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PSICÓPIO
psicópio

REVISTA VIRTUAL DE
PSICOLOGIA HOSPITALAR
E DA SAÚDE

Editor
Susana Alamy
ISSN 1982-9299

Ano 4 - Número 8 - Agosto-2008 a Janeiro-2009


Edição Semestral - Distribuição Gratuita
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
ISSN 1982-9299
Revista Semestral - Distribuição Gratuita
Ano IV, Número 8, Agosto-2008 a Janeiro-2009

Editor: Susana Alamy


Idealização e Realização, Capa, Editoração Eletrônica, Diagramação e Arte Final: Susana Alamy
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Susana Alamy - psicóloga clínica e hospitalar, psicoterapeuta, professora de psicologia hospitalar e supervisora de
estágios em Belo Horizonte/MG, especialista em psicologia hospitalar (CRP) e em administração hospitalar e ciências
da saúde (FCMMG). CRPMG 6956
Elisângela Lins - psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia do CESUR - Centro de Ensino
Superior de Rondonópolis. CRPMT 1281-2
Luciane Jordão Pereira - psicoterapeuta, psicóloga clínica, gestora em saúde da Prefeitura Municipal de Itabira/MG.
CRPMG 18744
Glenda Rose Gonçalves-Chaves - advogada, bacharel em Letras, mestre em Direito Internacional e Comunitário (PUC-
Minas), mestre em Literatura Brasileira (UFMG), professora de Direito Constitucional e Direito Administrativo.

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ALAMY, Susana (Ed.). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.4, n.8, ago.
2008-jan 2009. Disponível em: <http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/>. Acesso: em 02 set. 2008.

Para citação de artigos da revista na bibliografia:


SILVA, José Maria. Psicologia hospitalar. Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde , Belo
Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. Disponível em: <http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/>. Acesso: em
02 set. 2008.

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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. i
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
ISSN 1982-9299
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano IV, Número 8, Ago 2008 - Jan 2009

SUMÁRIO

Editorial
Susana Alamy ..................................................................................................................................................................................... iii

Relatando a experiência da inserção do psicólogo hospitalar em uma instituição que não oferece atendimento
psicológico .......................................................................................................................................................................................... 05
Thais Tescarolli Cunha, Michelle de Godoy, Amanda Armelin Nardini, Maria Eugenia Scatena
Radomile (Itatiba/SP)

Propostas para uma melhor adaptação do paciente ao meio hospitalar ................................................................................... 12


Ana Flavia Pacheco do Nascimento Fones (Austin, Texas, USA)

Reflexões sobre as etapas descritas por Kübler-Ross a partir de situações vivenciadas ....................................................... 18
Janaína Bianca Barletta (Aracaju/SE)

A morte e o luto a partir do mito da medusa e o trabalho com crianças portadoras de doenças terminais ........................ 20
Élida Araújo Mendes (Belo Horizonte/ MG)

A psicologia hospitalar e o significado da morte para a criança ............................................................................................... 26


Jeanine Schuabb Duarte (Brasília/ DF)

UTI Neonatal: identificando a atuação do psicólogo hospitalar ............................................................................................... 29


Julio César Torres, Patrícia Helena Pietro Malzone, Célia Soares, Natália Martins Dias, Maria Eugênia Scatena
Radomile (Itatiba/ SP)

Luto e Aborto Espontâneo ............................................................................................................................................................... 39


Danielle Silva Veiga (Rio de Janeiro/RJ)

A psicanálise no hospital geral: possibilidade e impossibilidades ............................................................................................ 43


Mara Alice Diniz Figueiredo (Contagem/MG)

O uso de terapias holísticas por pacientes oncológicos como forma de exercício da autonomia ........................................ 47
Sandra Felicidade Lopes da Silva, Ana Claudia N. S. Wanderbrooke (Curitiba/PR)

Modelo de anamnese para pacientes em hemodiálise ................................................................................................................. 55


Susana Alamy (Belo Horizonte/MG)

Legislação - Lei 9434/97 - Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de
transplante e tratamento .................................................................................................................................................................... 58

Agenda de cursos de psicologia hospitalar ................................................................................................................................... 64

Formulário para envio de artigos, normas e termos .................................................................................................................... 65

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. ii
EDITORIAL

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Recebido o material para publicação, ele é analisado e, na medida do possível, damos retorno aos seus autores, mas
“muitas vezes não nos estendemos nas respostas por absoluta falta de tempo, pois nosso trabalho é solitário e demanda
persistência.” (Editorial Psicópio n. 7). O critério para publicação alterna-se entre a data de envio e o tema abordado,
assim, se você ainda não teve o seu texto publicado, aguarde os próximos números. Veja mais informações nesta edição
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Neste número publicamos: Relatando a experiência da inserção do psicólogo hospitalar em uma instituição que não
oferece atendimento psicológico (Thais Tescarolli Cunha, Michelle de Godoy, Amanda Armelin Nardini, Maria
Eugenia Scatena Radomile - Itatiba/SP); Propostas para uma melhor adaptação do paciente ao meio hospitalar (Ana
Flavia Pacheco do Nascimento Fones - Austin, Texas, USA); Reflexões sobre as etapas descritas por Kübler-Ross a
partir de situações vivenciadas (Janaína Bianca Barletta - Aracaju/SE); A morte e o luto a partir do mito da medusa e o
trabalho com crianças portadoras de doenças terminais (Élida Araújo Mendes - Belo Horizonte/ MG); A psicologia
hospitalar e o significado da morte para a criança (Jeanine Schuabb Duarte - Brasília/ DF); UTI Neonatal:
identificando a atuação do psicólogo hospitalar (Julio César Torres, Patrícia Helena Pietro Malzone, Célia Soares,
Natália Martins Dias, Maria Eugênia Scatena Radomile - Itatiba/ SP); Luto e Aborto Espontâneo (Danielle Silva
Veiga - Rio de Janeiro/RJ); A psicanálise no hospital geral: possibilidade e impossibilidades (Mara Alice Diniz
Figueiredo - Contagem/MG); O uso de terapias holísticas por pacientes oncológicos como forma de exercício da
autonomia (Sandra Felicidade Lopes da Silva, Ana Claudia N. S. Wanderbrooke - Curitiba/PR) ; Modelo de anamnese
para pacientes em hemodiálise (Susana Alamy - Belo Horizonte/MG); Legis lação - Lei 9434 - Dispõe sobre a remoção
de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento; Agenda de cursos de psicologia
hospitalar; Formulário para envio de artigos, normas e termos.

Permanece o nosso convite para o envio de seu texto, que será analisado com critério e respeito. Agradecemos os
inúmeros e-mails recebidos, sempre incentivadores e motivadores, demonstrando a importância da Psicópio: Revista
Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde na formação e na vivência de cada um dos seus leitores. Agradecemos aos

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. iii
nossos colaboradores, pacientes, professores e supervisores que incentivam seus alunos a produzirem e publicarem seus
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saúde, e-mail: revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br. Os e-mails que forem dirigidos aos autores das matérias
publicadas serão repassados aos mesmos.

Boa leitura!
Com o meu abraço,

Susana Alamy
Inverno de 2008

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. iv
RELATANDO A EXPERIÊNCIA DA INSERÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR
EM UMA INSTITUIÇÃO QUE NÃO OFERECE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO
Thais Tescarolli Cunha1
Michelle de Godoy2
Amanda Armelin Nardini3
Maria Eugenia Scatena Radomile 4

O presente estudo buscou relatar a experiência da inserção do psicólogo hospitalar em uma instituição do interior do
estado de São Paulo que não oferece atendimento psicológico. Participaram da pesquisa 67 pacientes de ambos os
sexos, sendo 35 homens (52%) e 32 mulheres (48%). As idades variaram de 18 a 80 anos. A maior parte dos sujeitos da
presente pesquisa estava internada pelo SUS (50 pacientes) e 17 pacientes estavam internados através de algum plano
de saúde ou particular. No decorrer do estudo foi utilizado um Protocolo de Acompanhamento Psicológico Hospitalar
(versão resumida) desenvolvido por Dias e Radomile (2007). Tal instrumento abrange questões referentes ao nome,
sexo, idade, estado civil, profissão, cidade onde reside, informante, tipo de internação, dentre outros. Todos os itens do
instrumento foram colhidos através de perguntas objetivas. A partir da otimização dos dados pôde-se perceber que os
aspectos ligados à consciência, atenção, orientação, pensamento, memória, linguagem e afeto encontram-se, em sua
maioria, preservados em tais pacientes. Posteriormente à análise do estudo, fica evidente a importância da Psicologia
Hospitalar, já que o profissional desta área é responsável por coletar dados, analisar e dar um suporte psicológico a fim
de proporcionar uma melhora na qualidade de vida destes pacientes.

Palavras-chave: internação; hospital; atuação; Psicologia.

Partindo da definição de Melo (2007) de que a Psicologia hospitalar é o campo de atendimento e tratamento dos
aspectos psicológicos em torno do adoecimento, é nítido o crescimento do número de hospitais que tomaram
consciência da real importância do serviço psicológico aos pacientes hospitalizados. Não se pode deixar de mencionar
também as questões ligadas à humanização dos cuidados prestados, o que por sua vez, abre caminhos para uma atuação
destinada ao aumento na qualidade de vida tanto de quem cuida quanto de quem é assistido.

A psicologia hospitalar, segundo Angerami-Camon citado por Torezan e Rosa (2003), tem como objetivo a
minimização do sofrimento causado pela hospitalização, pois a psicologia se encontrada ligada com o ideal de
humanização hospitalar, dando ênfase no distanciamento dos familiares, as regras de comportamento assumidas no
atendimento, exames muitas vezes invasivos, e pouca participação no processo de diagnóstico e tratamento. Portanto o
adoecimento e a hospitalização podem levar o paciente à angustia, que às vezes é tão intensa, promovendo uma
desarticulação da capacidade simbólica.

Alamy (2003, p.15) ressalta que “a psicologia hospitalar intervém na forma do paciente conceber e vivenciar os
problemas gerados pela patologia orgânica, pela hospitalização, pelos tratamentos e pela reabilitação”, Campos (1995,
p.101) complementa a idéia acima dizendo que “os psicólogos hospitalares ajudam os pacientes a entenderem o
funcionamento de seu corpo, a compreenderem as manifestações de sua doença, a acompanharem o seu tratamento e a
aprenderem a se pronunciar, a verbalizar a sua queixa...”.

Sebastiani e Chaves (2005) afirmam que em casos cirúrgicos, o psicólogo deve atuar de forma a reestruturar a visão do
novo esquema corporal do paciente, pois a reconstrução positiva desta é fundamental para a melhora do auto-conceito,
que representa a consciência da própria individualidade. Na maioria das situações o próprio aparecimento da doença
causa sentimentos confusos e dolorosos, sendo agravado com a internação hospitalar.

1
Estudante de Psicologia da Universidade São Francisco - Itatiba. Experiência acadêmica em Estágio Supervisionado nas áreas
Psicologia Hospitalar, Clínica e Comunitária.
2
Estudante de Psicologia da Universidade São Francisco - Itatiba. Experiência acadêmica em Estágio Supervisionado nas áreas
Psicologia Hospitalar, Clínica e Comunitária.
3
Estudante de Psicologia da Universidade São Francisco - Itatiba. Experiência acadêmica em Estágio Supervisionado nas áreas
Psicologia Hospitalar, Clínica e Comunitária.
4
Doutora em Psicologia Clínica, Especialista em Psicologia Hospitalar e Docente na USF - Itatiba/SP .

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 5
Estudos realizados por Sebastiani e Chaves (2005) demonstram que um efetivo acompanhamento psicológico em um
pré-operatório, influencia diretamente nas reações do paciente no pós-operatório, pois quanto maior for às tensões
vividas pela pessoa, maior será as dificuldades para superar ou administrar as possíveis limitações de uma cirurgia ou
doença. O psicólogo deverá auxiliar na reabilitação do paciente, ajudando-os a elaborar fantasias, medos, frustrações,
bem como fazer o indivíduo emergir, encontrando assim, a sua singularidade que se perde durante o processo do
adoecer.

A atuação do psicólogo hospitalar pode ser justificada pela dificuldade proveniente do processo do adoecer, pois tal
experiência provoca angústia, dor, medo, insegurança, raiva, revolta e muitas vezes depressão, tornando então
necessária a intervenção do psicólogo. Sendo assim, pode-se dizer que o trabalho do psicólogo hospitalar é objetivada
pelos seguintes aspectos: verificar como o paciente está processando as informações trazidas pelos médicos, enfermeiro
e familiar; elaborar com o paciente a situação vivenciada, tentando compreender o que se passa e quais os limites;
diminuição dos medos básicos, da ansiedade e da angústia em níveis tolerados pelo paciente; priorizar ou relativizar as
dificuldades do paciente (Alamy, 2007).

A psicologia, desde os seus primórdios, era voltada para a área clinica. O psicólogo dirigiu-se para outros contextos sem
possuir um modelo que norteasse a sua prática, contudo a medicina sempre se baseou em pesquisas e métodos bem
delineados. Hoje a imagem da psicologia, está vinculada pelas atividades exercidas pelos profissionais, identificando
assim a profissão. Na visão de Campos (1995), o psicólogo hospitalar não precisa se restringir ao atendimento clínico,
este pode atuar na área social, organizacional e educacional na forma de assistência psicológica, que inclui, além do
paciente e seus familiares, a equipe multiprofissional e demais funcionários do hospital, abrangendo atividades de
assessoria, consultoria e interconsulta psicológica. Condizente com esta concepção tem-se a visão de Fongaro e
Sebastiani (1996) a qual explicita que a psicologia hospitalar busca comprometer-se com o bem estar dos pacientes e
funcionários, dessa maneira não pode se limitar ao atendimento clínico, embora este seja uma prática universal dos
psicólogos hospitalares.

Uma das prioridades no desenvolvimento do trabalho do psicólogo no contexto hospitalar está na possibilidade de uma
prática integradora, ou seja, o trabalho do psicólogo no contexto hospitalar, volta-se para a interdisciplinaridade tendo
como foco a melhora na qualidade de vida do paciente, da família e dos profissionais da saúde. Em resumo, busca
atender o paciente o mais completamente possível, ou seja, visa a promoção, a prevenção, a recuperação do bem-estar
do paciente.

A equipe multidisciplinar é fundamental para um bom atendimento hospitalar, esta é formada por médicos, enfermeiros,
psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e fisioterapeuta. Cabe ressaltar que esta equipe é norteada de acordo com
as necessidades dos pacientes, podendo dizer que ela é pré-organizada, ou seja, a demanda de cada paciente é que fará
com que os profissionais se integrem e proporcionem a satisfação das necessidades de cada um dos enfermos. Os outros
profissionais devem seguir primeiramente as ordens do médico, pois é função deste avaliar a demanda orgânica do
indivíduo, a partir dessa definição os outros profissionais se integram para traçar um plano de tratamento. (Fossi e
Guareschi, 2004).

Segundo Tonetto e Gomes (2007) os profissionais de enfermagem entendem que o trabalho do psicólogo é necessário
em situações de crise dos pacientes e familiares, risco de vida, trabalhar a aceitação da doença e do tratamento, a alta
com pacientes que apresentam hospitalismo, fantasias e sentimentos de culpa, situações de óbitos, entre outras. É
atribuída ao psicólogo a função de preparar a equipe para tomar decisões condizentes aos casos, qualificar a equipe
tornando-a mais autônoma, já que a disponibilidade para atender a todos é pouca, exercendo assim uma função
apaziguadora das dificuldades apresentadas na área hospitalar. Foi mencionada a necessidade de o psicólogo explicar
suas posições e intervenções para o grupo e não somente em alguns momentos na qual há a visita a pacientes.

Neste contexto a psicologia está mais ativa, porém há queixas de que suas observações clínicas não são muito aceitas
pela equipe, dificultando assim a inserção nas equipes multidisciplinares. Para uma melhor aceitação da equipe o
psicólogo deve expor com clareza as suas atribuições e a sua especificidade, devendo ser capaz de se mostrar
competente na prática. Uma queixa comum apontada pelo psicólogo é a dificuldade em compreender a linguagem
utilizada pela equipe.

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Sob a visão de Fossi e Guareschi (2004) a inserção do psicólogo em equipes multidisciplinares é mais privilegiada em
hospitais onde existem espaços para reuniões, pois nestas circunstâncias que o psicólogo poderá mostrar a importância
da valorização do conjunto dos aspectos emocionais do indivíduo. Para isso torna-se imprescindível que o psicólogo
saiba de maneira detalhada as atividades desenvolvidas pelos outros profissionais, bem como os limites de cada um,
possibilitando uma atuação uniforme. Porém, às vezes esta atuação integrada não é vivenciada, devido a inúmeros
fatores como: dificuldades de interação entre os profissionais, disputas de poder e falta de conhecimento sobre a ajuda
que outras especialidades podem dar à equipe e ao indivíduo.

Contudo cabe ao psicólogo instrumentalizar-se, sistematizar o seu trabalho, criando procedimentos que facilitem e
orientem uma melhor intervenção de acordo com as necessidades da pessoa, para assim conquistar o reconhecimento
pelo valor do seu trabalho e pela sua dedicação.

Como reflexo dessa falta de integração pode-se citar o cotidiano dos profissionais da psicologia dentro de alguns
hospitais. Estes, muitas vezes, ocupam o lugar de tradutores entre os médicos e os usuários, deixando bem dividido que
as questões subjetivas são de responsabilidades do psicólogo e as questões orgânicas são exclusivas do médico, esta
postura médica pode ser explicada pela formação desses profissionais, que pouco enfoca as relações humanas. (Fossi e
Guareschi, 2004).

Segundo Alamy (2007) existem cinco fatores que interferem na inserção do psicólogo no meio hospitalar devido às
resistências existentes por parte da instituição, dos médicos e dos próprios pacientes, a saber: medo da subjetividade, ou
seja, da leitura do não-dito; onipotência do médico; onipotência do psicólogo; diversidade de técnicas de atendimento
psicológico e vulgarização da psicologia pelos próprios profissionais. Estes fatores poderiam ser solucionados se o
hospital possuísse um trabalho voltado para a integração dos profissionais da saúde, assim, cada membro da equipe
poderia reconhecer a importância de cada profissional, desmistificando todas as fantasias criadas neste ambiente
hospitalar.

Não se pode deixar de mencionar que a Psicologia Hospitalar trabalha a fim de minimizar o sofrimento causado pelo
processo de adoecimento e internação através do auxílio dado no decorrer deste momento que pode ser assustador,
delicado e que necessita da recuperação tanto da saúde física quanto mental do paciente, acompanhantes e equipe
responsável. Contudo, é necessário também, conforme afirma RIBEIRO e cols., (2004), que o psicólogo conheça os
objetivos dessa instituição a fim de redefinir seus limites no próprio espaço institucional juntamente com outros
profissionais, percebendo o paciente como um ser biopsicossocial dentro do processo doença-internação-tratamento.

Outro ponto fundamental a ser enfocado é a representação da morte para o psicólogo hospitalar, uma vez que esse tema
é freqüente na sua prática profissional. Para Sirlei (2007) a indiferença como a morte é tratada é reflexo da formação de
uma representação defensiva em relação ao medo e ao mistério do desconhecido, uma vez que a tendência da sociedade
é buscar a racionalização de tudo. Dessa maneira a comunidade precisa de uma psicologia que saiba lidar com as
peculiaridades do ser humano, levando em consideração sua história, suas características, sua cultura, suas crenças e sua
espiritualidade.

As questões relacionadas à morte estão presentes diariamente no ambiente hospitalar. Na visão de Bromberg (1998 p.
188) citado por Carvalho (1994, p.95) “o processo de luto não começa com a morte e sim com as relações existentes
antes da morte, que serão o determinante crucial na qualidade do processo de luto, as vicissitudes da terminalidade
colocam a unidade de cuidados (paciente e família) diante de decisões, lembranças, revivências, que poderão trazer
aspectos dificultadores ao processo em si, merecendo, portanto, atenção por parte dos profissionais envolvidos”.

Segundo Kovács (2003, p. 40,41) existem algumas intervenções necessárias na atuação do psicólogo frente à iminência
de morte, a saber: resgatar a capacidade de desejar aquilo que é mais importante, mesmo nos momentos finais da vida;
favorecer o insight, descobertas de si até o momento da morte; trabalhar o aprofundamento de relações significativas,
podendo retomar pendências, mal entendidos, capacidade de perdoar e ser perdoado; favorecer a expressão e conclusão
de assuntos inacabados; estimular e buscar os recursos internos do paciente; favorecer a ressignificação das principais

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experiências da vida e, por fim promover a autonomia do paciente, sua dignidade como ser humano, bem como o
exercício de sua competência.

Como lembrado por Carvalho (1994) não se pode deixar de citar o desgaste físico e emocional do cuidador, este merece
toda atenção dos profissionais da saúde, pois estão vivenciando diariamente a impotência na possibilidade de reverter o
processo da morte.

Para concluir este tema tem-se a visão de Madre Tereza de Calcutá citada por Kessler (2004) apud Sirlei (2007), onde
ressalta que “a vida é uma realização e a morte é o final dessa realização, ou seja, precisamos antes de tudo
compreender a morte e o morrer para compreender a vida e o viver, não apenas para nós estarmos vivos, mas para
realmente nos sentirmos vivos, dando significado para nossa existência”.

Sob a ótica de Carvalho, citada por Perina e Nucci (2005, p.41), “o terapeuta não é uma pessoa que se supõe que saiba
escutar, mas uma pessoa que saiba escutar, pois escutar é uma forma sensível, e implica abdicar-se de si para acolher o
que o outro está dizendo através de palavras, gestos ou apenas sob o aspecto do olhar silencioso”.

Esta psicologia é algo dinâmico, segundo Camon (2003), o psicólogo percebe que no contexto hospitalar os
conhecimentos acadêmicos não serão suficientes para respaldar sua atuação, e compreende que terá que aprender
através de sua convivência com os pacientes, sua dor, angústias e realidade, e o paciente de modo peculiar ensina ao
psicólogo sobre a doença e sobre como lidar com a própria dor diante do sofrimento.

Um fator questionado no artigo de Yamamoto e Cunha (1998) é a precariedade da formação acadêmica no curso de
graduação, que deveria propiciar uma maior capacidade crítica e reflexiva, como sendo um dos caminhos para preparar
o aluno em sua vida na sociedade. Devido a estes problemas, há uma crescente busca por especializações e cursos para
suprir os déficits já citados.

É digno de nota a importância da experiência dos profissionais responsáveis pelo atendimento psicológico dentro do
hospital geral, afinal o referido contexto exige demandas urgentes, uma vez que a família do paciente, por exemplo, não
sabe como este estará no dia seguinte.

Sabe-se que além da exigência por parte dos pacientes hospitalares bem como de seus respectivos familiares, há
também a ansiedade, a angústia e o medo do profissional responsável por tal atendimento. Fato este que corrobora com
a idéia de que a prática, a experiência, os conhecimentos técnicos e científicos são cruciais para o sucesso da
intervenção.

Portanto, “sem a teoria, o atendimento ao doente poderia ser realizado por qualquer pessoa disposta a ajudar. A
diferença faz-se em conhecimentos, responsabilidades nas intervenções e na resolução dos conflitos inconscientes”
(ALAMY, 2003), colocação esta que nos leva a concluir que prática e teoria caminham sempre juntas.

Segundo Seidl & Costa (1999) há um aumento nacional no número de psicólogos atuando em serviços substitutivos ao
hospital psiquiátrico tradicional, atualmente vem sendo criadas equipes multiprofissionais de educação para a saúde,
onde o psicólogo está presente. Apesar dessa melhora significativa o desafio da psicologia hospitalar, na visão de
Marcon & Col (2004), continua sendo expandir o número de psicólogos na rede hospitalar, além de garantir que a
atuação esteja baseada no modelo de atenção biopsicossocial e seja condizente com as necessidades da população
brasileira.

Devido a incontestável importância da atuação do psicólogo em instituições hospitalares foi realizado um estudo,
durante o período de Estágio Supervisionado em Psicologia Hospitalar, de março a maio de 2007, onde se buscou
relatar a experiência da inserção do psicólogo hospitalar em uma instituição que não oferece atendimento psicológico.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 8
Participaram da pesquisa 67 pacientes de ambos os sexos, sendo 35 homens (52%) e 32 mulheres (48%). As idades
variaram de 18 a 80 anos. A maior parte dos sujeitos da presente pesquisa estava internada pelo SUS (50 pacientes) e a
minoria (17 pacientes) estava internada através de algum plano de saúde ou particular. Com relação ao estado civil dos
participantes, 43 eram casados. Já no que se refere à prática de atividade remunerada, 35 deles exerciam algum tipo de
profissão.

No decorrer do estudo foi utilizado um Protocolo de Acompanhamento Psicológico Hospitalar (versão resumida)
desenvolvido por Dias e Radomile (2006). Este instrumento é subdivido em sete tópicos; o primeiro relaciona-se à
identificação do paciente englobando questões referentes ao nome, sexo, idade, estado civil, profissão, cidade onde
reside, informante, tipo de internação, dentre outros.

O segundo tópico diz respeito ao motivo da internação e ao diagnóstico clínico. O tópico seguinte, por sua vez, teve
como objetivo determinar se a patologia acometida pelo paciente era limitante ou não. É digno de nota que tal
instrumento foi designado também para averiguar quem solicitou o atendimento psicológico.

Um outro ponto importante que foi avaliado pelo protocolo refere-se aos aspectos cognitivos, emocionais e inter-
relacionais, bem como o parecer de um prognóstico e um possível encaminhamento para atendimento, sendo este
realizado no hospital ou na comunidade.

Todos os itens descritos acima foram colhidos através de perguntas objetivas. Porém, o último tópico refere-se a uma
questão aberta onde as aplicadoras responsáveis pelo trabalho sintetizaram os aspectos relevantes de cada caso.

A partir da disponibilidade do hospital para o desenvolvimento do estudo, as aplicações foram realizadas de forma
individual e de acordo com o consentimento do paciente. Ao lado do leito as estagiárias aplicaram o Protocolo de
Acompanhamento Psicológico Hospitalar. Devido às condições dos sujeitos no momento da internação, a aplicadoras
adotaram a estratégia de administração oral do instrumento, através da qual questionavam o paciente ou seu
acompanhante no decorrer do atendimento.

A partir da otimização dos dados pôde-se perceber que os aspectos ligados à consciência, atenção, orientação,
pensamento, memória, linguagem e afeto encontram-se, em sua maioria, preservados em tais pacientes. Estes dados
viabilizam o trabalho do psicólogo, uma vez que proporcionam maior interação entre este último e o paciente,
resultando em um melhor entendimento psíquico, amenizando assim as angústias, fragilidades e fantasias causadas pela
situação de hospitalização. Quanto ao relacionamento interpessoal, este foi visto como positivo uma vez que somente
quatro dos pacientes analisados relataram ter dificuldades nesta área.

Um dado importante analisado neste período foi o fato de que os próprios pacientes serviram como informantes de
questões relacionadas às suas vivências. Embora somente oito destes tenham sido classificados patologicamente como
limitantes, dezesseis da amostra total, necessitariam de encaminhamento para atendimento psicológico específico fora
do ambiente hospitalar. Este resultado corrobora com a idéia da importância da Psicologia Hospitalar, já que o
profissional desta área é responsável por coletar dados, analisar e dar um suporte psicológico a fim de proporcionar uma
melhora na qualidade de vida destes pacientes.

REFERÊNCIAS

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Recebido em 22/11/2007
Aprovado em 05/05/2008

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PROPOSTAS PARA UMA MELHOR ADAPTAÇÃO DO PACIENTE
AO MEIO HOSPITALAR
Ana Flavia Pacheco do Nascimento Fones 1

Introdução

A grande questão hoje, para o psicólogo hospitalar, é lidar com o sofrimento dos pacientes e ao mesmo tempo “lutar”
contra um sistema de regras e funcionamentos das instituições, que parecem trabalhar contra nossos esforços para
garantir o bem-estar físico, mental e social do doente.

Pude perceber, através dos relatos de minhas colegas deste curso virtual, que a aceitação e reconhecimento de nosso
trabalho dentro dos hospitais tem crescido e sido de grande importância no processo do adoecer.

À medida que nosso trabalho vai sendo reconhecido, e a importância dele se faz essencial no meio hospitalar, acredito
que podemos, ao invés de “lutar” contra, trabalhar em conjunto a favor do paciente.

Pensando em todas as questões que envolvem o processo do adoecer para o sujeito e sua adaptação diante de uma
ruptura com sua vida normal e sua hospitalização, buscarei desenvolver alguns pontos que seriam de grande
importância para mudarmos a realidade que temos hoje: que a hospitalização se parece mais com uma prisão e que ao
invés de ajudar o paciente acaba aumentando suas ansiedades e medos fazendo com que sua recuperação e melhora
passe por um longo processo.

A Importância Do Paciente E Sua Família

Depois de conhecer o trabalho de hospitais na cidade de Austin, em Texas nos Estados Unidos da América, compreendi
porque o sistema trabalha em prol do paciente e sua família.

A instituição sempre tem como foco central o bem-estar físico, mental e social do paciente, bem como seus direitos e as
leis que existem para garantir a dignidade, a qualidade de vida, o confidencialismo e principalmente o fácil acesso às
prioridades essenciais – educação, saúde e alimentação.

Também me pareceu que o conceito de hospital para eles é que este deve se parecer com um hotel, em que a pessoa vai
passar as férias, por exemplo, e o serviço oferecido deve ser de alta qualidade, para que esta pessoa se sinta “em casa”,
confortável e que possa desfrutar de seu tempo da melhor forma. Em um hotel não se trabalha para que o indivíduo se
sinta deprimido, angustiado, muito pelo contrário, todos os funcionários são claramente instruídos de que o cliente é o
seu alvo principal e o serviço oferecido deve ser o melhor possível.

Uma vez que compreendemos isto, entendemos o sujeito e suas relações sociais como um todo, e também podemos
reconhecer suas necessidades e trabalhar para que estas sejam supridas de forma “a assegurar sua individualidade,
respeitando seus valores éticos e culturais, sua privacidade” 2 , e etc.

Da mesma forma, importante se faz envolver a família e inserí-la no tratamento do doente, já que esta faz parte da vida
deste indivíduo e é o núcleo de suas relações e trocas, sendo assim, importante para que participe e apoie no tratamento
deste. A inserção da família no tratamento do paciente ajudará e será de fundamental importância no processo de cura
ou, em outros casos na compreensão e aceitação de seu estado (doente terminal, por exemplo). Lembro-me que também

1
Psicóloga formada pela Universidade Federal de Uberlândia, residente no Texas, USA.
2
CANCÊR - Faça valer os seus direitos. Disponível em: http://mariinha.adv.br/index2.htm.

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existem pacientes que não têm família, neste caso, seria importante considerar a pessoa mais próxima a ele para que se
tenha este apoio e ajuda necessária.

Nós não vamos conseguir dar um passo à frente para melhorar a qualidade de atendimento e estadia nos nossos
hospitais sem antes ter em mente que o paciente é um ser humano que tem seus direitos e que todo o sistema deve
trabalhar para garantir o cumprimento destes.

Quando Começam Os Cui dados Com O Paciente?

É mais do que fundamental saber quando e onde começam os cuidados do paciente, para assim darmos princípio a um
atendimento adequado a partir do momento de sua entrada no hospital.

É importante que o paciente perceba que existem pessoas prontas a servi-lhe e dar-lhe o que necessita para seu
restabelecimento e cuidado antes que passe as portas de entrada das enfermarias.

Cumprir o papel de receptor e informador é mais do que preencher papéis e dizer para onde ir ou o que fazer. Os
funcionários que recebem os pacientes e dão entrada nos papéis para internação devem ser pessoas treinadas e educadas
a respeitar e reconhecer que aquela pessoa em sua frente está débil e carece de cuidados, sendo assim, deve estar
preparada para responder perguntas e direcioná-los aos devidos lugares aonde estes devem estar, de forma cordial e
amável.

Neste momento seria interessante oferecer ao paciente um pequeno livro com informações básicas como: a missão do
hospital e suas regras, direitos do paciente, informações sobre os quartos e serviços oferecidos (especialidades
médicas, atendimento psicológico, fisioterapia, etc), telefones úteis incluindo àqueles que comuniquem com
funcionários do próprio hospital (exemplo: recepção, pronto socorro, serviço social, atendimento psicológico,
administração, restaurante ou área de alimentação, etc.), informações sobre atividades e possíveis alternativas de lugares
para se estar que não o quarto (exemplo: jardins, quarto de brinquedos e atividades manuais, biblioteca, capela, opções
de acesso à internet ou TV, etc.), informações sobre alimentação, cantinas ou restaurantes dentro do hospital (menus
oferecidos pelo hospital ou alimentação alternativa criadas por nutricionistas, por exemplo), etc.

Com isto, paciente teria em mãos uma forma para buscar se familiarizar com o lugar que agora o acolherá por um
tempo (curto ou longo), como também dará a este a impressão de organização e estruturamento da instituição. Se o
paciente percebe isto desde o princípio ele saberá que aquele lugar estará preparado para atender suas necessidades, é
como mostrar ao paciente que existe uma preocupação com seu bem estar ao mesmo tempo em que também expõe o
lado ético e o compromisso da instituição com o bem estar do paciente.

Os hospitais devem oferecer ao paciente e sua família informações sobre os cuidados e os serviços oferecidos a eles a
partir do momento que entram naquele local.

Da Adaptação do Paciente

Aqui começa a parte mais difícil para o paciente. Neste momento o paciente rompe com sua rotina, com seus
relacionamentos e começa agora a tentar responder e reacionar as questões que concernem seu adoecer.

É neste momento que acredito que todos os profissionais, que estarão em contato com ele, estejam preparados para dar
todo tipo de atenção, cuidado e apoio. Esta preparação deveria começar desde o princípio, quando houve a escolha da
profissão, quando se pensou que um dia gostaria de ajudar as pessoas.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 13
Infelizmente em nosso país muitas coisas se interpõem entre as questões profissionais (questão salarial, ética, falta de
incentivo para exercer a profissão, bem como poucos recursos para exercê-la, questões sociais e políticas, etc.), porém
podemos usar de alternativas simples e que estão de fácil acesso a eles para amenizar um pouco estes problemas, por
exemplo, alguns minutos durante seu período de trabalho, para expor e elaborar as situações e dificuldades encontradas
por eles naquele dia. É um trabalho que pode ser oferecido pela equipe de psicólogos e terapeutas ocupacionais.
Também incentivar o trabalho em equipe , ou seja, o trabalho conjunto, todos falando a mesma língua, todos
compreendendo a importância de cada um, fazendo importância a cada um, reconhecendo o papel de cada um, seja
médico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, etc. Tendo sempre em mente, o paciente e suas
necessidades.

Acredito que desta forma, todos se integram e podem oferecer ao paciente alternativas para que sua adaptação seja mais
fácil. Outro exemplo: se o médico ao atender o paciente pela primeira vez, reconheça a necessidade de apoio
psicológico, este poderá fazer menção do psicólogo e trabalhar em conjunto com ele para melhor atender as
necessidades deste indivíduo, evitando assim que se chame o psicólogo quando tudo já está um caos, e o paciente não
esteja respondendo bem ao tratamento. Esta unidade dos profissionais, esta troca de conhecimentos faz com que cada
área compreenda a dimensão total do paciente, que ele não é só um corpo doente é alguém que sente e socializa.

A contribuição também será para o estabelecimento de uma inter-relação entre os tratamentos oferecidos e amenização
do sofrimento do paciente.

Alternativas Para Amenizar o Sofrimento Durante o Processo de Internação

Neste momento podemos ressaltar alguns pontos concernentes ao bem estar físico, mental e social do paciente.

Primeiramente, já mencionamos a importância da família no acompanhamento e participação no tratamento e estadia do


paciente no hospital. Sendo assim, necessitaria uma redefinição no que diz respeito às visitações. Para que a família
participe e ajude ela tem de ter maior acesso ao paciente e às informações referentes a ele. Os horários de visitas
deveriam ser maiores para a família (das 8:30h às 20:00h, por exemplo), e esta deveria ter maior participação sobre
decisões tomada com relação ao paciente. Isto ajudaria também, para que tanto família quanto paciente, tivessem um
atendimento mais qualitativo, porque haveria mais presença e maior participação de parentes.

Outro ponto importante e a ajuda psicológica que deve ser oferecida a este familiar, que também sofre ao ver seu ente
querido passando por momentos frágeis e às vezes desesperançosos. Ela precisa estar bem para que contribua de forma
positiva e não negativa no tratamento de seu ente.

Para o paciente, existem inúmeras formas de envolvê-lo em atividades para que sinta mais aliviado do peso de estar
internado, da mesmice dos leitos, da falta do que fazer, para apoiar o trabalho de elaboração de emoções e sentimentos,
bem como dar ao paciente opções de socialização fazendo-o ter contato com a vida fora do hospital. Estas opções
poderiam ser:

• Salas devidamente decoradas para brincar.


• Salas especiais com TV, DVD’s, computador, livros, jornais, revistas.
• Salas para trabalhos manuais e musicoterapia.
• Jardins para passeios, com estímulos visuais: fontes de água, árvores, um pequeno lago, pátio com luz solar.
• Etc.

Talvez à primeira vista parecerá algo caro e difícil de se fazer, porém podemos usar o que já temos, espaços
desfuncionais do hospital, salas sem uso específico; no jardim, creio que todo hospital tem um espaço desses, talvez
necessitaria de algumas mudanças para torná-lo mais aconchegante; os brinquedos, livros, computador, TV, etc, poderia
ser conseguido de várias formas, doações, ou mesmo investimento do próprio hospital; para a decoração poderiam ser
usados conhecimentos de alunos, desta área, das universidades que poderiam voluntariar-se para ajudar a elaborar um

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 14
ambiente estimulante e aconchegante. (Para estes alunos poderiam contar como créditos para seu curso ou
enriquecimento de seu currículo.).

Pequenos eventos como: Contando estória, Apresentação de DVD’s, Momentos de reflexão ministrados por pastores ou
sacerdotes, Semana de atividades manuais, Semana da Arte, Palestras (sobre doenças específicas, tais como diabetes,
pressão alta, etc).

Além de muitas outras atividades que cumpririam o papel de amenização do impacto da hospitalização.

Um Lugar Melhor Para Se Estar

Todos nós desejamos estar em lugares que nos sentimos confortáveis, estimulados e que criem um ambiente como de
um lar. Às vezes nos adaptamos em um lugar em que não estejam àqueles mais próximos de nós, porém requeremos o
mínimo para que sintamos conformados e confortados aí. Um lugar que nos faça crescer, desenvolver, reacionar,
pensar, criar, enfim um lugar que nos permita sermos nós mesmos, com nossas individualidades e peculiaridades, onde
nos chamam pelo nosso nome e onde podemos identificar quem esta a nosso redor.

Por um momento penso que isto seria sonhar demasiado, mas existe a esperança de que um dia a estrutura hospitalar
seja totalmente redefinida para melhor acolher aquele que carece de cuidados especiais.

Poderíamos começar criando um ambiente mais agradável de se estar, um quarto melhor adaptado e melhor decorado
para estimular o paciente. O trabalho prestado, pelos alunos de decoração citados acima, pode ser estender na criação
de projetos para redefinir espaços e estabelecer cores específicas, para criar ambientes mais acolhedores no hospital,
inclusive nas CTI’s ou UTI’s, bem como nos corredores e salas médicas.

Outra mudança interessante seria, ao invés de chamar o paciente por número de leito chamá-lo pelo nome, e identificar-
se como funcionário “tal” responsável por “aquele” turno, para isso, poderíamos criar um cantinho na parede em que
pudéssemos colocar um pequeno quadro para se escrever, o nome da enfermeira que estará responsável pelo paciente,
seu número de telefone de rápido acesso, também incluir aí possíveis profissionais que estarão lidando com o paciente
naquele turno.

Acredito que as coisas que rodeiam o paciente tem profundo efeito sobre sua recuperação e restabelecimento mental e
físico. Estimular cada sentido em adultos, e especialmente em crianças, nos dará a chance de oferecer uma ajuda a mais
para a cura do mesmo.

Outras Considerações

Existem outras questões que também deveriam ser de relevância para adaptação do paciente ao meio hospitalar.

1. O tipo de vestimenta é algo que definitivamente deveria ser redesenhado. Por que não, tentar definir com ajuda de
uma costureira ou alguém que entendesse de moda, uma forma de vestimenta que deixasse o paciente mais à vontade e
que ao mesmo tempo fosse viável para tipos de procedimentos e exames?

2. Mudanças em certos tipos de cuidados para com o paciente, forma do banho, por exemplo, questão que constrange e
“ataca” a individualidade do sujeito; utilizar, somente em último, caso o banho de leito; existem cadeiras de roda
específicas para banhos em pessoas que tenham dificuldades de se manter de pé; outra coisa, quem dá banho em quem?
Isto deveria ser norma do hospital, homens fazem este procedimento com homens e mulheres com mulheres, isto seria
uma forma de evitar constrangimentos e situações des concertantes para o paciente.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 15
3. Discussão do quadro de saúde do paciente ou do paciente do lado em frente os mesmo, ou então o uso de
terminologias em frente a eles, o que os deixa confusos, com medo, mais ansiosos e mais angustiados. São detalhes que
deveriam ser trabalhados com cada profissional já que nosso intuito é o de melhorar as condições para a adaptação do
paciente.

Enfim, o que gostaria de ressaltar aqui é a questão da individualidade; a questão do direito à informação acessível; a
confidencialidade ou sigilo, ou seja, ter preservada sua intimidade, seus dados pessoais; o direito a ser tratado com
respeito e dignidade; etc. Acredito que estas são questões fundamentais para que o paciente se estabeleça como pessoa.
Se ele sabe que tem direito e que estes serão cumpridos, ele exigirá de certa forma, que a qualidade de seu atendimento
seja aquele desejado.

Mais uma vez retomo a importância do acesso às informações do hospital juntamente com direitos dos paciente,
contidos em pequenos livretos, e que sejam dados a cada paciente que dê entrada no hospital e que seja ferramenta de
trabalho de cada funcionário.

Conclusão

Nosso objetivo é simples, fazer com o paciente se adapte melhor a internação e garantir bem estar físico, mental e social
enquanto estiver sobre nossos cuidados.

Se para nós, psicólogos hospitalares, é fundamental que todos trabalhem a favor do paciente, para assim darmos o
suporte emocional e o apoio social que ele precisa durante sua estadia e seu tratamento, então penso que devemos
começar a ser mais ousados e ir em busca de soluções viáveis e concretas para que o nosso objetivo seja alcançado.

Todos os pontos discutidos neste texto são para ajudar no processo de restabelecimento do indivíduo, são para ajudá-lo
a enfrentar os momentos difíceis que porventura venha passar, são para estimulá-lo a elaborar mentalmente sua situação
e contribuir no seu tratamento, são para fazer com este indivíduo receba o que lhe é de direito e principalmente para que
este se sinta parte de uma sociedade que trabalha a favor de seus interesses.

Que possamos nos qualificar para atender todas estas demandas e que tomemos nossa posição e lugar e trabalhemos
para que sejamos parte de uma mudança que beneficiará a todos e contribuirá para garantir a humanização dos
hospitais.

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Recebido em 05/07/2008
Aprovado em 22/07/2008

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 17
REFLEXÕES SOBRE AS ETAPAS DESCRITAS POR KÜBLER-ROSS
A PARTIR DE SITUAÇÕES VIVENCIADAS
Janaína Bianca Barletta1

Pensando em exemplos das cinco fases de Elisabeth Kübler-Ross (2000), sobre pacientes terminais, vou trazer alguns
fatos que presenciei no meu trabalho com pacientes HIV/AIDS, em um hospital universitário, enfatizando o trabalho na
enfermaria da clínica médica. Nesta enfermaria, o trabalho da psicologia acontecia junto à equipe da DIP – doenças
infecto-parasitárias – composta por médicos, enfermeiros e nutricionistas. Algumas vezes, dependendo dos pacientes,
era solicitada a presença de médicos de outras clínicas como cardiologistas, oncologistas, pneumologistas, etc.

Bom, as fases são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Sobre a negação, fica muito claro no atendimento pós-teste em que o paciente recebe o diagnóstico de HIV positivo.
Nesse momento, existem as mais diversas reações, entre as quais a negação. Quando a notícia é recebida no
ambulatório, muitas vezes o paciente chora muito, se desespera, mas continua indo ao ambulatório para restabelecer um
equilíbrio físico, orgânico, mental, emocional, comportamental, relacional. Mas algumas vezes já ouvi o paciente não
ter reação nenhuma seja de desespero, seja de espanto ou, seja de ação. Uma vez um paciente me disse: “Ah, isso eu já
sabia. Pode ficar com esse exame, para mim não vale nada, não sinto nada, não me interessa”. Este paciente nunca mais
voltou. Necessariamente esta reação é de negação. Já que ele ‘não sabe’, não precis a se cuidar ou ter nenhuma
responsabilidade. Na enfermaria a grande diferença é que o paciente já está doente, já apresenta sintomas e mal-estar, e
também é mais difícil ‘fugir’ do atendimento, já que está acamado. Coloco mais difícil porque já atendi paciente que,
literalmente, fugiram da enfermaria. Uma vez atendi uma senhora que passou todo o tempo de internação tentando me
convencer (e talvez se convencer também) que ela não tinha ‘esse bicho’ e sim que estava doente porque o filho não lhe
dava o amor merecido. Não poderia ter esse bicho porque era casada, só tinha relação com o marido e, além disso, era
temente a Deus, ia à igreja, orava, era crente, não poderia ter esse bicho... O meu trabalho era que ela pudesse modificar
a crença de que HIV só acomete pessoas ‘promíscuas, perversas, que não acreditam em Deus’ (como ela mesma dizia).
Para fazer essa alteração, fiz um trabalho educativo, explicativo, e foi realizado juntamente com dois internos da
medicina que a atendiam. Por mais difícil que seja para nós psicólogos, na nossa cultura a palavra do médico é de
extrema importância. Em geral, muitos pacientes a aceitam em detrimento do nosso trabalho. Como eu estava em um
hospital universitário, o trabalho conjunto com estudantes de outras disciplinas era quase que uma praxe. Fazer um
trabalho educativo é importante, porque o paciente aprende sobre a doença, começa a entender o que pode ou não fazer
a favor de si mesmo, assim como, se permite chorar, gritar, ficar brava, e não apenas com vergonha querendo esconder
(de si mesmo) a culpa pela doença (muito comum com a AIDS).

A segunda fase, a raiva, era fácil de ser percebida especialmente através de outros profissionais. Sempre que começava
atender um paciente na enfermaria que ficava mais agressivo, reclamava (às vezes com e às vezes sem fundamento) de
tudo e de todos, lá vinham os médicos, profissionais de enfermagem e/ou estudantes da saúde pedir para que eu ‘desse
um jeito’ naquele indivíduo. Tal pedido era fundamentado com a mesma fala: “Esse é um péssimo paciente, agressivo,
mal humorado, dá trabalho, não faz tudo o que a gente manda. Esse é um problema para a psicologia”. Como esses
profissionais não permitiam que aspectos de ordem não-orgânica pudessem influenciar no tratamento, ou pelo menos,
que isso não era competência deles não precisavam saber, não lhes passava pela cabeça que esse comportamento
pudesse estar ligado ao processo de adoecimento. Com um pouco de atenção esses pacientes ficavam mais ‘dóceis’.
Ouvi várias vezes pacientes falarem: “adoro quando a senhora vem, parece que é a única que quer conversar e ouvir o
que tenho para falar”. Sei que essa possibilidade existia pela própria formação do psicólogo que é pautada no respeito
ao outro e trabalha com a escuta ativa, o que me permitia uma empatia muito maior que outros profissionais e, por
conseguinte, maior flexibilidade e tolerância. Como trabalho da psicologia, por diversas vezes iniciei esta discussão nas
reuniões de equipe, mas nunca foi dado continuidade ou importância ao assunto.

A terceira fase, a barganha, os pacientes estabelecem acordos com Deus, com o místico, numa tentativa de que uma
força maior os salvem dessa doença, os curem como um passe de mágica, já que os médicos não conseguem. Nunca de
fato vi acontecer, mas já tive relatos de alguns pacientes sobre tais acordos. Uma vez, uma paciente me falou: “vou

1
Psicóloga. CRP 03/04052. Especialista em Psicologia Clínica da Saúde/UnB - Mestre em Psicologia na área Desenvolvimento
Humano no Contexto Sócio-Cultural/UnB. Professora de graduação da Universidade Tiradentes/SE. Professora de pós-graduação da
Faculdade Atlântico.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 18
tomar a medicação direitinho, como o médico falou, como a senhora me ensinou, porque aí vou melhorar, esse vírus vai
sumir. Quando isso acontecer vou pagar minha promessa, vou levar minha filha para casar com o filho do pastor.
Prometi para Deus, ele me ajuda e eu ajudo ele. Minha filha vai ser santa, casando com o filho do pastor”. Aqui nota-se
que o acordo que ela estabeleceu com Deus não implica em uma mudança de comportamento só dela, e sim na vida da
filha. E se a filha não quiser? E se o filho do pastor não quiser? Como fica a promessa? Como fica a saúde da paciente?
Mais uma vez, a paciente coloca a responsabilidade da melhora nas mãos de terceiros. Apesar dela tomar a medicação,
a melhora não está vinculada ao remédio e sim a vontade de Deus em cura-la. Acho essa uma situação muito
complicada. Poucos dias depois a senhora recebeu alta hospitalar, assim não houve tempo hábil para atendê-la sobre
esta questão. No ambulatório, ela foi para os dias que eu não estava assim não sei como ficou a continuidade do
tratamento.

Atendi uma paciente internada, que já a acompanhava em ambulatório, que adoeceu gravemente. A AIDS tem uma
peculiaridade, vem sempre acompanhada por diversas doenças. Isto é, a comorbidade é a doença física da AIDS. Assim,
esta paciente, ficou muito debilitada, com tuberculose e uma imunidade baixíssima. Aos poucos ela foi se recuperando,
aumentando a imunidade. Mas sua adesão, e por conseqüência sua melhora, se devia ao fato de que ela estava internada.
Essa paciente, apesar de melhor fisicamente, e com a promessa de alta pela equipe médica, já não conversava com
ninguém, já quase não abria os olhos, já não sorria e também não recebia nenhuma visita. Uma tarde passei horas com
ela. Nesse dia ela me disse que já agüentava mais, já não queria sair dali, já não tinha forças para continuar lutando. Ela
não se imaginava mais na rua, buscando por sua vida. Relatou a falta que a filha fazia, o vazio que sentia no peito, a
tristeza de ter ‘essa doença’, a dor de existir. Lembro-me claramente do desespero que me encontrei para fazer com que
ela mudasse de idéia, de fazer com que ela percebesse que a vida vale a pena. Mas não havia palavras que a fizessem
mudar o discurso. Ela não chorou (só eu, assim que saí do quarto), não me deixou acender a luz ou abrir as cortinas,
preferiu ficar no escuro. Acho que seu rosto nunca vai deixar minha memória, nem suas palavras. Ela estava na fase da
depressão, e desistiu de viver. No dia seguinte, quando voltei ao hospital ela já havia falecido. Foi um susto para a
equipe, que via claramente a melhora da paciente. Para mim foi frustrante, doloroso, me senti incompetente, impotente.
Foi um longo caminho até que eu aceitasse que essa foi uma escolha da paciente, e que talvez tenha sido a melhor
escolha para ela (ainda me questiono muito). Na época, minha supervisora falou que eu fiz o que podia, mas foi um
momento muito difícil para mim!

Por último, vou exemplificar a aceitação. Da mesma forma, que atendi pacientes que tinham um prognóstico positivo e
desistiram da vida, atendi pessoas que lutaram ardentemente para viver. Conheci um senhor, internado, com AIDS, com
câncer de próstata, com pneumonia, com baixíssima imunidade e um prognóstico de morte inevitável. Sua situação era
tão grave que ele não tinha condições para fazer quimioterapia, e seus cuidados, segundo os médicos eram paliativos.
Mas não foi mandado embora do hospital, pois queriam acompanhá-lo de perto, em uma última tentativa. O paciente se
mostrava a par de sua situação, sua pouca possibilidade de sobrevida, e sua impossibilidade de tratamento para o câncer.
Mas ao relatar o quanto queria viver, seus olhos brilhavam, sua força crescia e sua busca continuava. A esperança, que
segundo Kübler-Ross (2000), está presente em todos os estágios, sustentava essa força. Do mesmo modo, era a
conversa com a filha. Ela também mostrava muito empenho na conquista da saúde do pai. Havia um amor entre eles
inexplicável. Resumindo, esse paciente melhorou muito, contrariando todas as possibilidades dadas a ele. Saiu do
hospital ‘vendendo saúde’, feliz, cantarolando. Não saiu para morrer em casa, e sim para viver em casa. Essa foi uma
situação em que meu trabalho não foi realizado. Na verdade, todas as vezes que foi visitá-lo senti como se eu estivesse
aprendendo, recebendo lições de vida. Na verdade, foi isso mesmo. Esse paciente viveu mais dois anos, e depois foi a
óbito. Mas esses dois anos foram de luta e de alegria contagiante. Acho que esses pacientes nos dão força para continuar
trabalhando!!!

REFERÊNCIAS

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar a médicos,
enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. 2ª. Tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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Recebido em 21/06/2007
Aprovado em 04/07/2007

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A MORTE E O LUTO A PARTIR DO MITO DA MEDUSA E O TRABALHO COM
CRIANÇAS PORTADORAS DE DOENÇAS TERMINAIS
Élida Araújo Mendes1

INTRODUÇÃO

Com este trabalho propõe-se realizar uma reflexão acerca da morte e o que ela representa, bem como os mecanismos de
defesa que estão implicados neste processo. Além disso, se exemplifica tais questões a partir do estudo do luto em
crianças com doenças terminais e a partir do mito da medusa. Tenta-se com isso, relacionar este mito não somente com
a visão psicanalítica da morte e da perda, como também com autores que desenvolveram bastante este tema, e que lidam
com ele no dia a dia, em seu trabalho.

O intuito final é sempre buscar uma clareza maior a respeito deste tema tão evitado pela maioria dos profissionais de
saúde, mas que se faz imprescindível para garantir o bem estar daqueles que são obrigados a encará-la e que necessitam
de não estarem sozinhos neste processo.

A MORTE E A MEDUSA

Passamos a maior parte de nosso tempo fugindo da morte, refugiando-nos no mundo da ficção, ou realizando-nos nas
figuras de heróis que vencem a morte. Tais considerações são reflexos da utilização de alguns mecanismo s de defesa
como a negação, ou seja, para lidarmos com a morte muitas vezes preferimos negá-la evitando o desprazer; ou também
a identificação (se transformar a partir de um modelo) em que nos identificamos com a figura de heróis ou deuses. O
cinema, o mito e as representações culturais por meio da arte são reflexos deste movimento humano de criar situações
para lidar com uma dificuldade, e a morte pode ser uma delas.

É interessante notarmos como que a morte está presente na vida de muitos heróis da mitologia como algo bom que vem
para a libertação de uma coisa ruim. Aqui a morte pode ser vista como o primeiro passo para um recomeço de uma nova
vida e na história da deusa Medusa, a morte resulta na sua vida e assim ela ganha os céus, se liberta, simbolizando a
vitória da inteligência e sua união com a espiritualidade.

Esta deusa grega ao se colocar diante de seu conflito amoroso, que é lutar por um homem comprometido, se depara
diante da modificação de sua beleza para um monstro, que morto, renasce para uma vida, ou seja, Medusa ao ser
privada de sua beleza se viu em meio a sentimentos de ódio que tomaram conta dela e a transformaram em um monstro,
em que foi preciso a morte para que essa renascesse para a vida. O ser humano diante da privação também se angustia e
é tomado por sentimentos destrutivos como a agressão.

Diante disso, podemos também pensar que a morte seria um sentimento de onipotência infantil, surgido das fantasias de
destruição, tal situação é verificada quando uma pessoa sente que uma parte dela mesma morre com o ente querido,
percebemos aqui a morte podendo ser vista como uma ferida narcísica. Narcisismo seria quando há um desequilíbrio no
ego e este se torna objeto de amor e os objetos externos passam a ser controlado pelo ego. A partir disso, não haverá
investimento nos objetos do mundo externo.

A descrição das angústias primitivas vividas no início da vida refere-se ao temor que sentimos da morte, este medo da
morte estaria ligado ao medo do sofrimento, do desamparo, do desconhecido, da perda do objeto de amor, e é Melaine
Klein que nos fala melhor sobre isso, mostrando-nos o quanto o conflito pulsional se dá entre a libido do ego e a libido
objetal. O ego utiliza-se de mecanismos de defesa permitindo que o amor e o ódio convivam no mesmo indivíduo.

1
Psicóloga formada pela UFMG em 2007. Possui experiência de extensão de um ano no Hospital das Clínicas da UFMG, onde
realizou um trabalho com mães no setor de Neonatologia, experiência no Hospital da Baleia no atendimento em brinquedoteca,
realizou pesquisa no Raul Soares e CERSAM Noroeste. Trabalhou na Prefeitura de Belo Horizonte no setor de Gerência e
Programação de Projetos. Atualmente participa da pesquisa Médicos na Atenção Primária à Saúde de Minas Gerais.

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Klein ao descrever a constituição do aparelho psíquico do indivíduo, nos mostra que o bebê na sua relação com o seio
materno já inicia suas experiências de angústia diante da privação. O bebê introjeta as partes idealizadas e persecutórias,
seio amado e odiado. A experiência com o objeto bom ajuda o ego a se desenvolver e diminuí a persecutoriedade.

O bebê realiza uma integração em relação ao objeto parcial seio, para a figura total da mãe, se dando conta de que o
objeto odiado nos momentos de frustração é o objeto amado nos momentos de gratificação. Esta experiência de
integração permite ao bebê reconhecer o valor do objeto e sua dependência em relação a ele, surge ai a possibilidade de
culpa e luto. Podemos pensar que como no caso da Medusa que morre para retornar à vida, o processo de luto seria este
morrer, se soltar das amarras do passado monstruoso para renascer para uma vida estruturada com a simbolização do
acontecimento morte.

Uma das formas de simbolizar a morte seria passar pelo processo de luto. O luto de um ente querido permite que o
sujeito aceite e perceba a sua condição de incompletude em que qualquer pessoa não preenche o que falta ao outro. Com
isso, percebemos que a morte estaria neste lugar de evidenciar para o sujeito: algo lhe falta e não é este outro que partiu
que vai preencher sua falta então, a morte serviria para reafirmar para o ser humano: você tem que se haver com sua
falta.

Ao pensar sobre a morte o ser humano é tomado por sentimentos e reflexões. Sabemos que a morte é um evento natural
do ciclo de vida do sujeito que gera reações emocionais de choro, angústia, depressão, etc. Porém, o que estaria por trás
destes sentimentos que se desencadeiam com a morte de alguém próxima a uma pessoa? Podemos pensar que estas
reações emocionais seriam resultados da falta de elaboração da morte.

Então, o que seria a elaboração da morte? Se formos pensar do ponto de vista psicanalítico, consideraríamos que o
sujeito só surge como tal pela sua divisão, pois só pode ser desejante, do objeto perdido, proibido, após a sua
significação, ou seja, no período da passagem pelo Édipo o sujeito se depara com uma proibição e internaliza a lei
entrando no simbólico. Exemplo, uma criança, diante de uma mãe que deixa de dar atenção para seu filho para namorar
o marido, se vê castrada (um ser que não completa todos os desejos do outro) então, esta criança vai ter que se haver
com a sua castração internalizando a proibição: não posso te dar atenção agora, e construir mecanismos de significação
para lidar com esta falta da mãe, como na atitude de brincar de esconde-esconde com a mãe. A partir daí inicia-se o
surgimento do ser e a diminuição do Outro (o discurso se estabelece numa relação entre o agente e o outro. O outro é
aquele ao qual o discurso se dirige, neste caso o grande Outro, pois o discurso estabelece uma relação, um vínculo, uma
comunicação de sentido entre o agente e o outro). O sujeito deve se aver com a castração, a falta do Outro, percebe-se
como barrado por este (o Outro) e se percebe como inconsistente como sendo aquilo que não possui um significante,
como sendo a origem da falta. Então, elaborar a morte seria conseguir simboliza-la, dar significado para algo que
remete à sua falta existencial, uma vez que a morte coloca o indivíduo diante da falta.

A morte tem que ter um sentido e tem que haver a possibilidade de uma sobrevivência simbólica. Então, construímos
representações, atribuímos significado à morte. Por isso, para que não haja problemas futuros com as crianças o melhor
a se fazer é esclarecer com a verdade o que se passa e deixá -las participarem do processo de luto e seus rituais de
enterro, para que essas signifiquem a morte e tornem mais nítida sua lembrança sobre este acontecimento.

Enfim, o ser humano é ambivalente nos seus sentimentos, ao mesmo tempo em que sente dor pela morte de alguém
sente prazer ou ódio, que neste caso vem ligado à agressividade. O conflito vivido pela Medusa, que se colocou de
determinada maneira no seu problema, também pode implicar qualquer indivíduo, uma vez que o indivíduo é um ser
faltante que depara com conflitos de diversas ordens. O ser humano é dotado de uma estrutura psíquica que cria
mecanismos para ajudá-lo a lidar com adversidades, e a morte seria uma destas dificuldades que ele tem que enfrentar.

O PROFISSIONAL DA SAÚDE DIANTE DE CRIANÇAS COM DOENÇAS TERMINAIS

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O pensar sobre a morte seria uma espécie de dor psíquica gerada pela idéia que o sujeito tem do que seja a morte. O ser
humano diante deste tema normalmente é tomado por sentimentos e reflexões.

Ao pensarmos como a criança percebe a morte e lida com o luto podemos nos levar a pensar que a criança lida com esta
situação da mesma forma que o adulto. A criança muitas vezes incorpora o conceito de morte, isto quando o faz, de
acordo com o que ela aprendeu do que seja a morte. Muitas vezes a morte é vista sob o aspecto religioso ao qual está
ligada uma família.

O livro Oscar e a Senhora Rosa ilustra o fato acima. Este livro nos conta a história de um garotinho que viveu algo
semelhante do que desejo falar aqui: como uma criança que ainda não tem definido o que seja a morte pode trabalhar
estas questões diante de uma doença terminal que a atinge?

O conceito de morte está pautado em três princípios:

• Irreversibilidade= quando se morre não se volta mais.


• Universalidade= a morte atinge a todos os seres vivos.
• Não-funcionalidade= a morte nos retira a sensação de uma vida física.

Quando a criança passa a entender os três conceitos acima essa passa a compreender o que seria a morte.

Oscar e a Senhora Rosa é um livro que nos conta a história de um garotinho chamado Oscar que estava hospitalizado e
que descobriu, ao ouvir a conversa de seus pais com o seu médico, que ele iria morrer e que não mais havia expectativas
de vida para ele. Depois disso, seus pais e a equipe do hospital passam a tratá-lo com indiferença como se ele já tivesse
morrido. A Senhora Rosa, uma senhora que visitava as crianças do hospital, aparece para amenizar seu sofrimento e o
faz enxergar o quanto à vida dele era importante e que ele poderia viver sua vida a cada dia como se estivesse vivido
muitos anos. Este livro nos trás uma bela mensagem de vida, morte e doença. A partir do diálogo traçado entre estes
dois personagens, Oscar vive a sua vida em plenitude nos poucos dias que tinha e se prepara para morte experenciando
de sua forma o que deseja ter vivido.

Poderíamos pensar que o psicólogo diante de uma criança terminal agiria como a Senhora Rosa. Porém, o profissional
de Psicologia estaria pautado em alguns aspectos teóricos que talvez esta senhora não tenha levado em conta como:
observar qual o conceito de morte que esta criança tem, ter dispositivos de elaboração psíquica como o brincar e o
desenho, saber em qual estágio de experiência de morte esta criança se encontra se é na fase do protesto contra a morte,
na fase da desorganização e desesperança, etc. Levando em consideração que saber destes aspectos ajudará o terapeuta a
encontrar uma melhor forma de fazer um vínculo para ajudar o paciente.

Podemos verificar mais precisamente a reação psíquica determinada pela experiência com a morte na descrição feita por
Elisabeth Kubler-Ross que contém cinco estágios (Berkowitz, 2001): negação e isolamento, raiva, barganha, depressão
e aceitação.

Oscar parecia estar na fase de desesperança frente à morte e a Senhora Rosa com seu jeito especial e acolhedor soube
ouvi-lo e mostrar para ele que ela sabia entender como era estar passando por aquela situação. Esta senhora deu espaço
para que Oscar podesse conversar com ela sobre o significado da morte.

O mais interessante e fantástico foi o fato de Oscar “ter vivido” seu luto em vida! Ele escrevia cartas para Deus meio
que em um ritual de despedida e aos poucos em suas cartas e nas conversas com Senhora Rosa ia elaborando questões
que surgiam em sua mente e que diziam respeito ao seu estado de doente em um hospital. Oscar viveu em vida seu
ritual de morte, de despedida.

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Desde que uma criança adoece o psicólogo deve trabalhar com ela o luto, mostrando para ela a realidade e não uma
fantasia que possa explicar a morte. Levando em consideração que o luto é um ritual de superação ou de aceitação da
morte, Oscar passou por este processo juntamente com a ajuda de Senhora Rosa que o acompanhou em sua caminhada.

Portanto, é essencial que a criança saiba que está morrendo, Oscar ficou sabendo de sua morte através de uma forma
drástica, porém ele encontrou uma forma de trabalhar isso e uma ajuda de outra pessoa que o acolheu e o ajudou a
formular psiquicamente que momento era aquele ou o que era aquilo que ele estava vivendo que neste caso era a
expectativa da morte.

A REAÇÃO PSÍQUICA DIANTE DA EXPERIÊNCIA DE MORTE

A reação psíquica determinada pela experiência com a morte foi descrita por Elisabeth Kubler-Ross como tendo cinco
estágios (Berkowitz, 2001). É a partir destes estágios que podemos verificar o mecanismo de defesa de que os sujeitos
se utiliza para lhe dar com a morte, vejamos os cinco estágios da dor da morte a partir do mito em que Medusa também
viveu antes de sua entrada numa nova vida:

1º: negação e isolamento

A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A
intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas
ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo.

A Medusa passa por este estágio ao se deixar se levar por seu ódio por ter perdido sua beleza então, ela nega sua
mortalidade se apoderando de poderes: petrificar quem a olhasse. Assim como , as pessoas que negam que vão morrer se
identificando com heróis que vencem a morte e acreditam que também são imortais ou que não vão morrer.

2º: raiva

Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a Negação e o Isolamento, os relacionamentos se
tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva,
também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento. Neste caso Medusa passa por esta fase pela
agressividade, sendo por muitos considerada uma vilã.

3º: barganha

Havendo deixado de lado a Negação e o Isolamento, “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no
terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo. Aqui
percebemos que a pessoa promete pra si mesmo alguma mudança se conseguirem superar a doença e não morrer,
Medusa entra nesta fase ao colocar pra si mesma que deveria matar as pessoas pra não morrer, que se ela na morresse se
tornaria mais agressiva a ponto de acreditar que ninguém haveria de conseguir matá-la.

4º: depressão

A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas
condições de doente, quando as perspectivas da morte são clara mente sentidas. Surge então um sentimento de grande
perda. Temos aqui a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro
clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc. No caso da Medusa esse
momento pode ter ocorrido quando esta se viu surpresa com Perseu e chorou querendo viver.

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5º: aceitação

Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e
serenidade antes da longa viagem. Medusa vive esta fase quando renasce para uma nova vida. É como se ela tivesse
simbolizado a morte no novo viver.

CONCLUSÃO

A Medusa pode ser considerada como um símbolo da morte, ou do que morre. Com a perda de sua beleza, ela se depara
com a finitude. Esta se torna clara. Todos que a contemplam a partir de então, ficam petrificados. Sendo ela a
representação da morte, não se pode encará-la de frente, pois se tem o risco de morrer também, ou seja, de perceber a
falta, a incompletude.

Perseu, o herói que enfrenta a morte pode ser encarado como o nosso sistema de medicina. Com as novas tecnologias e
o pensamento que é propagado pela cultura de que se deve ter ao invés de ser, há a tentativa desesperada de controle até
mesmo sobre a morte, o que impede que a encaremos de frente. Não se pode olhar em seus olhos, ou seja, não se pode
comentar a respeito dela e evita-se ao máximo chegar perto dela. Não é mais como algo natural e todo um sistema de
crenças é criado para camuflá-la.

Perseu é aquele que vai de encontro à morte, que a afronta, tentando dominá-la, mas assim como os outros, ele não
consegue vê-la de frente. Tem que usar um espelho para conseguir decepar, ou seja dominar a medusa. Mas mesmo
conseguindo este feito, a cabeça da Medusa ainda petrifica aquele que a contempla. Esta petrificação é a representação
de todo o medo e o mistério que a morte contém. Portanto esta dominação é apenas ilusória, uma vez que a presença da
morte ainda está ali.

Perseu com este ato não consegue simbolizar a morte, ao contrário, irá mascará-la ainda mais. Mas a Medusa, em sua
morte nasce para uma nova vida. Ela passa pelos estágios da experiência da morte, pois se vê obrigada a encará-la desde
que perdera sua beleza e consegue ao final sair inteira desta experiência, mesmo que para isso tenha que morrer. Ela
representa a integração da falta como algo do ser, sua simbolização.

A morte não deve ser algo que nos petrifica. Se não olharmos em seus olhos, só estaremos mais e mais fugindo de seu
encontro, e conseqüentemente do aprendizado que ela nos traz. Olhar em seus olhos não deve significar para nós a
própria morte, mas sim, a possibilidade de enxergar a vida que há por trás dela.

Enfim, diante de um paciente terminal o psicólogo deve realizar com este sujeito um trabalho de escuta da angústia para
que este possa elaborar suas questões e aceitar ou compreender o que se passa em sua vida naquele momento.

REFERÊNCIAS

CARTER, Betty e Mônica MCGOLDRICK. As mudanças no ciclo de vida familiar . Capítulo 19: O impacto da morte
e da doença grave sobre o ciclo de vida familiar.

CARVALHO, Vicente Augusto de. Vida e Morte: Laços da Existência. Cap 2 A vida que há na morte.

CHIATTONE, Heloísa Benevides Carvalho. A Criança e a Morte.

DORGEUILLE, Claude e Roland CHEMAMA, responsáveis pelo projeto em Paris - Freud e Lacan, Dicionário de
Psicanálise.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 24
KOVÁCS, Maria Júlia. O Profissional da saúde em face da morte.

KUBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. Editora Martins Fontes, 2001.

OLIVEIRA, Tereza Marques. O psicanalista diante da morte: intervenção psicoterapêutica na preparação para a
morte e elaboração do luto.

SCHMITT, Eric Emmanuel. Oscar e a Senhora Rosa.

SITES: http://www.mundodosfilosofos.com.br/perseu.htm - http://pt.wikipedia.org/wiki/Perseu

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Recebido em 29/10/2007
Aprovado em 21/04/2008

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A PSICOLOGIA HOSPITALAR E O SIGNIFICADO
DA MORTE PARA A CRIANÇA
Jeanine Schuabb Duarte1

RESUMO

A morte é um assunto escondido, obscuro e que principalmente nos dias de hoje se coloca distante das pessoas e
conseqüentemente longe das crianças. É fundamental a compreensão de que as crianças doentes e hospitalizadas
apresentam uma forte capacidade de perceber as mudanças físicas que lhe ocorrem, o que facilita a percepção prematura
da morte.

O profissional da área de psicologia hospitalar deve procurar entender essas crianças e seus familiares, para ajudá-los a
enfrentar qualquer prognóstico, inclusive a morte.

Faz-se urgente que todos os psicólogos que se dedicam à psicologia hospitalar se encontrem verdadeiramente, e
procurem dar sentido à vida ou à morte de pacientes infantis dos hospitais.

Palavras-chave: morte, psicologia hospitalar, crianças.

APRECIAÇÃO

“Nós não nascemos com um modo de pensar estabelecido.


Ele vai se formando, aos poucos,
desde nossa infância.
Uma vez consolidado, não é fácil alterá-lo.”
Nahman Armony2

Antes mesmo e durante os idos anos de 1700 até 1800, as crianças eram reconhecidas como adultos em miniatura.
Muitas vezes não possuíam nome e sua passagem pelo mundo poderia nem ser notada, passando-se seu próprio nome,
se possuísse, a outra criança, apagando-a da memória dos seus familiares (Chiattone, 1996). A “peste negra” que
agonizou a Europa no século XIV trouxe a morte certa e sem aviso, portanto inevitável, onde nenhum curandeiro
pudesse exterminar. Este excesso proximal trouxe uma naturalidade emocional diante da morte.

Com o passar dos anos, o Renascimento e o Iluminismo trouxeram novas visões sobre a morte, principalmente a
infantil, onde as crianças falecidas eram idealizadas sob a forma de anjos comovendo o coração e a imaginação de seus
pais. A partir desta época a morte deixou de habitar o campo do certo e passou a adotar a mentira sistemática ou o
silêncio sagrado, alterando de forma significativa o comportamento dos indivíduos diante da morte.

Como diz Chiattone (1996), esta negação da morte passou a causar grandes dificuldades cognitivas aos adultos, o que se
refletiu na compreensão exata do significado deste processo pelas crianças.

Antigamente os velórios ocorriam na casa do falecido, colocando toda a comunidade envolvida sentimentalmente,
fazendo com que este evento pudesse ser encarado como uma despedida, da qual participavam inclusive as crianças.
Hoje o velório se dá fora do ambiente do lar e feito de forma rápida, desencorajando as lamentações e pesar de todos.
Até mesmo o morto é preparado para parecer “estar dormindo”. Todo este ritual caracteriza -se pela negação, pelo

1
Estudante de Psicologia, 2º ano, UNIP/DF. Aluna do Curso Virtual de Psicologia Hospitalar, ministrada pela Profa. Susana Alamy
2
Médico psicanalista, é membro da SPID, do círculo Psicanalítico do rio de Janeiro e da Federação Internacional das Sociedades
Psicanalíticas.

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silêncio misterioso que se forma, e assim a criança é orientada a dizer não à morte, em um preparo para a vida, sem o
esclarecimento necessário para tal conceito.

Segundo Ziegler (1977), “a morte se aproxima de nós mascarada, com a máscara de que reveste a sociedade que
constrói a nossa personalidade.” Agressora, ela possui identidade. É mencionada, temida e sua presença é considerada
por nós um desassossego. Assim não é o consciente inocente que recebe a morte, mas aquele consciente formado
durante nossa educação. Esta que se encontra na vivência de cada grupo social, uma época vivida ou cultural da qual o
indivíduo pertença.

A concepção da morte na criança começa pela admissão da morte do outro para depois tornar a si. Como é uma relação
perceptiva, ela diante da ausência de algo, a admite como morta, pois, conforme sua idade, ela ainda não possui a
distinção temporal e espacial. Ao viver o processo de separação a criança ainda não tem condições seguras de ter idéia,
programar e organizar esta situação.

A formulação do conceito de morte, para a criança, normalmente lhe é retida e como se trata de uma experiência não
vivida, a melhor condição mental que acomoda este processo é o vazio, a inexistência. Assim, as brincadeiras de
aparecer e desaparecer são os primeiros contatos com o “não-ser”, ou seja, a morte.

Em buscas constantes sob sua sexualidade, dos mistérios do tempo e de suas origens, as crianças procuram respostas,
que mesmo em contradição começam a fazer parte de suas vidas. Quando transcendem a natureza física das coisas, do
domínio invisível, os conhecimentos necessitam ser norteados de forma adequada para que a criança possa superar este
desafio intelectual. Os adultos escondem de si mesmos a vivência com a morte, formando idéias incertas e
intensificando as fantasias infantis dentro deste contexto. Isso remete a um erro sem precedentes, pois o conceito de
morte tem seu significado e deve ser considerado.

É a própria criança que determinará a compreensão e assimilação do conceito de morte, pois não se deve generalizar
uma norma etária de aprendizado e sim as variações de vivência de cada grupo social. Pesquisas feitas consideram o
grau de intensidade desta percepção, sendo ativa em todas as faixas etárias. Primeiro devemos determinar a aptidão da
criança em perceber a morte, depois ajudar a interpretá-la, classificá-la e adotar um estímulo de adaptação ao seu meio.

Durante pesquisas sobre criança-morte, encontraram-se falhas referentes a esta dualidade, pois na coleta dos dados que
servem de fontes para esses estudos, as informações extraídas saiam de fontes indiretas como pais e professores,
deixando as idéias das crianças em segundo plano.

Pincus (1974) diz que desde o momento em que se inicia a vida o crescimento do ser humano depende exclusivamente
da adesão e o reconhecimento da perda (perda da segurança uterina, perda do seio, qualquer perda, podendo ser real ou
não). E para enfrentar esta perda a criança necessita interiorizar o objeto que, na ausência, lhe assusta. O sucesso desta
etapa emocional estabelece uma precondição para tolerar futuras perdas e separações. Assim como a criança, o adulto
em contato com o luto deve acolher para si o objeto amado, sem jamais perdê-lo.

A criança hospitalizada, dependendo da gravidade da sua situação, se vê em contato muito próximo com a morte, e não
encontrando ninguém capacitado em ampará-la e só encontrando o silêncio ou a mentira, ela também repetirá o
processo do silêncio. Morrendo em silêncio. Quando os questionamentos das crianças doentes, ou palavras como
“morte”, “estado grave” não são ditas, a tendência é o desencadeamento de fantasias por parte da criança. Esta
insistência com o silêncio proporciona o estacionamento e confirmação da fase de negação à morte, sem se conseguir
uma evolução na concepção e assimilação do luto. Ainda causando mais dores e conflitos.

“Torna-se fundamental destacar o papel das equipes da saúde que trabalham com crianças terminais em hospitais, na
clarificação e facilitação à expressão de seus sentimentos, fantasias e temores frente à morte, evidenciando a
necessidade de ajudá-las no processo de elaboração do luto.” (Chiattone, 1996).

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Esta atuação pode evitar “microssuicídios” através da recusa de alimentos, dificuldades escolares, transtorno do sono e
neuróticos, podendo evoluir a um estado compulsivo, na busca de explicações sobre a morte.

O psicólogo deve dirigir brincadeiras lúdicas para que a criança gravemente doente possa expressar-se, e ainda, poderá
experimentar uma nova forma de ser. Além de internalizar, amadurecer e elaborar o processo de luto. O uso de
fantasias, desde que direcionadas, pode ser um instrumento terapêutico onde se descobre o processo psicológico da
criança.

Devem-se procurar as atividades que fortaleçam a auto-estima e o autoconhecimento para que haja equilíbrio psíquico,
o seu senso do eu. Ao acompanhar desta forma a criança, o psicólogo recondiciona a criança à percepção mais saudável
das funções de contato e direciona a um comportamento mais satisfatório.

Enfim, é muito importante ajudar as crianças doentes, sem invadi-las, a se sentirem fortes internamente, aptas a uma
escolha, mesmo na situação em que se encontra. É necessário ser leve e delicado, porém sem passividade, aceitando a
criança com respeito e consideração.

REFERÊNCIAS

CHIATTONE, H.B.C. A criança e a morte. In: E a psicologia entrou no hospital . São Paulo: Ed.Pioneira Thompson
Learning Ltda., 1996. cap. 2, pp. 69-146.

PINCUS, L. A família e a morte. Como enfrentar o luto. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1974.

ZIEGLER, J. Os vivos e a morte. Trad. De Áurea Weissemberg. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1977

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Recebido em 01/11/2007
Aprovado em 23/11/2007

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UTI NEONATAL:
IDENTIFICANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR
Julio César Torres 1
Patrícia Helena Pietro Malzone2
Célia Soares 3
Natália Martins Dias 4
Maria Eugênia Scatena Radomile 5

Resumo

Um dos objetivos da Psicologia Hospitalar é minimizar o sofrimento causado pela hospitalização e por eventuais
seqüelas emocionais decorrentes deste processo. Pode prestar seus serviços a pacientes, acompanhantes/familiares ou,
mesmo à equipe médica. Na UTI Neonatal (UTI Neo), o psicólogo hospitalar encontra uma importante demanda: o
neonato e seus pais, em geral fragilizados perante a internação de seu bebê. Esta situação pode requerer uma
intervenção específica, focada ao bebê e/ou aos pais e familiares e de diferentes ordens __ educativa, assistencialista,
estimulação. Este estudo caracteriza -se por uma simples pesquisa de levantamento e teve por objetivo identificar a
atuação do psicólogo na UTI Neo. Participara m 15 psicólogos com experiência de atuação na área hospitalar. Foi
utilizado um questionário elaborado por estes autores e composto por quatro questões. Os participantes foram
contatados por e-mail, sendo enviado o questionário àqueles que consentiram em colaborar deste levantamento. Após a
devolução dos questionários, foram conduzidas análises estatísticas descritivas (questões 1, 2 e 3) e análises de
conteúdo (questões 3 e 4). Os resultados apontam que na maioria das instituições representadas pelos profissionais deste
estudo há a atuação do psicólogo na UTI Neo, assim como programas implementados neste contexto, dos quais a
maioria possui um caráter assistencialista. Os resultados também possibilitaram identificar que a atuação destes
profissionais é primeiramente voltada aos pais do neonato e, em seguida, ao bebê e demais envolvidos no processo de
hospitalização. Deste modo, o estudo permitiu a identificação da atuação e caracterização da ação do psicólogo na UTI
Neo, assim como de projetos implementados neste contexto e, espera-se, possa fomentar discussões sobre novas
possibilidades de atuação deste profis sional.

Palavras chaves: UTI neonatal, psicologia hospitalar, atuação profissional.

Apresentação

O presente artigo originou-se de um trabalho acadêmico apresentado à disciplina intitulada ‘Psicologia Hospitalar’ da
Universidade São Francisco (USF). Foi desenvolvido pelos quatro primeiros autores sob a supervisão da última autora e
seu objetivo é delinear e levantar a atuação do psicólogo hospitalar na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI
Neo). Utilizando-se de um questionário simples e sucinto e baseando-se em um delineamento de levantamento, buscou
identificar a atuação do psicólogo na UTI Neo, o foco de sua prática, a implantação de programas neste contexto e a
natureza de tais programas. De um modo geral, o intento precípuo deste breve esboço é responder a questões sobre
quem é o psicólogo hospitalar na UTI Neo e quais suas possibilidades de atuação. Espera-se que, conhecendo melhor
este profissional e seus saberes e fazeres, se possa fomentar maiores reflexões atinentes à sua prática.

A Psicologia Hospitalar: breves considerações

O objetivo da Psicologia Hospitalar é minimizar o sofrimento causado pela hospitalização e por eventuais seqüelas
emocionais decorrentes da internação. Eventualmente, do tratamento psicológico podem resultar outros fatores

1
Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco
2
Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco
3
Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco
4
Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco, bolsista do Programa de Iniciação Científica Pibic-CNPq da
Universidade São Francisco.
5
Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia - CRP06/1338. Docente do curso de Psicologia e Supervisora de estágio em Psicologia
Hospitalar na Universidade São Francisco

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benéficos e até muito bem-vindos, no entanto devem ser entendidos como adendos ao objetivo principal em si.

Para exemplificar contextos emocionais no ambiente hospitalar que justifiquem o apoio de um Psicólogo Hospitalar,
podemos citar dois exemplos: (1), o trauma da internação para uma criança que até então não tenha sido separada do
seio familiar, do qual de repente se vê arrancado para ser internado em um ambiente frio e hostil; e (2) a agressão
sofrida por uma pessoa mutilada por uma intervenção cirúrgica e a sua necessidade de acompanhamento psicológico
pós-internação para poder assimilar a sua nova condição física. Assim, conforme Sebastiani (2001), “não podemos
assim, num simples determinismo, aceitar que o problema da mulher mastectomizada se inicia e se encerra com a
hospitalização. Evidentemente que muitos casos abordados pelo psicólogo no hospital irão exigir após o processo de
hospitalização encaminhamentos específicos para processos de psicoterapia, tal a complexidade e o emaranhado de
seqüelas e comprometimento emocional”.

A Psicologia Hospitalar tem características terapêuticas e de abordagem completamente diferentes das sessões
convencionais de psicoterapia, posto que ocorre em um ambiente hostil e em paralelo com situações de stress intenso, e
ao mesmo tempo em que ocorre todo o tipo de distrações e interrupções para medicações, tratamentos, entre outros.
Neste contexto, é importante que sempre seja obedecido o arbítrio do paciente quanto à aceitação do tratamento, “para
não se tornar ele [o Psicólogo Hospitalar] também mais um dos elementos abusivamente invasivos que agridem o
processo de hospitalização e que permeiam largamente na instituição hospitalar” (Sebastiani, 2001). Também é
essencial, neste ambiente, o entrosamento do Psicólogo Hospitalar não apenas com os pacientes, mas também com os
demais profissionais do hospital, para que seu trabalho ocorra com a anuência e até o incentivo e encaminhamento
destes colegas.

É importante para a obtenção de êxito no trabalho do Psicólogo Hospitalar que ele respeite sempre os princípios
institucionais da entidade em que está trabalhando. Caso ele discorde destes princípios, deverá trabalhar para mudar os
fatores que entende que estejam prejudicando os pacientes na cultura institucional, no entanto o enfrentamento com os
princípios institucionais é um caminho que nunca deve ser trilhado sob pena de que se perca a eficácia e os resultados
do seu trabalho. Além disso, a humanização do ambiente hospitalar passa pela mudança da atitude de toda a sociedade
hospitalar, inclusive da equipe de profissionais que lá trabalham, assim o Psicólogo Hospitalar não pode nunca trabalhar
isolado, precisando por um lado estar inserido na realidade dos seus pacientes, e em outra frente, estar profundamente
inserido na realidade organizacional da instituição em que trabalha.

Como o conceito da somatização é cada vez mais aceito na sociedade médica, o psicólogo como médico das “almas”
goza de status cada vez maior como fator determinante adicional no processo de cura dos pacientes. Segundo Sebastiani
(2001), “é notória também a evidência cada vez maior de que muitas patologias têm seu quadro clínico agravado a
partir de complicações emocionais do paciente. Intervir neste ponteamento é outra performance que faz da psicologia
uma força motriz até mesmo no diagnóstico e compreensão de patologia que a própria Medicina não tem uma
explicação absoluta. ”Assim, a Psicologia Hospitalar já evoluiu bastante nos últimos anos, mas ainda tem pela frente
um longo caminho a trilhar, não só no que se refere ao conhecimento prático de otimização do tratamento em relação
aos pacientes, minimizando o seu sofrimento, mas também referente ao trabalho com as equipes que trabalham nos
hospitais, e que deverão corroborar como agentes imp ortantes na humanização do ambiente hospitalar e conseqüente
melhoria na qualidade de vida dos pacientes antes, durante e após a sua passagem pelo hospital.

A UTI NEONATAL

A Unidade de Terapia Intensiva é um recurso hospitalar destinado ao tratamento de graves enfermidades. O paciente
crítico, cliente desta Unidade é especial pelas suas condições, e por toda a demanda de cuidados que lhe são propostos
ou impostos __ os cuidados intensivos. O intensivismo é uma especialidade voltada completamente a este paciente, que
não está internado somente por um comprometimento específico, mas um comprometimento sistêmico, em todo o seu
organismo. O que inicialmente se observa é que, através desta especialidade tão comprometida com a vida, o
contraponto desta proposta de reversibilidade, das óbvias condições de possível morte do paciente às condições de
recuperação e total reabilitação, é o quanto este tratamento é doloroso e confuso (não raro, ambíguo) para o paciente e
sua família (Lopes, 2004a). Estes fatores são maximizados quando o paciente trata-se de uma criança, um bebê.

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A unidade de terapia intensiva neonatal - UTI Neonatal - é o local que concentra, em uma mesma área física, os
recursos humanos e materiais necessários para dar suporte ininterrupto às funções vitais dos recém-nascidos (web site
Guia do bebê, 2006).

Nela há equipes especializadas de médicos, enfermeiras, além de outros profissionais de saúde e pessoal de apoio, com
retaguarda de exames complementares, laboratoriais e radiológicos, tudo funcionando 24 horas por dia. Equipamentos
modernos como incubadoras de última geração, respiradores, monitores cardíacos e de oxigenação, entre muitos outros,
são obrigatórios neste ambiente, de modo a garantir todos os cuidados que o bebê precisa (web site Gu ia do bebê,
2006).

O bebê prematuro e o impacto da prematuridade na família

A Organização Mundial de Saúde define como Recém-nascido de baixo peso aquele que apresenta peso, ao nascer,
igual ou inferior a 2.500g e como prematuro toda criança nascida antes de 37 semanas.

O nascimento prematuro e de baixo peso expõe a criança a vários riscos no seu desenvolvimento. Freqüentemente bebês
prematuros exibem limitações cognitivas e nas habilidades motoras que podem persistir durante toda a infância (Vohr &
Coll, 1985).

O nascimento de um bebê de risco ou prematuro é uma crise imprevista em qualquer família. Os pais experimentam
sentimentos muito fortes de falha, incompetência e culpa. No caso do recém-nascido prematuro, podemos considerar
que os pais também são "pais prematuros" e enfrentam dificuldades ao lidarem com as suas expectativas (o bebê ideal)
e com a realidade (Lopes, 2004b).

Pode-se dizer que a aceitação do bebê prematuro e frágil, exige dos pais a elaboração de um luto pelo bebê ideal.

O ví nculo Mãe/bebê

Conforme ilustrado por Lopes (2004b), a relação precoce entre pais e seus infans é a base para o desenvolvimento
infantil. Pode-se considerar, ao menos em algumas abordagens teóricas da psicologia, que as relações iniciais entre o
bebê e seus pais são consideradas o protótipo de todas as relações futuras.

Segundo manuscrito de Lopes (2004b), o bebê prematuro e seus familiares têm muitas diferenças iniciais. Os pais são
raramente preparados para sua primeira visão de um bebê magro e mantido por monitores. Sua comunicação inicial
ocorre com a equipe de saúde e não com seu bebê.

A relação precoce entre pais e seus pequenos é a base para o desenvolvimento infantil. No entanto, pesquisas sobre a
interação pais/pré-termo e o vinculo na U.T.I. neonatal vem demonstrando que os pais se sentem alienados e
freqüentemente tem dificuldade inicial de formação de vinculo com seus bebês, conforme citação de Lopes (2004b).

No mesmo trabalho, a autora releva que as teorias psicológicas baseadas na psicanálise, bem como a psicologia do
desenvolvimento e as teorias comportamentais baseadas nos modelos de aprendizagem abarcam a importância da
relação mãe/bebê como um dos fatores prioritários para a explicação do tipo de desenvolvimento e problemática
associadas às idades mais avançadas. Além destes, o vínculo, o contato, enfim a estimulação, sobretudo auditiva e tátil,
contribuem para a maturação cerebral e desenvolvimento cognitivo do bebê.

O Psicólogo Hospitalar na UTI Neonatal

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Dentre os profissionais da equipe de saúde, há o Psicólogo Hospitalar. Dentre suas atribuições, buscará facilitar os
contatos iniciais dos pais com seu bebê: é importante que os pais recebam informações sobre para onde seu bebê será
levado, sobre os cuidados que ele receberá e sobre o direito de vê-lo logo que eles se sintam em condições de fazê -lo.

Assim, os pais serão visitados por este profissional antes que vejam o bebê pela primeira vez, no intuito de transmitir
noticias sobre o bebê, do estado em que se encontra, bem como a que tipo de aparelho o bebê esta conectado e para que
estes servem.

O Psicólogo Hospitalar também atuará junto ao recém-nascido, na avaliação dos problemas de saúde que podem
interferir no desenvolvimento. Sua atuação também se dará na intersecção ‘família–bebê–equipe de saúde’, objetivando,
além da vinculação inicial com o bebê, o bom contato entre os membros da equipe de saúde e dos cuidadores.

O publico alvo da atuação do psicólogo

Na Unidade de terapia intensiva o alvo de atuação do psicólogo são os recém-nascidos, na avaliação dos problemas de
saúde que podem interferir no desenvolvimento; a família, quanto a questões psicológicas e sociais objetivando um
trabalho de equipe interdisciplinar que envolve, desta forma, a avaliação de todos os aspectos que podem estar
envolvidos no nascimento e hospitalização do bebê. Avaliação e intervenção psicológica dos pais, familiares e equipe
de saúde objetivando, além da vinculação inicial com o bebê, o bom contato entre os membros da equipe de saúde e dos
cuidadores (Lopes, 2004b).

A formação do vinculo: a família, do acolhimento à alta

O trabalho conjunto médico/psicológico, beneficia e demanda, freqüentemente, intervenções especificas e


complementares. Esta colaboração permite, em graus variados, em momentos diferentes e com pessoas diferentes,
trocar e melhor acolher a angustia das famílias. Desta forma, a equipe interdisciplinar deve priorizar a aproximação dos
pais de seus bebês, estando atenta para não colocá-los como meros observadores (Lopes, 2004b ).

Com o nascimento de um bebê pré-termo, normalmente os pais não tem tempo de ver, tocar e cuidar do bebê logo após
o nascimento. Nesse caso, o apoio recebido por parte da Equipe de Saúde é fundamental para facilitar que os pais
possam ver e tocar seu bebê logo após o nascimento, caso as condições de saúde assim permitam. Neste sentido, é de
fundamental importância que os profissionais de saúde estejam atentos para esses fatores que podem contribuir negativa
ou positivamente na formação do vínculo entre pais/bebês e equipe. As principais necessidades dos familiares são:
manter-se informados diariamente sobre o quadro clinico do paciente, obter informações honestas, sentir que o melhor
atendimento foi dado ao paciente e visitar o paciente na unidade para sentirem conforto (Lopes, 2004b).

O momento da alta é o momento em que a criança, devolvida aos pais, não estará mais sobre a proteção do serviço; ao
menos é assim que sentem os pais, com todas as angustias que isso comporta (Agman, 1999).

A volta para casa representa um momento difícil para os pais, já que estarão, pela primeira vez, sós diante desse bebê
frágil, que muitas vezes pode vir a apresentar seqüelas. A trajetória iniciada, de consultas médicas intermináveis com
diferentes profissionais e tratamentos de estimulação precoce, expõe a família e o bebê a abordagens diversas,
conselhos e posturas muitas vezes contraditórios que podem colocar a mãe numa posição de dúvida constante quanto a
seu modo de exercer a maternidade, já que o bebê se revela desde o inicio de sua vida como uma criança dos médicos, o
que pode dificultar muito a interação com seus pais (Lopes, 2004b).

A partir deste sucinto levantamento teórico, o presente estudo teve como objetivo delinear a atuação do psicólogo
hospitalar na UTI neonatal, de modo a conhecer seu atual papel neste contexto, suas atuações, saberes e fazeres e
fomentar discussões acerca de novas possibilidades de atuação.

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Método

Participantes

Participaram do presente estudo 15 profissionais, todos formados em psicologia e com experiência de atuação (prévia
ou atual) na área hospitalar. Todos os participantes são do sexo feminino e possuem (finalizado ou em andamento)
curso de pós-graduação, seja lato ou stricto sensu. Os profissionais colaboradores representam 15 diferentes instituições
hospitalares, dentre públicas e particulares.

O tempo médio de formação destes profissionais é de 8 anos e, dentre eles, 08 são psicanalistas, sendo 01 de orientação
junguiana, 05 orientam sua atuação sob os pressupostos da psicologia do desenvolvimento e 01 pauta sua prática na
teoria sistêmica.

Material

Foi utilizado para levantamento de dados um questionário formulado por estes autores e remetido via e-mail aos
colaboradores da pesquisa. O questionário consta de 4 questões, sendo que as questões 1 e 2 são objetivas; a questão 3 é
subdividida em três partes, sendo as duas primeiras objetivas (fechadas) e a última dissertativa (resposta aberta); a
questão número 4 é de resposta dissertativa. Mais especificamente, a questão 1 refere se, na instituição à qual o
profissional está vinculado, há atuação do psicólogo na UTI Neo; a questão de número 2 indaga sobre o direcionamento
da atuação do psicólogo na UTI Neo, havendo 4 alternativas possíveis: bebês, pais, equipe e outros. Mais que uma
opção pode ser assinalada. A terceira questão é dividida em 3 partes; na primeira parte somente se investiga se há algum
projeto do departamento de psicologia hospitalar implementado na UTI neonatal nas instituições dos participantes; a
segunda parte, também de resposta objetiva, indaga sobre o caráter deste projeto, podendo ser assinalada mais de uma
dentre as seguintes alternativas: educacional, assistencialista, suporte à equipe, estimulação do neonato, outro. A última
parte desta questão solicita ao participante que aborde sucintamente o projeto implementado em sua instituição e sua
atuação dentro deste. A quarta e última questão deste breve questionário solicita ao colaborador que, respaldado em sua
experiência enquanto psicólogo hospitalar, dê sua opinião profissional sobre a relevância (ou não) da implantação de
um projeto educacional de esclarecimento aos pais sobre o bebê prematuro e a UTI neonatal. Além das perguntas acima
mencionadas, o questionário abarcava questões pertinentes à identificação do profissional, ano de formação e
abordagem teórica de trabalho em psicologia.

De modo sucinto, as questões visam delimitar e investigar como cada profissional pauta sua atuação neste contexto e
assim, identificar ações, programas implementados e possibilidades de atuação do psicólogo na UTI neonatal.

Procedimento

Inicialmente os profissionais foram contatados via e-mail, ocasião na qual se solicitou sua colaboração na pesquisa e se
elucidou os objetivos da mesma. Havendo concordância dos participantes em colaborar neste levantamento de dados,
um novo e-mail foi-lhes enviado, desta feita remetendo-lhes o questionário utilizado nesta pesquisa. Após resposta dos
colaboradores ao questionário, estes foram novamente remetidos aos autores deste estudo que procederam à tabulação
dos dados pertinentes e à análise de conteúdo das questões 3 e 4 do instrumento então utilizado.

Cabe relevar que dentre os 40 profissionais contatados inicialmente, 18 demonstraram-se dispostos a colaborar com a
pesquisa, sendo então remetido o questionário a estes, dos quais 15 devolveram o questionário devidamente preenchido,
compondo a amostra total de participantes deste estudo.

Resultados

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Foram conduzidas somente análises estatísticas descritivas (questões 1, 2 e 3) e análise de conteúdo (questões 3 e 4).
Tais análises possibilitaram alguns levantamentos importantes quanto à atuação do psicólogo na UTI neonatal,
permitindo mapear a ação deste profissional e a existência de diferentes programas e projetos nas diversas instituições.

A seguir serão apresentados, separadamente, os resultados obtidos em cada pergunta do questionário utilizado no
estudo.

A Figura 1 ilustra as respostas à primeira pergunta do questionário, cujo objetivo era somente identificar se há, ou não,
atuação do psicólogo hospitalar na UTI neonatal das instituições representadas pelos participantes desta pesquisa. Como
pode ser observado na ilustração gráfica abaixo, dos 15 participantes, 13 responderam afirmativamente a esta questão,
donde se constata que na maioria das instituições aqui representadas há a atuação do psicólogo hospitalar na UTI
neonatal.

Atuação do psicólogo na UTI Neonatal

14
12
10
8
6
4
2
0
SIM NÃO

Figura 1: Ilustração gráfica das respostas dos participantes à pergunta número 1 do questionário: ‘Há a atuação do psicólogo
hospitalar na UTI neonatal?’

Uma vez constatada a atuação do psicólogo na UTI neonatal, é relevante e pertinente explorar o foco de sua atuação. A
segunda pergunta do questionário cumpre justamente com este objetivo ao indagar sobre o qual o direcionamento da
atuação do profissional, enquanto psicólogo, na UTI neonatal. Cabe lembrar que as possibilidades de resposta eram
‘bebês’, ‘pais’, ‘equipe’ e ‘outros’, sendo que mais de uma alternativa podia ser assinalada. A Figura 2, ilustra o
resultado obtido nesta questão. Os itens assinalados pelos participantes encontram-se ilustrados no gráfico em ordem
decrescente de freqüência de resposta.

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Atuação direcionada a:

16
14
12
10
8
6
4
2
0
PAIS BEBÊS EQUIPE OUTROS

Figura 2: Ilustração gráfica das respostas dos participantes à pergunta número 2 do questionário: ‘Sua atuação enquanto psicólogo
hospitalar na UTI neonatal é direcionada a:’

Como pode ser observado na Figura 2, a atuação do profissional no contexto da UTI neonatal é primordialmente
direcionada aos pais (14) e, subsequentemente, aos bebês (13), equipe (8) e outros (3). Sob o item ‘outros’ agrupam-se
respostas como atenção/atendimento a outros familiares do bebê (irmãos, avós, entre outros).

A terceira pergunta do questionário aqui utilizado é subdividida em três partes. A primeira parte buscava tão somente
identificar a existência algum projeto do departamento de psicologia hospitalar implementado em UTI neonatal na
instituição dos participantes. A Figura 3, abaixo, sumaria as respostas encontradas.

Projeto da psicologia na UTI neonatal

12
10

8
6
4

2
0
SIM NÃO

Figura 3: Ilustração gráfica das respostas dos participantes à parte 1 da pergunta número 3 do questionário: ‘Há algum projeto do
departamento de psicologia hospitalar implementado em UTI neonatal na sua instituição?’

Como se pode depreender da Figura acima, dentre os 15 participantes, 11 afirmaram existir um projeto implementado
pela psicologia hospitalar no contexto da UTI neonatal contra somente 4 participantes que negaram a existência de
qualquer projeto. No entanto, mais importante do que somente quantificar a existência ou não de projetos
implementados no contexto aqui abordado é a caracterização destes projetos, i.e., delimitar sua natureza específica. Tal
feito é delimitado ainda na pergunta 3, em sua segunda parte. A Figura 4 apresenta um levantamento dos tipos ou
natureza dos projetos implementados nas UTI’s Neo das instituições dos participantes deste estudo. Os itens assinalados
pelos participantes encontram-se ilustrados no gráfico em ordem decrescente de freqüência de resposta. Releva-se que

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as alternativas possíveis eram: ‘educacional’ (educ), ‘assistencial’ (assis), ‘estimulação do neonato’ (estim), ‘suporte à
equipe’ (S.eq.) e ‘outros’, sendo que mais de uma alternativa podia ser assinalada.

Caráter dos projetos implementados

8
7
6
5
4
3
2
1
0
Assis Educ estim S.eq. outros

Figura 4: Ilustração gráfica das respostas dos participantes à parte 2 da pergunta número 3 do questionário: ‘Qual o caráter deste
projeto?’

A Figura 4 permite vislumbrar a natureza ou caráter dos projetos implementados nas UTI’s neonatal. Assim, a maioria
dos projetos possui um caráter assistencialista (7), seguido de projetos de cunho educacional (5), de estimulação do
neonato (4), de suporte à equipe (3) e outros (2). Sob o item ‘outros’, um profissional referiu-se a um trabalho de
suporte psicológico aos pais e outro na ‘aposta no bebê como sujeito’.

Ainda com relação à pergunta número 3, foi solicitado aos participantes que abordassem sucintamente o projeto
implementado na UTI neonatal e sua atuação dentro deste, de modo a possibilitar uma melhor visualização das ações e
atuação prática do psicólogo neste contexto. Por constituir uma questão de resposta aberta (dissertativa), as respostas
dos participantes foram submetidas a uma análise de conteúdo e, posteriormente, agrupadas, donde se obteve os itens a
seguir, que sumariam a prática destes participantes. Entre parênteses visualiza -se o número de respostas que se
enquadram em cada item.

- Suporte/atendimento psicológico aos pais (e a outros membros da família) (5);


- Orientação ou esclarecimentos diversos aos pais (4);
- Acompanhamento após alta hospitalar (seguimento longitudinal) e avaliação do desenvolvimento (3);
- Escuta analítica, alívio de angústia (2);
- Grupo de pais (1);
- Acompanhamento na 1ª visita ao neonato na UTI neonatal (1);
- Encaminhamentos (1);
- Intervenção não farmacológica para alívio de dor do neonato (1);
- Fortalecimento do vínculo mãe-bebê (1);

A quarta e última pergunta do questionário solicitava ao participante que, respaldado na sua experiência enquanto
psicólogo hospitalar, expressasse sua opinião profissional sobre a implantação de um projeto educacional de
esclarecimento aos pais sobre o bebê prematuro e a UTI neonatal. Aqui, uma análise de conteúdo também se fez
necessária e as respostas dos participantes foram enquadradas e encontram-se sumariadas nos item que se seguem. Entre
parênteses visualiza-se o número de respostas que se enquadram em cada item. Antes, porém, cabe relevar que somente
2 participantes não responderam esta questão; todos os demais apresentaram-se favoráveis a programas de
esclarecimento a pais no contexto da UTI neonatal. Em geral, os participantes apoiaram a pertinência de programas de
esclarecimento pautando-se nos seguintes argumentos:

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- Espaço de debate e elucidação de dúvidas e questões, orientações e informações diversas (ex.: sobre prematuridade,
necessidade de hospitalização, implicações no desenvolvimento, entre outros) (5);
- Suporte aos pais: diminuição da ansiedade e angústias (4);
- Estabelecimento/fortalecimento do vínculo mãe-bebê (3);
- Atuação Preventiva, promoção de saúde (2);
- Reduzir o “imaginário” subjacente à internação do bebê (2);
- Auxiliar o equilíbrio emocional materno e familiar (1);

Discussão

Dos resultados acima expostos pode-se observar que a atuação do psicólogo na UTI neonatal é uma realidade na
maioria das instituições representadas pelos participantes deste estudo. Verifica-se também que a atuação deste
profissional é primeiramente voltada aos pais e, logo após, ao bebê. O trabalho voltado à equipe de saúde também
figura como uma possibilidade de atuação psicológica, embora este tenha se apresentado em menor freqüência na
resposta dos colaboradores deste estudo. Ainda com menor freqüência (somente 3 participantes apontaram este tipo de
atuação) figura a atenção prestada a outros familiares (irmãos, avós, entre outros) do neonato hospitalizado.

A resposta dos participantes também indicou a presença de projetos implementados pela psicologia hospitalar nas UTI’s
Neo de suas respectivas instituições. Apenas 4 participantes responderam negativamente à existência de tais projetos.
No que tange à caracterização de tais projetos, este estudo identificou que a maioria deles é de cunho assistencialista,
seguido por projetos educacionais, de estimulação do neonato e de suporte à equipe. Na maioria de tais projetos ou
programas de intervenção, a atuação do psicólogo se pauta no suporte ou atendimento psicológico aos pais,
esclarecimento ou orientação aos pais, acompanhamento do bebê após a alta hospitalar (seguimento longitudinal) e
avaliação do desenvolvimento.

Segundo Baptista, Agostinho, Baptista e Dias (2003), muitos psicólogos direcionam sua atuação, seja com a avaliação
ou a intervenção psicológica, aos pais ou responsáveis pelo bebê em UTI Neo, seus familiares ou com a própria equipe
de saúde. Nos dados acima discutidos verifica-se esta tendência, ou seja, nota-se que a prática do psicólogo hospitalar
no contexto da UTI Neonatal está, não exclusivamente, mas ainda assim primariamente, dirigida aos pais do bebê. No
entanto, os mesmos autores acima citados afirmam que o paciente do psicólogo na UTI Neonatal é o recém-nascido.
Sendo assim, torna-se importante a implantação de projetos voltados à estimulação do neonato, de avaliação de seu
desenvolvimento e de incentivo da vinculação mãe-bebê. Torna-se fundamental também a realização de pesquisas neste
contexto, com o objetivo de apontar novas possibilidades de intervenção, seja junto ao bebê, seja também direcionada a
outros envolvidos neste processo. Aproveitando esta pauta e fomentando a reflexão sobre as possibilidades de atuação
do psicólogo na UTI Neo e dentro da instituição hospitalar de uma forma geral, cabe relevar que a prática da psicologia
hospitalar exige do profissional, mais do que simplesmente preparo técnico e acadêmico, uma flexibilidade e disposição
para atuação multidisciplinar. Deste modo, a psicologia hospitalar abarca e pode se beneficiar de diversas áreas da
psicologia (e não só da psicologia), como a psicologia da saúde, psicologia organizacional, qualidade, a neuropsicologia
e a psicologia educacional.

Atinente à quarta pergunta integrante do questionário aqui utilizado, observa-se que todos os profissionais
colaboradores (com exceção de dois, os quais não responderam a este item) ratificam a relevância de programas de
esclarecimento, uma vez que estes possibilitam, na visão destes participantes, um espaço de debate e elucidação de
dúvidas e questões, orientações e informações diversas, oferecimento de suporte aos pais com conseqüente diminuição
da ansiedade e angústia, além do estabelecimento ou fortalecimento do vínculo mãe-bebê. Sendo assim, as informações
coletadas e aqui apresentadas corroboram a pertinência de programas de esclarecimento a pais cujos bebês encontrem-
se internados na UTI Neonatal, constituindo uma possibilidade interessante de atuação do psicólogo.

Perante o elucidado no parágrafo acima, os dados aqui levantados estão sendo utilizados para subsidiar o
desenvolvimento de um programa de esclarecimento a pais acerca da UTI neonatal. Este material, a ser confeccionado
em forma de cartilha explicativa, está sendo elaborado por estes mesmos autores em colaboração com outros estudantes
de psicologia e intitula -se: ‘A UTI Neonatal - A Educação no Ambiente Hospitalar: Proposta de esclarecimento a pais e
acompanhantes’. Pretende-se submeter esta cartilha explicativa a publicação, de modo que este material cumpra seu
objetivo ao ser útil aos profissionais atuantes na área e possa caracterizar uma ferramenta importante à informação e

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auxílio de pais cujos bebês encontram-se internados em uma UTI Neo, contribuindo assim à qualidade do atendimento
prestado, pois acredita-se que prestar informação, esclarecer e estar disponível é a base de qualquer projeto onde se
preze pela humanização.

Considerações Finais

À guisa de finalização deste breve estudo, algumas limitações metodológicas devem ser apontadas, visando um
aperfeiçoamento de estudos futuros que objetivem aprofundar o conhecimento da temática aqui abordada. Dentre tais
limitações aponta-se o pequeno número amostral e, principalmente, o fato de todos os participantes possuírem ou
estarem em curso de uma pós-graduação, o que não é representativo da maioria dos profissionais atuantes nas
instituições hospitalares brasileiras, sobretudo nas instituições públicas. Outra crítica pertinente refere-se ao
questionário utilizado, mais especificamente às questões abertas, de características pouco específicas, as quais
permitiram respostas amplas e de difícil análise.

Cabe relevar que o delineamento utilizado no presente estudo, qual seja o delineamento de levantamento, é de
importante aplicação na identificação de variáveis diversas e na orientação de estudos subseqüentes que possam
aprofundar os dados então levantados. Neste sentido, e mesmo reafirmando a necessidade de pesquisas futuras, o
presente estudo cumpre seu objetivo ao permitir a identificação da atuação e caracterização da ação do psicólogo na
UTI neonatal, assim como de projetos implementados neste contexto e fomentar discussões sobre novas possibilidades
de atuação deste profissional.

REFERÊNCIAS

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da prematuridade . Salvador, BA: Ágalma, 1999.

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Recebido em 05/08/2007
Aprovado em 01/09/2007

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LUTO E ABORTO ESPONTÂNEO
Danielle Silva Veiga1

Segundo Pines (1989), após o aborto espontâneo, normalmente surgem sensações de perda, sofrimento, depressão
prolongada, luto e perda da auto-estima. Durante a gravidez, os fatores psicológicos confluem fortemente para o
desenlace da mesma, podendo contribuir para o aborto. O conflito mais importante é a incapacidade sentida para a
maternidade e a dificuldade de sair do papel de filha para o de mãe. Quando ocorre a gravidez, o sentimento é o de
perda de um filho pois a mulher já sente o bebê como parte de si própria, o imagina com um sexo definido e com uma
aparência de bebê a termo desde o início.

A hemorragia que é sintoma comum na gravidez, podendo se prolongar até o último mês, é um sinal de alerta para as
pacientes com história de aborto e desperta muita ansiedade. Segundo a pesquisa de Domar e Dreher (2000), o perfil das
mulheres que abortam é ser mais submissa, dependente e com hostilidade mascarada. A perda do aborto é muito
dolorosa porém subestimada, especialmente nos três primeiros meses, especialmente por dois motivos: primeiro por ser
comum a perda gestacional e depois porque nos primeiros meses o bebê é visto como uma não-pessoa, um aglomerado
de células. Costuma-se dizer que foi melhor deste jeito pela malformação do bebê (maioria dos casos de aborto), o que
não contribui para tranquilizar a mulher. A reação ao aborto varia de pessoa para pessoa, algumas mulheres desejam
substituir a criança assim que possível, outras jamais pensam em ter filhos.

Segundo Quayle (2000), o tema do aborto espontâneo é pouco explorado por ligar-se à questão da morte e da perda. A
palavra abortar em si já tem o significado pejorativo de afastar-se da vida e das origens. Ainda hoje a mulher é
transpassada por crenças antigas sobre o aborto: um castigo pelo adultério, pelo maltrato de alguém, por um aborto
provocado, pelo casamento entre parentes, pela rejeição do bebê, etc. A mulher que aborta tem um lugar incompleto,
perde seu status de mãe, pode se sentir defeituosa, estragada por dentro, incapaz de fazer algo que dê certo. A mulher
ainda é frequentemente desautorizada a chorar pela equipe de saúde. O aborto é uma interrupção tão brusca quanto o
parto, inesperada e desconhecida quanto aos procedimentos médicos envolvidos. A mulher pode se sentir também
desacreditada quando desconfiam que induziu o aborto. Muitas se sentem ofendidas por tal afirmação, já que a mulher
de aborta voluntariamente é socialmente mal vista.

Enxergar o aborto como punição pode satisfazer o masoquismo da mulher e aliviá-la de alguma culpa por achar que está
pagando pelo que fez. Berle e Javert (apud Quayle, 2000), investigando o perfil de personalidade destas mulheres,
identificaram a obsessividade, a dependência e a sensibilidade à críticas como muito presentes. Grimm (apud Quayle,
2000) acrescenta ainda: danos na capacidade de planejamento, controle emocional deficitário, sentimentos hostis
mascarados, maior conformismo, dependência e tendência à culpa.

Para Debray (apud Quayle, 2000), o aborto seria uma descarga de angústia não elaborada através da via motora. O
aborto seria decorrência do medo de perder as referências conhecidas e de elaborar perdas reais, utilizando-se uma
defesa melancólica.

O pré natal bem feito é visto como uma garantia de sucesso da gravidez. A descoberta de uma anomalia no filho é de
certa forma também a morte da mulher como mãe. Logo depois do aborto observa-se também hostilidade em relação à
família e desejos de suicídio por parte da mulher para unir-se ao filho.

Segundo Silva e Iozzi (2002), quando o bebê morto continua dentro da mulher , ela pode sentir seu interior apodrecido e
ter fantasias de ser consumida, contaminada e mesmo punida. Deve-se observar também a reação do parceiro/pai da
criança, que tende a ser forte porque assim é socialmente esperado porém pode ser sentido pela mulher como insensível.
O mais difícil para o enlutado é conviver com seus sentimentos de raiva e hostilidade. Nestas horas vem à tona a forma
como a pessoa lidou com estes sentimentos até o presente e talvez a dificuldade de lidar novamente com eles. A mulher
pode ainda nunca superar o luto, considerando a tristeza como fidelidade ao filho morto (Viorst, 1986 apud Silva e
Iozzi, 2002).

1
Psicóloga formada pela UFRJ. CRP05/31191. Especializanda em Psicologia Hospitalar pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de
Janeiro e em Psicologia Médica e Psicossomática pela UERJ.

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Segundo Markham (2004) pode ocorrer uma reação retardada. O choque anestesia a dor e a mulher chora tempos depois
com a lembrança de algum acontecimento. A autora sugere que os sentimentos de culpa pós aborto têm origem em
sentimentos de culpa anteriormente já presentes. A dor da perda é duplamente cruel pela ausência do corpo do bebê.

Segundo Kavanaugh, Trier e Korzec (2004), a família e os amigos não sabem como dar suporte aos pais enlutados pela
perda gestacional, assim, os pais se percebem pouco apoiados e podem se isolar com um sentimento de inadequação. Os
sujeitos da pesquisa afirmaram sentir raiva com conselhos não solicitados sobre como se sentir ou agir, especialmente
quando dados por pessoas que nunca perderam um bebê. Os mesmos afirmaram ser difícil quando a família achava a
perda insignificante e a subvalorava. Os sentimentos dos homens eram sempre desprezados e eles se sentiam na
obrigação de serem fortes e confiantes para apoiar suas esposas. Os parentes normalmente se sentiam sem ação, o que
acabava levando a comportamentos de evitação da perda e comentários que diminuíam a magnitude da perda.

Para Boyce, Condon e Ellwood (2002), as dificuldades do luto do aborto espontâneo são: a ausência de uma memória
concreta do feto (tendo que contar com uma vida em potencial e as expectativas em cima disto), o sentimento de culpa e
auto-crítica da mulher, que quando não há causa para o aborto, pensa ter feito algo de perigoso e a dificuldade de
conceber (infertilidade), quando há. Os riscos de transtornos psicológicos pós aborto estavam aumentados segundo os
autores, especialmente depressão, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno do estresse pós traumático. O parceiro
da mulher pode ter também grande sentimento de perda, sendo frequentemente negligenciado pelos agentes de saúde, o
que deve ser alvo de maior atenção.

Para Brier (1999), uma outra dificuldade no aborto espontâneo é a perda da atenção especial que a mulher recebia
enquanto gestante, além da perda da maternidade idealizada, o sentimento de unidade com o feto e a perda da auto-
estima por não ter conseguido completar uma função fisiológica básica. A experiência do aborto espontâneo é permeada
de ambiguidade e surpresa, não havendo tempo para um preparo psicológico, além disso, como afirmam outros autores,
há há dificuldade da concretude do corpo do bebê. Ainda segundo este autor, a maioria das pacientes relata não receber
cuidados médicos adequados e atenção. Com isso, surge hostilidade contra o médico e busca de outros profisionais em
gravidezes posteriores como já citado. Fatores que trariam um alto de grau de estresse numa perda gestacional seriam:
gravidez extremamente desejada, infertilidade prévia, personalidade masoquista, abortos prévios, história de perdas,
mulheres sem filhos vivos, ausência de suporte social e mau enfrentamento de perdas anteriores.

Ocorrem sentimentos normais de culpa, inadequação e desesperança em relação a gravidezes futuras, além da
necessidade de culpar alguém pela morte. A necessidade de entender porque o aborto ocorreu advém de um senso de
controle que a mulher precisa ter da situação, como se saber a causa do aborto, prevenisse outros. Pode surgir também
inveja de mulheres grávidas e mães com seus filhos. O retorno da menstruação pode ajudar a resolução do luto,
trazendo a esperança de uma nova gravidez e reassegurando a mulher de que suas funções corporais funcionam
normalmente. É comum surgirem episódios depressivos e auto-crítica, especialmente sob a forma de culpa e medo de
ter exagerado em alguma coisa. As raízes desse sentimento de culpa são a amb ivalência normal de toda gravidez.
Surgem dúvidas sobre a competência reprodutiva da mulher e medo de nunca poder gerar um filho sadio. Esse medo é
diminuído nos abortos que possuem uma causa médica, vistos como tratáveis.

As reações de luto do pai parecem compatíveis com a idade gestacional. Os homens choram menos, têm menos
necessidad de falar da perda, tem menos risco de depressão e tendem a voltar à rotina mais rapidamente. Eles costumam
indagar a esposa porque a continuidade das reações de luto, o que pode trazer complicações conjugais. A mulher pode
pensar que o homem não se importa e o homem pode achar que a mulher está reagindo exageradamente (Brier, 1999).

Segundo Neville (2002), cada aborto é uma experiência muito pessoal. O aborto espontâneo é a perda gestacional
menos reconhecida. Há a crença errônea de que a dor é proporcional ao tempo de gestação. Logo depois da concepção,
processos fisiológicos e psicológicos entram em ação, o corpo se prepara para a maternidade. Quando a gravidez é
interro mpida, a mulher fica preparada para um evento que não vai acontecer. O papel dos pais é alimentar e proteger a
prole e eles nunca imaginam que vão viver mais do que ela. Por isso, a perda de um filho pode trazer um senso de falha
pessoal e culpa. Uma prime ira perda pode trazer ansiedades sobre a fertilidade futura. Os pais normalmente esperam
que a Medicina cure tudo, no entanto, o índice de abortos continua o mesmo de 50 anos atrás. Muitas mulheres falam de
um caos interno, o que é piorado pela rápida alta hospitalar e ausência de acompanhamento médico.

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Segundo Nichol (apud Neville, 2002), os sintomas predominantes após uma perda gestacional são: Ansiedade
generalizada, insônia, medos persistentes, cansaço excessivo, dores de cabeça, pesadelos, depressão, medo de um
colapso emocional, pânico e pensamentos incomuns.

Iles (1989) afirma que o aborto espontâneo é usualmente visto como natural e incapaz de trazer tensão emocional. A
mulher deveria sentir alívio por expulsar um feto que seria deformado ou doente, dando-lhe muito trabalho durante a
vida. O problema é que desde cedo a mulher já visualiza o feto como alguém completo, especialmente com os exames
de ultrassom, que começam tão cedo na gravidez. A mulher se apega à gravidez e pode se sentir culpada de produzir um
feto defeituoso. Segundo Simon (apud Iles, 1989), as mulheres que abortam espontaneamente, tendem a mostrar mais
conflitos masoquistas e rejeição do papel feminino quando comparada às que abortam terapeuticamente.

Normalmente os sintomas de perda não podem ser antecipados, por isso, seguem não detectados até a alta hospitalar,
trazendo riscos maiores de desequilíbrio psicológico futuro.

A psicóloga Diane Mc Greal realizou uma pesquisa na Austrália com casais sobre o aborto espontâneo, publicada no
Manual da Bonnie Babies Foundation, uma associação de apoio para pais que perderam seus filhos. A autora investigou
a reação de homens e mulheres à perda gestacional e chegou à conclusão de que as formas de reagir são diferentes e
podem levar ao ro mpimento matrimonial. Os homens tendem à ignorância da situação, enquanto que as mulheres
tendem à recorrer ao pensamento positivo e à religião.

O aborto espontâneo tende a ser referido como uma não-perda ou não-evento. Um meio importante de auxiliar no luto
seria legitimar a dor dessas pessoas, reconhecendo a importância da perda. O homem passaria pelas fases do luto mais
rapidamente que a mulher, criando um descompasso de expectativas que pode levar ao fim de uma relação estável. A
mulher pode ver o parceiro como frio e fechado, o que aumenta o isolamento desta e a não comunicação entre o casal.
O homem pode ver a mulher como super-emocional. As estratégias mais utilizadas pelos homens, segundo a escala de
enfrentamento utilizada na pesquisa, são: preocupação, ignorância do problema, suporte social, dedicação ao trabalho,
foco na solução do problema, amizade e guardar os sentimentos para si. Já as mulheres se utilizam mais de: redução de
tensão, suporte espiritual, pensamento positivo, acolhimento, auto-crítica, relaxamento, recreação, foco no problema e
não enfrentamento. As mulheres utilizariam mais frases como: “Veja um psicólogo”, “Fale com mais alguém que viveu
isso”, “Não quero ver outras mulheres grávidas.”, “Gostaria de conversar sobre isso”, “Não desisto dos meus sonhos”,
entre outras, enquanto homens usariam mais frases como: “Seja positivo”, “Tente não pensar nisso.”, “Concentre-se em
outras coisas” (Mc Greal, 2002).

A dor física que normalmente acompanha a experiência de perda, desaparece dentro de alguns meses, a dor emocional
aguda, no entanto, pode prosseguir por anos. Surgem então sentimentos de medo, raiva e tristeza.

Malacrida(1999) chama a atenção ainda para o fato de que pais com perdas gestacionais tendem a receber menos
suporte material/financeiro do que pais com perda de filhos maiores.

Pratarotti(1984) coloca a ambivalência exacerbada em relação à gravidez como um dos fatores de risco para o aborto
espontâneo, confirmando a opinião de Pines (1989) como já citado.

Segundo Stotland (1991), a gestação de risco, que pode preceder o aborto espontâneo, traz medos sobre a capacidade
materna, medo de perda do controle, dor e danos ao corpo, sentimentos de culpa e vergonha, medo de danos ao bebê,
carência emocional e dificuldade de relacionamento interpessoal. O autor fala ainda da necessidade dos pais de ver o
corpo do bebê depois da morte. Os médicos podem evitar a visita se percebem que o bebê é deformado mas a fantasia
dos pais costuma ser bem pior do que a realidade, deixando a escolha facultada para eles.

Pauline Boss (1998) usa o termo “perda ambígua” para denominar aquela perda que não é clara para a família e que
gera confusão sobre quem está dentro e quem está fora do sistema. O membro ambíguo pode estar fisicamente ou

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psicologicamente fora do sistema. Exemplos seriam: pessoas desaparecidas, reféns, em coma ou desenganadas. Inclui-
se aí a perda gestacional, afinal quem teve um filho e este morreu é realmente mãe ou pai? A situação de perda ambígua
traz estresse crônico para a fa mília que não consegue definir a perda. Há impotência dos membros da família para
resolver a situação e o risco do surgimento de depressão e conflito no sistema. No extremo, a família pode ficar
imobilizada. No caso do aborto, deve-se observar a reação dos casais para identificar até que ponto a perda foi
reconhecida ou não.

REFERÊNCIAS

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Recebido em 16/05/2006
Aprovado em 02/06/2006

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A PSICANÁLISE NO HOS PITAL GERAL: POSSIBILIDADES E
IMPOSSIBILIDADES 1
Mara Alice Diniz Figueiredo2

RESUMO

Este artigo é resultado da soma de experiências de estágio no hospital Nossa Senhora de Lourdes, localizado no
município de Nova Lima e estudos sobre a psicanálise neste contexto. As experiências serviram como um
direcionamento para determinar o que abordaria neste trabalho, podendo então, falar de algo que foi para mim intrigante
ao realizar uma escuta psicanalítica em hospital geral. Neste sentido, os estudos têm o intuito de desmistificar a escuta
psicanalítica, v isto que muito se discute sobre a importância do setting analítico e aqui, em especial, do uso do divã e
das questões quanto ao tempo. Tenho como objetivo justificar que somente a falta de demanda ou de transferência entre
psicanalista e paciente poderiam negar a necessidade de atendimento e não o contexto hospitalar.

Palavras chaves: Psicanálise no hospital, setting analítico, contexto hospitalar.

INTRODUÇÃO

Como menciona Quinet, “o divã, essa peça do mobiliário, tornou-se há muito símbolo de uma psicanálise, ou até
mesmo d’A psicanálise” (QUINET, 1993, p. 41). Outro fator que se tornou crucial para a análise foi o rigor quanto ao
número, à regularidade e a duração das sessões. Formam, então, esta dupla, o padrão do setting analítico, que são
normas a serem cumpridas a finco para que haja um bom atendimento em psicanálise.

O que fazer então em instituições onde este padrão, por diversos motivos, não podem ser cumpridos? Partindo deste
questionamento a psicanálise teria sentido exclusivamente na clínica.

A proposição deste trabalho é contraria a afirmação acima, não unicamente no sentido de negá-la, mas, e
principalmente, de se pensar formas de tornar válido o atendimento psicanalítico no hospital geral, longe da proteção e
conforto do tradicional setting analítico. Ele parte de minha experiência em hospital geral, onde como estudante de
psicologia estagiei. Acostumada, na academia, de lidar com costumes vindos da clínica deparei-me com um contexto
diferente, o qual muitas vezes é visto como pejorativo. Por isso meu intuito é de verificar até quando é possível realizar
esta escuta e se é realmente válido para os pacientes internados. Desta forma , pretendo formular e buscar na literatura
reforços para certificar-me se este é ou não um contexto dificultador. Parto do pré-suposto que este é sim um contexto
diferente, onde precisa de outro manejo clínico por parte de quem escuta para tornar-se possível escutar o sujeito.

SOBRE O SETTING TRADICIONAL

O setting analítico de forma alguma deve ser visto como sem sentido ou meras exigências por comodidade, a situação
psicanalítica é cercada por significações.

Fazendo-se uma breve mensão do uso do divã, pois , se este se mantém é porque ele tem um significado e, como lembra
Quinet (1993), Lacan os preserva por marcarem o fim das entrevistas preliminares e a entrada do sujeito em análise – o
início do tratamento. A principal razão do uso do divã é em relação à estrutura da transferência. “Trata-se de uma
tática, cujo objetivo é dissolver a pregnância do imaginário da transferência, para que o analista possa distingui-la no

1
Artigo apresentado ao Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como teorização da prática de
Estágio Supervisionado VII, realizada no Hospital Nossa Senhora de Lourdes, supervisionado pela professora Lúcia Efigênia G.
Nunes.
2
Graduanda do sétimo período/manhã de psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, segundo semestre de
2007.

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momento de sua pura emergência nos dizeres do analisante” (QUINET, 1993, p. 45). Ele sai de sena, toma o lugar da
invisibilidade, seu ato é o real e não a atuação.

O tempo, também tem sido muito discutido na história da psicanálise, sofrendo alteração como a passagem de encontros
diários de segunda a sábado (excluindo feriados) para três vezes por semana e depois para uma vez por semana e
também da duração das sessões de 60 a 50 minutos. Pensa-se também no tempo de duração do processo de análise,
passando o sujeito de analisando para analis ante. No entanto, recorrendo novamente a Quinet (1993), a sessão
psicanalítica quando não traz consigo o tempo burocrático – pré -estabelecido – deixa emergir o da lógica do
inconsciente. Tendo, desta forma, cada sessão início, meio e fim.

Estes , divã e tempo, “compõem o cenário onde irá se desenrolar a trama das re/significaçãoes dos fatos vividos pelo
analisando, através da associação livre, que possibilita a emergência dos seus fantasmas e o retorno do
recalcado”(PENTEADO, 1991, p. 24-25)

SOBRE O SETTING NO HOSPITAL GERAL

Muda-se então todo o contexto. O divã se transforma em leito, cadeira de rodas, macas; o psicanalista que se encontrava
confortavelmente sentado em uma posição estratégica, muitas vezes necessita realizar o atendimento em pé e
posicionando-se a fim de barrar a intromissão de outros pacientes que dividem a enfermaria com seu paciente. O tempo
deixa, em certo sentido, de estar a seu domínio. Não há como manter um paciente internado por este ainda não ter
concluído seu trabalho psíquico. Ou, até mesmo , em um atendimento diário é preciso interrompê-lo para procedimentos
médicos necessários, antes mesmo que este tenha se findado. Desta forma, como podemos conciliar o tempo do
inconsciente com os horários marcados para medicação, com as intervenções médicas necessárias e, até mesmo , com a
dor insuportável em que o paciente pode se encontrar? Como sair de cena e deixar o inconsciente emergir a partir da
invisibilidade se, muitas vezes, o quarto está cercado de pacientes, que podem ou não se atentar pela fala do outro?

Como pensar então nessa nova modalidade de atendimento se este contexto não se mostra flexível às necessidades da
psicanalis e? Seria este um momento de escolha para a psicanálise: ou recua frente às imposições do contexto hospitalar
ou molda-se a estas.

Para justificar a validade de moldar-se a tais limitações proponho-me a trazer um pouco da importância da escuta
psicanalítica para o paciente internado.

A ESCUTA PSICANALÍTICA E O PACIENTE INTERNADO

O paciente interna-se em um hospital geral em busca de um tratamento médico para algo que faz sofrer, uma doença,
um acidente – algo da ordem do orgânico. Vem então toda uma equipe a fim de cuidar desta demanda apresentada, uma
demanda objetiva. Atentam-se pouco a o que ele diz de sua subjetividade do significado da doença, do estar internado e
de seu contexto sócio-cultural.

No entanto, os psicanalistas, sabem que “adoecer é um momento de crise, de perda, onde se esbarra com o
incontrolável e com a fragilidade da condição humana” (MOURA, 2003, p. 17). E, sendo este um sujeito marcado pela
falta, neste momento de maior fragilidade percebe-se imensamente incompleto. Está de frente com o real, com algo dele
que é diferente da realidade material, envolvendo a fantasia e o desejo – algo impossível de simbolizar. Neste momento
entra o psicanalista, não para tamponar esta falta, mas para escutá-la e permitir ao paciente ressignificar suas vivências.

Podemos pensar neste momento de crise também como um momento de catarse, de descarga em ato de uma energia
antes suspensa onde o paciente precisa muitas vezes de ser acolhido em sua subjetividade. Sendo que os outros
profissionais de saúde muitas vezes enxergariam este momento como pejorativo ao paciente, incentivando-o a reprimi -

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los. Os psicanalistas não, eles vem introduzir a dimensão do sujeito no hospital onde a equipe médica tende a ver
somente o orgânico.

Os atendimentos [psicanalíticos] no hospital são pontuais e procuram atender à finalidade de abrir espaço para a
dimensão do sujeito dando-lhe a possibilidade de recolocar-se na cadeia significante da qual foi desalojada por uma
situação de emergência, de crise. (...) é a clínica do impossível de suportar, do Real. (BAÊTA, 1996, p. 76)

O MOLDAR-SE DO PSICANALISTA AO CONTEXTO HOSPITALAR

Visto a importância do psicanalista no hospital geral e pensando a questão do paciente internado, pode-se notar que não
só o contexto é diferente, mas o paciente também se encontra em uma posição distinta do encontrado na clínica. Esta
diferença pede ao psicanalista uma outra postura, uma outra atuação. A leitura feita dos processos inconscientes são as
mesmas mudando somente a atuação.

Então podemos levantar a questão, por mais óbvia que pareça, de que a psicanálise feita no hospital não deve ser igual à
praticada na clínica. No entanto, uma coisa deve se afirmar e lembrar sempre: as duas são psicanálise e, portanto devem
ter como principio fundamental a “associação livre” e a “transferência” e não o setting analítico.

A psicanálise no hospital não é voltada para um processo de análise, mas sim de uma escuta analítica, a fim de levar o
paciente a elaborar essas situações e lidar melhor com ela, transferindo essa carga pulsional para uma cadeia
significante.

Se o que ocorre na clínica é a “clínica do inconsciente” no hospital teremos a “clínica da urgência” marcada “pelo
esforço em recuperar o ancoramento simbólico através da articulação significante, e só então viabilizar a formulação
de uma demanda e a possibilidade da clínica do inconsciente” (SOARES apud ROSA, 2003, p.4).

Mencionei anteriormente o divã como um marco da passagem do primeiro tempo da análise – entrevistas preliminares –
para a entrada nesta e a travessia do fantasma (final), mas, entretanto, como relata Moretto (2001), geralmente não há
esta passagem no hospital geral, pois o tempo da internação nem sempre coincide com o tempo do paciente entrar em
análise. Não tornando este atendimento insignificante, muito pelo contrário.

Há uma análise iniciada e que num curto espaço de tempo é interrompida, o que não deixa de ter um efeito analítico no
paciente, no sentido do que Lacan chamou retificação subjetiva, feita nas entrevistas preliminares à entrada em análise e
que significa o processo em que se promove a modificação da relação do sujeito com o real, a implicação dele nas
desordens da queixa. (MORETTO, 2001, P.102)

O sujeito então, deixando a posição de objeto e de frente com a sua castração, faz questões ao Outro (analista) que o
apontou como dividido e, em busca de voltar à idéia de que é “inteiro”, torna-se possível um efeito analítico, caso o
tempo cronológico permita, durante a internação, ou, em atendimentos ambulatoriais e até mesmo, fora do hospital em
busca de um Outro analista.

CONCLUSÃO

Se o que está em jogo em um tratamento psicanalítico é o sujeito do inconsciente, ele está ali, à disposição do
psicanalista caso haja demanda e transferência. É a este sujeito que o psicanalista se dirige e oferece sua escuta e não à
doença. Vínculo com a doença quem tem são os profissionais organicistas. E o que vai fazer emergir este sujeito não é,
de forma alguma, o divã ou o leito e sim a “associação livre” com a qual o sujeito “se permitirá” chistes, atos falhos
possibilitando ao psicanalista, sob atenção flutuante fazer pontuações a fim de auxiliar o paciente nas suas
ressignificações.

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Então, o que precisa o psicanalista para escutar em um hospital geral? Primeiramente ele precisa sair da clínica
tradicional, deixar para traz as normas do setting ali cabíveis e levar consigo o que ele tem de essencial: a escuta. A
escuta de um sujeito encontrado em crise, em sofrimento psíquico e orgânico e muitas vezes a beira da morte.

É preciso que o psicanalista faça de seu atendimento, um momento único e ético, que suas estratégias sejam voltadas
para resguardar o paciente de qualquer eventualidade. Posicionar-se de forma que o paciente não seja inibido e escutado
por outros pacientes, ter uma relação com a equipe de forma que cada um respeite e valorize o espaço e a atuação do
outro, e fazer intervenções como tendo cada minuto como único.

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em 01 nov. 2007

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Recebido em 03/12/2007
Aprovado em 02/05/2008

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O USO DE TERAPIAS HOLÍSTICAS POR PACIENTES ONCOLÓGICOS COMO
FORMA DE EXERCÍCIO DA AUTONOMIA
Sandra Felicidade Lopes da Silva 1
Ana Claudia N. S. Wanderbrooke 2

Resumo

Na visão da medicina acadêmica, o tratamento do câncer consiste em intervenções sofisticadas e agressivas. O paciente
oncológico fica submetido a uma série de procedimentos dolorosos e invasivos. Esse contexto oferece pouca
possibilidade de controle da situação ao paciente. Quanto ele tem a iniciativa de procurar por terapias holísticas, como
parte do tratamento, a reação da equipe normalmente é negativa. Para a Psicologia, a iniciativa de buscar outros
recursos - além daqueles que o médico determina, pode ser entendida como forma do paciente assumir uma participação
mais ativa no próprio tratamento. Deixar a atitude passiva pode ter um interessante valor terapêutico. Porém, se for
recriminado, poderá optar por omitir do uso de outras terapias, com o risco de sérias implicações para sua saúde, em
função de possíveis interações. Portanto, se essas outras abordagens são procuradas pelos pacientes, antes de
desqualificá-las e de censurar o paciente, precisamos saber no que consistem e entender porque encontram tanta
dificuldade em obter reconhecimento científico. Ao abordar o tema das terapias holísticas no contexto oncológico,
percebe-se que o seu reconhecimento oficial é possível – já que a ciência dispõe de recursos para investigá-las e validá-
las – e necessário, uma vez que são cada vez mais usadas pelos pacientes. No que compete à Psicologia, o importante é
assegurar ao paciente o direito de assumir uma postura mais participativa no próprio tratamento, sem precisar omitir
suas iniciativas da equipe.

Palavras-chave: Paciente oncológico, terapias holísticas, psicologia, câncer.

Introdução

O presente artigo aborda um tema que, no contexto de um hospital especializado no tratamento do câncer, gera
polêmica: o uso de terapias holísticas por pacientes oncológicos. Na visão da medicina acadêmica, os tratamentos de
combate ao câncer avançam no sentido de se tornarem cada vez mais sofisticados e agressivos, com aumento do poder
de destruição das células cancerosas e redução dos efeitos danosos nas células saudáveis. As terapias holísticas são tidas
como intervenções rudimentares, sem eficácia cientificamente comprovada e como modismos a que os pacientes
recorrem, na busca desesperada e perigosa pela cura da doença.

Apesar da resistência e incredulidade, o tema proposto torna-se pertinente diante da constatação de que as pessoas
buscam essas outras abordagens terapêuticas – como opção de tratamento ou como complemento terapêutico. Portanto,
enquanto profissionais da saúde, precisamos conhecer minimamente o tema a fim de evitar o pré-conceito que
compromete uma postura ética e profissional diante do paciente que manifesta interesse por essas terapias.

O termo Terapias Holísticas é aqui empregado para as abordagens também chamadas de Terapias Alternativas. O
termo “holístico” é mais abrangente e pertinente, já que designa terapias que tratam o ser humano de maneira integral.
Segundo Gordon (1998), foi o biólogo sul-africano Jan Christian Smuts quem chamou de “holístico” o modo de abordar
o ser humano que considera todas as dimensões que o integram (biológica, econômica, social, ambiental, psicológica
etc). Holístico vem de holos – palavra grega para completo, total, inteiro.

O objetivo deste trabalho é apresentar a reflexão gerada pelo contato com alguns pacientes que utilizam terapias
holísticas (como complemento do tratamento convencional), fundamentada nas idéias de autores que conciliam na sua
prática profissional na área da saúde, uma sólida formação científica com outros sistemas de cura – baseados no
princípio holístico. Para a Psicologia, o interesse em explorar esse tema vem da consideração de que a busca por outros

1
Graduanda do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e estagiária do Serviço de Psicologia Clínica do
Hospital Erasto Gaertner, Curitiba/PR.
2
Psicóloga do Serviço de Psicologia Clínica do Hospital Erasto Gaertner, doutoranda em Psicologia pela UFSC.

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recursos reflete a disposição do paciente em participar do próprio tratamento e de certa forma confrontar o saber
absoluto da medicina convencional – atitudes que podem constituir-se num diferencial psicológico particularmente
interessante no caso do câncer.

A Atitude do Paciente no Tratamento

Do ponto de vista psíquico é sabido que a passividade e a obediência são características freqüentemente observadas no
paciente oncológico, que seriam formas de expressão da personalidade doadora. Chiattone (2001) faz referência a esse
traço comumente encontrado no indivíduo com câncer. São pessoas que se colocam sempre a serviço do outro, em
detrimento das próprias necessidades. Essa doação excessiva teria sido a forma que o indivíduo teria encontrado para
obter afeto e reconhecimento. Esse padrão de relação com o outro se reproduz no contexto do tratamento. O paciente
fica totalmente submetido à rotina do hospital, ao tratamento, à equipe, às intervenções mais invasivas e agressivas .

Para Murray, Birdsall, Pizzorno & Reilly (2005), após receber o diagnóstico de câncer, os pacientes sentem que
perderam o controle sobre os aspectos mais elementares de suas vidas, o que é agravado pela atordoante realidade do
tratamento oncológico.

Do ponto de vista da equipe, o paciente que adere ao tratamento é o paciente que coopera. Gordon (1998) afirma que “a
exigência ou expectativa de concordância é desrespeitosa, inadequada e ineficiente, pois mantém o paciente num estado
de passividade e dependência nocivo em longo prazo”.(p. 79)

Para nós da Psicologia é exatamente nessa passividade que consiste um ponto importante a ser trabalhado. Se uma
peculiaridade das pessoas portadoras de neoplasias é a personalidade doadora e o tratamento oncológico intensifica esse
traço, temos que trabalhar no sentido de lhes assegurar o espaço de escuta, que propicie a oportunidade de elaboração e
significação dessa experiência. Chiattone (2000) ressalta que, no contexto hospitalar, o psicólogo se antecipa à demanda
do paciente, uma vez que a necessidade de atendimento psicológico nem sempre é percebida por ele próprio, já que as
preocupações mais imediatas estão voltadas para o corpo doente. O que se percebe é que o paciente não se acha
merecedor de um espaço de escuta e muitas vezes já se considera imensamente grato por receber o tratamento para sua
grave doença.

Nesse sentido, o atendimento psicológico deve favorecer que o paciente seja respeitado no seu direito de buscar
caminhos que restaurem a sua saúde e equilíbrio, já que o exercício desse direito, em si, é terapêutico. Gordon (1998)
enfatiza que “ao participar do próprio tratamento, descobre-se que este processo, por si só, já é um passo para a
cura”.(p. 79)

Para Benson & Stark (1998), a saúde deve es tar amparada num tripé, que consiste em: procedimentos médicos,
medicamentos e o cuidado pessoal – que é aquilo que o paciente pode fazer por si mesmo. Segundo eles, esse último
aspecto do tripé é o mais desvalorizado e negligenciado hoje em dia. As outras “duas pernas” referem-se ao que o
profissional da saúde pode fazer pelos pacientes – recursos nos quais a medicina se apóia quase que exclusivamente.

Dessa forma, quando um paciente busca outros recursos terapêuticos – além daqueles que estão sendo ministrados pela
equipe – está se posicionando de uma forma diferenciada com relação ao próprio tratamento. Não está apenas
submetido aos procedimentos médicos e aos medicamentos, está assumindo a responsabilidade pelo cuidado pessoal.
Na opinião desses autores, nenhuma força curativa é mais impressionante ou mais universalmente acessível do que o
poder do indivíduo de cuidar de si mesmo e de se curar.

No caso específico do câncer, essa atitude consiste num diferencial que certamente terá reflexos diretos no prognóstico.
Para Murray et al.(2005) uma das coisas mais importantes que o indivíduo com câncer pode fazer para ajudar no
próprio tratamento é recuperar o controle nos aspectos da vida com os quais pode lidar. Assumir o controle dá ao
indivíduo uma vantagem psicológica que amplia suas chances de recuperação. Gordon (1998) menciona estudo

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conduzido pelas dras. Ellen Langer e Judith Rodin, das Universidades de Harvard e Yale – respectivamente, no qual
revelou-se que o controle sobre os acontecimentos do dia-a-dia tem poder terapêutico.

Quando o paciente compartilha com a equipe sua iniciativa de buscar outras terapias está expressando sua atitude diante
do tratamento e também apostando no vínculo de confiança e parceria entre ele e a equipe. Quando a equipe
desqualifica, ou pior, ridiculariza a iniciativa do paciente, pode estar comprometendo o vínculo de confiança e o canal
de comunicação. É quando o paciente decide não comentar mais. Gordon (1998) cita pesquisa do New England Journal
na qual revelou-se que 72 por cento dos pacientes omite dos médicos o uso de outras terapias.

Murray et al. (2005, p. 135) também se refere a essa realidade, afirmando que:

Cerca de 70 por centro dos pacientes jamais falarão com o seu oncologista sobre as terapias alternativas e
complementares que possam estar usando. Esse segredo é, na melhor das hipóteses, infeliz e, na pior delas perigosíssimo
por causa de potenciais interações. Muitos de nossos pacientes contam que os médicos e os oncologistas convencionais
reagiram negativamente quando souberam que seus pacientes estavam usando essas outras abordagens.

Resistência dos Médicos

Com relação à postura da equipe médica, o que se percebe é que a resistência não está amparada em nenhuma base
consistente, a não ser a própria desinformação. Em geral, são profissionais que não tem conhecimento a respeito dessas
terapias e reproduzem um discurso que as desqualifica, simplesmente por não fazerem parte de seu repertório de
conhecimento.

Para Gordon (1998) a postura dos médicos com relação a essas terapias deve-se basicamente a dois fatores. O primeiro
deles diz respeito à formação do médico, já que essas terapias não são ensinadas nas faculdades de medicina e as
publicações especializadas não divulgam estudos sobre o assunto. Outro fator refere-se ao funcionamento do sistema
que rege a pesquisa médica, que é vinculado aos interesses dos grandes laboratórios. O sistema é inerentemente
restritivo, pois não há financiamento para pesquisas similares sobre substâncias e técnicas que não são patenteáveis;
inevitavelmente há menos pesquisas sobre elas.

Como podemos ver, a crítica que freqüentemente é feita às terapias holísticas quanto à falta de comprovação científica,
é pertinente por um lado – porém, é omitido o fato de que elas são deliberadamente mantidas nessa condição de
marginalidade.

Apesar da resistência da comunidade científica, as pessoas estão procurando cada vez mais pelas terapias holísticas.
Segundo Benson & Stark (1998), os americanos gastam uma quantia estimada de US$13,70 bilhões de dólares em
tratamentos não convencionais – todos os anos. Esses tratamentos não são cobertos por planos de saúde e não estão
entre os benefícios oferecidos pela Previdência Social. Isso mostra o grau de interesse por essas outras abordagens, já
que esse dinheiro sai do próprio bolso. Não há necessariamente intenção de substituir a medicina convencional, mas
sinaliza que as pessoas não querem mais ser tratadas como corpos ou órgãos doentes e passam a experimentar terapias
baseadas numa visão integral do ser humano.

Resistência dos Psicólogos

Diante do receio de comentar com o médico, é possível que seja com o psicólogo que o paciente comente que faz uso de
outras terapias. O psicólogo, então, tem que se confrontar com a própria resistência em relação a essas terapias, que é
decorrente de vários fatores.

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Primeiramente, nós da Psicologia somos muito influenciados pela visão médica e temos tendência a depositar crédito
naquilo que a Medicina autoriza. A formação em Psicologia também não inclui em momento algum o conhecimento
dessas outras abordagens.

A Psicologia tem constantemente o seu status de ciência questionado pelo alto grau de subjetividade envolvido.
Portanto, tem que reafirmar sua posição de ciência a todo o momento – desenvolvendo instrumentos que lhe dêem um
caráter mais objetivo. A menor idéia de vinculação a alguma coisa que não tenha reconhecimento científico é
extremamente ameaçadora.

Existe uma idéia equivocada de que as terapias holísticas pretendam substituir a psicoterapia, com a vantagem de
produzir efeitos mais imediatos. Porém, nada substitui o trabalho pessoal de autoconhecimento e conscientização,
imprescindível para a cura e propiciado pela psicoterapia. Portanto, essas terapias não ameaçam o campo de trabalho do
psicoterapeuta. Por outro lado, quanto mais o psicólogo se mantiver distanciado dessas terapias, mais estará propiciando
que elas sejam promovidas e exercidas por outros profissionais que eventualmente não estejam habilitados a lidar com
as implicações psíquicas que tais práticas suscitam.

A Psicologia tem a possibilidade de dar um caráter científico e consistente ao emprego dessas técnicas, tornando segura
e contextualizada sua aplicação. Todavia, a questão aqui independe da intenção de uma aproximação do psicólogo a
ponto de vir a promover a prática de alguma dessas terapias. Mas, de ser capaz de acolher a iniciativa do paciente –
entendendo que, embora não faça parte do repertório validado pela comunidade científica vigente, faz parte de um
sistema de cura que tem fundamentos próprios – e na maioria das vezes, milenares.

A Importância da Visão Holística no Tratamento

De forma bastante simplificada, podemos dizer que o desenvolvimento do câncer é decorrente da falha do sistema
imunológico em detectar a presença de células com mutações, que surgem freqüentemente em nosso organismo, como
resultado da ação lesiva dos radicais livres. Num organismo em equilíbrio, a eficácia do sistema imunológico permite
identificar e eliminar as células antes que representem uma ameaça. Quando esse crescimento celular chegou a formar o
tumor, significa que as células mutantes “driblaram” o sistema imunológico. O conglomerado de células mutantes
precisa de nutrientes para continuar se desenvolvendo. Aí observamos que essas células trabalham em causa própria e
não tem nenhuma consideração pelo organismo do qual fazem parte e vão passar a se alimentar dele. Possivelmente é
desse comportamento das células anormais que resulta a idéia de que o câncer é alguma coisa que vem de fora.

Considerando a dinâmica da formação do câncer podemos ver que de certa forma ela é resultado de uma fragmentação
interna do organismo. A visão da unidade ficou comprometida e o organismo passa a ter que enfrentar um inimigo que
ele mesmo originou. Na perspectiva holística a doença é entendida como um desequilíbrio dessa unidade que é o
indivíduo e o sintoma expressa quais aspectos estão fragmentados e precisam ser reintegrados.

Dahlke & Dethlefsen (1983) consideram fundamental para o processo de cura, o reconhecimento no nível consciente do
significado do sintoma. Só assim o ser humano pode novamente restaurar sua integridade. Para eles, a medicina
acadêmica está tão encantada com os sintomas, que passa a tratar com grandes recursos e bastante habilidade, os órgãos
e as partes do corpo, mas não trata o ser humano que está doente.

Segundo Chiattone (2001), o ser com câncer é uma unidade biopsicossocial substancial indivisível, indissolúvel,
primária. Para a autora, a definição deste ser deve incluir todos os seus atributos para que se possa ter uma visão global
do indivíduo com câncer. A abordagem holística propõe o resgate dessa visão unificadora do ser humano. Se
considerarmos o câncer como uma doença caracterizada pela fragmentação, a visão holística pode ser bastante útil no
tratamento.

Terapias Holísticas

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O termo Terapias Holísticas engloba uma série de técnicas, que mesmo tendo origens bastante variadas, têm em comum
o fato de tratarem o ser humano de forma integral. A experiência de estágio no Serviço de Psicologia de um hospital
especializado no tratamento do câncer propiciou o contato com pacientes e familiares, cujos relatos - apresentados com
nomes fictícios, referem o uso das técnicas mencionadas a seguir:

Meditação

Raul, 50 anos – diagnosticado como portador de leucemia, está em tratamento há cerca de 5 anos. Na ocasião em que
relatou sua experiência com a prática da meditação, estava internado – submetendo-se à fase preparatória para o
transplante. Ele conta que ao longo desses anos conviveu com dores intensas – que eram uma fonte de estresse
permanente. Além disso, também sofria nos períodos de quimioterapia, com as reações adversas do tratamento. Através
da prática regular da meditação, conseguiu reduzir a dor a um nível muito mais tolerável, além de diminuir
sensivelmente o desconforto causado pela quimioterapia.

Para Landmann (1988), o estado de consciência propiciado pela meditação libera a mente para exercer a função de
controle e liberação de suas forças homeostáticas. Ele menciona estudo realizado com 70 pacientes de câncer – no qual
se verificou que grande parte deixou de tomar analgésicos, 10% ultrapassaram a perspectiva de sobrevida e 10%
tiveram regressão dos tumores.

As inúmeras técnicas de meditação são vinculadas a correntes filosóficas – a maioria delas provindas do Oriente.

Porém, para Goleman (1999) e Cardoso (2005), o benefício terapêutico da meditação independe da adesão ao sistema
religioso, já que é o treinamento sistemático da atenção que desenvolve a capacidade de concentração e enriquece a
percepção.

A meditação certamente está entre as técnicas que mais têm despertado interesse de pesquisadores. Os avanços na área
das neurociências possibilitam o estudo dos efeitos da meditação – de forma bastante precisa e criteriosa.

Benson & Stark (1998) relatam a experiência que tiveram, numa expedição ao Sikkim – povoado entre Índia e Nepal –
na qual estudaram os efeitos da meditação na fisiologia dos monges que participaram do estudo. Eles eram capazes de
apresentar uma queda de até 64 por cento no metabolismo – o nível mais baixo que já havia sido documentado em um
ser humano.

Segundo Gerber (1988) meditadores experientes apresentam maior coerência na atividade ondulatória cerebral, entre os
hemisférios direito e esquerdo que estaria associada a uma maior criatividade e flexibilidade de pensamento.

Goleman (1999) afirma que a pessoa que medita regularmente lida com o estresse de forma diferenciada, com maior
capacidade de restabelecer o equilíbrio após a superação do desafio e menor predisposição a encarar os desafios como
ameaças. Possivelmente isso ocorre pela capacidade de mudança de percepção gerada pela meditação, o que, segundo
Matos (1989), permite observar eventos externos e internos sob novos ângulos, ampliando a capacidade de atingir
insights.

Iridologia

Márcia é uma mulher de 42 anos, com diagnóstico de melanoma. Na ocasião em que estava internada para iniciar um
novo ciclo de quimioterapia, ela relatou sua experiência com um iridologista. Ela já tinha conhecimento do câncer, mas
ainda aguardava exames que indicariam características mais específicas dos tumores. Segundo seu relato, o diagnóstico
pela íris forneceu informações que foram confirmadas pelos exames oficiais. Quando mencionou com a médica que a

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acompanhava, esta ignorou a compatibilidade entre as informações obtidas e recomendou que Márcia “deixasse essa
besteira”. Atualmente ela utiliza a homeopatia para redução dos efeitos colaterais da quimioterapia e tem sentido os
benefícios. Porém, optou por não comentar com a médica, em função da reação anterior.

A Iridologia é um sistema diagnóstico que encontra fundamentação no princípio holográfico, segundo o qual, cada
fragmento contém as informações relativas ao todo. Este princípio é exemplificado pelo fato de que cada célula do
corpo humano contém, na forma de DNA, as informações genéticas necessárias para a criação de um ser humano
completo. (GERBER, 1988)

Segundo Bontempo (1992), a íris representa todas as partes do organismo em sua topografia. Isso ocorre graças ao
Sistema Nervoso Autônomo, composto de duas cadeias nervosas – o simpático e o parassimpático – que inervam todas
as partes do organismo e levam impulsos sobre a situação de cada região até o cérebro e até a íris, onde essas
impressões ficam registradas. O autor esclarece que os sinais de degeneração verificados num exame iridológico variam
de coloração entre o branco (estágio inflamatório agudo) e o negro (estágio crônico, degenerado e destrutivo).

Imaginação Guiada

A filha de Célia teve diagnóstico de câncer ósseo quando tinha 6 anos, aproximadamente. Durante todos os anos em que
a filha esteve em tratamento, Célia procurava complementar os procedimentos convencionais, buscando diversos
recursos terapêuticos. Entre eles, um exercício mental que a filha realizava, que consistia no uso de imagens específicas
que simbolizavam a reação do organismo à doença. Célia relata que a própria filha foi modificando as imagens a partir
do que elas suscitavam em diferentes momentos e que, embora não tenha obtido a cura – no sentido que habitualmente
se espera, essa e as demais técnicas utilizadas tiveram valor terapêutico naquele momento e contribuíram para que ela
superasse significativamente a expectativa de vida atribuída pela equipe.

A imaginação guiada, segundo Gordon (1998), faz uso da capacidade humana de controle interno de maneira direta e
independente, constituindo-se num poderoso ingrediente comum a várias técnicas modernas de mente/corpo, que
incluem meditação, biofeedback, hipnose e treinamento autógeno (TA).

Segundo Murray (2005), Carl Simonton foi um dos pioneiros no uso da imaginação guiada na terapia do câncer.
Simonton orientava seus pacientes a visualizarem suas células de câncer ou tumores, bem como a ação dos glóbulos
brancos, com a maior precisão possível. Inicialmente a comunidade médica não deu crédito aos resultados obtidos por
Simonton. Porém, atualmente, muitos oncologistas, hospitais e centros para tratamento do câncer oferecem programas
ou técnicas de visualização similares aos pacientes.

Para Gordon (1998) “a combinação de relaxamento e imaginação guiada pode ajudar pacientes com câncer e AIDS a
melhorar a imunidade com o aumento do número e da atividade dos glóbulos brancos”. (p. 118) O autor faz referência à
capacidade que a imaginação guiada tem de ser bastante específica e menciona o trabalho da psicóloga Jeanne
Achterberg, no qual constatou-se que determinado grupo de imagens aumentou a contagem de neutrófilos, enquanto
outro ativou a produção de linfócitos.

Fitoterapia

Entre as terapias que Célia buscou no tratamento de sua filha está a fitoterapia. Ciente de que as plantas contêm
princípios ativos, que poderiam produzir efeitos indesejados e perigosos na interação com o tratamento convencional,
Célia comentou com o médico, que não fez restrição ao uso do fitoterápico. Porém, recomendou extremo cuidado com o
preparo e a esterilização, em função da baixa imunidade decorrente do tratamento.

A fitoterapia consiste na utilização dos vegetais no tratamento das doenças. Engloba numerosas escolas que estudam e
empregam as plantas medicinais, das mais simples e empíricas, às científicas e experimentais. Segundo Bontempo

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(1992), toda a farmacologia tem como base exatamente os princípios ativos das plantas e mesmo com a criação de
compostos e substâncias sintéticas com poderes medicinais, mais de 40% de toda a matéria-prima dos remédios
continua sendo de origem vegetal. Gordon (1998) esclarece que as plantas ao natural contêm muitos princípios ativos,
não apenas aquele único que o químico isola. O uso da planta como remédio permite o aproveitamento integral do seu
poder terapêutico, uma vez que as substâncias agem em harmonia, uma contribuindo para a eficácia da outra,
combatendo as propriedades tóxicas da outra, e reduzindo os efeitos colaterais que um único ingrediente ativo isolado
produz.

Acupuntura

Lucia aguardava o parecer do médico que acompanhava seu pai, quanto à viabilidade de uma cirurgia para retirada de
um tumor no maxilar. O médico lhe disse que não havia mais nada que a medicina pudesse fazer em termos curativos -
e que seu pai seria encaminhado para o serviço de cuidados paliativos. Célia, então, questionou se a acupuntura poderia
ser útil no caso de seu pai. A resposta que ouviu foi que a acupuntura não tinha nenhuma base científica.

Independente do potencial curativo da acupuntura para o caso do pai de Célia, a declaração do médico revela
desconhecimento do que a própria medicina ocidental já reconhece.

Segundo Gerber (1988), o reconhecimento da acupuntura permanece bastante restrito (quase que exclusivamente pelos
efeitos de analgesia), devido ao embasamento em modelos teóricos incapazes de explorar o verdadeiro potencial da
acupuntura enquanto modalidade curativa multidimensional e extraordinário sistema diagnóstico.

Ainda que validada somente pela eficácia no tratamento da dor, isso já representa muito para um paciente oncológico –
particularmente em cuidados paliativos, considerando que a dor é o sintoma que mais causa sofrimento no câncer.

Para Murray et al.(2005) “a acupuntura e a medicina chinesa como um todo são benéficas em certos aspectos do
tratamento do câncer”.(p. 184) A experiência dos autores revelou resultados significativos tanto no alívio dos sintomas
do câncer, quanto na redução dos efeitos colaterais dos tratamentos (radioterapia e quimioterapia).

Considerações finais

A omissão do uso de outras terapias pode colocar em risco a vida do paciente e revela a fragilidade na comunicação
entre equipe e paciente. É preciso considerar que a conduta do paciente é gerada, em grande parte, pela postura da
equipe. Dessa forma, Gordon (1998) defende que “na formação de novas gerações de médicos deve haver a
conscientização de que a nossa medicina é uma entre muitas; que os sistemas de cura que têm sido ignorados ou
descartados como ‘primitivos’ têm uma longa e bem-sucedida história, podem ser cientificamente investigados e
validados, e são cada vez mais e mais amplamente usados pelos pacientes.”(p.250)

Ainda que os estudos sobre terapias holísticas não encontrem espaço nas publicações científicas – pelas razões citadas,
para aqueles que se interessam em conhecer essa outra visão existe uma ampla literatura disponível. O que revela um
movimento crescente de profissionais, que, mesmo com a resistência da comunidade científica oficial, procuram
integrar as duas visões, na busca de uma síntese. A Psicologia não pode ficar alheia a esse movimento, uma vez o
reconhecimento da dimensão psíquica da enfermidade é princípio fundamental na visão holística.

Se o paciente procura por outros recursos, além daqueles que a avançada medicina convencional estabelece, o psicólogo
deve estar atento às mensagens que essa busca revela. A pessoa doente é, em última instância, a principal autoridade
no que se refere à sua própria saúde. Ela está saindo do papel de passividade e assumindo o papel central no processo de
cura, o que pode ser decisivo no prognóstico. Ao compartilhar a sua iniciativa, espera ser ouvida e respeitada. Cabe ao
psicólogo contribuir para que esse espaço seja assegurado.

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Referências Bibliográficas:

BENSON, H.;STARK, M. (1998). Medicina espiritual: o poder essencial da cura. Rio de Janeiro: Campus.

BONTEMPO, M. (1992). Medicina natural: plantas medicinais. São Paulo: Nova Cultural.

BONTEMPO, M. (1992). Medicina natural: iridologia. São Paulo: Nova Cultural.

CARDOSO, R. (2005). Medicina e meditação: um médico ensina a meditar. São Paulo: Summus.

CHIATTONE, H.B.C. Uma vida para o câncer. In: CAMON, V.A.A.;CHIATTONE, H.B.C.; NICOLETTI, E.A.
(2001). O doente, a psicologia e o hospital. São Paulo: Pioneira.

CHIATTONE, H.B.C. A significação da psicologia no contexto hospitalar. In: CAMON, V.A.A. (Org.). (2000).
Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira.

DETHLEFSEN, T.;DAHLKE, R. (1983). A doença como caminho: uma visão nova da cura como ponto de mutação
em que um mal de deixa transformar em bem. São Paulo: Cultrix.

GERBER, R. (1998). Medicina vibracional: uma medicina para o futuro. São Paulo: Cultrix.

GOLEMAN, D. (1999). A arte da meditação Rio de Janeiro: Sextante.

GORDON, J.S. (1998). Manifesto da Nova Medicina: a cura através das terapias alternativas. Rio de Janeiro: Campus.

LANDMANN, J. (1988). As medicinas alternativas: mito, embuste ou ciência? Rio de Janeiro: Guanabara.

MATOS, L. (1989). Drogas ou Meditação: meditação como alternativa para o uso de drogas. Petrópolis: Vozes.

MURRAY, M.;BIRDSALL, T.;PIZZORNO, J.E.;& REILLY, P. (2005). Como prevenir e tratar o câncer com a
medicina natural: um arsenal natural no combate, prevenção e tratamento da doença e assistência dos efeitos
colaterais. Rio de Janeiro: Best Seller.

____________________
Recebido em 23/05/2008
Aprovado em 22/07/2008

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ANAMNESE - MODELO

ANAMNESE PARA PACIENTE EM HEMODIÁLISE

Prontuário n.: Psicólogo responsável pela anamnese: Data:

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome do paciente:
Endereço completo:
Telefone:
Idade: Data de nascimento: Estado civil:
Número de filhos: Idade dos mesmos:
Naturalidade:
Religião (crença religiosa):
Escolaridade:
Profissão:
Trabalho: ( ) na ativa ( ) aposentado ( ) afastado ( ) auxílio doença ( ) outros:
Escolaridade do cônjuge:
Profissão do cônjuge:
Renda familiar (em salários mínimos):
Classe social (baixa, média, alta):

Responsável pelo paciente:


Informante:

Horário de hemodiálise - dias da semana e horários:


Como chega ao hospital? ( ) carro próprio ( ) ônibus ( ) ambulância ( ) a pé ( ) outros:
Vem acompanhado? ( ) não ( ) sim - por quem?
Tem “carteira de passe livre”? ( ) não ( ) sim

SOBRE A HEMODIÁLISE

Quando apareceu a insuficiência renal crônica (IRC)?

Histórico familiar:

Quais os sintomas que sentia no início do tratamento?

Quais os sintomas que sente agora?

Que medicamentos usa?

Quais os efeitos colaterais dos medicamentos usados?

História de internações anteriores? Quando? Onde? Por quê?

Está se tratando regularmente?

Faz a dieta prescrita?

Já foi transplantado? Descrever em detalhes.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 55
ASPECTOS SOCIAIS

A insuficiência renal crônica (IRC) trouxe alguma mudança na sua vida?


Em que? (Família, crenças, trabalho, financeiro, lazer, atividade física, relacionamento sexual, relacionamento com os
familiares, relacionamento social)

Houve alteração na motivação para o trabalho?

Como reagiu o cônjuge quando soube que você estava com IRC?

Como reagiu a família quando soube que você estava com IRC?

Como reagiram as pessoas do seu contato?

ASPECTOS COMPORTAMENTAIS

Deixou de fazer algo a partir da IRC?

O que mudou no seu dia-a-dia?

Você consegue seguir o tratamento proposto?


Existem facilidades?
Existem dificuldades?

Faz o que lhe é recomendado pelo médico?

Usa a medicação corretamente?

Faz a dieta proposta?

Procura informações sobre a doença?

Procura informações sobre o tratamento?

O que mudou diante das informações?

ASPECTOS EMOCIONAIS

Qual foi sua reação quando soube que estava com IRC?

Como tem sido desde que isso aconteceu?

Co mo era sua vida sexual?


Antes - frequência das relações:
Desejo/prazer:

Depois - frequência das relações:


Desejo/prazer:

Qualidade da relação sexual: como era? Como é atualmente?

Como era seu humor antes? Como é seu humor hoje?

Quais os medos que tinha antes? Quais os medos que tem hoje?

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 56
EXPECTATIVAS

O que espera do tratamento médico?

Há possibilidade de transplante?

Quais suas expectativas quanto ao transplante?

Há possibilidade de transplante com doador vivo?

Há possibilidade de transplante de cadáver?

Aceita a doação do órgão de doador vivo e de cadáver? Faz distinção entre eles?

Já consultou psicólogo antes?

O que entende como psicoterapia?

O que espera da terapia? O que acha que eu posso fazer por você?

Como é sua vida hoje?

O que espera para o futuro? Quais os seus planos?

OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES

Alguma coisa que o paciente queira informar, que não foi dito anteriormente.

DESORDENS SENSOPERCEPTICAS (DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES)

Há presença de desordens sensoperceptivas? (Investigar quando ocorrem e etiologia.)

PARA PREENCHIMENTO DO PSICÓLOGO

Propedêutica:

Terapêutica:

Profilaxia:

Observações:

Síntese do atendimento:

Primeiras impressões:

Conduta a ser adotada:

Local, data e rubrica:

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 57
LESGISLAÇÃO

Lei 9434/97 - Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e
tratamento.

LEI Nº 9.434, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1997.

Regulamento Dis põe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo


humano para fins de transplante e tratamento e dá outras
Mensagem de veto providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para fins de
transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a que se refere este artigo o
sangue, o esperma e o óvulo.

Art. 2º A realização de transplante ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser
realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante
previamente autorizados pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde.

"Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do corpo humano só
poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico de infecção e
infestação exigidos em normas regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde. (Redação dada pela Lei nº 10.211,
de 23.3.2001)

CAPÍTULO II

DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS,


ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.

Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou
tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não
participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos
por resolução do Conselho Federal de Medicina.

§ 1º Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos exames referentes aos diagnósticos de
morte encefálica e cópias dos documentos de que tratam os arts. 2º, parágrafo único; 4º e seus parágrafos; 5º; 7º; 9º, §§
2º, 4º, 6º e 8º, e 10, quando couber, e detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, serão mantidos
nos arquivos das instituições referidas no art. 2º por um período mínimo de cinco anos.

§ 2º Às instituições referidas no art. 2º enviarão anualmente um relatório contendo os nomes dos pacientes
receptores ao órgão gestor estadual do Sistema único de Saúde.

§ 3º Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da comprovação e atestação
da morte encefálica.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 58
Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade
terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou
colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação
da morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

Art. 5º A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa juridicamente incapaz poderá
ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais.

Art. 6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas.

Art. 7º (VETADO)

Parágrafo único. No caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência de causa mal definida ou de
outras situações nas quais houver indicação de verificação da causa médica da morte, a remoção de tecidos, órgãos ou
partes de cadáver para fins de transplante ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do patologista
do serviço de verificação de óbito responsável pela investigação e citada em relatório de necrópsia.

Art. 8o Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será imediatamente necropsiado, se verificada a
hipótese do parágrafo único do art. 7o , e, em qualquer caso, condignamente recomposto para ser entregue, em seguida,
aos parentes do morto ou seus responsáveis legais para sepultamento. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

CAPÍTULO III

DA DISPOSIÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO VIVO PARA FINS DE


TRANSPLANTE OU TRATAMENTO

Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio
corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau,
inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em
relação à medula óssea. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 1º (VETADO)

§ 2º (VETADO)

§ 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos
ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua
integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou
deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa
receptora.

§ 4º O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificamente o tecido,
órgão ou parte do corpo objeto da retirada.

§ 5º A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua
concretização.

§ 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá fazer doação
nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e
autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde.

§ 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto quando se tratar de
doação de tecido para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua saúde ou ao feto.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.4, n.8, ago. 2008-jan 2009. 59
§ 8º O auto-transplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu prontuário
médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.

Art. 9o -A É garantido a toda mulher o acesso a informações sobre as possibilidades e os benefícios da doação
voluntária de sangue do cordão umbilical e placentário durante o período de consultas pré-natais e no momento da
realização do parto. (Incluído pela Lei nº 11.633, de 2007).

CAPITULO IV

DAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES

Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor, assim inscrito em lista
única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento. (Redação dada pela Lei nº
10.211, de 23.3.2001)

§ 1o Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde impeçam ou
comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus
pais ou responsáveis legais. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 2o A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua família direito subjetivo a
indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe
seriam destinados, provocado por acidente ou incidente em seu transporte. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.211, de
23.3.2001)

Parágrafo único. Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde impeçam
ou comprometam a manifestação válida de sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por um de
seus pais ou responsáveis legais.

Art. 11. É proibida a veiculação, através de qualquer meio de comunicação social de anúncio que configure:

a) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos, relativa a estas atividades;

b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para pessoa determinada
identificada ou não, ressalvado o disposto no parágrafo único;

c) apelo público para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou enxerto em beneficio de
particulares.

Parágrafo único. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do Sistema único de Saúde realizarão
periodicamente, através dos meios adequados de comunicação social, campanhas de esclarecimento público dos
benefícios esperados a partir da vigência desta Lei e de estímulo à doação de órgãos.

Art. 12. (VETADO)

Art. 13. É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde notificar, às centrais de notificação, captação e
distribuição de órgãos da unidade federada onde ocorrer, o diagnóstico de morte encefálica feito em pacientes por eles
atendidos.

Parágrafo único. Após a notificação prevista no caput deste artigo, os estabelecimentos de saúde não
autorizados a retirar tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverão permitir
a imediata remoção do paciente ou franquear suas instalações e fornecer o apoio operacional necessário às equipes
médico-cirúrgicas de remoção e transplante, hipótese em que serão ressarcidos na forma da lei. (Incluído pela Lei nº
11.521, de 2007)

CAPÍTULO V

DAS SANÇÕES PENAIS E ADMIMSTRATIVAS

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SEÇÃ O I

Dos Crimes

Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições
desta Lei:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.

§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.

§ 2.º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:

I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;

IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa

§ 3.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta para o ofendido:

I - Incapacidade para o trabalho;

II - Enfermidade incurável ;

III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;

IV - deformidade permanente;

V - aborto:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.

§ 4.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte:

Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.

Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com
a transação.

Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo humano de que se tem
ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:

Pena - reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.

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Art. 17 Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido
obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:

Pena - reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a 250 dias-multa.

Art. 18. Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10 desta Lei e seu parágrafo único:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Art. 19. Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para sepultamento ou deixar de entregar
ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Art. 20. Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no art. 11:

Pena - multa, de 100 a 200 dias-multa.

Seção II

Das Sanções Administrativas

Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16 e 17, o estabelecimento de saúde e as equipes médico-
cirúrgicas envolvidas poderão ser desautorizadas temporária ou permanentemente pelas autoridades competentes.

§ 1.º Se a instituição é particular, a autoridade competente poderá multá-la em 200 a 360 dias-multa e, em caso
de reincidência, poderá ter suas atividades suspensas temporária ou definitivamente, sem direito a qualquer indenização
ou compensação por investimentos realizados.

§ 2.º Se a instituição é particular, é proibida de estabelecer contratos ou convênios com entidades públicas, bem
como se beneficiar de créditos oriundos de instituições governamentais ou daquelas em que o Estado é acionista, pelo
prazo de cinco anos.

Art. 22. As instituições que deixarem de manter em arquivo relatórios dos transplantes realizados, conforme o
disposto no art. 3.º § 1.º, ou que não enviarem os relatórios mencionados no art. 3.º, § 2.º ao órgão de gestão estadual do
Sistema único de Saúde, estão sujeitas a multa, de 100 a 200 dias-multa.

§ 1o Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que deixar de fazer as notificações previstas no art. 13
desta Lei ou proibir, dificultar ou atrasar as hipóteses definidas em seu parágrafo único. (Redação dada pela Lei nº
11.521, de 2007)

§ 2.º Em caso de reincidência, alé m de multa, o órgão de gestão estadual do Sistema Único de Saúde poderá
determinar a desautorização temporária ou permanente da instituição.

Art. 23. Sujeita-se às penas do art. 59 da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962, a empresa de comunicação
social que veicular anúncio em desacordo com o disposto no art. 11.

CAPÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 24. (VETADO)

Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário, particularmente a Lei n.º 8.489, de 18 de novembro de 1992, e
Decreto n.º 879, de 22 de julho de 1993.

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Brasília,4 de fevereiro de 1997; 176.º da Independência e 109.º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Nelson A. Jobim
Carlos César de Albuquerque

Referência: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L9434.htm

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AGENDA
CURSOS DE PSICOLOGIA HOSPITALAR

SETEMBRO/2008

PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE


EAD - Curso Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde
Turma “2º. sem. 2008” - turma única
Aulas: 08 de setembro a 07 de novembro de 2008
Matrículas: até 02 de setemb ro de 2008
Vagas limitadas
Informações: http://br.geocities.com/cvpsihospitalar/
E-mail: cvpsihospitalar@yahoo.com.br

PSICOLOGIA HOSPITALAR EM HOSPITAL GERAL - CURSO TEÓRICO E PRÁTICO


2º. sem. 2008
Aulas: 23 de setembro a 25 de novembro de 2008
Horário das aulas teóricas: terças-feiras à noite
Matrículas: 01 de agosto a 16 de setembro de 2008
Vagas limitadas
Local: Belo Horizonte / MG / Brasil
Informações: http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br

JANEIRO/2009

CURSO DE VERÃO DE PS ICOLOGIA HOSPITALAR 2009- CURSO TEÓRICO E PRÁTICO


Aulas: 26 a 30 de janeiro de 2009
Matrículas: a partir de 20 de outubro de 2008
Vagas limitadas
Local: Belo Horizonte / MG / Brasil
Informações: http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br

MARÇO/2009

PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE


EAD - Curso Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde
Turma “1º. sem. 2009”
Aulas: 20 de março a 22 de maio de 2009
Matrículas: de 26 de janeiro a 16 de março de 2009
Vagas limitadas
Informações: http://br.geocities.com/cvpsihospitalar/
E-mail: cvpsihospitalar@yahoo.com.br

PSICOLOGIA HOSPITALAR EM HOSPITAL GERAL - CURSO TEÓRICO E PRÁTICO


1º. sem. de 2009
Aulas: 20 de março a 22 de maio de 2009
Horário das aulas teóricas: sextas-feiras à noite
Matrículas: 02 de fevereiro a 14 de março de 2009
Vagas limitadas
Local: Belo Horizonte / MG / Brasil
Informações: http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br

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tabulação e não formatar o texto como se fosse uma monografia, as páginas não deverão ser numeradas e nem usados os cabeçalhos e
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