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DIREITO CIVIL

CONTRATOS EM GERAL

Livro Eletrônico
© 12/2018

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ASSISTENTES DE PRODUÇÃO: Giulia Batelli, Jéssica Sousa, Juliane Fenícia de Castro e Thaylinne Gomes Lima

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DICLER FORESTIERI

Ex-Auditor-Fiscal do Estado da Paraíba, Ex-


Auditor-Fiscal de Tributos do Município de São
Paulo e atual Conselheiro Substituto do TCM-RJ
(aprovado em 2º lugar). Também foi aprovado
nos concursos de Auditor-Fiscal do Estado do Rio
Grande do Sul e Conselheiro Substituto do TCE-
AM. Ministra aulas das disciplinas Direito Civil,
Direito Penal e Legislação Tributária Municipal.

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Contratos em Geral
Prof. Dicler Forestieri

Contratos – Parte Geral................................................................................5
Introdução.................................................................................................5
Princípios Contratuais...................................................................................6
Classificação dos Contratos......................................................................... 11
Formação e Lugar dos Contratos.................................................................. 19
Estipulação em Favor de Terceiro................................................................. 25
Promessa de Fato de Terceiro...................................................................... 25
Vícios Redibitórios..................................................................................... 26
Evicção.................................................................................................... 29
Contrato com Pessoa a Declarar.................................................................. 33
Extinção e Rescisão Contratual.................................................................... 34

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Contratos em Geral
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CONTRATOS – PARTE GERAL
Introdução
Hoje estudaremos a parte geral inerente aos contratos. Ou seja, as regras que

são aplicadas a todas as modalidades contratuais. No Código Civil, o assunto está

sendo tratado nos art. 421 ao 480.

Um contrato é um vínculo jurídico entre dois ou mais sujeitos de direito corres-

pondido pela vontade, da responsabilidade do ato firmado, resguardado pela segu-

rança jurídica em seu equilíbrio social, ou seja, é um negócio jurídico bilateral ou

plurilateral. É o acordo de vontades, capaz de criar, modificar ou extinguir direitos.

As cláusulas contratuais criam lei entre as partes, porém são subordinados ao

Direito Positivo. As cláusulas contratuais não podem estar em desconformidade

com o Direito Positivo, sob pena de serem nulas.

No Brasil, cláusulas consideradas abusivas ou fraudulentas podem ser invalida-

das pelo juiz, sem que o contrato inteiro seja invalidado. Trata-se da cláusula geral

rebus sic stantibus (ou revisão judicial dos contratos), que objetiva flexibilizar o

princípio da pacta sunt servanda (força obrigatória dos contratos), preponderando,

assim, a vontade contratual atendendo à Teoria da Vontade.

Mas, Dicler, o que é rebus sic stantibus e pacta sunt servanda?

A cláusula geral rebus sic stantibus especifica que as partes de um contrato

devem considerar a situação de fato existente no momento de sua celebração,

podendo assim invocá-la como forma de rompimento caso mudanças substanciais

ocorram de forma extraordinária e imprevisíveis, que modificam o equilíbrio do

acordo trazendo desvantagem a uma das partes.

A expressão rebus sic stantibus pode ser traduzida como “estando assim as coisas”.

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Contratos em Geral
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Voltaremos a este assunto ainda nesta aula.

Quanto ao princípio da pacta sunt servanda, também o veremos mais adiante.

Ou seja, você pode perceber que esta aula será cheia de novidades. Sendo assim,

pegue aquela sua disposição extra que estava escondida e vamos em frente.

Princípios Contratuais
1) Princípio da autonomia de vontade: representa a liberdade das partes

estipulando o que lhes convier. Ou seja, as partes possuem a liberdade de escolher

o tipo de contrato, de escolher a pessoa com quem se irá contratar, de celebrar ou

não o contrato e de escolher o conteúdo do contrato, sem haver interferência esta-

tal. Entretanto, veremos que tal princípio é limitado. Um exemplo de limite está no

art. 426 do CC ao proibir a herança de pessoa viva como objeto de contrato.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

A doutrina denomina “pacto de corvina” o contrato que tem como objeto a he-

rança de pessoa viva.

2) Princípio da supremacia da ordem pública: significa que a autonomia

de vontade é relativa, pois está sujeita à lei e aos princípios da moral e da ordem

pública, ou seja, representa um limite à liberdade de contratar. Atualmente a inter-

venção do Estado na vida contratual é tão intensa que pode ser facilmente notada

em vários setores (ex: telecomunicações, consórcios, seguros, sistema financeiro,

etc.) que se configura um dirigismo contratual. Ou seja, apesar de as pessoas te-

rem liberdade para contratar, devem observar as normas (ex: Código de Defesa

do Consumidor, Lei do Inquilinato, Lei da Usura, etc.) imperativas (que ordenam

algum ato) e proibitivas (que vedam algum ato) impostas pelo Estado.

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3) Princípio do consensualismo: tal conceito decorre da moderna concepção

de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente

da entrega da coisa. Os contratos são em regra consensuais, porém, são admitidas

duas exceções:

• nos contratos solenes ou formais, enquanto o ajuste não for reduzido a escri-

to, não haverá uma formação válida;

• nos contratos reais, que só se formam com a entrega da coisa, também não

basta um simples consenso entre os contratantes.

4) Princípio da relatividade dos contratos: baseia-se na ideia de que os

efeitos do contrato atingem apenas as partes contratantes, ou seja, aqueles que

manifestaram a vontade em celebrá-lo. Entretanto, o referido princípio encontra

exceções expressamente consignadas em lei, tal como ocorre na estipulação em

favor de terceiro (será estudada no decorrer desta aula) e na convenção coletiva de

trabalho (o acordo feito pelo sindicato beneficia toda uma categoria).

5) Princípio da obrigatoriedade dos contratos (art. 427 do CC): representa

a força vinculante das convenções feitas pelas partes contratantes. Já sabemos que

ninguém é obrigado a contratar, mas se o fizer deverá cumpri-lo. Tal princípio tem

dois fundamentos:

• necessidade de segurança nos negócios;

• intangibilidade ou imutabilidade do conteúdo do contrato decorrente da con-

vicção de que o acordo faz lei entre as partes (pacta sunt servanda).

Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos


termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

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Contratos em Geral
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Estudaremos no tópico “formação dos contratos” as situações detalhadas em

que a proposta perde a sua força vinculante e deixa de ser obrigatória.

6) Princípio da função social dos contratos (art. 421 do CC): o contrato, por

ser um veículo de circulação de riqueza, centro da vida dos negócios e propulsor da

expansão capitalista, possui uma função social que é promover a realização de uma

justiça comutativa, reduzindo as desigualdades substanciais entre os contratantes.

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social
do contrato.

Podemos afirmar que o princípio da função social do contrato consiste na preva-

lência do interesse coletivo sobre os interesses individuais dos contratantes.

7) Princípio da boa-fé (art. 422 do CC): este conceito exige que as partes se

comportem de forma correta não só durante as tratativas como também durante a

formação e o cumprimento do contrato. Pode ser dividido em duas partes: boa-fé

subjetiva (concepção psicológica) e boa-fé objetiva (concepção ética).

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

O quadro a seguir faz uma diferenciação entre essas duas partes.

BOA-FÉ SUBJETIVA BOA-FÉ OBJETIVA


Trata-se de um estado psicológico de inocência. É uma cláusula geral implícita em todos os con-
É a boa-fé do: “eu não sabia”, ou seja, o indiví- tratos, ela tem status principiológico, e que se
duo ignora um possível vício. traduz em uma regra de conteúdo ético e exigi-
Exemplo: posse de boa-fé. bilidade jurídica.

No dispositivo legal citado (art. 422 do CC), é consagrada a boa-fé objetiva


fundando-se em uma regra de conteúdo ético.

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Contratos em Geral
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A máxima do Direito Romano ainda vigente no Direito Brasileiro “nemo potest

venire contra factum proprium” significa que ninguém pode se opor ao fato a

que ele próprio deu causa.

Um dos grandes efeitos do princípio da boa-fé objetiva se traduz na proibição

de que uma parte se comporte de forma contraditória aos seus próprios atos an-

teriores. Ou seja, não é lícito uma pessoa fazer valer um direito se contrapondo a

uma conduta anterior interpretada objetivamente segundo a lei, segundo os bons

costumes e a boa-fé.

Para exemplificar, temos o contrato de prestações periódicas com o pagamento

sendo feito, reiteradamente, em outro lugar, conforme o art. 330 do CC.

Art. 330 do CC - O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renún-


cia do credor relativamente ao previsto no contrato.

Imagine que um credor concorde, durante um contrato de prestações periódicas,

com o pagamento em lugar diverso do convencionado. Posteriormente, ele não po-

derá surpreender o devedor com a exigência literal do contrato.

O assunto foi alvo de discussão na IV Jornada de Direito Civil e resultou no Enun-

ciado 362 que menciona o art. 422 do CC:

Enunciado 362 – Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra


factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187
e 422 do Código Civil.

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Questão 1    (FGV/AUDITOR/TCM-PA/2008) Analise as afirmativas a seguir:1

I – O conceito de nemo potest venire contra factum proprium tem por essência o

princípio da boa-fé subjetiva.

II – O conceito de nemo potest venire contra factum proprium tem por essência o

princípio da função social dos contratos.

III – O conceito de nemo potest venire contra factum proprium tem por essência o

princípio da autonomia da vontade.

IV – O conceito de nemo potest venire contra factum proprium tem por essência o

princípio da boa-fé objetiva.

Assinale:

a) se todas as afirmativas estiverem corretas.

b) se apenas uma afirmativa estiver correta.

c) se nenhuma afirmativa estiver correta.

d) se apenas duas afirmativas estiverem corretas.

e) se apenas três afirmativas estiverem corretas.

1
Letra b.

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Contratos em Geral
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Classificação dos Contratos


1. Contratos unilaterais, bilaterais (sinalagmáticos) e plurilaterais

Nos contratos unilaterais, existe obrigação para apenas uma das partes.

Pode ser exemplificado pela doação pura, pelo depósito e pelo comodato.

Nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, os dois contratantes possuem

responsabilidades recíprocas, ou seja, um com o outro, sendo esses recipro-

camente devedores e credores. Nesta espécie de contrato não pode um dos lados

antes de cumprir suas obrigações, exigir o cumprimento do outro. O nome provém

do grego antigo synallagma, que significa “acordo mútuo”.

Exemplo: na compra de um produto, o contratante (consumidor) e o contratado

(vendedor) combinam de acertar a quantia em dinheiro somente no término do

serviço do contratado (entrega do produto); o contratado só pode cobrar após

entregar o produto e o contratante só o paga ao receber o objeto negociado.

Os contratos plurilaterais são aqueles que possuem mais de duas partes

contratantes, como nos contratos de consórcio e de sociedade.

2. Contratos onerosos e gratuitos

Os contratos onerosos, são aqueles que as duas partes auferem vanta-

gens – sendo estes bilaterais.

Como exemplo, a locação de um imóvel; o locatário paga ao locador para poder

usar o bem, e o locador entrega o que lhe pertence para receber o pagamento.

Nos contratos gratuitos, somente uma das partes obtém proveito, como

na doação pura.

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Em regra, os contratos gratuitos também são unilaterais e os contratos onero-

sos também são bilaterais.

3. Contratos comutativos e aleatórios

O contrato comutativo é o que uma das partes, além de receber prestação

equivalente a sua, pode apreciar imediatamente essa equivalência, como ocorre na

compra e venda. Ou seja, há prestação e contraprestação certas.

Nos contratos aleatórios, as partes se arriscam a uma prestação inexisten-

te ou desproporcional, como exemplos, seguros, empréstimos. Simplificando, é o

contrato de decisões futuras onde há uma incerteza na contraprestação.

Os arts. 458 a 461 do Código Civil tratam do assunto:

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo
risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de re-
ceber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido
dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

O art. 458 do CC corresponde à compra de uma “esperança”, quando o com-

prador assume o risco da existência da coisa (ex.: comprar a ninhada de uma

cadela). Trata-se de um contrato do tipo emptio spei. É um tipo de contrato ale-

atório em que um dos contratantes, na alienação de coisa futura, toma a si o risco

existente da coisa, ajustando um preço, que será devido integralmente, mesmo

que nada se produza sem que haja dolo ou culpa do alienante.

Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente
a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alie-
nante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a
coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante
restituirá o preço recebido.

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O art. 459 do CC se assemelha ao dispositivo anterior, entretanto é assumido

um risco na quantidade da coisa e não na existência. Trata-se de contrato do

tipo emptio rei speratae em que se não vier nada, ou se nada for produzido,

o preço não será devido. Desta forma, se a cadela não der cria, o preço pago deve

ser devolvido. Por outro lado, se for esperado que a cria tenha 4 filhotes e tivermos

apenas 2, nada poderá ser reclamado.

Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas
a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço,
posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada
como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consu-
mação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.

Os arts. 460 e 461 do CC tratam do risco da coisa já existentes, mas sujeitas a

perecimento ou depreciação.

Como exemplo temos o risco assumido quando se compra um produto com data

de validade a vencer em breve dependendo do fim da greve da Receita Federal.

A incerteza decorre de a possibilidade do produto vencer e ainda não ter passado

pelo desembaraço aduaneiro.

Risco na existência emptio spei


Risco na quantidade emptio rei speratae

4. Contratos consensuais ou reais

Contratos consensuais são os que se consideram formados pela simples pro-

posta e aceitação. Já os contratos reais, são os que se formam com a entrega

efetiva do produto, a entrega deste não é decidida no contrato, mas somente as

causas do que irá acontecer depois dessa entrega.

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Para exemplificar, estudaremos na próxima aula que a compra e venda é con-

sensual, por outro lado o depósito e o mútuo são reais.

5. Contratos nominados (típicos) e inominados (atípicos)

Contratos nominados ou típicos são os regulamentados por lei. Alguns dos

regidos pelo Código Civil são: compra e venda, troca, doação, locação, empréstimo,

depósito, mandato, gestão, edição, representação dramática, sociedade, parceria

rural, constituição de renda, seguro, jogo e aposta, e fiança. Os contratos ino-

minados ou atípicos (art. 425 do CC) são contrários aos nominados, não neces-

sitando de uma ação legal, pois estes não estão definidos em lei, precisando

apenas do conceito básico inerente aos contratos.

Ex.: que as partes sejam livres, que os produtos sejam lícitos, etc.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais


fixadas neste Código.

É muito comum o examinador afirmar nas questões de prova que não se pode

celebrar contratos atípicos, mas tal afirmativa está errada. Os contratos atípicos são

permitidos, desde que sejam observadas as regras gerais inerentes aos contratos.

6. Contratos solenes (formais) e não solenes

Contratos solenes são os que necessitam de formalidades nas execuções

após ser concordado por ambas as partes, dando a elas segurança e algumas formali-

dades da lei, como na compra de um imóvel, sendo necessário um registro em cartório

para que este seja válido. Os contratos não solenes são aqueles que não precisam

dessas formalidades, necessitando apenas da aceitação de ambas as partes.

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7) Contratos principais e acessórios

Os contratos principais são os que existem por si só, sendo independentes

de outros. Os contratos acessórios são emendas do contrato principal, sendo que

estes necessitam do outro para existirem.

Como exemplo temos o contrato de locação como principal e o contrato de fiança

como acessório.

8. Contratos paritários ou por adesão

Os contratos paritários, são os que realmente são negociados pelas partes,

discutindo e montando-o dentro das formalidades da lei. Ou seja, há possibilidade

de se negociar as cláusulas contratuais.

Já os contratos de adesão se caracterizam por serem prontos por uma das

partes e aceitos pelas outras, sendo um pouco inflexíveis por excluir o debate

ou discussão de seus termos. Um exemplo comum é o contrato que você assina

quando contrata uma operadora de telefone móvel. VIVO, OI, TIM, CLARO, dentre

outras, entregam ao cliente um contrato pré-escrito.

Os artigos 423 e 424 do CC tratam do contrato de adesão.

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditó-


rias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Imagine que você vá a uma empresa de telefonia e assine com ela um contra-

to de prestação de serviços. Como a empresa irá propor o contrato e você será o

aderente, caso haja alguma cláusula do contrato ambígua ou contraditória, a inter-

pretação deverá ser favorável a você.

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

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Creio ser interessante um exemplo para aplicação do art. 424 do CC.

Imagine uma pessoa que vai ser fiador celebrando um contrato de fiança. Sabemos

que a fiança é um contrato acessório que garante um contrato principal. Caso o

devedor do contrato principal não pague a dívida, então o fiador poderá ser respon-

sabilizado por ela. Porém, na fiança existe um benefício de ordem, ou seja, a dívida

deve ser cobrada primeiro do devedor principal para, caso a obrigação não seja

paga, ser cobrada do fiador.

Nos moldes desta situação, imagine que o contrato de fiança seja de adesão (sem pos-

sibilidade de discutir as cláusulas) e uma das cláusulas estipule que o fiador renuncia ao

benefício de ordem e, por isso, a dívida possa ser cobrada diretamente dele.

Através do art. 424 do CC conclui-se que a cláusula ora mencionada é nula, pois está

estipulando uma renúncia antecipada a um direito resultante do contrato de fiança.

Perceba que apenas a cláusula será nula, mas o restante do contrato será válido.

9. Contratos de execução instantânea, diferida e continuada

Tal classificação leva em consideração o momento em que os contratos devem

ser cumpridos.

São contratos de execução instantânea ou imediata aqueles que se consu-

mam em um só ato, sendo cumpridos imediatamente após a sua celebração.

Ex.: compra e venda à vista.

Os contratos de execução diferida também devem ser cumpridos em um só

ato, mas em um momento futuro.

Ex.: entrega em determinada data.

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Já os contratos de trato sucessivo ou de execução continuada são os que

se cumprem por meio de atos reiterados


Ex.: prestação de serviços.

O esquema gráfico a seguir permite uma visualização da classificação em pauta:

10. Contratos preliminares e definitivos


O contrato preliminar (pactumm de contrahendo) é o que tem por objeto a
celebração de um contrato definitivo. Ou seja, por meio de um contrato preliminar,
as partes se comprometem a celebrar, no futuro, um contrato definitivo.

Pode-se dizer que o contrato definitivo é o objeto do contrato preliminar.

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Os arts. 462 a 466 disciplinam o contrato preliminar.

Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os


requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.

Pelo art. 462 do CC, é possível concluir que, ao celebrar um compromisso de

compra e venda de bem de bem imóvel de alto valor, por ser um contrato prelimi-

nar, pode ser utilizado um instrumento particular como forma, apesar da compra

e venda definitiva de bem imóvel de alto valor necessitar de uma escritura pública

como forma (vide art. 108 do CC).

Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo ante-


cedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes
terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o
efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.

De acordo com o art. 463 do CC, o contrato preliminar dá aos contratantes o

direito de exigir o contrato definitivo.

Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da


parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto
se opuser a natureza da obrigação.

Por meio do art. 464 do CC, é possível que um contrato preliminar adquira, atra-

vés de sentença judicial, força de contrato definitivo.

Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra


parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.

A inexecução do contrato preliminar pode acarretar indenização por perdas e danos.

Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma
sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe
for razoavelmente assinado pelo devedor.

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O contrato preliminar unilateral ou de opção é aquele em que apenas uma das

partes é obrigada a celebrar o contrato definitivo, ao passo que a outra o celebra se

quiser. Dessa forma, a parte obrigada deve manifestar prazo para a outra parte se

manifestar. Decorrido esse prazo, o bem poderá ser alienado a terceiros.

Formação e Lugar dos Contratos


Os contratos são a convergência de duas vontades contrapostas: a parte que faz

a proposta (uma declaração receptícia – que precisa ser aceita) é a parte proponen-

te ou policitante e a parte que aceita é chamada de aceitante ou oblato.

Muita gente me pergunta como decorar isso. O método que eu uso é bem

simples: consoante (P) de Proponente combina com consoante (P) de Policitante,

ao passo que vogal (A) de aceitante, combina com vogal (O) de Oblato.

Os contratos reais formam-se com a entrega da coisa e os contratos formais,

com a realização da solenidade ou do instrumento próprio. Tratam-se das exceções

ao princípio do consensualismo.

São fases da formação dos contratos:

1. negociações preliminares: são conversações anteriores à proposta que

visam preparar as bases do futuro contrato;

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2. proposta ou policitação ou oferta: é a declaração de vontade dirigida a

alguém com quem se quer contratar, contendo todas as cláusulas essenciais do

negócio. Pode ser de dois tipos: entre presentes e entre ausentes.

• PROPOSTA ENTRE PRESENTES: é aquela em que há possibilidade de aceita-

ção imediata, ou seja, há um contrato com declaração consecutiva, indepen-

dente dos contratantes estarem em um mesmo espaço físico.


Como exemplo temos duas pessoas contratando pelo telefone, uma em Porto
Alegre-RS e outra em Belém-PA.
• PROPOSTA ENTRE AUSENTES: é aquela em que não há possibilidade de acei-
tação imediata, ou seja, há um contrato com declarações intervaladas.
Como exemplo temos aquele que envia a proposta através de uma carta e a
aceitação também é enviada através de uma carta.

O contrato celebrado pela internet é entre presentes ou entre ausentes?

A pergunta não é simples, pois a doutrina diverge a respeito da resposta. En-


tretanto, para efeitos de concurso público, sugiro pensar que as duas formas são
possíveis. Ou seja, na proposta feita pelo Skype e pelo MSN há possibilidade de

aceitação imediata, portanto trata-se de uma proposta entre presentes. Por outro

lado, a proposta feita por e-mail costuma ser considerada entre ausentes.

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:


I – se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se
também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação se-
melhante;
II – se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar
a resposta ao conhecimento do proponente;
III – se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do pra-
zo dado;
IV – se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a re-
tratação do proponente.

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Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essen-


ciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que
ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

Os arts. 428 e 429 do CC configuram exceções ao princípio da irrevogabilidade

da proposta, ou seja, são situações em que a proposta deixa de ser obrigatória.

3. Aceitação: é a adesão total à proposta, ou seja, uma resposta afirmativa a uma

proposta de contrato.

Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento


do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder
por perdas e danos.

Em se tratando de contrato entre ausentes, se a resposta chegar ao proponen-

te, imprevisivelmente, de forma tardia e o objeto já tiver sido negociado, então o

proponente deverá avisar ao aceitante sobre a não conclusão do contrato, pois é

possível que este imagine que o contrato está celebrado e comece a realizar des-

pesas necessárias ao cumprimento.

Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, impor-


tará nova proposta.

Para exemplificar a aplicação do art. 431 do CC, imagine uma proposta de venda

de um carro por R$ 10.000,00 e que o destinatário da proposta faça uma contra-

proposta de compra por R$ 9.000,00. Pelo fato de haver uma modificação, a con-

traproposta representa uma nova proposta de compra.

Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa,
ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a
tempo a recusa.

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Pelo art. 432 do CC, o silêncio (falta de resposta), em regra, não configura

uma aceitação tácita, ou seja, a aceitação deve ser expressa; entretanto, temos

duas exceções:

• quando se tratar de negócios em que não se costuma exigir a aceitação ex-

pressa.

Ex.: um fornecedor costuma enviar os seus produtos a um determinado

comerciante que lhe paga em época oportuna, sem confirmar os pedidos e

acarretando uma praxe comercial. Caso o comerciante queira interromper

este ciclo, deverá avisar ao fornecedor a recusa; e

• quando o proponente a tiver dispensado.

Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao


proponente a retratação do aceitante.

Da mesma forma que o proponente (art. 428, IV do CC), o aceitante também

pode se retratar da aceitação quando o contrato for celebrado entre ausentes, des-

de que a retratação chegue antes ou junto com a aceitação.

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é


expedida, exceto:
I – no caso do artigo antecedente;
II – se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III – se ela não chegar no prazo convencionado.

O art. 434 do CC levanta uma polêmica dentro da formação dos contratos. Tal

polêmica decorre da seguinte pergunta:

Quando se considera formado o contrato entre ausentes, no momento

em que a aceitação é expedida, ou quando a aceitação chega ao conheci-

mento do proponente?

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Fundamentalmente, a doutrina criou duas teorias explicativas a respeito da for-

mação do contrato entre ausentes.

1. Teoria da cognição: para os adeptos dessa linha de pensamento, o contrato

entre ausentes somente se consideraria formado, quando a resposta do aceitante

chegasse ao conhecimento do proponente.

2. Teoria da agnição: dispensa-se que a resposta chegue ao conhecimento do

proponente. Subdivide-se em:

2.1. subteoria da declaração: o contrato se formaria no momento em que

o aceitante ou oblato redige ou datilografa a sua resposta. Peca por ser ex-

tremamente insegura, dada a dificuldade em se precisar o instante da resposta.

2.2. subteoria da expedição: considera formado o contrato, no momento em

que a resposta é expedida.

2.3. subteoria da recepção: reputa celebrado o negócio no instante em que

o proponente recebe a resposta. Dispensa, como vimos, que leia a mesma. Tra-

ta-se de uma subteoria mais segura do que as demais, pois a sua comprovação é

menos dificultosa, podendo ser provada, por exemplo, por meio do A.R. (aviso de

recebimento), nas correspondências.

Mas, afinal, qual seria a teoria adotada pelo nosso direito positivo?

No Direito brasileiro, a grande parte da doutrina entende que se deve aplicar

a subteoria da expedição e uma parte pequena sustenta que se deve aplicar a

subteoria da recepção.

Para efeitos de concurso público, sugiro adotar a Subteoria da expedição,

pois é a que está consagrada no art. 434, caput, do CC.

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Em todas as fases citadas (negociações preliminares, proposta e aceitação)

deve ser observado o princípio da boa-fé objetiva.

Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.

Para finalizar este tópico, o art. 435 do CC estabelece o local da celebração do

contrato como o local da proposta. Ou seja, se uma proposta foi feita em João Pes-

soa-PB e a aceitação ocorrer em Curitiba-PR, considera-se celebrado o contrato em

João Pessoa-PB.

Sei que você deve estar ansioso(a) pelas questões, então fique com uma só

para reduzir a ansiedade:

Questão 2    (NCE/ADVOGADO/CIA DOCAS DE SANTANA/2007) Para efeito de for-

mação dos contratos, pode-se afirmar que a proposta:

a) não gera qualquer obrigação ao proponente;

b) somente gera obrigações para o proponente se feita a pessoa ausente;

c) somente gera obrigações para o proponente se feita a pessoa presente;

d) obriga, via de regra, o proponente;

e) equivale às negociações preliminares ou tratativas.

Letra d.

Estudamos que a proposta possui força vinculante e, nos termos do art. 427 do CC,

obriga o proponente, apesar de existirem algumas exceções.

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Estipulação em Favor de Terceiro


Por meio da estipulação em favor de terceiro uma parte contratante convencio-

na com o devedor que o a vantagem resultante do contrato beneficiará um terceiro,

alheio à relação jurídica-base. Tal instituto constitui uma exceção ao princípio da

relatividade dos contratos.

Como exemplo temos o seguro de vida no qual o estipulante (segurado) con-

venciona com um promitente (seguradora) uma vantagem em favor de terceiro

(beneficiário).

Os arts. 436 a 438 do CC tratam do assunto.

Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.


Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é
permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele
anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438.
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de
reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no
contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de
última vontade.

Promessa de Fato de Terceiro


É possível que uma pessoa se comprometa para que terceiro pratique um de-

terminado ato. É o que ocorre com um empresário de um artista famoso que se

compromete em nome do renomado artista na realização de um show.

Se o show não se realizar, desde que não haja caso fortuito ou força maior, como

regra, responde o empresário por perdas e danos.

O assunto é tratado nos arts. 439 e 440 do CC.

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Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos,
quando este o não executar.
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promi-
tente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do
casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este,
depois de se ter obrigado, faltar à prestação.

Pelo art. 440 do CC, conclui-se que, se o artista famoso pessoalmente se com-

prometer a realizar o show, a responsabilidade desloca-se do empresário para ele.

Vícios Redibitórios
São denominados vícios redibitórios os defeitos ocultos e de certa gravidade de

uma coisa que a tornem imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminuam o

valor, como, por exemplo, os defeitos de uma máquina ou a doença de um cavalo,

que o comprador normalmente não poderia ter percebido no momento da compra.

Os arts. 441 a 446 do CC tratam de disciplinar o assunto.

Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por
vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe di-
minuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.

Através do art. 441 do CC, percebe-se que só pode haver vício redibitório quan-

do se tratar de contrato comutativo ou doações onerosas. Ou seja, é necessária a

contraprestação, não se configurando o vício redibitório em contrato gratuito. Aqui

vale o ditado que “cavalo dado não se olha os dentes”.

Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente


reclamar abatimento no preço.

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Percebe-se que duas situações podem ocorrer quando se configurar um vício

redibitório:

1) rescisão contratual: através da ação redibitória, o prejudicado pode rescin-

dir o contrato e exigir a devolução da importância paga;

2) abatimento no preço: através de uma ação estimatória (quanti minoris),

pode apenas pedir um abatimento no preço.

Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu


com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais
as despesas do contrato.

Conforme foi estudado na aula de obrigações, quando há culpa do devedor,

surge a possibilidade de indenização por perdas e danos. Em se tratando de vício

redibitório, é a má-fé em omitir o vício ou defeito oculto que acarreta a indenização

por perdas e danos.

Veja a tabela a seguir:

ALIENANTE CONHECIA O VÍCIO o prejudicado pode exigir a devolução da importância


OU DEFEITO OCULTO paga acrescida de perdas e danos.
ALIENANTE NÃO CONHECIA O
o prejudicado pode exigir apenas a importância paga.
VÍCIO OU DEFEITO OCULTO

Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder


do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.

Aplicando o exemplo do cavalo com doença ao art. 444 do CC, caberá ao adquiren-

te provar que o vírus da doença que vitimou o animal já se encontrava encubado

no momento da entrega do animal.

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Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no


prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega
efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
§ 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo con-
tar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta
dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§ 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão
os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o
disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.

O art. 445 do CC estabelece prazos decadenciais para a propositura da redibição

ou do abatimento no preço. São prazos decadenciais:

BEM MÓVEL 30 DIAS SE JÁ 15 DIAS Contado da


Contado da
BEM ESTAVA alienação
01 ANO entrega efetiva 6 MESES
IMÓVEL NA POSSE ↓1/2

O legislador entende que se o adquirente já estava na posse, já conhecia a coi-

sa, então deve ter um prazo menor para ingressar com ação contra o alienante.

Como exemplo, temos a pessoa que mora em um imóvel por comodato, sendo que

o comodatário decide adquirir o imóvel, será aplicado um prazo menor.

No caso de animais, estabelece o art. 445, § 2º do CC que os prazos decaden-

ciais deverão ser regulados por lei especial ou, na falta desta, pelos usos locais.

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Evicção
Consiste na perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da coisa

transferida, por força de uma sentença judicial ou ato administrativo que reconhe-

ceu o direito anterior de terceiro, denominado evictor.

A seguir temos um gráfico esquemático ilustrando a evicção. Imagine que A

venda uma casa para B, sendo que o objeto da venda esteja sendo alvo de uma

ação de usucapião por parte de C.

Os arts. 447 a 457 do CC tratam do assunto:

Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta
garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

A evicção só pode ocorrer em contratos onerosos, não sendo admitida em

contrato gratuito. Dessa forma, não há que se falar em evicção nos contratos de

doação simples e comodato (empréstimo gratuito de bens infungíveis).

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Analisando o final do art. 447 do CC, percebemos que a responsabilidade pela

evicção subsiste ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. Dessa

forma, se uma pessoa arrematar um determinado bem móvel em um leilão, ou bem

imóvel em uma praça, e, após a arrematação e expedição da carta (comprobatória

de seu direito) vier a ser demandada numa ação reivindicatória e sucumbir, então

poderá exercer o seu direito de regresso contra o devedor, de cujo patrimônio se

originou o bem levado à hasta.

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a res-
ponsabilidade pela evicção.

Desta forma, se uma pessoa, agindo de boa-fé, adquirir um bem e depois o

perder para o real proprietário, então, via de regra, poderá cobrar indenização do

alienante. Entretanto, essa responsabilidade do alienante pela evicção poderá ser

reforçada (ex.: indenização de 150% do valor pago), diminuída (ex.: indenização

de apenas 50% do valor pago) ou excluída (isenta a responsabilidade do alienan-

te), nos termos do art. 448 do CC.

Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der,
tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco
da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia
ou litigiosa.

Entretanto, quando houver cláusula expressa de exclusão da responsabilidade

do alienante, também deve ser analisado se o adquirente tinha ciência do risco da

evicção. Dessa forma, temos as seguintes “sentenças matemáticas”:

a) cláusula expressa de exclusão da garantia + ciência específica do risco pelo

adquirente = isenção do alienante de toda responsabilidade (art. 457 do CC);

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b) cláusula expressa de exclusão da garantia – ciência do risco pelo adquirente

ou ter assumido o risco = responsabilidade do alienante apenas pelo preço

pago pela coisa evicta (art. 449 do CC).

Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição


integral do preço ou das quantias que pagou:
I – à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II – à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente re-
sultarem da evicção;
III – às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na épo-
ca em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

O dispositivo cuida da evicção total sofrida pelo adquirente, que teve a perda ou

o desapossamento da coisa de forma absoluta e estabelece os direitos do evicto.

Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja
deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.

A deterioração da coisa evicta, em poder do adquirente, não afasta a res-

ponsabilidade do alienante, respondendo por evicção total, exceto se houver ação

dolosa do adquirente (deterioração intencional do bem). Não poderá, assim, o alie-

nante invocar a desvalorização da coisa evicta, para reduzir o preço a restituir e/ou

a indenização por perdas e danos.

Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido
condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe hou-
ver de dar o alienante.

Caso o evicto já tenha sido compensado pelas deteriorações, então o alienante

poderá deduzir o valor dessas vantagens da quantia que teria de restituir-lhe.

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Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção,


serão pagas pelo alienante.
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo
alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.

As benfeitorias são obras realizadas pelo homem na estrutura da coisa principal

com a intenção de conservação, melhoramento ou embelezamento. Estudamos

que elas podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias na aula 2, entretanto os

arts. 453 e 454 do CC tratam apenas das necessárias e úteis.

Desta forma, imagine no exemplo gráfico dado que antes de B sofrer a evicção

ele tivesse realizado benfeitorias necessárias ou úteis na casa. Neste caso, se C

(evictor) não indenizar B (evicto) pelas benfeitorias, então a responsabilidade recai

sobre A (alienante).

Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a res-
cisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido.
Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.

A evicção pode ser de dois tipos: total (perda de todo o bem) ou parcial (perda

de parte do bem).

Em caso de evicção parcial (ex.: reivindicação de parte de um terreno adquiri-

do) temos duas possibilidades: a evicção parcial ser considerável ou não conside-

rável, nos termos do art. 455 do CC.

A tabela a seguir ilustra as consequências da evicção parcial:

Direitos do evicto:
1. rescisão do contrato; ou
CONSIDERÁVEL
EVICÇÃO 2. restituição de parte do preço corres-
PARCIAL pondente ao desfalque sofrido.
Direito do evicto:
NÃO CONSIDERÁVEL
1. indenização.

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Contrato com Pessoa a Declarar


Pode alguém firmar um contrato, estipulando, porém que outra pessoa, a ser

indicada, assumirá os direitos e obrigações decorrentes, em cinco dias ou no prazo

acordado. É o que se conclui analisando os arts. 467 e 468 do CC.

Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a


faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele
decorrentes.
Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da
conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado.
Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da
mesma forma que as partes usaram para o contrato.
Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire
os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em
que este foi celebrado.

É o que acontece quando A e B concluem entre si um contrato, estipulando,

porém, que C poderá substituir A, por indicação deste, dentro de certo prazo, no

mesmo contrato.

Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:


I – se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;
II – se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento
da indicação.
Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação,
o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.

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Conclui-se que o contrato valerá apenas entre os contratantes originários se não

for feita a indicação de C, se C não aceitar o combinado ou se C for incapaz/insolvente.

Extinção e Rescisão Contratual

O contrato extingue-se através de duas formas: a forma normal ocorre com

o seu cumprimento; já a forma anormal ocorre sem que as obrigações tenham

sido cumpridas.

Sobre as causas de extinção anormal, podemos separá-las em anteriores ou

contemporâneas ao contrato (ex.: nulidades e anulabilidades estudadas na aula 3)

e em supervenientes (destroem os efeitos do contrato após ele ter se formado).

A tabela a seguir enumera e sintetiza as causas anormais de extinção dos contratos.

CAUSAS ANORMAIS DE EXTINÇÃO DO CONTRATO


ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS SUPERVENIENTES
RESCISÃO;
NULIDADES (arts. 166 e 167 do CC); RESOLUÇÃO;
ANULABILIDADES (art. 171 do CC); RESILIÇÃO;
REDIBIÇÃO (vícios redibitórios). MORTE DO CONTRATANTE, nos contratos
personalíssimos.

Sobre as causas anteriores ou contemporâneas, estudamos os vícios que são

capazes de invalidar os negócios jurídicos. Pelo fato de o contrato também ser um

negócio jurídico, tais vícios também podem extinguir um contrato invalidando-o

totalmente (nulidade) ou parcialmente (anulabilidade).

Nos arts. 472 a 480 do CC (reproduzidos após a tabela a seguir) temos dispo-

sições legais relativas às causas supervenientes anormais de extinção do contrato.

Inicialmente faz-se necessário distinguirmos as diferenças entre os termos resci-

são, resilição e resolução. A tabela a seguir mostra que a rescisão (que é o gênero)

possui as seguintes espécies: resolução (extinção do contrato por descumprimento

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do devedor, podendo ser com culpa ou sem culpa) e resilição (dissolução por von-

tade bilateral – também chamada de distrato – ou unilateral, quando admissível por

lei, de forma expressa ou implícita, pelo reconhecimento de um direito potestativo).

RESCISÃO

RESILIÇÃO RESOLUÇÃO

Ocorre quando há o desfazimento de um con- Ocorre quando houver um inadimplemento, ou


trato por simples manifestação de vontade de seja, quando uma das partes não cumprir o con-
uma ou de ambas as partes. trato.

Não interessa mais o vínculo contratual. Ainda interessa o vínculo contratual.

A resilição pode ser de dois tipos: A resolução pode decorrer de uma cláusula
- BILATERAL: é o DISTRATO (art. 472 do CC), expressa ou tácita (art. 474 do CC).
que deve ser celebrado através da mesma forma - CLÁUSULA EXPRESSA: normalmente, os con-
do contrato original. tratos trazem uma cláusula resolutiva expressa
- UNILATERAL (art. 473 do CC): é a DENÚNCIA dizendo que se não for cumprido algo determi-
que deve ser notificada para a outra parte. nado o contrato se resolve. Ou seja, o descum-
Aplica-se, especialmente, a contratos de ativida- primento provocará uma resolução imediata.
des ou serviços por tempo indeterminado. - TÁCITA: sem a cláusula resolutiva, o inadim-
plemento demanda uma notificação para a reso-
lução.

Ex.: terminar um contrato de linha de celular ou Ex.: alugar um apartamento e não pagar as par-
de canal por assinatura. celas de aluguel.

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.


Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o
permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito in-
vestimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito
depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de
interpelação judicial.
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se
não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização
por perdas e danos.

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Questão 3    (FGV/JUIZ SUBSTITUTO/TJ-MS/2008) Celebrado contrato de promes-

sa de compra e venda de imóvel, e estando o devedor em dificuldades financeiras

e objetivando não mais prosseguir na respectiva execução, poderá no tocante à

avença postular:

a) rescisão.

b) resolução.

c) resilição.

d) revisão.

e) revogação.

Letra c.

A questão apresenta nas suas alternativas conceitos que são bastante confusos e

discutidos na doutrina sobre a extinção ou alteração de contratos.

Já estudamos no decorrer da aula a diferença entre a rescisão, a resolução e a re-

silição. Perceba que, pelo enunciado, não mais interessa o vínculo contratual.

Sobre a questão, a jurisprudência do STJ considera ser possível a resilição unilateral

do compromisso de compra e venda por iniciativa do promitente comprador se ele

não reúne mais as condições econômicas de suportar o pagamento das prestações,

o que enseja retenções pelo promitente vendedor de parte das parcelas pagas para

compensá-lo pelos custos operacionais da contratação.

Entretanto é interessante comentarmos o instituto abaixo:

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• revogação: consiste em uma modalidade de desfazimento de determinado

negócio jurídico, por iniciativa de uma das partes isoladamente. É o exemplo

da resilição unilateral aplicável a algumas modalidades contratuais, tal como

o mandato e a doação.

Outro assunto muito cobrado em prova de concurso é a exceção do contrato

não cumprido (exceptio non adimpleti contractus), que é um meio de defesa pelo

qual a parte demandada pela execução de um contrato pode arguir que deixou de

cumpri-lo pelo fato da outra ainda não ter satisfeito a prestação correspondente.

Vide arts. 476 e 477 do CC.

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Diante disso, imagine que você contrate um pintor para pintar a sua casa e que

fique convencionado o pagamento da metade no início do serviço e a outra metade

ao final do serviço. Se o pintor pedir a metade restante no meio da pintura, sem

ter cumprido com a sua parte, você, em sua defesa, para não pagar a 2a metade,

alega a exceção do contrato não cumprido.

Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes
diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação
pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que
aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

Caso o contrato seja celebrado, mas haja fundado receio de seu futuro des-

cumprimento, por força da diminuição posterior do patrimônio da parte contrária,

é preciso que se faça algo para resguardar o interesse dos contratantes.

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Ou seja, o art. 477 do CC representa uma forma de proteção aos interesses

daquele que, por força da relação obrigacional, deve cumprir a prestação antes da

parte contrária que teve o patrimônio diminuído.

O tema do quadro a seguir costuma ser abordado em provas:

CLÁUSULA SOLVE ET REPETE: decorre do princípio da autonomia de vontade e

significa uma cláusula inserida no contrato que obriga o contratante a cumprir a

sua obrigação, mesmo diante do descumprimento da obrigação do outro, para que

possa questionar o descumprimento e exigir perdas e danos. Ou seja, trata-se de

uma renúncia ao direito de opor a exceção do contrato não cumprido.

Para finalizar a parte teórica de hoje, vamos abordar a Teoria da Imprevisão,

consagrada nos art. 478 a 480 do CC.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das


partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em vir-
tude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a reso-
lução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Tal teoria consiste no reconhecimento de que a ocorrência de um acontecimento

novo e imprevisível, com impacto na base econômica do contrato, justificaria a sua

revisão ou resolução. Entretanto, para que tal acontecimento influencie as bases

do contrato, o contrato deve ser de execução continuada ou de trato sucessi-

vo, ou seja, de médio ou longo prazo, uma vez que se mostraria inútil nos de

consumação instantânea.

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A teoria da imprevisão não é aplicada aos contratos de execução instantânea.

Conclui-se que está implícito na teoria da imprevisão a cláusula REBUS SIC

STANTIBUS (“enquanto as coisas ficarem como estão”) que defende a permanên-

cia do equilíbrio contratual durante todo o período em que for celebrado.

Um exemplo seria o caso do empreiteiro com dificuldades de concluir a obra con-

tratada, em razão de uma alta exagerada e imprevisível do custo dos materiais.

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativa-


mente as condições do contrato.

Nos termos do art. 479 do CC, depreende-se o princípio da conservação do ne-

gócio jurídico desde que se restabeleça o equilíbrio contratual perdido com o acon-

tecimento extraordinário e imprevisível.

Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela
pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de
evitar a onerosidade excessiva.

Por fim temos a possibilidade de revisão do contrato no art. 480 do CC.

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