num verdadeiro discípulo de Buda.
Rafula que desde o inicio da conversa estranhava as perguntas de Buda,
agora sim compreendeu. Olhou novamente para a água suja e a bacia quebrada e,
percebeu que elas estavam representando ele mesmo.
Depois desse dia, Rafula nunca mais transgrediu sequer uma das tantas
regras estabelecidas por Buda, tornando-se, dentro de toda legião de monges no
“Praticante nº 1 dos Mandamentos”.

Ito,Nitigaku.Bukkyou Douwa (Contos budistas) Osaka : Ed.Daihoukou 1994. p.18

A História do monge “Shuri Handoku”

-Ouvir Muito e Agir-

Havia dois irmãos. O mais velho chamava-se Maka Handoku e era tão
inteligente que, para entender algo meia palavra bastava. Era capaz de descobrir o
resto. Tinha 500 discípulos e era chamado de professor Dairo.
Por outro lado seu irmão mais novo Shuri Handoku, também chamado de
Guro, era tão ignorante que mal conseguia decorar seu próprio nome. Shuri
significa pequeno, e Handoku, caminho. Mas as pessoas o chamavam mesmo era
de Guro.
O irmão mais velho, após ter aprendido as maravilhosidade dos
ensinamentos de Buda atravéz dos nobres discípulos de Buda Sharihotsu e
Mokuren,logo se tornou sacerdote.
Guro ficou sozinho em casa. Depois de muito pensar,resolveu buscar ajuda
do irmão,aclamado e respeitando por todos como mestre Dairo. Seu irmão o
recebeu e passou a orientá-lo.
Porém, a ignorância de Guro era a mesma de nascença. Não conseguiu aprender
nenhum ensinamento. Seu irmão que já não agüentava mais, lhe disse:
-Se não consegue cumprir o mínimo dos mandamentos, acho melhor ir embora.
Não permitirei mais que fique aqui. Vá agora! Guro saiu. Do lado de fora e
tristonho, enquanto estava em frente ao portão Buda passou, pegou-lhe a mão e
disse-lhe que cuidaria dele. Logo em seguida ordenou a Anan que fosse o seu
professor.
Tanto Anan como Guro se esforçavam o máximo. Mesmo assim, após três
meses terem se passado, Guro não havia aprendido uma palavra sequer. Anan
procurou Buda e lamentou ter que relatar.
-Mestre, não consegui.
Buda pegou a mão de Guro, levou-o até a entrada do templo, onde todos
tiravam os sapatos para entrar e disse:
-Limpe todos os sapatos das pessoas que aqui entrarem. Também, pegue uma
vassoura e varra as proximidades da entrada. E, sempre que encontrar as pessoas
ou estiver varrendo pronuncie o tempo todo:
“Eu espano a poeira, para limpar minha sujeira”
Neste templo entravam e saiam muitas pessoas. E a cada uma delas Guro
dizia:
“Eu espano a poeira, para limpar minha sujeira”.
Após tanto repetir as mesmas palavras,acabou aprendendo as. Também ao
mesmo tempo percebeu seu significado. Ou seja, de que a poeira e a sujeira,
representavam, o carma negativo impregnados em seu corpo, fala e mente. E que
o espanar significava que deveria se livrar desse mal.
Buda elogiou-o, e disse:
-Parabéns, a partir de hoje não mais será chamado de Guro, se chamará nobre
Shuri Handoku.
As pessoas pensaram a seu respeito :
-O que? Aquele idiota é nobre agora ?!
-Buda sempre diz que o Dharma é profundo, que compreender e respeita-lo
é muito difícil. Porquê, logo aquele ignorante se tornaria nobre?
Buda, com seus poderes divinos logo percebendo a insatisfação geral,
ordenou a Guro:
-Amanhã muitos monges e monjas se reunirão aqui, quero que profira o discurso
religioso a todos eles.
Agora sim era a prova de fogo. Justo Guro, que demorou para prender o
próprio nome e para um único ensinamento demorou três meses. Mesmo assim, ele
teria que transmitir o ensinamento diante de todos.
Dentre aqueles que iriam ouvir haviam aqueles que sentiram-se
ridicularizados. Aqueles que imaginavam preparar-lhe um assento tão bonito e
nobre que ele não se sentiria à vontade de sentar e sairia correndo. Também
haviam aqueles que planejavam bombardeá-lo de perguntas, com a intenção de
torturá-lo.
Por outro lado vejamos o que Guro pensava:
-Por que Buda que ao invés de pedir para outro discípulo mais inteligente, veio
pedir justo a mim. Porém, Guro não tem dúvida ou pretensão alguma. Afinal ele só
sabia um ensinamento. Portanto, transmiti-lo, era tudo o que tinha a fazer.
Chegou o grande dia, Guro, sem receio algum sentou sobre o assento
luxuoso e dali, proferiu.
“Eu espano a poeira, para limpar minha sujeira.
Esse ensinamento nos transmite que a poeira é o mal que está impregnado
em nossa mente, oralidade e expressões físicas. Espanando-os, ou seja, praticando
a fé e os ensinamentos de Buda de modo correto nos tornaremos “limpos” e
verdadeiramente iluminados.
Era a única coisa que ele sabia e também fazia.
Toda simplicidade, embutida na universidade do ensinamento que
transmitiu, comoveu as pessoas.
Não houve ninguém saísse durante a sua pregação, ou que fizesse alguma
pergunta.
Compreendendo que “Todos aprendizados se reúnem numa só pratica”,
reverenciaram respeitosamente e, em uma voz alta agradeceram dizendo:
-Muito obrigado. Nobre Shuri Handoku.

Bukkyou Douwa.1993.Ed.Daihoukousha.p.22
Conto Budista 8

Okyuji (Zelo) “Anan”

Anan era primo de Buda. Tornou-se discípulo de Buda junto com Daibadatta, seu
irmão mais novo que só aprontava e fazia os demais sofrerem por sua causa.
Anan era espontâneo, inteligente e, tal como Buda, tinha um semblante bem
delineado. Quando Buda completou 55 anos de idade, disse:
- Até hoje, muitas pessoas revezadamente me serviram. Todavia, devido aos
constantes rodízios, imagino que pela falta de costume tenham encontrado
dificuldades. Portanto, gostaria que uma determinada pessoa fizesse o meu auxilio
de modo constante.
Neste momento Mokuren disse a Anan:
- Anan. Gostaria que você se tornasse nesta pessoa que servirá constantemente o
nosso Nobre Mestre.
Para Anan, estar sempre junto ao Mestre Buda era motivo de imensa alegria.
Porém, não bastava estar apenas junto. Ele precisava anular-se para servir ao
Buda o máximo possível e compreender seus superiores também.
Essa função era considerada a mais primária de um monge e sua permanência
nesta função, implicaria na sua ascensão na hierarquia sacerdotal.
Anan respondeu:
- Se Buda me prometer três coisas. O servirei constante e alegremente. São elas:
1. Que Buda não me dê ou ofereça nenhum objeto.
2. Que ao Buda se servir numa mesa, que eu não possa me servir.
3. Por mais que eu esteja junto a ele de modo constante, que ele não me
odeie.
Mukuren transmitiu a Buda as condições de Anan. Buda as aceitou e assim, Anan,
aos 25 anos tornou-se o “Auxiliar” (Disha) constante de Buda.
Graças ao acompanhamento constante de Anan, pode-se dizer que ele ouviu todos
os ensinamentos de Buda. Também alem disso, graças a sua memória magnífica,
foi capaz de guardar cada palavra mencionada por Buda ser qualquer margem de
erro, tamanha era a sua força de concentração.
Certa vez, surgiu nas costas de Anan um grande furúnculo que o fazia sofrer muito.
Na Índia daquela época havia um famoso médico chamado Guiba, a quem Buda
pediu que fizesse uma cirurgia e curasse Anan da ferida nas costas.
No entanto, só de ameaçar tocar nas costas de Anan, já começava a doer. Desse
modo, Guiba disse a Buda que nada poderia fazer.
Buda sorriu e lhe disse o seguinte:
- Quando lhe fizer o sinal, de imediato trate o ferimento de Anan. Tenho certeza
que ele não ira se contorcer de dor. Logo em seguida,Anan, sem nada saber
sentou-se a frente de Buda.
Buda lhe disse:
Anan, olhe bem para os meus olhos e concentre-se apenas em ouvir minha
voz.
Buda fez o sinal para Guiba e iniciou a pregação de quanto o Darma Sagrado era
virtuoso e profundo. Guiba logo começou a cirurgia. Fez uma incisão no local da
ferida, extraiu todo o pus, passou o remédio. Costurou e concluiu a cirurgia.
Por outro lado Anan, ainda continuava atento, sem sequer piscar, ao ouvir
os ensinamentos de Buda.
Guiba anunciou:
- Nobre Buda terminei a cirurgia. Já esta tudo bem.
Foi quando Buda perguntou a Anan:
- Anan como vai a dor nas costas?
Anan assustou-se pois até agora pouco suas costas doíam tanto e agora não sentia
mais nada. Anan perguntou:
- O que aconteceu?
Buda alegremente respondeu:
- Sua fé o permitiu se concentrar tanto em ouvir os ensinamentos que o fez
esquecer da dor nas costas.
Quando Buda estava prestes a adentrar ao Nirvana, elogiou Anan da
seguinte forma:
- Anan, me serviu por muitos anos e nunca se serviu da mesma comida, também,
jamais desejou novos trajes. Quando não necessitava dele estava ausente, e
quando necessitei dele sempre esteve presente. Também nunca demonstrou apego
a qualquer objeto valioso. E, sempre que ouvia os ensinamentos, aprendia todos
eles logo na primeira vez.
Fez-me pergunta apenas uma vez. Foi quando o príncipe Ruri eliminou todo o Clã
Shaka. Foi a pergunta que fez às lágrimas:
- Diante de tamanha tragédia, como Buda pode manter-se tão sereno?
Soube compreender a mim e aos meus discípulos. Sem mesmo que eu
tivesse que me expressar compreendia meus sentimentos. Anan para mim é como
se fosse meu irmão mais novo.
Desta forma, por 15 anos Anan serviu e zelou constantemente de Buda. Por
isso permaneceu no mais reles grau sacerdotal.
Porem, graças a isso pôde aprender todos os ensinamentos de Buda, ser
lembrado e respeitado para sempre, como o discípulo “ Zelo nº1 ” de Buda.
Posteriormente, seguindo as orientações de Buda o nobre monge
Kashou,conduziu Anan à iluminação.
Graças a expressividade de seu Okyuji (zelo) ao Buda, foi incluído entre os
Dez mais Notáveis Discípulos de Buda.
Após o falecimento de Buda, liderou o primeiro movimento de compilação
dos Sutras por ter sido quem mais ouviu e, por ter uma memória infalível.
Também, com todo o cuidado e respeito, sempre iniciava a transmissão dos
ensinamentos de Buda com a seguinte frase: Assim eu ouvi. (NyozeGamon).
Tal frase demonstra o tamanho respeito e fidelidade que sempre prestou ao Nobre
Mestre Buda. Tal frase, também é famosa por constar no início dos Sutras Budistas
diferenciando-o das demais doutrinas.

Contos Infantis Budistas (Bukkyou Douwa).1994.Ed.Daihoukou.Konishi Senzui. p.30

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