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#5 O Amor é Paciente

Texto Bíblico: 1Co 13.1-4

É verdade que algumas partes da Bíblia são de difícil compreensão,


o que nos exige um estudo aprofundado das línguas originais. Contudo,
as porções que geralmente mais nos incomodam são exatamente aquelas
que entendemos. O texto que acabamos de ler é uma amostra de tal
realidade: o v. 4 simplesmente começa com a frase “o amor é paciente” e
a compreensão dele não exige de nós um grande labor interpretativo. Fica
claro diante de nós o que o Senhor exige de nós! Concomitantemente, o
complicado aqui é colocarmos em prática o que o texto afirma.

Irmãos, o amor que a Bíblia nos ensina a manter só pode ser vivido
mediante a capacitação do Espírito Santo. Paciência é uma virtude rara,
um verdadeiro dom de Deus a um coração regenerado. Os tempos
modernos tem nos tornado cada vez mais imediatistas: queremos os
resultados imediatamente! E aí do computador se ele trava! E aí da
pessoa do outro lado da rede se ela não responde a mensagem
imediatamente!

O amor é paciente. Um dos sinônimos de paciência em o Novo


Testamento é a palavra longanimidade. Ele traz consigo a conotação de
um ânimo longo, como a capacidade de sofrer por um longo período de
tempo. A própria expressão no original grego carrega este significado. O
amor é paciente pode ser também compreendido como “o amor sabe
sofrer por muito tempo”. Jonathan Edwards assim comenta este texto:

“Devemos perseverar e continuar em uma disposição calma, sem


cessar de amar nosso próximo, não apenas quando nos prejudica um
pouco, mas quando muito nos prejudica, e os danos que nos causa são
grandes. Assim, devemos suportar não apenas alguns poucos danos, mas
uma enormidade, e ainda que nosso próximo persista no seu tratamento
prejudicial para conosco por longo tempo. Quando se diz que a caridade
suporta por muito tempo, não podemos daí inferir que devemos suportar
os danos mansamente por uma temporada e que, após essa temporada,
devemos parar de suportá-los. O sentido não é que devamos, de fato,
suportar prejuízos por um longo tempo e, por fim, parar de suportá-los.
Mas é que devemos mansamente persistir em suportá-los, ainda que
perdurem por longo tempo, mesmo até ao fim. O espírito da
longanimidade nunca deve cessar”.

Precisamos amar com paciência, o que implica uma atitude de


contínua resignação e perseverança. Quem ama tem um ânimo longo, um
ânimo esticado ao máximo.

A paciência em destaque no texto não é aquela em relação às


circunstâncias, mas aquela em relação às pessoas. Contudo, não
precisamos ter paciência somente com os nossos inimigos, mas também
com nossos amigos. Ser paciente é ser tolerante, isto é, tratar as pessoas
com quem me relaciono sabendo que as mesmas são capazes de realizar
coisas que nos aborrecem e que isto pode ser recíproco, pois somos todos
pecadores.

A Bíblia nos chama a exercitar a paciência em muitos e muitos


textos. No livro de Provérbios, por exemplo, a paciência é retratada como
uma virtude mais excelente do que algum tipo de habilidade bélica:

• “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que


domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32)

• “O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo


precipitado exalta a loucura” (Pv 14.29)

• “Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio; melhor é o


paciente do que o arrogante” (Ec 7.8)

Tal estímulo para uma vida paciente também ocorre em o Novo


Testamento:

“Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos,


consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para
com todos” (1 Ts 5.14).
Quando a Bíblia nos ordena sermos pacientes, ela tão somente exige
de nós que imitemos o caráter de Deus. A paciência é um dos aspectos
fundamentais do caráter de Deus; tanto que a nossa própria salvação
depende dela.

“Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e


longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao
arrependimento?” (Rm 2.4)

“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam


demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo
que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe
3.9)

Deus não nos trata com parcialidade e tampouco nos condena


arbitrariamente por nossa falta de paciência, sem antes nos oferecer uma
oportunidade de arrependimento. Já temos experimentado desta
paciência do Senhor para conosco! Paulo chama esta paciência de
“completa longanimidade” do Senhor Jesus Cristo!

Todavia, já sabemos destas verdades. E também reconhecemos quão


impacientes somos! O autor John Sanders, em seu livro O Fruto do
Espírito, traz algumas perguntas inquietantes: “Por que o pneu teima em
murchar exatamente quando estamos atrasados para um compromisso?”
“Por que o aspirador de pó para de funcionar exatamente quando
estamos para receber visitas”. E a pergunta mais importante dentre estas:
“Por que ficamos tão infelizes e frustrados quando isto acontece?”

Teríamos outras perguntas para colocar nesta lista, não é? Por que
colocaram no meu quarto uma pessoa tão bagunceira (ou tão fanática por
limpeza)? Por que a pessoa mais difícil para eu me relacionar foi
promovida a um cargo de liderança em meu emprego? Em um nível mais
sério: Por que algumas pessoas que aparentemente mais precisam de uma
grande mudança espiritual não estão abertas à obra do Espírito Santo em
suas vidas? Vamos lá, sinceramente este é um clamor que intimamente
pulsa em nós: “Por que Deus não se apressa e coloca tudo em ordem no
mundo?”.
Os coríntios tinham em mente também este tipo de pergunta. Eles
eram bem rápidos em julgar (ao ponto de Paulo lhes dizer: “nada
julguem antes do tempo”, 1Co 4.5), mas lentos em aguardar o agir do
Espírito Santo neste mundo cansativo.

I. UM ATRASO QUE CUSTOU CARO


Ler João 11.1-6

A história começa com um homem doente. Na cidade de Betânia, Lázaro,


irmão de Marta e Maria, estava com uma enfermidade fatal. No v. 3,
lemos mais do que uma comunicação sobre o estado de uma pessoa:
trata-se de um pedido de socorro. Marta e Maria queriam que Jesus
largasse tudo o que ele estava fazendo e corresse logo em direção ao seu
irmão.
Diante de uma situação urgente, Jesus pronuncia uma palavra que pode
soar como uma amostra de indiferença. No v. 6, temos o clímax do trato
de Jesus em relação ao caso: “ainda se demorou dois dias no lugar onde
estava”. Bem, não seria isto que eu esperaria de Jesus diante de um
cenário tão crítico. Neste meio tempo, Lázaro morreu. Notemos o v. 14,15:
Jesus diz estar plenamente satisfeito com a forma como as coisas
aconteceram.

Se eu presenciasse a cena e as palavras de Jesus, certamente ficaria


confuso. A reação que eu gostaria que Jesus tivesse seria outra: pressa,
prontidão, afinal, um amigo estava prestes a morrer. João 11 parece com
aqueles filmes de suspense em que um dos personagens parece demorar
tanto diante do perigo que gritamos para ele através da tela, esperando
que ele se apresse!

Quando Jesus chega até Betânia (v. 20), há duas reações em relação a
Jesus: Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou em casa
(possivelmente pensando em tratar Jesus com frieza). O diálogo do v. 21
evidencia a impaciência de Marta: uma mistura de fé com
desapontamento.
Jesus não tem pressa alguma. Suas palavras revelam amor e paciência.
Apesar de todo sentimento das irmãs de Lázaro que estavam tomadas
pelo desespero, Jesus está calmo, sereno, paciente, ao tratar a situação. No
v. 32, Maria revela o que está em seu coração, que era bem parecido com
o que Marta também acreditava.

O Senhor, comovido por tamanha tristeza, que envolvia todo aquele


ambiente, perguntou pelo lugar onde Lázaro estava sepultado. Quando
ele chega à gruta, Jesus pede que a pedra seja retirada. Marta, pensando
que Jesus havia chegado tarde demais, hesita em um primeiro momento,
mas ao ouvir as palavras de Jesus seu coração enche-se de fé. Ao final, o
milagre acontece: um homem morto a quatro dias levanta-se da
sepultura, com o rosto coberto por um lenço e com as mãos cheias de
faixas. Irmãos, os aparentes atrasos de Cristo, são na verdade os atrasos
do amor.

II. A PACIÊNCIA AMOROSA DE JESUS


Esta passagem nos mostra a paciência amorosa de Jesus. Em três termos
e baseados neste texto, gostaria que anotássemos por quais motivos
devemos ser pacientes uns com os outros em amor:

Deus Está no Controle: Na perspectiva de Marta e Maria, tudo estava fora


do controle. Um irmão doente ao ponto de morrer e Deus se atrasando,
parecendo estar ocupado demais para dar atenção aos seus problemas.
Quando as coisas saem do nosso controle, ficamos impacientes: pessoas
preguiçosas e incompententes, filhos que não aprender os valores
ensinados pelos pais e adolescentes que reclamam por que os pais não
deixam eles fazer o que desejam. Ficamos impacientes com nossos amigos
quando seus interesses não combinam com nossos planos. Quando outras
pessoas deixam de atender nossas exigências de eficiência e/ou nossas
prioridades, ficamos frustrados. E mais do que isto: tentamos fazer o
papel de Deus na vida dos outros.

Em tudo isto, na verdade, estamos frustrados com o cronograma de Deus.


Nossa impaciência com os outros é a nossa impaciência contra Deus. João
11 nos ensina que Jesus está no controle total: nada foge dos seus planos.
A impaciência é como uma erva daninha que deixa Deus fora de nosso
raciocínio. Ainda que não saibamos como esta história irá desenvolver-se,
podemos crer que Deus ela é resultado do amor de Cristo e é controlada
por Ele.

Deus Está Trabalhando: Deus não é um rejoloeiro cósmico que deu


cordas ao universo e o entregou á sua própria sorte. Ele trabalha, fazendo
algo bom para seu povo. Todos os acontecimentos em João 11 são
dirigidos pelo mesmo objetivo: a glória de Deus (v. 4, 40). Deus está
sempre trabalhando para a sua glória. Trabalhando em seus discípulos,
para que eles cressem em sua glória; trabalhando na vida de Marta,
ensinando a ela sobre a ressurreição. Ela pensava que não era aquele o
momento adequado para que um milagre deste tamanho acontecesse,
mas o Senhor a ensinou e demonstrou sua glória. Jesus estava
trabalhando na vida de Maria, na vida das pessoas enlutadas que
acompanhavam a visita de Jesus ao túmulo de Lázaro.

Deus está sempre trabalhando. Fazendo coisas extraordinárias e também


realizando coisas ordinárias. Existem muitas maneiras de Deus cumprir
seu propósito

Sofredores, Mas Ainda Assim Amados: O fato de Deus estar no controle e


trabalhando não nos livra das situações complicadas. Em João 11, vemos
tudo o que produz sofrimento em nós: doença, morte, aflição, desespero.
Jesus chora ao ver a situação. Jesus poderia ter curado Lázaro a distância,
mas não o fez. Era necessário o atraso, para que a paciência de todos fosse
exercitada.

O atraso de Jesus teve um preço muito alto, mas o amor espera. Deus
controla soberanamente todo o universo. Cuida das nossas emoções, trata
com a nossa alma. O amor é paciente. Jesus ama pacientemente e seus
aparentes atrasos são os atrasos de amor.

John Piper, famoso escritor evangélico, além de pastor conceituado,


afirma sobre a impaciência: “A impaciência é uma forma de
incredulidade.” É o que começamos a sentir quando duvidamos da
sabedoria do tempo de Deus ou da bondade de sua orientação. Ela surge
em nossos corações quando o nosso plano é interrompido ou destruído
Não é a história de todo mundo que termina tão bem nesta vida.
Benjamin Warfield foi um teólogo mundialmente renomado, que ensinou
no Seminário de Princeton por quase trinta e quatro anos, até a sua morte
em 16 de fevereiro de 1921. Muitas pessoas estão cientes de seu livros
famosos, como A Inspiração e Autoridade da Bíblia. Mas o que a maioria
das pessoas não sabe é que, em 1876, com a idade de vinte e cinco anos,
ele se casou com Annie Pierce Kinkead e saiu em lua de mel para a
Alemanha. Durante uma violenta tempestade, Annie foi atingida por um
raio e ficou permanentemente paralisada. Depois de cuidar dela por
trinta e nove anos, Warfield a enterrou em 1915. Por causa de suas
necessidades extraordinárias, Warfield raramente deixava sua casa por
mais de duas horas, durante todos esses anos de casamento.

Ao comentar Rm 8.28(“sabemos que todas as coisas cooperam para o bem


daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito”), ele diz: “O pensamento fundamental é o governo universal de
Deus. Tudo o que vem até você está sob a mão controladora dele. O
pensamento secundário é o favor de Deus para com aqueles que o amam.
Se ele governa tudo, então, nada, exceto o bem, pode acontecer àqueles a
quem ele faria o bem .... Embora sejamos muito fracos para ajudar a nós
mesmos, e cegos demais para pedir pelo que precisamos, e possamos
apenas gemer em anseios informes, ele é o autor em nós desses mesmos
anseios ... e ele governará assim todas as coisas para que colhamos apenas o bem
de tudo os que se abater sobre nós“.

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