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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0433.13.018687-0/002 Númeração 0186870-


Relator: Des.(a) Furtado de Mendonça
Relator do Acordão: Des.(a) Furtado de Mendonça
Data do Julgamento: 27/02/2018
Data da Publicação: 12/03/2018

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO QUALIFICADO E


HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO - RECURSO DEFENSIVO -
PRELIMINAR - NULIDADE PROCESSUAL - CERCEAMENTO DE DEFESA -
DEPOIMENTO SIGILOSO - PRELIMINAR REJEITADA - MÉRITO -
CASSAÇÃO DO JULGAMENTO - DECISÃO MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA ÀS PROVAS DOS AUTOS - INOCORRÊNCIA - DECOTE DAS
QUALIFICADORAS - IMPOSSIBILIDADE - SENTENÇA MANTIDA -
RECURSO DO SEGUNDO APELANTE - RECONHECIMENTO DA
CONTINUIDADE DELITIVA - NÃO CABIMENTO - REDUÇÃO DA PENA-
BASE - POSSIBILIDADE PARA AMBOS OS ACUSADOS - RECURSO
MINISTERIAL - REDUÇÃO DA FRAÇÃO DA TENTATIVA - NECESSIDADE.
RECURSOS PROVIDOS EM PARTE.

- Não há que se falar em cerceamento de defesa, se os recorrentes tinham


ciência de todas as provas coligidas ao caderno processual.

- A cassação de veredicto popular ao argumento de ser manifestamente


contrário às provas dos autos somente é admitida quando for a decisão
"escandalosa, arbitrária e totalmente divorciada do contexto probatório".
Inteligência da Súmula 28 deste Tribunal.

- Havendo suporte probatório que demonstre a incidência das qualificadoras


do motivo fútil e do recurso que impossibilitou a defesa das vítimas,
impossível a anulação da decisão do Tribunal Popular.

- Impõe-se o redimensionamento da pena-base, diante da análise


equivocada das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CP.

- Se os réus não se distanciaram da consumação do delito,

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percorrendo considerável parte do iter criminis, impõe-se a redução da fração


aplicada em virtude do reconhecimento da tentativa.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0433.13.018687-0/002 - COMARCA DE


MONTES CLAROS - 1º APELANTE: DANIEL JUNEO LOPES DOS SANTOS
- 2º APELANTE: CARLOS HENRIQUE GONÇALVES DA SILVA - 3º
APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS -
APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,
CARLOS HENRIQUE GONÇALVES DA SILVA, DANIEL JUNEO LOPES
DOS SANTOS - VÍTIMA: A.P.C.S., M.A.F.S.

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em REJEITAR A PRELIMINAR E, NO MÉRITO, DAR PARCIAL
PROVIMENTO AOS RECURSOS.

DES. FURTADO DE MENDONÇA

PRESIDENTE E RELATOR.

DES. FURTADO DE MENDONÇA (PRESIDENTE E RELATOR)

VOTO

Trata-se de recursos de apelação interpostos por DANIEL JUNEO LOPES


DOS SANTOS, por CARLOS HENRIQUE GONÇALVES DA SILVA e pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, que se insurgem contra a r. sentença
de fls. 795/799 que, por decisão do Conselho de Sentença, condenou os
acusados, respectivamente, como incursos nas sanções

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do art. 121, § 2º, incisos I e IV c/c artigos 61, inciso I, e 29; e art. 121, §2º,
incisos I e IV, c/c artigos 14, inciso II, 61, inciso I, e 29, todos do Código
Penal, às penas iguais de 25 (vinte e cinco) anos e 04 (quatro) meses de
reclusão, em regime inicialmente fechado.

Sobre os fatos, narra a exordial que, no dia 10 de abril de 2013, por volta
de 22h40min, os recorrentes CARLOS HENRIQUE GONÇALVES SILVA e
DANIEL JUNEO LOPES DOS SANTOS unidos entre si e aos indivíduos
FERNANDO ALVES DE SOUZA e PAULO CÉZAR MARTINS ANTUNES
JÚNIOR, sob as ordens de GUSTAVO HAROLDO MOTA SOARES,
imbuídos pela comum e consciente vontade de matar, dirigiram-se até as
proximidades do número 251 da Rua Estevan Izídio Pereira, Bairro Santo
Inácio, Montes Claros/MG, onde, mediante emprego de armas de fogo,
efetuaram disparos contra a vítima ANA PAULA COELHO SILVA, que
ocasionaram-lhe as lesões descritas no Relatório de Necropsia (fls. 35/41),
determinantes da sua morte.

No mesmo contexto fático, os recorrentes, embora empenhados em


ceifar a vida de ANA PAULA COELHO SILVA, assumiram, com os tiros
desferidos, o risco de também matar a vítima MARCO ANTÔNIO
FAGUNDES SILVA, malgrado nenhum projétil tenha vindo a lhe atingir,
sendo que o resultado morte somente não se concretizou em razão de o
ofendido ter se refugiado atrás da coluna de proteção do veículo,
circunstância esta, alheia à vontade dos recorrentes.

Consoante se logrou apurar, os recorrentes agiram incitados por motivo


torpe, no propósito de promover vingança em detrimento da vítima ANA
PAULA COELHO SOARES SILVA por ela estar influenciando a pessoa de
SHEILA KAROLINE ROCHA SILVA, então ex-namorada do pronunciado
GUSTAVO HAROLDO MOTA SOARES, a frequentar festas e bailes "funks"
em sua companhia.

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Ademais, a denúncia ainda narrou que os recorrentes surpreenderam as


vítimas ANA PAULA COELHO SILVA e MARCO ANTÔNIO FAGUNDES
SILVA no momento em que estas se encontravam distraídas, transitando na
via pública no interior de um automóvel, configurando o emprego de recurso
que dificultou as suas defesas.

Intimações feitas em Plenário - fl. 799.

Inconformados com a condenação, as defesa dos réus Daniel e Carlos e


o Ministério Público aviaram apelo.

Em razões de fls. 837/842, suscita a defesa de Daniel Juneo Lopes dos


Santos a preliminar de nulidade do julgamento em plenário, em virtude de
alegado cerceamento de defesa, em decorrência de violação ao disposto no
art. 479 do Código de Processo Penal. No mérito, almeja a cassação da r.
sentença de primeiro grau, sob o fundamento de que o veredicto popular, ao
afastar a tese de negativa de autoria, encontra-se manifestamente contrário
ao acervo probatório coligido aos autos.

Por sua vez, a defesa de Carlos Henrique Gonçalves da Silva, nas


razões recursais de fls. 845/864 sustenta, também, preliminarmente, a
decretação da nulidade do julgamento em plenário, por cerceamento de
defesa, em decorrência de violação ao disposto no art. 479 do Código de
Processo Penal. No mérito, pugna pela cassação do julgamento, sob a
alegação de que a decisão dos

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jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, porquanto deixou de


reconhecer a tese de negativa de autoria. Alternativamente, pleiteia o decote
das qualificadoras, relativas ao motivo torpe e ao emprego de recurso que
dificultou a defesa das vítimas, sob a alegação de que se afiguram
manifestamente improcedentes. Quanto à dosimetria da pena, requer o
apelante que as circunstâncias judiciais atinentes à culpabilidade, à conduta
social do agente e às circunstâncias do delito sejam valoradas em seu favor,
bem como que seja aplicada a continuidade delitiva, prevista no art. 71 do
Código Penal.

Por outro lado, o il. Representante do Ministério Público, nas razões


recursais acostadas às fls. 887/896 dos autos, no que concerne à reprimenda
aplicada aos réus, pleiteia que sejam as consequências e as circunstâncias
dos crimes valoradas negativamente. Pugna, ainda, pela aplicação do
percentual redutor médio, de 1/2 (metade), em razão do reconhecimento da
tentativa, prevista no art. 14, inciso II, do Código Penal.

Os apelos foram contrarrazoados - fls. 866/885, fls. 898/904 e fls.


908/911.

Instada a se manifestar, a d. Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo


desprovimento do recurso manejado pela defesa do acusado Daniel e pelo
provimento parcial dos recursos interpostos pela defesa de Carlos e pelo
Parquet (fls.920/944).

É o relatório.

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CONHEÇO DOS RECURSOS, pois presentes os pressupostos de


admissibilidade e processamento.

PRELIMINAR

Preliminarmente, argui as defesas de Daniel Juneo e Carlos Henrique a


nulidade do processo, por cerceamento de defesa, em virtude da violação ao
disposto no art. 479 do CPP.

Sustentam os recorrentes que o i. Promotor de Justiça teria lido


depoimento sigiloso, na sessão plenária, sem que tivessem prévio
conhecimento de tal documento, nos moldes dos ditames legais.

Sem razão.

É que analisando os autos, extrai-se da certidão coligida à fl. 684 que o


referido depoimento sigiloso foi custodiado na secretaria do juízo no dia
11/02/2014, sendo certo que as defesas dos réus não pretenderam obter
acesso ao seu teor.

Isso porque a defesa de Carlos Henrique foi devidamente intimada para a


fase do art. 422 (fl. 685 vº), do CPP, e se manifestou, o que demonstra que
teve acesso, à referida certidão, a qual já se encontrava juntada aos autos.
Assim, caso manifestasse interesse poderia ter tido acesso ao conteúdo
desta.

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De igual modo à fl. 687 a defesa de Daniel Juneo, após intimada para a
fase do art. 422, do CPP, se manifestou, sendo evidente sua ciência da
existência do depoimento.

Além do mais, consta dos autos diversas manifestações ministeriais e do


próprio juízo que fazem menção ao depoimento de testemunhas sigilosas,
inclusive na decisão de pronúncia de fls. 526/534.

Destarte, verifica-se que a existência do depoimento sigiloso,


disponibilizada pela acusação aos jurados na sessão plenária fl. 778, já era
conhecida pelas defesas há mais de dois anos, não havendo, portanto,
qualquer nulidade a ser declarada.

Assim, rechaço a prefacial aduzida e, à míngua de outras a serem


expungidas, adentro ao exame meritório.

MÉRITO

- Cassação do julgamento - decisão manifestamente contrária às provas

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Requerem as defesas de Daniel Juneo e Carlos Henrique a cassação do


julgamento, sob o fundamento de que a decisão dos jurados, ao afastar a
tese de negativa de autoria, vai de encontro às provas coligidas aos autos.

Entretanto, analisando cuidadosamente o acervo probatório não vejo


como prosperar a pretensão recursal.

Ora, primeiramente há que se considerar que se trata de um delito de


competência do Tribunal do Júri e que, cediço que a decisão do Conselho de
Sentença só será cassada quando manifestamente contrária às provas dos
autos, não podendo ser assim entendida aquela que, dentre várias teses,
elege uma delas.

Conforme a citação da súmula 28 dessa Corte, "A cassação do veredito


popular por manifestamente contrário à prova dos autos só é possível
quando a decisão for escandalosa, arbitrária e totalmente divorciada do
contexto probatório, nunca aquela que opta por uma das versões
existentes.".

A meu ver, não é esse o caso.

Na espécie em análise, extrai-se que a decisão do Conselho de


Sentença, inclusive no pertinente ao reconhecimento das qualificadoras,
amparou-se em provas robustas coligidas aos autos.

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A materialidade dos delitos restou consubstanciada pelo Boletim de


Ocorrência de fls. 03/05, pelo Exame de Corpo de Delito de fls. 26/27, pelo
Relatório de Necropsia de fls. 35/38, bem como pela prova oral colhida.

Quanto à autoria, os réus Daniel Juneo (fls. 241/242) e Carlos Henrique


(fls. 243/244) negaram, em juízo, a prática dos crimes.

No entanto, na contramão da negativa dos acusados, temos o Relatório


Circunstanciado de Investigações, o qual revela que a morte de Ana Paula foi
planejada pelo denunciado Gustavo Haroldo Mota Soares, e executada por
ele e pelos acusados Daniel Juneo Lopes dos Santos e Carlos Henrique
Gonçalves Silva, por motivo de ciúmes. Confira-se:

"(...) Em diligências pela urbe de Montes Claros em busca de informações


que esclarecessem o homicídio da vitima ANA PAULA COELHO, e em
conversa com amigos e pessoas próximas da vítima, foram obtidas
informações que na época de seu assassinato, ANA PAULA estava saindo
com uma amiga de nome SHEILA, essa namorada do traficante conhecido
pela alcunha de "GUNA". Detalhe que nesta ocasião o relacionamento de
SHEILA com "GUNA" estava rompido, sendo assim SHEILA passou a sair
com a amiga PAULA. Outrossim, foram obtidas informações que "GUNA"
teria tramado a morte de ANA PAULA COELHO e demais pessoas que
estariam saindo com sua ex-namorada SHEILA, para festas e bailes funks,
bem como "GUNA" teria participado da execução. Fato relevante surge, uma
vez que na ocasião do assassinato de ANA PAULA COELHO e tentativa de
homicídio sofrida pela vítima MARCO ANTÔNIO, eles estavam indo para um
baile funk. Durante as investigações e construção da

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mecânica do crime ficou constatado que o veículo que as vítimas estavam,


foi abordado por duas motocicletas com dois autores em cada uma. Neste
momento surgem os comparsas de "GUNA" na execução do crime. "TICÃO"
e "JUNIO PIGMEU", pessoas conhecidas nos meios policiais e perante a
sociedade como contumazes na prática de crimes. Importante ressaltar que
as testemunhas que prestaram tais informações pediram para não serem
identificadas, haja vista, "GUNA", "TICÃO" e "JUNIO PIGMEU" serem figuras
temidas nelas constantes atuações no tráfico de drogas e homicídios nesta
cidade de Montes Claros/MG. Fato relevante, também obtido através de
testemunhas, e que ANA PAULA COELHO e SHEILA estiveram em uma
festa em um motel desta cidade, juntamente com "GUNA" e outras pessoas
ligadas à facção do mesmo, e que neste dia "GUNA" teria agredido SHEILA,
pelo fato dela ter jogado uma aliança no vaso sanitário, depois de "GUNA" ter
dito que esteve com outra mulher naquele mesmo motel. Logo depois,
SHEILA teria terminado o namoro com "GUNA" e passado a frequenta festas
na companhia de ANA PAULA e outras pessoas, fato que despertou a ira de
"GUNA". Ainda em vítima MARCOS ANTÔNIO FAGUNDES SILVA, v.
"MARQDINHO" informou para esta equipe de Investigadores, que ANA
PAULA COELHO havia lhe confidenciado estar preocupada com sua amiga
SHEILA, pelo fato desta ter rompido o relacionamento "GUNA", o qual é um
dos principais chefes do tráfico de drogas no bairro Ciro dos Anjos e região,
juntamente com os demais citados. [...] Em que pese os esforços desta
equipe de Investigadores não foi possível identificar o quarto envolvido no
crime ora em apuração, mas. ressalta-se que será mantido o empenho no
sentido de localizar e qualificar o mesmo (...)" (Destaquei) (fl. 45/50).

No mesmo sentido, consta do Relatório de N° 051/2013, lavrado pelo


Grupo de Proteção à Vida, que para a execução dos delitos em apuração:
"(...) Gustavo contou com o apoio dos comparsas CARLOS HENRIQUE
GONÇALVES SILVA (alcunha "Ticão") e Daniel Juneo Lopes dos Santos
(alcunha "Junim Pigmeu "), os quais são 'gerentes' do tráfico de drogas no
bairro Ciro dos Anjos, ambos com várias

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passagens nos meios policiais, principalmente pelos crimes de tráfico de


drogas e suspeitos de envolvimento em crimes de homicídio nesta cidade,
são aliados à Facção denominada 'Facção Ninha', e subordinados a IGOR
LUIZ MOTA SOARES (alcunha 'Igor Perigo') apontado como principal líder
dessa quadrilha, o qual é irmão do Gustavo Aro Ido Motas Soares (GUNA). "
(Destaquei) (fls. 208/209v).

Corroborando a tese acolhida pelos jurados, tem-se as declarações da


vítima sobrevivente, Marcos Antônio Fagundes Silva que, nas oportunidades
em que foi ouvida, relatou, com riqueza de detalhes, a dinâmica dos fatos:

"(...) QUE o depoente combinou com ANA PAULA que a buscaria na casa
dela à 22h30min; (...) QUE ANA PAULA entrou no carro e sentou no banco
da frente e a amiga dela sentou no banco de trás, tendo o depoente
arrancado o carro; QUE eu arranquei e andei cento e cinquenta metros e fui
surpreendido por dois motoqueiros; QUE perguntei a ela qual o destino ai ela
fez assim (levantou o braço) foi quando ela levou o primeiro tiro, ai ela foi pra
frente e levou outro tiro, ela caiu em cima de mim e eu me protegi na coluna
do carro" (...) QUE "quando acertou o primeiro tiro nela eu arranquei o carro
e andei uns trinta metros, ai chegou outra moto atirando"; QUE esclarece o
depoente que parou o veículo e fingiu que estava morto "eles pararam a
moto do lado seu que na primeira moto tinha um passageiro alto e o piloto
era baixo"; (...) QUE em seguida o depoente abriu a porta do carro e verificou
que ANA PAULA tinha sido baleada no peito, sendo assim o depoente
acionou a Polícia e o SAMU (...)" (fls.22/23, ratificado à fl. 445)

"(...) QUE o depoente confirma em inteiro teor seu depoimento prestado


nesta Delegacia aos 18/04/2013; QUE o depoente deseja acrescentar que no
dia 06/04/2013. ele e ANA PAULA COELHO DA SILVA viajaram para
Ibiai/MG, onde passaram o fim de semana; QUE

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SHEILA KAROLINE ROCHA SILVA iria viajar naquele final de semana com
depoente e ANA PAULA, porém desistiu; QUE não sabe informar o motivo da
desistência de SHEILA KAROLINE em viajar; QUE no retorno a Montes
Claros, ANA PAULA confidenciou ao depoente que estava preocupada com
SHEILA KAROLINE, pois esta estava sendo ameaçada de morte por um ex-
namorado; QUE ANA PAULA não citou nome do ex-namorado de SHEILA,
mas disse que era pessoa perigosa; QUE o depoente não conhece pessoa
apodada "GUNA" (Gustavo Aroldo Mota Soares); (...) PERGUNTADO se no
dia do crime SHEILA KAROLINE iria sair com o depoente e ANA PAULA,
RESPONDEU: QUE "sim, quando ANA PAULA levou o primeiro tiro, ela
estava conversando com a SHEILA, nós estávamos indo buscá-la"; (...) QUE
"naquele dia iria ter um baile funk no pesque e pague e ANA PAULA me
chamou para levá-la com outras três amigas, uma delas era a SHEILA": (...)
PERGUNTADO se os autores do homicídio falaram alguma coisa antes de
efetuar os disparos de arma de fogo. REPSONDEU: QUE "não, foi muito
rápido"; QUE salvo engano do depoente. a moça que estava com ele e ANA
PAULA no momento do crime era ANDRESA; (...)" (Destaquei)(fls. 131/132)

"(...) que confirma às declarações de fls. 22: que confirma que os atiradores
estavam em duas motos, ambas com garupeiros; que o fato ocorreu muito
rápido com duas pessoas atirando ao mesmo tempo e não pode repararas
características das motocicletas e nem dos atiradores; (...) que a Ana Paula
lhe relatou anteriormente que a Sheila tinha um ex namorado problemático
(...) que os disparos foram feito a no máximo 3 metros do veículo e todos no
vidro do lado do motorista; (...) que "fingiu de morto dentro do veiculo" mas
pode notar que os atiradores chegou perto do veículo para saber se matou
os ocupantes; (...)" (fl. 445)

Temos, ainda, o depoimento da testemunha Sheila Karoline Rocha Silva,


colhido na fase extrajudicial (fl. 31), oportunidade em que declarou que, à
época dos fatos, havia terminado o relacionamento amoroso com Gustavo
Aroldo Mota Soares e que, no dia do crime, iria sair com a vítima Ana Paula
Coelho da Silva. Vejamos:

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"(...) QUE esclarece a depoente que conhecia a vítima ANA PAULA


COELHO DA SILVA há aproximadamente 03 (três) anos; (...) QUE a
depoente saiu algumas vezes com ANA PAULA, sendo que em uma destas
vezes saíram ANA PAULA, a depoente e seu namorado, GUSTAVO
AROLDO MOTA SOARES; QUE esclarece a depoente que ANA PAULA
conhecia MARCO ANTÔNIO, v. "MARQUIM" há muito tempo, não sabendo
precisar quanto tempo; (...) QUE na época em que a depoente retornou a sair
com ANA PAULA, ela não estava envolvida com ninguém, tendo ela
começado a se relacionar com 'MARQUIM' posteriormente; QUE na ocasião
dos fatos ANA PAULA ligou para a depoente por volta das 13h00min, tendo
lhe convidado para sair; QUE ANA PAULA comentou com a depoente que
iria pedir "MARQUIM" para levá-la para sair; (...) QUE por volta das 22h30min
a depoente ligou para ANA PAULA. tendo ela dito que iriam pegar uma
menina e passar na residência da depoente para pegá-la: QUE após cerca
de 10 (dez) minutos "MARQUIM" ligou para a depoente e lhe informou que
ANA PAULA havia sido assassinada e que os autores estavam em duas
motocicletas. (...) PERGUNTADA se seu namorado GUSTAVO AROLDO
MOTA SOARES tem o apelido de "GUNA". RESPONDEU que "tem": (...)
PERGUNTADA se na ocasião da morte de ANA PAULA a depoente estava
namorando GUSTAVO AROLDO. RESPONDEU que "nos estávamos
terminados": PERGUNTADA quanto tempo ficou terminada com GUSTAVO
AROLDO. RESPONDEU que "quase um mês": PERGUNTADA se
atualmente voltou a se relacionar com GUSTAVO AROLDO. RESPONDEU
que "sim, eu voltei com ele logo após a morte de ANA PAULA"; (...)
PERGUNTADA se GUSTAVO AROLDO é irmão da pessoa alcunhada de
"IGOR PERIGO", RESPONDEU que "sim" (...)" ( Destaquei) (fls.31/32).

Durante a sessão de julgamento houve a confirmação dos fatos já


debatidos no decorrer do feito, sendo certo que Sheila, novamente, afirmou
que um dia após a morte de Ana Paula reatou seu relacionamento com o
acusado Gustavo Aroldo Mota Soares (f. 787). Outrossim, o investigador
Cleuber Santos Gomes reafirmou os fatos mencionados tanto na fase
inquisitorial quanto em juízo, mormente o

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relatório Circunstanciado de Investigação de fls. 45/47, alhures transcrito (fl.


788).

Assim, não há que se falar que o reconhecimento, pelos jurados, da


autoria imputada aos recorrentes encontra-se manifestamente contrária à
prova dos autos.

No tocante ao decote das qualificadoras, relativas ao motivo torpe e ao


emprego de recurso que dificultou a defesa das vítimas, previstas,
respectivamente, nos incisos I e IV, §2°do art. 121 do Código Penal, vejo que
razão não socorre à defesa de Carlos Henrique.

Isso porque, conforme se colhe do presente caderno processual, a


prática dos delitos foi motivada pelo sentimento de vingança, nutrido pelo
comparsa dos apelantes e mandante do delito, o réu Gustavo Haroldo,
alcunha de "Guna", em relação à vítima Ana Paula, em virtude do fato de que
essa estaria incentivando a ex-namorada daquele, Sheila Karoline Rocha
Silva, a se divertir em sua companhia.

Da mesma forma, restou demonstrado nos autos que os crimes em


apuração foram praticados de modo a dificultar a defesa das vítimas, uma
vez que os réus, após parearem as motocicletas, por eles pilotadas, ao
veículo em que se encontravam as vítimas, surpreenderam-nas, efetuando
contra elas diversos tiros de arma de fogo.

É o que se extrai das declarações da vítima Marco Antônio:

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"(...) Que o depoente combinou com Ana Paula que a buscaria na casa dela
às 22h30min (...) Que Ana Paula entrou no carro e sentou no banco da frente
e a amiga dela sentou no banco de trás, tendo o depoente arrancado o carro;
que eu arranquei e andei cento e cinquenta metros e fui surpreendido por
dois moto-queiros; Que perguntei a ela qual o destino aí ela fez assim
(levantou o braço) foi quando ela levou o primeiro tiro, aí ela foi pra frente e
levou outro tiro, ela caiu em cima de mim e eu me protegi na coluna do carro
(...) Que 'quando acertou o primeiro tiro nela eu arranquei o carro e andei uns
trinta metros, aí chegou outra moto atirando'; Que esclarece o depoente que
parou o veículo e fingiu que estava morto, 'eles pararam a moto do lado seu
que na primeira moto tinha um passageiro alto e o piloto era baixo'(...) Que
em seguida o depoente abriu a porta do carro e verificou que Ana Paula tinha
sido baleada no peito, sendo assim o depoente acionou a Polícia e o Samu
(...)". (fls. 22/23, confirmado em juízo, fl. 445).

Como se vê, ao contrário do alegado pelos apelantes, o r. decisum não


está divorciado do caderno probatório jungido aos autos.

Os jurados apenas acolheram uma dentre as teses apresentadas pela


defesa e acusação, ou seja, aquela que entenderam, soberanamente, ser a
mais correta, não podendo essa Corte modificar a decisão soberana do
Conselho de Sentença, sob pena de violação ao princípio da soberania dos
veredictos. Trata-se de uma corte de cassação e não de revisão.

Com efeito, uma vez oportunizado aos jurados emitir um juízo de

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valor acerca da situação a eles relatada, e tendo eles optado por uma das
interpretações possíveis sobre a prova apresentada, não caracteriza a
decisão como manifestamente contrária à prova dos autos, razão pela qual
deve ser mantida.

Ademais, o fato de as defesas não concordarem com a escolha feita pelo


Corpo de Jurados não implica na cassação da decisão que, efetivamente,
não é contrária às provas colacionadas, já que, dentre as teses, uma foi a
escolhida.

Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:

"A decisão do Júri que, com supedâneo nos elementos constantes dos autos,
opta por uma das versões apresentadas não pode ser anulada, sob a
alegação de ser contrária à prova dos autos, pois tal procedimento só se
justifica quando a decisão dos jurados é arbitrária, totalmente dissociada do
conjunto probatório" (TJSP, 3º Grupo de Câmaras; RT 675/354).

PROCESSUAL PENAL - RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL - ARTIGO


593, III, DO CPP - TRIBUNAL DO JÚRI - DECISÃO DOS JURADOS
SUPOSTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS - NÃO
OCORRÊNCIA - APELO DESPROVIDO. Em sede de apelação contra a
decisão dos jurados, não cabe à instância revisora substituir os membros do
Conselho de Sentença e afirmar que o acolhimento da tese acusatória era
''melhor'' que a da defesa, mas, apenas, aferir se a versão acolhida pelo júri
tem plausibilidade nos autos. (apelação nº1.0470.01.004074-4-001, rel. Des.
DELMIVAL DE ALMEIDA CAMPOS, Data do Julgamento: 11/02/2009).

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Para a anulação do julgamento do Tribunal do Júri, amparado no


fundamento trazido pelo art.593, III, "d", do CPP, repito, é imperioso que o
veredicto afronte as evidências existentes nos autos, mostrando-se
totalmente contrário ao panorama probatório produzido.

Não se mostra cabível, portanto, a anulação do julgamento por esta


Instância Revisora, no instante em que a tese acolhida pelos jurados se
mostra bastante razoável, considerando o cenário de provas carreado ao
bojo dos autos.

DA PENA APLICADA

Passo ao exame das penas, tendo em vista a interposição de recurso


pela defesa da Carlos Henrique e pelo Ministério Público.

Sustenta a defesa de Carlos Henrique Gonçalves da Silva que as


circunstâncias judiciais relativas à culpabilidade e à conduta social do agente,
bem como as circunstâncias do delito lhe são favoráveis, merecendo reparo,
portanto, a pena-base a ele imposta. Pleiteia, ainda, a aplicação do instituto
da continuidade delitiva, previsto no art. 71 do Código Penal.

Por outro lado, insurge-se o Parquet contra as penas impostas na r.


sentença, para que as circunstâncias judiciais, atinentes às consequências e
às circunstâncias dos crimes, sejam valoradas em

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desfavor dos acusados.

Quanto às consequências, assevera que restou comprovado que "a ação


do réu ultrapassou o resultado, ocasionando um verdadeiro sentimento de
terror naqueles imersos às ações sangrentas dos apelantes". No que se
refere às circunstâncias do ilícito, destaca que o crime se revestiu de
bastante gravidade.

Por fim, pugna o Ministério Público pela aplicação do percentual redutor


médio, de 1/2 (metade), em razão do reconhecimento da tentativa, causa
geral de diminuição de pena, prevista no art. 14, inciso II, do Código Penal.

Compulsando a decisão em apreço, verifico que o il. Magistrado a quo


considerou a culpabilidade, a conduta social e o comportamento da vítima
como circunstâncias desfavoráveis ao apelante Carlos Henrique, sob o
seguinte fundamento:

"(...) A culpabilidade, entendida com o grau de reprovabilidade da conduta,


neste caso é elevada, diante da gravidade da conduta praticada em concurso
de agentes, em via pública, expondo à perigo a vida de terceira pessoa que
também estava dentro do mesmo veículo que a vítima (...) A conduta social é
desfavorável, diante das informações presentes nos autos quanto ao
envolvimento com facção criminosa ligada ao tráfico de drogas (...)."(...) O
comportamento da vítima é apreciado em desfavor do acusado, visto que
não cometeu qualquer ato provocativo contra o acusado (...)." - (fls.
796v/797).

Ocorre que a culpabilidade, entendida como juízo de reprovação

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da conduta, já se encontra, in casu, inserida na conduta delitiva, ou seja, faz


parte integrante do próprio tipo penal.

Lado outro, por conduta social, tem-se o comportamento do agente


perante a sociedade, a interação com seus pares, o modo como é visto no
meio em que vive.

No caso em tela, não verifico nenhum elemento de prova hábil a embasar


a valoração negativa da aludida baliza.

Quanto à circunstância judicial do comportamento da vítima, é


entendimento jurisprudencial que ela somente pode ser valorada em favor do
réu.

Em relação às consequências do delito, vejo que razão não assiste ao


órgão ministerial, porquanto o sentimento de pavor é inerente ao tipo penal
em comento.

Lado outro, as circunstâncias do crime, de fato, são desfavoráveis, tendo


em vista que a ação dos acusados, que desferiram diversos tiros em via
pública, gerou perigo comum o que, a meu ver, ultrapassa os padrões
normais do delito.

No que pertine ao pleito da defesa do acusado Carlos Henrique, de


aplicação da regra da continuidade delitiva, sem razão.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

É que, para o reconhecimento da referida modalidade de concurso de


delitos, é necessário que estejam presentes os requisitos objetivos (mesmas
condições de tempo, lugar e maneira de execução dos crimes), bem como o
requisito de ordem subjetiva (unidade de desígnios/vínculo subjetivo entre os
eventos criminosos).

No caso em apreço, vê-se das provas coligidas aos autos que houve
pluralidade de atos executórios com desígnios autônomos, o que impede o
reconhecimento do referido instituto.

Por fim, quanto à fração aplicada, em razão do reconhecimento da


tentativa (art. 14, inciso II, do CP), tenho que não agiu com acerto o nobre
Juiz sentenciante, que reconheceu a minorante no patamar máximo de 2/3.

Isto porque os réus efetuaram diversos disparos em direção à vítima


Marcos Antônio, somente não dando continuidade à empreitada criminosa,
em virtude do fato de que esta se fingiu de morta.

Com efeito, levando-se em consideração o inter criminis percorrido, deve


ser fixada a fração pleiteada pelo Ministério Público, de 1/2 (metade).

Diante de tais considerações, passo à reestruturação das penas:

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- Carlos Henrique Gonçalves da Silva.

Crime de homicídio qualificado consumado

Na primeira fase da dosimetria, havendo uma circunstância judicial


desfavorável ao increpado, tenho por bem em majorar a pena-base para 13
(treze) anos e 06 (seis) meses de reclusão.

Na segunda etapa, diante da agravante da reincidência, majoro a


reprimenda de Carlos Henrique em 1/6 (um sexto), fixando-a,
provisoriamente, em 15 (quinze) anos e 09 (nove) meses de reclusão. E,
reconhecida uma das qualificadoras como agravante (recurso que dificultou a
defesa da vítima), a pena foi elevada em 03 (três) anos. No entanto, entendo
que tal patamar restou exacerbado, razão pela qual elevo a pena em 01 (um)
ano, restando, pois, concretizada em 16 (dezesseis) anos e 09 (nove) meses
de reclusão, já que ausentes outras causas para sua oscilação.

Crime de homicídio qualificado tentado

Na primeira fase da dosimetria, havendo uma circunstância judicial


desfavorável ao increpado, tenho por bem em majorar a pena-base para 13
(treze) anos e 06 (seis) meses de reclusão.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Na segunda etapa, diante da agravante da reincidência, majoro a


reprimenda de Carlos Henrique em 1/6 (um sexto), fixando-a,
provisoriamente, em 15 (quinze) anos e 09 (nove) meses de reclusão. E,
reconhecida uma das qualificadoras como agravante (recurso que dificultou a
defesa da vítima), a pena foi elevada em 03 (três) anos. No entanto, entendo
que tal patamar restou exacerbado, razão pela qual elevo a pena em 01 (um)
ano, restando, pois, concretizada em 16 (dezesseis) anos e 09 (nove) meses
de reclusão, já que ausentes outras causas para sua oscilação.

Na terceira fase, presente a causa de diminuição de pena, prevista no art.


14, inciso II do CP, diminuo a reprimenda de Carlos Henrique em 1/2,
tornando-a definitiva 08 (sete) anos, 04 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de
reclusão.

Concurso material

Reconhecido o concurso material entre os delitos de homicídio tentado,


procedo à soma das penas cominadas aos crimes e concretizo a reprimenda
de Carlos Henrique em 25 (vinte e cinco) anos, 01 (um) mês e 15 (quinze)
dias de reclusão.

O regime fechado foi acertadamente fixado, em razão do quantum da


pena, nos termos do art. 33, §2º, a, do Código Penal.

- Daniel Juneo Lopes dos Santos

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A defesa do acusado Daniel não se insurgiu quanto a pena aplicada. No


entanto, tendo em vista o efeito devolutivo do recurso de apelação, passo a
analisa-la.

Crime de homicídio qualificado consumado

Na primeira fase da dosimetria, havendo uma circunstância judicial


desfavorável ao increpado, tenho por bem em majorar a pena-base para 13
(treze) anos e 06 (seis) meses de reclusão.

Na segunda etapa, diante da agravante da reincidência, majoro a


reprimenda de Daniel em 1/6 (um sexto), fixando-a, provisoriamente, em 15
(quinze) anos e 09 (nove) meses de reclusão . E, reconhecida uma das
qualificadoras como agravante (recurso que dificultou a defesa da vítima), a
pena foi elevada em 03 (três) anos. No entanto, entendo que tal patamar
restou exacerbado, razão pela qual elevo a pena em 01 (um) ano, restando,
pois, concretizada em 16 (dezesseis) anos e 09 (nove) meses de reclusão, já
que ausentes outras causas para sua oscilação.

Crime de homicídio qualificado tentado

Na primeira fase da dosimetria, havendo uma circunstância judicial


desfavorável ao increpado, tenho por bem em majorar a pena-base para 13
(treze) anos e 06 (seis) meses de reclusão.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Na segunda etapa, diante da agravante da reincidência, majoro a


reprimenda de em 1/6 (um sexto), fixando-a, provisoriamente, em 15 (quinze)
anos e 09 (nove) meses de reclusão. E, reconhecida uma das qualificadoras
como agravante (recurso que dificultou a defesa da vítima), a pena foi
elevada em 03 (três) anos. No entanto, entendo que tal patamar restou
exacerbado, razão pela qual elevo a pena em 01 (um) ano, restando, pois,
concretizada em 16 (dezesseis) anos e 09 (nove) meses de reclusão, já que
ausentes outras causas para sua oscilação.

Na terceira fase, presente a causa de diminuição de pena, prevista no art.


14, inciso II do CP, diminuo a reprimenda de Daniel em 1/2, tornando-a
definitiva 08 (sete) anos, 04 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Concurso material

Reconhecido o concurso material entre os delitos de homicídio tentado,


procedo à soma das penas cominadas aos crimes e concretizo a reprimenda
de Daniel em 25 (vinte e cinco) anos, 01 (um) mês e 15 (quinze) dias de
reclusão.

O regime fechado foi acertadamente fixado, em razão do quantum da


pena, nos termos do art. 33, §2º, a, do Código Penal.

Por fim, deve-se ressaltar que os recorrentes encontram-se

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cumprindo provisoriamente a sua pena, tendo sido, inclusive, expedida guia


de execução (fls. 905 e 906).

Ante o exposto, REJEITO A PRELIMINAR E, NO MÉRITO, DOU


PARCIAL PROVIMENTO AOS RECURSOS, para reduzir as penas-base e
provisória dos apelantes bem como reduzir o patamar relativo ao
reconhecimento da tentativa, ficando as penas concretizadas em 25 (vinte e
cinco) anos, 01 (um) mês e 15 (quinze) dias de reclusão, em regime fechado.

No mais, mantenho a r. sentença objurgada.

Custas na forma da sentença.

DES. JAUBERT CARNEIRO JAQUES (REVISOR) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DESA. DENISE PINHO DA COSTA VAL - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "RECURSOS PROVIDOS EM PARTE"

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