ADÃO

E EVA
SEMINÁRIO MINISTRADO
POR MÁRIO MEIR

Transcrição e adaptação:
Renata Araujo
CABALA
ANCESTRAL
A Cabala ancestral é um movimento
único que nasceu nesta geração, na
Academia de Cabala.
Sua origem vem de uma linha de
sucessão milenar, passada de mestre
para discípulo, desde a escola da
Cabala Contemplativa em Saragoza na
Espanha, há 700 anos, sob a liderança
de Abraham Abuláfia.
Mas suas raízes são muito anteriores, o
que faz com que a Cabala Ancestral seja
uma filosofia de vida que resgata a
visão e os valores da sabedoria dos
tempos pré-bíblicos.
A Academia de Cabala, sob a influência
dos ensinamentos de Abuláfia, resgata
o modo místico dos profetas do deser-
to. Abuláfia apontava que esse retorno
ao essencial seria muito mais profundo
nas futuras gerações.
Algumas terminologias usadas pela
Academia de Cabala são diferentes das
outras escolas devido ao resgate do
aramaico antigo e todas as reflexões e
estudos se dão a partir desta língua
ancestral.
O QUE É
CABALA?
A Cabala é uma sabedoria milenar que
revela a essência do ser humano. A tradição
Cabalista se expressa tanto em corpo como
Alma. O corpo físico são os textos escritos e
toda a sabedoria passada nos livros sagra-
dos da tradição. A alma interna é a Cabala,
transmitida de mestre para discípulo de
forma oral. O grande objetivo é reconstruir
as bases do saber humano, para restaurar o
estado adâmico existente em cada ser
vivente, reintegrando assim esse humano à
ordem natural do cosmo.
iNTERiORiDADE
Umas das principais características da
Cabala Ancestral consiste em
interpretar toda a sabedoria escrita,
lendas e histórias à luz da interioridade,
baseado num conceito definido pelo
cabalista Mario Meir como “Anpianut”,
uma palavra do Aramaico
proto-cananeu. Neste caso todas as
informações contidas nos textos
sagrados da tradição, possuem uma
interpretação de natureza interior,
conduzindo o olhar para o
comportamento e o sentimento de
cada um, promovendo uma
oportunidade de transformação
íntima e profunda. O propósito é
fortalecer o ser humano para que ele
tenha a capacidade de olhar para
dentro de si, e encontrar as respostas
que muitas vezes, de forma equivocada,
ele tenta encontrar fora de si. Existem
forças dentro de nós que precisamos
iluminar para encontrar as raízes mais
antigas.
O RESGATE
A compilação de algumas definições que
antecedem os códigos religiosos bem
como o resgate da antiga língua e escrita

DO em aramaico proto-cananeu, são

características do pensamento cabalista
ancestral. A Academia de Cabala tem como
ARAMAiCO objetivo um resgate arqueológico da
Cabala incluindo a origem ancestral do
alfabeto sagrado. Um dos textos mais
ANTiGO antigos da tradição que faz referência à
origem divina das letras sagradas e à sua
forma, se chama K´tawa Yossará (O livro da
formação), cuja origem é atribuída ao
Patriarca Abrãao – há 3.800 anos – que só
conhecia o Aramaico antigo.
O MiTO
DE ADÃO
E EVA
O mito de Adão e Eva repercute há
séculos no imaginário humano,
continuamente reinterpretado por
tradições e religiões, cada uma delas
dando seu próprio significado a este
evento. Grosso modo, este episódio
tem sido interpretado como o instante
da criação da humanidade, fruto do
primeiro ato de pecado de um homem
e uma mulher, que nos rendeu a
expulsão eterna de um lugar
paradisíaco e deu origem às nossas
dores atuais.
O entendimento da Cabala Ancestral
para essa passagem e para todas as
outras dos textos sagrados de
sabedoria é a de que ela guarda de
forma natural em si uma moral a ser
ensinada, com o singular propósito de
iluminar nossas consciências humanas
por todas as gerações. O que há de
mais belo e gentil neste olhar da Cabala
para os textos sagrados é que, para um
cabalista, estes são textos cobertos de
poesia. Sim, poesia. O estilo literário
capaz de tocar a sensibilidade da alma
humana, fazendo o indivíduo refletir
sobre si mesmo e tudo o que o cerca.
Para a Cabala Ancestral, nas palavras de
um texto sagrado residem significados
muito mais profundos a serem alcança-
dos, disponíveis para exercitarmos
nosso entendimento do mundo,
sobretudo nosso entendimento sobre
o que se passa dentro de nós mesmos.
Há sempre algo nos textos sagrados
que nos lança a um passado em que
cada um de nós, seres humanos,
perdeu algo precioso e que precisa
recuperar. Vejamos o que nos guarda
esta história.
.
Os personagens são, por si sós, cheios de
representações poéticas que falam bem
fundo de cada um de nós. Adão, ou Adam,
em aramaico, significa a raça humana. A
única espécie no planeta capaz de moldar a
natureza, capaz de construir algo onde
antes esse algo não existia, a única que
exerce a sua criação à imagem e
semelhança da Luz Infinita.

Adam representa essa humanidade no

auge de sua potência. Um ser semelhante a
Adam é alguém que atingiu um grau
elevado de sabedoria e visão, tendo
preenchido todas as lacunas de ser um
humano. Procure Adam em você. Pois, sim,
Adam reside em cada um de nós neste
momento. Ele é a força da vontade e
assertividade de que podemos lançar mão,
a cada minuto, para mudar a realidade que
nos cerca.
Eva, ou Atá Hawa em aramaico, significa “o
vivente”. O ato de tornar algo vivente, a
grande Mãe, uma deusa, a força
responsável por sustentar que muitos
permaneçam vivos e ativos. Eva é a mais
pura representação da potência feminina.
Tente sentir a imagem dessa força e recon-
hecer essa potência residindo em você.
Mesmo em nossa época atual, em cada um
de nós reside essa enorme capacidade
original de nutrir, de cuidar, de manter vivo.
É a Adam, este ser representante de
toda uma espécie, que a Luz Infinita
concede a responsabilidade e o prazer
de cuidar de um maravilhoso jardim. O
Jardim do Éden, um lugar paradisíaco,
ordenado e em paz, onde não existe
caos, nem vazio, onde os seres vivem
em um estado de total confiança e
entrega. Esse jardim é a nossa
consciência livre do caos dos diálogos
internos, do vazio do medo e da dúvida.
É a nossa consciência confiante de que
tudo tem seu propósito. Nesse jardim
da consciência, possuímos
entendimento e disponibilidade para
agir em concordância com o fluxo da
vida, com o fluxo da Luz.
A humanidade poderia viver para a
regência magnífica desse Jardim do
Éden, em potencialidade pura e
inocente. Inocente no sentido de que
Adam e Atá Hawa eram capazes de
viver sem malícia, em compreensão
total de que o outro, o próximo, o ao
alcance do olhar, é tão inocente quanto
ele ou ela própria, incapazes de culpar o
outro por tudo ou qualquer coisa. Sim,
é possível inocentar o outro quando
compreendemos que tudo tem um
propósito, mesmo que não seja
agradável e que, não importa o que
aconteça, devemos continuar fazendo
o que deve ser feito, confiantes e
entregues à força que mantém vivo o
Jardim de nossas consciências. Para
Adam e Atá Hawa, a Luz estava
presente quando eles se olhavam
mutuamente.
Nesse jardim, havia árvores. Árvores
são representações de algo que vai em
direção a um desejo, o desejo da
nutrição pela Luz. Uma dessas árvores
era proibida. A Árvore do Bem e do Mal.
Mas pare! Segure seu pensamento
neste instante. Antes que você coloque
sua visão preconcebida do significado
dos frutos dessa árvore, compreenda
que, para a Luz Infinita, o bem sempre
significará o Entendimento e o Mal, a
Ignorância. Portanto, os frutos dessa
árvore eram frutos de conhecimento.

E eis que surge uma Serpente. A

representação da ilusão, da sedução
pela vaidade e pelo ego. Essa serpente
sedutora é encarada há séculos como
uma personificação externa e
malévola. Mas estava ela também no
Jardim perfeito de nossas consciências.
Portanto, ela faz parte de nós. Essa
serpente sedutora representa o diálogo
que entabulamos em nossos
pensamentos, que nos recita uma Nesta poesia, e em nossas vidas, a
cantilena conhecida e embalada por Serpente é a agente que tem o
nós mesmos, que seduz nossa propósito de nos ajudar a lembrar que
ambição, nossa vaidade e nossa nada na Natureza é de graça. A
preguiça. Nossas serpentes nos Serpente é o alerta para criarmos
oferecem cotidianamente os três consciência de que não há gratuidade
argumentos para nos fazer cair no mundo, pois tudo é dinâmica de dar
repetidamente na mesma armadilha e receber. Que precisamos aprender a
de nossos ancestrais: fazer-nos apreciar o desafio, o obstáculo, porque
acreditar que temos direito de poder é só por ele que algo se aperfeiçoa. Que
desejar e conquistar o fácil, o agradável, não podemos nos deixar seduzir pelo
o gratuito, sem necessariamente aparente, pela superfície, pelo
merecê-lo. espetáculo, pelo que seduz.
Adam e Atá Hawa viveram esta história
para eternamente ensinar à raça
humana sobre a necessidade desta
correção. Ávidos pelo desejo de
conquistar algo que ainda não podia
ser deles e ignorando as
recomendações da Luz de que os
frutos disponíveis ainda não eram para
seu consumo, tomaram posse desses
frutos, sem o devido tempo e
maturidade.
Eram deveres de Adam e Atá Hawa
cuidar de todas as coisas e ser a
imagem e a semelhança da Luz
delineadora do mundo. Mas, ao
comerem o fruto do conhecimento
sem maturidade, se viram dominados
pela prepotência da autossuficiência,
da crença de serem capazes de
prescindir da Luz. Sob efeito do fruto
ingerido, questionaram a necessidade
da confiança e da entrega, e suas
consciências se distanciaram
naturalmente da Luz, permitindo a
entrada do vazio e do caos em suas
vidas.
Seus receptores da Luz se fecharam.
Seus olhares, antes confiantes e
inocentadores, em estado de conexão
com a Luz, foram dominados pela
malícia, pelo julgamento mútuo.
Tornaram-se autossuficientes. E
aqueles que se julgam autossuficientes
são naturalmente incapazes de dar ou
receber. Suas imagens perderam
mutuamente sua sacralidade. Já não
eram mais seres ligados à Luz
agregadora de todos. Queriam estar
sós em sua autossuficiência. E homens
e mulheres se voltam contra homens e
mulheres até o dia de hoje.
Voltar ao Jardim de nossas consciências
pressupõe um exercício constante. De
inocentar o outro por nossos
problemas. De confiar no propósito da
Luz em tudo o que acontece. De
equilibrar dentro de nós as potências
de agir (Adam) e nutrir (Atá Hawa). De
assumir nossa missão como
responsáveis por dar forma ao mundo
dentro de nossos propósitos. De
abraçar os desafios que se apresentam
todos os dias com entrega e confiança,
pois será só através dos desafios que as
conquistas dos frutos maduros do
conhecimento poderão nos alçar
novamente à nossa consciência
original.
Deixamos aqui um convite para que
você olhe o mundo à sua volta à luz da
interioridade, se tornando causa e não
efeito das coisas que acontecem em
sua vida.
 MARiO MEiR
Um cabalista, pensador humanitário e
professor, Mario Meir tem dedicado sua
vida a resgatar os valores humanos e
éticos para a elevação da consciência,
por meio dos ensinamentos da Cabala
Ancestral. Nasceu no Rio de Janeiro, em
1 de Adaru (Adar) do ano cabalista de
5731, numa família de longa tradição de
poetas, professores e escritores.

É presidente da Academia de Cabala

desde 1990 quando assumiu a
liderança sucedendo ao mestre
cabalista Daniel Benari. A partir desse
ano, abriu as portas da sabedoria da
tradição para todos aqueles que
desejassem alcançar um
desenvolvimento pessoal através da
compreensão espiritual.

Organização: Juliana Calut, Marcia Suria e Mariza Hawa

Diagramação: Adriano Doro

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https://www.academiadecabala.com/course/adao-e-eva/