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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E TEORIA – DHT
TEORIA DA ARQUITETURA II – 2014.2 – TURMA C
ALUNOS: ANNA CAROLINA DAHER E LUIZ VICENTE
FASCIOTTI

RESENHA CRÍTICA

1) TEXTO RESENHADO:

ROCHA; Paulo Mendes, “Maquetes de Papel”, São Paulo: Ed. Cosac


Naify, 2007

2) APRESENTAÇÃO DO AUTOR DA OBRA:

Paulo Archias Mendes da Rocha é um arquiteto e urbanista brasileiro,


formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo em 1954. Pertencente à
geração de arquitetos modernistas, Mendes da Rocha assumiu nas
últimas décadas uma posição de destaque na arquitetura brasileira
contemporânea, famoso pelo uso de concreto armado aparente,
grandes espaços abertos, estruturas racionais, entre outros
elementos que viriam a caracterizar a “Escola Paulista” supracitada.

Passa a lecionar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da


Universidade de São Paulo (USP) em 1961 e, desde então, recebe
uma série de prêmios internacionais pela sua obra, realizada em
várias partes do mundo, dentre os quais se destacam o Prêmio Mies
van der Rohe para a América Latina pelo projeto de reforma da
Pinacoteca do Estado de São Paulo (galardeado em 2001) e o Prêmio
Pritzker (em 2006).

PRINCIPAIS OBRAS:
1957 – Projeto para o prédio da Assembléia Legislativa de Santa
Catarina
1958 – Os edificios do Clube Atlético Paulistano, São Paulo
1969 – Pavilhão brasileiro da Feira Internacional de Osaka, Japão –
Expo’70, com Flávio Motta, Júlio Katinsky e Ruy Othake
1976 – Projeto do Centro Cultural e de Convenções de Campos do
Jordão
1987 – Capela de São Pedro, em Campos do Jordão, SP, e loja Forma,
SP, com a colaboração de Alexandre Delijaicov, Geni Sugai e Carlos
José Dantas Dias.
1988 – Museu Brasileiro da Escultura (Mube), São Paulo, com Pedro
Mendes da Rocha (filho) e outros arquitetos
1992 – Projeto de reurbanização da Praça do Patriarca e do pórtico
para a entrada da Galeria Prestes Maia, com Eduardo Colonelli,
executado em 2002.
1993 – Projeto de Reforma e Modernização da Pinacoteca do Estado
de São Paulo, com Eduardo A. Colonelli e Welinton Rico y Torres
1995 – Residência de Mário Masetti, em Cabreúva (SP)
1999 – Reforma do Centro Cultural da Fiesp, São Paulo, com o
escritório MMBB.
2000 – Restauro da Oca, no Parque do Ibirapuera, para a mostra dos
500 Anos do Descobrimento do Brasil, com Guilherme Wisnik e Martin
Corullon; Restauro e Modernização do andar superior do Edifício da
Estação da Luz, em São Paulo, para o Museu da Língua Portuguesa,
com Pedro Mendes da Rocha
2001 – Projeto para o Sesc 24 de Maio, no Centro Histórico de São
Paulo, com Angelo Bucci, Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e
Milton Braga
2004 – Plano Diretor para ampliação e reorganização do campus da
Universidade de Vigo, Espanha, com o escritório MMBB; e projeto de
um prédio de apartamentos de interesse social para a Empresa
Municipal de Viviendas, de Madri, com o Estúdio Vellosillo y Associates
– ambos em execução
2005 – Reforma e modernização de um antigo prédio, no Rio de
Janeiro, para o centro cultural Daros Center

3) PERSPECTIVA TEÓRICA DA OBRA:

Segundo Montaner (1996),Para Mendes da Rocha as propostas de


Mies van der Rohe e Le Corbusier serviram de modelo para que se
pudesse desenvolver sua arquitetura. Na verdade, as experiências de
Le Corbuser influenciaram profundamente as obras de Mendes da
Rocha e de várias gerações de arquitetos brasileiros.

Em sua obra ocorre uma síntese de diversas referências que se


integram e se completam de forma ajustada. Podemos destacar sua
sintonia com referências do universo minimalista difundido no
transcorrer do século XX no cenário internacional, aproximando-se de
Mies van der Rohe e, mais tarde de Tadao Ando, mas também é
necessário lembrar de sua poética pessoal profundamente marcada
por sua subjetividade e sua forte personalidade. Além destas
influências é importante destacar sua participação na “Escola
Paulista”, onde ideais revolucionários deram uma nova face à
composição formal e conceitual da arquitetura brasileira embasados
em alguns conceitos do brutalismo britânico.

O livro em análise relata uma passagem onde Paulo Mendes da Rocha


foi convidado para ministrar um curso em Curitiba, na Casa Vilanova
Artigas, onde discursou sobre seus projetos e ideias, a aula foi
dividida em duas partes: a primeira expositiva e a segunda prática e,
posteriormente, redigida, tornando-se um livro.

O livro é um projeto gráfico de Flávia Castanheira, onde Paulo Mendes


da Rocha nos apresenta seu entendimento sobre seu próprio processo
de projeto. Durante a aula são abordados diversos temas de forma
crítica, técnica e prática, o que torna o livro muito abrangente.
Sobretudo, por meio de suas “maquetes de papel” o arquiteto nos
oferece uma perspectiva privilegiada sobre a consciência do arquiteto
criador, em meio aos meandros e ambiguidades das ideias vigentes
entre nós quanto à criação arquitetônica.

4) BREVE SÍNTESE DA OBRA:

Segundo o autor, há um momento no processo de elaboração de um


projeto de arquitetura, em que o arquiteto tem que transformar os
primeiros rabiscos em algo palpável, que possa ser olhado à
distância, sob outro ângulo e assim verificar as proporções, as
transparências, as sombras que aqueles volumes geram e a relação
com as diferentes escalas urbana e humana.
No início do projeto “não existe maquete, não há nada ainda, é pura
mente, como se eu fosse escritor, poeta! Não tem nada que ficar
rabiscando, porque eu ainda não sei o que fazer.” (p.34)

É só após as primeiras ideias firmadas que se inicia o processo de


representações materiais: croquis e modelos tridimensionais. Esse
saber inicial tem algo definido e algo intuído, a ser elaborado. É
preciso organizar as questões para transformá-las em problemas e,
então, resolvê-los. E essa elaboração mental antecede a
materialização, pois a maquete deve ser um momento posterior ao
pré-dimensionamento, ou seja, há uma idéia de forma, com medidas
básicas, proporções, espaçamentos que precede a materialização no
modelo. E os modelos são ensaios, aproximações, essencialmente
estruturais, portando simples, “maquetes de papel”.

Paulo Mendes considera a maquete como uma extensão da própria


mente, algo como uma idealização das questões propostas que lhe
oferece respostas mais reais que as do croqui. Não se trata em
maquetes para serem exibidas ou vendidas, ele insiste na proposta
de maquetes simples, em solidão, para estudo próprio, sem
preocupação alguma com acabamento. A maquete que você faz como
um ensaio daquilo que está imaginando, apenas com a representação
fiel das proporções para que possam lhe dar a aferição do que pode
vir a ser a construção, a verificação dos códigos, da matemática,
sobre os momentos de inércia, as fundações...

“A maquete, muito simples, está realizando uma coisa que você quer
ver. O diâmetro certo, a altura certa, a escala humana. Você consegue
ser esse personagem, ajoelha no chão para ver dentro da maquete, é
muito bonito! Fecha a janela, espera de noite, tira o abajurzinho da
mesa de luz e traz perto da maquete, vê os efeitos da luz... você vê o
tamanho das coisas, a sua proporção, vê as transparências.” (p. 58-
59)

Por fim, o autor insiste que a ideia de prever, da maquete, é


fundamental, onde não tem a ver com técnica, tecnologia ou tempo
que estamos vivendo. A maquete eletrônica deve ser elaborada
depois e não substitui esse momento de experimentação, feito não só
como croquis, mas com esses pequenos modelos. Assim é possível
ver melhor aquilo que se está querendo fazer e, isso é, segundo ele,
insubstituível.

5) PRINCIPAIS TESES DESENVOLVIDAS NA OBRA:


 A maquete é uma ferramenta de estudo fundamental para a
percepção da espacialidade que está sendo criada, desde que
suas proporções tenham sido representadas fielmente.
 As maquetes defendidas pelo autor, são maquetes de estudo,
de entendimento do próprio arquiteto e, que não devem ser
mostradas a ninguém. São modelos simples, observadas por
leigos como um "pedaço de papel rasgado".
 A maior diferença entre a maquete física e a maquete virtual é
que, na maquete física, podemos testar os esforços em que a
estrutura será submetida. O que torna a maquete física o meio
de experimentação mais fiel à realidade.

6) REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A OBRA E IMPLICAÇÕES:

O arquiteto nos apresenta seu processo de trabalho, seus modelos


mais íntimos, que nunca teve a pretensão de mostrar a ninguém,
para nos mostrar a importância da modelagem (física) investigativa
como meio de diálogo entre o pensamento e a proposta. Paulo
Mendes insiste nas maquetes de estudo como a forma mais fiel de
prever suas ideias, na verificação do espaço, na relação com a
proporção e na verificação estrutural. O autor não define um método
restritivo, pelo contrário, expressa grandes valores de liberdade
compositiva em relação aos seus modelos.

O cerne de toda a questão abordada no texto não se trata de uma


apologia ao processo de trabalho pautado por maquetes de papel, e
sim algo muito mais abrangente, ele defende a valorização de TODO
o processo de trabalho sempre integrado com os princípios
estruturais do projeto, onde o equilíbrio entre espacialidade e
expressão construtiva é sempre almejado, é por isso que as maquetes
de papel se tornam uma etapa deste processo, pois com eles é
possível analisar também os esforços e tensões exercidas sobre a
estrutura observada, lembrando todo o carácter estético construtivo
que este projeto possuiu, validando tal tipo de processo de trabalho,
onde maquetes virtuais, que também são importantes (em outro
estágio de projeto), desconsiderariam as propriedades físicas que
estamos todos submetidos, enfraquecendo o estudo.

A técnica, sua grande aliada neste processo, foi sem dúvida um


instrumento possibilitador da concretização de todas as suas obras, e
também aí, mais uma vez, o seu trabalho acrescenta inovações de
fundamental importância para a produção nacional.

7) FONTES CONSULTADAS:

ARTIGAS, Rosa, organizadora. Paulo Mendes da Rocha, Cosac &


Naify, São Paulo, 2000.

MONTANER, Josep Maria, VILLAC, Maria Isabel. Mendes da


Rocha. Lisboa: Blau, 1996.

ROCHA; Paulo Mendes, “Maquetes de Papel”, São Paulo: Ed.


Cosac Naify, 2007
SEGAWA, Hugo. “Arquiteturas no Brasil 1900-1990”. São Paulo:
Edusp, 1999.

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