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Considerações Sobre A Experiência Brasileira Do Orçamento PDF
Considerações Sobre A Experiência Brasileira Do Orçamento PDF
Sérgio de Azevedo1
que, em sociedades complexas como a brasileira, a participação política não pode se limitar
somente aos canais institucionais de representação (direito de votar e ser votado), mas exige
cidadania.
do início dos anos 1990 em um grande número de municípios brasileiros. Na primeira seção,
diversas potencialidades desse novo instrumento de política pública, que tem mostrado grande
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Trabalho apresentado no Seminário Cidade, Democracia e Justiça Social: os desafios para o exercício da
cidadania política nas sociedades modernas. Promoção FASE / Observatório (IPPUR/UFRJ) e Fundação Rosa
Luxemburg, Rio de Janeiro, 27-28 nov. 2003.
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surgimento de novas práticas de organização do poder no âmbito local, em que passa a ser
políticas públicas.
É nesse contexto que, a partir do final dos anos 1980, ganha visibilidade nacional a
política de Orçamento Participativo com a experiência de Porto Alegre (Fedozzi, 1999). Essa
prática logo se espalhou para diversas capitais, atingindo tanto as chamadas administrações
populares, capitaneadas pelo Partido dos Trabalhadores – Belo Horizonte, Vitória, Brasília,
Participativo possuem alguns pontos comuns. Normalmente, o processo tem início com a
uma das regiões tradicionais da cidade. Os moradores são então informados sobre a
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Sérgio de Azevedo (sazevedo@uenf.br) é professor titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense
(UENF) e consultor ad hoc no Observatório de Políticas Urbanas da Região Metropolitana de Belo Horizonte da
PUCMINAS.
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Ainda que Porto Alegre se apresente como o grande impulsionador da idéia do Orçamento Participativo,
estudos recentes indicam que Olívio Dutra, primeiro prefeito do Partido dos Trabalhadores a implantar esse
projeto naquela cidade, ter-se-ia inspirado em programa análogo, denominado “A Prefeitura nos Bairros”,
desenvolvido no início da década de 1980, durante a primeira administração de Jarbas de Vasconcelos na cidade
de Recife. Ver, a respeito, Melo (2000).
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Para um balanço geral de algumas dessas experiências em diversas cidades brasileiras ver, entre outros,
Carvalho e Miller (1991); Faria (1996); Somarriba e Dulci (1997); Avritzer (2000); Boschi (1999); Fadul (2000);
Teixeira et al. (2003); Ribeiro e Grazia (2003); ETAPAS (2003).
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uma ou mais assembléias para a seleção das demandas da sub-região e a escolha dos
Fórum Regional, em que definem uma ordem de prioridades das demandas de serviços e
ainda realizada a escolha dos membros que irão representar cada região na Comissão ou
será encaminhada à Câmara dos Vereadores para apreciação dos parlamentares. Pode-se dizer
que o Fórum Municipal é um evento de cunho político, no qual culmina todo o processo5.
a fim de garantir a aprovação da maior parte das obras e serviços pactuados durante o
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Em alguns municípios, os delegados regionais, antes de deliberarem, participam de “visitas” ou “caravanas de
prioridades” aos locais onde deverão situar-se os pleitos formulados, para que possam dispor de uma visão mais
abrangente e comparativa dos problemas da região.
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Na maioria das grandes metrópoles, logo após a realização do Fórum Municipal, são acionados mecanismos
(jornais, “feiras culturais”, assembléias etc.) voltados para difundir nas diversas regiões das cidades a versão
final do Orçamento, encaminhada, pelo Executivo, à Câmara de Vereadores.
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discutir questões mais amplas da cidade. Os participantes iniciam o processo com uma visão
micro (a casa, a rua e, no máximo, o bairro) e uma pauta maximalista (demandando todas as
necessidades básicas); paulatinamente, com o desenrolar do processo, passou a ter uma visão
defender, portanto, uma pauta viável. Em suma, ocorre um aprendizado da política como
abrindo mão – pelo menos reduzindo consideravelmente o exercício do seu poder de veto às
com as práticas clientelistas. Tanto é assim que nas municipalidades onde o Orçamento
Participativo tem sido adotado regularmente até mesmo políticos de tradição clientelista vêm
percebendo que contrapor-se a ele resulta em expressivo ônus político (Azevedo e Anastasa,
2002).
Participativo.
“capturar” o Orçamento Participativo, pois o “novo” sempre vem, em maior ou menor grau,
misturado com o “velho”. Os políticos de corte clientelista e os grupos que possuem controle
sobre algum tipo de recurso estratégico procuram, por vezes, atuar no sentido de adaptar
Ressalte-se que mesmo alguns dos “novos atores” que surgem com o Orçamento
perspectiva analítica – poderiam ser denominados “neoclientelistas”. Essa tem sido, entre
outras, uma das razões pelas quais, mantida sua essência, esse formato vem sofrendo
vêm introduzindo “correções de rumo” nos regulamentos que balizam sua elaboração.
atual processo público de licitação que atrasa as obras; a baixa participação da “classe média”
(apesar dos avanços nos dois últimos anos), que se sente sem condições de disputar
pequenas obras pulverizadas (muitas prefeituras optaram por não incluir os projetos
despesas de custeio da máquina pública municipal, não é grande o volume de recursos cuja
públicas voltados para a realização das obras não têm desempenhado, muitas vezes, sequer o
disponibilizadas foram relativamente baixos para o porte das respectivas cidades, não
Embora se reconheça que a efetividade de uma política desse tipo pode ficar
necessário matizar essa questão, pois os ganhos dessa prática ultrapassam em muito o simples
acesso a bens públicos de primeiro nível. Cabe lembrar que, ao instituir uma arena pública
Em suma, por meio do Orçamento Participativo, a política pública deixa de ser vista, e
incorporar uma dimensão deliberativa, que abrange também a formação e a transformação das
2002).
4. Referências bibliográficas
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